Com o advento da pós-modernidade e com a gama de modificações
sofridas pela sociedade, a questão identitária até então concebida como estável e centralizada, passa por uma crise, fragmentando o indivíduo moderno e o direcionando para toda a sorte de transformações, tornando- o, por conseguinte, descentralizado e deslocado. Levando-se em conta esse sujeito composto não de uma única, mas de várias identidades, nem sempre harmônicas, o objetivo do presente artigo é promover um olhar acerca da dupla identidade de Joana, protagonista do romance Perto do Coração Selvagem, de Clarice Lispector. Para isso, utilizaremos as contribuições de teóricosque discutem a respeito de identidade e sua condição liquefeita. Alguns conceitos do Existencialismo possibilitarão a leitura da primeira identidade de nosso corpus. Para a construção da segunda identidade, nos apoiaremos na perspectiva da Crítica Feminista, que no romance em questão, subverte a identidade feminina e reflete as relações sociais e culturais aplicadas à questão de gênero.
Palavras-chave: Clarice Lispector. Crítica Feminista. Filosofia
Existencialista. Construção de Identidades.
A IDENTIDADE NA PÓS-MODERNIDADE
Lançando mão de uma definição bastante concisa, identidade é
um conjunto de características pessoais ou comportamentais pelas quais o indivíduo é reconhecido como membro de um grupo (classe, * Doutorando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/PR). ** Doutora em Letras pela Universidade Estadual de Londrina (UEL/PR). Docente da Fundação Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari (FAFIMAN/PR) e Faculdade de Jandaia do Sul (FAFIJAN/PR).
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9 sexualidade, etnia, raça, nacionalidade etc.). Trata-se, segundo Stuart Hall (2006), de um fator coletivo partilhado por pessoas da mesma história e ascendência. No entanto, esta concepção totalmente centrada e unificada, na qual o indivíduo se encaixava socialmente, está em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando esse sujeito moderno. A chamada crise de identidade, que, nas palavras de ZygmuntBauman (2005) é o ‘papo’ do momento, é a perda desse ‘sentido de si’, isto é, o sujeito sente-se deslocado, fora de um centro seguro que o ancora, tornando-se consciente de que o pertencimento e a identidade homogênea não são garantias perenes, pelo contrário,
são bastante negociáveis e revogáveis, e que as
decisões que o próprio indivíduo toma, os caminhos que percorre, a maneira como age - e a determinação de se manter firme a tudo isso - são fatores cruciais tanto para o pertencimento quanto para a identidade (BAUMAN, 2005, p.17).
Sendo assim, Hall (2006, p.13) afirma que a identidade torna-se
uma “celebração móvel, pois é formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam”. Bauman (2005) diz que é uma característica de nossa época, cunhada por ele como líquido-moderna, essa repartição em fragmentos mal coordenados, pois as sociedades modernas não são caracterizadas apenas por romperem com toda e qualquer condição precedente, passam também, por um processo sem- fim de rupturas e fragmentações internas no seu próprio interior. Bauman (2005) aponta que a princípio, flutuar sem apoio num espaço pouco definido, pode ser estimulante, pois se caracteriza por uma experiência cheia de promessas, ainda não vivenciadas, mas em longo prazo, torna-se uma condição capaz de produzir ansiedade e tensão. Todavia, se tomarmos uma posição fixa dentro de uma infinidade de possibilidades, também não se torna uma perspectiva atraente, especialmente em uma época em que o indivíduo livremente flutuante, desimpedido, é o herói popular, e estar preso e ser identificado de modo inflexível e sem alternativa é algo cada vez mais malvisto.
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10 Assim, talvez seja mais prudente portar identidades, como um manto leve, pronto a ser despido a qualquer momento, identidades que não são unificadas ao redor de um ‘eu’ coerente, pois como afirma Hall (2006, p. 13), a sensação de uma identidade homogênea é uma cômoda e confortável ‘narrativa do eu’, e uma identidade plenamente unificada, completa e segura é uma fantasia. Partindo deste início de discussão e levando-se em conta a multiplicidade desconcertante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar, ao menos temporariamente, nosso trabalho terá a intenção de construir uma dupla identidade à Joana, protagonista de Perto do Coração Selvagem, romance de estreia de Clarice Lispector. Para comprovarmos a possibilidade dessas leituras, utilizaremos duas ferramentas teóricas, que se ajustam lucidamente na ficção clariceana: a filosofia da existência, sobretudo as contribuições de Jean-Paul Sartre, e os conceitos operatórios da Crítica Feminista, especialmente os que discutem as questões de gênero.
JOANA: O SER E SUA RELAÇÃO COM O OUTRO
Perto do Coração Selvagem compõe-se de duas partes: na
primeira, dividida em nove capítulos, temos dois planos narrativos que se alternam: o da infância e o da vida adulta de Joana, a protagonista do romance. A história de Joana é montada por flashes. A estruturação dos capítulos, construída em ziguezague, não atende a nenhuma ordem cronológica, saltando da infância, onde aparecem suas fantasias de criança ao lado do pai, a visita de um amigo do pai que fala a respeito de sua mãe já falecida, a má relação com a tia e a puberdade de Joana, para a vida adulta, já casada com Otávio: sua rotina, o passeio com o marido, seus momentos de alegria e um diálogo com a ‘mulher da voz’ que a impressionara, seguido de reflexões sobre a inconsciência dessa personagem. A segunda parte desenvolve-se em torno de um triângulo amoroso. Otávio tinha uma amante: Lídia, sua ex-noiva, que estava grávida. Suas fantasias são projetadas em um amante, do ponto de vista físico, após conhecer o relacionamento extraconjugal do marido. Joana
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11 briga, logo depois, com o marido, o amante se afasta e a narrativa se encerra com a personagem feliz com a ‘partida dos homens’ (marido e amante), pois se considera liberta e capaz de sentir o mundo em sua plenitude. Consciente de sua fragmentação e de suas inúmeras facetas, muitas vezes não enquadradas nos padrões estereotipados ditados pela sociedade vigente, a protagonista vive numa busca constante por seu autoconhecimento e, em muitos momentos, sente-se limitada em ter de pertencer a um grupo homogêneo e absoluto, pois “sua vida era formada de pequenas vidas completas, de círculos inteiros, fechados, que se isolavam uns dos outros” (LISPECTOR, 1980, p. 89). A confusão interior da personagem e seu antagonismo com o mundo - abandono, solidão, coragem, audácia, felicidade na oposição à vida domesticada - é o que Hall (2006) chama de crise da identidade. O trecho a seguir, ilustra a descentralização de Joana, portadora de uma identidade aberta e contraditória, característica basilar de um sujeito pós- moderno:
Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me.
Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando, dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais (LISPECTOR, 1980, p. 20).
Nessa incessante busca de um mistério intocável: o ser e a
existência, a construção da identidade da heroína, encontramos em Jean- Paul Sartre, um maciço suporte teórico para lermos o romance à luz do Existencialismo. Logo na primeira página, do primeiro capítulo, podemos utilizar a filosofia da existência na formação de uma possível identidade da protagonista, ao nos depararmos com a seguinte cena: Joana “encostando a testa na vidraça brilhante e fria olhava para o quintal do vizinho, para o grande mundo das galinhas-que-não-sabiam-que-iam- morrer” (LISPECTOR, 1980, p. 11). As galinhas, assim como todos os animais não humanos e coisas, distinguem-se dos outros seres, pois não são conscientes de si, “ao
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12 contrário do homem que possui uma consciência auto reflexiva, questionando-se a todo o momento sua condição de ser e sua relação com os outros” (SARTRE, 1987). Joana, ainda menina, percebe essa distinção e consciente de sua existência, observando o mundo, as pessoas e as coisas que a rodeiam, “continuava lentamente a viver o fio da infância” (LISPECTOR, 1980, p. 14). Na sala de aula, a protagonista quebra o automatismo rotineiro, pela pergunta atrevida à professora:
- O que é que se consegue quando se fica feliz? - sua
voz era uma seta clara e fina. - Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? - repetiu a menina com obstinação. A mulher encarava a surpresa. - Que idéia! Acho que não sei o que você quer dizer, que idéia! Faça a mesma pergunta com outras palavras... - Ser feliz é para conseguir o que? (LISPECTOR, 1980, p. 25).
Estaria Joana consciente de sua condição humana? Comungando
com a postura de Sartre (1987), Robert Olson afirma em sua obra Introdução ao Existencialismo (1970), que os existencialistas não acreditam em uma noção de vida plenamente satisfatória, pois a insegurança e a luta são questões iniludíveis da humanidade, e a única vida digna de ser vivida é a que encara esse fato, caso contrário, o ser humano seria convertido ao status de inconsciente. Sartre (1987) diz que é no sofrimento que o indivíduo pode se sentir livre, pois é o único sentimento que pode vir dele próprio. Não podemos nos tornar felizes sem o concurso do universo e para tornarmo- nos infelizes, não precisamos de nada mais que nós mesmos. Assim, o existencialista prega que o principal valor da vida é a intensidade, expressa em atos livres de escolha. Voltemos ao diálogo, a fim de percebermos a maneira intensa com a qual Joana se relaciona com a professora (e posteriormente com a tia, com Otávio, com Lídia etc.) e a certeza da protagonista de que esse estado pleno de segurança - a felicidade - no qual não haja angústia e sofrimento é inconcebível a uma existência humana.
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13 - Sente-se... Brincou muito? - Um pouco... - Que é que você vai ser quando for grande? - Não sei. - Bem. Olhe eu tive uma idéia - corou. - Pegue um pedaço de papel, escreva essa pergunta que você me fez hoje e guarde-a durante muito tempo. Quando você for grande leia-a de novo. - Olhou-a. Quem sabe? Talvez um dia você mesma possa respondê-la de algum modo... - Perdeu o ar sério, corou. - Ou talvez isso não tenha importância e pelo menos você se divertirá com... - Não. - Não o que? - perguntou surpresa a professora. - Não gosto de me divertir - disse Joana com orgulho (LISPECTOR, 1980, p. 26).
Órfã, entra em atrito com a tia burguesa, após ser flagrada
roubando um livro. A liberdade de escolha da protagonista é a mesma apontada por Sartre (1987), pois ela afirma tranquilamente que roubará quando tiver vontade, pois é livre, pode fazer suas escolhas, e se sente responsável por tudo o que faz, enquanto a tia, suando frio, chora e fica paralisada diante da frieza da sobrinha:
- Joana... Joana, eu vi...
Joana lançou-lhe um olhar rápido. Continuou silenciosa. - Mas você não diz nada? - não se conteve a tia, a voz chorosa. - Meu Deus, mas o que vai ser de você? [...] - Sim, roubei porque quis. Só roubarei quando quiser. Não faz mal nenhum. - Deus me ajude, quando faz mal, Joana? - Quando a gente rouba e tem medo. Eu não estou contente nem triste (LISPECTOR, 1980, p. 44).
O contato com o professor, que colabora para essa visão
existencialista da identidade de Joana, merece ser explorado. A menina, apaixonada por ele, procura seus conselhos após ser chamada de víbora pela tia que a viu roubando o livro. A relação da protagonista com o professor remete a uma passagem de O existencialismo é um
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14 humanismo, onde Sartre (1987) discute o valor de um sentimento. O filósofo afirma que um sentimento só se constitui pelos atos que se praticam. Joana se sentia abandonada e desamparada pela família e encontra nas conversas com o professor, o que ela queria ouvir, todavia, por se identificar com sua postura, Joana adivinhara todas suas palavras e mesmo assim “continuava a ouvi-lo e era como se os seus tios jamais tivessem existido, como se o professor e ela mesma estivessem isolados dentro da tarde, dentro da compreensão” (LISPECTOR, 1980, p. 55). O professor, valendo-se de alguns valores existencialistas, discute com a menina, questões como a vida animal, a busca desenfreada e inalcançável pelo prazer mundano, a consciência da morte, e afirma que não tem nenhum conselho para dar, não há orientações a serem feitas. É o mesmo que Sartre (1987, p. 10) diz, ao afirmar que o homem, “sem qualquer apoio ou auxílio, está condenado a inventar o homem”. Sobre Joana pesa, portanto, a inteira responsabilidade de suas decisões. Seu desamparo implica ser o indivíduo que ela escolheu ser. De acordo com o existencialismo, o tempo para o homem tem um significado peculiar, porque a vida humana é vivida à sombra do tempo. A temporalidade humana não é uma soma de momentos, mas uma extensão compreensiva do passado, presente e futuro. A pergunta ‘o que sou?’ faz sentido em termos do que ‘em que me tenha tornado’, ou seja, em termos de fatos históricos objetivos juntamente com o modelo de associações significativas, constituindo a biografia ou a identidade do eu. Sendo o ser um movimento temporal, existir é o mesmo que temporalizar-se. O tempo une os sentidos do existir de Joana e, por isso, a temporalidade é o sentido da existência. A construção da identidade da protagonista, como já foi dito, não se faz linearmente. A estruturação do romance desnorteia as expectativas do leitor. Através de suas memórias, somos simultaneamente levados a conhecer os acontecimentos da infância e da vida adulta da protagonista. Passado remoto, passado próximo, presente e aspirações futuras se misturam. Olga de Sá (1979, p. 80) afirma que esses “fatos filtrados pela memória e, às vezes, inventados, atravessa toda a narrativa, como uma espécie de memória involuntária”, ao sabor das associações que o presente propicia. É através desses recortes que a identidade existencial de Joana é delineada.
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15 Embora narrado em terceira pessoa, utilizando o monólogo interior em combinação com o estilo indireto livre, o mundo interno da personagem é trazido para o leitor como se fosse revelado pela própria protagonista. Benedito Nunes (1995) afirma que as vivências da protagonista absorvem os acontecimentos exteriores, escassos e sem uma significância real, e exprimem o conflito dramático que cinde a personagem, interiormente dividida e em oposição aos outros, confirmando que os problemas de Joana se equacionam no nível do ser e não do fazer. Retomando os conceitos de tempo na narrativa, utilizados por Benedito Nunes (2002) e também por Umberto Eco (1994), podemos perceber que no corpus, o tempo da história e o tempo do discurso se fundem e se não fosse difícil quantificar, o tempo da leitura também se fundiria com ambos. Eco (1994) afirma que esse tipo de texto cria um artifício para que o leitor entre no ritmo que o autor julga necessário para a fruição do texto. As divagações, sensações e lembranças de Joana, talvez levem o mesmo tempo para serem lidas e ‘sofridas’ pela protagonista. Nunes (2002, p. 66) afirma que:
É um caso extremo da experiência temporal na arte
de narrar - que indica, também, o limite do ‘feitiço hermético’ do texto romanesco quando tematiza o tempo, com a intenção de retê-lo no presente imóvel de uma súbita iluminação ou epifania para a consciência individual.
A temporalidade não linear, que cria uma espécie de vai e vem de
acontecimentos fora da ordem cronológica e que acompanha a errância interior da personagem, passando de um a outro dos pequenos círculos de sua vida dispersa, serve para lembrar o leitor a todo o momento do itinerário existencial de Joana na busca do sentido da vida, na penetração do mistério que cerca o ser humano. Nessa peregrinação em busca da captura de si, afastada do mundo, já na idade adulta, Joana sofre a angústia da escolha e age de má- fé ao se casar com Otávio. A liberdade, como afirmou Sartre (1987), característica inerente à natureza humana, tão presente na infância de Joana, é deixada de lado para a protagonista viver o conformismo de uma prática cotidiana habitual respeitada e estabelecida pela tradição, mesmo
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16 tendo este ato, a intenção de aproximá-la de alguma maneira de seu processo de autoconhecimento. Com o peso de sua escolha, se dá conta “dessa estranha liberdade que foi a sua maldição e que nunca a ligara nem a si própria” (LISPECTOR, 1980, p. 177) “e vê no marido um estranho, que ela ama hostilizando, um inimigo potencial que ela odeia amando” (NUNES, 1995, p. 20). A vida de mulher casada, com a rotina doméstica, não dá conta de tranquilizar sua inquietação interior. Sem filhos, pois não tinha vocação maternal e sem habilidade para cuidar dos afazeres domésticos, a protagonista se enclausura mais fortemente em suas preocupações existenciais. Joana não fora uma criança parecida com as outras, não sentia prazer em brincar e deixava os professores desconcertados com suas perguntas, não fora a sobrinha domesticada, como sonhara sua tia, e nem a esposa tradicionalmente criada numa sociedade patriarcal, que Otávio, seu esposo, esperou encontrar. Não quis ter filhos e o próprio casamento era visto como uma prisão, um passo errado que ela havia trilhado na desenfreada busca pelo seu autoconhecimento. O que Joana realmente deseja é questionar a sua existência, sua grande preocupação
é analisar instante por instante, perceber o núcleo de
cada coisa feita de tempo ou de espaço. Possuir cada momento, ligar a consciência deles, como pequenos filamentos quase imperceptíveis, mas fortes. É a vida? Mesmo assim ela lhe escaparia (LISPECTOR, 1980, p. 66).
Depois de descobrir que Otávio possuía uma amante, Joana o
deixa totalmente livre para viver com Lídia e com o filho. Otávio, tranquilo, afirma como seria bom livrar-se dela, pois “já se via caminhando entre suas coisas com intimidade” (LISPECTOR, 1980, p. 195). Nesse ínterim, a protagonista arruma um amante. Um homem desconhecido passou a segui-la e certo dia, ela se viu na casa desse estranho e, sem querer saber-lhe o nome, desejando conhecê-lo por outras fontes e por outros caminhos, manteve alguns encontros com ele. O desconhecido que, para ela, era mais um salto para sua autoinvestigação, um dia, acabou partindo.
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17 A subjetividade do mundo interior, descrita no corpus através da epifania, do monólogo interior e do fluxo de consciência aponta para o estilo lírico e introspectivo de Clarice Lispector. Sua literatura, como se observa em Perto do Coração Selvagem, é um ambíguo espelho da mente, que indefine as fronteiras entre a voz do narrador e das personagens. A potência de sua linguagem faz com que ela se comprometa mais com a realidade empírica que quer denunciar do que com o mundo da invenção linguística, proposto por Guimarães Rosa. O universo semântico de seus textos extrapola os limites dicionarizados e é assim que se pode entender o novo campo vocabular de Lispector, quando, por exemplo, descreve o estado de Joana, após a partida dos homens:
Mergulhada numa alegria tão fina e intensa quase
como o frio do gelo, quase como a percepção da música. Ficou de lábios trêmulos, sérios. Eterna, eterna. Brilhantes e confusos sucediam-se largas terras castanhas, rios verdes e faiscantes, correndo com fúria e melodia. Líquidos resplandecentes como fogos derramando-se por dentro de seu corpo transparente de jarros imensos... Ela própria crescendo sobre a terra asfixiada, dividindo-se em milhares de partículas vivas, plenas de seu pensamento, de sua força, de sua inconsciência... Atravessando a limpidez sem névoas levemente, andando, voando[...] (LISPECTOR, 1980, p. 206).
A autora é audaciosa na concepção das imagens, nas metáforas,
nas comparações, no jogo das palavras. Yudith Rosenbaum (2002, p. 21) afirma que as definições são viradas pelo avesso para revelar por dentro a realidade dos seres, suas sensações, gerando ainda novas faces do real a partir de experimentos com a linguagem. Finalmente, com a partida dos homens, Joana volta para seu estado primitivo, e todas as experiências vividas serviram como fragmentos para compor sua identidade, pois sua preocupação maior, como já foi dito, está centrada no processo de se descobrir, encontrar a razão de ser de sua existência, contudo, mais importante que as respostas, éo processo da busca de si. Para isso, ela embarca sozinha para uma viagem não muito bem definida, dando a entender que, naquele
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18 momento, teria condições de se resgatar, pois estaria mais perto do selvagem coração da vida. Como afirma Sartre (1987), o homem, antes de qualquer coisa, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro, sendo assim, Joana só se realizará como Ser e só existirá na medida em que executar seu projeto de autoconhecimento, pois seu destino está em suas mãos e só cabe a ela fazê-lo. Tais imagens se fundem num monólogo interior no último capítulo do romance. O ‘de profundis’, construído através de um melódico monólogo, é descrito no futuro do presente, sem que o passado de Joana a corroa, encaminhando-a, de fato, para uma existência compreendida:
Deus por que não existe dentro de mim? Por que me
fizestes separada de ti? Deus vinde a mim, eu não sou nada, eu sou menos que o pó e te espero todos os dias e todas as noites, ajudai-me, eu só tenho uma vida e essa vida escorre pelos meus dedos [...] Só então viverei maior do que na infância, serei brutal e malfeita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende [...] e nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo (LISPECTOR, 1980, p. 212).
O cavalo, segundo Olga de Sá (1979) é a liberdade tão indomável
que se torna inútil aprisioná-lo para que sirva ao homem: deixa-se domesticar, mas com um simples movimento, sacudindo a crina como a uma solta cabeleira, mostra que sua íntima natureza é sempre bravia, límpida e livre. Assim como o cavalo novo, Joana vai para essa viagem, que deixa a narrativa suspensa à possibilidade de uma busca que recomeça a errância da personagem. O inacabamento da narrativa reduplica a existência inacabada de Joana, que leva junto consigo algo mais que a liberdade, pois nas palavras da protagonista: “o que desejo ainda não tem nome” (LISPECTOR, 1980. p. 64).
JOANA: A SUBVERSÃO DO GÊNERO
Lúcia Osana Zolin (2009) afirma que a obra de Clarice Lispector
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19 significa na trajetória da literatura de autoria feminina no Brasil, um momento de ruptura com a reduplicação dos valores patriarcais. Com Perto do Coração Selvagem, publicado originalmente em 1944, Lispector inaugura outra forma de narrar dentro de um espaço tradicionalmente fechado à mulher. Lispector não é panfletária, no entanto, suas obras abordam questões que dizem respeito ao movimento feminista e suas conquistas: a) discussões a respeito dos valores patriarcais; b) textos que tornam visível a repressão feminina nas práticas sociais; c) tentativa de libertar a mulher da opressão que tem tolhido seus movimentos e d) desmontagem dos alicerces das narrativas centradas na visão patriarcal do feminino. Em Perto do coração selvagem, sem saber quem é e se questionando a todo o momento a respeito das escolhas que deve fazer, a identidade feminina do romance luta para apropriar-se de si mesma, longe do espelho masculino. Joana foge à regra, ou seja, possui uma identidade totalmente contrária daquela imposta para designar o grupo das mulheres, ignorando a existência de uma identidade feminina, um denominador comum à categoria das mulheres, representadas a partir das funções de dona-de-casa, boa esposa e mãe de família. Utilizando-se da personagem, Clarice Lispector traz à tona as particularidades e a hibridez da identidade de mulheres, não mais concebidas em termos estáveis ou permanentes (visão essencialista sobre Mulher), pois é impossível incluir todas as mulheres e suas inúmeras distinções (sociais, culturais, pessoais etc.) em um mesmo grupo. Bonnici (2007 apud PAJOLLA, 2011) afirma que é vã a procura da essência feminina, a qual definiria todas as mulheres enquanto mulheres. Ademais, não se pode presumir que aquilo que se aplica a uma mulher se aplicará a outras mulheres. Levando-se em consideração suas experiências na infância, na adolescência e finalmente na vida adulta, Joana vive despreocupadamente, sem seguir métodos ou regras (impostos por este grupo identitário ao qual ela não pertence), na tentativa de entender sua posição no mundo.
A liberdade que às vezes sentia não vinha de
reflexões nítidas, mas de um estado como feito de percepções por demais orgânicas para serem
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20 formuladas em pensamentos. Às vezes no fundo da sensação tremulava uma idéia que lhe dava leve consciência de sua espécie e de sua cor. O estado para onde deslizava quando murmurava: eternidade (LISPECTOR, 1980, p. 44).
Há em Perto do Coração Selvagem, uma ruptura com as
definições preconcebidas sobre as adequações de gênero e o que prevalece é a desmontagem de estereótipos e máscaras de ambos os sexos. Bonnici (2007) afirma que gênero é a maneira como a cultura vê a mulher (e o homem) e como esta é construída culturalmente.
O estudo de gênero não analisa biologicamente a
mulher. Ou seja, o fato da mulher ter seios e útero não faz parte do objeto dos estudos de gênero. Referindo- se à mulher como naturalmente passiva tímida, intuitiva, chorona, dependente, sem iniciativa, a reduz automaticamente a uma série de papéis. São os tradicionais papéis femininos, os quais, construídos culturalmente, foram atribuídos a muitas gerações de mulher (BONNICI, 2007, p. 126).
Simone de Beauvoir, ao afirmar que a mulher não nasce mulher,
torna-se mulher, propõe a diferenciação básica entre sexo e gênero, abrindo as portas para inúmeras e frutíferas discussões. O feminismo tem-se focalizado sobre o gênero porque acredita que “uma reviravolta nesses papéis será a maneira mais eficaz para inverter as relações de poder entre homens e mulheres” (BONNICI, 2007, p. 126). Esta inversão é claramente percebida no corpus. A protagonista do romance foge dos moldes estereotipados. Subversiva e transgressora, Joana vai à contramão de toda uma tradição de personagens dóceis, fragilizadas, dependentes do pai e do marido, confinadas dentro de casa, preocupadas com questões domésticas. Joana torna-se assim o discurso do Outro (neste sentido, o discurso dominador) por excelência, tornando-se totalmente insubordinada ao discurso masculino, desconstruindo a dicotomia de mulher vítima/boa índole e homem algoz/má índole. No romance há três figuras masculinas de destaque: o pai de Joana, o professor e o esposo. Todos os personagens são aniquilados
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21 mediante a força da protagonista, constituindo-se perfis diferentes dos que normalmente apareciam na literatura até então. O pai não dá conta de acompanhar a inteligência da filha, o professor se surpreende com as opiniões da garota a respeito da vida e o marido torna-se oprimido pela figura da esposa decidida, como se ela fosse uma vigia, sempre a espera de um passo errado. Assim, como Joana é subversiva no papel de mulher, automaticamente, os homens que convivem com ela, possuem um papel secundário e oprimido, funcionando com papel de outro do Ser (no caso, Joana). O fragmento a seguir, exemplifica o mal-estar do marido.
Otávio estendeu a mão e tomou-o. Uma folha de
caderno intercalava suas páginas. Olhou-a e descobriu a letra incerta de Joana. Inclinou-se com avidez. A beleza das palavras: natureza abstrata de Deus. É como ouvir Bach. Por que preferia que ela não tivesse escrito essa frase? Joana sempre o encontrava desprevenido. Ele se envergonhava como se ela estivesse claramente mentindo e ele fosse obrigado a enganá-la, dizendo-lhe que acreditava nela[...] (LISPECTOR, 1980, p. 132).
A vida de mulher casada, com a rotina doméstica, não dá conta de
tranquilizar sua inquietação interior. A casa, “representação do espaço privado, frequentemente ligado à prisão pela perspectiva feminista” (XAVIER, 2011, p. 22), não funciona como um obstáculo na vida de Joana. Apesar de não ter tido filhos, pois não tinha vocação para a maternidade e sem habilidade para cuidar dos afazeres domésticos, a protagonista se fecha ainda mais no seu mundo interior, como mostra o trecho a seguir:
A manhã seguinte era de novo como um primeiro dia,
sentiu Joana. Otávio saíra cedo e ela o abençoava por isso como se ele lhe tivesse concedido intencionalmente tempo para pensar, para observar- se (LISPECTOR, 1980, p. 148).
Um dos pontos de maior transgressão e subversão de valores (de
uma sociedade patriarcal, ao menos) é o momento em que a protagonista descobre que o esposo havia retomado uma relação anterior a ela, com sua
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22 ex-noiva Lídia. A amante estava grávida, e Joana resolve então, marcar um encontro com a possível rival. Esta atitude nos faz pensar que a figura de Joana dissipa (e dilui definitivamente aquela identidade de mulheres iguais) a visão de mulher reclusa, sofredora, que não tem voz para gritar suas indignações, mulheres submetidas a todos os tipos de humilhação concedidos principalmente pelo marido. Esta mulher existia ainda na época da publicação do romance, isto mostra que à frente de seu tempo, Lispector fazia denúncias ao modelo de sociedade patriarcal que regulava os passos da mulher, “construindo personagens que criticariam e se tornariam totalmente desajustadas a este padrão oprimente, transpondo as limitações impostas pela ideologia vigente” (ZOLIN, 2009, p. 231). O trecho a seguir, narra a conversa das mulheres e aponta a visão de Joana a respeito de uma das práticas sociais mais comuns da sociedade patriarcal, destino de todas as mulheres dignas, religiosas e valorizadoras dos bons costumes: o casamento.
- Você gostaria de estar casada - casada de verdade -
com ele? - indagou Joana. Lídia olhara-a rapidamente, procurava saber se havia sarcasmo na pergunta: - Gostaria. - Por quê? - surpreendeu-se Joana. Não vê que nada se ganha com isso? Tudo o que há no casamento você já tem - Lídia corou, mas eu não tinha malícia, mulher feia e limpa. - Aposto como você passou toda a vida querendo se casar. Lídia teve um movimento de revolta: era tocada bem na ferida, friamente. - Sim. Toda mulher... - assentiu. - Isso vem contra mim. Pois eu não pensava em me casar. O mais engraçado é que ainda não tenho a certeza de que não casei... Julgava mais ou menos isso: o casamento é o fim, depois de me casar nada mais poderá me acontecer. Imagine: ter sempre uma pessoa ao lado, não conhecer a solidão. - Meu Deus! - não estar consigo mesma nunca, nunca. E ser uma mulher casada, quer dizer, uma pessoa com destino traçado. Daí em diante é só esperar pela morte (LISPECTOR, 1980, p. 159, grifos nossos).
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23 Fica evidente nesta passagem, a maneira irônica que Clarice Lispector, dando voz à protagonista, questiona o modelo patriarcal, no qual a mulher condenada à imanência (o casamento) fica reduzida ao espaço privado, a um destino traçado. Notamos a tranquilidade com que Joana assume o papel de mulher-sujeito, ou seja, possui um comportamento de insubordinação perante a sociedade preconceituosa, por seu poder de decisão, dominação e imposição, enquanto Lídia, apesar de ter sido corajosa e subversiva ao se encontrar com a esposa de seu amante, podendo ser até considerada uma adúltera inconsequente, ocupa o papel de mulher-objeto, submissa, resignada, com o sonho de casar e por isso frustrada (tocada na ferida) pela impossibilidade de realização do mesmo. Otávio não é o provedor, com posição social e econômica estável, com atributos que o engrandece e nem é disputado pelas duas mulheres, mas sim um objeto que não faz diferença para a esposa e encontra nos braços da ex-noiva, a possibilidade de fuga do incômodo que sente a respeito de sua relação com Joana. Encaminhando-nos para o final desta análise, apontemos uma nova visão para o aparecimento do homem desconhecido, que passou a seguir a protagonista. Depois de alguns encontros, acaba partindo, todavia, além de contribuir para os questionamentos de Joana, colabora para desmontar a visão angelical das mulheres que preservam seu corpoe que se mantêm fiéis ao marido, independente dos problemas que o casamento proporcionar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término deste estudo, evidenciamos a grande importância da
Filosofia Existencialista e de seus conceitos para a análise do corpus em questão. Nossa intenção foi salientar o modo pelo qual o texto permitiu, através da teoria utilizada, construir a identidade da protagonista, mesmo sabendo de sua condição heterogênea e mutável. Antes de viver, a vida não é nada. Joana é uma peregrina incansável, que tenta dar um sentido a sua vida, e o valor não é outra coisa senão esse sentido que ela escolheu. Joana se questiona: O que importa afinal: viver ou saber que se está vivendo? Tal preocupação existencial da protagonista fica evidenciada através da
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24 presentificação, distorção de acontecimentos e memórias, referentes à configuração cronológica do romance, e ao embarcar para a viagem final, onde a morte é o horizonte e limite do futuro, Joana volta a si, pois ela é a única que pode realizar a união consciente entre o que é e o que já foi. Quando se faz presente, no sentido de viver autenticamente sua situação, ela retrocede para si, o que faz do presente um misto do passado e de antecipação do futuro. Evidenciamos também, simultaneamente, a importância da Crítica Feminista para a análise do corpus em questão. Nossa intenção foi salientar o modo pelo qual o texto está marcado pela fragmentação identitária e pela diferença de gênero, visando despertar o senso crítico e promover mudanças de mentalidades. Clarice Lispector, logo em sua primeira publicação rompeu com os discursos consagrados pela tradição, nos quais a mulher ocupa um lugar secundário em relação ao lugar ocupado pelo homem, marcado pela marginalidade, pela submissão, pelo medo. Alessandra Pajolla (2011, p. 159) afirma que “o sistema patriarcal criou a mulher prefeita. Passiva, obediente, recatada. Altruísta, está sempre disposta a colocar os interesses da família em primeiro lugar”, mas eis que a rainha do lar já não se contenta em viver nos limites de seu castelo, a desordem se instala e ela não se sente confortável nos papéis que lhe foram reservados há séculos. Esta reviravolta é a situação que vemos claramente em nosso corpus. Podemos comprovar com a análise de Perto do Coração Selvagem, que a protagonista do romance ocupa um lugar de destaque, de sujeito, que rege sua vida, como realmente tem de ser, fugindo de todo tipo de dominação e repressão, não pertencendo a uma identidade estereotipada e não cumprindo os mandos e desmandos de uma sociedade patriarcal que dita regras culturalmente preconceituosas e incutidas em nossa história. No romance, coube ao homem o papel subjugado, inferior, anulado e sem destaque. De uma maneira geral, Perto do Coração Selvagem aponta para uma nova concepção de sujeito, não mais identificado com uma racionalidade que se acredita soberana, mas sim descentrado da consciência e aberto ao mundo imprevisível e ilimitado do inconsciente. É a aceitação do indivíduo como um ser em processo, nunca pronto e
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25 definido, constituindo-se um sujeito múltiplo, em vez de único, e contraditório, em vez de simplesmente dividido. No entanto, sabemos que um texto rico como este não se encerra apenas levando-se em conta as contribuições do Existencialismo e da crítica de matriz feminista, podendo ser analisado e revisitado com base em outras teorias e leitores com os mais variados repertórios. Assim, notamos que a vida é composta de referências e releituras de determinadas situações. Desta forma, quem possui mais conhecimento, leituras, experiências, um universo mais amplo e um maior contato com as variadas áreas do conhecimento, têm muito mais chances para percebê-las.
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