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Termos para indexação: deficiência hídrica, vazão específica, irrigação, cursos d´água.
Introdução
O Brasil destaca-se como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar (Saccharum
officinarum), com uma previsão de serem produzidas mais de 470 milhões de toneladas na safra
2007/08 (CONAB, 2007). O setor sucro-alcooleiro vem se expandindo a partir do surgimento de uma
nova crise energética mundial e da necessidade de diminuição da queima de combustíveis fósseis para
desacelerar o crescimento do efeito estufa ao nível global. Com a expansão do setor observada a partir
da safra 2003/2004, dezenas de usinas estão sendo construídas ou planejadas no Bioma Cerrado,
principalmente no Estado de Goiás.
A área de domínio do Bioma, em sua grande parte, apresenta duas estações bem definidas: uma
chuvosa, que se inicia entre os meses de setembro e outubro e vai até os meses de março e abril; e a
outra estação seca, marcada por profunda deficiência hídrica causada pela redução drástica dos índices
pluviométricos. Essa estação seca se inicia entre os meses de abril-maio e perdura até parte dos meses
de setembro-outubro, fazendo com que, normalmente, 5 a 6 meses do ano apresentem deficiência
hídrica climática (Keller Filho et al., 2005), o que, de certa forma, representa um fator de risco para a
produção agrícola no Bioma.
Com a expansão do cultivo de cana-de-açúcar no Cerrado, em algumas de suas regiões,
haverá necessidade de irrigação de lâminas de água entre 80 mm e 120 mm, realizados, normalmente,
após o plantio ou colheita da cultura, denominada “irrigação de salvamento”. Se essas aplicações de
água não forem bem planejadas, podem gerar conseqüências irreversíveis sobre a biodiversidade e
conflitos pelo o uso dos recursos naturais, principalmente da água.
O objetivo deste trabalho foi identificar as regiões do Estado de Goiás onde o cultivo da cana-
de-açúcar depende do uso de irrigação de salvamento em determinadas épocas mais secas do ano e
avaliar a capacidade de atendimento dessa demanda de água em função da disponibilidade hídrica nos
seus rios.
Material e Métodos
O trabalho foi desenvolvido na área de abrangência do Estado de Goiás, situado entre as
latitudes de 13o e 19º S e longitudes de 46º e 53º O. Foram utilizados os dados de precipitação de 210
estações meteorológicas distribuídas no Estado de Goiás e municípios limítrofes. As estações foram
escolhidas pela sua localização e por possuírem uma base de dados consistente com pelo menos 15
anos de registros, tendo localidades com até 34 anos de registros.
Como os dados de temperatura estão disponíveis num número relativamente pequeno de
localidades em relação aos de precipitação, foi utilizado o modelo de regressão múltipla quadrática,
tomando-se a latitude (φ), a longitude (λ) e a altitude (ξ) como variáveis independentes, ou seja: Tm =
A m +B m φ+C m λ+D m ξ+E m φ2 + F m λ2 + G m ξ2 + H m λφ + I m λξ + J m φλ, para estimar a
temperatura de cada mês (m = 1, 2, 3...12) e ano (m = 13). Os coeficientes mensais e anual Am, Bm, ...
Jm foram determinados pelo método dos mínimos quadrados dos desvios.
Para indicar as áreas aptas à cultura da cana de açúcar no Estado de Goiás foram eleitos dois
parâmetros climatológicos: temperatura média do ar e deficiência hídrica anual.
Temperatura média do ar
O desenvolvimento de qualquer cultura agrícola está intimamente relacionado a temperatura
ambiente. Para a cultura da cana de açúcar os dados da pesquisa apontam um ritmo de crescimento
mais lento sempre que a temperatura do ar estiver abaixo dos 25ºC, uma taxa de crescimento máximo
quanto os valores estão entre os 30ºC e 34ºC, tornando-se novamente lento frente a valores maiores que
35ºC.
De acordo com todas as informações fornecidas pela pesquisa foram adotadas as seguintes
classes de temperatura média anual em relação a aptidão à cana de açúcar:
a) Temperatura média anual < 18ºC - restrição acentuada e inapta à cultura da cana de açúcar para
indústria;
b) Temperatura média anual de 18ºC a 20ºC – restrição parcial por carência térmica;
c) Temperatura média anual > 20ºC – ideal, ótimo ao crescimento da cana de açúcar;
d) Temperatura média anual < 14ºC – limite abaixo dos qual a cana de açúcar se torna inviável por
carência térmica severa.
Em seguida, foram extraídas as áreas com declividade superior a 12%, as áreas de reservas e
áreas de cerrado remanescente apresentadas em Brasil (2007) e, consideradas, neste estudo, como
inaptas para a expansão da cana.
A distribuição espacial da média das vazões específicas mínimas mensais observadas no mês de
setembro no Estado de Goiás foi obtida a partir dos dados da Rede Hidrométrica Nacional, atualmente
sob gestão da Agência Nacional de Águas – ANA, utilizada por Lima et al. (2008).
Resultados e Discussão
Na Figura 1, são apresentadas as áreas com declividades superiores a 12%, as áreas de cerrado
remanescente, as áreas de reservas e as áreas com possibilidade de expansão da cultura da cana-de-
açúcar sem a necessidade de irrigação, ou seja, com deficiência hídrica média anual é inferior a 200
mm (cor verde). Estas áreas correspondem à cerca de 2,61 milhões de hectares, estando localizadas
principalmente ao sul de Goiás e entorno oeste do Distrito Federal. Observam-se também as áreas com
deficiência hídrica entre 200 mm e 300 mm médios anuais, que permitem a expansão da cana, mas com
necessidade de irrigação suplementar de 80 mm (cor amarela). Elas totalizam 9,38 milhões de hectares
distribuídos principalmente nas regiões central, oeste, sudeste e uma estreita faixa no sudoeste do
Estado. Finalmente, observa-se que as áreas mais críticas onde ocorre deficiência hídrica superior a 300
mm (cor vermelha), correspondem a 6,48 milhões de hectares distribuídos na faixa de oeste a noroeste
e que depois se estende para o extremo norte do Estado. Nessas áreas, o cultivo da cana-de-açúcar só é
economicamente viável com a realização de irrigação suplementar ou de salvamento de, no mínimo,
120 mm de água durante os seis meses da estação seca na região.
Figura 1. Zoneamento de áreas com necessidade de diferentes lâminas de irrigação de salvamento para
viabilizar o cultivo de cana-de açúcar no Estado de Goiás.
Figura 2. Distribuição espacial da média das vazões específicas mínimas observadas no mês de
setembro no Estado de Goiás.
Conclusões
1. As áreas com maior demanda de água para irrigação da cana-de-açúcar no Estado de Goiás
(porção noroeste do estado) são as que possuem as menores disponibilidades hídricas nos
rios, assim, devem receber atenção especial quanto à introdução dessa cultura, bem como
em relação à gestão de seus recursos hídricos;
2. Na porção sudoeste do estado, de uma forma geral, não há restrições hídricas com relação
ao cultivo de cana-de-açúcar;
3. No restante do estado, há condições hídricas para o cultivo de cana-de-açúcar, contudo, a
relação entre a oferta e a demanda hídrica para essa prática deve ser sempre avaliada com
alguma atenção.
Referências bibliográficas
ANA. Agência Nacional de Águas. Hidroweb: Sistema de Informações hidrológicas. Disponível em:
<http://hidroweb.ana.gov.br>. Acesso em: 20 jun 2008.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Edital Probio 02/2004. Projeto executivo B.02.02.109.
Mapeamento de cobertura vegetal do bioma Cerrado: relatório final. Brasília, DF, 2007. 93 p.
Projeto concluído. Coordenador técnico: Edson Eyji Sano. Unidades executoras: Embrapa
Cerrados, Universidade Federal de Uberlândia, Universidade Federal de Goiás. Disponível em:
<http://mapas.mma.gov.br/geodados/brasil/vegetacao/vegetacao2002/cerrado/documentos/relatorio
_final.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2007.