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Da Prisão e da Prisão Provisória

(Artigos 282 a 350 do Código de Processo Penal)


Prisão – conceitos essenciais

1. Introdução: Dispõe o artigo 5º, caput, da Constituição Federal de 1988: Todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade...”.

Dentro o direito à liberdade, gênero, entre outras espécies para nos interessa o 1
direito à liberdade de locomoção, ou seja, o direito de ir, vir e ficar, que recebeu proteção
especial em nossa Constituição Federal. Para tanto, basta verificarmos:

Art. 5º. da CF:

XV – é livre a locomoção no território em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei,
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens:

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos
em lei;

LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com
ou sem fiança;

LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

Conclui-se ser inerente ao cidadão o direito de liberdade de locomoção, ficando a


restrição desta condicionada aos requisitos estabelecidos pela lei: flagrante delito ou por
ordem escrita da autoridade judiciária. Fora disto, é cabível o habeas corpus para se restituir
a liberdade do indivíduo, sem prejuízo da responsabilização criminal, civil e administrativa de
quem retirou a liberdade de alguém de forma ilegal.

Como exceções a tais regras, é permitida a prisão, em caráter excepcional, sem


ordem legal, durante o estado de defesa (art. 136, § 3.º, I) e durante o estado de sítio
(art. 139, III).

2. Prisão: é a privação da liberdade de locomoção, determinada por ordem escrita da


autoridade competente ou em caso de flagrante delito. Em face de nossa Constituição
Federal, a regra geral é que a prisão deve ser sempre precedida de mandado judicial,
salvo em caso de flagrante delito (art. 5º, LXI), transgressão militar ou crime propriamente
militar (art.5º, LXI), durante o estado de sítio (art. 139, II), sendo permitida, ainda, a
recaptura sem mandado (art.684), vez que a prisão anterior era legal, por ter ocorrido uma
das hipóteses legais.
3. Espécies de Prisão: dentre as várias espécies de prisões, temos:

 Prisão-pena ou prisão penal: é a que ocorre após o trânsito em julgado da sentença


condenatória em que se impôs a pena privativa de liberdade. Tem finalidade repressiva. No
Brasil, a prisão-pena, dado ao princípio da presunção de inocência, somente é decorrente da
sentença condenatória transitada em julgado.

 Prisão sem pena (prisão provisória) ou prisão processual: são todas aquelas que
não resultem de decisão condenatória criminal irrecorrível. Essas prisões processuais têm
natureza de medida cautelar, ou seja, são medidas adotadas visando resguardar o normal
andamento do processo e a efetivação da sanção penal porventura aplicada, que podem ser
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afetadas por atos do réu que se mantém em liberdade. Como tem natureza cautelar, para
ser decretada necessitam estar presentes o fumus comissi delicti e o periculum libertatis.
Estão incluídas entre estas: a) a prisão em flagrante (arts. 301 a 310), b) prisão preventiva
(arts. 311 a 316) e c) a prisão temporária (Lei nº 7960/89).

 Prisão civil: trata-se de medida de coação executiva para compelir alguém a um


cumprimento de dever civil. E decretada pelo Poder Judiciário em casos de devedor de
alimentos (art. 5º LXVII). A Constituição Federal veda as demais prisões civis. Nota-se que
tal prisão não tem caráter punitivo, mas sim coercitivo, porquanto o objetivo dela é coagir o
devedor ao cumprimento das obrigações, tanto que tão logo cumprida, esta prisão cessa.

 Prisão disciplinar: é aquela que permitida pela própria Constituição para as


transgressões militares e crimes militares (art.5º, LXI).

4. Particularidades da prisão:

 O Código Eleitoral prevê que 5 dias antes e 48h depois do dia da eleição não podem ser
cumpridos mandados judiciais de prisão processual (finalidade: assegurar o exercício do
direito político; podem, entretanto, ser efetuadas as prisões em flagrante e as decorrentes
de sentença penal condenatória com trânsito em julgado) – art. 236, CE.

 A prisão para averiguação é uma prisão ilegal (não confundir com requisitos da
Temporária).

 Art. 5º - a prisão necessita de ordem escrita e fundamentada da autoridade


competente, salvo prisão em flagrante, recaptura de réu foragido, prisão durante o Estado
de Sítio e prisão durante o Estado de Defesa.

5. Mandado de prisão: trata-se de instrumento escrito que dá corpo a ordem judicial de


prisão. É previsto no art. 285, caput: "A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o
respectivo mandado".

5.1. Cumprimento: no cumprimento do mandado de prisão, são obedecidas as seguintes


regras:

 A prisão poderá ser efetuada a qualquer dia e hora (incluindo domingos e feriados, de
noite etc.), respeitando-se apenas a inviolabilidade do domicílio. É a regra do art. 283 do
Código de Processo Penal. Lembre-se que em processo penal “dia” corresponde, conforme a
maioria da doutrina, o período que vai das 06h00 às 18h00. Lei de Abuso de Autoridade –
novo paradigma. Art. 22, § 1º, inciso III – 21h00 as 05h00.

 O executor entregará ao preso, logo após a prisão, cópia do mandado, a fim de que ele
tome conhecimento do motivo pelo qual está preso (art. 286). Desta entrega, deverá o preso
passar recibo no outro exemplar. Caso não saiba ou não puder escrever, o fato será
mencionado na declaração assinada por duas testemunhas.

 O preso será informado de seus direitos, entre os quais de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada à assistência da família e de advogado (art. 5º, LXIII). Tem direito, ainda, à
identificação dos responsáveis pela sua prisão e por seu interrogatório extrajudicial (art. 5º,
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LXIV). Tais disposições, embora se dirijam aos presos e autuados em flagrante delito, são
aplicáveis, no que couber, ao preso por execução de mandado.

 A prisão, em caráter excepcional, poderá ser efetuada sem a apresentação do mandado,


desde que o preso seja imediatamente apresentado ao juiz que determinou sua expedição e
se trate de infração inafiançável (art. 287). Contudo o preso será apresentado para a
realização de audiência de custódia. Nota-se que se presume a existência do mandado, mas
se dispensa a sua apresentação. Por cautela, o preso é apresentado perante o juiz.

 Uso da força: a regra geral é que para a prisão não pode utilizar a força física. As
exceções estão previstas no art. 284, que dispõe: a) uso de força no caso de resistência e b)
no caso de tentativa de fuga do preso. A força nestes casos, somente pode ser usada nos
limites indispensáveis para vencer a oposição.
 Recolhimento à Prisão - antes desse recolhimento o mandado deve ser exibido ao
carcereiro (estabelecimento – cadeia pública, separado do preso definitivo).

Não havendo assinatura da autoridade no mandado, bem como identificação precisa do


executor e menção da infração penal, haverá nulidade do mandado (art.564, IV). Mas, na
ausência de outras formalidades, haverá mera irregularidade, que não impedirão o
cumprimento da ordem.

Das Prisões Processuais em espécie

Prisão em flagrante

(Artigos 301 a 309 do Código de Processo Penal)

1. Conceito: é medida restritiva de liberdade, de natureza pré-cautelar consistente na


prisão, independente de ordem escrita do juiz competente, de quem é surpreendido
cometendo, ou logo após ter cometido, um crime.

2. Características: é prisão pré-cautelar; não requer ordem escrita, e só deve ser mantida
quando necessária.
3. Espécies de flagrante: o Código de Processo Penal dispõe acerca de três situações que
caracterizam o flagrante, enumeradas em ordem decrescente em relação à sua evidência
probatória. Assim, diante da redação do art. 302, temos o:

 Flagrante próprio: é também conhecido como propriamente dito, real ou verdadeiro.


Ocorre quando o agente é surpreendido ao praticar os atos de execução do fato típico, ou
seja, é surpreendido quando comete uma infração (art.302, I), bem como quando acaba de
cometê-la (art. 302, II), sendo surpreendido, porém, no locus delicti ou nas suas cercanias e
imediações, mas em imediata relação pessoal com o episódio, evidenciando desse modo a
sua atualidade. Também se entende em flagrante delito próprio, porque está cometendo a
infração penal, aquele que é surpreendido durante o protraimento do momento consumativo 4
nos crimes permanentes (cf. art. 303, CPP). Tais situações recebem o nome de flagrante
próprio ou real, porque existe imediatidade visual da prática da infração, havendo manifesta
evidência probatória quanto ao fato típico e sua autoria.

 Flagrante impróprio: também conhecido como irreal ou quase-flagrante. Pela dicção da


lei, temos que ele ocorre quando o agente é perseguido, logo após cometer o ilícito, em
situação que faça presumir ser o autor da infração penal (art.302, III). Não quebra a
continuidade a substituição ou alternância de perseguidores, desde que não haja interrupção
da perseguição.

 Flagrante ficto ou presumido: trata-se da hipótese prevista no inciso IV do artigo 302


do Código de Processo Penal. Ocorre quando o indivíduo é encontrado, logo depois, com
instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da infração. A
pessoa, agora, é encontrada, porém sem perseguição. Pode ser encontrada por mero acaso
ou se porque foi procurada, estando em flagrante nas duas situações. O detido, entretanto,
há de ser encontrado com objetos que façam presumir ter sido ele o autor da infração (pé de
cabra, gazua, capuz, armas, documentos em branco ou adulterados). A doutrina tem
entendido que “logo depois” comporta um lapso temporal maior que “logo após”.

4. Legitimidade para a efetivação do flagrante: em se tratando do sujeito ativo do


flagrante, temos que, conforme redação do artigo 301, qualquer do povo poderá e as
autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
flagrante delito. Há, pois, uma faculdade e uma regra, gerando duas espécies de flagrante:

 Flagrante facultativo: qualquer pessoa tem a faculdade de prender em flagrante delito


quem seja encontrado em uma das situações de legitimidade fática do flagrante, possuindo
igual faculdade, à evidência, a própria vítima ou ofendido, eis que a expressão qualquer do
povo não lhe é excludente, mas compreensiva e abrangente.

 Flagrante compulsório ou necessário: tocante aos agentes policiais, a efetivação da


prisão em flagrante constitui dever que por lei lhes é imposto (dever legal), de sorte que a
omissão voluntária no cumprimento desse dever, além de sujeitar a autoridade omissa às
sanções administrativas que couberem, poderá ainda implicar responsabilidade penal pelo
delito de prevaricação (art. 319, CP). Recebe o nome de compulsório porque o agente é
obrigado a efetuar a prisão, não possuindo discricionariedade ou conveniência para não o
fazê-lo. É a regra em nosso ordenamento, sofrendo algumas exceções no caso do flagrante
prorrogado ou retardado.

5. Outras classificações de flagrante: o flagrante forjado, o esperado, o preparado e


o prorrogado: trata-se de 04 espécies diferentes, sendo elas:

 Flagrante Provocado ou Preparado: se dá quando o agente é induzido ardilosamente


a praticar o fato. Não é válido em nosso ordenamento. Nota-se que neste caso, a autoridade
policial ou seus agentes instigam a prática de um crime, de maneira que o delito somente é
praticado diante desta atuação. Como, em regra geral, o agente que provocou o flagrante se
cerca de cautelas para impedir a consumação da infração ou, então, se preparou para
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imediatamente, após sua prática, prender em flagrante o autor, tal crime se torna impossível
(art. 17 do Código Penal), tendo o STF sumulado o seguinte entendimento: não há crime
quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação (súmula
145).

 Flagrante Esperado: se dá quando se sabe previamente do crime e espera-se a


conduta para o flagrante. Este é valido. Ocorre quando a polícia, informada da possibilidade
de ocorrer uma infração penal, dirige-se até o local, aguardando a sua execução. Quando
começada esta, os agentes policiais prendem em flagrante o autor, havendo aqui crime
passível de persecução criminal.

 Flagrante Forjado (maquiado, urdido ou fabricado): é o flagrante inventado pelo


sujeito ativo, que forja uma situação inexistente. Se dá quando a polícia ou terceiros forjam
um quadro probatório com a única finalidade de enganar as autoridades competentes para a
persecução ou julgamento no sentido de um crime em flagrante que não ocorreu, Ex.: um
policial coloca droga no carro de uma pessoa e o prende em flagrante. Trata-se de prisão
ilegal, sendo a conduta criminosa.

 Flagrante Prorrogado, retardado ou diferido: consiste no retardamento da prisão


em flagrante até o momento em que seja possível executá-lo com máxima oportunidade e
eficiência. A ação controlada prevista nos arts. 8º e 9º da Lei 12.850/2013 (Lei de
Organizações Criminosas) é exemplo de flagrante prorrogado. Outro exemplo, é a não-
atuação policial prevista no art. 53, II da Lei 11.343/2006. Trata-se de exceção a regra pela
qual a Autoridade e seus agentes são obrigados a realizar o flagrante no momento em que
ele ocorre.

6. Auto de prisão em flagrante: é a peça que corporifica e documenta o ato da captura e


da prisão. Ele deve ser efetuado pela autoridade policial da respectiva circunscrição em que
tenha ocorrido a captura (independente do crime ter ocorrido em outro lugar). Porém, como
a autoridade policial não detém nem exerce jurisdição, a não observância dessa norma
administrativa não tem o condão de gerar nulidade por incompetência ratione loci.

 Etapas: São as seguintes etapas do auto de prisão e flagrante:

 Fase de deliberação: ao receber o preso e a notitia criminis, a Autoridade deverá


analisar estes, bem como os elementos que foram colhidos, com o escopo de se verificar ter
ocorrido ou não infração penal e se se trata de hipóteses de flagrante delito. De fato, a
prisão não obriga necessariamente a lavratura do autor, podendo a Autoridade restar não
convencida da existência da infração penal ou de sua autoria, bem como por entender que
não houve flagrância. Nesses casos, dispensará a lavratura do autor, podendo determinar
primeiramente a instauração de inquérito policial para melhor apurar os fatos.

 Fase de Comunicação: caso decida lavrar o auto, deverá, primeiramente, a


Autoridade comunicar o preso de seus direitos constitucionais, entre os quais da
possibilidade de comunicar a prisão à sua família ou pessoa por ele indicada (art. 5º, nº
LXIII, CF). A falta de expressa menção desta diligência invalida formalmente o auto, pois a
exigência constitucional da comunicação referida foi posta como providência indeclinável e
como condição da eficácia jurídica e validade dele. Sendo inválido, deve ser relaxado, pondo- 6
se em liberdade o detido. Porém, a nulidade não se transmite à ação penal. Não se falará em
nulidade, ainda, se a ausência de comunicação provier de falta de indicação do interessado.
A assistência por advogado no momento da lavratura do auto supre a falta da comunicação à
família do preso. Haverá relaxamento se houver omissão, por ocasião do interrogatório do
detido no flagrante, da informação de ter o direito de permanecer calado (CF, art. 5º, LXIII).

 Fase de instrução: após a comunicação dos direitos constitucionais do detido e


providenciadas as comunicações por ele requeridas, passa-se a instrução do auto de
flagrante. Desse modo, primeiramente ouve-se o condutor (art. 304, CPP), que é a pessoa
que conduziu o preso até a Autoridade. Após a colheita de sua assinatura é entregue uma
cópia de seu termo de declaração, bem como recibo de entrega do preso. Após, passa-se à
oitiva de pelo menos duas testemunhas, face à alusão, no plural, “a testemunhas”, inscrita
no artigo 304, podendo o condutor, para se completar o mínimo legal, ser considerado como
testemunha. Posteriormente, será ouvida a vítima, se houver. Nota-se que ouvidas as
testemunhas e vítima são elas liberadas, logo após assinarem o termo. A oitiva do ofendido
em seguida aos depoimentos testemunhais resulta de ordem que a prática consagrou, não
havendo disposição legal neste sentido. Desse modo, a inversão nas oitivas de testemunhas
e vítima não causa a qualquer irregularidade.

Não havendo testemunhas (quer porque inexistam, quer porque não tenham ainda
sido identificadas ou localizadas), sua falta não obstará a lavratura do flagrante, caso em
que, face o artigo 304, § 2º, com o condutor deverão assinar o auto pelo menos duas
pessoas que tenham assistido a apresentação do preso à Autoridade. São as chamadas
testemunhas de apresentação.

Por derradeiro, deve ser interrogado o detido, alertando-se o para o direito que tem de
permanecer calado. O interrogatório do conduzido é um dos requisitos formais de validade
do auto. Se irregular, nulo será o auto e, consequentemente, inválida a prisão em flagrante
efetivada se o preso não for inquirido sobre o fato delituoso e suas circunstâncias. O
interrogatório deverá ser sempre realizado, salvo quando sua efetivação é impossível dentro
do prazo para a entrega da nota de culpa (art. 306), por uma circunstância insuperável e
alheia à vontade da autoridade, que deverá ser consignada no auto. Se o acusado se recusar
a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto será assinado por duas testemunhas, que
tenham ouvido a leitura na presença do acusado, do condutor e das testemunhas
(art.304, § 3º).

Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a


existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o
contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.

Encerrado o flagrante deverá, ainda, dentro do interstício de vinte e quatro horas


depois de que foi lavrado, ser dada nota de culpa ao preso, com a menção dos dados
previstos no artigo 306. A nota de culpa pode ser conceituada como o documento que o
preso recebe, quando da prisão em flagrante delito, contendo a anotação do motivo da
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prisão, o nome do condutor e os das testemunhas, com a indicação da autoridade que o
presidiu, que também o subscreverá.

 Fase de controle judicial e de defesa técnica: a prisão de qualquer pessoa e o


local onde se encontra será comunicada ao juiz competente para que delibere a respeito da
legalidade da prisão. Ademais, após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo
de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover
audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da
Defensoria Pública e o membro do Ministério Público.

Esta comunicação se dá através da remessa do auto de prisão em flagrante, dentro


em 24h. Ademais, visando possibilitar a defesa técnica, caso o autuado não informe o nome
de seu advogado, será também remetida cópia integral dos autos para a Defensoria Pública.
Também, a pedido do preso, será informado da prisão e do local onde se encontra o preso,
os seus familiares ou pessoa por ele indicada.

Na audiência de custódia, o Juiz pode:

 Relaxar a prisão se ilegal.

 Conceder liberdade provisória se o agente agiu com causa excludente de ilicitude ou se


não estiver presentes motivos para a prisão preventiva.

 Converter a prisão em flagrante em preventiva.

 Conceder fiança ou medidas cautelares diversas da prisão.

 Agente reincidente ou integrante de organização criminosa armada ou milícia, ou que


porta arma de fogo de uso restrito, denegar a liberdade provisória, com ou sem
medidas cautelares.??? (art.310, §2º).

 Se verificar que o flagrado foi vítima de crime pode determinar providências em


relação aos agentes que procederam eventual violação dos direitos.

A audiência é de obrigatória realização, pois a autoridade que der causa, sem


motivação idônea, à sua não realização no prazo de 24 horas, responderá administrativa,
civil e penalmente pela omissão.

Ademais, (embora suspenso por decisão liminar) transcorridas 24 horas após o


decurso do prazo, a não realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará
também a ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da
possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva.

7. Hipóteses em que o flagrante não acarreta prisão: existem certas situações que
mesmo surpreendido em flagrante, o indivíduo não permanece preso. São elas:

 Caso contra o preso nada se apurar, será ele restituído à liberdade, pela própria
deliberação da autoridade policial processante.

 Caso se trate de infração afiançável, tendo ele prestado fiança;


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 Caso se trate de infração em que o réu se livra solto, o que se dá quando somente seja
cominada multa (algumas contravenções), ou quando o máximo da pena privativa de
liberdade cominada não exceda a três meses, ou, ainda, no caso de aplicação da Lei nº
9099/95;

 Quando se verifique ser de ação privada a infração, ou mesmo de ação pública


condicionada à representação do ofendido, e este não manifeste, sem demora, o seu intuito
de suscitar a persecutio criminis;

 Quando não estiverem presentes os motivos ensejadores da prisão preventiva, fato a ser
verificado, precipuamente, na audiência de custódia;

 Quando sua conduta se enquadre numa das justificativas penais (legítima defesa, estado
de necessidade, exercício regular de direito, estrito cumprimento de dever legal).

Nas duas últimas hipóteses quem decide pela liberdade é o Juiz e não a Autoridade
Policial. Cabe a esta remeter, em 24 horas, o auto de flagrante a juízo, para a devida
solução, bem como apresentar o preso para a audiência de custódia.

8. Prazo: 24 horas após a prisão, deverá ser realizada audiência de custódia. Assim, o prazo
para a conclusão do auto é de 24 horas.

9. Relaxamento da prisão: é ato pelo qual o Juiz, ou mesmo excepcionalmente a


autoridade policial, proclama a inviabilidade da prisão em flagrante, por desatender aos
pressupostos fáticos de sua admissibilidade ou por possuir o auto vício formal que o torne
nulo.

Decretado o relaxamento da prisão, deverá o preso imediatamente ser restituído à


liberdade, prosseguindo-se, contudo, nas investigações policiais para a ultimação do
inquérito começado pelo flagrante, para futura ação penal ou mesmo arquivamento.

Da prisão temporária

(Lei n.º 7.960/89)

1. Conceito, finalidades e requisitos: é a prisão cautelar de natureza processual


destinada a possibilitar as investigações a respeito de crimes graves, durante o inquérito
policial, prevista na Lei n.º 7.960/89. É modalidade específica para o inquérito policial,
permitindo a investigação de crimes considerados graves. Não existe prisão
temporária no curso de ação penal (somente em inquérito).

Assim, sua finalidade é permitir que a autoridade policial, diante da prática de um


crime grave, não possuindo, ainda, elementos de prova que permitiriam a prisão preventiva,
e na ausência de flagrante permaneça com o investigado à sua disposição, prive a liberdade
do investigado, através de uma decisão judicial, visando, desse modo, proceder à coleta de
elementos referentes à autoria e materialidade.

Tem por base legal a Lei nº 7960/89, somente podendo ser decretada pela
autoridade judiciária (nunca a autoridade policial). Assim, o juiz para decretá-la o faz
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atendendo a pedido do delegado de polícia ou do representante do Ministério Público, porém
nunca de ofício (art. 2.º, caput). Isto porque o seu objetivo é facilitar a investigação
policial, sendo que o Juiz deverá permanecer inerte, pois não sendo ele dominus litis, não há
como aquilatar se a prisão se faz necessária ou não.

Para ser decretada, a prisão temporária deverá se embasar nas situações previstas no
art. 1º da Lei nº 7960/89, que são:

 Imprescindibilidade da medida para as investigações do inquérito policial: não


se pode decretar a prisão sem qualquer razão, devendo ser levada a efeito somente quanto
for absolutamente necessária às investigações.

 Indiciado não ter residência fixa ou deixar de fornecer dados necessários ao


esclarecimento de sua identidade: tem por fim esclarecer a real identidade da pessoa
objeto das investigações, ou, então, impedir sua fuga, porquanto não tem ele qualquer
ligação com o distrito da culpa ou outro qualquer.

 Existirem fundadas razões de autoria e participação nos seguintes crimes:

1) homicídio doloso (art.121, caput, e seu § 2);

2) sequestro ou cárcere privado (art.148, caput, e seus parágrafos 1 e 2);

3) roubo (art.157, caput, e seus parágrafos 1, 2 e 3);

4) extorsão (art. 158, caput, e seus parágrafos 1 e 2);

5) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus parágrafos 1, 2 e 3);

6) estupro;

7) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1);

8) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela


morte (art. 270, caput, combinado com o art. 285);

9) associação criminosa (art. 288), todos do Código Penal;

10) genocídio (artigos 1, 2, e 3 da Lei n.º 2.889, de 01/10/1956), em qualquer de suas


formas típicas;

11) tráfico de drogas;


12) crimes contra o sistema financeiro (Lei n.º 7.492, de 16/06/1986).

13) crimes previstos na Lei de Terrorismo.

Inclua-se ainda todos os crimes hediondos e equiparados (Lei 8.072/1990, no § 4º do


art. 2º)

Divergência na doutrina de ser necessário o preenchimento de um, dois ou os três


requisitos. Prevalece o entendimento de que somente poderá ser decretada nas hipóteses
dos crimes mencionados na letra “c”, desde que presente um dos dois outros requisitos.
Este é o entendimento que prevalece.
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2. Prazo: pode ser decretada pelo prazo de até 05 dias, prorrogável por até igual período
(art. 2.º, caput). Tratando-se de crimes hediondos ou equiparados a eles o prazo será de até
30 dias, prorrogáveis por mais até 30, em caso de comprovada e extrema necessidade (art.
2.º, § 4.º). Não se computa neste o prazo para encerramento da instrução. Caso expirado o
prazo de prisão temporária se o juiz não a prorrogar ou não decretar a preventiva, deve-se
automaticamente colocar o preso em liberdade, sem a necessidade de um alvará de soltura,
sob pena de ser enquadrado na Lei n.º 4.898/65 (abuso de autoridade).

3. Processamento:

 Postulantes: a prisão temporária pode ser decretada em face da representação da


autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público. Não pode ser decretada de
ofício pelo Juiz. Nota-se que se tratando de representação da autoridade policial, deverá o
Ministério Público se pronunciar.

 Decisão: o juiz tem o prazo de 24 horas para decidir, a partir do recebimento da


representação ou requerimento, devendo a decisão ser fundamentada. Ao decretar a prisão,
o juiz poderá determinar que o preso lhe seja apresentado, solicitando informações da
autoridade policial ou submetê-lo a exame do corpo de delito

 Cumprimento: o mandado de prisão é expedido em duas vias, uma das quais deve ser
entregue ao indiciado, servindo-se de nota de culpa. Efetuada a prisão, a autoridade policial
deverá advertir o preso do direito constitucional de permanecer calado, bem como da
assistência de advogado e comunicação de algum familiar ou pessoa por ele indicada. O
preso temporário deve permanecer separado dos demais detentos.

 Prazo: o prazo de até 05 ou até 30 dias pode ser prorrogado uma vez em caso de
comprovada e extrema necessidade. O mandado de prisão conterá necessariamente o
período de duração da prisão temporária, bem como o dia em que o preso deverá ser
libertado. O prazo inicia-se pelo dia do cumprimento domando de prisão.

 Vencimento: decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável


pela custódia deverá, independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr
imediatamente o preso em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da
prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva.
 Plantão judiciário: todas as comarcas e seções judiciárias terão um plantão
permanente de 24 horas, do Ministério Público e do Poder Judiciário, para a análise dos
pedidos de prisão temporária.

Prisão Preventiva

(Artigos 311 ao 316 do Código de Processo Penal)

1. Conceito: é uma prisão cautelar, decretada pelo juiz a requerimento de qualquer das
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partes (Ministério Público, querelante ou assistente ) ou por representação do delegado de
polícia (nunca de ofício), em qualquer momento da persecução penal, para garantia da
ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, para assegurar
a aplicação da lei penal ou o cumprimento de medidas cautelares impostas em favor da
mulher vítima de violência doméstica.

2. Pressupostos para a decretação: os pressupostos para a decretação da prisão


preventiva se confundem com um dos requisitos para a concessão da tutela cautelar, que é o
fumus comissi delicti.

Para a decretação da prisão preventiva, é necessário prova da existência do crime e


indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

Ademais, a prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua
substituição por outra medida cautelar, e o não cabimento da substituição por outra medida
cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso
concreto, de forma individualizada.

3. Fundamentos para a decretação: os fundamentos se confundem com o periculum


libertatis, e são as hipóteses permitidas pelo ordenamento que a autorizam. Estão previstos
no artigo 312 e § 1º, sendo eles:

 Garantia da Ordem Pública: Visa impedir que o agente solto continue a delinquir ou
acautelar o meio social (maus antecedentes e reincidência evidenciam provável
prática de novos delitos; também cabível quando o crime se reveste de grande
violência e crueldade).
 Conveniência da Instrução Criminal: Visa impedir que o agente perturbe ou impeça
a produção de provas (ameaça a testemunhas).
 Garantia da Aplicação da Lei Penal: Há iminente risco de o acusado fugir,
inviabilizando a aplicação da lei penal (cabível principalmente nos casos do agente
não ter residência fixa ou ocupação lícita).
 Garantia da Ordem Econômica: visa coibir a reiteração de graves crimes contra a
ordem econômica, ordem tributária e o sistema financeiro.
 Garantia da execução das medidas protetivas de urgência se o crime envolver
violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei 11.340/06.
 A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de
qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares

4. Condições de admissibilidade (art. 313): somente poderá se decretar prisão


preventiva nos crimes dolosos, excluindo-se, portanto, qualquer ilícito culposo. Ademais,
somente poderá ser decretada nos crimes: a) punidos com reclusão, b) punidos com
detenção, se o indiciado for vadio ou de identidade duvidosa, ou, então, no caso de
violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei específica (Maria
da Penha), para garantir a execução das medidas protetivas de urgência e c) se o
réu tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado,
ressalvado o disposto no artigo 64, inciso I, do CP. 12
Ademais, também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a
identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-
la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se
outra hipótese recomendar a manutenção da medida.

Não há prisão preventiva em infrações de menor potencial ofensivo, em crimes


culposos, crimes em que o réu se livra solto, independente de fiança. Não há prisão,
também, se o réu agiu acobertado por alguma causa excludente de ilicitude (art.314).

5. Decretação e processamento da prisão preventiva: a prisão preventiva pode ser


decretada em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, em virtude do
requerimento do Ministério Público e querelante, representação da Autoridade Policial (neste
caso, deverá ser ouvido o membro do Ministério Público). Cabe tanto na ação penal pública,
como na ação penal privada.

Caso seja decretada a prisão preventiva durante o curso do inquérito policial, o


inquérito policial deverá ser concluído em 10 dias (art. 10, “caput”, do CPP), podendo ser
prorrogado por mais 15 dias (Art.3º, §2º, do CPP). Trata-se aqui de decretação da prisão
sem término do inquérito.

A decisão que decreta a prisão preventiva é irrecorrível, cabendo, caso há já


constrangimento ilegal, habeas corpus.

Nota-se que a prisão preventiva poderá, no curso do inquérito ou do processo, ser


revogada, caso se verifique a falta ou a cessação do motivo que a ensejou. Da mesma forma
poderá ser decretada novamente, tantas as vezes que forem necessárias, se sobrevierem
razões que a justifiquem.

6. Fundamentação: a decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será


sempre motivada e fundamentada (art. 315), diante do princípio constitucional da motivação
das decisões. Na motivação, o juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos novos
ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.

Nota-se que não se considera fundamentada, a decisão que:

I - Limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua


relação com a causa ou a questão decidida;
II - Empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;

III - Invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

IV - Não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar
a conclusão adotada pelo julgador;

V - Limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus


fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;

VI - Deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela 13


parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.

Destaca-se que não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade
de antecipação de cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação
criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia

7. Revogação e reanálise obrigatória: o juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes,


revogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de
motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem (art.316).

Ademais, decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a


necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada,
de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.

8. Recursos:

 Se o juiz indeferir a prisão preventiva, cabe Recurso em Sentido Estrito;


 Se o juiz deferir a prisão preventiva, cabe Habeas Corpus;
 Se o juiz revoga a prisão preventiva, cabe Recurso em Sentido Estrito;
 Se o juiz não revogar a prisão preventiva, cabe Habeas Corpus.

PRISÃO POR SENTENÇA CONDENATÓRIA RECORRÍVEL

De acordo com o artigo 387, § 1º, do CPP: O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre
a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão preventiva ou de outra medida
cautelar, sem prejuízo do conhecimento de apelação que vier a ser interposta.

Assim, diante do princípio da ampla defesa, mesmo condenado, se ainda for possível
recurso, para que seja decretada a prisão do réu, mister se faz estar presentes os
pressupostos da prisão preventiva, devendo o Juiz, se for o caso, decidir por ela.

Conclui-se, portanto, que a única prisão que poderá ser determinada ao réu solto em
decorrência de sentença que lhe condene, mas sem trânsito em julgado, é a preventiva,
desde que estejam presentes seus requisitos e pressupostos e que não sejam
cabíveis as medidas alternativas do art. 319 (art. 282, § 6.º).

Porém, no júri, se houver condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos
de reclusão, determinará a execução provisória das penas, com expedição do mandado de
prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser
interpostos (art. 492, inciso I, letra “e”). Tal prisão somente não ocorrerá, se, de forma
excepcional, o presidente deixar de autorizar a execução provisória das penas, se houver
questão substancial cuja resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa
plausivelmente levar à revisão da condenação. Constitucional?????
14

Prisão decorrente de pronúncia

(Artigo 413, § 3º, do Código de Processo Penal)

A pronúncia é uma das decisões dadas na primeira fase do julgamento dos crimes de
competência do Tribunal do Júri. Por esta decisão, o juiz, considerando que existem indícios
de autoria e prova de materialidade e não sendo o caso de absolvição sumária ou
desclassificação da infração para outra que não dolosa contra a vida, remete o réu para o
julgamento pelo Tribunal do Júri. É certo que em razão do princípio da presunção de
inocência, não há prisão processual decorrente exclusivamente da decisão de pronúncia, pois
o artigo 413, § 3.º, do CPP, impõe ao juiz o dever de justificar a eventual imposição ou
manutenção de custódia com base nos pressupostos da prisão preventiva.

De fato, dispõe referido dispositivo:

§ 3o O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição da


prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e, tratando-se de acusado solto,
sobre a necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das medidas previstas no
Título IX do Livro I deste Código.

Assim, somente haverá prisão quando da decisão de pronúncia, se o juiz verificar sua
necessidade, de acordo com os parâmetros orientadores da prisão preventiva. Nos casos em
que o réu já estava preso, a sua manutenção no cárcere, após a decisão de pronúncia, exige
nova fundamentação. Nota-se que caso esteja solto, deverá o magistrado verificar a
necessidade de submeter o pronunciado sob custódia, o que apenas poderá fazer se não for
cabível a substituição da preventiva por outra medida diversa da prisão entre as arroladas no
art.319 do CPP (arts. 282, § 6.º e 413, § 3.º, 2.ª parte, do CPP).

Liberdade Provisória

(Artigos 321 a 350 do Código de Processo Penal)

1. Conceito: é um instituto processual que garante ao preso em flagrante o direito de


aguardar em liberdade o transcorrer de um processo até o seu trânsito em julgado,
vinculado ou não a certas obrigações, podendo ser revogado a qualquer tempo diante do
descumprimento das condições impostas. Para a prisão preventiva e para a temporária,
pede-se a revogação da prisão.

2. Espécies de liberdade provisória: a lei distingue dois tipos de liberdade provisória: a)


Liberdade Provisória sem Fiança e b) Liberdade Provisória com Fiança. No primeiro caso, a
liberdade provisória é concedida independente do pagamento de qualquer quantia em
dinheiro. Já no segundo caso –liberdade provisória com fiança-, o indiciado ou o réu,
mediante pagamento em dinheiro, adquire o direito de responder ao inquérito ou processo
em liberdade.
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4. Liberdade provisória sem fiança: é cabível em caso de prisão em flagrante. Somente
pode ser concedida pelo Juiz ou Tribunal.

 Cabimento:

o Artigo 310, III: Quando não for o caso de se decretar prisão preventiva ou medidas
cautelares diversas da prisão.

o Art. 310, § 1º, CPP - ocorre quando for possível ao juiz verificar, pelo auto de prisão em
flagrante, que o agente praticou o fato sob o manto de causa excludente de ilicitude. Ex.:
legitima defesa, estado de necessidade. Tendo o réu agido sob o manto da excludente de
ilicitude, o juiz deverá conceder a ele liberdade, devendo ele comparecer a todos os atos
processuais, sob pena de revogação.

o Art. 350, CPP - se dará a liberdade provisória, nos casos em que couber fiança, e o juiz
verificar a impossibilidade do réu em prestá-la. Conceder-se-á, portanto, a liberdade ao réu
pobre que não pode pagar fiança.

Em qualquer destas hipóteses a liberdade é vinculada, porque o réu é liberado sob


condições, ou seja, fica vinculado ao processo, porquanto deve comparecer a todos os atos
processuais.

 Recursos cabíveis:

a) Se o juiz defere a liberdade provisória é cabível o Recurso em Sentido Estrito;

b) Se o juiz indefere a liberdade provisória é cabível o Recurso em Sentido Estrito e


Habeas Corpus;

c) Se o juiz relaxar o flagrante, é cabível o Recurso em Sentido Estrito;

d) Se o juiz não relaxar o flagrante, é cabível o Habeas Corpus.

5. Liberdade provisória com fiança (arts. 322 a 350): Fiança é uma garantia real
(porque tem por objeto coisas) de cumprimento das obrigações processuais do réu,
consistente na entrega de bens ao Estado (UNIÃO – Fundo Penitenciário), com o escopo de
garantir a liberdade do réu ou indiciado, durante o trâmite da persecução penal.

 Finalidade: assegurar a liberdade e assegurar o pagamento de custas, multa e


indenização, no caso de condenação
 Objeto da fiança: nos termos do art. 330, “caput”, do Código de Processo Penal, a
fiança consistirá em depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da
dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar.
Caso a fiança recaia em imóvel ou pedras, objetos ou metais preciosos, a Autoridade deverá
providenciar avaliação. Não existe no processo penal fiança fidejussória.

 Legitimidade para prestá-la: poderão prestar fiança o indiciado ou o réu, bem como
qualquer pessoa em seu benefício.

 Infrações inafiançáveis:

1. Hipóteses constitucionais (Artigo 5º, XLII , XLIII e XLIV): Não se admite fiança nos 16
crimes de: Racismo; Tortura; Tráfico de entorpecentes; Terrorismo; Crimes hediondos, e
Ação de grupo armado contra o Estado Democrático.

2. Hipóteses legais:

2.1. Artigo 323 do Código de Processo Penal:

a) É vedada a fiança nos crimes punidos com reclusão: a) cuja pena mínima seja superior a
2 anos. No caso de concurso material deve-se somar as penas mínimas. Sumula 81 do STJ;
b) que causem clamor público (indignação social que toma conta da coletividade);

c) cometido com violência ou grave ameaça a pessoa.

b) nas contravenções de vadiagem e mendicância.

c) crimes dolosos punidos com prisão, desde que reincidente.

2.2. Nos crimes contra o sistema financeiro, punidos com reclusão (art. 31 da Lei
nº 9613/98);

2.3. Nas situações previstas do artigo 324 do Código de Processo Penal: tais
hipóteses são chamadas de situação de inafiançabilidade.

1. réu vadio;

2. réu que quebrou fiança antes;

3. prisão civil;

4. prisão administrativa;

5. réu sob sursis ou livramento condicional, salvo em crime culposo; e

6.quando presentes os requisitos da prisão preventiva.

Importante observar que atualmente, dada a modificação da Lei nº 8.072/90,


aos Crimes hediondos, incluindo também os equiparados, é possível a concessão de
liberdade provisória, sem fiança, embora não seja permitida a aplicação de fiança.
 Competência para sua fixação: a autoridade policial, nos crimes em que a pena
máxima não exceda 4 anos, e o juiz, em qualquer espécie de crime afiançável.

 Momento para a fixação: a fiança, nos casos admitidos em lei, pode ser concedida em
qualquer fase do inquérito policial ou do processo, até o trânsito em julgado da decisão (art.
334).

 Obrigações do réu sob pena de quebramento da fiança: as obrigações do prestador


da fiança estão previstas nos artigos 327 e 328 do Código de Processo Penal, sendo elas:

 Comparecimento a todos os atos processuais a que for intimado (art. 327).

 Obrigação de comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço (art. 328). 17

 Proibição de se ausentar da comarca por mais de 8 dias sem autorização do Juiz (art.
328).

 Não praticar outra infração penal (art. 341).

Tais obrigações são informadas ao prestador da fiança no momento de sua concessão,


azo em que assinara um termo lavrado pelo escrivão e assinado também pela Autoridade
que concedeu a mercê (art. 329).

 Valor da fiança: É fixado pela autoridade que a concede e depende basicamente da


gravidade da infração penal e da situação econômica do réu (art. 326 do CPP). O art. 325
fixa patamares mínimo e máximo de acordo com a gravidade da infração: I — de 1 a 100
salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena, no grau máximo em abstrato, não
seja superior a 4 anos; II — de 10 a 200 salários mínimos, quando o máximo da pena
prevista para o crime afiançável for superior a 4 anos. O art. 325, § 1º, do CPP, todavia,
ressalva que, se assim recomendar a situação econômica do preso, o juiz poderá: I —
reduzir em 2/3 o valor da fiança; II — aumentá -la em até 1000 (mil) vezes.

 Cassação da fiança: em duas hipóteses pode ocorrer a cassação da fiança. A primeira


quando se verificar posteriormente que esta não era cabível (art. 338). A segunda quando
houver inovação na classificação do delito, e neste é incabível a fixação da fiança (art.339).
Uma vez cassada a fiança se aplica a regra contida no art. 337 do Código de Processo Penal,
ou seja, o seu valor é devolvido ao prestador e o réu recolhido a prisão.

 Quebra da fiança: ocorre quando o afiançado descumpre suas obrigações processuais


sem justificativa. Assim, teremos quebra da fiança nos seguintes casos:

 Quando o réu descumprir suas obrigações processuais, sem motivo justificado, entre
elas deixar de comparecer a todos os atos processuais para o qual foi chamado; mudar-se de
endereço sem permissão; ausentar-se da comarca etc (artigos 327 e 328).

 Quando o réu praticar nova infração penal durante o gozo da liberdade provisória
mediante fiança (art. 341).

São consequências do quebramento da fiança, nos termos do art. 343 do CPP:

 Perda da metade do valor da fiança.


 Obrigação de recolher-se à prisão.

 Impossibilidade de concessão de nova fiança no mesmo processo.

 Enquanto não for preso o processo corre a sua revelia.

Quando o réu deixar de recolher-se à prisão, sendo isso necessário, perderá todo o
valor depositado a título de fiança (art. 344).

 Destino da fiança: se o réu tiver o inquérito arquivado, a punibilidade extinta ou se for


absolvido, a fiança perderá seu objeto e será restituída, deduzido eventual montante
declarado perdido (Art. 337). Porém, se o réu for condenado, o valor da fiança será
destinado ao pagamento das custas processuais, pagamento de multa criminal e pode ser 18
revertido ainda no pagamento de indenização civil ex delicto (art. 336). Caso ainda sobre
algum valor, ele será restituído ao réu.

Nas infrações penais de competência do Juizado Especial Criminal, não se imporá


prisão em flagrante, nem se exigirá fiança se o autor do fato for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer (art. 69, par. ún.,
da Lei n. 9.099/95).

PRISÃO -CAUTELAR – DOMICILIAR

Artigos 317 e 318

1. Conceito: A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua


residência, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial. Ela é aplicada substituindo
a prisão preventiva.

2. Beneficiários: o juiz poderá substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando, estiver
demonstrado por prova idônea que o agente for:

I - Maior de 80 (oitenta) anos;

II - Extremamente debilitado por motivo de doença grave;

III - Imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou
com deficiência;

IV - Gestante;

V - Mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;

VI - Homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de
idade incompletos.

Ademais, a prisão preventiva será substituída por prisão domiciliar, quando à mulher
gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência: a) não
tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa e b) não tenha cometido o
crime contra seu filho ou dependente.
Nota-se que junto com a prisão, poderão ser aplicadas medidas cautelares diversas da
prisão.

MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

(Artigos 282 e 319)

1. Conceito: são medidas que, quando necessárias, substituem a decretação da prisão


preventiva ou a prisão em flagrante. Assim, elas são cabíveis quando possível a prisão
19
preventiva, mas esta não se recomenda, diante do princípio da proporcionalidade.

2. Observações:

a) Aplicação restrita a infrações punidas com pena privativa de liberdade;

b) caráter autônomo, ou em substituição à prisão preventiva, ou como obrigação decorrente


da liberdade provisória;

c) Podem ser aplicadas a qualquer tempo;

d) Podem ser aplicadas juntamente com a Liberdade Provisória, com ou sem fiança;

e) Podem ser cumuladas.

3. Legitimidade e contraditório: as medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a


requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da
autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público.

Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao


receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se
manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das peças
necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão
ser justificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que
justifiquem essa medida excepcional.

4. Descumprimento das obrigações impostas: No caso de descumprimento de qualquer


das obrigações impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de seu
assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em
último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste
Código.

5. Revogação: o juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida cautelar ou
substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-
la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

6. Espécies (artigo 319):

I - Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para
informar e justificar atividades;
II - Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para
evitar o risco de novas infrações

III - Proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;

IV - Proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou


necessária para a investigação ou instrução;

V - Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou


acusado tenha residência e trabalho fixos; 20
VI - Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou
financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;

VII - Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou
grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do
Código Penal) e houver risco de reiteração;

VIII - Fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à
ordem judicial;

IX - Monitoração eletrônica.

Eventual proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades


encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou
acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.

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