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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.

545/2008-7

GRUPO II – CLASSE V – Plenário


TC-007.545/2008-7.
Natureza: Relatório de Levantamento de Auditoria.
Entidade: Empresa Brasileira de Infra-Estrutura
Aeroportuária – Infraero.
Interessado: Congresso Nacional.
Advogado constituído nos autos: não há.

SUMÁRIO: FISCALIS EXECUÇÃO 2008.


LEVANTAMENTO DE AUDITORIA NAS OBRAS DE
CONSTRUÇÃO DO TERMINAL DE PASSAGEIROS
DO PÁTIO DE AERONAVES E DO ACESSO VIÁRIO
DO AEROPORTO DE GUARULHOS/SP.
REVOGAÇÃO DO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO.
EXAME DAS RAZÕES OFERECIDAS PELA
INFRAERO EM SEDE DE MANIFESTAÇÃO
PRELIMINAR AOS ACHADOS DE AUDITORIA.
DETERMINAÇÕES. COMUNICAÇÃO À COMISSÃO
MISTA DE PLANOS, ORÇAMENTOS PÚBLICOS E
FISCALIZAÇÃO DO CONGRESSO NACIONAL.
1. O superdimensionamento de quantitativos de serviços
em fase de licitação, sob o pretexto de conferir ao
orçamento de referência margem de segurança para
eventuais distorções, é ato incompatível com os princípios
da legalidade e da eficiência, ensejador de determinação
ao órgão para que proceda à sua anulação, sem prejuízo da
possibilidade de aplicação de multa aos responsáveis que
lhe deram causa.
2. Admite-se que o “relatório técnico circunstanciado” a
que se têm referido as Leis de Diretrizes Orçamentárias
(v.g. § 1º do art. 115 da LDO/2008 ou § 2º do art. 109 da
LDO/2009) seja elaborado pelos licitantes na fase de
apresentação das propostas; todavia, tal procedimento não
exime os gestores públicos do dever constitucional e legal
(art. 2º da Lei nº 9.784/1999) de motivar seus atos, sendo
obrigatória, no processo administrativo, a devida
formalização da exposição de motivos por parte da
autoridade competente, no sentido de aceitar ou não as
justificativas apresentadas, sob pena de responsabilização.

RELATÓRIO

Cuidam os autos do relatório de levantamento de auditoria realizado pela Secretaria de


Fiscalização de Obras e Patrimônio da União – Secob no objeto do Programa de Trabalho (PT)
26.781.0631.1M31.0035 – obras de construção de terminal de passageiros, de pátio de aeronaves e de
acesso viário no Aeroporto de Guarulhos, no Estado de São Paulo –, no âmbito do Fiscalis Execução
2008. A presente fiscalização decorreu de determinação emanada do Acórdão nº 461/2008-TCU-
Plenário (TC-001.060/2008-9).

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2. Preliminarmente, transcrevo, com alguns ajustes de forma, o relatório de fls. 25/81, cuja
proposta de encaminhamento contou com a anuência do corpo diretivo daquela secretaria:
“1 - APRESENTAÇÃO
Importância socioeconômica
Atualmente, o Aeroporto de Guarulhos opera com dois terminais com capacidade para
movimentar 17 milhões de passageiros/ano. São 44 empresas aéreas nacionais e internacionais,
regulares, cargueiras e charters que utilizam 260 balcões de check-in.
Mais de 40 diferentes modelos de aeronaves utilizam as duas pistas do aeroporto, uma
com 3.700 metros e outra de 3 mil metros de extensão, que recebem, em média diária, 475
operações de pouso e decolagem.
De Guarulhos partem e chegam vôos procedentes e com destino a 26 países e 117 cidades
nacionais e estrangeiras. A rede comercial dos terminais de passageiros é formada por 177
pontos comerciais.
O aeroporto consolida-se como um importante pólo indutor de desenvolvimento sócio-
econômico e cultural. Para o Município de Guarulhos, o aeroporto representa um indutor
gerador de novos negócios e oportunidades, além de ser um dos mais importantes centros de
ofertas de empregos. Cerca de 50% dos postos de trabalho do aeroporto são de profissionais
que residem na cidade.
A ampliação do Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP, contemplando a construção do
TPS-3; o Viaduto; o Sistema Viário Interno; o Edifício Garagem e o Pátio de Estacionamento
tem como finalidade atender o trânsito de 12 milhões de passageiros/ano, com 5 milhões de
acompanhantes; abrigar uma população fixa de 5.000 pessoas; possibilitar a atracação de 13
aeronaves tipo Boing 747, sendo duas dessas posições previstas a aeronaves de grande porte,
ou até 22 aeronaves de médio/pequeno porte, através de pontes de embarque móveis duplas;
minimizar custos; tornar a área comercial proporcionalmente maior que a dos terminais 1 e 2;
atender aos portadores de necessidades especiais e aumentar a capacidade de estacionamento
de veículos em 4.500 vagas. Quando concluído, a capacidade anual do aeroporto será de 29
milhões de passageiros.
2 - INTRODUÇÃO
2.1 - Deliberação
Em cumprimento ao Acórdão nº 461/2008 - Plenário, realizou-se auditoria na Empresa
Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária - MD, no período compreendido entre 14/4/2008 e
4/7/2008.
O motivo deste auditoria foi a dotação orçamentária prevista na LOA para o
empreendimento (R$ 219.157.992,01).
2.2 - Visão geral do objeto
As obras do Terminal de Passageiros nº 3 (TPS-3) do Aeroporto de Guarulhos/SP
englobam não só a edificação em si, mas também a construção do pátio de aeronaves, do
sistema viário, a aquisição/instalação de uma ampla gama de equipamentos, além de outras
obras complementares. Também está inclusa nesse empreendimento a elaboração do respectivo
projeto executivo.
O empreendimento encontra-se novamente em fase de licitação, após revogação, em
virtude de irregularidades graves apontadas pelo TCU, de procedimento licitatório realizado em
2006 com finalidade de contratação das obras em comento.
Nessa ocasião, pretendia-se fazer para o empreendimento licitação única do tipo técnica e
preço, no valor de R$ 1.126.345.752,05, dividida em duas fases: pré-qualificação e licitação
propriamente dita. Na primeira fase (Concorrência n° 11/DAAG/SBGR/2003-I) foram
habilitadas somente duas empresas. A segunda fase (Concorrência n° 11/DAAG/SBGR/2003-I ),
não concluída, foi revogada em 31/10/2007, por força de determinação do Acórdão nº
2.350/2007-TCU-P.

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A referida deliberação, que também contemplou determinações corretivas à Infraero,


fundamentou-se no levantamento de auditoria (Fiscobras) realizado em 2006, quando foram
constatadas diversas irregularidades graves, relacionadas essencialmente a sobrepreço e
restrição à competitividade da licitação.
Segundo ofício da Infraero, enviado ao TCU em março de 2008, não haverá pré-
qualificação no novo procedimento licitatório, que será do tipo menor preço. Além disso, as
obras para a construção do TPS-3 serão parceladas em 10 lotes de licitação a serem realizadas
em 2008/2009, quais sejam:
1° lote - R$ 26.556.310,35 - serviços técnicos especializados de elaboração dos projetos
de engenharia do projeto executivo;
2° lote - R$ 182.705.949,35, tendo sido a licitação publicada no valor de R$
219.157.992,01 - obras de terraplenagem e construção do pátio de aeronaves;
3° lote - R$ 550.000.000,00 - obras do terminal de passageiros 3, CAG, viaduto e obras
complementares;
4° lote - R$ 120.000.000,00 - obras do edifício garagem e sistema viário;
5° lote - R$ 100.000.000,00 - pontes de embarque, esteiras, elevadores, escadas rolantes e
plataformas;
6° lote - R$ 40.000.000,00 - automação - SAPIOS;
7° lote - R$ 12.000.000,00 - instalações telefônicas/dados;
8° lote - R$ 8.000.000,00 - reforma da subestação elétrica principal;
9° lote - R$ 5.000.000,00 - mobiliário operacional e administrativo;
10° lote - R$ 42.035.782,60 - apoio à fiscalização das obras e serviços de engenharia.
Até o presente momento, foram publicados editais referentes aos dois primeiros lotes de
licitação (Concorrências 8/DALC/SBGR/2008 e 9/DALC/SBGR/2008), que se encontram
adiados sine die para revisão de elementos técnicos.
2.3 - Objetivo e questões de auditoria
A presente auditoria teve por objetivo realizar levantamento de auditoria nas obras de
Construção de Terminal de Passageiros, de Pátio de Aeronaves e de Acesso Viário no Aeroporto
Internacional de Guarulhos - no Estado de São Paulo.
A partir do objetivo do trabalho e a fim de avaliar em que medida os recursos estão sendo
aplicados de acordo com a legislação pertinente, formularam-se as questões adiante indicadas:
1 – Existe (m) projetos básico/executivo adequados para a licitação/execução da obra?
2 - O tipo do empreendimento exige licença ambiental e realizou todas as etapas para esse
licenciamento?
3 - O procedimento licitatório foi regular?
4 - O orçamento da obra encontra-se devidamente detalhado (planilha de quantitativos e
preços unitários) e acompanhado das composições de todos os custos unitários de seus
serviços?
5 - Os quantitativos definidos no orçamento da obra são condizentes com os quantitativos
apresentados no projeto básico/executivo?
6 - Os preços dos serviços definidos no orçamento da obra são compatíveis com os valores
de mercado?
2.4 - Metodologia utilizada.
A priori, com base em critérios de materialidade e risco, verificou-se a conformidade do
projeto básico do empreendimento com as definições dadas pela Lei nº 8.666/1993 em seus
artigos 6º, inciso IX e 7º. Especialmente com relação ao orçamento de referência, elaborou-se
curva ABC da planilha da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 para subsisidiar a formação da
amostra de serviços a serem analisados.
Também foi analisada a conformidade das disposições do edital da Concorrência nº
8/DALC/SBGR/2008 aos ditames da Lei nº 8.666/1993, visando principalmente checar a

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existência de cláusulas restritivas à competitividade ou que propiciem a possibilidade de


configuração futura de jogo de planilha.
2.5 - Limitações
Grave limitação relaciona-se às falhas e incompletudes do projeto básico. Pela falta de
dados mínimos, não foi possível aferir os cálculos dos volumes, quantidades e distâncias médias
de transporte (DMT’s) de diversos serviços de terraplenagem e pavimentação, obrigando a
equipe a utilizar os valores indicados pela Infraero, fato que não permitiu a verificação de
sobrepreço de quantidade para esses serviços.
2.6 - VRF
O volume de recursos fiscalizados alcançou o montante de R$ 219.157.992,01. Esse valor
é relativo ao orçamento-base do lote 2 de licitação da nova área do Aeroporto Internacional de
Guarulhos, que se refere à contratação das obras e serviços de engenharia para a construção
do pátio de aeronaves e terraplenagem do TPS-3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos.
2.7 - Benefícios estimados
O principal benefício dessa fiscalização é evitar a continuidade de um procedimento
licitatório que pode gerar graves prejuízos a Administração.
A redução de preço máximo em processo licitatório (quantificada em no mínimo R$ 51
milhões) é o benefício mais concreto no momento. Ademais, a correção do projeto básico
possibilita o fornecimento de dados mais precisos aos futuros licitantes, que podem oferecer com
isso propostas mais vantajosas à Administração. Outro ponto importante é que a licitação
realizada com um projeto básico adequado evita a configuração no futuro de diversas outras
irregularidades graves, tais como jogo de planilha, extrapolação dos limites de aditamentos,
etc. O resultado final é uma melhoria no processo de orçamentação, licitação e contratação de
obras na entidade fiscalizada.
3 - ACHADOS DE AUDITORIA
3.1 - Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente - Licitação sem projeto básico ou
com projeto básico sem aprovação pela autoridade competente.
3.1.1 - Tipificação do achado:
Classificação - Irregularidade grave com recomendação de paralisação
Tipo - Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente
Justificativa - O artigo 7º, §2º, inciso I da Lei nº 8.666/1993, assim como farta
jurisprudência desta Corte de Contas, estabelece que obras e serviços somente podem ser
licitados quando houver projeto básico aprovado por autoridade competente.
A seqüência fixada no caput desse mesmo dispositivo não admite que o projeto básico seja
elaborado após ou concomitantemente à execução das obras. Além disso, esse projeto deve estar
em conformidade aos ditames do art. 6º, inciso IX da referida norma legal.
A situação encontrada constitui grave afronta a essas exigências, posto que o projeto
existente, de forma reconhecida pela Infraero, requer atualização e sequer a sua licitação foi
concluída.
Em face da inexistência de projeto básico adequado, a continuidade da contratação das
obras do TPS-3 de Guarulhos configura grave risco de prejuízo aos cofres públicos visto que a
ocorrência da mais repleta sorte de irregularidades na execução contratual está intimamente
relacionada à falta de projeto básico adequado.
Nesse leque de possibilidades estão incluídos sobrepreço, jogo de planilha, atraso de
cronograma, extrapolação dos limites de aditamento contratual, desvio de objeto, obra
inacabada por falta de recursos, etc. Nessas condições, há ainda falta de garantia de obtenção,
no certame, da proposta mais vantajosa para a Administração, uma vez que a falta de definição
precisa e suficiente do objeto licitado compromete a ampla competitividade do certame (Súmula
177-TCU).

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Cumpre rememorar que algumas dessas graves irregularidades já foram observadas na


execução contratual de outras obras de aeroportos em andamento (p.ex. Vitória, Macapá,
Goiânia e Pista de Guarulhos). Essas falhas, que se encontram pendentes de saneamento pela
Infraero há cerca de dois anos, tiveram por causa justamente a deficiência do projeto básico
utilizado na licitação.
Ressalte-se que, nos termos do parágrafo 2º da Lei de Diretrizes Orçamentárias para o
exercício de 2008 – LDO/2008, não existe óbice para que empreendimentos com indícios de
irregularidades graves indicados pelo TCU recebam recursos, exclusivamente, para aplicação
na adequação de projeto.
3.1.2 - Situação encontrada:
INDÍCIO DE IRREGULARIDADE Nº 1 - Inexistência de projeto básico aprovado.
O objeto da Concorrência nº 9/DALC/SBGR/2008, adiada sine die para revisão de
elementos técnicos, inclui a contratação da atualização dos projetos básicos do TPS-3, do
edifício garagem, do pátio de estacionamento de aeronaves dos terminais 3 e 4, do sistema
viário de acesso e demais obras complementares do Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Em outras palavras, a própria Infraero reconhece que o projeto básico das obras
referentes ao PT em análise requer adequação, de forma tal que chegou a publicar licitação
para contratar empresa para execução dessa tarefa. As indefinições técnicas relacionadas às
obras do TPS-3 de Guarulhos vão além, pois até mesmo a licitação para contratar a elaboração
do projeto executivo e adequação do básico teve de ser adiada em virtude da necessidade de
revisão dos seus elementos técnicos.
Importa esclarecer que essa necessidade de adequação de projeto básico não se restringe
a uma falha formal na descrição do objeto da Concorrência nº 9/DALC/SBGR/2008. Os demais
indícios de irregularidade descritos no presente relatório demonstram essa realidade.
Isso significa que as licitações dos demais lotes das obras do TPS-3 não podem ser
levadas a efeito pela simples falta de projeto básico concluído e passível de aprovação. A
questão posta aqui é elementar, tanto do ponto de vista legal quanto lógico: uma obra só pode
ser licitada quando há projeto.
‘Art. 7º As licitações para a execução de obras e para a prestação de serviços obedecerão
ao disposto neste artigo e, em particular, à seguinte seqüência:
I - projeto básico;
II - projeto executivo;
III - execução das obras e serviços.
§ 1º A execução de cada etapa será obrigatoriamente precedida da conclusão e
aprovação, pela autoridade competente, dos trabalhos relativos às etapas anteriores, à exceção
do projeto executivo, o qual poderá ser desenvolvido concomitantemente com a execução das
obras e serviços, desde que também autorizado pela Administração.
§ 2º As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando:
I - houver projeto básico aprovado pela autoridade competente e disponível para exame
dos interessados em participar do processo licitatório;
II - existir orçamento detalhado em planilhas que expressem a composição de todos os
seus custos unitários;
(...)
§ 6º A infringência do disposto neste artigo implica a nulidade dos atos ou contratos
realizados e a responsabilidade de quem lhes tenha dado causa.’
Todavia, a Infraero chegou a publicar o edital do segundo lote (R$ 220 MILHÕES) de
licitação das obras de Guarulhos com vistas à contratação das obras e serviços de engenharia
para construção do pátio de aeronaves e terraplenagem do TPS-3 (Concorrência nº
8/DALC/SBGR/2008). Dessa forma, houve publicação de edital trazendo como anexo um
projeto básico de reconhecida necessidade de adequação.

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O fato de a Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 encontrar-se adiada sine die não reduz


a gravidade da situação. Esse certame, bem como qualquer outro relacionado às demais
parcelas de licitação das obras do TPS-3 de Guarulhos, não pode ter continuidade enquanto o
projeto básico não estiver adequado aos preceitos definidos na Lei nº 8.666/1993.
E que não se confunda com a flexibilização contida no art. 7º da Lei nº 8.666/1993, a qual
permite que o projeto executivo - e não o básico - seja elaborado, no máximo, concomitante às
obras, e não a posteriori. Por essas razões, a inconclusão da Concorrência nº
9/DALC/SBGR/2008 implica nova afronta a esse dispositivo legal.
A despeito de essa evidência demonstrar que a própria Infraero admite a inadequação do
seu projeto básico, entendeu-se relevante, para que não pairem dúvidas sobre as falhas e
incompletudes dessa peça, realizar uma análise mais detalhada do seu conteúdo. É o que se fará
a seguir, demonstrando que o prosseguimento de uma licitação com base no projeto básico
existente caracteriza grave risco de lesão ao erário e enseja a configuração de diversas outras
irregularidades: jogo de planilha, extrapolação dos limites de aditamento, desfiguração do
objeto licitado, etc.
3.1.3 - Objetos nos quais o achado foi constatado:
Projeto Básico 1º/12/2007, Construção de Terminal de Passageiros (TPS-3), de Pátio de
Aeronaves e de Acesso Viário no Aeroporto Internacional de Guarulhos - São Paulo.
3.1.4 - Critérios:
Lei 8666/1993, art. 6º, inciso IX; art. 7º, § 1º; art. 7º, § 2º; art. 7º, caput
Súmula 177/1982, TCU
3.1.5 - Evidências:
Edital da Concorrência nº 9/DALC/SBGR/2008 (folhas 88/121 do Anexo 1 - Principal)
Edital da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 (folhas 8/63 do Anexo 2 - Principal)
Publicação no DOU de 26/5/2008 do adiamento sine die da Concorrência 9/DALC/SBGR
para revisão de elementos técnicos (folha 12 do Volume Principal)
Ofício da Infraero ao TCU, de 28/5/2008, comunicando a instauração da Concorrência
8/DALC/SBGR/2008 (folha 13 do Volume Principal)
3.1.6 - Esclarecimentos dos responsáveis:
A Infraero não encaminhou defesa até o fechamento deste trabalho (13/8/2008), sendo que
o término do prazo previsto no Acórdão nº 461/2008-P (cinco dias úteis após recebimento do
relatório preliminar) foi no dia 8/8/2008.
3.1.7 - Conclusão da equipe:
Ficam mantidas todas as considerações anteriores.
3.2 - Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente - Deficiência do projeto básico ou
projeto básico desatualizado.
3.2.1 - Tipificação do achado:
Classificação - Irregularidade grave com recomendação de paralisação
Tipo - Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente
Justificativa - A amostra do projeto básico das obras do TPS-3 analisada (projeto básico
da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008) apresenta graves defeitos de diversas naturezas
(número reduzido de desenhos, peças elaboradas há mais de vinte anos, desenhos ilegíveis, falta
de publicação de elementos necessários à sua intelecção, inexistência de informações precisas
sobre sua autoria), configurando infringência aos artigos 6º, inciso IX e 40, § 2º, inciso I da Lei
nº 8.666/1993.
Em face da inexistência de projeto básico adequado, a continuidade da contratação das
obras do TPS-3 de Guarulhos configura grave risco de prejuízo aos cofres públicos visto que a
ocorrência da mais repleta sorte de irregularidades na execução contratual está intimamente
relacionada à falta de projeto básico adequado.

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Nesse leque de possibilidades estão incluídos sobrepreço, jogo de planilha, atraso de


cronograma, extrapolação dos limites de aditamento contratual, desvio de objeto, obra
inacabada por falta de recursos, etc. Nessas condições, há ainda falta de garantia de obtenção,
no certame, da proposta mais vantajosa para a Administração, uma vez que a falta de definição
precisa e suficiente do objeto licitado compromete a ampla competitividade do certame (Súmula
177-TCU).
Cumpre rememorar que algumas dessas graves irregularidades já foram observadas na
execução contratual de outras obras de aeroportos em andamento (p.ex. Vitória, Macapá,
Goiânia e Pista de Guarulhos). Essas falhas, que se encontram pendentes de saneamento pela
Infraero há cerca de dois anos, tiveram por causa justamente a deficiência do projeto básico
utilizado na licitação.
Importa ainda frisar que além de o projeto básico da Concorrência 8/DALC/SBGR/2008
constituir amostra do projeto básico da obra inteira do TPS-3, a não-continuidade de suas
obras impede a execução das obras dos demais lotes, devendo, dessa forma, a sua paralisação
implicar a suspensão da continuidade da licitação das outras partes da obra.
Ressalte-se que, nos termos do parágrafo 2º da LDO/2008, não existe óbice para que
empreendimentos com indícios de irregularidades graves indicados pelo TCU recebam recursos,
EXCLUSIVAMENTE, para aplicação na adequação de projeto.
3.2.2 - Situação encontrada:
INDÍCIO DE IRREGULARIDADE Nº 2 – Projeto desatualizado e incompleto.
Para a análise descrita no presente tópico, tomou-se como amostra o projeto básico
utilizado na concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008, cujo objeto, orçado em R$ 219.157.992,01, é
a contratação das obras e serviços de engenharia para construção do pátio de aeronaves e
terraplenagem do TPS-3. Vale lembrar que a execução das obras objeto dessa concorrência
constitui pré-requisito para a continuidade das obras dos demais lotes de licitação.
As plantas do projeto básico anexo ao edital resumem-se somente a 39 desenhos, dos
quais 20 integram o chamado Anexo XII, e 19 integram o grupo intitulado
‘ProjReaproveitados’. No anexo deste achado consta uma tabela relacionando os nomes dos
arquivos, as datas da última revisão, bem como o título dos desenhos correspondentes.
Para se ter uma idéia de quanto essa quantidade de documentos é diminuta, basta
comparar o número de documentos que compõem o edital da Concorrência em tela (49
desenhos) com o total da Concorrência 14/DALC/SBFL/2008 (108 desenhos). Ressalte-se que
esta possui objeto semelhante ao da licitação em análise (contratação de obras de
terraplenagem e execução de pistas de táxi e pátio de aeronaves, do Aeroporto Internacional de
Florianópolis), porém com valor bastante inferior (R$ 114.568.141,60), e também com indícios
de problemas de projeto, tratados no TC 007.178/2008-6.
Além da pequena quantidade de projetos, foram fornecidos aos possíveis licitantes
desenhos elaborados há mais de 20 anos, motivo pelo qual muitos deles estão ilegíveis nos
arquivos anexos ao edital (que são desenhos escaneados).
É oportuno recordar que TCU já se pronunciou sobre a matéria, determinando em
diversos acórdãos que não sejam realizadas licitações com projetos básicos desatualizados.
Entre esses podemos citar: 517/2001-P, 67/2002-P e 353/2007-P.
Outrossim, não há como identificar os autores do projeto, pois existe menção nas notas e
carimbos das plantas a mais de três possíveis autores (Figueiredo Ferraz, Planorcon, Engevix).
Tal fato é indício de que a Infraero reuniu aleatoriamente documentos para cumprir mera
formalidade, trazendo prejuízo ainda à verificação do cumprimento do art. 9º da Lei de
Licitações e Contratos, que veda a participação, direta ou indireta, dos autores do projeto
básico na licitação/execução da obra.
Ademais, a partir da leitura das notas das plantas transcritas a seguir, verifica-se que a
própria Infraero reconhece a superficialidade de seus projetos:

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‘Notas
1 - Este anteprojeto atende aos requisitos do projeto básico constante da Lei 8666 de
21/06/93’.
Vale informar que esse texto consta nas notas de todas as 20 plantas do Anexo XII do
edital, ou seja, de mais da metade do conjunto total de desenhos do projeto básico da licitação.
Além de incipiente, o projeto é incompleto, pois existem nas plantas remissões a vários
outros desenhos que não integram o anexo do edital. Em diversos desenhos do Anexo XII (vide
tabela abaixo), consta nas notas o seguinte texto:
‘Este projeto tomou como referência o desenho (nome do desenho) da Figueiredo Ferraz’.
Entretanto, muitos dos desenhos indicados como referência não fazem parte do pacote
fornecido aos licitantes. São eles:
Lista I - Desenhos de referência mencionados no Anexo XII que não constam do pacote
fornecido aos licitantes:
Anexo XII_3_GUA_GRL_000_069_R0.tif * GUA/GRL/000.063/R1
Anexo XII_4_GUA_PPT_002_286_R0.tif * GUA/SVI/002.193/R0
Anexo XII_5_GUA_GRL_003_155_R0.tif * GUA/GRL/003.138/R0
Anexo XII_6_GUA_GRL_003_156_R0.tif * GUA/GRL/003.137/R0
Anexo XII_7_GUA_GRL_003_157_R0.tif * GUA/GRL/003.139/R0,
GUA/GRL/003.140/R0 e GUA/GRL/003.141/R0
Anexo XII_8_GUA_GRL_003_156_R0.tif * GUA/GRL/003.139/R0,
GUA/GRL/003.140/R0 e GUA/GRL/003.141/R0
Anexo XII_9_GUA_GRL_003_156_R0.tif * GUA/GRL/003.139/R0,
GUA/GRL/003.140/R0 e GUA/GRL/003.141/R0
Anexo XII_10_GUA_GRL_003_156_R0.tif * GUA/GRL/004.644/R0
Anexo XII_11_GUA_PPT_203_007_R0.tif * GUA/PPT/203.006/R0
Anexo XII_12_GUA_PPT_005_406_R0.tif * GUA/GRL/005.008/R0 e
GUA/GRL/005.015/R0
Anexo XII_13_GUA_PPT_005_407_R0.tif * GUA/GRL/005.010/R0,
GUA/GRL/005.013/R0, GUA/GRL/005.018/R1
Anexo XII_14_GUA_PPT_005_408_R0.tif * GUA/GRL/005.009/R0,
GUA/GRL/005.014/R1, GUA/GRL/005.018/R1
Anexo XII_15_GUA_PPT_005_409_R0.tif * GUA/GRL/004.012/R0
Anexo XII_16_GUA_PPT_302_007_R0.tif * GUA/TPS/302.001/R0
Anexo XII_17_GUA_TPS_301_436_R0.tif * GUA/TPS/301.384/R0
Anexo XII_18_GUA_TPS_303_152_R0.tif * GUA/TPS/303.116/R0
Anexo XII_19_GUA_TPS_407_1122_R0.tif * 407.560/R0
Anexo XII_20_GUA_PPT_006_1175_R0.tif * GUA/PPT/012.005/R0
Vale ressaltar que a lista acima é exemplificativa, porque nos outros 19 desenhos também
existem remissões a plantas que não integram os anexos do edital
Em suma, o projeto básico da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 possui um número
reduzido de desenhos, dos quais alguns são ilegíveis ou foram elaborados há mais de 20 anos,
contendo neles remissões a peças técnicas que não foram devidamente publicadas juntamente
com o instrumento convocatório. Some-se a isso o fato de não ser possível identificar a autoria
do referido projeto, bem como a própria infraero definir em suas notas que se trata de um
‘anteprojeto’.
[vide planilhas no documento original]
3.2.3 - Objetos nos quais o achado foi constatado:
Projeto Básico 1º/12/2007, Construção de Terminal de Passageiros (TPS-3), de Pátio de
Aeronaves e de Acesso Viário no Aeroporto Internacional de Guarulhos - São Paulo.
3.2.4 - Critérios:

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Acórdão nº 517/2001-TCU-Plenário.
Acórdão nº 67/2002-TCU-Plenário.
Acórdão nº 353/2007-TCU-Plenário.
Lei 8666/1993, art. 6º, inciso IX; art. 7º, § 1º; art. 7º, § 2º; art. 7º, caput ; art. 12; art. 40,
§ 2º, inciso I.
Súmula 177/1982-TCU.
3.2.5 - Evidências:
39 desenhos integrantes do Anexo XII da Concorrência 8/DALC/SBGR/2008 (folhas
141/185 do Anexo 2 - Principal)
Lista de documentos do edital da Concorrência 14/DALC/SBFL/2008 (extraída do site da
Infraero) (folhas 4/6 do Anexo 2 - Principal)
Lista de documentos do edital da Concorrência 8/DALC/SBGR/2008 (extraída do site da
Infraero) (folhas 2/3 do Anexo 2 - Principal)
Exemplos de desenhos do projeto básico integrante da Concorrência 8/DALC/SBGR/2008
de autoria da Figueiredo Ferraz (folhas 143/159 do Anexo 2 - Principal)
Exemplos de desenhos do projeto básico integrante da Concorrência 8/DALC/SBGR/2008
de autoria da Planorcon (folhas 165/167 do Anexo 2 - Principal)
Exemplos de desenhos do projeto básico integrante da Concorrência 8/DALC/SBGR/2008
de autoria da Engevix (folha 171 do Anexo 2 - Principal)
3.2.6 - Esclarecimentos dos responsáveis:
A Infraero não encaminhou defesa até o fechamento deste trabalho (13/8/2008), sendo que
o término do prazo previsto no Acórdão nº 461/2008-P (cinco dias úteis após recebimento do
relatório preliminar) foi no dia 8/8/2008.
3.2.7 - Conclusão da equipe:
Ficam mantidas todas as considerações anteriores.
3.3 - Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente - Os quantitativos da planilha do
projeto básico estão sub ou superavaliados.
3.3.1 - Tipificação do achado:
Classificação - Irregularidade grave com recomendação de paralisação
Tipo - Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente
Justificativa - As lacunas, incompletudes e discrepâncias existentes na amostra do projeto
básico das obras do TPS-3 analisada (projeto básico da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008)
tornam inconsistentes as quantidades inclusas no orçamento de referência da licitação,
impedindo, inclusive a conferência desses valores pelo controle.
Tais falhas, por constituírem defeitos de projeto básico, caracterizam grave afronta ao art.
6º, inciso IX da Lei nº 8.666/1993. Além disso, há, outrossim, desobediência aos artigos 6º, § 4º
e 8º, caput, porquanto a falta do devido embasamento técnico para os quantitativos de serviços
inclusos no objeto da licitação não permite que tenha sido feita uma previsão precisa e realista
dos custos finais da obra, bem como o seu prazo final de execução.
Dessa forma, a continuidade da contratação das obras do TPS-3 de Guarulhos configura
grave risco de prejuízo aos cofres públicos visto que a ocorrência da mais repleta sorte de
irregularidades na execução contratual está intimamente relacionada à falta de projeto básico
adequado.
Nesse leque de possibilidades incluem-se sobrepreço, jogo de planilha, atraso de
cronograma, extrapolação dos limites de aditamento contratual, desvio de objeto, obra
inacabada por falta de recursos, etc. Nessas condições, há ainda falta de garantia de obtenção,
no certame, da proposta mais vantajosa para a Administração, uma vez que a falta de definição
precisa e suficiente do objeto licitado compromete a ampla competitividade do certame (Súmula
177-TCU).

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Cumpre rememorar que algumas dessas graves irregularidades já foram observadas na


execução contratual de outras obras de aeroportos em andamento (p. ex. Vitória, Macapá,
Goiânia e Pista de Guarulhos). Essas falhas, que se encontram pendentes de saneamento pela
Infraero há cerca de dois anos, tiveram por causa justamente a deficiência do projeto básico
utilizado na licitação.
Importa ainda frisar que pelo fato de o projeto básico da Concorrência
8/DALC/SBGR/2008 constituir amostra do projeto básico da obra inteira do TPS-3, a
continuidade das obras desse lote representa a execução irregular das obras dos demais lotes,
devendo, dessa forma, a sua paralisação implicar a suspensão da continuidade da licitação das
outras partes da obra.
Para corrigir os erros de projeto, ressalte-se que, nos termos do parágrafo 2º da
LDO/2008, não existem óbices para que empreendimentos com indícios de irregularidades
graves indicados pelo TCU recebam recursos, exclusivamente, para aplicação nessa correção.
3.3.2 - Situação encontrada:
INDÍCIO DE IRREGULARIDADE Nº 3 – Inexistência de peças técnicas fundamentais
para orçamentação dos serviços.
Para análise descrita no presente tópico, tomou-se como amostra o projeto básico
utilizado na concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008, cujo objeto, orçado em R$ 219.157.992,01, é
a contratação das obras e serviços de engenharia para construção do pátio de aeronaves e
terraplenagem do TPS-3. Vale lembrar que a execução das obras objeto dessa concorrência
constitui pré-requisito para a continuidade das obras dos demais lotes de licitação.
Pelo fato de a referida licitação tratar da contratação dos serviços de construção do pátio
de aeronaves e terraplenagem do TPS-3, os estudos de solo são de suma importância para a
definição precisa do objeto do certame.
Os serviços materialmente mais representativos no orçamento referem-se à escavação,
carga e transporte de material de empréstimo. Juntos eles somam mais de R$ 67 milhões, o
equivalente a 30 % do valor da planilha.
Tomando por base a parte do projeto relacionada a esses itens, verifica-se a inexistência
de diversos elementos fundamentais para a sua definição e orçamentação.
Primeiramente, deveriam constar no projeto básico os laudos de sondagem nos moldes
indicados pelas normas técnicas, indicando os tipos de solo encontrados, os valores de SPT
(Standard Penetration Test - ensaio de reconhecimento de solos, com medida de resistência à
penetração), o nível d’água, etc. Deveriam existir também os ensaios, como, por exemplo, a
determinação do Índice de Suporte Califórnia (ISC – Índice de Suporte Califórnia ou CBR é um
ensaio criado pelo Departamento de Estradas de Rodagem da Califórnia (USA) para avaliar a
resistência dos solos realizados na área da terraplenagem).
Essas seriam as peças técnicas mínimas para justificar a necessidade de troca do solo in
situ pelo solo de jazida. Além disso, os resultados desses estudos também fundamentariam a
necessidade de utilização do aterro de sobrecarga para aceleração de recalques (seus valores
de escavação, carga e aterro somam R$ 3,57 milhões).
Todavia o projeto básico integrante da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 não
contempla nenhum laudo de sondagem realizado no local da obra. Também não existe sequer
um relatório referente a qualquer tipo de ensaio de solos que porventura tenha sido feito no sítio
aeroportuário.
Os dados existentes se resumem a desenhos de perfis de sondagem à percussão
sobrepostos aos desenhos das plantas ‘Substituição de Solo – Seções Transversais, de forma
praticamente ilegível. Os números estão borrados e esses desenhos trazem informações sem a
legenda explicativa correspondente. Além de insuficientes e superficiais, as informações sobre
os perfis de solo são confusas.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Além de não haver qualquer elemento técnico fundamentando a necessidade de troca de


solo, o projeto básico da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 é completamente omisso quanto
às informações sobre as possíveis áreas de empréstimo. Não constam dados sobre a sua
localização, nem tampouco os estudos mínimos de caracterização do solo das jazidas,
suficientes para comprovar a compatibilidade de suas características com as exigências de
projeto.
1. Dessa forma, em face das lacunas acima mencionadas, é possível afirmar que não há
comprovação no projeto básico da necessidade de utilização de solo de jazida, nem da execução
do aterro de sobrecarga (e respectivo lastro de areia). Tampouco existem as informações
mínimas para subsidiar o cálculo da quantidade do serviço de transporte do material de
empréstimo, cujo valor depende substancialmente da distância da obra até a área de
empréstimo (medido em m³ x km).
2. Assim, há comprometimento da confiabilidade na quantificação de 78% do orçamento
dos serviços de terraplenagem - R$ 80.153.984,48 (itens 02.03.203, 02.03.204, 02.03.304,
02.03.403, 02,03.601, 02.03.701, 02.03.702 e 02.03.703 da planilha).
Além destas, as graves falhas não se resumem ao descrito até esse ponto. Existem
inconsistências significativas nos elementos que subsidiam o cálculo dos volumes dos demais
serviços de terraplenagem.
Os volumes desses serviços (corte, aterro, limpeza do terreno) são calculados a partir das
áreas obtidas nas seções de terraplenagem. No projeto básico foram traçadas 14 dessas seções,
posicionadas de 50 em 50 metros. Sem entrar no mérito da adequação desse intervalo, foram
constatadas incongruências importantes entre elas e outros desenhos que trazem dados sobre as
cotas de nível do terreno.
Por exemplo, ao longo da seção de terraplenagem nº 6, os desenhos acima mencionados
indicam o terreno situando-se entre as cotas 736m a 740m. Nos desenhos ‘Rebaixamento do
Lençol Freático – Planta, Seção Tipo e Detalhes’ e ‘Substituição de Solo e Aterro de Sobrecarga
– Planta’, apesar de diversos números estarem ilegíveis, verifica-se a existência de cotas, nas
proximidades da seção nº 6, com valores em torno de 759m, ou seja, com uma diferença em
torno de 20 metros nesses pontos. Essa discrepância pode ser observada em outras seções de
terraplenagem.
Tal incongruência, na magnitude observada, demonstra quão impreciso é o projeto básico
utilizado na Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008, de forma a comprometer significativamente
a confiabilidade das quantidades referentes aos volumes de terraplenagem inclusas na planilha
orçamentária.
Adicionalmente à discrepância de mais de 20 metros nos valores das cotas nos desenhos,
inexiste no projeto uma planilha de volumes de terraplenagem indicando, estaca a estaca, quais
foram as áreas para corte, aterro, limpeza de terreno etc. A inexistência dessa memória de
cálculo é mais uma evidência da incompletude dos dados desse projeto e agrava a falta de
confiabilidade dos quantitativos dos serviços de corte, aterro e espalhamento constantes do
orçamento de referência da licitação (itens 02.03.101, 02.03.102, 02.03.103, 02.03.201,
02.03.202, 02.03.203, 02.03.204, 02.03.301, 02.03.302, 02.03.303, 02.03.304, 02.03.501 e
02.03.502).
Falta também embasamento técnico para as distâncias de transporte local na obra. O
projeto básico da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 não contempla o perfil longitudinal,
demonstrando as distâncias de transporte para possíveis compensações longitudinais de
corte/aterro. Ademais, não há indicação da localização do bota-fora. Ficam comprometidos,
assim, os quantitativos dos itens 02.03.401 e 02.03.402 da planilha orçamentária.
De todo o exposto, conclui-se que o projeto básico dos serviços de terraplenagem da
Concorrência 8/2008 está em total discordância ao imposto pela Lei nº 8.666/1993, pois além
de não englobar as peças técnicas mínimas para a definição precisa dos serviços envolvidos,

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

possui imprecisões significativas nos poucos elementos que o integram. Impende salientar que a
terraplenagem soma R$ 101.896.789,48 (46% do valor do orçamento da Concorrência
8/DALC/SBGR/2008).
É importante esclarecer que a falta de precisão nos estudos de solo compromete também a
quantificação e especificação dos serviços de pavimentação. Tal fato pode ser atestado na
leitura das observações contidas no projeto em análise. Segundo os desenhos ‘Planta Geral –
Distribuição dos Tipos de Pavimento’ e ‘Detalhes de Pavimentação’, a espessura do pavimento
de concreto deve ser maior ou igual a 35 cm, considerando um subleito com CBR maior ou
igual a 8%.
Nesses mesmos documentos, consta a seguinte nota:
‘8 - Se durante a exploração das jazidas for obtido material com CBR’s maiores que os
previstos no projeto básico, os pacotes de pavimentação deverão ser reestudados, com o
objetivo de otimizar o custo do empreendimento, sem prejuízo à qualidade e funcionalidade
esperada da obra.’
Em outras palavras, quando os estudos de solos hoje inexistentes forem concluídos,
poderá haver modificação na estrutura do pavimento e, por conseguinte, nos quantitativos e nas
descrições dos serviços correspondentes. Para se ter uma idéia da relevância dessa imprecisão,
somente o serviço ‘04.04.102.01 – Pavimento Rígido com Placas de Concreto’ está estimado em
R$ 18.797.650,00.
Somando o valor do pavimento rígido ao total do orçamento de terraplenagem, constata-
se haver falta de clareza e imprecisão nas definições de projeto correspondentes a mais de 55%
(R$ 20.694.439,40) do valor total da planilha da Concorrência Nº 8/DALC/SBGR/2008.
[vide planilha no documento original]
3.3.3 - Objetos nos quais o achado foi constatado:
Projeto Básico de 1/12/2007 – Construção de Terminal de Passageiros (TPS-3), de Pátio
de Aeronaves e de Acesso Viário no Aeroporto Internacional de Guarulhos - São Paulo.
3.3.4 - Critérios:
Lei nº 8.666/1993, art. 8º, caput.
Lei 8666/1993, art. 6º, inciso IX; art. 7º, § 4º; art. 12
3.3.5 - Evidências:
39 desenhos integrantes do Anexo XII da Concorrência 8/DALC/SBGR/2008 (folhas
141/185 do Anexo 2 - Principal)
Desenhos (1 a 3) ‘Substituição de Solo – Seções Transversais’ (folhas 147/149 do Anexo 2
- Principal)
Desenho ‘Rebaixamento do Lençol Freático – Planta, Seção Tipo e Detalhes’ (folha 143
do Anexo 2 - Principal)
‘Substituição de Solo e Aterro de Sobrecarga – Planta’ (folha 145 do Anexo 2 - Principal)
Orçamento de referência da Infraero (folhas 64/81 do Anexo 2 - Principal)
Desenho ‘Planta Geral – Distribuição dos Tipos de Pavimento’ (folha 152 do Anexo 2 -
Principal)
Desenho ‘Detalhes de Pavimentação’ (folha 153 do Anexo 2 - Principal)
Termo de Referência Complementar para Contratação de Obras e Serviços de Engenharia
(folhas 116/124 do Anexo 2 - Principal)
Termo de Referência Geral para Obras e Serviços de Engenharia (folhas 125/140 do
Anexo 2 - Principal)
Especificações Técnicas (folhas 1/424 do Anexo 2 - Volume 1)
3.3.6 - Esclarecimentos dos responsáveis:
A Infraero não encaminhou defesa até o fechamento deste trabalho (13/8/2008), sendo que
o término do prazo previsto no Acórdão nº 461/2008-P (cinco dias úteis após recebimento do
relatório preliminar) foi no dia 8/8/2008.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

3.3.7 - Conclusão da equipe:


Ficam mantidas todas as considerações anteriores.
3.4 - Sobrepreço – Sobrepreço decorrente de preços excessivos frente ao mercado
(serviços, insumos e encargos).
3.4.1 - Tipificação do achado:
Classificação - Irregularidade grave com recomendação de paralisação
Tipo - Sobrepreço
Justificativa - Em virtude das majorações indevidas de preço unitário, a utilização do
orçamento de referência existente nessa licitação poderá dar causa a um prejuízo do erário de
pelo menos R$ 51 milhões.
O dano pode ainda ser maior, pois as falhas de projeto encontradas permitem inferir a
existência de problemas nos quantitativos inclusos na planilha orçamentária, muito embora,
justamente em razão desses defeitos, não houvesse dados suficientes para calcular o valor dessa
parte do sobrepreço em termos monetários. Releva notar, outrossim, que o sobrepreço ora
apontado é com base em uma amostra exemplificativa de serviços.
Merece destaque o fato de que o risco de dano aumenta na medida em que as premissas da
Infraero na formação de seus preços unitários podem ser repetidas não só para os demais
serviços da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008, mas também nas composições de preços dos
orçamentos dos outros lotes de licitação do TPS-3.
Importa ainda frisar que pelo fato de o projeto básico da Concorrência
8/DALC/SBGR/2008 constituir amostra do projeto básico da obra inteira do TPS-3, a
continuidade das obras desse lote representa a execução irregular das obras dos demais lotes,
devendo dessa forma, a sua paralisação implicar a suspensão da continuidade da licitação das
outras partes da obra.
Para corrigir os erros de projeto, ressalte-se que, nos termos do parágrafo 2º da
LDO/2008, não existem óbices para que empreendimentos com indícios de irregularidades
graves indicados pelo TCU recebam recursos, EXCLUSIVAMENTE, para aplicação nessa
correção.
3.4.2 - Situação encontrada:
INDÍCIO DE IRREGULARIDADE Nº 4 – Sobrepreço.
Para análise descrita no presente tópico, tomou-se como amostra o projeto básico
utilizado na Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008, cujo objeto, orçado em R$ 219.157.992,01, é
a contratação das obras e serviços de engenharia para construção do pátio de aeronaves e
terraplenagem do TPS-3. Vale lembrar que a execução das obras objeto dessa concorrência
constitui pré-requisito para a continuidade das obras dos demais lotes de licitação.
Da análise dos preços unitários dos serviços relativos a uma amostra correspondente a
57% do valor do orçamento (R$ 124.415.88,00), encontrou-se uma majoração indevida de R$
51.162.846,00, eqüivalente ao expressivo percentual de 70% de sobrepreço.
Impende esclarecer que a amostra do orçamento analisada é exemplificativa, podendo o
sobrepreço relativo a preços unitários extrapolar os R$ 51 milhões encontrados. Frise-se
também que, ante incompletude dos dados existentes, não foram avaliados os quantitativos dos
serviços, havendo o risco de existir sobrepreço relacionado a essa causa.
A planilha do cálculo de sobrepreço com indicação das composições de custos de
referência utilizadas encontra-se em anexo à descrição do presente achado.
Cumpre informar que a presente irregularidade configura descumprimento ao item 9.1.3
do Acórdão nº 2.350/2007-P que contém a seguinte determinação à Infraero:
‘9.1.3. tome todas as precauções necessárias para que o orçamento detalhado da obra,
previsto no art. 7º, § 2º, inciso II, da Lei nº 8.666/1993, esteja livre de sobrepreços em relação
aos preços médios de mercado;’
[vide planilhas constantes do documento original]

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Referências da Equipe:
a) Sicro-SP janeiro/2008 (foi utilizada essa data-base, porque não existe no site do Dnit
tabela para dezembro de 2007, que é a data-base do orçamento da Infraero);
b) Sinapi-SP de dezembro de 2007;
c) BDI informado pela Infraero: 27,43%.
A) Item 02.03.203 - Escavação e Carga de Empréstimo, c/ fornecimento de terra
O cálculo do preço unitário de referência do item 02.03.203 tomou por base a composição
do Sicro ‘2 S 01 100 09 – Escavação, carga e transporte de material 1ª categoria DMT 50 a
200m com carregadeira’, fazendo as adaptações necessárias.
No cálculo do preço unitário de referência, da mesma forma que no orçamento-base da
Infraero, considerou-se o serviço de escavação e carga separado do serviço de transporte . A
carga, descarga e manobra do caminhão de 10 m³ (o mesmo utilizado no transporte) foi
remunerada no serviço de escavação. Somou-se também a indenização de jazida e adequou-se a
composição do Sicro ao critério de medição da Infraero (aterro). Ao custo unitário obtido,
aplicou-se o BDI do orçamento da estatal (27,43%).
Desse modo, o preço unitário de referência encontrado para o serviço ‘02.03.203 -
Escavação e Carga de Empréstimo, c/ fornecimento de terra’ foi de R$ 6,11. O preço unitário da
Infraero é de R$ 25,72.Considerando as quantidades envolvidas, o sobrepreço encontrado foi de
R$ 27.454.000,00 (321%).
Somente para corroborar o valor encontrado para o preço unitário de referência,
pesquisou-se no Sicro um serviço semelhante ao analisado (1 A 01 120 01 – Escavação e carga
de material de jazida), cujo preço unitário, depois de aplicado o BDI de 27,43% e corrigido
pelo fator de conversão em virtude da diferença de critérios de medição entre o orçamento da
Infraero e o Sicro (corte e aterro, respectivamente), é de R$5,52. Esse valor é inferior ao de
referência porque o serviço ‘1 A 01 120 01’ não possui o caminhão na composição de sua
equipe mecânica.
B) Item 02.03.403 – Transporte de Material de Jazida ou de Reaproveitamento
Apesar de possuírem o mesmo preço unitário e tratarem do serviço de transporte, os itens
02.03.401 e 02.03.402 não foram agrupados ao item 02.03.403 na elaboração da curva ABC
porque possuem critérios de medição em volume distintos: este no aterro, depois de
compactado, e aqueles no corte.
Uma vez que serão medidos no volume, e não no peso, as variações volumétricas entre os
estados do solo no corte, aterro e solto devem ser consideradas nos preços unitários dos
serviços (adequação dos fatores de conversão dentro da produção de equipes mecânicas), que
por esses motivos não podem ser iguais.
O projeto básico da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 não contempla estudos de
jazidas, nem tampouco indica a sua localização. Também não existe a informação de qual é o
fator de contração do material da jazida (relação entre volume no corte e volume no aterro).
Na ausência desses dados fundamentais para a formação do preço unitário do transporte,
a equipe de auditoria considerou metade do percurso em rodovia pavimentada e metade do
percurso em rodovia não-pavimentada e adotou o fator de contração indicado pelo Manual de
Custos Rodoviários do Dnit (volume 4, tomo 1, fl. 18), que é de 1,15.
O cálculo do preço unitário de referência do item 02.03.403 tomou por base as
composições do Sicro 2 S 09 001 91 e 2 S 09 002 91, que se referem a transporte comercial com
basculante em rodovia não-pavimentada e pavimentada, respectivamente, fazendo as
adaptações necessárias relativas às diferenças no critério de medição do serviço entre o Sicro e
o orçamento da Infraero. Ao custo unitário obtido, aplicou-se o BDI do orçamento da Infraero
(27,43%)
Desse modo, o preço unitário de referência encontrado para o serviço ‘02.03.403 -
Transporte de Material de Jazida ou de Reaproveitamento’ foi de R$ 1,07. O preço unitário da

14
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Infraero é de R$ 1,21.Considerando as quantidades envolvidas, o sobrepreço encontrado foi de


R$ 3.594.500,00 (13%).
C) Itens 03.02.102.01 e 04.07.104 – Fornecimento, corte, dobra e aplicação de Aço CA-50
A referência para o cálculo do preço unitário foi a composição 10249/2 do Sinapi,
juntamente com o BDI informado pela Infraero.
O preço unitário de referência encontrado para os serviços 03.02.103.01 e 04.07.104 foi
de R$ 4,77. O preço unitário da Infraero é de R$ 5,82. Considerando as quantidades envolvidas,
o sobrepreço encontrado foi de R$ 2.553.600,00 (22%).
D) Item 02.03.601– Lastro de Areia
O cálculo do preço unitário de referência do item 02.03.601 tomou por base a composição
do Sicro ‘2 S 04 999 57 - Lastro de brita BC’, fazendo a troca da brita por areia comercial.
Outra consideração a favor da Infraero é que, na composição do Sicro, considera-se o
compactador manual (baixa produtividade), enquanto que as especificações técnicas da
Infraero (GUAGRL/000.ET-736/R0) prevêem utilização de rolo liso vibratório, que levaria a
maior produtividade.
O preço unitário de referência encontrado para o serviço ‘02.03.601 – Lastro de Areia’ foi
de R$ 38,31. O preço unitário da Infraero é de R$ 86,35. Considerando as quantidades
envolvidas, o sobrepreço encontrado foi de R$ 6.197.160,00 (125%).
E) Item 04.02.101 – Sub-base ou Base de Brita Graduada Simples
O preço de referência foi calculado com base na composição Sicro ‘2 S 02 23050 - Base
de brita graduada BC’.
Para o transporte (Referência: ‘1 A 00 001 05 – Transporte local com caminhão
basculante 10 m3, rodovia não pavimentada’) da brita graduada da usina de solos até o ponto
de aplicação, considerou-se a distância do ponto médio da locação do canteiro até o ponto
médio da aplicação do serviço (segundo dados do projeto, refere-se a parte de pavimentos
rígido e flexível, com exceção da área do pátio provisório).
O preço unitário de referência encontrado para o serviço ‘04.02.101 – Sub-base ou Base
de Brita Graduada Simples’ foi de R$ 63,94. O preço unitário da Infraero é de R$ 110,83.
Considerando as quantidades envolvidas, o sobrepreço encontrado foi de R$ 3.563.640,00
(73%).
F) Itens 02.03.401 e 02.03.402 –Transporte de Material de Limpeza ou para Bota-fora
Conforme já se explicou, os itens 02.03.401 e 02.03.402 não podem possuir o mesmo
preço unitário do serviços 02.03.403, já analisado, porque eles possuem critérios de medição
distintos: corte e aterro, respectivamente.
No cálculo dos itens 02.03.401 e 02.03.402 foram utilizadas as mesmas premissas do
02.03.403, com exceção do fator de contração, pois a correção entre o volume no corte e o
volume no aterro não deve ser considerada quando o serviço é medido no corte.
Desse modo, o preço unitário de referência encontrado para os serviços ‘02.03.401 –
Transporte de Material de Limpeza’ e ‘02.03.402 – Transporte de Material para Bota-fora’, foi
de R$ 0,92. O preço unitário da Infraero é de R$ 1,21.Considerando as quantidades envolvidas,
o sobrepreço encontrado foi de R$ 1.566.000,00 (32%).
G) Item 03.02.103.02 – Concreto Fck = 30 Mpa (para estruturas de concreto)
O cálculo do preço unitário de referência do item 03.02.103.02 tomou por base a
composição do Sinapi ‘26311/11– Concreto Bombeado 30MPa Incl. Concr. Import. Usina
Colocação Espalhamento’.
Desse modo, o preço unitário de referência encontrado para o serviço ‘03.02.103.02 –
Concreto Fck = 30 Mpa’ foi de R$ 298,28. O preço unitário da Infraero é de R$ 392,46.
Considerando as quantidades envolvidas, o sobrepreço encontrado foi de R$ 1.488.044,00
(32%).
H) Item 02.03.301– Aterro Compactado a 100% do Proctor Normal

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

O cálculo do preço unitário de referência do item 02.03.301 tomou por base a composição
do Sicro ‘2 S 01 511 00 – Compactação de aterros a 100% do Proctor Normal’, com as
adaptações necessárias.
Desse modo, o preço unitário de referência encontrado para o serviço ‘02.03.301– Aterro
Compactado a 100% do Proctor Normal’ foi de R$ 2,55. O preço unitário da Infraero é de R$
5,50.Considerando as quantidades envolvidas, o sobrepreço encontrado foi de R$ 3.156.500,00
(116 %).
I) Itens 02.03.201, 02.03.204 e 02.03.202 - Escavação e Carga de Material p/ Bota-fora
ou de 1ª categoria
Utilizou-se a composição ‘2 S 01 100 09 – Escavação, carga e transporte de material 1ª
categoria DMT 50 a 200m com carregadeira’ como referência de cálculo, fazendo as
adaptações. Observe-se, que, para esse serviço, o critério de medição do orçamento da Infraero
é igual ao do Sicro (corte), não requerendo alterações relacionadas a esse motivo.
O preço unitário de referência encontrado (R$ 3,99) muito próximo ao valor encontrado
pela Infraero (R$ 3,98).
J) Item 03.02.101.01- Forma plana para estruturas de concreto - Fornecimento e
aplicação
O cálculo do preço unitário de referência do item 03.02.101.01 tomou por base a
composição do Sinapi ‘68576/6 – Forma Madeira Comp resinada 14mm p/ Estrutura Reaprov. 3
vezes – corte/ montagem/escoramento/desforma’, aplicando o BDI indicado pela Infraero.
O preço unitário de referência encontrado para o serviço ‘Forma plana para estruturas
de concreto - Fornecimento e aplicação’ foi de R$ 41,86. O preço unitário da Infraero é de R$
53,00. Considerando as quantidades envolvidas, o sobrepreço encontrado foi de R$ 660.602,00
(27%).
K) Item 02.03.304 – Aterro de Sobrecarga
Segundo a seqüência construtiva descrita nos desenhos de projeto, a densidade a ser
atingida na compactação do aterro de sobrecarga é de 1,7 tf/m³.
No Sicro, para o serviço reforço de subleito, considera-se que o material no corte possui
densidade de 1,6 tf/m³, atingindo 1,84 t/m³ após compactado. De acordo com os parâmetros
desse sistema, a densidade do aterro de sobrecarga da Infraero possui um valor intermediário
entre o corte e o aterro compactado para reforço de subleito.
Nesse sentido, uma vez que não há informação no projeto básico anexo ao edital da
Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 de qual deve ser o grau de compactação a ser obtido,
utilizou-se como referência, conservadoramente, o serviço ‘2 S 01 510 00 - Compactação de
aterros a 95% proctor normal’, com as adaptações necessárias.
O preço unitário de referência encontrado para o serviço ‘02.03.304 – Aterro de
Sobrecarga’ foi de R$ 4,33. O preço unitário da Infraero é de R$ 53,00. Considerando as
quantidades envolvidas, o sobrepreço encontrado foi de R$ 660.602,00 (27%).
3.4.3 - Objetos nos quais o achado foi constatado:
Projeto Básico 1º/12/2007, Construção de Terminal de Passageiros (TPS-3), de Pátio de
Aeronaves e de Acesso Viário no Aeroporto Internacional de Guarulhos - São Paulo.
3.4.4 - Critérios:
Acórdão nº 2.350/2007, item 9.1.3, TCU, Plenário
Lei nº 8.666/1993, art. 7º, § 2º, inciso II
Lei 8666/1993, art. 6º, inciso IX; art. 12; art. 65, § 3º; art. 65, inciso I, alínea b
Lei 11.514/2007, art. 115, § 1º; art. 115, caput.
3.4.5 - Evidências:
39 desenhos integrantes do Anexo XII da Concorrência 8/DALC/SBGR/2008 (folhas
141/185 do Anexo 2 - Principal)
Orçamento de referência da Infraero (folhas 64/81 do Anexo 2 - Principal)

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Critérios de Medição (folhas 85/115 do Anexo 2 - Principal)


Termo de Referência Complementar para Contratação de Obras e Serviços de Engenharia
(folhas 116/124 do Anexo 2 - Principal)
Termo de Referência Geral para Obras e Serviços de Engenharia (folhas 125/140 do
Anexo 2 - Principal)
Especificações Técnicas (folhas 1/424 do Anexo 2 - Volume 1)
3.4.6 - Esclarecimentos dos responsáveis:
A Infraero não encaminhou defesa até o fechamento deste trabalho (13/8/2008), sendo que
o término do prazo previsto no Acórdão nº 461/2008-P (cinco dias úteis após recebimento do
relatório preliminar) foi no dia 8/8/2008.
3.4.7 - Conclusão da equipe:
Ficam mantidas todas as considerações anteriores.
3.5 - Cronograma de desembolso (físico-financeiro) incompatível com a execução física
dos serviços.
3.5.1 - Tipificação do achado:
Classificação - Irregularidade grave com recomendação de paralisação
Tipo - Demais irregularidades graves no processo licitatório
Justificativa - A continuidade de licitação prevendo concentração de pagamentos no início
da obra dá margem à antecipação indevida de pagamentos e à configuração de jogo de
planilha.
O potencial de dano aumenta substancialmente quando se verifica na planilha
orçamentária sobrepreço relacionado aos serviços iniciais. Tal situação foi constatada no caso
específico, onde foram encontrados na amostra analisada valores de sobrepreço expressivos nos
preços unitários dos serviços de terraplenagem (indício de irregularidade nº 4). O risco
aumenta na medida em que não foi possível ao controle, em face da inexistência de elementos
técnicos no projeto básico, fazer aferição dos quantitativos dos serviços.
Ressalte-se que o fato de a Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 encontrar-se adiada sine
die não saneia a irregularidade aqui descrita, pois o certame poderá ser reiniciado a qualquer
momento utilizando o mesmo edital publicado inicialmente.
Além disso, existem editais de outros 8 lotes de licitação a serem publicados para concluir
a contratação objeto do PT em análise, merecendo, dessa forma, que a correção proposta no
presente trabalho seja estendida aos demais atos convocatórios.
Cabe informar que irregularidade similar ao do caso em tela já foi tratada em outro
processo neste Tribunal, do qual resultou o Acórdão nº 997/2004-P, com caracterização de IGP
(Irregularidade Grave com Paralisação):
‘Voto
‘Em relação à primeira, como bem salientou a Unidade Técnica, ainda que o valor
global do contrato TT-0015/2001 seja compatível com os preços máximos orçados pelo Dnit,
os serviços de terraplenagem são executados na primeira fase da obra e representam 55% do
total contratado para implantação do trecho da BR 393/ES. Identificado o expressivo
sobrepreço nos itens correspondentes, é significativo o risco de a empresa executar os
serviços relativos à terraplenagem e não conseguir levar adiante os demais, em prejuízo ao
erário, ensejando, portanto, audiência dos responsáveis e recomendação pelo não
prosseguimento das obras.
(...)
Acórdão
(...)
9.3 - encaminhar à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do
Congresso Nacional cópia desta deliberação, acompanhada do Relatório e do Voto que a
fundamentam, informando que as apurações realizadas no presente trabalho recomendam a

17
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

paralisação da execução orçamentária do Contrato TT-0015/2001, firmado entre o Dnit e a


empresa (...)’
3.5.2 - Situação encontrada:
INDÍCIO DE IRREGULARIDADE Nº 5 – Concentração de pagamentos nos primeiros 5
meses da obra.
A despeito de o cronograma de execução da obra estender-se por 25 meses, o cronograma
físico-financeiro anexo ao edital da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 prevê em somente 5
meses (20% do tempo total da obra) o pagamento de 52% do valor total do orçamento (R$
113.283.678,50). Segundo esse mesmo cronograma, há previsão de execução de R$
98.839.885,80 de terraplenagem (97% do total desse item, que é R$ 101.896.789,48) em
somente 3 meses.
Todavia, não haveria como concluir 97% da terraplenagem em apenas 3 meses.
Consoante informações do projeto (planta ‘Pátio, TPS-3 e Viaduto – Substituição de Solo –
Seções Transversais – fl. 2/3’, fl. 148, anexo 1), o tempo necessário para estabilizar o aterro de
sobrecarga, que é apenas uma das etapas do item ‘terraplenagem’, seria de 8 meses (vide passo
7 da ‘Seqüência construtiva para área com aterro de sobrecarga’). Deve-se considerar ainda
que o material desse serviço será reaproveitado na execução do aterro a 100% do Proctor
Normal (vide passo 4 da Seqüência construtiva para área de troca de solo)’.
Dessa forma, verifica-se a falta de correspondência entre os prazos previstos no projeto
para execução dos serviços e o cronograma físico-financeiro da licitação, estando a previsão de
pagamentos bastante adiantada com relação à conclusão física das etapas. Configura-se, desse
modo, jogo de planilha por previsão de antecipação indevida de pagamentos.
3.5.3 - Objetos nos quais o achado foi constatado:
Edital 8/DALC/SBGR/2008, 6/5/2008, concorrência, contratação das obras e serviços de
engenharia para construção do pátio de aeronaves e terraplenagem do TPS-3 do Aeroporto
Internacional de Guarulhos.
3.5.4 - Critérios:
Acórdão nº 997/2004, TCU, Plenário
Acórdão nº 2.367/2006, TCU, Plenário
Lei 8666/1993, art. 6º, inciso IX, item e; art. 6º, inciso IX, item f; art. 40, inciso XIV, item b
3.5.5 - Evidências:
Cronograma Físico-Financeiro da Infraero (Cronograma de Desembolsos) (folhas 82/84
do Anexo 2 - Principal)
Desenho ‘Pátio, TPS-3 e Viaduto – Substituição de Solo – Seções Transversais –FL. 02/03’
(folha 148 do Anexo 2 - Principal)
3.5.6 - Esclarecimentos dos responsáveis:
A Infraero não encaminhou defesa até o fechamento deste trabalho (13/8/2008), sendo que
o término do prazo previsto no Acórdão nº 461/2008-P (cinco dias úteis após recebimento do
relatório preliminar) foi no dia 8/8/2008.
3.5.7 - Conclusão da equipe:
Ficam mantidas todas as considerações anteriores.
3.6 - Restrição ao caráter competitivo da licitação – Processo licitatório direcionado em
decorrência de critérios inadequados para a habilitação e julgamento das propostas.
3.6.1 - Tipificação do achado:
Classificação - Irregularidade grave com recomendação de paralisação
Tipo - Restrição ao caráter competitivo da licitação
Justificativa - A exigência desmotivada de atestados para comprovação de aptidão técnico
operacional trazem restrição de competitividade ao certame, maculando, assim, princípios
basilares da Administração Pública e do processo licitatório.

18
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Uma vez que a ampla competitividade não é garantida, não se garante também a obtenção
da proposta mais vantajosa para a Administração, trazendo grande risco de dano ao Erário.
Esse potencial se agrava pelo fato de existir sobrepreço no orçamento-base da Infraero (indício
de irregularidade nº 4) o que gera uma tendência de as propostas das licitantes acompanharem
os altos preços da planilha de referência.
Ressalte-se que o fato de a Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 encontrar-se adiada sine
die não saneia a irregularidade aqui descrita, pois o certame poderá ser reiniciado a qualquer
momento utilizando o mesmo edital publicado inicialmente.
Além disso, existem editais de outros 8 lotes de licitação a serem publicados para concluir
a contratação objeto do PT em análise, merecendo, dessa forma, que a correção proposta no
presente trabalho seja estendida aos demais atos convocatórios.
3.6.2 - Situação encontrada:
INDÍCIO DE IRREGULARIDADE Nº 6 – Edital contendo cláusulas restritivas e que
trazem insegurança à supremacia do interesse público. Restrição à competitividade em
decorrência de determinação da apresentação de atestados de execução de pavimentos
aeroportuários.
O art. 30, inciso II da Lei nº 8.666/1993, define que a Administração pode solicitar, além
da indicação das instalações e do aparelhamento e do pessoal técnico adequados e disponíveis
para a realização do objeto da licitação, a comprovação de aptidão para desempenho de
atividade pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com tal objeto.
Assim, a forma como tais requisitos devem ser exigidos é que vai demonstrar a
observância do disposto no art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, que assegura que a
Administração ‘somente permitirá as exigências de qualificação técnica indispensáveis à
garantia do cumprimento das obrigações’.
Assim sendo, analisou-se a exigência de atestados verificada nos serviços de ‘Execução de
CBUQ em pavimento aeroportuário’ (itens f.4 e g.4) e ‘Execução de placas de concreto cimento
em pavimento aeroportuário’ (itens f.5 e g.5), do edital, considerados por esse de maior
relevância e valor significativo.
Todavia, é perfeitamente dispensável a condição de que a experiência da licitante, nos
diversos serviços de execução de pavimentos, sejam eles rígidos ou flexíveis, esteja concentrada
exclusivamente em obras aeroportuárias.
Com base no art. 30 da Lei de Licitações e Contratos a documentação relativa à
qualificação técnica de capacitação técnico-profissional refere-se à execução de obra ou serviço
de características semelhantes.
Neste mesmo artigo, em seu parágrafo 3°, verifica-se que será sempre admitida a
comprovação de aptidão através de certidões ou atestados de obras ou serviços similares de
complexidade tecnológica e operacional equivalente ou superior.
A metodologia de execução de pavimentos aeroportuários, assim como os insumos
utilizados nestes serviços é tecnicamente equivalente à utilizada nas obras rodoviárias,
possuindo grau de dificuldade de execução muito semelhante, ou, nos termos da Lei de
Licitações e Contratos, compatível em características.
Não há que se dizer que as diferenças executivas que possam surgir dentro do sítio
aeroportuário não possam ser superadas por uma empresa que disponha de pessoal e
equipamentos adequados à execução de pavimentos em outras obras de grande porte.
É tecnicamente viável, por exemplo, a uma empresa que tenha executado serviços de
pavimentação em trechos rodoviários, realizar serviços de pavimentação no sítio aeroportuário.
Para esclarecer tal afirmação lançaremos mão de um exemplo de uma comparação entre o
serviço solicitado pela Infraero e o mesmo serviço especificado pelo Dnit.
Para verificar a semelhança e o padrão de qualidade exigido para execução de serviços
de pavimentação utilizaremos as diretrizes constantes no Manual Sicro II do Dnit, Vol. 4, Tomo

19
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

1, que trata das composições de custos unitários de referência em obras de construção


rodoviária.
A título de exemplo será analisado o serviço de execução de concreto de cimento portland
com forma deslizante (execução de placas de concreto cimento) e as hipóteses consideradas
para sua composição.
De acordo com as especificações Sicro II, para a execução do concreto de cimento
Portland com forma deslizante foram considerados os seguintes equipamentos para a execução
do serviço:
a) Utilização de central misturadora de concreto, com produção de até 270 m3/h;
b) Transporte do concreto em caminhão basculante;
c) A partir das produções obtidas na central misturadora, é necessária a presença na pista
de equipamentos capazes de distribuir e vibrar o concreto para lá transportado;
d) Máquina com tremonha de carga compatível com o tamanho do caminhão basculante;
e) Vibro-acabadora, com controles eletrônicos que executa até 9 m de largura, com até
0.49 m de espessura, a uma velocidade de 2 m/min, consumindo, assim, na condição máxima de
produção, até 530 m3/h de concreto, e todo seu trabalho é controlado por computador;
f) Mini-estação meteorológica, colocada junto da texturizadora e lançadora de produto
químico para a cura do concreto (antisol), e que permite a leitura da umidade relativa do ar, da
temperatura ambiente e velocidade do vento, para garantir que o pavimento deslizado e
acabado não tenha fissuras e trincas por retração plástica.
Com base nas especificações de execução do pavimento de concreto verifica-se que a
composição de custos do Dnit contempla a execução do serviço de pavimento rígido de uma
maneira totalmente automatizada e moderna. Percebe-se o extremo cuidado adotado em relação
à cura das placas e a qualidade técnica delas.
No projeto em questão a espessura de placa de concreto é de 35 cm, muito aquém da
capacidade do equipamento normalmente utilizado em estradas que executa placas de até 49
cm.
Entende-se que todas essas considerações técnicas levadas a efeito pelo Dnit na execução
do pavimento rígido em suas obras demonstram não só o excepcional nível de acabamento e
preocupação com a qualidade do serviço executado por empresas especializadas em obras
rodoviárias, como também revela que nada existe de excepcional a ponto de torná-lo diferente
quando for executado em um aeroporto.
Desta forma, fica demonstrada a similaridade e a excelência de execução que deve estar
presente em quaisquer pavimentos, sejam eles rodoviários ou aeroportuários.
Quanto à execução do pavimento flexível rodoviário (CBUQ), importa dizer que é
igualmente semelhante ao pavimento flexível aeroportuário.
Concluindo, infere-se desta exigência presente no edital que as empresas especializadas
em pavimentos rodoviários de asfalto ou de concreto, por exemplo, estão sendo marginalizadas
da concorrência em questão sem justo motivo, fato que macula os preceitos constitucionais da
isonomia.
3.6.3 - Objetos nos quais o achado foi constatado:
Edital 8/DALC/SBGR/2008, 6/5/2008, concorrência, contratação das obras e serviços de
engenharia para construção do pátio de aeronaves e terraplenagem do TPS-3 do Aeroporto
Internacional de Guarulhos.
3.6.4 - Critérios:
Lei 8666/1993, art. 3º; art. 30; art. 44
3.6.5 - Evidências:
Exigências no Edital da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 para qualificação técnico-
operacional fls. 8/63, anexo 1 (folhas 19/20 do Anexo 2 - Principal)
3.6.6 - Esclarecimentos dos responsáveis:

20
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

A Infraero não encaminhou defesa até o fechamento deste trabalho (13/8/2008), sendo que
o término do prazo previsto no Acórdão nº 461/2008-P (cinco dias úteis após recebimento do
relatório preliminar) foi no dia 8/8/2008.
3.6.7 - Conclusão da equipe:
Ficam mantidas todas as considerações anteriores.
3.7 - Ausência, no edital, de critério de aceitabilidade de preços máximos – Inadequação
ou inexistência dos critérios de aceitabilidade de preços unitário e global.
3.7.1 - Tipificação do achado:
Classificação - Irregularidade grave com recomendação de paralisação
Tipo - Demais irregularidades graves no processo licitatório
Justificativa - Da análise feita pela equipe de auditoria, conclui-se pela ineficácia do
critério de aceitabilidade de preço unitário utilizado pela Infraero na Concorrência nº
8/DALC/SBGR/2008. Da maneira como foi estabelecido, ele cumpre formalmente a exigência do
art. 40, inciso X da Lei nº 8.666/1993, sem, entretanto, prestar-se aos fins a que se destina, que é
garantir a obediência ao artigo 115 da LDO/2008.
A falta de critério de aceitabilidade de preço unitário eficaz, conjugada ao sobrepreço
(indício de irregularidade nº 4) e a um cronograma de desembolsos que prevê indevidamente a
concentração de pagamentos no início da obra, conjugam os ingredientes necessários à
celebração de um contrato contendo jogo de planilha. Em razão da gravidade desses indícios,
bem como o efeito sinérgico entre eles, a licitação não deve ter continuidade.
Ressalte-se que o fato de a Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 encontrar-se adiada sine
die não saneia a irregularidade aqui descrita, pois o certame poderá ser reiniciado a qualquer
momento utilizando o mesmo edital publicado inicialmente.
Além disso, existem editais de outros 8 lotes de licitação a serem publicados para concluir
a contratação objeto do PT em análise, merecendo, dessa forma, que a correção proposta no
presente trabalho seja estendida aos demais atos convocatórios.
3.7.2 - Situação encontrada:
INDÍCIO DE IRREGULARIDADE Nº 7 – Edital contendo cláusulas restritivas e que
trazem insegurança à supremacia do interesse público. Inadequação do critério de
aceitabilidade de preços unitários.
O edital da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 prevê o seguinte critério de
aceitabilidade de preços unitários:
‘6.7.3. quanto aos preços unitários, a Comissão de Licitação efetuará análise
individual dos itens cotados nas propostas das licitantes;
6.7.3.1. caso se verifique na proposta a ocorrência de itens com preços superiores aos
unitários orçados pela Infraero, a licitante deverá apresentar, no Invólucro II, relatório
técnico circunstanciado justificando a composição e os preços dos serviços;
6.7.3.2. caso as justificativas apresentadas não sejam acatadas pela Comissão de
Licitação, os preços unitários da proposta da licitante serão adequados ao preço
correspondente do orçamento base elaborado pela Infraero, ajustando deste modo também o
valor global da proposta, sob pena de desclassificação da proposta;
6.7.3.3. caso a licitante não concorde com a adequação dos preços unitários, nos
termos do item 6.7.3.2., a proposta será desclassificada.’
Tal critério não encontra amparo na legislação vigente. A LDO/2008 em seu artigo 115
determina:
‘Art. 115. Os custos unitários de materiais e serviços de obras executadas com recursos
dos orçamentos da União não poderão ser superiores à mediana daqueles constantes do
Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil - Sinapi, mantido pela
Caixa Econômica Federal, que deverá disponibilizar tais informações na internet.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

§ 1º Somente em condições especiais, devidamente justificadas em relatório técnico


circunstanciado, aprovado pela autoridade competente, poderão os respectivos custos
ultrapassar o limite fixado no caput deste artigo, sem prejuízo da avaliação dos órgãos de
controle interno e externo.’
Cabe informar que o TCU tem estendido o cumprimento deste dispositivo ao Sicro -
Sistema de Custos Rodoviários do Dnit (Acórdãos nºs 198/2000-P, 40/2003-P, 267/2003-P e
1.564/2003-P).
Em outras palavras, a obediência aos sistemas de referência, bem como as justificativas
para as eventuais adaptações necessárias, devem ser feitas pelo órgão quando da elaboração do
seu orçamento-base. Nesse caso, a lei reforça que, inclusive, esse relatório deve ser aprovado
por autoridade competente. Desse modo, o preço unitário máximo para cada serviço será o
valor estabelecido no orçamento-base da licitação.
No caso da concorrência em análise, estão sendo admitidos preços unitários com valores
superiores ao do orçamento-base, no qual já existem serviços com valores superiores aos do
sistema de referência. Tal critério permite a contratação de serviços com sobrepreço, os quais
podem ter, em função das graves falhas de projeto existentes, seus quantitativos aumentados no
decorrer da execução do contrato, configurando, assim, jogo de planilha.
Ademais, não são raros os casos em que o Tribunal se depara com alegações das
Comissões Permanentes de Licitação quanto à sua falta de conhecimentos técnicos para
comparar preços constantes das propostas. Em face desse histórico, não se afigura razoável
deixar a análise tão profunda a servidores de área que não seja de engenharia.
Por fim, o TCU pacificou em inúmeras deliberações o entendimento de que critério de
aceitação de preços unitários é obrigação e não faculdade do licitante (AC 253/2002-P, AC
206/2007-P). A cláusula, a prosperar, tornaria tal entendimento inócuo.
3.7.3 - Objetos nos quais o achado foi constatado:
Edital 8/DALC/SBGR/2008, 6/5/2008, concorrência, contratação das obras e serviços de
engenharia para
construção do pátio de aeronaves e terraplenagem do TPS-3 do Aeroporto Internacional
de Guarulhos.
3.7.4 - Critérios:
Lei 8666/1993, art. 40, inciso X
Lei 11.514/2007, art. 115
3.7.5 - Evidências:
Critério de aceitabilidade de preço unitário da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008
(item 6.7.3 do edital) (folhas 26/27 do Anexo 2 - Principal)
3.7.6 - Esclarecimentos dos responsáveis:
A Infraero não encaminhou defesa até o fechamento deste trabalho (13/8/2008), sendo que
o término do prazo previsto no Acórdão nº 461/2008-P (cinco dias úteis após recebimento do
relatório preliminar) foi no dia 8/8/2008.
3.7.7 - Conclusão da equipe:
Ficam mantidas todas as considerações anteriores.
3.8 - Descumprimento de determinação exarada pelo TCU.
3.8.1 - Tipificação do achado:
Classificação - Irregularidade grave com recomendação de paralisação
Tipo - Descumprimento de deliberações do TCU
Justificativa - Conforme Art. 115 da LDO 2008, os custos unitários de materiais e serviços
de obras executadas com recursos dos orçamentos da União não poderão ser superiores à
mediana daqueles constantes do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da
Construção Civil – Sinapi, mantido pela Caixa Econômica Federal, que deverá disponibilizar
tais informações na internet.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Deste modo, a Infraero, ao apresentar preços unitários acima da média de mercado, não
só afrontou a Lei de Diretrizes Orçamentárias, como também descumpriu deliberação expressa
do TCU no Acórdão nº 2.350/2007, o qual determinou que a Infraero tomasse todas as
precauções necessárias para que o orçamento detalhado da obra, previsto no art. 7º, § 2º, inciso
II, da Lei nº 8.666/1993, estivesse livre de sobrepreços em relação aos preços médios de
mercado.
Ao macular os princípios da isonomia, como relatado nas irregularidades anteriormente
descritas, a Infraero desrespeitou o item 9.1.4. do Acórdão nº 2.350/2007, o qual determinou à
esta que: cumprisse rigorosamente os princípios do art. 37, caput, da Constituição Federal,
como também os que norteiam os certames licitatórios, conforme art. 3º da Lei nº 8.666/1993.
Ainda, não houve no orçamento apresentado as composições de preços unitários que o
fundamentassem, descumprindo determinação exarada pelo TCU no Acórdão nº 2.350/2007.
3.8.2 - Situação encontrada:
INDÍCIO DE IRREGULARIDADE Nº 9
Os achados relatados no presente trabalho caracterizam descumprimento ao Acórdão nº
2.350/2007 - Plenário, no qual foram enumeradas algumas determinações à Infraero, entre as
quais, in verbis:
‘9.1.2. encaminhe à SECOB - Secretaria de Fiscalização de Obras e Patrimônio da União,
deste Tribunal, o(s) edital(is) completo(s) do(s) certame(s) licitatório(s) referente(s) às Obras de
Ampliação, Reforma e Modernização do Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP,
imediatamente após sua publicação, acompanhados do Orçamento Básico e das Composições
de Preços Unitários que o fundamentarem e da respectiva minuta do contrato;
9.1.3. tome todas as precauções necessárias para que o orçamento detalhado da obra,
previsto no art. 7º, § 2º, inciso II, da Lei nº 8.666/1993, esteja livre de sobrepreços em relação
aos preços médios de mercado;
9.1.4. cumpra rigorosamente os princípios do art. 37, caput, da Constituição Federal,
como também os que norteiam os certames licitatórios, conforme art. 3º da Lei nº 8.666/1993;’
Além da desobediência em si, conforme já se expôs na descrição dos demais achados deste
trabalho, o não-cumprimento dos itens acima elencados conferiu ao certame um grau de
ilegalidade tamanho que a continuidade do procedimento licitatório configura grave risco de
lesão ao Erário, pela falta de garantia de obtenção da proposta mais vantajosa e grande
possibilidade de perda de vinculação ao instrumento convocatório.
Rememore-se ainda que em 2005 já havia sido prolatado acórdão determinando à Infraero
ações corretivas com relação às obras do TPS-3 de Guarulhos (Acórdão nº 2.302-2005-P),
também não obedecidas, consoante relatado no seguinte trecho do voto condutor do Acórdão nº
2.350/2007-P:
‘12.Vale lembrar que já se passaram dois anos desde a prolação do Acórdão nº
2.302/2005-TCU-Plenário, que deu ciência ao Corpo Técnico e à então Direção da Infraero, de
forma clara, acerca da necessidade de se ajustar o orçamento das obras a serem licitadas, antes
de se prosseguir com a licitação do TPS-3.
13.Para que se tenha uma idéia da clareza da determinação basta que se consulte o item
9.4 do acórdão mencionado no item anterior.
(...)
15.Há que se declarar, ainda, que não foram cumpridas pela então direção da Infraero, as
determinações exaradas pelos Acórdãos nºs 2.302/2005 e 1.616/2006, ambos do Plenário deste
Tribunal, agravando ainda mais a situação. Nesse sentido, o Ministério Público junto a esta
Corte poderá atuar dentro de sua competência constitucional e legal.’
Dessa forma, conforme Lei Orgânica do TCU, art. 58, inciso VII c/c o Regimento Interno
do TCU em seu art. 268, inciso VIII, o Tribunal poderá aplicar multa aos responsáveis por
reincidência no descumprimento de determinação do Tribunal.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Outrossim, vale lembrar que a Lei nº 8.666/1993 prevê o seguinte em seu artigo 7º
(indicado na decisão supra):
‘§ 6º A infringência do disposto neste artigo implica a nulidade dos atos ou contratos
realizados e a responsabilidade de quem lhes tenha dado causa.’
3.8.3 - Objetos nos quais o achado foi constatado:
Edital 008/DALC/SBGR/2008, 6/5/2008, CONCORRÊNCIA, Contratação das obras e
serviços de engenharia para construção do pátio de aeronaves e terraplenagem do TPS-3 do
Aeroporto Internacional de Guarulhos.
3.8.4 - Critérios:
Acórdão nº 2.302/2005, TCU, Plenário
Acórdão nº 1.616/2006, TCU, Plenário
Acórdão nº 2.350/2007, item 9.1.3, TCU, Plenário
Acórdão nº 2.350/2007, item 9.1.2, TCU, Plenário
Acórdão nº 2.350/2007, item 9.1.4, TCU, Plenário
Lei 8.443/1992, art. 58, inciso VII
Lei 11.514/2007, art. 115
Regimento Interno, Art. 268, inciso VIII - TCU
3.8.5 - Evidências:
Orçamento de referência da Infraero (folhas 64/81 do Anexo 2 - Principal)
3.8.6 - Esclarecimentos dos responsáveis:
A Infraero não encaminhou defesa até o fechamento deste trabalho (13/8/2008), sendo que
o término do prazo previsto no Acórdão nº 461/2008-P (cinco dias úteis após recebimento do
relatório preliminar) foi no dia 8/8/2008.
3.8.7 - Conclusão da equipe:
Ficam mantidas as considerações anteriores.
3.9 - Demais irregularidades graves no processo licitatório - Licitação realizada sem
contemplar os requisitos mínimos exigidos pela Lei nº 8.666/1993.
3.9.1 - Tipificação do achado:
Classificação - Irregularidade grave com recomendação de paralisação
Tipo - Demais irregularidades graves no processo licitatório
Justificativa - A ilegalidade contida na minuta de contrato anexa à Concorrência nº
8/DALC/SBGR/2008 é de tal envergadura que a sua aplicação implica total perda de vinculação
ao instrumento convocatório, pois o dispositivo em comento permite completa alteração das
condições de licitação: alterações de projeto, de cronogramas de desembolso, e até mesmo de
preços unitários. Nesse sentido, a contratação com base nessa minuta configura grave risco de
lesão ao Erário, visto que, dessa forma, a licitação perde a sua razão de existir.
Ressalte-se que o fato de a Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 encontrar-se adiada sine
die não saneia a irregularidade aqui descrita, pois o certame poderá ser reiniciado a qualquer
momento utilizando o mesmo edital publicado inicialmente.
Além disso, existem editais de outros 8 lotes de licitação a serem publicados para concluir
a contratação objeto do PT em análise, merecendo, dessa forma, que a correção proposta no
presente trabalho seja estendida aos demais atos convocatórios.
3.9.2 - Situação encontrada:
INDÍCIO DE IRREGULARIDADE Nº 8 – Edital contendo cláusulas restritivas e que
trazem insegurança à supremacia do interesse público.
Existência de cláusulas ambíguas na minuta do contrato, cuja interpretação pode
prejudicar a supremacia do interesse público ou a obtenção da proposta mais vantajosa pela
administração.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Na minuta de contrato existem dispositivos redigidos de forma ambígua, que podem vir a
permitir, à mercê da discricionariedade da Infraero, em um sentido, o favorecimento de
particulares, ou, no outro, lesão de direitos, gerando insegurança ao procedimento licitatório.
São exemplos dessas cláusulas na minuta do contrato:
‘4.6 - Os preços unitário e total estipulados no Contrato serão alterados ou revisados
quando ocorrer acréscimo ou supressão de serviços por conveniência da CONTRATANTE,
respeitando-se os limites previstos em lei, se ficar comprovado o desequilíbrio econômico-
financeiro do Contrato.
(...)
14.6 - A CONTRATANTE reserva a si direito de introduzir modificações no projeto,
mesmo durante a execução dos serviços, sempre que julgar necessário. No exercício deste
direito, porém, a CONTRATANTE se empenhará no sentido de evitar prejuízos à
CONTRATADA;
(...)
14.11 - A CONTRATANTE poderá, respeitadas outras condições contratuais, tendo
presente o seu fluxo/disponibilidade de caixa, acelerar ou desacelerar o cumprimento do
cronograma físico-financeiro dos serviços;’
Os dispositivos acima são totalmente ilegais no sentido de permitirem, na execução do
contrato, a total perda de vinculação ao instrumento convocatório. Segundo eles, a Infraero
poderia, de acordo com a sua conveniência e oportunidade, após a licitação concluída,
modificar todos os elementos definidores do objeto do contrato (preços unitários, definição de
projetos durante a execução dos serviços), perdendo-se totalmente a vinculação ao instrumento
convocatório.
Outro ponto de extrema relevância é o fato de não existir para o administrador público a
liberdade de alterar ou revisar livremente os valores de preços unitários no decorrer da
execução contratual. Ademais, o critério de aceitabilidade de preços unitários deve ser fixado
de forma explícita no edital.
Desse modo, as cláusulas supramencionadas trazem extrema insegurança ao
procedimento licitatório em comento, pois, do mesmo modo que um licitante pode não
apresentar proposta por temer modificações nas condições da licitação no decorrer da execução
contratual, é possível também à Infraero fazer alterações que favoreçam terceiros, prejudicando
a supremacia do interesse público.
3.9.3 - Objetos nos quais o achado foi constatado:
Edital 008/DALC/SBGR/2008, 6/5/2008, concorrência, contratação das obras e serviços
de engenharia para construção do pátio de aeronaves e terraplenagem do TPS-3 do Aeroporto
Internacional de Guarulhos.
3.9.4 - Critérios:
Lei 8666/1993, art. 3º.
3.9.5 - Evidências:
Item 4.6 da minuta do contrato da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 (folha 49 do
Anexo 2 - Principal)
Item 14.6 da minuta do contrato da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 (folha 59 do
Anexo 2 - Principal)
Item 14.9 da minuta do contrato da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 (folha 59 do
Anexo 2 - Principal)
3.9.6 - Esclarecimentos dos responsáveis:
A Infraero não encaminhou defesa até o fechamento deste trabalho (13/8/2008), sendo que
o término do prazo previsto no Acórdão nº 461/2008-P (cinco dias úteis após recebimento do
relatório preliminar) foi no dia 8/8/2008.
3.9.7 - Conclusão da equipe:

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Ficam mantidas as considerações anteriores.


4 - ESCLARECIMENTOS ADICIONAIS
É bastante oportuno, no presente momento, trazer à baila trecho do voto condutor do
Acórdão nº 2.350/2007-Plenário em que o Exmo. Ministro Relator, Sr. Raimundo Carreiro, faz
críticas quanto à inércia da Infraero no saneamento das irregularidades observadas pelo TCU,
existentes desde a publicação da primeira fase da Concorrência em 08/01/2004, nas obras do
TPS-3 de Guraulhos:
‘8. Deve-se registrar, no entanto, tratar-se de atos de gestão extremamente
comprometedores para qualquer administrador público que queira levar adiante obras do porte
da que ora se analisa. Além disso, as obras não saíram do papel por total inércia e falta de
vontade em sanear os pontos irregulares.
9. Deve ser destacado, ainda, que as irregularidades constatadas nestes autos apontam
para elevado prejuízo para o Erário e, principalmente, grande prejuízo para a sociedade
brasileira, que necessita com urgência da ampliação do Aeroporto de Guarulhos, se não o mais
movimentado do Brasil, atualmente o mais importante.
10. Novamente este Tribunal se depara com um procedimento licitatório irregular, que não
conseguiu avançar na condução do certame para escolha da empresa construtora de obra
fundamental para o País. Com este empreendimento, somado ao Aeroporto de Vitória, de
Corumbá/MS e de Goiânia, todos de minha relatoria, fica comprometido, de forma irreparável,
o programa de modernização de nossos aeroportos.
11. Certamente, não tivessem ocorrido tantas práticas irregulares, como as ora
verificadas, contrárias à Lei de Licitações, à Lei de Responsabilidade Fiscal e, mais grave, à
Constituição Federal, injustificáveis, porquanto primárias do ponto de vista legal, e levando-se
em conta, ainda, o porte da Empresa Pública fiscalizada e também em função da importância do
empreendimento, as obras do TPS-3 já poderiam estar em estágio avançado na sua execução.
12. Vale lembrar que já se passaram dois anos desde a prolação do Acórdão nº
2.302/2005-TCU-Plenário, que deu ciência ao Corpo Técnico e à então Direção da Infraero, de
forma clara, acerca da necessidade de se ajustar o orçamento das obras a serem licitadas, antes
de se prosseguir com a licitação do TPS-3.’
Interessa observar que os atos acima mencionados foram praticados pela gestão anterior
da Infraero. O presente relatório agrava a situação narrada pelo Exmo. Sr. Ministro Relator no
sentido em que as práticas temerárias da antiga gestão da entidade perduram, e que, por isso,
aumentam cada vez mais os atrasos na execução das obras do TPS-3 do Aeroporto de
Guarulhos.
Volume anexo ao Ofício CF nº 4941/PRAI (AIOB)/2008 de 06/03/2008 - Informações
sobre contratações de projetos, obras e serviços de engenharia no exercício de 2008 - fls. 01/87,
anexo 1
5 - CONCLUSÃO
As seguintes constatações foram identificadas neste trabalho:
Questão 1 Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente - Licitação sem projeto
básico ou com projeto básico sem aprovação pela autoridade competente. (item 3.1)
Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente - Deficiência do projeto básico ou
projeto básico desatualizado. (item 3.2)
Questões 1 e 3 Cronograma de desembolso (físico-financeiro) incompatível com a
execução física dos serviços. (item 3.5)
Questões 1, 4 e 5 Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente - Os
quantitativos da planilha do projeto básico estão sub ou superavaliados. (item 3.3)
Questões 1, 4 e 6 Sobrepreço - Sobrepreço decorrente de preços excessivos frente ao
mercado (serviços, insumos e encargos). (item 3.4)

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Questão 3Restrição ao caráter competitivo da licitação - Processo licitatório direcionado


em decorrência de critérios inadequados para a habilitação e julgamento das propostas. (item
3.6)
Ausência, no edital, de critério de aceitabilidade de preços máximos - Inadequação ou
inexistência dos critérios de aceitabilidade de preços unitário e global. (item 3.7)
Descumprimento de determinação exarada pelo TCU. (item 3.8)
Foi identificado, ainda, o seguinte achado sem vinculação com questões de auditoria:
Demais irregularidades graves no processo licitatório - Licitação realizada sem
contemplar os requisitos mínimos exigidos pela Lei nº 8.666/1993. (item 3.9)
O principal benefício dessa fiscalização é evitar a continuidade de um procedimento
licitatório que pode gerar graves prejuízos à Administração.
A redução de preço máximo em processo licitatório (quantificada em no mínimo R$ 51
milhões) é o benefício mais concreto no momento. Ademais, a correção do projeto básico
possibilita o fornecimento de dados mais precisos aos futuros licitantes, que podem oferecer com
isso propostas mais vantajosas à Administração. Outro ponto importante é que a licitação
realizada com um projeto básico adequado evita a configuração no futuro de diversas outras
irregularidades graves, tais como jogo de planilha, extrapolação dos limites de aditamentos,
etc. O resultado final é uma melhoria no processo de orçamentação, licitação e contratação de
obras na entidade fiscalizada.
As irregularidades apontadas no presente trabalho sinalizam que a continuidade da
contratação das obras do TPS-3 de Guarulhos implicam grave risco de lesão ao Erário.
Primeiramente, o projeto básico do TPS-3 de Guarulhos é reconhecido pela própria
Infraero como impróprio, pois sua adequação foi objeto de licitação inconclusa. O início das
obras só poderia acontecer após execução desse contrato que sequer existe. Mesmo assim, a
Infraero publicou edital para contratação das obras de terraplenagem e construção do pátio de
aeronaves, em grave afronta aos ditames do art. 7º §§ 1º e 2º da Lei nº 8.666/1993.
Apesar de se saber que o projeto básico do TPS-3 requer reformulações, foram
aprofundadas as análises com fins de averiguar em qual nível essas adaptações seriam
necessárias.
Considerando que a execução de parte do objeto da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008
- terraplenagem de todas as obras do TPS-3 - é pré-requisito para a construção dos demais
lotes de obras, tomou-se o seu projeto básico como amostra.
A partir desse exame, verificou-se a gravidade da situação, pois o projeto básico dessa
obra de R$ 220 milhões está totalmente incompatível com os preceitos da Lei de Licitações e
Contratos e com a jurisprudência desta Casa.
Esse projeto possui um número reduzido de desenhos, dos quais alguns foram elaborados
há mais de 20 anos. Há remissões a peças técnicas que não foram devidamente publicadas junto
com o edital. Além disso, a própria Infraero define em suas notas que se trata de um
‘anteprojeto’. Tais fatos configuram desobediência aos art. 6º, IX e 40, § 2º, inciso I da Lei nº
8.666/1993.
Constatou-se também que as ‘definições’ de projeto relacionadas a mais de 55% (R$
120.694.439,40) do valor total da planilha não possuem clareza e precisão suficientes para dar
o devido embasamento técnico ao orçamento de referência, infringindo, assim, os art. 6º, inciso
IX e 7º, § 4º da Lei nº 8.666/1993.
Da análise de uma amostra exemplificativa, correspondente a 57% (R$ 124.415.888,00)
do valor total desse orçamento, verificou-se existir um sobrepreço de 70% (R$ 51.162.846,00)
referente à majoração indevida de preços unitários.
Importa salientar que causa estranheza o fato de a licitação do TPS-3 revogada por
determinação do TCU por conter, dentre outras falhas, expressivo sobrepreço, ter seu orçamento

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

de referência no valor de R$ 1.126.345.752,05, enquanto que o orçamento desse mesmo objeto,


após supostas revisões, já alcança R$ R$ 1.086.298.042.
Frise-se que dos 10 lotes, apenas dois tiveram editais publicados, e o 2º lote teve seu
orçamento de referência 20% superior à previsão da Infraero de março/2003. Isso indica que se
houver continuidade das contratações dos outros lotes com base nas premissas orçamentárias
do 2º, o valor final da obra pode superar significativamente o orçamento com sobrepreço da
concorrência revogada.
Também há no edital cláusulas de qualificação técnico-operacional restritivas à
competição, bem como o critério de aceitabilidade de preços unitários previsto é inadequado,
por ser insuficiente para atender a LDO/2008.
Na minuta do contrato existem cláusulas ambíguas, que permitem a perda total de
vinculação ao instrumento convocatório. O cronograma de desembolsos da licitação prevê
pagamentos concentrados no início da obra, com desembolsos adiantados em relação ao prazo
necessário para execução dos serviços, configurando jogo de planilha.
As irregularidades encontradas, que persistem mesmo após acórdão do TCU
determinando ações corretivas, caracterizam grave afronta a princípios basilares da
Administração Pública, bem assim aqueles insculpidos no art. 3º da Lei nº 8.666/1993.
Desse modo, o prosseguimento da contratação das obras do TPS-3 implica grande risco
de lesão ao Erário, pois elas propiciam a configuração no futuro de diversas outras graves
irregularidades: jogo de planilha, extrapolação dos limites de aditamento, desfiguração de
objeto, superfaturamento, ou até mesmo uma obra inacabada.
(...)”
3. Em cumprimento ao despacho de fl. 93, a Secob emitiu parecer (fls. 102/135) sobre a
manifestação preliminar da Infraero aos achados de auditoria, encaminhada ao TCU após o prazo
definido na LDO/2008, cujo teor reproduzo a seguir, com alguns ajustes de forma:
“I – INTRODUÇÃO
Trata-se de levantamento de auditoria realizado pela Secretaria de Fiscalização de Obras
– Secob no objeto do Programa de Trabalho PT – 26.781.0631.1M31.0035 – Obras de
Construção de Terminal de Passageiros, de Pátio de Aeronaves e de Acesso Viário no Aeroporto
de Guarulhos, no Estado de São Paulo (Fiscobras 2008).
2. O empreendimento em tela vem sendo objeto de fiscalização deste Tribunal há mais de 3
anos, período no qual esta Corte prolatou três Acórdãos (2.302/2005-P, 1.616/2006-P e
2.350/2007-P), inicialmente determinando ações corretivas, posteriormente culminando na
revogação do certame instaurado (Concorrência nº 011/DAAG/SBGR/2003).
3. Diante das ocorrências mencionadas acima, a Infraero promoveu o parcelamento da
obra em 8 (oito) lotes (2º ao 9º), além de outros 2 (dois) lotes relativos a elaboração de projeto e
fiscalização da obra (1º e 10º), com licitações previstas para 2008 e 2009, na modalidade menor
preço, conforme descrito à fl. 29 do Volume Principal.
4. Assim, no trabalho de 2008, conforme relatório juntado às folhas 23 a 89 dos autos, o
exame da equipe de auditoria concentrou-se na Concorrência nº 008/DALC/SBGR/2008 (lote 2),
com o objeto: ‘Contratação das obras e serviços de engenharia para construção do pátio de
aeronaves e terraplenagem do TPS-3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP’.
5. No Relatório da fiscalização deste ano foram apontadas graves deficiências do projeto
básico, sobrepreço no orçamento-base, cronograma de desembolso incompatível com a
execução física dos serviços, restrição ao caráter competitivo da licitação, inadequação do
critério de aceitabilidade de preços máximos no edital e descumprimento de determinação
exarada pelo TCU, indícios suficientes para justificar a proposta de classificação dos indícios
de irregularidades como Irregularidade Graves com Paralisação - IGP.
6. Foi dada oportunidade à Infraero para que apresentasse Manifestação Prévia ao
Relatório Preliminar de Auditoria. Entretanto, tal manifestação não foi entregue até a data de

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

fechamento do trabalho, 13/8/2008, restando mantidas as considerações iniciais da equipe de


auditoria.
7. A resposta da Infraero foi protocolada no TCU, por meio da documentação de nº
430189863 - CF nº 18853/PRAI/2008 (Anexos 3), quando os autos já haviam sido
encaminhados à apreciação do Ministro-Relator. Dada a relevância da matéria, os autos foram
restituídos à Secob para a emissão de parecer sobre a referida documentação, de ordem do
Ministro-Relator, conforme Despacho de 27/08/2008 (V. principal, fls. 93).
8. Antes de passar à análise da documentação da Infraero, cabe mencionar que além da
Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008, a Infraero havia aberto também a Concorrência nº
9/DALC/SBGR/2008, com o objeto ‘Contratação dos serviços técnicos especializados de
engenharia para elaboração dos projetos executivos das obras do pátio de aeronaves e
terraplenagem do TPS-3 e pátio oeste do TPS-4, bem como atualização dos projetos básicos e
elaboração dos projetos executivos do TPS-3, do edifício garagem, do pátio de estacionamento
de aeronaves dos terminais 3 e 4, do sistema viário de acesso, e demais obras complementares
do Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos.’
9. A Concorrência nº 9/DALC/SBGR/2008 foi objeto de representação no TCU pela
empresa Minerbo-Fuchs Engenharia S.A. sobre possíveis irregularidades graves no respectivo
edital de licitação, com pedido de suspensão liminar do certame licitatório até o julgamento
final do processo. A Secex/SP procedeu à análise da representação, a qual foi considerada no
despacho do Ministro-Relator Augusto Nardes, que, em função de nova notícia da Infraero, de
ter adiado sine die a licitação para reavaliar itens editalícios, determinou o arquivamento do
processo devido à perda do objeto, sem prejuízo de que o novo edital seja avaliado pela Secob.
II - ANÁLISE DA MANIFESTAÇÃO DA Infraero ACERCA DOS INDÍCIOS DE
IRREGULARIDADES
10. O presente trabalho será desenvolvido na ordem dos títulos e subtítulos definidos no
documento apresentado pela Infraero, os quais estão relacionados com os indícios de
irregularidade enumerados no relatório de auditoria, expondo-se inicialmente um resumo dos
principais argumentos de defesa e, na seqüência, a análise correspondente.
IRREGULARIDADE Nº 1 – Inexistência de projeto básico aprovado (Achado 3.1 – fls.
31/34 do vol. principal).
11. Em suas justificativas, a Infraero retoma o entendimento da equipe de auditoria, de
que a Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 (lote 2) foi instaurada sem o correspondente projeto
básico, tendo em vista que o objeto da Concorrência nº 9/DALC/SBGR/2008 (lote 1) inclui a
atualização de projetos básicos do TPS-3.
12. Inicialmente, a Infraero admite que o objeto da Concorrência nº 9/DALC/SBGR/2008
prevê a atualização de projetos básicos. Ressalta, porém, que esta atividade estaria restrita a
algumas modalidades de projetos necessárias à implantação do TPS-3, as quais não incluem
aquelas atinentes às obras e serviços que compõem o lote 2.
13. Para reforçar o posicionamento defendido, a Estatal transcreveu trechos da
Especificação Técnica relativa à contratação de projetos (lote 1), destacando os seguintes itens:
‘I – Elaboração do Projeto Executivo do Pátio de Estacionamento de Aeronaves e
Terraplenagem das áreas do Edifício do Terminal de Passageiros 3 e Pátio Oeste do Terminal de
Passageiros 4;
II – Revisão do Projeto Básico e Elaboração do Projeto Executivo do Terminal de
Passageiros 3, Edifício Garagem, Central de Água Gelada, Sistema Viário de Acesso e obras
complementares;
III – Elaboração do Projeto Básico e Executivo do Pátio de Estacionamento de Aeronaves
Leste, do Terminal de Passageiros 4, inclusive terraplenagem da área do Terminal.’
14. Diante das atividades previstas no escopo da contratação de projetos (lote 1), houve o
entendimento, pela Infraero, de que o objeto da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008,

29
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

‘Contratação das obras e serviços de engenharia para construção do pátio de aeronaves e


terraplenagem do TPS-3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP’ (lote 2), estaria pendente
apenas da elaboração de projeto executivo, conforme item I acima, enquanto a
revisão/elaboração de projetos básicos seria referente a outros lotes, ainda sem edital de
licitação.
15. O fato acima, segundo o defendente, seria suficiente para afastar a necessidade de
paralisação do certame licitatório relativo ao lote 2.
Análise da Irregularidade nº 1
16. A decisão da Infraero de parcelar o objeto correspondente às obras do Aeroporto de
Guarulhos encontra amparo na Lei nº 8.666/1993, conforme § 1º do art. 23 transcrito a seguir:
‘Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo anterior
serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da
contratação:
(...)
§ 1º As obras, serviços e compras efetuadas pela administração serão divididas em tantas
parcelas quantas se comprovarem técnica e economicamente viáveis, procedendo-se à licitação
com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e à ampliação da
competitividade, sem perda da economia de escala.
(...)’
17. Vejamos os comentários do Dr. Marçal Justen Filho sobre o assunto:
‘3) Fracionamento da Contratação (§1º)
(...)
O art. 23, §1º, impõe o fracionamento como obrigatório. A regra retrata a vontade
legislativa de ampliar a competitividade e o universo de possíveis interessados. O fracionamento
conduz à licitação e contratação de objetos de menor dimensão quantitativa, qualitativa e
econômica. Isso aumenta o número de pessoas em condições de disputar a contratação,
inclusive pela redução dos requisitos de habilitação (que serão proporcionados à dimensão dos
lotes). Trata-se não apenas de realizar o princípio da isonomia, mas da própria eficiência. A
competição produz redução de preços e se supõe que a Administração desembolsará menos, em
montantes globais, através da realização de uma multiplicidade de contratos de valor inferior
do que pela pactuação de contratação única.’ (Marçal, 2005, p. 206 – 207)
18. Visando a satisfação do interesse público, mesmo nos casos em que o objeto admite
divisão, deve-se programar sua execução integral, ou seja, o parcelamento não deve constituir-
se em risco à conclusão do objeto e ao alcance da sua plena funcionalidade. Veja-se, nesse
sentido, o disposto na art. 8º da Lei nº 8.666/1993 e respectivos comentários do Dr. Marçal
Justen Filho:
‘Art. 8º A execução das obras e dos serviços deve programar-se, sempre, em sua
totalidade, previstos seus custos atual e final e considerados os prazos de sua execução.’
‘1) Programação da Execução Integral
O agente administrativo tem o dever de estimar custos, encargos e prazos para execução
de obras e serviços. Não pode deixar de conhecer o custo e a duração da execução integral
previstos para a obra ou serviço. Deve adotar providências para estimar o custo da obra,
considerando tanto as condições contemporâneas à época da decisão como prevendo as
prováveis circunstâncias futuras. A Administração deve prever todos os compromissos com que
arcará e lhe é vedado contratar sem perspectivas de conclusão da obra ou serviço.
A Lei impõe, como regra, a execução integral da obra ou serviço. Obra ou serviço
executados parcialmente não trazem benefício ao interesse público. (...)’ (Marçal, 2005, p. 116)
19. Ante o exposto, tem-se que a decisão de parcelar o objeto é conseqüência do
planejamento integral da obra, e não o contrário. Trata-se de definir um plano de parcelamento
segundo as características técnicas do empreendimento como um todo, o qual propicie a

30
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

ampliação da competitividade e do universo de possíveis interessados e respeite a integridade


qualitativa do objeto a ser executado.
20. O conhecimento das características técnicas do empreendimento requer a existência
de projeto básico relativo a todas as suas partes, pois, segundo a definição contida no art. 6º,
inc. IX, da Lei nº 8.666/1993, este é o documento que contempla as informações essenciais para
a estimativa de custos, encargos e prazos para a execução da obra, com a segurança necessária
para afastar o risco de aplicação de recursos públicos em uma obra inacabada.
21. Voltando ao caso concreto, das obras de construção do Terminal de Passageiros 3, do
Pátio de Aeronaves e do Acesso Viário do Aeroporto Internacional de São Paulo/GUARULHOS,
tem-se que a licitação da obra, apesar da necessidade de revisão e elaboração de projetos
básicos, demonstra grave falha na fase de planejamento da contratação, impondo riscos de
prejuízo ao erário e ao interesse público.
22. Deve-se considerar, por exemplo, que a atualização do projeto básico pode levar a
alterações na concepção da edificação do TPS-3 com prováveis interferências nos serviços de
terraplenagem incluídos no lote 2 (retrabalho). Logo, iniciar a execução do objeto da
Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008, ‘Contratação das obras e serviços de engenharia para
construção do pátio de aeronaves e terraplenagem do TPS-3 do Aeroporto Internacional de
Guarulhos/SP’ antes da finalização da atualização do projeto básico prevista na Concorrência
nº 9/DALC/SBGR/2008, que prevê a atualização dos projetos básicos do TPS-3, é
flagrantemente ilegal, por contrariar o art. 7º da Lei de Licitações e Contratos, em que a
execução das obras somente poder-se-á ser licitadas após finalizado o projeto básico.
23. Ademais, como a revisão do projeto básico abrange a maior parte dos itens que
compõem o empreendimento, pode-se constatar, ao final dos trabalhos, que os recursos
estimados são insuficientes para a conclusão de todas as suas partes, perdendo-se serviços
eventualmente executados (obra inacabada).
24. Apesar da conclusão da Infraero de que, pelo escopo dos editais (e anexos), as
pendências de projeto básico não seriam referentes ao lote 2, cujo edital foi publicado, constata-
se que há relevantes interferências entre os projetos básicos a serem atualizados e o objeto
pretendido na Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 e a falta de planejamento integral da obra
aponta para a necessidade de revisão de procedimentos inerentes à fase interna da licitação,
impedindo a abertura da fase externa, ou seja, a licitação de quaisquer de suas partes.
25. Assim, diante da ausência de projeto básico completo referente às obras de construção
do Terminal de Passageiros, do Pátio de Aeronaves e do Acesso Viário do Aeroporto
Internacional de São Paulo/GUARULHOS, e do reconhecimento desta situação pela própria
Infraero, confirma-se o posicionamento da equipe de auditoria, de que a Concorrência nº
8/DALC/SBGR/2008, bem como qualquer outro certame relacionado às demais parcelas do
empreendimento em tela (lotes 2 a 10), não pode ter continuidade.
26. Ressalta-se, por oportuno, que outros achados de auditoria agravam a situação
configurada acima (Indício de Irregularidade nº 2), pois há evidências de que mesmo as partes
de projeto que a Infraero utilizou para proceder à licitação do lote 2 não estariam de acordo
com a definição de projeto básico prescrita na Lei nº 8.666/1993, com o agravante de não haver
projetos para parcela relevante do orçamento-base, conforme análise a seguir.
IRREGULARIDADE Nº 2 – Projeto desatualizado e incompleto. Projeto básico deficiente
– com mais de 20 anos.
27. Genericamente, a Infraero afirma que a assertiva da unidade técnica é verdadeira no
que diz respeito à desatualização dos projetos das obras do Aeroporto de Guarulhos, e admite a
necessidade de revisão destes, principalmente os de eletrônica, informática, telefonia, entre
outras especialidades onde se observam avanços tecnológicos classificados como espetaculares.
28. Entretanto, segundo a defesa, esta prerrogativa não se aplicaria aos projetos
concernentes à execução do pátio de aeronaves e da terraplenagem do TPS-3, objeto da

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 analisada pela equipe de auditoria, por ‘tratar-se


essencialmente de serviços cujas tecnologias internacionais de pavimentação aeroportuária
ainda são dominantes’.
29. Alegou-se que a equipe de auditoria não apontou as falhas técnicas que classificariam
os projetos como deficientes e que estes estariam compatíveis com a Resolução 361/91 do
CONFEA, a qual traria, em seu art. 3º, os critérios para a classificação de um projeto como
básico.
30. A diminuta quantidade de desenhos do projeto básico do lote 2, apontada como uma
das evidências da irregularidade em tela, foi rebatida pela Infraero, tendo em vista que o art. 3º
da referida Resolução não estabelece um número mínimo de peças gráficas necessárias em um
projeto básico e também porque, na análise do TCU, adotou-se como parâmetro o número de
plantas disponibilizadas na Concorrência nº 14/DALC/SBFL/2008 do aeroporto de
Florianópolis, cujo objeto seria incompatível por incluir a execução da Pista de Taxi.
31. Afirmou-se, ainda, que uma eventual atualização dos projetos promoveria poucas
modificações no concernente a detalhes de forma e armação das caixas, locação de luminárias
e diagrama unifilar e que optou-se por aproveitar projetos existentes, para reduzir custos e
prazos.
PROJETOS ILEGÍVEIS
32. A Infraero esclareceu que a ilegibilidade dos projetos se deve ao fato de os originais
terem sido feitos em papel vegetal e nanquim e posteriormente escaneados. Em todo caso, estes
documentos estariam disponíveis para consulta na rede corporativa.
33. A perda de qualidade não teria prejudicado os licitantes, até porque no CD fornecido
aos interessados os arquivos apresentaram melhor qualidade que aqueles acessados pela
internet. Uma nova cópia, supostamente com melhor visualização, teria sido juntada à defesa
(CD – anexo 10).
SEM IDENTIFICAÇÃO DE AUTORES
34. Segundo afirmativa da Infraero, a autoria do projeto estaria identificada nos desenhos
e haveria cláusula do edital vedando a participação do autor no certame licitatório. Consta,
ainda, que a autoridade competente, que instaurou o certame licitatório, teria aprovado o
projeto.
REMISSÃO A VÁRIOS OUTROS DESENHOS QUE NÃO INTEGRAM O ANEXO DO
EDITAL
35. A Infraero alegou que as remissões, contidas nas plantas do lote 2, referem-se a
serviços de outras etapas, e se justificam pelo fato do projeto ter sido elaborado para todo o
empreendimento, que antes seria licitado em um único certame.
36. Apesar de não mencionar no texto, constam, no CD do anexo 10, os arquivos das
plantas elencadas no relatório, as quais não constam do pacote das licitantes (Desenhos de
referência), bem como a cópia da CF nº 1049/EPGR/2008, de 16/01/2008, encaminhada ao
Superintendente de Empreendimentos de Engenharia – DEEP, que trata dos elementos técnicos
para instauração da licitação das obras do pátio de aeronaves e da terraplenagem do TPS-3
(lote 2).
Análise da Irregularidade nº 2
37. Apesar da ocorrência de plantas com data de elaboração de 1984 entre aquelas
disponibilizadas no Edital do lote 2, a Infraero afirma que não ocorreram mudanças de
tecnologia que justificassem a revisão destes projetos, porém, sem fundamentar sua assertiva.
38. Não constam registros de que a Infraero teria procedido a uma avaliação técnica dos
projetos existentes (reaproveitados) que permitisse concluir pela adequação destes. Ao
contrário, a Estatal afirma que não o fez, a fim de reduzir custos e prazos.

32
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

39. A redução de custos e prazos pretendida com o aproveitamento de projetos sem a


devida revisão mostra-se pouco representativa diante do risco de que a solução dada há 20 anos
não mais corresponda às necessidades atuais e futuras (custo-benefício).
40. Quanto ao número de plantas, é válido esclarecer que o Aeroporto de Florianópolis foi
adotado como parâmetro no trabalho do Fiscobras 2008 porque há similaridade entre o objeto
do lote 2 daquele aeroporto, ‘Terraplenagem e execução de pistas de taxi e pátio de aeronaves’,
e os serviços que compõem o lote 2 de Guarulhos, ‘Contratação das obras e serviços de
engenharia para construção do pátio de aeronaves e terraplenagem do TPS-3 do Aeroporto
Internacional de Guarulhos/SP’.
41. Dada a diferença de 59 plantas entre os projetos comparados, mais de 100% do total
do lote 2 de Guarulhos (49 desenhos), entendeu-se que tal fato não poderia ser atribuído
exclusivamente à inclusão da pista de taxi na Concorrência nº 14/DALC/SBFL/2008 de
Florianópolis, conforme afirmou a Infraero.
42. O diminuto número de plantas disponibilizados na Concorrência nº
8/DALC/SBGR/2008 não deve ser visto isoladamente, mas em conjunto com outros fatores
(desatualização, ilegibilidade dos desenhos, responsáveis não identificados, ausência de estudos
de sondagens, jazidas, ensaios de solo etc), reforçando o indício de deficiência do projeto básico
apresentado aos concorrentes, ou seja, de que este não dispõe de todos os elementos técnicos
requeridos para a licitação, nos termos da Lei nº 8.666/1993.
43. Não procede a afirmativa da Infraero de que o TCU não teria apontado as
fragilidades do projeto básico. Veja-se que, além das inconsistências de caráter geral,
apontadas na Irregularidade nº 2, a falta dos adequados elementos técnicos foi evidenciada e
deu causa à Irregularidade nº 3 – Inexistência de peças técnicas fundamentais para
orçamentação dos serviços, conforme citamos abaixo:
‘Os serviços materialmente mais representativos no orçamento referem-se à escavação,
carga e transporte de material de empréstimo. Juntos eles somam mais de R$ 67 milhões, o
equivalente a 30 % do valor da planilha.
Tomando por base a parte do projeto relacionada a esses itens, verifica-se a inexistência
de diversos elementos fundamentais para a sua definição e orçamentação.
(...)
Todavia, o projeto básico integrante da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 não
contempla nenhum laudo de sondagem realizado no local da obra. Também não existe sequer
um relatório referente a qualquer tipo de ensaio de solos que porventura tenha sido feito no sítio
aeroportuário.
(...)
Além de não haver qualquer elemento técnico fundamentando a necessidade de troca de
solo, o projeto básico da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 é completamente omisso quanto
às informações sobre as possíveis áreas de empréstimo. Não constam dados sobre a sua
localização, nem tampouco os estudos mínimos de caracterização do solo das jazidas,
suficientes para comprovar a compatibilidade de suas características com as exigências de
projeto.
1. Dessa forma, em face das lacunas acima mencionadas, é possível afirmar que não há
comprovação no projeto básico da necessidade de utilização de solo de jazida, nem da execução
do aterro de sobrecarga (e respectivo lastro de areia). Tampouco existem as informações
mínimas para subsidiar o cálculo da quantidade do serviço de transporte do material de
empréstimo, cujo valor depende substancialmente da distância da obra até a área de
empréstimo (medido em m³ x km).
2. Assim, há comprometimento da confiabilidade na quantificação de 78% do orçamento
dos serviços de terraplenagem - R$ 80.153.984,48 (itens 02.03.203, 02.03.204, 02.03.304,
02.03.403, 02.03.601, 02.03.701, 02.03.702 e 02.03.703 da planilha).

33
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

Além destas, as graves falhas não se resumem ao descrito até esse ponto. Existem
inconsistências significativas nos elementos que subsidiam o cálculo dos volumes dos demais
serviços de terraplenagem.
(...)
Adicionalmente à discrepância de mais de 20 metros nos valores das cotas nos desenhos,
inexiste no projeto uma planilha de volumes de terraplenagem indicando, estaca a estaca, quais
foram as áreas para corte, aterro, limpeza de terreno etc. A inexistência dessa memória de
cálculo é mais uma evidência da incompletude dos dados desse projeto e agrava a falta de
confiabilidade dos quantitativos dos serviços de corte, aterro e espalhamento constantes do
orçamento de referência da licitação (itens 02.03.101, 02.03.102, 02.03.103, 02.03.201,
02.03.202, 02.03.203, 02.03.204, 02.03.301, 02.03.302, 02.03.303, 02.03.304, 02.03.501 e
02.03.502)
Falta também embasamento técnico para as distâncias de transporte local na obra. o
projeto básico da concorrência nº 008/dalc/sbgr/2008 não contempla o perfil longitudinal,
demonstrando as distâncias de transporte para possíveis compensações longitudinais de
corte/aterro. Ademais, não há indicação da localização do bota-fora. Ficam comprometidos,
assim, os quantitativos dos itens 02.03.401 e 02.03.402 da planilha orçamentária.
(...)
É importante esclarecer que a falta de precisão nos estudos de solo compromete também a
quantificação e especificação dos serviços de pavimentação. (...)
Em outras palavras, quando os estudos de solos hoje inexistentes forem concluídos,
poderá haver modificação na estrutura do pavimento e, por conseguinte, nos quantitativos e nas
descrições dos serviços correspondentes.’
44. Parte dos elementos técnicos ausentes no projeto básico foi juntada à defesa ora
apresentada pela Infraero e será objeto da análise a seguir (Irregularidade nº 3). Entretanto,
não se vislumbra justificativa para a indisponibilidade desses itens entre os anexos do Edital, o
que prejudica o pleno conhecimento do objeto da licitação por parte dos licitantes.
45. Apesar das justificativas da Estatal, persistem os indícios de ilegibilidade e falta de
identificação dos autores do projeto básico da obra (com prejuízo do cumprimento do art. 9º da
Lei nº 8.666/1993). Isso porque as novas cópias de arquivos fornecidas em CD referem-se
apenas às plantas reaproveitadas, sendo que há também dificuldade de leitura de outras
plantas, a exemplo da GUA_GRL_000_069_R0.tif, GUA_GRL_003_155_R0.tif,
GUA_GRL_003_157_R0.tif, GUA_GRL_003_158_R0.tif e GUA_GRL_003_159_R0.tif (Anexo
2, V. principal, fls. 143, 145 e 147 a 149), e não foram apresentadas as Anotações de
Responsabilidade Técnica – ARTs, que seriam a efetiva comprovação da responsabilidade dos
autores, conforme definido na Resolução CONFEA nº 425 (art. 1º e 2º).
46. Além disso, na comparação entre as plantas do Anexo XII do Edital e os respectivos
desenhos citados como referência, os quais não foram fornecidos aos licitantes (CD do anexo 10
à defesa), verificam-se ocorrências de efetivas modificações no projeto originalmente elaborado
para o certame como um todo, conforme exemplificamos:
a) Diferenças nas cotas do terreno da ordem de 20 m: A título de exemplo, verifica-se que
no ponto X=3626,99 e Y=4218,25, a cota do terreno indicada no desenho de referência é de
738,11m, enquanto na planta do Edital é de aproximadamente 758m - Anexo
XII_3_GUA_GRL_000_069_R0.tif x GUA/GRL/000.063/R1 e Anexo
XII_5_GUA_GRL_003_155_R0.tif x GUA/GRL/003.138/R0 - CD;
b) Diferenças nas cotas do projeto geométrico de terraplenagem da ordem de 85 cm: No
TPS-3, a cota indicada no desenho de referência é de 740,15 m, enquanto na planta do Edital é
741m - Anexo XII_4_GUA_PPT_002_286_R0.tif x GUA/SVI/002.193/R0 - CD;
c) Alterações no limite de troca de solo mole: Observam-se claras alterações no limite
provável de troca de solo mole (seções TS1 a TS8) e confirmam-se as diferenças nas cotas do

34
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

projeto geométrico – Anexo XII_7_GUA_GRL_003_157_R0.tif e


XII_8_GUA_GRL_003_156_R0.tif x GUA/GRL/003.139/R0 e GUA/GRL/003.140/R0 - CD;
d) Falta de informações sobre o Aterro de Sobrecarga: O desenho de referência não
contempla informações do aterro de sobrecarga previsto para o Pátio de Estacionamento de
Aeronaves - Anexo XII_5_GUA_GRL_003_155_R0.tif x GUA/GRL/003.138/R0 - CD;
e) Ampliação da área de abrangência do projeto: Inclusão de parte da área da pista de
taxiamento, integrante da Licitação 2 – Sistema de Pistas e Pátios - Anexo
XII_10_GUA_GRL_003_156_R0.tif x GUA/GRL/004.644/R0 e Anexo
XII_12_GUA_PPT_005_406_R0.tif x GUA/GRL/005.008/R0 e GUA/GRL/005.015/R0 - CD;
f) Demais divergências entre os projetos do Edital e de Referência:
- A planta do Edital traz solução diversa do desenho de referência para a execução do
aterro de sobrecarga, com a inclusão de drenos (locação dos marcos superficiais de recalque e
das placas de recalque profundas, não indicadas no desenho de referência) - Anexo
XII_6_GUA_GRL_003_156_R0.tif x GUA/GRL/003.137/R0 - CD;
- A planta do Edital traz seções transversais típicas diferentes daquelas constantes dos
desenhos de referência, que pela localização deveriam ser equivalentes. Tais diferenças são
relacionadas às cotas do projeto geométrico, bem como ao detalhamento dos serviços previstos,
conforme indicações ao longo da seção transversal - Anexo XII_14_GUA_PPT_005_408_R0.tif
x GUA/GRL/005.009/R0, GUA/GRL/005.014/R1, GUA/GRL/005.018/R1 – CD;
- Diferenças nas cotas de drenagem - Anexo XII_10_GUA_GRL_003_156_R0.tif x
GUA/GRL/004.644/R0 - CD;
- Não há compatibilidade entre as especificações das caixas de passagem (dimensões
diferentes) e dos eletrodutos (quantidades diferentes) - Anexo
XII_19_GUA_TPS_407_1122_R0.tif x GUA/TPS/407.560/R0 – CD;
- A planta do Edital não apresenta o mesmo nível de detalhamento do desenho de
referência – Anexo XII_16_GUA_PPT_302_007_R0.tif x GUA/TPS/302.001/R0; Anexo
XII_17_GUA_TPS_301_436_R0.tif x GUA/TPS/301.384/R0; Anexo
XII_18_GUA_TPS_303_152_R0.tif x GUA/TPS/303.116/R0; e Anexo
XII_19_GUA_TPS_407_1122_R0.tif x GUA/TPS/407.560/R0 – CD;
47. Parte das diferenças observadas acima pode ser atribuída a prováveis erros de
projeto, tal como a discrepância de 20m entre as cotas do terreno natural, citada no item ‘a’ do
parágrafo anterior, que se confirma ao comparar a planta do edital com o de referência e os
desenhos das seções.
48. As outras modificações implementadas foram resultado da atuação da Gerência de
Empreendimentos do Aeroporto de Guarulhos diante da necessidade de revisão de premissas e
parâmetros de projeto do TPS-3, as quais teriam ocorrido com a anuência da Figueiredo
Ferraz, conforme se depreende da leitura da CF nº 1049/EPGR/2008, de 16/01/2008 (fls.
541/550 do Volume 1 do Anexo 3).
49. Mesmo os argumentos apresentados no referido documento no sentido de justificar tais
modificações denotam a indefinição de aspectos essenciais do projeto básico, com graves
reflexos na apropriação dos custos da obra, conforme transcrito a seguir:
‘1. Foi admitido no MRIE e em e-mails trocados que alguns requisitos poderão ser
alterados até a conclusão da licitação para contratação do projeto executivo. Tal registro é
importante no sentido de documentar desde já que o projeto ora encaminhado e o qual será
base para licitação de execução das obras, sofrerá ajustes para completo atendimento às
necessidades operacionais, principalmente, no caso particular, quanto ao mix de aeronaves e
ajustes de cotas de implantação e de geometria.’
‘Os pontos de deságüe das galerias de drenagem pluvial no canal C-2 em construção
foram adequadas ao projeto executivo de tal canal. Nossa visão é que tais galerias poderão ser
otimizadas na fase do projeto executivo, tanto em função da revisão da sua carga hidráulica,

35
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

como em função do aumento da cota do TPS-3 e conseqüentes ajustes de geometria do pátio


decorrentes;’
‘Informamos que mantivemos o projeto de rebaixamento do lençol freático da Figueiredo
Ferraz, em que pese nossa dúvida quanto a sua efetiva necessidade, a qual somente será
dirimida durante a execução das obras;’
‘Com relação aos pacotes de pavimentação, mantivemos o projeto da Figueiredo Ferraz,
que dimensionou o projeto a partir de um CBR de 8%. Entretanto, inserimos nota no projeto
registrando que caso sejam verificados materiais de importação de CBR’s mais altos, os pacotes
de pavimentação devem ser otimizados na fase de execução da obra, sem prejuízo à qualidade
final do empreendimento.’
‘DMT’s: Considerando que não tivemos meios de contratar estudo de identificação de
jazidas e áreas de bota-fora atualizado, informamos, conforme critério acordado com o Sr. (...),
que consideramos para efeito de quantificação da planilha nos itens de transporte, as áreas com
os maiores DMT’s hoje executados no escopo do TC-066-EG/2004/0057, (...)’
‘Alguns itens da planilha anexa foram quantificados com base na experiência da obra
escopo do TC-066-EG/2004/0057 , dada a similaridade de escopo e porte das mesmas. Esse é o
caso dos itens de canteiro de obras, ensaios para maior caracterização ou confirmação dos
dados onde as obras serão executadas, etc. Em outros casos previmos itens de serviços e
quantitativos para eventuais necessidades. (...) Tais definições estão melhor detalhadas nas
memórias de cálculo das quantidades de todos os itens (...), onde também estão indicados os
arredondamentos que introduzimos a título de segurança tendo em vista as possíveis distorções
de quantitativos de serviços, (...)’
50. Em relação aos fatos acima transcritos, é oportuno esclarecer que o projeto executivo
não se destina à definição de parâmetros que possam interferir na concepção do projeto e em
seus custos, mas apenas a promover o detalhamento das soluções técnicas estabelecidas no
projeto básico, de forma a orientar e disciplinar a sua execução:
‘Art. 2º - O Projeto Básico é uma fase perfeitamente definida de um conjunto mais
abrangente de estudos e projetos, precedido por estudos preliminares, anteprojeto, estudos de
viabilidade técnica, econômica e avaliação de impacto ambiental, e sucedido pela fase de
projeto executivo ou detalhamento.’ (Resolução CONFEA nº 361/91);
51. Ademais, a postura da Infraero de postergar as soluções necessárias à adequada
definição e orçamentação do objeto propicia que a Contratada promova modificações no
decorrer da execução da obra, utilizando o benefício das soluções menos onerosas
exclusivamente a seu favor, e não da Administração Pública.
52. Ante o exposto, não há respaldo para o entendimento demonstrado pela Infraero, de
que o projeto básico do lote 2 estaria de acordo com o disposto no art. 3º da Resolução 361/91
do Confea. Ao contrário, reforçam-se as evidências de descumprimento de vários de seus
dispositivos, que configuram também afronta à Lei nº 8.666/1993, pelos seguintes motivos:
a) Ausência de estudos de viabilidade técnica-econômica e de memória de cálculo que
suportem as soluções adotadas, impondo riscos de reajustes e reformulações na fase de
execução da obra;
b) Imprecisão e omissão de elementos técnicos essenciais para a definição do objeto;
c) Limitação ao levantamento de quantitativos de serviços devido à imprecisão/omissão
dos elementos técnicos, com prejuízo à adequada definição do custo da obra.
53. Desse modo, tem-se que documentação juntada ao Edital da Concorrência nº
8/DALC/SBGR/2008 não é adequada e suficiente para compor o projeto básico do lote 2, em
atendimento ao inc. IX do art. 6º da Lei nº 8.666/1993, tampouco para propiciar a adequada
formulação das propostas das licitantes e execução do objeto. Reafirma-se, portanto, a
irregularidade de deficiência do projeto básico do lote 2 das obras do Aeroporto de Guarulhos
apontada pela equipe de auditoria.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

IRREGULARIDADE Nº 3 – Inexistência de peças técnicas fundamentais para


orçamentação dos serviços.
54. Para justificar os quantitativos do orçamento-base, foram fornecidos vários
documentos na forma de anexos à defesa, os quais não tinham sido disponibilizados no Edital
da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008, conforme listamos:
Anexo 2 – Memória de Cálculo de Quantidades;
Anexo 3 – Arquivos GUA/GRL/007.RE492/R0 - Laudos de Sondagem e
GUA/GRL/007.120/R0 – Planta com a indicação dos pontos de prospecção;
Anexo 4 – Arquivos GUA/GRL/007.RE492/R0 - Relatórios referentes a ensaios de solo;
Anexo 5 – Arquivos GUA/GRL/007.104/R0 - Desenho e GUA/GRL/007.RE-497/R –
Relatório de estudo de jazidas e bota-fora.
55. Em relação aos estudos de jazidas e bota-fora, informou-se, complementarmente, que
foram consideradas as maiores DMTs observadas na execução do Contrato nº 066-
EG/2004/0057, relativo às obras de pistas e pátios em andamento.
56. Houve, ainda, a apresentação de áreas de jazidas e bota-fora com potencial de serem
utilizadas para as obras do TPS-3, mas ainda não consideradas no projeto/orçamento-base por
se encontrarem em processo de obtenção de licença ambiental e confirmação dos volumes e da
qualidade do material disponível.
57. Destacou-se que não haveria meios de reservar as áreas de jazidas apresentadas para
uso exclusivo da obra do Aeroporto. Assim, se houver o esgotamento dessas, serão buscadas
novas fontes.
Análise da Irregularidade nº 3
58. Avaliando-se inicialmente o Anexo 2 das alegações de defesa, relativo à memória de
cálculo de quantitativos de parte dos serviços que compõem o lote 2 das obras do TPS-3 de
Guarulhos (fls. 36/56 do Anexo 3), observa-se a confirmação das premissas de cálculo
apontadas pelos técnicos da Infraero na CF nº 1049/EPGR/2008, de 16/1/2008, com a inclusão
de ‘itens de serviços e quantitativos para eventuais necessidades’ e arredondamentos
introduzidos ‘a título de segurança tendo em vista as possíveis distorções de quantitativos de
serviços’, conforme exemplificamos:
02.03.304 – Aterro de Sobrecarga: arredondamento com acréscimo de 4.421,86 m3;
02.03.403 – Transporte de Material de Jazida ou de reaproveitamento: foram
considerados o volume de fornecimento de terra já com arredondamento (acréscimo de 1410,39
m3), a DMT de 18 km (máxima distância observada na obra do Sistema de Pistas e Pátios em
andamento) e ainda o arredondamento do total obtido, acrescentando 10.257,43 m3xkm;
02.03.204 – Escavação e Carga de Material de 1ª Categoria, do Aterro de Sobrecarga:
arredondamento com acréscimo de 4.421,86 m3;
02.04.101 – Instalação de Ponteira Filtrante, incluindo obras civis: arredondamento de
1.100 un. para 1.600 un. (acréscimo de 500 unidades - 45,45%); previsão do quantitativo de
operação de bomba em 151.200 HPxh (item 02.04.102), sem indicação de qualquer parâmetro
para obtenção desse total;
04.04.102.01 Pavimento Rígido com Placas de Concreto: arredondamento com acréscimo
de 254,95 m3;
02.03.701 – Marcos superficiais de recalque: arredondamento com acréscimo de 7
unidades; previsão do quantitativo de controle de instrumentação em 200 h (item 02.03.702),
sem indicação de qualquer parâmetro para obtenção desse total;
02.03.601 – Lastro de areia: apesar do item 4 da seqüência construtiva para área de troca
de solo indicar que o lastro de areia deve ser adotado caso o solo apresente umidade, com
espessura máxima de 30cm (ver planta GUA.GRL.003.156/R0), computou-se no quantitativo
toda a área de projeção de troca de solo e com a espessura constante de 30cm; além disso,
houve arredondamento com acréscimo de 149,67 m3;

37
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

02.03.303 – Aterro Compactado, GC >= 90% do Proctor Modificado: arredondamento


com acréscimo de 267 m3;
02.03.302 – Aterro Compactado, GC >= 95% do Proctor Modificado: arredondamento
com acréscimo de 211 m3;
02.03.301 – Aterro Compactado, GC >= 100% do Proctor Normal: foi previsto aterro
compactado para toda a área de projeção do canteiro de obra (22.000 m 2) e com profundidade
de 1,20m por simples estimativa (sem projeto); houve ainda arredondamento com acréscimo de
932,32 m3;
02.03.203 – Escavação e Carga de Empréstimo, com fornecimento de terra: neste item
houve o acúmulo dos arredondamentos dos três tipos de aterro compactado, com acréscimo
total de 1410,39 m3;
02.03.201 – Escavação e Carga de Material para Bota-fora: foi previsto esse tipo de
escavação para toda a área de projeção do canteiro de obra (22.000 m2) e com profundidade de
1,30m por simples estimativa (sem projeto); houve ainda arredondamento com acréscimo de
2068,75 m3;
02.03.402 – Transporte de Material para Bota-fora: incluiu bota-fora de material de
canteiro por estimativa (sem projeto) e houve erro de digitação do total de escavação de solo
obtido no item 02.03.201 a partir do levantamento de seções, computando-se o transporte de
600 m3 a mais; considerou-se a DMT de 6 km (máxima distância observada na obra do Sistema
de Pistas e Pátios em andamento);
02.03.501 – Espalhamento de Material em bota-fora: foi previsto espalhamento de
material correspondente à escavação de toda a área de projeção do canteiro de obra (22.000
m2) e com profundidade de 1,30m por simples estimativa (sem projeto); houve ainda
arredondamento com acréscimo de 2068,75 m3;
02.03.101 – Capina e roçado/Destocamento: arredondamento com acréscimo de 498,89
m2;
02.03.103 – Carga de material de limpeza: considerou-se o empolamento do material
proveniente de capina e roçado/destocamento no percentual de 40% do volume final obtido,
acrescendo indevidamente 56.180,14 m3; houve ainda arredondamento com acréscimo de
369,53 m3;
02.03.401 – Transporte do material de limpeza: no volume transportado, considerou-se o
empolamento do material proveniente de capina e roçado/destocamento no percentual de 40%
do volume final obtido e arredondamento, acrescendo indevidamente 56.180,14 m 3 e 369,53 m3;
considerou-se a DMT de 6 km (máxima distância observada na obra do Sistema de Pistas e
Pátios em andamento); houve ainda arredondamento no total deste serviço, com acréscimo de
18.000 m3x km;
02.03.502 – Espalhamento de Material de Limpeza: considerou-se o empolamento do
material proveniente de capina e roçado/destocamento no percentual de 40% do volume final
obtido, acrescendo indevidamente 56.180,14 m3; houve ainda arredondamento com acréscimo
de 369,53 m3.
59. Ademais, constata-se no orçamento estimado do edital o grupo se serviços de código
03.00.000 denominado ‘Fundações e Estruturas de Concreto’, ao valor total aproximado de R$
26 milhões, para o qual não há sequer os respectivos projetos no edital, não sendo possível ao
licitante comum identificar qual a destinação dos serviços relacionados neste grupo, a exemplo
de 15.800 m3 de concreto fck de 30 MPa e de 2.370.000 kg de aço CA-50.
60. Para se ter uma idéia da ordem de grandeza de tal valor, ele corresponde à construção
das fundações e da superestrutura do Anexo III do TCU, que foi contratado por cerca de R$ 23
milhões e prevê o consumo de 14.421 m3 de concreto de fck 30 MPa e de 1.728.630 kg de
armação. Ou seja, consta um grupo de serviços da magnitude orçamentária de uma estrutura
com área de 49.440 m2 (Anexo III do TCU) sem destinação definida no projeto básico. Esta

38
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

constatação por si só já seria suficiente para ensejar a nulidade da licitação


008/DALC/SBGR/2008, por afrontar diretamente o § 4º do art. 7º da Lei nº 8.666/1993, cujo §
6º do mesmo artigo prevê, de forma direta:
§ 6º A infringência do disposto neste artigo implica a nulidade dos atos ou contratos
realizados e a responsabilidade de quem lhes tenha dado causa.
61. A postura da Infraero foi de superavaliar o orçamento, tendo em vista a imprecisão do
projeto básico, o que compromete o resultado obtido, que, superestimado, não reflete a
realidade da obra, além da previsão de serviços que somam em torno de R$ 26 milhões, sem os
respectivos projetos, conforme descrito acima, que podem estar representando quantidades
fictícias, constituindo grave afronta ao art. 7º da Lei nº 8.666/1993:
‘Art. 7º (...).
§ 4º É vedada, ainda, a inclusão, no objeto da licitação, de fornecimento de materiais e
serviços sem previsão de quantidades ou cujos quantitativos não correspondam às previsões
reais do projeto básico ou executivo.
(...)’
62. O Anexo 3 às alegações de defesa, composto pelos arquivos GUA/GRL/007.RE492/R0
e GUA/GRL/007.120/R0, demonstra que foram realizadas sondagens no local da futura obra,
conforme Laudo de autoria da Figueiredo Ferraz, de 30/10/2003.
63. Pelo fato de a licitação em tela tratar da contratação de serviços de construção dos
pátios de aeronaves e terraplenagem do TPS-3, os estudos de solo são de suma importância
para a definição precisa do objeto do certame e, portanto, deveria ser disponibilizado aos
licitantes como anexo ao Edital do lote 2, preservando o princípio da igualdade.
64. Essa disponibilidade não ocorreu por ocasião da abertura do Edital da Concorrência
nº 8/DALC/SBGR/2008, motivando o apontamento da irregularidade no Relatório do Fiscobras
2008, tampouco foram apresentadas justificativas para o procedimento adotado ou demonstrada
a intenção de alterá-lo, tendo em vista que o certame licitatório foi adiado sine die,
posteriormente revogado, para revisão de elementos técnicos.
65. Além dos Laudos de Sondagem, estudos complementares de solos fazem-se necessários
para justificar a solução adotada para a execução de aterro sobre solos compressíveis –
remoção de solo mole e aterro de sobrecarga com drenos verticais.
66. Causa estranheza a adoção simultânea dos procedimentos descritos acima, tendo em
vista as disposições da norma ET-DE-Q00/004 do Departamento de Estrada de Rodagem de
São Paulo – DER-SP, intitulada aterro sobre solos compressíveis, que indica a utilização dos
drenos ou do aterro de sobrecarga para os casos em que não há remoção do solo compressível:
‘Em situações que o solo compressível não for removido e seja necessário reduzir o tempo
previsto para o aparecimento de recalques, devem ser adotados métodos construtivos que
permitam reduzir o tempo previsto para a ocorrência de recalques.
Os métodos de aceleração do adensamento, geralmente, consistem de aplicação de
sobrecarga na fundação, ou na execução de um conjunto de drenos verticais junto à fundação
do aterro.’
67. Considerando que a inclusão dos drenos verticais foi resultado de trabalho da Infraero
que alterou o projeto original da Figueiredo Ferraz, o qual previa apenas o aterro de
sobrecarga em 3 (três) etapas, sob alegação de que a solução atual proporciona maior
celeridade, caberia ainda um estudo comparativo entre as duas proposições, isto é, uma
avaliação de custo-benefício, que subsidiasse a decisão da Estatal.
68. Apesar do exposto acima, a documentação apresentada pela Infraero, constante do
Anexo 04 às alegações de defesa, mostra-se insuficiente para elidir o questionamento da equipe
de auditoria, pois é composta exclusivamente do Laudo de Sondagem – Arquivo
GUA/GRL/007.RE492/R0.

39
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

69. Quanto aos estudos de jazidas/bota-fora, apesar de ter fornecido cópia do trabalho
desenvolvido em 2003 (Anexo 5) , a Infraero não omitiu a inexistência de estudos atualizados e
a imprecisão/conservadorismo dos dados adotados para fins de orçamentação do projeto básico
do lote 2 do TPS-3 de Guarulhos, correspondentes às maiores distâncias de transporte (DMTs)
realizadas nas obras do Sistema de Pistas e Pátios, objeto de outro contrato (066-
EG/2004/0057) em andamento no Aeroporto.
70. A ocorrência de estudos imprecisos configura mais uma vez afronta ao art. 7º da Lei nº
8.666/1993 (citado no parágrafo 60 acima), especialmente por tratar-se de uma despesa que
pode ou não se confirmar no decorrer da obra.
71. Segundo os comentários do Dr. Marçal Justen Filho, a eventual superestimativa de
quantitativos é arcada pela Administração, constituindo prejuízo ao Erário, o que reforça a
importância do aprimoramento dos estudos das jazidas e bota-fora na fase de projeto básico:
‘10.2) Previsão de quantitativos
O projeto deverá obrigatoriamente estimar as quantidades a serem adquiridas. O ato
convocatório deverá ater-se fielmente ao projeto. Haverá casos em que inexistirão condições
técnico-científicas para definir as quantidades. Ainda nessas hipóteses, será proibida a licitação
de quantidades indefinidas. Deverá promover-se uma estimativa dentro dos limites que a técnica
permita formular. Se, no curso do contrato, verificar-se a inadequação dos cálculos, serão
adotadas as providências adequadas. Se os quantitativos forem insuficientes, realiza-se um
alteração no contrato ou nova licitação; se excessivos, a Administração arcará com o seu custo.’
(Marçal, 2005, p. 115)
72. Apesar do exposto pela Infraero, confirma-se a inexistência dos elementos técnicos
necessários para qualificar o projeto da licitação como básico, nos termos da Lei nº 8.666/1993,
o que favoreceu a superestimativa dos quantitativos dos serviços e dos custos de execução do
lote 2, objeto da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008.
IRREGULARIDADE Nº 4 – Sobrepreço.
A Infraero apresenta justificativa para cada item apontado com sobrepreço no relatório de
auditoria, constantes do Anexo 6 da Manifestação Prévia, e alega que a metodologia adotada
atende aos critérios previstos no Acórdão nº 644/2007-TCU-Plenário, das obras de ampliação,
reforma e modernização do Aeroporto Internacional de Brasília, no qual foram exaradas
determinações à Infraero, apresentando os subitens 9.4.3 e 9.4.4, transcritos, reproduzidos a
seguir:
‘9.4.3. limite os preços constantes do orçamento básico definitivo à mediana do Sistema
Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil - Sinapi, no caso de serviços
relativos a edificações, ou aos preços do Sistema de Custos de Obras Rodoviárias - Sicro, no
caso de serviços de pavimentação, terraplenagem ou drenagem, salvo justificativa técnica
devidamente fundamentada;
9.4.4. na elaboração de orçamentos de serviços e equipamentos típicos de aeroportos,
para os quais não exista referência de preços nos sistemas usualmente adotados (Sicro e
Sinapi), ou para os quais não seja possível ajustar as composições de preços dos sistemas
usualmente adotados às peculiaridades das obras aeroportuárias, que sejam guardados
registros das cotações de preços de insumos efetuadas e justificadas as composições adotadas,
com elementos suficientes que permitam o controle da motivação dos atos que fundamentaram
os preços unitários dos insumos e dos serviços que integram o orçamento, devendo, ainda, o
orçamento identificar os responsáveis por sua elaboração e aprovação;’
Análise da Irregularidade nº 4
As composições e premissas apresentadas pela Infraero para cada item apontado pela
equipe de auditoria foram analisados um a um, conforme seqüência apresentada a seguir, na
mesma ordem da planilha de cálculo de sobrepreço do relatório de auditoria, à fl. 54 do Volume
Principal.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

02.03.203 – ESCAVAÇÃO E CARGA DE EMPRÉSTIMO, C/ FORNECIMENTO DE


TERRA (M3)
73. A Infraero adota como referência a composição do Sicro 2 S 01 100 09 – ‘Esc. carga
tr. mat 1ª c. DMT 50 a 200m c/ carreg’, data-base de janeiro de 2008, para São Paulo, com o
ajuste da capacidade do caminhão basculante de 14 m3 para 10 m3, assim como do fator de
eficiência, de 0,83 para 0,75, e do tempo fixo de 2,81 min. para 3,10 min.. Os responsáveis
acresceram à composição do Sicro a indenização de jazidas, adotando como custo unitário o
item 4746 do Sinapi – ‘Cascalho, pedregulho ou piçarra (material de jazida para base de
pavimentação, revestimento primário, bases asfálticas etc) – sem transporte’, data-base de
dezembro de 2007, para São Paulo.
74. A adoção dos equipamentos de escavação e carga em conjunto com o item 4746 do
Sinapi – ‘Cascalho, pedregulho ou piçarra (material de jazida para base de pavimentação,
revestimento primário, bases asfálticas etc) não procede, pois este último já considera os custos
de escavação e carga, recaindo em duplicidade, cabendo a adoção da composição do Sicro2,
que contempla detalhadamente os custos de escavação e carga de material para aterro (item 2 S
01 100 09) com o acréscimo do custo da indenização de jazida, prevista sob o código M980.
75. Na manifestação prévia, a Infraero esclarece um importante ponto que influencia no
custo final do serviço, que é a forma de medição, no corte, e não no aterro como foi considerado
inicialmente pela equipe do TCU, o que faz reduzir o preço referencial, aumentando,
consequentemente, o sobrepreço.
76. Todavia, esta informação se contradiz com o critério de medição deste serviço
divulgado no edital para os licitantes, à fl. 97 do Anexo 2, de que: ‘A medição será efetuada
pelo volume compactado, em metro cúbico (m3), medido no corpo de aterro compactado
topograficamente.’, e também com o critério de quantificação do serviço, apresentado no Anexo
2 da Manifestação Prévia.
77. Tal contradição é de extrema gravidade, pois o licitante comum que tem acesso
somente às informações do edital será levado a orçar o serviço medido no aterro, cujo preço
referencial pelo Sicro2 é de R$ 6,11/m3 enquanto outro que eventualmente tenha acesso a esta
informação interna da Infraero, apresentada à fl. 97 do Anexo 2, de que a medição será
efetuada no corte, poderá orçá-lo mais barato, devido à redução do fator de conversão, que
neste caso, faria com que o preço referencial reduzisse para R$ 5,40/m3, o que resulta numa
diferença de quase R$ 1 milhão no preço final, somente devido a esse critério, ferindo o
princípio da isonomia na licitação. Ademais, haverá erro no quantitativo da planilha que,
subestimada, poderá ser objeto de aditivos.
78. Na memória de cálculo apresentada pela Infraero, ela considera que, na mudança do
caminhão basculante de 14 m3 para 10 m3, altera-se, consequentemente, o fator de eficiência,
diminuindo-o de 0,83 para 0,75. Contudo, tal consideração não procede, pois este fator
corresponde à relação entre a produção efetiva e o tempo real de produção do equipamento, e
não se verifica alteração das condições de trabalho que justificasse a mudança desses
parâmetros (ver item 5.3.1 do Manual de Custos Rodoviários do Sicro).
79. Por agravante, este mesmo serviço foi contratado no aeroporto de Vitória por R$
5,05/m3 (com sobrepreço), conforme relatório do Acórdão nº 1947/2007-TCU-Plenário.
80. Portanto, verifica-se novamente o grau de indefinição quanto aos critérios do projeto
básico da Infraero para o principal aeroporto do país, em que, somente neste serviço, resulta em
um sobrepreço de cerca de R$ 28 milhões.
02.03.403 – TRANSPORTE DE MATERIAL DE JAZIDA OU DE REAPROVEITAMENTO
81. Assim como no serviço 02.03.203 - ESCAVAÇÃO E CARGA DE EMPRÉSTIMO, C/
FORNECIMENTO DE TERRA (M3), os representantes da Infraero informam que o critério de
medição é o volume medido no corte, ao invés de ser no aterro, em contradição com o

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

informado no edital, à fl. 98, e adotam como fator de eficiência para o caminhão basculante
0,75.
82. Conforme análise do item anterior, segundo os critérios descritos no Manual de
Custos Rodoviários do Sicro – vol. 1, o fator de eficiência a ser adotado é de 0,83 ao invés de
0,75.
83. A adoção de composições de transporte local, apresentadas pela Infraero, não
procede, pois conforme se define no item 5.4.2 do Manual de Custos Rodoviários do Dnit, o
deslocamento de materiais que vêem de fora dos limites da obra é considerado transporte
comercial e define que o fator de eficiência é de 0,83 e as velocidades de 40 km/h para rodovias
não pavimentadas e 60 km/h para pavimentadas.
84. Ademais, se a medição for de acordo com o informado pela Infraero, no corte, o preço
referencial calculado inicialmente pela equipe do TCU alteraria de R$ 1,07/m 3 para R$ 0,93/m3,
decorrente da alteração do fator de conversão de 0,67 para 0,77, o que impacta o preço total em
cerca de R$ 3,6 milhões.
85. Tal contradição é de extrema gravidade, pois o licitante comum que tem acesso
somente às informações do edital será levado a orçar o serviço medido no aterro, cujo preço
referencial pelo Sicro2 é de R$ 1,07/m3 enquanto outro que eventualmente tenha acesso a esta
informação interna da Infraero, apresentada à fl. 98, de que a medição será efetuada no corte,
poderá orçá-lo mais barato, a exemplo do preço referencial, de R$ 0,93/m 3, o que fere o
princípio da isonomia na licitação, além de que haverá, ainda, erro no quantitativo da planilha
a ser objeto de futuros aditivos.
03.02.102.01 – FORNECIMENTO, CORTE, DOBRA E APLICAÇÃO DE AÇO CA-50 e
04.07.104 – AÇO CA-50
86. A Infraero alega que utilizou a composição 03.02.102.01 denominada ‘Fornecimento,
corte, dobra e aplicação de Aço CA-50’ do Sicro2, todavia, apresenta somente composições
anexas do Sinapi.
87. A composição apresentada pela Infraero é compatível com a utilizada pela equipe do
TCU com o acréscimo dos encargos sociais de 126,89% adotados no orçamento-base, o que
reduz o indício de sobrepreço global apontado de R$ 51.162.846,00 para R$ 48.609.246,00.
02.03.601 – LASTRO DE AREIA
88. No projeto à fl. 153 do Anexo 2 verifica-se que a espessura da camada de areia é de 10
cm, e não de 15 cm adotados pela Infraero em sua composição.
89. O serviço do Sicro2 que serviu de referência à Infraero, denominado ‘Base estab.
granul. c/ mist. solo areia na pista’, que trata de execução de uma camada de base, é
expressivamente mais complexo que o serviço ‘lastro de areia’, tornando-se uma comparação
inadequada.
90. Ademais, afigura-se mais apropriado, em função dos expressivos volumes dos serviços
de terraplenagem, utilizar o preço unitário da areia comercial (entregue na obra) do Sicro2, de
R$ 18,00/m3 (1 A 00 716 00).
91. A composição utilizada pela equipe de auditoria com a substituição da brita pela areia
condiz com a execução do serviço e resulta em preço final conservador, haja vista considerar o
compactador manual, que apresenta produtividade abaixo do rolo liso vibratório, e
espalhamento com servente, o que também diminui a produção.
92. Portanto, as justificativas apresentadas pela Infraero não afastam o sobrepreço
apontado.
04.02.101 – SUB-BASE OU BASE DE BRITA GRADUADA SIMPLES
93. A Infraero apresenta as composições 2 S 02 230 00, 1 A 01 395 01 e 1 A 00 001 05 do
Sicro2, porém, com duplicidade, acréscimos e considerações indevidos, conforme descrito
adiante.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

94. Na composição 1 A 01 395 51, a Infraero alega que deveria constar o caminhão
basculante de 10 m3 em sua composição. Todavia, este equipamento já encontra-se previsto na
composição principal 2 S 02 230 50, com tempo fixo considerado de 9,09 minutos. Portanto, a
inclusão deste equipamento pela Infraero está em duplicidade, não cabendo este aumento no
custo unitário do serviço.
95. Na mesma composição, a Infraero adota o custo unitário de R$ 41,30/m 3 para o
insumo brita, porém, o próprio Sicro2, para a região de São Paulo, prevê a brita comercial
(entregue na obra) ao preço unitário de R$ 22,48/m 3. Logo, o preço para a brita considerado
pela Infraero encontra-se expressivamente elevado para este serviço, não cabendo considerá-lo.
96. Na composição 1 A 00 001 05, relativa ao transporte local, considera-se como
distância de transporte 3 km, alegando-se que esta distância foi aceita em reuniões com os
técnicos do TCU. Todavia, tal alegação não se confirma, e, inclusive, a distância apurada, com
base nas coordenadas dos projetos apresentados, às fls. 141 e 145 do Anexo 2, resulta em tão
somente 1 km. Portanto, verifica-se novamente que a Infraero utilizou um dado expressivamente
superior ao que se apresenta nos seus próprios projetos e que inflam consideravelmente o preço
unitário final do serviço.
97. A Infraero inclui na composição principal o consumo de água, alegando que este
insumo não faz parte da Administração Local, sem demonstrar. Todavia, assim como se
demonstra no Sicro2, não cabe considerar este insumo dentro da composição do serviço, mas
sim, na previsão de consumo de água geral da obra.
98. Além das impropriedades acima, a Infraero multiplica os custos unitários dos
materiais/serviços da composição principal por 1,05, ou seja, acrescentando mais 5% aos
custos, sem demonstração e/ou justificativa da sua necessidade.
99. Portanto, as considerações e alegações apresentados pela Infraero não foram capazes
de elidir o sobrepreço apontado neste item.
02.03.401 – TRANSPORTE DE MATERIAL DE LIMPEZA e 02.03.402 – TRANSPORTE
DE MATERIAL PARA BOTA-FORA
100. A Infraero adota como referência a composição 2 S 01 100 09 denominada ‘Esc.
carga tr. mat 1ª c. DMT 50 a 200 m c/ carreg. do Sicro2.
101. A adoção de composições de transporte local, apresentadas pela Infraero, não
procede, pois conforme se define no item 5.4.2 do Manual de Custos Rodoviários do Dnit – vol.
1, o deslocamento de materiais fora dos limites da obra é considerado transporte comercial e
define que o fator de eficiência é de 0,83 e as velocidades de 40 km/h para rodovias não
pavimentadas e 60 km/h para pavimentadas.
102. Conforme análise do item anterior, segundo os critérios descritos no Manual de
Custos Rodoviários do Sicro, o fator de eficiência a ser adotado é de 0,83 ao invés de 0,75,
adotado pela Infraero.
103. Com tal consideração, as alegações da Infraero não elidem o sobrepreço apontado
neste item.
03.02.103.02 – CONCRETO FCK = 30Mpa
104. A Infraero adota como referência a composição nº 26311/11 do Sinapi, denominada
‘Concreto bombeado 30 MPa incl. concr. import. usina colocação espalha.’.
105. Porém, a Infraero utiliza coeficientes de produtividade para o pedreiro e servente do
serviço 53873 do Sinapi – ‘Lançamento/Aplicação manual de concreto em estruturas’, o que
não corresponde à realidade do serviço em questão, cujo lançamento/aplicação é por
bombeamento. Com isso, tomando a produtividade do pedreiro como exemplo, a estatal eleva a
quantidade de horas trabalhadas de 0,6 h/m3 para 5 h/m3, ou seja, eleva em mais de 8 vezes tal
quantidade de forma equivocada.

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106. Portanto, a mesclagem de composições apresentada pela Infraero não procede, haja
vista a composição do Sinapi já prever a execução total do serviço previsto, não sendo capaz de
afastar o sobrepreço apontado.
02.03.301 – ATERRO COMPACTADO GC = 100% DO PROCTOR NORMAL
107. A Infraero acresce à composição 2 S 01 511 00 o tempo fixo de descarga livre do
caminhão basculante, e 2 caminhões-tanque em função de um suposto consumo de 172,3 litros
de água por metro cúbico de aterro para o alcance da umidade ótima, calculada teoricamente.
108. Com relação ao tempo de descarga do caminhão, este já está considerado no tempo
fixo da composição do serviço 02.03.203 - ‘Escavação e Carga de Empréstimo, c/
Fornecimento’, correspondente ao código 2 S 01 100 09 do Sicro2, no item ‘p’ da memória de
cálculo da Produção da Equipe, denominado ‘Tempo Fixo (Carga, Descarga e Manobra).
Portanto, verifica-se que o tempo fixo de descarga já foi considerado neste outro serviço não
cabendo considerá-lo novamente nesta composição, e, por conseqüência, não procede a
inclusão de caminhão basculante nesta composição.
109. Quanto ao acréscimo de 172,3 litros por metro cúbico de aterro para o alcance da
umidade ótima estimada teoricamente, de 17,23%, constata-se que não se levou em
consideração a umidade natural do material de aterro, que, segundo os estudos de jazidas às fls.
278/305 do Anexo 3 do Volume 1, já apresentam teores de umidade natural, na maioria dos
pontos de sondagem, acima dos 17,23%. Na Jazida J-1 (Anexo 5 da Manifestação Prévia), por
exemplo, todos os pontos de sondagem apresentaram umidade natural acima de 30%.
110. Por conseqüência, o acréscimo de 2 (dois) caminhões-tanque na composição
apresentada em relação à composição do Sicro2 não procede, além da distância de 3 km, que
conforme já demonstrado anteriormente, com base nos projetos do edital, é de 1 km.
111. Portanto, as considerações apresentadas pela Infraero não procedem, permanecendo
o sobrepreço inicialmente apontado para este serviço.
03.02.101.01 – FORMA PLANA PARA ESTRUTURA DE CONCRETO –
FORNECIMENTO E APLICAÇÃO
112. A Infraero adota como referência a composição 6161 do Sinapi denominada ‘Forma
plana em chapa compensada resinada, estrutural, e = 14mm’.
113. A composição apresentada pela Infraero é compatível com a utilizada pela equipe do
TCU com o acréscimo dos encargos sociais de 126,89% adotados no orçamento-base, o que
reduz o indício de sobrepreço global apontado de R$ 48.609.246,00 para R$ 47.948.644,00.
02.03.304 – ATERRO DE SOBRECARGA
114. A Infraero acresce à composição 2 S 01 510 00 o tempo fixo de descarga livre do
caminhão basculante, 1 motoniveladora, e 11 caminhões-tanque em função de um suposto
consumo de 172,3 litros de água por metro cúbico de aterro para o alcance da umidade ótima
do aterro, calculada teoricamente, e retira o trator agrícola e a grade de discos.
115. Com relação ao tempo de descarga do caminhão, este já está computado no tempo
fixo da composição do serviço ‘Escavação e Carga de Empréstimo, c/ Fornecimento’,
correspondente ao código 2 S 01 100 09 do Sicro2, no item ‘p’ da memória de cálculo da
Produção da Equipe, denominado ‘Tempo Fixo (Carga, Descarga e Manobra). Portanto,
verifica-se que o tempo fixo de descarga já foi considerado neste outro serviço não cabendo
considerá-lo novamente nesta composição, e, por conseqüência, não procede a inclusão de
caminhão basculante nesta composição.
116. Quanto ao acréscimo de 172,3 litros por metro cúbico de aterro para o alcance da
umidade ótima estimada teoricamente, de 17,23%, constata-se que não se levou em
consideração a umidade natural do material de aterro, que, segundo os estudos de jazidas às fls.
278/305 do Anexo 3 do Volume 1, já apresentam teores de umidade natural, na maioria dos
pontos de sondagem, acima dos 17,23%. Na Jazida J-1, por exemplo, todos os pontos de
sondagem apresentaram umidade natural acima de 30%.

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117. Por conseqüência, o acréscimo de 11 (onze) caminhões-tanque na composição da


Infraero em relação à composição do Sicro2 não procede, além da distância de 3 km, que
conforme já demonstrado anteriormente, com base nos projetos do edital, é de 1 km.
118. Quanto à retirada do trator agrícola e da grade de discos da composição não há
justificativa objetiva para tal, havendo somente a alegação de que não serão necessários.
119. Portanto, as considerações apresentadas pela Infraero não procedem, permanecendo
o sobrepreço inicialmente apontado para este serviço.
CONCLUSÕES DA ANÁLISE DAS JUSTIFICATIVAS DOS PREÇOS UNITÁRIOS COM
INDÍCIO DE SOBREPREÇO
120. Em várias das composições apresentadas, verificou-se que a Infraero adotou
procedimento de cotejar preços unitários de insumos em diferentes sistemas referenciais,
mesclando-os (‘Jogo de Tabelas’), acabando por inflar o preço unitário total destes serviços do
orçamento-base do edital CC 008/DALC/SBGR/2008, indicados pela equipe do TCU.
121. Dos itens com indício de sobrepreço apontado pela Unidade Técnica do TCU, dois
deles, ‘Fornecimento, corte, dobra e aplicação de Aço CA-50’ e ‘Forma plana para estruturas
de concreto – fornecimento e aplicação’, tiveram o indício de sobrepreço preliminarmente
apontado elidido, a partir das informações trazidas pela Infraero na sua Manifestação Prévia,
resultando na redução do sobrepreço global da amostra (57% do orçamento-base do edital CC
008/DALC/SBGR/2008 – R$ 124.415.888,00) de R$ 51.162.846,00 para R$ 47.948.644,00.
122. Por fim, constatou-se que a alegação da Infraero de ter adotado as medidas
determinadas no Acórdão nº 644/2007-TCU-Plenário não procede, pois na formação dos preços
unitários do orçamento-base do edital CC 008/DALC/SBGR/2008, verifica-se um sobrepreço de
R$ 47.948.644,00, relativo à amostra analisada pela equipe de auditoria.
IRREGULARIDADE Nº 5 – Concentração de pagamentos nos 5 primeiros meses da obra.
Cronograma físico-financeiro incompatível com a execução física dos serviços.
123. A Infraero argumenta que o Cronograma Físico-Financeiro divulgado no edital da
concorrência CC 008/DALC/SBGR/2008 apenas norteia a execução dos serviços para efeito de
procedimento licitatório para fins de concluir as obras dentro do prazo estipulado e que a
empresa vencedora deverá apresentar novo estudo de execução, de acordo com sua capacidade
técnica e produtiva, o qual deverá ser submetido previamente à aprovação da Infraero. Com
isso, eles defendem que o cronograma físico-financeiro contratual é que regerá a relação entre
as partes, sendo o da licitação apenas um balizador do planejamento.
Análise da Irregularidade nº 5
124. Os representantes da estatal atribuem importância secundária ao cronograma físico-
financeiro do edital, ao alegar que ele é apenas um balizador do planejamento para a licitação,
ou seja, que seria mera peça de ficção para compor as exigências da licitação, tendo em vista
que para determinar a execução da obra dentro do prazo estipulado basta informar o prazo
total.
125. Tais argumentos demonstram mais uma vez o nível de precariedade do projeto básico
em que não se demonstra a sua elaboração de maneira detalhada, com a identificação do
caminho crítico, de forma a se obter o prazo otimizado para uma obra do porte econômico do
aeroporto de Guarulhos. Afinal, prazos acima do necessário oneram a obra com custos indiretos
de administração e operação do canteiro e o contrário [custos diretos], com horas extras.
Portanto, a elaboração do cronograma físico-financeiro de forma detalhada e fidedigna é de
relevante importância para a Administração.
126. Ademais, em obras parceladas, o cumprimento dos prazos ganha relevo, tendo em
vista afetar a programação geral de conclusão do empreendimento e sua efetiva utilização.
127. O cronograma físico-financeiro apresentado no edital, além de não corresponder ao
projeto no principal item da planilha orçamentária (terraplenagem), revelou outro agravante,
ao prever o pagamento de 52% dos recursos disponíveis em apenas 20% do prazo transcorrido,

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o que é indício de jogo de planilha, haja vista ter sido detectado pela equipe de auditoria
sobrepreços significativos nos serviços de terraplenagem.
128. Com isso, coloca-se em risco a conclusão da obra, pois o executor, após receber mais
da metade dos recursos logo no início, com preços unitários artificialmente elevados, pode se
desinteressar do contrato, restando à Administração recursos insuficientes para a contratação
do remanescente. A concentração de valores no início do cronograma, em descompasso com o
ritmo real da obra, é o mesmo que adiantar recursos públicos ao contratado.
129. A Infraero apresenta o cronograma físico-financeiro reformulado em função da
diluição da previsão de pagamento da terraplenagem, que, inicialmente, estava incompatível
com o projeto básico, porém, há necessidade de detalhar os estudos do cronograma para que se
demonstre que o prazo estipulado para a obra é o mais econômico e eficiente para a
Administração.
IRREGULARIDADE Nº 6 – Edital contendo cláusulas restritivas e que trazem
insegurança à supremacia do interesse público. Restrição à competitividade em decorrência de
determinação da apresentação de atestados de execução de pavimentos aeroportuários.
130. Os representantes da Infraero ressaltam que a pista de pouso e decolagem do
aeroporto é o elemento que necessita de maior prioridade, e que as propriedades físicas e
características mecânicas do pavimento de uma pista ou pátio de aeroporto são mais
sofisticadas e exigentes que qualquer outro tipo de pavimento, com peculiaridades ímpares na
finalidade, nos esforços exigidos, no dimensionamento, nas especificações técnicas, na
execução, no controle tecnológico da execução e na conservação pós-construção, que deve
sofrer o mínimo de intervenções, seja por manutenção ou conservação, compatível com a
atividade aeroportuária contínua, sem ocorrência de interrupções que causem perda de
faturamento, desvios de rotas aeroviárias, risco de vidas humanas e sanções diversas oriundas
dos usuários, concessionários, companhias aéreas e outros.
131. Continuam argumentando que devido aos altos riscos envolvidos numa operação de
pouso e decolagem das aeronaves é que as normas aeroportuárias que regem as especificações
técnicas dos pavimentos das pistas e pátios de aeronaves são padronizadas e certificadas
internacionalmente e possuem exigências e rigores técnicos elevados. Acrescentam ainda que as
especificações técnicas do pavimento aeroportuário são determinadas a partir das
características das aeronaves, além do solo e dos materiais em si.
132. Com isso, eles alegam que é necessária a exigência de experiência por meio de
atestação técnica de execução de pavimentos aeroportuários, e defendem que os procedimentos
executivos possuem maior grau de complexidade e controles tecnológicos mais rigorosos do que
normalmente adotados em obras rodoviárias.
133. Em seguida, os representantes relacionam também uma análise comparativa dos
pavimentos rígidos e flexíveis entre rodovias e aeroportos.
134. Argúem que apesar de as obras aeroviárias e rodoviárias se ampararem nos mesmos
fundamentos da mecânica dos solos, em virtude dos seus carregamentos serem de ordem de
grandeza diferente, resulta em dimensionamentos diferenciados e metodologias executivas que
requerem cuidados especiais e também diferenciados. Em seguida, descrevem critérios
utilizados para o dimensionamento, especificações e desempenhos necessários das camadas de
subleito, sub-base e base, e da drenagem dos pavimentos, em função de tensões e esforços
específicos.
135. Argumentam também que as especificações do Sicro2 para a execução de concreto de
cimento Portland com forma deslizante, utilizada pela equipe de auditoria, não caracteriza a
similaridade entre pavimento aeroportuário e rodoviário, pelos fatores:
- O Sicro2 adota forma deslizante, enquanto em pavimento aeroportuário há necessidade
de forma fixa, instalada, alinhada e nivelada topograficamente, obedecendo a declividade,
planicidade e cotas finais do piso acabado.

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- Devido às características de utilização da mistura (fator água/cimento e


trabalhabilidade), o transporte deverá ser realizado com caminhão betoneira e não com
caminhão basculante, pois desta forma poderá afetar o fator água/cimento e haverá, segundo os
alegantes, segregação dos agregados, podendo comprometer a mistura, deixando-a heterogênea
e inviabilizando sua aplicação;
- Não é possível utilizar, na sua totalidade, a vibro-acabadora da composição do Sicro2,
devido à configuração do pátio de aeronaves, que exige placas com geometria diferenciada;
- Ao término da cura química (aproximadamente 12 horas), deverá ser realizada cura
úmida durante período mínimo de 7 (sete) dias;
- Devem ser realizados dois cortes na posição das juntas do pavimento, sendo o primeiro
cerca de 12 horas após o lançamento do concreto para induzir a trinca e o segundo entre 24 e
48 horas, para abertura onde posteriormente será colocado material selante;
- Nas obras de pavimento aeroportuário há um controle rigoroso na central misturadora
de concreto, em relação aos agregados que compõem a mistura, realizando pesagem dos
agregados, os ensaios de granulometria e umidade, a moldagem dos corpos de prova etc.
136. Concluem que, com base no exposto, os pavimentos aeroportuários requerem um
controle tecnológico bem mais rigoroso do que os pavimentos rodoviários, desde o controle
geométrico horizontal e vertical como ao controle de qualidade dos serviços, requerendo
ensaios com maior freqüência e maior quantidade, acompanhamento da planicidade,
rugosidade da superfície etc.
137. Finalizam com a consideração de que o descritivo apresentado justifica plenamente a
necessidade de inclusão de exigência de comprovação de execução de serviços específicos em
pavimento aeroportuário para o caso de licitações para contratação de obras de pavimentação
em áreas de movimentação de aeronaves.
Análise da Irregularidade nº 6
138. Inicialmente, cabe destacar que a licitação que ora se analisa não tem como objeto
pista de pouso e decolagem, mas pátio de aeronaves.
139. As exigências técnicas apresentadas pelos técnicos da Infraero não demonstram a
necessidade de só se poder contratar quem tenha executado os serviços requeridos apenas em
sítios aeroportuários, haja vista as suas especificações não serem incomuns e poderem ser
plenamente definidas por meio de projetos prévios completos e detalhados.
140. Caso a licitante tenha realizado o serviço requerido com procedimento executivo de
complexidade similar, mesmo que em outros locais fora de sítio aeroportuários, não haverá
obstáculo de executá-lo dentro de um canteiro de obras em aeroporto, e conforme as
especificações definidas.
141. Verifica-se que as principais diferenças observadas pela Infraero dizem respeito aos
parâmetros a serem considerados na elaboração dos projetos. Não decorre do fato de o serviço
ser executado em um aeroporto, mas das especificações objetivamente definidas. O que se
observa nesse caso concreto é uma inversão de valores, pela adoção de um projeto básico
incipiente e de requisitos de experiência rigorosos, procedimento que não garante o resultado
final pretendido, já que a fiscalização fica sem parâmetros, além de não encontrar amparo na
lei.
142. Portanto, conclui-se que a exigência de que a execução anterior de serviço
semelhante tenha sido em aeroporto restringe desnecessariamente a competição.
143. Pelas próprias informações trazidas pela Infraero, verifica-se mais uma vez que é
extremamente temerário licitar obras de pistas e pátio de aeronaves sem os respectivos projetos
completos, com os parâmetros e premissas devidamente divulgados no edital, para que se
demonstre aos licitantes que se propõe a assumir a responsabilidade de executar partes de um
aeroporto, estarão de acordo com as normas internacionais citadas pela estatal, além de
estudos imprescindíveis que afetam de forma bastante relevante os orçamentos, tais como o de

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jazidas disponíveis, das características geotécnicas do subsolo etc. para que os licitantes sejam
capazes de formular propostas condizentes com o nível de responsabilidade que irão assumir e
com o nível de precisão que se exige por lei.
144. Para que se amplie a competição, não há como licitar os lotes do aeroporto de
Guarulhos com os projetos divulgados no edital CC 008/DALC/SBGR/2008, que, conforme
análise das demais irregularidades, apresentam-se deficientes e aquém do que se exige na Lei nº
8.666/1993, muito menos nas rígidas normas internacionais que regulamentam tecnicamente as
condições mínimas de uma obra como esta.
145. Cabe determinar à Infraero que limite-se a exigir, para fins de habilitação, a
comprovação de execução de serviços cujos procedimentos executivos tenham complexidade
similar aos especificados no projeto básico que sejam, primeiramente, relevantes técnico e
economicamente, e que correspondam à descrição objetiva do serviço previsto no projeto
básico, deixando de exigir que tais serviços tenham sido executados em aeroporto.
IRREGULARIDADE Nº 7 – Edital contendo cláusulas restritivas e que trazem
insegurança à supremacia do interesse público. nadequação do critério de aceitabilidade de
preços unitários.
146. A Infraero alega que a Unidade Técnica do TCU considerou que o critério de
aceitabilidade de preços unitários previsto no edital CC 008/DALC/SBGR/2008 cumpre
formalmente as prescrições do inciso X do artigo 40 da Lei nº 8.666/1993 e os representantes
defendem que tal dispositivo deriva da LDO e que está inspirado em procedimentos licitatórios
conduzidos pelo próprio Tribunal de Contas da União. Ademais, eles apresentam um trecho do
Acórdão nº 1.564/2003-TCU-Plenário, alegando que nele orienta-se a proceder conforme o
dispositivo questionado.
Análise da Irregularidade nº 7
147. Quanto ao cumprimento formal do inciso X do artigo 40 da Lei nº 8.666/1993, não há
no relatório de auditoria qualquer informação que corrobore esta alegação da Infraero.
148. Com relação ao Acórdão nº 1.564/2003-TCU-Plenário, verifica-se que ele não
estabelece a possibilidade de a justificativa citada no subitem 8.5.1.1 ser após o lançamento do
edital, fazendo explícita referência ao orçamento-base do edital como limite dos preços
unitários, não podendo servir de precedente para a flexibilização do normativo da LDO em
análise, conforme transcrito a seguir:
‘8.5.1. acrescente cláusula definindo os critérios de aceitabilidade de preços unitários,
com fixação de preços máximos, tendo por limite os valores estimados no orçamento a que se
refere o inciso II do § 2º do art. 40 da Lei nº 8.666/1993, desclassificando a proposta que não
atender a esse critério, com base nos arts. 40, inciso X, e 48, inciso I, da mesma lei;
8.5.1.1. sem prejuízo da observância do disposto no art. 101 da Lei nº 10.707/2003, os
valores dos preços unitários tratados no item 8.5.1 obedecerão aos registrados no sistema Sicro
regional, devendo eventuais exceções, decorrentes de particularidades da obra que justifiquem a
extrapolação desse limite, estar devidamente embasadas em justificativas técnicas,
acompanhadas de cálculo analítico, para cada item de serviço, que demonstre a adequabilidade
do valor adotado;’
149. Ademais, o § 1º do art. 115 da LDO fala de um relatório a ser aprovado pela
autoridade competente. Isso, no âmbito de uma licitação, significa que é o gestor justificando
preço acima do Sinapi, no orçamento-base, conforme verifica-se no seu texto:
‘§ 1º Somente em condições especiais, devidamente justificadas em relatório técnico
circunstanciado, aprovado pela autoridade competente, poderão os respectivos custos
ultrapassar o limite fixado no caput deste artigo, sem prejuízo da avaliação dos órgãos de
controle interno e externo.’
150. Considerando que os custos fazem parte do orçamento-base, que integra o projeto
básico, o qual tem que ser aprovado pela autoridade competente antes da licitação, infere-se

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

que a aprovação do relatório técnico circunstanciado tem que ocorrer previamente ao certame,
e não após a abertura das propostas, conforme previu a Infraero.
151. Para a cautela do erário e a garantia do princípio da isonomia, a resolução das
eventuais discordâncias dos preços unitários adotados como limite devem ser objeto de
impugnação prévia pelos licitantes, antes da entrega das propostas, para que todos os demais
tenham acesso às mesmas informações para elaborar suas propostas e para que os preços
unitários finais do orçamento-base sejam o limite aceitável pela Administração, aí sim, de forma
objetiva.
152. Portanto, com relação ao amparo da LDO, a interpretação da Infraero não está
correta, e traz potencial de dano ao erário. Considerando tratar-se de momento inoportuno
para tão profunda análise, incorre-se no risco de que sejam aceitos preços unitários com
sobrepreço a partir de justificativas que não correspondam à realidade executiva do serviço,
abrindo brecha para a ocorrência do danoso artifício do jogo de planilha.
153. Assim, o potencial de dano na interpretação incorreta do art. 115 da LDO torna o
dispositivo não recomendável. Caso algum licitante discorde dos preços unitários do edital, tem
o direito de apresentar impugnações que serão objeto de análise do órgão contratante e as
respectivas decisões deverão ser compartilhadas previamente entre todos os licitantes, de forma
a garantir a isonomia na licitação, conforme previsto na lei.
IRREGULARIDADE Nº 8 – Edital contendo cláusulas restritivas e que trazem
insegurança à supremacia do interesse público. Existência de cláusulas ambíguas na minuta do
contrato, cuja interpretação pode prejudicar a supremacia do interesse público ou a obtenção
da proposta mais vantajosa pela administração.
154. A Infraero ressalta que os dispositivos do contrato questionados pela Unidade
Técnica são padrões nos seus contratos e que até o relatório de auditoria, nunca haviam sido
questionados pelos órgãos de controle, e que também foram chancelados pela sua Procuradoria
Jurídica nos termos do art. 38, parágrafo único, da Lei nº 8.666/1993.
155. Os representantes da estatal expressam entendimento de que a cláusula 4.6 do edital
não traz insegurança à supremacia do interesse público, mas que, ao contrário, coaduna-se com
a Lei nº 8.666/1993, nos termos do art. 58, inciso I e § 2º, da mesma forma quanto aos
dispositivos 14.6 e 14.11 do edital, nos termos do inciso I do mesmo artigo.
156. Portanto, a Infraero considera que retirar estas cláusulas seria prejudicial à
Administração, pois estaria diminuindo os poderes da administração em prol do particular.
157. Por fim, eles informam que, em face da segregação de competências, e em razão da
presente matéria pertencer ao rol de atividade jurídica, submeterão os argumentos da Unidade
Técnica do TCU à Procuradoria Jurídica, à Superintendência de Licitações e Contratos e à
Superintendência de Controle Empresarial, para que avaliem ou ajustem as cláusulas
impugnadas.
Análise da Irregularidade nº 8
158. A redação trazida no item 4.6 do edital não enquadra-se nos termos da lei, pois prevê
a ocorrência de acréscimos e supressões por conveniência da contratante. A prerrogativa de
poder alterar o projeto licitado, prevista no art. 65 da Lei nº 8.666/1993, vincula-se à
necessidade de melhor atendimento do interesse público, previamente justificada e formalmente
motivada, e não para atendimento da conveniência do contratante, o que, de fato, traz
insegurança jurídica aos licitantes, que poderão ficar à margem da discricionariedade da
Infraero.
159. Afinal, a lei já prevê o direito da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do
contrato, não cabendo ao órgão contratante especificar de que forma será garantido este
direito, pois a própria lei não o faz.
160. Ademais, o órgão contratante, ao alterar preços unitários do contrato, corre o risco
de estar ferindo o Princípio da Isonomia da licitação, pois pode, por conseqüência, tirar a

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vantagem ofertada, além de colocar em risco o Princípio da vinculação ao instrumento


convocatório.
161. Logo, a previsão desta cláusula é ilegal cabendo à Infraero excluí-la dos seus editais
de licitação.
IRREGULARIDADE Nº 9 – Descumprimento de determinação exarada pelo TCU.
162. A Infraero ressalta que o estudo dos critérios de formação de preços unitários de
serviços, elaborado para justificar os preços apontados pela Unidade Técnica com indícios de
sobrepreço, busca demonstrar que os preços apontados estão compatíveis com os de mercado e
que seguem a metodologia expressa no Acórdão nº 644/2007-TCU-Plenário.
163. Assim, os representantes da estatal expressam entendimento que ao justificar a
inexistência de sobrepreço no orçamento-base estaria comprovado que não houve
descumprimento da determinação exarada pelo TCU.
164. O Diretor de Engenharia destaca que a manifestação apresentada para esta
irregularidade foi baseada em elementos apresentados pelas áreas técnicas da Infraero.
Análise da Irregularidade nº 9
165. Considerando que as alegações da Infraero para justificar os preços unitários não
elidiram os sobrepreços apontados, confirma-se que a determinação do Acórdão nº 2.350/2007-
TCU-Plenário não foi cumprida.
IV – REVOGAÇÃO DA LICITAÇÃO
166. A concorrência nº 008/DALC/SBGR/2008 foi revogada em 1º/10/2008, por meio do
Ato Administrativo nº 2677/DE/DA/2008 da Infraero, publicado no Diário Oficial da União de
02/10/2008, em face de ‘fatos supervenientes e da necessidade de promover a revisão do
orçamento e a atualização/revisão dos projetos básicos’.
167. A revogação acima pode tornar-se parcela do saneamento do presente processo, mas
não elimina a necessidade de correção dos procedimentos da Infraero em futuras licitações e
nem dispensa a responsabilização pelos procedimentos ilegais ou antieconômicos apontados
pela fiscalização.
V – CONSIDERAÇÕES FINAIS
168. Após analisada a Manifestação da Infraero em relação aos apontamentos do
Relatório de Auditoria do PT – 26.781.0631.1M31.0035 – Construção de Terminal de
Passageiros, de Pátio de Aeronaves e de Acesso Viário no Aeroporto Internacional de
Guarulhos (Fiscobras 2008), observa-se que as justificativas apresentadas pela Infraero não
elidiram as irregularidades apontadas na mencionada fiscalização e, no caso das deficiências
dos projetos, reforçaram o entendimento inicial da equipe do TCU.
169. O empreendimento foi parcelado em 10 (dez) lotes, dos quais 8 (oito) referem-se à
execução das obras e 2 (dois) à elaboração de projetos. A auditoria deste ano abrangeu o edital
de concorrência nº 008/DALC/SBGR/2008, para a licitação do lote 2 do parcelamento, com o
objeto ‘Contratação das obras e serviços de engenharia para construção do pátio de aeronaves
e terraplenagem do TPS-3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP’.
170. A equipe de auditoria encontrou indícios de irregularidades graves no edital, tais
como deficiências graves no Projeto Básico, sobrepreço no orçamento-base, cláusulas
restritivas no edital, descumprimento de determinação exarada pelo TCU, dentre outras, que
ensejam a paralisação do empreendimento para evitar relevante dano ao Erário e o risco de
não finalização do empreendimento.
171. Primeiramente, a Infraero, ao parcelar o empreendimento em lotes, está em linha
com a ampliação da competitividade e a obtenção de propostas mais vantajosas, todavia, este
procedimento depende da programação total prévia do empreendimento para que o
parcelamento não se constitua em risco à conclusão do objeto e ao alcance de sua plena
funcionalidade, o que requer a existência de projeto básico relativo a todas as suas partes.
Portanto, confirma-se o posicionamento da equipe de auditoria de que a licitação das parcelas

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

não pode ter continuidade enquanto não haver projeto básico completo que englobe todo o
empreendimento pretendido.
172. Com relação às deficiências de projeto, a Infraero entregou informações técnicas
adicionais, não divulgadas no edital objeto de análise, que, após analisados, acabaram por
confirmar o entendimento de que o Projeto Básico publicado não atende aos comandos do
inciso IX do art. 6º da Lei nº 8.666/1993, com o agravante de que há um grupo de serviços na
planilha orçamentária (item 03.00.000 – Fundações e Estruturas de Concreto), orçado em
aproximadamente R$ 26 milhões, sem destinação definida, por não haver os respectivos
projetos, o que afronta o § 4º do art. 7º da Lei nº 8.666/1993, enquadrando-se, por
conseqüência, no § 6º do mesmo artigo, o que torna nula a licitação em análise.
173. Além dos R$ 26 milhões previstos na planilha orçamentária e sem destinação
definida no Projeto Básico, a equipe de auditoria calculou, preliminarmente, sobrepreço em
torno de R$ 51 milhões, o qual, após análise das justificativas de formação dos preços unitários
apresentados pela Infraero, diminuiu para aproximadamente R$ 48 milhões.
174. Quanto ao cronograma físico-financeiro incompatível com a execução física dos
serviços e a concentração de pagamento de 52% do valor total nos primeiros meses do contrato,
segundo as informações trazidas na manifestação, a Infraero reconheceu a irregularidade ao
reformular o cronograma, porém, atribui importância secundária a esta peça ao argumentar
que o cronograma real será definido somente na celebração do contrato de acordo com o
proposto pelo licitante. Esta falha, além de ser mais uma deficiência do Projeto Básico,
apresenta relevância ao permitir o jogo de planilha, em que logo no início da obra o contratado
receberia mais da metade dos recursos disponíveis (concentração dos itens de terraplenagem
com sobrepreço) podendo não se interessar em terminá-la. Ademais, a elaboração do
cronograma preciso é importante para que se estime o prazo mais viável economicamente para
a Administração.
175. Os argumentos apresentados pela Infraero a respeito das exigências técnicas
apresentadas no edital dizem respeito aos parâmetros a serem considerados na elaboração dos
projetos, o que reforça a constatação de que está havendo uma inversão de valores, pela adoção
de um projeto básico incipiente e de requisitos de experiência rigorosos, procedimento que não
garante o resultado final pretendido, já que a fiscalização fica sem parâmetros, além de não
encontrar amparo na lei. Logo, verifica-se que a exigência de execução anterior de serviço
semelhante em aeroporto restringe desnecessariamente a competição, cabendo à Infraero
adotar na licitação projetos completos, bem elaborados e definidos, assim como adotar uma
fiscalização atuante durante a execução dos serviços.
176. A adoção de critério de aceitabilidade de preços unitários que permite aos licitantes
ofertar proposta com preços unitários superiores aos orçados pela Administração, com o
encargo da comissão de licitação analisar e aprovar as respectivas justificativas apresentadas,
traz potencial dano ao Erário, devido ao momento inoportuno de tão profunda análise,
fragilizando-a, abrindo brecha ao danoso artifício do jogo de planilhas, além de prejudicar a
garantia do princípio da isonomia na licitação, ao permitir que os licitantes elaborem propostas
com base em informações divergentes.
177. Ademais, as eventuais justificativas para preços unitários que superem os do Sinapi,
em caráter de exceção, devem ser aprovadas pela autoridade competente, antes da licitação,
haja vista fazerem parte do projeto básico e de servirem de limite objetivo para as propostas a
serem ofertadas. Em acréscimo, a lei prevê que eventuais discordâncias quanto aos itens do
edital devem ser objeto de impugnação, antes da entrega das propostas, para que seja possível
aos licitantes o acesso às mesmas informações para elaboração de suas propostas. Portanto, tal
interpretação incorreta do art. 115 da LDO torna o dispositivo não recomendável.
178. Quanto à redação do item 4.6 do edital, que prevê a ocorrência de acréscimos e
supressões por conveniência do contratante, o qual também contempla a alteração dos preços

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

unitários contratados para manutenção do equilíbrio econômico-financeiro contratual, não


encontra amparo legal, haja vista a própria lei não especificar de que forma deve se dar o
equilíbrio econômico-financeiro, além de a alteração dos preços unitários colocar em risco o
Princípio da Isonomia da licitação e o da Vinculação ao Instrumento Convocatório.
179. Por todo o exposto, entende-se que a continuidade das licitações dos lotes 2 a 10
(relativos à execução e fiscalização da obra) do Terminal de Passageiros, de Pátio de Aeronaves
e de Acesso Viário no Aeroporto de Guarulhos nos moldes atuais, depende ainda da finalização
do projeto básico do empreendimento como um todo, e do saneamento das deficiências da
parcela do projeto já existente, de acordo com o inciso IX do art. 6º e art. 8º da Lei nº
8.666/1993, por constituir risco de relevante dano ao erário e de não finalização do
empreendimento.
180. Com relação ao lote 1, relativo à elaboração do restante do projeto básico e de
projetos executivos, pelo contrário, há necessidade de se contratá-los e finalizá-los antes das
licitações das respectivas obras, para evitar ou minimizar a recorrência das irregularidades
detectadas e apontadas há mais de 3 (três) anos por esta Corte de Contas, e que já somam
insuportável ônus à sociedade.
VI - PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
Ante o exposto, e considerando que:
- é temerário para o interesse público iniciar a execução das obras e serviços de
engenharia antes da finalização de todo o projeto do empreendimento, com os levantamentos
dos custos total e final, para que não se coloque em risco a utilização plena do empreendimento;
- foram detectados pela equipe de auditoria graves deficiências no projeto básico do edital
da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008, a exemplo da diferença em torno de 20 m entre as
cotas do terreno natural da planta fornecida aos licitantes e a planta original de referência, e da
falta de estudos complementares de solos para justificar a solução adotada para a execução de
aterro de sobrecarga com drenos verticais em conjunto com a remoção de solo mole;
- existem relevantes indefinições no Projeto Básico, tais como a necessidade de ajustes de
cotas de implantação e de geometria, desconhecimento do nível do lençol freático, falta de
dados atualizados dos materiais disponíveis para aterro, indefinição da DMT etc;
- a postura da Infraero foi de superavaliar o orçamento, tendo em vista a imprecisão do
projeto básico, o que compromete o resultado obtido, que, superestimado, não reflete a
realidade da obra, além da previsão de serviços que somam em torno de R$ 26 milhões, sem os
respectivos projetos, que podem estar representando quantidades fictícias, constituindo grave
afronta ao art. 7º da Lei nº 8.666/1993;
- houve o reconhecimento pela Infraero de soluções a serem definidas somente quando da
elaboração do projeto executivo;
- a concorrência nº 008/DALC/SBGR/2008 foi revogada em 1º/10/2008, por meio do Ato
Administrativo nº 2677/DE/DA/2008 da Infraero, em face de fatos supervenientes e da
necessidade de promover a revisão do orçamento e a atualização/revisão dos projetos básicos;
- a revogação acima pode tornar-se parcela do saneamento do presente processo, mas não
elimina a necessidade de correção dos procedimentos da Infraero em futuras licitações e nem
dispensa a responsabilização pelos procedimentos ilegais ou antieconômicos apontados pela
fiscalização.
Submetemos os autos à avaliação superior, propondo:
I. determinar, nos termos do art. 45 da Lei 8.443/1992 c/c art. 251 do RITCU, à Empresa
Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária – Infraero que, nas próximas licitações dos lotes de
serviços e obras de engenharia do Aeroporto Internacional de Guarulhos, promova as seguintes
verificações e/ou correções apontadas em relação à Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008, a fim
de evitar-se a repetição das irregularidades ali apontadas:

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

a) preliminarmente à licitação dos lotes de obras e serviços de engenharia, finalize o


projeto completo de todo o empreendimento, suficiente para a programação da sua execução
total, e para a previsão do seu custo atual e final, além da determinação do seu prazo, em
conformidade com o art. 8º da Lei nº 8.666/1993;
b) somente lance os editais para licitação dos lotes de obras e serviços de engenharia
após finalizados os respectivos projetos básicos, elaborados de acordo com os comandos do
inciso IX do art. 6º e do art. 7º da Lei nº 8.666/1993;
c) deixe de exigir como critério de habilitação técnica atestado de execução de serviços de
engenharia em aeroportos, limitando-se às questões técnicas definidas objetivamente no edital
e/ou no projeto básico;
d) deixe de adotar critério que permite a seleção de proposta orçamentária com preços
unitários superiores aos estabelecidos no orçamento-base do edital, assim como aos do Sinapi e
Sicro;
e) tome todas as precauções necessárias para que o orçamento detalhado da obra,
previsto no art. 7º, § 2º, inciso II, da Lei nº 8.666/1993, esteja livre de sobrepreços em relação
aos preços médios de mercado;
f) com relação ao projeto básico dos lotes que tenham como objeto serviços e obras de
engenharia, observe os apontamentos relacionados às deficiências detectadas e relacionadas no
relatório de auditoria e nesta instrução, em especial:
f.1) identifique cada peça técnica (plantas, orçamento-base, composições de custos
unitários, cronograma físico-financeiro etc.) por meio das Anotações de Responsabilidade
Técnica (ART) dos responsáveis pela sua autoria, e também com a identificação dos últimos
revisores, em conformidade com a Resolução CONFEA nº 425 (art. 1º e 2º) e com o § 5º do art.
109 da LDO/2009 (Lei nº 11.768, de 14 de agosto de 2008);
f.2) proceda à atualização/revisão dos projetos de engenharia existentes;
f.3) inclua no edital todos os projetos disponíveis, além dos laudos de sondagem,
relatórios de ensaios geotécnicos, estudo de jazidas etc., atualizados, para o completo
entendimento do objeto por parte dos possíveis licitantes e que possibilite a elaboração das
propostas orçamentárias, com o nível de precisão exigido pela Lei nº 8.666/1993;
II. determinar à Infraero que, ao licitar novamente, avise e remeta ao TCU o(s) edital(is)
completo(s) do(s) certame(s) licitatório(s) referente(s) às Obras de Ampliação, Reforma e
Modernização do Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP, imediatamente após sua
publicação, acompanhados do Orçamento Básico e das Composições de Preços Unitários que o
fundamentarem e da respectiva minuta do contrato.
III. sejam ouvidos em audiência o Sr. Sérgio Maurício Brito Gaudenzi, Presidente da
Infraero, e o Sr. Severino Pereira de Rezende Filho, Diretor de Engenharia da Infraero, para
que apresentem razões de justificativa quanto à:
a) publicação de edital de licitação para contratação de obra, sem que exista projeto
básico concluído e passível de aprovação por autoridade competente nos termos do exigido no
artigo 6º, inciso IX, alíneas ‘a’ a ‘f’ c/c artigo 7º, caput, inciso I, §§ 1º e 2º, incisos I e II, da Lei
nº 8.666/1993, conforme achados 3.1, 3.2 e 3.3 do relatório de auditoria;
b) utilização em edital de orçamento contendo preços unitários excessivos em relação aos
sistemas referenciais definidos por lei e jurisprudência deste Tribunal, conforme descrito no
achado 3.4 do relatório de auditoria;
c) publicação de edital contendo cronograma de desembolso (físico-financeiro)
incompatível com a execução física dos serviços, conforme descrito no achado 3.5 do relatório
de auditoria;
d) publicação de edital contendo cláusulas restritivas à competitividade, em decorrência
de exigências excessivas para qualificação técnico-operacional, conforme descrito no achado
3.6 do relatório de auditoria;

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

e) publicação de edital contendo critério de aceitabilidade de preço unitário inadequado,


conforme descrito no achado 3.7 do relatório de auditoria;
f) utilização em edital de minuta de contrato prevendo cláusulas que podem prejudicar a
supremacia do interesse público, conforme descrito no achado 3.9 do relatório de auditoria;
g) reincidência de descumprimento de determinação deste Tribunal, em especial os
Acórdãos nºs 2.302/2005 e 2.350/2007, ambos do Plenário desta Corte, que tratam
especificamente das obras do aeroporto objeto do presente trabalho.
IV. dar ciência desta Deliberação, bem como do Relatório e do Voto que a precedem, à
Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional,
informando-a que a revogação do Edital nº 008/DALC/SBGR/2008 permite a sua exclusão do
rol das fiscalizações classificadas como IG-P informadas por meio do Acórdão nº 2.140/2008-
TCU-Plenário.
V. autorizar a Secob a proceder às alterações necessárias no sistema Fiscobras, em face
da revogação do Edital nº 008/DALC/SBGR/2008.
VI. determinar à Secob que, nas audiências promovidas ao Diretor de Engenharia e ao
Presidente da Infraero:
a) solicite a indicação dos demais responsáveis pela elaboração de pareceres, orçamentos,
atestações, aprovações de edital, de projeto e outros documentos técnicos ou qualquer ato
administrativo que tenha dado causa às irregularidades descritas no presente trabalho de forma
a alterar a autoria ou acrescer responsável solidário, informando que, caso não seja feita tal
indicação, os sujeitos das audiências serão considerados os únicos responsáveis;
b) envie cópia do presente relatório aos responsáveis.”
É o relatório.

VOTO

Trata-se de relatório de levantamento de auditoria realizado no objeto do Programa de


Trabalho (PT) 26.781.0631.1M31.0035 – obras de construção de terminal de passageiros, de pátio de
aeronaves e de acesso viário no Aeroporto de Guarulhos, no Estado de São Paulo –, no âmbito do
Fiscalis Execução 2008.
2. O exame concentrou-se nos objetos das Concorrências nºs 8/DALC/SBGR/2008 e
9/DALC/SBGR/2008, que trataram, respectivamente, da contratação das obras e serviços de
engenharia para construção do pátio de aeronaves e terraplenagem do Terminal de Passageiros (TPS)
nº 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos e da contratação dos serviços técnicos especializados de
engenharia para elaboração dos projetos executivos das obras do pátio de aeronaves, de terraplenagem
do TPS-3 e demais projetos e obras complementares do aeroporto.
3. A equipe de fiscalização apontou diversas falhas relacionadas ao projeto básico, por
contrariar o disposto nos arts. 6º, inciso IX, alíneas “a” a “f”, e 7º, caput, e §§ 1º e 2º, incisos I e II, da
Lei nº 8.666/1993. De maneira sintética, passo a descrever os indícios de irregularidades apontados nos
autos:
3.1. inexistência de projeto básico aprovado: a concorrência nº 9/2008 teria englobado,
além dos serviços referenciados acima, a contratação de serviços técnicos para atualização dos projetos
básicos do TPS-3 e do pátio de estacionamento de aeronaves desse terminal, entre outros; todavia, a
Infraero teria lançado concomitantemente edital com vistas à contratação dos serviços de engenharia
para a construção do TPS-3 e do pátio de aeronaves, em dissonância com o previsto em lei;
3.2. projeto básico da concorrência nº 8/2008 desatualizado e incompleto, em razão dos
seguintes achados:

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

a) existência de poucas plantas – dado obtido por comparação com a obra do Aeroporto de
Florianópolis/SC (TC-007.178/2008-6) –; e de essas terem sido elaboradas há mais de 20 anos;
b) ausência de estudos de viabilidade técnica-econômica e memória de cálculo que
pudessem servir de suporte às soluções adotados no projeto, com possibilidade de que tais omissões
viessem a gerar reformulações contratuais indevidas na fase de execução da obra;
3.3. ausência de peças técnicas essenciais para a definição do objeto, v.g. laudos de
sondagens, ensaios sobre solos, memória de cálculo dos volumes de terraplanagem, embasamento
técnicos para as distâncias de transporte local, perfis longitudinais etc., com reflexos negativos na
definição dos quantitativos dos serviços e, conseqüentemente, na confiabilidade inerente ao custo da
obra;
3.4. orçamento de referência com sobrepreço de aproximadamente 70%, cálculo baseado
em amostra representativa de 57% do total da planilha;
3.5. cronograma de desembolso financeiro incompatível com a execução física dos
serviços, fato constatado pela concentração de pagamentos nos primeiros cinco meses da obra;
3.6. restrição à competitividade por exigência de atestados de execução de pavimentos em
aeroportos;
3.7. inadequação do critério de aceitabilidade de preços unitários, em desacordo com o art.
115 da Lei nº 11.514/2007; e
3.8 descumprimento de deliberações do TCU.
4. De início, cumpre ressaltar que a primeira iniciativa da Infraero visando à contratação das
obras de construção do TPS-3 no aeroporto de Guarulhos/SP materializou-se com a publicação do
edital de Concorrência nº 11/DAAG/SBGR/2003.
5. Referido instrumento foi inicialmente fiscalizado pelo Tribunal em 2005, no âmbito do TC-
020.614/2005-7 – processo de representação oriunda da equipe de auditoria da Secex/SP –,
posteriormente convertido em acompanhamento, em razão da prolação do Acórdão nº 2.302/2005-
Plenário.
6. Em seguida, o Tribunal exarou o Acórdão nº 1.616/2006-Plenário, já em sede de
acompanhamento das determinações emanadas do Acórdão nº 2.302/2005-TCU-Plenário,
especificamente no que se refere ao edital de licitação das obras de construção do TPS-3. Tal decisum
conteve determinações à Infraero para que adotasse medidas visando à adequação dos preços unitários
definidos na licitação aos parâmetros de mercado, como resultado de tratativas realizadas entre
técnicos da Infraero e a Secob.
7. As ações de fiscalização continuaram em andamento no TC-007.137/2006-7, que versou
sobre relatório de levantamento de auditoria realizado no Fiscobras 2006, tendo resultado no Acórdão
nº 2.350/2007-Plenário, na sessão de 7/11/2007. Por meio dessa deliberação, foi determinado à
Infraero que revogasse a Concorrência nº 11/DAAG/SBGR/2003, porque presentes diversas
irregularidades, dentre as quais destaco a ocorrência de sobrepreço em vários serviços constantes do
orçamento de referência e a inserção de cláusulas que restringiam o caráter competitivo do certame.
8. No caso em apreço, cumpre noticiar que a Infraero promoveu a revogação da Concorrência
nº 8/DALC/SBGR/2008, destinada à construção do pátio de aeronaves e à execução dos serviços de
terraplanagem do TPS-3, consoante ato administrativo consubstanciado à fl. 101. Para tanto, foram
apresentados dois motivos, quais sejam: a necessidade de se promover “a revisão do orçamento, tanto
no aspecto concernente às quantidades quanto aos preços unitários, adequando-se a metodologia
indicada pelo Tribunal de Contas da União – TCU” e “a atualização/revisão dos projetos básicos”.
9. Em cumprimento ao despacho de fl. 93, a Secob procedeu à análise das razões oferecidas
pela Infraero em sede de manifestação preliminar aos achados de auditoria, tendo concluído que os
argumentos foram incapazes de por fim aos indícios de irregularidades apurados na fiscalização.
10. Não obstante se tratar de licitação revogada, não posso deixar de elogiar a iniciativa
daquela secretaria de efetuar exame minucioso sobre as falhas detectadas na auditoria, inclusive
adentrando a análise das composições de custo unitário apresentadas pela estatal em relação aos

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 007.545/2008-7

serviços da curva ABC, para fins de comprovação de sobrepreço no orçamento-base. Sem dúvida, esse
estudo servirá de paradigma no futuro, quando aquela unidade especializada for perscrutar os
elementos da nova licitação tendente à contratação das obras do Aeroporto de Guarulhos/SP.
11. Nesse contexto, de posse do histórico do controle exercido pelo Tribunal nos
procedimentos licitatórios anteriormente mencionados, enfatizo o empenho empreendido pelas
unidades técnicas desta Casa, principalmente pela Secob, no controle dos recursos federais em obras
de ampliação, revitalização, modernização ou construção de aeroportos em todo o país. Isso demonstra
a efetividade das ações de fiscalização quando tomadas previamente na fase de licitação, o que permite
identificar falhas graves antes de consumadas, bem como tornar possível a adoção de providências
corretivas e preventivas a fim de evitar a ocorrência de elevados prejuízos ao erário, tendo em vista a
significativa monta de recursos envolvidos
12. Ao tempo em que enalteço a atuação do Tribunal nessa área, é forçoso ter de informar a
este nobre colegiado que o resultado de mais um atraso na realização das obras de construção do TPS-
3 do Aeroporto de Guarulhos/SP decorreu exclusivamente de falhas de gestão verificadas no âmbito da
estatal, as quais tem se repetido com freqüência. Consoante descrito acima, os gestores da Infraero
reconheceram a necessidade de reavaliação do projeto básico, em termos de quantitativos e custos, em
face da fiscalização exercida por esta Corte, motivo pelo qual determinaram a revogação da
Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008.
13. Nesta feita, retornam à tona lamentáveis vícios de gestão, tendo como ponto fulcral a
ausência de planejamento de obras robusto e consistente, em desacordo com as diretivas estabelecidas
na Lei nº 8.666/1993 e na Lei nº 11.514/2007 (Lei de Diretrizes Orçamentárias para o exercício de
2008 – LDO/2008), cujas conseqüências se traduziram em projetos básicos incompletos e imprecisos,
com indícios de sobrepreço no orçamento de referência.
14. Essa indiligência da Infraero, centrada na condução de procedimentos licitatórios eivados
das irregularidades corriqueiramente apontadas pelo Tribunal, restou muito bem evidenciada no Voto
condutor do Acórdão nº 2.350/2007-Plenário, conforme se observa nos trechos transcritos no relatório
que antecede este voto.
15. De volta ao caso em foco, inadmissível que a própria Administração reconheça, ainda que
indiretamente, como legítima a superestimativa de quantitativos de serviços como forma de margem de
segurança para eventuais distorções. Nesse ponto, estou totalmente de acordo com a Secob. Em
hipótese alguma a insuficiência do projeto básico justifica a adoção de ato incompatível com os
princípios da legalidade – por absoluta falta de amparo na Lei de Licitações – e da eficiência.
16. É certo que não se exige da Administração a perfeita correspondência entre o planejamento
dos serviços e sua efetiva execução. Para isso o art. 65, inciso I, alínea “b”, da Lei nº 8.666/1993
estabelece mecanismos que lhe possibilitam compensar eventuais ajustes no contrato por conta da
necessidade de acréscimo ou diminuição quantitativa do objeto, desde que respeitados os limites
determinados no § 1º do referido dispositivo.
17. De maneira geral, a Infraero não logrou justificar a maior parte dos indícios de
irregularidades levantados pela Secob, embora, a meu ver, algumas suspeitas tenham sido parcialmente
esclarecidas, como é o caso da ausência de laudos de sondagens e da inexistência de projeto básico
aprovado – achado nº 3.1 do relatório de auditoria.
18. Sobre esse último ponto, data venia das considerações daquela unidade, a leitura de
trechos da especificação técnica integrante da Concorrência nº 9/DALC/SBGR/2008 não induz a outra
interpretação senão a de que a menção ao termo “atualização dos projetos básicos”, definido no objeto
da licitação, referiu-se às obras civis do TPS-3, entre outras, e não aos serviços de terraplanagem
incluídos no objeto da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008. Portanto, não me parece que o edital
dessa licitação tenha sido publicado sem a imprescindível correspondência do projeto básico.
19. Outro indício de irregularidade consignado no relatório referiu-se à inadequação do critério
de aceitabilidade de preços unitários constante dos subitens 6.7.2 e 6.7.3 do edital da Concorrência nº
8/DALC/SBGR/2008, a seguir transcritos:

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“6.7.2. o valor máximo que a INFRAERO admite pagar para a execução dos serviços
objeto desta licitação é o global estimado no subitem 6.7 [orçamento de referência]
devidamente corrigido na forma presente no subitem 6.7.1;
6.7.3. quanto aos preços unitários, a Comissão de Licitação efetuará análise individual
dos itens cotados nas propostas das licitantes;
6.7.3.1. caso se verifique na proposta a ocorrência de itens com preços superiores aos
unitários orçados pela INFRAERO, a licitante deverá apresentar, no Invólucro II, relatório
técnico circunstanciado justificando a composição e os preços dos serviços;
6.7.3.2. caso as justificativas apresentadas não sejam acatadas pela Comissão de
Licitação, os preços unitários da proposta da licitante serão adequados ao preço
correspondente do orçamento base elaborado pela INFRAERO, ajustando deste modo
também o valor global da proposta, sob pena de desclassificação da proposta;
6.7.3.3. caso a licitante não concorde com a adequação dos preços unitários, nos
termos do item 6.7.3.2, a proposta será desclassificada.” (grifei)
20. Entendeu a Secob que o relatório técnico circunstanciado a que faz alusão o § 1º do art.
115 da LDO/2008 vincula-se aos custos dos materiais e serviços adotados no orçamento-base da
licitação e, por isso, deve ser elaborado e aprovado pela Administração antes da fase de abertura das
propostas.
21. A título de elucidar a questão, cumpre reproduzir inicialmente o teor do aludido dispositivo
legal:
“Art. 115. Os custos unitários de materiais e serviços de obras executadas com recursos
dos orçamentos da União não poderão ser superiores à mediana daqueles constantes do Sistema
Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil - Sinapi, mantido pela Caixa
Econômica Federal, que deverá disponibilizar tais informações na internet.
§ 1º Somente em condições especiais, devidamente justificadas em relatório técnico
circunstanciado, aprovado pela autoridade competente, poderão os respectivos custos
ultrapassar o limite fixado no caput deste artigo, sem prejuízo da avaliação dos órgãos de
controle interno e externo.
(...)” (grifei)
22. Como se percebe, intencionou o legislador ordinário instituir como limite dos custos
unitários contratados aqueles obtidos pelo cálculo das medianas do Sistema Nacional de Pesquisa de
Custos e Índices da Construção Civil – Sinapi, que nesse caso se confundem com os custos diretos,
sobre os quais incidirão as despesas decorrentes de Bonificação e Despesas Indiretas (BDI),
intrínsecas, vale mencionar, às necessidades operacionais e de rentabilidade de cada licitante.
23. Quando a Administração, em atenção ao art. 40, inciso X, da Lei nº 8.666/1993, estabelece
como critério de aceitabilidade máximo os preços unitários definidos em seu orçamento de referência,
pressupõe-se estar igualmente garantindo que os custos unitários da proposta vencedora estejam
compatíveis com os padrões do Sinapi, senão estaria incorrendo em inobservância ao comando padrão
das LDOs, evidenciado na transcrição retro.
24. Buscando disciplinar a matéria, esta Corte, por meio do Acórdão nº 644/2007-Plenário,
determinou à Infraero que limitasse os preços constantes do orçamento básico à mediana do Sinapi, no
caso de serviços e edificações, ou aos preços do Sicro, em se tratando de serviços de pavimentação,
terraplanagem ou drenagem, salvo justificativa técnica fundamentada. Conquanto a deliberação tenha
se referido a “preços”, em vez de “custos”, tal atecnia não prejudica a efetividade da determinação,
cujo cumprimento deve-se dar em observância conjunta ao dispositivos das LDOs, que têm feito
menção expressa a “custos unitários”, conforme demonstrado anteriormente.
25. Posteriormente, com o advento do Acórdão nº 807/2008-Plenário, exarado no TC-
014.150/2007-7 – representação formulada pelo MP/TCU versando sobre a falta de referenciais de
preços unitários em obras aeroportuárias –, este Colegiado acolheu as sugestões feitas pela Secob
“para o aprimoramento da base de preços da INFRAERO”, dentre as quais transcrevo a que retomou o

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exato entendimento sobre a necessidade de a estatal estabelecer como limite em seus orçamentos as
composições de custo unitários dos sistemas de referência Sicro e Sinapi, in verbis:
“a) Para os serviços previstos nos aeroportos que sejam comuns aos existentes em obras
de edificações e rodoviárias, adotem-se prioritariamente as composições de custos unitários já
aferidas e validadas dos sistema referenciais correntes, SICRO e SINAPI (banco nacional de
composições), com eventuais ajustes devidamente motivados. Quando indisponíveis nessas
fontes, faz-se necessário juntar aos autos, ainda na fase interna da licitação, as justificativas e
memoriais de cálculo que demonstrem a adequabilidade técnica dos custos adotados;”(grifei)
26. No caso em apreço, o fato de se exigir que as justificativas para preços superiores aos do
orçamento da entidade sejam apresentadas pelos licitantes em relatório técnico não exime os gestores
públicos do dever constitucional e legal (art. 2º da Lei nº 9.784/1999) de motivar seus atos, de modo
que continua obrigatória, no processo administrativo, a devida formalização da exposição de motivos
por parte da autoridade competente. Deve ser esse o entendimento a ser extraído do § 1º do art. 115 da
LDO/2008. A meu ver, esse raciocínio esclarece o receio da unidade técnica de ver a atuação da
Administração consubstanciada no simples ato de referendar ou não as razões apresentadas pelos
licitantes, hipótese que permitiria por via inversa burla à exigência da lei, em razão de se transferir ao
particular, quando se trata de dever da Administração, o ônus de justificar a adoção de custos unitários
acima dos padrões de referência. Assim, deve-se alertar a Infraero a respeito dessa questão.
27. Na mesma direção caminhou a Lei nº 11.768/2008 (Lei de Diretrizes Orçamentárias para o
exercício de 2009 – LDO/2009), senão vejamos:
“Art. 109.  O custo global de obras e serviços executados com recursos dos orçamentos da
União será obtido a partir de custos unitários de insumos ou serviços iguais ou menores que a
mediana de seus correspondentes no Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da
Construção Civil (SINAPI), mantido e divulgado, na internet, pela Caixa Econômica Federal.
  § 1o  Nos casos em que o SINAPI não oferecer custos unitários de insumos ou serviços,
poderão ser adotados aqueles disponíveis em tabela de referência formalmente aprovada por
órgão ou entidade da administração pública federal, incorporando-se às composições de custos
dessas tabelas, sempre que possível, os custos de insumos constantes do SINAPI.
§ 2o  Somente em condições especiais, devidamente justificadas em relatório técnico
circunstanciado, elaborado por profissional habilitado e aprovado pela autoridade competente,
poderão os respectivos custos unitários exceder o limite fixado no caput deste artigo, sem
prejuízo da avaliação dos órgãos de controle interno e externo.
  § 3o  O órgão ou a entidade que aprovar tabela de custos unitários, nos termos do § 1 o
deste artigo, deverá divulgá-los pela internet e encaminhá-los à Caixa Econômica Federal.”
28. Observo que não houve nenhuma alteração substancial dessa redação para a anterior, sem
prejuízo de destacar a inclusão da exigência de ser o relatório técnico “elaborado por profissional
habilitado”, no § 2º, a qual não modifica o entendimento anteriormente expendido, bastando apenas
que a Administração reserve menção expressa a essa exigência no edital.
29. Sem embargo, o fato de a aludida previsão editalícia permitir que a Infraero desclassifique
proposta cujos preços unitários não estejam amoldados ao orçamento-base não lhe dá o direito de
adotar critérios subjetivos que resultem na desclassificação de determinado licitante, por vezes
detentor de proposta de preço mais vantajosa, em detrimento de outros que apresentem propostas com
valores globais menos atrativos. Sobretudo, cabe à Administração observância ao princípio do
julgamento objetivo, consignado nos arts. 44 e 45 da Lei nº 8.666/1993, sem se descurar da busca pela
proposta mais vantajosa.
30. Por essas razões, não vislumbro ilegalidade na cláusula editalícia em exame, tampouco
potencial de dano ao erário. Não se pode perder de vista que a Infraero, no subitem 6.7.3.3 do edital,
preocupou-se em inserir previsão de desclassificação de licitante que se manifeste contra a adequação
de seus preços unitários aos padrões de referência, em caso de rejeição das justificativas apresentadas,
nos moldes do subitem 6.7.3.1.

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31. Ademais, se devidamente atendidos os requisitos do § 1º do art. 115 da LDO/2008, ou


mesmo do § 2º do art. 109 da LDO/2009, dispõem tanto o controle interno quanto o externo de outros
mecanismos para evitar a consumação de “jogos de planilha”. Basta ver que, quando presentes
suspeitas da ocorrência de tal artifício, tem o Tribunal determinado aos órgãos e entidades sob sua
jurisdição que se abstenham de acrescer ao contrato quantitativos de serviços com sobrepreço, hipótese
em que devem ser adotados os preços unitários definidos nos sistemas de referência Sinapi e Sicro, ou
aqueles compostos por insumos ou serviços congêneres contidos na planilha contratual, de acordo com
o método do desconto, originado por ocasião do Acórdão nº 1.755/2004-Plenário.
32. Todavia, no intuito de harmonizar a intenção da Infraero com o dito artigo da LDO/2009,
entendo pertinente seja determinado a essa empresa pública que acrescente aos editais de licitação,
especificamente à cláusula padrão atinente aos critérios de aceitabilidade dos preços unitários, texto
versando sobre a exigência de que as eventuais justificativas apresentadas pelos licitantes sejam feitas
em duas partes, de modo a contemplar tanto o desbordamento dos custos unitários quanto o das taxas
de BDI propostas pelos licitantes em relação aos valores estabelecidos no orçamento-base.
33. No que diz respeito às suspeitas de sobrepreço no orçamento da Infraero, abstenho-me de
registrar posicionamento de mérito sobre os fundamentos lavrados pela Secob, por razões de
celeridade e economia processual, haja vista se tratar de licitação revogada e que, portanto, o novo
procedimento licitatório a ser lançado pela Infraero será outra vez objeto de avaliação pormenorizada a
cargo daquela secretaria. Não obstante, é digno de nota que os achados de auditoria tenham
demonstrado, mais uma vez, a falta de ações efetivas por parte da estatal com vistas a corrigir falhas de
planejamento e gestão relacionadas à formulação de seus orçamentos, cujos valores, na maioria dos
casos, têm se mostrado acima dos padrões de mercado.
34. Afora as considerações tecidas em linhas anteriores, coaduno-me com o parecer da unidade
especializada no que se refere ao endereçamento de determinações à Infraero, com exceção àquelas de
caráter semelhante às emanadas do Acórdão nº 644/2007-Plenário (subitens “d” e “e” do item I da
proposta da Secob). Em acréscimo, considero apropriado seja o presente processo convertido em
monitoramento, a fim de que a Secob verifique o cumprimento das determinações direcionadas àquela
estatal, quando da publicação dos editais dos certames licitatórios referentes às obras de ampliação,
reforma e modernização do Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP.
35. No contexto do encaminhamento alvitrado pela unidade especializada, deixo de acolher a
proposta de realização de audiências dos responsáveis. Como visto, as irregularidades levantadas na
fiscalização não se confirmaram, ante a revogação do procedimento licitatório pela Infraero, medida
sustadora dos efeitos do ato com eficácia ex-nunc. Assim, embora não tenha havido desconstituição
dos efeitos pretéritos surgidos entre as datas de publicação do edital e de revogação do ato, eles
atingiram apenas a esfera dos direitos subjetivos dos licitantes, não tendo gerado prejuízos ao erário.
Ademais, levar adiante tal proposta iria de encontro com os princípios da celeridade e economia
processual, considerando que em breve aquela unidade especializada deverá ser novamente demandada
para o controle prévio de edital futuro concernente às obras em tela.
36. Por fim, consigno, mais uma vez, os devidos encômios à equipe da Secob, pelo zelo e
profissionalismo com que se dedicou ao tema. Sem mais, aquiesço, com pequenos ajustes, às demais
proposições sugeridas por aquela unidade técnica especializada.
Ante as razões ora expendidas, VOTO no sentido de que seja adotado o Acórdão que ora
submeto à apreciação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 19 de novembro de
2008.

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AUGUSTO NARDES
Relator

ACÓRDÃO Nº 2617/2008 - TCU – Plenário

1. Processo nº TC-007.545/2008-7.
2. Grupo II; Classe de Assunto: V – Relatório de Levantamento de Auditoria.
3. Interessado: Congresso Nacional.
4. Entidade: Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária – Infraero.
5. Relator: Ministro Augusto Nardes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade técnica: Secretaria de Fiscalização de Obras e Patrimônio da União – Secob.
8. Advogado constituído nos autos: não há.

9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de relatório de levantamento de auditoria realizado no
objeto do Programa de Trabalho (PT) 26.781.0631.1M31.0035 – obras de construção de terminal de
passageiros, de pátio de aeronaves e de acesso viário no Aeroporto de Guarulhos, no Estado de São
Paulo –, no âmbito do Fiscalis Execução 2008,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, ante as
razões expostas pelo Relator, em:
9.1. com fundamento no art. 250, inciso II, do Regimento Interno do TCU, determinar à Infraero
que:
9.1.1. abstenha-se de superdimensionar quantitativos de serviços em fase de licitação, sob o
pretexto de conferir ao orçamento de referência margem de segurança para eventuais distorções,
consoante falha relatada neste processo, porquanto se trata de ato incompatível com os princípios da
legalidade e da eficiência, ensejador de determinação à entidade para que proceda à sua anulação, bem
como de aplicação de multa aos responsáveis que lhe deram causa;
9.1.2. preliminarmente à licitação de lotes de obras e serviços de engenharia:
9.1.2.1. inclua nos editais sob sua alçada todos os elementos necessários ao completo
conhecimento do objeto por parte dos licitantes, a fim de possibilitar a elaboração de propostas
orçamentárias com o nível de precisão exigido pela Lei nº 8.666/1993, tais como projetos disponíveis,
laudos de sondagem, relatórios de ensaios geotécnicos, estudo de jazidas etc., atualizados;
9.1.2.2. finalize o projeto completo de todo o empreendimento, suficiente para a programação de
sua execução total e para a previsão do seu custo atual e final, além da determinação do seu prazo, em
conformidade com o art. 8º da Lei nº 8.666/1993;
9.1.2.3. identifique cada peça técnica (plantas, orçamento-base, composições de custos unitários,
cronograma físico-financeiro etc.) por meio das Anotações de Responsabilidade Técnica (ART) dos
responsáveis por sua autoria, e também com a identificação dos últimos revisores, em conformidade
com a Resolução CONFEA nº 425 (arts. 1º e 2º) e com o § 5º do art. 109 da LDO/2009 (Lei nº 11.768,
de 14 de agosto de 2008);
9.1.2.4. proceda à atualização/revisão dos projetos de engenharia porventura existentes, caso
necessário;
9.1.2.5. atente para as disposições do art. 30 da Lei nº 8.666/1993 acerca dos requisitos de
qualificação técnica dos licitantes, abstendo-se de exigir atestados que restrinjam o caráter competitivo
do certame, conforme se observou na Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 com as exigências de
execução de serviços de pavimentação em aeroportos;

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9.1.2.6. para a perfeita harmonia de seus editais com as Leis de Diretrizes Orçamentárias (v.g.
art. 115 da LDO/2008 e art. 109 da LDO/2009), acrescente às cláusulas atinentes aos critérios de
aceitabilidade dos preços unitários texto versando sobre a exigência de que as eventuais justificativas
apresentadas pelos licitantes, em casos de propostas com preços unitários acima do orçamento de
referência, sejam feitas em duas partes, de modo a contemplar tanto o desbordamento dos custos
unitários (diretos) quanto o das taxas de Bonificação e Despesas Indiretas (BDI) em relação aos
respectivos valores estabelecidos no orçamento-base;
9.1.3. encaminhe a este Tribunal, diretamente à Secretaria de Fiscalização de Obras e Patrimônio
da União – Secob, o(s) edital(is) completo(s) do(s) certame(s) licitatório(s) referente(s) às Obras de
Ampliação, Reforma e Modernização do Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP, imediatamente
após sua publicação, acompanhados do orçamento de referência e das composições de preços unitários
que o fundamentarem, bem como da respectiva minuta do contrato;
9.2. alertar à Infraero de que as razões eventualmente apresentadas por algum licitante para
justificar propostas contendo preços unitários acima dos adotados no orçamento da licitação – em
atenção à minuta de cláusula apresentada neste processo (fl. 18 – anexo 3) – devem ser elaboradas e
assinadas por profissional devidamente habilitado, consoante § 2º do art. 109 da LDO/2009,
procedimento que não exime os gestores públicos do dever constitucional e legal (art. 2º da Lei nº
9.784/1999) de motivar seus atos, sendo obrigatória, no processo administrativo, a devida formalização
da exposição de motivos por parte da autoridade competente, no sentido de aceitar ou não as
justificativas apresentadas, sob pena de responsabilização;
9.3. converter o presente processo em monitoramento, a fim de que a Secob verifique o
cumprimento das determinações contidas no subitem 9.1, quando da publicação dos futuros editais de
licitação relativos ao empreendimento em foco, nos termos do subitem 9.1.3;
9.4. encaminhar cópia deste Acórdão, juntamente com o Relatório e Voto que o acompanham, ao
Ministro da Defesa e à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso
Nacional;
9.5. informar à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso
Nacional que a revogação da Concorrência nº 8/DALC/SBGR/2008 permite a sua exclusão do rol das
fiscalizações classificadas como IG-P – que ensejam a paralisação do empreendimento – por meio do
Acórdão nº 2.140/2008-Plenário.

10. Ata n° 49/2008 – Plenário.


11. Data da Sessão: 19/11/2008 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2617-49/08-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente), Marcos Vinicios Vilaça, Valmir
Campelo, Ubiratan Aguiar, Benjamin Zymler, Augusto Nardes (Relator), Aroldo Cedraz e Raimundo
Carreiro.
13.2. Auditor convocado: Augusto Sherman Cavalcanti.
13.3. Auditores presentes: Marcos Bemquerer Costa e André Luís de Carvalho.

WALTON ALENCAR RODRIGUES AUGUSTO NARDES


Presidente Relator

Fui presente:

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LUCAS ROCHA FURTADO


Procurador-Geral

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