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A Problemática do
Insucesso Escolar
Janeiro de 2022
Grupo:
ÍNDICE
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INTRODUÇÃO 1
2.1 ETIMOLOGIA DO CONCEITO DE INSUCESSO ESCOLAR 2
2.2 DEFINIR INSUCESSO ESCOLAR 3
2.3.1 INTERPRETAÇÃO CENTRADA NO ALUNO 6
2.3.2 INTERPRETAÇÃO CENTRADA NO PROFESSOR/ESCOLA 6
2.3.3 INTERPRETAÇÃO CENTRADA NA FAMÍLIA 7
2.3.4 INTERPRETAÇÃO CENTRADA NA SOCIEDADE 8
2.4.1 INDICADORES INTERNOS 8
2.4.2 INDICADORES EXTERNOS 9
2.5 COMPORTAMENTOS DOS ALUNOS COM INSUCESSO ESCOLAR 10
3. CAUSAS E TEORIAS DO INSUCESSO ESCOLAR 12
3.1 CAUSAS E FACTORES DO INSUCESSO ESCOLAR 12
3.1.2 FAMÍLIA 13
3.1.3 PROFESSOR 15
3.1.4 ESCOLA 16
3.1.5 CURRÍCULO 18
3.1.6 SISTEMA EDUCATIVO 19
3.1.7 SOCIEDADE 19
3.2 TEORIAS EXPLICATIVAS DO INSUCESSO 20
3.2.1 TEORIA DOS DONS 20
3.2.2 TEORIA DO HANDICAP SOCIOCULTURAL 21
3.1.3 TEORIA SOCIOINSTITUCIONAL 22
4. PREVENIR/COMBATER O INSUCESSO ESCOLAR 24
5. CONCLUSÃO 28
6. BIBLIOGRAFIA 29
INTRODUÇÃO
Atualmente, embora a educação se tenha assumido como um direito de todos os
cidadãos, não se efetivou como uma verdadeira “educação de massas” e
paradoxalmente ocorreu uma “massificação do ensino”, que fez expandir
quantitativamente o insucesso escolar.
De salientar, que esta problemática, considerada por alguns como intrínseca a um
ensino seletivo, legítima que se equacione se no insucesso escolar está em causa
apenas o aluno ou também a estrutura da instituição escolar.
Com a escolaridade obrigatória até ao 12.º ano, esta problemática não tem conseguido
efetivar o sucesso de todos os indivíduos em idade própria para a sua frequência, facto
que nos permite equacionar, se do lado da oferta existe uma rede insuficiente ou
inadequada e/ou se do lado da procura existem carências familiares e individuais de
natureza económica, psicológica, social ou outra, que inviabilizam o sucesso durante a
escolaridade obrigatória.
Falar do insucesso escolar é pôr em causa uma série de intervenientes que se
encontram na escola ou à sua volta, falamos, dos alunos, dos professores, do ambiente
que os rodeia, da instituição em si, falamos de toda a sociedade. A culpa do insucesso
é um fracasso de toda a comunidade escolar e não de uma classe em particular. O
sistema terá de ser capaz de motivar e promover o sucesso dos alunos.
Deste modo, o insucesso escolar, com todos os efeitos negativos que produz,
apresenta-se também como um instrumento de exclusão social, penalizando aqueles
que possuem uma qualificação insuficiente, através do seu afastamento do mundo do
trabalho e das profissões bem remuneradas, o que constitui, simultaneamente, uma
exclusão dos direitos sociais que lhe estão associados. A este propósito, Dubet (1996)
refere que “um jovem à deriva, mais do que um simples desempregado, é alguém que
se destrói a si próprio, já que o mundo em que vive se encontra (…) em processo de
desintegração.”
A escolha deste tema fundamenta a atualidade da problemática do insucesso escolar,
uma vez que todas as sociedades desenvolvidas se preocupam com a melhoria dos
níveis de instrução das suas populações e se empenham em implementar políticas que
visam o prolongamento da permanência dos indivíduos na escola, numa perspetiva de
1
sucesso escolar que pressupõe a aquisição dos saberes e competências mais
adequados para as realidades económicas e sociais do futuro.
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2. A PROBLEMÁTICA DO INSUCESSO ESCOLAR
Esta opinião é partilhada por Silva no seu estudo conjunto, onde a pesquisa do termo
fracasso se refere a desastre, ruína, perda, mau êxito, malogro; enquanto sucesso se
refere a bom êxito é resultado feliz. Segundo estes autores, estas definições conduzem
à depreensão de que é o aluno quem na sua trajetória escolar, obtém sucesso ou
fracassa, razão pela qual os termos sucesso e fracasso se referem tradicionalmente, ao
resultado positivo ou negativo obtido pelos alunos e que se expressa pela aprovação
ou reprovação no final do ano letivo.
Uma vez que em Portugal não existe uma unidade semântica na definição de insucesso
escolar, torna-se pertinente referir a análise semântica efetuada por Benavente, que a
partir de diversos estudos reuniu para esta designação vários termos, nomeadamente:
reprovações, atrasos, repetência, abandono, desperdício, desadaptação, desinteresse,
desmotivação, alienação e fracasso. Além destes termos, acrescentou também as
expressões: mau aproveitamento, mau rendimento, e mau rendimento escolar. Face a
estas terminologias, não podemos deixar de referir Rovira, quando este salienta que o
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termo insucesso escolar “parece aludir a um déficit pessoal que está muito longe de
ser a causa principal da maior parte do chamado fracasso escolar”.
Definir insucesso escolar apresenta-se complexo, visto que além deste conceito
encerrar uma multiplicidade de entendimentos, o seu estudo apresenta uma enorme
polissemia, notória nas tentativas efetuadas pelas diferentes áreas disciplinares para a
sua compreensão e definição.
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Segundo Alves (2010), o insucesso escolar consiste na “dificuldade de aprendizagem,
reprovações, atrasos, etc.” e, na maioria dos casos, "as crianças que têm mais
dificuldades pertencem a famílias de grupos sociais desfavorecidos do ponto de vista
económico e cultural”.
De acordo com Roazzi & Almeida (1988, p. 53-55), o insucesso “…traduz geralmente
para os professores a falta de bases, de motivação ou de capacidades dos alunos ou,
ainda, o disfuncionamento das estruturas educativas, familiares e sociais.
Para Alves (2010), nota-se uma nova perspetiva na sua definição do conceito: "a
questão do insucesso escolar pressupõe a coexistência de inúmeros fatores que
incluem as políticas educativas, as questões de aprendizagem, os conteúdos e mesmo
a relação pedagógica que se estabelece.”
Segundo Cortesão e Torres (1981), é fácil dizer que os alunos não estudam, que vêm
mal preparados ou que não se interessam. Por seu turno, uma vez que ninguém
assume a culpa, o discurso mais comum é o do professor universitário que culpa o do
secundário, enquanto este culpa os dos níveis anteriores. Assim, os professores do
primeiro ciclo culpam os programas, as novas metodologias, a falta de inteligência dos
alunos, ou atribuem a culpa aos pais que definem como “pouco cultos”.
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consideração o que é realmente importante e debruçarmos-mos sobre as razões do
insucesso no sentido de que no futuro consigamos formas que nos ajudem a minimizar
cada vez mais as taxas de insucesso existentes.
Falar do Insucesso escolar é pôr em causa não apenas o aluno, mas professores, pais, o
ambiente que rodeia o aluno e a instituição em si, os responsáveis pela educação
nacional, e enfim toda a sociedade. Daí a complexidade do problema não poder ser
interpretado parcialmente, mas sim de uma forma holística (todo), considerando todos
os fatores pessoais, interpessoais e institucionais, embora conforme as circunstâncias,
alguns possam ser predominantes. (Abreu et al., 1988).
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2.3.1 INTERPRETAÇÃO CENTRADA NO ALUNO
O aluno é o centro do sistema escolar, tudo deve estar em função dele e não dos
professores. Este não é uma abstração, mas uma pessoa concreta, com o seu código
genético e hereditário, o seu meio físico e social, sua família e mais em particular o
ambiente em geral da escola, turma, professor e colegas etc.
Isto significa que ele é uma entidade em si, única e personalizada, mas também
intimamente ligada dependente do micro, meso e macro sistema.
Ele não é apenas uma “vítima” do sistema, um “coitadinho”, mas deve ser o primeiro
responsável pelo insucesso, salvo em casos extremos do ponto de vista psíquico.
Embora se deva considerar sempre o fator idade, supondo-se que à medida que vai
crescendo, vai assumindo maiores responsabilidades, sempre em interação com a
família e a escola. Sendo assim tanto é injusto culpar unicamente o aluno como é
antipedagógico de culpabilizá-lo quase totalmente como acontece atualmente.
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O aumento do número de horas de ensino não melhora necessariamente a
aprendizagem de determinada disciplina. Quanto ao professor, é incontestável a sua
importância decisiva, dependendo não apenas daquilo que sabe (competência
científica) e sabe ensinar (formação pedagógica e didática, mas ainda do que saber ser
(atitudes e valores).
Por outras palavras, o professor vale mais por aquilo que é do que por aquilo que faz.
O clima afetivo da aula é sumamente importante para a motivação e aprendizagem
dos alunos e é criado em grande parte pelo docente. Outro aspeto importante é a sua
capacidade de controle da ordem ou da disciplina, sem a qual é difícil um clima
propício para a aprendizagem.
Estas mútuas relações a nível consciente e inconsciente, são muito importantes para o
desenvolvimento do rendimento da criança do que o seu estatuto sociocultural,
embora este influencie em grande parte a qualidade afetiva da família.
Resumindo algumas variáveis familiares com influência no sucesso escolar dos filhos:
expectativas dos pais quanto ao futuro intelectual dos filhos (nível de aspiração),
interesse (participação) nos seus trabalhos escolares, contacto com a escola e os
professores, ambiente afetivo familiar (harmonia ou desarmonia), estilos educativos
parentais, presença ou ausência dos pais no lar, número de filhos, saúde física ou
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mental do casal, nível sócio económico e cultural (profissão dos pais, famílias mais ou
menos “anormais”).
Segundo este mesmo autor podemos dividir os indicadores em dois tipos, conforme se
localizem intrinsecamente ou extrinsecamente em relação ao aluno.
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● Os resultados dos exames: se a tendência é a de reduzir a frequência de
exames dentro da escolaridade obrigatória, nalguns países é o exame que
permite a obtenção de um diploma e/ou o prosseguimento de estudos;
● Distribuição dos alunos por diversas vias: que tem por base as diferenças de
nível entre os alunos;
● O atraso escolar: correlação entre a idade do aluno e o ano de estudo que
frequenta;
● O absentismo: quando resultante do desagrado pela escola;
● O abandono: que frequentemente traduz a rejeição da escola por parte de
quem se sente excluída por ela;
● O sentimento pessoal: a autoimagem de insucesso que o quotidiano escolar vai
ajudando a construir e que muitas vezes precede qualquer dos indicadores
antes referidos.
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● A delinquência, o abuso de drogas. São indicadores que nos conduzem à
tomada de medidas no sentido de permitir o desenvolvimento de escolaridade
obrigatória num clima de serenidade.
Para além destes indicadores existem, como já referimos, outros de outro tipo.
Referimo-nos a alguns sintomas e comportamentos que são indicadores da existência
do problema que é o insucesso escolar.
Por outro lado, existem os indicadores negativos, que são aqueles que são
permanentes, quando para encobrir o seu fraco rendimento escolar, o aluno não
expressa sofrimento e desgosto, procura justificações e desculpas, geralmente não
adequadas à realidade. Parece não ter consciência das suas dificuldades, não saber
que atividades, trabalhos e tarefas têm que realizar. Não procura ajuda e soluções, e
quando elas existem, não as aceita, reagindo negativamente a elas. Para concluir não
se notam indícios de melhoria, pelo contrário, enfrenta-se uma situação permanente
com ligeiras variações.
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c) Irritabilidade: pouco controle interior, impulsividade, birras.
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3. CAUSAS E TEORIAS DO INSUCESSO ESCOLAR
É certo que o insucesso escolar não é uma desgraça e que as crianças não estão
destinadas a ser boas ou más alunas, tudo depende da conjugação dos vários fatores:
característica da própria criança, funcionamento da escola e da sua interação com o
meio social. Portanto, é na relação entre estas realidades que deveremos procurar e
clarificar os fatores de insucesso e as suas causas explicativas (Sil, 2004). Existem várias
pesquisas feitas na tentativa de explicar as causas do insucesso escolar.
Quando procuramos “culpados” para o insucesso dos alunos por norma segundo
podemos analisar sobre diferentes prismas: ao nível do aluno, dos programas ou do
professor Roazzi & Almeida (1998).
De acordo com estudos realizados por vários autores, as causas do insucesso escolar
são múltiplas e por vezes contraditórias, mas quase todas se relacionam com fatores
ligados ao próprio aluno, ao nível socioeconómico e cultural da sua família, à escola
enquanto instituição e aos elementos que nela trabalham, designadamente o
professor.
Carlos Fontes (s.d.), apresenta algumas causas arrumadas em função dos seus agentes.
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3.1.1 ALUNO
Falta de vocação. Uma das causas mais frequentes para o desinteresse,
desmotivação e indisciplina dos alunos está nas opções de um dado curso.
Quando confrontados com o manifesto insucesso escolar no mesmo, muitos
são os que insistem em prosseguir na mesma área vocacional pelos mais
variados motivos (amigos, fuga a disciplinas consideradas difíceis, etc.).
Atrasos do desenvolvimento cognitivo. As escalas psicométricas de inteligência
têm sido apontadas como um bom indicador para identificar essas causas
individuais de insucesso escolar. O problema é que a grande maioria dos alunos
que falham nos resultados escolares, têm um desenvolvimento normal. Há que
não abusar desta explicação.
A instabilidade característica na adolescência, consta entre as muitas causas
individuais do insucesso. Esta conduz muitas vezes o aluno a rejeitar a escola, a
desinvestir no estudo das matérias, e frequentemente à indisciplina.
Estilos de vida. Dificuldade em compatibilizar as exigências escolares, com as
mais diversas solicitações (saídas noturnas frequentes, jogos de computador
absorventes, desportos, etc), provocando hábitos pouco regrados de vida. O
aluno passa a encarar as atividades escolares como pouco estimulantes,
trabalhosas e rotineiras.
3.1.2 FAMÍLIA
Pais autoritários, conflitos familiares, divórcios litigiosos, fazem parte de um
extenso rol de causas que podem levar a que o aluno se sinta rejeitado, e
comece a desinteressar-se pelo seu percurso escolar, adotando um
comportamento indisciplinado.
O ciúme e a vingança dos pais contribuem também para fazer estragos nos
resultados escolares dos alunos. Muitas vezes com medo que os filhos lhes
deixem de manifestar afeto, trocando-os pela escola ou os professores, adotam
atitudes que contribuem para os afastar dos estudos. Outras vezes, fazem-no
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para se vingarem de não lhes terem sido proporcionado também na infância as
mesmas oportunidades.
A origem social dos alunos tem sido a causa mais usada para justificar os piores
resultados, sobretudo quando são obtidos por alunos originários de famílias de
baixos recursos económicos, onde aliás se encontra a maior percentagem de
insucessos escolares. Os sociólogos construíram a partir desta relação causa-
efeito uma verdadeira panóplia determinante social que permitem explicar
quase tudo:
a) Nas famílias desfavorecidas, por exemplo, os pais tendem a ser mais
autoritários, desenvolvendo nos filhos normas rígidas de obediência
sem discussão. Ora, quando estes chegam à adolescência revelam-
se pior preparados para enfrentarem as crises de identidade-
identificação, na afirmação da sua independência. A sua
instabilidade emocional torna-se mais profunda, traduzindo a
ausência de modelos e valores estáveis, levando-os a desinvestir na
escola;
b) Os alunos oriundos destas famílias raramente são motivados pelos
pais para prosseguirem os seus estudos; pelo contrário, ao mais
pequeno insucesso, estes colocam logo a questão da saída da
escola, o que explica as mais elevadas taxas de abandono por parte
destes alunos;
c) A linguagem que estes alunos são obrigados a utilizar nos níveis
mais elevados de ensino, sendo cada vez mais afastada da que
utilizavam no seu meio familiar, aumenta-lhes progressivamente as
suas dificuldades de compreensão e integração, levando-os a
desinteressarem-se pela escola. Para prosseguirem nos estudos são
obrigados a renunciarem à linguagem utilizada no seio familiar;
d) Os valores culturais destas famílias são, segundo alguns sociólogos,
opostos aos que a escola propõe e supõe (mérito individual, espírito
de competição, etc). Perante este confronto de valores, os alunos
que são oriundos destas famílias estão por isso pior preparados para
os partilharem. O resultado é não se identificarem com a escola.
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Nesta linha de ideias, Holligshead (s.d.), afirmou que os mais
desfavorecidos se norteiam por objetivos a curto prazo (o presente),
o que estaria em contradição com os objetivos visados pela
educação (a longo prazo). Esta diferença de objetivos (e valores)
acaba por os conduzir a um menor investimento escolar.
A demissão dos pais da educação dos filhos, é hoje uma das causas mais
referidas. Envolvidos por inúmeras solicitações quotidianas, muitas vezes nem
tempo tem para si próprios, quanto mais para se dedicarem à educação dos
filhos. Quando se dirigem às mesmas, raramente é para colaborarem, quase
colocam-se na atitude de meros compradores de serviços, exigindo eficiência e
poucos incómodos na sua prestação.
3.1.3 PROFESSOR
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A avaliação, conforme demonstram inúmeros estudos, nunca é absoluta, pelo
contrário varia em função de uma multiplicidade de fatores. As modas
pedagógicas, o contexto escolar, os métodos de avaliação, as disciplinas, os
professores, os critérios utilizados, o modo como estes são interpretados, etc.
Em resumo: a avaliação dá também um forte contributo para o insucesso
escolar.
A dificuldade dos professores em lidarem com fenómenos de transferência,
conduz por vezes a situações com graves reflexos no aproveitamento dos
alunos. O docente ao ser identificado com o pai (mãe) que o aluno se deseja
afastar, torna-se no alvo contra o qual o aluno dirige toda a sua agressividade,
gerando deste modo permanentes conflitos na sala de aula, conduzindo-o ao
insucesso.
3.1.4 ESCOLA
A organização escolar pode contribuir de diferentes formas para o insucesso dos
alunos.
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No início apenas se diferenciou as culturas das escolas urbanas(antigas) e das
suburbanas (recentes). Concluiu-se então que nas primeiras a questão da disciplina
sobrepunha-se à preocupação com os resultados. As relações professor-aluno eram
marcadas pela dureza, formalismo, etc. Nas segundas, talvez porque as instalações são
mais recentes, e o corpo docente mais novo, respirava-se um certo ar de
descontração, o que conduzia a que os resultados escolares fossem postos em
primeiro lugar face aos problemas disciplinares.
A partir deste modelo, começaram a ser construídos outros, entendidos como mais
adequados para explicarem a diversidade das realidades escolares. Hoje temos
modelos para todas as perspetivas ideológicas. Centrado nas escolas portuguesas, Rui
Gomes, identificou, por exemplo, quatro grandes modelos culturais:
a) Na escola cívica, onde tudo está subordinado aos diplomas oficiais, não há lugar
para as diferenças individuais, muito menos para a inovação pedagógica, o que
conta são os regulamentos, as ordens dimanadas do Estado. Nesta escola, os
que podem ter êxito são os mais obedientes, dóceis, ou seja, os que
continuamente se anulam a si mesmos, na sua individualidade e nas suas
aspirações.
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de uma imagem de marca ("fachada"), onde tudo é feito em função deste
objetivo mobilizador. Os resultados concretos do ensino são claramente
subalternizados, por um discurso retórico de auto-satisfação .
Em todas as culturas, uns são beneficiados, outros são conduzidos para o fracasso .
3.1.5 CURRÍCULO
● Desfasamentos no currículo escolar dos alunos. Os alunos ingressam em novos
ciclos, sem que possuam os pré-requisitos necessários. Não há documento
sobre a avaliação curricular que não tenha uma referência crítica a esta
questão.
● Desarticulação dos programas. Esta situação faz, por exemplo, com que os
alunos repitam os mesmos conteúdos, de modo diverso e incoerente ao longo
dos anos e das disciplinas, levando-os a desinteressarem-se pelas matérias, e a
sentirem-se confusos. O rosário de queixas é conhecido.
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necessidades do mercado de trabalho. O resultado final acaba por ser o seguinte:
ainda que o aluno tenha tido êxito no seu percurso escolar, por desajustamento de
competências está depois voltado ao fracasso, na sua transição para a vida ativa.
3.1.7 SOCIEDADE
Ninguém tem dúvidas em concordar que a atual sociedade assenta num conjunto de
valores que desencorajam o estudo e promovem o insucesso escolar. Diversão,
individualismo e consumismo, três valores essenciais na sociedade atual, são em tudo
opostos ao que a escola significa: atitudes refletidas, procura incessante do saber e de
valores perenes, etc.
Como refere Benavente (1989), citada pelo Ministério da Educação (1995, p. 7), “o
sucesso/insucesso é explicado pelas maiores ou menores capacidades dos alunos, pela
sua inteligência, pelos seus dotes naturais”.
O insucesso dos alunos é responsável pelos seus genes e não a qualquer outro fator
como o contexto, o conteúdo ou a qualquer metodologia de ensino.
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Além do fator inteligência são referidos outros fatores referentes ao aluno e que
poderão influenciar o seu desempenho escolar. A preguiça em resposta à
responsabilidade do cumprimento de tarefas e consequente desmotivação pelo
trabalho perante o embaraço em ultrapassar as dificuldades.
Outro fator que pode potencializar o insucesso refere-se às relações pessoais que o
aluno estabelece com a restante comunidade escolar. Se não existir empatia entre
todos estes agentes, nomeadamente entre alunos, entre aluno e professor e entre
aluno e restantes agentes escolares, torna-se mais difícil o aluno atingir o desejado
sucesso escolar.
Para Pereira e Martins (1987), nesta análise explicativa do insucesso escolar, a criança
entraria num ciclo de repetências na escola devido ao seu nível intelectual não ser
compatível com a escolaridade normal, isto é, as dificuldades escolares estavam em
grande parte associadas a dificuldades cognitivas das crianças. Esta ideia surge da
constatação de que o Q.I. médio é nas classes mais baixas inferior ao Q.I. médio das
classes consideradas média e alta. Esta teoria explicativa justifica a razão por que as
classes trabalhadoras não atingem percentagens altas de frequência no ensino
superior, já que um nível de inteligência baixo é um obstáculo ao acesso a este nível de
ensino.
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competências/conhecimentos que lhes possibilite ou condicione o sucesso escolar e
profissional. Para o autor, a linguagem é, e sempre foi, indispensável para a criança
aceder à comunicação, sendo um processo privilegiado de enriquecimento de
experiências que influenciam a aprendizagem. E é devido à existência de obstáculos,
tais como: um espaço físico pouco desenvolvido e uma pobre herança social e cultural
da criança, que estas não irão desenvolver uma linguagem compatível com a que é
promovida na escola e, consequentemente, todo um conjunto de experiências que
poderão levar ao sucesso escolar.
Esta teoria deixa de culpar apenas os filhos para culpar também os pais que, não tendo
meios para lhes assegurar condições favoráveis a uma educação adequada, os colocam
numa situação de desigualdade perante os colegas de um meio social mais favorecido.
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Pires & Formosinho (1991) enumera um conjunto de fatores que poderão estar na
base do insucesso escolar como o “tipo de cursos e currículos, estrutura e métodos de
avaliação, formas de agrupamentos de alunos”. A responsabilidade do insucesso
centra-se na escola. Alguns autores são apologistas de que o insucesso escolar poderá
ter origem no próprio sistema escolar, uma vez que segundo este mesmo autor “a
escola tende a valorizar os saberes acadêmicos em detrimento dos saberes que se
enquadram melhor com a realidade envolvente dos alunos”.
Numa visão geral das três teorias, pode-se dizer que inicialmente as origens do
insucesso escolar residiam apenas no aluno. Pela ausência de capacidades, ele não
transitava, não era aprovado, tinha de repetir para tentar uma nova oportunidade,
muitas vezes sem resultados positivos.
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4. PREVENIR/COMBATER O INSUCESSO ESCOLAR
Como já percebemos, é essencial que, na suspeita de que um aluno esteja a enveredar
por um caminho menos positivo no percurso escolar, isto é, um caminho que coloque
o seu sucesso escolar em risco, se identifique logo as possíveis causas que estão na
origem do problema e claro, pensar em alternativas para reverter a situação.
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Reduzir as ruturas entre os vários ciclos, quer desenvolvendo um tronco
comum, quer considerando cada ciclo um todo, diminuindo a frequência dos
momentos de seleção.
Utilizar novos equipamentos e métodos pedagógicos com recurso aos muitos
canais de difusão de conhecimentos, para estimular as aprendizagens e
desenvolver o potencial de cada aluno.
Recorrer a novos sistemas de avaliação adequados aos novos objetivos da
educação. Preferência marcada pelos sistemas que atendem prioritariamente à
aquisição de competências, permitindo implicar o aluno na sua avaliação e
respeitar o seu ritmo e estilo de aprendizagem.
Disponibilizar apoio ao jovem, no campo da orientação, tanto ao longo do
percurso escolar, como na escolha profissional, quando se verifica a passagem
para o mundo do trabalho.
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Este desempenha uma função considerada fundamental na redução do insucesso. A
teoria segundo a qual cabe ao professor um papel fundamental no combate ao
insucesso do aluno é defendida por todos os Estados-Membros da União Europeia.
Estes reconhecem que o êxito e a eficácia das medidas a serem postas em prática
dependem, em grande parte, da capacidade de envolvimento do professor. Daí, a
importância que assume a sua formação, quer inicial quer contínua, para uma
permanente adaptação das suas competências técnico-científicas em constante
mudança.
Neste sentido, aponta-se para a participação dos pais na gestão da escola, esta
participação está assegurada principalmente através do Conselho de Turma. Porém,
raramente encontramos as famílias associadas a trabalho de fundo capaz de afetar o
projeto de escola. Poderemos mesmo adiantar que o nível da sua participação
dependerá do grau de autonomia de que as escolas gozam” (Ministério da Educação,
s.d., p. 87).
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Em Conclusão, têm-se feito esforços para apoiar a família, integrá-la nos órgãos de
gestão e envolvê-las nas atividades escolares, porque “o conhecimento do modo como
se desenvolvem as aprendizagens na classe, auxílio no desenvolvimento do gosto das
crianças pela leitura, utilização de bibliotecas para pais, cooperação na procura de
soluções para as dificuldades dos filhos” (Ministério da Educação, 1992, p. 15) pode ser
essencial na ação contra o insucesso.
Em relação ao aluno:
Fonseca (1999, p. 532-534) diz que “para superar o insucesso é necessário começar
por algo que a criança possa aprender e não aguardar que, milagrosamente, a criança
aprenda sem possuir pré-aptidões e pré-requisitos”, de onde os alunos devem ter
experiências pedagógicas muito gratificantes e que se adaptem a ele.
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5. CONCLUSÃO
O insucesso escolar tem punido principalmente os alunos que são provenientes de
meios sociais, económicos e culturalmente desprotegidos, e embora se esteja perante
uma escola massificada, a escolha continua a não dar hipóteses similares de acesso e
de uso a todos.
Apesar dos esforços com o intuito de fomentar a igualdade no sucesso escolar,
sobretudo as igualdades formais e reais, os fatores de desigualdade têm permanecido.
Deste modo, os alunos, os professores e todos os participantes no sistema educativo,
nomeadamente os estabelecimentos educativos, e mesmo as consecutivas políticas
educativas, com tantos aspetos que lhes estão implícitos não têm conseguido reprimir
estes fenómenos.
Acreditamos que se deve investir em todos os agentes educativos, a começar pelos
próprios alunos, que são o centro de convergência de todas as forças, prosseguindo
pelos professores, que devem acreditar até ao fim nas suas potencialidades, mesmo
em condições adversas, continuando pela família que tem um papel determinante na
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realização escolar dos filhos, e ainda pelo meio ambiente onde a escola e a família se
inserem.
Assim, a sofisticação e correlação dos fenômenos não se comove com qualquer
descomplicação elucidativa, visto que cada um dos fatores tem a sua parcela de efeito
no insucesso do aluno.
Em suma, quando estamos perante o insucesso escolar, o aluno manifesta
comportamentos específicos devido à situação pela qual está a passar. Estes
comportamentos podem ser identificados tanto pelos pais como pelos educadores e
professores. Nestes comportamentos temos presentes o desassossego, pouca
tolerância à frustração, rebeldia, distúrbios somáticos, comportamento esquizoide,
comportamento delinquente e autismo. Porém, o insucesso escolar tem uma
abordagem multidimensional, uma vez que envolve vários fatores que podem ser
pessoais, socioeconómicos, políticos, escolares ou familiares. Fatores esses cuja origem
pode ser intrínseca ou extrínseca à própria criança/aluno. Deste modo, é fundamental
perceber os comportamentos dos alunos e consequentemente a origem das
dificuldades dos alunos.
6. BIBLIOGRAFIA
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Aveiro, Portugal.
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Mestrado apresentada na Escola Superior de Educação João de Deus, Lisboa, Portugal.
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BENAVENTE, Ana, et al., Do Outro Lado da Escola, 3ª ed., Col. Terra Nostra, Editorial Teorema,
Lisboa, 1991.
30
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BENAVENTE, Ana, et al., Renunciar à Escola - O Abandono Escolar no Ensino Básico, Fim De
Século Edições, Lisboa, 1994.
CORTESÃO, Luísa; TORRES, Maria Arminda, Avaliação Pedagógica I - Insucesso Escolar, 4ª ed.,
Col. Ser Professor, Porto Editora, Porto, 1990.
COSTA, J.A. ; MELO, A. S., Dicionário de Língua Portuguesa, 6ª ed., Porto Editora, Porto, 1989.
31
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escolar perde importância. Insucesso escolar ainda problema. Disponível em
http://www.minedu.pt/Scripts/ASP/destaque/recenseamento03.asp.
ROAZZI, A., e ALMEIDA, L.S. (1988) Insucesso Escolar: Insucesso do Aluno ou insucesso do
sistema escolar? In Revista Portuguesa de Educação,1 (2),53-60.
32