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617
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO
12ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro
ACPCiv 0100032-56.2022.5.01.0012
RECLAMANTE: SINDICATO NACIONAL DOS TRABALHADORES DE PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO AGROPECUARIO
RECLAMADO: EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA

Vistos etc. 

Trata-se de Ação Civil Pública movida pelo SINDICATO NACIONAL DOS


TRABALHADORES DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO – SEÇÃO
SINDICAL DA EMBRAPA AGROINDUSTRIA DE ALIMENTOS em face da EMPRESA
BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA EMBRAPA - UNIDADE EMBRAPA
AGROINDUSTRIA DE ALIMENTOS, com requerimento de concessão de TUTELA DE URGÊNCIA
inaudita altera pars nos seguintes termos:

"B.1) LIMINARMENTE REQUER seja determinada a suspensão das atividades


presenciais por um período de até 6 semanas, podendo ser estendido até o limite de 30/06/2022 conforme
prevê o normativo interno da Reclamada caso a gravidade do sistema de saúde assim exigir, deferindo-se
para tanto a adoção de medida de caráter excepcional e temporário consistente na retomado do trabalho em
regime de escala de revezamento e, ou, em teletrabalho para os membros das equipes sob sua liderança,
respeitando-se as determinações estabelecidas no item 9.6.7.a da Deliberação nº 01 de 10/01/2022, sob
pena de multa diária de R$ 1.000,00 p/empregado e sob as cominações do crimede desobediência e
desacato.

B.2) SUCESSIVAMENTE, REQUER que os substituídos que apresentem as


condições ou fatores de risco descritos no art. 7º, inciso I, II e III da INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 109,
sejam mantidos em regime de teletrabalho ou de acordo com a atividade, em escala de revezamento,
conforme disposição contida no normativo interno da reclamada - DELIBERAÇÃO Nº 14, DE 15 DE
JUNHO DE 2021 pelo prazo delimitado na Deliberação nº 01 de 10 de janeiro de 2022, ou seja, por um
período de até 6 semanas, podendo ser estendido até o limite de 30/06/2022 caso a gravidade do sistema de
saúde assim exigir, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 p/cada empregado e sob as cominações do
crime de desobediência e desacato.

B.3) SUCESSIVAMENTE, acaso o Juízo entenda que a questão do retorno ao


trabalho se insere no poder diretivo da empresa, o autor pugna:

B.3.1) seja determinado o fornecimento de frascos de álcool em gel (70%),


máscaras PFF2 ou KN95 e luvas, exclusivo para cada funcionário, sob pena de ser inexigível a execução do
serviço até que seja disponibilizada a proteção adequada, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 por cada
empregado e sob as cominações do crime de desobediência e desacato.

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B.3.2) Observar a presença dos funcionários no limite máximo de 30% da


capacidade física de cada setor, bem como a distância de um metro, nos termos da INSTRUÇÃO
NORMATIVA SGP/SEDGG/ME Nº 37, DE 25 DE MARÇO DE 2021, sob pena de ser inexigível a execução
do serviço até que seja disponibilizada a proteção adequada, sob pena de multa diária de R$1.000,00
p/empregado e sob as cominações do crime de desobediência e desacato".

O sindicato autor alega que, em razão do atual cenário da pandemia da COVID-


19, com o surgimento de uma nova variante do vírus SARS-COV-2 (ÔMICRON), a reclamada publicou a
Deliberação de nº 01 de 10 de janeiro de 2022, estabelecendo novas regras para o enfrentamento do aumento
abrupto de novos casos.

Aponta que, no item 9.6 da referida deliberação, constam os critérios que podem
ser adotados pela unidade da reclamada, ressaltando o estabelecido no item 9.6.7 com especificações
concedendo poderes à chefia de cada unidade para suspender a realização das atividades presenciais, sendo
possível adotar em caráter excepcional e temporário o regime de revezamento e/ou em teletrabalho, podendo
ainda flexibilizar os horários de entrada e saída para as atividades presenciais, e cujas medidas poderão ser
aplicadas até 30/06/2022.

Ressalta que, apesar de algumas unidades da reclamada estarem respeitando as


medidas de suspensão do trabalho presencial, a unidade ré entendeu por não adotar a medida excepcional e
temporária, mantendo incondicionalmente o trabalho presencial de todos os colaboradores, apesar de já haver
registros de um considerável número de contaminados. Afirma que a nova variante da COVID 19 apresenta
números assustadores no Estado do Rio de Janeiro, havendo inclusive declaração do Presidente da Sociedade
Brasileira de Infectologia, Dr Alberto Chebabo, que essa onda da Ômicron, por ser uma onda tão explosiva e
com um número tão grande de casos, dure em torno de 5 ou 6 semanas; e que o Rio de Janeiro já está muito
próximo de atingir o pico, muito antes dos demais estados.

À análise.

Inicialmente, a partir da narrativa da exordial e dos documentos que a instruem,


constata-se que a empresa reclamada desde o início da pandemia da COVID-19 buscou preservar a saúde dos
seus empregados por meio da adoção de regimes alternativos de trabalho, a saber, o teletrabalho e o sistema
de escalas de revezamento, como forma de substituir o trabalho presencial em jornada regular.

A reclamada, fazendo uso do poder diretivo de que dispõe na qualidade de


empregadora, publicou a Deliberação nº 01, de 10 de janeiro de 2022, estabelecendo novas regras para o
enfrentamento do aumento abrupto de novos casos, nos seguintes termos:

"9.6.6. A Chefia da Unidade deve, na ocorrência de casos confirmados da Covid-


19, reavaliar a implementação das medidas de prevenção adotadas no âmbito da Unidade que lidera,
consoante o ‘Plano de Orientação – Atividades Presenciais e Desenvolvimento de Resultados durante a
Pandemia de Covid-19’.

9.6.7. Em um cenário local de rápida transmissão, com aumento abrupto de casos


novos, no qual a demanda pelo serviço de saúde se torne um obstáculo ao diagnóstico rápido e tratamento
oportuno, a Chefia da Unidade pode, no âmbito de sua respectiva competência:
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a) suspender a realização das atividades descritas no subitem 3.1;

b) adotar, em caráter excepcional e temporário, o regime de escala de


revezamento e, ou, em teletrabalho para os membros das equipes sob sua liderança, observadas as regras já
expedidas pela Embrapa que regulamentam tais regimes;

c) flexibilizar os horários de início e término de jornada de trabalho dos


empregados que desempenham atividades presenciais, consoante disposto no item 9.

9.6.8. As medidas descritas nos subitens 9.6 e 9.6.1 a 9.6.7 poderão ser aplicadas
até 30 de junho de 2022 pelas Chefias das Unidades, independente de prévia manifestação pelo Comitê de
Monitoramento e Prevenção do Coronavírus da Embrapa, devendo a adoção ser sempre justificada".

Ocorre que, apesar do atual cenário da pandemia da COVID-19,  a unidade


reclamada (Unidade de Guaratiba) optou por manter o trabalho presencial dos colaboradores, de forma
  contraditória com os atos e medidas de prevenção à contaminação pelo coronavírus que até então vinha
adotando para proteger a saúde dos seus empregados. 

Mais: a manutenção das atividades presenciais, em momento crítico da pandemia


na cidade do Rio de Janeiro, vai de encontro a determinações previstas na própria Deliberação nº 01, de 10
de janeiro de 2022 (ID. 1d28c64).

Breve pesquisa na internet revela que, no último sábado (22/01/2022), o estado do


Rio de Janeiro registrou novos 30 mil casos conhecidos de COVID. Pela primeira vez na pandemia, a média
móvel de casos passou dos 20 mil (23.336) – alta de 395% na comparação com duas semanas atrás. A fila
por leitos tinha, até sexta (21), 203 pacientes: 63 à espera de UTI e 140, de enfermaria. Mais de 1,2 mil
pessoas estavam internadas, o maior número desde o pico da onda de casos provocado pela variante DELTA,
no fim de agosto de 2021.

A taxa de ocupação dos leitos de COVID nos hospitais da rede SUS na cidade do
Rio de Janeiro estava, até a tarde do último sábado, em 98%, segundo dados do Censo Covid. Não à toa, o
avanço da Ômicron levou o Rio de Janeiro a adiar os desfiles das escolas de samba para o feriado de
Tiradentes, em 21 de abril. 

Com a alta e recorde nos casos de COVID-19, a população tem enfrentado longas
filas nos postos de saúde que realizam testes. Dados do painel da prefeitura mostram que a taxa de
positividade está em 50%, a mais alta desde 2020.

A situação acima narrada se subsume perfeitamente ao previsto no item 9.6.7 da


deliberação supracitada: “um cenário local de rápida transmissão, com aumento abrupto de casos novos, no
qual a demanda pelo serviço de saúde se torne um obstáculo ao diagnóstico rápido e tratamento oportuno”.

A manutenção das atividades presenciais não se afigura razoável e nem


proporcional. Não neste momento e, principalmente, não na cidade do Rio de Janeiro.

Com efeito, pesquisas e artigos científicos diversos são uníssonos em apontar que
a variante ÔMICRON tem sido a grande responsável pela explosão do número de casos de COVID na cidade
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do Rio de Janeiro/RJ, com altíssimo grau de contágio. Em consequência desse agravamento, especialistas
afirmam ser necessária, por ora, a manutenção das medidas preventivas, independentemente do avanço da
vacinação.

Forçoso ressaltar, outrossim, que o poder diretivo do empregador, ainda que de


natureza potestativa, encontra limites no ordenamento jurídico. No caso concreto, resta evidente que a
conduta da reclamada – a saber, de determinar que todos os seus empregados permanecem trabalhando de
forma presencial, em momento de forte agravamento da pandemia na cidade do Rio de Janeiro – ultrapassou
o limite do razoável e do aceitável, porquanto implicou, a um só tempo, desatenção ao princípio da função
social da empresa (art. 170, III, da CF/88), lesão ao princípio da dignidade da pessoa humana e ao valor
social do trabalho (art. 1º, III e IV, da CF/88) e frontal violação ao direito fundamental de proteção à vida e à
saúde dos seus empregados (art. 5º, caput e art. 7º, XXII, da CF/88).

Preenchido, portanto, o requisito da probabilidade do direito, consubstanciado no


exercício abusivo do poder diretivo pela reclamada, em afronta aos mandamentos constitucionais.

De igual sorte, presente está o requisito do perigo de dano, já que a manutenção


das atividades presenciais, neste momento de gravidade da pandemia na cidade do Rio de Janeiro em
decorrência da variante ÔMICRON, por certo implicaria grave risco à saúde e à vida dos trabalhadores e de
seus familiares.

Destaca-se, ainda, que a suspensão provisória das atividades presenciais, na forma


requerida pelo sindicato autor, não acarretará qualquer prejuízo à reclamada, que continuará se valendo da
prestação de labor pelos seus empregados exatamente nos moldes como vinha sendo adotado pela empresa
desde o início da pandemia: com teletrabalho e com escalas de revezamento, sem exposição dos obreiros a
efetivo risco de contaminação pelo coronavírus e sem haver queda na produtividade. Ademais, a decisão é
reversível.

Pelo exposto, atendidos nesse momento processual os requisitos dos artigos 300 e
301, do CPC, defiro a tutela de urgência postulada para determinar a imediata suspensão das atividades
presenciais no âmbito da reclamada (Unidade de Guaratiba), pelo período de 6 semanas, podendo ser
estendido até o limite de 30/06/2022, conforme prevê o normativo interno da reclamada, caso a gravidade do
sistema de saúde assim exigir, mantendo-se a forma de trabalho anteriormente adotada (trabalho em regime
de escala de revezamento e/ou em teletrabalho), sob pena de multa diária no valor de R$1.000,00 (mil reais)
por dia de descumprimento.

Intime-se a reclamada para cumprimento imediato, bem como para, no prazo de


15 dias, apresentar contestação com documentos (tudo sem gravação de sigilo), contados na forma do art.
335 do CPC, sob pena de revelia. 

Dê-se ciência à parte autora e ao Ministério Público do Trabalho.

RIO DE JANEIRO/RJ, 24 de janeiro de 2022.

GUSTAVO FARAH CORREA


Juiz do Trabalho Titular

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