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“ Adeus ao corpo”

por David LeBreton

? Le Breton D., L´adieu au corps, Métailié, 1999.

“ As extrações e os transplantes de órgãos, as mudanças hormonais e cirúrgicas de sexo,


as manipulações genéticas, o morphing, a informática, etc. modificam radicalmente os
desafios e o contexto da body art. Se o corpo dos anos 60 encarnava a verdade do sujeito,
seu ser no mundo, hoje ele não passa de um artifício submetido ao design permanente da
medicina ou da informática. Tornou-se autônomo com relação ao sujeito, ciborguizado,
etc. Em outros tempos suporte da identidade pessoal, seu status hoje é muitas vezes o de
um acessório. Diferentemente da primeira fase da body art, na época da Internet e das
viagens espaciais, os artistas pós-modernos ou pós-humanos consideram insuportável
possuir o mesmo corpo que o homen da idade da pedra. Pretendem alçar o corpo à altura
da tecnologia de ponta e submetê-lo a uma vontade de domínio integral, percebendo-o
como uma série de peças destacáveis e hibridáveis à máquina. O corpo é o centro do
trabalho de Orlan há muito tempo. Num primeiro tempo, ela expõe seus humores
orgânicos e usa o obsceno.Transforma o lençol dado por sua mãe para o enxoval de
casamento em cama de seus muitos amores que o maculam, nele imprimindo os vestígios
do desejo; ela os compila com marcadores, lápis, bordados etc. Em seguida expõe esse
recalcado do corpo erigindo a intimidade em local de publicidade. As manchas de
esperma de seus amantes, às vezes misturadas com o sangue de sua menstruação, formam
a trama da obra. O corpo é material; se é templo , é apenas para profanação. (… )

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