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História da Igreja II

Prof. Dr. Levy da Costa Bastos

Sobre a periodização
É sempre uma atividade difícil a de periodizar a História da Igreja, sem correr o
risco de equivocar-se ou entrar em desacordo com outras análises historiográficas.
Não nos ouvidamos deste risco e por conta disso, preferimos ser flexíveis quanto à
datação dos períodos que marcam a passagem de um momento da História da
Igreja e da teologia cristã para outro subsequente. Basicamente nos orientamos da
seguinte forma para descrever, ainda que modo bem sucinto, a História da
teologia:
A Antiguidade cristã ou Patrística vai do período que sucede à morte dos
apóstolos até o fim do Império romano do Ocidente, mais especificamente da
invasão bárbara em 410 dC por Alarico e mais especificamente pela conquista de
Roma em 475dC pelo general Odoacro. Este período pode também ser estendido
até o século VI e VII com a atuação de teólogos como Isidoro de Sevilha e João
Damasceno.
O Período medieval (também chamado de Escolástica) vai desde o fim do Império
romano ocidental até a irrupção da Modernidade por volta do século XV. A
modernidade propriamente inicia-se com as grandes descobertas ou conquistas
ibéricas no continente americano e finda com a Revolução francesa no século XVIII.
O Iluminismo é o fenômeno cultural mais importante desse tempo. O Período
contemporâneo, no qual nos toca viver, começa com a revolução francesa e vai até
os dias de hoje.
Como falamos anteriormente, esta forma de periodização é apenas uma
possibilidade de analisar os acontecimentos, não tendo, portanto, qualquer
pretensão de inequivocidade.
O Período patrístico.
O primeiro período que nos toca estudar é o patrístico. Nele se dá a elaboração da
teologia cristã em uma forma mais sistemática, se o comparamos com a teologia
subjacente aos escritos do Novo Testamento. Trataremos aqui do período que
sucede a morte dos Apóstolos, por isso este período é também denominado de
“Período Pós-apostólico”.
Durante a patrística a fé cristã precisou responder a dois grandes desafios: um
interno, a saber: combater as heresias que surgiram no interior da Igreja. Na
formulação destas respostas, a Igreja vai dar substância às suas mais importantes
doutrinas (A natureza de Cristo, a divindade do Espírito Santo, a formação do
Canon bíblico, etc).
Uma segunda frente, onde a teologia cristã antiga também precisou atuar foi a
responsabilidade missionária. Mais especialmente a de responder às acusações
que recebia do mundo que a circundava. No afã de tornar Cristo conhecido de
todos os homens, e explicar a fé cristã para os não-cristãos, a Igreja, por meio de
seus Bispos e Pastores, precisou articular um novo discurso teológico. Dar razão de
sua fé significou formular a fé em categorias novas, até então desconhecidas de
muitos. Neste contexto é que deve ser vista a síntese feita por muitos teólogos
cristãos entre o Evangelho de Cristo e a filosofia helênica. Ao responder à
pergunta: “o que tem a ver Jerusalém com Atenas?”, a Igreja já estava em franco
diálogo com seu mundo, mais especificamente com a filosofia platônica. O
Platonismo deu, pois, ao discurso cristão, maior consistência argumentativa, bem
como maior clareza conceitual.
Acontecimentos histórico-culturais importantes:
Dois acontecimentos ocorridos neste período merecem destaque: o primeiro deles
é o chamado “Edito de Milão”, ocorrido em 313 dC. Ele vai dar forma àquilo que
ficou posteriormente conhecido como a “virada constantiniana”. As perseguições
(extremas e impiedosas nos reinados de Domiciano, Décio e Diocleciano) cessaram
com Constantino, o qual se converte à fé cristã e eleva esta ao status de “Religio
licita” (religião permitida). O Cristianismo passa a ter os mesmos direitos que as
demais religiões. Suas propriedades e bens, anteriormente confiscados, são
devolvidos.
Com o “Edito de Ambrósio” em 380 dC. a religião cristã se torna, mais do que
religião permitida entre outras, ela se converte na única religião oficial do Império
romano. Se por um lado a Igreja agora tinha todos os meios para evangelizar o
mundo, o lado negativo deste período é a perda da vitalidade da fé, uma vez que a
adesão à Igreja não se dava mais por meio da fé viva, mas por nascimento ou
pertença ao império romano.
Os concílios Ecumênicos.
Neste período se deram os primeiros concílios chamados “Ecumênicos”. Por meio
deles deu-se a cristalização da fé cristã nos seus aspectos mais fundamentais. A
base do que cremos hoje, foi lançada já neste período.
Em 325 dC Constantino convocou um Concílio para a cidade de Nicéia com o
intuito de debater sobre a divindade de Cristo. Contra o Arianismo, a Igreja
decidiu-se pela fé na igualdade de substâncias entre o Pai e o Filho, o qual é “Deus
de Deus”.
Em 381 dC a Igreja se reúne em Constantinopla novamente para um Concílio no
qual de discutiu sobre a divindade do Espírito Santo.
Em 431 dC em Éfeso o tema conciliar era novamente a divindade de Cristo e sua
relação com Maria, sua Mãe. Neste conclave cunhou-se a expressão teológica;
“Theotokos”.
Em 451 na cidade de Calcedônia tratou-se em Concílio do tema relacionado às duas
naturezas de Cristo. Decidiu que Cristo tem duas naturezas (Divina e humana) em
uma única pessoa.
Os grandes teólogos deste período.
Entre os Pais apostólicos, que foi a primeira geração imediatamente posterior aos
Apóstolos dos tempos bíblicos, mencionamos: Clemente de Roma, Inácio de
Antioquia e Policarpo de Esmirna. Este último foi martirizado (queimado vivo). A
relevância desta geração está, no fato de terem sido contemporâneos dos
Apóstolos de Jesus, ou de ter vivido sob a imediata influência destes.
Os Pais apologistas foram assim denominados pelo fato de terem elaborado uma
defesa (Apologia) da fé cristã, diante das acusações que esta recebeu. Entre todos
os apologistas, seguramente o que mais se destaca é Justino, também chamado de,
“o mártir”. Por meio de suas defesas a fé dos cristãos tornou-se conhecida de todo
o muito antigo. Acusações como a prática de antropofagia ou infanticídio,
permitiram a Justino explanar sobre a doutrina eucarística e o batismo infantil
respectivamente.
No século III destacam-se na elaboração teológica da Igreja figuras como
Tertuliano (primeiro grande teólogo latino), Irineu de Lion e Orígenes. Este último
é tido como um dos mais profícuos teólogos deste período. Lamentavelmente sua
vastíssima produção teológica se perdeu, restando-nos apenas fragmentos.
Conhecido mesmo ele ficou por conta de sua doutrina da ”Apokatástasis” ou
recapitulação, por meio da qual, segundo ele, Deus, no final da história, iria perdoar
a todos, inclusive o próprio diabo. Esta doutrina foi oficialmente rejeitada pela
Igreja cristã.
Nos séculos IV e V temos figuras brilhantes na produção teológica, como Atanásio,
Basílio, Gregória de Nissa e Gregória de Nazianzo e Ambrósio de Milão. Duas
personalidades merecem destaque: Jerônimo, o qual foi o primeiro a se deter em
questões bíblicas com uma preocupação mais que devocional, podendo, por conta
disso, ser visto hoje como o pai da exegese bíblica. Foi ele quem traduziu o Novo
Testamento pela primeira vez para a língua latina.
Igualmente relevante para este período, quiçá para toda a patrística, está
Agostinho de Hipona, seguramente o mais profícuo entre todos os escritores
cristãos deste período. Sua obra é marcada pela forte ênfase na graça de Deus, mas
não menos importante é sua eclesiologia. Agostinho se viu não poucas vezes
envolvido em debates teológicos (contra os donatistas e os pelagianos). Mérito seu
é também sua síntese entre o pensamento cristão e a filosofia platônica.
O Período medieval.
O período medieval, equivocadamente denominado de “idade das trevas” teve seu
nascimento com a derrocada do Império romano do ocidente. Com o colapso deste,
a vida intelectual europeia se circunscreveu às Igrejas cristãs e aos mosteiros, ao
redor dos quais foram criadas escolas, embrião das modernas universidades, daí o
termo Escolástica. Neste período se dá o rompimento com platonismo mediado por
Agostinho e a adoção do Aristotelismo. No dizer de João Batista Libânio e Afonso
Murad

“Embora a teologia medieval, ao seguir Agostinho, se mova inicialmente no horizonte


filosófico neoplatônico, ela cede lugar a Aristóteles, confeccionando nova síntese. As
três entradas de Aristóteles na teologia funcionam como divisor de águas. No sécuo
VI, fez-se presente como mestre da gramática, influenciando as regras do discurso,
graças As traduções de suas obras por Boécio. Nos séculos XI e XII, condiciona o
raciocínio, com a dialética e o método do “sic et non” (sim e não). Por fim, entra na
teologia no século XIII por meio da metafísica, com suas categorias globalizantes
para compreender o ser humano e o mundo.”1

A idade medieval, chamada de escolástica na historiografia eclesiástica, marcou


uma época na qual a Igreja, diferentemente do período patrístico, não tinha mais a
grande tarefa de missionar o mundo “pagão”. O continente europeu já se
considerava cristianizado. Neste contexto é que surge o conceito de “Cristandade”
medieval. A Igreja, por força de sua influência e poder, já não tinha mais
interlocutores na sociedade civil. O Papel da Igreja e o conceito de Cristandade se
resumiam na seguinte assertiva: “Roma locuta, causa finita”, isto é: a Igreja de
romana (o Papa) falou, não há mais discussão.
Importantes teólogos deste período:
Entre os mais importantes pensadores cristãos deste período podemos destacar:
Anselmo de Cantuária (1033-1109) que se notabilizou pela obra “Cur Deus homo?”
(Por que Deus se fez humano). Ele desenvolve neste livro a “doutrina da
satisfação”, segundo a qual, Deus precisou de um sacrifício perfeito para reparar a
falta (dívida) dos seres humanos. Isto se deu por meio do sacrifício perfeito do
Deus-homem, Jesus Cristo.
Pedro Lombardo não fica menor se colocado ao lado de Anselmo, uma vez que seu
“Livro das Sentenças” se tornou obra obrigatória para as gerações que se seguiram.
A Alta escolástica marca o período mais fecundo da Escolástica, nela destacam-se
teólogos como Alberto Magno e Thomas de Aquino (1225-1274). Este último é
considerado o mais importante dos teólogos medievais. Pode-se dizer que ele
plasmou não somente a teologia daquele período, como também toda a reflexão
teológica católica até meados do século XX. Sua obra clássica é a Suma Teológica.
Para Henrique de Lima Vaz

“o movimento total do pensamento de Santo Tomás descreve uma elipse e não um


círculo. É uma teologia gerada pela conjugação de um duplo foco: a ciência de Deus
comunicada pela revelação (teologia) e a ciência do homem alcançada pela reflexão

1
LIBÂNIO/MURAD, p. 127
autônoma (filosofia). O duplo foco gera um único movimento ou curva (...). A
originalidade de Santo Tomas consistiu em descobrir que o ponto de vista de Deus e o
ponto e vista do homem podem realmente conjugar-se para dar origem a uma visão
de mundo coerente e harmoniosa”.2

A escolástica tem seu momento de esgotamento por volta do século XIV e XV.
Destacam-se neste período teólogos como Boaventura, Duns Escoto e Guilherme
de Ockam. Desta última geração parece ter bebido Lutero e os reformadores
protestantes da primeira geração.

O advento da Modernidade.
O problema da periodização que havíamos feito menção no início deve ser
retomado agora, quando tentamos precisar o tempo exato de irrupção da
Modernidade. A Modernidade desponta com a busca do ser humano europeu de
suas raízes culturais na Antiguidade grego-latina. Em fins do século XV surge um
desejo constante e crescente entre muitos artistas e literatos europeus por
resgatar suas origens nas civilizações romana e grega. Ali eles acabam por recolher
também um novo ideal de ser humano, bem como inspiração para as artes.
Neste contexto é que vai surgir, pois, o Renascimento. Paralelo a isto, rompe-se
com a mentalidade tipicamente medieval, segundo a qual, a fé e Deus, por
instrumentalidade e mediação da Igreja romana, deveriam ser o centro da
existência. Em vez desta perspectiva „Teocêntrica“, eclode uma de caráter
marcadamente „antropocêntrica“. É o Humanismo que deita suas raízes na
civilização ocidental. A Igreja é destronada, cedendo lugar para o ser humano.
Nas primeiras décadas do século XVI se dá a descoberta e conquista do continente
americano. Este fato de consequências tremendas, vai alterar toda a percepção que
o ser humano ocidental tem de si e do mundo. Mas é especialmente no aspecto
econômico (verdadeiro motor da história) é que vai se dar a grande quebra de
paradigmas, fruto da encontro com a civilizações indígenas americanas. Por um
lado temos a transferência de riquezas (algo sem precedentes até então na história
humana) da América indígena para Europa cristã e por outro lado, a dizimação das
culturas autóctones. Isto tudo sob o manto e a benção da Igreja católica.

2
Lima Vaz, p. 32
A Reforma protestante.
Antes mesmo de nos referirmos à Reforma protestante, necessário se faz que
mencionemos aqueles que lhe antecederam, a saber: os pré-reformadores.
Destacam-se entre elels J. Wiclif (1384) J. Huss (1415), este foi queimado vivo pela
Igreja por causa de suas ideias. Ambas as etapas da grande Reforma religiosa
propunham que a Igreja católica fizesse uma auto-crítica e executasse reformas
internas in capta et mimbrii (na cabeça e nos membros) e se tornasse mais atenta à
sua verdadeira missão neste mundo: anunciar com simplicidade e fervor o amor de
Deus em Cristo.
Entre os reformadores destaca-se, naturalmente, o primeiro deles: Martin Lutero
(1483-1546), pelo menos o que de modo mais explícito e contundente expressou
suas insatisfações com a situação da Igreja de então. Isto ele o fez por meio das 95
teses, as quais foram em 31 de outubro de 1517 afixadas nos portões da Igreja de
Wittenberg. Lutero, por causa de suas críticas, foi banido pela Igreja. Uma de suas
mais importantes obras é a tradução do Novo Testamento para a língua alemã
realizada em 1522. Lutero verbalizou aquilo que viria a ser a mais importante das
doutrinas evangélicas: a justificação pela fé. É sua também a formulação da
substância (tripé) da fé protestante: sola gratia (só a graça), sola fides (só a fé) e
sola Scriptura (só as Escrituras).
Em grau de importância vem imediatamente depois de Lutero, J. Calvino
(15091564).
Nascido na França e tendo exercido sua atividade de reformador da Igreja
predominantemente na Suiça, mais especificamente em Genebra, Calvino era um
teólogo com extraordinária capacidade de articulação do discurso teológico (nisto
ele superou em muito a Lutero). Por conta disto escreveu umas das mais vigorosas
obras teológicas da reforma: As „Institutas da Religião cristã“. Calvino ficou muito
conhecido por sua concepção teológica, segundo a qual, Deus, baseado em sua
graça e justiça, predestina os seres humanos, seja para a salvação eterna, seja para
a perdição eterna.
Mas este tema não ocupa o centro temático de sua teologia exarada nas Institutas.
Ali a graça de Deus que convida o ser humano a viver em santidade dá do tom
fundamental. Como resposta à Reforma evangélica, veio a chamada Reforma
católica, a qual se expressa melhor na fundação da Companhia de Jesus (Ordem dos
Jesuítas), que, sob a liderança de Ignácio de Loyola, tinha a tarefa de reconquistar
os territórios perdidos para a Reforma evangélica. Um segundo acontecimento no
bojo da Contra-reforma católica vê-se no Concílio de Trento (1545-1563), no qual
ficaram cristalizadas as doutrinas católicas da justificação e dos sacramentos, entre
outros.
A Ortodoxia protestante.
Pode-se precisar a Ortodoxia protestante como sendo um fenômeno religioso no
interior do movimento de Reforma evangélica que se deu em fins do século XVI,
mais especificamente depois da edição do Livro da Concórdia em 1580. Ortodoxia
é um termo que visa qualificar a teologia que se cristalizou com o objetivo de dar
forma melhor fundamentada e mais sistemática à teologia dos reformadores de
primeira geração, mas sempre se mantende fiel à mesma. A Ortodoxia protestante
sofreu grande influência do neoaristotelismo oriundo da parte sul da Europa
(Pádua e Coimbra), o qual já em fins do século XVI era tratado nas Universidades e
escolas teológicas alemãs.
Seguramente o mais importante entre todos os teólogos ortodoxos foi Leonhard
Hutter que, com seu Compendium Locorum tomou para si, a importância dos Loci
do reformador e amigo de lutas de Martin Lutero Philipp Melanchton. Além dele,
podem também ser mencionados:
Johann Gerhard que foi discípulo de Hutter e sua importância reside em ter sido o
teólogo ortodoxo que melhor e mais profundamente trabalhou a tradição
patrística, isso em diálogo com a sua tradição reformada.
George Calixto destacou-se, entre outras coisas, porque viu nos ensinos mais
fundamentais da fé cristã o material para edificação da unidade entre as diferentes
religiões. É oportuno que se diga que este seu sincretismo (continuado por seus
discípulos) gerou forte oposição entre os cristãos e teólogos mais conservadores.
Por fim pode ser também mencionado como grande expoente da teologia Ortodoxa
deste período David Hollaz, que com seu Examen theologcum-acroamaticum de
1707 deu os primeiros passos no que viria depois a ser a fé constitutiva do
Pietismo.
O Pietismo
O movimento pietista surge em fins do século XVII, principalmente, mas não
exclusivamente, dentro do Protestantismo alemão. A pesquisa historiográfica nos
permite hoje afirmar que seu período áureo se deu entre os anos 1690 e 1740. O
termo Pietismo deriva da expressão „pietas“ (piedade ou devoção). Ele surge com a
publicação do livro „Pia desideria“ de Philipp J. Spener (1635-1705) em 1675.
Neste livro ele acabou por lançar os fundamentos do movimento que ainda hoje
tem grande influência no Protestantismo mundial. Pode-se até mesmo afirmar que
os movimentos de avivamento no interior do Protestantismo estado-unidense em
meados do século XIX, bem como os modernos movimentos pentecostais e de
renovação carismática, deitem suas raízes teológico-pastorais no movimento
pietista do século XVII e XVIII.
Outras figuras de destaque no Pietismo alemão são H. Francke N. Von Zinzendorf.

O Período contemporâneo
O Iluminismo é o fenômeno cultural que marca o surgimento do período
contemporâneo. Na verdade, o Iluminismo é uma forma de se autocompreender
que marcou decisivamente a civilização ocidental. Nas palavras de I. Kant (1724-
1804), o Iluminismo é o advento da emancipação do ser humano por
instrumentalidade de sua razão (sapere aude). Entre as figuras importantes do
Iluminismo podemos citar: J. J. Rosseau, J. Locke, entre outros.
Possivelmente a Revolução francesa e a declaração universal dos direitos do
homem são a expressão mais cristalina dos ideais iluministas, pois em ambas se
torna realidade o anseio por liberdade e o reconhecimento da dignidade do ser
humano, enquanto tal.
Na esteira do pensamento iluminista está o teólogo e filósofo luterano F. D.
Schleiermacher (1768-1834), que, combinando o discurso teológico com o modelo
de pensamento fundado no Idealismo alemão, propôs uma religiosidade menos
racional e mais voltada para o sentimento.
Schleiermacher colocou em segundo plano algumas doutrinas cristãs de
fundamentação dogmática menos plausível como a santíssima Trindade.
Imediatamente ligada ao pensamento de I. Kant e ao de F. D. Schleiermacher está a
Teologia Liberal, a qual surgiu como resultado do anseio de uma geração de
cristãos que julgou ser imprescindível entrar em diálogo (e não em confronto) com
a modernidade. Por conta disto, a palavra de ordem do Liberalismo teológico
sempre foi liberdade e tolerância. A partir dos métodos histórico-críticos,
colocaram sob suspeita algumas das verdades dogmáticas da fé cristã, como o
nascimento virginal de Cristo e a veracidade dos milagres e curas relatados nos
Evangelhos.
Duas figuras merecem destaque quando se pretende entender a Teologia liberal. A
primeira delas á Adolf von Harnack (1851-1930) que em seu livro „A essência do
Cristianismo“ veio afirmar que a substância da fé cristã não está nos dogmas, mas
na ética.
Outra personalidade importante dentro do pensamento teológico liberal foi E.
Troeltsch, que questionou a absolutismo do Cristianismo em relação às outras
religiões não cristãs. Duas reações ao Liberalismo teológico merecem nota: A
primeira delas foi a Teologia Dialética, também denominada Neo-ortodoxia, Ficou
mundialmente conhecida a partir da publicação do Comentário de Karl Barth
(1886-1968) à Carta aos Romanos em 1919. Para este teólogo, Deus é diferente do
ser humano e do mundo, e isto de modo qualitativo. Deus é o „bem outro“ (ganz
Andere).
O pensamento dialético se deixou conhecer por meio da revista teológica „Zwischen
den Zeiten“, também editada por K. Barth. Figuras importantes do pensamento
dialético podemos mencionar Emmil Brunner (1889-1966) e Rudolf Bultmann
(1884-1976).
Uma segunda reação ao Liberalismo teológico encontramos no Fundamentalismo
biblicista. Este movimento oriundo dos EUA tinha um caráter exclusivamente
conservador. Ficou conhecido a partir da obra de C. I. Scofield, denominada „The
Fundamentals“. O Fundamentalismo preconiza a inerrância das Escrituras
Sagradas e a inspiração mecânica da mesma. É expressão teológica mais
predominante no Protestantismo brasileiro.
Teologia da Esperança
Um dos mais importantes teólogos evangélicos ainda vivos é o alemão J. Moltmann,
que, por meio de seu livro „Teologia da Esperança“ publicado em 1964,
desencadeou uma maior sensibilidade da Igreja cristã para a escatologia como
instrumento inspirador da ação transformadora dos cristãos neste mundo.
Moltmann é tido como o pai da teologia lationoamericana da libertação.
Catolicismo em mudança
A Igreja católica viveu uma verdadeira renovação a partir do Concílio Vaticano II
(1962-1965), o qual preconizou a necessidade de a Igreja se inculturar em meio às
comunidades onde anuncia e vive o Evangelho. Fruto desta mudança de
mentalidade no interior da Igreja está a Teologia da Libertação, seguramente a
primeira e mais autêntica expressão teológica genuinamente latinoamericana.
Entre os seus expoentes citamos dois teólogos católicos: Leonardo Boff, autor de
„Jesus Cristo Libertador“ e Gustavo Gutierres, autor de „Teologia da libertação“.
Ambas as obras foram publicadas em 1971 e são paradigmáticas desta corrente
teológica. Marca especial da Teologia da libertação é sua opção preferencial pelos
pobres.

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