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dentro de um determinado território, e imposto para


aqueles indivíduos que ali habitam.
DIREITO ADMINISTRATIVO Os elementos que caracterizam o Estado são:
- População: entende-se pela reunião de indivíduos
num determinado local, submetidos a um poder
central. O Estado vai controlar essas pessoas, visando,
através do Direito, o bem comum. A população pode
PROGRAMA: ser classificada como nação, quando os indivíduos que
DIREITO ADMINISTRATIVO: habitam o mesmo território possuem como elementos
comuns a cultura, língua, a religião e sentem que há,
entre eles, uma identidade; ou como povo, quando há
2.1. Estado, personalidade de direito público; conceito reunião de indivíduos num território e que apesar de se
de pessoa administrativa. 2.2. Competência submeterem ao poder de um Estado, possuem
administrativa: conceito e critérios de distribuição; nacionalidades, cultura, etnias e religiões diferentes.
avocação e delegação de competência. 2.3. Poderes - Território: espaço geográfico onde reside determinada
administrativos. 2.4. Centralização e descentralização população. É limite de atuação dos poderes do Estado.
da atividade administrativa do Estado. 2.5. Vale dizer que não poderá haver dois Estados
Administração pública direta e indireta. 2.6. Fatos e atos exercendo seu poder num único território, e os
administrativos: tipos de atos, ato nulo e anulável, indivíduos que se encontram num determinado
vícios. 2.7. Poder de polícia. 2.8. Responsabilidade Civil território estão obrigados a se submeterem.
do Estado. 2.9. Agentes públicos: espécies. 2.10.
Direitos, deveres e responsabilidades dos servidores - Governo Soberano: é o exercício do poder do Estado,
públicos civis. 2.11. Improbidade administrativa (Lei nº internamente e externamente. O Estado, dessa forma,
8.429/1992 e alterações). 2.12. Processo administrativo deverá ter ampla liberdade para controlar seus
(Lei nº 9.784/1999 e alterações). recursos, decidir os rumos políticos, econômicos e
sociais internamente e não depender de nenhum outro
Estado ou órgão internacional. A essa
autodeterminação do Estado dá-se o nome de
soberania. O Governo pode ser entendido em sentido
subjetivo ou formal como a cúpula diretiva do estado
responsável pela condução das atividades do Estado, ou
seja, o conjunto de poderes e órgãos constitucionais. Já
em sentido objetivo ou material é a atividade diretiva
do Estado, confundindo-se com o complexo de funções
básicas do Estado.
DIREITO ADMINISTRATIVO: CONCEITO E FONTES
O Estado assume em suas relações internacionais uma
personalidade jurídica (capacidade de tornar-se titular
de direitos e deveres) de direito público externo, dado o
fato de reger-se pelas regras do direito público
ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
internacional.
Já em se tratando das relações internas, ou seja, em
De forma simplificada, o Estado é uma criação humana relação à regência em suas relações de direito público
destinada a manter a coexistência pacífica dos interno, o Estado é representado, no caso do Brasil,
indivíduos, a ordem social, de forma que os seres pelos chamados entes da Federação – a União, os
humanos consigam se desenvolver, e proporcionar o Estados-membros, os Municípios e o Distrito Federal
bem estar a toda sociedade. (Pessoas jurídicas de direito público interno).
É o Estado o responsável por dar força de imposição ao Isto porque quando se fala das Formas de Estado,
Direito, pois é ele que detém o papel exclusivo de observa-se que ele pode assumir a forma de unitário
aplicar as penalidades previstas pela Ordem Jurídica. (onde o poder político-administrativo é centralizado em
Assim o Estado pode ser definido como o exercício de um único ente) ou composto, como é o caso do Estado
um poder político, administrativo e jurídico, exercido brasileiro (onde há a presença de diversos entes que

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exercem, dentro de limitações territoriais, sua A) PODER LEGISLATIVO:


autonomia. Os Estados compostos podem ser
a.1) Função típica: legislar e fiscalização contábil,
classificados em: Uniões Reais, Uniões Pessoais,
financeira, orçamentária e patrimonial do Executivo;
Federações e Confederações).
a.2) Função atípica de natureza executiva: ao dispor
A maneira pela qual o poder é exercido dentro de um
sobre sua organização, provendo cargos, concedendo
Estado indica a Forma de Governo por ele adotada.
férias, licenças a servidores etc.;
Assim, temos como formas de governo: a República e a
Monarquia. Na República, as principais características a.3) Função atípica de julgamento: o Senado julga o
são a eletividade e a temporariedade dos governantes, Presidente da República nos crimes de responsabilidade
além da Responsabilidade do Estado. Enquanto na (art. 52, I) e julga seus próprios servidores no
Monarquia, os governantes são investidos por critérios cometimento de atos de indisciplina.
de hereditariedade e permanecem vitaliciamente no
exercício do poder, além de, em alguns casos, não
poderem ser responsabilizados (monarquias B) PODER EXECUTIVO:
absolutistas). b.1) Função típica: prática de atos de chefia de Estado e
Em resumo a organização e estrutura do Estado podem chefia de Governo;
ser analisadas sob 03 aspectos: b.2) Função atípica de natureza legislativa: o Presidente
a) Forma de Governo - República ou Monarquia da República, por exemplo, adota medida provisória,
com força de lei (art. 32); a administração se vale dos
b) Sistema de Governo - Presidencialismo ou chamados atos normativos, secundários, mas capazes
Parlamentarismo de impor regras gerais e abstratas; além da iniciativa de
c) Forma de Estado - Unitário ou Federação. lei, que em alguns casos é do chefe do executivo.
No BRASIL, o Estado é do tipo Federado ou Composto, b.3) Função atípica de julgamento: o Executivo julga,
pois temos diferentes poderes políticos convivendo no apreciando defesas e recursos administrativos.
nosso território: um poder político central (União), um
poder político regional (Estados-Membros) e um poder
político local (Município), além do DF, que acumula as C) PODER JUDICIÁRIO
competências regionais e locais. b.1) Função típica: julgar (função jurisdicional), dizendo
Na CF/88, a forma federativa de Estado constitui o direito no caso concreto e dirimindo os conflitos que
cláusula pétrea, insuscetível de ser abolida pelo poder lhe são levados, quando da aplicação da lei;
de reforma (art. 60, §4º, I). b.2) Função atípica de natureza legislativa: regimento
interno de seus Tribunais e as iniciativas de lei;

Organização dos Poderes do Estado b.3) Função atípica de natureza executiva: administra
ao conceder licenças e férias aos magistrados e
Poder significa força para que se possa fazer ou serventuários, etc.
executar certas coisas. Não há Estado sem poder. O
poder deve mostrar-se presente na vida dos governados
a fim de manter, principalmente, a ordem social, a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
segurança e a liberdade individual.
Primeiramente há de se falar em ADMINISTRAÇÃO
O exercício do poder está concentrado em diversos PÚBLICA EM SENTIDO AMPLO, a qual diz respeito aos
órgãos estatais. “São poderes da União, independentes órgãos do governo, os quais exercem a função política,
e harmônicos entre si, - determina o art. 2.º, da CF - o bem como os órgãos e pessoa jurídicas que
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Sendo desempenha função meramente administrativa.
independentes, evitam-se eventuais abusos, ficando
cada um dentro da esfera de ação que lhe é traçada Já ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO ESTRITO, diz
pela Lei Maior, impedindo, assim, que o poder venha respeito somente aos órgãos e as pessoas jurídicas que
ficar na mão de uma só pessoa, agindo, porém, exercem a função meramente administrativa, de
harmonicamente no desempenho das finalidades que execução dos programas de governo.
lhes são próprias.

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Para uma definição mais exata da expressão caso, os serviços são prestados pelos órgãos do Estado,
“administração pública” devem-se considerar dois despersonalizados, integrantes de uma mesma pessoa
sentidos: objetivo/ material/ funcional e o sentido política (União, DF, estados ou municípios), sem outra
subjetivo/formal ou orgânico. pessoa jurídica interposta. Portanto, quando falamos
que determinada função é exercida pela Administração
No sentido objetivo, grafado com letra minúscula, a
Centralizada Federal, sabemos que é a pessoa jurídica
administração pública é a própria função administrativa
União quem a exerce, por meio de seus órgãos; quando
do Estado, ou seja, a própria gestão dos interesses
se diz que um serviço é prestado pela Administração
públicos, seja por sua organização interna ou por sua
Centralizada do Distrito Federal, significa que é a pessoa
intervenção no campo privado.
jurídica Distrito Federal quem presta o serviço, por
As quatro funções básicas que a Administração Pública meio de seus órgãos, e assim por diante.
desenvolve são:
Em resumo, a centralização administrativa, ou o
1. O Fomento - incentivo ao desenvolvimento da desempenho centralizado de funções administrativas,
iniciativa privada. São muitos os instrumentos de consubstancia-se na execução de atribuições pela
fomento, como a concessão de crédito, o pessoa política que representa a Administração Pública
direcionamento para setores de infra-estrutura e competente - União, estado-membro, municípios ou DF
demais setores de interesse coletivo. – dita, por isso, Administração Centralizada. Não há
2. Os serviços públicos – atividades materiais internas às participação de outras pessoas jurídicas na prestação do
repartições, visando a satisfação das necessidades do serviço centralizado.
próprio funcionamento do Estado e os externos- Ocorre a chamada descentralização administrativa
atividades materiais que visam a satisfação da quando o Estado (União, DF, estados ou municípios)
coletividade, como água, energia elétrica, transporte, desempenha algumas de suas funções por meio de
etc. outras pessoas jurídicas. A descentralização pressupõe
3. A Polícia – atividades preventivas e repressivas, duas pessoas jurídicas distintas: o Estado e a entidade
normativas e concretas, que limitam as ações do que executará o serviço, por ter recebido do Estado
particular em benefício da coletividade. essa atribuição. A descentralização administrativa
acarreta a especialização na prestação do serviço
4. Intervenção - A exploração direta de atividade descentralizado, o que é desejável em termos de
econômica pelo Estado quando necessária aos técnica administrativa. Por esse motivo, já em 1967, ao
imperativos da segurança nacional ou a relevante disciplinar a denominada “Reforma Administrativa
interesse coletivo, conforme definidos em lei. Federal”, o Decreto-Lei nº 200, em seu art. 6º, inciso III,
No sentido subjetivo/formal/orgânico o termo refere-se elegeu a “descentralização administrativa” como um
ao conjunto de agentes, órgãos e pessoas jurídicas que dos princípios fundamentais da Administração Federal.
têm a incumbência de executar as atividades A doutrina aponta duas formas mediante as quais o
administrativas, ou seja, os sujeitos da função Estado pode efetivar a chamada descentralização
administrativa, quem a exerce de fato. Nesse sentido administrativa: outorga (também chamada de
pode ser divida em direta e indireta. descentralização por serviços) e delegação (também
O Fim da Administração Pública é a satisfação do chamada de descentralização por colaboração).
interesse púbico e do bem comum, isto é, de todos, A descentralização será efetivada por meio de outorga
incluídos brasileiros natos, naturalizados e estrangeiros quando o Estado cria uma entidade e a ela transfere,
situados no País. mediante previsão em lei, determinado serviço público.
A outorga normalmente é conferida por prazo
indeterminado. É o que ocorre relativamente às
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA BRASILEIRA entidades da Administração Indireta prestadoras de
Concernentemente ao aspecto organizacional, o Estado serviços públicos: o Estado descentraliza a prestação
adota duas formas básicas no desempenho de suas dos serviços, outorgando-os a outras entidades
atribuições administrativas: a centralização e (autarquias, empresas públicas, sociedades de
descentralização. economia mista e fundações públicas), que são criadas
para o fim de prestá-los.
Ocorre a chamada centralização administrativa quando
o Estado executa suas tarefas por meio dos órgãos e A descentralização será efetivada por meio de
agentes integrantes da Administração Direta. Nesse delegação quando o Estado transfere, por contrato ou

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ato unilateral, unicamente a execução do serviço, para divisão interna de funções, criando, na sua própria
que o ente delegado o preste ao público em seu próprio estrutura, diversos departamentos (Departamento de
nome e por sua conta e risco, sob fiscalização do Graduação, Departamento de Pós-Graduação,
Estado, contudo. A delegação é normalmente efetivada Departamento de Direito, Departamento de Filosofia,
por prazo determinado. Há delegação, por exemplo, nos Departamento de Economia etc.).
contratos de concessão ou nos de permissão, em que o
Como se vê, a desconcentração, mera técnica
Estado transfere aos concessionários e aos
administrativa de distribuição interna de funções,
permissionários apenas a execução temporária de
ocorre, tanto na prestação de serviços pela
determinado serviço.
Administração Direta, quanto pela Indireta. É muito
Em resumo, a descentralização administrativa mais comum falar-se em desconcentração na
pressupõe a existência de duas pessoas jurídicas: a Administração Direta pelo simples fato de as pessoas
titular originária da função e a pessoa jurídica que é que constituem as Administrações Diretas (União,
incumbida de exercê-la. Se essa incumbência estados, Distrito Federal e municípios) possuírem um
consubstanciar-se numa outorga, será criada por lei, ou conjunto de competências mais amplo e uma estrutura
em decorrência de autorização legal, uma pessoa sobremaneira mais complexa do que os de qualquer
jurídica que receberá a titularidade do serviço entidade das Administrações Indiretas. De qualquer
outorgado. É o que ocorre na criação de entidades forma, temos desconcentração tanto em um município
(pessoas jurídicas) da Administração Indireta que se divide internamente em órgãos, cada qual com
prestadoras de serviços públicos. Se a atribuição do atribuições definidas, como em uma sociedade de
serviço for feita mediante delegação, a pessoa jurídica economia mista de um estado, um banco estadual, por
delegada receberá, por contrato ou ato unilateral, a exemplo, que organiza sua estrutura interna em
incumbência de prestar o serviço em seu próprio nome, superintendências, departamentos ou seções, com
por prazo determinado, sob fiscalização do Estado. atribuições próprias e distintas, a fim de melhor
desempenhar suas funções institucionais.
Note-se, também, que é possível a delegação a pessoa
física, sob a hipótese dos instrumentos de permissão e Existem 3 tipos de DESCONCENTRAÇÃO:
autorização.
1) por MATÉRIA / ÁREA: Ex.: ministérios federais e
Também vale ressaltar duas outras técnicas secretarias
administrativas presentes na Administração Pública: a
2) por TERRITÓRIO: Ex.: subprefeituras e delegacias da
concentração e a desconcentração.
Receita Federal
A desconcentração é simples técnica administrativa, e é
3) por GRAU / HIERARQUIA: Ministério da Fazenda e
utilizada, tanto na Administração Direta, quando na
Secretaria da Fazenda
Indireta.
Ocorre a chamada desconcentração quando a entidade
da Administração, encarregada de executar um ou mais A prestação concentrada de um serviço ocorreria em
serviços, distribui competências, no âmbito de sua uma pessoa jurídica que não apresentasse divisões em
própria estrutura, a fim de tornar mais ágil e eficiente a sua estrutura interna. É conceito praticamente teórico.
prestação dos serviços. Combinando as duas classificações podemos ter:
A desconcentração pressupõe, obrigatoriamente, a 1) centralização com concentração
existência de uma só pessoa jurídica. Em outras
palavras, a desconcentração sempre se opera no âmbito 2) centralização com desconcentração
interno de uma mesma pessoa jurídica, constituindo 3) descentralização com concentração
uma simples distribuição interna de competências dessa
pessoa. 4) descentralização com desconcentração

Ocorre desconcentração, por exemplo, no âmbito da


Administração Direta Federal, quando a União distribui A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA
as atribuições decorrentes de suas competências entre
Administração Direta é o conjunto de órgãos que
diversos órgãos de sua própria estrutura, como os
integram as pessoas federativas, aos quais foi atribuída
ministérios (Ministério da Educação, Ministério dos
a competência para o exercício, de forma centralizada,
Transportes etc.); ou quando uma autarquia, por
das atividades administrativas do Estado. Em outras
exemplo, uma universidade pública, estabelece uma
palavras, significa que “ A Administração Pública é, ao

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mesmo tempo, a titular e executora do serviço público”. São, portanto, as principais características dos órgãos
( José Maria Pinheiro Madeira). públicos:
Isso significa dizer que a Administração Direta do a) integram a estrutura de uma pessoa política (União,
Estado abrange todos os órgãos dos Poderes das Estados, Distrito Federal e Municípios), no caso dos
pessoas federativas cuja competência seja a de exercer órgãos da administração direta. Podem também
a atividade administrativa, e isso porque os Poderes integrar a estrutura de uma pessoa jurídica
estão imbuídos da necessidade de atuarem administrativa (autarquias, fundações públicas,
centralizadamente por meio de seus órgãos e agentes. Sociedades de Economia Mista ou Empresas Públicas),
quando forem da Administração Indireta (tópico a ser
A administração pública direta é, portanto, composta
detalhado a seguir);
de entidades estatais – União, Estados, Municípios e
Distrito Federal – que atuam por intermédio dos órgãos b) não possuem personalidade jurídica;
públicos (ministérios, secretarias, etc.). Esses órgãos
c) são resultados de desconcentração;
não possuem personalidade jurídica própria, estão
ligadas à personalidade jurídica da entidade a que d) alguns possuem autonomia gerencial, orçamentária e
pertencem e sua atuação deve realizar a vontade da financeira;
pessoa jurídica à qual estão subordinados, funcionando e) podem firmar, por meio de seus administradores,
como verdadeiros centros de competências. Este contratos de gestão com outros órgãos ou com pessoas
entendimento formula a chamada teoria do órgão jurídicas (CF, Art. 37, §8º);
público, sob a qual encontramos o princípio da
imputação volitiva, entendimento a partir do qual a f) não têm capacidade para representar em juízo a
vontade do órgão é imputada à pessoa jurídica a cuja pessoa jurídica que integram (salvo as exceções já
estrutura pertence. mencionadas);

Pode-se conceituar o órgão público, portanto, como o g) não possuem patrimônio próprio;
compartimento na estrutura estatal a que são h) sua criação e extinção se dá por lei.
cometidas funções determinadas, sendo integrado por
agentes, que, quando as executam, manifestam a
própria vontade do Estado. Classificação dos órgãos públicos
Os órgãos públicos não são livremente criados e 1. Quanto a esfera de ação:
extintos só pela vontade da Administração. Tanto a
Centrais – que exercem atribuições em todo o território
criação, quanto a extinção de órgãos públicos
nacional, estadual ou municipal, como os Ministérios, as
dependem de lei, de iniciativa privativa do Presidente
Secretarias de Estado e as de Município) e;
da República (e por simetria, dos demais Chefes do
Executivo). Em se tratando da estruturação e das Locais – que atuam sobre uma parte do território, como
atribuições, estas podem ser processadas por decreto as Delegacias Regionais da Receita federal, as
do Chefe do Executivo, como consta, aliás, no art. 84, Delegacias de Polícia, os Postos de Saúde, etc.
VI, “a” da Constituição Federal.
Como são círculos internos de poder,
2. Quanto a posição estatal
despersonalizados, os órgãos públicos não possuem
capacidade processual. A capacidade para estar em Independentes – são os originários da Constituição e
juízo, seja como autor ou como réu, pertence à pessoa representativos dos três Poderes do Estado, sem
física ou jurídica. De um tempo pra cá, todavia, tem qualquer subordinação hierárquica ou funcional, e
evoluído a ideia de conferir capacidade a órgãos sujeitos apenas aos controles constitucionais de um
públicos para certos tipos de litígio. Um desses casos é a sobre o outro; suas atribuições são exercidas por
possibilidade de impetração de mandado de segurança agentes políticos. Entram nessa categoria as Casas
por órgãos públicos de natureza constitucional, quando Legislativas, a Chefia do Executiva e os Tribunais.
da defesa de suas competências. O outro caso é trazido Autônomos – são órgãos que se localizam na cúpula da
pelo Código de Defesa do Consumidor, que dispõe que Administração, subordinados diretamente à chefia dos
são legitimados para promover a liquidação e execução órgãos independentes; gozam de autonomia
de indenização as autoridades e órgãos da administrativa, financeira e técnica e participam das
administração pública, direta e indireta, ainda que sem decisões governamentais. Entram nessa categoria os
personalidade jurídica (Art. 82, III do CDC). Ministérios, as Secretarias de Estado e dos Municípios,

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o Serviço Nacional de Informações e o Ministério Secretaria de Comunicação Social, pelo Gabinete


Público. Pessoal, pelo Gabinete de Segurança Institucional e
pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos.
Superiores – são órgãos de direção, controle e
comando, mas sujeitos à subordinação e ao controle Os Poderes Legislativo e Judiciário têm sua estrutura
hierárquico de uma chefia; não gozam de autonomia orgânica definida em seus respectivos atos de
administrativa nem financeira. Incluem-se nessa organização administrativa. O Legislativo tem o poder
categoria órgãos com variadas denominações como constitucional de dispor sobre sua organização e
Departamentos, Coordenadorias, Divisões, Gabinetes. funcionamento, bem como o de elaborar seu regimento
interno. O Judiciário, da mesma forma, tem capacidade
Subalternos – são os que se acham subordinados
auto-organizatória em relação a cada um de seus
hierarquicamente a órgãos superiores de decisão,
Tribunais. Seus atos de organização se encontram nas
exercendo principalmente funções de execução, como
leis estaduais de divisão e organização judiciárias e em
as realizadas por seções de expediente, de pessoal, de
seus regimentos internos.
material, de portaria, zeladoria, etc.
Na esfera estadual temos organização semelhante à
federal, guardando com esta certo grau de simetria.
3. Quanto à estrutura: Assim, teremos a Governadoria do Estado, os órgãos de
Simples ou unitários – constituídos por um único centro assessoria do Governador e as Secretarias Estaduais,
de atribuições, sem subdivisões internas, como ocorre com vários órgãos que as compõe, correspondentes aos
com as seções integradas em órgãos maiores. Ministérios na esfera federal. O mesmo se passa com o
Legislativo e Judiciário estaduais.
Compostos – constituídos por vários outros órgãos,
como acontece com os Ministérios, as Secretarias, que Por fim, a Administração Direta na esfera municipal é
compreendem vários outros até chegar aos órgãos composta da Prefeitura, de eventuais órgãos de
unitários, em que não existam mais divisões. assessoria ao Prefeito e de Secretarias Municipais, com
seus órgãos internos. O Município não tem Judiciário
próprio, mas tem Legislativo (Câmara Municipal), que
4. Quanto à composição também poder dispor sobre sua organização, a exemplo
do que ocorre nas outras esferas.
Singulares – quando integrados por um único agente.
Ex: A Presidência da República e a Diretoria de uma O Distrito Federal é assemelhado aos Estados, mas tem
escola. as competências legislativas reservadas a Estados e
Municípios. Desse modo sua administração direta
Coletivos – quando integrados por vários agentes. Ex: compõe-se de Governadoria, órgãos de assessoria
Tribunal Administrativo de Impostos e Taxas. direita e de Secretarias Distritais.

5. Quando às funções A Administração Pública Indireta


Ativos – desempenham uma função administrativa ativa A administração pública indireta, composta pela técnica
Consultivos – desempenham atividades consultivas da descentralização administrativa por outorga, é
(elaboração de pareceres, por exemplo) composta de entidades autárquicas, fundacionais,
sociedades de economia mista e empresas públicas.
De controle – desempenham funções de controle sobre
outros órgãos. Ex: Controladoria Geral da União Sempre que se faz referência à Administração Indireta
do Estado, a idéia de vinculação das entidades traz a
Em se tratando da Administração Direta da União, no
tona, como órgão controlador, o Poder Executivo.
tocante ao poder executivo, pode-se apontar nos
Entretanto, o art. 37 da CF alude à administração direta,
termos no Decreto-Lei n.º 200/67 (diploma que dividiu a
indireta e fundacional de qualquer dos Poderes da
administração federal em Direta e Indireta) e nos
União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Assim
termos da regulamentação da lei 10.683/03 e suas
dizendo, poder-se-ia admitir a existência de entidades
alterações posteriores, que esta se ocupa,
da administração indireta vinculadas também às
notadamente, da organização da Presidência e dos
estruturas dos Poderes Legislativo e Judiciário, embora
Ministérios. De acordo com este dispositivo legal, a
o fato não seja comum, por ser o Executivo o Poder
Presidência é composta pela Casa Civil, pela Secretaria-
incumbido basicamente da administração do Estado.
Geral, pela Secretaria das Relações Institucionais, pela

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A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA Em suma:


a) Possuem privilégios processuais: duplo grau
obrigatório de jurisdição; prazos dilatados em dobro;
A administração pública indireta, composta pela técnica
isenção de custas (mas pagamento de despesas judiciais
da descentralização administrativa por outorga, é
feitas pela parte vencedora); dispensa de apresentação
composta de entidades autárquicas, fundacionais,
de procuração, pelos procuradores de seu quadro de
sociedades de economia mista e empresas públicas.
pessoal, para a prática de atos processuais; dispensa de
Sempre que se faz referência à Administração Indireta depósito prévio para interposição de recurso e não
do Estado, a ideia de vinculação das entidades traz a sujeição ao concurso de credores ou habilitação em
tona, como órgão controlador, o Poder Executivo. falência, liquidação, recuperação judicial, inventário e
Entretanto, o art. 37 da CF alude à administração direta, arrolamento (há somente concurso de preferências
indireta e fundacional de qualquer dos Poderes da entre as pessoas de direito público – U, E, DF e M).
União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Assim
b) Patrimônio constituído de bens públicos.
dizendo, poder-se-ia admitir a existência de entidades
da administração indireta vinculadas também às c) Imunidade tributária – não são sujeitas à impostos
estruturas dos Poderes Legislativo e Judiciário, embora sobre o seu patrimônio, rendas e serviços, desde que
o fato não seja comum, por ser o Executivo o Poder vinculados a suas finalidades essenciais.
incumbido basicamente da administração do Estado.
d) Responsabilidade civil objetiva.
e) Foro privilegiado para as autarquias federais- Justiça
AUTARQUIAS Federal.
Autarquias são entes administrativos autônomos, f) Orçamento integrante do orçamento fiscal da lei
criados por lei específica, com personalidade jurídica de orçamentária anual.
direito público interno, para a consecução de atividades
g) Regime de pessoal estatutário, enquanto vigorar a
típicas do poder público, que requeiram, para uma
liminar proferida pelo STF na ADIN 2135/DF em 02 de
melhor execução, gestão financeira e administrativa
agosto de 2007.
descentralizada.
h) Sujeição à obrigatoriedade de licitação.
i) Obrigatoriedade de preencher seus quadros efetivos
Características
pela via do concurso público.
As autarquias possuem as seguintes características:
j) Seus dirigentes são nomeados e exonerados
o Personalidade jurídica de direito público; livremente pelo chefe do executivo. Algumas vezes a
nomeação exige prévia aprovação do Poder Legislativo,
o Autonomia administrativa e financeira;
não ocorre no caso da exoneração. Aqui ressalte-se que
o Criação por lei específica. dirigentes de agências reguladoras não são livremente
o Capacidade específica exonerados, salvo por cometimento de faltas graves,
mediante processo que assegure ampla defesa.
k) Sujeição à prescrição quinquenal da fazenda pública.
Personalidade Jurídica de Direito Público
Tendo personalidade jurídica, as autarquias são sujeitos
de direito, ou seja, são de titulares de direitos e Capacidade Específica
obrigações próprios, distintos dos pertencentes ao ente Outra característica destas entidades é capacidade
político (União, Estado, Município ou Distrito Federal) específica, significando que as autarquias só podem
que as institui. desempenhar as atividades para as quais foram
Submetem-se a regime jurídico de direito público instituídas, ficando, por conseguinte, impedidas de
quanto à criação, extinção, poderes, prerrogativas, exercer quaisquer outras atividades.
privilégios e sujeições, ou melhor, apresentam as Dentro dessas atividades típicas do Estado, a que estão
características das pessoas públicas, como por exemplo preordenadas, as autarquias podem ter diferentes
as prerrogativas tributárias, o regime jurídico dos bens e objetivos, classificando-se em:
as normas aplicadas aos servidores. Por tais razões, são
classificadas como pessoas jurídicas de direito público.

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a) Autarquias assistenciais: aquelas que visam Agências Reguladoras


dispensar auxílio a regiões menos desenvolvidas ou a
Sua função é regular a prestação de serviços públicos e
categorias sociais específicas, para o fim de minorar as
organizar e fiscalizar esses serviços a serem prestados
desigualdades. Ex: a SUDENE, a SUDAM e o INCRA –
por concessionárias ou permissionárias, com o objetivo
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
garantir o direito do usuário ao serviço público de
b) Autarquias previdenciárias: voltadas para a atividade qualidade. Além dos serviços públicos, algumas
de previdência social oficial. Ex: O INSS. agências regulamentam outros setores de interesse
público, como a ANP (Agência Nacional do Petróleo),
c) Autarquias culturais: dirigidas à educação e ao
por exemplo.
ensino. Ex: UFRJ, UFPA.
Há diferenças em relação à tradicional autarquia, razão
d) Autarquias profissionais (ou corporativas):
pela qual são consideradas autarquias em regime
incumbidas da inscrição de certos profissionais e de
especial. Pode-se dizer que possuem uma maior
fiscalizar sua atividade. Ex: CREA, CRM, etc.
autonomia financeira e administrativa, dado o fato de
e) Autarquias administrativas: que formam a categoria seus dirigentes possuírem mandatos fixos por tempo
residual, ou seja, daquelas entidades que se destinam às determinado e, consequentemente não atingidos por
várias atividades administrativas, inclusive fiscalização, livre exoneração de seus cargos, além disso, após o
quando essa atribuição for da pessoa federativa a que desligamento do cargo, ficam impedidos de atuar na
estejam vinculadas. Ex: INMETRO, BACEN, IBAMA. área que regulavam por um período de quatro meses, a
f) Autarquias de controle: encontram-se aqui as chamada quarentena; possuem ainda impossibilidade
agências reguladoras. de submissão aos chamados recursos hierárquicos
impróprios, o que lhes permite ter mais independência
decisória; além disso, cobram a chamada taxa de
Autonomia Administrativa Financeira fiscalização, permitindo maior autonomia financeira.

As autarquias desempenham atividades tipicamente Essas entidades têm as seguintes finalidades básicas: a)
públicas. O ente político "abre mão" do desempenho de fiscalizar serviços públicos (ANEEL, ANTT, ANAC,
determinado serviço, criando entidades com ANTAC); b) fomentar e fiscalizar determinadas
personalidade jurídica (autarquias) apenas com o atividades privadas (ANCINE); c) regulamentar,
objetivo de realizar tal serviço. controlar e fiscalizar atividades econômicas (ANP); d)
exercer atividades típicas de estado ( ANVS, ANVISA e
Por força de tal característica, as autarquias são ANS).
denominadas de serviços públicos descentralizados,
serviços públicos personalizados ou serviços estatais
descentralizados, contando com autonomia EMPRESA PÚBLICA E SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA
administrativa e financeira (dotação orçamentária
própria). Embora as atividades empresariais não sejam o foco das
atividades Estatais, por vezes, o Estado se vê obrigado
pelas circunstâncias a criar entidades regidas pelas
Autarquias em regime especial mesmas normas do setor privado. Surgem neste
contexto, as Sociedades de Economia mista e as
Autarquia de regime especial é toda aquela em que a lei empresas Públicas, ambas pessoas jurídicas de direito
instituidora conferir privilégios específicos e aumentar privado, instituídas com a finalidade de exercer o papel
sua autonomia comparativamente com as autarquias do Estado-empresário, sempre justificado pelo
comuns, sem infringir os preceitos constitucionais interesse público.
pertinentes a essas entidades de personalidade pública.
O que posiciona a autarquia de regime especial são as Ressalte-se que ambas as espécies de empresas estatais
regalias que a lei criadora lhe confere para o pleno são criadas ou para explorar atividades econômicas, ou
desempenho de suas finalidades específicas. São para prestar serviços públicos como distribuição de
exemplos dessas autarquias o BACEN e as Agências água, energia elétrica, etc.
Reguladoras. Note-se que a exploração da atividade econômica só se
justifica pelo disposto no art. 173 da Constituição da
República (quando necessária aos imperativos da
segurança nacional ou a relevante interesse coletivo).

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Características em comum: qualquer vantagem ou aumento de remuneração,


criação de empregos, alteração de estrutura de
o personalidade jurídica de direito privado;
carreiras e contratação de pessoal; seus empregados
o realização de atividades econômicas, incluindo são equiparados aos funcionários públicos para fins
prestação de serviços públicos; penais; são considerados agentes públicos para fins de
o derrogações (alterações parciais) do regime de incidência das sanções na hipótese de improbidade
direito privado por normas de direito público; administrativa.

o a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas f) Autorização legislativa para criação de subsidiárias ou
privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações participação em empresas privadas.
civis, comerciais, trabalhistas e tributários; g) Vedação a Deputados e Senadores, sob pena de
o não poderão gozar de privilégios fiscais não perda de mandato, de, a partir da diplomação firmarem
extensivos ao setor privado. ou manterem contrato com essas entidades, aceitar ou
exercer cargo, função ou emprego remunerado,
inclusive demissíveis ad nutum; e, a partir da posse a
Derrogações do Regime de Direito Privado Por Normas proibição de ocupar cargo ou função de que sejam
de Direito Público demissíveis ad nutum e de patrocinar causa em que seja
interessada qualquer das referidas entidades.
Apesar de serem pessoas jurídicas de direito privado,
não se aplica o Direito Privado integralmente às h) Legitimidade ativa para proposição de Ação civil
Empresas Estatais, pois são entidades da Administração pública, na defesa do patrimônio público e social, do
Pública sujeitas a um regime híbrido, ou seja, em meio ambiente e de outros interesses difusos e
maioria privado, mas com uma adição de normas do coletivos.
direito público, tais como: i) Em caso de estado de sítio, as empresas prestadoras
a) Possibilidade de sujeição passiva à Ação Popular e de serviços públicos ficam sujeitas à intervenção.
mandado de segurança. j) Obrigatoriedade de licitação em atividades meio.
b) Submissão aos princípios da Administração Pública. l) Responsabilidade objetiva das que forem prestadoras
c) Controle estatal – abrangendo o interno (pelo Poder de serviços públicos, bem como a responsabilidade
Executivo, através da tutela) e o externo (pelo Poder subsidiária do Estado.
Legislativo, com o auxilio dos Tribunais de Contas). O m) Não sujeição à falência.
controle exercido pelas Cortes de Contas compreende o
julgamento das contas dos administradores e demais n) Regidas por estatuto jurídico definido por lei (Lei
responsáveis por dinheiros, bens e valores; a 13303/16), que inclui: sua função social, a fiscalização a
apreciação, para fins de registro da legalidade dos atos ser exercida pelo Estado e pela sociedade, a sujeição ao
de admissão de pessoal, excetuadas as nomeações em regime privado quanto aos direitos e obrigações civis,
comissão, aposentadoria e pensões; além da realização comerciais, trabalhistas e tributários, a constituição e o
de inspeções e auditorias de natureza contábil, funcionamento dos conselhos de administração e fiscal,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial. os mandatos, avaliação de desempenho e
responsabilidade dos administradores e regras próprias
d) Finanças Públicas – sujeição aos limites globais e quanto a licitações e contratos administrativos.
condições para operações de crédito externo e interno,
estabelecidos pelo Senado; obediência à lei o) Criação por Autorização Legislativa Específica - De
complementar que disponha sobre dívida externa e acordo com a nova redação dada pela emenda
interna; inclusão na lei orçamentária anual, do constitucional nº 19 ao art. 37, XIX, da Constituição da
orçamento fiscal, de seguridade social e de República, a criação das empresas públicas necessita de
investimentos. autorização legislativa específica. Desse modo, no
aspecto da criação da pessoa deve o Estado
e) Servidores Públicos – exigência de concurso público providenciar a prática do ato que contenha o estatuto,
para ingresso; proibição de acumulação de cargos, ou dos próprios atos constitutivos da entidade, para
empregos e funções; sujeição ao limite constitucional que sejam inscritos no registro próprio. A extinção
de remuneração quando inseridos em empresas também reclama lei autorizadora.
dependentes do cofre público, restrição à existência de
prévia dotação orçamentária quanto a concessão de p) Imunidade tributária para empresas estatais
prestadoras de serviços públicos. Precedentes do STF:

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RE 424.227/SC, 407.099/RS, 354.897/RS, 356.122/RS e Tem se travado uma grande discussão acerca da
398.630/SP, Ministro Carlos Velloso, 2ª Turma. natureza jurídica das fundações públicas. Há duas
correntes sobre a matéria. A primeira, dominante,
q) A dispensa do empregado de empresas públicas e
defende a existência de dois tipos de fundações
sociedades de economia mista que prestam serviços
públicas: as de direito público e as de direito privado;
públicos deve ser motivada (STF - RECURSO
por este entendimento, as fundações de direito público
EXTRAORDINÁRIO 589.998 PIAUÍ).
são verdadeiras autarquias, pelo que se denominam
fundações autárquicas ou autarquias fundacionais. A
DIFERENÇAS ENTRE AS SOCIEDADES DE ECONOMIA segunda corrente afirma que, mesmo instituídas pelo
MISTA E AS EMPRESAS PÚBLICAS poder público, as fundações devem sempre ter
personalidade jurídica de direito privado.
Sociedade de O Decreto-Lei n.º 200/67 assim conceituou a Fundação
Aspectos Empresa Pública
Economia Mista Pública – a entidade dotada de personalidade jurídica
Parte do capital de direito privado, criada em virtude da autorização
pertencente ao legislativa, para o desenvolvimento de atividades que
Capital Poder Público e não exijam execução por órgãos ou entidades de direito
Capital exclusivamente outra parte ao público, com autonomia administrativa, patrimônio
público setor privado, próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e
tendo, sempre, o funcionamento custeado por recursos da União e de
controle público. outras fontes.
Os fins a que se destinam as fundações públicas são
Qualquer forma sempre de caráter social e suas atividades se
admitida em Direito. caracterizam como serviços públicos. Por esse motivo
Somente a forma
(admitindo-se jamais podem intervir no domínio econômico. O
Forma de Sociedade
empresas comum é que se destinem a atividades de assistência
Anônima.
pluripessoais ou social, saúde, educação, pesquisa científica, proteção
unipessoais) do meio ambiente, atividades culturais, etc. Note-se,
neste ponto, que a partir da EC 19/98, o inciso XIX do
As causas de
De acordo com o art. art. 37 da CF passou a prever, em sua parte final, que lei
interesse das
109 da CF, as causas complementar estabeleça as áreas em que poderão
sociedades de
de interesse das atuar fundações públicas. Trata-se de regra aplicável
economia mista
empresas públicas independente da natureza jurídica da fundação. A
federais serão
Competência federais serão referida lei ainda não foi editada, provavelmente,
julgadas na Justiça
julgadas na Justiça quando o for, será encampada a lição da doutrina,
Estadual, com
Federal, com exceção segundo a qual as fundações públicas devem atuar em
exceção das
das causas área de interesse social. Seria uma lei geral, obrigatória
causas
trabalhistas. para todas as pessoas políticas da federação. O Projeto
trabalhistas.
de lei ainda tramita no Congresso, observe o texto:
PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº 92/2007.
FUNDAÇÕES PÚBLICAS Regulamenta o inciso XIX do art. 37 da Constituição
As fundações públicas se caracterizam pela Federal, parte final, para definir as áreas de atuação de
circunstância de ser atribuída personalidade jurídica a fundações instituídas pelo poder público.
um patrimônio preordenado a certo fim social. É
inerente às fundações sua finalidade social, ou seja, a
perseguição a objetivos que, de alguma forma, O CONGRESSO NACIONAL decreta:
produzam benefícios aos membros da coletividade. Art. 1º Poderá, mediante lei específica, ser instituída ou
Oriundas do direito privado, a figura das fundações autorizada a instituição de fundação sem fins lucrativos,
públicas assemelham-se às fundações de privadas, a integrante da administração pública indireta, com
medida em que têm como características principais: a personalidade jurídica de direito público ou privado,
figura do instituidor (nesse caso o Estado), o fim social nesse último caso, para o desempenho de atividade
da entidade e a ausência de fins lucrativos.

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estatal que não seja exclusiva de Estado nas seguintes privados, caso utilizados diretamente na prestação de
áreas: serviços públicos, são impenhoráveis, por força do
princípio da continuidade do serviço público);
I - saúde;
5. Pessoal – Estatutário quando de direito público,
II - assistência social;
celetista quando de direito privado.
III - cultura;
6. funcionamento custeado por recursos dos entes que
IV - desporto; a criaram e outras fontes;
V - ciência e tecnologia; 7. Regras para exercício do mandato eletivo – as
VI- meio ambiente; mesmas, independente da natureza jurídica;

VII - previdência complementar do servidor público, de 8. Isenção do pagamento de custas judiciais na justiça
que trata o art. 40, §§ 14 e 15, da Constituição Federal; federal, em ambos os casos (conforme Art. 4º da Lei n.º
9286/96);
VIII - comunicação social; e
9. Foro de julgamento – O que se tem observado na
IX - promoção do turismo nacional. jurisprudência é o entendimento do foro federal para
§ 1º Para os efeitos desta Lei Complementar, ambas. O STJ em 1996 afirmou essa posição, ao afirmar
compreendem-se também na área da saúde os que as Fundações públicas de direito privado, sendo
hospitais universitários federais. federais, são equiparadas às empresas públicas federais
para o efeito do Art. 109, I da CF, sendo da JF a
§ 2º O encaminhamento de projeto de lei para autorizar competência para processar e julgar as causas de que
a instituição de hospital universitário federal sob a participem (CC 16.397, rel. Min. Sálvio de Figueiredo
forma de fundação de direito privado será precedido de Teixeira, 28.08.1996). No mesmo sentido, encontra-se a
manifestação pelo respectivo conselho universitário. Lei n.º 10.259/01 que estatui poderem ser parte, como
Art. 2º. Esta Lei Complementar entra em vigor na data rés, nos Juizados Especiais Federais Cíveis, a União,
de sua publicação. autarquias, fundações e empresas públicas federais,
sem menção à personalidade jurídica das fundações a
Brasília, de 2007; 186º da Independência e 119º da
que se referem.
República.
10. Sujeitas a obrigatoriedade de licitação.
Principais características:
11. Realizam concursos públicos.
1. Criação e extinção: se forem de direito privado a lei
apenas autorizará sua criação (a personalidade em si só 12. Submetem-se aos princípios da Administração
é adquirida quando ocorre a inscrição de escritura
pública de sua constituição no Registro de Pessoas
Jurídicas). Se a fundação for de natureza autárquica, ou PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
seja, de direito publico a regra a ser aplicada é a mesma
das autarquias, ou seja, a própria lei dá nascimento à
entidade. O mesmo raciocínio deve ser utilizado para a Os poderes administrativos são inerentes à
extinção dessas entidades. Administração Pública para que esta possa proteger o
interesse público. Encerram prerrogativas de
2. Prerrogativas processuais (prazo em dobro, duplo autoridade, as quais, por isso mesmo, só podem ser
grau de jurisdição, ...) – só possuem se revestirem-se de exercidas nos limites da lei. São os poderes normativo
personalidade jurídica de direito público; (ou regulamentar), disciplinar, hierárquico e poder de
3. Privilégios tributários – o princípio da imunidade polícia. Poderes discricionário e vinculado não existem
tributária, relativa aos impostos sobre a renda, o como poderes autônomos. Discricionariedade e
patrimônio e os serviços federais, estaduais e vinculação são, no máximo, atributos de outros poderes
municipais é extensivo às fundações públicas tanto de ou competências da Administração. Segundo Hely Lopes
natureza pública, quanto privada; Meirelles, “poder vinculado ou regrado é aquele que o
Direito Positivo – a lei – confere à Administração Pública
4. Patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos para a prática de ato de sua competência,
de direção; – bens públicos quando autárquicas, bens determinando os elementos e requisitos necessários à
privados, quando de personalidade de direito privado sua formalização.” O agente está totalmente preso ao
(aqui é importante ressaltar que mesmo sendo bens previsto na lei. “Poder discricionário é o que o Direito

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DIREITO ADMINISTRATIVO

concede à Administração, de modo explícito ou Lei e poder regulamentar


implícito, para a prática de atos administrativos com
Os atos administrativos que regulamentam as leis não
liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade
podem criar direitos e obrigações, porque isso é vedado
e conteúdo.” (Direito Administrativo Brasileiro, p.
em dos postulados fundamentais de nosso sistema
102/103)
jurídico: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
Poder regulamentar fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (CF, art. 5°,
II).
Poder regulamentar é a prerrogativa conferida à
Administração Pública de editar atos gerais para É legítima, porém, a fixação de obrigações derivadas ou
complementar as leis e possibilitar sua efetiva subsidiárias – diversas das obrigações primárias ou
aplicação. Seu alcance é apenas de norma originárias contidas na lei – nas quais também
complementar à lei; não pode, pois, a Administração, encontra-se a imposição de certa conduta dirigida ao
alterá-la a pretexto de estar regulamentando-a. Se o administrado. Constitui, no entanto, requisito de
fizer, cometerá abuso de poder regulamentar, validade de tais obrigações sua necessária adequação às
invadindo a competência do Legislativo. matrizes legais.
O poder regulamentar é de natureza derivada (ou
secundária): somente é exercido à luz de lei existente.
Controle dos atos de regulamentação
Já as leis constituem atos de natureza originária (ou
primária), emanando diretamente da Constituição. Visando coibir a indevida extensão do poder
regulamentar, dispôs o art. 49, V, da CF, ser da
ATENÇÃO: Aqui os autores divergem, dado o fato de
competência exclusiva do Congresso Nacional sustar os
alguns considerarem o Poder Regulamentar uma
atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do
prerrogativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo.
poder regulamentar ou dos limites da delegação
Para estes autores, portanto, só têm Poder
legislativa.
Regulamentar o Presidente da República, o Governador
e o Prefeito. Neste caso, o poder geral conferido à No que se refere ao controle judicial, há que se
Administração para editar seus atos complementares à distinguir a natureza do conteúdo do ato regulamentar.
lei é chamado de PODER NORMATIVO, do qual decorre Tratando-se de ato regulamentar contra legem, ou seja,
o Poder Regulamentar, este, portanto, uma espécie aquele que extrapole os limites da lei, viável apenas
daquele. será o controle de legalidade resultante do confronto
do ato com a lei. Assim, incompatível, no caso, o uso da
ação direta de inconstitucionalidade.
Formalização
Se o ato, todavia, ofender diretamente a Constituição,
A formalização do Poder Regulamentar se processa, sem que haja lei a que deva subordinar-se, terá a
principalmente, por meio de decretos. Nesse sentido é qualificação de um ato autônomo e, nessa hipótese,
que o art. 84, IV, da Constituição dispõe que ao poderá sofrer controle de constitucionalidade pela via
Presidente da República compete “expedir decretos e direta, ou seja, através da ação direta de
regulamentos para a fiel execução das leis”. Pelo inconstitucionalidade, medida a que possibilita a
princípio da simetria constitucional, o mesmo poder é impugnação de leis ou atos normativos que contrariem
conferido a outros chefes do Poder Executivo para os a Constituição.
mesmos objetivos.
Atualmente, entretanto, é cabível a impugnação direta
Há também atos normativos que, editados por outras de atos regulamentares pela arguição de
autoridades administrativas, estão inseridos no Poder descumprimento de preceito fundamental (ADPF),
Regulamentar. É o caso das instruções normativas, prevista no art. 102, § 1°, da CF, e regulamentada pela
resoluções, portarias, etc. Tais atos têm, Lei 9.882/99, porque aqui o controle concentrado é
frequentemente, um âmbito de aplicação mais restrito, mais amplo, abrangendo a inconstitucionalidade direta
porém, veiculando normas gerais e abstratas para a e a indireta, atos normativos autônomos e
explicitação das leis, também são meios de formalização subordinados e até mesmo atos administrativos
do Poder Regulamentar. concretos. A ADPF é uma ação subsidiária, ou seja,
somente pode ser utilizada nos casos em que não
houver outra medida judicial para sanar a ilegalidade ou
inconstitucionalidade do ato.

14
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DIREITO ADMINISTRATIVO

A omissão da Administração Pública em sua função Regulamentos autônomos


regulamentar pode ser controlada pelo Poder Judiciário
Existe profunda divergência na doutrina sobre a
por meio de duas ações constitucionais: o mandado de
possibilidade ou não, de o Executivo editar ou os
injunção, que deve ser concedido “sempre que a falta
denominados regulamentos autônomos, atos
de norma regulamentadora torne inviável o exercício
destinados a prover sobre situações não previstas na
dos direitos e liberdades constitucionais e das
lei.
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania” (art. 5º, LXXI); e a ação declaratória de Uma primeira posição defende sua existência no Direito
inconstitucionalidade por omissão, na qual, se for Brasileiro como decorrência dos poderes implícitos da
considerada ausente “medida para tornar efetiva norma Administração. Outros professam o entendimento de
constitucional, será dada ciência ao Poder competente que, conquanto possam teoricamente existir, os
para a adoção das providências necessárias e, em se regulamentos autônomos não são admitidos, pois a CF
tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta atribui ao Chefe do Poder Executivo o poder de editar
dias” (art. 103, § 2º). atos para a fiel execução das leis, razão porque só teria
admitido os regulamentos de execução.
Para que os regulamentos sejam caracterizados como
Lei pendente de regulamento
autônomos, é necessário que os atos possam criar e
A regra legal que autoriza o Poder Executivo a extinguir primariamente direitos e obrigações, isto é,
regulamentar a lei deve necessariamente apontar o sem prévia lei disciplinadora da matéria, suprimindo,
prazo para ser expedido o ato de regulamentação. assim, lacunas legislativas. Inicialmente, a CF não previa
Nesse prazo, a lei ainda não se torna exequível nenhuma situação na qual a Administração Pública
enquanto não editado o respectivo decreto ou pudesse editar decretos autônomos. Porém, com a
regulamento, e isso porque o ato regulamentar, nessa Emenda Constitucional 32/2000, passou a ser prevista
hipótese, figura como verdadeira condição suspensiva essa modalidade no art. 84, VI:
de exequibilidade da lei.
“VI – dispor, mediante decreto, sobre:
A omissão em regulamentar a lei é inconstitucional,
a) organização e funcionamento da administração
visto que, em última análise, seria o mesmo que atribuir
federal, quando não implicar aumento de despesa nem
ao Executivo o “poder de legislação negativa”, ou seja,
criação ou extinção de órgãos públicos;
de permitir que a inércia tivesse o condão de estancar a
aplicação da lei, o que, obviamente, ofenderia a b) extinção de funções ou cargos públicos, quando
separação de poderes. vagos;”
Assim, se for ultrapassado o prazo de regulamentação Portanto, é possível a existência de atos administrativos
sem a edição do respectivo regulamento, a lei deve que não estão subordinados a nenhuma lei, desde que
tornar-se exequível para que a vontade do legislador cumpridos os seguintes requisitos:
não se afigure inócua e eternamente condicionada à do a) o ato deve ser um decreto, editado pelo Presidente
administrador. Nesse caso, os titulares dos direitos da República e pelo Ministro ou Secretário da área. Nos
previstos na lei passam a dispor de ação com vistas a termos do princípio da simetria, essa possibilidade
obter, do Judiciário, decisão que lhes permita exercê- estende-se também aos chefes dos Poderes Executivos
los, suprindo a ausência de regulamento. dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal;
A ausência, na lei, da fixação de prazo para a sua b) sua matéria deve ser somente a organização e o
regulamentação é inconstitucional, uma vez que não funcionamento da Administração Pública;
pode o Legislativo deixar ao Executivo a prerrogativa de
só tornar a lei exequível se e quando julgar conveniente. c) mesmo no tocante à Administração Pública, não
Primeiramente, não existe tal prerrogativa na podem implicar em:
Constituição. E depois tal situação equivale a uma I) aumento de despesa;
disfarçada delegação de poderes, o que é proibido pelo
vigente sistema constitucional. II) criação ou extinção de órgãos públicos; e
III) extinção de funções ou de cargos públicos, exceto
quando vagos.
Apesar de editados pelo Presidente da República, que é
o chefe da Administração Pública Federal, e não

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DIREITO ADMINISTRATIVO

estarem subordinados à lei, não são regulamentos mediante a descoberta da irregularidade é obrigatória)
autônomos: e no que diz respeito à aplicação da penalidade ao
agente faltoso, uma vez que comprovada a infração não
a) medidas provisórias, que não são leis, mas têm força
se pode deixar de penalizar o responsável.
de lei, estando incluídas pela Constituição na seção
referente ao processo legislativo. São, portanto, atos
legislativos, excepcionalmente feitos pelo Poder
Poder Hierárquico.
Executivo;
A organização administrativa é baseada em dois
b) decretos de intervenção (federal ou estadual), de
pressupostos: distribuição de competências e
instauração do estado de defesa e do estado de sítio.
hierarquia (relação de coordenação e subordinação
Esses decretos são atos políticos, pois se referem ao
entre os vários órgãos que integram a Administração
governo e não à Administração Pública.
Pública). Poder hierárquico, segundo Hely Lopes
Meirelles, é o de que dispõe o Poder Executivo para
distribuir e escalonar as funções de seus órgãos,
Poder Disciplinar
ordenar e rever a atuação de seus agentes,
O Poder Disciplinar refere-se à competência da estabelecendo a relação de subordinação entre os
Administração Pública para apurar infrações e aplicar servidores do seu quadro de pessoal. Da organização
sanções aos servidores públicos e demais pessoas que administrativa decorrem para a Administração Pública
possuam um vínculo especial com o Poder Público, diversos poderes como, por exemplo, poder de dar
submetidas à disciplina interna da Administração. Para ordens aos subordinados que implica o dever de
os servidores, o poder disciplinar é uma decorrência da obediência para estes últimos, ressalvadas as ordens
hierarquia. manifestamente ilegais; poder de controlar a atividade
O poder disciplinar da Administração não deve ser dos órgãos inferiores, para examinar a legalidade de
confundido com o poder punitivo do Estado , realizado seus atos e o cumprimento de suas obrigações,
por meio da Justiça Penal. O disciplinar é interno à podendo anular os atos ilegais ou revogar os
Administração, enquanto que o penal visa a proteger os inconvenientes ou inoportunos, seja ex officio, seja
valores e bens mais importantes do grupo social em mediante provocação dos interessados, por meios de
questão. A punição disciplinar e a penal têm recursos hierárquicos; poder de avocar atribuições,
fundamentos diversos. desde que estas não sejam da competência privativa do
órgão subordinado; poder de delegar atribuições que
Vale lembrar que nenhuma penalidade pode ser não lhe sejam exclusivas etc.
aplicada sem prévia apuração por meio de
procedimento legal em que sejam assegurados o
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos Poder de polícia
a ela inerentes (art. 5º, LV, da CF).
Um dos poderes da Administração resulta exatamente
É importante ressaltar que o poder disciplinar pode ser do inevitável confronto entre os interesses público e
combinando tanto com o poder discricionário quanto privado e expressa a necessidade de impor restrições ao
com o vinculado. Será combinado com o poder exercício dos direitos dos indivíduos. Quando o Poder
discricionário quando estivermos falando da escolha da Público interfere na órbita do interesse privado para
penalidade (quando permitida em lei), assim como nos salvaguardar o interesse público, restringindo direitos
casos em que a penalidade pode ser graduada (como no individuais, atua no exercício do poder de polícia.
caso de uma suspensão que varia entre 1 e 90 dias, por
De acordo com Bandeira de Mello (2004, p. 725-727), a
exemplo). Além disso, os tipos de infração disciplinar
essência do poder de polícia é o seu caráter negativo:
são mais discricionários que os tipos penais, por
exemplo, assim, também há discricionariedade na “No sentido de que através dele, o Poder Público, de
definição da infração; é como diz o saudoso Professor regra, não pretende uma atuação do particular,
Hely Lopes Meireles: “O poder disciplinar não é pretende uma abstenção. (...) a utilidade pública é, no
vinculado à prévia definição em lei sobre a infração mais das vezes, conseguida de modo indireto pelo
cometida e sua respectiva sanção”. poder de polícia, em contraposição à obtenção direta
de tal utilidade, obtida por meio dos serviços públicos”.
Por sua vez, será combinado com o poder vinculado no
tocante à apuração do suposto ilícito praticado pelo
agente (a abertura de processo para investigação,

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Sentido amplo e restrito b) Consentimento de polícia: possibilita ao particular o


exercício de atividade controlada pelo Poder Público,
A expressão poder de polícia comporta dois sentidos,
através de permissões (discricionárias) e licenças
um amplo e um restrito. Em sentido amplo, poder de
(vinculadas). Nem sempre estará presente, dado o fato
polícia significa toda e qualquer ação restritiva do
de que nem todas as atividades do particular
Estado em relação aos direitos individuais. Esta é a
necessitam deste tipo de manifestação da
função do Poder Legislativo, incumbido da criação do
Administração Pública.
direito legislado, e isso porque apenas as leis podem
delinear o perfil dos direitos, aumentando ou reduzindo c) fiscalização: verificação do cumprimento das normas
seu conteúdo. e das condições estabelecidas na permissão de polícia;
Em sentido estrito, o poder de polícia é a atividade d) sanção de polícia: aplicação de penalidades àqueles
administrativa, consistente no poder de restringir e que descumprirem as normas e as condições da
condicionar o exercício dos direitos individuais em permissão de polícia. Também pode ser utilizada a
nome do interesse coletivo. Esse é o definição dada medida de polícia, com o objetivo de impedir a
pelo Código Tributário Nacional: ocorrência de dano. Ex.: após fiscalização que comprova
a existência de comida estragada em um restaurante, a
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da
Administração impõe uma multa (sanção) e destrói a
administração pública que, limitando ou disciplinando
comida estragada (medida de polícia).
direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato
ou a abstenção de fato, em razão de interesse público Classificação do Poder de Polícia:
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
Poder de polícia originário: seria aquele exercido pelas
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao
pessoas políticas (entes da federação).
exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à Poder de polícia derivado (ou delegado): aquele
tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e exercido pelas pessoas jurídicas que integram a
aos direitos individuais ou coletivos. administração indireta.
A doutrina consagrou a expressão “poder de polícia
delegado”, muito embora o emprego da palavra possa
Objeto e Finalidade: o objeto do poder de policia
causar alguma confusão. Com efeito, a hipótese é de
administrativa é todo bem, direito ou atividade
descentralização mediante outorga legal (também
individual que possa afetar a coletividade ou por em
chamada descentralização por serviços) e não de
risco a segurança nacional, exigindo, por isso mesmo,
descentralização mediante delegação (chamada
regulamentação, controle e contenção pelo Poder
descentralização por colaboração). Esta última implica
Público; com esse propósito a Administração pode
transferir a particulares – não mediante lei, e sim, por
condicionar o exercício de direitos individuais, pode
meio de contrato administrativo – a execução de
delimitar a execução de atividades, como pode
determinado serviço público. Nada tem a ver com o
condicionar o uso de bens que afetem a coletividade em
exercício do poder de polícia, que não pode ser
geral, ou contrariem a ordem jurídica estabelecida ou se
conferido a particulares.
oponham aos objetivos permanentes da Nação; a
finalidade do poder de polícia é a proteção ao interesse Costumeiramente, não se utiliza a expressão “poder de
público, nesse interesse superior não entram só os polícia outorgado” no caso do poder de polícia
valores materiais como, também, o patrimônio moral e atribuído às entidades às entidades da administração
espiritual do povo, expresso na tradição, nas indireta, e sim “poder de polícia delegado”, embora elas
instituições e nas aspirações nacionais da maioria que recebem suas atribuições mediante outorga legal.
sustenta o regime político adotado e consagrado na
Constituição e na ordem vigente.
Polícia administrativa e judiciária
Existem dois tipos de poder de polícia: administrativa e
Fases (ou ciclos) do poder de Polícia: judiciária.
a) norma de polícia (legislação): estabelece os limites do O poder de polícia administrativa cuida da adequação
exercício dos direitos individuais. Pode ser dos interesses individuais com o coletivo, podendo agir
constitucional, legal ou regulamentar; preventivamente (proibição de porte de arma, por
exemplo), sendo concretizada por intermédio de atos

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da administração. Atua por meio de órgão e manifesta- adequado e qual a sanção cabível diante das previstas
se por meio de atos normativos, tanto de alcance geral na norma legal.
(ex: portarias, regulamentos) como de efeitos concretos
Porém, em outros casos, a lei já estabelece que, diante
e específicos (ex: fechamento de estabelecimento
de determinadas situações a administração pública terá
comercial irregular, guinchar veículos, etc.)
que adotar uma solução previamente estabelecida, sem
A polícia judiciária trata da repressão das infrações margem de opção; são hipóteses em que o poder de
penais e é privativa de corporações especializadas, polícia será vinculado (ex: licença – uma vez
como a polícia civil e a federal. preenchidos os requisitos previstos em lei a
Administração é obrigada a concedê-la).
A principal diferença que se costuma apontar entre as
duas está no caráter preventivo da polícia A auto-executoriedade é a faculdade de a
administrativa, que se predispõe a impedir ou paralisar administração decidir e executar diretamente sua
atividades anti-sociais, e no repressivo da polícia decisão por seus próprios meios, sem intervenção do
judiciária que se preordena à responsabilização dos poder judiciário. No entanto, é importante lembrar que
violadores da ordem jurídica. Assim, a primeira terá por para utilizar-se disto é necessária a expressa
objetivo impedir as ações anti-sociais, e a segunda, autorização da lei ou em casos de medidas urgentes,
punir os infratores da lei penal. situações em que poderá ocorrer um prejuízo maior
para o interesse público.
Ressalte-se, no entanto, que embora o caráter de uma
seja EMINENTEMENTE preventivo e o de outra A coercibilidade significa a possibilidade da
EMINENTEMENTE repressivo, ambas as formas de administração pública impor a decisão administrativa
exercício de polícia possuem mecanismos tanto proferida, independentemente da manifestação de
repressivos quanto preventivos. Observe, por exemplo, vontade por parte do particular, autorizando ainda, o
a polícia administrativa aplicando multas ou realizando emprego de força para o seu cumprimento. O uso da
apreensões, nestes casos ela não está mais prevenindo força física pela administração, nas situações
e sim reprimindo. O mesmo ocorre quando se verifica a necessárias, é justificado por meio desse atributo,
ocorrência de fiscalizações preventivas de rotina da tornando-o, assim, indissociável da auto-
Polícia Federal nos aeroportos, no âmbito dos voos executoriedade.
internacionais.
Delegação do Poder do Polícia:
É importante ressaltar que a maioria da doutrina,
Finalidade Atuação Incid Regên baseada no entendimento de que o poder de império é
ência cia próprio e privativo do poder público, não admite a
delegação do poder de polícia a pessoas da iniciativa
Polícia Predispõe-se Atua por Sobr Norm
privada, ainda que se trate de uma delegatária de
adminis unicamente a meio de e os as
serviço público. O STF no julgamento da ADI 1717/DF de
trativa impedir ou órgãos da bens admin
2002, decidiu que o exercício do poder de polícia não
paralisar Administra e istrati
pode ser delegado a entidades privadas.
atividades ção direit vas
anti-sociais. os É possível, no entanto, sua outorga a entidades de
Direito Público da Administração Indireta, como as
Polícia Preordena-se à Atua por Sobr Direit
agências reguladoras (ANA, ANEEL, ANATEL, etc.), as
judiciári responsabilizaç meio da e o
autarquias corporativas (CFM, CFO, CONFEA, etc). Neste
a ão dos polícia de pess Proce
caso a doutrina consagrou a expressão “poder de
violadores da segurança oas ssual
polícia derivado” para referir-se ao exercício de polícia
ordem jurídica Penal
pelas entidades públicas descentralizadas.
Controversa é a possibilidade do poder de polícia ser
Características ou Atributos do poder de polícia: delegado a entidades integrantes da Administração
discricionariedade, auto-executoriedade e Indireta que tenham personalidade de direito privado –
coercibilidade. Sociedades de Economia mista, Empresas Públicas e
Fundações Públicas de direito privado. A orientação
A discricionariedade do poder polícia refere-se à
tradicional da doutrina é de que o referido poder só
faculdade da administração pública de decidir qual o
pode ser exercido por pessoas jurídicas de direito
melhor momento de agir, qual o meio de ação mais
público.

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Porém, de acordo com recente entendimento do STJ, Pode-se constatar que os fatos administrativos podem
devem ser consideradas as quatro atividades relativas ser voluntários e naturais. Os fatos administrativos
ao poder de polícia: legislação, consentimento, voluntários se materializam de duas maneiras:
fiscalização e sanção. Assim, legislação e sanção
1º Por atos administrativos – que formalizam a
constituem atividades típicas da Administração Pública
providência desejada pelo administrador através da
e, portanto, indelegáveis. Consentimento e
manifestação da vontade;
fiscalização, por outro lado, não realizam poder
coercitivo e, por isso podem ser delegados. Observe a 2º Por condutas administrativas – que refletem os
decisão: comportamentos e as ações administrativas, sejam, ou
não, precedidas pelo ato formal.
“ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. TRÂNSITO.
SANÇÃO PECUNIÁRIA APLICADA POR SOCIEDADE DE Já os fatos administrativos naturais são aqueles que se
ECONOMIA MISTA. IMPOSSIBILIDADE. (...) 2. No que originam de fenômenos da natureza, cujos efeitos se
tange ao mérito, convém assinalar que, em sentido refletem na órbita administrativa.
amplo, poder de polícia pode ser conceituado como o Assim, quando se fizer referência a fato administrativo,
dever estatal de limitar-se o exercício da propriedade e deverá estar presente unicamente a noção de que
da liberdade em favor do interesse público. A ocorreu um evento dinâmico da Administração.
controvérsia em debate é a possibilidade de exercício
do poder de polícia por particulares (no caso, aplicação Atos administrativos
de multas de trânsito por sociedade de economia A Administração Pública realiza suas atividades através
mista). 3. As atividades que envolvem a consecução do de atos jurídicos unilaterais e bilaterais. Estes atos são
poder de polícia podem ser sumariamente divididas em capazes de movimentar as relações jurídicas, de forma
quatro grupo, a saber: (i) legislação, (ii) consentimento, a criar, modificar, extinguir ou simplesmente declarar
(iii) fiscalização e (iv) sanção. 4. No âmbito da limitação relações de direitos e deveres. Alguns desses atos são
do exercício da propriedade e da liberdade no trânsito, unilaterais, outros bilaterais.
esses grupos ficam bem definidos: o CTB estabelece
normas genéricas e abstratas para a obtenção da Nesse sentido, há atos jurídicos regidos pelo direito
Carteira Nacional de Habilitação (legislação); a emissão privado (Direito Civil, Direito Comercial, etc.) expedidos
da carteira corporifica a vontade o Poder Público normalmente pelos particulares e até mesmo pela
(consentimento); a Administração instala equipamentos própria Administração; é o caso de cheques, contratos
eletrônicos para verificar se há respeito à velocidade de aluguel, seguro, etc.
estabelecida em lei (fiscalização); e também a Por outro lado, há os atos jurídicos regidos pelo direito
Administração sanciona aquele que não guarda público, como os chamados atos administrativos, que
observância ao CTB (sanção). 5. Somente o atos representam a expressão de vontade da Administração
relativos ao consentimento e à fiscalização são Pública, no exercício de suas prerrogativas típicas. São
delegáveis, pois aqueles referentes à legislação e à atos jurídicos unilaterais, sujeitos a controle judicial e
sanção derivam do poder de coerção do Poder Público. tem por fim imediato adquirir, resguardar, transferir,
6. No que tange aos atos de sanção, o bom modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor
desenvolvimento por particulares estaria, inclusive, obrigações aos administrados ou a si própria.
comprometido pela busca do lucro - aplicação de multas
Como são a manifestação da função administrativa, os
para aumentar a arrecadação.” (STJ, REsp 817534 / MG)
atos administrativos estão presentes em todas as
Fatos Administrativos estruturas do poder público, inclusive dos Poderes que
A noção de fato administrativo tem o sentido da a exercem de forma atípica (Legislativo e Judiciário) ou
atividade material no exercício da função no âmbito das atividades de apoio do Ministério Público
administrativa, que visa ter efeitos de ordem prática ou dos Tribunais de Contas. As mesas legislativas e as
para a administração. Exemplos são: apreensão de autoridades judiciárias praticam esses atos
mercadorias, dispersão de manifestantes, administrativos mais restritos, quando, por exemplo,
desapropriação de bens privados, etc. Enfim, refere-se a dispõem sobre seus servidores, ordenam seus próprios
tudo aquilo que altera a dinâmica da Administração, é serviços ou expedem instruções sobre matéria de sua
uma verdadeira movimentação na ação administrativa. privativa competência. Ressalte-se, inclusive, que
alguns particulares, quando no exercício de atribuições
públicas podem expedir atos administrativos. É o caso
dos concessionários do serviço público ou de

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particulares em colaboração, como o cartorário, b) Sentindo Estrito: Em que acrescente à definição


competente para expedir certidões. anterior as característica da concreção e da
unilateralidade. Com isso, na acepção estrita de ato
Ressaltam-se as seguintes características contidas no
administrativo por ele apresentada, ficam excluídos os
conceito:
atos abstratos e os atos convencionais (como
a) trata-se de declaração jurídica, ou seja, produz contrato).
efeitos de direito, como: certificar, criar, extinguir,
Ainda Quanto ao conceito de ato administrativo é
transferir, declarar ou modificar direitos ou obrigações;
preciso distinguir o critério formal e o critério material.
b) provém do Estado ou de quem esteja investido em Pelo critério formal, incluem-se entre os atos
prerrogativas estatais; administrativos aqueles praticados pela administração,
c) é exercido no uso de prerrogativas públicas, portanto, portanto compreendendo também os atos da
sob regência do Direito Público, apartando-se dos atos Administração, excluindo os praticados pelo Poder
de Direito Privado; Legislativo e Judiciário. Esse critério tem pouco rigor
científico e é pouco adotado. Pelo critério material é
d) consiste em providências jurídicas complementares ato administrativo somente aquele que é praticado no
da lei ou da própria Constituição. Atos administrativos, exercício concreto da função administrativa.
são, portanto, infralegais ou infraconstitucionais.
Requisitos do Ato Administrativo
e) sujeita-se a exame de legitimidade por órgão
jurisdicional. No que diz respeito à elaboração do ato, exige-se o
cumprimento dos seguintes requisitos:
Ressalte-se ainda que os atos praticados pela
Administração Pública nem sempre são categorizados Competência: diz respeito ao poder atribuído ao agente
como Atos Administrativos. Embora estes sejam típicos para a prática de determinados atos. Diferentemente
da função administrativa, como já afirmado, não são do conceito de sujeito, dado pelo Direito Civil, o sujeito,
eles os únicos atos praticados no ambiente como elemento do ato administrativo, precisa ter não
administrativo. As expressões “Atos da Administração” só capacidade civil, as também competência. Ex: o gari,
e “Atos administrativos”, não se confundem. Atos mesmo tendo ingressado na administração pública
administrativos são uma espécie de atos praticados pela mediante concurso regular não pode lacrar
Administração Pública, mas ao seu lado figuram ainda estabelecimento de vende alimentos deteriorados.
vários outros como os atos privados, os contratos, os Assim, somente o ente com personalidade jurídica é
atos materiais. São, portanto, atos da Administração titular de direitos e obrigações, ou seja, somente as
Pública, que não são atos administrativos: pessoas políticas de direito público (União, Estados
a) Atos atípicos praticados pelo Poder Executivo, Distrito Federal e Municípios) têm capacidade para a
exercendo função legislativa ou de julgamento. Ex: distribuição de funções. Contudo, as funções que
Medida Provisória. competem a esses entes são distribuídas entre órgãos
administrativos, tais como ministérios e secretarias, e
b) Atos materiais (não jurídicos) praticados pelo Poder também os agentes públicos.
Executivo, enquanto comandos complementares da lei.
Ex: Ato de limpar as ruas; Ato de servir um café e etc. A competência é, em regra, decorrente da lei Diz-se em
regra, dado o fato de que competências administrativas
c) Atos regidos pelo direito privado praticados pelo podem, em determinados casos, ser estabelecidas por
Poder Executivo. MEDIDA PROVISÓRIA.
d) Atos políticos ou de governo praticados pelo Poder Vale ressaltar que a distribuição de competências pode
Executivo (atos complexos amplamente discricionários levar vários critérios em consideração:
praticados com base direta na Constituição Federal). Ex:
Sanção ou veto da lei; Declaração de guerra e etc. 1. Em razão da matéria, a competência se distribui
entre os Ministérios (na esfera federal) e entre
Observe-se também o conceito dos atos em sentido Secretarias (nos estados-membros e municípios);
amplo e em sentido estrito:
2. Em razão do território, distribui-se por zonas de
a) Sentindo Amplo: abrange os atos gerais e abstratos atuação;
(como regulamentos e os contratos administrativos,
em sentido amplo pode ser conceituado como a “ 3. Em razão do grau hierárquico, as atribuições são
declaração do Estado ou de quem lhe faça as vezes). distribuídas segundo o maior ou menor grau de
complexidade e responsabilidade;

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4. Em razão do tempo, determinadas atribuições têm Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo
que ser exercidas em períodos determinados, como aplica-se à delegação de competência dos órgãos
ocorre quando a lei fixa prazo para a prática de certos colegiados aos respectivos presidentes.
atos; também pode ocorrer a proibição de certos atos
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
em períodos definidos por lei, como nomeação de
servidores em período eleitoral; I - a edição de atos de caráter normativo;
5. Em razão do fracionamento, a competência pode ser II - a decisão de recursos administrativos;
distribuída por órgãos diversos, quando se trata de III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou
procedimentos ou de atos complexos. autoridade.
Da competência administrativa extrai-se as seguintes Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser
características: publicados no meio oficial.
a) É inderrogável – não pode ser modificada pela § 1o O ato de delegação especificará as matérias e
vontade do agente; poderes transferidos, os limites da atuação do
b) É de exercício obrigatório pelo agente/órgão a quem delegado, a duração e os objetivos da delegação e o
a lei lhe conferiu como própria (diz-se, portanto, recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício
irrenunciável); da atribuição delegada.
c) É imprescritível – pois o não exercício da § 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo
competência, independente do tempo, não a retira do pela autoridade delegante.
agente a quem a lei a atribuiu. § 3o As decisões adotadas por delegação devem
d) É improrrogável – a competência não se estende a mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-
órgão ou agente competente pelo simples fato de haver se-ão editadas pelo delegado.
ele praticado o ato, ou de ter sido ele o primeiro a Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por
tomar conhecimentos dos fatos que ensejariam a motivos relevantes devidamente justificados, a
prática desse ato. avocação temporária de competência atribuída a órgão
e) É intransferível – pois, embora passível de delegação hierarquicamente inferior.”
ou avocação a competência não deixa de ser do agente Objeto: também chamado de conteúdo, diz respeito ao
originalmente previsto pela lei. efeito jurídico IMEDIATO, pretendido pelo ato.
A delegação é o repasse transitório da competência a Exemplo: um decreto contendo a exoneração de
agente/órgão subordinado ou não subordinado, sempre servidor, apresenta como objeto a exoneração, assim
com a expressa previsão legal. como uma portaria designando servidor a uma função
de confiança, tem como objeto a designação.
Já a avocação, fenômeno contrário ao da delegação,
pressupõe o exercício da atribuição do subalterno por Assim, como no direito privado, o objeto deve ser lícito,
parte de seu superior. Note-se a necessidade da relação possível, certo (definido quanto ao destinatário, aos
hierárquica nesse caso. efeitos, ao tempo e o lugar) e moral.
Sobre o assunto, é importante observar o que dispõe a Forma: pode-se dizer que ela é mais importante no
Lei n.º 9784/99 (Lei do Processo Administrativo): direito administrativo, já que a obediência à forma e ao
procedimento constitui garantia jurídica para o
“Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce
administrado e para a própria administração pública.
pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como
Por meio do respeito à forma é que se possibilita o
própria, salvo os casos de delegação e avocação
controle da administração pública.
legalmente admitidos.
Encontram-se na doutrina duas concepções da forma
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão,
como elemento do ato:
se não houver impedimento legal, delegar parte da sua
competência a outros órgãos ou titulares, ainda que 1. Uma concepção restrita que considera forma como a
estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, exteriorização do ato, ou seja, o modo pelo qual a
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de declaração se exterioriza; nesse sentido, fala-se que o
índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. ato pode ter a forma escrita ou verbal, de decreto,
portaria, resolução, etc.

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2. Uma concepção ampla, que inclui no conceito de no ato como determinante da vontade, estará ele
forma, não só a exteriorização do ato, mas também irremediavelmente inquinado de vício de legalidade.
todas as formalidades que devem ser observadas
Veja-se um exemplo: se um servidor requer suas férias
durante o processo de formação da vontade da
para determinado mês, pode o chefe de a repartição
administração, e até os requisitos concernentes à
indeferi-las sem deixar expresso no ato o motivo; se,
publicidade do ato. Nesse sentido, portanto, considera-
todavia, indefere o pedido sob a alegação de que há
se forma dentro da ideia do procedimento do ato.
falta de pessoal na repartição, e o dizer: terá havido
Finalidade: é o bem jurídico observado com o ato. É o incompatibilidade entre o motivo expresso no ato e a
resultado previsto legalmente como o correspondente à realidade fática; esta não se coaduna com o motivo
tipologia do ato, consistindo no alcance dos objetivos determinante.
por ele comportados. A finalidade distingue-se do
É importante lembrar-se do conceito de Motivação,
motivo, porque este antecede a prática do ato,
para distingui-la de motivo: é a exposição dos motivos,
correspondendo aos fatos, às circunstâncias que levam
ou melhor, é a demonstração escrita que os
a administração pública a praticar o ato; aquela sucede
pressupostos de fato realmente existiram. A motivação
à prática do ato, porque corresponde a algo que a
é necessária seja para os atos vinculados, seja para os
administração quer alcançar com a sua edição.
discricionários, pois constitui garantia de legalidade.
Diz-se que a finalidade do ato é o efeito jurídico
ATENÇÃO: A competência, a forma e a finalidade são
MEDIATO que ele carrega, ou seja, o resultado final
requisitos sempre vinculados à lei. O objeto e o motivo
pretendido pela Administração com a prática do ato.
podem ser vinculados ou discricionários, conforme o
Motivo: é o pressuposto de fato e de direito que enseja grau de liberdade que a administração possui na
a edição do ato administrativo. O pressuposto de fato é elaboração do ato.
o conjunto de circunstâncias que levaram a
Assim, em um ato administrativo discricionário (onde
administração pública a praticar o ato, e o de direito é o
há a chamada análise de mérito) a competência, a
dispositivo legal em que se baseia o ato. Vale lembrar
forma e a finalidade continuarão sendo vinculadas à lei,
que uma vez consignados expressamente os motivos do
enquanto o motivo e o objeto serão discricionários.
ato, estes ficarão vinculados, atuando como elementos
vinculantes da administração. Sobre os motivos do ato é Já em um ato administrativo vinculado, todos os
importante observar: requisitos do ato (competência, forma, finalidade,
objeto e motivo) são vinculados.
Teoria dos Motivos Determinantes
Vícios dos Atos Administrativos
Desenvolvida no Direito francês, a teoria dos motivos
determinantes baseia-se no princípio de que o motivo Os vícios podem atingir os cinco elementos do ato,
do ato administrativo deve sempre guardar caracterizando os vícios quanto ao sujeito, à forma, o
compatibilidade com a situação de fato que gerou. A objeto, ao motivo e à finalidade.
manifestação da vontade. E não se afigura estranho que 1. Vícios relativos ao sujeito: quanto à competência e
se chegue a essa conclusão: se o motivo se conceitua quanto à capacidade.
como a própria situação de fato que impede a vontade
do administrador, a inexistência dessa situação provoca 1.1 Vícios relacionados à competência: o ato será
a invalidação do ato. viciado quanto a esse aspecto quando praticado por
quem não seja detentor das atribuições fixadas na lei e
Acertada, pois, a lição segundo a qual “tais motivos é também quando o sujeito o pratica exorbitando de suas
que determinam e justificam a realização do ato, e, por atribuições. A incompetência fica caracterizada quando
isso mesmo, deve haver perfeita correspondência o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que
entre eles e a realidade”. o praticou.
A aplicação mais importante desse principio incide Os principais vícios quanto à competência são:
sobre os discricionários, exatamente aqueles em que se
permite ao agente maior liberdade de aferição da a) usurpação de função: é inclusive conduta criminosa
conduta. Mesmo que um ato administrativo seja do agente, definido no artigo 328 do Código Penal,
discricionário, não exigindo, portanto, expressa ocorre quando a pessoa que pratica o ato não foi por
motivação, esta, se existir, passar a vincular o agente qualquer modo investida no cargo, emprego ou função;
aos termos em que foi mencionada. Se o interessado ela se apossa, por conta própria do exercício de
comprovar que inexiste a realidade fática mencionada

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atribuições próprias do agente público, sem ter essa respectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins
qualidade. até o terceiro grau. A suspeição, por sua vez, gera
presunção relativa de incapacidade, razão pela qual o
b) excesso de poder: ocorre quanto o agente público
vicio fica sanado, se não for argüido pelo interessado no
excede os limites de sua competência; por exemplo,
momento oportuno.
quando a autoridade, competente para aplicar a pena
de suspensão, impõe penalidade mais grave, que não é ATENÇÃO: ambas as hipóteses se enquadram como
de sua atribuição; ou quando a autoridade policial se atos anuláveis e, portanto, passíveis de convalidação
excede no uso da força para praticar ato de sua por autoridade que não esteja na mesmo situação de
competência. impedimento ou suspeição.
Constitui, juntamente com o desvio de poder, que é 2. Vícios relativos ao objeto: ocorre quando o resultado
vicio quanto à finalidade, umas das espécies de abuso do ato importa em violação de lei, regulamento ou
de poder. outro ato normativo. Como já dito, o objeto deve ser
lícito, possível (de fato e de direito), moral e
c) Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica
determinado. Assim, haverá vício em relação ao objeto
o ato está irregularmente investiga no cargo, emprego
quando qualquer desses requisitos deixar de ser
ou função, mas sua situação tem toda a aparência da
observado, o que ocorrerá quando for:
legalidade. Exemplo: falta de requisito legal para
investidura, como certificado de sanidade vencido; a) proibido por lei – ex: município que desaproprie bem
inexistência de formação universitária para função que da União;
a exige, idade inferior ao mínimo legal; o mesmo ocorre
b) diverso do previsto na lei para o caso sobre o qual
quando o servidor está suspenso do cargo ou exerce
incide. Ex: a autoridade aplica a pena de suspensão,
funções depois de vencido o prazo de sua contratação,
quando cabível a de repreensão;
ou continua em exercício após a idade limite para a
aposentadoria compulsória. c) impossível, porque os efeitos pretendidos são
irrealizáveis, de fato ou de direito, por ex: a nomeação
OBS: Segundo Maria Silvia Di Pietro, quando o ato é
para um cargo inexistente;
praticado por usurpador de função este é inexistente,
ao contrário, do ato praticado por funcionário de fato, d) imoral: por exemplo, parecer emitido sob
que pode ser considerado válido, precisamente pela encomenda, apesar de contrário ao entendimento de
aparência de legalidade de que se reveste; cuida-se, quem o profere;
aqui, de proteger a boa-fé do administrado. Se o e) incerto em relação aos destinatários, às coisas, ao
funcionário exerce a função em época normal, e é por tempo, ao lugar. Ex: desapropriação de bem não
todos aceito como legítimo, os seus atos podem ser definido com precisão.
tidos como válidos, quando praticados de boa-fé.
3. Vícios relativos à forma: o vício de forma consiste na
1.2 Vício quanto à capacidade: A lei do processo omissão ou na observância incompleta ou irregular de
administrativo federal (9784/99), prevê duas hipóteses formalidades indispensáveis à existência ou seriedade
de incapacidade do sujeito que pratica o ato do ato.
administrativo: o imepdimento e a suspeição.
O ato é ilegal por vicio de forma, quando a lei
Assim, impedido está o sujeito de atuar no processo expressamente a exige ou quando determinada
administrativo o servidor ou autoridade que tenha finalidade só possa ser alcançada por determinada
interesse direto ou indireto na matéria, tenha forma. Ex: o decreto é a forma que deve revestir o ato
participado ou venha a participar como perito, do Chefe do Poder Executivo; o edital é a única forma
testemunha ou representante, ou se relacionado ao possível para convocar interessados em participar de
cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro concorrência.
grau, ou ainda, caos esteja litigando judicial ou
administrativamente com o interessado ou respectivo 4. Vícios quanto ao motivo: ocorre quando a matéria
cônjuge ou companheiro. O impedimento gera uma de fato ou de direito em que se fundamenta o ato é
presunção absoluta de incapacidade, razão pela qual a materialmente inexistente ou juridicamente
autoridade fica proibida de atuar no processo. inadequada ao resultado obtido. Além disso, existe a
hipótese de falsidade do motivo. Ex: se a Administração
Já em se tratando de suspeição, esta ocorre quando a pune um funcionário, mas este não praticou qualquer
autoridade ou servidor tem amizade íntima ou infração, o motivo é inexistente; se ele praticou infração
inimizade notória com algum dos interessados, diversa, o motivo é falso.

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5. Vícios relativos à finalidade: trata-se do desvio de públicos, ao antepor o interesse individual ao interesse
poder ou desvio de finalidade. Verifica-se este vicio público.
quando o agente pratica ato visando um fim diverso
Imperatividade: é o atributo pelo qual o atos
daquele previsto, explícita ou implicitamente na regra
administrativos se impõem a terceiros,
de competência. Pode-se também dizer que o ocorre
independentemente de concordância, o que, mais uma
desvio de poder quando o agente pratica o ato com
vez, o diferencia do ato do direito privado, visto que,
inobservância do interesse público. Exemplo: a
este não cria obrigações para terceiros sem a sua
desapropriação feita para prejudicar determinada
concordância.
pessoa; a remoção do servidor como forma de
retaliação a uma determinada conduta, etc. Esse atributo não existe em todos os atos
administrativos, mas apenas naqueles que impõem
Conseqüências decorrentes dos vícios:
obrigações. A imperatividade inexiste quando se trata
No direito administrativo encontram-se diversas formas de ato que confere direitos solicitados pelo
de classificar os atos ilegais: administrado (licença, autorização) ou de ato apenas
enunciativo ( certidão, atestado, parecer), por
Atos nulos - os que a lei o declare; o irracional à
desnecessário à sua operatividade.
convalidação, nunca produzirá efeito. Em regra geral é
fiscalizado pelo Ministério Público, às vezes pelo juiz de Exigibilidade ou coercibilidade:
ofício, por qualquer do povo, pois é matéria de ordem
Exigibilidade é o poder que os atos administrativos
pública. A nulidade é insanável, pois infringiu preceito
possuem de serem exigidos quanto ao seu
legal obrigatório. É viciado o ato.
cumprimento, sob ameaça de sanção. Vai além da
Exemplo: Alienar Bem Público afetado ao serviço. imperatividade, pois traz uma coerção para que se
cumpra o ato administrativo.
Atos anuláveis - os que a lei o declare, os que podem ser
praticados sem vício; e os proferidos com defeito de A exigibilidade e a imperatividade podem nascer no
formalidade. mesmo instante cronológico ou primeiro a obrigação e
depois a ameaça de sanção, assim a imperatividade é
Exemplo: Demitiu o Servidor Público sem a Garantia da
um pressuposto lógico da exigibilidade.
Ampla Defesa. Faltou o requisito formal: Processo
Administrativo, etc. Auto-executoriedade:
Os atos anuláveis são convalidáveis. Os atos nulos não A auto-executoriedade consiste na possibilidade que
são convalidáveis. certos atos administrativos podem postos em execução
pela própria Administração, sem necessidade de
Atributos dos Atos administrativos
intervenção do Judiciário.
Os atos administrativos gozam dos seguintes atributos:
A auto-executoriedade não existe em todos os atos
Presunção de legitimidade: em função do princípio da administrativos, somente sendo possível quando
legalidade que vincula a administração pública, expressamente previsto em lei (de maneira tácita ou
presume-se que seus atos são editados conforme a lei e expressa) ou quando se trata de medida urgente que,
verdadeiros. É uma presunção relativa (iuris tantum), caso não adotada de imediato, possa ocasionar prejuízo
pois admite prova em contrário, mas transfere o ônus maior para o interesse público.
da prova aquele que invoca a ilegalidade.
O poder que possuí a Administração de poder executar
Enquanto não decretada a invalidade do ato, seja pela direta e imediatamente seus atos imperativos,
própria Administração ou pelo Poder Judiciário, este ato independente de mandado judicial, ocorre
inválido produzirá seus efeitos normais, por conta da especialmente quanto aos atos de polícia, podendo-se
presunção de legitimidade. Este atributo responde às citar, como exemplo a apreensão de mercadorias, o
exigências de celeridade e segurança das atividades da fechamento de casas noturnas e a demolição de prédio
Administração, que não poderiam, para dar-lhes que ameaça ruir.
execução, ficar na dependência da solução de
Faz-se necessário esclarecer que os atos auto-
impugnações por parte dos administrados, quanto à
executórios são os atos próprios do poder
legitimidade destes atos. Na verdade, se não existisse
administrativo. Nos atos que lhes são impróprios, a
tal presunção, toda atividade administrativa poderia ser
Administração, dependente da intervenção de outro
questionável, obstaculizando o cumprimento dos fins
poder, como ocorre na cobrança de um contencioso de
multa, dependerá da intervenção judicial.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Embora a decisão executória dispense a Administração  Internos - São atos administrativos destinados a
de ir preliminarmente a juízo, o controle judicial a produzir efeitos no âmbito das repartições públicas,
posteriori, que pode ser provocado por pessoa que se destinados ao pessoal interno, como portarias,
sentir lesada pelo ato administrativo, não está afastado. instruções ministeriais, etc., destinados aos seus
É possível, também, a suspensão de ato ainda não servidores. Podem ser mesmo assim, gerais ou
executado, através de pleito do interessado, pela via especiais, normativos, ordenatórios, punitivos, etc.,
judicial ou administrativa. conforme exigência do serviço.
Requisitos para a auto-executoriedade:  Externos ou de efeitos externos - São todos
aqueles que alcançam os administrados, os
a) Previsão expressa na lei: A Administração pode
contratantes e, em certos casos, até mesmo os próprio
executar sozinha os seus atos quando existir previsão na
servidores, provendo sobre seus direitos, obrigações,
lei, mas não precisa estar mencionada a palavra auto-
negócios ou conduta perante a Administração. Tais atos
executoriedade.
só entram em vigor após sua publicação em órgão
b) Previsão tácita ou implícita na lei: Administração oficial (diário oficial) dado seu interesse público.
pode executar sozinha os seus atos quando ocorrer uma
Quanto ao seu objeto:
situação de urgência em que haja violação do interesse
público e inexista um meio judicial idôneo capaz de a  De império ou atos de autoridade - São todos
tempo evitar a lesão. aqueles atos que a Administração pratica usando de sua
supremacia sobre o administrado ou sobre o servidor,
A autorização para a auto-executoriedade implícita está
impondo-lhes atendimento obrigatório. É o que ocorre
na própria lei que conferiu competência à
nas desapropriações, nas interdições de atividade e nas
Administração para fazê-lo, pois a competência é um
ordens estatutárias. Podem ser gerais ou individuais,
dever-poder e ao outorgar o dever de executar a lei,
internos ou externos, mas sempre unilaterais,
outorgou o poder para fazê-lo, seja ele implícito ou
expressando a vontade onipotente do Estado.
explícito.
 Atos de gestão - São os que a Administração
Tipicidade: é o atributo pelo qual o ato administrativo
pratica sem usar de sua supremacia sobre os
deve corresponder a figuras definidas previamente pela
destinatários, tal como ocorre nos atos puramente de
lei como aptas a produzir determinados resultados.
administração dos bens e serviços públicos e nos atos
Duas consequências podem ser apontadas como
negociais com os particulares, como, por exemplo, as
decorrentes desse atributo: 1- representa uma garantia
autorizações, licenças, permissões, etc.
para o administrado, pois impede que a Administração
pratique um ato, unilateral e coercitivo sem prévia  Atos de expediente - São os que se destinam a
previsão legal; 2- afasta a possibilidade de ser praticado dar andamento aos processos e papéis que tramitam
ato totalmente discricionário, pois a lei, ao prever o ato, pelas repartições públicas, preparando-os para a
já define os limites em que a discricionariedade poderá decisão de mérito a ser proferida pela autoridade
ser exercida. competente. São atos de rotina interna, sem caráter
vinculante e sem forma especial, praticados geralmente
Classificação dos atos administrativos
por servidores subalternos.
Quanto aos seus destinatários:
Quanto ao seu regramento:
 Atos gerais ou regulamentadores - São os atos
Vinculados ou regrados - São aqueles para os quais a lei
administrativos expedidos sem destinatários
estabelece os requisitos e condições de sua realização,
determinados, com finalidade normativa, alcançando
limitando a liberdade do administrador que fica adstrita
todos os sujeitos que se encontrem na mesma situação
aos pressupostos do ato legal para validade da
de fato em relação aos seus preceitos. São os
atividade administrativa. Desviando-se dos requisitos
regulamentos, instruções normativas, circulares, ordens
das normas legais ou regulamentares, fica
de serviços, etc.
comprometida a ação administrativa, viciando-se a
 Atos individuais ou especiais - São, ao eficácia do ato praticado que, assim, toma-se passível
contrário, todos aqueles que se dirigem a determinados de anulação. Ex.: aposentadoria compulsória do
destinatários (um ou mais sujeitos certos), criando-lhes servidor e a licença para edificações.
uma situação jurídica particular. Ex.: Decretos de
Discricionários - São aqueles atos que a Administração
desapropriação; atos de nomeação; de exoneração, etc.
pode praticar escolhendo livremente o seu conteúdo, o
Quanto ao seu alcance: seu destinatário, a sua conveniência, a sua

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DIREITO ADMINISTRATIVO

oportunidade e o modo da sua realização. A rigor, a Quanto exeqüibilidade:


discricionariedade não se manifesta no ato em si, mas
 Ato Perfeito: é aquele que está em condições de
no poder que Administração tem de praticá-lo quando e
produzir efeitos jurídicos, porque já completou todo o
nas condições que repute mais convenientes ao
seu ciclo de formação.
interesse público. Não se confunde com ato arbitrário.
Discrição é liberdade de ação dentro dos limites legais;  Ato Imperfeito: é aquele não completou seu ciclo
arbítrio é ação que excede à lei e por isto, contrária a de formação, por isso não está pronto para produzir
ela. O ato discricionário, quando permitido pelo direito, seus efeitos.
é legal e válido; o ato arbitrário, porém, é sempre
 Ato Pendente: é um ato que já completou suas
ilegítimo e inválido. Manifesta-se em função do poder
fases de formação, entretanto não produz seus efeitos
da Administração em praticá-lo nas condições que
porque está sob uma condição ou um termo.
julgar conveniente: abrir um concurso público
escolhendo o número de vagas, pavimentar uma  Ato Consumado: é o ato que exauriu todos os seus
estrada, etc. efeitos
É, portanto, nos atos discricionários que encontramos a
chamada análise de mérito administrativo Pode-se, Espécies de Atos Administrativo:
então, considerar mérito administrativo a avaliação da
conveniência e da oportunidade relativas ao motivo e ATOS NORMATIVOS: São atos que contém um
ao objeto, inspiradoras da prática do ato discricionário. comando geral, impessoal e abstrato. São os atos
Registre-se que não pode o agente proceder a qualquer normativos em espécie: Decretos, Regulamentos,
avaliação quanto aos demais elementos do ato – a Instruções normativas, Regimentos, Resoluções,
competência, a finalidade e a forma, estes vinculados Deliberações.
em qualquer hipótese. Mas lhe é lícito valorar os fatores Decretos: são atos administrativos da competência
que integram o motivo e que constituem o objeto, com exclusiva dos Chefes do executivo, destinados a prover
a condição, é claro, de se preordenar o ato ao interesse situações gerais ou individuais, abstratamente previstas
público. de modo expresso, explícito ou implícito, pela
Quanto à natureza: legislação; como ato administrativo está sempre em
situação inferior a lei, e por isso, não a pode contrariar;
 Simples – neste caso o ato emana da vontade há duas modalidades de decreto geral(normativo): o
de um só órgão (singular ou colegiado) ou agente
independente ou autônomo (dispõe sobre matéria não
administrativo. Exemplo: nomeação para cargo em
regulada especificamente em lei) e o regulamentar ou
comissão, deliberação de um Conselho. de execução(visa a explicar a lei e facilitar sua
 Complexos – são aqueles cuja vontade final da execução).
Administração exige a intervenção de agentes ou órgãos Regulamentos: são atos administrativos, postos em
diversos, havendo certa autonomia ou conteúdo vigência por decreto, para especificar os mandamentos
próprio, em cada uma das manifestações. Exemplo: A da lei ou prover situações ainda não disciplinadas por
investidura do Ministro do STF se inicia pela escolha do lei; tem a missão de explicá-la (a lei) e de prover sobre
Presidente da República; passa, após, pela aferição do minúcias não abrangidas pela norma geral; como ato
Senado Federal; e culmina com a nomeação.
inferior à lei, não pode contrariá-la ou ir além do que
 Compostos - Que resulta da vontade única de ela permite.
um órgão, mas depende da verificação por parte de Instruções normativas: são atos administrativos
outro, para se tornar exeqüível. Ex.: autorização que expedidos pelos Ministros de Estado para a execução
depende de visto de uma autoridade superior.
das leis, decretos e regulamentos (CF, art.87, p.único,II).
Quanto ao fim: Regimentos: são atos administrativos normativos de
 Declaratórios de direito - São os atos que atuação interna, dado que se destinam a reger o
declaram a legalidade de uma situação já existente e de funcionamento de órgãos colegiados e de corporações
conseqüência irremovíveis diante do Direito. legislativas; só se dirige aos que devem executar o
serviço ou realizar a atividade funcional regimentada.
 Constitutivos de direito - São os atos que dão
estabilidade jurídica a um fato até então de resultados
aleatórios.

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Resoluções: são atos administrativos normativos que se aplique aos casos idênticos, passando a vigorar
expedidos pelas altas autoridades do Executivo ou pelos como norma interna da Administração para situações
presidentes de tribunais, órgãos legislativos e análogas subseqüentes.
colegiados administrativos, para administrar matéria de
sua competência específica.
ATOS NEGOCIAIS: São atos que exprimem a vontade da
Deliberações: são atos administrativos normativos ou
Administração Pública coincidente com a vontade do
decisórios emanados de órgãos colegiados, quando
particular. Em espécie: Licença, autorização, permissão,
normativas são atos gerais, quando decisórios, atos
aprovação, admissão, visto, homologação, dispensa,
individuais; devem sempre obediência ao regulamento
renúncia e protocolo administrativo.
e ao regimento que houver para a organização e
funcionamento do colegiado. Licença: é o ato administrativo vinculado e definitivo
pelo qual o Poder Público, verificando que o
ATOS ORDINATÓRIOS: São atos que disciplinam a
interessado atendeu todas as exigências legais, faculta-
conduta interna da Administração e, portanto, são
lhe o desempenho de atividades ou a realização de
dirigidos aos servidores públicos. Decorrem da
fatos materiais antes vedados ao particular. Ex: o
organização hierarquizada da Administração. Por
exercício de uma profissão, a construção de um edifício
espécie: Instruções, Circulares, avisos, portarias, ordens
em terreno próprio.
de serviço, ofícios e despachos.
Autorização: é o ato administrativo discricionário e
Instruções: são ordens escritas e gerais a respeito do
precário pelo qual o Poder Público torna possível ao
modo e forma de execução de determinado serviço
pretendente a realização de certa atividade, serviço ou
público, expedidas pelo superior hierárquico com o
utilização de determinados bens particulares ou
escopo de orientar os subalternos no desempenho das
públicos, de seu exclusivo ou predominante interesse,
atribuições que lhes estão afetas e assegurar a unidade
que a lei condiciona à aquiescência prévia da
de ação no organismo administrativo.
Administração, tais como o uso especial de bem
Circulares: são ordens escritas, de caráter uniforme público, o porte de arma, etc.
expedidas a determinados funcionários incumbidos de
Permissão: é ato administrativo negocial, discricionário
certo serviço, ou de desempenho de certas atribuições
e precário, pelo qual o Poder Público faculta ao
em circunstâncias especiais.
particular a execução de serviços de interesse coletivo,
Avisos: são atos emanados dos Ministros de Estado a ou o uso especial de bens públicos, a título gratuito ou
respeito de assuntos afetos aos seus ministérios. renumerado, nas condições estabelecidas pela
Administração.
Portarias: são atos administrativos internos pelos quais
os chefes de órgão, repartições ou serviços expedem Aprovação: é o ato administrativo pelo qual o Poder
determinações gerais ou especiais a seus subordinados, Público verifica a legalidade e o mérito de outro ato ou
ou designam servidores para função e cargos de situações e realizações materiais de seus próprios
secundários. órgãos, de outras entidades ou de particulares,
dependentes de seu controle, e consente na sua
Ordens de Serviço: são determinações especiais
execução ou manutenção.
dirigidas aos responsáveis por obra ou serviços públicos
autorizando seu início, ou contendo imposições de Admissão: é o ato administrativo vinculado pelo qual o
caráter administrativo, ou especificações técnicas sobre Poder Público, verificando a satisfação de todos os
o modo e forma de sua realização. requisitos legais pelo particular, defere-lhe determinada
situação jurídica de seu exclusivo ou predominante
Ofícios: são comunicações escritas que as autoridades
interesse, como ocorre no ingresso aos
fazem entre si, entre subalternos e superiores e entre
estabelecimentos de ensino mediante concurso de
Administração e particulares.
habilitação.
Despachos:
Visto: é o ato pelo qual o Poder Público controla outro
a) Administrativos são decisões que as autoridades ato da própria Administração ou do administrado,
executivas proferem em papéis, requerimentos e aferindo sua legitimidade formal pra dar-lhe
processos sujeitos à sua apreciação. exeqüibilidade.
b) Normativo é aquele que, embora proferido Homologação: é ato de controle pelo qual a autoridade
individualmente, a autoridade competente determina superior examina a legalidade de ato anterior da

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própria Administração, de outra entidade, ou de ATOS PUNITIVOS: São aqueles que contêm uma
particular, para dar-lhe eficácia. penalidade a ser imposta ao particular ou ao agente
público. São os mais comuns: multa, interdição de
Dispensa: é o ato que exime o particular do
atividades, destruição de coisas e atos de atuação
cumprimento de determinada obrigação até então
interna (disciplina dos servidores).
exigida por lei. Ex: a prestação do serviço militar.
Multa: é toda imposição pecuniária a que sujeita o
Renúncia: é o ato pelo qual o Poder Público extingue
administrado a título de compensação do dano
unilateralmente um crédito ou um direito próprio,
presumido da infração; é de natureza objetiva e se
liberando definitivamente a pessoa obrigada perante a
torna devida independentemente da ocorrência de
Administração.
culpa ou dolo do infrator.
Protocolo Administrativo: é o ato pelo qual o Poder
Interdição de Atividade: é o ato pelo qual a
Público acerta com o particular a realização de
Administração veda a alguém a prática de atos sujeitos
determinado empreendimento ou atividade ou a
ao seu controle ou que incidam sobre seus bens; deve
abstenção de certa conduta, no interesse recíproco da
ser precedida de processo regular e do respectivo auto,
Administração e do administrado signatário do
que possibilite defesa do interessado.
instrumento protocolar.
Destruição de coisas: é o ato sumário da Administração
ATOS ENUNCIATIVOS: São aqueles que, mesmo não
pelo qual se inutilizam alimentos, substâncias, objetos
contendo norma de atuação ou ordem de serviço ou
ou instrumentos imprestáveis ou nocivos ao consumo
qualquer relação negocial entre o Poder Público e o
ou de uso proibido por lei.
particular, enunciam uma situação existente, sem
qualquer manifestação de vontade da Administração. Extinção dos atos administrativos:
São todos aqueles em que a Administração se limita a
A extinção do ato administrativo deveria ser aquela que
certificar ou a atestar um fato, ou emitir uma opinião
resultasse do cumprimento de seus efeitos. Entretanto,
sobre determinado assunto, sem se vincular ao seu
não se pode deixar de reconhecer que há outras formas
enunciado. Entre os atos mais comuns desta espécie
anômalas pelas quais ocorre a extinção:
destacam-se: certidões, atestados, pareceres e
averbações. 1. Extinção Natural – Aquela que decorre do
cumprimento normal dos efeitos do ato. Se nenhum
Certidões (Administrativas): são cópias ou fotocópias
outro efeito vai resultar do ato, este se extingue
fiéis e autenticadas de atos ou fatos constantes no
naturalmente. Ex: a destruição de mercadoria nociva ao
processo, livro ou documento que se encontre nas
consumo público; outro exemplo: uma autorização por
repartições públicas; o fornecimento de certidões é
prazo certo para exercício de atividade.
obrigação constitucional de toda repartição pública,
desde que requerida pelo interessado; devem ser 2. Extinção Subjetiva – Ocorre com o desaparecimento
expedidas no prazo improrrogável de 15 dias, contados do sujeito que se beneficiou do ato. É o caso de uma
do registro do pedido. (Lei 9051/95) permissão; sendo o ato de regra intransferível, a morte
do permissionário extingue o ato por falta do elemento
Atestados: são atos pelos quais a Administração
subjetivo.
comprova um fato ou uma situação de que tenha
conhecimento por seus órgãos competentes. 3. Extinção Objetiva – O objeto dos atos é um dos seus
elementos essenciais. Desse modo, se depois de
Pareceres: são manifestações de órgão técnicos sobre
praticado o ato desaparece seu objeto, ocorre a
assuntos submetidos à sua consideração; tem caráter
extinção objetiva. Exemplo: a interdição de um
meramente opinativo;
estabelecimento que vem a desaparecer ou que
Normativo: é aquele que, ao ser aprovado pela permanentemente foi desativado, o objeto se extingue
autoridade competente, é convertido em norma de e, com ele, o próprio ato.
procedimento interno;
4. Caducidade – Ocorre quando a retirada do ato funda-
Técnico: é o que provém de órgão ou agente se no advento de nova legislação que impede a
especializado na matéria, não podendo ser contrariado permanência da situação anteriormente consentida.
por leigo ou por superior hierárquico. Exemplo: uma permissão para uso de um bem público;
se, supervenientemente, é editada lei que proíbe tal
Apostilas: são atos enunciativos ou declaratórios de
uso privativo por particulares, o ato anterior, de
uma situação anterior criada por lei.
natureza precária, sofre caducidade, extinguindo-se.

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Desfazimento volitivo – Anulação, Revogação e


ANULAÇÃO REVOGAÇÃO
Cassação do ato administrativo:
Competência Poder Judiciário e Administração
Administração Pública
1. Anulação - Anulação é a declaração de invalidade de Pública
um ato administrativo ilegítimo ou ilegal, feita pela
Motivo Ilegalidade Conveniência e
própria Administração ou pelo Poder Judiciário. Na
Oportunidade
anulação o Poder Público, reconhecendo que faz baixar
ato ilegal, contrário à ordem jurídica ou a texto Objeto Ato Ilegal Ato Legal
expresso da lei, suprime-o, fazendo cessar seus efeitos.
Efeitos Retroativos (ex Não-retroativos
Em suma, reconhecendo que praticou um ato contrário
tunc) (ex nunc)
ao Direito vigente, cabe à Administração anulá-lo
imediatamente, para restabelecer a legalidade Prazo Para a Adm. Não há prazo
administrativa. É importante salientar que o conceito de Pública o prazo é
ilegalidade ou ilegitimidade, para fins de anulação de de 5 anos
ato administrativo, não se restringe somente à violação
Forma Processo Processo
frontal da lei, mas abrange, igualmente, o abuso, por
administrativo ou administrativo
excesso ou desvio de poder, ou por relegação dos
judicial
princípios gerais de direito, eis que aí padece de vício de
ilegitimidade, tomando-se inválido pela própria Direitos Inexistem Prevalecem
Administração, ou mesmo pelo Judiciário, via anulação. adquiridos
Os efeitos da anulação dos atos administrativos
retroagem às suas origens, são ex tunc, invalidando as
consequências passadas, presente e futuras do ato 3. Cassação – forma extintiva que se aplica quando o
anulado. É importante salientar que tanto os atos beneficiário de determinado ato descumpre condições
discricionários quanto os vinculados, por padecerem de que permitem a manutenção do ato e de seus efeitos. É
vícios de ilegalidade, são passíveis de anulação. ato vinculado, visto que o agente só pode cassar o ato
nas hipóteses previamente previstas em lei ou outra
2. Revogação - Revogação é a supressão de um ato
norma similar, além de se caracterizar como ato
administrativo perfeito, legítimo e eficaz, realizada pela
punitivo, que pune aquele que deixou de cumprir as
Administração e somente por ela (jamais o Poder
condições para a subsistência do ato. Exemplo: a
Judiciário em sua função judicante) por não mais lhe
cassação de licença para exercer certa profissão;
convir. Toda revogação pressupõe, portanto, um ato
ocorrido um dos fatos que a lei considera gerador da
legal e perfeito, mas inconveniente ao interesse público.
cassação, pode ser editado o respectivo ato.
Revogação é a manifestação unilateral da vontade da
administração que tem por escopo desfazer, total ou 4. Contraposição ou derrubada : Um ato deixa de ser
parcialmente, os efeitos de outro ato administrativo válido em virtude da emissão de um outro ato que
anterior praticado pelo mesmo agente ou seu inferior gerou efeitos opostos ao seu. São atos que possuem
hierárquico por motivo de conveniência ou de efeitos contrapostos e que, por isso, não podem existir
oportunidade. Lembre-se que somente pode ser ao mesmo tempo. Ex.: exoneração de um funcionário,
revogado ato existente, portanto, legal e perfeito. que aniquila os efeitos do ato de nomeação.
Revogado será o ato que a Administração, somente a
administração, julgar não mais ser conveniente ao
interesse público. A revogação funda-se no poder 5. Renúncia: Renúncia é a retirada do ato
discricionário que tem a administração para rever sua administrativo eficaz por seu beneficiário não mais
atividade interna e encaminhá-la adequadamente à desejar a continuidade dos seus efeitos. A renúncia só
realização de seus fins específicos. A revogação opera se destina aos atos ampliativos (atos que trazem
seus efeito ex nunc (da data em diante), vez que o ato é privilégios). Ex: Alguém que tem uma permissão de uso
válido até a data da revogação, tanto para a de bem público não a quer mais.
administração pública, como em relação a terceiros que
com ela se relacionem. Somente atos discricionários,
por conterem análise de mérito, podem ser revogados. 6. Recusa: Recusa é a retirada do ato administrativo
ineficaz em decorrência do seu futuro beneficiário não
desejar a produção de seus efeitos. O ato ainda não

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está gerando efeitos, pois depende da concordância do preordenar a mais de uma providencia administrativa
seu beneficiário, mas este o recusa antes que possa no mesmo ato, aqui será viável suprimir ou alterar
gerar efeitos. alguma providência e aproveitar o ato quanto às
demais providências, não atingidas por qualquer
vício.”
Sanatória do ato (convalidação):
Salientamos ainda que o poder de convalidação sofre
Existem situações, entretanto, que a invalidação de um duas importantes limitações, estando desta forma
ato administrativo, sem a consideração dos direitos ligado ao princípio da legalidade. Nesse sentido, são
surgidos para os administrados em virtude de sua barreiras a convalidação: “A impugnação do
edição, pode causar sérios prejuízos materiais para a interessado, expressamente ou por resistência quanto
administração e para os administrados, violando ao cumprimento dos efeitos e o decurso do tempo, com
gravemente o princípio da segurança jurídica. a ocorrência da preclusão administrativa.
Assim, para os atos praticados com vícios sanáveis a Lei Não há, aplicando-se o instituto da convalidação no
n.º 9.784/99 previu a chamada convalidação, ou Direito Administrativo, qualquer ofensa à integridade
sanatória do ato, a saber: do principio da legalidade, visto que existem condições
“Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não expressas no texto da lei, para que se afigure tal
acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a possibilidade.
terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis Os efeitos da convalidação são retroativos ( ex tunc ) ao
poderão ser convalidados pela própria Administração.” tempo de sua execução.
José dos Santos Carvalho Filho explica em sua doutrina AGENTES PÚBLICOS
que existem atualmente 03 (três) formas cabíveis de
Conceito: agente público é toda pessoa natural (física)
convalidação.
que presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da
A primeira forma de convalidação é Ratificação, ou seja, administração indireta.
o ato administrativo pelo qual o órgão competente
Espécies e classificação: São quatro os tipos de agentes
decide sanar um ato inválido anteriormente praticado,
públicos:
suprindo a ilegalidade que o vicia. A autoridade que
deve ratificar pode ser a mesma que praticou o ato a) agentes políticos;
anterior ou um superior hierárquico, mas o importante
b) servidores públicos;
é que a lei lhe haja conferido essa competência
específica. c) particulares colaborando com o Poder Público; e
A segunda forma é a reforma, que admite que novo ato d) Militares
suprima a parte inválida de ato anterior, mantendo sua AGENTES POLÍTICOS
parte válida.
São os titulares de cargos estruturais à organização
Por fim, o citado autor traz a conversão, onde por meio política do país, ou seja, são os ocupantes dos cargos
dela a Administração, depois de retirar a parte inválida que compõe a estrutura constitucional do Estado, o
do ato anterior, processa a sua substituição por uma esquema fundamental do Poder. Daí que se constituem
nova parte, de modo que o novo ato passe a conter a nos formadores de vontade superior do Estado. São
parte válida anterior e uma nova parte, nascida esta agentes políticos o Presidente da República, os
com o ato de aproveitamento. Governadores, Prefeitos e respectivos vices, os
É bem verdade que em estrita obediência ao principio auxiliares imediatos dos Chefes do Executivo, isto é,
da legalidade, nem todos os vícios admitem Ministros de Estado e Secretários das diversas pastas,
convalidação. Para José dos Santos Carvalho Filho bem como os Senadores, Deputados federais e
(2005, p.155): estaduais e os Senadores.
“São convalidáveis os atos que tenham vício de SERVIDORES PÚBLICOS
competência e de forma, nesta incluindo-se os aspectos Os servidores públicos são pessoas físicas que prestam
formais dos procedimentos administrativos. Também é serviços à administração direita ou indireta, com vínculo
possível convalidar atos com vício no objeto, ou empregatício (CLT), estatutário ou temporário. São
conteúdo, mas apenas quando se tratar de conteúdo remunerados pelas atividades executadas e mantém
plúrimo, ou seja, quando a vontade administrativa se

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um verdadeiro vínculo profissional com os órgãos ou Esta classificação leva em consideração a natureza das
entidades públicas. funções exercidas e o regime jurídico que disciplina a
relação entre o servidor e o Poder Público.
Os servidores públicos podem ser classificados de
diversas formas diferentes a saber: Os servidores comuns são aqueles a quem incumbe o
exercício das funções administrativas em geral e o
desempenho das atividades de apoio aos objetivos
I. Servidores Públicos em sentido amplo: básicos do Estado. Podem ser estatutários ou celetistas.
a) Servidores estatutários – estão sujeitos ao regime Os estatutários podem ser de regime geral (RJU) ou de
estatutário e ocupam cargos públicos. Regidos pelos regime especial (quando regidos por leis específicas,
regimes jurídicos únicos de cada ente federativo, como professores e policiais, por exemplo).
conforme determinação do Art. 39 da Constituição Já os servidores especiais são aqueles que executam
Federal. certas funções de especial relevância no contexto geral
b) Empregado público – é o contratado sob o regime das funções do Estado, sendo sujeitos a regime jurídico
celetista (CLT) e regido, também pela legislação funcional diferenciado, sempre estatutário e instituído
trabalhista extravagante, ocupa emprego público e por normas específicas. Nessa categoria aparecem os
desempenha suas atividades, nas Empresas estatais e magistrados, os membros do Ministério Público, os
nas Fundações públicas de Direito Privado. Ressalte-se Defensores Públicos, os membros dos Tribunais de
que, por força da EC 19/98, encontramos alguns Contas e os Membros da Advocacia Pública
celetistas na Administração Direta, autárquica e (Procuradores da União e dos Estados-Membros).
fundacional (espécie de contratação suspensa pela
liminar na ADI 2135/STF – sem efeitos retroativos). O
IV. Servidores Civis e Militares.
empregado público, embora regido pelo regime
privado, submete-se a derrogações do direito público, Ressalte-se essa classificação apontada por Carvalho
dado o fato de que se submete a concurso, pode Filho, Odete Medauar e Lúcia Valle Figueiredo que, a
afastar-se para mandato eletivo, tem limitações para despeito da alteração trazida pela EC 18/98*admitem
acumulação de seu emprego público com outros ou até que os militares continuam sendo servidores lato sensu,
com cargos e funções públicas, dentre outras hipóteses. isto porque embora diversos os estatutos jurídicos, são
vinculados por relação de trabalho subordinado às
c) Servidor temporário – é aquele que exerce função,
pessoas federativas e percebem remuneração como
em caráter excepcional, por tempo determinado, sem
contraprestação pela atividade que desempenham. Em
vínculo a cargos ou emprego público. A natureza de seu
sentido contrário: DI Pietro e Diógenes Gasparini.
vínculo jurídico com a administração é especial,
regulado pela Lei n.º 8.745/93, a qual estende alguns * A referido emenda substituiu a expressão “servidores
dispositivos constantes na Lei 8.112/90, que públicos civis” por “servidores públicos” e eliminou a
regulamenta o regime jurídico dos servidores públicos expressão “servidores públicos militares” substituindo-a
federais (ex: ajuda de custo, passagens e diárias, décimo por “Militares dos Estados, Distrito Federal e
terceiro salário, adicionais de periculosidade, Territórios”. Some-se a isso a inclusão dos militares
insalubridade e penosidade, horas extras, adicional federais no Capítulo das Forças Armadas (Título V,
noturno, férias, gratificação por encargo de curso ou Capítulo II, arts. 142 e 143, CF).
concurso, casos de ausência do serviços permitidas,
deveres dos servidores, proibições, acúmulo de cargos e
responsabilização civil penal e administrativa. PARTICULARES COLABORANDO COM O PODER
PÚBLICO
II. Servidores em sentido estrito – para Hely Lopes
Meireles, são "os titulares de cargos público efetivo e Os particulares colaborando com o Poder Público são as
em comissão, com regime jurídico estatutário geral ou pessoas físicas que prestam serviços ao Estado, sem
particular e integrantes da Administração direta, das vínculo empregatício, com ou sem remuneração.
Autarquias e das fundações públicas com personalidade Podem colaborar por:
de Direito Público", ou seja, para este autor, servidores a) delegação do Poder Público – empregados de
são somente os estatutários. empresas concessionárias ou permissionárias dos
III. Servidores comuns e especiais. serviços públicos, serviços notariais e de registro,
leiloeiros, tradutores e intérpretes públicos, sob

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fiscalização do Poder Público e remunerados por XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes
particulares. desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em
creches e pré-escolas;
b) requisição, nomeação ou designação – para o
exercício de funções públicas relevantes como jurados, Também no mesmo inciso, a Constituição determina
prestação de serviço eleitoral, etc. Não cabe que são aplicáveis a esses agentes algumas normas dos
remuneração. servidores civis: teto salarial, proibição à vinculação de
espécies remuneratórias, proibição de acúmulo em
c) gestores de negócios – assumem determinada função
cascata de vantagens pecuniárias e irredutibilidade de
pública em momento de emergência, como, por
vencimentos e subsídios.
exemplo, em epidemias, enchentes, etc.
Outra classificação
AGENTES MILITARES
Segundo Hely Lopes Meireles, os agentes públicos
Os militares abrangem as pessoas físicas que prestam
classificam-se em:
serviços às forças armadas – Marinha, Exército e
Aeronáutica e às polícias militares e corpos de • Agentes Políticos: são os que compõem o Governo,
bombeiros militares dos Estados, Distrito Federal e com cargos, funções, mandatos ou comissões, por
Territórios. Possuem um vínculo estatutário sujeito a nomeações, designação, eleição ou delegação para
regime próprio (diverso do regime dos servidores civis), exercer determinada função. Possuem liberdade
mediante remuneração paga pelos cofres públicos. Esse funcional no desempenho de suas atribuições, possuem
regime próprio estabelece regras sobre ingresso, limites prerrogativas e responsabilidades disciplinadas pela
de idade, estabilidade, transferência para inatividade, Constituição Federal ou leis especiais. Nesta categoria
direitos e deveres, remuneração e prerrogativas ( Art. encontram-se : Chefes de Executivo (Presidente,
142, §3º, X da CF/88). Governadores e Prefeitos) e seus auxiliares imediatos
(Ministros e Secretários de Estado e Município);
Os militares organizam-se com base nos princípios de
disciplina e hierarquia e recebem suas patentes do Membros das Casas Legislativas (Senadores, Deputados,
Presidente da República (âmbito federal) e dos e Vereadores); Membros do Poder Judiciário; Membros
Governadores (âmbito estadual, distrital e nos do Ministério Público; Membros dos Tribunais de
territórios). É importante destacar que aos militares Contas (Ministros do TCU e Conselheiros do TCE).
estão constitucionalmente proibidas a greve, a
OBSERVAÇÃO: Em que pese a classificação do
sindicalização, o acúmulo de cargos, a filiação político-
doutrinador, formou-se posição no STF a respeito do
partidária. (Art. 142, II, IV e V da Constituição Federal).
não enquadramento dos membros de Tribunais de
Até a Emenda Constitucional 18/98 os militares eram Contras enquanto Agentes políticos. O Ministro Ricardo
considerados servidores públicos, conforme a antiga Leawandowski, reiterou a relevância da distinção entre
redação do Art. 42 da CF que denominava uma seção de cargo estritamente administrativo e cargo político no
“servidores públicos militares”. A partir dessa emenda, julgamento da Rcl 6.702-MC-Agr/PR, em relação ao
ficaram excluídos da categoria, só lhes sendo aplicáveis cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas, como se
as normas referentes aos servidores públicos quando pode notar na Ementa, de forma resumida, que tal
houver expressa previsão nesse sentido, como o que cargo tem natureza administrativa:
dispõe o Art. 142, §3º, VIII, que determina a aplicação
“II – O cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do
dos seguintes direitos previstos no Art. 7º da
Estado do Paraná reveste-se, à primeira vista, de
Constituição Federal:
natureza administrativa, uma vez que exerce a função
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração de auxiliar do Legislativo no controle da Administração
integral ou no valor da aposentadoria; Pública.” Porém, para uma explicação mais detalhada e
eficaz é necessário adentrarmos nos pormenores da
XII - salário-família pago em razão do dependente do
decisão unânime do tribunal.
trabalhador de baixa renda nos termos da lei;
“No julgamento do RE 579.951/RN, acima citado, o
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo
Plenário desta Casa enfrestou situação semelhante à
menos, um terço a mais do que o salário normal;
deste caso. Fazendo distinção entre cargo estritamente
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do administrativo e cargo político, declarou nulo o ato de
salário, com a duração de cento e vinte dias; nomeação de um motorista, mas considerou hígida a
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; nomeação aquele que ocupava o cargo de Secretário
Municipal de Saúde, não apenas por se um agente

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político, como também por não ter ficado evidenciada a empregada para distingui-los dos agentes de direito. O
prática do nepotismo cruzado, nem a hipótese de ponto marcante dos agentes de fato é que o
fraude à lei. Acompanhei, nesse aspecto, o desempenho da função pública deriva de situação
entendimento da maioria. excepcional, sem prévio enquadramento legal, mas
suscetível de ocorrência no âmbito de Administração,
“Com efeito, a doutrina, de um modo geral, repele o
dada a grande variedade de casos que se originam da
enquadramento dos Conselheiros dos Tribunais de
dinâmica social.
Contas na categoria de agente políticos, os quais, como
regra estão fora do alcance da Súmula Vinculante nº 13, Podem ser agrupados em duas categorias: os agentes
salvo nas exceções acima assinalada, quais sejam, as necessários e os putativos. Os necessários são aqueles
hipóteses de nepotismo cruzado ou de fraude a lei. que praticam atos e executam atividades em situações
excepcionais, como, por exemplo, as de emergência,
• Agentes Administrativos: são os vinculados ao Estado
em colaboração com o Poder Público e como se fossem
ou as entidades autárquicas, por relações profissionais,
agentes de direito. Agentes putativos são os que
sujeito a regime jurídico e hierarquia funcional. Em
desempenham uma atividade pública na presunção de
geral são nomeados, contratados ou credenciados,
que há legitimidade, embora não tenha havido
investidos a titulo de emprego com recebimento de
investidura dentro do procedimento legalmente
rendimentos. Nesta categoria se encontram os
exigido. É o caso, por exemplo, do servidor que pratica
servidores públicos (estatutários), os empregados
inúmeros atos de administração, tendo sido investido
públicos (celetistas) e os temporários.
sem aprovação em concurso público.
• Agentes Honoríficos: são pessoas físicas, nomeadas ou
Ressalte-se que os efeitos dos atos produzidos por
convocadas para prestar serviço certo ao Estado,
esses agentes. Em relação ao agente necessário, a regra
escolhidos por sua condição cívica ou capacidade
é que seus atos sejam confirmados pelo Poder Público,
profissional. Não possuem vínculo estatutário ou
entendendo-se que a excepcionalidade da situação e o
empregatício, em geral não recebem remuneração, vez
interesse público a que se dirigiu o agente têm
que configuram o chamado múnus público. Nesta
idoneidade para suprir os requisitos de direito. Em
categoria se encontram : Jurados do tribunal do júri;
relação aos agentes putativos, podem ser questionados
mesário eleitoral e Membro de comissão de estudo ou
alguns atos praticados internamente na Administração,
de julgamento.
mas externamente devem ser convalidados, para evitar-
• Agentes Delegados: são configurados pelo se que terceiros de boa-fé sem prejudicados pela falta
recebimento de incumbência para determinada de investidura legítima. Fala-se aqui da teoria da
atividade pelo particular, a fim de realizar obra ou aparência, significando que para o terceiro há uma
serviço público em nome próprio, assumindo a fundada suposição de que o agente é de direito.
responsabilidade do ato, sob atenta fiscalização de Acresça-se a isso que se o agente exerceu as funções
quem delegou a ele tal tarefa. Representam uma dentro da Administração, tem ele o direito a percepção
categoria a parte de colaboradores do serviço público. da remuneração, mesmo se ilegítima a investidura, não
Nesta categoria se encontram: os concessionários e os estando obrigado a devolver os respectivos valores.
permissionários de obras e serviços públicos; os
Note-se, porém, que o agente de fato jamais poderá
serventuários de ofícios ou cartórios não estatizados; os
usurpar a competência funcional dos agentes públicos
leiloeiros e os tradutores e intérpretes públicos.
em geral, já que este tipo de usurpação da função
• Agentes Credenciados: são aqueles que recebem pública constitui crime previsto no Art. 328 do Código
tarefa determinada da Administração, assumem a Penal.
representação dessa atividade no lugar Poder Público a
Direitos, deveres e responsabilidades dos servidores
remuneração é prerrogativa dessa categoria de agentes.
civis.
Exemplo: um cientista brasileiro representante do país
em convenção internacional. Direito de greve e de livre associação sindical
Segundo a CF é garantido ao servidor público civil o
direito à livre associação sindical. Já o direito de greve
Agentes de fato
será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
A doutrina refere-se a um grupo de agentes que, específica. Ocorre que o Poder Legislativo não editou a
mesmo sem ter uma investidura normal e regular, referida lei, o que levou a formação de posicionamento
executam uma função pública em nome do Estado. São jurisprudencial do STF determinando a aplicação da Lei
os denominados agentes de fato, nomenclatura

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geral de Greve aos servidores públicos (Lei 7.701/88), chamado estágio probatório, regulamentado pelos
no julgamento dos MIs 670, 708 e 712. Regimes Jurídicos Únicos.
Mas, no que diz respeito ao exercício do direito de Tendo o servidor adquirido estabilidade, ele perderá o
greve por policiais em geral, o Plenário decidiu que eles cargo somente nas hipóteses descritas pelo Art. 41 da
se equiparam aos militares e, portanto, são proibidos de Constituição Federal:
fazer greve, “em razão de constituírem expressão da
I - em virtude de sentença judicial transitada em
soberania nacional, revelando-se braços armados da
julgado;
nação, garantidores da segurança dos cidadãos, da paz
e da tranquilidade públicas”, explicou o ministro Gilmar II - mediante processo administrativo em que lhe seja
Mendes. assegurada ampla defesa;
“Assim, na linha desse entendimento, o direito III - mediante procedimento de avaliação periódica de
constitucional de greve atribuído aos servidores desempenho, na forma de lei complementar,
públicos em geral não ampara indiscriminadamente assegurada ampla defesa.
todas as categorias e carreiras, mas antes excepciona Observe que o Art. 169 da Constituição Federal prevê
casos como o de agentes armados e policiais cujas mais uma forma de perda do cargo para os servidores,
atividades não podem ser paralisadas, ainda que mesmo estáveis:
parcialmente, sem graves prejuízos para a segurança e a
tranquilidade pública. No caso, não há direito subjetivo “Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da
constitucional que ampare a pretensão dos União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
impetrantes”, afirmou o ministro Gilmar Mendes ao não poderá exceder os limites estabelecidos em lei
negar seguimento ao MI 774. complementar. (50% da despesa líquida para a União e
60% para o restante dos entes federativos – comentário
nosso).
Acúmulo de cargos § 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com
Estabelece o Art. 37 da Constituição Federal: base neste artigo, durante o prazo fixado na lei
complementar referida no caput, a União, os Estados, o
“XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos
Distrito Federal e os Municípios adotarão as seguintes
públicos, exceto, quando houver compatibilidade de
providências:
horários, observado em qualquer caso o disposto no
inciso XI. I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas
com cargos em comissão e funções de confiança;
a) a de dois cargos de professor;
II - exoneração dos servidores não estáveis.
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou
científico; § 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo
anterior não forem suficientes para assegurar o
c) a de dois cargos ou empregos privativos de
cumprimento da determinação da lei complementar
profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;
referida neste artigo, o servidor estável poderá perder
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e o cargo, desde que ato normativo motivado de cada
funções e abrange autarquias, fundações, empresas um dos Poderes especifique a atividade funcional, o
públicas, sociedades de economia mista, suas órgão ou unidade administrativa objeto da redução de
subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou pessoal.
indiretamente, pelo poder público; ”
§ 5º O servidor que perder o cargo na forma do
parágrafo anterior fará jus a indenização
correspondente a um mês de remuneração por ano de
Estabilidade e vitaliciedade
serviço.
A estabilidade é a garantia adquirida após três anos de
§ 6º O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos
efetivo exercício pelos servidores nomeados para cargo
anteriores será considerado extinto, vedada a criação
de provimento efetivo em virtude de concurso público.
de cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou
Como condição para a aquisição da estabilidade, é
assemelhadas pelo prazo de quatro anos.
obrigatória a avaliação especial de desempenho por
comissão instituída para essa finalidade. Este é o Também sobre o servidor estável, observe:

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Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor condicionada à motivação, por gozar a empresa do
estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da mesmo tratamento destinado à Fazenda Pública em
vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem relação à imunidade tributária e à execução por
direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou precatório, além das prerrogativas de foro, prazos e
posto em disponibilidade com remuneração custas processuais.
proporcional ao tempo de serviço.
Redação original:
Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o
247. Servidor público. Celetista concursado. Despedida
servidor estável ficará em disponibilidade, com
imotivada. Empresa pública ou sociedade de economia
remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu
mista. Possibilidade. Inserida em 20.06.2001
adequado aproveitamento em outro cargo.
Em julgado mais recente no RE 589998 / PI - PIAUÍ , o
Segundo orientação do TST não têm estabilidade os
Plenário do STF decidiu estender a necessidade da
empregados públicos de empresas públicas e
motivação da demissão a todos os empregados
sociedades de economia mista. Assim também a CF
públicos de empresas estatais prestadoras de serviços
excluiu esse direito aos ocupantes de cargos de
públicos. Observe:
confiança. No entanto, observe o que diz a Súmula 390
do TST: Ementa: EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E
TELÉGRAFOS – ECT. DEMISSÃO IMOTIVADA DE SEUS
“Súmula Nº 390 ESTABILIDADE. ART. 41 DA CF/1988.
EMPREGADOS. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE
CELETISTA. ADMINISTRAÇÃO DIRETA, AUTÁRQUICA OU
MOTIVAÇÃO DA DISPENSA. RE PARCIALEMENTE
FUNDACIONAL. APLICABILIDADE. EMPREGADO DE
PROVIDO. I - Os empregados públicos não fazem jus à
EMPRESA PÚBLICA E SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.
estabilidade prevista no art. 41 da CF, salvo aqueles
INAPLICÁVEL (conversão das Orientações
admitidos em período anterior ao advento da EC nº
Jurisprudenciais nºs 229 e 265 da SBDI-1 e da
19/1998. Precedentes. II - Em atenção, no entanto, aos
Orientação Jurisprudencial nº 22 da SB-DI-2) - Res.
princípios da impessoalidade e isonomia, que regem a
129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
admissão por concurso publico, a dispensa do
I - O servidor público celetista da administração empregado de empresas públicas e sociedades de
direta, autárquica ou fundacional é beneficiário da economia mista que prestam serviços públicos deve
estabilidade prevista no art. 41 da CF/1988. (ex-OJs ser motivada, assegurando-se, assim, que tais
nºs 265 da SBDI-1 - inserida em 27.09.2002 - e 22 da princípios, observados no momento daquela admissão,
SBDI-2 - inserida em 20.09.00) sejam também respeitados por ocasião da dispensa. III
– A motivação do ato de dispensa, assim, visa a
II - Ao empregado de empresa pública ou de sociedade
resguardar o empregado de uma possível quebra do
de economia mista, ainda que admitido mediante
postulado da impessoalidade por parte do agente
aprovação em concurso público, não é garantida a
estatal investido do poder de demitir. IV - Recurso
estabilidade prevista no art. 41 da CF/1988. (ex-OJ nº
extraordinário parcialmente provido para afastar a
229 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001) (Grifo nosso)
aplicação, ao caso, do art. 41 da CF, exigindo-se,
Ainda sobre o assunto, observa-se a Orientação entretanto, a motivação para legitimar a rescisão
Jurisprudencial n.º247 do TST, admitindo a unilateral do contrato de trabalho.
possibilidade de DEMISSÃO IMOTIVADA de empregado
Da Estabilidade decorrem os direitos à disponibilidade,
público de empresa estatal:
reintegração e aproveitamento.
SERVIDOR PÚBLICO. CELETISTA CONCURSADO.
Vitaliciedade
DESPEDIDA IMOTIVADA. EMPRESA PÚBLICA OU
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. POSSIBILIDADE. A vitaliciedade é um direito apenas dos membros da
Inserida em 20.06.2001 (Alterada – Res. nº 143/2007 - Magistratura, do Ministério Público e dos Tribunais de
DJ 13.11.2007) Contas. O prazo para aquisição é de dois anos, exceto
para aqueles que ocupam vagas em tribunais (ex:
I - A despedida de empregados de empresa pública e
advogado indicado para Ministro do STF). Nesse caso, a
de sociedade de economia mista, mesmo admitidos
vitaliciedade é adquirida imediatamente.
por concurso público, independe de ato motivado para
sua validade; A única hipótese de perda do cargo público é a
sentença judicial transitada em julgado. Porém, é
II - A validade do ato de despedida do empregado da
entendimento pacífico e antigo no STF de que a
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) está
vitaliciedade não impede a aposentadoria compulsória.

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Afastamento para exercício de mandato eletivo: XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente


aos domingos;
O servidor público tem o direito de afastar-se do cargo,
emprego ou função, para fins de mandato eletivo. XVI - remuneração do serviço extraordinário superior,
Segundo o Art. 38 da CF, ao servidor público da no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal;
administração direta, autárquica e fundacional, no
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo
exercício do mandato eletivo, aplicam-se as seguintes
menos, um terço a mais do que o salário normal;
disposições:
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou
salário, com a duração de cento e vinte dias;
distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou
função; XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do XX - proteção do mercado de trabalho da mulher,
cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
pela sua remuneração; XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
III - investido no mandato de Vereador, havendo meio de normas de saúde, higiene e segurança;
compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de
seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da funções e de critério de admissão por motivo de sexo,
remuneração do cargo eletivo, e, não havendo idade, cor ou estado civil.
compatibilidade, será aplicada a norma do inciso
anterior; Vale ressaltar que, segundo a CF, lei da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o disciplinará a aplicação de recursos orçamentários
exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será provenientes da economia com despesas correntes em
contado para todos os efeitos legais, exceto para cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no
promoção por merecimento; desenvolvimento de programas de qualidade e
V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de produtividade, treinamento e desenvolvimento,
afastamento, os valores serão determinados como se modernização, reaparelhamento e racionalização do
no exercício estivesse. serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou
prêmio de produtividade.
Direitos e deveres sociais (servidores estatutários):
Além disso, a União, os Estados e o Distrito Federal
Segundo a CF são direitos sociais dos servidores:
manterão escolas de governo para a formação e o
IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente aperfeiçoamento dos servidores públicos, constituindo-
unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais se a participação nos cursos um dos requisitos para a
básicas e às de sua família com moradia, alimentação, promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e de convênios ou contratos entre os entes federados.
previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim; Responsabilidade
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para O servidor está sujeito às responsabilidades civis, penais
os que percebem remuneração variável; e administrativas decorrentes de seu cargo, emprego
ou função.
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração
integral ou no valor da aposentadoria;
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do Responsabilidade civil
diurno; Todo aquele que causa dano a outro é obrigado a
XII - salário-família pago em razão do dependente do repará-lo. Para configurar o ato ilícito civil, é necessário:
trabalhador de baixa renda nos termos da lei; ação ou omissão; culpa ou dolo; relação de causalidade;
ocorrência de dano moral ou material.
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito
horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a Desta forma, os servidores respondem por atos
compensação de horários e a redução da jornada, omissivos ou comissivos, dolosos ou culposos, dos quais
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; resultem prejuízos ao erário ou a terceiros.

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A Administração Pública responde civilmente pelos atos Em nosso ordenamento jurídico houve várias fases até
de seus servidores, nessa condição, de forma objetiva – que se chegasse a teoria atualmente adotada. Primeiro
a vítima não precisa provar culpa do servidor – e na o Estado era irresponsável, situações observadas nas
modalidade do risco administrativo, onde se admitem Constituições de 1824 e 1891., sem qualquer menção
as seguintes excludentes – caso fortuito, força maior, de responsabilidade estatal. Nessa época, havia apenas
culpa exclusiva da vítima e fato exclusivo de terceiro. algumas leis prevendo a responsabilidade do
funcionário público em casos de abuso ou omissão e
Nos casos em que causar prejuízo a terceiros, portanto,
outras prevendo a responsabilidade solidária entre o
o servidor causador do prejuízo será responsabilizado
Estado e o funcionário nos casos de prestação de
via ação regressiva, desde que o Estado comprove a sua
serviços públicos, como correios e transportes
culpa ou dolo.
ferroviários, o que nos leva a crer que a teoria da
Em casos de prejuízos causados diretamente ao erário, irresponsabilidade absoluta nunca foi utilizada no Brasil.
o servidor responderá mediante uma ação direta.
Em 1916, no Código Civil então vigente, passou a ser
adotada a teoria da responsabilidade subjetiva do
Responsabilidade penal Estado, em que este se torna responsável apenas nos
termos de comprovação do dolo ou culpa de seus
Quando é praticado um crime ou contravenção, a agentes. As Constituições de 1934 e 1937 reforçaram a
responsabilidade está no âmbito penal. Esta aplicação da teoria subjetiva, estabelecendo, inclusive,
responsabilidade é aferida pelo Poder Judiciário, de responsabilidade solidária entre o Estado e o agente,
acordo com o Código Penal que prevê os crimes nos casos de negligência, omissão ou abuso do agente
funcionais. O servidor pode ser preso, condenado a em seu exercício.
pagar multa, perder o cargo ou emprego público.
O cenário mudou, no entanto, com o advento da
A absolvição criminal só afasta a responsabilidade Constituição Federal do 1946. Nesta, o Estado Brasileiro
administrativa e a civil quando ficar decidida a adotou a modalidade de responsabilidade objetiva,
inexistência do fato ou a não autoria imputada ao determinando que a Fazendo Pública fosse responsável
servidor. A absolvição penal motivada pela falta de pelos danos que seus agentes causassem no exercício
provas ou ausência de dolo não exclui a culta de suas funções. Ademais, deslocou a discussão sobre
administrativa nem a civil. dolo ou culpa ao estabelecer que estes aspectos seriam
determinantes na ação regressiva intentada contra o
agente causador do dano.
Responsabilidade administrativa
Já com a CF de 88, a responsabilidade objetiva não só
Nesse caso, a infração é apurada pela própria foi mantida, como também ampliada. Em seu art. 37,
administração pública, instaurando procedimento esta estabelece que não só o Estado é responsável, mas
denominado de processo administrativo disciplinar e também os prestadores de serviços públicos, incluindo
sindicância. aí, eventuais particulares, como concessionários e
permissionários do serviço público.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988, em seu
artigo 37, § 6º, abraçou de modo expresso a teoria da
responsabilidade objetiva do Estado ao preceituar o
RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL DO ESTADO seguinte comando:
Quando o resultado de alguma atividade executiva, Art. 37 (...)
legislativa ou judiciária causar algum dano ao particular,
(...)
surge para o estado o dever de indenizar. Na atividade
legislativa e judiciária o estado responderá somente em § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de
hipótese excepcionais. direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa
A responsabilidade civil se traduz na obrigação de
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
reparar danos patrimoniais. Com base em tal premissa,
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
podemos afirmar que a responsabilidade civil do Estado
culpa.
é aquela que impõe à Fazenda Pública a obrigação de
ressarcir um dano patrimonial causado a terceiros por Nesse viés, o Supremo Tribunal Federal tem contribuído
agentes públicos no desempenho de suas atribuições. para a aplicação do tema com diversas decisões

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importantes. Em 2005, no RE 262.651/SP, o STF firmou RISCO INTEGRAL E RISCO ADMINISTRATIVO


entendimento de que a responsabilidade dos
Existem duas variantes da teoria da responsabilidade
concessionários seria subjetiva perante os usuários do
objetiva: a teoria do risco integral e a teoria do risco
serviço e subjetiva perante os terceiros. No entanto, o
administrativo.
posicionamento mudou em 2009, quando, alinhando-se
à doutrina majoritária, aplicando a responsabilidade A teoria do risco integral é uma variação radical da
objetiva dos concessionários, tanto em relação aos teoria da responsabilidade objetiva, em que o Estado
usuários, quanto a terceiros. sempre deve indenizar eventuais danos, sem qualquer
possibilidade de excludentes, tornando assim o Estado
Ainda sobre esse tema, ressalte-se a Súmula 187 do STF
um verdadeiro segurador universal. Não é esta a teoria
que enuncia sobre o prestador de serviço de transporte:
adotada em regra pelo direito brasileiro.
“A responsabilidade contratual do transportador, pelo
acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de Muito embora não seja a teoria adotada, em regra, em
terceiro, contra o qual tem ação regressiva.” Somente é nosso ordenamento jurídico, há casos em que ela pode
excludente da responsabilidade do transportador o ser aplicada no Brasil. São eles:
denominado caso fortuito externo, ou seja, aquele a) danos causados por acidentes nucleares (art. 21,
acontecimento imprevisível, inevitável, mas não XXIII, d, da Constituição Federal)
dependente do próprio negócio e que não tenha
relação nenhuma com os riscos da empresa. (como o b) Na hipótese de danos decorrentes de atos
assalto à mão armada ou o roubo dentro do coletivo). terroristas, atos de guerra ou eventos correlatos, contra
aeronaves de empresas aéreas brasileiras, conforme
Também é importante citar que em 2006, no RE previsto nas Leis nº 10.309, de 22/11/2001, e 10.744,
327.904/SP, o STF firmou entendimento de que não é de 9/10/2003. O montante global das despesas
possível ingressar com a ação indenizatória diretamente referidas fica limitado ao equivalente em reais a US$
contra o agente causador do dano, devendo-se acionar 1.000.000.000,00 (um bilhão de dólares dos Estados
o próprio Estado, dado o fato daquele estar no exercício Unidos da América) para o total dos eventos contra
de função pública. aeronaves de matrícula brasileira operadas por
empresas brasileiras de transporte aéreo público,
excluídas as empresas de táxi aéreo.
REQUISITOS
Entende-se por atos de guerra qualquer guerra,
A responsabilização civil das pessoas jurídicas de
invasão, atos inimigos estrangeiros, hostilidades com ou
direitos públicos e das pessoas jurídicas de direito
sem guerra declarada, guerra civil, rebelião, revolução,
privado prestadores de serviço publico exige o
insurreição, lei marcial, poder militar ou usurpado ou
preenchimento dos seguintes requisitos:
tentativas para usurpação do poder.
a) ocorrência de dano efetivo: para que se possa alvitrar
No mesmo sentido, entende-se por ato terrorista
a ocorrência da responsabilização estatal, o particular
qualquer ato de uma ou mais pessoas, sendo ou não
deve demonstrar a diminuição patrimonial sofrida em
agentes de um poder soberano, com fins políticos ou
razão da ação administrativa.
terroristas, seja a perda ou dano dele resultante
b) ação administrativa (fato administrativo). Note-se acidental ou intencional.
aqui que é irrelevante se o ato foi lícito ou ilícito. Há
Os eventos correlatos incluem greves, tumultos,
casos em que mesmo agindo licitamente, o Estado
comoções civis, distúrbios trabalhistas, ato malicioso,
termina obrigado a indenizar.
ato de sabotagem, confisco, nacionalização, apreensão,
c) nexo casual entre a conduta e o dano: derivando o sujeição, detenção, apropriação, seqüestro ou qualquer
dano de uma ação estatal, será necessária a apreensão ilegal ou exercício indevido de controle da
comprovação do nexo de causalidade. Odete Medauar aeronave ou da tripulação em vôo por parte de
ensina que “necessário se torna existir relação de causa qualquer pessoa ou pessoas a bordo da aeronave sem
e efeito entre ação administrativa e dano sofrido pela consentimento do explorador.
vitima. É o chamado nexo casual ou nexo de
c) dano ambiental: ressalvando que há controvérsias da
casualidade”. Logo, essencial é o nexo de casualidade,
doutrina.
deve ser provado no caso concreto. Essa é a essência de
verdade, pois a falta de nexo de casualidade também é d) acidentes de trabalho nas relações de emprego
tida como uma das causas de exclusão da público.
responsabilidade do estado.

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e) indenizações cobertas pelo seguro DPVAT. ausência de limpeza nos bueiros, danos causados por
queda de árvore em passeio público, em função da falta
Já em se tratando da teoria do risco administrativo, esta
de manutenção do vegetal, danos causados por
sim adotada por nossa CF, o grande diferencial é a
multidões, etc.
existência das excludentes de responsabilidade, a saber
no título seguinte.
OUTROS CASOS NA JURISPRUDÊNCIA
EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE Em matéria de serviços notariais, o Estado responde,
objetivamente, pelos atos que causem dano a terceiros,
Embora a teoria do risco administrativo dispense a
assegurado o direito de regresso contra o responsável,
prova da culpa, isso não significa que a administração
nos casos de dolo ou culpa. O tabelionato não detém
deva sempre e em qualquer caso o dano causado ao
personalidade jurídica ou judiciária, sendo a
particular. Em situações excepcionais, a administração
responsabilidade pessoal do titular da serventia.
poderá eximir-se integral ou parcialmente da
Somente o tabelião e o Estado possuem legitimidade
indenização, são essas excludentes a saber:
passiva. A propósito do tema, há vários julgados
a) culpa exclusiva da vitima: quando a vitima concorrer relacionados a escrituras passadas com base em
na integridade para a consecução final do dano o estado procuração falsa (STF RE 209.354 AgR); à anulação de
não deve indenizar em virtude da falta de nexo casual compra e venda, efetivada com base em instrumento
(que deveria existir entre a conduta da administração e de mandato falso, lavrado em tabelionato de notas (STF
o dano ocasional ao particular). Quando houver culpa AI 522.832 AgR); ao reconhecimento de firma falsa por
concorrente entre a vitima e o causador do dano, a serventuário de cartório (STF RE 201.595); à confecção,
responsabilidade e, conseqüentemente, a indenização ainda que por tabelionato não oficializado de
serão repartidas de acordo com a intensidade da culpa substabelecimento falso que veio a respaldar escritura
de cada um, conforme autoriza o art. 945 do novo de compra e venda (STF RE 175.739); e à alienação de
Código Civil. terminais telefônicos por meio de firmas falsas
b) eventos da natureza (força maior): quando o dano reconhecidas indevidamente por cartório (STJ REsp
sofrido pelo particular resultar da incidência de eventos 545.613).
da natureza marcados pela imprevisibilidade, Em matéria de estacionamentos, o Estado deve assumir
inevitabilidade e for estranho á vontade das partes a guarda e responsabilidade do veículo quando este
(força maior), a responsabilidade civil do estado estará ingressa em área pertencente a estabelecimento
excluída. Ex.: terremotos, enchentes etc. público apenas quando dotado de vigilância
c) atos predatórios de terceiros (ou fato de terceiro): especializada para esse fim. Em tal hipótese, a
quando o dano ocasionado ao particular resulta de ato responsabilidade se funda no descumprimento de uma
de terceiro a responsabilidade do estado estará obrigação contratual. É o que se verifica nas situações
excluída. Ex.: briga de gagues nas ruas, causando danos envolvendo furto de automóvel em estacionamento
aos veículos nelas estacionados. Entretanto, se ficar mantido por município (STF RE 255.731), e em
caracterizada a omissão do estado na prestação do estacionamento público, cuja organização e controle
serviço ele será o brigado a indenizar em virtude da foram delegados à empresa pública (STJ AgRg no Ag
culpa anônima da administração. Ex.: briga de gangues 1.009.559).
em saída de estádios de futebol em virtude da ausência RESPONSABILIDADE POR ATOS LEGISLATIVOS E
de policiamento. JUDICIAIS
Hoje a doutrina e a jurisprudência já admitem a
RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO responsabilidade do Estado em tais casos no que se
refere às leis que venham a ser declaradas
Entende a doutrina majoritária que a responsabilidade inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal. Mas
do Estado por atos omissivos é na modalidade subjetiva. é óbvio que ao particular não basta a alegação de
Essa também é a posição do STF, no RE 179.147. Note- inconstitucionalidade da norma, tornando-se mister
se, no entanto, que a omissão geradora da também que seja demonstrado qual o dano sofrido por
responsabilidade é aquela na qual foi violado o dever- aquela pessoa no período em que a lei se encontrava
poder de agir, ou seja, o Estado deixou de cumprir em vigor. Nesse ponto, vale reproduzir a posição já
conduta considerada obrigatória pela legislação. São consolidada no Supremo Tribunal Federal:
exemplos: danos causados por enchente, em função da

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Ato legislativo. Inconstitucionalidade. Responsabilidade instituto da revisão criminal (instrumento que visa a
Civil do Estado. Cabe responsabilidade civil pelo desconstituir sentenças já transitadas em julgado que
desempenho inconstitucional da função do legislador. contenham erro judiciário).
(STF RE nº 158.962 Rel. M. Celso de Mello RDA 191/175)
Em relação aos atos emanados na esfera cível, mesmo
Admite-se ainda a responsabilização do Estado no que na ocorrência de um erro judiciário, assistiria à
tocante aos danos oriundos das chamadas leis de pessoa prejudicada tão-somente se valer dos
efeitos concretos, que são aqueles que atingem um instrumentos recursais colocados à sua disposição, não
determinado grupo de pessoas determináveis, não havendo como se aceitar a responsabilidade do Estado
apresentando um caráter genérico e abstrato próprio por atos dessa natureza.
de uma norma jurídica, já que se aproximam
materialmente muito mais de um ato administrativo do
que de uma lei propriamente dita. A melhor doutrina Condutas dolosas:
até coloca que a lei de efeito concreto somente se Outra hipótese em apreço é aquela que se encontra
apresenta como lei no sentido formal, uma vez que, preceituada no artigo 133 do Código de Processo Civil,
quanto ao conteúdo, nada a diferenciaria de um ato qual seja, o juiz responde por perdas e danos quando
administrativo. no exercício de suas funções procede dolosamente,
Nesta hipótese, mesmo sendo a norma constitucional, inclusive com fraude, bem como quando recusa, omite
não há como se impedir a responsabilização do Estado ou retarda, sem justo motivo, providência que deva
exatamente pelos mesmos motivos referentes ao ordenar de ofício ou a requerimento da parte.
exercício da função administrativa. Imagine, por Embora o citado dispositivo legal estabeleça que o
exemplo, uma lei que crie uma reserva ambiental e próprio juiz responderá, não se pode perder de vista
imponha uma série de sacrifícios aos proprietários que o mesmo é um agente do Estado, e sendo assim
daquela área que foram atingidos por tal norma, deve se coadunar o art. 133 do Código de Processo Civil
acarretando inclusive uma desvalorização patrimonial com o art. 37, § 6º, da Constituição Federal de 1988, ou
de tais imóveis. Ora, em tal cenário nada mais justo que seja, a pessoa federativa (União ou Estado-membro)
o Estado ressarcir tais indivíduos, em que pese se tratar seria responsabilizada civilmente, mas assegurando-se a
de lei que se encontra em pleno acordo com o texto tais entes a ação regressiva em face do magistrado
constitucional. causador do dano.
Com relação a atos praticados no Poder Judiciário que
Por sua vez, no que se refere aos atos jurisdicionais ou não impliquem exercício de função jurisdicional é
judiciais (estes adotados na função jurisdicional do juiz), cabível a responsabilidade do Estado, sem maior
a regra é a irresponsabilidade do Estado, conforme contestação, porque se tratam de atos administrativos
entendimento do STF. Excetua-se a essa regra, no quanto ao seu conteúdo. É o caso de atos praticados
entanto, quando houver expressa previsão em lei por todos os órgãos de apoio do poder judiciário,
acerca da aplicabilidade da teoria da responsabilidade chamados de atos judiciários.
objetiva do Estado. É o caso do próprio comando
constitucional, bem como das normas processuais, que
constroem hipóteses em que o Estado será A REPARAÇÃO DO DANO
responsabilizado mesmo atuando no âmbito de uma A reparação de dano pode ser feita amigavelmente ou
atividade jurisdicional. O artigo 5º, inciso LXXV, da mediante a propositura de ação de indenização. O valor
Constituição Federal de 1988, estatui que o Estado da indenização deve contemplar aquilo que a vitima
indenizará o condenado por erros judiciários, assim perdeu, o que despendeu e o que deixou de ganhar em
como o que ficar preso além do tempo fixado na razão do ato lesivo da administração (danos
sentença . emergentes, lucros cessantes, honorários advocatícios,
Note-se que a doutrina majoritária entende que a juros de mora e correção monetária). A fase de
expressão erros judiciários abraça tão-somente os atos execução ocorrerá na forma do que dispõe o art. 100 da
jurisdicionais de natureza penal, não abraçando, por Constituição Federal, mediante precatórios.
conseguinte os atos jurisdicionais de natureza civil. O
que alimenta tal posição é o fato de o Código de
Processo Penal, anterior à nossa atual Constituição, já
prever a responsabilidade civil do Estado ao cuidar do

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A VIA REGRESSIVA Princípios Expressos:


Cabe ação regressiva do Poder Publico contra o agente # Princípio da Legalidade
publico causador do dano, nos termos do art. 37, § 6.º,
da CF, mesmo após a cessação do exercício do cargo ou
função, seja por questão de aposentadoria, exoneração, Nos procedimentos de licitação, esse princípio vincula
disponibilidade ou demissão. os licitantes e a Administração Pública às regras
estabelecidas, nas normas e princípios em vigor.
Para a propositura de ação de regresso, necessário se
faz o cumprimento de dois requisitos basilares: que o
estado já tenha sido condenado a indenizar a vitima e a # Princípio da igualdade
comprovação do dolo ou da culpa do agente publico.
Trata-se de ação de responsabilidade subjetiva e Significa dar tratamento igual a todos os interessados. É
imprescritível. condição essencial para garantir em todas as fases da
licitação.
Há exceção a esse princípio, prevista no §2º do art. 3º
Conceito e Princípios da Lei 8.666, quando estabelece preferências, como
Licitação é o procedimento administrativo formal em critério de desempate :
que a Administração Pública convoca, mediante “§ 2o Em igualdade de condições, como critério de
condições estabelecidas em ato próprio (edital ou desempate, será assegurada preferência,
convite), empresas interessadas na apresentação de sucessivamente, aos bens e serviços:
propostas para firmar contratos administrativos
pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, I - produzidos no País;
compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes II - produzidos ou prestados por empresas brasileiras;
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios. III - produzidos ou prestados por empresas que invistam
em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia no
A licitação destina-se a garantir a observância do País.
princípio constitucional da isonomia, a seleção da
proposta mais vantajosa para a administração e a V - produzidos ou prestados por empresas que
promoção do desenvolvimento nacional sustentável, e comprovem cumprimento de reserva de cargos prevista
será processada e julgada em estrita conformidade com em lei para pessoa com deficiência ou para reabilitado
os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da Previdência Social e que atendam às regras de
da moralidade, da igualdade, da publicidade, da acessibilidade previstas na legislação.
probidade administrativa, da vinculação ao instrumento Note-se que no caso de empate entre duas ou mais
convocatório, do julgamento objetivo (estes, expressos propostas, e depois de obedecidos estes critérios, a
no texto da lei) e dos que lhes são correlatos. classificação se fará, obrigatoriamente, por sorteio, em
A Lei nº 8.666 de 1993, ao regulamentar o artigo 37, ato público, para o qual todos os licitantes serão
inciso XXI, da Constituição Federal, estabeleceu normas convocados, vedado qualquer outro processo.
gerais sobre licitações e contratos administrativos Após alteração na lei de licitações incluiu-se outra
pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, exceção ao estabelecer:
compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes
§ 5o Nos processos de licitação, poderá ser estabelecida
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
margem de preferência para: (Redação dada pela Lei nº
Municípios.
13.146, de 2015)
De acordo com essa Lei, a celebração de contratos com
I - produtos manufaturados e para serviços nacionais
terceiros na Administração Pública deve ser
que atendam a normas técnicas brasileiras; e (Incluído
necessariamente precedida de licitação, ressalvadas as
pela Lei nº 13.146, de 2015)
hipóteses de dispensa e de inexigibilidade de licitação.
Os seguintes princípios básicos que norteiam os II - bens e serviços produzidos ou prestados por
procedimentos licitatórios devem ser observados, empresas que comprovem cumprimento de reserva de
dentre outros: cargos prevista em lei para pessoa com deficiência ou
para reabilitado da Previdência Social e que atendam às
regras de acessibilidade previstas na legislação.
(Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)

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Essa margem de preferência será estabelecida com base partir de processo isonômico, medidas de compensação
em estudos revistos periodicamente, em prazo não comercial, industrial, tecnológica ou acesso a condições
superior a 5 (cinco) anos, que levem em consideração: vantajosas de financiamento, cumulativamente ou não,
(Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010) na forma estabelecida pelo Poder Executivo federal.
(Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010) (Vide Decreto nº
I - geração de emprego e renda; (Incluído pela Lei nº
7.546, de 2011)
12.349, de 2010)
§ 12. Nas contratações destinadas à implantação,
II - efeito na arrecadação de tributos federais, estaduais
manutenção e ao aperfeiçoamento dos sistemas de
e municipais; (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010)
tecnologia de informação e comunicação, considerados
III - desenvolvimento e inovação tecnológica realizados estratégicos em ato do Poder Executivo federal, a
no País; (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010) licitação poderá ser restrita a bens e serviços com
IV - custo adicional dos produtos e serviços; e (Incluído tecnologia desenvolvida no País e produzidos de acordo
pela Lei nº 12.349, de 2010) com o processo produtivo básico de que trata a Lei no
10.176, de 11 de janeiro de 2001.
V - em suas revisões, análise retrospectiva de
resultados. (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010) § 13. Será divulgada na internet, a cada exercício
financeiro, a relação de empresas favorecidas em
§ 7o Para os produtos manufaturados e serviços decorrência do disposto nos §§ 5o, 7o, 10, 11 e 12 deste
nacionais resultantes de desenvolvimento e inovação artigo, com indicação do volume de recursos destinados
tecnológica realizados no País, poderá ser estabelecido a cada uma delas. (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010)
margem de preferência adicional àquela prevista no §
5o. (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010) Observe outro tratamento diferenciado, também
estabelecido no artigo:
§ 8o As margens de preferência por produto, serviço,
grupo de produtos ou grupo de serviços, a que se § 14. As preferências definidas neste artigo e nas
referem os §§ 5o e 7o, serão definidas pelo Poder demais normas de licitação e contratos devem
Executivo federal, não podendo a soma delas privilegiar o tratamento diferenciado e favorecido às
ultrapassar o montante de 25% (vinte e cinco por cento) microempresas e empresas de pequeno porte na forma
sobre o preço dos produtos manufaturados e serviços da lei. (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
estrangeiros. (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010) § 15. As preferências dispostas neste artigo prevalecem
(Vide Decreto nº 7.546, de 2011) sobre as demais preferências previstas na legislação
§ 9 As disposições contidas nos §§ 5o e 7o deste artigo quando estas forem aplicadas sobre produtos ou
não se aplicam aos bens e aos serviços cuja capacidade serviços estrangeiros. (Incluído pela Lei Complementar
de produção ou prestação no País seja inferior: nº 147, de 2014)

I - à quantidade a ser adquirida ou contratada; ou


II - ao quantitativo fixado com fundamento no § 7o do # Princípio da Impessoalidade
art. 23 desta Lei, quando for o caso. (Na compra de bens Esse princípio obriga a Administração a observar nas
de natureza divisível e desde que não haja prejuízo para suas decisões critérios objetivos previamente
o conjunto ou complexo, é permitida a cotação de estabelecidos, afastando a discricionariedade e o
quantidade inferior à demandada na licitação, com subjetivismo na condução dos procedimentos da
vistas a ampliação da competitividade, podendo o edital licitação.
fixar quantitativo mínimo para preservar a economia de
escala.)
# Princípio da Moralidade e da Probidade
§ 10. A margem de preferência a que se refere o § 5o
Administrativa
poderá ser estendida, total ou parcialmente, aos bens e
serviços originários dos Estados Partes do Mercado A conduta dos licitantes e dos agentes públicos tem que
Comum do Sul - Mercosul. ser, além de lícita, compatível com a moral, ética, os
bons costumes e as regras da boa administração.
§ 11. Os editais de licitação para a contratação de bens,
serviços e obras poderão, mediante prévia justificativa
da autoridade competente, exigir que o contratado
promova, em favor de órgão ou entidade integrante da
administração pública ou daqueles por ela indicados a

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# Princípio da Publicidade # Princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório


Qualquer interessado deve ter acesso às licitações Obriga a Administração e o licitante a observarem as
públicas e seu controle, mediante divulgação dos atos normas e condições estabelecidas no ato convocatório.
praticados pelos administradores em todas as fases da Nada poderá ser criado ou feito sem que haja previsão
licitação. no ato convocatório. Ressalte-se, que o edital, mesmo
sendo norma da licitação não pode se contrapor ao
De acordo com a 8666:
princípio da legalidade, visto que a própria lei de
Art. 21. Os avisos contendo os resumos dos editais das licitações previu a possibilidade de impugnação deste
concorrências, das tomadas de preços, dos concursos e instrumento convocatório, conforme se observa:
dos leilões, embora realizados no local da repartição
1. Para qualquer cidadão: até 5 (cinco) dias úteis antes
interessada, deverão ser publicados com antecedência,
da data fixada para a abertura dos envelopes de
no mínimo, por uma vez:
habilitação, devendo a Administração julgar e
I - no Diário Oficial da União, quando se tratar de responder à impugnação em até 3 (três) dias úteis.
licitação feita por órgão ou entidade da Administração
2. Para os licitantes: até o segundo dia útil que
Pública Federal e, ainda, quando se tratar de obras
anteceder a abertura dos envelopes de habilitação em
financiadas parcial ou totalmente com recursos federais
concorrência, a abertura dos envelopes com as
ou garantidas por instituições federais;
propostas em convite, tomada de preços ou concurso,
II - no Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Federal ou a realização de leilão.
quando se tratar, respectivamente, de licitação feita por
# Princípio do Julgamento Objetivo
órgão ou entidade da Administração Pública Estadual ou
Municipal, ou do Distrito Federal; Esse princípio significa que o administrador deve
observar critérios objetivos definidos no ato
III - em jornal diário de grande circulação no Estado e
convocatório para o julgamento das propostas. Afasta a
também, se houver, em jornal de circulação no
possibilidade de o julgador utilizar-se de fatores
Município ou na região onde será realizada a obra,
subjetivos ou de critérios não previstos no ato
prestado o serviço, fornecido, alienado ou alugado o
convocatório, mesmo que em benefício da própria
bem, podendo ainda a Administração, conforme o vulto
Administração.
da licitação, utilizar-se de outros meios de divulgação
para ampliar a área de competição. Princípios correlatos:
O aviso publicado conterá a indicação do local em que # Princípio da competitividade
os interessados poderão ler e obter o texto integral do
Este princípio refere-se à vedação aos agentes públicos
edital e todas as informações sobre a licitação.
de admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de
Os prazos mínimos para publicação estabelecidos pela convocação, cláusulas ou condições que comprometam,
lei serão contados a partir da última publicação do restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo e
edital resumido ou da expedição do convite, ou ainda estabeleçam preferências ou distinções em razão da
da efetiva disponibilidade do edital ou do convite e naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de
respectivos anexos, prevalecendo a data que ocorrer qualquer outra circunstância impertinente ou
mais tarde. irrelevante para o específico objeto do contrato.
Admite-se, porém, nos processos de licitação que
Qualquer modificação no edital exige divulgação pela
poderá ser estabelecida margem de preferência para
mesma forma que se deu o texto original, reabrindo-se
produtos manufaturados e serviços nacionais que
o prazo inicialmente estabelecido, exceto quando,
atendam a normas técnicas brasileiras.
inqüestionavelmente, a alteração não afetar a
formulação das propostas.”
Outro exemplo da aplicação do princípio da publicidade #Princípio do procedimento formal
é a exigência da lei de que a Administração,
Impõe a vinculação da licitação às prescrições legais que
excetuando-se os casos de compras para a defesa da
a regem em todos os seus atos e fases. Refere-se à
segurança nacional, deve providenciar a divulgação
preexistência de regras constantes no edital, nos
oficial ou quadros de avisos de ampla visibilidade os
regulamentos, nos cadernos de obrigações e na lei.
valores, quantidades, etc. de todas as compras
realizadas no mês. Podendo incluir neste rol, inclusive,
aquelas feitas sem licitação.

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#Princípio do sigilo na apresentação das propostas deve sempre nortear a prévia contratação de qualquer
atividade de caráter público. O descompasso com tais
Decorrente do princípio da isonomia, veda o
disposições fere o princípio maior da moralidade
conhecimento da proposta de um concorrente pelos
pública.
outros, afim de evitar que aqueles de maior poder
econômico colocassem-se em vantagem perante os Já no que tange à obrigatoriedade específica do
demais. A violação a esse princípio enseja a nulidade do procedimento licitatório e todas suas formalidades –
procedimento e caracteriza ilícito penal (art. 94 da Lei leia-se, aplicabilidade da Lei 8.666/93 – algumas
n.º 8666/93). exceções apresentam-se e cada uma merece
considerações.

#Princípio da Ampla defesa


Dispensa e inexigibilidade
Consagrado no Art. 87 da Lei n.º 8.666 fica estabelecido
que para a aplicação das sanções administrativas exige- De acordo com a lei 8.666, o procedimento pode deixar
se a observância da ampla defesa, com os meios e de ser realizado, tornando a licitação dispensada,
recursos a ela inerentes. O preceito se aplica não só dispensável ou inexigível.
para a aplicação de sanções, mas também para a
A licitação será dispensada quando a própria lei assim o
hipótese de desfazimento da licitação (art. 49, §3º da
declarar. As hipóteses são:
Lei 8666).
* Se bens imóveis:
a) dação em pagamento;
#Princípio da Adjudicação compulsória
b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão
Significa que a administração pública só poderá atribuir
ou entidade da administração pública, de qualquer
o objeto da licitação ao vencedor. Não é possível,
esfera de governo, ressalvado o disposto nas alíneas f e
portanto, conceder o objeto licitatório a outro licitante
h;
que não o vencedor, uma vez que preencheu todos os
requisitos e consequentemente apresentou a melhor c) permuta, por outro imóvel que atenda aos requisitos
proposta. Tal princípio torna a adjudicação, ao constantes do inciso X do art. 24 desta Lei; (X - para a
vencedor, obrigatória, salvo se este desistir compra ou locação de imóvel destinado ao
expressamente do contrato ou não o firmar no prazo atendimento das finalidades precípuas da
prefixado, a menos que comprove justo motivo. administração, cujas necessidades de instalação e
localização condicionem a sua escolha, desde que o
preço seja compatível com o valor de mercado,
Obrigatoriedade de licitação segundo avaliação prévia)
A obrigatoriedade de licitar é princípio constitucional d) investidura; entende-se por investidura, para os fins
estampado no art. 37, XXI, da Constituição Federal, da lei 8666/93:
aplicável, ressalvados casos específicos, a todo ente da
I - a alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de
administração pública direta ou indireta. Todo contrato
área remanescente ou resultante de obra pública, área
de obra, serviço, compras e alienações, bem como
esta que se tornar inaproveitável isoladamente, por
concessão e permissão de serviços públicos, deve ser
preço nunca inferior ao da avaliação e desde que esse
precedido de um procedimento licitatório. A mesma
não ultrapasse a 50% (cinquenta por cento) do valor
disciplina é reproduzida no art. 2º da Lei 8.666/93, a Lei
constante da alínea "a" do inciso II do art. 23 desta lei;
de Licitações. E devem licitar todos os órgãos da
(R$ 40.000,00).
administração pública direta, fundos especiais,
autarquias, fundações públicas, empresas públicas, II - a alienação, aos legítimos possuidores diretos ou, na
sociedades de economia mista, entidades controladas falta destes, ao Poder Público, de imóveis para fins
direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito residenciais construídos em núcleos urbanos anexos a
Federal e Municípios (parágrafo único do art. 1º da Lei usinas hidrelétricas, desde que considerados
de Licitações). dispensáveis na fase de operação dessas unidades e não
integrem a categoria de bens reversíveis ao final da
Há que se distinguir, porém, entre a obrigação de licitar
concessão.
e a aplicação dos procedimentos específicos licitatórios.
Portanto, o princípio geral de licitar, conforme exposto,

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e) venda a outro órgão ou entidade da administração c) venda de ações, que poderão ser negociadas em
pública, de qualquer esfera de governo; bolsa, observada a legislação específica;
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão d) venda de títulos, na forma da legislação pertinente;
de direito real de uso, locação ou permissão de uso de
e) venda de bens produzidos ou comercializados por
bens imóveis residenciais construídos, destinados ou
órgãos ou entidades da Administração Pública, em
efetivamente utilizados no âmbito de programas
virtude de suas finalidades;
habitacionais ou de regularização fundiária de interesse
social desenvolvidos por órgãos ou entidades da f) venda de materiais e equipamentos para outros
administração pública; órgãos ou entidades da Administração Pública, sem
utilização previsível por quem deles dispõe.
g) procedimentos de legitimação de posse, mediante
iniciativa e deliberação dos órgãos da Administração A licitação será dispensável quando a lei conferir certa
Pública em cuja competência legal inclua-se tal discricionariedade ao administrador acerca da
atribuição; necessidade de realização do certame. As hipóteses
estão previstas no art. 24 da Lei 8.666, a saber:
h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento,
concessão de direito real de uso, locação ou permissão I - para obras e serviços de engenharia de valor até 10%
de uso de bens imóveis de uso comercial de âmbito (dez por cento) do limite previsto na alínea "a", do
local com área de até 250 m² (duzentos e cinqüenta inciso I do artigo anterior, desde que não se refiram a
metros quadrados) e inseridos no âmbito de programas parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para
de regularização fundiária de interesse social obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local
desenvolvidos por órgãos ou entidades da que possam ser realizadas conjunta e
administração pública; concomitantemente; (Redação dada pela Lei nº 9.648,
de 1998)
i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita
ou onerosa, de terras públicas rurais da União na II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez
Amazônia Legal onde incidam ocupações até o limite de por cento) do limite previsto na alínea "a", do inciso II
15 (quinze) módulos fiscais ou 1.500ha (mil e do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos
quinhentos hectares), para fins de regularização nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um
fundiária, atendidos os requisitos legais; mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto
que possa ser realizada de uma só vez; (Redação dada
A Administração também poderá conceder título de
pela Lei nº 9.648, de 1998)
propriedade ou de direito real de uso de imóveis,
dispensada licitação, quando o uso destinar-se: III - nos casos de guerra ou grave perturbação da
ordem;
I - a outro órgão ou entidade da Administração Pública,
qualquer que seja a localização do imóvel; IV - nos casos de emergência ou de calamidade pública,
quando caracterizada urgência de atendimento de
II - a pessoa natural que, nos termos da lei, regulamento
situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer
ou ato normativo do órgão competente, haja
a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos
implementado os requisitos mínimos de cultura,
e outros bens, públicos ou particulares, e somente para
ocupação mansa e pacífica e exploração direta sobre
os bens necessários ao atendimento da situação
área rural situada na Amazônia Legal, superior a 1 (um)
emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e
módulo fiscal e limitada a 15 (quinze) módulos fiscais,
serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de
desde que não exceda 1.500ha (mil e quinhentos
180 (cento e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos,
hectares);
contados da ocorrência da emergência ou calamidade,
b) se bens móveis: vedada a prorrogação dos respectivos contratos;
a) doação, permitida exclusivamente para fins e uso de V - quando não acudirem interessados à licitação
interesse social, após avaliação de sua oportunidade e anterior e esta, justificadamente, não puder ser
conveniência sócio-econômica, relativamente à escolha repetida sem prejuízo para a Administração, mantidas,
de outra forma de alienação; neste caso, todas as condições preestabelecidas;
b) permuta, permitida exclusivamente entre órgãos ou VI - quando a União tiver que intervir no domínio
entidades da Administração Pública; econômico para regular preços ou normalizar o
abastecimento;

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VII - quando as propostas apresentadas consignarem forem manifestamente vantajosas para o Poder Público;
preços manifestamente superiores aos praticados no (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
mercado nacional, ou forem incompatíveis com os
XV - para a aquisição ou restauração de obras de arte e
fixados pelos órgãos oficiais competentes, casos em
objetos históricos, de autenticidade certificada, desde
que, observado o parágrafo único do art. 48 desta Lei e,
que compatíveis ou inerentes às finalidades do órgão
persistindo a situação, será admitida a adjudicação
ou entidade.
direta dos bens ou serviços, por valor não superior ao
constante do registro de preços, ou dos serviços; (Vide XVI - para a impressão dos diários oficiais, de
§ 3º do art. 48) formulários padronizados de uso da administração, e de
edições técnicas oficiais, bem como para prestação de
VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito
serviços de informática a pessoa jurídica de direito
público interno, de bens produzidos ou serviços
público interno, por órgãos ou entidades que integrem
prestados por órgão ou entidade que integre a
a Administração Pública, criados para esse fim
Administração Pública e que tenha sido criado para esse
específico;(Incluído pela Lei nº 8.883, de 1994)
fim específico em data anterior à vigência desta Lei,
desde que o preço contratado seja compatível com o XVII - para a aquisição de componentes ou peças de
praticado no mercado; (Redação dada pela Lei nº 8.883, origem nacional ou estrangeira, necessários à
de 1994) manutenção de equipamentos durante o período de
garantia técnica, junto ao fornecedor original desses
IX - quando houver possibilidade de comprometimento
equipamentos, quando tal condição de exclusividade
da segurança nacional, nos casos estabelecidos em
for indispensável para a vigência da garantia; (Incluído
decreto do Presidente da República, ouvido o Conselho
pela Lei nº 8.883, de 1994)
de Defesa Nacional; (Regulamento)
XVIII - nas compras ou contratações de serviços para o
X - para a compra ou locação de imóvel destinado ao
abastecimento de navios, embarcações, unidades
atendimento das finalidades precípuas da
aéreas ou tropas e seus meios de deslocamento quando
administração, cujas necessidades de instalação e
em estada eventual de curta duração em portos,
localização condicionem a sua escolha, desde que o
aeroportos ou localidades diferentes de suas sedes, por
preço seja compatível com o valor de mercado, segundo
motivo de movimentação operacional ou de
avaliação prévia;(Redação dada pela Lei nº 8.883, de
adestramento, quando a exiguidade dos prazos legais
1994)
puder comprometer a normalidade e os propósitos das
XI - na contratação de remanescente de obra, serviço ou operações e desde que seu valor não exceda ao limite
fornecimento, em consequência de rescisão contratual, previsto na alínea "a" do inciso II do art. 23 desta Lei:
desde que atendida a ordem de classificação da (Incluído pela Lei nº 8.883, de 1994)
licitação anterior e aceitas as mesmas condições
XIX - para as compras de material de uso pelas Forças
oferecidas pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao
Armadas, com exceção de materiais de uso pessoal e
preço, devidamente corrigido;
administrativo, quando houver necessidade de manter
XII - nas compras de hortifrutigranjeiros, pão e outros a padronização requerida pela estrutura de apoio
gêneros perecíveis, no tempo necessário para a logístico dos meios navais, aéreos e terrestres,
realização dos processos licitatórios correspondentes, mediante parecer de comissão instituída por decreto;
realizadas diretamente com base no preço do (Incluído pela Lei nº 8.883, de 1994)
dia;(Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
XX - na contratação de associação de portadores de
XIII - na contratação de instituição brasileira incumbida deficiência física, sem fins lucrativos e de comprovada
regimental ou estatutariamente da pesquisa, do ensino idoneidade, por órgãos ou entidades da
ou do desenvolvimento institucional, ou de instituição Admininistração Pública, para a prestação de serviços
dedicada à recuperação social do preso, desde que a ou fornecimento de mão-de-obra, desde que o preço
contratada detenha inquestionável reputação ético- contratado seja compatível com o praticado no
profissional e não tenha fins lucrativos; (Redação dada mercado. (Incluído pela Lei nº 8.883, de 1994)
pela Lei nº 8.883, de 1994)
XXI - para a aquisição ou contratação de produto para
XIV - para a aquisição de bens ou serviços nos termos de pesquisa e desenvolvimento, limitada, no caso de obras
acordo internacional específico aprovado pelo e serviços de engenharia, a 20% (vinte por cento) do
Congresso Nacional, quando as condições ofertadas valor de que trata a alínea “b” do inciso I do caput do
art. 23; (até 300.000,00).

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Note-se nessa hipótese que quando aplicada a obras e no exterior, necessariamente justificadas quanto ao
serviços de engenharia, seguirá procedimentos preço e à escolha do fornecedor ou executante e
especiais instituídos em regulamentação específica. ratificadas pelo Comandante da Força. (Incluído pela Lei
(Incluído pela Lei nº 13.243, de 2016) nº 11.783, de 2008).
XXII - na contratação de fornecimento ou suprimento de XXX - na contratação de instituição ou organização,
energia elétrica e gás natural com concessionário, pública ou privada, com ou sem fins lucrativos, para a
permissionário ou autorizado, segundo as normas da prestação de serviços de assistência técnica e extensão
legislação específica; (Incluído pela Lei nº 9.648, de rural no âmbito do Programa Nacional de Assistência
1998) Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na
Reforma Agrária, instituído por lei federal. (Incluído
XXIII - na contratação realizada por empresa pública ou
pela Lei nº 12.188, de 2.010) Vigência
sociedade de economia mista com suas subsidiárias e
controladas, para a aquisição ou alienação de bens, XXXI - nas contratações visando ao cumprimento do
prestação ou obtenção de serviços, desde que o preço disposto nos arts. 3o, 4o, 5o e 20 da Lei no 10.973, de 2
contratado seja compatível com o praticado no de dezembro de 2004, observados os princípios gerais
mercado. (Incluído pela Lei nº 9.648, de 1998) de contratação dela constantes. (Incluído pela Lei nº
12.349, de 2010)
XXIV - para a celebração de contratos de prestação de
serviços com as organizações sociais, qualificadas no XXXII - na contratação em que houver transferência de
âmbito das respectivas esferas de governo, para tecnologia de produtos estratégicos para o Sistema
atividades contempladas no contrato de Único de Saúde - SUS, no âmbito da Lei no 8.080, de 19
gestão.(Incluído pela Lei nº 9.648, de 1998) de setembro de 1990, conforme elencados em ato da
direção nacional do SUS, inclusive por ocasião da
XXV - na contratação realizada por Instituição Científica
aquisição destes produtos durante as etapas de
e Tecnológica - ICT ou por agência de fomento para a
absorção tecnológica. (Incluído pela Lei nº 12.715, de
transferência de tecnologia e para o licenciamento de
2012)
direito de uso ou de exploração de criação protegida.
(Incluído pela Lei nº 10.973, de 2004) XXXIII - na contratação de entidades privadas sem fins
lucrativos, para a implementação de cisternas ou outras
XXVI – na celebração de contrato de programa com
tecnologias sociais de acesso à água para consumo
ente da Federação ou com entidade de sua
humano e produção de alimentos, para beneficiar as
administração indireta, para a prestação de serviços
famílias rurais de baixa renda atingidas pela seca ou
públicos de forma associada nos termos do autorizado
falta regular de água. (Incluído pela Lei nº 12.873, de
em contrato de consórcio público ou em convênio de
2013)
cooperação. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
XXXIV - para a aquisição por pessoa jurídica de direito
XXVII - na contratação da coleta, processamento e
público interno de insumos estratégicos para a saúde
comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis
produzidos ou distribuídos por fundação que,
ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta seletiva
regimental ou estatutariamente, tenha por finalidade
de lixo, efetuados por associações ou cooperativas
apoiar órgão da administração pública direta, sua
formadas exclusivamente por pessoas físicas de baixa
autarquia ou fundação em projetos de ensino, pesquisa,
renda reconhecidas pelo poder público como catadores
extensão, desenvolvimento institucional, científico e
de materiais recicláveis, com o uso de equipamentos
tecnológico e estímulo à inovação, inclusive na gestão
compatíveis com as normas técnicas, ambientais e de
administrativa e financeira necessária à execução
saúde pública. (Redação dada pela Lei nº 11.445, de
desses projetos, ou em parcerias que envolvam
2007).
transferência de tecnologia de produtos estratégicos
XXVIII – para o fornecimento de bens e serviços, para o Sistema Único de Saúde – SUS, nos termos do
produzidos ou prestados no País, que envolvam, inciso XXXII deste artigo, e que tenha sido criada para
cumulativamente, alta complexidade tecnológica e esse fim específico em data anterior à vigência desta
defesa nacional, mediante parecer de comissão Lei, desde que o preço contratado seja compatível com
especialmente designada pela autoridade máxima do o praticado no mercado. (Incluído pela Lei nº 13.204, de
órgão. (Incluído pela Lei nº 11.484, de 2007). 2015)
XXIX – na aquisição de bens e contratação de serviços
para atender aos contingentes militares das Forças
Singulares brasileiras empregadas em operações de paz

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OBS: Em razão do pequeno valor é dispensável, de III - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias
acordo com o art. 24, I da 8.666, a licitação para obras e financeiras ou tributárias;
serviços de engenharia de pequeno valor, entendendo-
IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras
se este como o valor de até 10% do limite de até R$
ou serviços;
150.000,00, ou seja, R$ 15.000,00 (quinze mil reais)
desde que não se refira a parcelas de uma mesma obra V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou
ou serviço e ainda de obras e serviços da mesma administrativas;
natureza e no mesmo local que possam ser realizadas VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
conjunta ou concomitantemente.
VII - restauração de obras de arte e bens de valor
Ou ainda é dispensável para outros serviços e compras histórico.”
de valor até 10% (dez por cento) de R$ 80.000,00
(oitenta mil reais), ou seja R$ 8.000,00 (oito mil reais). III - para contratação de profissional de qualquer setor
artístico, diretamente ou através de empresário
OBS: Os percentuais serão de 20% (vinte por cento) exclusivo, desde que consagrado pela crítica
para compras, obras e serviços contratados por especializada ou pela opinião pública.
consórcios públicos, sociedade de economia mista,
empresa pública e por autarquia ou fundação Atenção: As licitações dispensáveis (exceto por
qualificadas, na forma da lei, como Agências Executivas. pequeno valor) e as situações de inexigibilidade,
Desta forma, os limites se alteram para R$ 30.000,00 necessariamente justificadas, deverão ser comunicadas,
para obras e serviços de engenharia de pequeno valor e dentro de 3 (três) dias, à autoridade superior, para
R$ 16.000,00 para outros serviços e compras. ratificação e publicação na imprensa oficial, no prazo de
5 (cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.
No caso da licitação dispensada, só se exige a
Inexigibilidade: ratificação e publicação nos seguintes casos:
As hipóteses de inexigibilidade estão relacionadas com I – quando a Administração conceder título de
a impossibilidade jurídica de competição entre os propriedade ou de direito real de uso de imóveis,
contratantes em virtude da natureza específica do quando o uso destinar-se a outro órgão ou entidade da
negócio ou em virtude dos objetivos sociais visados pela Administração Pública, qualquer que seja a localização
administração. Segundo o art. 25 da lei, é inexigível a do imóvel.
licitação quando houver inviabilidade de competição,
em especial: II - quando a Administração conceder título de
propriedade ou de direito real de uso de imóveis,
I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou quando o uso destinar-se a pessoa natural que, nos
gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, termos da lei, regulamento ou ato normativo do órgão
empresa ou representante comercial exclusivo, vedada competente, haja implementado os requisitos mínimos
a preferência de marca, devendo a comprovação de de cultura, ocupação mansa e pacífica e exploração
exclusividade ser feita através de atestado fornecido direta sobre área rural situada na Amazônia Legal,
pelo órgão de registro do comércio do local em que se superior a 1 (um) módulo fiscal e limitada a 15 (quinze)
realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo módulos fiscais, desde que não exceda 1.500ha (mil e
Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, quinhentos hectares);
ainda, pelas entidades equivalentes;
III – Licitação dispensada em razão de interesse público,
II - para a contratação de serviços técnicos enumerados na hipótese de doação com encargo.
no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com
profissionais ou empresas de notória especialização, O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de
vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e retardamento (insuficiência financeira ou comprovado
divulgação; motivo de ordem técnica, justificados em despacho
circunstanciado da autoridade superior) será instruído,
“Art. 13. Para os fins desta Lei, consideram-se serviços no que couber, com os seguintes elementos:
técnicos profissionais especializados os trabalhos
relativos a: I - caracterização da situação emergencial ou calamitosa
que justifique a dispensa, quando for o caso;
I - estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou
executivos; II - razão da escolha do fornecedor ou executante;

II - pareceres, perícias e avaliações em geral; III - justificativa do preço.

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IV - documento de aprovação dos projetos de pesquisa Escolha:


aos quais os bens serão alocados.
Obras e serviços de engenharia até R$ 1.500.000,00.
Compras e outros serviços até R$ 650.000,00
Modalidades de licitação (seiscentos e cinquenta mil reais)
Modalidade de licitação é a forma específica de Admite-se também, a tomada de preços em licitações
conduzir o procedimento licitatório, a partir de critérios internacionais, observados os limites, a tomada de
definidos em lei. preços, quando o órgão ou entidade dispuser de
cadastro internacional de fornecedores ou o convite,
As modalidades de licitação admitidas pela 8.666 são
quando não houver fornecedor do bem ou serviço no
exclusivamente as seguintes:
País.
Prazo mínimo entre a publicação do edital e a entrega
Concorrência das propostas: Trinta dias para tomada de preços,
Modalidade da qual podem participar quaisquer quando a licitação for do tipo "melhor técnica" ou
interessados que na fase de habilitação preliminar "técnica e preço"; e
comprovem possuir requisitos mínimos de qualificação Quinze dias, nos outros casos.
exigidos no edital para execução do objeto da licitação.

Convite
Escolha:
Modalidade realizada entre interessados do ramo de
Obras e serviços de engenharia acima de R$ que trata o objeto da licitação, escolhidos e convidados
1.500.000,00. em número mínimo de três pela Administração.
Compras e outros serviços acima de R$ 650.000,00. O convite é a modalidade de licitação mais simples. A
Também é utilizada nas concessões de direito real de Administração escolhe quem quer convidar, entre os
uso, alienações de bens públicos imóveis inservíveis e possíveis interessados, cadastrados ou não. A
nas licitações internacionais. divulgação deve ser feita mediante afixação de cópia do
convite em quadro de avisos do órgão ou entidade,
ATENÇÃO: Na concorrência para a venda de bens localizado em lugar de ampla divulgação.
imóveis, a fase de habilitação limitar-se-á à
comprovação do recolhimento de quantia No convite é possível a participação de interessados
correspondente a 5% (cinco por cento) da avaliação. que não tenham sido formalmente convidados, mas
que sejam do ramo do objeto licitado, desde que
Prazo mínimo entre a publicação do edital e o cadastrados no órgão ou entidade licitadora ou no
recebimento das propostas (contado da data da última Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores –
publicação – aviso no jornal ou imprensa oficial - ou SICAF. Esses interessados devem solicitar o convite com
expedição do convite: antecedência de até 24 horas da apresentação das
a) 45 dias quando o contrato contemplar o regime de propostas.
empreitada integral ou quando a licitação for do tipo No convite para que a contratação seja possível, são
melhor técnica ou técnica e preço. necessárias pelo menos três propostas válidas, isto é,
b) 30 dias – para os demais casos. que atendam a todas as exigências do ato convocatório.
Não é suficiente a obtenção de três propostas. É preciso
Tomada de preços que as três sejam válidas. Caso isso não ocorra, a
Modalidade realizada entre interessados devidamente Administração deve repetir o convite e convidar mais
cadastrados ou que atenderem a todas as condições um interessado, enquanto existirem cadastrados não
exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior convidados nas últimas licitações, ressalvadas as
à data do recebimento das propostas, observada a hipóteses de limitação de mercado ou manifesto
necessária qualificação. desinteresse dos convidados, circunstâncias estas que
devem ser justificadas no processo de licitação.
Para alcançar o maior número possível de interessados
no objeto licitado e evitar a repetição do procedimento,
muitos órgãos ou entidades vêm utilizando a publicação

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do convite na imprensa oficial e em jornal de grande OBS 6: As obras, serviços e compras efetuadas pela
circulação, além da distribuição direta aos fornecedores Administração serão divididas em tantas parcelas
do ramo. quantas se comprovarem técnica e economicamente
viáveis, procedendo-se à licitação com vistas ao melhor
A publicação na imprensa e em jornal de grande
aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e
circulação confere ao convite divulgação idêntica à da
à ampliação da competitividade sem perda da
concorrência e à tomada de preços e afasta a
economia de escala.
discricionariedade do agente público.
Na execução de obras e serviços e nas compras de bens
Quando for impossível a obtenção de três propostas
parceladas, a cada etapa ou conjunto de etapas da
válidas, por limitações do mercado ou manifesto
obra, serviço ou compra, há de corresponder licitação
desinteresse dos convidados, essas circunstâncias
distinta, preservada a modalidade pertinente para a
deverão ser devidamente motivada e justificados no
execução do objeto em licitação.
processo, sob pena de repetição de convite.
Quando configurada essa hipótese não se proíbe a
Limitações de mercado ou manifesto desinteresse das
contratação parcelada das obras, compras e serviços,
empresas convidadas não se caracterizam e nem podem
mas se obriga a administração a adotar como
ser justificados quando são inseridas na licitação
modalidade de licitação aquela que corresponde ao
condições que só uma ou outra empresa pode atender.
somatório das parcelas . A regra só não se aplica as
Escolha: partes de obras ou serviços de natureza específica .
Obras e serviços de engenharia até R$ 150.000,00. EX: A concorrência deve ser utilizada obrigatoriamente
Compras e outros serviços até R$ 80.000,00. para as obras cujo valor seja superior a 1.500.000 . Se a
administração quiser parcelar a obra em 3 vezes de
Prazo mínimo para entrega das propostas: 05 dias úteis. 600.000 deverá utilizar para cada parcela a modalidade
OBS: Quando couber convite, a Administração pode concorrência, pois o somatório das 3 vai para 1.800.000
utilizar a tomada de preços e, em qualquer caso, a e não a tomada de preços que são obras de engenharia
concorrência. até 1.500.000

OBS²: Quando os licitantes forem consórcios públicos


formados por até 3 participantes, as modalidades são Leilão
adotadas levando-se em consideração o dobro dos
limites estabelecidos em lei; quando forem formados É a modalidade de licitação entre quaisquer
por mais de 3, utiliza-se o triplo. interessados para a venda de bens móveis, semoventes
e, em casos especiais, imóveis (bens imóveis da
OBS ³: É vedada a utilização da modalidade "convite" ou Administração Pública, cuja aquisição haja derivado de
"tomada de preços", conforme o caso, para parcelas de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento),
uma mesma obra ou serviço, ou ainda para obras e ou de produtos legalmente apreendidos ou
serviços da mesma natureza e no mesmo local que penhorados, a quem oferecer maior lance, igual ou
possam ser realizadas conjunta e concomitantemente, superior ao da avaliação. O leilão é disciplinado em
sempre que o somatório de seus valores caracterizar o regulamento próprio, editado pela Administração
caso de "tomada de preços" ou "concorrência", exceto (edital); a lei somente estabelece que pode ser feito por
para as parcelas de natureza específica que possam ser leiloeiro oficial ou servidor designado pela
executadas por pessoas ou empresas de especialidade administração;
diversa daquela do executor da obra ou serviço.
Todo bem a ser leiloado será previamente avaliado pela
OBS 4: Na compra de bens de natureza divisível e desde Administração para fixação do preço mínimo de
que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo, é arrematação, os bens são pagos à vista ou no
permitida a cotação de quantidade inferior à percentual estabelecido no edital, não inferior a 5%
demandada na licitação, com vistas a ampliação da desse valor e, após assinatura da ata lavrada no local do
competitividade, podendo o edital fixar quantitativo leilão, os bens são entregues ao arrematante.
mínimo para preservar a economia de escala.
O prazo mínimo entre a publicação do edital e a
OBS 5: É vedada a criação de outras modalidades de realização do evento será de 15 dias.
licitação ou a combinação das referidas na lei 8666/93.
Nos leilões internacionais, o pagamento da parcela à
vista poderá ser feito em até vinte e quatro horas.

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O edital de leilão deve ser amplamente divulgado, III - as condições de realização do concurso e os prêmios
principalmente no município em que se realizará. a serem concedidos.
Em se tratando de projeto, o vencedor deverá autorizar
a Administração a executá-lo quando julgar
Concurso
conveniente.
Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer
interessados para escolha de trabalho técnico, científico
ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou Pregão (regulamentado pela lei 10.520/02)
remuneração aos vencedores, conforme critérios
O pregão é a modalidade de licitação para aquisição de
constantes de edital publicado na imprensa oficial com
bens e serviços comuns em que a disputa pelo
antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias. Não
fornecimento é feita em sessão pública, por meio de
há cominação com escolha de TIPO de licitação neste
propostas e lances, para classificação e habilitação do
caso, conforme a Lei n.º 8666/93.
licitante com a proposta de menor preço. Bens e
A Administração só poderá contratar, pagar, premiar ou serviços comuns são aqueles cujos padrões de
receber projeto ou serviço técnico especializado desde desempenho e qualidade possam ser objetivamente
que o autor ceda os direitos patrimoniais a ele relativos definidos pelo edital, por meio de especificações usuais
e a Administração possa utilizá-lo de acordo com o no mercado. Trata-se, portanto, de bens e serviços
previsto no regulamento de concurso ou no ajuste para geralmente oferecidos por diversos fornecedores e
sua elaboração. facilmente comparáveis entre si, de modo a permitir a
decisão de compra com base no menor preço. A relação
Ressalvados os casos de inexigibilidade de licitação, os
dos bens e serviços que se enquadram nessa tipificação
contratos para a prestação de serviços técnicos
está contida no Anexo II do Decreto n.º 3.555, de 8 de
profissionais especializados deverão,
agosto de 2000, que regulamenta o pregão.
preferencialmente, ser celebrados mediante a
realização de concurso. Segundo o art. 13 da lei, são A grande inovação do pregão se dá pela inversão das
esses serviços técnicos: fases de habilitação e análise das propostas. Dessa
forma, apenas a documentação do participante que
I - estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos
tenha apresentado a melhor proposta é analisada.
ou executivos;
Além disso, a definição da proposta mais vantajosa para
II - pareceres, perícias e avaliações em geral;
a Administração é feita através de proposta de preço
III - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias escrita e, após, disputa através de lances verbais.
financeiras ou tributárias;
Após os lances, ainda pode haver a negociação direta
IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras com o pregoeiro, no intuito da diminuição do valor
ou serviços; ofertado.
V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou O pregão vem se somar às demais modalidades
administrativas; previstas na Lei n.º 8.666/93, que são a concorrência, a
VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal; tomada de preços, o convite, o concurso e o leilão.
Diversamente destas modalidades, o pregão pode ser
VII - restauração de obras de arte e bens de valor aplicado a qualquer valor estimado de contratação, de
histórico. forma que constitui alternativa a todas as modalidades.
No caso de concurso, o julgamento será feito por uma Outra peculiaridade é que o pregão admite como
comissão especial integrada por pessoas de reputação critério de julgamento da proposta somente o menor
ilibada e reconhecido conhecimento da matéria em preço.
exame, servidores públicos ou não. De forma simplificada, estes são os passos de uma
O concurso deve ser precedido de regulamento próprio, sessão de pregão:
a ser obtido pelos interessados no local indicado no  As empresas concorrentes são credenciadas.
edital.
 As propostas iniciais são entregues ao
O regulamento deverá indicar: pregoeiro, em envelopes fechados.
I - a qualificação exigida dos participantes;  É feita a leitura das ofertas. Além da empresa
II - as diretrizes e a forma de apresentação do trabalho; que ofereceu o menor preço, permanecem na disputa

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aquelas que apresentaram propostas com valores até órgão promotor da licitação, do pregoeiro, dos
10% acima da menor oferta. As demais são eliminadas. membros da equipe de apoio técnico e dos licitantes
Não havendo ao menos três ofertas nessas condições, (art.3º); o credenciamento se dá pela atribuição de
as empresas com as três melhores propostas podem chave de identificação e de senha, pessoal e
participar do processo, independente do valor. intransferível, para acesso ao sistema eletrônico (art.
3º, § 1º); a participação no procedimento dependerá da
 Instigados pelo pregoeiro, os concorrentes dão
utilização da chave de identificação e da senha;
lances verbais, seguindo a ordem de classificação - do
maior para o menor preço inicial proposto -, em d) No caso de pregão promovido por órgão
rodadas sucessivas. integrante do SISG, o licitante dependerá do registro
atualizado no Sistema de Cadastro Unificado de
 Quando os concorrentes esgotam seus lances,
Fornecedores – SICAF (art.17, caput e § 1º);
encerra-se a etapa competitiva. No telão, os resultados
são organizados segundo a classificação final. e) A divulgação do pregão tem que ser feita não só
pela publicação do aviso pela imprensa, como também
 O pregoeiro negocia com a empresa que
por meio eletrônico, na internet, no Portal de Compras
apresentou a melhor proposta, para obter redução de
do Governo Federal - COMPRASNET, no sítio <
preço.
www.comprasnet.gov.br> (art. 17, caput e § 1º);
 Verificam-se as condições de habilitação da
f) As propostas são apresentadas pelo sistema
empresa que apresentou a melhor proposta.
eletrônico (art.21), podendo ser substituídas ou
 Se as condições apresentadas pela melhor retiradas até a abertura da sessão (art. 21, § 4º);
proposta estiverem de acordo com as exigências, é
g) Na sessão pública, que os licitantes podem
declarada a empresa vencedora. Em caso de não-
acompanhar pela internet, será feita pela a
conformidade, o pregoeiro passa a analisar as condições
desclassificação dos que não atenderem às exigências
de habilitação da empresa seguinte, obedecendo à
do edital; o próprio sistema ordenará,
ordem de classificação.
automaticamente, as propostas classificadas, sendo que
 Ao final da sessão, qualquer licitante pode só estas participarão da fase de lances (art. 23);
manifestar a intenção de interpor recurso, tendo um
h) Os lances feitos pela internet, podendo ser
prazo de três dias para apresentar as razões desse ato.
apresentados sucessivamente pelo mesmo licitante,
Após a decisão dos recursos, a contratação é
desde que para reduzir o valor; durante essa fase, os
formalizada.
licitantes são informados do menor lance registrado,
Vale ressaltar que o pregão pode ser realizado na sem identificação de quem o apresentou (art. 24);
modalidade eletrônico. No caso do pregão eletrônico,
i) Após o encerramento da sede de lances (que
regulamentado pelo Decreto nº 5.450, de 31-5-2005, as
será comunicado aos licitantes até 30 minutos antes, a
fases do procedimento são as mesmas. Porém, há
critério da autoridade), o pregoeiro poderá apresentar
algumas exigências a mais, que podem ser assim
contraproposta ao licitante que tenha apresentado
resumidas:
lance mais vantajoso, não se admitindo negociar
a) O sistema eletrônico será dotado de recursos de condições diferentes daquelas previstas no edital
criptografia e de autenticação que garantam condições (art.24, § 8º);
de segurança em todas as etapas do certame (art. 2, §
j) A habilitação, que se faz após a fase de
3º);
julgamento, baseia-se nos dados constantes do SICAF
b) O procedimento é conduzido pelo órgão ou ou, quando houver necessidade, em outros
entidade promotora da licitação, com o apoio técnico e documentos apresentados por fax, a serem
operacional da Secretaria de Logística da Tecnologia de encaminhados posteriormente no original ou cópia
Informação do Ministério de Planejamento, Orçamento autenticada, no prazo previsto no edital (art. 25, §§ 2º e
e Gestão, que atuará como provedor do sistema 3º);
eletrônico para órgãos integrantes do Sistema de
k) Em caso de pretender recorrer da decisão que
Serviços Gerais - SISG (§ 4º, do art.2º); esse sistema
proclamar o vencedor, o licitante deverá manifestar a
eletrônico pode ser cedido aos demais entes da
sua intenção durante a sessão pública, de forma
federação mediante termo de adesão (§ 5º do art. 2º);
imediata e motivada, em campo próprio do sistema,
c) Tem que haver o prévio credenciamento, quando lhe será concedido o prazo de três dias para
perante o provedor, da autoridade competente do

52
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DIREITO ADMINISTRATIVO

apresentar as razões do recurso, sob pena de Obrigatoriedade da licitação


caducidade (art. 26);
l) É admissível, tanto na habilitação quanto no
Anulação e Revogação da licitação
julgamento, o saneamento de falhas que não alterem a
substância das propostas, dos documentos e sua A autoridade competente para a aprovação do
validade jurídica (art. 26, § 3º); procedimento somente poderá revogar a licitação por
razões de interesse público decorrente de fato
m) Após os recursos e constatada a regularidade
superveniente devidamente comprovado, pertinente e
dos atos praticados, a autoridade competente
suficiente para justificar tal conduta, devendo anulá-la
adjudicará o objeto e homologará o procedimento
por ilegalidade, de ofício ou por provocação de
licitatório (art. 27);
terceiros, mediante parecer escrito e devidamente
n) Quando convocado a assinar o contrato é que o fundamentado, observados sempre o princípio do
licitante vencedor deverá comprovar as condições de contraditório e da ampla defesa.
habilitação consignadas no edital (art. 27, § 2º).
Qualquer cidadão, além dos próprios licitantes podem
provocar a administração para anular os termos do
edital que não guardem respeito à Lei 8.666/93, pela via
Tipos de licitação
da impugnação.
O tipo de licitação não deve ser confundido com
modalidade de licitação. Modalidade é procedimento.
Tipo é o critério de julgamento utilizado pela Sanções
Administração para seleção da proposta mais vantajosa.
A recusa injustificada do adjudicatário em assinar o
Os tipos de licitação previstos pela 8666/93, para o
contrato, aceitar ou retirar o instrumento equivalente,
julgamento das propostas, exceto no caso de concurso,
dentro do prazo estabelecido pela Administração,
são os seguintes:
caracteriza o descumprimento total da obrigação
 Menor Preço assumida, sujeitando-o às penalidades legalmente
estabelecidas, exceto aos licitantes convocados que não
Critério de seleção em que a proposta mais vantajosa
aceitarem a contratação, nas mesmas condições
para a Administração é a de menor preço. É utilizado
propostas pelo primeiro adjudicatário, inclusive quanto
para compras e serviços de modo geral e para
ao prazo e preço.
contratação e bens e serviços de informática, nos casos
indicados em decreto do Poder Executivo. Além disso, os agentes administrativos que praticarem
atos em desacordo com os preceitos desta Lei ou
 Melhor Técnica
visando a frustrar os objetivos da licitação sujeitam-se
Critério de seleção em que a proposta mais vantajosa às sanções previstas nesta Lei e nos regulamentos
para a Administração é escolhida com base em fatores próprios, sem prejuízo das responsabilidades civil e
de ordem técnica. É usado exclusivamente para serviços criminal que seu ato ensejar.
de natureza predominantemente intelectual, em
Das Sanções Administrativas
especial na elaboração de projetos, cálculos,
fiscalização, supervisão e gerenciamento e de Pela inexecução total ou parcial do contrato a
engenharia consultiva em geral, e em particular, para Administração poderá, garantida a prévia defesa,
elaboração de estudos técnicos preliminares e projetos aplicar ao contratado as seguintes sanções:
básicos e executivos. I - advertência;
 Técnica e Preço II - multa, na forma prevista no instrumento
Critério de seleção em que a proposta mais vantajosa convocatório ou no contrato;
para a Administração é escolhida com base na maior III - suspensão temporária de participação em licitação e
média ponderada, considerando-se as notas obtidas nas impedimento de contratar com a Administração, por
propostas de preço e de técnica. É obrigatório na prazo não superior a 2 (dois) anos;
contratação de bens e serviços de informática, nas
modalidades tomada de preços e concorrência. IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar
com a Administração Pública enquanto perdurarem os
 Maior lance ou oferta - nos casos de alienação de motivos determinantes da punição ou até que seja
bens ou concessão de direito real de uso. promovida a reabilitação perante a própria autoridade

53
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DIREITO ADMINISTRATIVO

que aplicou a penalidade, que será concedida sempre IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


que o contratado ressarcir a Administração pelos
prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da
sanção aplicada com base no inciso anterior.
§ 1o Se a multa aplicada for superior ao valor da A base constitucional direta para a responsabilização
garantia prestada, além da perda desta, responderá o pelos atos de improbidade administrativa encontra-se
contratado pela sua diferença, que será descontada dos no 4º do art. 37 da Constituição Federal de 1988, abaixo
pagamentos eventualmente devidos pela Administração observado:
ou cobrada judicialmente. “§ 4º - Os atos de improbidade administrativa
o
§ 2 As sanções previstas nos incisos I, III e IV deste importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda
artigo poderão ser aplicadas juntamente com a do da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
inciso II, facultada a defesa prévia do interessado, no ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
respectivo processo, no prazo de 5 (cinco) dias úteis. em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.”
§ 3o A sanção estabelecida no inciso IV deste artigo é de A norma alcança a administração direta e a indireta de
competência exclusiva do Ministro de Estado, do qualquer dos Poderes, em todos os entes da Federação,
Secretário Estadual ou Municipal, conforme o caso, não só pela amplitude da redação, mas, também, pelo
facultada a defesa do interessado no respectivo fato de estar situada no Art. 37.
processo, no prazo de 10 (dez) dias da abertura de vista, Como se pode observar, o dispositivo não define
podendo a reabilitação ser requerida após 2 (dois) anos improbidade, nem aponta os possíveis sujeitos ativos e
de sua aplicação. passivos desses atos. Limita-se a enumerar,
As sanções previstas nos incisos III e IV do artigo imperativamente, um núcleo de sanções que devem ser
anterior poderão também ser aplicadas às empresas ou aplicadas conforme a lei.
aos profissionais que, em razão dos contratos regidos É nesse contexto que entra a Lei 8249 de 1992.
por esta Lei:
I - tenham sofrido condenação definitiva por
praticarem, por meios dolosos, fraude fiscal no LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992.
recolhimento de quaisquer tributos;
II - tenham praticado atos ilícitos visando a frustrar os Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos
objetivos da licitação; agentes públicos nos casos de
III - demonstrem não possuir idoneidade para contratar enriquecimento ilícito no exercício de
com a Administração em virtude de atos ilícitos mandato, cargo, emprego ou função na
praticados. administração pública direta, indireta ou
fundacional e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o


Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
lei:
CAPÍTULO I
Das Disposições Gerais
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer
agente público, servidor ou não, contra a administração
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao
patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou
custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais
de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita
anual, serão punidos na forma desta lei.

54
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DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao
desta lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito,
patrimônio de entidade que receba subvenção, caberá a autoridade administrativa responsável pelo
benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão inquérito representar ao Ministério Público, para a
público bem como daquelas para cuja criação ou custeio indisponibilidade dos bens do indiciado.
o erário haja concorrido ou concorra com menos de
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o
cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual,
caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o
limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à
integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo
repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres
patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.
públicos.
Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao
OBS: Nesse dispositivo, a lei lista os sujeitos passivos
patrimônio público ou se enriquecer ilicitamente está
nos atos de improbidade.
sujeito às cominações desta lei até o limite do valor da
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta herança.
lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
CAPÍTULO II
ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de Dos Atos de Improbidade Administrativa
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou Seção I
função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
Dos Atos de Improbidade Administrativa que
Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que Importam Enriquecimento Ilícito
couber, àquele que, mesmo não sendo agente público,
induza ou concorra para a prática do ato de Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo
direta ou indireta. de vantagem patrimonial indevida em razão do
exercício de cargo, mandato, função, emprego ou
OBS: Aqui, a lei estabelece os sujeitos ativos dos atos de atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta
improbidade. lei, e notadamente:
Note que, embora a lei tenha estabelecido que todos os I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel
agentes públicos podem responder por improbidade ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica,
através desta lei, é importante registrar que o Supremo direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,
Tribunal Federal decidiu que nela não se enquadram gratificação ou presente de quem tenha interesse,
todos os agentes políticos. Segundo o entendimento da direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado
Suprema Corte a Lei 8429/92 não se aplica aos agentes por ação ou omissão decorrente das atribuições do
políticos sujeitos ao regime de crime de agente público;
responsabilidade, insculpido na Lei n.º 10.79/50. São
estas as autoridades: O Presidente da República, os II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
Ministros de Estado, os Ministros do STF, o Procurador para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
Geral da República, os Governadores e Secretários de móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas
Estado. entidades referidas no art. 1° por preço superior ao
valor de mercado;
Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou
hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
dos princípios de legalidade, impessoalidade, para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem
moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe público ou o fornecimento de serviço por ente estatal
são afetos. por preço inferior ao valor de mercado;

Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos,
ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de máquinas, equipamentos ou material de qualquer
terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano. natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer
das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem
Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o como o trabalho de servidores públicos, empregados ou
agente público ou terceiro beneficiário os bens ou terceiros contratados por essas entidades;
valores acrescidos ao seu patrimônio.
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática

55
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DIREITO ADMINISTRATIVO

de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou
contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores
ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem; integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre
espécie;
medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer
outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente
qualidade ou característica de mercadorias ou bens despersonalizado, ainda que de fins educativos ou
fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no assistências, bens, rendas, verbas ou valores do
art. 1º desta lei; patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no
art. 1º desta lei, sem observância das formalidades
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de
legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de
qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação
evolução do patrimônio ou à renda do agente público; de bem integrante do patrimônio de qualquer das
entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de
prestação de serviço por parte delas, por preço inferior
consultoria ou assessoramento para pessoa física ou
ao de mercado;
jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido
ou amparado por ação ou omissão decorrente das V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação
atribuições do agente público, durante a atividade; de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a VI - realizar operação financeira sem observância das
liberação ou aplicação de verba pública de qualquer normas legais e regulamentares ou aceitar garantia
natureza; insuficiente ou inidônea;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a
direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, observância das formalidades legais ou regulamentares
providência ou declaração a que esteja obrigado; aplicáveis à espécie;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de
bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo processo seletivo para celebração de parcerias com
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los
lei; indevidamente; (Redação dada pela Lei nº 13.019, de
2014) (Vigência)
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou
valores integrantes do acervo patrimonial das entidades IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não
mencionadas no art. 1° desta lei. autorizadas em lei ou regulamento;
OBS: Os referidos atos só configuram improbidade se X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou
praticados de forma dolosa. renda, bem como no que diz respeito à conservação do
patrimônio público;
Seção II
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam
normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a
Prejuízo ao Erário
sua aplicação irregular;
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se
que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão,
enriqueça ilicitamente;
dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço
dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º particular, veículos, máquinas, equipamentos ou
desta lei, e notadamente: material de qualquer natureza, de propriedade ou à
disposição de qualquer das entidades mencionadas no
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a
art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física
público, empregados ou terceiros contratados por essas
ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores
entidades.
integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei;

56
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DIREITO ADMINISTRATIVO

XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha Dos Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes
por objeto a prestação de serviços públicos por meio da de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício
gestão associada sem observar as formalidades Financeiro ou Tributário
previstas na lei;(Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público qualquer ação ou omissão para conceder, aplicar ou
sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem manter benefício financeiro ou tributário contrário ao
observar as formalidades previstas na lei.(Incluído pela que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei
Lei nº 11.107, de 2005) Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído
pela Lei Complementar nº 157, de 2016) (Produção de
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a
efeito)
incorporação, ao patrimônio particular de pessoa física
ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos OBS: Veja que o referido dispositivo trouxe uma nova
transferidos pela administração pública a entidades espécie de ato de improbidade administrativa, mas que
privadas mediante celebração de parcerias, sem a trata especificamente do descumprimento da Lei do
observância das formalidades legais ou regulamentares ISSQN (LC 116/03), em específico no que diz respeito ao
aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de caput e § 1º do artigo 8º-A.. Vejamos o que diz esse
2014) (Vigência) artigo, também incluído pela mesma LC 157/16:
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou
jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores
“Art. 8º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Serviços
públicos transferidos pela administração pública a
de Qualquer Natureza é de 2% (dois por cento). (Incluído
entidade privada mediante celebração de parcerias,
pela Lei Complementar 157, de 2016)
sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei § 1º O imposto não será objeto de concessão de
nº 13.019, de 2014) (Vigência) isenções, incentivos ou benefícios tributários ou
financeiros, inclusive de redução de base de cálculo ou
XVIII - celebrar parcerias da administração pública com
de crédito presumido ou outorgado, ou sob qualquer
entidades privadas sem a observância das formalidades
outra forma que resulte, direta ou indiretamente, em
legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído
carga tributária menor que a decorrente da aplicação
pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
da alíquota mínima estabelecida no caput, exceto para
XIX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e os serviços a que se referem os subitens 7.02, 7.05 e
análise das prestações de contas de parcerias firmadas 16.01 da lista anexa a esta Lei Complementar.”(Incluído
pela administração pública com entidades privadas; pela Lei Complementar nº 157, de 2016).
(Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela
Convém ainda destacar que, conforme prevê o artigo
administração pública com entidades privadas sem a
10-A da Lei de improbidade administrativa, recém-
estrita observância das normas pertinentes ou influir de
criado, constitui ato de improbidade a ação ou omissão
qualquer forma para a sua aplicação irregular. (Incluído
do agente público, ou seja, não incide apenas para os
pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
casos de concessão de benefícios ou incentivos, mas
XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela também para os casos em que, havendo no município
administração pública com entidades privadas sem a tais procedimentos o agente não tome providências
estrita observância das normas pertinentes ou influir de para cessá-lo, o que, nesse caso específico, ficou
qualquer forma para a sua aplicação irregular. (Incluído estipulado pela LC 157/16, no seu artigo 6º, um prazo
pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência) de adaptação de 1 (um) ano, contado da publicação
desta, em que “os entes federados deverão [...] revogar
OBS: Os atos descritos nesse artigo são considerados
os dispositivos que contrariem o disposto no caput e no
atos de improbidade, desde que provada a culpa ou
§ 1º do artigo 8º-A da LC 116/03”.
dolo do agente autor.
Por fim, é importante destacar que embora a Lei
Seção II-A
Complementar 157/16 tenha entrado em vigor na data
(Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016) de sua publicação, conforme previsão do artigo 7º, ou
(Produção de efeito) seja, em 30/12/2016, conforme ficou definido pelo § 1º
do referido artigo, a previsão constante do caput e dos
§§ 1º e 2º do artigo 8º-A da LC 116/03, bem como do

57
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DIREITO ADMINISTRATIVO

artigo 10-A, do inciso IV do artigo 12 e do § 13 do artigo CAPÍTULO III


17, todos da Lei 8.429/92 (Lei de improbidade
Das Penas
administrativa), só passarão a produzir efeitos após o
decurso do prazo de adaptação, previsto no artigo 6º, Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e
que é de um ano, ou seja, somente após 30/12/2017. administrativas previstas na legislação específica, está o
responsável pelo ato de improbidade sujeito às
Seção III
seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do
Contra os Princípios da Administração Pública fato:(Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa
integral do dano, quando houver, perda da função
que atenta contra os princípios da administração
pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez
pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres
anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor
de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade
do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com
às instituições, e notadamente:
o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
competência; majoritário, pelo prazo de dez anos;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do
de ofício; dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda
razão das atribuições e que deva permanecer em da função pública, suspensão dos direitos políticos de
segredo; cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas
vezes o valor do dano e proibição de contratar com o
IV - negar publicidade aos atos oficiais; Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
V - frustrar a licitude de concurso público; fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a majoritário, pelo prazo de cinco anos;
fazê-lo;
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento
de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor
de medida política ou econômica capaz de afetar o
preço de mercadoria, bem ou serviço.
VIII - descumprir as normas relativas à celebração,
fiscalização e aprovação de contas de parcerias firmadas
pela administração pública com entidades privadas.
(Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de
acessibilidade previstos na legislação.(Incluído pela Lei
nº 13.146, de 2015) (Vigência)
OBS: Os referidos atos só configuram improbidade se
praticados de forma dolosa.
OBS 2: Os artigos 9º, 10 e 11 formam um rol
exemplificativo de atos de improbidade administrativa

58
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CAPÍTULO IV processada na forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei


nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e, em se tratando
Da Declaração de Bens
de servidor militar, de acordo com os respectivos
Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam regulamentos disciplinares.
condicionados à apresentação de declaração dos bens e
Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao
valores que compõem o seu patrimônio privado, a fim
Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas
de ser arquivada no serviço de pessoal competente.
da existência de procedimento administrativo para
(Regulamento) (Regulamento)
apurar a prática de ato de improbidade.
§ 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis,
Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou
semoventes, dinheiro, títulos, ações, e qualquer outra
Conselho de Contas poderá, a requerimento, designar
espécie de bens e valores patrimoniais, localizado no
representante para acompanhar o procedimento
País ou no exterior, e, quando for o caso, abrangerá os
administrativo.
bens e valores patrimoniais do cônjuge ou
companheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade,
sob a dependência econômica do declarante, excluídos a comissão representará ao Ministério Público ou à
apenas os objetos e utensílios de uso doméstico. procuradoria do órgão para que requeira ao juízo
competente a decretação do seqüestro dos bens do
§ 2º A declaração de bens será anualmente atualizada e
agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente
na data em que o agente público deixar o exercício do
ou causado dano ao patrimônio público.
mandato, cargo, emprego ou função.
§ 1º O pedido de seqüestro será processado de acordo
§ 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do
com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de
serviço público, sem prejuízo de outras sanções
Processo Civil.
cabíveis, o agente público que se recusar a prestar
declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou § 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação,
que a prestar falsa. o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e
aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no
§ 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia
exterior, nos termos da lei e dos tratados
da declaração anual de bens apresentada à Delegacia da
internacionais.
Receita Federal na conformidade da legislação do
Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será
natureza, com as necessárias atualizações, para suprir a proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica
exigência contida no caput e no § 2° deste artigo . interessada, dentro de trinta dias da efetivação da
medida cautelar.
CAPÍTULO V
§ 1º (Revogado pela Medida provisória nº 703, de 2015)
Do Procedimento Administrativo e do Processo Judicial
§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá
Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à
as ações necessárias à complementação do
autoridade administrativa competente para que seja
ressarcimento do patrimônio público.
instaurada investigação destinada a apurar a prática de
ato de improbidade. § 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo
Ministério Público, aplica-se, no que couber, o disposto
§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a
no § 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de junho de
termo e assinada, conterá a qualificação do
1965. (Redação dada pela Lei nº 9.366, de 1996)
representante, as informações sobre o fato e sua
autoria e a indicação das provas de que tenha § 4º O Ministério Público, se não intervir no processo
conhecimento. como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da
lei, sob pena de nulidade.
§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a
representação, em despacho fundamentado, se esta § 5o A propositura da ação prevenirá a jurisdição do
não contiver as formalidades estabelecidas no § 1º juízo para todas as ações posteriormente intentadas
deste artigo. A rejeição não impede a representação ao que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo
Ministério Público, nos termos do art. 22 desta lei. objeto. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de
2001)
§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a
autoridade determinará a imediata apuração dos fatos § 6o A ação será instruída com documentos ou
que, em se tratando de servidores federais, será justificação que contenham indícios suficientes da

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DIREITO ADMINISTRATIVO

existência do ato de improbidade ou com razões Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos
fundamentadas da impossibilidade de apresentação de direitos políticos só se efetivam com o trânsito em
qualquer dessas provas, observada a legislação vigente, julgado da sentença condenatória.
inclusive as disposições inscritas nos arts. 16 a 18 do
Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa
Código de Processo Civil.(Incluído pela Medida
competente poderá determinar o afastamento do
Provisória nº 2.225-45, de 2001)
agente público do exercício do cargo, emprego ou
§ 7o Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará função, sem prejuízo da remuneração, quando a
autuá-la e ordenará a notificação do requerido, para medida se fizer necessária à instrução processual.
oferecer manifestação por escrito, que poderá ser
Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei
instruída com documentos e justificações, dentro do
independe:
prazo de quinze dias.(Incluído pela Medida Provisória nº
2.225-45, de 2001) I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público,
salvo quanto à pena de ressarcimento; (Redação dada
§ 8o Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta
pela Lei nº 12.120, de 2009).
dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação, se
convencido da inexistência do ato de improbidade, da II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de
improcedência da ação ou da inadequação da via eleita. controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001) Contas.
§ 9o Recebida a petição inicial, será o réu citado para Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o
apresentar contestação. (Incluído pela Medida Ministério Público, de ofício, a requerimento de
Provisória nº 2.225-45, de 2001) autoridade administrativa ou mediante representação
formulada de acordo com o disposto no art. 14, poderá
§ 10. Da decisão que receber a petição inicial, caberá
requisitar a instauração de inquérito policial ou
agravo de instrumento. (Incluído pela Medida Provisória
procedimento administrativo.
nº 2.225-45, de 2001)
CAPÍTULO VII
§ 11. Em qualquer fase do processo, reconhecida a
inadequação da ação de improbidade, o juiz extinguirá o Da Prescrição
processo sem julgamento do mérito. (Incluído pela Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções
Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001) previstas nesta lei podem ser propostas:
§ 12. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições I - até cinco anos após o término do exercício de
realizadas nos processos regidos por esta Lei o disposto mandato, de cargo em comissão ou de função de
no art. 221, caput e § 1o, do Código de Processo Penal. confiança;
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei
Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de específica para faltas disciplinares puníveis com
reparação de dano ou decretar a perda dos bens demissão a bem do serviço público, nos casos de
havidos ilicitamente determinará o pagamento ou a exercício de cargo efetivo ou emprego.
reversão dos bens, conforme o caso, em favor da
pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito. III - até cinco anos da data da apresentação à
administração pública da prestação de contas final
CAPÍTULO VI pelas entidades referidas no parágrafo único do art. 1o
Das Disposições Penais desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)
(Vigência)
Art. 19. Constitui crime a representação por ato de
improbidade contra agente público ou terceiro CAPÍTULO VIII
beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe Das Disposições Finais
inocente.
Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua
Pena: detenção de seis a dez meses e multa. publicação.
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de
está sujeito a indenizar o denunciado pelos danos junho de 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e
materiais, morais ou à imagem que houver provocado. demais disposições em contrário.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999. V - divulgação oficial dos atos administrativos,


ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na
Constituição;
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição
Regula o processo administrativo no de obrigações, restrições e sanções em medida superior
âmbito da Administração Pública Federal. àquelas estritamente necessárias ao atendimento do
interesse público;

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte determinarem a decisão;
Lei: VIII – observância das formalidades essenciais à
CAPÍTULO I garantia dos direitos dos administrados;

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar


adequado grau de certeza, segurança e respeito aos
Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas sobre o direitos dos administrados;
processo administrativo no âmbito da Administração
Federal direta e indireta, visando, em especial, à X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação
proteção dos direitos dos administrados e ao melhor de alegações finais, à produção de provas e à
cumprimento dos fins da Administração. interposição de recursos, nos processos de que possam
resultar sanções e nas situações de litígio;
§ 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos
órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, XI - proibição de cobrança de despesas processuais,
quando no desempenho de função administrativa. ressalvadas as previstas em lei;

§ 2o Para os fins desta Lei, consideram-se: XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo,
sem prejuízo da atuação dos interessados;
I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura
da Administração direta e da estrutura da XIII - interpretação da norma administrativa da forma
Administração indireta; que melhor garanta o atendimento do fim público a que
se dirige, vedada aplicação retroativa de nova
II - entidade - a unidade de atuação dotada de interpretação.
personalidade jurídica;
CAPÍTULO II
III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de
poder de decisão. DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre Art. 3o O administrado tem os seguintes direitos
outros, aos princípios da legalidade, finalidade, perante a Administração, sem prejuízo de outros que
motivação, razoabilidade, proporcionalidade, lhe sejam assegurados:
moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança I - ser tratado com respeito pelas autoridades e
jurídica, interesse público e eficiência. servidores, que deverão facilitar o exercício de seus
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão direitos e o cumprimento de suas obrigações;
observados, entre outros, os critérios de: II - ter ciência da tramitação dos processos
I - atuação conforme a lei e o Direito; administrativos em que tenha a condição de
interessado, ter vista dos autos, obter cópias de
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a documentos neles contidos e conhecer as decisões
renúncia total ou parcial de poderes ou competências, proferidas;
salvo autorização em lei;
III - formular alegações e apresentar documentos antes
III - objetividade no atendimento do interesse público, da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo
vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades; órgão competente;
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado,
decoro e boa-fé; salvo quando obrigatória a representação, por força de
lei.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO III CAPÍTULO V


DOS DEVERES DO ADMINISTRADO DOS INTERESSADOS
Art. 4o São deveres do administrado perante a Art. 9o São legitimados como interessados no processo
Administração, sem prejuízo de outros previstos em ato administrativo:
normativo:
I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como
I - expor os fatos conforme a verdade; titulares de direitos ou interesses individuais ou no
exercício do direito de representação;
II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;
II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm
III - não agir de modo temerário;
direitos ou interesses que possam ser afetados pela
IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e decisão a ser adotada;
colaborar para o esclarecimento dos fatos.
III - as organizações e associações representativas, no
CAPÍTULO IV tocante a direitos e interesses coletivos;
DO INÍCIO DO PROCESSO IV - as pessoas ou as associações legalmente
o
Art. 5 O processo administrativo pode iniciar-se de constituídas quanto a direitos ou interesses difusos.
ofício ou a pedido de interessado. Art. 10. São capazes, para fins de processo
o
Art. 6 O requerimento inicial do interessado, salvo administrativo, os maiores de dezoito anos, ressalvada
casos em que for admitida solicitação oral, deve ser previsão especial em ato normativo próprio.
formulado por escrito e conter os seguintes dados: CAPÍTULO VI
I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige; DA COMPETÊNCIA
II - identificação do interessado ou de quem o Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos
represente; órgãos administrativos a que foi atribuída como
III - domicílio do requerente ou local para recebimento própria, salvo os casos de delegação e avocação
de comunicações; legalmente admitidos.

IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão,
de seus fundamentos; se não houver impedimento legal, delegar parte da sua
competência a outros órgãos ou titulares, ainda que
V - data e assinatura do requerente ou de seu estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados,
representante. quando for conveniente, em razão de circunstâncias de
Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
imotivada de recebimento de documentos, devendo o Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo
servidor orientar o interessado quanto ao suprimento aplica-se à delegação de competência dos órgãos
de eventuais falhas. colegiados aos respectivos presidentes.
Art. 7o Os órgãos e entidades administrativas deverão Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
elaborar modelos ou formulários padronizados para
assuntos que importem pretensões equivalentes. I - a edição de atos de caráter normativo;

Art. 8o Quando os pedidos de uma pluralidade de II - a decisão de recursos administrativos;


interessados tiverem conteúdo e fundamentos III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou
idênticos, poderão ser formulados em um único autoridade.
requerimento, salvo preceito legal em contrário.
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser
publicados no meio oficial.
§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e
poderes transferidos, os limites da atuação do
delegado, a duração e os objetivos da delegação e o
recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício
da atribuição delegada.

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§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo CAPÍTULO VIII


pela autoridade delegante.
DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PROCESSO
o
§ 3 As decisões adotadas por delegação devem
Art. 22. Os atos do processo administrativo não
mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-
dependem de forma determinada senão quando a lei
se-ão editadas pelo delegado.
expressamente a exigir.
Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por
§ 1o Os atos do processo devem ser produzidos por
motivos relevantes devidamente justificados, a
escrito, em vernáculo, com a data e o local de sua
avocação temporária de competência atribuída a órgão
realização e a assinatura da autoridade responsável.
hierarquicamente inferior.
§ 2o Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma
Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas
somente será exigido quando houver dúvida de
divulgarão publicamente os locais das respectivas sedes
autenticidade.
e, quando conveniente, a unidade fundacional
competente em matéria de interesse especial. § 3o A autenticação de documentos exigidos em cópia
poderá ser feita pelo órgão administrativo.
Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o
processo administrativo deverá ser iniciado perante a § 4o O processo deverá ter suas páginas numeradas
autoridade de menor grau hierárquico para decidir. sequencialmente e rubricadas.
CAPÍTULO VII Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias
úteis, no horário normal de funcionamento da
DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO
repartição na qual tramitar o processo.
Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo
Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário
o servidor ou autoridade que:
normal os atos já iniciados, cujo adiamento prejudique
I - tenha interesse direto ou indireto na matéria; o curso regular do procedimento ou cause dano ao
interessado ou à Administração.
II - tenha participado ou venha a participar como perito,
testemunha ou representante, ou se tais situações Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do
ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e órgão ou autoridade responsável pelo processo e dos
afins até o terceiro grau; administrados que dele participem devem ser
praticados no prazo de cinco dias, salvo motivo de força
III - esteja litigando judicial ou administrativamente com
maior.
o interessado ou respectivo cônjuge ou companheiro.
Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser
Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em
dilatado até o dobro, mediante comprovada
impedimento deve comunicar o fato à autoridade
justificação.
competente, abstendo-se de atuar.
Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se
Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o
preferencialmente na sede do órgão, cientificando-se o
impedimento constitui falta grave, para efeitos
interessado se outro for o local de realização.
disciplinares.
CAPÍTULO IX
Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou
servidor que tenha amizade íntima ou inimizade notória DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS
com algum dos interessados ou com os respectivos
Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o
cônjuges, companheiros, parentes e afins até o terceiro
processo administrativo determinará a intimação do
grau.
interessado para ciência de decisão ou a efetivação de
Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição diligências.
poderá ser objeto de recurso, sem efeito suspensivo.
§ 1o A intimação deverá conter:
I - identificação do intimado e nome do órgão ou
entidade administrativa;
II - finalidade da intimação;
III - data, hora e local em que deve comparecer;

63
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DIREITO ADMINISTRATIVO

IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou Art. 31. Quando a matéria do processo envolver
fazer-se representar; assunto de interesse geral, o órgão competente poderá,
mediante despacho motivado, abrir período de consulta
V - informação da continuidade do processo
pública para manifestação de terceiros, antes da
independentemente do seu comparecimento;
decisão do pedido, se não houver prejuízo para a parte
VI - indicação dos fatos e fundamentos legais interessada.
pertinentes.
§ 1o A abertura da consulta pública será objeto de
o
§ 2 A intimação observará a antecedência mínima de divulgação pelos meios oficiais, a fim de que pessoas
três dias úteis quanto à data de comparecimento. físicas ou jurídicas possam examinar os autos, fixando-
§ 3o A intimação pode ser efetuada por ciência no se prazo para oferecimento de alegações escritas.
processo, por via postal com aviso de recebimento, por § 2o O comparecimento à consulta pública não confere,
telegrama ou outro meio que assegure a certeza da por si, a condição de interessado do processo, mas
ciência do interessado. confere o direito de obter da Administração resposta
§ 4o No caso de interessados indeterminados, fundamentada, que poderá ser comum a todas as
desconhecidos ou com domicílio indefinido, a intimação alegações substancialmente iguais.
deve ser efetuada por meio de publicação oficial. Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da
§ 5o As intimações serão nulas quando feitas sem autoridade, diante da relevância da questão, poderá ser
observância das prescrições legais, mas o realizada audiência pública para debates sobre a
comparecimento do administrado supre sua falta ou matéria do processo.
irregularidade. Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em
Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o matéria relevante, poderão estabelecer outros meios
reconhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a de participação de administrados, diretamente ou por
direito pelo administrado. meio de organizações e associações legalmente
reconhecidas.
Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será
garantido direito de ampla defesa ao interessado. Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública e
de outros meios de participação de administrados
Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do deverão ser apresentados com a indicação do
processo que resultem para o interessado em imposição procedimento adotado.
de deveres, ônus, sanções ou restrição ao exercício de
direitos e atividades e os atos de outra natureza, de seu Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a
interesse. audiência de outros órgãos ou entidades
administrativas poderá ser realizada em reunião
CAPÍTULO X conjunta, com a participação de titulares ou
DA INSTRUÇÃO representantes dos órgãos competentes, lavrando-se a
respectiva ata, a ser juntada aos autos.
Art. 29. As atividades de instrução destinadas a
averiguar e comprovar os dados necessários à tomada Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que
de decisão realizam-se de ofício ou mediante impulsão tenha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao
do órgão responsável pelo processo, sem prejuízo do órgão competente para a instrução e do disposto no
direito dos interessados de propor atuações art. 37 desta Lei.
probatórias. Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e
o
§ 1 O órgão competente para a instrução fará constar dados estão registrados em documentos existentes na
dos autos os dados necessários à decisão do processo. própria Administração responsável pelo processo ou em
outro órgão administrativo, o órgão competente para a
§ 2o Os atos de instrução que exijam a atuação dos instrução proverá, de ofício, à obtenção dos
interessados devem realizar-se do modo menos documentos ou das respectivas cópias.
oneroso para estes.
Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e
Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as antes da tomada da decisão, juntar documentos e
provas obtidas por meios ilícitos. pareceres, requerer diligências e perícias, bem como
aduzir alegações referentes à matéria objeto do
processo.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1o Os elementos probatórios deverão ser considerados Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração
na motivação do relatório e da decisão. Pública poderá motivadamente adotar providências
acauteladoras sem a prévia manifestação do
§ 2o Somente poderão ser recusadas, mediante decisão
interessado.
fundamentada, as provas propostas pelos interessados
quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo
protelatórias. e a obter certidões ou cópias reprográficas dos dados e
documentos que o integram, ressalvados os dados e
Art. 39. Quando for necessária a prestação de
documentos de terceiros protegidos por sigilo ou pelo
informações ou a apresentação de provas pelos
direito à privacidade, à honra e à imagem.
interessados ou terceiros, serão expedidas intimações
para esse fim, mencionando-se data, prazo, forma e Art. 47. O órgão de instrução que não for competente
condições de atendimento. para emitir a decisão final elaborará relatório indicando
o pedido inicial, o conteúdo das fases do procedimento
Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação,
e formulará proposta de decisão, objetivamente
poderá o órgão competente, se entender relevante a
justificada, encaminhando o processo à autoridade
matéria, suprir de ofício a omissão, não se eximindo de
competente.
proferir a decisão.
CAPÍTULO XI
Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos
solicitados ao interessado forem necessários à DO DEVER DE DECIDIR
apreciação de pedido formulado, o não atendimento no
Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente
prazo fixado pela Administração para a respectiva
emitir decisão nos processos administrativos e sobre
apresentação implicará arquivamento do processo.
solicitações ou reclamações, em matéria de sua
Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou competência.
diligência ordenada, com antecedência mínima de três
Art. 49. Concluída a instrução de processo
dias úteis, mencionando-se data, hora e local de
administrativo, a Administração tem o prazo de até
realização.
trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual
Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um período expressamente motivada.
órgão consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo
CAPÍTULO XII
máximo de quinze dias, salvo norma especial ou
comprovada necessidade de maior prazo. DA MOTIVAÇÃO
§ 1o Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados,
ser emitido no prazo fixado, o processo não terá com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos,
seguimento até a respectiva apresentação, quando:
responsabilizando-se quem der causa ao atraso. I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
o
§ 2 Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar II - imponham ou agravem deveres, encargos ou
de ser emitido no prazo fixado, o processo poderá ter sanções;
prosseguimento e ser decidido com sua dispensa, sem
prejuízo da responsabilidade de quem se omitiu no III - decidam processos administrativos de concurso ou
atendimento. seleção pública;

Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de
ser previamente obtidos laudos técnicos de órgãos processo licitatório;
administrativos e estes não cumprirem o encargo no V - decidam recursos administrativos;
prazo assinalado, o órgão responsável pela instrução
deverá solicitar laudo técnico de outro órgão dotado de VI - decorram de reexame de ofício;
qualificação e capacidade técnica equivalentes. VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a
Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas
direito de manifestar-se no prazo máximo de dez dias, e relatórios oficiais;
salvo se outro prazo for legalmente fixado. VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou
convalidação de ato administrativo.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis
podendo consistir em declaração de concordância com poderão ser convalidados pela própria Administração.
fundamentos de anteriores pareceres, informações,
CAPÍTULO XV
decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte
integrante do ato. DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO
§ 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em
pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os face de razões de legalidade e de mérito.
fundamentos das decisões, desde que não prejudique § 1o O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a
direito ou garantia dos interessados. decisão, a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco
§ 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e dias, o encaminhará à autoridade superior.
comissões ou de decisões orais constará da respectiva § 2o Salvo exigência legal, a interposição de recurso
ata ou de termo escrito. administrativo independe de caução.
CAPÍTULO XIII § 3o Se o recorrente alegar que a decisão administrativa
DA DESISTÊNCIA E OUTROS CASOS DE EXTINÇÃO DO contraria enunciado da súmula vinculante, caberá à
PROCESSO autoridade prolatora da decisão impugnada, se não a
reconsiderar, explicitar, antes de encaminhar o recurso
Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação
à autoridade superior, as razões da aplicabilidade ou
escrita, desistir total ou parcialmente do pedido
inaplicabilidade da súmula, conforme o caso. (Incluído
formulado ou, ainda, renunciar a direitos disponíveis.
pela Lei nº 11.417, de 2006). Vigência
§ 1o Havendo vários interessados, a desistência ou
Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo
renúncia atinge somente quem a tenha formulado.
por três instâncias administrativas, salvo disposição
§ 2o A desistência ou renúncia do interessado, conforme legal diversa.
o caso, não prejudica o prosseguimento do processo, se
Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso
a Administração considerar que o interesse público
administrativo:
assim o exige.
I - os titulares de direitos e interesses que forem parte
Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o
no processo;
processo quando exaurida sua finalidade ou o objeto da
decisão se tornar impossível, inútil ou prejudicado por II - aqueles cujos direitos ou interesses forem
fato superveniente. indiretamente afetados pela decisão recorrida;
CAPÍTULO XIV III - as organizações e associações representativas, no
tocante a direitos e interesses coletivos;
DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO
IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos,
interesses difusos.
quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-
los por motivo de conveniência ou oportunidade, Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias o
respeitados os direitos adquiridos. prazo para interposição de recurso administrativo,
contado a partir da ciência ou divulgação oficial da
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos
decisão recorrida.
administrativos de que decorram efeitos favoráveis para
os destinatários decai em cinco anos, contados da data § 1o Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso
em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. administrativo deverá ser decidido no prazo máximo de
trinta dias, a partir do recebimento dos autos pelo
§ 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo
órgão competente.
de decadência contar-se-á da percepção do primeiro
pagamento. § 2o O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá
ser prorrogado por igual período, ante justificativa
§ 2o Considera-se exercício do direito de anular
explícita.
qualquer medida de autoridade administrativa que
importe impugnação à validade do ato. Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de
requerimento no qual o recorrente deverá expor os
Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não
fundamentos do pedido de reexame, podendo juntar os
acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a
documentos que julgar convenientes.

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SUSIPE
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso pedido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou
não tem efeito suspensivo. circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a
inadequação da sanção aplicada.
Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de
difícil ou incerta reparação decorrente da execução, a Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá
autoridade recorrida ou a imediatamente superior resultar agravamento da sanção.
poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao
CAPÍTULO XVI
recurso.
DOS PRAZOS
Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para
dele conhecer deverá intimar os demais interessados Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da
para que, no prazo de cinco dias úteis, apresentem cientificação oficial, excluindo-se da contagem o dia do
alegações. começo e incluindo-se o do vencimento.
Art. 63. O recurso não será conhecido quando § 1o Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia
interposto: útil seguinte se o vencimento cair em dia em que não
houver expediente ou este for encerrado antes da hora
I - fora do prazo;
normal.
II - perante órgão incompetente;
§ 2o Os prazos expressos em dias contam-se de modo
III - por quem não seja legitimado; contínuo.
IV - após exaurida a esfera administrativa. § 3o Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de
data a data. Se no mês do vencimento não houver o dia
§ 1o Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente
equivalente àquele do início do prazo, tem-se como
a autoridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo
termo o último dia do mês.
para recurso.
Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente
§ 2o O não conhecimento do recurso não impede a
comprovado, os prazos processuais não se suspendem.
Administração de rever de ofício o ato ilegal, desde que
não ocorrida preclusão administrativa. CAPÍTULO XVII
Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso DAS SANÇÕES
poderá confirmar, modificar, anular ou revogar, total ou
Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade
parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de
competente, terão natureza pecuniária ou consistirão
sua competência.
em obrigação de fazer ou de não fazer, assegurado
Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste sempre o direito de defesa.
artigo puder decorrer gravame à situação do
CAPÍTULO XVIII
recorrente, este deverá ser cientificado para que
formule suas alegações antes da decisão. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 64-A. Se o recorrente alegar violação de enunciado Art. 69. Os processos administrativos específicos
da súmula vinculante, o órgão competente para decidir continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes
o recurso explicitará as razões da aplicabilidade ou apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.
inaplicabilidade da súmula, conforme o caso. (Incluído Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer
pela Lei nº 11.417, de 2006). Vigência órgão ou instância, os procedimentos administrativos
Art. 64-B. Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a em que figure como parte ou interessado: (Incluído pela
reclamação fundada em violação de enunciado da Lei nº 12.008, de 2009).
súmula vinculante, dar-se-á ciência à autoridade I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
prolatora e ao órgão competente para o julgamento do anos; (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
recurso, que deverão adequar as futuras decisões
administrativas em casos semelhantes, sob pena de II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental;
responsabilização pessoal nas esferas cível, (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
administrativa e penal. (Incluído pela Lei nº 11.417, de III – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
2006). Vigência
IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose
Art. 65. Os processos administrativos de que resultem múltipla, neoplasia maligna, hanseníase, paralisia
sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença

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SUSIPE
DIREITO ADMINISTRATIVO

de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia


grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença
de Paget (osteíte deformante), contaminação por
radiação, síndrome de imunodeficiência adquirida, ou
outra doença grave, com base em conclusão da
medicina especializada, mesmo que a doença tenha
sido contraída após o início do processo. (Incluído pela
Lei nº 12.008, de 2009).
§ 1o A pessoa interessada na obtenção do benefício,
juntando prova de sua condição, deverá requerê-lo à
autoridade administrativa competente, que
determinará as providências a serem cumpridas.
(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
§ 2o Deferida a prioridade, os autos receberão
identificação própria que evidencie o regime de
tramitação prioritária. (Incluído pela Lei nº 12.008, de
2009).
§ 3o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
§ 4o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua
publicação.

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