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COLECAO PSICOLOGIA E PSICANALISE André Green Coordenagio de Sérvulo Augusto Figueira ¢ Sonia Alberti TEORIA E TECNICA DE PSICOTERAPIAS Héctor J. Fiorini DROGADICCAO. Eduardo Kalina © Santiago Kovadlott PSICOTERAPIA DE ADOLESCENTES: TEORIA, TECNICA E ‘CASOS CLINICOS O DISC Eduardo Kalina TERAPIA DO GRUPO FAMILIAR ms Virginia Satie s _ | iti Be at com rather psn ghkse Uma Teoria Psicanalitica M. Masud R. Khan , SIMBIOSE E AMBIGUIDADE do Afeto José Bleger ! DESENVOLVIMENTOS EM PSICOTERAPIAS Héctor J, Fiorini © Graciela M. Peyrd ‘TEXTOS SELECIONADOS: DA PEDIATRIA A PSICANALISE D. W. Winnicot: A CRIANCA E A MORTE Ginette Raimbault Tradugao de PSICANALISE E CIENCIAS SOCIAIS RUTH JOFFILY Dias Organizacao de Sérvulo A. Figueira Revisdo Técnica © CONTEXTO SOCIAL DA PSICANALISE SONIA ALBERTI Sérvulo A. Figueira Copyright © 1973 ri Titolo original: Le deceene ey slventiares de France Revisio: Graviette © Maria José nae Mari José da Siva Paulo ¢ PRIMEIRA PARTE © AFETO ATRAVES DOS TEXTOS PSICANALITICOS Capitulo 1 — O afeto na obra de Freud, 25 Hiyolucio de conceprio do afeto, 26 1. Da descoberta da psicanilise até A Interpretagdo dos Sonhos, 26 MT. A ctapa da Metepsicologia, 48 “Ill. Sobre © Ego e 0 Id no fim da obra freudians, 57 Hyolugéo da concepcio da angistia (1895-1932), 73 7 1. Primeiro periodo: em torho da neurose da angistia (1895-1895), 74 Il. Segundo periodo: ansiedade ¢ libido recaldada (1909-1917), 76 M11. Terceiro perfodo: a ansiedede e o aparetho psiquico (1926-1932), 79 Gonclusio, 85 ‘9 “Capitulo 11 — Visio de conjunto da literatura psicanslitica sobre 0 afeto apds Freud. 95 = ea CiPsBPAsil. Catalopacionna-t Sindicato Nacional dos Beltores de’ Lintos, R3. Green, > ay . as J) Bibtiograia anctitica dos principais trabalhos anglo-saxdes sobre ste Pndee date Gf Rath Solty Bua sfeto, 94 Frrite lene a Gonia alberto ae Hoe! [As posigdes tesricas sobre 0 afeto nos trabalhos franceses, 116 (Colegio Prieologia € psicandise) ‘Tradugio de: Le discours vivant | JUNDA PARTE ICA PSICANALITICA: ESTRUTURAS FE PROCESSOS | julo 11] — © afcto nas cstruturas clinicas, 131 | 0 afeto nas estruturas neurtticas, 132 | | Ged 0 bigtures vivo: w eonondunglo reteanaittion | | i talo: A’ Conceitangan pricknctisetay, 1 itele TE mi. cop — 12. Stat | 0 afeto nas estruturas psicéticas, 141 fl. Entre neurose © psicose, 153 uso, 164 wks TV — 0 afeto, © processo psicanalitico ¢ 0 complexo de Eatipo, 167 |. 0 afeto © o material do tesbatho analitico, 167 1). Vipologias esqueméticas de discurso, 171 Hl. 0 Raipo e a ordenagio do discurso, 180 Todos os direitos desta tradugdo reservados : LIVRARIA FRANCISCO ALVES EDINORY s. Rus Sete de Setembro, 177 — Ceniro “ 20050 — Rio de Janeiro — Ry ‘TERCEIRA PARTE ESTUDOS TEORICO: O afeto, a inago negativa 7 Capitulo V — O afeto ¢ as duas (épicas, 191 AIA sltwagao Paradoxal do afeto na teori freudiana, 193 oan Primei wpica: © aleto © o inconsciente, 199 AIL. Segunda tépica: © afeioe o id, 218 VI. Segunda t5pica: o afcio ¢ ‘© superego, 230 *V. Segunda tépiea: © afeto © 0 RO, 234 Capitulo VI — Esboco de um modelo te6rico: 6 proceso, BE Ales tndrie eine tag | POE 2S 2811. Um modelo teético hipotético: 0 proceso, Lugar do afcto, 254 FI. 0 econdenico ¢ 6 simbslico: a forea © 0 sentide 266 POSFACIO, 271 ANEXO. 301 BIBLIOGRAFIA, 307 PREFACIO X (10 anos). — Papal, o que & andllse? © que ‘voot faz com os seus doentes? Y (eet trmao, 14 anos © 1/2). — & anillse ‘8 anilise, Como voct nm escola faz anilise logica, ‘naiise framatieal, entdo Pupal faz a mesma coles X (peremptorio ¢ um pouco indignado). — Nio senor! Ox homens no slo palavrast ‘(Conversa entre os fiihos de um poleanatieta na presenga do pat/. Esie livro era, originalmente, uma comunicasio. Em 1970, apre- sentei no Congresso dos Psicanalistas de Linguas Romednicas, em Pa ris, uma comunicacéo sobe um tema que ez propusera por om dis- ‘cuisso: O afeto. Esse trabalho assumira as dimensoes de um livro @, na concepsao de muitos, foi considerado como tal Assim, renaxe hoje s0b esta forma permitindo a um publico mais ampla tomar co- inhecimento dete. No entanto, uma comunicaséo néo € um livro. Com isto quero dizer que se 0 projeto inicial tivesse sido escrever um livro, este no teria tido @ mesma composigéo. Dal a natureza um pouco particular deste texto que requer algumas explicagGes sobre sta origem, seu obje- ive, sua forma, sua destinagic Em 1953, J. Lacan alguns outros colegas abandonarar: a So- ciedade Psicanalitica de Paris por razdes que ndo precisamos consi- derar aqui. Ora, nesse mesmo ano, Lacan epreseniou no Congresso das Linguas Roménicas uma comunicapao, conhecida hoje com a de- 7 nominasio de Discurss de R ita i Inve de Linge fama, iitlada Fungo © Campo da Pa por dasecnnoenetes de Lacan tiverans um sucesso crescenie, marcato z aceitdvel que assuntia © objetivo da “volta a Freud”, te, “a devcoberia de Freud pot Lact” (Lace eluboracdo cujo ponto de chegada estava furdada numa exelusdo, mun 0 fara ficar apenas no plano da teoria, sem sequer fazer rejertnny 0 oninomentos da price ue ta lembréto. oy oe A partir dessa data, 0 objete de minha reftexto exame des Broblema. Diveros iabaths puticator deste 150) ene mos dis, quer tenham quer nio tenham sido inepirador poles eos Seno Lot Na eg fi rar ras Bie tote eee gt gn om Pelt nf ee con doa ne esse do tema, Os psicauatisias do mundo intei: ja ioria fic Estas onl Pee sec aa is fy tr Ie Alem Sie wna ef pie le ; i pros ae gs lalate de recon oer amplamente suficientes para ‘#88¢ aspecto conjuntural estd Longe de resumir o inte: 8 Para realizar esve programa, concebi meu irabatho da seguinte ‘ancira, Em primeiro lugar, estebelecer wn dossie. Os dois primeiros ceapitiles realizam esse projeio. O primeiro consiiul um esiudo ana litico do afeto ma obra de Freud. esiusdo intencionalmente mimicioso rena bei enguadrar a discussde. O segundo apresenta uma exposi- $30 das principais contribuigdes da literatura anatitica apés Freud, ‘ara conpreener a evolucdo des idéias do movimenio psicanalitica. Esse capitulo pareceu-me necessdrio para aprecnder a mancira pela ‘qual 0 problema é colocado hoje, mais de trina anox apés @ more de Freud. Isto 8 0 que voncerne aes textos. Apos um exame do lugar do aleto nas estratures clinicas ¢ da ‘manvira pela qual ele se manijesta na experitacia psicanalites (caps. Mite 1V), consagrei a parte terminal da obra a hipéteres tedrices pes soais (caps. V © Vi). Estou louge de wcreditar que consegul fornecer 4 teoria psicinalitica do afeto que nos falia, mas expero ter conteibul- ddo para Jornecer uma teoria posstvel que nos coloque no caminho da solugdo do problema. Entretanio, tevei mirhas hipdteses tedricas unt pouco mals low- ‘ge min irabalho que send encontrado no Pesjacio desta obra. Origi- nalmente desiinado a apresetar minka comunicugdo ao Cotgresso ‘antes da discussao desie illin, este texto foi menos um resumo it trodudrio do que um prolongarento de minha reflexdo, na qual eu cedia mais & tentagdo especutativa, rendendo me assim i" feltce Imetapsicologia” (Freud). © texto que aqui publica & quose integralmwnte, » ds 1970 $6 introdusi modijicaroes quanto a detalhes para melhorar sua forma € facititar @ teitura. Inclut certas referéncias novas, aparecidas a par- fir de 1970, em conexio direta com o tema. Por outro tado. actes- ceentei, em anexo, 0 resumo ¢ @ andlise das contribuigies de meus ceolegas que participaran do Congreso de 1970. Nascidas da leltura compleia da comunicacio, elas ndo poderiam figurar em nenkuma parte desta iltima, A questo do afeto esté longe de se limitar 2 um debate estrite ‘mente interno & psicandiise. Ela também se coloca fora do canipo Psicanaliiico. Cabe a cada disciplina abordé-la segundo suas exigen- las préprias. Embora esperando que a leitura de meu trabatho possa ‘ajudar os pesquisadores das outras disciplinas, desejed_ permanecer nos limites de nosso terreno: a psicandlise “Senhoras, Senhores, voces pouco se surpheee ero a0 saber que thes devo comunicer eertos novi- dades sobre nossa concepeao da angistia e sobre as pulsées fundamentais da vida psiquica; também ndo se ‘espantardo ao saber que nenhuma dessas novi- dades pote preiender sex tima solugto definitiva des- tes problemas ainda ndo resolvides. Tenho razbes particulares para utilizar aqui « palavra “concepedo’. Estes sio 0s problemas mais difice’s que se colo- ‘cam para nds, mas sua dificuldede ndo reside na insuficiéncia de nossas observesdes; na verdade, através dos ‘enigmas apresentam-se para nds os fe- nOmenos mais comuns ¢ mais familiares. A dificut- dade também nao consiste no natureza abstrusa das especulacoes 3s quais eles dao origem; as conside- rasdes especulativas pouco tém a ver com o tert ‘Mas ¢ verdadeiramente uria guesiao de conceprdes, foto €, de introduyiy das iddias ubsirutas ewig cue ‘aplicagéo trard ordem e clareza ao material bruta da observagie.”” “AXXILS Conferéncia SB, XXII, 81. it INTRODUGAO DELIMITACAO DO ESTUDO Admitivse-d sem diffculdade que & impossivel um esiudo exaus- tivo dos problemas colocados pelo afeto no campo da teoria e da pris tica psicanalfticas, € necessinic, portanto, precisar os limites de nowso trabalho. Do ponto de vista tetrico, tal esiudo suscita duas dificuldades. A primeire resulta do lugar do afeto na obta de Freud. Com efeite, ‘no se pode assinalar uma localizegio particular para o afeto no com junto dos irabalbos de Freud. Este nfo Ihe consagrou nenhuma obra especifica. E necsssério, portanto, decidirmo-nos a seguir o desenvol, yimento da nocéo de afeto 20 longo dessa obrs. O problema do afcto, depende, no decorrer dos diferentes estigics da teoria, das linhes di. etoras desta ditima: primeira e segunda tépica, avatares da teoria das pulides, etc. As vezes ox remanejamentor tedtiooe impliceu ume modificacao do estatuto do afeto, as vezes uma diferenga de aprecia- gio de seu valor funcional explicaré uma mudansa na teoria, Toto a¢ 4, por exemplo, com « concepgio de que a angistis nasce da libido recalcada que conduzité & reavalizgio da tcoria do recalque quando Freud sustents que este dltimo & ecionado devido & angustia A segunda dificufdade seri enconirada ao nivel da continuacio 4a teoris freudians nos sucessores de’ Freud. A modificcso do qua «dro teérico em Hartmann, Melanie Klein, Winnicott, Bouvet vu Lacan acartetard uma concepylo diferente do’afeto. Podlerse-a direr tam bém que ums spreensio diferente do problema do afeto orientard ume modificagio do quedro teérico no qual ele serd situado. O problema do afeio esté numa relasio dialética com a tcoria, um remetendo ae outro necessariamente. Essas dificuldades da teoris estdo ez relaydo direta com a pra ica, Com efeito, € mais do que provavel que c modelo tebrico’ no B Encontramo-nos ‘esses afcios rolugao do das teorias psicanaliticas imenic crftico. Critica de dos sucessores de Freud pela inter, detthado de tal ou qual let dar as indicagdes cstruiurats relativas as di A riqueza ¢ a diversidade da vida afetiva fi Pobrecidas; mossa Gnica esperanca € a de que se desprenda dena teduca0 um pouco de clarcea para gular nossa compreencio dor fe ‘menos especificos do campo. psicans E aqui que devemos fazer uma preci tva pode st ft enadn, tepnies leone ane cee cbservaydo animal & especulacao filoséfica. Sem divida tems muito Pave aprender com w observado eiolégica, com os dados da fide, {og experimental, da einologia ¢ da antropologia estrutural, da pst Sologis da ctianga ou da psicossociologia;. a reflexao dos fitGeee Coroaria essa massa de informacdes ciemificas. Eniretanto, vernon Coma nos foi ncvessério restrin- Sir os limites de nosso estudo cingindonos aos problemas mais gerale icar © campo de nossa expericncia 0 exame de dados estabelecidos fora de nosso Sparece: a experiéncia da transferéncia na andlise. Dal, € nocessario iter, advém uma certa ambiguidade dos trabalho: psiconeliines oe bre 0 afeto Fmbors « maioria deles wine por ponio de partie 6 ake to na transferénci isd de uma teoria do afcio raramente Eicape & tentacio de incluir faios externos & experiencia pricanalitics, Certamente isto € inevitivel. A intengio reconsinutora de psicandlicg ‘do se Prende apenas & construgao do pasado do snalisanio, mae a ‘atualizados pela trans- [ctencis, mas também por formular hipsleses sobre afetoe que’ per, Ramecem (ora do alcance. da’ experiéncia psicanalitca, quer esteran Frlegados a um passedo inatingtvel, quer pertengam a camadas' dh ficilmente abordaveis da psique. Vésc aqui o dentin qualquer estado do afcio, O unive ‘quero dizer, no estado bruto — sem que uma representagdo esteja Higada a ele. A comunicacéo afetiva fax parte da experiéncia anaiftica ‘mais geral. Mas movemo-nos aqui em terrencs pouco sezuros. A “em- alia”, 100 necesséria ao analiste, pode tornarse logo presa facil dos ‘fetes projciades do analisia sobre seu paciente ¢ squilo que esta além do dizivel, do inteligivel, do representivel pode facilmente to- ‘mar um aspecto mistico no qual a verdade cientifica corre 0 risco de Levada ao extremo, a questio que se coloca arruina antesipads- mente qualquer provesso de conhecimenio, Pode-se falar do afeto? O que se diz sobre ele nio concerniria & periferia do feridmeno, as ondas | de propagacio mals afastedas de seu centro que permanece de fato desconhecido para nés? A mesma questéo é colocada a respeito do | loconsciente. Deixarse fascinar por esse enigms, por mais onerante | ‘que seja, implicaria s rentncia & psicandlise, | TERMINOLOGIA E SEMANTICA © vocabulirio filos6fico de Lalande no comporta 0 termo affect (afeto), mas apenas affecier (afetar), affecif (aletivo), afection (afec> sHo), afjectivite (wfetividade). Conciuise dessas diversas definigies ‘que todas pertencem i esfera da sensfbilidade. Os “afetos”, quer se- jam produzidos de fora ov nascidos de dentro, pertencem eo dominio ontrastatio dox esiados de prazer ou de dor. Estes constituem, de algum modo, suas matrizes psiquicas. A categoria do efeto opoese a H dda representacto, assim como a sensibilidade se ope ao intelecio (en- {retanto, levantam-se controvérsias em tomo da meméria afeliva, “re vivescncia a titulo de simples lembrangas de sentimentos experimen: fades outiora'’). Eimburs reconhecendo que 0 afeto € provacado por ‘uma causa exterior, admite-se que existe uma tendéncia interior para ssic ou aqucle desenvolvimento afetivo. Enfim, a gama afetiva supse tuma escala de estados mais ou monos violealcs, mais ou menos ete ticos, mals ow menos acompanhados por manifestacdes fisioldgicas. Esses poucas observagies nos indicam que o vocabuléric floss. fico encontra os mesmos dados que a problemitica psicanalit — & oposigao efcto-representacik — 05 afetos originrios: prazer-dar — © aleto como meméria; — 4 génese do afeto por combinacio de um efeito externo com um movimento interno; — 8 solidariedade entre os afetos violentos © a organizasio corporal, (sensibilldade), Lalande observa 0 exires tos desta palavra. A lingua francesa designa® por um homénimo — sens (sentido), 4 sensibiité (sensibilidade) e a signification (significagio). Essa raiz gomum profonge-se em duas diregocs: a primeira afetiva, a segunda intelectual. A primeita & conotada pela dimensio sensitiva, a segunda pela dimenséo representative. Parece claro que primeira esfera é solidéria de operagées pouco diferenciodas, mais ou menos imediatas, ‘mais ou menos primsrias, e que a segunda ¢ a de operacies mais di ferenciadas, mediatizadas © sccunderizades, Eniretanto, seria abusi- vamente esquemitico considerar que s6 a esfera intelectual $ susce- tivel de diferenciacdes e que a esfera afetiva esté consagrada a uma “primitividade” de natureza. A secundaridade incide tanto sobre = esters ineieival quanto sobre eter at sanalitica designa pelos termos afctos cundé ‘ou complexos. Sem nos pronunciarmos sobre as ligacies dos primei- ros com os segundos nem sobre a5 modalidades que permitem passar de uns aos outros, a coexistincia de uns e de outros, reflexo da cocxis- tncla entre procestos primdrios e secundétics, vai de par com mo- dos de trabalho " intelectual” correspondentes, igualmente cocxis tentes no aparelho psiquico. A leitura dos artigos citados, referentes ao Vocabulaire de Lalen- de, nio nos traz um cxclarecimenio decisivo, mas nos informa de ma- neira instrutiva sobre as categorias de pensamento que determinaram © hotizonte conceitual de Freud. Apesar de a obra de Freud ter tido como resultado dessrrumar um pouco essas categorias, no entanto ele permaneces necessariamente dependent delas, Deste modo, pode-se dizer que, epesar de seu alcance revolucionério, cssa obra permancce dentro da metafisica ocidental. Sem que, absolutamente, possamos pre- ‘ender termos safdo dela, podemos compreender os coniribuicGes Psicanaliticas pés-freudisnas mais recentes como uma tentativa — nem ‘etiberada, nem refletida, mas obedecendo a uma exigéncia esponténes — de fazer explodir os limites desse quadro. Assim, deveremos re- fletir ulteriormente, tomando essa observacio como fio condutor a0 vyermos cerios attiores abandonarem a distingo entre representogio € afeto, inteligivel ¢ sensivel,significacio e sensibilidade, © tetmo affect (afeto) ¢ especificamente psicanalftico em fran és. Ele nio figura nem no Littré, nem no Robert! Em contrapartida, ¢ utilizado na lingua alema. Assim, sua importacio para a lingua fran cose deveu-se & Froud. Este emprega ora Affekt, ora Enipjindung. TA Magus portupvesa também (8. da 73 17 Gelli. Classicamente Affekt € tradurido por afcto (affect), Empfin- dung por sensasio (sensation) © Gefihl por sentimento sentimento e exige 0 termo emogio, Em “Obsessbes ¢ Fobias”, arth 0 que escreveu em francés em 1895, Freud traduz Affekt por estado emotive (état éoti!), expressio ligada 20 vocabuldrio psiquistrico em ‘gurso na época. Do mesmo modo encontramos, mais tarde, na lite. ature anglo-textnica, trabalhiox que tratam das emosdes ém lugar dos afetos. Fregiientemente os autores discutem a tcrminologia a set empregads ¢ as distingbes a serem feitas. Neste dominio onde a nuanca ¢ fundamental, ¢ importante pre- Sisar o emprego que se faré dos termos, Na auséncia do termo afew (affect), @ wradisio psicoligica francesa distingue gerelmente na vida afetiva a emocio, estado agudo ¢ transitério, o sentimento, estado. mais atenuado © mais durdvel, e a paixao, violent, profunda ¢ dy. Tivel. Se s emocdo parece ter conservado um sentido estivel, como seotimento, a palavra paixio, 20 contrério, tinha uma. significaglo mais geral e genériea, pois as paixdes recobriam 0 conjunto dos fe. nomenos da vida afetiva. Assim era empregeda no scculo XVII ¢ metmo até 0 século XIX. Mas se afeto (afjeet) nio figura nos grandes dicionsrios, afetivo (atfecti/) designa, se ignoramos 0 sentido em desuso (que marca a afecsio), aquilo que tem relagéo com a sensibilidade, com o prazer, gam a dor, com as emosdes (Robert). Ao contririo, 0 verbo aletar (olfecter} condense uina pluralidade Ge signiticagdes: bem interessam, {c. Num primeiro sentido (provenients do francés antigo), correspon de a: aplicer a tm certo uso. Num segundo sentido, afetat quer dizer (Segundo uma origem latina que requer nossa aiensdo): procurar ok cangar, ambicioner, ¢, a partir dai, fingir. Mais geralmente: ter die s trata de modificar, de traisformar um estado (geralmente por ema ‘apdo nociva) que toca a sensibilidade. —————— E surpreendente, ao considerar “apenas esses definigSes.banais to disiondrio, constatar um tratamento pejorative do afeto (exceto 0 Primeiro sentido que mio concerme a vida afetiva), Essa primeira in. curso no dominio do verbo que suporta 0 substantivo confronta-nos com o desejo encarado sob o ingulo do fingimento, da dissimulacao, da insincsridade, da falsificagéo ou da intimidasio, Os sentidos new {ros: emocionar, impressionar, tocar, esto em minoria. © aleto, mes- mo no dicionério, néo tem boa fama e a eyolugso da lingua reflete a evolusdo da cultura face a0 afeto. Levamos em conta quesides de vocabulério que tornam diffceis as tradugdes de Alfekt, Empjindung, Gefithl na lingua alemé. Esses (lificuldades si0 redobradas no vocabulitlo psicanalitico. O afcto esti ligado & nocio de quantidade de energia pulsional na expresso quota de ajeto (Affekibeirag). Este dltimo termo designs 0 aspecio propria: mente econémico do fenémeno, enguanto que 0 afcio remeie 2 qua lidede subjetiva, Essa relagao entre qualidade subjetiva e quantidade de energia pulsional (qualidade © quantidade) levou frequentemente uma confusio entre quota de afeto ¢ enetgia de investimento. De resto, niim artigo escrito em francés, “Algumas consideracSes para lum estudo comparative das paralisiss motoras orghnicas ¢ histéti sas" (1893), Freud traduz Affektbetrag por “valor afetivo” (“yafour fective”). Por um relaxamento da linguagem psicanalitica, const dlere-se que dizer de uma atividade que ela est “carregada de afeto” & sindnimo de estar “investida”. Laplanche € Pontalis em seu Voca- bulaire dio a seguinte definisio para a de investimento: “{Substrato energético pustulado como fator quantitative das operagdes do aparetho psiquico”, sem nenhum comentétio, Assim. energia de uma quantidade de energia em jogo numa ‘operasao, enquanto quota de afeto desi lativo energé apenas 0 aspecto quanti- ligndo ao aspecto subjetivo qualitative que, por assim dizer, “qualifies” © afeto. Portanto, se todo afeto remete 20 sspecto ‘quantitativo de energia pulsional que the corresponde, nem toda quan- lidade de energia esté forgosamente relacionada com um afeto. Um outro termo problemético na diseussio scmantica ¢ moro pulsional. Sabe-se que este ¢ um ponto espinhoso que divide exege- fas e tradutores de Freud, Para alguns (Marthe Rober), a diferenca entre Trieb (pulsio) © Triebregung € negligenciivel. Os dois termes tm slemio sA0 sinénimes © néo é necessério nem legitimo introduzit im termo diferente na tradugéo. Para outros (Laplanche © Pontalis), imbora admitindo que a diferenca entre os dois tcrmos € peguena ¢ Wentemente emprega um pelo outro, fazse neces 19 Pretenidem com isto dar o termo apropriado para a pulsio em alo,» ulsao agindo sob 0 eleito de um estimulo interno, determinado a0 nivel biolégico. Actescentaremos em continuscso a eles que a mogio plsional no deixa de ter rclago com a energia de epresentaria 0 correlato dinfimico do que a energia de € no nivel econdmico. Mas isto ntim sentido mais resirito pols no se trata do aspecto quentitativo © energético de todas as operagdes. do aparelho psiquico, mas apenas daquelae ligndas & pulsio, Laplanche © Pontalfs, embora destaquem que 0 termo mosio pertence 1 série: motivo, mébil, motivagio, os quais fazem iniervir 8 nopdo de movi mento’, recusam a tradueio “émoi pulsionnel” (comoséo pulsional), ‘muito estreltamente ligada so afeto. Entretanto, devemos sublinhar aqui a relagéo entre mogio (motion), emocdo (Zmouion) e comogao (émoU". A nogio de afeto sempre esteve ligeds por Freud A descarga, {sto 6, 1. um processo em ato € em movimento. Portanio, podese dizet que mogio € uma qualificasio geral du pulsdo e 0 afeto indica uma diresio particular (movimento para.o interior do corpo) desta Freud falar a respeito das pulses vom inibigdo de fim dos sen. fimentos de terura, de amizade, etc. Igualmente, 10 tratar do Edipo, falard de “eseotha de objeto temo ditigida para a mie”, de “atitude feminina tera para com o pai”. Fsté claro que aqui ele faz alusio 89 que na lingua francesa chamamos sentiments (sentimentos) — que rio podem ser sonfundidos com os estados de prazer (¢ de despra 221) que sic os proiétipos do afeto. A mesma observaséo vole para « slor ow 0 luto, esiados que, inegavelmente, so processos afetivos, mas ‘que requetem 2 distingio dos afetos de ansistia na teoria psicanali- tics, como Fred tem o cuidado de fazer em Inibigdo, Sintoma e An. wistin, Para cselarecer as coisas, designaremos portanto por afeto um Sermo catezorial que agripa todos os axpectot subjetivos. qualificat vos da vide emosional no sentido amplo, compreendencdo tedae 2s Hingua slema (Empfindung, Gefthl) ou a Vingva fran. i, sentiment, passion, etc.) encontram sob este tpico, Aleto deverd portanto ser compreendido essencialmente como um ter- mo metapsicoldgicu, mais do que descritiva. Pois, € necessério insi lir nisso, a concepedo psicanalitica do afeio se distingue de qualquer outra abordagem dos fendmenos que teorize sobre esse termo, neuro. biolégica, psicoldgica, sociolégica ou filosdfica. Empregado no. seme \ido diseritivo, o termo afeto podlerd ser trocado pot um outro. mais adequado, mais priximo da realidade que designa. Mas (odas escas varlantes remeter-not-io a categoria do afeto, 20 QUESTOES DE METODO A cltasdo de Freud, que colocamos como epigrate deste taba tho, indica-nos que a solugio dus dificuldades encontradas diante do exame do problema do afeto depende muito das concspedes que t Yerem o objetivo de ordenr os dados recolhidos pela andlise. Uma referencia direta & pritica psicanalitica sem davida teria sido descjével, ‘sem preconccitos. Mas sabemos que tal aspiracio é mitica. O solo de saber analitico repousa sobre a teoria de Freud que descobriu, a0 mes. ‘mo tempo, a praxis e a teoria da psicanilise. Um trabatho critico per- manente foi emprecndido pelo proprio Freud, por seus discipulos € or seus sucessores para ientar circunscrever mais esircltamente os fatos © realizar as modificagbes inevitaveis & luz dos conhecimentos adguiridos pela pritics. Inversamente, fatos novos 36 se tornam inte: ligiveis gragas 88 modificagoes te6ricas. Nosso provedimento seri hisidrico ¢ estrutural numa perspectiva critica. Isto quer dizer que @ atitude critica incidird sobre & dincronia da nosdo tanio em Freud quanio em scus sucessores © sobre a sin- cronia retomada no campo atual da psicanilise em suas duas verten- tes — priiiea e tedrica. Mas esse metodo critico permanece no qua. dro de uma critica intems & psicandlise que deve colocar suay pro rigs quesioes, propor-hes suas proprias respostas, com conhecimen: to de causa. Noras: 1, arece-nes, entretanto, prefervel ultrar dois pares: o dor extremes: ‘Rom — dor. 0 dos meioe: praser — desprazer. A cadela serie entho: ‘goto — praver — deopracer — dor. 2, Bxceto no “petit Rovert™ (Aicionario francés), no qual sua datacho & ‘eente 191, Denia: eta afta eemenian. am ominte & corrigida no Supplement, aparscids em 1970, que dé sum erigem wer~ minica: AVfokt © france: séeulo RVI: “esiado (a0. disposes (Gispostizon).) 3. The complete piyehological works of Sigmuad Freud, shamada Sten- dard Baition, que de agora em dlante devignaresace pelos icin 8. By, 1, xu, 4. Of Lepianene © Pontalis, oc, ct. verbete’ “Mono Pulsionel”. 5, 0 ue parece ser também 0 abjetiva de Strachey que, igualmente mba Facade cont a tmdugio de Triebregung, socoihe afinal ateibult-Ine um fermo pasticular: instinctual tmpuie. 6. Emmborn © Litiré proponta etimalopies opostas: “Emot virla de es « @ antigo altonaleroko magen ser forte”, ito &, perder toda 0 forge, fenquante que motion (emerda) deriva dirctamente de mouoolr (mover) a PRIMEIRA PARTE O AFETO ATRAVES DOS TEXTOS PSICANALITICOS CAPITULO! O AFETO NA OBRA DE FREUD Neste capitulo analitico, descrevemos 0 reurso das idéias de Freud sobre o afeto, Varias fases podem ser inguidas: — dos Estudos sobre a Histeria (1893-1895) A Interpretacdo dos Sonhos (1900); — dA Interpretardo des Sonos & Mesapsicotogia (1915): — da Metapsicologia a0 artigo sobre 0 “Fetichismo” (1927), pro- longado pelo artigo sobre “A clivagem do ego no processo de defesa” (1939), ‘Apis 1927, as mengbes sobre 0 afeio ttm pouca importincia" © texto mais importante sobre 0 afclo apés a segunda (6pica 6 Inibiglo, Sintoma e Angistia, Pensamos que seria logico reagrupar as diferentes conceppses de Froud sobre a angdstia de 1894 a 1952, separando-as dos outros textos. 2 EVOLUCAO DA CONCEPCAO DO AFETO 1. DA DESCOBERTA DA PSICANALISE ATE A INTER- PRETACAO DOS SONHOS 1. Os Eaudos sobre a Histeria (1893 — 1895) A histéria do afeto, assim como a da psicanslise, ests cstrita- ‘mente ligeda 2 historia. Mas desde antes do aparecimento dis seen sicagio preliminar, Freud, no artigo sobre a histetia para a Eneyolo: pédie de Villeret em 1892, introduz. a nogio de modificacbes de die tibuieto das quantidades de excitasdo no sistema nervoso, Neste coco trata-se mais da encrgla de investimento do que da quota de afeio especificada como tal, mas esta dltima af esté incluldn como 6 mostra "Faralelamente aos sintomas fisicos da histeria, um certo niime- Tele desordens pstquicas pode ser observado... S30 mudancas’ na passagem @ na associayao das idéias, inibicdes da atividade da vente Freud dé maior importancis essa hipotese do que & de de temperament istrieo ave nl aparece tm min ects Coe a ua concepsio carnclcrldgia, ee tom operate anny ‘Sepsdo ccandmlca: a de um excesto de excuse no ssn nares, “que se manifesta aqui como um inibidor, ali como um fator de irri. tapdo ¢ se desloca no sistema nersoro com gente torte 26 © destne dese quantidade de exci vat | gesenpenbar um Importante papel na concepedo do afeto estrangulado, tal como é ex- posta nos Estudos sobre a Histeria. Jé em 1895%, num artigo sobre “Algumas consideragSes para um estutlo comparativo das parclisias ‘motoras orginicas © histéricas”, Freud introduria a expresso. quota ude afeto* para exprimir a solidarisdadc entre um conteddo tstocin tivo € seu correlaio afetivo, “Cada acontecimento, coda impressao psiquica, & provido de uma certa quota de ajeto (Affektbetrag) da qual 0 ego se di ‘ou por meio de uma reagio motora ou por uma atividade psiquica sssociattva.” Ja esse texto esté indicado 0 mecanismo patogénico: 0 impedi- mento & ab-reagio dos acréscimos de estimulos. Pais o que opera no ‘estado psiquico normal, s tendércia » manter a soma de excitagio constante pelos meios mals apropriados, estendendo-a sseociativ mente ou descarregandoa', nic possfvel na histeria. Entretamto, Freud afirma paradoxalmente nesse mesmo texto, que scrviu de es. boro i Comunicagio Preliminar, que 0 afeto pode tex objeto de uma clivagem: uma impressio, mesmo quendo 0 afeto € minimo ¢ sem valor patogénico, pode ulteriormente tornar-e traumética. Ai caté o ‘germe da concepsio da simbolizacao. Na Comunicagdo Preliminar (1893), Breuer ¢ Freud desenvol- ‘Yer completamente a concepeio do afeto eetrangulado. Esta cxté di fetamentc ligada a teoria ttaumética. Dado um acontecimento trau. iitico, a recordegio ndo pode ser liquidada cm cerios casos © por Isso importa saber “se 0 acontecimento desencadeador provocou ‘ou thio uma reacio endrgica”™ gracas A qual a descarge de ufetos pode e produait “desde as légrimas até 0 ato de vinganga’”. Nos esos em essa descarga no interyém, o afeto permanece ligado ® recot. Macao devido b su nao lguldagc, Potente at fepresentages pato- énicas niio sofreram © te normal por ab-eacko ou reprodu- (fo, com circulacio nao entravada das associagdes. Enircianto, pela Psicoterapia, pode intervir um cquivalente da descarga pelo alc, gra. fas a linguagem que permite sua ab-reagio. A lingungem liga essocia. Hivamenie a reeordagéo ao acontecimento, assim como liga carga Sstrangulada de afeto as representasies. E necessdrio aqui seguir 2 Freud atentamente. Nease contento a yerbalizagao no € uma ope- ragdo spenas intelectual, “O ser inumano encontra na linguagem um equivalente do ato, equivatente gragas ao qual 0 afeto pode ser ab-reagido da mesma ‘maneira’”. A linguagem nao se reduz a permitir que a carga se desbloqueie © soja virds.ela 6, cm sl mens, ao’ Sesame las palavras. O Procediment> utilizado permite ao afeto verterse verbalmente: além disso, transforma essa carga afetiva c leva a representagdo patogénica a se modificar por via associativa airaindo-s para 0 constiente nor malt. Valorizou-se a frase de Froud “o hisiéricu sofre de reminisctn- Clas”, mas nao se subfinhou suficientemonts o papel ai descmpenha- do pelo afeto a culo destino eso ligados a reminiscéncia e 0 sucesso do tratamento. Pois nao basta recordarse para curar, bem o sabemos hhoje, mas Freud j4 0 sabia na comunicacao prelimi Para noesa grande surpresa, dexcobrimos que cata wm dos 3 tomas histdricos desaparecia imetiaiamente x sém retorno quando 50 conseguia por em plona tuz a recordacio do incidente desencadeador, dlesperiar 0 afeto ligado a este titimo « quando, em seguida, o doer fe descrevia o que the havia acoutecido de mancira bem tetthada ¢ dando a sua emogio uma expresso verbal. Uma recordagao despro- vida de carga ajetiva ¢ quase to1almente ineficuz””. E init, alids, decidir quanto & preponderincia do aleto ou da Tepresentogio. Um acsrreta 0 outro sem que seja possivel decidir: “Existia toda uma série de sensugoes ¢ de representapdes para: elas. Ora era a sensagio que sugeria a tdgia, ora a idéia que por sim bolizagto criara a sensagdo ¢ jregilentemenie aconiecia de te per ‘Buillar quial desses dois elementos era o clemenio primario...””, Portanto, se a psicoterapi da histeria indica que os dois clemen tos se induzem mutuamente, isto mostra & necessidade de sua co-pre- Senga no tratamento que visa a soluglo do caso. Assim, ligamse, numa rede indissocidvel, © traums, su reco dacio e as representacSes patogénisas que dela derivam, 0 alcto nig 28 descarregedo ¢ a yerbalizagio scompanhada de emogao. Nesta con juntura, niio se pode privilegiar a recordagio ou a represeatagdo par leginica sobre © afcio visto que o reaparecimento do afeto &a con. © para 0 sucesio do méiodo. Do mesmo modo, a linguogem 30 Pode ser trazida para 0 lado das tepresentagies, ela préprin € modo de descarga, equivalence do ato. Ssbo-se que Breuer © Freud discordarain quanto & questtio do siade hipnside". Para Breuez, seguindo sobre esse ponto PJ. Mos. bius, © estado hipnéide seria um estado auto-hipnoide, auto-induzi- do, sob a inilugncia de um devansio diumno ¢ do sparectmento de umn afsto, Produz-se um certo vario da conscigncia no decorrer do qual se manifesta, sem nenhiucna re: uma representagio. Esse ssiado hipndide cons uum grupo de represenlagSes que logo se liga a ‘ouiros grupos de representagdes formadas no dvorrer de outros es. tados hipndides © consiitul uma elivagers, uma Spallurig, com 0 resto sda psique, por interrupeio da circulagdo das assoelagoes. Pare Breuer, ‘esse estado hipndide € » condiggo da hi Froud, que nos Estu: dos adota provisorlamente essa idéia, ahandona-la.& mais tarde como pérflva, conservando a idéia de um grupe psiquico particular iso- lado do restante da vila psiquica do qual fata o ncleo do incons- cisnis, Se o opinifo de Brewer nos parece hoje inaceitavel. € neces: sirio reconhecer, entretanto, que sua concepeio prefigura o que Freud 86 descobrits alguns anos mais tarde: 0 papel do fantasma e sua con- juncio" com o afeto, visto que estes desencadeiam o estado hipndide. Por ai se descobre uma solucao allernativa para o abandono da teoris traumitica, sem presisar eliminar 3 concepedo do afeto estrangulado, ois © fantasma por si mecmo pode ativar or sonteddos do incensuicnt te — quando cle nao € sew resultado — ¢ aumentar assim a carga do ffeto que, por outro lado, tenta ligar, por sua constituigto, Enire a Comunieaciio Preliminar (1803) © a publisagio doa Ee tudes sobre a Histeria (1895), Freud publica, em janeiro de 1894, Seu artigo sobre as “Psiconeuroses de dofesu", Neste a nogio de quota de afeto tornsse mals precisa, “Nas fungoes psiquices, hit rusto para distinguir olguma coisa (quot de afeto, soma de excitacio) que possui todas as propriedades He ume quantidade — ainda que noo esiejamos habilitados @ media alguma cvisa que pode ser oumentada, diminutda, deslocada, des- Farrecada © se espulhe sobre os travos muémicos das representaches Inais ou menos como wna carga elétrica i superficie dos corpor” Freud distingue, portanto: 1) A quantidade mensurével de direito sc no de falo: 2) A variagio dessa quantidade: 3) © movimento ligado essa quantidade; 4) A descarga, No mesmo ano, numa comunicaso a Flicss (Carta n° 18 de 21-5-1894), essa se completa pela idéia de um destino do afeto diferente conforme as entidacles de luto, isto é, x saudade smarga . Poderse-ia entéo tratar-se de uma perds, de uma, perda no dominio das necestidedes pulsionais"” Nesse esquema a situagio do afeto € miltipla. No estado normal, le ests repartido entre a via de conducio das sensagies voluptuosas (prazer) ¢ a via das scnsagies sexuais sométicas modificadss pele sducagio (aversio, defesn), No estado patol6gico. ele € a conseqUén- cis da perda objetal c energétice (luto), ‘© que nos parece importante & a distingSo entre as vias orgti nicas — que continuam orpanicas, a8 que sao psicossexuals ¢ a5 que se tansformam pela educegio (recalquc). O afeto pertenes te duas ‘itimas e € de nstureza psiquica © psicossecual. Essa heterogeneidade dos componentes da libido © essa yarlagio do destino deles parcccm-nos dever ser sublinhades pars compreen- dermos as relagies entre 0 afeto ¢ as esferas corporal ¢ psiquica. A ‘ordem do afeto nao ¢ a da tensio ffsica sexual, canbor bre tla, Encontramos aqui a importincia da nogio de apoio evidenciada por Lsplanche © Pontalis. Mas a ardem do afeto depende igualmente das forgas psiquices que berram o expressio mediate ds pulszo onde se encontra 0 papel da defess, que tem como efeito inverter o feta de prazer em aversio, © afcto csté, portanto, entre o soma © a peiqus. como entre a bigoma eo martelo. Enfim, este esquema parece-nos prefigurar 0 modelo da pulsio ‘com sua font (sexual somitica), sew objeto (no mundo exterior), sua pressao (aqui dividida em scus componentes), sia finalidade (8 9¢80. ‘eapecifica) ¢, para terminar, seu cireailo. 3. 0 “Projeto para uma psicologia cientifica”’ (1895) (© interssse do’ Projeto para um estudo do afeto vai muito além das referéncias dirctas que sio fcitas a esta noySo, Estas j6 580, por ‘si mesmas, bestante instrutivas. Mas para quem quer se dar 20 tea: batho de penetrar nesse emaranhado Inextticdvel (¢ que comporta: mais de uma contradieso insoldvel), 0 resultado da investigacio & ‘altamente compensador. E que 80 se tome como argumento a sigio de Freud i sua publicagéo. Nele existe um gigantesco esforco de recuperagao tedrica c o fundamento da maioria das hipdteses {utus tas que Freud exploraré durante mais de vinte anos, trocando em: miidos 0 que apresenta de uma 36 ver. Relagdes entre a quantidade © a qualidade, distingao entre cnergia livre ¢ energie ligada, hipstese Ry mica, primeiros modelos da experiéncia de satistugio © da expe mia da dor, esbogo do ego ¢ relasio do ego do objeto, papel ds Simbolizagio, definigio do proceso prigiario, teoris do pensamenio ¢ de suas relagies com a Tinguagem ¢ com @ conscidncia, onde +6 Inanifesta o. papel pertuibador do. acto. todos essex furdamentos Imetapsicoldgicos tém a imensa vaneagem de serem o objeto de ums articulagéo. Articulegio frouxa, sem divids, mal ajustada em mais ‘de um ponto, mss ariculagio primordia ‘Agruparcinos sob trés rubrieas a contribidgd0 Jo Projeto para fo problema do afeto: A — 0 feto na experiéncia da satisfagio, du dor € 0s estados de descjo; B — O papel do ogo na inibigio © a dominesio dos afetor; © — As porturbacdes do pensamento provoradas pelos afeios, A — EXPERIENCIA DA SATISFACAO, DA DOR £ ESTADOS DE ANELO Antes de abordar es expecigneias da stistagio, da dor © os ex ludos de anelo, € importante lembrarse de que a niyo de quantidade $0 principio de inéreia (lendéacia do aparclho psiquico 20 abaixe Inento dat tensdes a0 nivel zero) sio pressupostos fundemenisis: A aspirecio & descarga € primordial, o retengio de wma ceria quantidade # roquerida pelos fete da vid a) Experiéncia da satistocdo. — Na experiéncis da satisfasio, primeiro modelo do descjo, 9 aumento da tensio intensa pi ele necessidade determina’ uma modificagao intern desse estado de foisas. Em primeiro lugar intervém uma tentative de descarga interna i externa, por manifestagies emotivas c gritos, Mas essa descargs { inoperamte, pois a situarSo requer ume modificagio externa pera ue 8 modifieasao interna se produza: % acao especifica suscetivel acalmar a necessidade pela satisfogao ((razida pelo objeto exter fio). “Desse moda essa via de descarga adquire uma funcio secun- iria da maior importincia, a da comunicagdo, ¢ 3 impoténcis or jinal do ser humane & » fonts primeira de todos os temas morais”.* junca scré demais insistir sobre esa ligagta primeira enire « descangs pels emolividede © pela motricidade © a fungdo de comunicogio da

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