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O presente trabalho se propõe a esclarecer, apresentando as principais correntes

jurídicas, no sentido de que se tentará trazer à tona como essas correntes de


pensamento jurídicos influenciam na interpretação e aplicação do direito pelos juristas
(em sentido amplo), porquanto estudando as correntes de pensamento em pauta, é
possível entender como a ideia de Direito se desenvolveu na história do direito.

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A Ciência Jurídica e a Filosofia Jurídica estudam o problema do conceito de Direito no
decorrer da história, com auge no século XIX e seguintes, causando diversas
interpretações acerca do mencionado conceito, resultando na criação de várias
correntes de pensamento jurídicos, todavia, este trabalho estudará apenas as de
maior repercussão. Mesmo um magistrado atual vê-se em dificuldade em interpretar
e aplicar a norma ao caso concreto, devendo partir de algumas das correntes jurídicas
que serão apresentadas, a saber, o jusnaturalismo, o juspositivismo e suas
ramificações (escola exegética, normativismo, sociologismo), o historicismo e o
tridimensionalismo jurídicos.

Escola dos Comentadores e dos Glosadores


A Escola dos Comentadores é figurada conjuntamente com a Escola dos Glosadores,
como uma das pioneiras da ciência do Direito. Os comentadores, antecedidos por
sucessores dos glosadores, são do século XIII e XIV, são possuidores de tarefas mais
práticas e mais livres, na medida em que tratam dos temas sem seguir à risca os
textos e respondem as indagações e consultas.
Aplicou-se no desenvolvimento da compreensão do Direito, com o método empregado
por esta escola, pois a dialética escolástica forneceu subsídios aos estudiosos para
elaborarem textos e teses capazes de penetrar no sentido literal dos textos analisados
e na formação de comentários potencializadores do conhecimento e de criação de
institutos jurídicos que, na época, trouxeram inovações.
A escola dos comentadores, é composta por aqueles que se tornaram conselheiros
dos príncipes, das comunas e dos particulares, emitindo pareceres e auxiliando na
harmonização dos direitos locais.
Por meio do Ius Commune, se esforça em conciliar os direitos locais, acaba por
viabilizar a convivência das tradições feudais com as novas tendências da vida
europeia, monetarização da vida, comércio, e proporciona uma certa flexibilização nas
transferências de terras e sucessões. Além disso, deu-se a distinção entre dominium
utile edominium directum que possibilitou diferenciar entre os direitos do senhor feudal
e os dos possuidores, detentores de feudos ou censos.
Para já é de primar que a escola dos Comentadores teve seu início (cerca de dois a
três séculos após o surgimento dos Glosadores), no fim do século XIII e início do
século XIV, na França, na escola de Orléans (chamados Ultramontani) com Jacques
de Revigny e com Pierre de Belleperche.
As ricas manifestações culturais que se refletiam na pluralidade das fontes jurídicas
teve o seu início na Idade Média. A tradição universitária não admitiu um acolhimento
completo das diversas formas jurídicas de manifestação, principalmente com a escola
dos Glosadores. No entanto, com os Comentadores, a realidade própria de cada
região foi levada em conta (ius proprium) no estudo, análise dos casos e confecção
dos comentários jurídicos.

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Nas Universidades, os professores liam os textos romanos e faziam comentários
sobre eles, além de expor as diversas opiniões dos doutores renomados; por vezes,
o comentário de um trecho do Digesto durava o ano letivo inteiro, tamanha a
complexidade e a minúcia que envolvia o ensino na época.
A Escola dos Comentadores (pós-glosadores, bartolistas, consultores, conciliadores)
surge depois de um período de decréscimo do método da glosa devido ao seu
esgotamento
O âmbito da letra do Corpus Iuris Civilis tornou-se insuficiente para abarcar a realidade
emergente, latente, devido às novas exigências socio político-econômicas e ao próprio
Direito, insatisfeito, nesse momento, com o método já muito restrito da glosa. Em
decorrência disso, o lapso temporal dos pós-glosadores incentivou e tornou viável o
surgimento de uma nova metodologia.
Simplesmente comentadores, que defendiam uma nova forma de interpretação do
Direito Romano. A escola do Comentadores que defendiam uma nova interpretação
do Direito Romano tinha como meios de estudo não mais por glosas, mas por longos
comentários comparativos entre o direito Romano clássico e o direito de cada região.
Assim eram retirados princípios gerais que deveriam ser aplicados na solução dos
conflitos.
A denominação de pós-glosadores é mais adequada aos glosadores que escreveram
após a Magna Glosa, mas cabe ressaltar que nenhuma das denominações (até
mesmo a de pós-glosador) é indiscutível. As simples estruturas da glosa foram
substituídas por comentários mais aprofundados, elaborados e envoltos numa
dialética-escolástica fornecedora dos alicerces de um edifício doutrinal construído com
o labor dos juristas e suas análises, não só do sentido do texto, mas de toda
possibilidade oferecida pelas conjunções textual-dialéticas.

No entanto, foi no território italiano que esses juristas alcançaram notoriedade, e suas
formas de estudar (mos italicus – atividade de estudo essencialmente prática –) os
textos romanos ganharam a autorias. A influência da escola de Bolonha se dá como
cultural, seus alunos influirão na cultura jurídica das sociedades, criando sua própria
maneira de estudar o direito (mos italicus). Autoridade se estendeu até as
contraposições da escola humanista, além de influenciar as ordenações portuguesas,
quando convocam a opinio bartolista em ocasiões necessitadas de meios subsidiários
no preenchimento das lacunas dos textos das ordenações.
Ao exemplo da escola dos Glosadores, ainda com maior difusão do ensino do Direito
na Itália, desta feita, o território Europeu também acabou sendo influenciado, durante
séculos, por essa Escola, que proporcionou uma nova visão ao Direito (tratando-se
de: Ius Commune eius proprium), como teoria e, também, como prática.
Os comentários banhados na dialética escolástica alçaram a ciência jurídica a
patamares do conhecimento até então não vistos no Ocidente, principalmente após a
vulgarização do Direito.

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E ainda nesta mesma escola dos Comentadores tenho a destacar, o nome de Bártolo
de Sassoferrato (1314-1357), Jurista de grande cabedal e, por consequência, fama,
ensinou em Pisa e Perusa.

Bártolo, compositor de tratados e comentários, escreveu sobre diversas áreas do


direito, privado e público, redigiu um tratado sobre o governo das cidades (Tractatus
de Regimine Civitatum, entre 1355-1357).
No entanto, o nome de Bártolo permaneceu durante séculos, por ter sido fundamento
de argumento de autoridade, acabou obtendo o devido reconhecimento e, em
decorrência disso, seu nome restou exaltado, no apogeu da Escola, e desprezado, no
declínio, pelos ataques desferidos pela Escola Humanista.
Destacou-se como o principal nome dessa corrente, que também se denomina
bartolista, além de sua época, muito embora Cino de Pistoia tenha introduzido a
metodologia comentarista na Itália. Seus trabalhos impressionaram pela quantidade e
pela qualidade, inclusive diversas universidades criaram cátedras especiais para
estudarem sua doutrina.

Os Comentadores reinaram com seu método (mos italicus) até o surgimento dos
humanistas. Este método foi influenciado pela doutrina aristotélica-tomista de uma
dialética impulsionadora de verdades consistentes em argumentos de autoridades,
isto é, metodologia que buscava ligar a doutrina do direito romano com a prática
jurídica. Com isto quero dizer que esta metodologia deu força pra levantar azas às
diversas críticas dos juristas do mos gallicus que, em momento de esgotamento do
método comentador, basearam-se na forma com que estes juristas encontravam “a
verdade”: por meio do conhecimento autoritariamente estabelecido pela dialética
escolástica.
FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Como é de natural do ser humano, todos os fenômenos e fatos que são


merecedores de serem investigados. Do mesmo modo, o Direito como fenômeno
social, não é excluído dessa necessidade humana de explicação racional e empírica
dos objetos. Por conseguinte, a visão do Direito como simples fato destituído de
fundamentação não obteve êxito na história.

Em cada um dos momentos históricos vividos pelo homem, foram atribuídos


argumentos às regras de conduta para justificar a obediência a elas pelas pessoas
sob o seu domínio. Primeiramente, se reconheceu a força como imperativo da
norma, depois, esta força foi embasada na vontade divina. Posteriormente, houve
um endeusamento das normas, e mais tarde, os direitos do homem foram
reconhecidos.

Em cada um desses momentos explicava-se o direito a partir de premissas ou


fundamentos, indagando-se o conteúdo das normas jurídicas. Assim, a questão do
conteúdo do Direito resumia-se na seguinte pergunta: “Qual deve ser o conteúdo do
direito, ou melhor, quando é válido o conteúdo direito”.

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Entende-se por fundamentos ou conteúdos jurídicos, segundo GAMA:

Os diferentes modos de pensar em torno de assuntos jurídicos refletindo sobre a


realidade ou alterando a concepção a seu respeito. Pode-se dizer que é gerado um
sistema complexo de pensamentos com o fim de explicar a formação e o
desenvolvimento das regras jurídicas.

Essa tendência dos juristas e filósofos em atribuir conteúdo as regras jurídicas de


determinada época fizeram surgir as correntes de pensamento jurídico. Por
correntes entende-se “os grandes caminhos percorridos pelo pensamento jurídico,
pelo qual grande número de juristas perseguiu uma fundamentação universal para o
direito ou uma explicação exaustiva para o fenômeno jurídico.”

Partir-se-á, na sequência, para o estudo das correntes jurídicas, seus corifeus, seus
pressupostos, suas explicações acerca do direito, etc.

JUSNATURALISMO

Por jusnaturalismo, ou Escola do Direito Natural (esta compreendendo apenas a


fase racionalista), entende-se a imensa corrente de jusfilósofos e juristas que davam
primazia aos princípios anteriores ao homem, os princípios e regras ditos naturais,
justas, como o princípio da dignidade humana e o princípio do direito a vida. “Pode-
se dizer, em linhas gerais, que essa escola foi fundada no pressuposto de que existe
uma lei natural, eterna e imutável; uma ordem preexistente, de origem divina ou
decorrente da natureza, ou, ainda, da natureza social do ser humano.”

Para os jusnaturalistas:
A lei natural é imutável em seus primeiros princípios. O direito natural, imanente à
natureza humana, independe do legislador humano. As demais normas, construídas
pelos legisladores, são aplicações dos primeiros princípios naturais às contingências
da vida, mas não são naturais, embora derivem do direito natural.

O jusnaturalismo passou por três estágios na história, compreendendo três


vertentes: a teológica, a humana e a racionalista. A primeira, com vigência na Idade
Antiga e na Idade Média, o direito natural ligava-se à Religião. O fenômeno jurídico
estava subordinado à vontade divina. A escola teológica “posiciona Deus como
legislador, acusando as condutas a serem consideradas ilícitas e impondo punições
graduadas conforme o bem ofendido.” Assim, em suma, esta fase do jusnaturalismo
embasava-se nas leis advindas de Deus.

A segunda fase, uma versão intermediária do direito natural na Idade Média, de


cunho tomista, divide o direito natural em: normas eternas, naturais, humanas e
divinas. As eternas são universais e atemporais. Os naturais são fruto da busca pela
felicidade terrestre. As humanas são criadas pela Razão. E as divinas são produto
da criação divina.

A terceira fase, o jusracionalismo, contou com o jurista holandês Hugo Grócio,


considerado o “pai do direito natural”, para laicizar o conceito de direito natural, bem
como defender que os princípios do direito natural são frutos da razão.

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Segundo a escola jusracionalista, o método para conhecer a ordenação natural é
a Razão. “É através da razão que, voltando-se para si mesma, investiga, para
descobrir na própria consciência, os princípios e as leis naturais, válidas desde
sempre”.

Em suma, o jusracionalismo procura humanizar o direito natural e afastá-lo da


dependência divina, tornando-o autônomo e acessível a todos aqueles que
estivessem dispostos a usar a razão para conhecê-lo. Diz GAMA que:

Objetivamente, os defensores dessa corrente tentam evidenciar a autonomia do


direito, funcionando de forma independente com relação aos demais ramos do
conhecimento. Naturalmente, a norma decorre do trabalho do legislador numa
operação semelhante ao exercício da razão humana diante dos casos que se lhe
apresenta.

Atualmente, o jusnaturalismo vislumbra o direito natural apenas como um conjunto


de princípios que orientam o legislador na elaboração das leis positivas. Princípios
estes que não podem ser preteridos, sob pena de injustiça na ordem jurídica. São
compreendidos, pois

Atualmente, o jusnaturalismo vislumbra o direito natural apenas como um conjunto


de princípios que orientam o legislador na elaboração das leis positivas. Princípios
estes que não podem ser preteridos, sob pena de injustiça na ordem jurídica. São
compreendidos, pois, pelos princípios fundamentais como o direito à vida, o direito a
liberdade, o direito à igualdade de oportunidade e participação, o direito ao mínimo
de civilidade, etc. Foram esses princípios que nortearam os legisladores da
Declaração de Direitos Humanos.

No que toca aos caracteres do direito natural, a doutrina tradicional elenca os


seguintes: imutável, eterno e universal. Todavia, pode-se enumerar caracteres de
uma forma mais detalhada como fez Eduardo Novoa Monreal:

1.Universalidade (comum a todos os povos); 2) perpetuidade (válido para todas as


épocas); 3) imutabilidade (da mesma forma que a natureza humana, o Direito
Natural não se modifica); 4) indispensabilidade (é um direito irrenunciável); 5)
indelegabilidade(no sentido que não podem os direitos naturais ser esquecidos pelo
coração e consciência dos homens); 6) unidade (porque é igual para todos os
homens); 7) obrigatoriedade (deve ser obedecido por todos os homens); 8)
necessidade (nenhuma sociedade pode viver sem o Direito Natural); 9) validez (seus
princípios são válidos e podem ser impostos aos homens em qualquer situação em
que se encontrem).

Como se pode concluir, o Direito Natural fundamenta-se nos ideais de Justiça. São
princípios atemporais e imutáveis, sem os quais, o direito torna-se injusto. São
descobertos pela Razão e sistematizados por ela. Além disso, como se verá adiante,
o jusnaturalismo se opõe ao juspositivismo, porquanto esta corrente enxerga o
direito somente como as normas emanadas do Estado, sendo que tudo fora dele
não é direito, principalmente o direito natural, que é congênito e anterior ao Estado.

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Diferentemente do juspositivismo, o único método de interpretação e aplicação da
norma, no jusnaturalismo, é o dedutivo, uma vez que as leis naturais são gerais e
universais e, portanto, devem ser tomadas como paradigmas absolutos na
interpretação do caso concreto.

Baseando-se em princípios da natureza humana, o Jusnaturalismo Racionalista


criou uma filosofia que parte de uma leitura empírica antropológica e que
desencadeou na possibilidade de se pensar o ser humano como um ser dotado de
direitos inatos, intrínsecos à sua própria condição.

A Corrente do Jusnaturalismo defende que o direito é independente da vontade


humana, ele existe antes mesmo do homem e acima das leis do homem, para os
jusnaturalistas o direito é algo natural e tem como pressupostos os valores do ser
humano, e busca sempre um ideal de justiça.

As codificações de inspiração jusracionalista devem ser distinguidas daquelas


contemporâneas e anteriores que estão fundadas na inspiração de reformar o direito
já existente, porque elas visam a uma planificação global da sociedade através de
uma reordenação sistemática e inovadora da matéria jurídica.
Para o jusracionalismo, a atuação racional dos governantes criaria, por si só, uma
sociedade melhor. Neste sentido, estas codificações se apresentam não como frutos
acabados de uma tradição jurídica, mas sim como pré-projetos de uma sociedade
melhor por vir. Assim, não são projetadas por corpos de práticos que aplicam o Direito
existente (juízes, advogados, procuradores e etc), mas por uma elite intelectual com
formação em filosofia e política, intimamente ligada aos soberanos. Neste sentido, o
código prussiano de 1794, o austríaco de 1811 e o código civil napoleônico são
exemplos de codificações inspiradas pelo jusracionalismo. O código prussiano e o
código austríaco encontraram diversas dificuldades na sua longa elaboração. Na
última fase de tramitação, as principais dificuldades surgiram devido a reação ao
iluminismo que a Revolução na França provocou. Assim, uma vez outorgados,
geraram um generalizado desprezo por grande parte das comunidades jurídicas locais
que preferiram estudar de novas formas o velho Direito Romano (Escola Histórica do
Direito), já que viam esses códigos como resultado da influência francesa,
especialmente após a promulgação do Código napoleônico, em 1804. O Código
francês, por sua vez, foi o mais exitoso de todos os códigos de inspiração
jusracionalista, tendo se constituído a partir dele um novo modo de pensar o Direito,
com a escola da exegese.

A teoria jusnaturalista, que está relacionada com o Direito Natural, possuía, na Idade
Média, sentido teológico. A partir da doutrina escolástica, a qual identificava aquele
com as normas morais, o conhecimento jurídico passa a ter caráter científico. Nesse
diapasão, em que o jusnaturalismo parte de uma concepção fideísta para uma
ideologia racionalizada, antropocêntrica, surge alguns filósofos a fim de explicar a
natureza humana, como Thomas Hobbes e Rousseau, por exemplo. O Direito
Natural é um precedente primígeno dos princípios gerais de direito. Possui os
mesmos elementos do “aspecto estático da normatividade” de Hans Kelsen,
como Direito Natural “transcendente” ou “transcendental”.
No primeiro caso seria um aglomerado de pressupostos éticos, divinamente
instituídos, que extrapolam a inteligência humana. No segundo, seria reconhecido

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em razão do conhecimento empírico que institui certas “invariantes axiológicas”,
sendo o valor fundamental o da pessoa humana. O jusnaturalismo hodierno
compreende o Direito Natural enquanto uma reunião de princípios que orientam a
atividade legislativa. A sua incumbência moderna reside em delinear os recursos de
proteção ao homem, para que este esteja apto à realização do bem comum.

Não obstante o fator histórico, parte-se ainda dessas concepções, na realidade


atual, para interpretar o Direito. Considerando a interpretação jurídica como sendo a
definição do sentido objetivo da norma, bem como o alcance dela, infere-se que os
estudos dos fundamentos e das correntes que influenciaram na elaboração desta
norma são imprescindíveis ao jurista.

Construiu-se o presente estudo, primeiramente, apresentando o que são


fundamentos jurídicos, para depois apresentar as principais correntes de
pensamento jurídicas, para por fim chegar às considerações finais da pesquisa

A partir do século XIII este cenário começa a mudar, especialmente pela redescoberta
do Direito Romano através do Corpus Juris Civilis e de seu estudo nas novas
Universidades (como a Universidade de Bolonha), e a organização feudal começa a
dar espaço aos Estados com a centralização do poder nas mãos do monarca. Esta
centralização do poder cria a necessidade de um Direito que dê conta do problema de
governar grandes territórios com populações heterogêneas e o Direito Romano
aparece como o Direito ideal capaz de unificar as diversas comunidades em Estados,
já que ele era o Direito de um Império com vasto domínio territorial. Assim, há um
renascimento dos estudos romanísticos com a Escola dos glosadores [nota 1] que
considerava o texto romano quase que como "sagrado", limitando-se a realizar
pequenas explicações à margem do texto, chamadas de "glosas". Portanto, começou
a ser formada uma nova classe de juristas a partir do estudo do Direito Romano o que
mudou o pensamento jurídico de um modo local e particular de pensar para um
pensamento de matriz universalizante, isto é, um pensamento que buscava retirar do
Direito Romano padrões aplicáveis de maneira universal.

O Direito Romano passa a ser visto como superior porque sua validade não derivava
dos costumes, mas de uma pretensa correção desse Direito. Isto ocorria porque o
Direito Romano tinha um grau de sofisticação muito maior do que os direitos
consuetudinários da Europa Ocidental. Então, o Direito Romano era utilizado de forma
subsidiária em relação aos direitos consuetudinários locais, existindo, assim, um
equilíbrio, uma harmonização entre os dois Direitos. Entretanto, a partir do século XV,
os juristas passaram a mudar de atitude em relação ao Direito Romano. As glosas
eram explicações fragmentárias e assistemáticas e passaram a ser vistas como
insuficientes. O jurista deveria realizar uma adaptação do texto romano às novas
situações que surgiam. Tratava-se de passar do comentário ao texto (glosa) para o
entendimento dos conceitos abstratos que eram delineados por aquele texto, isto é, o
entendimento dos institutos jurídicos romanos criando um conhecimento cada vez
mais sistematizado e abstrato (Escola dos comentadores [nota 2]).

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Este trabalho buscou apresentar os fundamentos jurídicos, sob o enfoque das
principais correntes jurídicas.
Concluindo, baseado em princípios da natureza humana, o Jusnaturalismo
Racionalista criou uma filosofia que parte de uma leitura empírica antropológica e que
desencadeou na possibilidade de se pensar o ser humano como um ser dotado de
direitos inatos, intrínsecos à sua própria condição. A escola dos comentadores registra
um marco importante na história do direito e seu conhecimento, mas não ficaram
somente na história as suas conquistas, determinados institutos e preconceito estão
ainda vigentes na contemporaneidade ou pelo menos lançaram as bases para os
atuais.

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