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Anne - Breve biografia sobre Marcel Duchamp

Marcel Duchamp foi um importante artista francês que rompeu as fronteiras entre a arte
convencional e objetos do cotidiano. Sua particularidade pelos padrões estéticos
clássicos o levou a conceber suas criações irreverentes e anunciar uma revolução
artística. Duchamp é considerado um dos principais artistas que junto a Pablo Picasso e
Henri Matisse inovaram a arte no início do século XX.

Henri Robert Marcel Duchamp nasceu na cidade de Blainville, na França, no dia 28 de


julho de 1887. Marcel Duchamp, assim ficou conhecido, foi criado na Normandia, em
uma família de artistas. Seu pai foi prefeito de Blainville e sua mãe pintava paisagens
retratando o interior da França. Marcel passava o tempo com a família jogando xadrez,
lendo, pintando e tocando música. Ele tinha muita afinidade com seus dois irmãos mais
velhos, tanto que em 1904, juntou-se a eles em Paris para estudar pintura na Académie
Julian. Seu irmão, Jacques Villon, o apoiou durante seus estudos e Marcel ganhou
alguma renda trabalhando como cartunista. Logo após ter iniciado esse trabalho, passou
rapidamente por todas as tendências como o Impressionismo, Expressionismo,
Fauvismo e Cubismo, sem se comprometer com nenhum deles.

A partir de 1911 começou a pintar telas com influência cubista. É desta fase a obra
"Sonata". Ainda neste ano cria sua primeira obra inovadora, com influência cubista,
"Retrato de jogadores de xadrez".

Em 1913 criou o ready-made (manifestação artística que rompe com o tradicional e


pega objetos práticos para transforma-los em obras de arte). Maior exemplo é a obra
“Fonte”, criada em 1917, a partir de um urinol, que inclusive é sua obra mais polêmica,
que foi assinada por “R. Mutt” e rejeitado pelo júri. A obra só foi aceita quando os
avaliadores tomaram conhecimento do verdadeiro criador da escultura. Seus ready-
mades realmente precederam a fundação do Dadaismo em Zurique. Duchamp foi capaz
de se alinhar com esse movimento e, assim, incluir suas produções artísticas na história
da arte sem mergulhar totalmente no dada.

Mas antes disso, no ano de 1915, Duchamp muda-se para Nova Iorque e inicia aquela
que é considerada sua obra prima, concluída em 1923: “O grande vidro”, composto em
duas partes: “A Noiva Despida Pelos Seus Celibatários”, um diagrama fantástico e
irônico, uma espécie de síntese entre a pintura e a escultura, e o “Moinho de chocolate”.
Em 1916, Marcel se liga aos dadaístas estadunidenses. No ano de 1919, Duchamp cria a
obra “L.H.O.O.Q.”, uma pintura provocativa da “Monalisa” com bigodes e barbicha.

A partir de 1920, o artista adotou uma persona feminina alternativa, se apresentava


como Rrose Selavy. Foi criada para explorar plenamente as ideias de identidade sexual.
Se disfarçar ou usar um nome feminino, mudar sua identidade era também uma forma
dele criar um ready-made. Ele brinca mais uma vez com palavras com esse novo nome,
já que a duplicação da letra “r” se refere a “arrose” (vida molhando) ou uma
transposição fonética de Eros, isso é vida.

Gabi - Marcel Duchamp também experimentou o cinema, como ator ao lado de Man
Ray em Entr’acte, de 1924 (abrindo a janela), que podem ser vistos jogando xadrez entre si em
um telhado parisiense. Dirigido por René Clair,  o curta metragem serve como um retrato de
classe da cena vanguardista parisiense do início dos anos 20.
Em 1927 casa-se com Lydie Sarrazin-Levassor, mas se separa no ano seguinte. A partir
de 1934 estabeleceu fortes laços com o movimento Surrealista que uniu vários artistas
do Dadaísmo. Em 1955 casa-se com Teeny Sattler. Em 1955 recebeu a cidadania
Americana. Pouco a pouco passa a viver recluso junto com sua mulher.

Em seus últimos anos, ele evitou os olhos do público, preferindo jogar xadrez com
convidados selecionados até sua morte. Duchamp era um jogador obsessivo: nos muitos
momentos de reclusão, jogava por correspondência com pessoas desconhecidas –
“Saiba que o xadrez é minha droga”, disse, certa vez, em carta enviada de Buenos Aires
para uma amiga em Nova York: “Sinto que estou pronto para transformar-me num
desses maníacos que não fazem outra coisa a não ser jogar xadrez. Tudo ao meu redor
toma a forma de cavalo ou rainha, e o meu exterior só tem interesse para mim se suas
transformações levam a perder ou ganhar posições”. Duchamp, que chegava a ficar
cinco horas resolvendo problemas de posição, também traduziu livros e até escreveu
sobre xadrez – livro que hoje se transformou numa obra rara duchampiana.

A crítica radical de Duchamp às instituições de arte fez dele uma figura ímpar para
gerações de artistas que, como ele, se recusaram a seguir o caminho de uma carreira
artística convencional e comercial. Embora seu trabalho tenha sido admirado por seu
amplo uso de materiais e meios artísticos, é o impulso teórico da produção eclética, mas
relativamente limitada de Duchamp, que explica seu impacto crescente em ondas
sucessivas dos movimentos de vanguarda do Século  XX e artistas individuais que
reconheceram abertamente sua influência.
 
Marcel Duchamp faleceu em Neuilly-sur-Seine, França, no dia 2 de outubro de 1968,
aos 81 anos.

Abraão – Ideias e Propostas


Imagine ir ao museu e visualizar um “mijadouro”, um urinol, objeto produzido com a
finalidade de que nele se despeje urina. Pois isso aconteceu. Em 1917, o artista francês
Marcel Duchamp (1887-1968) inscreveu a obra “Fonte” na exposição da Associação de
Artistas Independentes de New York. Depois de alguns desentendimentos entre os
membros da comissão julgadora, o trabalho foi aceito, uma vez que a proposta do
evento era expor todas as obras inscritas. Este episódio teve um grande impacto no
mundo da arte, com consequências que se fazem sentir até os dias de hoje.

Mas o que será que Duchamp pretendia ao colocar um mictório no museu e ainda dar a
ele o nome de “Fonte”? Por que ele converteu um objeto que era visto de uma forma
lírica e até idealizada, em outro, cujo destino era receber dejetos? Para entender seus
motivos, precisamos voltar ao contexto em que o artista estava inserido: o das
vanguardas europeias, conjunto de movimentos artísticos que sacudiu a Europa nas
primeiras décadas do século XX. Todos esses movimentos questionavam a arte como
era feita até então, predominantemente acadêmica. Diante disso, Marcel, então, começa
a difundir o “Dadaísmo”, movimento que tinha como objetivo romper o tradicionalismo
artístico, como tentativa para a desconstrução do conceito de arte da época (assunto
muito abordado em nossas aulas).

Em 1913, Duchamp realizou um dos primeiros ready-mades, A Roda da Bicicleta. Ele


choca não apenas por ser algo “feio” no museu, mas principalmente porque não foi feito
pelo artista, e sim comprado numa loja. É um objeto comum, de uso cotidiano, que
qualquer pessoa poderia comprar. Duchamp inaugurou o uso de objetos
industrializados, produzidos em série, no lugar da obra feita pelas mãos do artista.
Criava, assim, a noção de ready-made, que teve grande impacto na arte. Porque, até
então, a habilidade em fazer algo com as próprias mãos era condição para ser artista.
Mas isso não correspondia mais a uma sociedade que produzia artefatos em série, nas
indústrias. A arte precisou mudar para refletir as mudanças ocorridas em seu tempo.

A importância das obras de Duchamp para a arte contemporânea foi imensa. Por
exemplo, elas possibilitaram a introdução de objetos da vida cotidiana no lugar dos
materiais tradicionais, algo que é muito comum nas práticas artísticas da segunda
metade do século XX. Outro aspecto fundamental é que, ao tirar o fazer artístico da
esfera do artesanal, Duchamp transforma o artista num propositor de ideias e práticas.
Na maioria de suas obras, Marcel propõe o diálogo sobre o que é a arte e qual posição a
arte, como forma de automatização dos consumidores, pode criar reflexões sobre o
mundo. A arte foi tornando-se, assim, cada vez mais conceitual. E a obra de arte perdeu
seu aspecto quase sagrado e único, para converter-se em um jogo entre artista e público.
Um desafio, muitas vezes cheio de ironia, que nos leva a pensar no que a arte de ontem
e a de hoje podem vir a significar.

Gabi – Processo de Criação


Ao ser questionado sobre seu processo de criação em especial sobre os ready-mades,
Marcei Duchamp afirmou: — Isto dependia do objeto; em geral, era preciso tomar
cuidado com o seu look. É muito difícil escolher um objeto porque depois de quinze
dias você começa a gostar dele ou a detestá-lo. É preciso chegar a qualquer coisa com
uma indiferença tal que você não tenha nenhuma emoção estética. A escolha do ready-
made é sempre baseada na indiferença visual e, ao mesmo tempo, numa ausência total
de bom ou mau gosto.

Em 1911, Duchamp deixa claro, em seu trabalho, uma inovação radical e suas buscas
oscilam entre uma pintura de traços simbolistas e uma versão do cubismo 54
absolutamente pessoal. Diz ele “[...] o cubismo só me interessou por alguns meses; no
final de 1912, eu já pensava em outra coisa” (FILIPOVIC, 2008, p.29).

Processo de criação da obra La Mariée mise à nu par sés Célibataires même (A noiva
despida por seus celibatários, mesmo)
Inicia logo depois, quando fez uma viagem a Munique, o quadro La Mariée (A noiva),
uma justaposição de elementos de aparência mecânica ao mesmo tempo sensual em tom
rosado pêssego e castanho esverdeado. Começa assim o processo de criação para uma
de suas obras mais insólitas, La Mariée mise à nu par sés Célibataires même (A noiva
despida por seus celibatários, mesmo), conhecida como O Grande Vidro. Declara o
artista: “Pensei que, como pintor, era melhor ser influenciado por um escritor que por
outro pintor. E Roussel me mostrou o caminho” (FILIPOVIC, 2008, p. 33).

Ou seja, seu processo de criação, colocando como principal o ready-made (até porque é
sua principal estratégia de fazer artístico), consiste em um tipo de objeto feito com um
ou mais elementos do dia a dia, que ao serem produzidos em massa são selecionados
sem considerar nenhum critério estético e depois expostos como obras de arte em
museus e galerias. Ducham também diz que o que importa, não é a criação, mas a ideia
de seleção.

Dani – Obras
Duchamp acreditava que a habilidade técnica não deveria ser o único críterio
para se avaliar um trabalho artístico, mas que a ideia e a proposta do artista
também deveriam ser consideradas. Para ele, a definição do que é ou não arte
não deveria obedecer somente a opnião de profisissionais e estudiosos ou
apenas o gosto do público. Ele enxergava o artista como um pesquisador que
ampliava seus horizontes e apresentava inovações que poderiam causar
diferentes reações no público e na sociedade. Seus pensamentos são vistos
até hoje como a semente da arte conceitual que já vimos em aula como a
vertente artística que é uma tendencia na arte contemporânea e enxerga uma
obra muito além dos materiais e técnicas usadas para produzí-la, mas como a
apresentação ou manifestação de uma ideia ou conceito. Separamos, então,
algumas obras dele para apresentarmos e vocês conhecerem um pouco mais
sobre esse grande artista.

1. Paisagem em Blainville –  Essa é uma de suas primeiras pinturas e retrata sua cidade
natal. Foi pintada em 1902 e refletia o amor de sua família por Claude Monet. Hoje está
localizada no Museu de Arte da Filadélfia.
2. Jogo de Xadrez – Obra produzida em 1910. Declarou o artista: “Ainda sou uma
vítima do xadrez. Ele tem toda a beleza da arte e muito mais. Não pode ser
comercializado. O xadrez é muito mais puro do que a arte em sua posição social” Hoje
se encontra no Museu de Arte da Filadélfia.

3. Sonata – A obra foi produzida em 1911 e vemos as formas geométricas da pintura


cubista, além da fragmentação. Quatro pessoas se encontram nessa tela, uma delas é
uma professora que está de pé, outra é uma menina que aparece tocando violino
enquanto outra está tocando um teclado, e temos outra mulher sentada.

4. Retrato de jogadores de xadrez – Foi produzida em 1911 e é Considerada sua


primeira obra inovadora com influencia cubista.
5. Nu descendo a escada (1912) - É considerada a primeira obra de destaque de
Duchamp. Ela foi produzida em 1912 e por mais que apresente características abstratas,
ela representa uma figura descendo as escadas. A tela chegou a ser inscrita em uma
exposição para ser exibida juntamente com obras cubistas, mas foi rejeitada por
apresentar características consideradas “futurísticas”. Posteriormente, ela participou de
uma mostra cubista no Galeries J. Dalmau, em Barcelona ainda em 1912. No ano
seguinte, durante uma exibição em Nova York no ArmoryShow, a obra
causa polêmica e, justamente por conta disso, se torna um enorme sucesso. Hoje a obra
se encontra exposta no Museu de Arte da Filadélfia.

6. Roda de Bicicleta - A obra foi produzida em 1913 e é considerada seu primeiro-


ready-made. De acordo com Duchamp, não era arte, mas apenas algo para se ter em
uma sala, muito parecido com um apontador de lápis. Em retrospecto, Duchamp
também viu  Roda de Bicicleta como um trabalho de transição ou experimental que se
interpôs entre seus ready-made mais “claramente estabelecidos” de anos posteriores e
suas pinturas anteriores. Principalmente porque era uma obra com a qual se podia
interagir, ou seja, a roda podia ser girada. Duchamp explicou: “Ver aquela roda girando
era muito reconfortante, muito reconfortante, uma espécie de abertura de avenidas para
outras coisas além da vida material de todos os dias . Gostei da ideia de ter uma roda de
bicicleta em meu estúdio. Gostei de olhar para ela, assim como gostei de olhar as
chamas dançando na lareira.” 
7. Um barulho secreto ou Ruído Oculto -O ready-made produzido em 1916 é uma
manifestação radical da intenção de Marcel Duchamp de romper com a artesania da
operação artística, uma vez que se trata de apropriar-se de algo que já está feito: escolhe
produtos industriais, realizados com finalidade prática e não artística. Essa obra em
especial, foi produzida juntamente com o  Walter Arensberg, que era seu amigo e
colecionador de arte.  Eles retiraram os parafusos e colocaram um objeto dentro do rolo
de barbante entre as duas placas de metal e não revelaram a ninguém qual seria este
objeto. O segredo se mantém até hoje, a única coisa que sabemos é que quando se
balança o trabalho ele faz um barulho, que pode ser de moeda ou um diamante. 

Anne – Obras

8. A Fonte 1917 – A maior explosão da sua carreira  está sem dúvida nessa obra, onde
transformou um mictório  à categoria de obra de arte. É aí que o ready-made encontra a
sua essência e domina radicalmente a arte do século XX. Essas peças “já feitas”, estão
prontas e são uma dádiva de Deus para o artista que entrega um conceito por conta
própria, explicou Duchamp.

A obra foi submetida à Sociedade de Artistas Independentes de 1917 sob o pseudônimo


de R. Mutt. O R inicial significava Richard, gíria francesa para “sacos de dinheiro”,
enquanto Mutt se referia à JL Mott Ironworks, a empresa com sede em Nova York, que
fabricava o mictório de porcelana. Depois que a obra foi rejeitada pela Sociedade sob o
fundamento de que era imoral, os críticos que a defenderam contestaram essa afirmação,
argumentando que um objeto foi investido de um novo significado quando selecionado
por um artista para exibição. Testando os limites do que constitui uma obra de arte, A
Fonte estabeleceu novos fundamentos. O que começou como uma brincadeira
elaborada, se transformou em um projeto que provou ser uma das obras de arte mais
influentes do século XX. Hoje ela está conservada no Museu Nacional de Arte Moderna
de Paris.
9. Série Bottle Rack 1914 – é uma edição de oito racks de garrafas assinados por
Duchamp. Em 1913, Duchamp se perguntou: “Alguém pode fazer uma obra de arte que
não seja uma obra de arte?” No caso desse ready-made, um rack de metal para secar
garrafas de vinho, a resposta é sim. Ele afirmou que o ato de escolha de um artista é
suficiente para transformar qualquer objeto funcional em uma escultura sem função –
daí o termo “ready-made”, um objeto encontrado ou manufaturado cujo propósito
anterior é anulado, devido à nova classificação do objeto pelo artista. Foi alterado
conceitualmente. Para um mundo da arte que valorizava a evidência da mão e do
trabalho do artista, o valor de choque do ready-made era alto. Além disso, o objeto
acumulou associações adicionais, incluindo uma relação simbólica com a Torre Eiffel e
conotações eróticas associadas às pontas vazias da prateleira.

10. A Noiva despojada de seus solteiros – A obra faz parte do projeto “O Grande
Vidro” já mencionado. Essa instalação de maquinário encaixado entre painéis de vidro
foi o primeiro “manifesto estético” de Duchamp, marcando sua rejeição às obsessões
pictóricas antiquadas com agradar aos olhos, em uma teoria que ele chamou
de “Estremecimento retiniano”. A noiva despojada de seus solteiros,  investigou
tematicamente o erotismo e o desejo, o que era típico em sua obra. Hoje ela se encontra
no Museu de Arte da Filadélfia.
11. Mona Lisa. LHOOQ.  – Mona Lisa em LHOOQ (O título remete à pronúncia
francesa das letras, “Elle a chaud au cul”, que se traduz aproximadamente como “Ela
tem uma bunda gostosa”.) A obra foi produzida em 1919 e ao dotar a Mona Lisa de
atributos masculinos, ele alude a Leonardo a suposta homossexualidade e gestos sobre a
natureza andrógina da criatividade. Duchamp está claramente preocupado aqui com as
inversões de papéis de gênero, que mais tarde vêm à tona nos retratos de Man Ray do
artista vestido como seu alter ego feminino, Rrose Selavy. Hoje a obra se encontra no
Museu de Arte da Filadélfia.

11. Sendo dado (Étant donnés) – é uma instalação desenvolvida entre 1946 e 1966 em Nova
York que foi mantida em segredo por anos.  Instalada atrás de uma pesada porta de madeira que
foi encontrada na Espanha e enviada para Nova York, a peça consiste em um diorama visto
através de dois orifícios para os olhos . A cena retrata uma mulher nua, possivelmente morta,
com as pernas abertas, segurando um lampião a gás aceso. Uma paisagem montanhosa, baseada
em uma foto tirada por Duchamp na Suíça, cria o cenário de fundo. Construído em segredo por
um período de mais de vinte anos, Etant donnes é considerado a segunda grande obra de
Duchamp. À primeira vista, a obra é uma referência direta à pintura de Gustave
Courbet, Origem do Mundo, de 1866. Ainda assim, considerando mais de perto, a peça pode ser
vista como uma reflexão sobre as fronteiras entre artista e espectador, como um meio de
questionar a autoconsciência ou como uma meditação sobre o propósito espiritual através do
simbolismo de uma lâmpada acesa. Este é o último grande trabalho pronto do artista. Ela só foi
revelada um ano após sua morte! Mais surpreendente ainda é o fato de que a modelo que posou
para o quadro foi provavelmente a escultora brasileira Maria Martins, com quem o artista se

relacionou entre 1946 e 1951, acredita? Hoje a obra se encontra no Museu de Arte da Filadélfia.

Dani – Momento Gossip


Entre 1946 e 1969, tempo em construiu a obra "Étant Donnés", inspirada em sua paixão
por Maria Martins, Marcel Duchamp escreveu 35 cartas à amante. Essa troca de
correspondências permaneceu desconhecida até o início desta década, quando herdeiros
de Martins decidiram vender o conjunto de cartas à Fundação Duchamp. O jornal Folha
de São Paulo traduziu 5 delas e como durante o nosso ano trabalhamos muito esse
assunto, escolhemos uma para ser lida e por meio dela podermos conhecet ainda mais
da intimidade do artista.

Nova York, 1946 ou 1947

Quinta-feira à noite

Apesar de tudo que você diz, eu gosto dessa solidão no ateliê, solidão que no fundo não
passa de uma revisita à minha própria individualidade, dando a sensação de liberdade
entre quatro paredes. Mas, se você quiser ser uma com essa minha liberdade, há espaço
para dois e uma liberdade ainda maior nascerá disso, já que a sua protegerá e aumentará
a minha, espero, e vice-versa. Você tem um problema de suscetibilidade a resolver
_asseguro-lhe que se em cada momento suscetível você aplicar uma pomada de
confiança absoluta, o resultado será doce e lhe curará docemente dessa herança
suscetível de seus ancestrais.

Você já me conhece o suficiente para saber que pela primeira vez na minha vida tenho
em relação a você uma aceitação completa, sem rebelião de qualquer sorte, que cheguei
a lhe amar puramente, ou seja, sem os artifícios de vaudeville que em geral
acompanham as tribulações amorosas de duas pessoas.
Tenho ânsia de ouvir as histórias do mar. Tento imaginar e construir o que posso a partir
de sua carta bastante explícita da praia, mas o principal é o som da sua voz que falam
muito mais do que qualquer explicação que você possa dar. Poderia até dizer que sua
voz mudou como a de um menino de 14 anos. E que a grande e profunda alegria que sai
dela, tenho certeza, é a expressão de uma felicidade distante recém-nascida.

É preciso também que nossos "eus" estejam sempre de acordo e que evitemos as trocas
mundanas de antagonismos conjugais (nada necessárias).

Espero que essa carta chegue no sábado pela manhã. Mando por avião na sexta-feira
pela manhã.

Dani – Parte 2 – Ação – “Tela em Branco”


A proposta da ação é que você se transforme em uma tela em branco. Primeiramente,
vista-se com roupas brancas, mas de modo que partes de corpo como suas pernas e
braços fiquem visíveis. Após, isso procure produtos ou elementos que possam manchar,
pigmentar (um exemplo seria terra, caldo de beterraba, pitaia, urucum). A intenção é
que você não use tintas tradicionais. Vá até um lugar movimentado (uma praça, por
exemplo) e ao chegar nesse lugar coloque uma placa escrito “Tela em Branco” próximo
de onde você está juntamente com os materiais que servirão como tinta. A intenção é
que as pessoas que passarem por você tenham a liberdade de usar seu corpo como uma
tela e desenhar ou escrever aquilo que elas desejarem. O tempo da ação será ditado pelo
tempo em que as pessoas levarão para fazerem suas pinturas.

Referências:

IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Fonte, Marcel Duchamp. História das


Artes, 2022. Disponível em: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-
professores/fonte-marcel-duchamp/>. Acesso em 10 Jan 2022

https://www.todamateria.com.br/marcel-duchamp/

http://repositorio.ufes.br/bitstream/10/2258/1/tese_4062_ROSANA%20LUCIA
%20PASTE.pdf

https://arteeartistas.com.br/biografia-de-marcel-duchamp-e-suas-principais-obras/

https://m.folha.uol.com.br/ilustrada/2010/05/734599-leia-cartas-de-marcel-
duchamp-a-artista-brasileira-maria-martins.shtml

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