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abolição da escravatura no Brasil aconteceu em 13 de maio de 1888,


por meio da Lei Áurea e ratificou a extinção do trabalho escravo dos
negros em nosso país. A abolição da escravatura foi o resultado de um
processo de luta popular, que contou com a adesão de parcelas
consideráveis da sociedade brasileira, além de ter sido marcada pela
resistência dos escravos. O Brasil foi o último país das Américas a
abolir com a escravidão.
Causas
A abolição do trabalho escravo do Brasil foi o resultado final de
um processo longo, lento e difícil de muitas lutas. O fim do uso da
mão de obra escrava em nosso país não foi resultado do humanismo ou
da benevolência da família real brasileira, conforme muitos acreditam,
mas aconteceu porque um grande número de pessoas de nossa
sociedade mobilizou-se para forçar o Império a pôr fim ao trabalho
escravo.
A abolição da escravatura no Brasil aconteceu por meio da:
 Resistência realizada pelos próprios escravos ao longo do
século XIX;
 Adesão de parte da nossa sociedade à causa por meio de
associações abolicionistas;
 Mobilização política dos defensores do abolicionismo.
Além disso, havia a questão dos novos padrões civilizacionais que
estavam surgindo e que condenavam a prática do trabalho escravo. Isso
colocava o Brasil numa posição vexatória, internacionalmente, uma vez
que no continente americano o país foi o último a abolir a escravidão.
Essa questão, porém, é apenas secundária, e o processo de abolição só
foi possível por conta da luta dos escravos.
Acesse também: Três grandes abolicionistas negros brasileiros
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Contexto histórico
A abolição do trabalho escravo é um assunto que atravessou a história
do nosso país e do mundo ao longo do século XIX. Uma questão que
estava diretamente ligada com a abolição da escravidão era a proibição
do tráfico negreiro. No caso do nosso país, esse era um assunto em
evidência, antes mesmo da independência.
Já no período joanino, havia negociações entre Portugal e Reino Unido
para que o tráfico negreiro fosse abolido em definitivo. Essas
negociações estenderam-se depois que o Brasil conquistou
sua independência, e o reconhecimento do Brasil, enquanto nação, só
aconteceu por meio de um compromisso assumido por nosso país de
que o tráfico ultramarino seria proibido, em 1830.
A partir desse compromisso, saiu uma lei, em 1831, que proibia o tráfico,
mas as autoridades brasileiras faziam vistas grossas e, apesar da
proibição, os cativos africanos continuaram a chegar ao Brasil em grande
quantidade. O historiador Carlos Eduardo Moreira Araújo aponta que,
entre 1831 e 1845, cerca de 470 mil africanos chegaram ao Brasil por
meio do tráfico ultramarino|1|.
A negligência das autoridades brasileiras em não reprimir o tráfico
negreiro fez a Inglaterra tomar uma medida radical chamada Bill
Aberdeen, que colocava em jogo a soberania das águas brasileiras, e
que quase levou Inglaterra e Brasil à guerra. Para evitar um maior
desastre, os políticos brasileiros optaram por aprovar uma nova lei
proibindo (novamente) o tráfico negreiro no Brasil. Essa foi a Lei
Eusébio de Queirós, implantada no país, no ano de 1850.
Essa lei teve aplicabilidade imediata e foi acompanhada de uma
grande repressão governamental que fez com que o tráfico negreiro se
enfraquecesse e deixasse de existir rapidamente. Com a proibição do
tráfico ultramarino, foi intensificado, no Brasil, o tráfico interprovincial, isto
é, a venda de escravos realizada internamente, entre províncias.
O caminho para a abolição ainda foi muito longo e foram necessários
38 anos para que a escravidão dos negros fosse abolida em nosso país.
Nesse período, a resistência dos grandes proprietários escravocratas foi
intensa no meio político, o que fez com que o nosso processo de
abolição da escravatura acontecesse de maneira muito gradual.
O movimento abolicionista, por sua vez, só ganhou força a partir da
década de 1870, e o fortalecimento do abolicionismo fez com
que algumas leis fossem aprovadas no Parlamento brasileiro: a Lei do
Ventre Livre e Lei dos Sexagenários. Veja o que cada uma dessas leis
determinou:
 Lei do Ventre Livre (1871): determinava que todo filho de
escravo nascido após 1871 seria considerado livre, cabendo
ao dono do escravo dar sua liberdade com oito anos de idade
(recebendo indenização), ou aos 21 anos de idade (sem
receber indenização).
 Lei dos Sexagenários (1885): concedia alforria aos escravos
que possuíssem idade superior a 60 anos. Os escravos
alforriados ficavam obrigados por lei a prestar “serviços
indenizatórios” durante três anos.
Ambas as leis atendiam demandas importantes para os escravocratas: a
demanda por indenização dos cativos (seja por meio de trabalho
compulsório, seja por meio de um valor específico) que garantiam sua
liberdade e o enfraquecimento temporário dos movimentos abolicionistas.
A Lei dos Sexagenários, por exemplo, foi encarada pelos abolicionistas
da época como uma verdadeira derrota para a causa.
A década de 1880 foi um momento de grande agitação política e a
abolição do trabalho escravo foi a pauta que agitou a sociedade
brasileira. O movimento abolicionista tinha ganhado uma força muito
grande e a causa foi abraçada por inúmeros grupos de nossa sociedade.
As associações abolicionistas espalhavam-se pelo país e atuavam em
diversas frentes: legais e ilegais (à luz da legislação da época).
Um grupo notável de pessoas
como Luís Gama, José do Patrocínio, André Rebouças, Aristides Lo
bo, Manuel Quirino, entre outros, atuava firmemente na defesa da
causa abolicionista. A mobilização de parte da sociedade na defesa da
abolição ocorreu de diversas formas, e os escravos eram muitas vezes
incentivados a se rebelar, eram abrigados por pessoas quando fugiam e
defendidos nos tribunais por advogados.
Houve casos de delegacias e portos que foram atacados por pessoas
comuns, pois aprisionavam escravos fugidos para devolvê-los a seus
donos. Essas pessoas que atacavam esses locais resgatavam os
escravos e os libertavam. Além disso, a propaganda pelo abolicionismo
ocupou espaços importantes, e intelectuais, gozando de sua posição,
faziam anúncios em jornais defendendo a causa.

Na década de 1880, a camélia branca tornou-se um grande símbolo da causa


abolicionista.
A adesão ao abolicionismo e a propaganda da causa espalharam-se de
tal forma pela sociedade brasileira que, nos grandes centros do país,
a camélia branca tornou-se um símbolo de adesão ao abolicionismo. As
pessoas que cultivavam a flor em sua casa ou portavam um broche de
camélia branca em sua roupa anunciava publicamente seu apoio ao
abolicionismo.
A abolição da escravatura, porém, não aconteceu somente por meio da
luta realizada pela parcela não escravizada de nosso país. A resistência
dos escravos foi fundamental, pois, como pontua o historiador João
José Reis, impôs limite aos horrores cometidos por seus opressores|2|.
Os escravos revoltavam-se de diversas maneiras.
A forma mais comum de resistência dos escravos era as fugas e, na
década de 1880, surgiram vários quilombos que abrigavam os escravos
fugidos. As cidades do Rio de Janeiro e de Santos ficaram notabilizadas
pela grande quantidade de quilombos que surgiram nos seus arredores.
Esses quilombos eram usados para organizar rotas de fuga, abrigar
outros escravos e organizar outras formas de resistência.
Houve casos em que os escravos rebelados tomavam o controle da
propriedade na qual eram escravizados e matavam seus senhores. Em
muitos locais, os escravos organizavam-se para se rebelar nos “dias
santos”, isto é, dias de festas religiosas ou de missas. Tudo isso reforça
uma visão trazida pelos historiadores de que os escravos foram agentes
ativos na luta pela emancipação.
Assim, dentro desse contexto, a ação do Estado em manter a escravidão
tornou-se ineficaz. O sinônimo do enfraquecimento da escravidão no
Brasil foi as ações tomadas no Amazonas e no Ceará, em 1884. Esses
dois estados decretaram a abolição da escravatura em seus territórios.
A defesa do abolicionismo havia ganhado força na sociedade brasileira e,
além disso, a resistência dos escravos africanos tornou a manutenção da
escravidão impossível, porque as revoltas e fugas eram tão frequentes
que colocavam em “risco” a ordem interna do país. Assim, a mobilização
dos escravos e dos grupos abolicionistas forçou o Império a abolir com a
escravidão, em 1888.
Dia da abolição
Nesse contexto, foi levado para o Senado o projeto que defendia a
extinção imediata e sem indenização da escravidão no Brasil. Esse
projeto foi proposto por João Alfredo, político do Partido Conservador. A
lei foi aprovada no Senado e, no dia 13 de maio de 1888, foi levada para
a princesa Isabel para que ela assinasse, colocando-a em vigor.
A princesa regente do Brasil assinou a Lei Áurea no dia mencionado, e a
capital do Brasil – na época o Rio de Janeiro – entrou em festa. Os
relatos resgatados pelos historiadores contam que milhares de pessoas
reuniram-se nas ruas do Rio de Janeiro e as comemorações pela
abolição estenderam-se na capital durante dias.
Acesse também: Saiba sobre o surto de industrialização que o
Brasil viveu no Segundo Reinado
Abolição da escravatura no mundo
Como mencionamos no começo do texto, a questão da abolição do
trabalho escravo foi uma pauta que atravessou o século XIX e foi um
assunto relevante em diferentes partes do mundo. O avanço dos ideais
liberais e a defesa da liberdade e dos direitos dos homens deram reforço
aos movimentos que defendiam a abolição do trabalho escravo.
No continente americano, a primeira questão de destaque foi a proibição
do tráfico negreiro. O primeiro país a proibir o tráfico ultramarino de
escravos foram os Estados Unidos, em 1808. Os britânicos fizeram o
mesmo em suas colônias, no mesmo ano, e os holandeses fizeram isso
em seus territórios, em 1815.
Um caso de abolição do trabalho escravo de destaque na América foi
o caso haitiano, que ocorreu em 1794. A agitação causada
pela Revolução Francesa aliada a uma insatisfação reprimida durante
anos por um sistema de exploração escravocrata extremamente cruel
levaram a uma rebelião de escravos sem precedentes na história do
continente. A revolta dos escravos haitianos conduziu o país à sua
independência, em 1804.
Em 1833, a Inglaterra aboliu a escravidão em suas colônias na
América, mas a transição gradual dessa abolição fez com que ela se
estendesse até 1840. A abolição da escravatura nos Estados Unidos foi
dramática e aconteceu por meio de uma guerra entre os Estados do
Norte e do Sul por conta da questão que envolvia a expansão do
trabalho escravo para os territórios no Oeste.
A derrota dos Estados Confederados (sulistas) fez com que eles fossem
obrigados a aceitar a abolição da escravatura que aconteceu em 1865.
Os países da América Espanhola realizaram a abolição da escravatura
em seus territórios, entre as décadas de 1820 e 1850. Em Porto Rico, a
abolição aconteceu em 1863 e em Cuba a abolição só aconteceu por
conta da resistência dos escravos que a forçou acontecer, em 1886.

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