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AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

MANUAL DE
BOAS PRÁTICAS
DE MANEJO DO
ALGODOEIRO
EM MATO GROSSO

JEAN- LOUIS BÉLOT & PATRICIA M. C. A. VILELA


EDITORES TÉCNICOS

4a EDIÇÃO - 2020

CUIABÁ (MT)
SAFRA 2019/2020
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

SAFRA 2019/2020
Manual de Boas Práticas de PARCERIAS E AGRADECIMENTOS
Manejo do Algodoeiro em
Mato Grosso O presente manual é o resultado de um trabalho coletivo que
envolveu técnicos das seguintes instituições:
EDITOR
IMAmt • IMAmt - Instituto Mato- Universidades
Grossense do Algodão • UFMT
www.imamt.com.br
Ampa • Fundação MT • USP/Esalq Piracicaba
www.ampa.com.br • Embrapa Algodão • Unesp - Campus Botucatu
• Embrapa Agropecuária Oeste • UNESP - Campus Ilha
EDITORES TÉCNICOS • Embrapa Instrumentação Solteira
Jean-Louis Bélot
• Embrapa Milho e Sorgo • UFGD
Patricia M. C. A. Vilela
• Embrapa Cenargem • UNIVAG
PROJETO GRÁFICO • Cirad - Centre de • UniRV
Editora Casa da Árvore Coopération Internationale • UNOESTE
editoracasadaarvore.com.br en Recherche Agronomique
pour le Développement
• IAC - Instituto Agronômico Empresas privadas
PUBLICAÇÃO
4ª edição - Revista e ampliada de Campinas • Centro Brasileiro de
2.000 exemplares • IAPAR - Instituto Agronômico Bioaeronáutica (CBB)
do Paraná • Dutra Projetos Ltda
ISBN • SENAI/CETIQT • JF Consultoria
978-85-66457-06-3 • Fundação Blumenauense • Ceres Consultoria

CONTATO Participantes dos grupos de trabalho para definição de diretrizes sobre


Rua Eng. Edgard Prado Arze, Manejo de Pragas e Doenças e sobre Sistemas de Cultivos:
1777 Ed. Cloves Vettorato - Jonas Souza Guerra, Cid Ricardo dos Reis, Gustavo D. F. Gianluppi, Elton
2º andar, Quadra 03 J. Emanuelli, Guilherme A. Ohl, Luis Faeda, Volnei Viera, Francis Weber,
Setor A - Centro Político Carlos Paiva, Marcio Souza, Daniel Cassetari e Inácio Modesto Filho.
Administrativo
CEP: 78049-015 O Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt) informa que todos os
Cuiabá - MT depoimentos, informações e opiniões contidas neste Manual são de intei-
ra responsabilidade dos autores que contribuiram para sua elaboração.

Agradecemos por suas valiosas contribuições.

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PALAVRA DO PRESIDENTE

Informação e conhecimento
para o setor algodoeiro
Cinco anos se passaram Acreditamos que a pu-
desde a segunda edição de blicação dessas velhas e
2014 do “Manual de Boas novas informações técnicas
Práticas de Manejo do Al- permite colocar à disposi-
godoeiro em Mato Grosso” ção de estudantes, técni-
e chegou a hora da atualiza- cos, consultores e demais
ção desta publicação, tarefa envolvidos na produção
que encarregamos à equipe algodoeira um acervo de
Paulo Sérgio Aguiar
técnica do IMAmt. conhecimento indispensá- Presidente
Precisamos ficar sem- vel para a sustentabilidade Ampa - IMAmt
pre atentos à evolução dessa atividade produtiva.
dos problemas da cultura Muitas pessoas e ins-
algodoeira e aos diversos tituições colaboraram na
manejos disponíveis. Al- construção desta reedição,
gumas práticas evoluíram às quais quero manifestar
significativamente, como o meus agradecimentos em
manejo do nematoide-das- poder tê-los como parcei-
-galhas, com a comerciali- ros e, em especial, à equipe
zação de variedades resis- do IMAmt, para que pudés-
tentes. Outras, nem tanto, semos finalizar esta publi-
como é o caso do manejo cação. Esperamos que, em
do bicudo-do-algodoeiro, relação a tudo aquilo que
que segue sendo a praga- não abordamos ou sobre o
-chave de nosso cultivo. O que não haja concordância
uso do controle biológico com o tipo de abordagem
se está difundindo cada vez feita, possamos receber a
mais nesses últimos anos e devida crítica a fim de que,
constitui-se em ferramenta cada vez mais, consigamos
suplementar ao produtor. evoluir nas novas edições.

MANUAL DIVULGA INFORMAÇÕES


TÉCNICAS A PRODUTORES E É
RESULTADO DO TRABALHO DE
DIVERSAS INSTITUIÇÕES E SUAS
EQUIPES DE PESQUISA

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

QUEM SOMOS

O Instituto Mato-Grossense
do Algodão tem o propósito
de oferecer total suporte as
pesquisas necessárias para
o desenvolvimento e forta-
lecimento da cotonicultura.
Além de profissionais alta-
mente capacitados, possui
uma ampla infra-estrutura
no campo experimental em
Primavera do Leste, e nos
cincos centros técnicos e
difusão tecnologica (CTDT)
distribuidos no estado. O
IMAmt conta com laboratóri-
os de biologia molecular,
fitopatologia, sementes e
entomologia, estrutura para
beneficiamento, armazena-
mento de sementes, deslin-
tamento, câmaras frias.

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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO

PARTE A: CONTEXTO EDAFO-CLIMÁTICO E ECONÔMICO PARA O CULTIVO ALGODOEIRO


1. O cultivo algodoeiro em Mato Grosso .....................................................................................................................10
2. Produtividade do cultivo algodoeiro em Mato Grosso - chuva, solo e época
de plantio ............................................................................................................................................................................20
3. Gestão operacional e custo de produção de algodão em Mato Grosso ......................................................32

PARTE B: SOLOS E SISTEMAS DE PRODUÇÃO PARA O ALGODOEIRO


4. Sistemas de cultivo do algodoeiro ............................................................................................................................58
5. Sistemas alternativos em plantio direto de alta performance ........................................................................64
6. Manejo de solo para o cultivo do algodoeiro ........................................................................................................72
7. Agricultura de precisão: tecnologias para o algodoeiro ....................................................................................78
8. Levantamento da área, amostragem de solo e de folhas ..................................................................................98

PARTE C: A PLANTA DE ALGODÃO


9. Crescimento do algodoeiro .......................................................................................................................................104
10. Distribuição da produção no algodoeiro: conceitos, fatores ecofisiológicos e
implicações sobre a produtividade e sobre a qualidade de fibra ...............................................................112

PARTE D: IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA DE ALGODÃO


11. A qualidade das sementes .........................................................................................................................................136
12. Escolha da variedade ...................................................................................................................................................156
13. Implantação da cultura ...............................................................................................................................................170

PARTE E: CONDUÇÃO DA LAVOURA


14. Correção de solo e adubação da cultura .............................................................................................................182
15. Tecnologia de aplicação para a cultura do algodão .........................................................................................194
16. Sistemas avançados de tecnologia de aplicação na defesa fitossanitária ...................................................204
17. Manejo de plantas daninhas na cultura do algodão ..........................................................................................230
18. Controle de doenças no algodoeiro em Mato Grosso .....................................................................................246
19. Manejo integrado de pragas no algodoeiro ........................................................................................................262
20. Manejo de nematoides na cultura do algodão em Mato Grosso ................................................................292
21. Manejo de reguladores de crescimento em Mato Grosso .............................................................................312
22. Manejo de desfolha ......................................................................................................................................................320
23. Destruição dos restos culturais do algodoeiro ...................................................................................................326

PARTE F: PRODUÇÃO DE UMA FIBRA DE QUALIDADE


24. Maximizar a rentabilidade do cultivo algodoeiro, produzindo uma fibra de qualidade e
valorizando os coprodutos ........................................................................................................................................340
25. Uso adequado das colheitadeiras ...........................................................................................................................352
26. Preservar a qualidade da fibra no beneficiamento .............................................................................................366
27. A fibra de algodão: qualidade e classificação .....................................................................................................382
28. Valorização dos coprodutos do algodão ...............................................................................................................400

PARTE G: MANEJO SUSTENTÁVEL DO CULTIVO ALGODOEIRO


29. Como limitar o impacto do cultivo algodoeiro sobre o meio ambiente ..................................................412
30. Controle biológico como ferramenta do manejo integrado de doenças e pragas do algodoeiro ..........424

Referências bibliográficas .............................................................................................................................................444


Informação sobre os autores .......................................................................................................................................450

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

INTRODUÇÃO
Atualmente, a cultura algo- as recomendações de manejo,
doeira mato-grossense é toda a fim de enfocar este material
JEAN-LOUIS mecanizada, empregando um nas próprias recomendações,
BÉLOT manejo da cultura altamente que possam servir no dia a dia
tecnificado. É o resultado de dos técnicos das fazendas al-
mais de vinte anos de trabalho, godoeiras. Portanto, orienta-
associando o próprio produ- mos os leitores interessados nas
tor, as instituições de pesquisa referências bibliográficas em
públicas e privadas, os consul- contatar diretamente os autores.
tores e as empresas nacionais e As tecnologias evoluem ra-
internacionais de insumos e de pidamente, razão pela qual
máquinas. estamos apresentando esta
A complexidade do manejo edição 2020 atualizada do
PATRICIA M. C.
A. VIELA desse cultivo justifica o grande “Manual de Boas Práticas”,
número de suportes de difusão editado pela primeira vez em
de tecnologia para facilitar a rea- 2012, com atualização em 2014.
Pesquisadores lização de treinamentos e capa- Ele apresenta as principais
do IMAmt
Editores Técnicos
citações, tanto para os agrôno- recomendações técnicas para o
do Manual mos como para todo o quadro Estado de Mato Grosso, visan-
técnico das fazendas. O trei- do manejar com sucesso essa
namento contínuo dos jovens cultura muito exigente em
profissionais é um dos elemen- tecnologia.
tos-chave para a continuidade Depois de um cenário de au-
dessa atividade produtiva. mento significativo de área na
Empenhados nesse esforço safra 2018/2019, o produtor en-
de difusão de tecnologia, a As- frenta agora perspectivas de re-
sociação Mato-Grossense dos dução dos preços internacionais,
Produtores de Algodão (Ampa) e questionamentos surgem so-
e o Instituto Mato-Grossense do bre a lucratividade da cultura.
Algodão (IMAmt) conseguiram Acreditamos que o presente
mobilizar esforços dos mais di- manual seja uma ferramenta
versos especialistas em mane- importante para o cotonicul-
jo do algodoeiro para publicar tor mato-grossense assegurar
este “Manual de Boas Práticas” boa produtividade e a lucrati-
para o manejo do algodoeiro no vidade de sua lavoura.
Estado de Mato Grosso. Todos Agradecemos mais uma
os autores foram orientados a vez o esforço de todos os co-
simplificar ao máximo os con- legas e amigos envolvidos na
ceitos científicos que embasam realização deste manual.

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

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CONTEXTO

EDAFOCLIMÁTICO E
ECONÔMICO PARA O CULTIVO ALGODOEIRO

Onde e por que produzir algodão em Mato Grosso


A decisão de produzir algodão tem de estar embasada em dados objetivos
de potencial produtivo da região, média interanual das produtividades
realizadas nas fazendas vizinhas, e, sobretudo, na rentabilidade esperada
do cultivo ou do sistema utilizado. Em Mato Grosso, o potencial produtivo
do cultivo algodoeiro é geralmente elevado. Mas sua expressão fica na
dependência da disponibilidade de água e calor, o que envolverá decisões
importantes em relação à época de semeadura e sistema de produção.
Apesar de ser mais reduzida que em outros estados, a variabilidade
climática pode ser importante em Mato Grosso, em certos períodos, e é
de fundamental importância para o produtor avaliar o risco produtivo
da sua fazenda e até de cada talhão da fazenda. Por outro lado, o cultivo
algodoeiro requer equipamentos específicos e investimentos elevados na
lavoura e para as operações de colheita e pós-colheita. O conhecimento do
balanço econômico do cultivo em cada fazenda deverá nortear as decisões
estratégicas e de planejamento. São apresentadas orientações sobre como
organizar a fazenda para levantar todos os dados necessários para a avaliação
dos custos de produção e cálculos de rentabilidade do negócio.

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

O cultivo algodoeiro em Mato Grosso


Uma breve história do cultivo poucos insumos e tecnologia.
algodoeiro no Estado de Mato Grosso O cultivo moderno começou em
1988 (Itamarati Norte), com a pro-
Renato
O cultivo algodoeiro no Estado de Mato posta do algodão como alternativa
Tachinardi
IMAmt Grosso é antigo. Desde os anos 1960, pe- de rotação para a cultura da soja. Esse
quenos agricultores da região de Rondo- novo modelo produtivo, de algodão
Equipe dos nópolis, Pedra Preta (e depois na região mecanizado em áreas de Cerrado, de-
Assessores de Cáceres, Mirassol do Oeste etc.) plan- senvolveu-se nos anos 1990 e não
Técnicos tavam ao redor de 10 mil a 20 mil ha de parou de crescer até Mato Grosso tor-
Regionais algodão cada ano, no modelo de produ- nar-se o primeiro Estado produtor de
(ATRs) ção antigo, com colheita manual e uso de algodão do Brasil (Figura 1).
IMAmt
(Fonte: Conab, 2019)

Figura 1. Evolução da área algodoeira de Mato Grosso

A área algodoeira do Brasil, desde A partir da safra 2009/2010, Mato


2003/2004, oscila entre 800 mil e 1,4 Grosso representa mais de 50% dessa
milhão de hectares, cultivados prin- área, com média de 66,7% nas últimas
cipalmente no Centro-Oeste do país. três safras. Tudo indica que o Estado
Chegou a 1,6 milhão de hectares em manterá esse patamar nos próximos
2018/2019. anos.

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Evolução do cultivo algodoeiro e do sistema evolução das áreas e do manejo do cultivo.


produtivo em Mato Grosso nos últimos anos Na safra 2018/2019, houve um aumento signi-
Os agrônomos do IMAmt (ATR) encarregados da ficativo de área, superando 1 milhão de hectares,
assistência técnica nos diversos núcleos produtores com incorporação de novos produtores, princi-
de algodão da Associação Mato-Grossense dos Pro- palmente nos núcleos de Campo Verde e de Sor-
dutores de Algodão (Ampa), realizam a cada ano um riso. Porém, os maiores produtores de algodão em
levantamento detalhado da área plantada, em Mato Grosso são os núcleos do norte do Estado
cada fazenda. Essa base de dados, da Ampa, per- (Figura 2); Norte e Noroeste são os núcleos de
mite gerar informações muito precisas sobre a maior produção algodoeira de MT.
(Fonte: Ampa, 2019)

Figura 2. Peso relativo dos diferentes núcleos na produção algodoeira de Mato Grosso

Essa Figura 2 mostra a perda de peso dos nú- 2010 (Figura 3), em parte pela conjuntura interna-
cleos produtores do Sul do Estado, apesar de cional desfavorável ao cultivo, e provável redução
uma leve mudança no núcleo Centro-Leste, que de uso de insumos, além de fatores climáticos.
se aproveitará no futuro do grande potencial de Desde 2011, essa tendência inverteu-se. Atual-
crescimento do Vale do Araguaia. A perda de peso mente, a produtividade obtida em Mato Grosso e
do núcleo Sul deve-se principalmente ao aumen- no Brasil, no geral, é uma das mais elevadas do
to dos problemas fitossanitários nessa região, em mundo para um cultivo de sequeiro. Apesar
particular dos nematoides. da média de produtividade chegar a 1.675 kg
Depois de aumentar drasticamente, em razão de fibra/ha (Conab, 2019), não é raro encon-
da adoção de um novo modelo de produção in- trar fazendas com talhões produzindo entre
tensivo e mecanizado, a produtividade teve ten- 350 @ a 400 @ de algodão em caroço/ha (2.150 kg
dência em estagnar ou até reduzir-se entre 2007 e a 2450 kg de fibra/ha).

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Fonte: Conab, 2019)

Figura 3. Evolução da produtividade (Fibra/ha) no Brasil e Mato Grosso

Diversos sistemas de cultivo são encontrados em Mato Grosso (Figura 4).

Figura 4. Os principais sistemas de cultivo em Mato Grosso

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Nos últimos anos, a proporção do algodão cultiva- expõe a preocupação do produtor mato-grossense
do em segunda safra aumentou muito (Figura 5), o que em intensificar a produção agrícola em suas terras.
(Fonte: Ampa, 2019)

Figura 5. Evolução da área de algodão de segunda safra em Mato Grosso

Essa tendência fica ainda mais nítida quando precoce do algodão de segunda safra. Assim,
se observa o atraso do plantio de algodão nos 43,3% das áreas foram plantadas na primei-
últimos anos (Figura 6). Atualmente, a maioria ra quinzena de janeiro, e 34,6% na segunda
da área de Mato Grosso é plantada em janei- quinzena de janeiro, com pouca coisa semea-
ro, enquanto que, alguns anos atrás, o mês de da em fevereiro. O prolongamento das chuvas
dezembro era geralmente o de maior plantio de em abril-maio de 2019 teve por resultado al-
algodão. Durante a safra de 2018/2019, as con- tíssimas produtividades no núcleo Noroeste,
dições climáticas permitiram um plantio preco- até superiores às produtividades obtidas no
ce da soja, liberando as áreas para implantação Estado da Bahia.

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
BOASPRÁTICAS
PRÁTICAS

(Fonte: Ampa, 2019)

Figura 6. Data de semeadura do algodão em Mato Grosso

Nas quatro últimas safras, o algodão em função dos tipos de solos do Cerrado,
de segunda safra representa ao redor de que requerem aportes elevados em cor-
85% da produção algodoeira do Estado retivos e fertilizantes, e das condições de
de Mato Grosso. O aumento de produti- clima tropical úmido, muito favoráveis a
vidade nas quatro últimas safras apresen- pragas e doenças.
tado na Figura 3 refere-se principalmen-
te ao aumento de produtividade desse Evolução do uso das biotecnologias
algodão de segunda safra, com ajustes no cultivo algodoeiro em Mato Grosso
de manejo para esse sistema de segunda O uso de variedades GM de algodoei-
safra. ro em Mato Grosso teve início por volta dos
Os custos de produção do algodão anos 2008 (Figura 7), com as tecnologias
em Mato Grosso são elevados (ao redor RR (Roundup Ready®) e BG (Bollgard I®) da
de US$ 2.000-2.400/ha), principalmente Monsanto.
(Fonte: Ampa, 2019)

Figura 7. Variedades de algodão GM em Mato Grosso

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O grande salto no uso de variedades GM deu-se ferramentas importantes para o controle de


na safra 2010/2011, com a adoção de variedades plantas daninhas resistentes a certos herbici-
com a tecnologia Liberty Link® (LL) (Figura 8) de das usados em sistema convencional (leiteiro,
resistência ao herbicida glufosinato de amônio, por exemplo).
(Fonte: Ampa, 2019)

Figura 8. Evolução da tecnologia LL no algodoeiro em Mato Grosso

Essa tecnologia foi substituída rapidamen- tarde, pelas tecnologias RF (Roundup Ready
te pelas tecnologias WideStrike® (que permite Flex®) e GL, com maior janela de aplicação em
usar o glufosinato na fase vegetativa de desen- relação à fenologia da planta, associadas à re-
volvimento do algodoeiro) (Figura 9) e, mais sistência ao glifosato.
(Fonte: Ampa, 2019)

Figura 9. Evolução da tecnologia WS no algodoeiro em Mato Grosso

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MANUAL DE DE
MANUAL BOAS PRÁTICAS
QUALIDADE DA FIBRA

Em termo de tecnologias de resis- Com a aparição da Helicoverpa ar-


tência aos lepidópteros, a tecnologia migera, o WideStrike® vem cedendo
WS, carregada por germoplasmas mui- espaço às biotecnologias de segunda
to produtivos e de ampla adaptação geração (Bollgard II® e TwinLink®- GLT),
(FM 975WS e TMG 81WS), ocupou mui- que ocupam mercado significativo nos
to mercado, mas vem cedendo espaço últimos 3-4 anos (Figura 10).
os últimos anos.
(Fonte: Ampa, 2019)

Figura 10. Evolução das tecnologias B2RF e GLT no algodoeiro em Mato Grosso

Ao longo desses anos, por diversas As Figuras 11 e 12 apresentam as


razões, algumas das tecnologias GM principais variedades usadas para plan-
perderam parte de sua eficiência de tio no Estado de Mato Grosso na safra
controle. Spodoptera frugiperda tornou- 2018/2019; a Figura 11 mostra as princi-
-se praga-chave no sistema de cultura pais tecnologias usadas, na qual obser-
soja-algodão-milho, o que estimulou a vamos que o WideStrike® perde espaço
comercialização, em 2018, da primei- para as tecnologias Bollgard IIRF® e GLT/
ra variedade com a tecnologia VIP3a GLTP, porém ainda sobrevive pelas qua-
(GLTP). lidades agronômicas do germoplasma

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IMAmt2018
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que carrega (FM 975WS e TMG 81WS). Da crescimento importante da tecnologia GL (va-
mesma forma, o germoplasma sustenta o riedades FM 944GL e IMA 2106GL).
(Fonte: Ampa, 2019)

Figura 11. Porcentagem de uso das diversas tecnologias em Mato Grosso. Safra 2018/2019
(Fonte: Ampa, 2019)

Figura 12. Principais variedades plantadas em Mato Grosso - Safra 2018/2019

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS PRÁTICAS
QUALIDADE DA FIBRA

Perfil do cotonicultor mato-grossense encarregada da comercialização dos


e organização da cadeia produtiva produtos gerados pelo IMAmt.
Os produtores de algodão de Mato Recentemente, o CTDT de Rondonó-
Grosso são muito bem organizados e polis foi equipado com uma miniusina de
representados pela Ampa e pela As- descaroçamento de algodão (Figura 13),
sociação Brasileira dos Produtores de ferramenta única na América do Sul,
Algodão (Abrapa). Outras instituições, para realizar capacitações, formações e
criadas pelos produtores, vêm comple- treinamentos de profissionais do ramo
mentando esse esquema de apoio. de beneficiamento do algodão.
O Instituto Mato-Grossense do Al- O produtor de algodão de Mato Gros-
godão (IMAmt), braço tecnológico da so é altamente tecnificado e estrutura-
Ampa, desenvolve trabalhos de pes- do. Muitas fazendas, além de possuírem
quisa sobre os diversos cultivos de in- parque de maquinário específico para o
teresse dos produtores de algodão e cultivo (colheitadeiras “picker” ou “stri-
realiza numerosas ações de treinamen- pper”), são equipadas com unidades de
to e extensão agrícola para os técnicos beneficiamento próprias. Esse alto nível
das fazendas, ações de prevenção de de investimento específico e elevado
incêndios nas algodoeiras e adequação custo de produção justificam investi-
das fazendas à legislação trabalhista e mentos elevados em treinamento de re-
ambiental. Esse dispositivo é comple- cursos humanos, principalmente para o
mentado pela Comdeagro, cooperativa manejo a campo e na indústria.
(Imagem: Jean-Louis Bélot)

Figura 13. Miniusina de descaroçamento do IMAmt no CTDT de Rondónopolis

Referências bibliográficas: entrar em contato com o autor

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Produtividade do cultivo algodoeiro


em Mato Grosso - chuva, solo e
época de plantio
José Holanda
Campelo Júnior
UFMT Avaliando o efeito da chuva sobre a mecanizadas, sem contar que pode
produtividade reduzir a produtividade, pois reduz a
quantidade de luz necessária para a fo-
Para alcançar uma produtividade tossíntese. A água da chuva precisa ser
compensatória, o algodoeiro necessita suficiente para atender às necessidades
de uma proporção harmoniosa de chu- da cultura agrícola à medida que o ci-
va e sol na primeira metade do ciclo de clo de vida vegetal transcorre, ficando
produção e da ausência de chuva no disponível no solo a cada dia, apesar do
final, depois da abertura dos capulhos. consumo da planta e da evaporação.
Em Mato Grosso, muitas vezes, após Desse modo, num mesmo local, em di-
Ricardo Santos
a colheita de uma primeira safra de ferentes anos e mesmo em diferentes
Silva Amorim
UFMT produção de grãos, a época de semea- épocas do ano, a quantidade adequada
dura do algodão estende-se geralmen- de água depende não somente do total
te do início de janeiro até o final de fe- de chuva ao longo dos dias, mas tam-
vereiro, de modo a conciliar-se com a bém da insolação, do vento, da tempe-
distribuição de chuvas na região, que ratura, da umidade do ar, do tamanho
são mais abundantes em janeiro e di- da planta, do espaçamento utilizado no
minuem gradualmente até maio. cultivo e da capacidade do solo em re-
Dificuldades na disponibilidade de ter e fornecer a água para as plantas.
máquinas e equipamentos e na aquisi- Para avaliar a quantidade adequada
ção de insumos, ou mesmo na realiza- de chuva, é necessário realizar a conta-
ção de operações agrícolas no período bilidade da água por meio do balanço
mais chuvoso, podem causar atrasos na hídrico do solo durante todo o ciclo de
semeadura, trazendo riscos de redução produção, em intervalos de tempo de
da produtividade, que será constatada uma a duas semanas, preferencialmen-
somente ao final da colheita. te em intervalo de dez dias. Isto pode
A importância da chuva para as plan- ser feito ano a ano, para ir acompa-
tas cultivadas comercialmente decorre da nhando como a lavoura está evoluin-
participação da água em diversos proces- do em uma safra, mas também pode
sos fisiológicos, como no transporte de ser feito quando se pretende planejar,
nutrientes minerais no solo para absor- antes de iniciar a lavoura. No primei-
ção pelas raízes, na abertura e fechamen- ro caso, durante o ciclo de produção
to dos estômatos que regulam a saída de daquele ano, é necessário determinar
água pela transpiração e a entrada de gás a capacidade de armazenamento de
carbônico para a realização da fotossínte- água do solo em cada talhão de culti-
se. Entretanto, o aumento da quantidade vo, medir a umidade do solo a cada dez
de chuva nem sempre resulta em aumen- dias e medir diariamente todas aquelas
to de produtividade da lavoura. Chuva em variáveis meteorológicas já menciona-
demasia pode encharcar o solo, dificul- das, sobretudo a chuva. Se, no entan-
tando a aeração das raízes e as tarefas to, o interesse for o planejamento que

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antecede a semeadura, é necessário dispor de Resultados do Zoneamento do risco de


um histórico do total de chuva cada dez dias, deficiência hídrica para o algodoeiro
ano a ano, na própria fazenda ou nas imediações. adensado em Mato Grosso
O IMAmt e a UFMT analisaram dados históricos Os resultados deste trabalho foram apresen-
de chuva, insolação, vento, temperatura, umida- tados na forma de mapas, que podem ser acessa-
de do ar e hábito de crescimento das variedades dos em http:www.sergeo.ufla.br/sergeo/sergeo,
cultivadas em Mato Grosso, em três classes de no link Projetos, acessando “Zoneamento do ris-
capacidade do solo em reter a água, de modo co de deficiência hídrica para o algodoeiro aden-
a obter o balanço hídrico do solo cada dez dias, sado em Mato Grosso”.
ano a ano, em 119 localidades na região, o que Os mapas disponíveis levam em consideração
possibilitou prever a redução de produtividade três tipos de variedades (precoces, intermediá-
esperada em três de cada quatro anos, no culti- rias e tardias), solos com capacidade de arma-
vo do algodoeiro adensado, provocada por defi- zenamento de água de 100, 150 e 200 mm, e
ciência na quantidade de chuva em Mato Grosso, semeadura realizada entre 1º de janeiro e 20 de
com 75% de segurança, portanto. fevereiro. Neles, na escala em que lhes for con-
A comparação entre a produtividade obtida veniente, os produtores e técnicos podem obter
em 11 talhões de cultivo comercial no ano de as informações que julgarem necessárias ao seu
2010 e a produtividade calculada pelos méto- planejamento.
dos utilizados no zoneamento demonstrou que Para utilização dos mapas, as variedades pre-
os procedimentos utilizados no estudo realiza- sentes no mercado podem ser classificadas de
do pelo IMAmt e pela UFMT foram adequados. acordo com a Tabela 1.

Tabela 1. Classificação das variedades de algodoeiro cultivadas atualmente em Mato Grosso

Precoce Intermediária Tardia

FM 906GLT TMG 44B2RF TMG 81WS


TMG 61RF TMG 47B2RF  FM 701
TMG 62RF IMA 2106GL FM 975WS
FM 913GLT IMA 5801B2RF FM 983GLT
IMA 6801B2RF FM 985GLTP
FM 940GLT IMA 8405GLT
FM 944GL IMA 8001WS
FM 954GLT DP 1746B2RF
BRS 432B2RF 
DP 1536B2RF
DP 1637B2RF

Outro dado importante para o uso dessa ferramenta pelo produtor é a capacidade do solo em reter a
água disponível de cada talhão (CAD, em mm) em que se pretende realizar o cultivo do algodoeiro.

21
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Roteiro para determinação da redução de produtividade


nos mapas do Zoneamento do risco de deficiência hídrica
do algodoeiro adensado em Mato Grosso

No caso de haver necessidade de determinar a redução de produtividade


em uma localidade, utilizando os mapas do Zoneamento do risco de
deficiência hídrica do algodoeiro adensado em Mato Grosso, deve-se
proceder da seguinte maneira:
Acesse o portal www.sergeo.ufla.br/sergeo/sergeo; no link Projetos,
acesse “Zoneamento do risco de deficiência hídrica para o algodoeiro
adensado em Mato Grosso ”;
Desmarque o quadrado referente a: 10 Fev (ciclo precoce - 100 mm);
Selecione o mapa desejado. Ex: 20 Fev (ciclo tardio - 200 mm);
Clique nas iniciais do mês (ex.: Fev), para abrir a legenda de valores de
queda de rendimento correspondentes aos tons de cinza;
Clique no botão XY, localizado na barra da parte superior do mapa
(GoToLocation), e digite a longitude e a latitude do local do qual queira
determinar a queda de rendimento, com sinais negativos (ex.: longitude = x
-56,3526; longitude = y -11,2162);
Clique no botão Pan To, para se deslocar para o local procurado;
Dê tantos cliques no botão Zoom To quantos forem necessários para que
a área da tela em que está o mapa se reduza a uma única tonalidade de cinza;
Anote a faixa de queda de rendimento da legenda que está associada à
tonalidade única de cinza encontrada (ex.: 0,34 a 0,43, isto é, 34% a 43%).

Figura 1. Redução de produtividade de algodoeiro em Mato Grosso, para uma cultivar de


ciclo precoce, com plantio em 1º de janeiro, para solos com capacidade de armazenamento
de água de 100 mm

22
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Determinação da capacidade do solo em um conteúdo de água que o solo ainda conser-


reter água (CAD) va quando as plantas mostram, pela primeira vez,
A capacidade do solo em reter água disponível sinais de murchamento definitivo, que é chama-
para as plantas (CAD, em mm) deve ser determi- do de umidade equivalente ao ponto de murcha
nada para cada camada homogênea que for iden- permanente (PMP), ou seja, é o teor de água no
tificada no solo, levando em consideração a den- solo abaixo do qual uma planta em crescimento
sidade aparente (d, em mg.m-3); a espessura (H, ativo apresenta perda de turgescência das folhas
em m); e as umidades equivalentes à capacidade da qual não se recupera, mesmo quando coloca-
de campo (CC, em kg.kg-1) e ao ponto de murcha da em ambiente escuro com atmosfera saturada.
permanente (PMP, em kg.kg-1), de cada camada, A condição de murcha permanente não deve
segundo a expressão: ser confundida com o murchamento temporário,
que ocorre todas as vezes que a taxa de transpira-
CAD= (CC-PMP) * d * H * 1000 ção é maior que a taxa de absorção de água pelas
raízes, coisa frequente em horários mais quentes e
CC: capacidade de campo (CC, em kg.kg-1) secos, mas que desaparece à noite. Desta forma, a
PMP: ponto de murcha permanente (PMP, em umidade equivalente ao ponto de murcha perma-
kg.kg-1) nente pode ser considerada como o limite mínimo
d: densidade aparente do solo (d, em mg.m-3, da água armazenada no solo que será usada pelos
ou t.m-3, ou g.cm-3, ou em kg.l-3) vegetais. Apesar de o conceito de PMP ser aceitável
H: espessura de cada camada homogênea de e útil para a maioria das plantas cultivadas, seu va-
solo explorada pelas raízes do algodão (H, em m) lor depende do tipo de solo (textura, mineralogia e
matéria orgânica do solo) e deve ser encarado com
A capacidade de campo e a densidade apa- reservas quando se trata de plantas com capacida-
rente são obtidas em cada talhão de produção na de de extrair água além desse limite.
própria fazenda. Existem na literatura diferentes métodos para
obtenção dos valores das umidades equivalentes
A umidade equivalente à capacidade de cam- à capacidade de campo e ao ponto de murcha per-
po corresponde ao teor de água no solo depois manente. No entanto, por questões de praticidade,
que o excesso de água tenha sido drenado e a indicam-se a seguir um método direto (de campo),
taxa de movimento descente tenha sensivelmen- um método indireto de laboratório, um método in-
te diminuído. Isto ocorre num período de 24 a 72 direto utilizando outros atributos do solo (funções
horas para solos arenosos e de 72 a 120 horas para de pedotransferência), e a possibilidade de essas
solos argilosos. Esta umidade representa a quan- informações serem encontradas em banco de da-
tidade máxima de água que pode ficar retida no dos de levantamentos pedológicos.
solo, mas nem todo o volume fica disponível para O método direto de determinação da umida-
as plantas; é uma característica intrínseca do solo de equivalente à capacidade de campo consiste
e é influenciada principalmente pelas caracterís- na retirada de uma amostra de solo indeformada,
ticas de textura, estrutura, mineralogia e teor de com auxílio de um cilindro rígido. Na Figura 2, é
matéria orgânica do solo. possível observar um cilindro de PVC e a infraes-
Em laboratório, alguns pesquisadores têm uti- trutura necessária para a coleta de uma amostra
lizado como umidade equivalente à capacidade desse tipo, com um volume aproximado de 18 l
de campo a quantidade de água retida no solo de solo. O cilindro rígido pode ser de metal, como
sob sucções de 33 kPa, 10 kPa ou 6 kPa. Para solos o de uma embalagem em que a tampa e o fundo
argilosos, utilizam as menores tensões e, para are- tenham sido retirados, e o volume de solo pode
nosos, as maiores sucções ou tensões. ser menor. Porém, para alguns solos, amostras
Como a planta gasta energia para retirar água menores que 1 l podem não ser representativas.
do solo, ela não consegue extrair toda a água que De qualquer forma, é importante que o volume
está retida na capacidade de campo, pois parte interno do cilindro seja conhecido.
dela está retida com uma energia superior àquela Após a retirada desta amostra, ela será co-
que a planta consegue exercer. Desse modo, há locada em uma bacia com água, cuja função é

23
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

permitir a saturação completa do solo


por ascensão capilar, ou seja, de baixo
para cima, garantido, assim, que todos
os poros estejam cheios de água. Estan-
do o solo saturado, coloca-se o cilindro
em local que permita a drenagem do
excesso de água (água gravitacional)
e impeça a evaporação direta. Assim
que a drenagem do excesso de água do
solo no cilindro terminar, a quantidade
de água que ainda permanecer no solo
equivale à máxima quantidade de
água que o referido solo consegue re-
ter para as plantas, ou seja, à umidade
equivalente à capacidade de campo.
O tempo para cessar a drenagem do
excesso de água na coluna pode va-
riar de 24 a 72 horas, dependendo
principalmente do teor de argila do
solo, sendo que, para solos argilosos,
a drenagem é mais lenta.
A umidade do solo no cilindro equi-
A
valente à capacidade de campo poderá
ser obtida determinando o teor de água
no solo, que, por sua vez, pode ser obti-
do pelo método da pesagem, utilizando
uma amostra do solo do cilindro. Antes
de retirar essa amostra de avaliação da
umidade, no entanto, é necessário pesar
o cilindro com o solo e sem o solo, para
determinar a massa úmida total somen-
te de solo (MU), que permitirá estimar
a densidade aparente, já mencionada
como necessária para encontrar a CAD.
Retira-se então uma amostra do solo do
cilindro que alcançou a capacidade de
campo e determina-se a massa do solo
úmido (MSu) e a massa do solo seco
(MSs), em uma balança, após a amostra
permanecer em estufa, em um forno
micro-ondas, ou de outro tipo, na tem-
peratura de 105°C, durante 24 horas. O
valor da CC é dado por:
B
CC= (PSu-PSs)
PSs Figura 2. Exemplo demonstrativo de
cilindro com solo (A) do aparato para
A densidade aparente, d, em mg.m-3, introdução do cilindro no solo (B, C e D)
ou t.m-3, ou g.cm-3, ou em kg.l-3, é a mas-
sa seca total somente de solo contida no

24
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

cilindro, dividida pelo volume interno do cilindro


(V), e pode ser obtida por:

MU
d = 1 + CC
V
O ponto de murchamento permanente obtido
em cada talhão de produção na própria fazenda
O método direto ou biológico para determi-
nação da umidade equivalente ao ponto de mur-
cha permanente (PMP) consiste basicamente na
utilização da própria planta para indicar a umida-
de do solo abaixo da qual ela não consegue ex-
trair água no solo em quantidade suficiente para
manter-se túrgida.
Este método pode ser aplicado em ambiente
protegido na fazenda (viveiro, estufa, galpão, etc.)
utilizando-se como plantas indicadoras feijão,
girassol, soja e sorgo. O girassol, em particular, é
considerado como planta padrão universal. Mas,
se possível, é mais recomendável a utilização da
C cultura a ser conduzida no solo em questão.
Para este método, utiliza-se solo destorroado
e passado em peneira de 2,0 mm (terra fina seca
ao ar, ou TFSA - 2,0 mm) coletado na profundida-
de de interesse (profundidade efetiva das raízes da
cultura de interesse). Em seguida, coloca-se esta
TFSA em tubos de PVC com 10 cm de diâmetro e
21 cm de altura, deixando-se um centímetro para
atingir a borda. Este solo deve ser adequadamente
adubado conforme exigência da cultura que será
utilizada. Em seguida, distribui-se cinco sementes
por vaso da espécie a ser cultivada e mantém-se
a umidade do solo igual à umidade equivalente à
capacidade de campo (CC). Desta forma, a cultura
terá condições de solo (nutricional e hídrica) ideais
para o seu desenvolvimento inicial. Após a germi-
nação e o crescimento inicial (o tempo necessário
depende da espécie trabalhada), faz-se o desbaste
deixando-se apenas uma planta por recipiente.
Após o desbaste, com o auxílio de uma balan-
ça, deve-se continuar mantendo a umidade do
D solo igual à CC, até que as plantas apresentem o
sistema radicular bem desenvolvido (presentes
em todo o volume de solo), o que geralmente
ocorre quando a plântula apresenta o 4º ou 5º par
de folhas definitivas. Neste momento, aplica-se
água ao solo até sua saturação e, posteriormente,
faz-se a impermeabilização da superfície com

25
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

filme plástico ou parafina fundida, para de execução desses procedimentos, da


impedir que ocorra evaporação direta demanda de usuários pelo serviço e da
da água do solo, tomando-se o devido quantidade de laboratórios capacita-
cuidado para não afetar as plantas. Des- dos para este fim. Nesse caso, o primei-
te ponto em diante, a perda de água do ro passo é a coleta de amostras de solos
solo se dará unicamente por absorção de forma adequada e representativas
das raízes e transpiração das folhas e, das condições edáficas a que estejam
desta forma, começará propriamente o submetidos os talhões com a cultura
teste para determinação do PMP. do algodão. As amostras deverão ser
Assim que as plantas apresentarem coletadas em camadas de 20 em 20 cm,
os primeiros sintomas de murcha, de- até onde forem encontradas raízes da
ve-se colocá-las em ambiente úmido e cultura, ou até a profundidade de 100
escuro, onde permanecerão até recu- cm, se não for realizada uma sondagem
perarem a turgescência. Caso isso ocor- para verificar a presença de raízes.
ra, as plantas devem ser novamente As amostras devem ser indeformadas
deixadas no local de condução do ex- (amostras de solo com estutura natural)
perimento. Este procedimento deve ser e representar uma porção de terra com
repetido até que as plantas não recupe- a mesma disposição e o mesmo arran-
rem a sua turgescência, ou seja, atinjam jamento das partículas encontrado no
a murcha permanente. perfil do solo no campo. Elas são feitas
Quando as plantas atingirem a este com um amostrador com anel volumé-
estado, deverão ser cortadas rente à trico metálico e de bordos cortantes, que
superfície do solo, removida a imper- é introduzido no solo, sob pressão, com
meabilização (plástico ou parafina) da auxílio de um “castelo”, sendo removido
superfície e realizado o peneiramento a seguir, cuidadosamente, para que o
para separação das raízes e homogenei- solo nele contido não sofra deformações
zação do solo. Posteriormente, retira-se (Figuras 3A, 3B). Com um instrumento
uma pequena porção deste solo homo- cortante, elimina-se o excesso de terra
geneizado e determina-se sua umidade, de ambas as faces do anel (Figuras 3C,
a qual, de forma similar à CC, pode ser 3D). Em seguida, a amostra indeformada
obtida pelo método da pesagem. Esta é retirada do amostrador e se insere um
umidade equivale àquela abaixo da qual novo anel no amostrador, para a coleta
a cultura em teste entrará em murcha em uma nova profundidade ou em outro
permanente, ou seja, umidade equiva- perfil de solo (Figuras 3E, 3F).
lente ao ponto de murcha permanente Em consequência das dificuldades de
para a cultura em teste, dada por: coleta e de transporte das amostras, da
configuração dos equipamentos de labo-
PMP = (PSu-PSs) ratório, dos problemas de tempo mencio-
PSs nados no parágrafo anterior, os laborató-
rios geralmente utilizam anéis de 80 a 100
A capacidade do solo em reter água cm3, apesar da possibilidade de proble-
determinada em laboratórios mas de representatividade de amostras
capacitados para avaliar as de solo com volume dessa ordem.
propriedades hidráulicas do solo Após a coleta das amostras indefor-
A capacidade do solo em reter água madas, elas deverão ser devidamente
pode ser determinada em laboratórios acondicionadas e encaminhadas ao labo-
capacitados para avaliar as proprieda- ratório, para obtenção da densidade apa-
des hidráulicas do solo, onde as análi- rente do solo, da capacidade de campo e
ses podem ser efetuadas em um tempo do ponto de murchamento permanente.
superior a 30 dias, em virtude do tempo Para determinação das umidades

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AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

equivalentes à capacidade de campo (CC) e ao Em que:


ponto de murcha permanente (PMP), as amostras CC = umidade equivalente à capacidade de
são colocadas para saturação em bandejas com campo do solo (kg.kg-1).
água por uma noite. Após a saturação, é feita a PSsat = Peso da amostra de solo saturado (kg).
pesagem das amostras saturadas, que, posterior- PSSTCC = Peso da amostra de solo submetido à
mente, são submetidas às tensões para retirada de tensão de 33 kPa ou 100 kPa depois de cessada a
água até a CC e o PMP. As tensões para obtenção drenagem interna (kg).
da CC são de 33 kPa e 100 kPa para solos de textu- PSSest = Peso da amostra de solo seco em estu-
ra argilosa e arenosa, respectivamente. Enquanto fa a 105°C (kg).
que, para obtenção da PMP, utiliza-se a tensão de PMP = umidade equivalente ao ponto de mur-
1.500 kPa para qualquer tipo de solo. Após a se- cha permanente do solo (kg.kg-1).
cagem das amostras nas respectivas tensões, elas PSSTPMP = Peso da amostra de solo submetido
são pesadas, e a CC e o PMP são obtidos por: à tensão de 1.500 kPa depois de cessada a drena-
gem interna (kg).
A densidade aparente do solo é obtida conhe-
CC = (PSsat- PSSTCC) cendo o volume do cilindro e a massa de solo
PSSest seco que coube dentro do cilindro:

PSSest
d =
PMP = (PSSTPMP- PSSest) Vct
PSSest
Em que Vct corresponde ao volume do cilindro
(cm3).
(Imagem: José Campelo)

A B C

D E F

Figuras 3A, 3B, 3C, 3D, 3E e 3F. Amostrador volumétrico de Kopeck e procedimentos para coleta de amostra
indeformada de solo

27
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

A capacidade do solo em reter água doutorado, livros, boletins de pesquisa,


determinada com informações além de outros meios magnéticos.
disponíveis em trabalhos de O Sistema de Informações Georrefe-
levantamento de solo anteriores renciadas de Solos do Brasil (SigSolos
Na impossibilidade de determinar - versão 1.0) foi estruturado para permi-
em laboratório a densidade aparente tir o armazenamento de informações
do solo, a capacidade de campo e o oriundas de diferentes fontes, níveis
ponto de murchamento permanente, o e escalas de levantamentos de solos,
interessado pode recorrer a um levan- tendo, como base, normas e conceitos
tamento de solos já existente. utilizados na ciência do solo. A primei-
O Brasil tem gerado grande quanti- ra etapa do SigSolos foi concluída com
dade desse tipo de dados por meio de a disponibilização da versão 1.0, para
levantamentos e outros estudos, como o armazenamento de dados, e, atual-
os realizados pelo antigo Serviço Na- mente, já é possível acessar algumas
cional de Levantamento e Conservação informações sobre os solos brasileiros a
de Solos (SNLCS), da Embrapa, e pelo partir da Iniciativa Solos.br, diretamen-
Projeto Radam Brasil. A disponibiliza- te na página da Embrapa Solos na inter-
ção desses dados na forma de mapas, net, no seguinte endereço: http://www.
independentemente de suas escalas, bdsolos.cnptia.embrapa.br.
não fornece toda a informação requeri- Outra base de dados de solos bra-
da pelos usuários, já que a quantidade sileiros pode ser consultada em http://
de dados coletados durante os levanta- www.esalq.usp.br/gerd/Solos_Brasil.
mentos exige um espaço que não cabe mdb, desenvolvida em ambiente Mi-
em mapas ou legendas. Geralmente, o crosoft Access. Em http://www.esalq.
detalhamento desses dados está dis- usp.br/gerd/BrazilSoilDB_08VI05.xls, as
perso em planilhas, relatórios técnicos, informações podem ser encontradas
dissertações de mestrado, teses de em ambiente Microsoft Excel.

Figura 4. Estimativa da capacidade de campo (CC, em


kg.kg-1) e do ponto de murchamento permanente (PMP, em
kg.kg-1), a partir do teor de areia do solo

28
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

A capacidade do solo em reter água É importante ressaltar que o uso da Figura 4 é


determinada com dados de textura ou de restrito aos solos de Mato Grosso, e solos muito
outros atributos do solo, disponíveis em argilosos, com teor de areia inferior a 700 g.kg-1
análises de solo já realizadas antes (menor do que 70%). Para solos mais arenosos,
Nas regiões produtoras de Mato Grosso, a é aconselhável providenciar a coleta de amos-
Figura 4 pode ser utilizada para estimar os va- tras, e o enviá-las ao laboratório, ou determinar
lores de CC e PMP, com base no teor de areia do diretamente na própria fazenda.
solo, até o limite de 700 g.kg-1. Se os valores de densidade aparente, capa-
Um exemplo do uso da Figura 4 é um solo cidade de campo e ponto de murchamento
com um teor de areia de 500 g.kg-1 (ou 50% de permanente forem os que estão na Tabela 2, a ca-
areia). Entre no eixo horizontal da figura, suba pacidade de armazenamento de água dispo-
até a linha PMP e leia o valor de 0,10 kg.kg-1 nível no solo poderá ser calculada para cada
no eixo vertical. O valor correspondente para a camada, que, depois de somadas, totalizarão
linha CC é 0,18 kg.kg-1 no eixo vertical. 108,1 mm.

Tabela 2. Valores de densidade aparente (d, em kg.l-3), capacidade de campo (CC, em kg.kg-1) e do ponto de murchamen-
to permanente (PMP, em kg.kg-1) em camadas de um solo cultivado com algodoeiro
Camadas do solo D CC PMP
Profundidade (m) Espessura (m)
0-0,20 0,20 1,30 0,18 0,10
0,20-0,40 0,20 1,25 0,20 0,11
0,40-0,60 0,20 1,40 0,18 0,10
0,60-0,80 0,20 1,35 0,22 0,14
0,80-1,00 0,20 1,30 0,20 0,12

Camada de 0,00 a 0,20 m: CAD=(0,18-0,10)*1,30*0,20*1000=20,8 mm


Camada de 0,20 a 0,40 m: CAD=(0,20-0,11)*1,25*0,20*1000=22,5 mm
Camada de 0,40 a 0,60 m: CAD=(0,18-0,10)*1,40*0,20*1000=22,4 mm
Camada de 0,60 a 0,80 m: CAD=(0,22-0,14)*1,35*0,20*1000=21,6 mm
Camada de 0,80 a 1,00 m: CAD=(0,20-0,12)*1,30*0,20*1000=20,8 mm
Solo de 0,00 até 1,00 m: CAD=20,8+22,5+22,4+21,6+20,8=108,1 mm

Organize os dados de chuva da fazenda para décimo dia, do décimo primeiro ao vigésimo dia e
aprimorar o zoneamento do vigésimo primeiro ao último dia de cada mês. Os
Um estudo como o “Zoneamento do risco de totais mensais não têm utilidade, porque não revelam
deficiência hídrica para o algodoeiro”, desenvolvi- como a chuva se distribuiu, isto é, se houve períodos
do pelo IMAmt e a UFMT, não pode ser realizado menores de tempo em que houve uma deficiência
com os dados de chuva de apenas uma safra. Ele hídrica significativa, a ponto de prejudicar o desen-
necessita do histórico das chuvas de vários anos, volvimento das plantas, afetando a produtividade.
em diversas localidades distribuídas em todo o Um mínimo de dez anos seria o recomen-
território de sua abrangência. dável para realizar um trabalho de nature-
Nesse ponto, cada fazenda de produção pode- za científica, mas um número menor de anos
ria contribuir para o aprimoramento do trabalho, já permite uma avaliação preliminar do pro-
se informasse os dados de que dispõe. blema. Seria preferível que o histórico não
É importante ressaltar que os dados históri- contivesse falhas de medida, mas, ainda assim, é
cos de chuva de cada ano já transcorrido só têm possível utilizá-lo, desde que sejam informados
utilidade se estiverem organizados por dia do quais os dias em que a medida não foi realizada, ou
ano, ou em somas já totalizadas, do primeiro ao em que o registro tenha sido perdido.

29
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Os dados podem ser enviados Alguns exemplos de estimativa de


para o endereço eletrônico campe- queda de rendimento, usando tabelas
lo@ufmt.br, para que seja analisada a elaboradas com os mapas do zoneamento
homogeneidade e, em caso positivo, A fim de facilitar o acesso aos dados do
se determine qual a probabilidade zoneamento por técnicos das fazendas,
de ocorrência de diferentes totais de foram elaboradas tabelas de queda de
chuva em cada período, que seriam produtividade para dez localidades repre-
enviados ao remetente dos dados, de sentativas da variabilidade das áreas algo-
modo a serem utilizados no plane- doeiras de Mato Grosso. Esses resultados
jamento das atividades na fazenda, foram apresentados na Circular Técnica
além de contribuírem para aprimorar Nº 2/2013 do IMAmt.
o zoneamento. Por exemplo, a Tabela 3 apresenta a
Caso haja interesse e disponibili- estimativa de redução de produtividade
dade, além da chuva, dados de outras de algodão (em três anos cada quatro, o
informações meteorológicas, espaça- que corresponde a uma probabilidade de
mento utilizado na semeadura, de- 75%, ou 25% de risco de uma queda maior
mais práticas de manejo, como época que essa), em sistema adensado na região
e doses de adubação e aplicação de de Alto Taquari (Fazenda Janice), em fun-
defensivos, resultados de laboratório ção do ciclo da variedade, da reserva do
da análise de solo, principalmente as solo e da data de plantio.
classes de textura do solo, datas de Assim, no exemplo de Alto Taquari, com
semeadura e de colheita e produtivi- um solo com CAD de 100 mm, e um enrai-
dade em cada talhão podem ser en- zamento de 1 m, utilizando uma variedade
viados para o mesmo endereço, para tardia semeada em 1º de fevereiro, a estima-
serem analisados, incorporados às va de perda de produtividade seria aproxi-
melhorias que forem sendo introdu- madamente entre 52% e 60%, enquanto
zidas na versão original do estudo, e que com o uso de uma variedade precoce,
encaminhados de volta ao remetente, essa perda seria reduzida entre 41% a 52%.
para serem utilizados como lhe pare- Para assumir a mesma perda com uma
cer mais adequado. variedade tardia, haveria de realizar-se o
plantio no máximo até 20 de janeiro.

Tabela 3. Faixa de redução de produtividade (em %) do algodoeiro adensado, com 75% de confi-
ança, em função do tipo de variedade (precoce, intermediária e tardia), da capacidade de arma-
zenamento de água do solo (CAD de 100, 150 e 200 mm) e da data de semeadura, para as coorde-
nadas de 17°47’0,21’’ de latitude Sul e 53°21’45,89’’ de longitude Oeste (Fazenda Janice, Município
de Alto Taquari, Mato Grosso)
Tardia Intermediária Precoce
Data 200 150 100 200 150 100 200 150 100
20/02 53 a 67 65 a 75 70 a 78 59 a 72 63 a 75 69 a 78 69 a 87 57 a 71 62 a 74
10/02 56 a 69 59 a 71 64 a 74 69 a 86 57 a 70 74 a 87 49 a 64 52 a 67 47 a 56
01/02 50 a 64 53 a 66 52 a 60 48 a 63 52 a 66 49 a 59 43 a 58 34 a 46 41 a 52
20/01 45 a 61 39 a 51 45 a 54 43 a 59 36 a 49 66 a 81 27 a 40 30 a 43 36 a 47
10/01 42 a 56 33 a 46 39 a 49 41 a 55 30 a 43 35 a 45 23 a 36 25 a 38 29 a 40
01/01 25 a 37 28 a 40 32 a 42 23 a 35 25 a 37 29 a 39 20 a 32 20 a 32 24 a 36
(Fonte: http:www.sergeo.ufla.br/sergeo/sergeo)

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AMPA
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IMAmt 2020
2012

Recomendação Final

Uma recomendação que pode ser dedu-


zida dos resultados do zoneamento é a de
que, em caso de impossibilidade de evitar o
atraso na semeadura, os produtores devem
evitar os talhões onde a capacidade de arma-
zenamento de água no solo seja menor, ou
iniciar o plantio por esses talhões e planejar o
uso dos talhões, deixando para o final aque-
les de textura mais argilosa, maior densidade
e onde constatem maior profundidade na
penetração de raízes, portanto, com maior
capacidade de armazenamento de água,
para o final de uma semeadura escalonada.
Esta preocupação deve ser considerada ain-
da mais relevante nas fazendas de produção
localizadas mais ao sul e ao leste do Estado.

Mais informações sobre o sistema adensa-


do podem ser encontradas em:

• O Sistema de Cultivo do Algodoeiro


Adensado em Mato Grosso, IMAmt, 2010
• Sistema de produção do algodão
adensado, Abrapa, 2015

Referências bibliográficas: entrar em


contato com os autores

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Gestão operacional e custo de produção


de algodão em Mato Grosso
1. Motivadores para gerenciar custos necessários para maior eficiência em
Lucilio Rogerio
de produção termos de resultados administrati-
Aparecido
Alves vos. Os indicadores permitem, ainda,
Esalq/USP Como qualquer outro negócio, admi- examinar as características estruturais
nistrar uma fazenda agropecuária — da fazenda, incluindo a evolução do ca-
ou seja, tomar as decisões que garan- pital e sua composição (terra, benfeito-
tam sua rentabilidade e sua segurança rias, rebanhos e culturas permanentes,
econômica — requer uma gama abran- maquinário), a eficiência e o retorno a
gente e detalhada de informações so- esse capital, necessidade de emprés-
bre técnicas e aspectos financeiros. timos e financiamento, capacidade de
Porém, em geral, tais informações cos- oferecer as devidas garantias e pagar
tumam ficar armazenadas somente na os compromissos financeiros decor-
memória do administrador, sem regis- rentes, ou seja, a solvência do negócio.
Geraldo tros formais, dificultando a análise do Dessa forma, pode-se avaliar a situação
Sant’Ana
diagnóstico econômico-financeiro da patrimonial e financeira e a rentabilida-
de Camargo
Barros
propriedade, podendo propiciar um de das empresas rurais.
Esalq/USP quadro potencialmente enganoso do Os relatórios obtidos a partir da con-
desempenho ou da eficiência do admi- tabilidade e da gestão de custos devem
nistrador de um negócio agropecuário. garantir à gerência um fluxo contínuo
Cada vez mais, empresários rurais de informações sobre os mais variados
vêm sentindo a necessidade de conhe- aspectos econômicos e financeiros da
cimentos administrativos mais ade- empresa rural, permitindo a avaliação
quados como condição imprescindível de sua situação atual e comparações
para a própria sobrevivência da em- com o que foi planejado quando as
presa. Esse interesse demanda novas decisões que resultaram no projeto de
tecnologias gerenciais, a começar pela investimento foram tomadas. Tal con-
Mauro Osaki contabilidade rural, que se destaca fronto possibilita a identificação e o
Esalq/USP
como o principal instrumento de apoio controle dos desvios e suas causas, per-
à tomada de decisões durante a execu- mitindo os ajustes necessários frente às
ção e o controle das operações da em- mudanças não previstas no cenário uti-
presa rural. lizado na formulação do projeto inicial.
Os registros podem ser feitos de A contabilidade rural, por meio do re-
forma manual, mas, atualmente, cres- gistro de informações e elaboração de
ce a necessidade do desenvolvimen- demonstrações financeiras e relatórios,
to de sistemas informatizados mais tem as seguintes finalidades:
completos, ágeis e flexíveis. Indepen-
Fábio dentemente da forma, entretanto, • Medir o desempenho econô-
Francisco de indicadores de eficiência devem ser mico-financeiro da empresa
Lima gerados, apontando os pontos fortes e de cada atividade produtiva
Esalq/USP
e fracos, bem como os gargalos que individualmente;
dificultem os ajustes capazes de pro- • Orientar as operações agrope-
piciar sustentabilidade ao negócio cuárias de forma a melhorar o
agropecuário. Em forma de relatórios, desempenho da fazenda;
esses indicadores devem permitir um • Controlar as transações financeiras;
diagnóstico da empresa e os ajustes • Apoiar a tomada de decisões no

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IMAmt 2020
2012

planejamento da produção, das vendas e • Retorno do investimento operacional;


dos investimentos; • A necessidade de aporte financeiro para
• Auxiliar as projeções de fluxo de caixa e ne- reposição da infraestrutura produtiva, ou
cessidade de crédito; seja, a sustentabilidade agrícola.
• Permitir a comparação do desempe-
nho da empresa no tempo e desta com Não se pode esquecer de que o estudo do
outras empresas; custo de produção é dos assuntos mais impor-
• Conduzir as despesas pessoais do proprie- tantes, pois, confrontado com as receitas do ne-
tário e de sua família; gócio, fornece ao empresário rural um roteiro in-
• Justificar a liquidez e a capacidade de pa- dicativo para escolha dos sistemas de produção
gamento da empresa junto a agentes fi- a serem adotados e seguidos, podendo dispor e
nanceiros e outros credores; combinar os recursos utilizados em sua produção,
• Servir de base para seguros, arrendamen- visando melhores resultados. Não se pode ape-
tos e outros contratos; nas utilizar como parâmetro o recurso disponível
• Gerar informações para a declaração do em caixa, ou seja, a diferença entre recebimentos
Imposto de Renda. e pagamentos, para verificar se a empresa rural
está resultando em lucro de forma sustentável.
Os registros também são importantes para Na prática, seria ideal que o produtor gerasse
demonstrar a conformidade a regulamentos receita suficiente a cada safra que garantisse a
ambientais, estabelecer necessidade de seguro, reposição do patrimônio investido, permitindo
planejar e avaliar patrimônios, monitorar esto- manter a sustentabilidade da propriedade rural.
ques, relatórios para sócios e acionistas, dividir O fato é que gestores do futuro continuarão
renda e despesas em negócios com vários donos, tomando decisões, assim como fazem hoje, e usa-
entre outras finalidades. rão princípios econômicos, orçamentos, resumos
A partir dos dados disponíveis na contabilida- contábeis, análises de investimento, demonstra-
de e dos resultados econômicos, podem ser ana- ções financeiras e outras técnicas gerenciais para
lisados, por exemplo: ajudá-los a tomar essas decisões.
Porém, é preciso analisar se o emprego de no-
• Níveis e combinações de insumo e produto; vas tecnologias proporciona resultados positivos
• Quando e como adquirir mais recursos; a produtos novos e mais especializados para co-
• Riscos e retornos da adoção de novas mercialização. Em outras palavras, as inovações
tecnologias; eletrônicas podem oferecer dados mais exatos e
• Novos investimentos de capital; ágeis para uso na tomada de decisões gerenciais.
• Ajuste do tamanho do estabelecimento; Esse aspecto é extremamente importante no ga-
• Troca de empreendimento; nho de eficiência, pois os agropecuaristas terão
• Busca de novos mercados para seus produtos. que concorrer mais agressivamente com negó-
cios não agrícolas por uso de terra, mão de obra e
Os indicadores bases para as análises acima recursos de capital.
tenderão a ser: No contexto de gestão e tomada de decisão,
as funções da gestão envolvem (i) o planejamen-
• Custo fixo total por fazenda e por unidade to, estabelecendo metas, identificando a quan-
de negócio; tidade e qualidade dos recursos disponíveis no
• Custos variáveis por produto e por unida- empreendimento, para que estes sejam alocados
de de negócio; entre os diversos usos concorrentes. Em seguida,
• Margem de contribuição em nível de parte-se para (ii) a implementação, que impli-
produto; ca em adquirir recursos e materiais necessários
• Margem bruta por fazenda; para efetivar o plano, além de inspecionar todo o
• Pontos de equilíbrio em volumes e receitas processo. Com as atividades em andamento, será
de vendas; preciso focar no (iii) controle, ou seja, monitorar
• Lucratividade; resultados, verificar registros de informações e

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

comparar os resultados com a evolução É importante estarem bem claras a


histórica e também, se possível, a um identificação e a contabilidade de cada
padrão médio da região ou do negócio unidade, pois isso auxilia a localizar
característico. Assim, o passo final são quais negócios estão obtendo lucro ou
(iv) os ajustes, etapa que implica avaliar prejuízo, fundamentando o diagnósti-
a necessidade de novos planejamen- co e planejamento de cada centro de
tos, comparando os resultados com os custo.
objetivos do gestor. Isso pode envolver
aperfeiçoar a tecnologia em uso ou, Gastos, custos e receitas devem ser
identificados para cada centro de custos
então, exigir a troca de empreendi-
mentos (Kay et al, 2014; Olson, 2011).
Família Fazenda Algodoeira Silo ........
Em alguns casos, dados mais detalha-
dos de produção e custos terão que ser
coletados para a identificação de pro- Passo 2: alocação dos custos
blemas específicos. Ao identificar os centros de custos
na unidade agrícola, é importante que
2. Quais fatores devem ser observados se possam identificar quais quantida-
para contabilizar custos des de insumos, mão de obra, máqui-
Nesta seção, serão apresentados al- nas, equipamentos, combustível, entre
guns passos para que o agropecuarista outros, podem ser contabilizados para
possa contabilizar seus custos de pro- uma cultura e/ou atividade e quais
dução, por grupos, visando o agrupa- itens são conjuntos. Para os itens que
mento de dados e a elaboração de in- não puderem ser contabilizados direta-
dicadores posteriores. A descrição está mente, deverá ser identificada uma for-
segregada em cinco diferentes passos/ ma de rateio. Devem ser segregados os
etapas. custos e os desembolsos por fazenda,
talhão, sistemas produtivos etc. — o
Passo 1: identificar os centros de custos máximo de segregação é desejável.
Inicialmente, para contabilizar cus-
tos, é preciso identificar claramente a Passo 3: preços e quantidades
estrutura e a especificidade do negó- Identificar os preços unitários de
cio e das transações da fazenda. Por cada insumo ou mesmo custo unitário
exemplo, deixar claras as movimen- de cada atividade, sendo que a multi-
tações que envolvem o dia a dia da plicação de ambos será o cálculo do
fazenda, separando o que é referente custo total dos fatores de produção.
ao negócio agrícola, o que é de res-
ponsabilidade da família e o que se Passo 4: segregação dos itens de
refere a alguma unidade industrial. custos
Não se deve misturar, por exemplo, Para assegurar uma listagem com-
gasto necessário para a produção pleta dos itens de custo, recomenda-se
agrícola com o da família e uma algo- separar os custos ou despesas de pro-
doeira, armazém etc. Gastos de filhos dução em categorias. Poderia ser utili-
na escola não se referem à fazenda. zada a seguinte classificação: custeio,
Energia elétrica para a algodoeira e despesa com comercialização, despe-
para o silo também não é de respon- sas gerais, arrendamentos, despesas
sabilidade da produção agrícola. A fa- financeiras e despesas com tributos e
mília deve ter um pró-labore, e a unida- taxas diversas.
de industrial, gastos e receitas próprias.

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Sugerem-se, por exemplo: sobre o capital de giro de forma geral;


• Despesas com tributos e taxas: diferen-
• Custeio: podem ser contabilizados os custos ciam-se das demais por serem recolhidas
com cada grupo de insumos, com cada ao Governo. Geralmente são descontadas
categoria de operação mecânica, mão de no momento da comercialização do pro-
obra, serviço terceirizado e irrigação; duto. São a Contribuição Especial da Se-
• Despesas com comercialização: referem-se guridade Social Rural (CESSR) e os tributos
às despesas com a classificação, a padroni- específicos cobrados em cada Estado.
zação e a comercialização do produto. As-
sim, considera-se o gasto com embalagens Passo 5: mão de obra e imobilizado
e a comissão do corretor. Além disso, consi- Preparar uma listagem com os recursos huma-
dera-se o custo de transporte da produção nos e os respectivos salários e adicionais, assim
da propriedade até o local de venda; como a listagem do patrimônio imobilizado da
• Despesas gerais: após definidos critérios fazenda, com o máximo de detalhamento pos-
de rateios, poderão ser contabilizados os de- sível. Nesse caso, descrever, por exemplo, a mar-
sembolsos que geralmente não são diretos ca, potência, ano de fabricação, valor de compra
de uma ou outra cultura ou atividade, como: e vida útil esperada (em horas ou anos). Faça a
energia elétrica, telefone, contabilidade ru- descrição o mesmo para cada máquina, equipa-
ral, escritório de advocacia, exames médicos mento e benfeitorias disponíveis. Apesar de exi-
admissional e demissional, análise do solo, gir bastante trabalho inicial, novos registros so-
custo de empregados gerais e administra- mente ocorrerão quando da venda ou compra de
tivos, custo do deslocamento do produtor um novo bem.
rural entre a residência e a propriedade ou
mesmo até a cidade, custo com transporte 3. Estrutura de planilhas de custos de produção
de funcionário, custo da manutenção das As planilhas de custos devem permitir que
instalações, seguro de utilitários (camione- possam ser contabilizados separadamente da-
te), EPI (equipamento de proteção indivi- dos gerais da fazenda, da mão de obra, itens do
dual), entre outros diversos itens; patrimônio imobilizado e uma estrutura para
• Aluguel da terra: não se pode deixar de cálculo de cada etapa do processo operacional
contabilizar o desembolso com arrenda- — da preparação do solo, passando por cultivo,
mento1, caso a área seja de terceiros. A tratos culturais, colheita e comercialização. Para
prática mais comum é o valor do aluguel cada processo, devem ser discriminados quanti-
ser fixado em equivalente em produto, ge- dade de insumos, seus preços, máquinas, equi-
ralmente em sacas de soja. Caso o arren- pamentos e mão de obra utilizada.
damento seja anual e houver uso da terra Um exemplo de planilhas eletrônicas com
por mais de uma cultura no período, será dados gerais é o apresentado na Figura 1. Po-
necessária a definição de critério de rateio, dem ser utilizadas planilhas semelhantes para
que pode ser pela renda bruta obtida; cada talhão, discriminando as culturas de ve-
• Despesas financeiras relacionam-se aos rão e de segunda safra envolvidas, com os res-
desembolsos com juros ou taxa cambial pectivos níveis de produtividade e preços de
para financiamento de custeio agrícola, de comercialização. Também nas colunas “cul-
bens duráveis (máquinas, implementos, tura” e “áreas” poderiam ser detalhadas to-
silos e armazéns, estufas e galpão) e juros das as culturas e atividades de cada talhão,

1 Arredamento rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder a outra, por um tempo determinado ou
não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo ou não outros bens, benfeitoriais e ou facilidades,
com o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, medi-
ante certa distribuição ou aluguel, observando os limites da lei.

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

considerando os cultivos de verão e fazenda e as taxas de juros de cada


segunda safra. Na mesma planilha, fonte dos recursos utilizados para cus-
poderiam ser discriminados o custo teio da fazenda, permitindo o cálculo
unitário do óleo diesel já posto na de uma taxa média de custeio.

Figura 1. Exemplo de entrada de dados gerais da fazenda

Para os itens do patrimônio imo- 1 a 4 exemplificam uma estrutura bási-


bilizado, deve ser feita uma listagem ca; alguns itens das Figuras 2 a 4 serão
do inventário, segregando máquinas, tratados com mais detalhes em seções
implementos e benfeitorias. As Tabelas seguintes.

Tabela 1. Exemplo de lista de maquinário existente na propriedade

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Tabela 2. Exemplo de lista de implementos existentes na propriedade

Tabela 3. Exemplo de lista de benfeitorias existentes na propriedade

É importante também ter uma planilha que possível, deve-se segregá-los. Os valores agre-
permita calcular os custos e as despesas com gados podem ser calculados em termos mensal
mão de obra. Nesse caso, os valores devem en- e anual, ou mesmo por hora trabalhada. É pre-
volver salários, encargos diversos e até mesmo ciso atentar-se à soma alocada a cada cultura e/
as despesas e os desembolsos com alimentação, ou atividade e sua comparação com a despesa
transporte e bonificação (quando houver); se for anualizada.

Tabela 4. Exemplo de lista de mão de obra existente na propriedade

37
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Os custos do imobilizado podem ser máximo possível. Nesses cálculos, é


calculados por unidade de área utiliza- essencial que se considerem preços
da (verão e segunda safra), assim como (ou custos) dos produtos postos na
por hora disponível durante a vida útil fazenda.
de cada bem do imobilizado. O custo Para computar os custos com insu-
horário multiplicado pelo tempo gasto mos, planilhas para cada cultura, em
para executar a atividade resultará no cada talhão, poderiam ser desenvolvi-
custo de máquinas e equipamentos da das, como na Figura 2, referentes a fer-
atividade. tilizantes e semeadura de algodão. Ob-
Em seguida, podem ser contabili- serve que são detalhados o produto, o
zados os custos operacionais desde o mês de compra, o mês de pagamento
preparo do solo até a colheita e o trans- do produto, a quantidade aplicada, o
porte. Ressalta-se novamente que se- preço por unidade e o percentual da
ria importante conseguir detalhar o área em que foi aplicado (Rep.).

Figura 2. Exemplo de planilha de entrada de insumos para produção de cada cultura da fazenda

Para realizar a aplicação dos fertilizan- para a operação. Esses devem ser detalha-
tes e a semeadura, utilizam-se máquinas e dos, como na Figura 3. Se os serviços fo-
implementos, assim como podem ser ne- rem terceirizados, basta criar colunas em
cessários também outras máquinas, im- planilha eletrônica que permitam descre-
plementos e/ou equipamentos de auxílio ver a atividade, seu preço e a quantidade.

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Figura 3. Exemplo de planilha de operação mecânica para cada cultura da fazenda

Consequentemente, podem ser acrescidos os va- obtém-se o custo total de cada operação, sem in-
lores da mão de obra utilizada em cada operação. cluir o valor dos insumos, que foram contabilizados
Somando os custos das máquinas e implementos separadamente. Esse critério pode ser utilizado para
principais e auxiliares com o valor da mão de obra, todas as etapas do processo produtivo (Figura 4).

Figura 4. Exemplo de planilha de entrada de mão de obra para a produção de cada cultura da fazenda

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Um ponto importante é como cal- fazendas apresentam dificuldades nes-


cular o custo operacional de máquinas sa implementação, podem-se utilizar
e equipamentos. O correto é conta- parâmetros médios. O valor de uma
bilizar centros de custos detalhados hora-máquina (HM) leva em conside-
para cada item do imobilizado, dire- ração o custo de manutenção (cons)
cionando os valores para cada cultu- e de consumo de combustível (comb),
ra e/ou atividade. Como em geral as calculados por:

HM = Cons e Comb

sendo,

(
Cons = Vi
M * TxmM
VuM (
Comb = CV * 0,12 * PrD

em que:
ViM = Valor inicial da máquina
TxmM = Taxa de manutenção da máquina
VuM = Vida útil da máquina (horas)
CV = Cavalos-vapor da máquina
PrD = preço do óleo diesel posto na propriedade

Como exemplo, considere, da Tabela 1, calcário adquirido novo, a um valor de


um trator de 145 cv (cavalos-vapor) adqui- R$ 132.604,17. A vida útil considerada é
rido novo, a um valor de R$ 313.467,67. A de 2 mil horas, e a taxa de manutenção
vida útil considerada é de 12 mil horas, durante a vida útil é equivalente a 50%
e a taxa de manutenção durante a vida de seu valor. Aplicando a fórmula de
útil é equivalente a 80% de seu valor. custo de manutenção (cons), cada hora
O preço do óleo diesel é de R$ 3,65/l. trabalhada com o trator tem um custo
Aplicando a fórmula anterior, cada hora de R$ 33,15.
trabalhada com o trator tem um custo O custo operacional de uma opera-
de R$ 93,17, dos quais R$ 20,90 corres- ção mecânica também deve incluir a
pondem à manutenção e R$ 72,27 ao mão de obra efetiva utilizada. Para tal,
consumo de combustível. basta dividir o gasto com salário e en-
Para implementos e equipamen- cargos de cada colaborador pelo total
tos, deve ser calculado apenas o cus- de horas disponíveis para trabalho, e
to de conservação. Por exemplo, da então multiplicar pelo rendimento da
Tabela 2, considere um distribuidor de operação mecânica:

Mo = Sal+Enc * rend
hr
em que:
Mo = Gasto com mão de obra por hectare na operação mecânica
Sal = Remuneração anual recebida por cada colaborador
Enc = Encargos totais anuais pagos por cada colaborador
hr = Horas disponíveis no ano por cada colaborador
rend = Rendimento da operação mecânica em horas/hectare

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Como exemplo, um operador de máquina incluem investimentos em máquinas, equipa-


(Tabela 4) que recebe de remuneração R$ mentos ou terra.
2.350,00/mês e está à disposição por 8 horas/dia O CO é composto de itens como: sementes/
em 261 dias úteis no ano e mais 4 horas/dia em 52 mudas, adubos e corretivos, herbicidas, inseti-
dias, tem custo de R$ 17,92/hora. Assim, em uma cidas, fungicidas, adjuvantes, preparo do solo,
operação de plantio, o rendimento é de 0,67 ho- semeio, tratos culturais, colheita, combustível,
ras/hectare (1,5 ha/h) e o gasto efetivo de mão de frete, beneficiamento, classificação, assistência
obra é de R$ 11,95/ha. técnica, financiamento de capital de giro, mão de
obra e manutenção de máquinas, implementos e
4. Divisão entre custos operacionais e equipamentos.
custos fixos O CO, portanto, é composto pelo resultado
Com o detalhamento do patrimônio e a des- da multiplicação do preço pela quantidade (W)
crição dos custos operacionais, é preciso iniciar a de insumos utilizados, do custo de manuten-
separação dos valores finais para elaboração de ção das máquinas, implementos e equipamen-
uma planilha-resumo. Também será preciso efe- tos (Cop), do custo de consumo de óleo diesel
tuar alguns cálculos com os custos fixos, relacio- das máquinas e o tempo dedicado a cada cul-
nados aos itens do patrimônio. tura (Wop), da manutenção das benfeitorias (Ci)
Sugere-se que os custos totais sejam forma- e do juro sobre capital de giro (JSCG) (Figura
dos pelos custos operacionais (CO) e pelo custo 5); o JSCG deve ser calculado considerando
anual de recuperação do patrimônio (CARP): a taxa envolvida na captação de recursos ou
nas compras a prazo. Todos os itens opera-
CUSTO TOTAL = CO + CARP cionais devem ser considerados pelo período
(dias ou meses) em que permanecem imobi-
O CO refere-se a todos os gastos assumidos pela lizados, ou seja, a contar de sua compra até
propriedade ao longo de um ano (civil ou agrícola) o recebimento pela venda da produção. Não
e referentes a itens que serão consumidos nesse confundir com desembolso de parcelas de
mesmo intervalo de tempo. Nesse grupo não se financiamentos do patrimônio.

Figura 5. Fluxo geral do CO da propriedade

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Como resultado, poder-se-ia ter uma planilha-resumo dos custos operacionais


como consta na Figura 6.

Figura 6. Exemplo de planilha de estrutura de custo operacional da fazenda

No CARP deverão ser computados os na atividade no longo prazo, ou seja, a


valores da depreciação e da remunera- sustentabilidade do negócio.
ção do capital investido. O CARP é uma O correto, porém, é que o produtor
estimativa do valor mínimo que uma fa- extraia anualmente, em média, uma
zenda teria de obter como receita líqui- receita no mínimo igual ao CARP,
da anualmente para permitir o retorno para que seu patrimônio se mante-
econômico desejado ao patrimônio — nha com a rentabilidade esperada.
máquinas, equipamentos, benfeitorias, Com isso, o produtor conseguirá ter
terra — incluindo sua reposição quan- capital suficiente para renovar todo
do couber, garantindo a permanência seu patrimônio.

O CARP para uma máquina é:


CARPmaq = frcmaq * CRmaq
Onde:
frc = fator de recuperação do capital; e,
CR = valor de mercado para reposição da máquina.
O frc refere-se aos custos anualizados do capital, calculados por:

frcmaq = (1 + r) * r
z

(1 + r)z - 1
Onde:
r = taxa de desconto real (sem inflação) ou custo de oportunidade do capital,
em anos; e
z = é a vida útil da máquina, em anos.

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Para uma máquina com valor de compra de IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade
R$ 350.000,00, sem valor residual, vida útil de dez Interna) e da taxa do IPCA (Índice de Preços ao
anos e custo de oportunidade de 1,92% a.a. {ren- Consumidor Amplo [entre janeiro de 2009 e de-
dimento de poupança descontado pela média do zembro de 2018])}, o CARP é dado por:

CARPmaq = (1 + r) * r * CR
z

(1 + r)z - 1 maq

(1 + 0,0192)10 * 0,0145
CARPmaq = * 350.000,00
(1 + 0,0192)10 - 1

CARPmaq = 1,209467 * 0,192 * 350.000,00


1,209467 - 1

CARPmaq = 0,016745 * 350.000,00


0,154837

CARPmaq = 0,110861×350.000,00

CARPmaq = R$ 38.801,37 / ano na propriedade.

Estes cálculos sinalizam que para uma máqui- hectares cultivados esta máquina está disponível
na de R$ 350.000,00, para cada um dos dez anos na fazenda, considerando as áreas de primeira e
de vida útil é preciso considerar um custo de de segunda safras. Caso haja mais de uma má-
R$ 38.801,37 por ano na propriedade, caso o cus- quina com o mesmo valor de compra e vida útil,
to de oportunidade seja de 1,92% a.a. basta multiplicar os resultados pela quantidade
Para obter o custo que deve ser direcionado total de máquinas equivalentes. Assim, a fórmula
para cada hectare, é preciso calcular para quantos passa a ser:

CARPma = frcmaq * CRmaq *n


ACT

Onde:
ACT = área de cultivo total para a qual a máquina está disponível; e,
n = número de máquinas com o mesmo valor inicial e vida útil.

O mesmo raciocínio vale para implementos, área de cultivo total (primeira e segunda safras) e
equipamentos e benfeitorias. Para a terra, porém, multiplicado pela taxa de oportunidade do capi-
basta apenas considerar o custo de oportunida- tal (juro) em termos reais (deflacionado). Quanto
de, pois não há depreciação envolvida. O valor mais se utilizar a terra, menor seu custo fixo por
do patrimônio em terra deve ser dividido pela hectare cultivado. Assim, tem-se:

CARPterra = VPterra * r
ACT

Onde: VPterra = valor do patrimônio em terra.

Para a fazenda descrita na Figura 1 e seus que as máquinas de grãos seriam alocadas para
custos operacionais da Figura 6, os valores do soja e milho e que em algodão haveria máqui-
CARP para as áreas de soja, algodão e milho se- nas e equipamentos dedicados exclusivamente
riam os apresentados na Figura 7, considerando à cultura.

43
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Figura 7. Análise comparativa dos CARPs para os produtos da fazenda

Ao somar os custos fixos (CARP) de ter-se-iam resultados como os apresen-


todos os itens do patrimônio da fazenda, tados na Figura 8.

Figura 8. Custo total de produção para as culturas e as tecnologias da fazenda

5. Apuração da lucratividade da multiplicação dos preços de comer-


do investimento cialização (venda antecipada, barter,
Com a contabilização dos custos venda na colheita ou venda durante a
operacionais e dos custos fixos, resta entressafra) e a quantidade colhida.
analisar a receita total (RT), resultado O resumo do esquema seria (Figura 9):

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Figura 9. Fluxo econômico-financeiro de produção para cada cultura da fazenda

Ao subtrair da RT de uma cultura o valor correspondente a seu CO, tem-se a receita líquida opera-
cional (RLO):

RLOi=RTi-COi

Observe que, para o negócio ser sustentá- a receita não seria suficiente para pagamento
vel, a RLO deve ser superior ou igual ao CARP. nem mesmo dos desembolsos de cada ano-
Caso contrário, a RLO não seria suficiente para safra.
cobrir os custos de oportunidade e possível Se da RT se subtrair o CT, obtém-se a receita
recompra de itens do imobilizado. Se negativa, líquida total (RLT):

RLTi=RTi-CTi

A RLT não negativa é que dará condições para e também permitiria a aplicação em novos ativos.
novos investimentos e para ampliação do pa- Com as RLOs e RLTs, pode-se calcular a ren-
trimônio. Com RLT > 0, o negócio geraria renda tabilidade por real investido (rr). Sobre o CO,
suficiente para cobrir os custos de oportunidade tem-se:

rrcoi = RL0i
COi

45
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

em que a rrcoi = Retorno por real investido no custo operacional da cultura i.

Sobre o CT, tem-se:


RLTi
rrcTi =
CTi
sendo rrcti = Retorno por real investido no custo total da cultura i.

Considerando os exemplos de cul- do milho apresentou retorno positivo


turas citados anteriormente, ter-se- apenas sobre o custo operacional.
-iam os resultados apresentados na Para a fazenda como um todo, de-
Figura 11, considerando os parâmetros vem ser somadas todas as receitas bru-
de preços e produtividades também tas e todos os custos, para analisar sua
detalhadas na mesma figura. Para os sustentabilidade (Figura 10). Em termos
exemplos citados, a cultura do algo- monetários, os resultados constam da
dão mostrou-se em expressivas receitas Figura 12, em que se observam resulta-
líquidas e retorno sobre investimento, dos extremamente favoráveis, especial-
seguido pelos retornos da soja. A cultura mente para o algodão.

Figura 10. Fluxo de análise da sustentabilidade da fazenda

6. Gestão sustentável suficiente para que a fazenda se man-


A gestão sustentável, ou a sustenta- tenha ou cresça no longo prazo. Se isso
bilidade econômica, é, enfim, aquela na persistir, pode se preparar! A atividade
qual a receita líquida operacional do em- não é economicamente sustentável
preendimento é superior ou igual a seu no longo prazo. Informações detalha-
CARP. Se for superior, há perspectiva de das sobre a modelagem deste aspecto
aumento do patrimônio e não somen- foram apresentadas no livro “Gestão
te sua manutenção. Se a RLO for me- de negócios agropecuários com foco
nor que o CARP, isso significa que seu no patrimônio”, de autoria de Barros
capital não está sendo remunerado o et al. (2019).

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Figura 11. Resultados financeiros e econômicos por cultura na propriedade
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Figura 12. Resultados financeiros e econômicos em termos agregados para a propriedade

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

7. Indicadores para análises de em áreas e períodos diferentes;


desempenho do negócio rural • Cálculo do custo econômico de
Uma questão que sempre aparece cada bem do patrimônio;
nas análises de negócios agropecuá- • Cálculo dos custos de manuten-
rios é por que estabelecimentos seme- ção e de consumo de cada má-
lhantes têm rendas diferentes. Aqui já quina e equipamento;
se destaca a importância de se reali- • Mensuração dos custos econô-
zar a contabilidade rural, permitindo micos totais (CT) e do CARP;
a construção de indicadores. Como • Evolução das produtividades de
base nos indicadores, haverá possibi- cada cultura em períodos dife-
lidade de fixar padrões para comparar rentes de cultivo;
resultados, assim como medir o de- • Evolução dos preços de
sempenho efetivo do negócio e, certa- comercialização;
mente, tomar medidas corretivas para • Mensuração da receita total;
melhorar o desempenho após serem • Cálculos das RLOs e das RLTs;
identificados os aspectos com proble- • Mensuração das rentabilidades
mas (Kay; Edwars; Duffy, 2014). (rrco e rrct);
As comparações de resultados po- • Simulações de preços e produti-
dem ser realizadas com base nas metas vidade, para analisar os cenários
e/ou orçamentos, com outros estabele- de riscos;
cimentos semelhantes ou mesmo ava- • Entre outros.
liando as tendências históricas, nesse
caso também avaliando as melhorias ao 8. Tomadas de decisão com as
longo do tempo. O desempenho pode informações contabilizadas
ser avaliado com base em (a) medidas Um dos primeiros pontos a se ava-
de lucratividades (rentabilidades sobre liar envolve os princípios econômicos
investimentos, margens monetárias, de escolha de combinações de insumo
etc.), em (b) medidas de tamanho (re- e/ou produto. Como se sabe, para se
ceita bruta, valor do imobilizado, total obter um produto da agropecuária,
de área disponível e cultivada, mão de há necessidade de uso de vários insu-
obra utilizada, quantidade produzida e mos no processo produtivo. É papel do
vendida e valor da produção), (c) medi- gestor escolher a combinação ou pro-
das de eficiência (que se refere à quan- porção de insumos que vai utilizar, vi-
tidade ou o valor de produção obtido sando maximizar o lucro final. Esse é o
por unidade de recurso empregado) e, caso, por exemplo, de sementes gene-
(d) medidas financeiras (quantidade da ticamente modificadas, de formas de
dívida, relação da quantidade da dívida aplicação de fertilizantes, etc. Nas figu-
com o imobilizado, alterações do patri- ras apresentadas neste capítulo, pude-
mônio ao longo do tempo, capital de ram ser observadas várias tecnologias
giro disponível, entre outras). de sementes de soja e de algodão, com
Dessa forma, poderiam ser citados custos operacionais e produtividades
os seguintes indicadores como possi- diferentes e também com rentabilida-
bilidades de construção com base nas des diferentes.
informações de custos e receitas: Para utilizar uma área agrícola, não
se pode deixar de considerar as com-
• Evolução das quantidades e dos binações de produtos, aqui entendi-
preços de cada insumo utilizado dos como culturas e atividades, em um
no processo produtivo; contexto inclusive de rotação e de su-
• Evolução dos custos operacionais cessão. No mesmo período de cultivo,
de cada cultura e/ou atividade é preciso avaliar os empreendimentos

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concorrentes em áreas, assim como os caracteri- pecuária) é um empreendimento. Nos empreendi-


zados como suplementares (a oferta de um pro- mentos agrícolas, a contabilização de custos é fei-
duto pode ser aumentada sem que ocorra alte- ta por unidade de área, que, no Brasil, o padrão é o
ração no nível de produção de outro produto) e hectare, ou mesmo alqueires. Como no custo ope-
complementares (o aumento da produção de um racional se considera o juro sobre capital de giro, e
empreendimento implica no aumento de outro no CARP está envolvida a depreciação e custo de
produto, ao mesmo tempo). Para os empreendi- oportunidade de ativos imobilizados, o lucro no
mentos concorrentes, a regra de decisão maxi- final pode ser denominado de lucro econômico.
mizadora de lucro será a igualdade da razão de Nessas situações, um lucro econômico zero signi-
substituição de áreas entre culturas (quantidade fica que o trabalho, a terra e o capital estão obten-
de produto aumentada ÷ quantidade de produto do exatamente a remuneração de seus custos de
diminuída) com a razão de lucro entre as cul- oportunidade.
turas (lucro do produto aumentado ÷ lucro do Com as estruturas de custos formalizadas para
produto reduzido). cada cultura, deve-se elaborar indicadores para
Assim, para a análise da viabilidade do negó- análise de desempenho e tomadas de decisão
cio agropecuário, poderiam ser detalhados os se- em um contexto de sistemas produtivos (primei-
guintes aspectos: ra e segunda safras, por exemplo) ou o período
que envolve todo um ciclo produtivo. A escolha
• Se o uso de determinado insumo tem cor- de combinações de empreendimentos se faz ne-
relação positiva com produtividade (será cessária, uma vez que gestores querem encontrar
que maior uso de fertilizantes, por exem- a combinação de empreendimentos que irá for-
plo, implica em maior produtividade?); necer o maior lucro através da melhor utilização
• Qual área e/ou sistema que resultou em dos recursos limitados da fazenda.
maior custo operacional e custo total; De nada adianta comparar rentabilidades de
• Se é conveniente adquirir uma nova má- soja e algodão diretamente, sabendo que duran-
quina e/ou implemento; te o ciclo do algodão é possível produzir soja no
• Quais culturas e sistemas geram as maio- verão e milho na segunda safra em boa parte da
res produtividades, receita e rentabilidade área. A comparação só é válida quando se con-
(rrco e rrct); fronta o sistema soja + milho 2ª safra com o de
• Se a venda antecipada gera receita sufi- algodão safra. É preciso somar os custos de soja
ciente para pagar os custos; e de milho, assim como a receita, para comparar
• Quais culturas e sistemas têm potencial com os valores equivalentes de algodão.
para gerar maiores rentabilidades (rrco Para Mato Grosso, poderiam ser comparados
e rrct); resultados de sistemas como:
• Com as simulações de preços e produti-
vidades, analisar as probabilidades de re- • Algodão safra (cultivo normal);
sultados negativos e optar pelas culturas e • Soja + algodão segunda safra 0,76 m entre
sistemas com maior probabilidade de ren- linhas;
tabilidades positivas; • Soja + algodão segunda safra 0,45 m entre
• Enfim, que ajustes devem ser procedidos linhas;
na condução da fazenda. • Soja + milho segunda safra;
• Soja + milheto segunda safra;
9. Avaliação de retornos de sistemas • Entre outros.
de produção
Como descrito nas seções anteriores, foram Observa-se que as análises também devem le-
inseridos nas avaliações os custos operacionais var em consideração as variedades e os períodos
e custo fixo, via CARP, para diferentes culturas. de cultivos. Por exemplo, podem ser analisadas as
Foram avaliadas as receitas, despesas e lucros rentabilidades de variedades convencionais com
potenciais de um empreendimento separado. Na as geneticamente modificadas. Para uma avalia-
prática, cada cultivo (e poderia ser sistema na ção mais técnica, poderia ser utilizado o processo

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

matemático de programação linear aos produtores. O fato justifica a ten-


para encontrar a combinação ótima dência crescente de maior uso da área
de empreendimentos. Esse procedi- com algodão na segunda safra, dando
mento não será detalhado neste ma- preferência à soja em primeira safra.
terial, mas parte dos procedimentos Ao mesmo tempo, os dados apontam
pode ser analisada em Lima (2019). a dificuldade de o sistema soja + mi-
Na seção seguinte será apresenta- lho 2ª safra em conseguir pelo menos
do um resumo de custos e sistemas RLT nula. Somente em 2016, com re-
utilizados por produtores de algodão cuperações dos preços de soja e mi-
de Mato Grosso em anos recentes. lho, o sistema com as duas culturas
apresentou rentabilidade calculada
10. Evolução de rentabilidades de superior aos sistemas com algodão.
sistemas em Mato Grosso: problemas De qualquer forma, as oscilações de
e oportunidades rentabilidade sinalizam o risco envol-
Considerando cálculos do Centro vido nas atividades.
de Estudos Avançados em Economia Entre os principais itens de custos
Aplicada (Cepea), em projeto desen- de produção de algodão em Mato
volvido em parceria com a Associação Grosso, estão os desembolsos com
Mato-Grossense dos Produtores de fertilizantes e defensivos químicos
Algodão (Ampa), os custos e rentabi- (inseticida, fungicida e herbicida). A
lidades de cultivos de algodão, soja e evolução dos gastos apresentados na
milho oscilaram expressivamente em Figura 14 sinaliza que os desembolsos
Mato Grosso nos últimos anos, sinali- com esses insumos oscilaram em cer-
zando a necessidade intrínseca de um ca de 70% entre os valores mínimos
bom sistema de gestão de custos. e máximos registrados no período
Nos primeiros meses de 2015, os considerado para cada um deles. Em
dados apontaram que as rentabili- termos de riscos, os desembolsos
dades de cultivo de algodão, de soja com fertilizantes foram os de maior
+ algodão segunda safra e de soja + oscilação (coeficiente de variação),
milho em Mato Grosso, em média, ge- seguido por fungicidas, herbicidas e
ravam retornos negativos entre 20% inseticidas.
e 30% sobre o custo total (Figura 13)2. As oscilações de preços e cus-
Os melhores resultados (ou menos tos recentes comprovam a necessi-
negativos) eram com soja + algodão dade de se ter planilhas de custos
segunda safra. detalhadas, possibilitando avaliar
Nos anos seguintes, puxados espe- cenários e as implicações de fato-
cialmente pela recuperação dos pre- res negativos. Somente com da-
ços da pluma, os sistemas com algo- dos confiáveis é possível tomar de-
dão em segunda safra mostraram-se cisões, sejam de curto, médio ou
extremamente rentáveis e atrativos longo prazos.

2 Nesses cálculos, considera-se a compra de todos os insumos e a venda de toda a produção no


mesmo mês.

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Figura 13. Análise da rentabilidade econômica dos diferentes sistemas de produção em propriedades de Mato
Grosso, entre jan/2015 e maio/2019, utilizando coeficientes técnicos da safra 2017/2018

Figura 14. Evolução de gastos médios com fertilizantes e defensivos químicos entre jan/2015 e mai/2019 para pro-
dução de algodão em Mato Grosso, utilizando coeficientes técnicos da safra 2017/2018

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Liberações tecnológicas e custos referenciados em cálculos do Centro


operacionais de produção de Estudos Avançados em Economia
Os resultados acima devem ser Aplicada (Cepea), em projeto desen-
entendidos em um contexto de ajus- volvido em parceria com a Associa-
tamentos de sistemas de cultivo de ção Mato-Grossense dos Produtores
algodão em Mato Grosso. A primeira de Algodão (Ampa), apresenta-se na
alteração foi o incremento de cultivo Figura 16 custos de produção para
de algodão em segunda safra ao longo tecnologias geneticamente modifica-
dos últimos anos, passando a represen- das. Foram consideradas as seguintes
tar entre 85% e 90% da área dedicado tecnologias:
ao algodão no estado. Os resultados
de rentabilidade de sistemas com algo- • Bollgard II RoundUp Ready Flex®
dão de segunda safra, apresentados na (B2RF) = tolerante ao herbicida
Figura 13, justificam este ajustamento. glifosato e resistente a insetos;
O segundo item de impacto no • GlyTol LibertyLink® (GL) = tole-
cultivo de algodão se refere ao incre- rante aos herbicidas glufosina-
mento de aprovações de plantas ge- to de amônio e glifosato;
neticamente modificadas para comer- • GlyTol LibertyLink TwinLink®
cialização. Os primeiros registros são (GLT) = tolerante aos herbicidas
de 2005 (Figura 15), com plantas re- glufosinato de amônio e glifo-
sistentes a insetos. Em seguida, foram sato, e resistente a insetos;
aprovadas as plantas com tolerância a • Widestrike® (WS) = tolerante ao
herbicidas, sendo que em anos recen- herbicida glufosinato de amô-
tes se destacam as plantas com as ca- nio3 e resistente a insetos.
racterísticas conjuntas de resistência
a insetos e tolerância a herbicidas. Em seguida, serão discutidos ape-
Com base em 67 estruturas de cus- nas aspectos relacionados aos custos
tos de produção em fazendas produ- operacionais, muitos deles também
toras de algodão em Mato Grosso, para agrupados em relação às formas es-
os anos-safras 2015/2016 e 2017/2018, truturas apresentadas anteriormente.

4
Liberação por ano

0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Tolerância a herbicidas &


Resistente a insetos Tolerância a herbicidas
Resistente a insetos

Figura 15. Liberações de plantas geneticamente modificadas de algodão para comer-


cialização, por ano e característica tecnológica

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Das quatro tecnologias, três são resistentes a in- sementes e seu tratamento e outros insumos, tam-
setos e tolerante a herbicidas3 e apenas uma delas bém houve menores desembolsos de 2015/2016
é tolerante a herbicida, sem a inserção de tecno- para 2017/2018 com herbicidas; já na tecnologia
logias que lhes provém resistência a insetos. Nos WS, somente os custos com sementes + tratamen-
custos com insumos, na média dos dois anos-sa- tos e herbicidas tiveram reduções. Portanto, em
fras apresentados, a tecnologia somente tolerante todas as tecnologias houve reduções dos valores
a herbicidas desembolsou entre 8,3% e 18% a mais pagos com sementes, que envolve também a taxa
que as demais tecnologias. Houve custos menores tecnológica e royalties.
somente com sementes e seu tratamento, ficando Para a tecnologia GL, na média das duas safras
entre 21% e 49% menores, e custos semelhantes analisadas, por haver maiores custos com insumos
com fertilizantes em relação às outras tecnologias. e necessidades de aplicações adicionais que as de-
Em relação aos outros custos com insumos, foram mais tecnologias, os desembolsos com operações
registrados desembolsos maiores na tecnologia mecânicas ficaram entre 20% e 30% superiores,
tolerante a herbicida. Graficamente, observa-se na exigindo também mais custos com mão de obra.
Figura 17 que os custos com sementes realmente Chamou a atenção nas safras analisadas os meno-
chamam a atenção pelos menores desembolsos na res desembolsos com operações terceirizadas na
tecnologia GL, enquanto os custos com inseticidas tecnologia tolerante a herbicida.
se destacam pelos maiores valores, com destaque A tecnologia somente tolerante a herbicida,
para a safra 2015/2016. na média dos dois anos apresentados, apresen-
Entre as duas temporadas analisadas, os custos tou o maior custo operacional médio, superando
com insumos diminuíram somente na tecnolo- entre 10,3% e 12,2% as outras três tecnologias.
gia GL. Somente os desembolsos com fungicidas Entretanto, teve produtividade média entre 2%
aumentaram (Figura 17). Para a tecnologia B2RF, e 11,6% superiores. Desta forma, a tecnologia GL
houve redução dos valores com sementes + tra- apresentou retorno inferior ao das tecnologias
tamento e com outros insumos; na GLT, além de B2RF e GLT, mas superior ao da tecnologia WS.

Figura 16. Liberações de plantas geneticamente modificadas de algodão para comercialização, por ano e
característica tecnológica

3 A Corteva, detentora da tecnologia WS, não recomenda o uso do herbicida glufosinato com esse trait.

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Figura 17. Custo com insumos na produção de algodão 2ª safra em Mato Grosso, nas safras
2015/2016 e 2017/2018, por tecnologias, em R$/ha – deflacionamento para jul/2019 pelo IGP-DI

Referências bibliográficas: algumas referências no final do manual. Para com-


plementos, entrar em contato com os autores

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SOLOS E SISTEMAS
DE PRODUÇÃO PARA O ALGODOEIRO

Como escolher o sistema de produção e de cultivo do algodoeiro


A qualidade física, biológica e química do solo é fundamental para
a produção da lavoura. Técnicas de agricultura de precisão (AP) e de
amostragem georreferenciada são ferramentas disponíveis para ajudar o
produtor a conhecer melhor o potencial de produção da sua fazenda e a
tomar decisões para corrigir certos problemas químicos. Os agrônomos
brasileiros desenvolveram metodologias para os cálculos de correção dos
solos dos Cerrados e sabem avaliar precisamente como fertilizar o cultivo
algodoeiro ou o sistema. Cada vez mais, o produtor de Mato Grosso quer
intensificar o uso da sua terra, posicionando o algodão em segundo ciclo
após uma soja precoce. Para assegurar a sustentabilidade da atividade em
longo prazo, é importante difundir cada vez mais sistemas alternativos,
como, por exemplo, as técnicas de sistemas de plantio direto integral, que
privilegiam rotações de culturas e uso de plantas de cobertura. A implantação
desses sistemas no cenário do agronegócio mato-grossense é provavelmente
o maior desafio dos próximos anos.

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Sistemas de cultivo do algodoeiro

Essas diretrizes técnicas foram elaboradas em consenso com os seguintes profissionais:


• Jonas Souza Guerra, Guerra Consultoria, Rondonópolis–MT
Leandro • Cid Ricardo dos Reis, Sementes Bom Futuro, Cuiabá–MT
Zancanaro • Gustavo D. F. Gianluppi, SLC Agrícola, Costa Rica–MS
Fundação MT • Elton J. Emanuelli, Sementes Bom Jesus, Rondonópolis–MT
• Guilherme A. Ohl, Ceres Consultoria Agronômica, Primavera do Leste–MT
• Elio R. de la Torre, IGA, Montividiu–GO

Existem, basicamente, dois sistemas Recomendações importantes


de cultivo do algodoeiro no Estado de
Mato Grosso: algodão safra e algodão • Desde o início do planejamento
Claudinei segunda safra. da atividade agrícola, elaborar um
Kappes plano de cultivo em que o algodão
Fundação MT 1. Algodão safra esteja inserido em sistemas de pro-
dução que incluam a rotação de
Definição culturas;
Trata-se do algodão cultivado em • Selecionar áreas com elevado po-
um sistema de produção em que há o tencial produtivo e livre de incidên-
cultivo apenas do algodão como cul- cia de mofo branco, percevejo-cas-
tura comercial dentro do ano agrícola, tanho e nematoides;
sendo semeado entre 1° de dezembro • Implantar culturas de cobertura na
e 10 de janeiro, de acordo com as con- primavera como antecessoras ao
dições edafoclimáticas da região e do cultivo do algodão, priorizando as
ambiente de produção. espécies de fácil instalação e con-
dução, que apresentem elevada
Objetivos principais produção de matéria seca e que não
multipliquem nematoides. Segundo
• Obter alta produtividade; relatos de profissionais, há ganhos
• Incorporar áreas ao processo pro- de até 20@/ha de algodão em caro-
dutivo de algodão, considerando ço com a adoção desta prática;
as características de solo e ambien- • Dar preferência a solos com textura
te. Este sistema tem prioridade em média a argilosa;
relação ao algodão cultivado em • Os solos devem apresentar caracte-
segunda safra em áreas com limita- rísticas físicas, químicas e biológicas
ções climáticas, restrições quanto favoráveis à cultura;
a classificação e correção do solo e • Em solos com limitações físicas, de-
ocorrência de insetos e doenças de ve-se fazer a correção previa à insta-
solo, incluindo nematoides; lação da cultura (o algodão é muito
suscetível a solos compactados, mal

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drenados e com baixa oxigenação), por meio produção também estar relacionada à corre-
do rompimento das camadas de solo mais ção dessa acidez e à de fósforo em profundida-
adensadas utilizando subsoladores devida- de. Essa correção em profundidade tem maior
mente regulados e ajustados ao diagnóstico importância quanto mais arenoso for o solo e
realizado; a condição de precipitação for menos estável,
• Cultivar o algodão em áreas com a fertilidade com maior ocorrência de “veranicos” e “cortes”
sob o aspecto químico adequado ou em solos antecipados da chuva;
com investimentos elevados na correção; • Adotar boas práticas para a conservação do
• Porém, mesmo com alto investimento, não solo e da água no ambiente de produção,
cultivar o algodão em áreas de abertura de como, por exemplo, semeadura em nível,
Cerrado, sob pastagem, ou recentemente cul- construção de terraços e manutenção do solo
tivados, pois há grandes riscos de obter-se coberto;
produtividades abaixo da esperada, pois o al- • Estar consciente de que a definição de po-
godão responde a solos cultivados por mais tencial produtivo está ligada ao ambiente de
tempo, corrigidos e homogeneizados em pro- cultivo, como temperatura, amplitude térmi-
fundidade (“solos amansados”); ca, radiação solar, disponibilidade de água,
• Em solos com limitações químicas, devem etc.;
ser feitas as correções necessárias em pro- • Na semeadura, dar preferência a semeadoras
fundidade, pelo fato de o algodoeiro ser sen- que tenham o sistema de sulcadores apropria-
sível à acidez do solo e de a estabilidade de dos, pois propiciam os melhores resultados.
(Imagem: Claudinei Kappes)

Figura 1. Algodão safra cultivado no espaçamento de 0,76 m entrelinhas

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Quanto ao espaçamento Quanto ao posicionamento de


O espaçamento entrelinhas varia de variedades
0,38 m a 1 m. Nos espaçamentos maiores, deve-se
A utilização do espaçamento de seguir a recomendação das empresas
0,76 m a 1 m entrelinhas é indicada para detentoras quanto ao posicionamento
o algodão a ser cultivado em solos com e manejo das variedades.
textura média a argilosa e com fertilidade Como o cultivo de algodão safra
corrigida tanto em superfície quanto em utilizando espaçamentos menores é
subsuperfície. Para este cultivo, devem- um sistema recente, com utilização em
-se seguir as recomendações de varieda- condições específicas, restringe-se a
des, época de semeadura e população realização de trabalhos quanto ao po-
indicadas pelas empresas detentoras. sicionamento oficial dos detentores e
A semeadura no espaçamento de pesquisa quanto à indicação dos ma-
0,45 m a 0,5 m entrelinhas é recomenda- teriais genéticos para este sistema de
da para ambientes de produção especí- cultivo. Atualmente, o posicionamento
ficos, mais restritivos no que se refere a dos materiais genéticos para o algodão
textura e fertilidade do solo, água, tem- cultivado com espaçamento de 0,38 m
peratura e presença de nematoides. A a 0,5 m entrelinhas, após a cultura soja,
utilização deste espaçamento é recente por exemplo, está muito dependente
em Mato Grosso e, quando ocorre, é em de condições históricas locais, condi-
condições específicas. Esta opção de cul- ção anual, experiência e estratégias dos
tivo deve estar associada à adoção de profissionais que estão na frente de
outras práticas de manejo cultural do produção.
sistema de produção. A adoção deste es-
paçamento em áreas com menos limita- Quanto à população de plantas
ções é ainda mais técnica e necessita de A população de plantas deve ser
ajustes específicos por ambiente, ano e ajustada conforme condições edafo-
objetivo do produtor. climáticas, cultivar (seguir as recomen-
Para o cultivo do algodoeiro em es- dações dos detentores) e época de se-
paçamentos menores em ambientes meadura, sendo que, quanto mais cedo
restritivos, torna-se obrigatória a adoção for a semeadura, devem ser utilizadas
de práticas que propiciem a cobertura populações menores dentro do inter-
do solo e o ajuste da época de semeadu- valo de oito a 12 plantas por metro.
ra para amenizar os prejuízos causados Além de pensar na população por
pelo excesso de chuva e nebulosidade, metro linear, há de se buscar uniformi-
que intensificam a queda de estruturas dade da distribuição das sementes no
reprodutivas e o apodrecimento de ma- sulco de semeadura, tanto na horizon-
çãs. Quando o fator restritivo é o nema- tal como na vertical (profundidade).
toide, recomenda-se fazer o cultivo de A uniformidade horizontal da distri-
crotalária na primavera. buição de plantas é importante, uma
A adoção de espaçamentos menores vez que, dentro da mesma linha de se-
pode ser uma estratégia para finalizar a meadura, ocorre competição intraespe-
semeadura do algodão safra (a partir de cífica, ou seja, uma planta de algodão
25 de dezembro), nas condições espe- compete com as plantas de algodão
cíficas para a adoção desta estratégia. vizinhas. Por outro lado, se houver mui-
Semeaduras no cedo implicam em assu- tos espaços vazios dentro da lavou-
mir alto risco de apodrecimento, queda ra, perde-se potencial produtivo, pois
de estruturas reprodutivas, aumento do menos luminosidade é captada por
ciclo, aumento do custo e dificuldade unidade de área. A uniformidade verti-
de colheita. cal das sementes apresenta implicação

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(Imagem: Claudinei Kappes)

Figura 2. Algodão segunda safra cultivado após soja no espaçamento de 0,45 m entrelinhas

técnica com a uniformidade de emergência das final do ciclo, a cultura deverá apresentar altura
plântulas de algodão. As plântulas que apresen- de planta igual a 1,5 vez o espaçamento entreli-
tam emergência atrasada, na maioria das vezes, nhas e número de entrenós total de 18 a 20.
são dominadas pelas plântulas que emergiram
primeiro, porém, não deixam de competir por 2. Algodão segunda safra
água, luz e nutrientes.
Definição
Quanto ao gerenciamento de plantas É o algodão cultivado após uma cultura co-
Para os espaçamentos entrelinhas de 0,76 m mercial (soja, feijão, milho, etc.) no mesmo ano
a 1 m, é indicado que a altura final de plantas agrícola. O algodão segunda safra é caracteriza-
seja 1,5 vez a distância entrelinhas e metas a do em Mato Grosso pela semeadura a partir de
definir quanto ao número de nós reprodutivos janeiro, após a colheita de uma cultura comer-
desejados, que geralmente deve ficar entre 18 cial, geralmente soja. O término da semeadura
e 20. varia de acordo com a região e com as condi-
Para os espaçamentos entrelinhas de 0,45 m ções edafoclimáticas do ambiente de produção,
a 0,5 m, a definição da estratégia de manejo de como precipitação pluvial, sistema de manejo
altura de plantas está diretamente ligada à defi- do solo e capacidade de retenção de água no
nição do sistema de colheita (fuso ou “stripper”). solo. De modo geral, não se recomenda a se-
Para a colheita com o sistema de fuso, a inser- meadura do algodão segunda safra a partir de
ção do primeiro nó reprodutivo tem que estar a 25 de janeiro em Mato Grosso. Para o sucesso
0,25 m da superfície do solo, e a altura final das do cultivo, é fundamental fazer a programação
plantas deve estar entre 2 e 2,2 vezes o espa- para evitar ao máximo o apodrecimento das
çamento entrelinhas e, no mínimo, com 20 en- maçãs no baixeiro das plantas. Caso isto acon-
trenós. Para o sistema de colheita “stripper”, ao teça, corre-se o risco de não haver a formação

61
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

das maçãs localizadas no terço supe- safra após a colheita da primeira cul-
rior das plantas, devido à restrição tura comercial. O término da semea-
hídrica no Cerrado a partir de maio/ dura vai variar conforme o ambiente
abril, reduzindo significativamente a de produção (pluviometria, capaci-
produtividade. dade de retenção de água no solo,
etc.), devendo ser no máximo até 25
Objetivos principais de janeiro. O término da semeadura
poderá ser antecipado conforme a
• Aumentar a rentabilidade da área região dentro do Estado e, dentro de
perante o incremento de produção cada região, poderá variar conforme
por unidade de área no mesmo ano o solo e o manejo adotado;
agrícola; • O espaçamento de 0,38 m a 0,5 m
• Otimizar (maximizar) a utilização entrelinhas é indicado para o fecha-
dos recursos naturais da proprieda- mento da semeadura do algodão
de (solo, luz, água, temperatura, etc); segunda safra após a colheita da
• Maximizar a utilização de máquinas, primeira cultura comercial do ano
implementos agrícolas e demais agrícola. O término da semeadura
estruturas da fazenda, reduzindo o vai variar conforme o ambiente de
custo de produção em relação ao al- produção (pluviometria, capacidade
godão safra; de retenção de água no solo, etc.),
• Incorporar áreas ao processo pro- devendo ser no máximo até 10 de
dutivo de algodão, considerando as fevereiro. O término da semeadura
características de solo e ambiente, poderá ser antecipado conforme a
reduzindo a demanda de abertura região dentro do Estado e, dentro de
de novas áreas para a produção de cada região, poderá variar conforme
alimentos e fibras. o solo e o manejo adotado. De modo
geral, o algodão cultivado após a
Recomendações importantes cultura de verão, dentro do mesmo
Todas as recomendações válidas ano agrícola, com espaçamento re-
para o algodão safra o são também duzido e semeadura tardia, apre-
para o algodão segunda safra; porém, senta: ciclo menor; na maioria dos
em ambientes com limitações climá- casos, menor custo de produção;
ticas ou restrições de solo (quanto à alta dependência pelas condições
qualidade física, biológica e química), o de solo e de clima favoráveis; menor
sistema de cultivo de algodão safra tem estabilidade de produção; além de
preferência sobre o de algodão segun- elevada exigência em conhecimen-
da safra. to técnico para seu manejo.

Quanto ao espaçamento entrelinhas Quanto ao posicionamento


de variedades
• O espaçamento entrelinhas varia de
0,38 m a 0,9 m; • Nos espaçamentos maiores, deve-se
• O espaçamento de 0,76 m a 0,9 m seguir as recomendações das empre-
entrelinhas é indicado para o início sas detentoras quanto ao posiciona-
da semeadura do algodão segunda mento e ao manejo das variedades;

62
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AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

• Como o cultivo de algodão em segunda sa- quanto mais cedo for a semeadura, deverão ser
fra utilizando espaçamentos menores é um utilizadas populações menores dentro do in-
sistema recente, ainda não há posicionamen- tervalo de oito a 12 plantas por metro.
to oficial dos detentores ou pesquisa no que
se refere à indicação dos materiais genéti- Além de pensar na população por metro linear,
cos para este sistema de cultivo do algodão. há de se buscar uniformidade da distribuição das
Atualmente, o posicionamento dos materiais sementes no sulco de semeadura, tanto na hori-
genéticos para o algodão cultivado com es- zontal como na vertical (profundidade).
paçamento de 0,38 m a 0,5 m entrelinhas
após a cultura da soja, por exemplo, está Quanto ao gerenciamento de plantas
muito dependente das condições históricas
locais, condição anual, experiência e estra- • Para os espaçamentos entrelinhas de 0,76 m a
tégias dos profissionais que estão na frente 1 m, é indicado que a altura final de plantas seja
de produção. 1,5 vez a distância entrelinhas e metas a definir
quanto ao número de nós reprodutivos deseja-
Quanto à população de plantas dos, que deve estar entre 16 e 18;
• Para o algodão segunda safra cultivado com es-
• A população de plantas deve ser ajustada con- paçamentos entrelinhas de 0,45 m a 0,5 m, a defi-
forme as condições edafoclimáticas, cultivar (se- nição da estratégia de manejo de altura de plan-
guir as recomendações dos detentores) e épo- tas segue os mesmos critérios descritos para
ca de semeadura, sendo que, de modo geral, o algodão safra neste mesmo espaçamento.

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

63
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Sistemas alternativos em plantio direto


de alta performance

A maioria das lavouras de algodão a produção agrícola, como observamos


Lucien Seguy
em Mato Grosso é atualmente condu- em algumas lavouras de algodão de
zida em sistema convencional (aração Alto Garças (Figura 1). Essa “fadiga” do
e gradagem) ou de plantio semidireto solo caracteriza-se geralmente por um
em cima de milheto, ou em segunda baixo teor de matéria orgânica, com-
safra, com plantio direto após soja pre- pactação subsuperficial do solo, alte-
coce. São poucas as áreas com rotação rações nos ciclos bioquímicos dos nu-
de culturas, e menos ainda as áreas trientes, baixa atividade microbiológica
com sistemas de plantio direto inte- e associação com altas populações de
gral. Os sistemas atuais de cultivo do nematoides.
Serge Bouzinac algodoeiro usam quantidades cada vez Os sistemas de plantio direto sobre
Cirad/UR Aïda
maiores de agroquímicos (herbicidas, coberturas vegetais (PDSCV) com bio-
inseticidas, fungicidas), aumentando diversidade funcional elevada são as
drasticamente os custos de produção ferramentas básicas da regeneração e
e o impacto ambiental da produção do aumento contínuo da fertilidade e
algodoeira. Evidenciou-se alguma po- do saneamento do solo por conta de:
luição do meio ambiente em 2006, em
algumas regiões de Mato Grosso, o que • Criação de uma forte macroporo-
justifica ainda mais a adoção de novas sidade (Figura 2) no perfil de solo,
práticas culturais mais respeitosas ao o que permitirá um enraizamento
ambiente. potente e rápido das culturas em
Em algumas situações, o esgotamen- profundidade, dando acesso a uma
to do solo é tanto, que quase inviabiliza grande reserva útil de água e nu-
trientes, evitando tanto o escorri-
mento superficial de água como o
encharcamento temporário e reci-
(Imagem: Márcio Caldeira)

clando eficientemente os nutrientes


lixiviados em profundidade (funcio-
namento do sistema solo-culturas
em circuito fechado, evitando per-
das de nutrientes);
• Criação de uma vida biológica in-
tensa e diversificada no perfil de
solo, o que ajudará a manter o equilí-
brio biológico entre microrganismos
patógenos e saprofitos e participará
no controle de doenças e pragas di-
versas das culturas, melhorando sua
nutrição;
• Aumento contínuo da fertilidade
do solo de origem organobiológica
ao incorporar no perfil de solo altas
quantidades de carbono oriundo de
Figura 1. Algodão raquítico em solos arenosos fontes diversificadas e de nitrogênio
- Fadiga de solo - Alto Garças, 2012

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(do final de setembro até início de outubro), em


(Imagem: Lucien Seguy)

plantio direto (PD), nos resíduos da cultura prece-


dente (milho, soja, arroz, algodão).

O que plantar?
Várias opções de misturas de plantas de servi-
ço, dentre as quais recomendamos*:

1- Mistura de sorgo BF 80 (10-12 kg/ha) +


Urochloa ruziziensis (10 kg/ha) + Crotalaria juncea
(25 kg/ha) (Figura 3);
Figura 2. Macroporosidade criada pelas potentes
plantas de cobertura 2-Mistura de sorgo BF 80 (10 kg/ha) + Crotalaria
spectabilis (12-15 kg/ha) + Crotalaria juncea (20-
(aumento do N orgânico do solo simultanea- 25 kg/ha);
mente ao do carbono, fixação simbiótica das 3-Mistura de Urochloa ruziziensis (10 kg/ha) + Cro-
leguminosas + fixação por bactérias livres dos talaria spectabilis (12 kg/ha) +
gêneros Azospirillum, Azotobacter na rizosfe- (20-25 kg/ha) (Figura 4).
ra de gramíneas, tais como Eleusine coracana
(pé-de-galinha); *Observação: As alternativas 1, 2 e 3 podem ser simplifi-
• Cobertura importante e duradoura do solo cadas para diminuir os custos, se for necessário (caso em
que os agricultores não dispõem de sementes próprias);
para controlar eficientemente as invasoras neste caso, tirar uma das espécies. Por exemplo, tirar
(por sombreamento, alelopatia, competição Brachiaria da opção 1, a Crotalaria juncea da opção 2 e a
por luz, água e nutrientes: exemplo das cober- Crotalaria spectabilis da opção 3.
turas de sorgo, sorgo + Brachiaria) e, assim, di-
minuir os herbicidas na cultura;
(Imagem: Lucien Seguy)

• Ação ecossistêmica favorável aos fatores


físicos e à qualidade do solo: a proteção
superficial do solo pelos sistemas de plantas
multifuncionais favorece diversos mecanismos
reguladores da temperatura, troca de gases,
respiração de raízes e ciclagem de nutrientes.

Finalmente, a forte cobertura do solo, com


biomassa aliada a uma forte e diversificada densi-
dade de raízes dentro do solo, permitirá a criação Figura 3. Plantas de serviço disponíveis: sorgo
de um perfil de solo elástico, resiliente, capaz de BF80 e crotalária
suportar máquinas pesadas sem prejuízos para o
estado da superfície e sem risco de compactação.
São expostos nesse capítulo diversos sistemas
técnicos em plantio direto (PD) para produzir
mais, mais barato e mais limpo, com redução dos
insumos químicos e dos impactos ambientais.

1. Biomassas multifuncionais em substituição


ao milheto no final da estação seca - início das
chuvas (final de setembro - início de outubro)

Quando plantar? Figura 4. Mistura restauradora da fertilidade do solo


(Brachiaria + Crotalaria spectabilis e C. juncea)
No final da estação seca, início das chuvas

65
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Como plantar? • Para 50-60 dias de crescimento das


Com qualquer plantadeira-adubadei- biomassas (algodão safra plantado no
ra equipada para PD de grãos miúdos ou início de dezembro), dessecar as três al-
graúdos ou dos dois juntos (Semeato). ternativas 10-15 dias antes do plantio;
Espaçamento entre linhas da soja (0,4 • Para 80-90 dias de crescimento das bio-
-0,5 m) ou mais estreito do trigo ou arroz massas (algodão de segunda safra plan-
(0,17-0,20 m). Colocar: tado entre os dias 10 e 31 de janeiro),
dessecar 20-30 dias antes do plantio.
• As sementes de sorgo na caixa de
sementes; A dessecação será realizada da seguin-
• Para as sementes miúdas (Brachiaria, te maneira:
Crotalaria), misturá-las na caixa do adu-
bo, com um mínimo de adubo formu- • Alternativas 1 e 3= 3 l/ha de glifosato +
lado ou supersimples (50 kg/ha) bem 1,5 l/ha de 2,4-D amina ou 40-50 g/ha
no momento do plantio. Esta quanti- de Flumizin® ou 50 g/ha de Aurora®;
dade será subtraída da adubação da • Alternativa 2 sem Urochloa ruziziensis:
cultura algodoeira em sequência. No se o agricultor dispõe de um rolo-faca,
caso de plantadeira semeato equipa- rolar a biomassa e dessecá-la imedia-
da com a terceira caixa para sementes tamente com 1,5 l/ha de glifosato +
miúdas, colocar estas sementes nesta 1,0 l/ha de 2,4-D amina ou 40 g/ha de
terceira caixa; Flumyzin® ou 40 g/ha de Aurora® (re-
• Profundidade de plantio: entre 2-4 cm. dução das doses de dessecantes)*.
• Tratamento das sementes: sem trata-
mento algum ou com bioprodutos (in- 2. Milho ou sorgo consorciados com
formações com L. Seguy). plantas de serviço em sucessão à soja
(meados de janeiro - 20 de março)
Como manejar a lavoura? Os sistemas de consórcios com milho
Semeando essas plantas de serviço ou sorgo apresentados a seguir foram tes-
em áreas limpas, ou com mato adequa- tados durante vários anos no Brasil e em
damente dessecado antes do plantio, não outros continentes. De modo geral, ne-
será necessário controle específico com nhuma perda significativa em produtivi-
herbicidas. Caso seja, pode-se pulverizar dade de grão em relação à cultura pura foi
uma mistura de glifosato + 2,4-D imedia- evidenciada. Em ano de seca forte, foi ob-
tamente após o plantio. Porém, durante o servada redução na produtividade do mi-
desenvolvimento da lavoura, essas mistu- lho, no caso do consórcio com Brachiaria
ras de plantas de serviço conseguem con- (4-6 sacas/ha), porém, no consórcio com
trolar naturalmente as plantas daninhas, leguminosas, o milho apresentou acrésci-
impedindo sua reprodução e tornando mo de 5-8 sacas/ha.
desnecessário o uso de qualquer outro É importante salientar que a produtivi-
tipo de herbicida seletivo. dade tem de ser avaliada sobre o sistema
(soja+milho+algodão) e não unicamente
Como dessecar antes do plantio do sobre o consórcio, sabendo que as plan-
algodão safra ou segunda safra? tas de serviço propiciarão acréscimos de
Quanto maior for a biomassa, maior produtividade na soja ou no algodão e,
será o tempo entre dessecação e plantio que de outro lado, levarão a reduções de
direto do algodão. custos de produção.

(*) Se for necessário, aplicar, na hora do plantio direto de algodão, 1 L/ha de Gramocil® para eliminar os
inços nascidos entre dessecação e plantio.

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(Imagem: Lucien Seguy)


2.1 Alternativas de consórcios de plantas A
de serviço com milho

O que plantar?
Diversas plantas de serviços podem ser
plantadas com o milho.

1- Milho + Crotalaria spectabilis (15 kg/ha) (Figura 5A);


2- Milho + Crotalaria spectabilis (12 kg/ha) + Urochloa
ruziziensis (8 kg/ha);
3- Milho + Stylosanthes Campo Grande (4 kg/ha de
SPV);
4- Milho + Stylosanthes Campo Grande (4 kg/ha de B
SPV) + Urochloa ruziziensis (8 kg/ha);

Quando plantar?
Entre o início de janeiro e 15 de fevereiro,
em sequência à colheita da soja de ciclo curto
ou intermediário.

Como plantar?

• Com plantadeira-adubadeira equipada para o


Plantio Direto, com ou sem terceira caixa para
grãos miúdos (Semeato®);
Figura 5. Milho associado com crotalária (A) e brachiaria (B)
• Espaçamento entre linhas de milho com di-
versas possibilidades: 0,90 m; 0,75-0,80 m
ou 0,50 m; • A opção 4 (milho + Stylosanthes + Urochloa
• Nos casos de plantio do milho com 0,90 m, ou ruziziensis) poderá somente ser implantada
0,75-0,80 m entre linhas, regular a plantadeira com plantadeira equipada de uma terceira cai-
para plantio de soja, cada linha aos 0,45 m ou xa para sementes miúdas;
0,40 m. Assim, as sementes de milho cairão cada • As sementes de Brachiaria vão na caixa do adu-
0,90 m ou 0,75-0,80 m. As sementes das plan- bo e são misturadas na hora do plantio com um
tas de serviços, misturadas com um mínimo de mínimo de adubo formulado ou supersimples.
adubo NPK ou supersimples, cairão nas entreli- Profundidade de plantio entre 3-4 cm;
nhas do milho aos 0,90 ou 0,75 a 0,80 m, ou seja, • As sementes Stylosanthes CP vão na terceira
uma linha de milho alternada com uma linha de caixa e cairão com as sementes de milho, entre
plantas de serviços cada 0,45 ou 0,40 m; 1-2 cm de profundidade, ou coloca-se as man-
• No caso do espaçamento 0,50 m entre linhas gueiras de fora e deixa-se cair as sementes em
de milho, as sementes das plantas de serviços cima do solo; apoiar bem as rodinhas compac-
cairão a 5 cm ao lado de cada linha; tadoras atrás.

Cuidado: as sementes de Stylosanthes são muito miúdas e deverão ser plantadas bem rasinhas: 1-2 cm de profundidade;
outra opção é deixar cair as sementes de Stylosanthes + adubos em cima do solo (mangueira para fora) e apoiar bem as
rodinhas compactadoras atrás.
Uma segunda opção é aumentar o peso das sementes de Stylosanthes ao peletizá-las com fosfato natural (200 g/kg) ou ter-
mofosfato Yoorin BZ em pó (200 g/kg), colados às sementes com húmus líquido. Nesta opção, as sementes de Stylosanthes
são semeadas a lanço no início da desfolha da soja (20% de desfolha).
Uma terceira opção é semear o Stylosanthes com uma semeadeira a ar, de precisão, montada na plataforma da colheitadeira
que deixará cair as sementes em cima do solo atrás da plataforma. As sementes são cobertas, em seguida, com a palha picada
da soja e nascem perfeitamente, muito melhor do que enterradas (Figura 6).

67
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Como manejar a lavoura? Caso seja realmente preciso, Benta-


Semeando em áreas limpas após a zone® (600-720g de ingrediente ativo
colheita da soja, ou com mato adequa- por ha) em pós-emergência precoce
damente dessecado antes do plantio, poderá ser usado nesse sistema de as-
não será necessário controle específico sociação milho-plantas de serviço.
com herbicidas.
2.2 Alternativas de consórcios de
plantas de serviço com sorgo BF 80 ou
sorgos híbridos de grande porte
(Imagem: Lucien Seguy)

O que plantar?
As opções de consórcio com sorgo
são as seguintes:

1- Sorgo + Crotalaria spectabilis (12 kg/


ha) + Crotalaria juncea (20 kg/ha) + Uro-
chloa ruziziensis (10 kg/ha);
2- Sorgo + Pé de galinha (8-10 kg/ha) +
Crotalaria spectabilis (12 kg/ha) + Crota-
laria juncea (20 kg/ha).

Quando plantar?
Figura 6. Sorgo consorciado com stylosanthe Entre 20 de fevereiro e 20 de março.

Como plantar?
(Imagem: Lucien Seguy)

Idem no caso do milho + plantas de


serviço. Espaçamentos possíveis entre li-
nhas de sorgo de 0,90 m; 0,80 m e 0,50 m.

Figura 7. Consórcio sorgo BF80


com Crotalaria espectabilis (A) e
C. juncea (B)

Observação: Como no caso do Stylosanthes CP, as sementes de pé-de-galinha, que são miúdas,
poderiam ser peletizadas ou com fosfato natural ou com Termofosfato Yoorin BZ (200 g/kg) e joga-
das a lanço na desfolha da soja (início de desfolha).

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Plantadeira-adubadeira sem terceira caixa: Como manejar a lavoura?


Semeando em áreas limpas após a colheita da
• Sorgo na caixa de sementes; soja, ou com mato adequadamente dessecado
• As duas crotalárias e a Brachiaria juntas, com antes do plantio, não será necessário controle es-
um mínimo de adubo formulado ou supersim- pecífico com herbicidas.
ples na caixa de adubo. Profundidade de plan- Se for o caso, Bentazone (600 a 720g de ingre-
tio 2-3 cm; diente ativo por ha) em pós-emergência precoce
• No caso de plantadeira equipada com terceira poderá ser usado nesse sistema de associação
caixa: as duas crotalárias e a Brachiaria vão na milho-plantas de serviço.
terceira caixa;

RECOMENDAÇÕES FINAIS
Como estes sistemas PDSCV são provedores de grandes quantidades de biomassas anuais (até
mais de 30 t/ha/ano de matéria seca - vide figura), recomendamos:

• Quanto maior a biomassa, maior o espaço de tempo entre dessecação e plantio; o uso de um
rolo uma semana após a dessecação ajuda a reduzir rapidamente a espessura da biomassa
em cima do solo (contato imediato e íntimo com a fauna e a flora decompositoras). Em caso
extremo, as rodas-estrela na frente da plantadeira, atrás do disco de corte, podem ser ferra-
mentas úteis para separar o excesso de biomassa na linha de plantio e evitar o estiolamento
inicial do algodão;
• O uso da “botinha” é proibido e deverá ser substituído por duplos discos desencontrados: o
melhor preparo do solo é feito pelas potentes raízes das biomassas destes sistemas PDSCV;
• É preferível adubar o sistema a adubar a cultura: as fortes biomassas de plantas de serviço são
mais competentes que as culturas para transformar o adubo mineral em adubo orgânico;
• É importante reservar alguns hectares nas propriedades para multiplicar suas próprias se-
mentes de plantas de serviço e, assim, reduzir os custos. É óbvio que empresas especializadas
na venda de sementes deveriam oferecer as misturas de plantas de serviço no comércio de
defensivos e sementes para facilitar a difusão destas tecnologias PDSCV;
• É desaconselhado misturar produtos químicos aos bioprodutos no tratamento de sementes.

Observação: Novas “espécies de serviço” valiosas, que deverão trazer novos progressos técnicos, estão em fase de multiplicação
para enriquecer os sistemas PDSCV, tais como Stylosanthes guianensis (CIAT 184), Centrosema pascuorum, sorgos Muskwaris. Semea-
deira acoplada à plataforma de colheita (Figura 9) poderá ser útil para implantação das coberturas, e está sendo testada no IMAmt.
As Figuras 10 a 13 apresentam exemplos de plantas de coberturas conduzidas puras (Figura 10) ou em mix de plantas ( Figura 11
a 13) para atender as necessidades de diversas situações de solos e culturas.
(Imagem: Lucien Seguy)

Figura 8. Stylosanthes guianensis, espécie precio- Figura 9. Semeadeira acoplada à plataforma de


sa para integraçâo agricultura/pecuária colheita para implantação das coberturas

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Jean-Louis René Bélot)

A B

C D

Figura 10. Plantas de cobertura conduzidas puras (a-Girassol; b-Capim pê-de-galinha;


c-Crotalária juncea; d- Trigo mourisco)
(Imagem: Jean-Louis René Bélot)

Figura 11. Mix de C. spectabilis + C. ochroloca + guandu + stylosanthes + trigo mourisco

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(Imagem: Jean-Louis René Bélot)

Figura 12.
Mix de C. spectabilis + C. ochroloca +
milheto + Urochloa ruziziensis
(Imagem: Jean-Louis René Bélot)

Figura 13.
C. spectabilis + C. breviflora + milheto +
guadu fava + girassol + pê-de-galinha
+ nabo

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

71
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Manejo do solo para o cultivo do algodoeiro


O algodoeiro herbáceo é uma planta ou melhoria do seu potencial produti-
exigente quanto à qualidade do solo, vo ao longo do tempo. Para que esses
desenvolvendo seu máximo potencial objetivos sejam alcançados, é essencial
Leandro
produtivo em solos férteis, ricos em ma- o conhecimento das características do
Zancanaro
Fundação MT téria orgânica, profundos, bem estrutu- solo, suas limitações e aptidão agrícola,
rados, permeáveis e bem drenados. adoção de práticas conservacionistas,
A qualidade do solo depende da sua tais como construção de terraços para
natureza, que é função dos fatores de controle do escorrimento superficial de
formação e da interferência antrópica água, correção da fertilidade do solo,
relacionada a seu uso e manejo, de rotação de culturas, uso de plantas de
modo que o algodoeiro pode ser culti- cobertura e manejo adequado da pa-
vado em diversos tipos de solos, desde lhada. Na sequência, serão discutidos
que sejam manejados com o objetivo os três principais sistemas de manejo
de fornecer condições físicas, químicas do solo para o algodoeiro no Cerrado.
Claudinei
Kappes e biológicas adequadas ao seu desen-
Fundação MT volvimento. No entanto, alguns tipos • Sistema “convencional”: o sistema
de solos com características de difícil “convencional” provoca a inversão
correção, como os solos rasos, pedre- da camada arável do solo, median-
gosos ou de baixa permeabilidade, de- te o uso de implementos como ara-
vem ser evitados para o cultivo do al- do ou grade aradora, de modo que
godoeiro. Também devem ser evitadas 100% da superfície é revolvida. Este
áreas sujeitas a encharcamento, mes- tipo de manejo é recomendado
mo que temporariamente, porque o quando há necessidade de corrigir
algodoeiro herbáceo é uma planta sen- as características em subsuperfície
sível à deficiência de oxigênio no solo. do solo, como, por exemplo, a incor-
O manejo adequado do solo é fun- poração de calcário ou o rompimen-
damental para o bom desenvolvimen- to de camadas compactadas. O sis-
to do algodoeiro e compreende o tema “convencional” de manejo do
conjunto de intervenções adotado de solo muitas vezes é adotado nas la-
forma organizada ao longo do tempo, vouras de algodão visando também
a fim de permitir alta produtividade, a destruição mecânica da soqueira
além de proporcionar a manutenção (Figura 1).
( Imagem: Leandro Zancanaro)

Figura 1. Destruição mecânica da soqueira do algodoeiro e sistema “convencional”


de manejo do solo

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(Fonte: Adaptada de Silva et al. (1984))

Figura 2. Redução da matéria orgânica do solo após cinco anos de


cultivo de soja num latossolo com diferentes texturas, sob sistema
“convencional” de manejo do solo

Agronomicamente, o sistema “convencional” solo em produzir abundantemente ao longo do


não é um manejo adequado, pelo fato de cau- tempo. Desta maneira, quando for realizar quais-
sar a degradação física e biológica do solo. O quer tipos de revolvimento do solo que resulte
revolvimento acelera a “queima” (redução) da na incorporação dos resíduos vegetais, há obri-
matéria orgânica ao longo do tempo (Figura 2) gatoriedade de um planejamento antecipado,
e expõe o solo aos processos erosivos (Figura 3), levando em consideração a escolha da época
resultando no carreamento/perda da matéria or- apropriada para fazer esta operação e o dimen-
gânica e de nutrientes, principalmente da cama- sionamento da capacidade operacional, a fim de
da superficial do solo, considerada a mais fértil, permitir, o mais rápido possível, a implantação
além de provocar assoreamento dos recursos de uma cultura de cobertura em elevada densi-
hídricos. Estas perdas são consideradas as mais dade populacional e que apresente emergência
impactantes para a melhoria da capacidade do e desenvolvimento inicial rápido.
• Sistema cultivo mínimo: intermediário, que
consiste no uso de implementos sobre os re-
(Imagem: Arquivo Fundação MT/PMA)

síduos da cultura anterior, com o revolvimen-


to mínimo necessário para o cultivo seguinte,
procurando manter o máximo de cobertura
do solo. Na maioria dos casos, é utilizado esca-
rificador com profundidade de trabalho sufi-
ciente para romper crostas e “pé de grade” ori-
ginados pelo uso incorreto de equipamentos
de preparo do solo;
• Sistema plantio direto: no sistema plantio
direto, as sementes são depositadas no sulco
através de semeadora especial sobre os resí-
duos culturais do cultivo anterior ou de plantas
de cobertura cultivadas com intuito de produ-
zir palhada. Na adoção do sistema plantio dire-
to (Figura 4), deve-se atender a três princípios
agronômicos: (i) manutenção contínua de pa-
lhada em superfície, (ii) não revolvimento do
Figura 3. Erosão em sistema “convencional” de
manejo do solo solo e (iii) rotação de culturas.

73
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Claudinei Kappes e Leandro Zancanaro)

Figura 4. Algodoeiro cultivado em sistema plantio direto

Diversos são os argumentos utili- passará pelo sistema “convencional”,


zados para justificar o revolvimento o qual deve ser realizado com êxito, a
do solo (sistema “convencional”) nas fim de evitar os problemas agronômi-
lavouras comerciais de algodão. Mas cos mencionados anteriormente.
o principal está relacionado à corre- O algodoeiro apresenta sistema ra-
ção da acidez do solo em profundida- dicular pouco denso e pouco eficien-
de, já que o calcário apresenta efeito te na absorção de nutrientes, sendo
lento e reduzido em profundidade. A uma cultura muito sensível à com-
calagem superficial somente é indica- pactação do solo (Figura 5) e à acidez.
da em áreas com correção prévia da Em contrapartida, o algodoeiro é exi-
acidez em profundidade e em áreas gente em nutrientes, apresentando
sob sistema plantio direto com alta tendência de produtividade elevada
produção de matéria seca associada e mais estável em solos com corre-
a sistemas radiculares abundantes. ção adequada da acidez e com teores
Para a introdução de uma determi- adequados de fósforo em profundi-
nada área ao sistema plantio direto, dade, incluindo nesta correção a ho-
é obrigatória a correção da acidez do mogeneização de toda uma camada
solo em profundidade, prática que de solo, o que nem sempre é possível
fazer em apenas um ano, por maior
que seja o investimento. Por isso, a
introdução do algodão no sistema
(Imagem: Leandro Zancanaro)

plantio direto é difícil em solos de ex-


ploração recente, havendo necessi-
dade de fazer um trabalho prévio an-
terior à introdução no sistema plantio
direto. Porém, todo este trabalho pré-
vio deve ser planejado para expor o
menos possível o solo à erosão.
Os fatores que geram dúvidas so-
bre a viabilidade do cultivo do algo-
doeiro em sistema plantio direto nos
sistemas de produção cultivados por
vários anos em solos corrigidos são:

• Acidez do solo;
Figura 5. Desenvolvimento do sistema radicular do algodoeiro
• Compactação, na maioria das ve-
afetado pela compactação do solo
zes induzida pelo manejo adotado
ao longo do tempo;

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• Ausência de um sistema de produção que Conforme discutido anteriormente, a neces-


contemple a adoção da rotação de culturas sidade da destruição da soqueira do algodoei-
apropriada, acentuando os problemas de aci- ro é um dos fatores relacionados à necessida-
dez e a ação de práticas de manejo da cala- de do revolvimento do solo total ou parcial.
gem superficial, além de favorecer a incidên- Porém, quando um sistema de produção inclui
cia de nematoides. um esquema adequado de rotação de culturas,
elimina-se a necessidade desse procedimento
Num solo muito argiloso, em Itiquira/MT, com (Figura 8).
o apoio financeiro do Instituto Mato-Grossen-
se do Algodão (IMAmt), a Fundação de Apoio Mecanismos para semeadura
à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fun- Na operação de semeadura, é necessário ob-
dação MT) tem pesquisado, desde a safra de servar diversos aspectos na decisão sobre quais
2008/2009, em diferentes manejos do solo, a mecanismos utilizar.
produção de grãos e de fibra utilizando sistemas O primeiro mecanismo de ataque ao solo é
de rotação de culturas desenvolvidos especifi- o disco de corte de palha, e seu trabalho deve
camente para os Cerrados. Após seis anos, o sis- ser tal que evite os embuchamentos para os de-
tema plantio direto não apresentou perdas sig- mais. Quando o solo for argiloso, é interessante
nificativas de produtividade do algodoeiro em o uso de discos estriados; para aqueles soltos e
relação ao sistema “convencional”, sendo que as arenosos, os discos ondulados permitem obter
maiores produtividades absolutas foram obti- os melhores resultados. Deve dar-se preferên-
das quando se realizou um esquema de rotação cia a discos com diâmetros maiores (acima de
de culturas mais intenso (Figura 7). 20 polegadas), que facilitam o corte e reduzem
Nesse experimento, o sistema plantio direto a demanda de potência. Em condições em que
vem sendo conduzido há seis anos (sem revol- há impedimentos ao desenvolvimento do siste-
vimento), sendo que um dos maiores desafios ma radicular, é importante a utilização do facão,
tem sido eliminar o efeito da compactação do que, além de auxiliar no rompimento de cama-
solo (Figura 6) causada pelo tráfego de máqui- das adensadas, permite posicionar os fertilizan-
nas durante as operações agrícolas. Quando se tes no sulco, de modo a evitar danos às raízes por
utilizou semeadora com mecanismo de haste efeito salino. Os facões com desenho parabólico
sulcadora para a sua implantação devidamente e largura de ponteira inferior a 2 cm permitem
ajustado, o fator negativo da compactação do obter bons resultados com menor demanda de
solo foi amenizado. potência. Seu ajuste é realizado em função da
A adoção do revolvimento do solo, com in- resistência mecânica do solo, sendo que quanto
corporação dos restos culturais para eliminar a mais inclinado, mais agressivo será o efeito.
compactação, não tem justificativa técnica. Se
o diagnóstico conclusivo é de que o solo está
apresentando limitação física ao desenvolvi-
(Imagem: Claudinei Kappes)

mento radicular, podem-se adotar práticas de


manejo específicas, a exemplo de uma adequa-
da subsolagem, mantendo os resíduos vegetais
na superfície do solo, o que caracteriza o sistema
cultivo mínimo. Porém, é importante conside-
rar que, se não houver a introdução de culturas
com sistemas radiculares densos e agressivos, e
em contrapartida, houver tráfego aleatório de
máquinas na presença de solo úmido, a práti-
ca mecânica terá efeito efêmero. Em síntese, o
melhor subsolador são as raízes das culturas in-
troduzidas no sistema de produção, de maneira Figura 6. Desenvolvimento radicular do algodoeiro
sendo limitado pela compactação do solo
planejada.

75
76
(Fonte: Fundação MT/IMAmt)
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Figura 7. Produtividades de soja, de algodão e de milho (média de cinco safras agrícolas), sob diferentes sistemas de sucessão e rotação de culturas e manejo do
solo no Estado de Mato Grosso. Legenda: pA = pousio/Algodão; mA = milheto/Algodão; bA = braquiária/Algodão; cA = crotalária/Algodão; SMi+b = Soja/Milho
safrinha + braquiária; SMi = Soja/Milho safrinha; Sc = Soja/crotalária; M+B = Milho verão + Braquiária; PC = preparo convencional (revolvimento anual do solo na
entressafra); PD = plantio direto
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IMAmt 2020
2012

Tanto os ajustes excessivamente agressivos

(Imagem: Leandro Zancanaro)


como os muito superficiais tendem a compactar
a base do sulco. Em algumas circunstâncias, en-
tretanto, mesmo que o uso se justifique, a ocor-
rência de excesso de resíduos sobre o solo e de
soqueiras mal manejadas torna muito difícil a se-
meadura, com embuchamentos constantes. Ou-
tro equívoco, frequente observado, é o emprego
do facão de modo muito superficial, recorrente
nos casos em que o dimensionamento do con-
junto trator-semeadora é incorreto. O facão ope-
rando em profundidades inferiores a 10 cm, além
de não permitir uma desagregação adequada do
solo, deixa o fertilizante muito próximo à semente
e dificulta o posicionamento da semente em pro-
Figura 8. Algodoeiro cultivado num esquema de rotação
fundidade uniforme. com soja e milho
A semeadura sobre áreas que não apesentam
impedimentos mecânicos pode ser realizada sem
o uso da haste, mas é necessário assegurar que
os níveis de fertilidade sejam adequados e que o
fertilizante seja posicionado ao lado da semente, Por fim, as rodas compactadoras devem
para evitar a queima. ser ajustadas com frequência, para permitir
O posicionamento da semente no sulco é fun- bom contato do solo com a semente ao lon-
damental para assegurar o sucesso de uma boa go do dia de trabalho e de condições distintas
emergência. A semente de algodão é particular- de umidade. Todo o conjunto deve operar de
mente leve, dificultando a manutenção de uma modo a permitir a colocação da semente em
profundidade uniforme. Deve-se verificar perio- profundidade uniforme, sem revolvimento ex-
dicamente e assegurar que os discos duplos te- cessivo, o que provoca afundamento do sulco
nham movimento rotativo livre entre si, de modo e acúmulo de água com efeito negativo para o
que, durante a semeadura, eles não patinem. estande inicial.

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

77
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Agricultura de precisão:
tecnologias para o algodoeiro
Ziany Neiva
Brandão O Brasil consolidou-se como referên- no uso de insumos, com claros reflexos
Embrapa Algodão cia na produção agropecuária no cin- na rentabilidade. Dessa forma, para
turão tropical e, atualmente, é um dos permanecerem no ramo, mesmo que
principais provedores de alimentos, involuntariamente, os produtores pre-
madeira e fibras em âmbito global. Se cisarão aderir a estratégias gerenciais
por um lado há evidentes vantagens baseadas em múltiplas fontes de infor-
para a balança comercial brasileira mações, integradas pelo aparato de AP.
com a expansão do mercado consumi-
dor, por outro, nossos produtores hoje 1. Uso de tecnologias sítio-específicas
têm uma clientela cada vez mais exi- na cultura do algodão
Álvaro Vilela gente, disputada também pelos gran- A agricultura convencional trata todo
Resende des players estrangeiros. o campo de maneira uniforme em rela-
Embrapa Milho e Nesse cenário, sobretudo na cadeia ção a manejo do solo, aplicação de fer-
Sorgo do algodão, ser um produtor competi- tilizantes, pesticidas e outros insumos.
tivo é uma necessidade vital; é preciso No entanto, a produtividade agrícola é
estar em dia com a adoção das tecno- afetada pela heterogeneidade espacial
logias mais recentes que promovam e temporal de diversos fatores, como
ganhos de eficiência associada à quali- topografia (relevo, declividade), solo
dade e à sustentabilidade do processo (composição química e física), com-
produtivo. Os dispositivos e as tecno- pactação (por conta do manejo), ocor-
logias de agricultura de precisão (AP) rência de agentes biológicos (doenças,
evoluem constantemente, bem como pragas) e fatores meteorológicos (umi-
Célia Regina a gama de suas aplicações na rotina dade, chuva, temperatura, velocida-
Grego das fazendas. Ao menos em operações de do vento etc.). Assim, o tratamento
Embrapa Informáti- pontuais, a AP já é uma realidade no homogêneo fornecido pela agricultura
ca Agropecuária dia a dia dos produtores de algodão, convencional pode ter impacto econô-
mas o potencial de ampliação de seu mico negativo ao restringir o potencial
uso é enorme; chegará um momen- produtivo de determinadas partes da
to em que a maioria dos processos de lavoura (Resende et al., 2019).
planejamento e decisão será integrada A agricultura de precisão é um ter-
por meio de ferramentas inteligentes, mo genérico para estratégias de ges-
alimentadas por dados espacializados tão que, com o uso de tecnologias e
de monitoramento dos ambientes de técnicas, analisam dados temporais
produção e do clima, além de registros e espaciais, associando informações
Eduardo sobre o desenvolvimento e o desempe- preexistentes, objetivando o supor-
Antonio nho das lavouras. te técnico às decisões de gestão de
Speranza
Embora em muitos casos ainda sejam acordo com a variabilidade estimada,
Embrapa Informáti-
necessárias validações e ajustes adapta- para melhorar a eficiência do uso dos
ca Agropecuária
tivos, de acordo com as necessidades e recursos e a produtividade das cultu-
as características dos sistemas de produ- ras. Para o tratamento da variabilida-
ção e das propriedades agrícolas, diver- de apresentada no campo, são usados
sas técnicas relacionadas à AP já tiveram conhecimentos aprofundados das ca-
seu valor provado, a exemplo da otimi- racterísticas desejadas dentro de cada
zação operacional e da racionalização lavoura ou ambiente de produção.

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2012

Esses parâmetros podem incluir tipo de solo, Os sensores podem ser escolhidos de acordo
textura, pH, matéria orgânica, teores de nutrien- com a época em que se deseja o monitoramen-
tes, topografia, disponibilidade de água, plantas to. A escolha pelo produtor de sensores para o
daninhas, pragas, doenças, condições climáticas diagnóstico do solo, ou para o acompanhamento
etc. O objetivo da implantação de um plano de da cultura, vai depender das fontes de variabilida-
manejo na AP é abordar toda essa variabilidade de encontradas no histórico da área.
e assim melhorar a eficiência e a rentabilidade da Os sensores podem ser divididos em três tipos:
produção agrícola. os de solo, os de plantas e os de produtos. Há duas
Atualmente, a cultura do algodoeiro em larga formas de sensoriamento, que são com e sem con-
escala no Brasil é explorada em regiões produto- tato direto com o objeto que se quer monitorar
ras de culturas anuais no bioma Cerrado, com la- (planta, solo etc.). A tendência é que se conjugue
vouras conduzidas em talhões de grandes dimen- o uso de diferentes sensores para a obtenção de
sões. Módulos de dezenas ou centenas de hectares informações mais consistentes, visando subsidiar
certamente apresentam variações produtivas mais efetivamente as decisões gerenciais.
decorrentes dos fatores já citados e suas intera- Dos sensores existentes para as mais diversas
ções, mas um manejo diferenciado, que leve em aplicações na agricultura, alguns vêm sendo ex-
conta a variabilidade espacial dentro dos talhões, perimentados por agricultores brasileiros, e seu
não era possível nessa escala de cultivo antes do uso tende a tornar-se rotineiro a partir da redução
advento da AP. do custo de aquisição e com a validação para as
Locais com características similares determi- condições locais.
nam sub-regiões para aplicação de manejo loca-
lizado ou sítio-específico. Entretanto, apesar de o 2.1 Sensores para o monitoramento do solo
manejo sítio-específico das lavouras apresentar A AP agrega informações de variabilidade e
oportunidades para melhoria da produtividade possibilita encontrar respostas para os fatores
e qualidade ambiental, a mensuração dos benefí- que estão influenciando a produtividade, utilizan-
cios é complexa, especialmente quando o produ- do sistemas georreferenciados que possibilitam
tor está iniciando o aprendizado das técnicas da a criação de zonas de manejo. Sensores de solo
AP e ainda precisa investir em softwares, equipa- oferecem medições em tempo real, reduzindo as
mentos e sensores. cansativas e caras amostragens de solo, minimi-
zando os custos com manuseio, transporte e ar-
2. Importância da escolha dos sensores mazenagem de amostras (Brandão et al., 2018).
para a AP Dessa forma, é possível estabelecer procedimen-
A aplicação de tecnologias de AP baseadas em tos diferenciados para cada área na lavoura.
sensores requer maior capacidade técnica para Atualmente, alguns sensores de solo são
processamento e análise dos dados de sensoria- utilizados por cotonicultores, destacando-se
mento, sendo sua adoção recomendável quando aqueles que fornecem dados correlacionados
a fazenda já acumula certa experiência em AP. a textura, umidade, pH, matéria orgânica e dis-
No reconhecimento da área a ser trabalhada, ponibilidade de alguns nutrientes. Dentre es-
deve-se considerar uma amostragem inteligen- ses estão os sensores combinados, ou seja, que
te, na qual são avaliadas as similaridades das ca- permitem obter registro de mais de um atributo
racterísticas locais em uma lavoura (Brandão et simultaneamente. Além disso, com a populari-
al., 2017). Para isso podem ser usados não só o zação do GPS, esses dados são georreferencia-
histórico da área, mas também imagens aéreas, dos e apresentados em tempo real, propiciando
topografia, mapas de produtividade e de condu- ao final um mapa completo das características
tividade elétrica, além de dados de fertilidade. avaliadas.
Esses dados organizados possibilitarão a criação Dentre os mais utilizados encontram-se os
de zonas de manejo refinadas e a definição dos sensores de contato direto e os de condutivida-
sensores que deverão monitorar e atuar na cultu- de elétrica aparente do solo (CEa), de matéria
ra durante seu ciclo, permitindo tomar decisões orgânica e de pH. Um dos sensores de CEa mais
com mais segurança ao longo do tempo. frequentes é mostrado na Figura 1.

79
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

A Veris Technology fabrica um a três pares de discos (Figura 1A), em


sensor de condutividade elétrica que um deles fornece corrente elé-
cujos eletrodos estão diretamente trica para o solo, enquanto os outros
em contato com o solo, como mos- medem a queda de tensão entre eles,
trado na Figura 1. Há vários modelos usando essa diferença para calcular
disponíveis que fornecem medições a condutividade elétrica (Figura 1B).
de condutividade elétrica em uma Sensores de contato como o Veris
ou duas profundidades diferentes. medem condutividade elétrica do
Geralmente, esses sensores fazem solo em duas profundidades diferen-
contato com o solo por meio de dois tes: rasa (30 cm) e profunda (90 cm).
(Imagem: Veris Technology)

A B

Figura 1. Sensores de solo e com contato direto. (A) Sensor de condutividade elétrica 3150 - ®Veris Technology (Veris,
2019). (B) Esquema básico mostrando o circuito elétrico em um equipamento de medição da CEa

Há também sensores de condutivi- eletromagnético em uma frequência


dade elétrica que não fazem contato específica, o que faz com que a cor-
com o solo, como mostrado na Figu- rente elétrica flua em materiais condu-
ra 2; esses sensores trabalham com o tores no solo. O fluxo de correntes no
princípio de indução eletromagnética solo, chamadas de correntes parasitas,
(EMI), que se baseia na medição da geram um campo magnético, que é
variação de impedância mútua entre detectado pela bobina receptora. A
um par de bobinas acima da superfície magnitude do campo secundário sen-
do solo. tido pelo receptor depende do tipo e
A maioria dos instrumentos de in- da distribuição do material condutor
dução eletromagnética é composta presente no solo.
por dois ou mais conjuntos de bo- Empresas como Geophex Ltd., Geo-
binas, que são conectadas eletrica- nics, Aeroquest Sensor Technologies Ltd.,
mente e separadas por uma distância e Geophysical Survey Instrumentations
fixa. A bobina do transmissor (campo oferecem vários modelos de sensores
primário) é usada para gerar um campo de CEa por indução eletromagnética.

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(Imagem: Geophex Ltd., 2019)


(Imagem: Georeva, 2017)

(Fonte: Hawkins et al., 2018)


A B C

Figura 2. (A) Sensor de indução eletromagnética EM38 da Geonics instalado em um veículo de PVC para medição da
condutividade elétrica aparente do solo (CEa); (B) carro de transporte com sensor GEM-3 da Geophex em plataforma
de PVC, transmissores, receptores e GPS e (C) mapa de dados obtidos através do sensor EMI

Sensores de condutividade elétrica sem con- Amostragem do solo na AP para aplicações


tato geralmente oferecem maior profundidade de corretivos e fertilizantes a taxa variável
de medição do que sensores de contato direto. Em geral têm-se coletado amostras georre-
Na AP, as medições de condutividade elétrica por ferenciadas dispostas em grade amostral (grid),
indução são usadas para criar conjuntos de dados com tamanho de quadrículas variando entre 2
espacialmente densos para descrever variabilida- ha e 10 ha (Resende et al., 2019), com crescente
de do solo dentro de um campo de forma eficien- conscientização de que quadrículas maiores que
te e a baixo custo, estando bem correlacionadas 3 ha são pouco efetivas para fins de agricultura
com o pH do solo. Um sensor de EMI acoplado a de precisão. Os resultados das análises em la-
um receptor de GPS normalmente pode gerar em boratório são processados por meio de progra-
torno de 120 registros de condutividade a cada mas de geoestatística e geoprocessamento, que
hectare, quando puxado em velocidade apro- elaboram mapas interpolados representando a
ximada de 16 km/h e usando espaçamento de variação espacial nos valores de cada atributo
aproximadamente 17 m entre passagens. Esse é analisado. De posse dos mapas de determinados
um conjunto de dados muito mais denso que o da atributos (fósforo, potássio e saturação por bases,
grade de amostragem do solo (que no Brasil varia por exemplo), são gerados mapas de prescrição
de 1 ha a 5 ha, quando realizada em condições de fornecimento de fertilizantes e de calcário, de
de campo). Com um sensor EMI é possível pro- acordo com a mudança na condição de fertilida-
duzir um mapa de solo de maior resolução do de de um local para outro dentro do talhão; existe
que a apresentada em um mapa de nutrientes maquinário capaz de variar, automaticamente, a
típico. aplicação desses insumos no campo em conformi-
As profundidades de exploração em sensores dade com os mapas de prescrição. O conjunto des-
EMI dependem do modelo escolhido; para uso sas etapas é designado pelo termo em inglês varia-
em agricultura, geralmente os modelos fornecem ble rate technology (VRT), que pode ser traduzido
profundidades efetivas até 1,5 m, como é o caso do como “tecnologia de adubação a taxa variável”.
EM38-MK2 (Figura 2A), podendo-se escolher en- A etapa de amostragem de solo para AP é
tre dois conjuntos de profundidades, que são passível de críticas porque nem sempre ofe-
com bobinas receptoras, separadas por 1 m e 0,5 rece resolução satisfatória, podendo acarretar
m do transmissor, fornecendo dados de profundi- falhas no mapeamento de atributos de solo
dades efetivas de 1,5 m e 0,75 m, respectivamen- e levar a tomadas de decisão equivocadas ou
te, quando posicionadas na orientação vertical pouco efetivas para o refinamento que se bus-
do dipolo, e 0,75 m e 0,375 m, respectivamente, ca com o manejo sítio-específico. O usuário
quando na orientação do dipolo horizontal. deve definir o esquema de amostragem com

81
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

custos viáveis, mas sem prejuízo dos medida para baixar custos, é comum o
critérios técnicos, uma vez que os uso de amostragens de baixa densidade.
procedimentos utilizados afetam as Na região dos Campos Gerais do Pa-
etapas posteriores de processamento raná, Machado et al. (2004) estudaram
dos dados por geoestatística e SIG, po- uma área de 13 hectares em Latosso-
dendo implicar em erros de interpreta- lo Vermelho distroférrico, concluindo
ção, culminando com manejo inadequa- que seria necessária a coleta de catorze
do da lavoura e insucesso no uso da AP. amostras por hectare, a fim de represen-
Trabalhos realizados em solos bra- tar a variabilidade dos atributos do solo
sileiros (Barbieri et al., 2008; Cherubin naquele talhão. Resende et al. (2006)
et al., 2014; Cora & Beraldo, 2006; Gi- avaliaram amostragens em grades com
menez & Zancanaro, 2012; Machado tamanho de quadrícula variando de
et al., 2004; Montanari et al., 2008; Re- 0,25 a 9,0 hectares em lavoura no cerra-
sende et al., 2006) comprovam a difi- do do entorno do DF, obtendo depen-
culdade de garantir a confiabilidade dência espacial para os principais atri-
em diagnósticos espacializados da butos de fertilidade em quadrículas de
fertilidade química. Há necessidade até 2,25 ha, exceto para o fósforo, que
de grades amostrais relativamente só apresentou dependência espacial na
densas, em muitos casos com mais de amostragem mais densa, com tamanho
uma amostra por hectare, totalizando de quadrícula de 0,25 ha. Em geral, atri-
um grande número de amostras a ser butos como textura, matéria orgânica,
analisado para que se possa captar a pH, K, Ca e Mg tendem a apresentar
variabilidade real do solo nas lavouras gradiente de variação com maior conti-
(Coelho, 2003; Machado et al., 2004, nuidade espacial, ao passo que P e mi-
Resende et al., 2006). Desse modo, a cronutrientes expressam alta variabili-
quantidade de amostras ideal sob o as- dade espacial a curta distância (Amado
pecto geoestatístico geralmente é inviá- et al., 2009; Resende et al., 2019; Santos
vel na prática da AP nas fazendas. Como et al., 2001 Montezano et al., 2006).
Quando são comparados diferentes
grids para amostragem de um talhão,
mesmo quando se encontra depen-
(Fonte: Resende et al. (2006))

dência espacial na análise dos dados,


os mapas diagnósticos obtidos podem
expressar conformações de áreas mui-
to diferentes de disponibilidade de um
dado nutriente (Figura 3), o que impli-
caria em divergências entre os respecti-
vos mapas de prescrição para a aduba-
ção a taxa variável.
Resende et al. (2019) consideram que
o monitoramento do comportamen-
to espacial por meio da geoestatística
constitui uma abordagem mais eficien-
te para atributos cuja variabilidade de-
riva de processos naturais associados às
Figura 3. Teores de potássio (K, em mg dm-3) no solo obtidos a partir
de amostragens em grades com células de 0,25 ha (A); 1,0 ha (B); 2,25
características de formação do solo e que
ha (C); e 4,0 ha (D), que resultam em diferentes conformações das tendem a permanecer estáveis ao longo
zonas de alta e de baixa disponibilidade do nutriente do tempo, como, por exemplo, a textu-
ra e a mineralogia. No caso de atributos

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químicos, ocorrem oscilações espaciais e tempo- durante todo o ciclo produtivo. Se as condições
rais causadas pelo próprio uso agrícola do solo, são muito favoráveis, o algodoeiro prioriza o
adubações e manejo geral das culturas, gerando crescimento vegetativo em detrimento do re-
variabilidades aleatórias e de baixa continuidade produtivo, e, nesse caso, é necessário também
espacial, levando periodicamente a alterações nas estabelecer os limites de correções e/ou suple-
zonas de manejo. Portanto, o manejo na AP deve mentações aplicadas para o controle do cres-
ter uma perspectiva de ajustes contínuos ao lon- cimento excessivo da planta, observando-se a
go do tempo, utilizando-se toda ferramenta que manutenção das estruturas reprodutivas.
agregue informações sobre a variabilidade espa- Jorge & Inamasu (2014) mencionam possibi-
cial e temporal do talhão como mapas de produ- lidades de uso de diferentes sensores embarca-
tividade, imagens aéreas, amostragens periódicas dos em máquinas e implementos; tais sensores,
de solo etc. (Resende et al., 2019). como sensores ativos de dossel (para detecção
Falhas operacionais nas aplicações a taxa va- de refletância do dossel e Índice de Vegetação
riável frequentemente passam despercebidas por da Diferença Normalizada - NDVI), câmeras mul-
técnicos e produtores, sendo necessárias aferições tiespectrais (detecção de estresse nutricional, ín-
constantes nas regulagens em condições de cam- dices fisiológicos e estrutura da copa), câmeras
po para diferentes doses e produtos que se deseja termais (para estresse hídrico e uniformidade de
aplicar. Também devem ser observadas as limita- irrigação) ou câmeras RGB já estão hoje sendo
ções de alguns equipamentos quanto às defasa- vendidos separadamente ou a bordo de veícu-
gens de tempo de resposta na mudança de doses, los aéreos não tripulados (VANTs), ou mesmo em
para mais ou para menos, durante as aplicações a plataformas compostas instaladas em máquinas
taxa variável (Resende et al., 2019). Processos de se- agrícolas (Figura 4D).
gregação por tamanho e densidade de partículas Sensores de dossel funcionam baseados na es-
dificultam a obtenção de uniformidade nas apli- pectroscopia de refletância, ou seja, em medidas
cações a lanço de corretivos e fertilizantes, em es- da reflexão da radiação eletromagnética após in-
pecial de adubos NPK do tipo mistura de grânulos teração com diferentes superfícies, considerando
(Fulton et al., 2013). Em conclusão, por mais que comprimentos de onda preestabelecidos, oriun-
se busquem homogeneidade e estabilidade das dos do chamado espectro refletido, na região do
condições de fertilidade do solo por meio da AP visível (VIS – 0,4-0,7 µm), infravermelho próximo
ainda existirão variações involuntárias induzidas (NIR – 0,7-1,3 µm) e infravermelho de ondas
pela atividade humana, ou pelo próprio maquiná- curtas (SWIR – short wave infrared – 1,3-2,5 µm)
rio nos ambientes de produção agrícola. (Shiratsuchi et al., 2014). Segundo esses autores,
Um maior detalhamento sobre os diversos as- sensores que trabalham em diferentes compri-
pectos envolvidos na amostragem de solo para mentos de onda podem ser acoplados aos VANTs,
fins de manejo da fertilidade por agricultura de criando um enorme leque de possibilidades de
precisão, bem como sugestões de procedimentos aplicação na agricultura, como, por exemplo, cap-
e cuidados operacionais, estão em publicação de tar imagens no espectro visível para quantificação
Resende & Coelho (2017). da biomassa, no infravermelho para detecção de
estresses nutricionais, na faixa termal para evi-
2.2 Sensores para monitoramento das plantas denciar estresses hídricos, além de imagens hipe-
Uma das principais diferenças entre o algo- respectrais para identificar coberturas vegetais,
dão e outras commodities é que não basta ape- presença de doenças e muitas outras caracterís-
nas produzir em grande quantidade, mas é pre- ticas das plantas.
ciso otimizar a qualidade da fibra, observando De acordo com Brandão et al. (2014), vários
o equilíbrio entre micronaire, resistência, com- avanços estão sendo obtidos para detecção e
primento e maturidade, pois o mercado têxtil é correção de deficiências nutricionais durante o ci-
muito exigente. clo de desenvolvimento do algodoeiro, mas sua
Para isso, as condições nutricionais, o con- implantação no campo ainda carece de dados de
trole de pragas e doenças e o fornecimento calibração para as condições do Brasil. Nas cul-
de água adequado devem ser monitorados turas de trigo, milho, algodão e cana-de-açúcar,

83
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

sensores estão sendo validados bus- embarcados em tratores (Figura 4D).


cando ganhos de eficiência no mane- Um dos desafios tecnológicos a serem
jo da adubação nitrogenada de co- superados refere-se ao desenvolvimen-
bertura. Existe uma gama de sensores to de algoritmos de calibração dos equi-
para avaliação em plantas, sendo co- pamentos para utilização em diferentes
muns os manuais (Figuras 4A e 4B) e os culturas e sistemas de produção.

A B
(Imagens: Álvaro Resende, Ziany Neiva, e Taylor e Fulton, 2010)

C D

Figura 4. Equipamentos com sensores para o manejo de nitrogênio. (A) Clorofilômetros SPAD® e Falker; (B)
Sensor ativo de dossel Green Seeker® no milho; (C) Vant com câmera RGB no algodoeiro, em Cristalina - GO, e
(D) Sensor Green Seeker® montado em pulverizador para VRT baseada em NDVI

Para monitoramento da vegetação valores são associados diretamente


podem ser usados sensores de con- aos teores foliares de nitrogênio (N).
tato direto, como os clorofilômetros, Brandão et al. (2012), avaliaram que
que servem para estimar os teores re- medições realizadas com o clorofilô-
lativos de clorofila (Figura 4A) e cujos metro SPAD (Figura 4A) apresentam

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correlação acima de 80% com os teores foliares sensores acoplados a equipamentos que permi-
de N obtidos no algodoeiro irrigado. tem estimar os teores foliares de N e dosar a quanti-
Apesar do bom desempenho na estimativa dos dade de fertilizante nitrogenado para a aplicação
teores de N, os clorofilômetros portáteis manuais a taxa variada em tempo real. Esses equipamentos
podem ser úteis em avaliações localizadas, mas não operam por contato direto com as plantas;
são operacionalmente pouco viáveis em áreas ex- registram dados ao medirem quanto da luz emi-
tensas, comuns na região do Cerrado. Para avalia- tida pelos sensores as plantas refletem. São cha-
ções em grandes áreas, usando o mesmo princípio mados sensores remotos de campo ou sensores
de funcionamento, já se encontram disponíveis proximais (Figura 5).
(Imagens: Trimble, 2018)

Figura 5. Sistema composto da Trimble usando os sensores GreenSeeker® e OptRx®

Sensores remotos orbitais (a bordo de satélites) aéreas podem oferecer uma melhor resolução
ou sensores usados em imagens aéreas, como a câ- apresentando diferentes tons, o que possibilita
mera multiespectral, termal e RGB de alta resolução uma classificação subjetiva do dossel de plantas
da Micasense® (Figura 6A), possuem em comum o da lavoura (Figura 6B), elas dependem de processa-
princípio de imageamento por faixas. A largura das mento posterior à coleta dos dados para formação
faixas e a precisão dos dados dependem do tipo de uma única imagem e remoção dos erros ocasio-
de sensor, altitude ou órbita. Enquanto imagens nados pelo posicionamento da aeronave.

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagens: Micasense®)
A

Figura 6. Sensores remotos para vegetação. (A) Câmera termal, multiespectral e RGB de alta resolução da Micasense®,
instalada em VANT comercial para monitoramento de culturas. (B) Imagem aérea obtida com câmera Altum da Mica-
sense®, instalada em VANT, mostrando a imagem RGB de alta resolução e sua classificação em quatro classes distintas
em mapa de estimativa da clorofila na mesma área

Já as imagens orbitais podem ofe- de nuvens, dependendo de mão de


recer desde a temperatura do terre- obra especializada para a correta in-
no até valores da luz refletida pelas terpretação dos dados.
plantas, exatamente como os senso- A decisão sobre qual sensor usar
res usados em solo, mas tendo como dependerá do estágio de adoção da
vantagem as largas faixas imageadas, AP em que o agricultor se encontra.
embora, algumas vezes, o excesso de No Brasil, muitos produtores de al-
nuvens possa impossibilitar a extra- godão já iniciaram seus processos de
ção de dados em datas essenciais gerenciamento da lavoura utilizando
para a suplementação nutricional ou técnicas de agricultura de precisão.
hídrica adequada em culturas agríco- Em média, são registrados de 20% a
las. Por sua vez, os radares, apesar de 25% de economia em insumos após o
mais caros, fazem o imageamento da início do processo de AP, quando em
área sem problemas de interferência comparação às lavouras que usam o

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IMAmt 2020
2012

manejo convencional. Com as safras seguin- A avaliação da produtividade das culturas ao


tes, a tendência é a redução dessa diferença final de seu ciclo fornece um dado real que per-
inicial à medida que as correções vão sendo mite a criação de zonas de manejo (ZM) daque-
feitas, e as áreas de cultivo tendem a tornar-se la lavoura a partir de históricos da produtivida-
mais homogêneas. de combinados com dados de atributos do solo,
explicando a maior parte da variabilidade e suas
2.3 Sensores de produtividade e mapas causas (Brandão et al., 2018).
de rendimento A geração dos mapas de produtividade só é
Os mapas de produtividade possibilitam a possível se a colhedora estiver equipada com
identificação da variabilidade de um talhão sensor de rendimento, sistema de posicionamen-
que não seria detectada pelo mapeamento to global (GPS) e um dispositivo para o armazena-
de outras variáveis isoladas. Assim, subáreas mento dos dados de produtividade que vêm as-
com rendimentos contrastantes, que perma- sociados a suas coordenadas geográficas, como o
necem visíveis mesmo com rotação de cultu- kit apresentado na Figura 7.
ras na área, devem receber maior atenção para Para o algodão, a produtividade é medida por
diagnósticos direcionados e manejo sítio-es- sensores de fluxo de massa que são instalados e
pecífico das causas da variabilidade. Sem dú- conectados aos dutos de entrada de pluma e ca-
vida, o mapeamento das colheitas é uma eta- roço de algodão na máquina e medem a quanti-
pa crucial para se avançar no gerenciamento dade que por ali passa (John Deere, 2006), como
das propriedades baseado na AP (Louhaichi apresentado na Figura 7. Os dados de produtivida-
et al., 2013; Santi et al., 2009). Não obstante, de devem ser submetidos à limpeza para retirada
mesmo quando dispõe de colhedoras equipa- de erros, seguido pelo processo de filtragem dos
das com sensores, a maioria dos produtores dados brutos, permitindo assim a obtenção de re-
ainda não reconhece o real valor dos mapas sultados mais coerentes e o aumento da qualida-
de produtividade. de final das informações (Molin et al., 2015).
(Fonte: Sana (2013))

Figura 7. Processo para geração mapas de produtividade na cultura do algodão

87
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tem-se encontrado variação da pro- de condutividade elétrica aparente do


dutividade das culturas de soja, milho solo (CEa) criados com o Veris 3100;
e trigo (Amado, 2007) e sua correlação com esses mapas, os pesquisadores
com atributos de solo, como pH, Ca identificaram em experimento de 26
e Mg trocáveis, CTC e argila (Reichert ha no Estado de Oklahoma uma área
et al., 2008). com aproximadamente 2 ha com pro-
Vellidis & Brannen (2012) repor- dutividade muito baixa, sendo mui-
tam experimentos da Universidade to inferior à média na área estudada
da Geórgia em cinco estados nos EUA (Figura 8A). Após identificarem a cau-
onde os mapas de colheita auxiliaram sa, foram aplicadas ações corretivas e
na localização de áreas de baixa pro- a mesma área, no ano seguinte, apre-
dutividade de algodão. Eles obtive- sentou as mais altas produtividades da
ram altas correlações com os mapas lavoura (Figura 8B).
(Fonte: Vellidis e Brannen (2012))

Figura 8. Mapas de produtividade do algodão obtidas em campo com 26 ha, em Altus, Oklahoma, (A)
em 2008 antes e (B) em 2009, após as melhorias implantadas

3. Uso de drones na agricultura tempo hábil, de forma a manter ou a


Em busca de soluções para o au- melhorar a produtividade da safra em
mento de produtividade das culturas, andamento. Além de tratores guiados
os agricultores brasileiros vêm usan- por GPS, pulverizadores com senso-
do cada vez mais novas tecnologias res instalados usados na aplicação
no campo. Esse novo produtor não de nitrogênio e diversas outras auto-
só está automatizando semeaduras e mações, destaca-se também o uso de
aplicações de insumos, como também imagens aéreas de boa qualidade a
está em busca de formas de monitora- bordo de drones agrícolas (Figura 9),
mento durante o ciclo da cultura que ou simplesmente VANTs, capazes de
o auxiliem na tomada de decisão em coletar imagens que, dependendo do

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sensor usado, podem ser multiespectrais ou em das lavouras, tendo a vantagem de terem voos
RGB convencional. Tais equipamentos muitas ve- planejados de acordo com o desenvolvimento
zes são vendidos com softwares para o tratamen- da cultura, permitindo assim a aplicação de de-
to prévio das imagens, ou a montagem de cenas fensivos ou suplementação de nutrientes em
mais completas, facilitando o mapeamento aéreo tempo hábil.
(Fonte: Flygus.com)

Figura 9. Imagem de um drone sobrevoando área agrícola

Esse planejamento proporciona a identifi- No Brasil, para o monitoramento de culturas


cação de pragas, doenças e falhas de plantio e acompanhamento de safras têm sido utiliza-
com rapidez, facilitando eventuais interven- das câmeras digitais com boa resolução, mas
ções durante o ciclo da cultura. Além disso, as que não são métricas. Embora a maioria das
imagens são georreferenciadas, possibilitando fotografias aéreas utilizadas em mapeamento
a aplicação localizada, otimizando o trabalho, seja obtida com câmeras aerofotogramétricas
minimizando os custos e reduzindo o risco de (em geral, 153 mm), muitas aplicações com
problemas ambientais. finalidades agrícolas têm sido bem sucedidas
Além de câmeras e sensores para imagea- adotando-se câmeras de 35 mm e 70 mm em-
mento, novos sistemas estão sendo adicionados barcadas em VANTs para o registro e análise
aos VANTs, de forma a torná-los verdadeiras pla- de lavouras (Resende et al., 2019). As câmeras
taformas multifuncionais, que, além de receber digitais não métricas proporcionam flexibili-
e tratar imagens, também atuam diretamente na dade de coleta de dados quando o produtor
correção dos problemas detectados, como é o necessita, pois a obtenção de imagens só de-
caso das plataformas de pulverização agrícola ins- pende do operador da aeronave, apresentan-
taladas em VANTs. A Figura 10 apresenta um dro- do as vantagens de baixo custo, simplicidade
ne pulverizador da Agridrones aplicando defen- de operação e boa capacidade de memória,
sivo agrícola; o equipamento tem capacidade de suficiente para armazenar centenas de ima-
transportar até 25 kg e é certificado pelo serviço gens em um único voo.
de aviação civil de Israel.

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem e permissão: OTRS members)

Figura 10. Equipamento da Agridones aplicando defensivo agrícola

O processamento de imagens durante o voo e dificuldade de es-


dessas câmeras deve ser feito por tabilização durante o voo (Jor-
método analítico, utilizando-se soft- ge, 2003; Silva et al., 2005). Jor-
wares com funcionalidades especí- ge (2003) reportou que, após o
ficas. De acordo com Brandão et al. descarte de várias imagens e o
(2014), após as correções adequadas, tratamento adequado das imagens
as imagens obtidas por câmeras não escolhidas, foi possível identificar
métricas podem alcançar precisão áreas atacadas por doenças e pragas
similar àquelas obtidas por métodos em culturas como soja, milho, eucalip-
convencionais da fotogrametria. Em- to, cana-de-açúcar e citros (Figura 11).
bora tenha a vantagem da rapidez Depois de georreferenciadas, as
na obtenção e armazenamento dos imagens devem ser aprimoradas para
dados, o uso de câmeras digitais de interpretação visual e confecção de
pequeno formato apresenta como mapas, ressaltando os aspectos de
desvantagens a necessidade de um interesse. Todo o processamento e
número maior de imagens para re- o mapeamento dos dados formarão
cobrir a área desejada, distorções a base do Sistema de Informações
geométricas maiores, dificuldade de Geográficas (SIG), que, por sua vez,
conseguir a superposição planejada armazenará as informações necessá-
devido às variações de velocidade rias à tomada de decisão em AP.

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(Fonte: Jorge (2003))

A B

Figura 11. Emprego de imagens aéreas obtidas a partir de câmeras digitais em aeromodelos, para identificação de áreas
anormais em lavouras. Imagem da cultura de citros tomada a 50 m de altura, evidenciando a presença de plantas afetadas
pela doença “declínio dos citros” (A). Lavoura de soja com área afetada por nematoides (B)

Os planos de voos fotogramétricos são pro- Espaço Aéreo (Decea) e pela Agência Nacional
jetados de modo que se tenha uma cobertura de Telecomunicações (Anatel), devendo ser
completa da área desejada. Para isso devem ser analisado com atenção. Para operar um aero-
obtidas sucessivas fotografias, idealmente ver- modelo, as normas da Anac são bem simples,
ticais e nadirais, que apresentem uma zona de mas deve-se respeitar a distância-limite de ter-
sobreposição, ou seja, a mesma área da superfí- ceiros (30 m) e observar as regras do Decea e
cie terrestre deverá ser captada e registrada em da Anatel. Aeromodelos com peso máximo de
várias imagens distintas com sobreposição lon- decolagem (incluindo-se o peso do equipamen-
gitudinal entre 60% e 80% e sobreposição trans- to, de sua bateria e de eventual carga) de até
versal entre 20% e 30% do tamanho da cena. 250 gramas não precisam ser cadastrados junto
Nesse sentido, câmeras digitais automáticas à Anac. Os aeromodelos operados em linha de
podem ser programadas em quadros por se- visada visual até 120 m acima do nível do solo
gundo, dependendo da resolução que se deseja. devem ser cadastrados e, nesses casos, o piloto
Após a obtenção das imagens, deve-se observar remoto do aeromodelo deverá possuir licença e
todas as técnicas de correção necessárias, in- habilitação específicos para tal.
cluindo as correções de posicionamento e ortor- O produtor deve estar atento às normas e
retificação das imagens, as relacionadas com o contratar ou ter profissional habilitado na fazen-
relevo e com variações da estação de exposição da para o serviço. Mais informações sobre as re-
ocorridas durante o voo, bem como os procedi- gras e os registros de aeronaves não tripuladas
mentos de mosaicagem necessários para obten- devem ser obtidas diretamente dos órgãos ges-
ção de uma imagem única. tores citados acima.
A adoção de drones como plataforma de No Brasil ainda há certa confusão entre os
sensores no gerenciamento das fazendas deve sensores utilizados para mapeamento de infor-
sempre ser uma decisão tomada após a revi- mações de solo e planta com aqueles embarca-
são completa de questões legais e de respon- dos pela indústria agrícola para facilitar a ope-
sabilidades envolvidas com a utilização dos racionalidade do maquinário. Como exemplo, os
veículos. O Regulamento Brasileiro de Aviação controladores de seção em pulverizadores são
Civil nº 94/2017 (RBAC-E nº 94/2017) da Agên- equipamentos acoplados naqueles implemen-
cia Nacional de Aviação Civil (Anac) é comple- tos mas que não têm sua ação necessariamente
mentar às normas de operação de drones esta- voltada para aplicação seguindo alguma varia-
belecidas pelo Departamento de Controle do bilidade existente no terreno. Nas semeadoras

91
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

ocorre a mesma confusão, pois são ofe- mostraram-se adequadas para o estu-
recidas aos produtores alguns modelos do de definição de zonas de manejo na
com dispositivos de controle de fluxo área cultivada.
de fertilizantes e de distribuição de se- De acordo Grego et al. (2014), após
mentes como sendo mecanismos para a obtenção dos dados deve ser realiza-
a AP, mas que, na verdade, também da uma verificação exploratória nestes
independem da variabilidade existen- com o intuito de verificar a existência
te no terreno (Adamchuck et al., 2004; de valores discrepantes, conhecidos
Resende et al., 2019). como outliers, que incluem valores ob-
tidos fora da faixa permitida pelo sensor
4. Técnicas usadas no tratamento utilizado, erros de análise laboratorial
dos dados ou até mesmo erros de digitação. Pos-
Os sensores são úteis para o registro teriormente, parte-se para a etapa de
de dados espacializados, mas sem o de- análises de variabilidade espacial para
vido tratamento, a grande quantidade se chegar à geração de mapas padroni-
de dados gerados não será aproveitada zados e precisos de todos os atributos
adequadamente. Dentre as ferramen- coletados, a partir da geoestatística.
tas, destacam-se o uso da geoestatísti-
ca e o tratamento de dados de imagens 4.1 A geoestatística e a confiabilidade
de satélite ou captadas por câmeras na tomada de decisão
instaladas em drones. Ao considerar-se a variabilidade es-
Na análise de dados, quanto maior pacial, parte-se do princípio que todas
o número de técnicas trabalhadas em as amostras são relacionadas com seus
conjunto ou em complementaridade, vizinhos e que amostras separadas por
como métodos de estatística multiva- pequenas distâncias são mais parecidas
riada, mineração de dados e geoestatís- umas com as outras do que amostras
tica, maior será a capacidade de obter separadas por grandes distâncias (Viei-
informações mais representativas da ra, 2000). Isso possibilita a identificação
realidade. das áreas de maior e menor variabili-
Souza et al. (2010), estudando a va- dade dentro de um talhão ou região
riabilidade de atributos químicos do amostrada.
solo na cultura da cana-de-açúcar, uti- Como exemplo, a Figura 12 apresen-
lizaram geoestatística e mineração de ta um mapa de classes da variabilida-
dados, concluindo que a indução de de espacial da condutividade elétrica
árvores de decisão permitiu verificar aparente do solo (CEa), obtida dentro
que a altitude foi a variável com maior de um talhão de cana-de-açúcar de 14
potencial para interpretar os mapas ha, onde a CEa foi obtida usando-se um
de produtividade de cana-de-açú- sensor de solo por indução eletromag-
car. Nesse caso, as técnicas utilizadas nética (equipamento EM38).

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(Imagem: Célia Grego, 2018)

A B

Figura 12. (A) Mapa de classes de medidas de condutividade elétrica aparente do solo em talhão de cana-de-
-açúcar localizado em Ibaté/SP; (B) Medição da condutividade elétrica aparente (CEa) em Ibaté/SP, usando o
equipamento EM38 em tubo de PVC

A variabilidade espacial, comprovadamente, o grau de semelhança entre elas. A análise


pode ser modelada de maneira adequada pela geoestatística parte da hipótese que existe
ferramenta geoestatística que é fundamentada relação de dependência espacial entre os da-
na teoria das variáveis regionalizadas, por inter- dos separados por certa distância; tal relação
médio do ajuste do semivariograma e da inter- é investigada pela análise do semivariograma,
polação de dados traduzida na forma de mapas em que é verificada a existência ou não da de-
digitais, permitindo tomadas de decisões preci- pendência espacial. Nele são realizados ajus-
sas e com maior eficiência (Isaaks e Srivastava, tes a uma função em que são determinados
1989; Vieira, 2000). os parâmetros efeito pepita (C0), variância es-
Segundo Grego et al. (2014) e Oliveira et al. trutural ou contribuição (C1) e alcance (a). Na
(2015), a geoestatística considera que quan- Figura 13, tem-se um exemplo de gráfico ajusta-
to menor a distância entre as amostras, maior do à função esférica do semivariograma.

Figura 13. Exemplo de semivariograma ajustado pelo modelo esférico para


dados de classes de declividade

93
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Assim, considerando a existência plantas daninhas poderá receber apli-


de dependência espacial do atributo cações em taxa variada de acordo com
em análise, é realizada a interpolação as diferenças espaciais identificadas.
de valores nos locais/pontos que não Dessa forma, a utilização de tecno-
dispõem de registro do respectivo logias como a geoestatística fornece
sensor ou que não foram amostrados subsídios para auxiliar em decisões
em campo. O método mais utilizado estratégicas e gerenciais, procurando
em agricultura de precisão é a kriga- sempre indicar um manejo localizado
gem ordinária (Inamasu e Benardi, que traga sustentabilidade econômica
2014), que consiste em ponderar os e ambiental ao sistema produtivo.
vizinhos mais próximos do ponto a
ser estimado, obedecendo aos crité- 4.2 Softwares para tratamento,
rios de não tendenciosidade e míni- geoprocessamento e mineração
ma variância. de dados
Ao final, um mapa poderá ser cons- Para trabalhar com os novos
truído em ambiente SIG de maneira a sensores e as diferentes formas de cap-
representar adequadamente a variabi- tação de dados são necessários mais
lidade espacial, como o mostrado na que operadores e técnicos agrícolas
Figura 14, produzido a partir de dados de formação convencional. Além disso,
de biomassa de pastagem após a iden- com a reserva de mercado, softwares e
tificação da variabilidade espacial por sensores de empresas concorren-
meio da geoestatística. Portanto, um tes não possuem compatibilidade
talhão que muitas vezes é considera- (Landau et al., 2014). Assim, a pre-
do uniforme pelo produtor e maneja- cisão das análises e dos mapas ob-
do uniformemente quanto à aplicação tidos por meio de dados de senso-
de insumos ou controle de pragas e res dependerá da habilidade dos
especialistas em tratar e converter
adequadamente dados de formatos
diferenciados em linguagem sim-
ples, para que sejam acessíveis desde
o produtor até o operador de campo
(Rezende et al., 2019). Aqui falaremos
apenas de alguns tipos de dados e for-
mas de tratá-los.
As imagens obtidas tanto por
meio de satélites quanto por meio
de imageamento aéreo proximal ne-
cessitam processamento para que
possam ser úteis ao produtor, auxi-
liando na tomada de decisão em AP.
As imagens oriundas de câmeras a
bordo de VANTs, cuja resolução es-
pacial pode chegar a poucos centí-
metros, são originalmente captura-
das em forma de imagens individuais
que precisam ser unidas, formando
uma imagem única da área de cultivo.
Figura 14. Mapa de isolinhas para biomassa seca da Esse procedimento, chamado mosaico
pastagem no período do verão em Nova Odessa/SP de imagens, bem como a retirada de

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erros originados durante a aquisição dos da- os próprios scripts permitem a criação de interfa-
dos e a correção do posicionamento das ima- ces amigáveis para uso. Por permitir o acesso via
gens, são procedimentos normalmente rea- aplicativos, a plataforma GEE tem servido como
lizados em solo, por meio de computadores base para diversas novas aplicações web para
ou servidores com alta capacidade, softwares geoprocessamento.
específicos e mão de obra especializada. Para obtenção de bons mapas de produtivida-
Para a execução dessa atividade, existem di- de são necessários procedimentos de calibração
versos softwares disponíveis, gratuitos ou pagos; das colhedoras a fim de evitar erros na obtenção
o principal software gratuito é o OpenDroneMap dos dados. Mesmo assim, por conta do grande vo-
(ODM)(Santos & Koenigkan, 2018) (http://www. lume de dados produzido, ferramentas de software
opendronemap.org). O ODM possui diversos pro- capazes de eliminar erros que ainda possam existir
jetos em sua plataforma, sendo possível sua insta- nos mapas, ou até mesmo dados desnecessários
lação em computador local ou em servidores para para análise, como os coletados nas bordaduras
prover acesso às ferramentas de mosaicamento. dos talhões, devem ser empregadas para melhorar
Em se tratando de softwares pagos, desta- ainda mais a qualidade da informação. Nesse con-
cam-se as plataformas Pix4D (https://pix4d.com) texto, podem ser destacados dois softwares (am-
e DroneDeploy (https://www.dronedeploy.com), bos gratuitos para uso): Yield Editor (Sudduth &
que possuem diversos módulos, incluindo fun- Drummond, 2007), atualmente na versão 2.0.7;
cionalidades de planejamento de missão e voos e Map Filter (Spekken et al. 2013), atualmente na
e pós-processamento, em que é possível obter versão 2.0. O Map Filter ainda pode ser utilizado
mapas de índices como, por exemplo, o NDVI, a para remoção de erros em mapas com alta densi-
partir das imagens mosaicadas, que são ampla- dade de pontos e que não sejam especificamente
mente usados em AP. Assim como na plataforma de produtividade, como os mapas de condutivi-
WebODM, as ferramentas de pós-processamento dade elétrica do solo.
do Pix4D e do DroneDeploy não precisam ser ins- Outros dois softwares gratuitos merecem des-
taladas em computador local, pois são acessadas taque por possibilitarem o tratamento eficiente
diretamente pela internet. tanto de imagens georreferenciadas quanto de
Imagens de satélite podem ser tratadas por dados vetoriais. O software R (https://www.r-
softwares gratuitos como o GvSig ou o QGis. Um -project.org) disponibiliza uma série de biblio-
dos principais softwares gratuitos para aquisi- tecas gratuitas que permitem realizar diversos
ção e tratamento de imagens de satélite usados procedimentos em dados georreferenciados, tais
pela Rede de Agricultura de Precisão da Em- como: leitura e gravação em diferentes formatos,
brapa em projeto com parceria do IMAmt tem limpeza dos dados e remoção de outliers, interpo-
sido a plataforma Google Earth Engine (GEE) lação espacial, extração de padrões e modelos de
(https://earthengine.google.com). Por meio des- classificação, índices de correlação, dentre outros.
sa plataforma, o usuário pode acessar e proces- Esse software também exige conhecimento pré-
sar imagens gratuitas com resolução espacial vio de programação de computadores por parte
aceitável para a AP, como as oriundas dos saté- dos usuários, porém aplicativos como o RStudio
lites Landsat-8 (30 m) e Sentinel-2 (10 m), sem a e RStudio Web (https://www.rstudio.com) podem
necessidade de ter disponíveis as imagens lo- facilitar bastante essas atividades. Outro software
calmente. Entretanto, a plataforma exige certo gratuito extremamente utilizado para esse fim é o
conhecimento de programação de computado- Sistema de Informações Geográficas QGIS (https://
res por parte do usuário, pois as aplicações que www.qgis.org). O QGIS é um SIG gratuito com di-
realizam geoprocessamento sobre as imagens, versas funcionalidades nativas de processamen-
tais como geração de séries temporais e mapas to de imagens e dados vetoriais, que podem ser
de NDVI, são desenvolvidas a partir de scripts de potencializadas com a inclusão de uma gama de
linguagem própria da plataforma. Por outro lado, plugins gratuitos disponíveis para download, al-
uma vez que o script é desenvolvido, ele pode ser guns deles específicos para a área de AP. Ao con-
compartilhado para outros usuários, sendo que trário do software R, apenas com conhecimento

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

de conceitos básicos de geoprocessa- ocorrem interferências diversas que


mento, o usuário já pode realizar diver- podem acarretar alteração dos pa-
sas operações úteis de tratamento de drões de variabilidade em um mesmo
dados pelo QGIS. talhão ao longo do tempo.
Assim, dificilmente os padrões espa-
5. Considerações finais ciais encontrados, por exemplo, para os
Em determinado momento, a disse- atributos de fertilidade química do solo
minação da AP valeu-se da promessa em uma área mantêm-se inalterados
ou da expectativa de homogeneiza- com o passar do tempo, independente-
ção das lavouras e da produtividade, mente do uso ou não de manejo sítio-
condições que, na realidade, não po- -específico (Figuras 15 e 16). Raramente
dem ser garantidas de forma perma- se verifica alta correlação entre um fator
nente como resultado de apenas uma de produção isolado, seja ele edáfico
ou algumas intervenções de manejo ou não, com a produtividade em áreas
sítio-específico. A variabilidade es- consolidadas de produção tecnificada.
pacial é uma característica intrínseca Essas constatações reforçam a neces-
aos ambientes de produção e dife- sidade de se trabalhar com uma abor-
renças de produtividade normalmen- dagem transdisciplinar na aplicação da
te são condicionadas por interações AP, visando aproveitar melhor seu po-
entre múltiplos fatores, os quais não tencial na busca de maior eficiência no
são estáticos. Pode-se afirmar que, a gerenciamento da propriedade agríco-
cada cultivo, mudam as condições e la (Resende e Coelho, 2017).
(Fonte: Wilda, 2013)

Figura 15. Diferentes padrões de variação da disponibilidade de potássio (K) no solo a partir de amostragens em
malha de 2 ha, realizadas em 2005, 2008 e 2011, em lavoura de 119 ha, manejada com adubação a taxa uniforme

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Apesar dos obstáculos técnicos e operacionais consolidando nas principais regiões produto-
a serem ainda superados, os benefícios potenciais ras do Brasil envolve a integração de aplicações
da AP são muito relevantes e, com a evolução con- da AP em várias frentes/especialidades, que, no
tínua das tecnologias disponibilizadas, diferentes todo, contribuem para decisões gerenciais mais
abordagens constituirão alternativas para o agri- bem embasadas e com maior confiabilidade de
cultor aprimorar as rotinas na fazenda. Muito desse que se estão fazendo as coisas certas, nos mo-
ferramental e das estratégias de obtenção e pro- mentos certos e nos locais e nas quantidades
cessamento de dados para tomada de decisão no requeridas. Esse “fazer o melhor possível” pas-
gerenciamento da variabilidade ainda requerem sa a constituir o protocolo natural no dia a dia
validação em condições de lavouras comerciais no das fazendas e depende, necessariamente, de
Brasil. Por fim, é preciso considerar que a aplicação um processo dinâmico e sem fim de captura de
das tecnologias de AP pressupõe certo nível de ca- dados para diagnóstico, processamento de in-
pacitação técnica nas diversas etapas compreendi- formações, tomada de decisão, intervenção, mo-
das, desde o planejamento de amostragens, pro- nitoramento de desempenho, retroalimentação/
cessamento de dados, decisão de intervenções no feedback e, se preciso, reorientação do manejo
manejo das lavouras, operação de equipamentos das lavouras. A capacidade de registro, armaze-
agrícolas com eletrônica embarcada, até a análise namento e análise/interpretação de informações
do desempenho técnico e econômico resultante. recentes e históricas das unidades produtivas
Muito mais do que a operacionalização de certamente será um diferencial de competitivi-
soluções pontuais, a tendência que vem se dade entre agricultores em um futuro próximo.
(Fonte: Wilda, 2013)

Figura 16. Variação da saturação por bases (V%) no solo a partir de amostragens em malha de 2 ha, realizadas
em 2005, 2008 e 2011, em lavoura de 119 ha, manejada com calagem a taxa variável. Nota-se que, depois de seis
anos, após dois ciclos de amostragem do solo e aplicação diferencial de calcário, ainda não se evidencia plena
uniformização da área, havendo alternância da localização de zonas com maior acidez no talhão

Referências bibliográficas: algumas referências no final do manual. Para complementos, entrar em


contato com os autores

97
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Levantamento da área, amostragem


de solo e de folhas
1. Levantamento de dados dentro de cada campo, existência de
Leandro
áreas regulares ou irregulares onde
Zancanaro
Fundação MT O levantamento detalhado de dados as culturas demonstram desenvolvi-
consiste em conhecer o máximo de de- mento diferenciado, mapeando-as,
talhes de cada campo. Para isto, há ne- buscando com a equipe da proprie-
cessidade de: dade informações complementares
sobre as causas dessas “manchas”;
• Percorrer todo o campo para avaliar • Definir as zonas de manejo den-
e caracterizar o solo (classificação, tro de cada campo: fazer quantas
textura, profundidade, coloração, subdivisões forem necessárias para
etc.), topografia, posição na paisa- executar o plano de amostragem
gem, etc; em cada uma dessas zonas de ma-
Claudinei
Kappes • Resgatar o máximo de detalhes nejo (Figura 1). Ao longo do tempo,
Fundação MT quanto ao histórico de manejo des- essas subdivisões podem ser man-
de a abertura (ano de abertura, tidas ou ajustadas conforme a ne-
correções e adubações realizadas, cessidade técnica. Estar ciente de
equipamentos utilizados, uniformi- que as subdivisões das zonas de
dade de aplicação, profundidades manejo são fundamentais para a
das operações, fontes e doses de realização do diagnóstico. Nessa eta-
corretivos, etc.); pa, a preocupação com o operacio-
• Culturas utilizadas e rotação de cul- nal não pode afetar o diagnóstico.
turas adotadas, com as respectivas Na definição das zonas de manejo
produtividades nas safras anteriores. dentro de cada campo, podem ser
Havendo possibilidade de detalhar utilizadas várias ferramentas rela-
as variedades, será uma oportunida- cionadas à área de conhecimento
de a ser aproveitada; da agricultura de precisão, mas esse
• Informações sobre a uniformidade uso exige conhecimento específico
de desenvolvimento das culturas e profundo da fundamentação de
(Fonte: Fundação MT/PMA)

Figura 1. Subdivisões dos talhões para amostragem de solo

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2012

cada ferramenta. A utilização destas ferramen- formar uma amostra composta. Este número de
tas deve associar todas as informações obtidas amostras simples é muito discutido, já que varia
no levantamento prévio especificado ante- conforme o parâmetro avaliado. Porém, como na
riormente. Muitas dessas ferramentas podem maioria das vezes todos os parâmetros de uma
gerar mapas, porém, que têm valor restrito se análise de rotina são determinados, há de se con-
forem utilizados de forma mecânica ou mate- siderar o parâmetro que exija o maior número de
mática, ou pela utilização direta de um soft- amostras simples.
ware. A primeira ferramenta a ser utilizada é Utilizar equipamento que realmente permita
o mapa de colheita; com ele, elabora-se uma coletar solo na profundidade desejada de forma
estratégia de investigação para melhor enten- uniforme.
dimento das causas da variação da produtivi- Se alguma das amostras simples, antes de ser
dade observada, se for o caso. inserida no recipiente que será utilizado para
homogeneizá-las para formar a amostra com-
2. Amostragem de solo para fins de recomendação posta, apresentar sinal de contaminação por re-
de calagem e adubação síduos de calcário, fertilizantes, resíduos vegetais
Fazer a amostragem de solo dentro de cada ou com algum erro no procedimento de coleta,
uma das zonas de manejo e dentro de cada uma deve ser imediatamente descartada, ou seja, não
das “manchas” ou “faixas” com o desenvolvimento ser inserida ao recipiente. Daí surge a responsa-
diferenciado. Se dentro de uma zona de manejo bilidade da pessoa designada para realizar a co-
estabelecida houver faixa ou mancha com o de- leta de solo.
senvolvimento diferenciado, há necessidade de Há várias metodologias para a coleta de solo
duas amostras: uma para a mancha ou faixa espe- quanto à posição do ponto para a coleta de cada
cífica e outra para a zona de manejo, sem misturar amostra simples. Em áreas que não estão sob sis-
as amostras, pois são condições diferentes. tema plantio direto consolidado e “verdadeiro”,
recomenda-se fazer a amostragem de solo na
Definir a metodologia de amostragem entrelinha da cultura anterior (Figura 2). Em solos
As opções existentes são várias. Abaixo, se- com sistema plantio direto consolidado e “verda-
guem algumas considerações sobre as principais deiro”, há outras metodologias específicas para
metodologias, mas há necessidade de se respei- esta condição.
tar o princípio de que independentemente do Evitar todo e qualquer risco de contaminação
tamanho de cada zona de manejo ou de cada das amostras coletadas com a presença de resí-
“faixa”, “mancha” ou “grid”, há necessidade de co- duos de corretivos, fertilizantes, resíduos vegetais
letar um mínimo de 20 amostras simples para sobre a superfície e no interior do volume de solo.
(Foto: Claudinei Kappes)

Figura 2. Amostragem de solo na entrelinha do algodoeiro

99
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Amostragem nas zonas de apropriado, parte-se para as etapas de


manejo definidas interpolações e confecção dos mapas
Adotar um caminhamento em zigue- de aplicação.
-zague que percorra de forma represen-
tativa a área a ser amostrada (Figura 3), Profundidade de amostragem
respeitando uma distância mínima da Em todos os estudos de calibra-
bordadura. Não coletar solo das man- ções oficiais, quando realizados, con-
chas específicas presentes dentro de siderou-se a profundidade de 20 cm,
cada zona de manejo estabelecida. Se ou seja, na interpretação dos resulta-
necessário, fazer amostragem específica dos das análises, devem-se levar em
para estas manchas. consideração os teores dos nutrientes
determinados nessa camada.
Amostragem em Grid A cultura do algodão é muito sen-
Fazer estudos prévios para avaliar a va- sível à acidez do solo. Por este motivo,
riabilidade espacial existente, por semiva- recomenda-se fazer amostragem no
riogramas, para ver se é possível fazer essa mínimo nas profundidades de 0 a 20
coleta em “grid”. Se o for, definir o tama- e de 20 a 40 cm.
nho do “grid”; ou seja, há necessidade de A amostragem nas camadas mais
se ter conhecimentos de geoestatística. profundas (20 a 40 e de 40 a 60 cm)
Somente após isto, e com conhecimento é obrigatória para a interpretação
(Fonte: Catani & Jacintho)

Figura 3. Percurso em zigue-zague para a amostragem de solo

100
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dos níveis de enxofre no solo e também para produção adotado ao longo dos anos e da adu-
avaliar a condição química para o crescimen- bação realizada na cultura, associadas às condi-
to das raízes em profundidade, e, automatica- ções meteorológicas ocorridas durante seu ciclo.
mente, a necessidade de práticas de correção Assim, espera-se a existência de relação entre os
do solo em profundidade por meio de preparo teores no solo e aqueles presentes nas folhas, e
do solo ou da gessagem. destes com a produtividade até um determinado
Em campos onde foi realizada calagem su- limite. Trata-se de uma ferramenta essencial para
perficial e/ou adubação superficial, pode ser a avaliação do estado nutricional do algodoeiro
interessante fazer amostragem estratificada na e da disponibilidade de nutrientes no solo,
camada de 0 a 20 cm para favorecer o diagnós- sobretudo para os micronutrientes, devendo
tico, embora a interpretação dos resultados e ser usada em conjunto com a análise do solo
a recomendação de corretivos e adubação de- e o histórico de uso da área, visando uma re-
vem considerar as profundidades de 0 a 20 cm comendação de adubação que proporcione a
e de 20 a 40 cm. máxima eficiência econômica.
A recomendação é coletar, pelo menos, 25 fo-
Condicionamento da amostra e envio lhas por área homogênea, colhidas de 25 plantas
ao laboratório diferentes, sendo a folha retirada da 4ª ou 5ª po-
As amostras simples, que são aquelas coleta- sição do caule principal, contada a partir do ápi-
das em cada um dos pontos e que vão formar a ce, durante o período de máximo florescimento.
amostra composta, devem ser destorroadas e de- Esta folha é a mais adequada para avaliar o estado
vidamente homogeneizadas. nutricional da cultura, porque está recém-madu-
Em seguida, separar 400 gramas da amostra ra, completamente expandida, fisiologicamente
composta e colocá-los em saco plástico novo e mais ativa e se encontra em equilíbrio fisiológico.
devidamente identificado. Ao realizar a coleta, deve-se ter cuidado para
As amostras devem ser enviadas o mais rápido não coletar folhas com idade inferior ou superior
possível ao laboratório selecionado. No entanto, ao que é recomendado, pois essa condição pode-
se por questão de logística, o tempo de envio ao rá alterar as concentrações dos nutrientes. Não
laboratório for maior, deve-se secar as amostras a coletar amostras na bordadura dos talhões, onde
serem enviadas. Secar à sombra e em ambiente há chance de contaminação com poeira. Não co-
livre de risco de contaminação. letar amostras de folhas em campos que recebe-
Enviar a um laboratório de sua confiança. ram aplicação foliar recente.
As amostras coletadas devem ser enviadas
3. Amostragem de folhas imediatamente ao laboratório. Se não for possí-
Geralmente, os teores de nutrientes presentes vel, é necessário desidratá-las. As amostras de-
nas folhas são reflexo das condições de fertilida- vem ser acondicionadas em sacos de papel novos
de do solo, incluindo a influência do sistema de e que não tenham impressão gráfica.

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

101
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

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A PLANTA DE ALGODÃO

Para manejar adequadamente uma lavoura de algodão, é preciso


conhecer em detalhes a planta de algodão, a sua fenologia e seus ritmos de
desenvolvimento. Sendo uma planta com floração indeterminada, há justaposição
das diversas fases fenológicas, e antagonismo para a alocação dos assimilados.
Esse conhecimento irá ajudar na tomada de decisão sobre manejo de reguladores
de crescimento e fracionamento das diversas adubações

103
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Crescimento do algodoeiro
O algodoeiro, sendo uma planta ocorram de modo balanceado.
perene, apresenta crescimento ve- Na Tabela 1, encontra-se uma esti-
getativo e reprodutivo concomitan- mativa do valor de cada posição pro-
Ciro Antonio tes; no entanto, é necessário que eles dutiva da planta.
Rosolem
Unesp

Tabela 1. Produção de fibra e valor da produção de algodão estratificada na planta, experimento


com a variedade ITA 90, em Pederneiras/SP, produtividade de 360 @.ha-1, espaçamento de 0,90 m e
população de 88 mil plantas ha-1 (Preço de US$ 0,70 lb-1)

Nó Produção de fibra (kg.ha-1) Valor da produção (US$ ha-1)


1 posição
a
2a posição 3a posição % 1 posição
a
2a posição 3a posição %

6 111 41 6 171 63 6
7 263 88 406
8 131 162 206 249
9 128 41 197 63
10 120 108 185 165
11 220 54 44 88 339 83 67 88
12 213 215 328 332
13 53 50 116 108
14 133 288
15 76 64 116 99
16 132 6 204 6
Total 1582 654 128 2359 2556 1036 193 3785
% 67 28 5 100 67 28 5 100

A maior parte da produção, ou seja, exigências térmicas e, portanto, o ciclo


88% do valor do algodão produzido, da cultura, podem ser estimadas. Na
está entre os nós 7 e 15 da planta. Isso Tabela 2, encontra-se a estimativa de
mostra a enorme importância em se ciclo para variedades do tipo da Delta
ter uma lavoura que fixe — e não perca Pine 90 para algumas regiões do Brasil.
— as primeiras posições do baixeiro. Trata-se de uma estimativa baseadas
A temperatura influencia forte- nas temperaturas dos últimos 30 anos,
mente o crescimento da planta, e es- de modo que, em cada ano em parti-
tudos já foram feitos para determinar cular, o ciclo vai variar, dependendo da
a exigência de temperatura para cada temperatura daquele ano e microrre-
fase do crescimento do algodoeiro. As gião em particular.

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Tabela 2. Número de Graus-Dia e dias calculados para o ciclo do algodoeiro em três regiões algodoeiras do Brasil,
considerando-se as médias de temperatura dos últimos 30 anos. Considerada semeadura em 15 de dezembro e
emergência em 21 de dezembro

MT MT BA
Graus-Dias* Sudeste Meio-Norte Oeste
o
C Dias
Da emergência ao primeiro botão 360 31 34 36
Do primeiro botão à primeira flor 270 22 26 27
Da primeira flor ao primeiro capulho 620 58 67 63
Da emergência ao primeiro capulho* 1350 115 135 133
Da flor branca no quinto nó à colheita 620 64 64 69
Da emergência à colheita 1970 179 199 202
(*) Ver cálculo de Unidades de Calor (UC).

UC - Unidades de Calor acumuladas, valor calculado por:


UC = ∑ [(T - t)/2] - 15, onde:
T - Temperatura máxima diária
t - Temperatura mínima diária
15 - (°C), temperatura base

1. Fenologia do algodoeiro 1.1 Fase vegetativa (Figura 1)


A cultura do algodão necessita de monitoramento V0 - vai da emergência da plântula ao momento
constante com vistas ao controle de pragas e doenças, em que a nervura principal da primeira folha verda-
realização de operações de adubação em cobertura ou deira alcança 2,5 cm de comprimento;
foliar, aplicação de reguladores de crescimento e matu- V1 - do final de V0 até que a segunda folha al-
radores ou desfolhantes. Marur e Ruano, em 2001, de- cance 2,5 cm de comprimento;
senvolveram a“Escala do Algodão”, ou seja, um sistema V2 - do final de V1 até que a nervura central da
de identificação de estádios de desenvolvimento do terceira folha atinja 2,5 cm;
algodoeiro. O ciclo do algodoeiro é dividido em quatro V3–Vn – segue-se o mesmo critério.
fases: a vegetativa (V), formação de botões florais (B),
abertura de flores (F) e abertura de capulhos (C).
(Desenho original de: Maria G. Y. Sonomura)

Figura 1. Estádios vegetativos do algodoeiro, segundo escala de Marur e Ruano (2001)

105
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

1.2 Fase de formação de botões florais (Figura 2)


B1 - inicia-se quando o primeiro botão floral se torna visível;
B2 - primeiro botão floral do segundo ramo frutífero visível;
B3 - primeiro botão floral do terceiro ramo frutífero visível. Nesta época, o se-
gundo botão do primeiro ramo também se torna visível;
B4-Bn - segue-se o mesmo critério.

(Desenho original de: Maria G. Y. Sonomura)

Figura 2. Fase de botões florais do algodoeiro, segun-


do a escala de Marur e Ruano (2001)

1.3 Florescimento (Figuras 3 e 4)


F1 - primeiro botão floral do primeiro ramo se transforma em flor;
F2 - primeiro botão floral do segundo ramo se transforma em flor;
F3-Fn - mesmo critério.
(Desenho original de: Maria G. Y. Sonomura)

Figura 3. Fase de florescimento do algodoeiro, segundo a esca-


la proposta por Marur e Ruano (2001)

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(Desenho original de: Maria G. Y. Sonomura)

Figura 4. Planta de algodão no estádio F5, de acordo com a escala de Marur e


Ruano (2001)

1.4 Abertura de capulhos (Figura 5)


C1 - a primeira maçã do primeiro ramo se abre, transformando-se em capulho;
C2 - a primeira maçã do segundo ramo se abre, transformando-se em capulho;
C3-Cn - mesmo critério.
(Desenho original de: Maria G. Y. Sonomura)

Figura 5. Plantas de algodão em estádios com capulhos, segundo escala de Marur e


Ruano (2001)

107
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Desenho original de: C. A. Rosolem)

}
10
9
8
7
6
5 10 nós acima da
1ª flor branca
4
3
2
1

} 1ª flor no 5º ou sexto nó

Figura 6. Esquema de uma planta entrando no estádio F1 (Marur e Ruano, 2001).


Em uma planta vigorosa, com alto potencial produtivo, a primeira flor deve aparecer
no 5º nó da haste principal, de preferência. Nesta fase, uma planta com alto poten-
cial deverá ter, na haste principal, dez nós acima da flor branca

É interessante notar que o estádio efeito na velocidade de emergência da


pode ser determinado mesmo com a planta do que a própria água. A tempe-
ocorrência de queda de estruturas, to- ratura média ótima para germinação e
mando-se outras estruturas como re- emergência do algodoeiro, no campo, é
ferência. Assim, se a primeira estrutura de 32°C, mas pode ocorrer normalmen-
de um determinado ramo foi perdida, te entre 21°C e 34°C. Se a temperatura
toma-se a segunda, dois ramos abaixo, média for menor que 21°C ou maior que
que deverá ter a mesma idade fisiológi- 34°C, não haverá emergência normal da
ca (Figura 4). planta, mesmo que o solo esteja úmido.
Neste caso, a cultura será desuniforme,
2. Recomendações para as diferentes pois apenas as sementes mais vigorosas
fases de crescimento do algodoeiro do lote conseguirão enfrentar o estres-
se e emergir. Com a normalização da
2.1 Semeadura e emergência temperatura, parte das outras semen-
O bom estabelecimento da cultura é tes pode emergir, gerando uma lavoura
chave para o sucesso da lavoura. Em ter- desuniforme.
mos de manejo, nesta fase, o objetivo
será estabelecer um estande adequado
no mínimo tempo possível. Providências para garantir o bom
A velocidade de emergência do al- estabelecimento da cultura: utilizar
godoeiro depende fundamentalmente sementes de boa qualidade, semear
da temperatura e, em condições nor- na época adequada, com temperatura
mais, deve ocorrer entre cinco e dez e umidade adequadas e com sementes
colocadas em profundidade uniforme
dias. Ao contrário do que se pode pen-
por máquinas bem reguladas.
sar inicialmente, se o solo não estiver
muito seco, a temperatura tem maior

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2012

2.2 Da emergência ao primeiro botão novo ramo simpodial (frutífero) na haste principal a
floral: fase vegetativa cada três dias. Por ocasião do aparecimento da pri-
Nesta fase, devem estabelecer-se um bom sis- meira flor, as plantas devem ter desenvolvido entre
tema radicular e plantas vigorosas. 14 e 16 nós na haste principal, acima do nó cotile-
Nesta fase, o crescimento da parte aérea é rela- donar. Nesta fase, o crescimento vegetativo é funda-
tivamente lento, mas há vigoroso crescimento do mental para gerar um grande número de posições
sistema radicular. Dependendo da temperatura, frutíferas. Por ocasião do aparecimento da primeira
esta fase pode demorar de 27 a 38 dias. No Brasil, flor (branca), uma planta com bom potencial de pro-
de acordo com a Tabela 2 (p. 105), deve-se esperar dução deve ter dez nós acima dessa flor (Figura 6).
que esta fase demore de 31 a 36 dias, dependendo
do local.
Providências necessárias para obtenção de
A raiz pivotante penetra o solo rapidamente,
uma planta vigorosa, com alto potencial
podendo atingir uma profundidade de 25 cm ou
produtivo: as mesmas dos anteriores, mais um
mais por ocasião da abertura dos cotilédones. bom acompanhamento do crescimento e um ótimo
Quando a parte aérea tiver por volta de 35 cm de controle de pragas iniciais.
altura, a raiz deverá estar a 90 cm de profundida-
de. O comprimento total das raízes continua a au-
mentar até que a planta atinja sua máxima altura 2.4 Da primeira flor ao primeiro capulho: fase
e os frutos comecem a formar-se. de florescimento
Nesta fase, desenvolvem-se nós e internós, O objetivo do agricultor nesta fase é a fixação do
podendo haver início de crescimento de um ou maior número possível de maçãs.
mais ramos vegetativos. O algodoeiro possui dois No Brasil, espera-se que esta fase demore de 58
tipos de ramos: reprodutivos e vegetativos. Em a 67 dias, como aparece na Tabela 2 (p. 105). É a fase
cada nó, desenvolve-se um ramo reprodutivo. Por em que acontecem diversos eventos na planta, com
outro lado, não é desejável o desenvolvimento de grande intensidade e ao mesmo tempo. A compe-
muitos ramos vegetativos. tição entre crescimento vegetativo e reprodutivo
Os primeiros quatro ou cinco nós da haste prin- acentua-se, exigindo maior atenção. É atingida a
cipal são vegetativos, e suas folhas têm duração máxima interseção de luz (fechamento da copa).
curta. O primeiro botão floral deve aparecer entre No final da fase que vai da primeira flor à aber-
o quinto e o sexto nó. tura do primeiro capulho, muitas maçãs já estão
em processo de maturação. Portanto, na segunda
metade desta fase, a ocorrência de qualquer es-
Providências para o estabelecimento de um tresse que diminua a fotossíntese, como tempe-
bom sistema radicular e plantas vigorosas: raturas muito altas ou muito baixas, muitos dias
semeadura na época correta, uniformidade na nublados, seca, etc., além do prejuízo pela queda
profundidade de semeadura, bom programa de estruturas mais novas, resultará em prejuízo
de correção e fertilização do solo e ausência de nas maçãs em amadurecimento.
camadas compactadas. A fase encerra-se com o que, em inglês, se cha-
ma “cut-out”, que, traduzindo-se ao pé da letra, se-
2.3 Do primeiro botão à primeira flor: fase de ria “corte”. Ou seja, é quando a planta já está com a
botões florais carga total e entrará em senescência se tiver carga
Nesta fase, o objetivo do agricultor será obter pendente suficiente. Mas como reconhecer este
uma planta com o maior número de nós possível, momento? O “cut-out”, considerando-se a produ-
providenciando espaço na planta para que haja flo- ção econômica da planta, ocorre quando houver
rescimento e produção. cinco nós acima da flor branca, de primeira posi-
A duração desta fase é também regulada pela ção, mais alta na planta (Figura 7). Na contagem,
temperatura, durando usualmente de 22 a 27 dias, devem ser considerados como nós aqueles que
no Brasil (Tabela 2, p.105). Em temperaturas médias tiverem uma folha, no mínimo, do tamanho de
de 22°C a 25°C, as plantas iniciam a produção de um uma moeda de R$ 1.

109
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Providências para conseguir a fixação do maior número possível de maçãs:


excelente controle de pragas e doenças, acompanhamento da queda de estruturas
reprodutivas e controle do crescimento da planta em altura.

(Desenho original de: C. A. Rosolem)

Figura 7. Planta de algodão na fase de “cut-out”, que


corresponde, mais ou menos, à fase C1 definida por Marur
e Ruano (2001). Foram tiradas algumas folhas para
maior clareza

2.5 Do primeiro capulho à colheita alta para inibir o crescimento vegeta-


O objetivo nesta fase será consolidar tivo, em função da competição que o
a produção, preparar uma colheita rápi- grande número de maçãs em desen-
da e limpa. volvimento deve promover. A ativida-
Para temperaturas médias de 30°C, de do sistema radicular está em declí-
26°C e 23oC, o tempo para se obter nio, assim como a fotossíntese da copa
maçãs maduras será, respectivamente, da planta diminui. Assim, nesta fase, o
de 40, 50 e 60 dias. Nesta fase, a carga principal processo que ocorre na planta
pendente deve ser suficientemente é a translocação.

Providências para preparar uma colheita rápida e limpa: acompanhamento da


maturação das maçãs, controle de pragas tardias, aplicação de maturadores e/ou
desfolhantes na época e dose corretas.

Referências bibliográficas: entrar em contato com o autor

110
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2012

111
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Distribuição da produção no algodoeiro:


conceitos, fatores ecofisiológicos e
implicações sobre a produtividade e
Juan Piero
sobre a qualidade de fibra
Antonio O algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é terística dificulta a identificação das di-
Raphael
originalmente uma planta perene arbus- ferentes fases de desenvolvimento e de
Unesp
tiva, nativa de regiões tropicais e subtro- seus respectivos momentos de transição.
picais, de baixa disponibilidade hídrica, Uma das consequências do crescimento
tendo sido adaptada para cultivo como indeterminado é que se pode observar
cultura anual. Apresenta hábito de cres- que o algodoeiro apresenta um padrão de
cimento indeterminado, caracterizado desenvolvimento peculiar e muito afetado
pelos processos simultâneos e compe- pelo ambiente.
titivos entre si do crescimento vegetati- Morfologicamente, a planta é com-
vo e do crescimento reprodutivo após posta por um sistema radicular pivo-
a emissão das primeiras estruturas re- tante, que pode ter de 35 cm a mais de
Ciro Antonio produtivas ou, em outros termos, pela 2 m, dependendo do solo e do período
Rosolem competitividade entre o crescimento e o de crescimento. O caule, ou haste princi-
Unesp desenvolvimento da planta. Essa carac- pal, é composto por uma série de nós e
entrenós, encerrando-se na gema ter-
minal. A contagem de nós da haste prin-
cipal é, de acordo com seu desenvolvi-
(Fonte: adaptado de Oosterhuis (1999))

mento, realizada no sentido ascendente.


Inicia-se no primeiro nó verdadeiro (pri-
meiro nó acima do nó cotiledonar) e
encerra-se no último nó antes da gema
apical (Figura 1). Localiza-se o nó cotile-
Fábio R. Echer donar por meio da respectiva cicatriz pa-
Unoeste reada na haste principal, logo acima do
solo. Por convenção, o nó cotiledonar é
contado como nó “0” (Figura 2).
(Imagem: Bob Hutmacher e Brian Marsh. Disponível
em: http://cottoninfo.ucdavis.edu/Plant_Mapping/)

Figura 1. Representação esquemática da estru-


Figura 2. Identificação do nó cotiledonar
tura de uma planta de algodão, com identifica-
em caule lignificado, após a queda dos
ção da haste principal, nós, ramos vegetativos
cotilédones
(monopodiais) e ramos frutíferos (simpodiais)

Mais detalhes no Boletim de P&D n° 5/2019 do IMAmt

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2012

Dos nós desenvolvem-se folhas (folhas da da planta; eles também contêm nós, nos quais
haste) e ramos; os ramos originários da haste podem desenvolver-se ramos vegetativos ou
principal podem ser vegetativos, de crescimen- ramos frutíferos (Figuras 1 e 3). O primeiro ramo
to monopodial governado pela gema situada frutífero primário (diretamente ligado à haste
no ápice do ramo, e reprodutivos (ou frutífe- principal) surge geralmente entre o 4º e o 8º nó
ros), governados por várias gemas que se de- do caule. Esses ramos apresentam, visualmen-
senvolvem sucessivamente no ramo (Figura 3). te, uma forma de zigue-zague, desenvolvendo
Em áreas comerciais, em que o número de plan- em cada ponto de inserção de cada entrenó do
tas por unidade de área é alto, a quantidade ramo uma folha (folha de ramo) e uma estrutu-
de ramos vegetativos geralmente é pequena, ra frutífera (botão floral). Assim, a produção de
sendo comum encontrarem-se de dois a cinco algodão é resultante do desenvolvimento dos
ramos. Os ramos vegetativos situam-se nos pri- botões em flores e frutos em ramos simpodiais
meiros nós da haste principal, na parte inferior (Figuras 3, 4 e 5).
(Imagem: Deterling e El-Zik (1982))

Figura 3. Estruturas (nós, caule e ramos e estruturas reprodutivas). As folhas da haste


foram removidas para facilitar as identificações

113
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Fonte: Oosterhuis (1990))

Figura 4. Ramo frutífero primário (originário diretamente da haste principal), destacando-se a folha da
haste, as folhas de ramo e as estruturas reprodutivas
(Imagem: https://cottageatthecrossroads.com)

Figura 5. Ramos simpodiais em uma planta de algodão (G. hirsutum L.), destacando-se as estruturas de folha
de ramo (limbo e pecíolo) e reprodutivas (botão floral e pedúnculo)

114
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2012

O algodoeiro apresenta um padrão peculiar

(Fonte: McClelland (1916) e Oosterhuis (1999))


de florescimento, o qual, consequentemente,
influencia os atributos da produção formada. A
flor do algodoeiro é branca no dia da abertura,
tornando-se roxa ou púrpura após a fecundação
e à exposição solar, caindo alguns dias depois
e deixando no local o fruto jovem, no caso de
este não ter sido abortado. Aponta-se na litera-
tura que, em média, o intervalo entre a abertura
de flores consecutivas situadas em uma mesma
posição de ramos imediatamente sucessivos é
de aproximadamente três dias, e que o intervalo
entre a abertura de flores consecutivamente lo-
calizadas no mesmo ramo frutífero é de seis dias
(Figura 6). O resultado é um padrão de florescimen-
to em forma de espiral, que possibilita um ordena-
mento cronológico dos frutos formados. Mesmo
que mais recentemente alguns experimentos te-
nham demonstrado redução no intervalo de tem-
po entre flores sucessivas, a relação aproximada
de 2:1 entre intervalos horizontais (posições ime-
diatamente sucessivas no mesmo ramo) e verticais
(mesma posição de ramos imediatamente conse-
cutivos) tem sido constatada. A previsibilidade do
florescimento é um dos pontos fundamentais para
a avaliação das estruturas da planta visando-se à
caracterização do ciclo e da produção formada.

Trataremos, neste capítulo, da apresentação e


das respectivas aplicações de métodos de ava-
liação de estruturas vegetativas e reprodutivas
da planta. Também serão feitas discussões pon- Figura 6. Representação esquemática da estrutura
de uma planta de algodão com dias teóricos de
tuais sobre as relações entre essas avaliações e
abertura das flores nos ramos frutíferos primários,
fatores abióticos. tendo sido atribuído ao dia de abertura da primeira
flor o valor “0”
1. Mapeamento de plantas no
algodoeiro
A técnica de localização e identificação de b) determinar se o progresso do desenvolvi-
estruturas reprodutivas e vegetativas mediante mento está adequado de acordo com o manejo
um critério sistemático é conhecida como ma- planejado;
peamento de plantas. Entre os objetivos do ma- c) determinar se a retenção de frutos está
peamento estão: adequada ou se são necessários, se possível,
ajustes de manejo;
a) determinar se o crescimento das plantas d) avaliar o balanço entre crescimento vege-
ocorre ou ocorreu normalmente; tativo e reprodutivo;

115
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

e) determinar o início e o fim do de novas pesquisas e levantamentos


manejo de fertilizantes, pragas, irriga- no Brasil para fornecer valores refe-
ção etc; renciais de mapeamento em lavouras
f ) diagnosticar efeitos ocorridos produtivas considerando-se os novos
durante o ciclo sobre a distribuição da sistemas de manejo, principalmente
produção de capulhos final da planta. aqueles que envolvem o uso da cultu-
ra em segunda safra.
Conforme descrito anteriormente, a A seguir, serão especificadas ava-
planta apresenta nós, entrenós, ramos liações de mapeamento. Em áreas de
vegetativos e frutíferos. Os ramos frutí- monitoramento durante o ciclo, com
feros, por sua vez, apresentam posições boa distribuição de plantas, reco-
mais proximais ou distais em relação menda-se que se avaliem grupos de
ao caule (Figuras 4, 5 e 6). Todas essas ao menos três plantas consecutivas
características devem ser levadas em por ponto de avaliação, número que
conta para efetuar o mapeamento, pode ser aumentado em áreas mais
que pode ser uma estratégia impor- desuniformes. O número de pontos
tante para relacionar o desenvolvi- de avaliação varia, sendo possíveis re-
mento da planta e a sua capacidade sultados satisfatórios em cinco pontos
produtiva com observações pontuais aleatórios em áreas uniformes (regiões
ou sequenciais no campo. Há basica- uniformes de um mesmo talhão). Para
mente dois tipos de mapeamento: o avaliações mais rigorosas e detalha-
mapeamento durante o ciclo, em que das, ou em áreas muito grandes ou
as estruturas podem ser avaliadas para desuniformes, pode ser necessário, no
diagnóstico do estado atual das plan- entanto, aumentar o número de pon-
tas ou mesmo para nortear decisões tos. Avaliações que envolvam colheita
de manejo; e o mapeamento no fim de capulhos devem ser delineadas e
do ciclo, que tem por objetivo a cons- dimensionadas previamente visando-
tatação de eventos acontecidos ante- -se a garantir a representatividade da
riormente, servindo para diagnosticar área estudada.
efeitos ambientais ou de manejo. Uma
modalidade desse último caso é a 1.1 Altura de plantas
avaliação da distribuição de capulhos No algodoeiro, a altura total das
ou de sua respectiva produção. Serão plantas é normalmente medida como
abordadas avaliações dentro dessas a distância entre o solo e o nó da
duas classificações de mapeamento. gema apical da haste principal. Como
No mapeamento, os resultados o algodoeiro apresenta hábito de
observados são confrontados com va- crescimento indeterminado, a altura
lores referenciais prévios apontados é um indicador da magnitude do cres-
pela literatura científica. No entanto, é cimento vegetativo; a planta é muito
importante ressaltar que não há uma responsiva em altura a fatores que afe-
forma única definida para todas as tam sensivelmente o crescimento. Um
condições possíveis, isso porque há exemplo é o rápido aumento da altu-
uma série de fatores que influenciam ra em resposta a altas doses de adubo
as respostas das plantas, incluindo lo- nitrogenado. Durante a fase de cresci-
cal, tipo de solo, temperatura, manejo, mento vegetativo mais rápido (entre
população de plantas, época de semea- o 1º botão floral e a 1ª flor), podem ser
dura etc. As referências são, de fato, muito observados incrementos de até 3
úteis, mas, sempre que possível, devem cm por dia. O valor final de altura da
ser aperfeiçoadas para cada ambiente. planta deve estar em torno de 1,5 vez
Reitera-se, nesse contexto, a necessidade o espaçamento entre linhas; há casos,

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porém, de cultivares modernas que são altamen- intenso, entre o 6º e o 16º nó, o intervalo pode
te produtivas com plantas mais baixas. É possível, reduzir-se para 3,5-4 dias.
por exemplo, que algumas áreas sejam muito pro-
dutivas com espaçamento entre linhas de 90 cm e 1.3 Intervalos de florescimento vertical
altura final de plantas de 1,05-1,10 m (1,1-1,2 vez e horizontal
o espaçamento). A altura de plantas é uma avalia- Os intervalos de florescimento entre posições
ção complementar a outras feitas durante ou ao iguais de ramos imediatamente consecutivos
final do ciclo. Alguns fatores de manejo podem (intervalo vertical) ou de posições consecutivas
influenciar muito a altura durante o ciclo e a al- de um mesmo ramo (intervalo horizontal) indi-
tura final, como presença de nematoides no solo, cam a velocidade de formação de novas flores;
ausência ou excesso nitrogênio no solo, estresse tais intervalos podem variar em função de culti-
térmico ou hídrico, reguladores de crescimento vares ou da temperatura. Conforme já discutido,
etc. Medidas de altura podem ser utilizadas para a relação de intervalo horizontal para vertical
determinar o manejo de regulador de crescimento. está em torno de 2:1. Há registros de intervalo
de crescimento horizontal variando entre 5,8 e
1.2 Números de nós da haste principal oito dias e de florescimento vertical entre dois e
A contagem do número de nós da haste prin- quatro dias; esses intervalos são indicadores da
cipal é importante para localizar as estruturas ve- precocidade da planta. No exemplo da Figura 6,
getativas e reprodutivas das plantas. O número ilustra-se bem o conceito desses intervalos, no
total de nós da haste principal também é utili- qual enquanto o intervalo de florescimento ver-
zado como indicador do crescimento vegeta- tical é três dias, o de florescimento horizontal é
tivo e, se avaliado durante o desenvolvimento de seis.
periodicamente, indica também a velocidade de
crescimento; no entanto, o número total de nós 1.4 Comprimento médio do entrenó
da planta é também influenciado por caracterís- O comprimento médio do entrenó é obtido
ticas genéticas. O número final de nós em áreas dividindo-se a altura da planta pelo número de
produtivas no Brasil está geralmente entre 20 e entrenós totais em questão; trata-se de carac-
25, mas pode ser reduzido se a planta for subme- terística muito influenciada pela temperatura,
tida a estresses severos ou quando a semeadura sobretudo no início do ciclo. Em áreas bastante
é muito tardia, com pouco tempo para formação produtivas, com plantas que possuem mais de
de um grande número de nós. A contagem do vinte nós finais, médias de 4,5-5,5 cm/entrenó são
número de nós inicia-se no primeiro nó verda- encontradas. O aumento de temperatura resulta
deiro (primeiro acima do nó cotiledonar) e vai em maiores valores de comprimento de entrenós,
até o último nó antes da gema apical (Figura 1, enquanto a redução de temperatura reduz seus
p.112). Para fins de avaliação durante o desen- valores. Estresses, como deficiência nutricional e
volvimento da planta, considera-se como o últi- baixa disponibilidade de água, também reduzem
mo nó da planta o mais próximo da gema apical o comprimento médio do entrenó. A altura da
que apresente uma folha da haste com diâmetro planta é um fator mais responsivo a estresses am-
de 2,5 cm. bientais do que o número de nós.
A contagem do número de nós é muito res- O comprimento médio de entrenó de uma
ponsiva ao acúmulo de graus-dias até o floresci- planta inteira é um indicador que apresenta a
mento; a partir de então, passa a sofrer influên- desvantagem de ser uma medida cumulativa.
cia determinante do balanço entre as fontes e Para tomada de decisão de manejo, são mais
os drenos vegetativos e reprodutivos. Taxas de úteis os valores dos últimos entrenós da planta,
até 3,5 dias para formação de um novo nó são que indicam o crescimento atual. Por exemplo,
observadas durante as épocas de incremen- de acordo com Echer et al. (2014), a necessidade
to máximo em média. O intervalo observado de aplicação de regulador de crescimento pode
para a formação de uma nova folha em um nó ser definida a partir do comprimento médio de
da haste principal é, em média, de cinco dias, entrenós envolvendo os últimos cinco nós da
enquanto que na época de crescimento mais haste principal (Figura 7).

117
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Fonte: Echer et al. (2014))

Figura 7. Medida do comprimento dos entrenós


delimitados pelos últimos cinco nós da planta
(quatro últimos entrenós), que pode ser utilizada
para recomendação de aplicações de reguladores
de crescimento

1.5 Taxa periódica de crescimento Considerando-se o intervalo de dias,


Pode-se determinar as taxas pe- o crescimento em altura é de (75-50)
riódicas de crescimento medindo-se, / 10 dias = 25/10 = 2,5 cm/dia.
em intervalos sucessivos de tempo,
altura, o número de nós e o com- 1.6 Nó do primeiro ramo
primento de entrenós. Esses valores frutífero primário
são bastante úteis quando compa- Normalmente, em áreas de produ-
rados com plantas referenciais para ção, o primeiro ramo frutífero apare-
avaliação de uma cultivar ou de um ce assiduamente entre o 4º e o 8º nó
estresse decorrente do ambiente ou da haste principal, ocorrendo mais
de decisões de manejo. Exemplo: frequentemente entre o 5º e o 7º
se uma planta tem, em uma ava- nó (Figura 8); o nó em que se situa o
liação, 50 cm de altura e doze nós primeiro ramo simpodial indica pre-
e, após dez dias, 75 cm e dezesseis liminarmente se uma planta tende a
nós, houve um crescimento de (75- um hábito de crescimento mais de-
50) / (16-12) = 15/4 = 3,25 cm/nó. terminado ou mais indeterminado.

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2012

No momento em que emite o primeiro ramo precocidade das plantas; também pode ser
frutífero, a planta já acumulou um desenvol- interpretado para nortear decisões de ma-
vimento vegetativo prévio. Conforme mencio- nejo. Por exemplo, se a retenção for bai-
nado, uma vez que se inicia a fase reprodutiva, xa, possivelmente o crescimento vegetati-
a velocidade de abertura de flores é maior do vo é excessivo e demandaria, nesse caso,
que a de formação de novos nós; assim, em al- aplicação de regulador de crescimento. No
gum momento do ciclo, uma flor será aberta entanto, se a retenção inicial é baixa e o cresci-
no topo da planta. Se o primeiro ramo frutífe- mento vegetativo é baixo, uma possível opção
ro situa-se em um nó inferior da haste princi- seria a aplicação de nitrogênio em cobertura,
pal, o desenvolvimento vegetativo prévio foi caso seja possível alongar o ciclo. No início do
mais limitado, e uma flor atingirá o topo da ciclo, retenções inferiores a 80% indicam per-
planta mais rapidamente. Por outro lado, se a das por estresses ambientais ou ataques de
formação do primeiro ramo frutífero é “atra- pragas; atenção especial deve ser dada duran-
sada” para um nó superior, é indicativo de um te o período de desenvolvimento entre o 7º e
desenvolvimento vegetativo prévio maior e, o 16º nó, pois nessa região é produzida a maior
consequentemente, maior duração de tempo parte da fibra e onde está a fibra de melhor
até as últimas flores abrirem-se nos últimos qualidade.
ramos, tendo-se, portanto, um ciclo mais lon-
go. Assim, um menor valor do nó de inserção 1.8 Nós acima da primeira flor branca (NAFB)
do primeiro ramo frutífero indica uma planta No momento da abertura da primeira flor
de ciclo mais determinado, de menor duração. do primeiro ramo reprodutivo, normalmente
Estresses muito severos causados por ataques entre cinquenta e sessenta dias após a emer-
de nematoides ou compactação do solo redu- gência, há uma série de nós, folhas de haste e
zem esse nó. Dias com temperaturas médias ramos acima dela que indicam o “crescimento
muito baixas (<20°C) e altas doses de N têm acumulado” da planta até o momento. Se esse
sido associadas a um aumento desse primeiro número de nós é grande, houve grande cres-
nó de inserção. Os resultados de pesquisa su- cimento acumulado anterior, e infere-se que
gerem uma faixa ótima de temperatura entre haverá mais sítios de frutificação disponíveis
22°C e 25°C para que não ocorra um atraso fe- para a formação de flores e frutos. Por outro
nológico desse momento. lado, se esse número for baixo, o florescimento
levará menos tempo para alcançar o topo da
1.7 Taxa de retenção percentual nos primeiros planta, o que está relacionado a uma redução
cinco ramos simpodiais do número de frutos a serem produzidos. Em
Trata-se do percentual de frutos retidos nos sistemas de manejo tradicional, preconiza-se
primeiros cinco ramos simpodiais, podendo- que as plantas tenham entre oito e dez nós aci-
-se considerar na avaliação apenas as primei- ma da primeira flor no momento de sua aber-
ras posições de ramo ou todas as posições for- tura. Se esse número for inferior a oito, a plan-
madas. Essa contagem deve ser feita quando a ta provavelmente está submetida a um tipo de
última maçã retida no grupo contado já tenha estresse que limitou o crescimento anterior e
atingido catorze dias após a antese da respecti- provavelmente terá sua produção final reduzi-
va flor, visto que, a partir desse tempo, a chan- da. Quanto menor esse valor, maior o “estresse
ce de abscisão é drasticamente reduzida. Esse acumulado” da planta. Uma ilustração da con-
valor é um indicador da capacidade de pro- tagem de nós acima de primeira flor branca está
dução de frutos precoces e, portanto, da na Figura 8.

119
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(IDesenho original: C. A. Rosolem)

Figura 8. Localização do 1º ramo frutífero primário, onde se situa a primeira flor, e a


contagem de nós acima dessa estrutura

Ao longo do florescimento, o núme- nós, ponto esse conhecido como “cor-


ro de nós acima da última flor branca te fisiológico” ou simplesmente “corte”
aberta também pode ser monitorado; (cut out, em inglês). Tal momento é
conforme o florescimento ocorre nas evidenciado pela paralisação do cres-
demais posições da planta e os frutos cimento vegetativo e pela ocorrência
se desenvolvem, essa “distância nodal” posterior de muitos abortos. Do pon-
entre a flor branca e o ápice da plan- to de vista teórico, o corte fisiológico
ta é gradativamente reduzida, pois os é o momento em que o crescimento
frutos são a demanda prioritária de fo- das maçãs iguala-se ao crescimento da
toassimilados. A competição entre dre- cultura. Do ponto de vista prático, essa
nos vegetativos e reprodutivos é maior condição é diagnosticada quando há,
conforme o número de frutos retidos acima da última flor branca de primei-
aumenta, o que resulta em cada vez ra posição, cinco nós na haste principal
menos recursos disponíveis para a for- (Figura 9); essa flor delineia os frutos
mação de novos tecidos vegetativos. que efetivamente contribuem para a
colheita. Como esse momento indica
1.9 Ponto de corte fisiológico o fim do crescimento vegetativo, ser-
(NAFB = 5) ve como um prognóstico da duração
Conforme as maçãs (frutos) são for- do ciclo, da maturidade cultural e da
madas após o florescimento, tornam- produção potencial; é normalmente
-se os drenos prioritários da planta, de avaliado em número de dias ou de nós
modo que os recursos disponíveis para da haste principal. O intervalo entre o
formação de novas estruturas ficam aparecimento da primeira flor e o pon-
cada vez mais escassos a um ponto em to de corte é variável, mas, em geral,
que cessa o desenvolvimento de novos situa-se entre vinte e trinta dias.

120
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(Fonte: Byrd (2017))

(IDesenho original: C. A. Rosolem)


Figura 9. Planta em ponto de corte fisiológico (cut out), Figura 10. Identificação do ponto de corte fisiológi-
com cinco nós a partir da última flor de 1ª posição até o co (NAFB = 5) e dos ramos simpodiais efetivos
nó terminal

O ponto de corte pode ser alterado, depen- relativamente altas dependendo da cultivar e
dendo da presença de fatores que limitem ou das condições ambientais e de manejo.
estimulem o crescimento vegetativo. Fatores
que limitam o crescimento, como déficit hídrico, 1.11 Retenção de frutos em primeira posição
redução da temperatura e altas doses de regula- na zona efetiva de frutificação
dor, reduzem o ponto de NAFB correspondente Por ocasião do ponto de corte fisiológico, na
ao corte, ao passo que condições de irrigação zona de ramos simpodiais precedentes (inferiores)
sem limitações ao desenvolvimento aumentam àquele em que se tem NAFB = 5, é possível deter-
o ponto de NAFB em que se atinge o corte. Pode- minar também o percentual de frutos retidos em
-se considerar, porém, como referencial, o valor primeira posição de ramo. Por exemplo, se o ramo
de NAFB = 5 como indicador prático do ponto em que se tem NAFB = 5 é o 16º, devem ser conta-
de corte. dos o número de frutos retidos em primeira posi-
ção de ramos simpodiais até o 16º nó. A contagem
1.10 Número de ramos simpodiais efetivos é iniciada no primeiro ramo frutífero primário, na
Trata-se do número de ramos simpodiais en- parte inferior da planta, e segue até o ramo em que
tre o primeiro e aquele que contém a flor acima NAFB = 5. Em seguida, deve-se dividir o número
da qual se contam cinco nós (flor do corte fisio- de maçãs retidas pelo número de posições (de 1ª
lógico) até a gema terminal (NAFB = 5). A con- posição) contabilizadas, calculando-se, assim, o
tagem de número de ramos simpodiais efetivos percentual de frutos retidos na zona efetiva. Alter-
(ou da zona efetiva de frutificação) associada ao nativamente, essa avaliação pode ser efetuada no
critério de corte está ilustrada na Figura 10. É nor- fim do ciclo, segundo a literatura, calculando-se a
mal serem encontrados entre dez e treze ramos taxa de retenção adotando-se como limite supe-
simpodiais efetivos em plantas bastante produ- rior da planta o ramo em que a contagem chega
tivas. Um segundo método para determinar o a 95% do número (ou da produção) de capulhos
número de ramos efetivos é localizar, ao fim do acumulados. Esse é um valor preliminar indicativo
ciclo, o nó da planta correspondente a 95% da da produção e da qualidade de fibra, visto que os
produção acumulada. É normal, em plantas bem frutos de primeira posição são, geralmente, os que
desenvolvidas, que esse ponto seja atingido en- mais contribuem para a produção final e os que
tre o 16º e o 19º nó, mas pode haver variações possuem melhor qualidade de fibra.

121
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

1.12 Nós acima da maçã em baixeiro (até o 9º ou 10º nó), falha no


abertura (NAMA) terço médio (11º ao 14º nó) e maçãs em
Conforme os frutos completam a desenvolvimento nos nós do ponteiro
deiscência, aproxima-se o momento (acima do 15º nó), é prudente avaliar
da colheita. No algodoeiro, aplicam-se qual o impacto de uma desfolha pre-
desfolhantes e promotores (acelerado- coce na perda de peso e de qualidade
res) de abertura de frutos para preparar das maçãs do terço superior da planta
a colheita. Um dos critérios para definir e, em algumas situações, aguardar mais
o momento da aplicação é o número de um pouco.
nós acima da maçã em abertura. Como
recomendação geral, é indicado que 2. Outras considerações sobre o
se o número de nós contado acima da mapeamento - aspectos fisiológicos
maçã em primeira posição em abertura e de manejo
até o ramo que contém a última maçã Os resultados do mapeamento es-
de primeira posição que se deseja co- tão muito relacionados com o balanço
lher for igual ou inferior a quatro, a des- entre fonte (área foliar fotossintetica-
folha pode ser feita sem que haja perda mente ativa) e drenos vegetativos e
de produtividade e de qualidade de fi- reprodutivos. O pico de fotossíntese
bra (Figura 11). Por outro lado, caso haja líquida das plantas aumenta durante o
perda de uma fração do dossel por abor- florescimento (fase entre os 7º e 18º nós
tamento excessivo, o terço médio, por ao longo do ciclo), de modo que a sus-
exemplo, e a planta tenha capulhos no tentação das estruturas é dependente
da quantidade e da idade das folhas; a
idade da folha é um fator que altera a
relação fonte-dreno de uma estrutura.
(Imagem: C. Craig (https://extension.tennessee.edu/publications/Documents/W075.pdf ))

Tipicamente, a folha atinge seu pico de


fotossíntese aos 20-25 dias, decaindo
logo em seguida até sua senescência,
aproximadamente aos sessenta dias
de vida. Conforme o ciclo avança e a
formação de novas folhas é reduzida,
o balanço fonte-dreno é cada vez mais
direcionado no sentido de crescimento
das maçãs.
Reitera-se que o crescimento ve-
getativo não deve ser pequeno, pois a
ausência de formação de novas folhas
inviabilizará a retenção e a produção de
grandes quantidades de frutos, além de
que a duração do ciclo será reduzida.
Por outro lado, um crescimento vegeta-
tivo excessivo não é desejável, porque
o número de frutos iniciais abortados
aumenta, prejudicando a produção, so-
bretudo quando o ciclo não pode ser
Figura 11. Identificação do número de nós com ramos produti-
vos acima da maçã em abertura (NAMA) e dos ramos simpodiais prolongado para compensar as estrutu-
efetivos. Note que, de acordo com o critério NAMA = 4, uma ras perdidas por fatores ambientais. No
aplicação de produtos para preparação da colheita ainda não é entanto, mesmo quando há um efeito
recomendada

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compensatório observado, o aborto de frutos ini- causarão danos aos frutos que se deseja colher,
ciais poderá resultar em redução da qualidade como, por exemplo, impedimento da finalização
final de fibra quando os novos frutos forem for- da maturação das fibras. Há alguns critérios para
mados em temperatura e disponibilidade hídri- definir a maturidade agronômica da cultura,
ca decrescentes. sendo os três principais:
Quando se inicia o florescimento, as avaliações
de taxas de crescimento vegetativo e de compri- a) Nós acima da maçã em abertura ≤ 4 (já des-
mento médio de entrenós são menos efetivas crito anteriormente);
para prognosticar a velocidade de crescimento b) Diagnose visual da maturidade do fruto, co-
e o equilíbrio fonte-dreno do que o número de nhecida como técnica do corte da maçã: realiza-se
nós acima da flor branca. Isso é verificado por- um corte transversal na última maçã de primeira
que, a partir dessa fase, os drenos reprodutivos posição de ramo que se pretende escolher. Se as
exercem grande influência sobre a partição de sementes apresentarem tegumento escurecido
fotoassimilados e, consequentemente, sobre o e consistência firme, a desfolha pode ser feita; se
crescimento final. a consistência for gelatinosa e o tegumento ter
Ao longo do ciclo, o número de nós contado coloração clara, o estágio de maturidade não foi
que originam ramos simpodiais pode ser compa- atingido; e
rado com valores esperados. Com base na inter- c) Percentual de capulhos abertos: considera-
pretação realizada, medidas de manejo podem ser -se que a aplicação pode ser feita quando entre
adotadas; se o valor for menor do que o esperado, 60% a 70% dos frutos já estão abertos. Esse crité-
um estresse pode estar ocorrendo. Uma aduba- rio pode ser impreciso quando a planta tiver um
ção nitrogenada de cobertura visando ao alonga- padrão alterado de desenvolvimento, sendo reco-
mento do ciclo pode ser uma opção. Se for maior mendado ser combinado com os dois anteriores.
do que o esperado, é recomendável conferir se o
crescimento vegetativo é excessivo e se há a A maturidade do fruto, por sua vez, é atingida
necessidade de aplicação de regulador de quando a maturidade de fibras e sementes em
crescimento. Plantas que recebem doses de regu- seu interior é verificada. A maturidade da fibra
ladores muito altas, por outro lado, podem apre- é definida em termos do espessamento de sua
sentar redução no número total de nós da planta. parede celular secundária que ocorre através da
síntese e da deposição gradual de camadas con-
3. Maturidade do algodoeiro cêntricas de celulose; as fibras que completam
Diagnosticar a maturidade das plantas é esse processo de espessamento atingem sua
importante para predizer sua capacidade pro- maturidade. A maturidade da fibra é determina-
dutiva, mensurar seu crescimento acumulado da instrumentalmente. Por fim, a maturidade de
indiretamente e definir o manejo no fim do ciclo. colheita é o momento a partir do qual a colheita
Geralmente, uma cultura apresenta duas fases pode ser feita.
de maturidade: a maturidade fisiológica propria- Uma característica comumente referida e pre-
mente dita e a maturidade de colheita. No algo- conizada em muitas situações, tendo-se como
doeiro, alguns pesquisadores adicionaram um referência a maturidade da cultura, é a precoci-
terceiro tipo, a maturidade agronômica. dade das plantas. Precocidade é a capacidade de
A maturidade fisiológica da planta é atingi- uma planta desenvolver-se rapidamente e atin-
da quando o último fruto da planta finaliza sua gir sua maturidade fisiológica em um prazo mais
maturação; a maturidade agronômica é definida curto no período disponível de uma safra.
como o momento em que as plantas podem re- As medidas de mapeamento para diagnosti-
ceber a aplicação de produtos para preparação car a maturidade são classificadas em temporais
da colheita e pode coincidir ou não com a ma- ou cronológicas (baseadas em uma escala de
turidade fisiológica. Quando as plantas estão tempo) e relativas (baseadas na localização da
agronomicamente maduras, os produtos não planta, sem uma escala cronológica).

123
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

4. Medidas para diagnosticar a a) Número de dias após a emergên-


precocidade da maturidade cia em que o número de nós acima
A seguir, são apresentados alguns da maçã em abertura é igual a quatro
métodos para diagnosticar a precoci- (NAMA = 4);
dade das plantas, ou, em termos mais b) Número de dias após a emer-
exatos, a precocidade da maturidade gência em que se verifica abertura de
das plantas. 60-65% dos frutos;
c) Data média de maturidade de co-
4.1 Medidas efetuadas durante o lheita, calculada como a média ponde-
ciclo (medidas que prognosticam rada a partir da produção (peso) parcial
maior ou menor precocidade) de colheitas sucessivas:
São empregados como medidas P1 X Data1 + P2 X Data2 + ... + Pn X Datan
para prognosticar a precocidade da DM =
P1 + P2 + ... + Pn
maturidade da planta durante o ciclo:
onde DM é a data média de matu-
a) Número de dias em que se verifi- ridade de colheita; P1, P2 e Pn são, res-
cam o aparecimento do primeiro botão pectivamente, os valores de pesagem
floral e a abertura da primeira flor; de algodão na primeira, segunda e úl-
b) Taxa de aparecimento de novos tima colheitas sucessivas; e Data1, Data2
botões florais em intervalos pré-defini- e Datan são as datas (em dias após a
dos de tempo; emergência) da primeira, segunda e úl-
c) Intervalos de florescimento hori- tima colheita, respectivamente.
zontal e vertical (já descrito anterior-
mente); 4.3 Medidas relativas no fim do ciclo
d) Dias necessários para o corte fisio- ou associadas à colheita
lógico (NAFB = 5); Como medidas relativas associadas
e) Dias até a data da maturidade fi- à colheita de capulhos, podem ser de-
siológica primeira maçã ou a até a data terminados, em datas específicas (pré-
de sua abertura. A maturidade do fruto -determinadas):
é diagnosticada pela técnica do corte
da maçã, conforme o procedimento a) Nós acima da maçã em abertura;
descrito na seção anterior. No entanto, b) Quantidade de capulhos colhidos
neste caso, essa avaliação é realizada (cumulativa ou não), em duas ou mais
sobre o primeiro fruto da planta; colheitas sucessivas;
f ) Duração, em dias, do período en- c) Percentual da produção colhida
tre a abertura da flor branca e a abertu- em duas ou mais colheitas sucessivas;
ra do respectivo fruto (é comum o uso d) Percentual de frutos abertos (em
da escala de graus-dias, por conta das contagens sucessivas ao longo do tempo);
variações de temperatura nessa fase). e) Distribuição de capulhos na planta
Em vez da abertura do fruto, pode-se (será detalhado mais adiante).
utilizar como momento final desse
período a maturidade do fruto. 5. Distribuição de capulhos nas
plantas - mapeamento de capulhos
4.2 Medidas temporais ou cronológicas e mapeamento da produção
ao fim do ciclo ou associadas à colheita Antes da colheita, uma avaliação
São empregados como medidas comumente realizada principalmente
temporais para diagnosticar a maturi- em pesquisas para observar efeitos am-
dade da planta: bientais ou de manejo, ou mesmo para

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comparar genótipos, é a distribuição de capulhos b) Produção acumulada a cada nó da haste


nas plantas. Os capulhos são identificados segun- principal, ou a cada posição de frutificação, se-
do o nó da haste principal e a respectiva posição gundo a ordem cronológica ou a escala fenológi-
de frutificação do ramo (Figura 12); posterior- ca, tendo-se como referência a primeira posição
mente, os resultados podem ser agrupados por de ramo;
frações da planta, havendo uma série de critérios c) Produção por grupos de nós da haste prin-
possíveis. Conhecendo-se o peso dos capulhos, cipal, com ou sem subdivisões por posição de
pode-se estimar a produtividade final por unida- ramo (posição 1, posição 2, posição 3 etc., em um
de de área, sendo para isso necessário conhecer os mesmo ramo frutífero). Um exemplo desse caso
espaçamentos entre linhas e na linha de plantas. é o agrupamento de capulhos por terços da has-
Os valores finais também podem ser calcula- te principal (terços inferior, médio e superior) dos
dos em percentuais relativos à produção total. nós que originam ramos simpodiais primários.
Algumas das avaliações possíveis de distribuição
de capulhos serão apresentadas a seguir: Há, além dessas, outras formas de avaliar a
distribuição de capulhos, que dependerão dos
a) Nó da haste principal em que se atingem objetivos do avaliador. O mais importante, nesse
95% da produção final da planta; contexto, é saber que o algodoeiro apresenta um
padrão de florescimento e, portanto, de abertura
de capulhos, caracterizado por uma boa previsi-
(Imagem: J. P. A. Raphael)

bilidade de ordenamento cronológico. Frutos lo-


calizados em ramos inferiores são mais velhos do
que aqueles localizados em superiores, ao passo
que frutos localizados em posição de ramo mais
próxima da haste principal são também mais ve-
lhos do que aqueles em posição mais distante,
com raras exceções em situações anormais.
Consequentemente, a distribuição de capu-
lhos pode ser empregada para constatar a in-
fluência de fatores ambientais durante o ciclo.
De acordo com o que se conhece a partir dos re-
sultados experimentais, determinadas respostas
das plantas em termos de distribuição final estão
associadas com esses fatores.
Procedimentos práticos e analíticos do
mapeamento de capulhos e de sua produção no
campo são o tema do manual de “Mapeamento
da produção do algodoeiro” (https://imamt.org.
br/mapeamento-da-produc%cc%a7a%cc%83o-
-no-algodoeiro-embasamentos-e-realizac%c-
c%a7a%cc%83o-a-campo/).
Figura 12. O mapeamento de capulhos ou da produ- A seguir, serão tratadas relações entre com-
ção envolve a localização das estruturas com base em ponentes ambientais e a distribuição final de
sua identificação e distribuição segundo o nó da haste capulhos.
principal e posição de ramo. P1, P2, e P3 referem-se,
respectivamente à primeira, segunda e terceira posi-
ções de frutificação do ramo frutífero. A identificação
5.1 Distribuição de capulhos e temperatura
de posições sem capulhos (abortadas) é importante No início do ciclo, a temperatura é o fator
para que se evitem erros de análise mais influente no crescimento da planta, o que

125
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

é constatado por altas correlações No período de maturação das ma-


positivas entre o aumento de altura e çãs, sobretudo das mais jovens, as
de número de nós com o acúmulo de temperaturas são decrescentes (abril
graus-dias. Ao final do florescimento, a junho). A velocidade de crescimen-
a temperatura pode afetar a retenção to das sementes é menor, assim como
de frutos jovens; temperaturas baixas as taxas de deposição de celulose são
nesse período (<20°C) atrasam a aber- mais baixas nas fibras. Assim, frutos
tura da flor, o que leva à redução da mais jovens, que se situam nas regiões
viabilidade dos grãos de pólen. Con- mais altas da planta, são, em geral,
sequentemente, a fecundação pode mais leves e mais propensos a conter
ser prejudicada ou inviabilizada, le- altas proporções de fibras imaturas.
vando à abscisão ou à má-formação
do respectivo fruto. Poderá ocorrer a 5.2 Distribuição de capulhos e
formação de “lacunas” na planta por estresse hídrico (seca e alagamento)
conta desse efeito. Se o fenômeno A presença de períodos de seca du-
for verificado com as primeiras flores, rante o florescimento (veranicos) pode
a planta poderá compensar total ou resultar em um grande número de abs-
parcialmente os frutos perdidos em cisões de frutos jovens; o mesmo fenô-
posições mais tardias, o que resultará meno pode ocorrer com botões florais.
em um aumento no número de frutos Se o ciclo for curto e não houver am-
e produção em ramos superiores e/ biente que possibilite a compensação
ou em posições mais distais dos ra- da produção perdida, poderá haver a
mos. Temperaturas diurnas excessi- quebra de produtividade. Nesse caso,
vamente altas não têm sido relatadas a produção estará situada em regiões
frequentemente como um problema mais baixas da planta e em posições
crítico durante o florescimento, mas mais proximais de ramo. Se o ciclo for
as implicações são semelhantes. A longo e houver possibilidade de com-
temperatura muito alta durante o dia pensação, a proporção de frutos mais
pode afetar a retenção e o tamanho tardios será maior. As implicações
dos frutos pelo mau desenvolvimento sobre peso de capulhos e qualidade
dos gametófitos e pela redução da de fibra serão, então, bastante depen-
fotossíntese líquida nas folhas. Sa- dentes da temperatura.
be-se, porém, que em regiões de As possibilidades de solos alaga-
menor altitude, a temperatura no- dos (hipoxia) no Brasil são maiores no
turna elevada (acima de 25°C) vem início do ciclo (dezembro-janeiro) em
ocorrendo nos meses de fevereiro regiões mais afetadas pela Amazônia,
e março, coincidindo com o início podendo ocorrer nos meses de feve-
dos botões florais e metade do flo- reiro e março, a depender do regime
rescimento; as temperaturas notur- hídrico, da textura do solo e da capaci-
nas altas resultam em aumento do dade de infiltração. O fenômeno limita
consumo de energia por meio da o desenvolvimento radicular, que se
respiração e aumentam os riscos de concentrará próximo à superfície, tor-
estresses. Frutos recém-formados po- nando a planta mais vulnerável ao dé-
dem sofrer abscisão ou ter seu cres- ficit hídrico durante o florescimento. A
cimento reduzido, alterando a distri- hipoxia durante a fase de botões flo-
buição da produção da produção de rais aumenta o número de abscisões
capulhos dentro da planta. em resposta ao aumento da síntese

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de etileno. Haverá grande possibilidade de que 5.5 Distribuição de capulhos e estresses severos
novas estruturas sejam retidas em posições mais Se as plantas são mantidas de modo prolon-
tardias, as quais constituirão uma maior propor- gado sob um estresse severo, como compac-
ção da produção final. tação do solo, ataque de nematoides, ou até
mesmo seca, sem que haja condições disponí-
5.3 Distribuição de capulhos e luz veis para compensação da produção perdida
A presença de luz é um fator crítico para asse- mediante o desenvolvimento de novas estrutu-
gurar a retenção de estruturas reprodutivas entre ras vegetativas e reprodutivas, o resultado será
o início do florescimento e os primeiros vinte dias um encurtamento do ciclo com perdas severas
da fase de enchimento de maçãs. A ocorrência de de produtividade. O corte fisiológico é atingido
dias nublados prolongados aumenta a frequência mais rapidamente por conta das limitações im-
de abortamentos de frutos jovens, de modo que postas. A distribuição de capulhos será, então,
novas estruturas poderão ser retidas e desenvol- concentrada em um pequeno número de ramos,
vidas em posições mais tardias (nós superiores que apresentarão geralmente no máximo duas
e/ou posições mais distantes da haste principal). posições de frutificação; esses ramos estarão si-
Assim, o sombreamento aumenta as probabili- tuados provavelmente na região mais baixa da
dades de que frutos de sítios de frutificação mais planta, ou seja, nos primeiros nós de onde emer-
tardios tenham maior contribuição na produção gem os ramos frutíferos primários. Ao final, espe-
final, os quais estarão sujeitos às limitações tér- ra-se que um menor número de nós seja forma-
mica e hídrica do fim do ciclo. Frutos que foram do na haste principal em comparação a plantas
retidos durante épocas de restrição luminosa são bem desenvolvidas. A distribuição poderá ser
propensos a serem mais leves e possuírem mais aparentemente desuniforme, com regiões vazias
fibras imaturas, fenômenos decorrentes tanto da na planta.
redução na fotossíntese quanto na atividade de
enzimas-chave para a deposição de celulose (sa- 5.6 Distribuição de capulhos e população
carose sintase, por exemplo). de plantas
O aumento da população de plantas significa,
5.4 Distribuição de capulhos e adubação em termos práticos, maior competição entre plan-
nitrogenada tas vizinhas; a área de ocupação de cada planta
A adubação com doses muito altas de N fa- é reduzida. Inicialmente, pode haver um estio-
vorece o crescimento vegetativo e o alongamen- lamento nas primeiras fases do ciclo, mas, con-
to do ciclo. Consequentemente, a planta tende forme a competição por água, luz, nutrientes e
a abortar frutos jovens situados em posições espaço aumenta, o crescimento diminui mais rapi-
mais precoces de frutificação, para priorizar a damente. O resultado é que as plantas serão mais
formação de folhas, ramos e o alongamento do compactas, com ramos mais curtos (Figura 13);
caule; assim, há uma proporção maior de capu- nessas condições, há um aumento da proporção
lhos situados em ramos superiores. Esses capu- de capulhos de primeira posição de ramo. O cor-
lhos poderão ser formados em condições mais te fisiológico é atingido mais rapidamente, e o ci-
desfavoráveis do que aqueles que foram abor- clo da planta tende a ser mais curto; a produção
tados, tendo peso reduzido e qualidade de fi- será concentrada em uma menor faixa de nós
bra prejudicada, com fibras imaturas, além do e posições de ramos. Além disso, o autossom-
aumento do custo de produção para o contro- breamento pode aumentar o abortamento das
le do bicudo. Assim, a decisão de um aumento estruturas frutíferas e, com a perda dos drenos,
de dose ou da inclusão de uma adubação de pode ocorrer crescimento vegetativo excessivo,
N em cobertura adicional deve levar em conta aumentando a demanda por regulador de cres-
se é compensatória por conta desses possíveis cimento. Do contrário, a planta ficará muito alta,
prejuízos. dificultando a colheita.

127
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: J. P. A. Raphael)

Figura 13. O mapeamento de plantas permite diferenciar padrões de crescimento e de distribuição de frutos
por conta de fatores ambientais ou de manejo. Por exemplo, plantas semeadas mais tardiamente e em menor
espaçamento são mais compactas do que aquelas semeadas anteriormente e em maior espaçamento

5.7 Distribuição de capulhos e provável, além de perdas de produti-


duração do ciclo vidade, ocorrerão perdas de qualida-
Quanto maior o ciclo, maior o nú- de de fibra. A adubação excessiva de
mero de posições de frutificação que N, conforme descrito anteriormente,
produzem capulhos, exceto quando pode levar a essa situação.
as perdas iniciais são grandes. Um
ciclo mais longo poderá estar, então, 5.8 Distribuição de capulhos e
diretamente relacionado à produ- época de semeadura
ção individual de cada planta, cujos A época de semeadura nas prin-
capulhos estarão distribuídos por cipais regiões produtoras do Brasil
um grande número de posições. Por estende-se de dezembro a fevereiro,
outro lado, um ciclo mais longo pode com a colheita geralmente ocorren-
ser resultado também de um dese- do de junho a agosto. Conforme a
quilíbrio entre fontes e drenos, com época de semeadura é atrasada, re-
crescimento vegetativo excessivo e duz-se o tempo disponível para com-
pouca retenção de frutos. Se esses pletar o ciclo. As plantas crescem me-
frutos estiverem situados em posi- nos, tendo porte mais baixo e menor
ções mais tardias, o que é bastante número de nós, e os ramos também

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se encurtam (Figura 13). A produção por plan- frutíferas, situadas mais próximas entre si fe-
ta individual é reduzida, concentrando-se em nologicamente. Porém, a aplicação excessiva
um menor número de posições na planta. Nos ou realizada em um momento em que a planta
últimos anos, o algodoeiro tornou-se predo- está em situação desfavorável para seu cres-
minantemente uma cultura de segunda safra cimento pode limitar a retenção de novas es-
em Mato Grosso, tendo sido, em muitos locais, truturas e reduzir irreversivelmente a produti-
sua semeadura transferida de dezembro para vidade. Assim, é importante uma abordagem
meados de janeiro. Na safra atual (2018/2019), criteriosa na aplicação desses produtos.
observou-se que uma boa parte das lavouras
foi semeada no espaçamento de 0,9 m, em se- 5.10 Distribuição de capulhos e qualidade
meaduras que, em sua maioria, ocorreram até de fibra
20/1. O aumento do espaçamento (comumen- Desconsiderando-se as influências exerci-
te o de 0,76 m era utilizado), aliado à redução das pelas etapas de colheita, armazenamento
da população de plantas, tem proporcionado e beneficiamento, a qualidade final da fibra de
melhor fixação de frutos do baixeiro e do ter- uma área de algodão é o resultado da contri-
ço médio. Nessa configuração de semeadura buição individual de cada sítio de frutificação.
(espaçada e pouco densa), há possibilidade É, assim, dependente da qualidade estimada
de compensação lateral de estruturas nas po- para cada posição de capulho nas plantas e de
sições 2 e 3+, diminuindo a dependência do sua respectiva proporção em relação ao total.
ponteiro, deixando a lavoura mais precoce. Por Logo, a qualidade de fibra de um fardo está dire-
outro lado, sob altas populações, as chances de tamente relacionada à proporção de capulhos
recuperação de abscisões são reduzidas e, com boa ou má qualidade de fibra. De modo
mesmo com alta retenção de frutos precoces, geral, capulhos produzidos em épocas mais
há um aumento do risco de queda da quali- quentes e sem restrição hídrica, os quais pre-
dade de fibra, visto que boa proporção do total dominantemente se situam no terço inferior e
pode desenvolver-se com restrições ambientais. em primeira posição do terço médio dos ramos
frutíferos da haste principal, apresentam maior
5.9 Distribuição de capulhos e regulador peso e maturidade de fibra. Por outro lado,
de crescimento capulhos produzidos mais tardiamente, loca-
Aplicação de reguladores (retardadores) de lizados em ramos superiores e em posições
crescimento (cloreto de mepiquat e cloreto de mais distais dos ramos, desenvolvem-se em
chlormequat) é realizada para evitar o cresci- uma fase em que há maior competição por re-
mento vegetativo excessivo e, assim, impedir cursos com os frutos mais precoces. Além dis-
o aborto de frutos situados nas regiões infe- so, as temperaturas e a disponibilidade hídrica
riores da planta. A finalidade é otimizar o ba- são decrescentes e podem tornar-se altamen-
lanço entre fontes e drenos de fotoassimilados te restritivas para os frutos mais tardios; esses
para assegurar boa retenção e crescimento capulhos, então, tendem a apresentar menor
das maçãs. Nesse sentido, aplicações de retar- peso e maior proporção de fibras imaturas. Se
dadores favorecem a redução da duração do o percentual de fibras imaturas no fardo esti-
ciclo, tornando as plantas mais compactas e ver acima do limite preestabelecido, o produto
permitindo melhor passagem de luz através receberá um deságio. A resistência da fibra
do dossel. Com o melhor equilíbrio fonte-dre- também poderá ser prejudicada, visto que
no, as maçãs apresentam-se mais uniformes e a diminuição de deposição de celulose tor-
não perdem peso. A distribuição de capulhos na-a mais suscetível à ruptura. O índice de
concentra-se em menor número de posições fibras curtas também poderá aumentar, e o

129
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

comprimento e a uniformidade de melhor os resultados de qualidade de fibra.


comprimento ser reduzidos; no entan-
to, alterações relacionadas à maturida- 6. Mapeamento da carga frutífera
de são mais esperadas, pois a fase de antes da colheita
alongamento da fibra é anterior à de O mapeamento antes da colheita
maturação e é menos afetada por bai- tem por finalidade auxiliar na defi-
xas temperaturas. É possível, portanto, nição do momento da capação final
que o perfil de distribuição de capulhos (cut out). Um modelo de planilha de
na planta seja útil para compreender campo é apresentado na Figura 14.

Figura 14. Modelo de planilha utilizada para indicação das estruturas reprodutivas em
cada nó e posição frutífera

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O monitor deverá indicar na respectiva posi- menos cinco pontos por talhão; é importante
ção frutífera de cada nó qual estrutura está pre- que se anote o estande no local em que as plan-
sente ou ausente: C para capulho; M para maçã; tas foram monitoradas. No escritório, a planilha
F para flor e B para botão floral. Recomenda-se de campo servirá de base para o preenchimen-
a avaliação de três plantas por ponto e de pelo to de uma planilha eletrônica (Figura 15).

Figura 15. Planilha duplicada para preenchimento do número de maçãs e botões florais/flores.
RV: ramos vegetativos

A planilha será duplicada: a da esquerda será das três plantas avaliadas (por nó e por posição)
utilizada para preenchimento das maçãs e a da em cada ponto e uma quarta planilha fará a mé-
direita, para botões florais e flores. A função dia de todos os pontos avaliados. A quarta pla-
“substituir” do MS Excel pode ser utilizada para nilha será utilizada para calcular o número de
facilitar o preenchimento. O “zero” deve ser uti- estruturas por metro quadrado (utilizando-se
lizado quando não houver posição frutífera cor- a seguinte fórmula: (1/espaçamento [em me-
respondente, caso contrário, a célula não será tros])*estande). Essa planilha será usada para
contabilizada na média das plantas avaliadas. plotar o gráfico da distribuição da carga frutífe-
Uma terceira planilha fará o cálculo da média ra da planta (Figura 16).

131
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Figura 16. Distribuição de estruturas frutíferas (maçãs e botão floral/flor) por nó e posição. P1, P2 e P3 representam,
respectivamente, 1ª, 2ª e 3ª posições do ramo

Interpretação dos resultados momento da capação. Por outro lado, a


A avaliação que deu origem à Figura 16 Figura 17 mostra a distribuição da carga
foi realizada no começo de maio, em uma frutífera de uma cultivar de ciclo médio
lavoura com 98 DAE. Aliando-se o conhe- que apresenta distribuição regular da
cimento do padrão de frutificação da carga frutífera nos terços da planta, in-
cultivar (nesse caso uma cultivar preco- dicando que seria possível a emissão de
ce que concentra a carga no baixeiro e mais um ou dois nós com chance de pe-
no terço médio) com as características gamento das estruturas. Assim, a decisão
do local (regime de chuvas, disponibi- de capar (Figura 16) ou não (Figura 17) a
lidade de água no solo e temperatura lavoura naquele momento poderia ser
no mês de junho) é possível decidir o baseada nessas informações.

Figura 17. Distribuição de estruturas frutíferas (maçãs e botão floral/flor) por nó e posição. P1, P2 e P3 represen-
tam, respectivamente, 1ª, 2ª e 3ª posições do ramo

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores e com os obtentores

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

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IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA
DE ALGODÃO

Primeiras decisões a tomar para iniciar o plantio do algodoeiro


A escolha da variedade é considerada uma das decisões mais importantes para
o sucesso do cultivo. As variedades oferecidas no mercado são cada vez mais
sofisticadas do ponto de vista genético, agregando características de tolerância
a certas doenças e a nematoides, podendo representar ganhos significativos de
produtividade e economia no custo de produção. Ademais, a semente é agora usada
como suporte para as biotecnologias, conferindo resistência a certos herbicidas ou
pragas do algodoeiro. Escolher a variedade certa não é tudo. É preciso comprar uma
semente de alta qualidade fisiológica e usar tratamentos de sementes adequados,
a fim de proteger as plântulas nos primeiros estádios de desenvolvimento. Não se
fala suficientemente da incidência significativa da qualidade da semente sobre a
produtividade da lavoura. Não esquecer que, usando essas variedades modernas,
elas poderão expressar seu potencial só na medida em que as condições de
cultivo forem adequadas. O sistema de cultivo praticado e o manejo da lavoura
são fundamentais e só poderão ser adequadamente conduzidos com o perfeito
conhecimento do modo de crescimento da planta de algodão. A definição da data
de plantio e da densidade de plantas para o cultivo terão incidência significativa
sobre produtividade e qualidade da fibra.

135
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

A qualidade das sementes


A primeira providência a ser tomada de boa qualidade, produzidas em condi-
para o cultivo bem-sucedido do algo- ções rigorosamente controladas, seguin-
dão consiste na escolha da cultivar, que do-se procedimentos regulamentados
Priscila Fratin
deve ter sido desenvolvida por meio de pelo Governo Federal em legislação es-
Medina
melhoramento genético. Os avanços da pecífica, que trata do comércio e fiscali-
IAC
pesquisa, assim alcançados e contidos zação de sementes e mudas, é indispen-
nesse genótipo, são disponibilizados ao sável à implantação de uma lavoura de
agricultor transformados em insumos, algodão tecnicamente conduzida.
sob a forma de sementes. É direito do produtor rural, assegu-
A cultivar escolhida deve estar regis- rado em legislação federal, reservar a
trada no Registro Nacional de Cultivares cada safra uma parte de sua produção
(RNC), que tem por finalidade habilitar para a semeadura de lavouras próprias.
cultivares e espécies para a produção e a No entanto, a produção de material
comercialização de sementes e mudas no próprio pode ser realizada apenas após
Sheila Fanan país. Essa informação pode ser obtida no a primeira aquisição comercial da se-
site do Ministério da Agricultura, Pecuá- mente e, para realizar esse procedi-
ria e Abastecimento (Mapa): http://www. mento, é preciso seguir as normas do
agricultura.gov.br/guia-de-servicos/re- Ministério da Agricultura.
gistro-nacional-de-cultivares-rnc e, em Por outro lado, a taxa de utilização
seguida, selecionando o ícone “Pesquisa de sementes de algodão, produzidas e
de cultivares registradas no RNC”. comercializadas segundo a legislação
A cultivar escolhida deve ser adaptada vigente, na safra 2017/2018, foi de ape-
às condições de clima e solo da região de nas 57% no Brasil e de 60%, no Estado
Leonardo Scoz cultivo e ter boas características genéti- de Mato Grosso, conforme consta no
IMAmt cas, tais como resistência a insetos e pa- Anuário 2018 da Associação Brasileira
tógenos causadores de doenças, precoci- de Produção de Sementes (Abrasem).
dade, grande capacidade de produção e Por isso, fracassos em algodoais nas vá-
boa qualidade da fibra. rias regiões produtoras do país ainda
são frequentes por conta da utilização
Aquisição de sementes de sementes de origem e qualidade
A cotonicultura brasileira ocupa posi- desconhecidas.
ção de destaque mundial em área plan- Os produtores de sementes têm a
tada, produção, produtividade e exporta- grande responsabilidade de disponibi-
ção, resultante de uma cadeia produtiva lizar ao cotonicultor o trabalho desen-
bem organizada e de investimentos pú- volvido pelo melhorista, por meio de
blicos e privados em pesquisa e tecnolo- sementes com qualidades genéticas,
gia. Tecnologias empregadas para bene- físicas, fisiológicas e sanitárias superio-
ficiamento e armazenamento, visando à res, que vão garantir a reprodução das
manutenção da qualidade das sementes características especificadas na descri-
colhidas, também têm contribuído para ção da cultivar, e inúmeras outras van-
o aumento da produtividade da cultura. tagens ao cultivo do algodoeiro, que
Nesse contexto, a aquisição de sementes estão relacionadas a seguir.

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SEMENTE DE BOA QUALIDADE É ESSENCIAL PARA O SUCESSO


DA LAVOURA
• Um número menor de sementes é requerido por área plantada;
• A emergência de plântulas é mais rápida e o crescimento das raí-
zes, mais vigoroso;
• O estabelecimento do estande é mais uniforme, com melhor ar-
ranjo espacial e menor risco de replantio;
• As plântulas são mais tolerantes ao estresse inicial causado por con-
dições como excessiva disponibilidade hídrica e baixa temperatura;
• Há maior resistência a pragas e doenças iniciais;
• O aparecimento de invasoras, pragas e doenças é menor, com
maior facilidade de controle;
• A ação dos demais insumos e dos fatores de produção é maximizada;
• Propicia maior número de botões florais e de capulhos, rendimen-
to de fibras, rendimento de caroço e o rendimento total é de 19%
a 20% maior;
• Reduz a incidência de doenças transportadas e transmitidas por
sementes, causadas por fungos, vírus e bactérias, que reduzem o
estande, debilitam plantas e causam epidemias.

Armazenamento de sementes desencadeado por variações de tempera-


O armazenamento desempenha um im- tura, flutuações de umidade relativa do ar,
portante papel no processo produtivo e, pragas, doenças, técnicas inadequadas de
quando bem conduzido, minimiza a dete- colheita, secagem, beneficiamento, armaze-
rioração e o descarte de lotes de sementes. namento e transporte, além de especifica-
No entanto, a capacidade de manter-se o mente para sementes de algodão, por danos
potencial fisiológico e sanitário ao longo do causados no armazenamento temporário no
tempo depende da longevidade da semente, campo ou durante o descaroçamento ou o
inerente à espécie e de sua qualidade inicial, deslintamento.
de forma que procedimentos adequados, A composição química das sementes é
adotados na colheita e no beneficiamento, outro fator importante que interfere em sua
influenciarão o período pelo qual a semente longevidade. Vale ressaltar que sementes
será viável durante o armazenamento. oleaginosas, como as de algodão, apresen-
A semente atinge seu nível máximo de qua- tam menor potencial de armazenamento
lidade e mínimo de deterioração na maturi- do que as amiláceas, como as de milho, por
dade fisiológica, antes de ser colhida. A partir conta da menor estabilidade química dos li-
de então, o processo de deterioração pode ser pídios em relação ao amido.

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA SEMENTE (%)


Espécie
Proteínas Lipídios Carboidratos
Algodão 39 33 15
Milho 9 4 72

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Além disso, o óleo presente nas podem ser preservadas por um pe-
sementes de algodão possui maior ríodo de quatro a doze meses nes-
proporção de ácidos graxos poli-in- sas condições; porém não vale a
saturados, como o linoleico, o que pena tratar com fungicidas semen-
reduz seu potencial de conservação tes com baixo nível de vigor, que
no armazenamento; no entanto, devem ser descartadas.
essas sementes também possuem O tratamento com fungicidas
elevado teor de tocoferol (vitamina e inseticidas registrados para se-
E), um composto antioxidante, que, mentes de algodão tem sido ado-
em curto prazo, pode reverter o pro- tado pelos produtores de sementes
cesso de deterioração. Porém, se o após a operação de deslintamento,
armazenamento for realizado em uma vez que as sementes tratadas
condições inadequadas à conserva- apresentam melhor conservação.
ção da semente, há decréscimo nos Além do controle químico exercido
teores de lipídios e de tocoferol, con- sobre os microrganismos transmiti-
comitantes ao aumento da acidez e dos pelas sementes, os fungicidas
dos teores de peróxidos, caracteri- apresentam ação residual, que pro-
zando a oxidação dos lipídios dos tege sementes e plântulas contra a
tecidos de reserva das sementes de invasão de microrganismos do solo
algodão e a consequente perda da e do armazenamento (Aspergillus
qualidade fisiológica. spp., Penicillium spp. e Rhizopus
O ambiente de armazenamento sp.), principalmente quando as con-
deve ser capaz de manter as semen- dições externas não são favoráveis
tes viáveis e vigorosas por longo pe- à germinação, ao crescimento e à
ríodo de tempo, da colheita à próxi- conservação das sementes.
ma semeadura, para a manutenção Por outro lado, deve-se escolher
da qualidade fisiológica e sanitária, com cuidado produtos para o trata-
minimizando a velocidade do pro- mento, pois há referências na litera-
cesso de deterioração e o descarte tura sobre princípios ativos fungici-
de lotes. das que reduzem os percentuais de
Por isso, caso não haja possibili- germinação e vigor de sementes de
dade da adoção de equipamentos algodão e, nesse caso, a perda da
para controle de temperatura e de qualidade fisiológica das sementes
umidade relativa do ar do ambiente, tratadas é proporcional ao aumen-
o armazém deve ser instalado em to do período de armazenamento.
local seco e ventilado, onde semen- Quanto menor a umidade rela-
tes de algodão deslintadas são, ge- tiva do ar e a temperatura, dentro
ralmente, armazenadas em sacos de de certos limites, maiores serão as
papel multifoliado. possibilidades de prolongar a con-
O potencial de germinação de se- servação das sementes de algo-
mentes de algodão acondicionadas dão. Temperaturas acima de 25°C
em embalagens que permitem a tro- aceleram o processo de oxidação
ca de vapor d’água (sacos de tela de dos lipídios de reserva das semen-
plástico ou de papel) e armazenadas tes armazenadas, principalmen-
em condições ambientes é maior em te das com baixo vigor associado
sementes tratadas com fungicida. à presença de Aspergillus spp. e
Dependendo da qualidade inicial, Penicillium spp.

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Regra básica de armazenamento*


Para cada unidade por cento (1%), reduzida no teor de
Período de conservação água da semente.
da semente pode dobrar
Para cada 5,5˚C reduzidos na temperatura do ambiente.
*Válida para teores de água entre 5 e 14% e para temperaturas entre 0 e 50˚C.

Recomenda-se o armazenamento da se- encaminhadas amostras de sementes retiradas


mente de algodão com teor de água abaixo de antes e após as etapas de produção menciona-
10%, por, no máximo, oito meses, em condi- das, visando à realização de testes que identifi-
ções de ambiente com valores médios de 26°C carão as possíveis perdas na qualidade geradas
e 57% de umidade relativa do ar. Nessas condi- por tais procedimentos. Os resultados assim
ções, sementes de alto vigor podem apresen- obtidos fornecem informações para o aperfei-
tar valores de germinação dentro dos padrões çoamento dos procedimentos de produção,
de comercialização até os dez meses de arma- subsidiando ainda as decisões sobre beneficia-
zenamento; porém, em ambientes com alta mento, tratamento e descarte de lotes.
umidade relativa do ar, a germinação pode ser O laboratório, se devidamente credenciado
reduzida pela metade após o primeiro mês de pelo Mapa, será registrado no Registro Nacio-
armazenamento. nal de Sementes (Renasem) e estará autorizado
Em câmara fria a 10±2°C e 70±2% de umi- a realizar os testes necessários para a emissão
dade relativa do ar, as sementes de algodão de boletins de análise de sementes destinadas
podem manter o potencial de produção de à comercialização.
plântulas normais inicial de 90% no teste de
germinação por pelo menos doze meses. Avaliação da qualidade das sementes
A avaliação da qualidade das sementes
Controle de qualidade fornece informações úteis não apenas aos
Em sementes de algodão, a qualidade pode produtores e tecnologistas de sementes, mas
ser afetada por diversos fatores em campo, an- também aos agricultores, subsidiando as de-
tes e/ou durante a colheita, pelos processos de cisões sobre aquisição, quantidade de semen-
pós-colheita, como armazenamento temporá- tes necessárias para a semeadura e o conhe-
rio no campo, secagem, descaroçamento, be- cimento do desempenho destas em campo e
neficiamento, deslintamento — seja ele mecâ- no armazenamento em diversas condições de
nico ou químico — e no armazenamento, pela ambiente.
ação de microrganismos, pelo teor de água da Quando o objetivo é a emissão de Boletim
semente e pela temperatura do armazém. de Análise de Sementes, documento neces-
A somatória desses fatores, operando em sário para a comercialização, após o benefi-
conjunto, pode resultar na produção de lotes ciamento e o ensaque das sementes, retira-se
de sementes com padrões de qualidade ina- uma amostra por lote, seguindo-se os proce-
propriados à comercialização. Nesse contexto, dimentos apropriados para que a amostra seja
fica claro que o controle de qualidade deve representativa, conforme constam das Regras
ser realizado em todas as etapas da produção Brasileiras de Análise de Sementes (RAS), dis-
de sementes. poníveis no site http://www.agricultura.gov.
No centro dos programas de controle de br/assuntos/insumos-agropecuarios/arquivos-
qualidade das empresas produtoras de semen- -publicacoes-insumos/2946_regras_analise__
tes encontra-se o laboratório, para onde são sementes.pdf. A amostra é então remetida a

139
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

um laboratório credenciado pelo O teste de germinação foi desen-


Mapa, para as análises devidas. volvido para proporcionar germina-
Para sementes de algodão, é ava- ção rápida e completa das amostras
liada a qualidade física do lote de avaliadas, estimando a porcenta-
sementes (Pureza, Determinação de gem máxima de sementes de uma
outras Sementes por Número) e a fi- amostra capaz de produzir plântu-
siológica (Germinação), seguindo-se las normais. Por esse motivo, o teste
procedimentos que também cons- é realizado em condições ótimas e
tam das RAS. Os resultados são re- padronizadas de disponibilidade de
gistrados no boletim e devem estar água, aeração, temperatura, lumino-
de acordo com os padrões de pro- sidade e características do substrato,
dução e comercialização de semen- que estão descritas por espécie nas
tes de algodão vigentes definidos RAS e, visam garantir a eficiência
pelo Mapa (Instrução Normativa nº do processo de germinação. O tes-
45 de 17 de setembro de 2013, dis- te tem como objetivo a obtenção
ponibilizada no site http://apps.agr. de informações para determinar o
br/instrucao-normativa-no-45-de- valor das sementes para semeadura
-17-de-setembro-de-2013/)para e a comparação de lotes diferentes,
que o lote possa ser liberado para a quanto à viabilidade.
comercialização. A temperatura ótima para a ger-
Quando o objetivo está relaciona- minação de sementes de algodão
do ao controle de qualidade da pro- situa-se entre 28°C e 36°C, a míni-
dução, realizam-se outros testes além ma, entre 12°C e 14°C e a máxima,
desses, conforme a característica que entre 39°C e 40°C. Abaixo de 20°C
se quer diagnosticar, destinados a e acima de 32-34°C, a germinação
avaliar o potencial fisiológico, a qua- pode decrescer acentuadamente,
lidade sanitária ou a genética, que dependendo da cultivar. No labora-
podem estar incluídos nas RAS ou tório, de acordo com as RAS, o teste
em outras publicações, como artigos deve ser conduzido em germinador
científicos, livros técnicos e manuais. regulado para fornecer temperatu-
As principais análises realizadas ras alternadas de 20-30°C (a menor
em laboratórios para avaliar a quali- temperatura fornecida por 16 h e a
dade de sementes de algodão estão maior durante 8 h, a cada dia), ou
descritas a seguir. temperaturas constantes de 25°C
ou 30°C, com avaliações realizadas
1. Teste de germinação aos quatro e aos doze dias, compu-
Dentre as análises realizadas para tando-se a porcentagem de plântu-
a emissão do boletim de análise de las normais. Por ser padronizado, o
sementes, a de germinação é uma teste apresenta ampla possibilidade
das mais importantes, e o padrão de repetição dos resultados, dentro
exigido para comercialização de se- de níveis razoáveis de tolerância,
mentes das categorias C1 e C2 (cer- e alto grau de confiabilidade para
tificadas), S1 e S2 (não certificadas) é analistas, produtores de sementes,
de, no mínimo, 75%, e de 70% para agricultores e para a fiscalização do
sementes básicas. comércio.

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IMAmt 2020
2012

Teste de germinação

Sementes

Aspecto das plântulas no rolo de Plântulas normais


germinação

Rolos de papel
toalha, umedecidos com
volume de água em
mililitro, equivalente a
2,5 o peso do substrato
em gramas
Plântulas anormais Plântula Semente
infectada morta

2. Avaliação do potencial fisiológico campo ou durante o armazenamento em con-


O teste de germinação fornece informações dições de ambiente diferentes, ampliando o
sobre a capacidade de um lote em originar leque de informações disponíveis sobre a via-
plântulas normais em condições favoráveis de bilidade das sementes. Dessa forma, os testes
campo; porém, se a semeadura for realizada de vigor possibilitam maior confiabilidade no
em condições ambientais desfavoráveis, o po- momento de definir o número de sementes a
tencial de desempenho do lote (relação entre ser distribuído por metro linear, na lavoura, e
o potencial de germinação, o vigor e a quali- se têm constituído em ferramentas de uso cada
dade e quantidade de patógenos presentes) vez mais rotineiro em programas de controle de
vai manifestar-se e, portanto, a emergência de qualidade, pela indústria de sementes.
plântulas normais poderá ser inferior à deter- Para avaliar o vigor de sementes de algo-
minada em laboratório. Por isso, os resultados dão, a pesquisa tem indicado como eficientes
de testes de germinação considerados isolada- os testes que se baseiam na resistência a es-
mente não são suficientes para avaliar o poten- tresses (germinação à baixa temperatura, frio,
cial fisiológico de lotes de sementes. envelhecimento acelerado e deterioração con-
Os testes de vigor, apesar de não serem obri- trolada), em características bioquímicas (tetra-
gatórios pela legislação, fornecem informações zólio e condutividade elétrica) e, mais recente-
complementares ao de germinação, pois por mente, os que envolvem análises de imagem
meio deles é possível detectar, com maior pre- de sementes e plântulas (raios-X e sistema de
cisão, os avanços da deterioração das semen- imagens para avaliar o vigor de sementes). A
tes. São realizados com o objetivo de diferen- emergência de plântulas em areia ou em cam-
ciar lotes com poder germinativo semelhantes, po, pela facilidade de condução, também pode
indicando aqueles com maior ou menor pro- ser usada para determinar o valor do lote de
babilidade de sucesso, após a semeadura em sementes para semeadura no campo.

141
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Germinação à baixa temperatura


Princípio Procedimento Avaliação
Baixas temperaturas, no Germinação de 200 sementes, a 18°C, Consideram-se como vigoro-
início da germinação, em ausência de luz durante sete dias, sas as plântulas normais que
são prejudiciais ao distribuídas em rolos de papel- atingirem 4 cm de compri-
desenvolvimento das -toalha, umedecidos com volume mento. Os comprimentos de
plântulas. Dependendo de água equivalente a 2,5 vezes o raiz e da parte aérea também
do potencial fisiológico, a peso do papel. A diferenciação de são avaliações eficientes.
semente apresentará resposta lotes pode ser melhor em substrato
diferenciada em temperatura umedecido com volume de água
de germinação abaixo da correspondente a 40% da capacida-
ótima. de de retenção do substrato.

Teste de envelhecimento acelerado


Princípio Procedimento Avaliação
Exposição das sementes 200 sementes são distribuídas em camada Avalia-se a porcentagem
a temperatura elevada e única, sobre tela de alumínio ou de náilon de plântulas normais.
alto grau de umidade do em caixa de germinação adaptada (gerbox).
substrato desencadeia São adicionados 40 ml de água e a caixa
a germinação, tampada é mantida a 41°C/48 horas. Em
mas não permite o seguida, as sementes são submetidas ao
desenvolvimento do teste de germinação a 25°C por quatro dias.
embrião, acelerando a Também é possível usar uma solução saturada
deterioração. O melhor de NaCl no fundo do gerbox no lugar da água
lote é o que mais resiste e a combinação de 41°C/72 horas para o
a tais condições. envelhecimento.

Realização do teste de envelhecimento


Sementes antes do Sementes após o
Gerbox adaptado envelhecimento envelhecimento

Germinação após o envelhecimento

Plântulas normais Plântula anormal Plântula infectada Semente morta

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Teste de deterioração controlada


Princípio Procedimento Avaliação
O mesmo princípio do enve- 200 sementes são umedecidas artificialmente, distribuídas Avalia-se a porcentagem de
lhecimento acelerado: ex- em camada única, sobre tela de alumínio ou de náilon em plântulas normais
posição das sementes a tem- caixa de germinação adaptada (gerbox). São adicionados
peratura elevada e alto grau de 40 ml de água e a caixa tampada é mantida a 20°C. O teor
umidade do substrato desen- de água das sementes é monitorado por pesagens sucessi-
cadeia a germinação, mas não vas até que o teor de 24% de água seja atingido. A amostra
permite o desenvolvimento do é colocada em embalagem aluminizada, fechada hermeti-
embrião, acelerando a deteri- camente e mantida a 10°C/24 horas. A embalagem é levada
oração. O melhor lote é o que ao banho-maria a 40°C/48 horas. Em seguida, é imersa em
mais resiste a tais condições. água a 20°C para reduzir a temperatura. Logo depois, as
sementes são submetidas ao teste de germinação a 25°C
por quatro dias.

Teste de frio
Princípio Procedimento Avaliação
A exposição das sementes à baixa 200 sementes são distribuídas em rolos de pa- Avalia-se a porcentagem de
temperatura e ao alto grau de umidade pel-toalha, umedecidos com volume de água equi- plântulas normais.
do substrato desencadeia o processo valente a 2,5 vezes o peso do papel e são mantidas a
de embebição, mas não permite o 10˚C por cinco dias e, a seguir, a 25˚C por três dias.
desenvolvimento do embrião. O lote
que melhor resistir a tais condições é o
de maior potencial fisiológico.

Teste de condutividade elétrica


Princípio Procedimento Avaliação
O valor da condutividade elétrica é Quatro repetições de 50 sementes, pesadas com duas A condutividade elétrica da
medido em função da quantidade casas decimais, são colocadas para embeber em 75 solução é medida em condu-
de lixiviados presentes na solução ml de água destilada e mantidas a 25°C por 24 horas. tivímetro, com resultados ex-
de embebição das sementes. Com a A combinação de 25 sementes/75 ml de água destila- pressos em µS.cm-1g-1. Baixa
deterioração, há maior lixiviação dos da a 20°C/24 horas também é recomendada. condutividade significa maior
constituintes de sementes embebidas, vigor, e alta condutividade,
por conta da perda da integridade das menor vigor.
membranas celulares, resultando no
aumento da condutividade elétrica da
solução.

Condutivímetro

143
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Teste de tetrazólio
Princípio Procedimento Avaliação
Fundamenta-se na 1) 100 sementes são pré- A avaliação da viabilidade e do
alteração da coloração embebidas em água a 25°C, vigor baseia-se na coloração, no
dos tecidos em por 14-16 horas. Remove-se o local e na extensão do dano, interna
presença de solução de tegumento; imersão em solução ou externamente nas sementes,
sal de tetrazólio, que é de sal de tetrazólio a 0,1%, a (mecânicos, insetos e por umidade).
reduzido pelas enzimas 30°C/4 horas.* As sementes são distribuídas em
desidrogenases 2) 100 sementes imersas em classes de 1 a 8. Classes 1 a 3:
dos tecidos vivos, água a 25°C/2 horas; corte na sementes vigorosas, 1 a 5: sementes
resultando em extremidade oposta ao eixo viáveis, e, acima de 5: sementes
um composto de embrionário e imersão/6 horas inviáveis. O potencial de viabilidade
coloração vermelho- em água; remoção do tegumento é informado em porcentagem e
carmim (formazan). e da membrana interna; é calculado pelo somatório das
Tecidos mortos ficam sementes colocadas em solução sementes incluídas nas classes de
descoloridos. de tetrazólio a 0,075% e mantidas 1 a 5 e o vigor, pelo somatório das
a 40°C/150 minutos.* sementes incluídas nas classes de 1
*A solução é drenada; sementes a 3. Os tipos de danos também são
lavadas em água corrente e informados.
mantidas em água para avaliar.

Sementes viáveis

Percevejo Umidade

Sementes inviáveis

Tecido
morto

Tecido
vivo

Danos
mecânicos

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Teste de emergência de plântulas


Princípio Procedimento Avaliação
Estima-se o potencial de emergência de plântulas no Conduzido em condições
campo, se as condições de temperatura e umidade ambientes, em solo com 200 ou Aos 14 dias da instalação,
do solo forem semelhantes às do teste. Para que 400 sementes, semeadas em determina-se a porcentagem
a emergência das plântulas seja favorecida, o linhas de 4 m espaçadas 40 cm de plântulas emersas, com as
algodão necessita de temperaturas entre 18°C e 30°C entre elas, em profundidade de 0,3 folhas cotiledonares totalmente
e valores de demanda hídrica de 25 mm por dia. cm e cobertas por solo. Também expandidas.
Alta disponibilidade hídrica e baixa temperatura pode ser realizado em caixas
proporcionam menor desempenho germinativo contendo areia, umedecida com
em lotes de sementes de algodoeiro, além de afetar volume de água equivalente a
negativamente a emergência das plântulas. 70% da capacidade de retenção.

Caixa com areia Plântulas aos 15 dias da instalação

3. Interpretação de resultados dos testes audição, a pessoa A ouve melhor e será con-
de vigor siderada a mais saudável. Porém, A apresenta
Para melhor compreensão do conceito de uma deficiência visual e B, não. Por isso, se for
vigor da semente, é possível fazer uma analo- avaliada a visão, a pessoa B é que será a mais
gia com a saúde humana. Se compararmos a saudável. O mesmo acontece com o vigor das
saúde de duas pessoas, A e B, pelo aspecto da sementes.

DEFINIÇÃO DE VIGOR
O vigor reflete a manifestação de um conjunto de características que determinam o potencial
para a emergência rápida e uniforme de plântulas.

Pela definição, é praticamente impossível condições de campo. São úteis para diferen-
apenas um teste indicar com precisão o po- ciar lotes com porcentagens de germinação
tencial de desempenho das sementes expos- semelhantes.
tas às mais variadas situações no campo, reco- Tomando-se o exemplo apresentado na
mendando-se a utilização de mais de um teste Tabela 1, observa-se que os cinco lotes analisa-
nos programas de controle de qualidade das dos atendem ao padrão de comercialização, pois
empresas produtoras de sementes, conside- possuem potencial de germinação superior a
rando-se que estes só permitem comparação 75%. Não há padrões definidos para os demais
entre os lotes avaliados, sendo muito difícil in- testes, por isso eles são usados para complemen-
ferir sobre o comportamento desses lotes em tar as informações do teste de germinação.

145
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 1. Avaliação da qualidade fisiológica de sementes de algodão, por diferentes métodos


Envelhe- Emergência
Condutivi-
Germinação Teste de cimento de Plântulas
Lote dade Elétrica
(%) Frio (%) acelera- em
(µS.cm-1g-1)
do (%) campo (%)

1 95 69 76 63,01 86

2 88 76 67 81,20 77

3 88 71 62 81,85 79

4 87 75 70 73,88 83

5 88 60 58 85,68 76

Considerando-se o conjunto das Quanto ao teste de tetrazólio, os


informações, verifica-se que: valores de viabilidade das sementes
obtidos devem ser próximos aos de
• O lote 1 é o de maior vigor, e ape- germinação, sendo aceitável uma di-
nas o teste frio não indicou a su- ferença de até 5 pontos porcentuais a
perioridade deste em relação aos mais para os valores do teste de tetra-
demais. Se tivesse sido adotado zólio. Diferenças maiores geralmen-
apenas este teste, a informação te refletem a infecção das semen-
sobre o vigor não seria precisa; tes por fungos que se desenvolvem
• Embora o lote 5 possuísse poten- durante o processo de germinação,
cial de germinação semelhante ao prejudicando-a.
dos lotes 2, 3 e 4, todos os testes Por esse motivo, para soja, foi
de vigor revelaram o menor po- idealizado pelos pesquisadores da
tencial fisiológico daquele lote em Embrapa Soja um sistema denomi-
comparação aos demais; nado Diagnóstico Completo, para
• Os lotes 2, 3 e 4 foram classificados ser usado no programa de controle
como os de vigor intermediário; de qualidade das empresas produ-
• O lote 4 foi o que apresentou o toras de sementes, abrangendo os
menor valor de germinação; po- testes de germinação, de tetrazó-
rém, todos os demais testes o clas- lio (avaliação de viabilidade, vigor
sificaram como mais vigoroso que e danos mecânicos, causados por
os lotes 2, 3 e 5; percevejos e por deterioração de
• Neste exemplo, os testes de enve- umidade) e de sanidade, de forma
lhecimento acelerado e de con- que o de tetrazólio indica o grau de
dutividade elétrica foram os que deterioração e qualidade fisiológica
forneceram resultados compara- das sementes; o de sanidade, a asso-
tivos entre os lotes que melhor ciação principalmente de fungos a
se relacionaram com os de emer- essas sementes; e o de germinação,
gência de plântulas em campo. a expressão do potencial de germi-
Vale lembrar que menores valores nação associado ao desenvolvimento
de condutividade elétrica refletem de fungos presentes nas sementes.
maior integridade das membranas Além disso, mais de 10% de se-
celulares e, portanto, maior vigor. mentes com perda de viabilidade

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IMAmt 2020
2012

(classes 6 a 8) por conta dos danos mecânicos, radiação aplicadas, permitindo a visualiza-
causados por percevejos e por umidade, iden- ção das estruturas internas e a realização de
tificados no teste de tetrazólio, podem indicar testes adicionais com a mesma semente; por
problema muito sério. isso, as pesquisas desenvolvidas nesse as-
sunto têm procurado relacionar a morfolo-
4. Análise de imagens na avaliação gia interna de sementes com a germinação
de sementes ou com a morfologia das plântulas.
O aperfeiçoamento de metodologias de ava- O florescimento do algodão não é uni-
liação da qualidade de sementes e a inclusão forme e, assim, a polinização, a fertilização
de alternativas inovadoras, com enfoque em e a maturação tampouco o são; consequen-
padronização, objetividade, redução do tempo temente, sementes maduras podem apre-
requerido para a realização dos testes e repeti- sentar variações estruturais significativas,
tividade da informação fornecida, são premis- incluindo a ocorrência de anormalidades
sas essenciais à evolução de programas de con- que podem afetar a germinação e o vigor.
trole de qualidade na produção de sementes. Uma das variações morfológicas resultante
Os sistemas de análise de imagens torna- desta situação e provavelmente relacionada
ram-se atraentes para a avaliação da qualidade ao desempenho da semente é o grau de de-
e classificação de produtos agrícolas, por con- senvolvimento do embrião. Pesquisa realiza-
ta do estágio de evolução tecnológica atual, da na Universidade de São Paulo, em Piraci-
que se reflete na rapidez de captação de ima- caba, confirmou a possibilidade de uso do
gens digitais e do processamento de dados teste de raios-X para determinar essa carac-
informatizados e na crescente diminuição dos terística em sementes de algodão, expressa
custos, relacionados à adoção dessas técnicas. pela área da semente ocupada pelo embrião
Nesse contexto, a captura e o processamen- ou pelo espaço livre entre o embrião e o te-
to de imagens de plântulas, de sementes ou de gumento. Em pesquisas recentes realizadas
suas partes, têm permitido o estabelecimento em nível nacional e internacional compro-
de relações entre morfologia, integridade e vou-se que é possível associar a morfologia
desenvolvimento, bem como a determinação interna da semente de algodão ao potencial
do potencial fisiológico. de germinação. Além de possibilitar a asso-
ciação da ocorrência de danos mecânicos e
Análise de imagens da morfologia interna injúrias causadas por insetos em áreas vitais
de sementes da semente ao potencial de germinação, de
A morfologia interna de sementes pode ser acordo com pesquisa realizada no Laborató-
visualizada por meio de técnicas de análise de rio de Sementes do Instituto Federal Goiano,
imagens, destacando-se o teste de raios-X, in- há elevada correlação positiva e significati-
dicado nas Regras Nacionais e Internacionais va a 1% (87%) entre sementes de algodão
de Análise de Sementes, para diferenciação com área interna preenchida superior a 75%,
entre sementes cheias e vazias, danificadas identificadas pelo teste de raios-X e o desen-
por insetos ou fisicamente. Esse teste teve sua volvimento de plântulas normais, obtidas no
eficiência amplamente comprovada pela pes- teste de germinação.
quisa, na identificação de danos mecânicos em Pela combinação da análise de imagem com-
sementes, a partir do final da década de 1990. putadorizada às técnicas de raios-X, tornou-se
Atualmente, o teste tem sido usado em pro- possível automatizar procedimentos que per-
gramas de controle de qualidade e também mitem a mensuração de áreas internas das
como ferramenta auxiliar nos estudos morfo- sementes, permitindo, por exemplo, a obten-
lógicos de sementes de diferentes espécies. ção de informações mais precisas sobre o grau
A viabilidade da semente submetida ao de maturidade de sementes de algodão, com
comprimento de onda dos raios-X não é base na proporção da cavidade interna da se-
comprometida devido às baixas doses de mente ocupada pelo embrião. Pesquisadores

147
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

da Universidade Estadual de Ohio, cada semente, o TA gera automati-


nos Estados Unidos, desenvolveram camente números para os parâme-
um software, denominado Tomato tros analisados; o espaço livre entre
Analyser (TA), para a avaliação se- o embrião e o tegumento também
miautomática de características fe- é identificado. Após análise e pro-
notípicas de frutos, e enfatizaram a cessamento da imagem e realização
possibilidade de utilizá-lo para ava- dos cálculos pelo software, o arqui-
liar características morfológicas de vo de cada semente é salvo em uma
sementes. No entanto, o primeiro pasta previamente identificada do
trabalho que mostrou efetivamente computador. Tanto o arquivo do TA
seu potencial para essa finalidade, como o manual de instruções po-
inclusive em sementes de algodão, dem ser acessados gratuitamente
foi realizado por pesquisadores bra- no site http://oardc.osu.edu/van-
sileiros em 2010, na Universidade derknaap/tomato_analyzer.php.
de São Paulo em Piracicaba. O software Quant, desenvolvido
Em imagens obtidas por meio de na Universidade Federal de Viçosa,
um equipamento de raios-X, digita- em 2002, para quantificar a severi-
lizadas e processadas em um com- dade de doenças em folhas, atra-
putador, o TA pode definir parâme- vés de imagens digitais também foi
tros baseados na identificação dos testado recentemente para a ob-
limites externos de cada parte cons- tenção da porcentagem de espa-
tituinte e sua relação, geralmente, ços preenchidos e vazios de cada
com a região do perímetro de cada semente de algodão de cinco cul-
semente avaliada; dessa forma, tivares, visando relacioná-los com
pode substituir a determinação de a classificação da plântula obtida,
alguns atributos morfológicos, esti- em duas categorias: 1 – normais
mados subjetivamente, permitindo (com raiz primária e plúmula de-
maior rapidez na análise morfológi- senvolvidas) e 2 – anormais (uma
ca e com maior grau de consistência ou as duas estruturas subdesen-
e repetitividade. volvidas), concluindo-se que esse
As sementes são examinadas programa também pode ser usado
individualmente, e o software é ca- como ferramenta auxiliar na análi-
paz de traçar, em cores diferentes, o se de imagens do teste de raios-X,
perímetro externo da semente e do com elevada correlação com o de-
embrião. Após análise e avaliação de senvolvimento de plântulas.

Análise de Raios-X
Princípio Procedimento Avaliação
A visualização das 200 sementes são identificadas A análise das sementes é
estruturas internas da individualmente e dispostas realizada individualmente, com
semente, sem comprometer em suportes de acrílico, fixadas o auxílio de um software que
sua viabilidade, possibilita com fita dupla face e expostas permite avaliar características
a visualização de danos a intensidade de radiação de morfológicas de sementes, como
mecânicos ou causados por 32 kV, em aparelho de raios-x, o Tomato Analyser ou o Quant.
insetos e espaços cheios e Faxitron MX-20, durante 25
vazios, relacionando-os à segundos. As imagens obtidas
germinação e à morfologia são digitalizadas e processadas
de plântulas. em computador.

148
AMPA
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IMAmt 2020
2012

Análise de imagens de plântulas e parâmetros baseados na velocidade e na


O uso da análise de imagens também tem uniformidade de desenvolvimento, além do
sido direcionado à avaliação de plântulas. Foi de- cálculo de um índice de vigor. Pesquisas com
senvolvido em 2001, na Universidade Estadual esse sistema têm sido desenvolvidas principal-
de Ohio, nos Estados Unidos, um sistema para mente na Universidade Estadual de Ohio (EUA)
indexar automaticamente o vigor de sementes e na Universidade de São Paulo, em Piracica-
a partir da análise computadorizada de ima- ba, adaptando-o com sucesso para avaliar o
gens de plântulas, denominado Seed Vigor potencial fisiológico de sementes de culturas
Imaging System (SVIS); plântulas de alface fo- como soja, milho, melão e algodão. A princi-
ram “escaneadas”, e suas partes, identificadas e pal vantagem da utilização desse método, em
marcadas por software específico. comparação à metodologia tradicional dos
Após o processamento das imagens das testes de vigor que avaliam desempenho de
plântulas no computador, é possível obter, plântulas, consiste na maior rapidez na aná-
simultaneamente, dados referentes ao com- lise das plântulas e na obtenção dos resulta-
primento da raiz primária, do hipocótilo e dos informatizados, representando economia
da plântula toda, a relação raiz/hipocótilo significativa de tempo.

Análise de imagens computadorizadas de plântulas


Princípio Procedimento Avaliação
a) A uniformidade e a rapidez Germinação de 200 sementes, a 25°C, durante três dias, A análise das plântulas é
de emergência de plântulas são distribuídas em repetições de 25 sementes, dispostas no realizada com o auxílio do
componentes importantes do terço superior de rolos de papel-toalha, umedecidos com software Seed Vigor Imaging
vigor de sementes. volume de água equivalente a 2,5 vezes o peso do papel. System (SVIS®), obtendo-se os
b) Lotes de um mesmo genótipo Plântulas normais e anormais e sementes não germinadas valores médios para o índice
que apresentarem os maiores são transferidas para uma folha de cartolina preta com 30 de vigor das sementes, unifor-
valores médios de comprimento cm x 22 cm. A folha é colocada em um escâner, disposto midade de desenvolvimento e
médio de plântulas ou de partes de cabeça para baixo dentro de uma caixa de alumínio comprimento de plântulas.
destas são mais vigorosos. com dimensões de 60 cm x 50 cm x 12 cm e operado pelo
software Photosmart, com resolução de 100 dpi. Plântulas e
sementes não germinadas são escaneadas.

5. Qualidade sanitária 2018/2019, a ramulose apareceu com frequên-


A qualidade sanitária das sementes de algo- cia no algodoeiro, nas regiões Centro e Centro
dão também é de extrema importância para Leste de Mato Grosso; havia anos que não se
obtenção de estande adequado e para assegu- registrava a incidência do patógeno nas áreas
rar uma boa produtividade da lavoura, evitan- de produção do Estado. A principal forma de
do-se a ocorrência de doenças cujos agentes disseminação do fungo causador dessa doença
causais são transmitidos pelas sementes, como é por meio de sementes infectadas. O mesmo
a murcha de Fusarium ou fusariose (Fusarium ocorre com a murcha de Fusarium do algodoei-
oxysporum f. sp. Vasinfectum; Fusarium monili- ro, que antes estava restrita a poucas áreas na
forme), tombamento causado por Rhizoctonia região Centro-Leste do Estado e, atualmente,
solani, mancha angular (Xanthomonas axono- vem sendo observada em outras regiões, possi-
podis pv. malvacearum) e a ramulose (Colletotri- velmente disseminada via sementes infectadas.
chum gossypii var. cephalosporioides). Botryodi- Assim, é fundamental assegurar a sanidade das
plodia theobromae causa a morte de sementes sementes utilizadas para minimizar a distribui-
de algodão. ção desses importantes patógenos nas áreas
Na safra 2017/2018 e, principalmente, na de produção.

149
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Fungos causadores de doenças em sementes de algodoeiro

C. gossypii var. cephalosporioides (Ramulose) F. oxysporum f. sp. vasinfectum (Murcha de


Fusarium)

Embora haja padrões de cam- sanidade não são obrigatórias para


po para Fusarium oxysporum f. sp. a comercialização das sementes. Por
vasinfectum, Xanthomonas axono- esse motivo, são realizadas apenas
podis pv. malvacearum, Verticillium por solicitação do produtor de se-
albo-atrum e Colletotrichum gossypii mentes interessado no controle de
var. cephalosporioides, com tolerân- qualidade ou por agricultores que
cia zero, sendo obrigatório o arran- tenham interesse em conhecer essas
quio e queima das plantas doentes, informações.
não há padrões definidos pelo Mapa Ainda, fungos como Aspergillus
para a detecção desses patógenos spp., Penicillium spp e Rhizopus sp.
em sementes de algodão analisadas podem associar-se às sementes no
em laboratório. Logo, as análises de armazenamento.

Fungo de armazenamento em sementes de algodão

Aspergillus sp. Aspergillus sp. Rhizopus sp.

Além do tratamento fungicida, já importante para a obtenção de se-


mencionado no item sobre armaze- mentes de algodão de maior quali-
namento de sementes, o processo dade sanitária.
de deslintamento químico, realizado No laboratório, o método mais
com ácido sulfúrico e neutralização usado para a detecção de fungos
com carbonato de cálcio a 2%, se tem é o do papel de filtro (blotter test),
mostrado uma prática extremamente e os resultados são informados em

150
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

porcentagem de sementes em que foi constata- materiais de elite, “convertendo” materiais


da a presença de determinado patógeno. Esse e convencionais em transgênicos, para então
outros métodos usados para avaliar a sanidade vender as sementes aos produtores de algodão.
de sementes podem ser encontrados no Ma- Nesse processo, tanto os programas de melho-
nual de Análises Sanitárias, no site http://www. ramento como os multiplicadores são respon-
agricultura.gov.br/assuntos/insumos-agrope- sáveis pela qualidade genética das sementes
cuarios/insumos-agricolas/sementes-e-mudas/ transgênicas, a qual deve atender o limite míni-
publicacoes-sementes-e-mudas/manual-de-a- mo de 97,3% de sementes apresentando a tec-
nalise-sanitaria-de-sementes/view. nologia pretendida em lotes comerciais, além
Com base nos resultados obtidos nesses de um limite máximo de 1% de presença inde-
testes, o produtor de sementes pode tomar de- vida (presença adventícia) de eventos transgê-
cisões quanto à realização de um tratamento nicos não pretendidos.
com um fungicida específico para o controle de Esses limites de qualidade podem ser facil-
determinado fungo e quanto à comercialização mente ultrapassados como resultado da mis-
ou não do lote analisado. tura de sementes ou de cruzamentos não con-
trolados entre plantas diferentes. Portanto, o
6. Qualidade genética monitoramento é constante e só pode ser rea-
No Brasil já existem vinte opções de tecno- lizado satisfatoriamente por instituições e em-
logias de algodão transgênico liberadas para presas especializadas. Nesses locais, a checa-
a comercialização pela Comissão Técnica Na- gem de pureza genética pode ser realizada por
cional de Biossegurança (CTNBio), conforme a intermédio de técnicas precisas como a reação
Tabela 2. em cadeia da polimerase, uma técnica de bio-
Segundo levantamento realizado pelo Ins- logia molecular que permite a análise do DNA
tituto Mato-Grossense do Algodão na safra de cada planta e/ou semente, a fim de verificar
2018/2019, dentro dos 1.106.436 ha cultivados ausência ou presença dos genes que compõem
no Estado havia a predominância da tecnolo- os eventos transgênicos.
gia Roundup Ready Flex™ Bollgard II™ (BG2RF) O processo de análise genética inicia-se na
com 28% da área plantada, seguida das tecno- extração e purificação de DNA (Figura 2), quan-
logias WideStrike™ (WS), com 24.8%; GlytolTM do restos celulares e outras moléculas são se-
(GL), com 21.3%; e Glytol™ x Twinlink™ (GLT), parados do DNA por meio de processos de lise
com 19.1%. As tecnologias Roundup Ready™ e etapas de centrifugação em altíssima velo-
Bollgard™ (BGRR), LibertyLinkTM (LL) e Roundup cidade. Em seguida, alíquotas de DNA purifi-
Ready FlexTM (RF) juntas representam somen- cado são depositadas em placas de PCR que
te 0.4%, enquanto o algodoeiro convencional comportam centenas de amostras (Figura 3); a
(não transgênico) representa 1.3% do total estas também são adicionados reagentes que
(Figura 1). A participação entre as tecnologias é possibilitam a reação em cadeia da polimera-
relativamente flutuante ao longo das safras, de se (PCR), assim como sondas marcadas com
forma que já existem tendências de diminuição fluorescência, que se “ligam” aos genes a serem
de áreas plantadas com a tecnologia WS. detectados. Após preparadas, as placas são co-
Entretanto, antes de serem comercializa- locadas em aparelhos específicos, que possibili-
dos em diferentes cultivares, cada um desses tam a leitura do DNA de cada uma das amostras
eventos, ou tecnologias, passou por uma sé- (Figura 4). Nesse momento, ocorre a detecção da
rie de estudos a fim de atestar sua inocuidade fluorescência emitida pela sonda caso o gene
ao consumidor e ao meio ambiente. Assim, analisado esteja presente; os resultados dessa
dentro de parâmetros de qualidade e respon- leitura são então interpretados por um profissio-
sabilidade estabelecidos, essas tecnologias nal capacitado, e um laudo é emitido.
vêm sendo empregadas pelos próprios de- Por outro lado, há também kits comerciais de
tentores, ou licenciadas para programas de fácil utilização que permitem a checagem da ex-
melhoramento de algodoeiro, que executam pressão de proteínas das tecnologias de algodoei-
a introgressão dessas tecnologias em seus ro transgênico. Esses kits podem ser adquiridos

151
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

com empresas como Envirologix, são adequados para análises em lar-


RomerLabs e Agdia e são baseados ga escala. Também deve-se levar em
em tiras de fluxo lateral (Figura 5) consideração que diferentes tecno-
que detectam a proteína da tecno- logias expressam proteínas iguais
logia transgênica sem a necessida- ou muito similares (conforme ex-
de de qualquer estrutura labora- posto na Tabela 2), podendo gerar
torial, fornecendo o resultado em dificuldades na interpretação de
questão de minutos. Contudo, não resultados.

Figura 1. Participação de diferentes tecnologias de algodoeiro GM e não GM convencional na


safra 2018/2019 em Mato Grosso

Figura 2. Processo de extração e purificação de DNA

152
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Figura 3. Preparação de
placa de PCR

Figura 4. Aparelhos de
análise de DNA

Figura 5. Teste de expressão de proteína com tira de fluxo lateral

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

153
154
Tabela 2. Tecnologias de algodoeiro GM já liberadas para comercialização no Brasil

Ano de
Proteínas
Requerente da libe- aprovação
Nome comercial Eventos que compõe a expressas pela tecno-
Característica ração comercial para comer-
(tecnologia) tecnologia logia
cialização

Bollgard I MON531 Resistente a insetos Cry1Ac Monsanto 2005

Roundup Ready MON1445 Tolerante a Herbicida CP4-EPSPS Monsanto 2008

Tolerante a herbicida e
Liberty Link LLCotton25 PAT Bayer 2008
resistência a insetos

Tolerante a herbicida e
BGRR MON531&MON1445 Cry1Ac/ CP4-EPSPS Monsanto 2009
resistência a insetos
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Widestrike 281-24-236 & 3006-210-23 Resistente a Insetos Cry1Ac /Cry1F/ PAT Dow Agrosciences 2009

BGII MON15985 Tolerante a herbicida Cry2Ab2/ Cry1Ac Monsanto 2009

Resistente a insetos e
GlyTol GHB614 2mEPSPS Bayer 2010
tolerante a herbicidas

TwinLink T304-40 & GHB119 Tolerante a herbicida Cry1Ab/ Cry2Ae/ PAT Bayer 2011

Tolerante a herbicida e
MON88913 MON88913 CP4-EPSPS Monsanto 2011
resistência a insetos

(Fonte: Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Última Atualização: 04/02/2019) Continuação --->
Tabela 2. Continuação

Ano de
Proteínas
Requerente da libe- aprovação
Nome comercial Eventos que compõe a expressas pela tecno-
Característica ração comercial para comer-
(tecnologia) tecnologia logia
cialiazação

GlytolxTwinLink Cry1Ab/ cry2Ae/


GHB614 x T304-40 x GHB 119 Tolerante a herbicida Bayer 2012
(GLT) 2mepsps

Tolerante a herbicida e
GTxLL (GL) GHB614 x LLCotton25 2mepsps/bar Bayer 2012
resistente a insetos

Tolerante a herbicidas e Cry1Ac/Cry2Ab2


BGIIFlex MON 15985 x MON 88913 Monsanto 2012
resistente a insetos CP4-EPSPS

COT102 x MON 15985 x MON Tolerante a herbicida e Vip3A/CrylAc/ Crv2Ab2/


BGIIIRRFlex Monsanto 2016
88913 resistente a insetos CP4 EPSPS
AMPA

Cry1Ab/ cry2Ae/
GlytolxTwinLinkxVipCot GHB614 x T304-40 x GHB119 Tolerante a herbicida e
2mepsps/ Bayer 2017
(GLTP) x COT102 resistente a insetos
VIP3A
AMPA -- IMAmt

DGT MON 88701 Tolerância a herbicidas dmo / bar Monsanto 2017


2012
IMAmt 2020

DAS-21023-5 × DAS-24236-5
Widestrike 3 Resistência a insetos Cry1Ac / Cry1F / VIP3A Dow 2018
× SYN-IR102-7

Enlist DAS81910 Tolerante a herbicidas PAT/ AAD-12 Dow 2018

Tolerante a herbicida e Cry1Ab / Cry2Ae / bar /


TwinLinkxVipCot T304-40 x GHB 119 x COT102 BASF 2018
resistente a insetos Vip3A(a

Tolerante a herbicida e
RRFlexDGT MON88913 x MON88701 cp4 epsps/ dmo/ pat Monsanto 2018
resistente a insetos

Vip3A/Cry1Ac/ Cry-
COT102 × MON 15985 × MON Tolerante a herbicida e
BGIIIRRFlexDGT 2Ab2/ cp4 epsps/ dmo/ Monsanto 2018
88913 × MON 88701 resistente a insetos
pat

155
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Escolha da variedade
Desde o início do cultivo do algodoei- ele for utilizar, safra, segunda safra e/
ro mecanizado em Mato Grosso, os ou adensado, a fim de minimizar o risco
trabalhos de melhoramento genético produtivo na propriedade.
Patricia M. proporcionaram significativos ganhos
Coury de
genéticos, possibilitando a comercia- 1. Eventos transgênicos
Andrade Vilela
IMAmt
lização de variedades adaptadas ao As variedades são também o supor-
clima, ao solo e ao sistema de produ- te para inserção das novas tecnologias
ção do Estado, resultando em alto po- transgênicas (traits), que conferem ca-
tencial produtivo e qualidade de fibra. racterísticas particulares à planta. Essas
O algodão é cultivado em Mato Gros- biotecnologias são atualmente de dois
so sob condições tropicais úmidas, tipos, conferindo propriedades de re-
necessitando de variedades com alta sistência a alguns herbicidas ou a inse-
resistência e/ou tolerância às princi- tos-praga do algodoeiro. A instituição
pais doenças foliares, como ramulose e regulatória no Brasil, a Comissão Técni-
mancha de ramulária, e aos nematoides. ca Nacional de Biossegurança (CTNBio),
Jean-Louis
Assim, uma variedade é definida por já liberou muitos eventos transgênicos
Bélot
um conjunto de características, como para o algodoeiro (Tabela 2 - capítulo 11),
IMAmt
arquitetura da planta, duração do ci- porém, muitos deles ainda não estão
clo (variedades precoce, intermediária disponíveis comercialmente em varie-
e tardia), potencial produtivo, rendi- dades adaptadas para as condições de
mento e qualidade de fibra e resistên- Mato Grosso.
cia/tolerância às principais doenças Todas essas biotecnologias, presen-
e nematoides. tes “na semente”, estão protegidas por
Na escolha de uma variedade, o patentes, o que leva à obrigação de
potencial produtivo, geralmente, é a pagamento de uma taxa tecnológica
característica principal; ele indica a (royalties) para seu uso por parte dos
produtividade que pode ser alcança- produtores, sendo proibida a produção
da quando todos os fatores (água, luz, de sementes próprias dessas varieda-
nutrientes, controle de pragas, doenças des sem o recolhimento dessa taxa.
etc.) estiverem disponíveis em condi- Para a safra 2019/2020, as taxas tec-
ções de lavoura. Porém, as condições nológicas para cada hectare cultivado
de ambiente podem afetar significati- foram aproximadamente as seguin-
vamente a expressão desse potencial tes: US$ 64,25 para RF, US$ 80,00 para
produtivo, assim como a qualidade da GL, US$ 145,00 para WideStrike, US$
fibra, e cada variedade pode responder 240,00 para GLT e B2RF, US$ 266,00
diferentemente ao local ou época, o para GLTP.
que chamamos de interação variedade Outro ponto importante, visando a
x ambiente; portanto, a escolha correta preservação da eficiência desses traits
da variedade é de extrema importân- para resistência a herbicidas e inseticidas,
cia. Em função da complexidade dessas é respeitar certas regras de manejo em
interações, é de fundamental impor- campo. No caso do uso de traits insetici-
tância para a sustentabilidade do siste- das, o produtor precisa plantar conjun-
ma como um todo que o produtor opte tamente ao talhão transgênico algumas
por plantar mais de uma variedade, faixas com material convencional, cha-
independentemente do sistema que madas de “refúgio”, constituídas de 20%

156
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

da superfície plantada com variedade convencio- 2. Adoção das variedades


nal com manejo especifico (www.planterefugio. As variedades mais plantadas em Mato Grosso
com.br). Respeitar essas regras é de suma impor- na safra de 2018/2019 são apresentadas na Tabela 1.
tância para a sustentabilidade dessas tecnologias A adoção das variedades (germoplasma) e das
ao longo do tempo, mantendo-as efetivas, o que tecnologias (biotecnologias) dependem de di-
é de interesse do produtor. versos fatores que iremos comentar em seguida.

Tabela 1. Variedades de algodão em MT - Safra 2018/2019


Variedade %
FM 944GL 19,94
TMG 81WS 19,10
TMG 44B2RF 15,35
FM 954GLT 8,61
TMG 47B2RF 8,23
FM 983GLT 5,35
FM 975WS 5,26
FM 985GLTP 5,08
FM 906GLT 3,13
IMA 5801B2RF 2,78
FM 940GLT 1,56
IMA 2106GL 1,37
Outras 4,25
(Fonte: Ampa, 2019)

2.1 Comportamento agronômico e qualidade dizer que a fibra desses dois materiais é o parâ-
da fibra produzida metro de qualidade de fibra.
Dois exemplos ilustram o peso do germoplas- Dentro das características agronômicas im-
ma na adoção das cultivares, independentemen- portantes, os produtores precisam prestar muita
te da biotecnologia carregada. atenção às características de tolerância e/ou de
É o caso da TMG 81WS, variedade de alto po- resistência às diversas doenças e aos nematoi-
tencial produtivo, às vezes limitada por algumas des presentes nas lavouras de algodão de Mato
características de sua fibra. Apesar de carregar Grosso (Tabela 1 do capítulo 18, pag. 247).
uma tecnologia WideStrike cada vez menos efi- Uma nova variedade, IMA 5801B2RF, entrou
caz para o controle de pragas lepidópteras do no mercado na safra 2018/2019, conferindo re-
gênero Spodoptera, ela mantém um mercado sistência ao nematoide-das-galhas. Essa caracte-
importante devido a sua alta produtividade e rística de resistência é conferida à variedade pela
estabilidade. introdução de genes de variedades Upland, e,
A mesma situação ocorre para as duas varie- portanto, não são transgenes sujeitos à cobran-
dades FM 944GL e IMA 2106GL, unicamente resis- ça de royalties suplementares.
tentes aos herbicidas glifosato e glufosinato. São A variedade reduz drasticamente a quantida-
materiais comercializados inicialmente para se- de de galhas nas raízes (Figura 1), com fator de
rem usados como refúgios de variedades Bt/GLT, reprodução do nematoide significativamente in-
porém o sucesso delas vem principalmente em ferior a 1, no mesmo patamar que o fator de re-
função de seu potencial produtivo e mais ainda produção do nematoide-das-galhas de espécies
por conta de sua alta qualidade de fibra. Pode-se resistentes, como Crotalaria spp.

157
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: R. Galbieri)

Figura 1. Redução do índice de galhas nas raízes da variedade IMA 5801B2RF

Em nível de campo, o cultivo dessa va- de fibra por hectare, com redução drástica
riedade permite obter altas produtividades das populações do nematoide (Figura 2).
(Fonte: R. Galbieri)

Figura 2. População de Meloidogyne incognita em algodoeiro aos 70-90 dias após o


plantio. Cada fazenda teve pelo menos um talhão ou faixa com IMA 5801B2RF com-
parado com o talhão ou faixa ao lado com cultivar suscetível ao nematoide. Cada
dado corresponde a trinta pontos amostrados

158
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Assim, esse tipo de resistência incorporado GLT, GLTP e Bollgard IIRFlexTM apresentam con-
à variedade de boa adaptabilidade às condi- trole significativo das pragas lepidópteras, tor-
ções de Mato Grosso fornece uma ferramenta nando-se interessantes para os produtores.
muito importante para o manejo integrado Ademais, as empresas obtentoras começam a
dos nematoides. apresentar variedades perfeitamente adapta-
das ao Cerrados com essas tecnologias, com
2.2 Biotecnologia usada na variedade bons comportamentos agronômicos e alta qua-
Apesar de serem de alto custo, as tecnologias lidade de fibra.

As últimas biotecnologias para a resistência a lepidópteros


são GLTP, WideStrike3TM e Bollgard IIIRFlexTM.
Todas incorporam o gene vip3A, muito eficiente para o
controle de Spodoptera spp.
Porém, as empresas de biotecnologia não tem novidades
a médio/longo prazo para o controle dessas pragas, sendo
indispensável preservá-la com uso adequado de refúgios nas
lavouras.

2.3 Qualidade da fibra produzida entre variedades cultivadas nas mesmas con-
A qualidade da fibra produzida por cada culti- dições, geralmente com dispositivos estatís-
var e sua estabilidade em diversas condições de ticos. Tais dados são interessantes para saber
cultivo podem ser elemento importante no mo- qual variedade apresenta melhor qualidade de
mento da escolha da variedade. Grandes grupos fibra em condições específicas de cultivo. Po-
produtores, que exportam boa parte de sua pro- rém, geralmente esses ensaios são conduzidos
dução no mercado internacional com base em em um número reduzido de localidades, nem
contratos futuros, precisam de segurança em re- sempre representativas da fazenda do produ-
lação à qualidade da fibra produzida. tor. Todos os obtentores têm à disposição dos
A fim de orientar melhor os produtores a es- produtores esse tipo de resultado, comparan-
colher as variedades em função da qualidade da do novas variedades com as variedades mais
fibra, dois tipos de trabalhos são realizados, com- plantadas de cada região.
plementando as informações fornecidas direta- No caso do IMAmt, são conduzidos anual-
mente pelos obtentores de cada variedade. mente 5 ensaios que permitem realizar essas
comparações (Tabelas 2). Esses ensaios são
a) Resultados de ensaios comparativos ou conduzidos em Primavera do Leste, Cam-
de faixas demonstrativas po Verde, Sorriso, Campo Novo do Parecis e
Esses resultados apresentam dados comparativos Sapezal.

159
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 2. Resultados agronômicos e de qualidade de fibra de 5 ensaios comparativos de


variedades comerciais - IMAmt - Safra 2017/2018

Produtividade fibra por hectare


RF
Materiais

Prod. F/ha Prod. F/ha Prod. F/ha Prod. F/ha Prod. F/ha Prod. F/ha
C. Verde CNP PVA SRS SAP Média %
BRS 430B2RF 2467 2136 2565 2202 2544 2383 37,5
BRS 432B2RF 2111 1954 2554 2120 2877 2323 37,9
BRS 433FLB2RF 1962 1730 2197 1788 2332 2002 34,1
DP 1536B2RF 2119 2356 2489 2098 3113 2435 38,7
DP 1637B2RF 2611 2762 3129 2445 3522 2894 43,3
DP 1734B2RF 2888 2853 2969 2389 3089 2838 44,9
DP 1746B2RF 2989 2104 3152 2567 3107 2784 45,4
FM 906GLT 2456 2522 2367 2242 3173 2552 40,7
FM 944GL 2985 2718 2630 2480 3382 2839 41,0
FM 954GLT 2235 2252 2510 2627 3167 2558 41,9
FM 975WS 2796 2686 2489 2447 3231 2730 40,6
FM 983GLT 2742 2260 2913 2425 3093 2687 41,2
FM 985GLTP 2458 2411 3004 2597 2951 2684 41,3
IMA 2106GL 2760 2804 2766 2262 3171 2753 41,9
IMA 8405 GLT 2505 2533 2744 2396 3232 2682 41,7
IMA 5801B2RF 2036 2556 2711 2327 2874 2501 38,9
IMA 6801B2RF 2068 2434 2013 2037 3290 2369 42,1
IMA 7501WS 2244 2197 2435 2227 2894 2399 40,6
IMA 8001WS 2706 2465 3247 2475 2794 2737 43,2
TMG 42WS 2505 2142 2445 1991 2381 2293 39,6
TMG 81WS 2240 2842 2923 2466 3130 2720 41,5
TMG 44B2RF 2560 2644 2445 2247 3449 2669 41,6
TMG 47B2RF 2157 2394 2776 2397 3220 2589 43,2
TMG 61RF 2348 2571 2579 2680 3529 2741 46,9
TMG 62RF 2350 2604 2648 2127 3204 2587 41,6

CV% do ensaio 10,7 10,1 12,8 9,3 9,1

Prod. F/ha: produção fibra por hectare; RF: rendimento de fibra; PMC: peso médio capulho; ALT: al-
tura da planta; PREC: precocidade (1-tardio; 5-precoce); LEN: comprimento da fibra; UN: uniformi-
dade; STR: resistência da fibra; EL: alongamento; MIC: índice micronaire; Rd: índice de reflectância;
+b: índice de amarelo; SFC: índice de fibras curtas; SCI: índice de fiabilidade

As características HVI são determina- de testes e para as condições climáti-


das em amostras de fibra de capulhos cas do ano; em anos de perfil climato-
do terço médio da planta. É sempre lógico diferente, poderá haver altera-
importante lembrar que essas compa- ções de classificação de qualidade de
rações são válidas para as localidades fibra entre as variedades. Outro ponto

160
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Tabela 2. Continuação

Características da Fibra com HVI


PMC ALT PREC

LEN UN STR EL MIC Rd +b SF SCI


g cm mm % g/tex % %
5,36 130 2,2 30,5 83,9 30,4 7,2 4,6 80,7 8,3 6,3 143
5,40 125 2,4 30,6 84,2 30,6 7,2 4,6 80,3 8,4 6,1 145
6,70 137 1,8 32,3 85,0 33,7 7,0 4,5 80,0 8,6 4,7 162
5,52 122 3,4 30,3 84,7 32,8 6,8 4,7 80,6 8,1 5,9 152
4,58 125 2,1 30,9 83,6 32,0 6,9 4,6 81,8 8,0 6,3 148
5,16 119 2,5 30,9 83,6 31,6 6,9 4,6 81,8 7,8 6,2 146
5,48 130 2,2 31,6 85,5 31,6 7,3 4,6 80,9 8,3 5,0 156
6,38 102 3,8 29,3 82,7 29,2 6,9 4,4 80,1 7,6 7,5 133
5,92 120 2,6 30,6 84,3 32,0 7,1 4,6 81,3 7,7 6,0 150
5,07 119 2,2 31,4 83,9 31,9 6,8 4,4 80,8 7,9 5,5 151
6,15 127 2,2 30,0 83,2 31,6 7,1 4,6 81,2 7,9 6,8 143
5,45 140 1,5 30,6 82,1 30,9 6,6 4,6 81,3 8,0 7,1 136
5,26 135 1,7 31,0 83,0 29,0 6,8 4,5 81,6 7,9 6,6 137
5,99 120 2,6 30,8 83,7 31,2 7,2 4,6 81,0 7,8 6,1 145
5,61 135 1,3 30,6 82,8 30,2 6,9 4,6 81,7 7,8 6,9 138
6,77 130 3,1 30,1 84,5 31,0 6,8 4,8 80,3 7,9 6,0 145
5,87 107 2,9 30,8 83,9 30,4 7,5 4,7 80,6 8,2 5,9 142
7,27 130 1,2 29,1 83,8 31,6 7,7 5,0 80,1 9,0 6,5 139
5,99 136 2,1 30,7 85,6 33,1 6,8 4,5 80,6 8,2 5,4 160
5,08 114 1,9 29,5 83,9 30,4 7,0 4,5 81,1 7,9 6,4 142
6,34 131 1,9 28,6 83,6 31,5 7,2 4,8 81,0 8,3 6,5 139
5,24 119 2,4 30,6 83,7 31,0 6,6 4,4 82,0 7,7 6,4 147
4,64 109 2,0 30,3 83,0 30,4 6,5 4,3 81,1 8,0 7,1 141
5,02 115 2,7 30,2 84,0 32,1 7,6 4,6 79,8 8,3 6,1 147
6,07 122 2,6 30,0 83,9 30,0 7,6 4,7 80,6 8,3 6,3 140

importante a ser lembrado quando da avaliação de Mato Grosso”, todo ano foi realizado o moni-
das cultivares é que as amostras de fibra são do ter- toramento detalhado da qualidade da fibra pro-
ço médio da planta, sendo que existe um gradien- duzida, fazendo-se uma amostragem da colheita
te de qualidade de fibra entre os capulhos do bai- total de talhões devidamente identificados (varie-
xeiro e do ponteiro. Esses parâmetros HVI podem dades, épocas de plantio etc.), representando ao
não refletir muito bem a qualidade de um talhão. redor de 20% dos talhões plantados no Estado.
De cada talhão é colhida uma amostra de 1,5-
b) Resultados de amostragem de talhões 2,5 kg de algodão em caroço (a partir dos módu-
No marco do projeto de “Qualidade da fibra los ou dos fardos em rolo, colhidos no talhão),

161
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

representando, a cada safra, um total Os gráficos de distribuição de valo-


de 1.200-1.700 amostras das diversas res são particularmente interessantes,
regiões produtoras de Mato Grosso, porque dão uma ideia da probabilida-
que são levadas para a estação experi- de de uma cultivar produzir fibra com
mental do IMAmt de Primavera do Les- características HVI abaixo de um limite
te e descaroçadas na mesma máquina, inferior, prejudicial para a comercializa-
composta de um extrator tipo Mitchell, ção. É o que mostra a circular técnica
da Lummus, e de um descaroçador de CT 23/2016 do IMAmt, que informa os
cinquenta serras do fabricante nacional histogramas de distribuição dos princi-
Máquinas Aríus. A fibra é, em seguida, pais parâmetros para a variedade mais
encaminhada para o laboratório da plantada, FM 975WS, durante a safra
Unicotton, para avaliação das caracte- 2014/2015, e, para as demais varieda-
rísticas HVI. des (Tabela 3), a porcentagem de amos-
Apresentam-se, geralmente, os re- tras acima ou abaixo de certos valores.
sultados de duas maneiras diferentes: Variedades que apresentam tendências
uma tabela de média e diversos gráfi- a ficar fora dessas zonas de deságio de-
cos de distribuição de valores dos prin- verão ser preferidas no momento da es-
cipais parâmetros HVI. Eles são publica- colha das variedades a serem plantadas
dos em circulares técnicas do IMAmt. na fazenda.

Tabela 3. Exemplo de resultados que podem ajudar na escolha


da variedade
%
% amostras
Num. amostras
Variedade Intervalo
Amostras Intervalo
3,8- 4,2
3,5- 4,5
1 FM 975WS 368 93.2 50.0
2 FM 940GLT 65 87.7 46.2
3 FM 944GL 82 90.2 48.8
4 FM 951LL 35 97.1 31.4
5 FM 980GLT 28 85.7 50.0
6 TMG 43WS 38 84.2 39.5
7 TMG 41WS 14 78.6 7.1
8 TMG 42WS 66 84.8 53.0
9 IMA 5675B2RF 23 87.0 43.5
10 IMA 2106GL 15 93.3 53.3
11 IMA 8405GLT 21 76.2 33.3
12 FM 910 18 100.0 61.1
13 FM 913GLT 24 87.5 54.2
14 TMG 81WS 135 61.5 22.2
15 TMG 82WS 25 80.0 44.0
16 FM 982GL 34 94.1 55.9
17 DB 04B2RF 7 42.9 14.3
18 DP 1228B2RF 8 100.0 50.0
19 DP 1240B2RF 7 71.4 57.1
20 DP 1243B2RF 10 90.0 50.0

162
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Considerações finais
• A escolha da variedade é uma decisão de cada produtor, que
será definida de acordo com as condições agroecológicas de
sua propriedade;
• Sabe-se que a produtividade é o primeiro critério de escolha,
porém outras características da variedade, como tolerância a
doenças, nematoides ou às biotecnologias que ela carrega são
importantes. A qualidade da fibra definirá o valor do ingresso
comercial, portanto, é elemento-chave da rentabilidade do
cultivo;
• Parte do potencial de qualidade de fibra é definido pelo genó-
tipo, quer dizer, por meio da escolha da variedade; há muitos
dados disponíveis para poder prever a qualidade da fibra que
uma variedade produzirá. Esse jogo de dados de qualidade
de fibra das diversas variedades utilizadas no Estado de Mato
Grosso permite ter uma primeira ideia sobre o valor da fibra que
será produzida em Mato Grosso, mas essa informação deverá
ser confrontada com os dados de características de qualidade
de fibra obtidas em talhões comerciais pelos produtores, nas
diversas regiões de plantio.

A seguir, apresentamos a descrição das princi- não são apresentadas nesse documento devido
pais variedades comerciais dos obtentores traba- a falta de resposta da empresa para completar o
lhando no Brasil. Os dados são de responsabilida- quadro com as principais características das varie-
de de cada empresa. Mais informações podem ser dades comerciais e lançamentos. Maiores infor-
obtidas com o responsável da empresa (contatos mações em:
em baixo das tabelas). https://agriculture.basf.com/br/pt/Protecão-de-
As variedades da BASF (variedades FiberMax) -Cultivos/FiberMax.html#variedades

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores e com os obtentores

163
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

VARIEDADES COMERCIAIS DA DELTAPINE- BAYER

DP 555 BGRR DP 1536B2RF

Sistema de Produção Sugerido


Diferencial do cultivar Tecnologia Bollgard RR Tecnologia Bollgard2 RRFlex
Posicionamento do cultivar Alta tecnologia Alta tecnologia
Restrições Solos c/ nematoídes Solos c/ nematoídes
Época de Plantio Regionalizado Regionalizado
População de Plantas 100 mil 85 a 95 mil
Densidade Semeadura 8a9 7a9
Fertilidade Exigente Exigente

Regulador crescimento Média Exigência/ Média Resposta Alta Exigência/ Alta Resposta

Características Agronômicas
Ciclo Médio / Precoce Médio / Precoce
Altura Plantas Média Baixa
Deiscência de pluma Alta Baixa
Resistente ao acamamento Resistente Resistente
Características tecnológicas de fibra
Rendimento de fibra % 40 a 41 36 a 39
Resistência gf/TEX 29,2 32,6
Micronaire ug/pol 4,0 4,74
Reação às doenças
Bacteriose R R
Resistente ( R ) Doença Azul MR R
Medianamente res. ( MR )/
Ramulose MR MR
tol.(MT)
Medianamente susc. (MS) Ramulária S S
Susceptível ( S ) Nematoídes (Mel. e Roty.) MS MS
Podridão de cápsulas MS MS

Bollgard RR na mesma planta Qualidade de Fibra


Bollgard 2 e RRflex na mesma
Alto potencial produtivo
planta
Pontos fortes
Plantio intermediário e fecha-
Altamente prolifera
mento
Precocidade

Controle de pulgão p / viroses Controle inicial de ramulária


Pontos fracos
Deiscência
Continuação --->

164
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Continuação --->

VARIEDADES COMERCIAIS DA DELTAPINE- BAYER

DP 1746B2RF DP 1637B2RF DP 1734B2RF

Sistema de Produção Sugerido


Tecnologia Bollgard2 RRFlex Tecnologia Bollgard2 RRFlex Tecnologia Bollgard2 RRFlex
Alta tecnologia Alta tecnologia Alta tecnologia
Solos c/ nematoides Solos c/ nematoides Solos c/ nematoides
Regionalizado Regionalizado Regionalizado
90 a 100 mil 90 a 100 mil 100 mil
7a9 7a9 8 a 10
Exigente Exigente Exigente

Alta Exigência/ Baixa Resposta Média Exigência/ Média Resposta Média Exigência/ Alta Resposta

Características Agronômicas
Médio / Tardio Médio Médio / Precoce
Alta Média Média
Média Baixa Baixa
Moderadamente Resistente Resistente Resistente
Características tecnológicas de fibra
40 a 43 41 a 44 41 a 44
31,2 31,5 31,5
4,37 4,53 4,47
Reação às doenças
R R R
R R R

MR MR MR

S MS MS
MS MS MS
S MS MS

Qualidade de Fibra Alto potencial produtivo Alto potencial produtivo


Bollgard 2 e RRflex na mesma Bollgard 2 e RRflex na mesma
Rápido estabelecimento da cultura
planta planta
Plantio abertura e Plantio Intermediário e Plantio Intermediário e fecha-
intermediário fechamento mento
Capacidade de recuperação Estabilidade Precocidade

Exigente em Regulador Crescimento Desenvolvimento inicial lento Desenvolvimento inicial lento

Controle inicial de ramulária Alta Exigência a Fertilidade

Para maiores informações sobre as variedades Deltapine - Bayer:


E-mail: tecnico@jhsementes.com.br
comercial@jhsementes.com.br
Tel. (77) 3636-6880

165
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

VARIEDADES COMERCIAIS DA EMBRAPA

BRS 416 BRS 432B2RF BRS 433 FL B2RF

Sistema de Produção Sugerido


Produtividade, precocidade, Produtividade e ampla
Diferencial do cultivar Fibra longa e resistente
sanidade adaptabilidade
Posicionamento do Cerrado C.O, Cerrado NE, Cerrado C.O, Cerrado NE, Cerrado C.O, Cerrado NE,
cultivar Semiárido NE Sul, Semiárido NE Semiárido NE

áreas com nematoides, es-


Restrições áreas com nematoides áreas com nematoides tresse hídrico, severidade
de ramulária
Cerrado C.O: Dez/
Cerrado C.O: Dez (2a Jan (1a quinzena)
Cerrado C.O: Dez
quinzena)/Jan Cerrado NE: Dez
Cerrado NE: Dez
Época de Plantio Cerrado NE: Dez Sul: Out/Nov
Semiárido NE: Jun/Jul (irriga-
Semiárido NE Jun/Jul (irri- Semiárido NE: Jun/Jul
do) e Fev/Mar (sequeiro)
gado) e Fev/Mar (sequeiro) (irrigado) e Fev/Mar
(sequeiro)
População de Plantas 78.000 a 92.000 pl/ha 78.000 a 92.000 pl/ha 78.000 a 92.000 pl/ha
Fertilidade Exigente Exigente Exigente
Regulador
Exigente Exigente Exigente
crescimento
Características Agronômicas
Ciclo Médio/Curto Médio/Longo Longo
Altura Plantas Média/Alta Média/Alta Alta
Peso capulho (g) 5g 5g 6g
Características tecnológicas de fibra
Rendimento de fibra % 41,5 a 42,5 39,5 a 40,5 36,5 a 37,5
Comprimento mm 29,0 a 30,0 30,5 a 31,5 32,5 a 34,0
Resistência gf/TEX 29,0 a 30,0 29,5 a 31,0 33,5 a 35
Micronaire ug/pol 4,5 a 4,7 4,2 a 4,5 3,5 a 4,2
Reação às doenças
Bacteriose R R R

Resistente ( R )/
Doença Azul R R R
Tolerante (T)
Medianamente res.
Ramulose S S S
( MR )/tol.(MT)
Medianamente susc.
Ramulária MR MS S
(MS)
Nematóides (Mel. e
Susceptível ( S ) S S S
Roty.)
Podridão de cápsulas MS MS MS

Produtividade de fibra Produtividade de fibra Qualidade de fibra


Produtividade algodão em
Pontos fortes Precocidade maturação Retenção de estruturas
caroço
Resistência a ramulária Ampla adaptabilidade

Susceptiblidade aos Susceptiblidade aos


Rendimento de fibra
nematoídes nematoídes
Pontos fracos
Susceptibilidade a
ramulária

Para maiores informações sobre as variedades Embrapa:


E-mail: camilo.morello@embrapa.br
Tel. (62) 3533-2234

166
VARIEDADES COMERCIAIS e PRÉ-COMERCIAIS DO IMAmt

IMA 5801B2RF IMA 2106GL* IMA 8405GLT* IMA 6801B2RF IMA 8001WS
Sistema de Produção Sugerido
Tecnologia B2RF, resistência
Tecnologia GL e excelente qualidade
Diferencial da cultivar ao nematoide das galhas e Tecnologia GLT Tecnologia B2RF Tecnologia WS
de fibra
resistência a ramulária

Tel. (65) 99993-9461


Uso em áreas com problemas de
Posicionamento da Uso em áreas com problemas Material para abertura de Usar em áreas de alta Material para abertura de
plantas daninhas resistentes e/ou
cultivar de nematoide das galhas plantio fertilidade plantio
áreas de refugio

Restrições Solo de baixa fertilidade Solo de baixa fertilidade Solo de baixa fertilidade Solo de baixa fertilidade Solo de baixa fertilidade

Plantio após o dia 15 de dezembro e Dezembro até primeira Dezembro até primeira
Epoca de plantio Plantio segunda safra Plantio segunda safra
segunda safra quinzena de janeiro quinzena de janeiro

Espaçamento 0,90 m = 8 Espaçamento 0,90 m = Espaçamento 0,90 m =

E-mail: antonioneto@comdeagro.com.br
Espaçamento 0,90 m = 8 pl/m Espaçamento 0,90 m = 8 a 9 pl/m a 9 pl/m 8 pl/m 8 pl/m
População de Plantas
Espaçamento 0,76 m = 8 pl/m Espaçamento 0,76 m = 7 a 8 pl/m Espaçamento 0,76 m = 7 Espaçamento 0,76 m = Espaçamento 0,76 m =
a 8 pl/m 7 pl/m 7 pl/m
Fertilidade Exigente e responsivo Exigente e responsivo Exigente e responsivo Exigente e responsivo Exigente e responsivo
Regulador crescimento Exigente inicialmente Moderadamente exigente Alta exigência Moderadamente exigente Alta exigência
AMPA

Características Agronômicas
Ciclo Médio/Precoce Médio Tardio Médio Tardio

Para maiores informações sobre as variedades IMAmt:


Altura Plantas Média Média Alta Média/alta Alta
Peso Capulho g. 5 a 5,6 4,0 a 4,8 4,6 a 5,2 4,2 a 4,6 4,4 a 5,0
Características tecnológicas de fibra
AMPA -- IMAmt

Rendimento de fibra % 37,0 a 39,0 40,0 a 41,0 40,0 a 41,0 41,0 a 42,0 41,0 a 43,0
Comprimento mm 29 a 30 30,0 a 31,1 29,8 a 31,1 29,0 a 30,0 30,0 a 31,0
Resistência gf/TEX 28,1 a 31,0 29,5 a 31,0 29,8 a 31,1 29,0 a 30,0 30,0 a 32,0
2012

Micronaire ug/pol 4,3 a 4,6 3,9 a 4,3 3,9 a 4,3 4,4 a 4,6 3,9 a 4,2
IMAmt 2020

Reação às doenças

Bacteriose MS R R R R

Resistente ( R ) Doença Azul R R R R R


Medianamente res. (
Ramulose MS MR MS S S
MR )/tol.(MT)
Medianamente susc.
Ramularia R S MS S S
(MS)

Susceptível ( S ) Nematóides (Mel.) R S S I T

Nematoides (Rotyl) MI MI MI I T
Virosa atipica MS MS MS MS MR

Tecnologia B2RF Excelente qualidade de fibra Tecnologia GLT Tecnologia GLT Tecnologia GLT
Pontos fortes Resistência nematoide das
Alta retenção das maçãs Prod. de pontero Prod. fibra por ha Retenção de frutos
galhas e ramulária

Não plantar após 20 de Não plantar após 20 de


Pontos fracos Sensível a Roty. Sensível a ramulária Sensível aos nematoides
janeiro janeiro

167
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

VARIEDADES COMERCIAIS DA TMG

TMG 42WS TMG 81WS


Sistema de Produção Sugerido

Produtividade e alto vigor de plantas.


Produtividade com boa distribuição
Sistema radicular agressivo com
Diferencial do cultivar de produção entre o baixeiro, meio
aptidão para solos de textura médias.
e o ponteiro. Arquitetura compacta.
Tolerância ao nematoide das galhas

Posicionamento do Fechamento de plantio (Início à Abertura de plantio (Meados de


cultivar final de janeiro) dezembro à início de janeiro)

Evitar áreas com alta infestação de


Restrições Não informado
nematoides

População de Plantas 8 a 10 plantas/metro linear 7 a 9 plantas/metro linear


Boa rusticidade e altamente respon-
Fertilidade Altamente Exigente
siva
Regulador crescimento Baixa exigência Alta exigência
Características Agronômicas
Ciclo Médio-Precoce Tardio
Variável de acordo com regiões e Variável de acordo com regiões e
Altura Plantas
aplicação de regulador aplicação de regulador
Peso 100 Sementes (desl.) g. 8,8* 7,62*

Peso capulho (g) 4,4** 5,0**


*Valores sujeito a variações conforme condições do ambiente de produção.
Características tecnológicas de fibra
Rendimento de fibra % 41,5** 43,3**
Comprimento mm 26,7** 29,0**
Resistência gf/TEX 29,3** 30,8**
Micronaire ug/pol 4,0** 4,3**
Média de 5 locais (Sapezal, Campo Novo do Parecis, Sorriso, Campo Verde e Serra da Petrovina). Plantio em meados de dezembro.
Rendimento de fibra realizado em máquina de serra. Dados da safra: 2014/2015**, 2015/2016***, 2016/2017****
Reação às doenças
Bacteriose R R

Resistente ( R )/
Doença Azul R R
Tolerante (T)
Medianamente res.
Virose Atipica R MS
( MR )/tol.(MT)
Medianamente susc.
Ramulose T T
(MS)

Susceptível ( S ) Ramulária T S

Nematóides das galhas S T


Podridão de cápsulas MS T

Alto potencial produtivo Alto potencial produtivo


Boa sanidade foliar Tolerância aos nematoides
Pontos fortes
Boa adaptação para algodão de Tolerância ao apodrecimento de
segunda safra maçãs

Sensível à aplicação de regulador Susceptibilidade à ramulária, exigente


Pontos fracos de crescimento, exigente em fertili- em aplicação de regulador de
dade de solo crescimento
Continuação --->

168
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Continuação --->

VARIEDADES COMERCIAIS DA TMG

TMG 44B2RF TMG 47B2RF TMG 61RF TMG 62RF


Sistema de Produção Sugerido

Produtividade com excelente


Produtividade com equilíbrio Produtividade com alta Produtividade. Bom arranque
qualidade intrínseca de fibra.
na qualidade de fibra. Ótima produtividade de fibra. Ótima inícial e rápida definição do
Boa distribuição de carga entre
formação de ponteiro. qualidade de fibra. Excelente potêncial produtivo.
baixeiro, meio e ponteiro.
Tolerância a ramulária opção para refúgio Excelente opção para refúgio
Tolerância a ramulária

Abertura de plantio (Meados Ampla janela de plantio (Mea- Ampla janela de plantio (Mea-
Fechamento de plantio (Início à
de dezembro à meados de dos de dezembro à meados de dos de dezembro à meados
final de janeiro)
janeiro) janeiro) de janeiro)

Evitar áreas com alta infes-


Evitar áreas com alta infestação tação de nematoídes. Evitar Evitar áreas com alta infestação Evitar áreas com alta infes-
de nematoídes posicionamento para fecha- de nematoídes tação de nematoídes
mento de plantio

7 a 9 plantas/metro linear 8 a 10 plantas/metro linear 7 a 9 plantas/metro linear 7 a 9 plantas/metro linear

Altamente Exigente Altamente Exigente Altamente Exigente Altamente Exigente

Média exigência Baixa exigência Média Exigência Média Exigência


Características Agronômicas
Médio-Precoce Médio - Tardio Médio Médio
Variável de acordo com
Variável de acordo com regiões Variável de acordo com regiões Variável de acordo com regiões
regiões e aplicação de
e aplicação de regulador e aplicação de regulador e aplicação de regulador
regulador
7,6* 6,7* 6,8* 8.7
4,9*** 3,9*** 4,5**** 5,5****
*Valores sujeito a variações conforme condições do ambiente de produção.
Características tecnológicas de fibra
43,1*** 43,5*** 48,0**** 42,6****
30,3*** 31,8*** 29,5**** 29,7****
31,1*** 29,0*** 31,4**** 30,1****
4,0*** 3,9*** 4,4**** 4,4****
Média de 5 locais (Sapezal, Campo Novo do Parecis, Sorriso, Campo Verde e Serra da Petrovina). Plantio em meados de dezembro.
Rendimento de fibra realizado em máquina de serra. Dados da safra: 2014/2015**, 2015/2016***, 2016/2017****
Reação às doenças
R R R R

R R R R

R R R R

T T T T

T T S S
S S S S
T T T MT

Alto Potencial Produtivo Alto Potencial Produtivo Alto Potencial Produtivo Alto Potencial Produtivo
Excelente sanidade foliar Boa sanidade foliar Alta Produtividade de Fibra Excelente arranque inicial
Boa Adaptação para Algodão Excelente opção para janela
Ótima qualidade de fibra Rápida definição da carga
de segunda safra intermediária de plantio

Sensível à aplicação de regu-


Exigente em fertilidade de solo, Susceptibilidade à Ramulária, Exigente em fertilidade de
lador de crescimento, Exigen-
Sensível à nematoide Exigente em fertilidade de solo solo
te em fertilidade de solo

Para maiores informações sobre as variedades TMG:


E-mail: viniciusferreira@tmg.agr.br
Tel. (66) 99996-4737
169
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Implantação da cultura
1. Sistema de produção de culturas, e (3) solo permanentemen-
te coberto (formação de palhada). As
No Estado de Mato Grosso, existem duas últimas premissas do SPD não são
Fernando dois sistemas de produção de algodão, observadas quando se cultiva conti-
Mendes Lamas considerando-se a época de semea- nuamente soja-algodão. Nesse modelo,
Embrapa dura. No primeiro caso, o algodoeiro não existe a prática da rotação de cul-
Agropecuária é semeado durante o mês de dezem- turas, que é fundamental para a susten-
oeste bro, sobre palhada de milheto. A área tabilidade do sistema de produção. A
cultivada com esse sistema represen- quantidade de palha deixada pela soja
ta aproximadamente 8% da área total é muito baixa, algo em torno de 4 t ha-1,
cultivada com o algodoeiro no Estado; fato este relacionado às características
no outro sistema de produção, que das cultivares em uso. A palhada resi-
corresponde a 92% da área cultivada, dual da soja, embora propicie boa co-
a semeadura do algodoeiro é realizada bertura inicial do solo (Figura 1), é rapi-
entre janeiro e fevereiro, imediatamen- damente decomposta, deixando o solo
te após a colheita da soja. Nesse caso, a descoberto durante boa parte do longo
Alexandre semeadura e o cultivo do algodão são ciclo do algodoeiro; a rápida perda da
Cunha de realizados em segunda safra e o solo palhada de soja sobre o solo deve-se a
Barcellos não é preparado com arados e grades. sua baixa relação carbono-nitrogênio
Ferreira O cultivo do algodoeiro sobre os (C/N), às disponibilidades adequadas
Embrapa restos culturais da soja, no sistema so- de água e temperatura e ao lento cres-
Algodão ja-algodão, é o Sistema Plantio Direto cimento inicial do algodoeiro, que per-
(SPD), o qual tem como premissas: (1) mite elevada radiação solar direta sobre
não revolvimento do solo, (2) rotação a palhada. Os restos culturais da parte
(Imagem: Fernando Mendes Lamas )

Ruy Seiji
Yamaoka
IAPAR

Figura 1. Colheita e palhada da soja antecedendo a semeadura do algodão em segunda safra

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2012

aérea do algodoeiro também fornecem, aproxi- godoeiro propicia incipiente cobertura e prote-
madamente, 4 t . ha-1 de matéria seca, para pos- ção do solo, sendo a soja em sucessão semeada
terior semeadura da soja. Assim, além da pouca em solo praticamente descoberto, exceto quando
quantidade de palha residual de algodão, a baixa o algodoeiro for um dos componentes de um sis-
superfície específica do caule e dos ramos do al-
(Imagem: Fernando Mendes Lamas)
tema de produção (Figura 2).

Figura 2. Soja cultivada sobre restos culturais do algodoeiro, em área


onde, anteriormente ao algodoeiro, foi cultivado milho

No modelo soja-algodão-soja-algodão, os na parte aérea e no sistema radicular até cama-


riscos são maiores por conta da necessidade das mais profundas do solo.
de semeadura imediata do algodão após a
soja, em solo muitas vezes com teor de água
desfavorável ao trânsito de máquinas e à se-
(Imagem: Fernando Mendes Lamas )

meadura, com alta propensão à mela, maior


risco de déficit hídrico após o mês de abril,
com redução do potencial produtivo, baixa di-
versificação do sistema por conta da sucessão
soja/algodão ao longo dos anos.
Para assegurar a diversificação e a sustentabi-
lidade do sistema, recomenda-se, a cada dois anos,
fazer o cultivo de milho consorciado com bra-
quiária, por exemplo, para melhorar o aporte
de biomassa (palha) na superfície e ao longo
do perfil do solo. A Urochloa ruziziensis é uma
das espécies mais cultivadas em consórcio
com milho (Figura 3). No final do ciclo do mi-
lho (Figura 4) e após sua colheita, a U. ruziziensis Figura 3. Urochloa ruziziensis cultivada em consórcio
continua a crescer, acumulando matéria seca com milho

171
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira)

Figura 4. Espiga de milho próxima ao ponto de colheita, em cultivo


consorciado com braquiária

Além de o solo estar coberto com milho com braquiária, conhecido como
palha, as raízes das plantas de cober- Sistema Santa Fé, além de disponibi-
tura, como as provenientes do cultivo lizar alta quantidade de palha sobre o
consorciado do milho com U. ruziziensis solo (Figura 6) para a semeadura direta
(Figura 5), são da maior relevân- do algodão (Figura 7), também reduz a
cia quando se pensa na melho- erosão e auxilia no controle integrado
ria do perfil do solo, nos aspec- de plantas daninhas, problema cada vez
tos físico, químico e biológico. O mais frequente nas lavouras de algodão,
sistema de cultivo consorciado de milho e soja do Cerrado brasileiro.
(Imagem: Embrapa)

Figura 5. Raízes de milho e Urochloa ruziziensis em cultivo


consorciado

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(Imagem: Fernando Mendes Lamas )

Figura 6. Palhada de milho + braquiária preparada para a semeadura direta do algodão,


em Ipiranga do Norte, MT
(Imagem: IMAmt )

Figura 7. Lavoura de algodoeiro cultivado sobre palhada de braquiária

173
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

2. Época de semeadura o algodoeiro é cultivado em segunda


Dentre as espécies vegetais culti- safra após a soja; logo, deve ser dada
vadas, o algodoeiro (Gossypium hir- preferência às cultivares de soja su-
sutum L. r. latifolium Hutch.) é uma perprecoce ou precoce, semeadas no
das mais exigentes no que se refere à início do período recomendado, após
época de semeadura, a qual exerce in- o vazio fitossanitário, para que a cul-
fluência sobre a quantidade e a quali- tura do algodoeiro possa ser estabe-
dade da fibra produzida, a incidência lecida na melhor época.
de pragas e doenças e a duração de Em trabalhos desenvolvidos em
cada fase fenológica, consequente- Goiás, com oito cultivares em qua-
mente, sobre todo o ciclo da planta. tro épocas de semeadura (9/12, 13/1,
O algodoeiro deve ser um dos com- 31/1 e 11/2), fica evidente a queda da
ponentes de um sistema de produ- produtividade de fibra com o atraso
ção; assim, devem ser consideradas as da época de semeadura, independen-
demais espécies integrantes do siste- temente do espaçamento entre filei-
ma. Em Mato Grosso, com frequência, ras, para todas as cultivares (Figura 8).

Figura 8. Produtividade de fibra de algodão em função da época de


semeadura de cultivares de algodoeiro

As características tecnológicas da a reduzir-se com o atraso na época de


fibra (intrínsecas), como o comprimen- semeadura, especialmente quando
to, a uniformidade de comprimento e o ocorrem temperaturas noturnas infe-
índice micronaire, estão entre as mais riores a 17°C.
afetadas negativamente pela época de Dentre os fatores que interferem
semeadura. O índice micronaire tende na produtividade do algodoeiro e na

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qualidade da fibra destacam-se a temperatura de solo, o ciclo da cultivar e a região do Estado.


e a umidade, sendo consideradas como ideais Para solos arenosos, com baixa capacidade de
para a obtenção de elevadas produtividades e de armazenamento de água, a semeadura deve ser
fibras com boa qualidade, temperaturas médias realizada o mais cedo possível, dentro do perío-
diurnas de 30°C e noturnas de 22°C. O estresse do recomendado.
térmico afeta a produtividade por meio de dois O zoneamento de risco climático é estabele-
componentes principais da produção: o núme- cido considerando-se a probabilidade da ocor-
ro e o peso de capulhos; temperaturas noturnas rência de déficit hídrico na fase crítica do desen-
menores que 22°C interferem negativamente, volvimento do algodoeiro, compreendido entre
por exemplo, no índice micronaire, resultando sessenta e cem dias após a emergência. Entretan-
em fibras mais finas. to, deve-se considerar também que longos perío-
dos de chuva, especialmente após o início do flo-
Indicação de época de semeadura rescimento, podem interferir negativamente na
Considerando-se que o algodoeiro é cultiva- produtividade do algodoeiro, por conta da baixa
do no Estado de Mato Grosso sem irrigação, ou radiação solar e do maior abortamento e apodre-
seja, na dependência total de precipitação plu- cimento de estruturas reprodutivas, estas com-
vial, esta é fator preponderante para a definição preendendo botões florais e maçãs em desenvol-
da época de semeadura. No extremo Sul, na di- vimento. Assim, deve-se evitar a semeadura antes
visa com Bolívia e Mato Grosso do Sul, a estação de dezembro, ou, quando não for possível, adotar
chuvosa vai de meados de outubro a meados de espaçamentos de 90 cm entre fileiras, com menor
março; nas regiões Sul e Leste de Mato Grosso, número de plantas por metro, seguindo-se rigo-
vai de final de outubro a final de março; na re- roso programa de controle do crescimento com
gião Central, de outubro a meados de abril, e na fitorreguladores.
região Norte entre o final de setembro a final de Para as regiões onde durante os meses de ja-
abril. Com base nessas informações, fica eviden- neiro, fevereiro e março ocorrem chuvas com
te que para cada uma das regiões haverá uma muita frequência, poderá haver problemas de
época de semeadura em que a probabilidade luminosidade que interferirão negativamente no
de prejuízos por déficit hídrico é menor. crescimento e no desenvolvimento do algodoeiro
Considerando-se a disponibilidade hídrica, e, talvez, na maturação dos frutos dos primeiros
alguns trabalhos indicam que a melhor época ramos, especialmente aqueles das primeiras po-
para a semeadura do algodoeiro em Mato Gros- sições; para essas regiões, a semeadura deve ser
so é até o final de janeiro. Cabe destacar que iniciada na segunda quinzena de dezembro. No
na microrregião de Rondonópolis e Tesouro, início do período de semeadura deve-se utilizar
em semeaduras realizadas em janeiro, é grande preferencialmente cultivares de ciclo longo. Cul-
a probabilidade de ocorrência de déficit hídrico tivares de ciclo curto devem ser utilizadas para o
na fase em que o algodoeiro mais necessita de fechamento do período de semeadura. Quando o
água, ou seja, a partir do início do florescimento algodoeiro é semeado no início do mês de feve-
até a maturação dos capulhos. reiro, os frutos do terço inferior das plantas, pri-
De acordo com a instrução normativa con- meiros ramos, têm condições climáticas mais ade-
junta SEDEC/INDEA-MT nº 001/2016, publica- quadas. No entanto, os frutos oriundos do terço
da no diário oficial do estado de Mato Grosso médio e do terço superior poderão não encontrar
em 04/05/2016, a época de semeadura ficou condições adequadas para o crescimento, espe-
estabelecida da seguinte forma: região sul do cialmente em virtude de déficit hídrico e tempe-
MT, 01/12 a 28/02 e região norte do MT 15/12 raturas mais baixas no outono, principalmente
a 28/02. Esse período é estabelecido de forma após o mês de maio, o que poderá interferir ne-
a minimizar os riscos decorrentes de eventuais gativamente na produtividade e na qualidade
períodos de déficit hídrico, considerando o tipo da fibra.

175
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Com base no exposto, no momento do início da semeadura do algodoei-


ro, deve-se levar em consideração:

1. Antes da semeadura, deve-se respeitar o vazio sanitário estabelecido pelo


IN 001/2016 SEDEC / INDEA, período em que não deve haver algodoeiro no
campo;
2. Iniciar a semeadura com cultivares de ciclo mais longo (Grupo III) e termi-
nar, preferencialmente, com cultivares de ciclo mais curto (Grupo II);
3. Realizar a semeadura até 28/02.

3. Arranjo de plantas população, há redução no número de


O arranjo de plantas depende da po- frutos por planta; entretanto, o núme-
pulação (número de plantas por unida- ro de frutos por área praticamente não
de de área), da densidade (número de é alterado, o que leva ao equilíbrio da
plantas por metro) e do espaçamento produtividade. Essa compensação dos
(distância entre duas fileiras consecu- componentes de produção do algodão
tivas), determinando-se a área disponí- ocorre até certo número de plantas por
vel para o crescimento de cada planta. área, pois populações muito elevadas,
A população de plantas ideal é aque- dependendo da cultivar e da condição
la que proporciona maior produção por do ambiente, podem sim reduzir a pro-
unidade de área, com garantia na qua- dutividade, além de aumentar muito
lidade da fibra. Além disso, o arranjo o gasto com sementes; esse é um dos
adequado de plantas corrobora no ma- componentes do custo de produção
nejo integrado de plantas daninhas e que aumentou bastante nos últimos
de doenças. anos, principalmente considerando as
cultivares geneticamente modificadas
3.1 Espaçamento e densidade para resistência a herbicidas e lagar-
A produtividade do algodoeiro, den- tas. Em diversos trabalhos verificou-se
tre outros fatores, depende da popu- que a diminuição do espaçamento en-
lação de plantas por unidade de área; tre fileiras reduziu a altura das plantas,
quanto maior a população em uma o número de nós da haste principal, as
mesma unidade de área, maior será a biomassas foliar e vegetativa e o núme-
competição entre indivíduos por água, ro de capulhos por planta. As atividades
luz e nutrientes. Assim, considerando- fisiológicas do algodoeiro, em especial
-se as características do algodoeiro, a fotossíntese, são altamente influen-
haverá uma população de plantas cuja ciadas pelo arranjo de plantas, sendo
produtividade será máxima. Esta, por menores em condições de população
sua vez, depende do espaçamento en- muito alta, o que se deve principalmen-
tre fileiras e da densidade de plantas. te à limitação de penetração de luz ao
A arquitetura das plantas, a posição longo do dossel vegetal. Sob condições
dos frutos nos ramos e o número de de elevada população de plantas, a per-
frutos por planta são influenciados pelo da de produção individual é superior ao
espaçamento entre fileiras e pela densi- ganho, o que se deve ao aumento do
dade de plantas. Em condições de alta número de plantas por área, por conta

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das limitações impostas pela alta competição en- máquinas e equipamentos disponíveis na pro-
tre indivíduos. priedade para realização das operações mecâni-
A manipulação do arranjo espacial das plantas cas que a cultura exige, inclusive e principalmen-
por variações no espaçamento entre fileiras e na te, da colheitadeira.
densidade de plantas é uma estratégia a ser utili- Os espaçamentos entre fileiras mundialmente
zada visando maximizar a produtividade física e a utilizados são:
qualidade da fibra.
• Ultra Narrow Row (UNR) ou ultraestreito -
3.2 Espaçamento entre fileiras espaçamento de 0,19 m a 0,38 m;
O espaçamento adequado é aquele em que há • Narrow Row (NR) ou adensado - espaça-
melhor aproveitamento do solo e da radiação so- mento de 0,38 m a 0,45 m;
lar, isto é, as distâncias entre fileiras e entre plan- • Convencional - espaçamento superior a
tas que proporcionam, na mesma área, maiores 0,76 m.
produtividades. Em trabalhos comparando 7, 9,
11, 13 e 15 plantas/m2, independentemente do Os espaçamentos mais indicados para as con-
espaçamento entre fileiras, a melhor população dições do Cerrado mato-grossense são aqueles
estimada, considerando-se a produtividade de fi- entre 0,76 m e 0,90 m entre fileiras; o uso de es-
bra, foi de 11,5 plantas/m2. paçamento adensado em Mato Grosso, com 45
No Brasil, os espaçamentos entre fileiras mais cm entre fileiras, foi usado por algum tempo, po-
utilizados são os de 0,76 m e 0,90 m; os efeitos do rém, problemas operacionais, especialmente em
espaçamento sobre a produtividade de fibra vão relação à colheita, com comprometimento na
depender da cultivar, da fertilidade do solo, da qualidade da fibra, contribuíram para que esse
época de semeadura e do manejo de regulador sistema de cultivo praticamente não seja mais uti-
de crescimento. Em trabalho desenvolvido em lizado. No cultivo adensado do algodoeiro, quando
2012, em Mato Grosso do Sul, com oito cultivares, utilizado, prevalece o espaçamento de 0,45 m a 0,50
verificou-se maior produtividade no espaçamen- m, em função do aproveitamento de máquinas e
to de 0,45 m em relação ao de 0,90 m, exceto para equipamentos utilizados no cultivo da soja, pre-
a cultivar de porte alto FM 993, nas duas primeiras sentes na maioria das propriedades que cultivam
épocas de semeadura. Em outros trabalhos de- o algodão.
senvolvidos durante três anos, em três locais, utili- Na utilização de espaçamentos adensados
zando quatro espaçamentos entre fileiras (0,30 m, (0,38-0,45 m), deve-se dar preferência a cultivares
0,60 m, 0,90 m e 1,20 m), quatro densidades (4, 8, de porte mais baixo e dispor de máquinas ade-
12 e 16 plantas/m) e quatro cultivares, concluiu-se quadas para a colheita de algodão nesse tipo de
que o efeito do espaçamento entre fileiras varia sistema de produção. Para o manejo com regula-
significativamente com a cultivar. Consideran- dor de crescimento, deve-se considerar que a al-
do-se apenas o aspecto quantitativo, na maioria tura ideal das plantas, na colheita, não seja supe-
dos trabalhos de pesquisa realizados no Brasil e, rior a 1,5 vez o espaçamento entre fileiras.
em outros países, verifica-se aumento da produ-
tividade de fibra com a redução do espaçamento 3.3 Densidade
entre fileiras. Entretanto, esses resultados variam A densidade refere-se ao número de plantas
grandemente em função principalmente da culti- por metro de fileira. Cabe destacar que mais im-
var e da densidade, tornando o controle do cres- portante que o número de plantas por unidade
cimento por meio de fitorreguladores muito mais de comprimento é a regularidade entre plantas,
importante nas maiores populações e menores dentro da linha de semeadura. O algodoeiro é
espaçamentos entre fileiras, visando equilibrar o uma espécie com relativa capacidade de ajustar-
desenvolvimento do algodoeiro, especialmente -se a eventuais falhas, o que se deve a sua elevada
de cultivares de porte mais vigoroso. plasticidade morfológica. A densidade de semea-
Do ponto de vista prático, a definição do espa- dura ideal é aquela que alia a máxima utilização
çamento a ser utilizado depende muito mais de dos recursos ambientais à mínima competição

177
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

entre as plantas por tais recursos. Por O número de capulhos por planta é
isso, a distribuição uniforme de plan- inversamente proporcional à densida-
tas na área é tão importante. Plantas de de plantas, ou seja, quanto maior a
mal distribuídas geram plantas domi- densidade de plantas, menor é o nú-
nadas por outras, por conta do efeito mero de capulhos por planta e vice-
de competição entre elas, sem o ajuste -versa. Além disso, outro componente
adequado dos componentes de pro- de produção do algodoeiro que tam-
dução para o equilíbrio produtivo. bém oscila em função da densidade
Em diversos estudos realizados so- de plantas é a massa de um capulho,
bre o desenvolvimento de plantas foi embora em menor intensidade que o
observado que a altura final do algo- número de capulhos por planta.
doeiro diminuiu com o aumento da Em alguns trabalhos observou-se
população de plantas por área. Na que o rendimento de pluma, o peso
maioria dos trabalhos, com o aumen- de um capulho e o número de estrutu-
to da densidade de plantas, verifica-se ras por metro não sofreram influência
redução na altura final e aumento da quando a densidade populacional va-
altura de inserção do primeiro ramo riou entre três e doze plantas por me-
frutífero. tro; somente uma variedade de porte
Em outros estudos agronômicos, baixo e ciclo mais precoce respondeu
verificou-se que o aumento da den- positivamente ao aumento de densi-
sidade ocasionou aumento no índice dade para produtividade de fibras. Em
de área foliar (IAF) durante o ciclo do outros estudos, concluiu-se que nos
algodoeiro, diminuindo o diâmetro do espaçamentos de 0,45 m e 0,90 m as
caule por conta do estiolamento das densidades de 6 e 10 plantas m-1 não
plantas. Independentemente do espa- apresentaram diferenças na produtivi-
çamento e da densidade, o número de dade do algodoeiro.
ramos vegetativos não se altera, en- A densidade adequada de plantas
quanto que o número de ramos frutí- é função também da cultivar; fixando-
feros e o número de internódios dimi- -se o espaçamento entre fileiras e va-
nuem com o aumento da população riando o número de plantas na linha, a
de plantas por área. produtividade de fibra variou entre as
Agronomicamente, a densidade de cultivares e densidades (Figura 9), com
plantas do algodoeiro afeta diversos fa- tendência de queda da produtividade
tores que podem interferir na produção. com o aumento da densidade.

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Figura 9. Efeito da densidade de plantas sobre a produtividade de fibra em diferentes cultivares de algodoeiro(1)

A semente tem um peso relativamente alto seja, mais de oito plantas por metro.
no custo de produção do algodão (Instituto Geralmente, as características intrínsecas da
Mato-Grossense de Economia Agropecuária, fibra são pouco influenciadas pela densidade;
2019), representando 12% dos gastos com for- o contrário se verifica com a porcentagem de
mação e condução da lavoura. Portanto, devem fibra, que normalmente é menor nas maiores
ser tomados alguns cuidados com a quantidade densidades. Condições de altas populações
de sementes a ser utilizada, evitando principal- quase sempre resultam em baixos valores para
mente populações demasiadamente altas, ou o índice micronaire.

No conjunto de informações para cultivares disponíveis, recomenda-se


o espaçamento entre fileiras de 0,76 m a 0,90 m, com densidade de 6-8
plantas por metro. Para plantas de porte mais alto, a densidade não deve
ser superior a 8 plantas por metro.

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores


 
 (1) 
BOLETIM TÉCNICO DE RESULTADOS. [Montividiu]: Instituto Goiano de Agricultura, ano 1, n. 1, nov. 2018.

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CONDUÇÃO DA LAVOURA

Como atender as exigências da planta e protegê-la dos bioagressores


Uma vez a lavoura implantada, todas as operações de manejo do cultivo visam
a fornecer à planta condições ideais para ela produzir uma fibra de qualidade.
Fertilização, regulação da altura da planta, proteção do algodoeiro das agressões
externas como plantas daninhas, doenças, pragas e nematoides fazem parte das
ferramentas que os técnicos das fazendas precisam dominar. Todas envolvem
conhecimento profundo da planta dentro do sistema e da biologia dos diversos
bioagressores e vão mobilizar muitos insumos e equipamentos nas fazendas, a
fim de poder usar deles no momento oportuno. As tecnologias de aplicação dos
agroquímicos são às vezes tão importantes quanto a escolha dos ingredientes
ativos usados. Depois da colheita, a destruição de soqueira é uma operação de suma
importância para reduzir a pressão de pragas no novo ciclo de cultivo, operação
cada vez mais complicada por conta do uso das biotecnologias de resistência aos
herbicidas, como o glifosato.

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Correção do solo e adubação da cultura

Caracterização da cultura do algodão no Brasil, o aumento na absorção e tam-


Leandro
Zancanaro
bém na exportação não é exatamente
Fundação MT O algodoeiro herbáceo é uma plan- proporcional ao aumento na produção.
ta exigente quanto à qualidade do Ou seja, quanto maior a produtividade,
solo, desenvolvendo seu máximo po- parece ser menor a eficiência da plan-
tencial produtivo em solos férteis, ri- ta em utilizar o nutriente (Tabela 1). Por
cos em matéria orgânica, profundos, esta razão, a economicidade da aduba-
bem estruturados, permeáveis e bem ção deve sempre ser levada em conta,
drenados. uma vez que, a cada incremento na
A cultura do algodão apresenta sis- dose de fertilizante, o incremento na
tema radicular pouco denso, sensível à produtividade será um pouco menor.
compactação, à oxigenação e à acidez Quando se analisam as quantidades
Claudinei
Kappes do solo e baixa eficiência de aprovei- que são exportadas à medida que se
Fundação MT tamento de nutrientes no solo. O algo- aumenta a produtividade, a propor-
doeiro não é uma planta esgotante do ção de nutrientes exportada diminui,
solo, pois a quantidade de nutrientes embora, a quantidade total exportada
retirada da lavoura pela fibra e semen- seja maior. Assim, apesar de a exigência
tes é relativamente pequena, se com- inicial de lavouras de algodão de alta
parada ao que é extraído por outras produtividade ser muito grande, não
culturas de importância, principalmen- guardando proporcionalidade com o
te no que se refere ao potássio. aumento da produtividade, a propor-
Alguns autores relatam que, ao con- ção dos nutrientes que é reciclada para
trário do que havia sido determinado o solo também é maior.

Tabela 1. Quantidade de nutrientes absorvidos e exportados em relação à produtividade, na Austrália

Produção de pluma (kg/ha)


Nutriente 1.000 1.800 2.400 1.000 1.800 2.400
------ Absorção ------ -------------------- Exportação --------------------
kg/ha kg/ha % kg/ha % kg/ha % kg/ha %
Nitrogênio 63 175 290 42 66 91 52 133 46
Fósforo 13 27 41 10 82 19 69 25 60
Potássio 77 167 250 16 21 28 17 38 15
Enxofre 10 39 62 4 42 8 21 11 18
Cálcio 71 94 155 2 3 3 3 3 2
Magnésio 16 36 63 7 45 12 34 16 25
Ferro 0,227 0,820 1,620 0,091 40 0,328 17 0,178 11
Manganês 0,152 0,355 0,655 0,008 5 0,011 3 0,013 2
Boro 0,075 0,320 0,560 0,017 22 0,070 13 0,062 11
Cobre 0,025 0,052 0,081 0,013 51 0,020 38 0,251 31
Zinco 0,058 0,119 0,203 0,057 99 0,087 73 0,123 61
(Fonte: adaptado de Rochester, 2007, citado por Rosolem & Bogiani, 2014)

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Interpretação e recomendação de práticas de correção e adubação


(Consultar obrigatoriamente um engenheiro agrônomo)
Todo profissional técnico deve estar ciente que, ao utilizar as tabelas de interpretações dos
resultados das análises de solo e as tabelas de recomendações, é necessário entender que:

• Os resultados contidos num laudo de análise de solo dos laboratórios são apresentados na forma
numérica, que somente tomam um significado quando devidamente interpretados, consideran-
do as metodologias utilizadas e as calibrações dos resultados para cada metodologia analítica,
para cada ambiente. Os valores numéricos, interpretados isoladamente, não representam nada;
• Os resultados presentes numa análise de solo representam a média de todos os pontos cole-
tados, ou seja, não significa que todo o campo esteja com as condições referentes à interpre-
tação dos resultados das análises;
• As tabelas de interpretações e recomendações de adubação oficiais refletem o resumo de vários
trabalhos de pesquisa e representam o melhor ajuste destes resultados; devem ser utilizadas
como referência, podendo haver variações em torno dos valores das tabelas ou regressões;
• Os níveis dos nutrientes tentam expressar o potencial produtivo relativo da(s) cultura(s), quando
cultivada (s) nas condições em que o solo se encontra. Sendo que não necessariamente os níveis
muito baixos, baixos, médios, adequados ou altos das tabelas existentes expressem os mesmos
potenciais produtivos;
• Os resultados das análises de solo não podem ser convertidos em quantidades de nutrientes
disponíveis no solo utilizando procedimentos matemáticos.

Correção da acidez do solo e manejo da adubação dentro dessa faixa, devendo-se fazer reaplicação
A acidez dos solos, acompanhada da presença quando este valor cair a níveis abaixo de 50%.
de alumínio trocável e/ou baixos teores de cálcio, Para a profundidade de 20 a 40 cm, deve-se
afeta negativamente o desenvolvimento radicular procurar eliminar os teores de alumínio trocável e
e o crescimento do algodoeiro, refletindo direta- cálcio superiores a 0,5 cmolc/dm3.
mente na produtividade, sendo a prática de cala- Em solos com textura arenosa e/ou com CTC
gem recomendada para solucionar esse problema. baixa, o método de saturação por bases pode su-
A acidez do solo afeta a disponibilidade de nu- bestimar a necessidade de calcário. Assim, pode-
trientes, sendo que alguns deles podem ser tóxi- -se utilizar o método de neutralização do alumínio
cos às culturas em situações de acidez elevada (Al trocável associado ao do aumento dos teores de
e Mn, conforme o solo). A elevação excessiva do Ca e Mg trocáveis. Hoje, há divergência entre pes-
pH do solo pode resultar em deficiência de micro- quisadores e profissionais da produção quanto
nutrientes; há necessidade de encontrar a condi- aos teores de Ca e Mg utilizados na definição da
ção de acidez do solo que proporcione às cultu- estratégia de correção da acidez do solo.
ras expressarem seu potencial produtivo, além de A seguir, são apresentados os critérios de reco-
melhor aproveitamento dos nutrientes já presen- mendação de calagem mais utilizados:
tes no solo e dos fertilizantes aplicados.
No sistema de rotação de culturas, a calagem NC (t/ha): (V2-V1) * CTC * PRNT (%)/100
deve atender à cultura mais exigente quanto à
Onde: V2 = Saturação por bases desejada
correção da acidez do solo. Assim, considerando a V1 = Saturação por bases inicial
profundidade de 20 cm e que a maioria das cultiva- CTC = Capacidade de troca de cátions
res de algodoeiro utilizadas no Cerrado atinge seu PRNT = Poder relativo de neutralização total (%)
máximo potencial produtivo na faixa de saturação
por bases de 50 a 60%, é recomendável que, quan- NC (t/ha): X - (Ca + Mg) + 2 * Al
do o algodoeiro estiver incluído no sistema de rota-
ção de culturas, a calagem seja realizada para que Onde: X = níveis desejados de Ca + Mg no solo.
a saturação por bases do solo fique efetivamente

183
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Na literatura, é comum o índice de 2, exista coleta de solo em profundidade,


porém, são comuns também relatos de sendo necessário o ajuste da quantida-
necessidades de utilizar níveis maiores. de a aplicar em função da profundidade
Deve-se utilizar o calcário dolomítico maior efetivamente trabalhada. A pro-
quando o teor de magnésio no solo for fundidade efetiva de incorporação não
inferior a 0,7 a 1,0 cmolc/dm3, depen- é a aquela em que o implemento que
dendo da textura do solo. Há necessida- revolve o solo trabalha.
de de se ponderar que a prática da ca-
lagem é realizada considerando o efeito Recomendação de gessagem
residual ao longo do tempo. Portanto, A aplicação de gesso agrícola tem por
quando for realizada, é fundamental objetivo aumentar os teores de cálcio e
considerar a necessidade da calagem enxofre nas camadas de solo mais pro-
por vários anos, inclusive tendo em con- fundas — onde o calcário tem efeito me-
ta os teores de Mg no solo para definir o nor por conta das limitações de incor-
tipo de calcário. poração — e diminuir a saturação por
As quantidades de calcário calcula- alumínio trocável nas camadas subsu-
das acima são válidas para a profundida- perficiais, características que propiciam
de de 0 a 20 cm. A correção em profun- ambiente favorável ao desenvolvimento
didades maiores abaixo disso exige que radicular em profundidade (Figura 1).
(Imagens: Sousa et al. 2008)

Sem gesso Com gesso


Figura 1. Desenvolvimento de raízes de algodão em profundidade na ausência e na presença de
gesso, por ocasião da floração plena, no sistema plantio direto (cada quadrícula mede 15 cm x 15 cm)

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(Imagem: Gilvan Barbosa Ferreira)


Para o diagnóstico e a recomendação de ges-
sagem, é obrigatória a realização de amostragem
de solo nas profundidades de 20-40 cm e de 40-
60 cm de profundidade. A seguir, são apresenta-
dos alguns critérios para a recomendação da ges-
sagem, considerando a camada de solo de 20-60 cm
de profundidade:

a) Segundo Sousa & Rehn (2004):

• Teor de Ca < 0,5 cmolc/dm3, e/ou, Figura 2. Deficiência de nitrogênio em algodoeiro


• Saturação por alumínio na CTC efetiva (plantas à esquerda) em comparação a algodoeiros
(m%) > 20%. com adubação nitrogenada (plantas à direita)

b) Segundo Alvarez V. et al. (1999):


de solo de forma integrada ao histórico de
• Teor de Ca < 0,4 cmolc/dm3, e/ou, cultivo de cada campo, sistema de cultivo do
• Teor de Al > 0,5 cmolc/dm3, e/ou, algodoeiro (ver capítulo “Sistemas de cultivo
• Saturação por alumínio na CTC do algodoeiro”), associado ao potencial pro-
dutivo do ambiente e experiência do profis-
efetiva (m%) > 30%.
sional que vai fazer a recomendação;
Cálculo da dosagem de gesso (Sousa & Rehn, • Existem diversas fontes no mercado, sendo
2004): que cada fonte tem de ser utilizada da forma
5 kg/ha de gesso para cada grama de argila/kg apropriada;
de solo. • As condições físicas de solo também afetam
a disponibilidade de nitrogênio às culturas,
Interpretação dos resultados das análises de solo podendo inclusive favorecer perdas por des-
nitrificação em solos compactados;
Nitrogênio • A deficiência de nitrogênio resulta em cloro-
se, ou seja, perda da intensidade da cor ver-
• Nutriente absorvido em maior quantidade de em toda a planta, por causa da redução da
pela cultura do algodão; clorofila (Figura 2). Por ser um elemento mó-
• A disponibilidade às culturas é muito depen- vel dentro da planta, os primeiros sintomas
dente da matéria orgânica e de todas as prá- de amarelecimento surgem nas folhas mais
ticas que afetam acúmulo/manutenção/redu- velhas do “baixeiro”. Sua deficiência diminui
ção dos teores da matéria orgânica, além da a velocidade de crescimento do algodoeiro,
condição da acidez do solo e da profundidade reduz o número e o comprimento dos inter-
de solo explorada pelas raízes; nódios e, consequentemente, diminui o nú-
• Para lavouras comerciais, não é possível deter- mero de ramos vegetativos e reprodutivos.
minar os teores de nitrogênio no solo de forma Conforme a deficiência vai se tornando mais
confiável para gerar uma recomendação de severa, as folhas adquirem coloração bron-
adubação, como existe para a acidez e demais zeada, secam e caem precocemente; adicio-
nutrientes; nalmente, ocorre queda anormal de botões
• A recomendação da adubação nitrogenada é florais, flores e frutos novos, prejudicando a
feita considerando os resultados das análises produtividade e a qualidade da fibra.

185
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Em função dos resultados de pes- algodão em caroço. As quantidades su-


quisas conduzidas nos últimos anos na geridas são mais apropriadas para solos
região do Cerrado, na Tabela 2, é apre- de textura média a argilosa. Para solos
sentada uma sugestão de quantidades de textura arenosa, admite-se aumento
de nitrogênio a aplicar no sulco de se- de 10% a 20% da dose indicada para a
meadura e em cobertura, em função adubação de cobertura, especialmente
da expectativa de produtividade de se a cultura anterior for uma gramínea.

Tabela 2. Sugestões de doses de nitrogênio a se aplicar na cultura do algodoeiro, em função da


expectativa de produtividade de algodão em caroço

Expectativa de produtividade(1) N na semeadura N em cobertura


------------------------------------------------------------ kg/ha ------------------------kg/ha--------
Até 3.000 15 a 20 60 a 80(2)
4.000 15 a 20 80 a 100
5.000 (3)
15 a 20 100 a 120
6.000 (3)
15 a 20 120 a 140
(Fonte: Carvalho et al., 2011)

Expectativa de produtividade com base na maior produtividade alcançada na região ou nos


(1)

melhores talhões da propriedade, para condição similar de solo, cultivar e manejo. (2) Os maiores
valores correspondem às áreas com alto potencial de resposta a N: solos com baixo teor de maté-
ria orgânica (M.O.); primeiros anos de plantio direto, cuja cultura antecessora ao algodão seja uma
gramínea. Os menores valores são para áreas com baixo potencial de resposta: rotação de culturas
com leguminosa (soja ou cultura de cobertura); solos com vários anos de SPD e alto teor de M.O.;
cultivos sucessivos com algodão. (3) É pouco provável alcançar esse nível de produtividade em so-
los em processo de correção de sua fertilidade ou em locais com pluviosidade inferior a 1.200 mm,
bem distribuídos nos primeiros 160 dias do ciclo da cultura.

Fósforo as plantas. Porém, a recuperação do


fósforo aplicado é afetada pelo siste-
• Os solos de Cerrado são naturalmen- ma de produção adotado ao longo
te deficientes em fósforo e apresen- dos anos. De modo geral, após vá-
tam alta adsorção do fósforo aplica- rios anos de cultivo e dos níveis de
do, exigindo práticas de correção; investimentos realizados, o sistema
• A dinâmica do fósforo no solo está plantio direto, quando bem condu-
intensamente relacionada à minera- zido, apresenta melhorias significati-
logia e à acidez do solo; vas na eficiência do aproveitamento
• O fósforo é um dos nutrientes apli- do fósforo aplicado e do fósforo pre-
cados em maiores quantidades nas sente no solo. A influência do tempo
adubações, embora seja extraído em em que sistemas de produção com
menores quantidades pelas culturas, rotação de culturas apropriada são
em comparação ao nitrogênio e ao conduzidos interfere na resposta
potássio; das culturas à adubação, mesmo em
• A recuperação do fósforo fornecido solos que apresentam teores de fós-
nas adubações pelas culturas anuais foro numericamente iguais;
é muito baixa, inferior a 35% da • O efeito mais evidente da deficiên-
quantidade aplicada, especialmente cia de fósforo é a redução geral no
na região do Cerrado. Esse compor- crescimento da planta (Figura 3). Tal
tamento do fósforo é consequência deficiência reduz a fotossíntese e o
de diversas reações químicas no solo acúmulo e a translocação dos carboi-
que afetam sua disponibilidade para dratos para as maçãs do algodoeiro;

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• Como resultado, as plantas desenvolvem-se do caule. Em situação de deficiência muito se-


muito lentamente, as folhas mais velhas ficam vera, há queda de botões florais e redução do
avermelhadas (como consequência do acú- tamanho e baixa retenção das maçãs . Inde-
mulo de antocianina) e com manchas ferrugi- pendentemente da forma como os sintomas
nosas nas bordas, evoluindo para o secamen- são expressos durante o ciclo da cultura, o
to; além disso, pode haver o avermelhamento resultado final é a redução da produtividade.
(Imagem: Claudinei Kappes)

Figura 3. Deficiência de fósforo no algodoeiro (efeito na folha e sobre o desenvolvimento


de plantas)

A interpretação dos resultados de análise de solo para fósforo, na região do Cerrado, é apresentada na
Tabela 3, considerando-se o extrator Mehlich-1.

Tabela 3. Rendimento potencial e interpretação da análise de solo para o P extraído pelo método de Mehlich-1,
de acordo com o teor de argila, para recomendação de adubação fosfatada em sistema de sequeiro com culturas
anuais no Cerrado

Rendimento potencial da cultura (%)


Teor de 0-40 41-60 61-80 81-90 > 90
argila Interpretação dos teores de P no solo
Muito baixo Baixo Médio Adequado Alto
% ------------------------------------------------------ mg/dm3 ---------------------------------------------------
< 16 0,0 a 6,0 6,1 a 12,0 12,1 a 18,0 18,1 a 25,0 > 25,0
16-35 0,0 a 5,0 5,1 a 10,0 10,1 a 15,0 15,1 a 20,0 > 20,0
36-60 0,0 a 3,0 3,1 a 5,0 5,1 a 8,0 8,1 a 12,0 > 12,0
> 60 0,0 a 2,0 2,1 a 3,0 3,1 a 4,0 4,1 a 6,0 > 6,0
(Fonte: Souza & Lobato, 2004 - com adaptações)

187
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Com base nas pesquisas desenvol- de manutenção do algodoeiro na re-


vidas no Cerrado, na Tabela 4 são apre- gião, em função da expectativa de
sentadas sugestões para a adubação produtividade.

Tabela 4. Sugestões de adubação fosfatada de manutenção do algodoeiro cultivado no Cerrado,


em função da expectativa de produtividade e da interpretação da análise do solo

Expectativa de produtividade(1) Teor de fósforo no solo (ver Tabela 2)


Adequado Alto(4)
--------- kg/ha --------. -------------- kg/ha de P2O5 --------------
(3)

Até 3.000 60 30
4.000 90 45
5.000(2) 110 55
6.000(2) 135 70

Expectativa de produtividade com base na maior produtividade alcançada na região ou


(1)

nos melhores talhões da propriedade, para condição similar de solo, cultivar e manejo. (2) É
pouco provável alcançar esse nível de produtividade em solos em processo de correção de
sua fertilidade ou em condições de sequeiro nos locais com pluviosidade inferior a 1.200 mm,
razoavelmente bem distribuídos durante o ciclo da cultura. (3) Doses estimadas, considerando
que o algodoeiro extrai cerca de 20-25 kg/ha de P2O5 para cada 1.000 kg de algodão em caroço
produzidos. (4) Nível alto de fósforo no solo, no qual a adubação pode ser reduzida ou até supri-
mida por uma safra, em anos de elevada relação de preços insumo-produto.
(Fonte: Carvalho et al., 2011)

Potássio fazer o parcelamento da aplicação de


potássio na cultura do algodão.
• O potássio é o segundo nutriente Nestes solos, mais que investir em
absorvido em maior quantidade quantidades elevadas e no parce-
pelo algodoeiro, sendo imprescindí- lamento da aplicação de potássio,
vel para desenvolvimento, produti- acima de tudo, torna-se obriga-
vidade e qualidade da fibra. Porém, tório o investimento no uso de
a quantidade de potássio exportado culturas que contribuam para a
pela cultura do algodão é relativa- ciclagem de nutrientes dentro do
mente pequena (Tabela 1, pag 182), sistema de produção, principal-
se comparada com a cultura da soja. mente a de potássio, como, por
A amostragem de solo na pré ou na exemplo, o milheto e a braquiária;
pós-colheita do algodão frequente- • A deficiência tradicional de potás-
mente subestima os teores de potás- sio, em pré-florescimento, é carac-
sio no solo; terizada pela clorose internerval
• Na maioria dos solos do Cerrado, a re- das folhas do baixeiro, seguida
serva de potássio não é suficiente para de necrose nas margens e queda
suprir a quantidade extraída pelas cul- (Figura 4); como consequência, há
turas por longo período. Portanto, é o encurtamento do ciclo, a má-
essencial que seu suprimento às plan- -formação de capulhos, a redução
tas seja feito por meio da adubação; da produtividade e da qualidade
• Em solos com baixa CTC, recomenda-se das fibras.

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(Imagem: Claudinei Kappes)

Figura 4. Deficiência de potássio no algodoeiro (folhas mais velhas - “baixeiro” das plantas)

Na Tabela 5, encontra-se uma recomendação de adubação do algodoeiro com potássio,


para Mato Grosso.

Tabela 5. Recomendação de adubação com potássio para a cultura do algodoeiro de alta produtividade
(4.500 kg/ha) no Estado de Mato Grosso
Teor de K no solo Dose de potássio recomendada, considerando-se a
expectativa de produtividade de 4.500 kg/ha
------- mg/dm3 ------ ------- kg/ha de K2O -------
< 40 150 a 200
40 a 60 120 a 140
60 a 80 100
> 80 < 75(1)
(Fonte: Zancanaro et al., 2004).
Quantidade de potássio equivalente à exportada pelo algodão em caroço, que, em Mato Grosso, segundo dados da Fun-
(1)

dação MT, é de aproximadamente 41 kg/ha de K2O para produtividade de 4.500 kg/ha.

A interpretação da análise de solo para o potássio, na região do Cerrado, é apresentada na Tabela 6.


Tabela 6. Interpretação da análise de solo para o potássio no Cerrado, de acordo com a CTC do solo, e, em Minas Gerais,
visando a recomendação de adubação de culturas anuais
Interpretação
Estado/ CTC a Muito Baixo Médio Adequado/ Alto/
Região pH 7,0 baixo Bom Muito bom
(cmolc/dm3) ------------ Teor de K no solo (mg/dm3) – Extrator Mehlich-1 --------------
Minas Gerais(1) < 16 16 a 40 41 a 70 71 a 120 > 120
< 4,0 . < 16 16 a 30 31 a 40 > 40
Cerrado(2)
> 4,0 . < 26 26 a 50 51 a 80 > 80
(Fonte: (1)Alvarez V. (1999); (2)Vilela et al. (2004), com adaptações)

189
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Na Tabela 7, apresenta-se uma sugestão de adubação com potássio para o


Cerrado, em função dos teores de K no solo e da produtividade esperada de
algodão em caroço.

Tabela 7. Sugestão de adubação potássica do algodoeiro no Cerrado, em função dos teores dis-
poníveis no solo e da produtividade esperada de algodão em caroço
Produtividade Teor de K no solo, mg/dm3 (camada de 0-20 cm)
esperada(1) < 25 (2)
26-50(2) 51-80 81-120 > 120(4)
---- kg/ha ---- ------------------------------- kg/ha de K2O -------------------------------------
Até 3.000 130 100 80 60 30
4.000 150 a 170 120 a 140 100 a 120 80 40
5.000(3) 170 a 190 140 a 160 120 a 140 100 50
6.000(3) 190 a 210 160 a 180 140 a 160 120 60
(Fonte: Carvalho et al., 2011)

Expectativa de produtividade com base na maior alcançada nos melhores talhões da proprie-
(1)

dade, para condição similar de solo, cultivar e manejo. (2) Nesses níveis de K no solo, as doses
sugeridas incluem a adubação corretiva mais a adubação de manutenção (considerando-se o
teor adequado de K para o algodão na faixa de 80-120 mg/dm3). (3) É pouco provável que esse
nível de produtividade seja alcançado em solos em processo de correção de sua fertilidade ou
em locais com pluviosidade inferior a 1.200 mm, razoavelmente bem distribuídos durante o ciclo
da cultura. (4) Nível alto de potássio no solo, acima do qual a adubação pode ser reduzida ou até
suprimida por uma safra, em anos de elevada relação de preços insumo-produto.

Cuidado especial deve ser tomado ser aplicado abaixo e ao lado da semen-
quanto à adubação potássica no sul- te — em torno de 5 cm. Do contrário,
co de semeadura do algodoeiro, pois quando posicionado muito próximo
aplicações de quantidades elevadas à semente, o fertilizante pode gerar
de cloreto de potássio podem, devido um efeito salino muito forte no solo,
a seu alto índice salino, comprometer o comprometendo germinação e emer-
desenvolvimento inicial do sistema ra- gência e o desenvolvimento inicial da
dicular e, consequentemente, da plan- radícula e das plantas (Figura 5). Não
ta. Precaução também deve ser tomada trabalhar com quantidades de potás-
com seu posicionamento em relação à sio, no sulco de semeadura, superiores
semente: o fertilizante potássico deve a 40-50 kg/ha de K2O.
(Fonte: Fundação MT 2004)

Figura 5. Desenvolvimento inicial de plantas de algodão afetado pelo posicionamento do cloreto de potássio no
sulco de semeadura em relação à semente — (A) sem potássio no sulco; (B) com potássio no sulco

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Enxofre elevados do elemento em profundidade;


• Daí a importância na realização de amostragem
• A dinâmica do enxofre no solo tem muita se- do solo em profundidade, a fim de contribuir
melhança com a do nitrogênio, ou seja, está para o diagnóstico quanto ao manejo da adu-
diretamente relacionada à dinâmica da matéria bação com enxofre;
orgânica do solo, principal fonte de nitrogênio e • Com a deficiência de enxofre, a fotossíntese é re-
enxofre às culturas; duzida, afetando a produtividade e a qualidade
• As plantas absorvem enxofre na forma de sulfa- da fibra. As plantas deficientes em enxofre têm
to (SO4-2). Por tratar-se de um ânion, o SO4-2 não crescimento reduzido, emitem poucos ramos
é adsorvido nas cargas negativas das camadas vegetativos e reprodutivos e apresentam folhas
superficiais do solo, tendendo a acumular em no ponteiro de cor verde-amarelada (Figura 6).
profundidade, abaixo de 20 cm. Portanto, se as Esse sintoma de deficiência assemelha-se ao
raízes do algodão não estiverem explorando do nitrogênio, porém, por causa da baixa mo-
o solo em profundidade, seja devido à acidez bilidade no floema, ele aparece inicialmente no
ou a impedimento físico do solo, poderá haver ponteiro, enquanto o sintoma de deficiência do
deficiência de enxofre, mesmo havendo teores nitrogênio aparece no baixeiro (Figura 7).
(Imagem: Gilvan Barbosa Ferreira)

(Imagem: Leandro Zancanaro)

Figura 6. Clorose verde-limão típica de deficiência de Figura 7. Deficiência de enxofre no algodoeiro


enxofre no algodoeiro (perda da coloração verde nas folhas mais novas)

Micronutrientes pulverização foliar, em solos com pH (em água)


Segundo Carvalho et al. (2011), as pesquisas acima de 6,3; iv) a adubação corretiva com zin-
realizadas com micronutrientes na cultura do al- co e cobre é uma estratégia eficiente para suprir
godoeiro nas diversas regiões produtoras do Bra- a necessidade desses nutrientes para a cultura,
sil, sendo as mais recentes no Cerrado, mostram apresentando efeito residual de pelo menos
que: i) são frequentes as respostas a boro; ii) as quatro anos.
respostas a zinco são raras e ocorrem em áreas de Para o boro, embora existam relatos de efeito re-
Cerrado recém-incorporadas ao processo produ- sidual de pelo menos quatro anos para adubações
tivo ou em solos pobres nesse nutriente e cultiva- corretivas, os resultados obtidos em Mato Grosso
dos sucessivamente sem adubação com zinco; iii) apontam efeito residual da adubação com boro,
eventualmente, ocorre resposta ao manganês via mas que a frequência de aplicação do elemento

191
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

em cada safra, com doses menores estes anéis surgem nos ramos e na haste
(1-2 kg/ha/ano, conforme textura) de principal. A deficiência de boro, quando
boro, é um manejo recomendado. severa, provoca a morte da gema apical
Dentre os micronutrientes, tem-se e surgimento anormal de brotos novos
observado que o boro é o mais limitan- (superbrotamento da planta). Baixos
te, havendo respostas do algodoeiro à teores no tecido durante o florescimen-
adubação, sobretudo em regiões com to podem inviabilizar a germinação
alto potencial produtivo e solos areno- do grão de pólen, impedindo a fecun-
sos, com baixo teor de matéria orgânica dação dos óvulos e a formação das se-
e sem histórico de aplicações de boro mentes e, por consequência, das fibras
nas últimas safras. Recomenda-se adu- delas advindas.
bação com o elemento quando o teor
no solo, extraído pelo método de água Adubação de sistema e a cultura
quente, for menor que 0,6 mg/dm3. Po- do algodoeiro
rém, deve-se ter cuidado na interpreta- Os solos sob bioma de Cerrado são
ção dos resultados das análises de solo, naturalmente ácidos e deficientes na
pois existe muita variabilidade dos re- maioria dos nutrientes, mas apresen-
sultados entre os laboratórios. tam, de modo geral, boas condições fí-
Autores relatam que, em virtude da sicas, resultando em solos permeáveis.
baixa mobilidade do boro na planta, os Porém, são solos com baixa capacidade
primeiros sintomas ocorrem nas partes produtiva, que, antigamente, eram de-
jovens, nos tecidos de condução e nos nominados de baixa fertilidade.
órgãos de propagação. Os sintomas de Devido à acidez elevada e à defi-
deficiência mais comuns no campo são: ciência em nutrientes, na abertura
amarelecimento das folhas do pontei- destes solos para o uso agrícola, há ne-
ro — no período de florescimento/fru- cessidade de investimentos elevados,
tificação, aparecem anéis concêntricos onerosos por vários anos, para realizar
verde-escuros nos pecíolos (Figura 8) e a correção do solo, a fim de permitir
nas hastes, com necrose interna da me- que as culturas possam absorver nu-
dula. À medida que a carência aumenta, trientes suficientes para expressarem
seu potencial produtivo em cada am-
biente específico. Nesta situação de
deficiência, caso não seja feita a corre-
(Imagem: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira)

ção do solo, a produtividade da cultura


é reduzida. Nesse contexto, há neces-
sidade de realizar a correção do solo e
praticar adubação focada na exigência
de cada cultura, individualmente, con-
forme a sequência de culturas dentro
do sistema de produção.
Com os investimentos em correção
do solo realizados ao longo do tempo,
ocorre a denominada correção gradual
dos solos, e estes passam a apresen-
tar condições com níveis de nutrientes
médios, adequados a altos (Figura 9). À
Figura 8. Deficiência de boro caracterizada pela presença de anéis
escuros no pecíolo das folhas do algodoeiro
medida que ocorre esta melhoria na ca-
pacidade do solo em fornecer nutrientes
às culturas que compõem o sistema de

192
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produção, diminui-se a resposta das plantas às nutrientes para todas as culturas que são cultiva-
práticas de adubações corretivas e adubações das no mesmo ano agrícola dentro do sistema de
propriamente ditas, a tal ponto que, quando o produção, na cultura mais exigente, menos efi-
profissional da área técnica interpretar os resul- ciente ou mais responsiva, é denominada de
tados da análise do solo (níveis adequados ou adubação de sistema. Porém, há necessidade de
altos), afirmará que aquele solo apresenta con- não confundi-la com a antecipação da adubação,
dições de fornecer a quantidade de nutrientes muito desejada neste momento, em que o rendi-
necessária para que as culturas expressem seu mento operacional é priorizado em relação aos
potencial produtivo. critérios agronômicos.
Dessa maneira, em curto prazo, a probabilida- Sob uma visão mais sistêmica, a adubação
de de resposta à adubação é baixa, sendo reco- de sistema consiste no manejo da adubação em
mendada a adoção da estratégia de adubação de sistemas de produção, com rotação de culturas
manutenção (níveis adequados) ou de reposição previamente estabelecida, considerando as ca-
(níveis altos). racterísticas do solo e das culturas envolvidas,
A adubação de manutenção considera a quan- buscando aumentar não só a produtividade de
tidade de nutrientes exportada, a eficiência de cada cultura dentro do sistema, mas também,
utilização dos nutrientes pelas culturas e as per- intensificar o aporte de carbono e de nitrogê-
das de nutrientes dentro do sistema de produção. nio, além da reciclagem de nutrientes e do au-
Os últimos fatores variam conforme o sistema de mento da eficiência de aproveitamento destes
produção adotado ao longo do tempo e também elementos.
de acordo com o nutriente. A adubação de reposi- Em ambas as estratégias (adubação de manu-
ção considera mais especificamente a quantidade tenção e de reposição) está incluído o conceito de
de nutrientes exportada. quanto maior a produtividade obtida, maior deve
Portanto, o solo apresentando níveis ade- ser a adubação realizada. Estas duas estratégias
quados ou altos, a adubação pode ser focada na são muito válidas para nutrientes como o fósforo
quantidade de nutrientes exportada pelo sistema e o potássio. Para nutrientes como o nitrogênio, o
de produção adotado, considerando o período enxofre e os micronutrientes, há necessidade de
de um ano, do ano agrícola, por exemplo. A par- se considerar outros aspectos.
tir destes níveis de nutrientes no solo, a respos-
ta das plantas é menos dependente do modo
( Fonte: extraído de CQFS-RS/SC (2004), a partir de Gianello & Wiethöler, 2004)

de aplicação dos fertilizantes, possibilitando a


adoção de várias estratégias de adubações, sem
comprometer a produtividade em curto, médio e
longo prazo. Entre as estratégias possíveis, está a
aplicação da quantidade total de nutrientes des-
tinada ao cultivo das duas/três culturas dentro do
sistema de produção apenas na cultura mais exi-
gente, conforme os nutrientes e o solo. A cultura
do algodão é mais exigente, menos eficiente na
absorção de nutrientes e mais responsiva que a
soja, sendo que esta última é caracterizada por
ser eficiente no aproveitamento do residual das
adubações das culturas anteriores. Figura 9. Relação entre o rendimento relativo das cul-
Para muitos profissionais da área técnica e turas como variável do teor de nutrientes no solo e as
indicações de adubação para cada faixa de teor no solo
produtores, a prática de aplicar a quantidade de

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

193
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tecnologia de aplicação para a


cultura do algodão
O sucesso da pulverização depende de diversos fatores:
Ulisses Rocha
Antuniassi • Cuidados com o ambiente: os conceitos de responsabilidade e sustentabi-
UNESP lidade no uso dos produtos fitossanitários e técnicas de aplicação devem
estar sempre presentes no processo de tomada de decisão das aplicações.
Riscos ambientais podem levar a restrições e proibições de uso de produ-
tos e de técnicas. Bom senso é fator fundamental em todas as etapas do
processo;
• Seleção adequada da técnica frente às necessidades do tratamento fitos-
sanitário: o tamanho de gotas e o volume de calda devem ser ajustados
tendo em mente as características do alvo da aplicação;
• Adequação da tecnologia de aplicação às condições climáticas;
• Dimensionamento dos pulverizadores (terrestres e aéreos): o parque de
máquinas deve ser coerente frente à extensão da área a ser tratada. O di-
mensionamento inadequado (muita área para cada pulverizador) resulta
em pulverizações em situações extremas (velocidade excessiva, volumes
de calda extremamente baixos e aplicações em condições climáticas ina-
dequadas), gerando maior probabilidade de erro. Serviços de terceiros
podem ser utilizados para minimizar problemas de dimensionamento de
máquinas;
• Treinamento: reconhecer a importância do treinamento de técnicos e de
aplicadores é fator-chave para o sucesso do tratamento fitossanitário.

Conceitos básicos sobre tecnologias potencial de cobertura dos alvos,


de aplicação quando utilizadas em condições cli-
máticas e operacionais adequadas;
O princípio básico da tecnologia de • Parâmetros como o momento da
aplicação é a divisão do líquido a ser aplicação, as condições climáticas, a
aplicado em gotas (“processo de pul- recomendação do produto e as con-
verização”), multiplicando o número dições operacionais devem ser con-
de partículas (gotas) que carregam os siderados em conjunto para a deter-
princípios ativos em direção aos alvos minação da técnica a ser utilizada,
da aplicação. Desprezando-se os ris- visando ao máximo desempenho
cos de perdas e deriva, quanto menor com o mínimo de perdas e deriva,
o tamanho das gotas geradas, maior o sempre com o menor potencial de
número de gotas disponíveis para uma impacto ao ambiente às áreas que
determinada quantidade de líquido, compõem o entorno das aplicações.
ampliando a probabilidade de atingi-
rem os alvos. Entretanto, as gotas mais Tamanho de gotas, volume de calda e
finas são aquelas que apresentam a o alcance dos alvos
maior probabilidade de perdas e de de- As gotas produzidas por uma ponta
riva, pelas seguintes razões: são classificadas como muito finas, finas,
médias, grossas, muito grossas e extre-
• Gotas mais finas apresentam maior mamente grossas. Para a classificação de

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uma determinada ponta, seu espectro de gotas

(Imagem: Ulisses Antuniassi)


deve ser comparado ao obtido por pontas de
referência, que são avaliadas de acordo com
normas técnicas e com o uso de equipamentos
sofisticados em laboratórios de referência. Para
a seleção de pontas de acordo com o espectro
de gotas desejado, os técnicos de campo devem
usar como referência as tabelas de classificação
de gotas fornecidas pelos fabricantes de pontas
e atomizadores, ou ainda as informações dispo-
níveis on-line em diversos sites especializados.
A classe de tamanho de gotas é um bom indi-
cativo da capacidade da pulverização em cobrir
o alvo e penetrar no dossel da cultura. Por esta
razão, os seguintes conceitos devem ser levados
em consideração: Figura 1. Mistura de tanque

• Gotas menores (muito finas, finas e médias) pos-


suem melhor capacidade de cobertura (ofere- tamanho das gotas por conta de restrições cli-
cem maior número de gotas/cm2), assim como máticas, o volume de calda deve ser igualmen-
propiciam maior capacidade de penetração; te aumentado para que se possa garantir um
• Gotas menores podem ser mais sensíveis à nível mínimo de cobertura para o tratamento.
evaporação e aos processos de deriva;
• Na maioria dos casos, as gotas grossas são Um dos fundamentos da tecnologia de apli-
preferidas para aplicação de herbicidas de cação é que não existe uma solução única que
grande ação sistêmica, enquanto as gotas atenda a todas as necessidades. É necessário que
médias, finas e muito finas são mais utilizadas a tecnologia seja ajustada para cada condição de
para inseticidas e fungicidas. aplicação. Para que o ajuste do tamanho das go-
tas e do volume de calda, várias ações podem ser
Em termos genéricos, para melhorar o desem- planejadas dentro do manejo dos parâmetros de
penho de uma aplicação, deve-se considerar os uma aplicação:
seguintes princípios:
• Para reduzir o tamanho das gotas, as pontas
• Gotas mais finas e/ou volumes maiores me- de jato plano (leque) podem ser substituídas
lhoram a cobertura dos alvos e o potencial de pelas pontas de jato plano duplo (duplo le-
alcance das folhas mais internas do dossel da que) ou cônico vazio. A pressão de trabalho
cultura. Alvos de difícil alcance, como as pra- das pontas pode ser aumentada, e um adju-
gas e doenças posicionadas nos terços médio vante que reduza o tamanho das gotas pode
e inferior das plantas, precisam de aplicações ser adicionado à calda;
com gotas mais finas; • Para aumentar o tamanho das gotas, as pontas
• É fundamental que as aplicações com gotas de jato plano (leque) podem ser substituídas
mais finas sejam realizadas respeitando-se os pelas pontas de pré-orifício ou indução de ar. A
limites climáticos, com objetivo de evitar as pressão de trabalho pode ser reduzida e um ad-
perdas e a deriva; juvante pode ser adicionado à calda (produtos
• Na aplicação de volumes mais baixos, as gotas cuja ação produza gotas de maior tamanho);
mais finas devem ser preferidas, para que se • No caso do volume de calda, sua variação
consiga uma boa cobertura com a calda pulve- deve ser feita tanto pela troca das pontas
rizada, respeitando-se as condições climáticas; como pela variação da velocidade de deslo-
• Quando houver necessidade de aumentar o camento do pulverizador.

195
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Como avaliar o desempenho de uma hidrossensível (PH), devem ser empre-


aplicação a campo gadas com muito critério. Este método
Um dos grandes desafios para o téc- foi desenvolvido para fornecer uma
nico responsável por uma aplicação é a rápida referência sobre a qualidade da
definição de critérios para avaliar se uma aplicação, mas seu uso deve ser cerca-
aplicação apresenta ou não o desempe- do de cuidados, pois inúmeros fatores
nho adequado. Em geral, a melhor ma- podem distorcer os resultados na prá-
neira de obter essa resposta é analisar tica, podendo induzir a erros de avalia-
o próprio desempenho fitossanitário. ção. Ao usar o PH, tenha em mente que:
Uma boa aplicação permite ao defensi- As fitas de PH são muito pequenas
vo expressar o melhor de seu desempe- frente às variações pontuais normais de
nho, gerando bom controle, desde que uma aplicação. Por isso, quanto maior a
as demais decisões agronômicas este- quantidade de fitas de PH colocadas na
jam corretas. Entretanto, é possível tam- área, mais precisa será a avaliação;
bém empregar alguns critérios práticos Tenha cuidado na comparação de
objetivos e subjetivos, como as análises caldas: soluções que contenham pro-
visuais, alguns tipos de corantes e os pa- dutos diferentes apresentam diferentes
péis hidrossensíveis. fatores de espalhamento sobre o papel
Uma análise visual criteriosa deve (cuja superfície é bastante diferente de
ser realizada antes de se iniciar o traba- uma folha da planta), podendo induzir
lho, observando-se o spray gerado na a erros de avaliação;
aplicação. Certifique-se de que o spray A eficiência de coleta das gotas mais
tenha um aspecto uniforme, sem varia- finas pelo PH é menor. Por esta razão,
ções aparentes de quantidade de calda quanto menor é a gota pulverizada,
ao longo da faixa de aplicação. Uma das maior a probabilidade de imprecisão
melhores maneiras de garantir resulta- na comparação entre diferentes técni-
dos satisfatórios é o acompanhamento cas de aplicação.
constante do trabalho de pulverizado-
res e aeronaves. Muitas vezes, operado- Tecnologia para o controle do bicudo
res e pilotos não têm o melhor ponto de no algodão
vista do resultado do trabalho, e, nes- No que se refere ao uso de gotas mais
tes momentos, o apoio de um técnico finas para a melhoria do desempenho
de campo é fundamental para corrigir fitossanitário das aplicações, um exem-
eventuais problemas. plo prático bastante pertinente para
Inúmeros tipos de corantes podem a cultura do algodão é a questão do
ser usados na calda para marcar folhas controle do bicudo. Cada vez mais, as
e alvos artificiais durante uma pulveri- técnicas de aplicação com gotas extre-
zação. Corantes fluorescentes são mui- mamente finas estão se popularizando,
to populares, pois permitem a visualiza- principalmente pela vinculação desse
ção noturna das gotas com o uso de luz tipo de técnica com a aparente eficiên-
ultravioleta (“luz negra”), assim como cia de controle de alvos de acesso mais
há corantes de pigmentação branca difícil (como o exemplo do bicudo). De
para a visualização direta sobre as fo- fato, o uso de gotas extremamente finas
lhas, entre outros. Deve-se ter bastante pode melhorar a penetração da calda
atenção para eventuais interferências nos pontos mais “escondidos” da arqui-
do corante nas características da calda, tetura das plantas. Entretanto, é preciso
o que pode gerar alterações do espec- sempre ressaltar que esse tipo de apli-
tro de gotas, assim como incompatibili- cação tem pouca sustentabilidade se
dade entre produtos no tanque. avaliada como uma parte do processo
Técnicas simples, como o papel como um todo, pois os níveis de perdas

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e deriva são geralmente muito altos. Com isso, há estabilidade das camadas de ar dificulta a de-
maior potencial de mortalidade de polinizadores posição das gotas mais finas.
e outros insetos úteis, causando inúmeros pro-
blemas dentro do próprio manejo integrado de Os limites climáticos devem ser considerados
pragas, assim como maior potencial de impacto e eventualmente flexibilizados de acordo com a
negativo sobre o ambiente. tecnologia de aplicação que será utilizada. Como
exemplo, o uso de gotas grossas ou muito grossas
Condições climáticas para a aplicação pode facilitar o trabalho um pouco além dos limi-
Para a maioria dos casos, os limites climáticos a tes, sempre com o cuidado para que a aplicação
serem observados são os seguintes: não seja feita em condições muito extremas com
relação ao clima.
• As aplicações devem ocorrer com umidade re- As características da técnica de aplicação pre-
lativa superior a 50%; cisam ser consideradas no momento da tomada
• A temperatura ambiente deve ser menor que de decisão no que se refere às condições climá-
30oC; ticas. A escolha do tamanho de gotas deve ocor-
• As aplicações devem ser realizadas com velocida- rer em função das condições climáticas (Tabela 1).
de do vento entre 3 e 10 km/h; Neste raciocínio, o princípio a ser utilizado é o da
• Estes valores a serem considerados são as mé- adoção da gota mais segura dentro dos limites de
dias durante o deslocamento dos equipamen- cada situação. Assim, se a umidade permite uma
tos a campo; gota fina, mas a temperatura indica que o melhor
• Deve-se cuidar para que, na média, as condi- seria uma gota média, a gota maior (média) deve
ções estejam dentro dos limites; ser a escolhida, por ser a mais segura para a situa-
• O bom senso deve prevalecer na delimitação das ção (menor risco de perdas por deriva).
variações admissíveis quanto aos limites climáti-
cos. Por exemplo: se nas áreas do entorno do local Horário de aplicação
da aplicação houver alvos com maior risco de pro- O início da manhã, o final da tarde e a noite são
blemas de deriva, os cuidados com estes limites períodos em que a umidade relativa é maior e a
devem ser mais rigorosos; temperatura é menor, sendo considerados mais
• Antes do procedimento, deve-se analisar a di- adequados para as aplicações.
reção do vento, para que as aplicações com Na prática, é possível e recomendável a utiliza-
gotas mais finas não sejam realizadas quando ção de gotas finas nesses horários.
o vento estiver soprando na direção das áreas É necessário um monitoramento das condições
com maior potencial de alvos que representem ambientais com o passar das horas do dia, pois,
problemas com a deriva. no caso de haver um aumento considerável da
temperatura, com redução da umidade relativa ou
A ausência de vento também pode ser preju- aumento da velocidade do vento, o padrão de go-
dicial. Nesse sentido, é importante observar as se- tas precisa ser mudado (passando-se a usar gotas
guintes situações: maiores). Neste caso, o volume de aplicação deve
ser aumentado, para não haver efeito negativo na
• Correntes convectivas em horários de maior ca- cobertura dos alvos.
lor: o ar aquecido ascendente dificulta a depo- Chuva, orvalho e horários noturnos reque-
sição das gotas pequenas; rem atenção no momento do planejamento das
• Inversões térmicas nas manhãs muito frias: a aplicações:

Tabela 1. Exemplo de relação prática entre as condições climáticas e a escolha do tamanho das gotas
Classes de gotas de acordo com as condições climáticas
Fatores
Muito Finas ou Finas Finas ou Médias Médias ou Grossas
Temperatura abaixo de 25°C 25 a 28°C acima de 28°C
Umidade relativa acima de 70% 60 a 70% abaixo de 60%

197
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

No caso da chuva, recomenda-se ob- • A endoderiva é a perda do produ-


servar o intervalo mínimo de tempo en- to dentro dos domínios da cultura
tre a aplicação e a chuva, visando permi- (exemplos: escorrimento, lavagem do
tir o tempo mínimo para a penetração e produto pela chuva e gotas de uma
absorção dos ingredientes ativos; aplicação foliar que atingem o solo).
Quando há orvalho, a presença de • A exoderiva é a perda do produto
água nas folhas pode causar interferên- fora dos domínios da cultura, como
cia na técnica de aplicação. O risco de no caso das gotas levadas pelo vento;
um eventual escorrimento pode estar • A evaporação resulta na perda de
ligado ao uso excessivo de espalhan- gotas em condições climáticas des-
tes (surfatantes) nas caldas. Entretanto, favoráveis (baixa umidade e alta
existem situações, dependendo da téc- temperatura do ar).
nica empregada e do tipo de defensivo
utilizado, em que a ação do orvalho Independentemente da quantidade,
pode ser benéfica (muitos fungicidas a deriva na aplicação de produtos fitos-
estão nessa categoria); em geral, vale a sanitários pode causar contaminação
regra prática: ao ser feita a aplicação em ambiental e danos às áreas vizinhas,
plantas orvalhadas, deve-se observar se além da potencial redução da eficiência
está ocorrendo escorrimento (gotejo) dos produtos. A deriva é um fenômeno
natural do orvalho; se o orvalho estiver que depende fundamentalmente de
escorrendo naturalmente, a aplicação quatro fatores:
deve ser evitada.
A aplicação noturna apresenta van- • Técnica de aplicação escolhida (por
tagens no que se refere às condições exemplo, o tipo de ponta com seu
climáticas (umidade, temperatura e correspondente espectro de gotas);
vento mais adequados à aplicação de • Composição da calda a ser aplicada (o
gotas mais finas), mas esta opção deve que depende de defensivos, adjuvan-
considerar a possível existência de limi- tes e da concentração destes na calda);
tações técnicas relativas aos próprios • Condições climáticas no momento
defensivos, no que se refere às questões da aplicação (umidade relativa, tem-
de eficiência e velocidade de absorção/ peratura e velocidade do vento);
penetração nas situações de ausência • Condições operacionais utilizadas
de luz ou baixas temperaturas. (velocidade do pulverizador, altura
da barra etc.).
Perdas e deriva
As perdas dos ingredientes ativos no O potencial de danos causados pela
processo de aplicação reduzem a dose deriva depende dos seguintes fatores
real dos produtos sobre os alvos. A deri-
va é um dos tipos de perda que podem • Produto(s) aplicado(s): inseticidas e
ocorrer, sendo frequentes, ainda, per- herbicidas podem causar mais danos
das por processos físicos e químicos na diretos às áreas vizinhas. Entretanto,
formulação da calda dentro do tanque qualquer defensivo pode ser tóxico ao
do pulverizador. Apesar de o termo de- ambiente e às pessoas;
riva ser utilizado de maneira geral, exis- • Condições climáticas: principalmente
tem vários tipos de perdas: intensidade e direção do vento;
• Técnica de aplicação: quanto maior a
• A deriva é qualquer desvio do pro- quantidade de gotas finas no espectro
duto aplicado, fazendo com que este de gotas, maior o risco;
não atinja o alvo da aplicação;

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• Tamanho da área aplicada: quanto maior a área, causar o efeito contrário (maior deriva), pela me-
maior o potencial de a aplicação causar danos nor densidade do óleo em comparação à água;
por deriva; • Adesivos e penetrantes: auxiliam na adesão e
• Sensibilidade do alvo à intoxicação: é fundamen- na penetração da calda nas folhas, ajudando na
tal conhecer a sensibilidade dos alvos presentes proteção das aplicações em caso de ocorrência
no entorno antes de aplicar algum produto; de chuvas;
• Dose mínima do(s) produto(s) que causa dano: • Redutores de deriva: interferem no processo de
lembre-se de que os efeitos da deriva podem pulverização de modo a reduzir o risco de per-
ser cumulativos ao longo do tempo. das e deriva;
• Condicionadores de calda: são produtos que in-
Técnicas de redução de deriva (TRD) terferem no pH e/ou propiciam o sequestro de
Uma técnica de redução de deriva (TRD) é a cátions, melhorando a qualidade da água utili-
combinação de elementos que visa reduzir o risco zada na calda.
de deriva em uma aplicação. Como exemplo, uma
TRD seria a adoção de uma ponta de indução de Interferência dos componentes da calda no
ar (que oferece menor risco de deriva comparada espectro de gotas e risco de deriva
a uma convencional) e em conjunto com um ad- É importante considerar a influência dos com-
juvante misturado no tanque que apresente igual- ponentes da calda no processo de formação de
mente um potencial para reduzir as perdas. Uma gotas. O espectro de gotas pode ser alterado de
TRD é empregada para minimizar o potencial de maneira significativa tanto por variações na calda
deriva, mas não isenta o aplicador da observação como pela própria troca das pontas. Por isso, as
das condições climáticas e da análise dos riscos na misturas de tanque e o uso de adjuvantes devem
aplicação. ser analisados quanto a possíveis interações com a
tecnologia de aplicação. Como exemplo, enquanto
Adjuvantes numa ponta convencional a presença de um surfa-
São substâncias adicionadas à formulação do tante pode aumentar a deriva, numa ponta com in-
defensivo ou à calda com o objetivo de: dução de ar este processo tende a ser inverso (um
surfatante pode reduzir a deriva neste caso).
• Melhorar a atividade do ingrediente ativo (adju- As aplicações de misturas de tanque mais com-
vantes ativadores); plexas (diversos produtos no tanque, incluindo
• Melhorar as características da aplicação (adju- produtos de nutrição) devem ser analisadas cuida-
vantes utilitários). dosamente quanto à tecnologia de aplicação mais
adequada para cada produto. Por exemplo, quan-
As principais classes de adjuvantes são apresen- do da mistura de um inseticida à calda de herbi-
tadas a seguir: cidas usados numa dessecação, é importante veri-
ficar se a técnica de aplicação empregada atende
• Surfatantes (ou espalhantes): aumentam a área aos requisitos de ambas as classes de produtos. É
de contato das gotas com os alvos e o molha- muito frequente, nesses casos, que o risco de deri-
mento da superfície tratada, podendo, com isso, va seja relegado a segundo plano, o que aumenta
melhorar a adesão, a penetração e a absorção consideravelmente o risco ambiental da aplicação.
da calda. Auxiliam também no processo de
emulsificação de produtos oleosos; Misturas de tanque
• Óleos: melhoram a penetração e a adesão dos A importância das misturas de tanque:
defensivos nas folhas, aumentam o tamanho
médio das gotas e reduzem a formação de • Evitar resistência aos modos de ação;
gotas muito finas no espectro (efeito redutor • Minimizar a exposição dos aplicadores aos
de deriva). Em geral, pequenas quantidades de produtos;
óleo ajudam a reduzir a deriva, mas aplicações • Reduzir impacto ao ambiente pelo menor nú-
com grande quantidade de óleo na calda podem mero de aplicações;

199
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

• Reduzir operações no campo; As incompatibilidades químicas,


• Redução de custos; que também podem ocorrer nas mis-
• Misturas de tanque, se realizadas turas mais complexas, podem resultar
com critério técnico e bom senso, na formação de compostos pouco so-
podem contribuir para a sustentabi- lúveis, precipitação, alterações de pH,
lidade do agronegócio. degradação ou indisponibilidade de
ingredientes ativos, por meio de pro-
A busca pela maior capacidade ope- cessos de oxidação e redução, hidróli-
racional dos pulverizadores tem incen- se, complexação ou encapsulamento
tivado a aplicação de caldas cada vez das suas moléculas.
mais complexas (misturas contendo
inúmeros produtos fitossanitários, ad- Estratégias para definir as misturas:
juvantes e adubos foliares). Um agra-
vante é a concomitante redução do • Analisar os objetivos da aplicação.
volume de calda, o que resulta numa • Entender o estado fisiológico da
mistura com reduzida quantidade de cultura;
água, tornando o problema mais com- • Conhecer os possíveis efeitos anta-
plexo. Recomenda-se que as misturas gônicos entre os produtos;
sejam validadas antes de sua efetiva- • Pesquisar as possíveis incompatibi-
ção nos tanques dos pulverizadores, lidades físicas;
pelo que se convencionou chamar de • Dar preferência à água como veícu-
“teste da garrafa” (mistura prévia dos lo da aplicação (evitar as grandes
produtos na exata proporção esperada quantidades de óleo na calda);
no tanque, valendo-se de garrafas plás- • Evitar os volumes de calda muito
ticas ou baldes). Outro fator importante reduzidos.
para facilitar a aplicação de caldas com
misturas mais complexas de produtos é Minimizando o risco de incompati-
a eficiente agitação da calda no tanque bilidade física:
do pulverizador. A prática tem mostra-
do frequentemente problemas clássi- • Uma das técnicas empregadas é a
cos de incompatibilidade física: organização da mistura do “mais fá-
cil” para o “mais difícil”;
• Mistura de produtos oleosos com enxofre; • Nem sempre esse procedimento
• Mistura de formulações sólidas com é o mais recomendado, devido a
emulsão concentrada (EC); especificidades das formulações e
• Uso de volume de calda muito baixo de suas interações com os demais
com excesso de produtos (defensi- componentes da calda;
vos e nutrição).

Recomendação de sequência de mistura de produtos no tanque


ou no misturador (do “mais fácil” para o “mais difícil”):
1. Colocar água no tanque ou misturador;
2. Ligar agitação;
3. Colocar adjuvantes surfatantes e emulsionantes.;
4. Colocar substâncias altamente solúveis em água;
5. Colocar produtos sólidos (formulações WP e WG);
6. Colocar líquidos concentrados;
7. Colocar adubos, micronutrientes e outros adjuvantes;
8. Colocar produtos de base oleosa.

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(Imagem: Ulisses Antuniassi)

Figura 2. Pulverizador de barras

• O ideal é consultar os fabricantes dos produ- A velocidade é um fator decisivo na qualida-


tos para saber se há protocolo recomendado de das aplicações. Os controladores eletrônicos
para a mistura de produtos; propiciam ajuste do volume de calda de acordo
• Entretanto, é difícil encontrar informações com a variação de velocidade, mas é frequen-
“oficiais” sobre protocolos de mistura, pois há te o uso equivocado da tecnologia, resultando
controvérsias sobre a legalidade da prática. em perda de qualidade. O aumento de veloci-
dade ocasiona aumento proporcional de pres-
Aplicação com pulverizadores de barras são na pulverização, gerando redução no ta-
O avanço no desenvolvimento da tecnologia manho das gotas e aumento do risco de deriva.
permite aplicações terrestres em baixo volume com Somando-se a isso, a maior velocidade produz
desempenho similar ao das aplicações convencio- maior vento relativo (devido ao deslocamento
nais, desde que realizadas dentro dos critérios de do pulverizador) e há aumento da oscilação da
respeito aos limites climáticos. As diversas famílias barra, gerando ainda mais danos à qualidade da
de pontas, os acessórios de barra, os atomizadores aplicação. Por isso, a velocidade não deve ser
rotativos, os sistemas eletrostáticos, a assistência de apenas vinculada à necessidade de maior capa-
ar e os dispositivos eletrônicos para navegação e cidade operacional, devendo ser considerada
controle da pulverização ajudam na adequação da também dentro de um pacote tecnológico que
técnica de aplicação com os requisitos de cada tipo resultará na qualidade geral da aplicação.
de trabalho.
Um fator importante é o potencial de amas- Aplicações em faixas
samento da cultura causado pelo tráfego dos As aplicações em faixas devem ser cuidado-
pulverizadores. Os danos mecânicos são va- samente planejadas para que não haja erro na
riáveis de acordo com o tipo de equipamento, dosagem dos produtos. A dose por hectare deve
podendo ser bastante reduzidos em condições ser ajustada de acordo com a faixa efetiva de apli-
de tráfego controlado (passar com o pulveriza- cação. As pontas de jato plano uniforme são as
dor sempre no mesmo rastro). A utilização de mais recomendadas, pois seu jato de pulverização
pulverizadores autopropelidos e com pneus oferece distribuição de líquido de maneira mais
estreitos, as barras de grande dimensão (si- uniforme, sem que haja necessidade de sobrepo-
tuação comum no Centro-Oeste brasileiro) e o sição com outra ponta, como no caso das barras
uso de sistemas eletrônicos são fundamentais de pulverização. Como exemplo, a Teejet adota a
para a redução das perdas. Nessas condições, letra “E” (de even, em inglês, que significa ‘igual,
é comum que os danos mecânicos não ultra- plano ou uniforme’) em seu código de produto
passem 1%. para identificar pontas para esta finalidade.

201
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Calibração e inspeção periódica de pulverizadores (IPP) para a revisão das


pulverizadores condições do equipamento antes de
Os pulverizadores devem ser corre- cada safra.
tamente calibrados e inspecionados
antes das aplicações. As técnicas mais Aplicações aéreas
modernas de calibração, com o uso de A aplicação aérea é uma atividade
baldes e balança (métodos gravimé- que demanda investimentos impor-
tricos), devem ser preferidas, descar- tantes no gerenciamento. Mesmo que
tando-se o uso dos “copos” de calibra- a escolha da tecnologia de aplicação
ção. Este processo deve ser realizado seja correta, outros fatores são impor-
cuidadosamente nas máquinas com tantes, de maneira isolada ou em suas
sistemas eletrônicos de controle, pois interações: altura de voo, faixa de tra-
a calibração destes sistemas é de fun- balho, posição do vento e condições
damental importância para precisão climáticas. A posição do vento é um
da dose. É recomendável a adoção de dos fatores mais importantes para ga-
um sistema de inspeção periódica de rantir bom recobrimento das faixas.

Conceitos básicos importantes para aplicações aéreas:


• Atomizadores rotativos: a vazão de líquido é ajustada por um sistema de
orifícios variáveis e pela pressão da calda, enquanto a intensidade de frag-
mentação das gotas depende da rotação do atomizador, que é definida pelo
ângulo das pás das hélices e pela velocidade de voo da aeronave;
• Pontas hidráulicas: usualmente de jato plano, cone cheio ou vazio, as pontas
são montadas em barras, que podem ser anguladas com relação ao desloca-
mento da aeronave, aumentando ou diminuindo a fragmentação das gotas
(quanto maior esta angulação, menor será o tamanho de gotas geradas e
vice-versa);
• Faixa de deposição: deve ser determinada de acordo com normas técnicas
(exemplo: ASAE S386.2);
• Calibração da vazão: pode ser realizada pela determinação direta do con-
sumo de calda em função do tempo.
(Imagem: Ulisses Antuniassi)

Figura 3. Pulverização aérea

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A aeronave deve ser preferencialmente posicio- Importante sempre ressaltar que a sustentabi-
nada de forma perpendicular ao vento predo- lidade do agronegócio depende da ação de todos
minante, facilitando o alargamento natural das os envolvidos no processo de produção.
faixas. Caso contrário, pode ocorrer o estreita-
mento involuntário delas, com consequente erro Planejamento e organização da aplicação: a
por falta de sobreposição (falha de controle). proteção aos polinizadores
A gestão da disponibilidade é um dos fatores Antes, durante e depois das aplicações, é mui-
mais importantes para o sucesso da aplicação to importante a cooperação e a comunicação com
aérea. Na maioria das vezes, a aplicação ocorre aqueles que estão no entorno das áreas de traba-
como serviço terceirizado, sendo recomendada lho (produtores, aplicadores, consultores e outros).
a análise detalhada de sua disponibilidade, vi- Este processo aumenta consideravelmente a pro-
sando à contratação das aplicações com antece- babilidade de sucesso na proteção de recursos
dência. Este procedimento pode garantir o ajus- hídricos, da flora e da fauna. Cooperação e comu-
te correto do momento da aplicação. Para tanto, nicação são exemplos importantes de boas práti-
é fundamental o cálculo operacional do sistema cas visando à proteção de polinizadores, tema de
terrestre disponível, visando definir o número de grande importância no contexto atual do uso de
dias necessários para fechar a área. Este proce- inseticidas no controle das pragas do algodão.
dimento ajuda a diminuir o risco da contratação Como exemplo desse processo, as técnicas mo-
emergencial, a qual geralmente aumenta a pro- dernas de gestão e a busca pela sustentabilidade
babilidade de erros. do agronegócio incentivam a adoção do conceito
de coexistência entre a agricultura e a apicultura.
Responsabilidade e boas práticas Neste sentido, produtores agrícolas e aplicadores
na aplicação devem procurar sempre:
O incentivo às boas práticas na aplicação de
defensivos é uma das principais ações que visam • Usar produtos registrados para aplicação aérea
conferir sustentabilidade ao uso dos produtos fi- na cultura;
tossanitários. Os princípios da responsabilidade • Planejar a aplicação com respeito às faixas de
na tecnologia de aplicação estão fundamenta- segurança;
dos nos seguintes fatores: • Fazer parte de sistemas de gestão de riscos e
alerta para evitar acidentes com deriva;
• Buscar a garantia de qualidade na aplicação; • Buscar informações sobre a existência de api-
• Realizar aplicações em condições climáticas cultores na região;
adequadas; • Notificar os apicultores no entorno antes das
• Aplicar com técnicas para redução do risco de aplicações;
deriva; • Ser proativo para reduzir o impacto da deriva no
• Respeitar as bordaduras (faixas de segurança) ambiente;
nas aplicações aéreas;
• Ter pleno conhecimento do entorno das áreas De sua parte, os apicultores devem sempre:
onde a aplicação vai ser realizada;
• Manter um cadastro de possíveis áreas de • Colaborar mantendo atualizadas a identificação
conflito (os alvos de deriva); e localização de suas colmeias;
• Estar ciente das consequências de não respei- • Estar atentos aos comunicados sobre aplicações
tar as boas práticas nas aplicações. para ter tempo hábil de proteger suas colmeias.

Referências bibliográficas: entrar em contato com o autor

203
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Sistemas avançados de tecnologia de


aplicação na defesa fitossanitária

1. Introdução O conhecimento das características


Marcos Vilela
dos alvos é fundamental para o sucesso
de Magalhães
Para a utilização dos sistemas avança- de um tratamento fitossanitário. Gran-
Monteiro
MV Defesa Vegetal dos de tecnologia de aplicação são ne- de parte dos insucessos deve-se ao fato
Ltda. cessários os seguintes conhecimentos de que as neblinas aplicadas não têm
especializados: as gotas de maior eficiência biológica
e não atingem os alvos por falta de co-
Conhecer os alvos nhecimentos dos fatores envolvidos na
As pragas, doenças e plantas dani- tecnologia de aplicação por parte de
nhas que atacam os vegetais cultivados técnicos e operadores.
sempre foram motivo de preocupação É importante conhecer também o
da humanidade e, em algumas situa- desempenho e as deficiências dos equi-
ções, provocaram e provocam calami- pamentos utilizados e as condições me-
dades de grandes proporções, trazen- teorológicas adequadas para obtenção
do fome e destruição quando ocorrem de uma neblina eficiente, para colocar
em caráter epidêmico. A tecnologia de nos alvos a quantidade de defensivo
aplicação dos defensivos é o conjunto necessária ao controle das pragas.
de técnicas utilizadas para levar os prin-
cípios ativos até o alvo com menor po- Conhecer as características das pragas
luição ambiental, maior eficiência, rapi- As pragas dos vegetais são do rei-
dez e economia. no animal e, em sua maioria, do ramo
Considera-se “alvo” a praga causa- Insectae ou Aracnidea (insetos ou áca-
dora dos danos e o microambiente no ros), que aumentam sua população de
qual ela nasce, desenvolve-se e move- forma epidêmica pela falta de controle
-se. Os tratamentos fitossanitários evo- por parte dos inimigos naturais. Mesmo
luíram com o advento dos modernos com a destruição de parte das popula-
defensivos, máquinas e tecnologias de ções por agentes naturais, se as pragas
aplicação, mas um aspecto pouco estu- não forem controladas, podem destruir
dado é a relação entre as características uma cultura em curto espaço de tempo.
das neblinas produzidas e os alvos a se- As moléculas desenvolvidas para
rem atingidos. matar os insetos por meio de variados
O primeiro passo para obter sucesso processos de bloqueios de enzimas
em um tratamento fitossanitário é co- têm também o potencial de prejudicar
nhecer as características morfológicas, seriamente e matar uma gama enorme
fisiológicas, estruturais e epidemiológi- de outros animais, inclusive o homem!
cas dos alvos. No caso de deposição nas
folhas para um controle por contato ou Observações importantes: o tem-
por via sistêmica, é preciso conhecer o po de exposição da praga ao defen-
formato, a constituição da epiderme, a sivo durante o ciclo é muito curto;
pilosidade e disposição das folhas nos cada alvo tem uma neblina de maior
ramos, o que depende da arquitetura eficiência para seu controle.
da planta, o estágio de desenvolvimen-
to, a posição na planta etc.

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Em realidade, o homem está perdendo a ba- Os parâmetros mais importantes e mais usa-
talha para o controle das pragas dos vegetais, dos atualmente são VOL, DMV, AR e DG. Com
usando cada vez mais defensivos e com resulta- eles é possível avaliar a eficiência de uma neblina
dos cada vez menos eficientes, restando como no controle de determinado alvo e comparar dife-
alternativa a adoção do manejo integrado de pra- rentes neblinas, escolhendo a melhor para deter-
gas (MIP), que reúne um conjunto de técnicas de minado controle.
grande eficiência no controle dos insetos. Além
do controle químico, os inseticidas biológicos e 2.1 Volume de líquido (VOL- aplicado ou coletado)
botânicos, as variedades transgênicas, o sistema O parâmetro “volume”, muito usado na prática,
“atrai e mata”, os vazios sanitários, a rotação de é medido em litros por hectare e deve ser inter-
culturas etc. são as alternativas viáveis aconselha- pretado de duas maneiras:
das pelo MIP.
• Volume aplicado pelo equipamento: corres-
2. Avaliação das neblinas ponde à quantidade de líquido aplicada em
Para entender o processo de pulverização de um hectare pelo equipamento pulverizador.
um líquido, são necessários conhecimentos sobre Não há correlação direta entre o volume apli-
a formação das gotas e sua distribuição nos alvos cado na área e o volume do defensivo no alvo;
e no meio ambiente. • Volume de líquido coletado: corresponde à
As pulverizações são feitas pela transformação quantidade de líquido efetivamente coletada pe-
das caldas em uma quantidade muito grande de los alvos a serem atingidos na área aplicada, me-
pequenas esferas de líquido (gotas); a maioria de dida em nanolitros/cm2, ou microgramas/cm2. É a
diâmetro inferior a de 0,5 mm (500 micrometros). única maneira de avaliar a eficiência do controle
O diâmetro é medido em milésimos de milímetro de uma aplicação.
ou micrometro, cujo símbolo é µm; o plural de mi-
crometro é micra. “Se nós nos tornarmos prisioneiros da afirmação
O conhecimento do tamanho das gotas produ- que uma praga pode ser controlada com a aplica-
zidas e sua diversidade é muito importante para ção de X gramas de ingrediente ativo por hectare,
a escolha das neblinas mais adequadas e para a nós nunca evoluiremos da triste e baixa eficiência
obtenção de um alto grau de eficiência das apli- das aplicações nas lavouras de hoje. O que funcio-
cações, além de reduzir a contaminação do meio na não é a quantidade que os aviões ou os tratores
ambiente. aplicam, e sim a que atinge o alvo”. Prof. Vernan
Uma vez subdividido um líquido por meio de Joyce - Cranfield Institute of Technology, Inglater-
um processo mecânico, as gotas e as neblinas ra - 1976.
produzidas são medidas com o auxilio de lupas,
microscópios ou sistemas digitais, com base em Em toda pulverização, uma porcentagem
uma série de parâmetros, estudados desde 1911. maior ou menor do líquido aplicado deixa de
Os principais parâmetros de tecnologia de aplica- atingir o alvo; o volume de líquido coletado e
ção são os seguintes: medido corresponde à porcentagem que muito
provavelmente atingiu o alvo. Pode ser medido
VOL - Volume de líquido coletado em alvos artificiais, como cartões hidrossensíveis
DMV - Diâmetro mediano volumétrico e espelhos, ou nos alvos naturais, como insetos,
DMN - Diâmetro mediano numérico besouros, folhas, frutos e ramos. Comparando-se
AR - Amplitude relativa - define o espectro de o volume coletado com o volume total aplicado,
gotas temos a medida da eficiência de nosso trabalho.
DG - Densidade de gotas
FD - Faixa de deposição 2.2 Diâmetro mediano volumétrico (DMV)
PRD - Potencial de risco de deriva É o tamanho da gota dentro do espectro da pul-
PAC - Porcentagem de área coberta verização que divide o volume aplicado em duas

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

partes iguais, uma metade do volume a outra tem diâmetros menores que o
pulverizado tem diâmetros maiores, e DMV (Figura 1).

Figura 1. Representação gráfica do DMV- diâmetro mediano volumétrico (Organização Mun-


dial da Saúde - OMS)

Tabela 1. Classificação das neblinas de acordo com os DMVs

DMV em µm Classificação Tamanho de gota

Menor que 50 Aerossol Muito fina


51 - 100 Neblina Fina
101 - 200 Pulverização fina Média
201 - 400 Pulverização média Grossa
Mais de 400 Pulverização pesada Muito grossa

Fonte: Conselho Britânico de Proteção das Culturas (BCCP)

Diâmetros em µm Pulverização

Menor que 50 Extremamente fina


51 - 136 Muito fina
137 - 177 fina
178 - 218 Médias
219 - 349 Grossas

Fonte :Sociedade Americana de Engenheiros Agrônomos e Biólogos

O DMV das pulverizações tem enor- • Na penetração da neblina na cultura


me influência: (Figura 2);

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• Na deriva, que é a porcentagem depositada maior ou menor eficiência de captura das gotas
fora do alvo na parte aérea (exoderiva) e no solo pelos alvos; e
(endoderiva); • Na produtividade e na economia (sistemas
• Na eficiência biológica da pulverização pela UBV e BVO).

(Fonte: Oklahoma State University - EUA , 1983)

Figura 2. Eficiência da penetração da neblina em culturas anuais - Veículo água

Com a utilização de veículos não evaporantes, de 300 µm para 100 µm e aplicar apenas 1 litro
como óleos vegetais, óleos minerais, adjuvantes por hectare onde se aplicava 27 litros por hectare,
sintéticos e melaço, podem ser realizadas apli- conforme mostra a Figura 3, produzindo o mesmo
cações altamente eficientes e econômicas com número de gotas por litro aplicado.
neblinas homogêneas de gotas finas. É o que Usando-se os óleos ou melaços como vei-
ocorre quando se aplica no sistema de ultrabai- culantes dos produtos químicos, e água para a
xo volume (UBV) ou no sistema de baixo volume distribuição da calda em volumes maiores, fa-
oleoso (BVO). zemos as aplicações no sistema BVO, com 5-10
Como as gotas não evaporam, ou evaporam litros por hectare nas aplicações aéreas e 20-30
menos do que nas aplicações realizadas apenas litros por hectare nas aplicações terrestres com
com água, pode-se reduzir o DMV das aplicações bicos hidráulicos.
(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2017)

Figura 3. Redução do volume pela redução do DMV

207
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Para cada alvo a ser atingido por porcentagem do líquido pulverizado


uma pulverização existe uma fai- dentro dessa faixa de ótima eficiên-
xa de DMV de ótimo efeito bioló- cia biológica, maior será a eficiência
gico (Tabela 2). Quanto maior for a da aplicação.

Tabela 2. Tamanhos de gota em função do alvo

Alvo DMV

Mosquito adulto 04-16


Folhas de pinheiros 11-35
Lagartas (Helicoverpa armigera) 12-48
Bicudo do Algodoeiro (Anthonomus grandis) 20-50
Larva de besouro Japonês 20-50
Ponteiros de algodão 20-80
Insetos voadores 10-50
Folhagem de dicotiledôneas 40 -100
Aveia selvagem - Folhas 100-150
Solo (deriva reduzida) 250-500
(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2017)

Observou-se nos estudos do Insti- maior eficiência biológica.


tuto Nacional de Engenharia Agrícola Como os papéis hidrossensíveis em
(NIAE) da Inglaterra um aumento de ab- posição fixa não captam gotas abaixo
sorção de herbicidas através das folhas de 50 µm, desenvolvemos um disposi-
de até seis vezes mais do princípio ati- tivo de coleta rotativa para capturar es-
vo, quando as aplicações são feitas com sas gotas, o Kit Medição de Gotas Finas
o DMV correspondente ao diâmetro de (MGF) (Figura 4).
(Figura do autor)

Figura 4. KIT - MGF Avaliação de gotas finas e muito finas

Gotas de maior eficiência biológi- deriva. Na Tabela 3, informamos os pa-


ca para o controle de pragas e doen- drões adequados de DMV e DG para
ças são causadoras dos problemas de diversos tipos de aplicação.

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Tabela 3. Padrões adequados de DMV e de DG

TIPOS DE APLICAÇÃO GOTAS/cm2 DMV

Inseticidas 20-30 100-150


Herbicidas em pré-emergência 20-30 400-600
Herbicidas em pós-emergência 30-40 150-200
Fungicidas e adubos foliares 50-70 100-150
(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2017)

2.3 Diâmetro mediano numérico (DMN) quantidades iguais; metade do número de gotas
É o tamanho da gota dentro do espectro da tem diâmetro maior que o DMN e a outra meta-
pulverização que divide as gotas totais em duas de tem diâmetro menor (Figura 5).
(Fonte: Organização Mundial da Saúde - OMS)

Figura 5. Representação gráfica do DMN

2.4 Amplitude relativa (AR) 90% do volume acumulativo da pulverização,


O conjunto das gotas de diferentes diâmetros ou seja, 90% do volume aplicado tem gotas
de uma pulverização é denominado espectro de menores que o DV 0,9.
gotas (EG). Se as gotas apresentarem uma dife-
rença pequena entre seus diâmetros, a pulveriza- DV 0,9 - DV 0,1
AMPLITUDE RELATIVA =
ção terá um EG homogêneo, e se a diferença entre DV 0,5
os diâmetros for grande, o EG será heterogêneo.
A AR é, portanto, a medida da uniformidade do A uniformidade do espectro é um fator impor-
espectro. Os valores da AR são obtidos através de tante na eficiência das aplicações, afetando a efi-
cálculo simples com os diâmetros: ciência biológica e suas derivas. Quanto maior for
o valor da AR, mais heterogêneo será o espectro da
• DV 0,1, que é o diâmetro que representa pulverização, e menor será sua eficiência biológica
10% do volume acumulativo da pulveriza- (Figura 6).
ção, ou seja, 10% do volume aplicado tem As ARs abaixo de 1 indicam uma pulverização
gotas menores que o DV 0,1; com espectro homogêneo, que é característica dos
• DV 0,5, que é o diâmetro que representa a atomizadores rotativos. As ARs acima de 1 indicam
50% do volume acumulativo da pulveriza- a pulverização com espectro heterogêneo, que é
ção, ou seja, 50% do volume aplicado tem característica dos bicos hidráulicos (Figura 7).
gotas menores que o DV 0,5; é o DMV, e; A AR é útil como um índice comparativo entre
• DV 0,9, que é o diâmetro que representa pulverizações.

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Fonte: Organização Mundial da Saúde - OMS)

Figura 6. Representação gráfica da AR


(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2017)

Figura 7. Comparação entre as ARs dos bicos hidráulicos e dos atomizadores rotativos
de disco

2.5 Densidade de gotas (DG) quadrado, ou baixa, quando a densida-


A DG é a quantidade de gotas por de for menor que 20 g/cm2.
unidade de superfície. É considera- Nas análises de neblina com base na
da alta, quando tiver uma quantidade DG deve-se levar em consideração que
maior do que 50 gotas por centímetro os cartões hidrossensíveis disponíveis

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no mercado não capturam gotas abaixo de 50 µm, grande importância no controle dos insetos
por conta de sua baixa massa, grande capacidade com produtos que atuam por contato.
de flutuação e baixo impacto terminal.
2.6 Faixa de deposição (FD)
A FD é a largura na qual a neblina produzida
deposita-se e classifica-se em:

FD Real: faixa que corresponde ao depósito


total de neblina, e;
FD Efetiva: faixa na qual a neblina atinge os valo-
res mínimos exigidos para ser eficiente naquele tipo
de tratamento. É calculada por meio do coeficiente
de variação (CV) do depósito ao longo da faixa.
No controle de pragas, a FD pode ser avaliada
pela DG. No controle de doenças e ervas dani-
nhas, a FD deve ser avaliada pela quantidade de
princípio ativo por unidade de superfície, que cor-
Nas aplicações com bicos hidráulicos com veí- responde ao volume de líquido aplicado naquela
culo água, a porcentagem de produto em gotas área de coleta.
abaixo de 50µm representa menos de 5% do to- Dependendo das características da aplicação,
tal aplicado, tendo pouco impacto na eficiência pode-se admitir um CV na faixa de 30-40% para as
biológica das aplicações que necessitam aplicações aéreas e, nesse caso, a FD efetiva será
de depósito nas superfícies foliares, mas de de 15 m (Figura 8).
(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2017)

Figura 8. Coeficiente de variação de deposição em função da distância ao eixo de simetria da faixa aplicada

No caso de aplicação terrestre (Figura 9), o coeficiente de variação pode evidenciar problemas nas
pontas de pulverização.

211
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Figura 9. FD efetiva pelo CV em equipamentos terrestres

2.7 Potencial de risco de deriva (PRD) do volume do líquido pulverizado com


Um critério usado na seleção de bi- veículo água em gotas menores que
cos e também como elemento compa- 150 µm. Essa porcentagem aumenta ra-
rativo entre os bicos é o PRD para dife- pidamente com a diminuição do DMV,
rentes aplicações, que é a porcentagem conforme observamos na Tabela 4.

Tabela 4. PRD em função do tamanho de gotas

DMV PRD

400 µm 5%
300 µm 10%
220 µm 22%

(Fonte: Catálogo 51ª-PT, 2014; Spraying Systems Co.)

O fenômeno parece ser independen- pragas e pode tornar-se um grave pro-


te do sistema de pulverização. Pulveriza- blema de poluição ambiental e contami-
ções com DMV alto (seja por adição de nação de lavouras suscetíveis.
adjuvantes, bicos específicos ou condi-
ções de operação), para as aplicações 2.8 Porcentagem de área coberta (PAC)
antideriva, têm porcentagens baixas de A área coberta pelas gotas aumenta
PRD por apresentarem DMV mais alto. com a redução do DMV da pulverização e
Isso diminui os problemas de deriva com a homogeneização do espectro.
nas aplicações de herbicidas, mas reduz Na aplicação de produtos sistêmicos
drasticamente sua eficiência no controle ou de adubos por via foliar, a porcentagem
de pragas e doenças e os rendimentos de área coberta é um índice importante
operacionais. na análise das neblinas de pulverização.
O volume pulverizado em gotas abai- Quanto maior a porcentagem de área co-
xo de 150 µm medido através do PRD berta, maior a eficiência biológica da apli-
em pulverizações cujo veículo é a água, cação. Sistemas Quebra Vortice instalados
é considerado perdido pela deriva para nas pontas das asas permitem melhorar
efeito de eficiência biológica contra as significativamente a PAC (Figura 10).
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(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2017)

Figura 10. Influência do quebra-vórtices no aumento da PAC

Considerações finais sobre avaliação das neblinas Considerando-se que a altura máxima de voo
Para definir as melhores técnicas de aplicação é na aplicação de defensivos agrícolas é inferior a
necessário o conhecimento das características das 10 m e no combate a vetores (aviação sanitária) é
neblinas produzidas pelos equipamentos de pul- inferior a 100 m, esses são os limites de interesse
verização, como é preciso também um monitora- no estudo dos fenômenos meteorológicos. Os fe-
mento constante dos trabalhos de aplicação tanto nômenos mais importantes são a temperatura do
das neblinas como dos alvos. ar, o vento, a umidade relativa, a estabilidade e a
Os trabalhos de monitoramento das aplicações inversão atmosférica.
tornaram-se mais viáveis na era digital com o de- A medição dos fatores meteorológicos de inte-
senvolvimento de softwares capazes de medir, resse da aviação agrícola é feita pelos instrumen-
analisar e relatar os parâmetros básicos de uma ne- tos convencionais: termômetros, anemômetros e
blina depositada em papel hidrossensível em pou- termo-higrômetros. Em alguns casos, a metodolo-
cos minutos, com o auxílio de um scanner, de uma gia de leitura é que foge ao convencional, como,
impressora e de um computador convencional. por exemplo, no estudo da estabilidade atmosférica
O segundo passo para o sucesso de um trata- nas camadas próximas ao solo, quando a tempera-
mento fitossanitário será conhecer e monitorar as tura é tomada nas alturas aproximadas de 1,5 m e
características das neblinas produzidas. 3 m e a velocidade do vento a 3 m do solo.

3. Fatores meteorológicos ligados à pulverização 3.1 Temperatura do ar


Micrometeorologia é o estudo dos fenômenos A temperatura em si não é um fenômeno me-
meteorológicos na camada da atmosfera próxima teorológico, e sim a medição da quantidade de
do solo e que, portanto, influem na aplicação de calor existente em uma determinada massa de ar.
defensivos agrícolas. A efetividade do combate quí- A sua variação depende de:
mico às pragas e às doenças das lavouras depende
basicamente da aplicação em condições meteoro- • Intensidade da radiação solar no momento
lógicas adequadas. A micrometeorologia fornece os da leitura;
elementos para o atendimento desse último ponto, • Capacidade de absorção ou reflexão da
e, caso os aplicadores não observem os limites dos energia solar pela superfície da área em es-
fatores meteorológicos, pode ocorrer: tudo que pode ser um solo arado, solo com
cobertura vegetal, floresta, lago etc.;
• Perda de produto por efeito da deriva ou in- • Movimento de massas de ar de diferentes
versão térmica; temperaturas em uma região, e;
• Evaporação excessiva da calda, e; • Grau de cobertura das nuvens.
• Deficiência ou perda total e aplicação.

213
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

A temperatura da massa de ar tem influên- principalmente em condições de umidade


cia direta na capacidade de evaporação das relativa baixa; na prática, é medida à sombra, a
gotas de uma neblina (Figura 11 e Tabela 5), uma altura de 1 m, aproximadamente.

(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2017)

Figura 11. Dinâmica de evaporação das gotas

Tabela 5. Tempo de vida das gotas de diferente diâmetro em função da temperatura e UR


Condições T=20°C ΔT = 2,2°C T=30°C ΔT = 7,7°C
ambientais Umidade relativa = 80% Umidade relativa = 50%

Diâmetro de Tempo para Distância de Tempo para Distância de


gotas (µm) extinção (s) queda (m) extinção (s) queda (m)
50 14 0,5 4 0,15
100 57 8,5 16 2,50
200 227 136,0 65 39,0
300 511 690,6 146 197,0
400 909 2.182,0 260 623,0

Um fenômeno muito importan- da temperatura. Isso explica a con-


te para qualquer tipo de aplicação, taminação de lavouras suscetíveis a
terrestre ou aérea, é a formação de herbicidas situadas a quilômetros de
correntes convectivas pelo ajunta- distância dos locais de aplicação. Daí
mento de bolhas de ar quente que se a importância do registro dos fatores
despregam do solo carregando agro- meteorológicos durante as opera-
químico na forma de vapor e deposi- ções para que a empresa possa de-
tando-os a grandes distâncias, quan- fender-se de eventuais processos de
do tendem a cair pelo abaixamento contaminação.

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De acordo com a regulamentação do Ministé- • Deslocamento das massas de ar nas pro-


rio da Agricultura, a temperatura máxima para ximidades de nuvens de desenvolvimento, e;
aplicações aéreas com veículo água é de 30°C. • Vertical (Cumulus e Cumulo Nimbus), por
conta da grande quantidade de energia
3.2 Vento desenvolvida dentro dessas nuvens.
É o fenômeno meteorológico provocado
pelo deslocamento de uma massa de ar. Os ven- A ocorrência de cada fator interfere no com-
tos de interesse da aviação agrícola são provo- portamento do outro, de modo a formar a mo-
cados principalmente por: vimentação regional de um clima globalizado.
Assim, o vento é sempre originado por um gra-
• Diferença de temperatura entre as mas- diente de temperatura do ar, que varia na razão
sas de ar de uma região; inversa da umidade relativa, entre duas áreas
• Penetração de massas de ar por conta de ou regiões. A velocidade do vento pode ser ava-
frentes frias ou quentes; liada através da escala Beaufort (Tabela 6).

Tabela 6. Descrição da escala Beaufort

Classe Designação Velocidade Velocidade Dados para avaliar a velocidade


de Escala em Terra (mph) (km/h) (em terra)

Não se nota o menor desloca-


0 Calmo < 1,2 <1,9 mento nos mais leves objetos. A
fumaça eleva-se verticalmente.

Quase A direção do vento é indicada pela


1 1,2 a 2 1,9 a 3,2
calmo fumaça, mas não pelos cata-ventos.

Sentem-se ventos nas faces; as


Brisa folhas das árvores são levemente
2 2a4 3,2 a 6,4
leve agitadas; os cata-ventos comuns
são acionados.

As folhas e os pequenos arbustos


Vento ficam em agitação contínua; as
3 4a6 6,4 a 9,6
fraco bandeiras leves começam a es-
tender-se.

Movem-se os pequenos galhos das


Vento
4 6a9 9,6 a 14,5 árvores; poeira e pedaços de papel
moderado
são levantados.

As árvores pequenas com folhagem


Vento começam a oscilar; aparecem ondas
5 9 a 12 14,5 a 19,3
regular com cristas nas superfícies dos rios
e lagos.

215
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

De uma maneira geral, não se deve modo que o produto dos valores das al-
operar com ventos inferiores a 3 km/h turas de voo e das velocidades do vento
ou superiores a 15 km/h. O importante é sejam aproximadamente os mesmos.
que o piloto seja orientado pelo técnico Esse produto é chamado fator Amsden
executor, para variar a altura de modo (Tabela 7), e pode ser entendido facil-
a compensar as variações do vento, de mente pelo exemplo da Figura 12.

Tabela 7. Fator Amsden em função da velocidade do vento e da altura de voo


Para um vento de: Deve-se voar a: Para o Fator Amsden:

10 km/h 3m 30
8 km/h 4m 32
5 km/h 6m 30
(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2017)

Figura 12. Ilustração do fator Amsden (altura x velocidade do vento)

Importância do fator Amsden: a medição de um fenômeno atmosféri-


quando o produto da altura do voo em co que é a capacidade que toda massa
metros pela velocidade do vento em de ar tem de conter água em forma de
km/h é constante, as faixas de depo- vapor. Quando uma massa de ar absor-
sição produzidas pelas pulverizações ve toda a quantidade de vapor d’água
são semelhantes. possível de ser retida a uma determi-
nada temperatura, ela é considerada
3.3 Umidade relativa saturada. O aumento da temperatura
A umidade relativa (UR) representa aumenta a capacidade de absorção de

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vapor d’água em uma determinada massa de ar. metade da quantidade de água na forma de va-
A UR do ar é, por definição, a porcentagem por que ela poderia conter nessa temperatura. A
de vapor d’água que uma massa de ar contém UR é fundamental na estimativa de redução do ta-
em relação ao máximo que ela poderia conter a manho de gotas por evaporação (Figura 13).
uma determinada temperatura. Exemplificando, A UR mínima para aplicações aéreas com
uma massa de ar a 20°C com 50% de UR contém a veículo água é de 50%.

(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2017)

Figura 13. Perda de calda por evaporação em baixa


umidade relativa

3.4 Estabilidade e inversão atmosférica subidas e descidas do avião em uma tempestade


Chama-se estabilidade à resistência atmosfé- até os solavancos ocorridos nos dias quentes quan-
rica ao movimento vertical, resultante da distri- do se voa a baixa altura. As correntes de ar verticais
buição vertical do peso do ar (pressão atmosféri- obviamente interferem bastante na eficiência de
ca) em um dado momento. Esse peso varia com aplicação de defensivos por via aérea.
a temperatura do ar, uma vez que o ar quente é Desde que a temperatura do ar é um indicador
mais leve que o ar frio. de sua densidade, a comparação das temperatu-
Assim, se um bolsão de ar é mais quente que a ras de um nível para outro pode indicar o grau da
atmosfera a sua volta, ele será forçado a subir. Por estabilidade atmosférica, ou seja, o quanto ela
exemplo, se um balão for cheio com ar da mesma tenderá a resistir ao movimento vertical.
temperatura da atmosfera a sua volta, ele não su- A temperatura normalmente decresce com a
birá, indicando uma condição estável. Se o ar for altitude, e a taxa na qual ela decresce é chama-
aquecido, ele subirá. da de gradiente térmico, que é comumente ex-
A velocidade e a extensão do deslocamento presso em °C/100m e fornece a medida direta
dependerão da distribuição da temperatura na da resistência atmosférica a seu movimento ver-
atmosfera. Correntes verticais de ar resultantes tical. O grau de estabilidade da atmosfera pode
de sua ascensão podem variar desde as bruscas variar de lugar para lugar e de hora para hora.

217
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Gradiente térmico adiabático Turbulência


seco - GTS Uma das consequências da instabi-
Quando o ar não saturado sobe, lidade atmosférica mais sentida pelos
sua temperatura diminui a razão de pilotos de aeronaves é a turbulência,
3°C/300m, considerando que o mes- cujas principais causas são:
mo é forçado a ir para cima como re-
sultado de ter sido aquecido nas ca- 1. Movimentos verticais do ar em cor-
madas inferiores ou pela ascensão rentes convectivas;
forçada ao deparar-se, em seu traje- 2. Movimentos do ar em volta das mon-
to horizontal, com a encosta de uma tanhas e outros obstáculos, e;
montanha. O grau de esfriamento 3. Atrito das camadas de ar.
do ar insaturado é conhecido como
gradiente térmico adiabático. Essas turbulências podem ser observa-
das pela forma da fumaça (Figura 14).
(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2017)

Figura 14. Estabilidade da atmosfera observada


pela fumaça

As correntes convectivas formam- uma mudança na velocidade e/ou di-


-se no ar que é aquecido pelo contato reção do vento em curtas distâncias,
com uma superfície aquecida, sendo por efeito mecânico. Pode ocorrer no
conhecidas como turbulência térmica. sentido horizontal ou vertical e, oca-
O atrito das camadas de ar provoca sionalmente, em ambos.

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O decréscimo na temperatura com a altura é considerada estável. A circulação do ar na atmos-


aproximadamente -1ºC/100m. Se a diminuição fera com essa condição, portanto, tende a redu-
da temperatura do ar com a altitude satisfaz essa zir-se, e a atmosfera será considerada estável.
condição, a atmosfera é dita em estabilidade neu-
tra. Se a temperatura diminui com a altitude mais Inversão térmica e consequências
rapidamente do que o gradiente adiabático, en- para pulverizações
tão a massa ascendente de ar ficará mais quente Considerando que o aumento da temperatu-
e mais leve que o ar em volta e continuará a subir. ra do ar com a altitude (fenômeno da inversão)
Essa atmosfera é considerada instável. não se mantém em faixas ou períodos grandes,
Uma atmosfera instável é também caracte- a inversão normalmente se dá em uma camada
rizada por um grau mais elevado de flutuações conhecida ou finita. Nessa camada, a atmosfera
turbulentas do ar. Essas condições podem levar à é extremamente estável, e a circulação normal é
ocorrência de grandes movimentos convectivos suprimida (isto é, tanto a velocidade média do
na circulação da atmosfera e a mudanças violen- vento como a turbulência) dificultando a dis-
tas na velocidade e direção do vento, que devem persão do material pulverizado. A camada de
ser evitadas por questões de segurança do voo e inversão age como uma “tampa” efetivamente
da distribuição do inseticida. impermeável.
Por outro lado, se a temperatura do ar am- No caso de equipamentos terrestres, há dis-
biente diminui menos rapidamente do que o positivos específicos, com termômetros de alta
gradiente adiabático, a massa de ar em ascensão sensibilidade que determinam as temperaturas
tornar-se-á mais pesada do que a do ambien- do ar a 1,5 m e a 3 m, indicando a condição ou
te em torno e tenderá a cair; essa atmosfera é não de inversão (Figura 15).
(Imagem: M. Vilela)

Figura 15. Sensor de inversão térmica para trator

219
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

No caso da aplicação aérea de de- 4. Sistema de aplicação aérea usados


fensivos, se uma inversão está pre- no Brasil
sente, sua localização e espessura As informações apresentadas aqui
precisam ser conhecidas em função têm por finalidade fornecer a técnicos e
da altura de voo planejada e da altura pilotos envolvidos nas aplicações aéreas
do alvo. informações técnicas, referências numé-
Se o material é lançado em uma ca- ricas e instruções básicas para a utilização
mada de inversão, então a virtual au- criteriosa desses sistemas. Por conta do
sência de ar ou difusão impedirá seu grande número de variáveis envolvidas
espalhamento, que ocorre apenas sob não existe “receita de bolo” para as aplica-
a ação da força de gravidade e vórtices. ções aéreas e terrestres, sendo necessário
Se a altura do voo é acima da camada um acompanhamento contínuo dos fa-
de inversão, esta forma uma barreira tores envolvidos no processo, por espe-
impermeável (equivalente à elevação cialistas em tecnologia de aplicação.
artificial do nível do solo), e o mate- As aplicações aéreas de defensivos
rial difundir-se-á, espalhando-se sobre por via líquida realizadas no Brasil po-
esta, com penetração muito pequena dem ser agrupadas nos sistemas bási-
de parte do mesmo pela ação da gra- cos de tecnologia de aplicação seguin-
vidade. Por outro lado, se a plantação tes (Tabela 8):
também ultrapassar a camada de in-
versão, receberá uma dose mais con- • Alto volume (AV), com veículo
centrada do produto aplicado. É o caso água em volumes de 30-50 litros
de aplicações em florestas adultas. por hectare;
Finalmente, se a camada de inver- • Baixo volume (BV), com veículo
são está acima tanto da linha de voo água em volumes de 10-20 litros
como da plantação, formando um por hectare;
tampão, desde que as trocas aéreas • Baixo volume oleoso (BVO®),
na camada inferior sejam adequadas, com veiculação oleosa em volu-
novamente as altas dosagens e uma mes de 5-20 litros por hectare;
razoável distribuição do produto serão • Ultra baixo volume (UBV), com
obtidos. veiculação oleosa em volumes
Como foi visto acima, a condição de de 1-5 litros por hectare, e;
estabilidade da atmosfera afeta profunda- • Sistema atrai mata (SAM), com
mente a estrutura do vento na camada-li- veiculação oleosa em volumes
mite de interesse da aviação agrícola. de 0,4-0,5 litro por hectare.

220
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AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Tabela 8. Características padrões dos sistemas de aplicação aérea mais utilizados

SISTEMAS DE APLICAÇÃO AÉREA

CONVENCIONAIS AVANÇADOS
ITENS AV BV UBV BVO® SAM
VEÍCULO Água Água Óleo Óleo Isca oleosa
PRINCÍPIO DE Hidráulico ou Hidráulico ou Hidráulico ou Hidráulico ou
Hidráulico
SUBDIVISÃO rotativos rotativos rotativos rotativo de Disco
VOLUMES
30-50 10-30 1-5 5-10 0,4-0,5
(litros/hectare)
QUANTIDADE PA a PA PA
PA PA 0,7 PA
DE PA 2 5 100
RENDIMENTOS 1R 2R (3 a 5) R (2 a 3) R (3 a 5) R

DMV 400-600 200-300 70-150 80-150 3000-5000


Heterogênea ou Heterogênea ou
NEBLINA Heterogênea Homogênea Heterogênea
homogênea homogênea

Historicamente, as aplicações terrestres em de 40, rapidamente passaram para os volumes


alto volume — 500, 600, 1.000 litros por hec- de 10-20 litros por hectare no boom da aviação
tare — evoluíram para aplicações em baixos agrícola americana de pós-guerra, exceto nas
volumes, aplicando 100-200 litros por hectare, regiões de temperatura alta, como é o caso do
com a introdução de bicos especiais (bicos de Sudoeste americano.
jato cônico vazio) e a diminuição das pressões O veículo água, inicialmente usado nos siste-
de aplicação. mas AV e BV, foi substituído por veículo oleoso,
As aplicações aéreas, que se iniciaram com trazendo melhoria significativa à deposição no
volumes de 40-80 litros por hectare na década alvo (Figura 16).
(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2017)

Figura 16. Diferença de deposição no alvo entre veículo água e oleoso

221
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

4.1 Aplicações em baixos Departamento de Agricultura dos Esta-


volumes (BV) dos Unidos (USDA) e pela America Cya-
Na evolução de altos para baixos vo- namid, que se juntaram em um progra-
lumes, merecem destaque os aspectos: ma de aplicação do produto Malathion
em volumes realmente ultrabaixos para
1. Veículo de aplicação continuou o a erradicação do bicudo do algodoeiro
mesmo - água; por via aérea.
2. Princípio de produção de gotas per-
maneceu o mesmo - pressão hidráulica; 4.2 Sistema baixo volume
3. Os volumes de líquido por hectare fo- oleoso (BVO®)
ram reduzidos drasticamente; Essa tecnologia caracteriza-se pelos
4. As quantidades de defensivos por seguintes parâmetros:
hectare não foram reduzidas;
5. Os rendimentos das máquinas e dos 1. Aplicação de defensivos com volu-
aviões aumentaram; mes de 5-20 litros por hectare;
6. O tamanho médio das gotas produzi- 2.Neblina homogênea e com tamanho
das diminuiu, e; de gota controlado (entre 80-150 µm);
7. As neblinas produzidas com as novas 3. Óleo de soja degomado como veícu-
técnicas eram também heterogêneas, lo do princípio ativo;
as gotas variavam muito em tamanho, 4. Água para completar o volume de
eram produzidas por bicos hidráulicos. aplicação mais eficiente para um de-
terminado tratamento, e;
A aplicação convencional feita 5. Mistura orientada do óleo emulsi-
com 30 litros de água por hectare ficante, defensivos e água, com agi-
não dava os rendimentos necessários tação intensa e contínua produzindo
para controlar o bicudo nas grandes emulsão estável com baixo índice de
extensões cultivadas com algodão evaporação.
nos Estados Unidos. A implantação
definitiva e a divulgação da técnica Para a implementação dessa técnica
de UBV, denominada em inglês Low no Brasil havia necessidade de desenvol-
Volume Concentrate (LVC) ou Ultra Low ver um equipamento rotativo adequado
Volume (ULV), deu-se em 1960, pelo e de baixo custo, bem como os equipa-
mentos e procedimentos de formulação
dos defensivos com os óleos vegetais nas
pistas.
(Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, 2002)

O Centro Brasileiro de Bioaeronáutica


desenvolveu em 2000, para aplicações aé-
reas, o atomizador rotativo de disco Tur-
boaero (Figura 17); o primeiro modelo foi
lançado em 2002. Os atomizadores rota-
tivos de disco Turboaero podem produzir
até 90% do volume do líquido pulveriza-
do em gotas de maior eficiência biológica,
contra 70% dos atomizadores rotativos de
tela e 44% dos bicos hidráulicos. Essa em-
presa desenvolveu também o Turbotrator
(Figura 18) para aplicações terrestres em
UBV (1-5 litros/hectare) e BVO® (5-20 litros/
Figura 17. Atomizador rotativo de disco hectare), com o uso de veículos oleosos.
Turboaero - Modelo TA88D-8

222
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2012

Figura 18. Turbotrator - modelo TT BVO Flex (aplicações em UBV e BVO®); volume de 1 a 5 litros por hectare (Centro
Brasileiro de Bioaeronáutica: Manual de Operação e Manutenção do Turbotrator modelo TT BVO Flex)

As principais diferenças entre as aplicações convencionais e as aplicações em BVO® podem ser apre-
ciadas na Figura 19.

Figura 19. Principais diferenças entre aplicação convencional e BVO®

223
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

As formulações desenvolvidas no Os produtos devem ser adicionados


sistema BVO® baseiam-se nos seguin- separadamente e incorporados ao óleo
tes passos: pela agitação da motobomba com cer-
ca de um minuto de agitação cada um.
1. O óleo degomado de soja é mistura- Cuidados especiais merecem os pro-
do com o emulsificante para adquirir a dutos de baixa dosagem tipo Nomolt®
habilidade de misturar-se com a água; (50 ml/ha) ou Classic® (30 g/ha), para
2. O óleo emulsificado é misturado com que se dissolvam completamente na
os produtos químicos, envolvendo-os e mistura e não fiquem concentrados em
evitando a evaporação destes; algum ponto da misturadora.
3. Por último, mistura-se a água até o vo- Não se deve misturar água nos está-
lume desejado para a taxa de aplicação gios intermediários de formulação para
que se quer aplicar, a qual depende do facilitar a mistura das soluções concen-
tipo de controle que se quer efetuar, e; tradas. Os resíduos dessas embalagens
4. A ordem de adição dos componen- são adicionados no final, juntamente
tes é fundamental para o sucesso da com a água da tríplice lavagem.
formulação, devendo ser sempre: óleo Antes de fazer uma formulação nova,
+ produto + água. é conveniente testar sua estabilidade e
seu pH com auxílio de um pequeno la-
Deve-se manter agitação intensa e boratório de formulação que pode ser
contínua durante a mistura e durante a montado com duas ou três jarras de
aplicação. 1 litro graduadas, três ou quatro mama-
Os inseticidas formulados como CE deiras, que servirão para medidas de
(concentrados emulsionáveis) são facil- precisão e simulação da agitação pro-
mente absorvidos pelo óleo e ajudam vocada pela motobomba, e duas a três
na absorção dos outros componentes seringas de injeção de 20 ml, para me-
mais difíceis de misturar com os óleos, dição dos produtos usados em menor
como as SC (soluções concentradas), as quantidade.
SAC (soluções aquosas concentradas) e A técnica é medir 10% de cada ingre-
as PM (pós-molháveis). Por isso, os pro- diente e misturá-los manualmente com
dutos CE devem ser os primeiros a mis- auxílio de um bastonete de madeira e,
turar-se com o óleo. em seguida, agitá-los por um minuto na
Os produtos mais difíceis devem mamadeira. Ao final das misturas dos
ser colocados no final da mistura e, às defensivos com óleo, mede-se o pH; ao
vezes, floculam, ou ficam em forma de final das misturas de micros, mede-se
grânulos suspensos na mistura, mas o pH; se não houver micros, mede-se o
dissolvem-se bem na mistura final, com pH da água. Após a mistura final, me-
adição da água e a agitação provocada de-se o pH e avalia-se a estabilidade
pela motobomba. (Tabela 9).

Tabela 9. Escala de estabilidade das misturas


Grau Condição Recomendado

1 Separação imediata Não aplicar


2 Separação após 1 minuto Não aplicar
3 Separação após 5 minutos Agitação contínua
4 Separação após 10 minutos Agitação contínua
5 Estabilidade perfeita Sem restrições

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4.3 Sistema ultrabaixo volume (UBV) de 20 graus em relação ao tiro;


Estudos no sistema hidráulico e nos bicos • Estabilidade atmosférica: entre 0,1-1,0 pelos
dos aviões permitiram a retirada total de água, padrões do Serviço de Florestas do Canadá.
aplicando-se apenas 1 litro de inseticida puro
por hectare e multiplicando o rendimento de Os seguintes aspectos merecem destaque:
aviões e tratores. Tanto no caso do bicudo como
no controle de curuquerê do algodão e de outras 1. O veículo mudou. O produto é aplicado
pragas altamente suscetíveis ao Malathion, obte- puro ou dissolvido em veículos não eva-
ve-se controle em aplicações comerciais em ape- porantes, em sua maioria óleos minerais e
nas 300-500 cm3 de produto puro por hectare. vegetais;
Com o UBV, os aviões tiveram sua eficiência au- 2. O princípio de produção de gotas começou
mentada no controle das pragas e os rendimen- com bicos hidráulicos, mas em poucos anos
tos foram multiplicados por três, quatro ou cinco passou a atomizadores rotativos de tela ou
vezes em relação às aplicações convencionais. A de discos, com excelentes resultados por
técnica foi divulgada no mundo inteiro e foi intro- conta de sua baixa amplitude relativa, que
duzida no Brasil em 9 janeiro de 1965 pelo Dr. Mar- produzia neblinas mais homogêneas com
cos Vilela de M. Monteiro, na Fazenda Água Fria, maior quantidade de gotas por litro e me-
em São Joaquim da Barra, SP, tendo sido um dos nor DMV;
fatores decisivos no desenvolvimento da aviação 3. Os volumes de líquido foram reduzidos
agrícola brasileira naquela época. drasticamente;
Essa tecnologia caracteriza-se pelos seguintes 4. As dosagens de defensivos foram reduzidas;
parâmetros: 5. Os rendimentos dos aviões e tratores se
multiplicaram;
Volume de aplicação: 1-5 litros por hectare 6. O tamanho médio das gotas (DMV) diminuiu;
7. O desperdício das gotas grossas diminuiu, e;
• Veículo: óleo vegetal emulsificado. 8. O UBV, a partir de 1965, passou a ser apli-
cado com atomizadores rotativos de tela
Características das neblinas ou de discos que produzem neblina homo-
gênea, com tamanho de gotas controlado
• Gotas muito finas: DMV de 80-120 pela rotação do equipamento.
micrometros;
• Espectro: homogêneo AR de 0,6-1,0. Esses são os princípios fundamentais da
• Densidade de gotas: acima de 10 gotas por tecnologia de aplicação com gotas de tama-
cm2; nho controlado (CDA). Aplicando uma gota de
• Faixa de deposição: 30-50 m aeronaves pe- maior eficiência biológica e mantendo uma
quenas - 50-70 m aeronaves a turbina; densidade de gotas eficiente, usa-se uma fra-
• Fator Amsden: (FA=H. Vv) = entre 40-60. ção do volume de produto químico e aplica-se
muito menos princípio ativo do que nas aplica-
Condições meteorológicas para aplicações ções convencionais.
em UBV A legislação brasileira na área de tecnologia
de aplicação contempla apenas o sistema UBV,
• Temperatura: abaixo de 32°C; exigindo que os produtos usados para aplicações
• Umidade Relativa: não influi; com volumes abaixo de 5 litros por hectare, em
• Inversão Térmica: não aplicar; formulações oleosas, sejam registrados no Mi-
• Velocidade do vento: 3-20 km/h; nistério da Agricultura. Para aplicações acima de
• Direção do vento: de través, com o mínimo 5 litros por hectare não há regulamentação.

225
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

FATORES DE SUCESSO NAS OPERAÇÕES DOS SISTEMAS UBV E BVO

Mistura dos defensivos em nível de campo


Uma mistura mal orientada pode comprometer a eficiência de al-
guns princípios ativos pela alteração do pH ou comprometer a efi-
ciência biológica da neblina pela alteração de seu diâmetro mediano
volumétrico e densidade de gotas. Os nutrientes, quando adiciona-
dos aos defensivos sem os monitoramentos e as correções necessá-
rias, são os principais responsáveis pelos fracassos nas aplicações dos
defensivos. Essa orientação para mistura deve ser dada por pessoal
especializado.

Instalação correta dos equipamentos de aplicação


Colocação correta dos bicos ou dos atomizadores rotativos respei-
tando as restrições pertinentes aos vórtices de hélice e de ponta de
asa de acordo com os manuais de instalação dos equipamentos.

Calibração dos equipamentos de aplicação


Em volume ou taxa de aplicação, faixa de deposição, diâmetro
mediano volumétrico, amplitude relativa, densidade de gotas, e po-
tencial de risco de deriva. Hoje é possível realizar esse trabalho com
grande precisão e velocidade graças aos programas de leitura digital
desenvolvidos pela Embrapa e pelas universidades.

Condições meterológicas favoráveis


Os fatores meteorológicos são determinantes para o sucesso de
uma aplicação aérea; os principais são:

• Temperatura;
• Umidade relativa;
• Vento;
• Fator Amsden (FA), e;
• Estabilidade atmosférica.

4.4 Características do sistema atrai e para matar por ingestão as mariposas


mata (SAM) atraídas.
A evolução da defesa fitossanitária Os atrativos usados como veículos
levou ao uso de substâncias atrativas dos inseticidas são líquidos de alta vis-
para os insetos, misturadas com do- cosidade, que devem ser aplicados com
sagens muito baixas de ingredientes uma tecnologia totalmente diferente
ativos, botânicos, biológicos ou quími- das aplicações convencionais. Essa tec-
cos. Aplica-se apenas 2% das dosagens nologia está sendo desenvolvida no
atuais de inseticidas, o que é suficiente Brasil agora (Figura 20).

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AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

(Fonte: Marcos Vilela de M. Monteiro. 2019)

Figura 20. Turboaero - Modelo TA-SAM (configurado para o sistema atrai e mata); volume de 0,4-0,5 litro
por hectare e faixa de 100 metros

As manchas aplicadas são medidas em milí- Como ocorreu com os sistemas de ultrabaixo
metros, e por isso não há deriva externa nem volume (UBV) e baixo volume oleoso (BVO), esta
no solo. A carga química por hectare para o nova técnica que chamamos de sistema atrai e
controle de lepidópteros será cem vezes me- mata (SAM), apresentará grandes vantagens am-
nor do que nas aplicações convencionais. bientais econômicas e operacionais onde puder
Essa tecnologia caracteriza-se pelos seguintes ser aplicada.
parâmetros: O cientista inglês Edward Bals, especialista em
tecnologia de aplicação, afirmou na Conferência
1. Aplicação de defensivos com volumes de das Organizações Internacionais da FAO, em 1971:
0,4-0,5 litro por hectare; “No controle de insetos, o único alvo que quere-
2. Neblina heterogênea e com tamanho de mos atingir é o centro nervoso do inseto em algum
manchas controlado entre 1-10 mm; estágio de seu desenvolvimento. Uma maneira de
3. Atrativo alimentar como veículo do princípio alcançar isso é destruir o inseto adulto, impedindo
ativo; sua reprodução. O adulto, na maioria dos casos, é o
4. Mistura homogênea do principio ativo na estágio que causa mínimo prejuízo às nossas cultu-
concentração de 2% dos produtos comerciais ras, e, evitando a concepção de sua descendência,
(p.c.) por hectare (10 ml de p.c. por hectare); asseguramos a salvação de nossas colheitas da ma-
5. Faixa de deposição = 100 metros; neira mais efetiva possível. Por isso, se pudermos
6. Altura de aplicação = 5 metros, e; projetar meios pelos quais somente contaminar-
7. Sem restrições de temperatura, umidade re- mos o centro nervoso dos insetos, e nada mais, te-
lativa ou velocidade de vento. remos encontrado a solução ideal.”

Referências bibliográficas: algumas referências no final do manual. Para complementos, entrar


em contato com o autor

227
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

O DropScope: uma ferramenta para


tecnologia de aplicação
A análise visual da deposição de go- da distribuição de gotas, é realizada
tas é uma importante técnica usada na com uso de métodos baseados na uti-
otimização e no controle da aplicação lização de coletores sensíveis a água e
de defensivos agrícolas. A distribuição óleo (papéis hidrossensíveis), em que a
do tamanho das gotas está diretamen- contagem e determinação da distribui-
te associada à qualidade da aplicação. ção de gotas são realizadas pelo próprio
Para cada tipo de defensivo (herbicida, agrônomo, com o auxílio de lentes de
inseticida, fungicida, etc.) indica-se um aumento. Esses papéis registram o ta-
tamanho de gota mais adequado. Se manho das gotas, marcando-as de azul
a gota for menor que esse tamanho, a sobre um fundo originalmente amare-
probabilidade da ocorrência de perdas lo. Esse processo de contagem manual
por deriva ou por evaporação é muito é lento, subjetivo, impreciso e, conse-
alta. Por outro lado, se a gota for muito quentemente, improdutivo.
grande, dada a tensão superficial do lí- O sistema DropScope automatiza a
quido aplicado, haverá problemas rela- contagem das gotas usando de avança-
cionados a escorrimentos e respingos. dos conceitos de Processamento e Aná-
Dessa forma, pode-se afirmar que o es- lise de Imagens, técnicas de Reconhe-
tudo da deposição de gotas tem dois gran- cimento de Padrões e de Inteligência
des impactos: o econômico e o ecológico. Artificial desenvolvidos pela empresa
Estima-se que sejam muitos os gastos Ablevision a partir de tecnologia repas-
decorrentes das perdas ocasionadas pela sada pela Embrapa, validada cientifica-
falta desse controle. Esse montante, quan- mente pelo Instituto Agronômico de
do convertido em moeda, mostra despe- Campinas (IAC) e amplamente aprimo-
sas onerosas dos produtores, visto que o rada com incentivos do IMAmt (Institu-
Brasil movimenta anualmente bilhões de to Mato-Grossense do Algodão).
dólares com defensivos. Neste contexto,
enquanto o excesso de produtos polui o
ar, o solo e a água, a falta de produto ou
uma aplicação errada também é prejudi-
cial, podendo ocasionar o não controle
das pragas ou até mesmo fortalecê-las,
prejudicando a produtividade.
Com a análise da deposição de go-
tas, é possível determinar se o defensivo
chegou a seu alvo (inseto, planta, etc.)
e como chegou. É possível, por exem-
plo, identificar problemas relacionados
ao ajuste do pulverizador, identificar se
o bico aspersor está desajustado, se é o
bico adequado, estima-se pressão impró-
pria, entre outros dos muitos parâmetros
inerentes aos processos de pulverização. Figura 1. Leitor digital do sistema
Atualmente, a maioria das análises DropScope em substituição ao subjetivo
método leitura visual
agronômicas, que envolvem o estudo

228
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IMAmt 2020
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Figura 2. Telas do software do sistema DropScope. Interface produtiva e simples de usar

O sistema é inteligente, pois “entende” qual o de de selecionar áreas de interesse para análise,
objetivo da aplicação, “entrevistando” o usuário permitindo que borrões ocasionados por respin-
por meio de perguntas objetivas e ilustradas, e gos ou impressões digitais acidentais sejam des-
orienta o agrônomo no arranjo dos papéis hi- considerados. Outro atributo muito importante é
drossensíveis. a correção do espalhamento das gotas no papel.
Para que a leitura dos papéis pudesse ser rea- Internamente, o algoritmo (método computacio-
liza em campo, o IMAmt investiu no desenvolvi- nal) implementado no sistema DropScope conse-
mento de um exclusivo leitor digital. Esse leitor gue reconhecer e contar individualmente gotas
fornece imagens para o software que contem parcialmente sobrepostas, o que permite grande
vários recursos importantes como a possibilida- precisão no resultado da análise.

Figura 3. Telas do editor de imagens, gráficos do espectro de gotas e cálculos estatísticos

Após o processamento das imagens, o sis- fornece um diagnóstico básico indicando me-
tema fornece como resultado vários cálculos lhorias, se necessário. Com essas informações, o
como, por exemplo, o volume aplicado em litros agrônomo pode tomar as decisões apropriadas
por hectare, a densidade de gotas (número de para uma aplicação precisa.
gotas por centímetro quadrado), o diâmetro me- Dessa forma, o método é considerado como
diano volumétrico (DMV), o diâmetro mediano uma excelente ferramenta para agrônomos,
numérico (DMN), o maior e o menor diâmetro pesquisadores e produtores que buscam re-
reconhecido (micrômetro), entre outros cálculos. dução de custos, aumento de produtividade e
O sistema faz ainda uma análise do espectro redução de poluição inerentes a aplicações de
de gotas e, dentro do contexto especificado, defensivos.

Mais informações: www.ablevision.com.br

229
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Manejo de plantas daninhas na cultura


do algodão
Introdução de amplo espectro, como glifosato,
Edson R. de glufosinato de amônio e, nos próximos
Andrade Junior A partir do início da década de 1990, a anos, dicamba e 2,4-D, podem trazer
IMAmt cultura do algodão migrou para o Cerra- maior eficiência, segurança e pratici-
do brasileiro, sendo explorada em áreas dade no controle das plantas daninhas,
extensas e com menor declividade, to- mas a preservação das vantagens dessa
talmente mecanizada, por produtores tecnologia demanda uso racional para
advindos da cultura da soja, com forte evitar a seleção de espécies toleran-
estruturação dentro e fora da proprie- tes e biótipos resistentes, os quais têm
dade, o que proporcionou aumento na elevado muito a dificuldade e o custo
produtividade e na qualidade da fibra, do controle.
possibilitando que o Brasil passasse de O modelo de exploração utilizado,
Anderson Luis maior importador mundial para expor- de larga escala, tem por base o uso de
Cavenaghi tador da fibra. herbicidas. Entre essas ações estão o
Univag O controle eficiente de plantas da- uso de herbicidas na dessecação em
ninhas é imprescindível para obtenção pré-semeadura (DPS), em pré-emer-
de maior rendimento e melhor quali- gência (PRÉ), em uma ou mais aplica-
dade da fibra, uma vez que a presença ções de pós-emergência com produ-
dessas plantas reduz a produtividade tos seletivos (PÓS) e eventualmente na
por conta da competição por água, luz, pós-emergência dirigida com produtos
espaço e nutrientes, o que onera e di- não seletivos (PÓS-D).
ficulta a colheita, reduz a qualidade da Após a colheita, há ainda a necessi-
fibra, por manchar as plumas e aumen- dade de destruir os restos culturais do
tar suas impurezas, além de as plantas algodoeiro, em uma operação chama-
Sebastião daninhas serem hospedeiras de pragas, da de destruição de soqueira. Nessa
Carneiro
nematoides e outros patógenos. operação também é comum a utiliza-
Guimarães
UFMT
Algumas características da cultura ção de herbicidas.
tornam o controle de plantas daninhas
mais difícil, como o maior espaçamen- 1. Controle de plantas daninhas na
to entrelinhas utilizado, o crescimen- cultura do algodão
to lento da parte aérea nos primeiros As espécies de plantas daninhas que
estádios, a necessidade de manter as predominam em um dado agroecossis-
plantas da cultura com porte baixo (uso tema têm como características comuns
de reguladores de crescimento), baixa a adaptação às condições climáticas e
tolerância a alguns herbicidas que são edáficas do local e a resistência ou to-
importantes na prevenção e no contro- lerância aos métodos de controle. As-
le de biótipos resistentes, o ciclo longo sim, há variação na composição espe-
(170-200 dias, em média) e a necessida- cífica e na densidade da comunidade
de de se ter a lavoura limpa por ocasião infestante nos diferentes locais de cul-
da colheita. Com isso, é preciso manter tivo, mesmo entre talhões da mesma
o algodoeiro livre de plantas daninhas propriedade, tendo por base o banco
durante quase todo o ciclo, exigindo-se de sementes do solo, reflexo das cul-
assim várias intervenções de controle. turas e das práticas adotadas ao longo
Variedades resistentes a herbicidas dos anos. Dentro da comunidade de

230
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

plantas daninhas, há um grupo muito especiali- (Solanum americanum), o apaga-fogo (Alternanthera


zado, com ampla ocorrência nas várias regiões de tenella), o mentrasto (Ageratum conyzoides), e o car-
cultivo, que evoluíram e permanecem nos siste- rapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum).
mas agrícolas dadas as características comuns e A integração de métodos de controle deve ser
ecologicamente simplificadas destes. Essas plan- sempre adotada para manejar as plantas dani-
tas daninhas são as que recebem maior importân- nhas, e o controle cultural tem papel importante
cia no planejamento de controle pelos potenciais no efeito final do manejo em algodoeiro. Assim,
prejuízos à produção, danos que podem causar o uso da própria cultura para impor barreiras
à operação de colheita, além da contaminação ao estabelecimento e ao desenvolvimento das
das fibras. plantas daninhas tem sido considerado ferra-
Entre as plantas daninhas frequentes na maio- menta muito efetiva à disposição do cotonicul-
ria das áreas de cultivo do algodoeiro, e cuja tor. O efeito depende da implantação correta da
presença normalmente define as estratégias de cultura, considerando-se variedade, espaçamen-
controle, podem ser citadas o leiteiro (Euphorbia to entrelinhas, época e densidade de semeadura,
heterophylla), o picão-preto (Bidens subalternans fertilização adequada e bom manejo fitossanitá-
e Bidens pilosa), várias espécies de caruru (Ama- rio, o que resulta em plantas vigorosas e sadias,
ranthus spp.), a trapoeraba (Commelina bengha- com maior potencial competitivo. O controle
lensis), o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), cultural pode incluir ainda práticas como a rota-
a corda-de-viola (Ipomoea triloba e outras), o ção de culturas, a adubação verde e a cobertura
capim-colchão (Digitaria horizontalis), o capim- morta. A implantação do algodoeiro sobre áreas
-amargoso (Digitaria insularis), a buva (Conyza utilizadas no consórcio de milho e braquiária é
spp.) e o capim-carrapicho (Cenchrus echinatus). um exemplo de prática que beneficia a cultura
Situações mais específicas incluem, entre outras, em detrimento das plantas daninhas: a braquiá-
o joá-bravo (Solanum viarum e outras), a vassou- ria dessecada deixa grande massa de palha no
ra-de-botão (Borreria verticillata), o joá-de-ca- solo (Figura 1), sobre a qual se faz a semeadura
pote (Nicandra physaloides), a maria-pretinha da cultura do algodão.
(Imagem: Anderson L. Cavenaghi)

Figura 1. Palhada de braquiária (Urochloa ruziziensis) dessecada, antecedendo a semeadura do algodoeiro

231
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Métodos preventivos, que sempre se Um complicador na cotonicultura,


constituíram em importantes ferramen- além do longo período de controle, é
tas de manejo ao evitar a entrada de se- a baixa disponibilidade de herbicidas
mentes e/ou disseminação de plantas seletivos para a cultura. Mesmo com o
daninhas de difícil controle nas áreas de uso de variedades de algodão transgê-
cultivo, ganharam muita importância nicas, com a ocorrência de resistência
com o surgimento dos biótipos resisten- de plantas daninhas, há a necessidade
tes a herbicidas. Entre as práticas estão o do uso de herbicidas com diferentes sí-
uso de sementes de boa procedência e tios de ação, o que tem sido contorna-
sem contaminação de plantas daninhas, do com aplicações de pós-emergência
eliminação de focos de plantas daninhas dirigidas às plantas daninhas.
vegetando em carreadores e estradas, O uso da transgenia para seletivida-
repasses em falhas de controle e limpe- de a herbicidas criou alternativas para o
za de implementos que possam estar manejo de plantas daninhas nessa cul-
disseminando propágulos indesejáveis. tura, porém, a integração de diferentes
Essas medidas apresentam alta relação métodos de controle e rotação de sí-
custo-benefício, porém requerem de- tios de ação é necessária para alcançar
terminação, tempo e atenção da equipe a maior eficiência possível e prevenir a
técnica da propriedade. seleção de biótipos resistentes.
Como já citado, a colheita do algo- Vale ressaltar que, considerando as
dão deve ser realizada no limpo para publicações sobre períodos de inter-
evitar contaminação e manchas na ferência de plantas daninhas para essa
pluma. Esse fato requer, muitas vezes, cultura, o período crítico pode variar de
a adoção de medidas de controle de 10-20 dias até 60-80 dias. Esses valores
plantas remanescentes, mesmo após o podem variar, pois são influenciados
fechamento das entrelinhas da cultura. por diversos fatores, mas indicam uma
A prática pode ser realizada por meio interferência logo no início da cultura e
de método mecânico, na modalidade que coincide com uma fase de desen-
capina manual, embora deva restringir- volvimento inicial lenta, aumentando a
-se a situações emergenciais, porque, importância da semeadura no limpo e
além da grande demanda de mão de do uso de herbicidas pré-emergentes.
obra e custo, muitas vezes é realizada
quando as plantas daninhas já produzi- 1.1 Dessecação das plantas daninhas
ram e liberaram suas sementes, reabas- antes da semeadura
tecendo o banco de sementes do solo. Em Mato Grosso, a semeadura do
O método químico, representado algodoeiro inicia-se entre os meses de
pelo uso de herbicidas, tornou-se mui- dezembro e janeiro e encerra-se nor-
to difundido e útil em várias culturas, malmente até o final do mês de feve-
sendo imprescindível nas grandes áreas reiro. Antes da semeadura, a cobertura
algodoeiras, pelas vantagens como alta vegetal da área deve ser eliminada, o
eficiência, rapidez na execução e menor que pode ser realizado por operações
emprego de mão de obra. No entanto, mecânicas de aração e gradagem ou
sua recomendação e uso demandam pela dessecação química.
melhor qualificação dos técnicos e ope- A dessecação é, primariamente,
radores de máquinas para que os obje- uma atividade de preparo de área para
tivos sejam atingidos, quais sejam, ob- a semeadura, que consiste na aplica-
ter a melhor eficiência no controle das ção de herbicidas para controlar a ve-
plantas daninhas com menor impacto getação existente, de forma a permitir
sobre a cultura e o ambiente. bom desempenho das semeadoras e

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emergência das plântulas da cultura em ambien- é realizada em duas etapas (aplicações sequen-
te livre de plantas daninhas. Para essa prática são ciais). Nesse caso, geralmente se utiliza(m) pro-
utilizados herbicidas de pós-emergência de largo duto(s) sistêmico(s) na primeira aplicação, com
espectro, capazes de controlar plantas em está- a vegetação maior, e os de contato na segunda
dios mais avançados de desenvolvimento, nor- aplicação, adicionando nessa os residuais, quan-
malmente sem efeito residual, sendo o glifosato do for o caso. A alternância de sítios de ação nes-
o mais utilizado. Para melhor desempenho sobre se processo é ferramenta importante para evitar
algumas espécies latifoliadas, às vezes são adicio- ou manejar a resistência de plantas daninhas
nados outros herbicidas, como carfentrazona e flu- a herbicidas.
mioxazin; o herbicida 2,4-D, por sua ação residual Visando facilitar o manejo subsequente, po-
e potencial fitotóxico ao algodoeiro, não tem sido dem ser associados herbicidas residuais seletivos
recomendado. Caso a área a ser semeada com al- ao algodoeiro, os quais não devem prejudicar
godoeiro tenha, por algum motivo, recebido esse a ação dos dessecantes; em muitos casos, os re-
herbicida, torna-se necessário aguardar um perío- siduais podem melhorar a rapidez e/ou o efeito
do entre a aplicação e a semeadura, que depende final da dessecação.
da dose utilizada e da dinâmica do ingrediente ati- As aplicações sequenciais na dessecação são
vo no solo. Esse intervalo é menor quanto maior for mais oportunas nas primeiras épocas de semea-
a capacidade de sorção da molécula no solo, prin- dura (dezembro), situação em que o algodoeiro é
cipalmente maior teor de matéria orgânica, e mais a principal cultura na área, chamado de algodão
favoráveis forem as condições para sua dissipação, safra. Quando o algodoeiro é explorado como
com alta pluviosidade no período. Na falta de parâ- segunda safra (algodão safrinha), logo após a co-
metros seguros, aguardam-se em média trinta dias lheita da soja (Figura 2), a área tem que ser ime-
entre o uso de 2,4-D e a semeadura. diatamente dessecada e não há tempo hábil para
Produtos de contato, como paraquat e diquat, se esperar 10-15 dias até a realização de uma se-
são também utilizados, principalmente quan- gunda aplicação de dessecação. Nesse caso, e de-
do a vegetação a ser dessecada é composta por pendendo da infestação da área no momento da
plantas em estádios iniciais e de ciclo anual. Têm colheita da soja, os herbicidas para dessecação,
ação rápida e são úteis quando ocorrem rein- normalmente o glifosato, serão aplicados com os
festações em áreas preparadas mecanicamente, herbicidas de pré-emergência, imediatamente
ou na segunda aplicação, quando a dessecação antes ou logo após a semeadura do algodoeiro.
(Imagem: Anderson L. Cavenaghi)

Figura 2. Semeadura do algodoeiro realizada logo após a colheita da soja

233
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Aplicações sequenciais apresen- intrínsecas da cultura — como desenvol-


tam a vantagem de eliminar os novos vimento lento da parte aérea nas primei-
fluxos de emergência que ocorrerem ras três semanas após a emergência, se-
após a primeira aplicação, o que mini- letividade marginal de alguns herbicidas
miza a incidência dessas plantas após e maior espaçamento entrelinhas —, o
a instalação da cultura. Também, com uso de produtos com ação em pré-emer-
o uso de herbicidas com diferentes sí- gência têem-se mostrado vantajoso por
tios de ação, pode-se ainda prevenir o constituir-se em alternativa para o con-
surgimento de biótipos de plantas da- trole de espécies tolerantes e/ou resis-
ninhas resistentes. tentes, opção para variar os sítios de ação,
Herbicidas utilizados na cultura da além de reduzir a interferência inicial e
soja, como sulfentrazone, diclosulam melhorar as condições para a atuação
e chlorimuron-ethyl, dependendo dos produtos de pós-emergência. Essa
das condições de dissipação, podem modalidade de aplicação também me-
causar danos ao algodoeiro semeado lhora a distribuição no uso de máquinas
subsequentemente. na propriedade.
A vegetação a ser dessecada pode O principal herbicida utilizado em
constituir-se de culturas de cobertura pré-emergência na cultura do algodão
semeadas com essa finalidade, plantas é a trifluralina; além deste, os herbi-
da cultura anterior e plantas daninhas. cidas diuron e clomazone podem ser
O tratamento dessecante (produtos, utilizados. Ainda há a possibilidade do
doses, número e época de aplicação) é uso de pedimenthalin e alachlor nessa
definido em função das espécies a se- modalidade.
rem controladas e de sua densidade, A aplicação em pré-emergência é
estádio de desenvolvimento e altura do realizada logo após a semeadura da cul-
dossel, e também do intervalo de tem- tura. Em sistema de plantio convencio-
po entre a dessecação e a semeadura, nal, o solo deve estar bem preparado,
importante quando se pretende usar livre de torrões e apresentar umidade
herbicidas residuais não seletivos ao al- para melhor distribuição e disponibili-
godoeiro, como o 2,4-D. zação do herbicida no solo. No sistema
A escolha do tratamento dessecante de semeadura direta, quanto menor
deve merecer atenção especial quando, a quantidade de massa verde presen-
na comunidade a ser dessecada, hou- te no momento da aplicação, maiores
ver plantas daninhas ou culturas resis- quantidades do herbicida deverão atin-
tentes a herbicidas, devendo existir na gir o solo. Assim, é interessante que, ha-
composição do tratamento ingredien- vendo grande quantidade de massa ve-
tes ativos capazes de controlá-las. getal na área, e em sendo planejado o
Os produtos registrados para uso uso de tratamento em pré-emergência,
nessa modalidade no Brasil são nor- que esse seja feito após a completa des-
malmente disponibilizados na rede secação das plantas. Nos dois sistemas,
mundial de computadores pelo Minis- a umidade é imprescindível para o bom
tério da Agricultura, Pecuária e Abas- funcionamento do herbicida, e as doses
tecimento (Mapa), por meio da ferra- devem ser ajustadas para os teores de
menta Agrofit. argila e matéria orgânica do solo.
Caso haja plantas daninhas recém-e-
1.2 Aplicação de herbicidas em mersas no momento da aplicação de pré-
pré-emergência -emergência, é comum a associação de um
Considerando-se as características herbicida para o controle dessas plantas,

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utilizando-se normalmente paraquat ou glifosato. herbicidas, os produtos de pré-emergência não


O herbicida s-metolachlor, cuja ação ocorre na perderam importância, sendo ferramentas mui-
pré-emergência das plantas daninhas, tem sido to úteis no controle e na prevenção à seleção de
aplicado entre os estádios “orelha de onça” e se- espécies tolerantes e biótipos resistentes. Como
gunda folha verdadeira do algodoeiro, o que se exemplo, nas cultivares resistentes a glifosato, her-
tem mostrado interessante porque aumenta o bicidas de pré-emergência auxiliam no controle de
período coberto pelo controle residual dentro do espécies tolerantes, como trapoeraba e corda-de-
ciclo da cultura. -viola, e de biótipos resistentes de capim-amargo-
O uso de herbicidas em pré-emergência da cul- so (Digitaria insularis), capim-pé-galinha (Eleusine
tura e das plantas daninhas garante o desenvolvi- indica) (Figura 3), buva (Conyza spp.) e caruru-pal-
mento inicial livre da interferência e reduz a den- meri (Amaranthus palmeri). As variedades resisten-
sidade de plantas daninhas a serem controladas tes ao glufosinato ajudam no controle de algumas
pelos herbicidas aplicados em pós-emergência. gramíneas, como capim-pé-de-galinha, e latifolia-
Nas cultivares transgênicas resistentes a das, como o apaga-fogo (Alternanthera tenella).
(Imagem: Edson Andrade Junior)

Figura 3. Biótipos de capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) resis-


tentes a herbicidas inibidores da ACCase em lavoura de algodão no
Estado de Mato Grosso

235
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

1.3 Aplicação de herbicidas seletivos da cultura, pois, antes dessa fase, pode
em pós-emergência causar fitotoxicidade: sintomas leves a
Normalmente, a necessidade de moderados têm sido observados, sem,
controle das plantas daninhas vai até contudo, causarem redução no rendi-
60-80 dias do ciclo, para que não haja mento e na qualidade da fibra. Os her-
prejuízos na quantidade produzida. bicidas piritiobaque-sódico e trifloxis-
Após esse período, infestações porven- sulfurom-sódico podem ser aplicados
tura existentes podem ainda compro- associados ou sequencialmente, respei-
meter a qualidade da fibra e a opera- tando-se o estádio de desenvolvimento
cionalização da colheita. Mesmo com das plantas daninhas, devendo-se evitar
a aplicação de herbicidas eficientes em uso conjunto com graminicidas de pós-
pré-emergência, dificilmente se conse- -emergência. Vale ressaltar que esses
gue chegar à colheita sem que ocorram herbicidas são utilizados no controle de
novas emergências de plantas dani- plantas voluntárias de soja, que ocorrem
nhas. Assim, são necessárias as inter- quando o algodoeiro sucede essa cul-
venções em pós-emergência, que têm tura, devendo-se também, nesse caso,
por objetivo controlar as plantas dani- observar a dose do herbicida e o estádio
nhas emersas dentro da cultura, preve- das plantas a serem controladas.
nindo os efeitos diretos ou indiretos de Um problema particular das culti-
sua interferência. vares convencionais são os biótipos de
Uma dificuldade encontrada nessa plantas daninhas resistentes a herbi-
modalidade é o número reduzido de in- cidas inibidores da ALS, uma vez que
gredientes ativos com ação sobre plan- tanto o piritiobaque-sódico quanto o
tas daninhas latifoliadas, seletivos para trifloxissulfurom-sódico agem nesse sí-
variedades de algodoeiro convencio- tio de ação.
nais. Essas limitações vêm sendo supe- O controle de gramíneas (poáceas)
radas em cultivares transgênicas, com tem sido realizado com os herbicidas
a possibilidade do uso em pós-emer- inibidores da ACCase, que apresen-
gência total de herbicidas de largo es- tam controle excelente desse grupo
pectro, como glifosato (variedades RF), de plantas daninhas e alta seletividade
glufosinato de amônio (variedades LL e para o algodoeiro. Dentre os principais
LTP) ou ambos (variedades GL e GLT). ingredientes ativos utilizados estão o
Nas cultivares convencionais, os lati- clethodim, o haloxyfop-methyl, o te-
folicidas utilizados são o piritiobaque- praloxydim, o fluazifop-p-butyl, o se-
-sódico e o trifloxissulfurom-sódico. O thoxydim, e o quizalofop-p-ethyl. No-
primeiro é recomendado em aplicação vamente, um problema das cultivares
única entre uma e duas semanas após convencionais são as plantas daninhas
a emergência das plantas daninhas- com biótipos resistentes a herbicidas
-alvo, ou em duas aplicações sequen- inibidores da ACCAse, como o capim-
ciais com intervalo de 5-15 dias. O tri- -pé-de-galinha (Eleusine indica).
floxissulfurom-sódico é indicado para É importante destacar que, atualmen-
aplicações duas a três semanas após a te, grande parte da área algodoeira utiliza
semeadura, respeitando-se um limite variedades transgênicas com resistência
mínimo de quatro folhas verdadeiras a herbicidas, conforme a Tabela 1.

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Tabela 1. Porcentagem de uso de cultivares de algodoeiro convencionais e com tecnologias de resistência a herbici-
das, no Estado de Mato Grosso, nas safras 2011/2012, 2015/2016 e 2018/2019

Resistência a Safra Safra Safra


Tecnologia
herbicidas 2011/2012 2015/2016 2018/2019

Convencional - 66,5 1,5 1,3


WS * 1,1 65,5 20,3
B2RF - RF - BGRR glifosato 1,1 11,7 32,9
LL glufosinato 31,3 1,5 -
GL – GLT - GLTP glifosato e glufosinato - 19,8 45,5
(Fonte: IMAmt)

WS – WideStrikeTM; B2RF – Bollgard 2 Roundup Ready FlexTM; RF – Roundup Ready FlexTM; BGRR – Bollgard Roundup ReadyTM;
LL – Liberty LinkTM; GL – GlyTol LibertyTM; GLT – GlyTol Liberty TwinLinkTM; GLTP – GlyTol Liberty TwinLink PlusTM
*Embora não haja recomendação nem registro, cotonicultores têm usado glufosinato em cultivares com essa tecnologia.

O uso de variedades de algodão transgênicas anteriormente, e que exigirá a aplicação de her-


resistentes aos herbicidas glifosato, glufosinato bicidas diferentes, é a presença de plantas de soja
de amônio ou a estes dois herbicidas é mais uma voluntárias resistentes ao glifosato.
ferramenta no manejo de plantas daninhas, pre- As variedades GL, GLT e GLTP são amplamente
conizando-se até três aplicações desses ingre- adotadas pela possibilidade do uso de glifosato
dientes ativos na mesma safra. Nas variedades e/ou glufosinato de amônio, este último é extre-
que resistem a esses dois ingredientes ativos, eles mamente eficiente no controle de folhas largas,
devem ser alternados no mesmo ciclo para retar- como leiteiro, corda-de-viola e caruru. Para o gli-
dar problemas com resistência. fosato são as mesmas recomendações descritas
Para o algodão RR FlexTM, o glifosate pode ser anteriormente. Nessa tecnologia também são
aplicado em qualquer estádio da cultura até pró- realizadas duas ou três aplicações, mas, nesse
ximo da colheita. O número de aplicações vai de- caso específico, há a possibilidade de intercalar
pender das espécies e de reinfestações nas áreas, a aplicação dos dois herbicidas, que, por apre-
mas, normalmente, de duas a três aplicações serão sentarem diferentes sítios de ação, contribuem
necessárias para que não haja interferência das para retardar a seleção de biótipos resistentes.
plantas daninhas. Embora o glifosato seja uma ex- Quando a semeadura for realizada em área com
celente ferramenta de controle, para evitar proble- presença de plantas de soja voluntárias, o inte-
mas com resistência deve-se fazer o uso racional ressante é utilizar primeiramente o glufosinato
dessa tecnologia, evitando o uso exclusivo desse de amônio, para que o mesmo seja aplicado em
herbicida. A utilização de pré-emergentes deve estádios iniciais dessas plantas voluntárias, ob-
ser recomendada principalmente para auxiliar no tendo-se maior eficiência de controle. Deve-se
controle de plantas tolerantes ao glifosato, como sempre considerar o estádio das plantas dani-
a trapoeraba. Algumas associações com glifosato nhas para aplicação, sendo dois pares de folhas
também são possíveis, como aquelas com piritio- para latifoliadas e até um perfilho para gramí-
baque-sódico e com s-metolachlor. Biótipos de ca- neas. Reitera-se a necessidade do uso de herbi-
pim-amargoso e capim-pé-de-galinha resistentes cidas em pré-emergência, aqui recomendados
ao glifosate não são controlados por esse herbici- para melhorar o controle de gramíneas e reduzir
da, o que requererá outra estratégia, como o uso a quantidade de plantas a serem controladas em
de graminicidas. Outro problema já mencionado pós-emergência.

237
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Em médio prazo, será lançada a tecno- 1.4 Aplicação de herbicidas não seleti-
logia Bollgard II Xtendflex CottonTM, que vos em pós-emergência - jato dirigido
conferirá resistência a dicamba, glifosato A aplicação em jato dirigido no algo-
e glufosinato de amônio na mesma va- doeiro permite o uso de herbicidas não
riedade de algodão, sendo essa tecnolo- seletivos por meio do direcionamento
gia de extrema importância para rotação da calda pulverizada para as folhas das
de sítios de ação e, se bem utilizada, será plantas daninhas e para o solo, evitan-
muito útil no manejo de espécies não gra- do-se as folhas da cultura. Essa aplica-
míneas já resistentes ao glifosato (buva, ção pode ser realizada em diferentes
caruru-palmeri), e, principalmente, na estádios da cultura, mas, normalmen-
prevenção de novos casos de resistência. te, ocorre após a lignificação do caule
A tecnologia EnlistTM está sem estima- na base da planta, por volta dos 50-70
tiva de lançamento no Brasil, sendo que dias após a emergência, e tem como
ela confere resistência ao herbicida 2,4-D finalidade controlar plantas daninhas
e glufosinato de amônio, com a mesma remanescentes e permitir a colheita da
vantagem citada anteriormente (mais de cultura no limpo. Se realizada antes da
um sítio de ação em um mesmo evento). lignificação do caule, deve-se utilizar
Porém, essa tecnologia trará grande im- proteção física para que a calda pulve-
passe na eliminação dos restos culturais rizada não atinja folhas e o caule ain-
do algodoeiro (destruição de soqueira), da verde, para evitar a fitotoxicidade
pois, atualmente, quando se emprega o (Figura 4). Na Figura 5, pode-se ver o
método de destruição química, o princi- modelo de proteção chamado popular-
pal produto utilizado é o 2,4-D. mente de “casinha de cachorro”.
(Imagem: Anderson L. Cavenaghi)

Figura 4. Sintomas de fitotoxicidade causada pela aplicação em jato dirigido

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(Imagem: Luis Henrique Kasuya)

Figura 5. Equipamento para aplicação protegida de pós-emergente em jato dirigido

Após a lignificação do caule do algodoeiro, custo quando comparado a outros métodos. No


normalmente identificada pela troca de colora- entanto, o uso adequado dessa ferramenta exi-
ção verde para marrom, há condições de apli- ge maiores conhecimentos técnicos para que ela
cação sem a necessidade de proteção da calda, seja eficiente agronômica e economicamente,
pois a absorção pelo caule passa a ser reduzida. com o mínimo de impactos ao ambiente. A se-
Contudo, é preciso muito cuidado durante a pul- leção de espécies tolerantes e biótipos resisten-
verização, mantendo o conjunto barra-bicos em tes a herbicidas é hoje um dos principais pro-
uma altura que evite o contato do herbicida com blemas relacionados ao uso não racional dessas
as folhas da cultura. substâncias.
Nas aplicações mais tardias, para que não Biótipos de plantas daninhas resistentes são
ocorram danos físicos às plantas desenvolvidas formados a partir de processos evolutivos, nos
do algodoeiro causados pelo conjunto pulve- quais indivíduos de uma espécie que melhor se
rizador, partes desse podem ser elevadas por adaptam a determinada prática são selecionados
meio dos chamados “trampos”. e vão aumentando sua população. Assim, como
Diferentes herbicidas podem ser utilizados resultado da aplicação de um herbicida, haverá
nessa modalidade, normalmente associando-se morte dos indivíduos sensíveis, e os biótipos re-
um herbicida residual a um pós-emergente não sistentes, já existentes, sobreviverão, produzirão
seletivo. Alguns ingredientes ativos que podem sementes e terão suas densidades aumentadas
ser utilizados são atrazina, MSMA, glufosinato na área. A aplicação consecutiva de herbicidas
de amônio, diuron, saflufenacil flumioxazina, e com o mesmo sítio de ação sobre uma população
carfentrazone-ethyl. A cultura a ser implantada de plantas daninhas aumentará as chances de
após o algodoeiro deve ser considerada na esco- seleção e, posteriormente, multiplicação de bió-
lha de herbicidas residuais, devendo-se seguir a tipos resistentes. Após alguns ciclos o aumento
recomendação correta de cada produto. dos biótipos resistentes passa a ser visualmente
observável como falha de controle.
2. Resistência de plantas daninhas a herbicidas A resistência de plantas daninhas a herbicidas
O controle de plantas daninhas com herbicidas é questão de grande importância, tornando o
é amplamente utilizado na agricultura, pois, além controle cada vez mais difícil e oneroso, princi-
de eficiente, é ágil e tem boa relação benefício/ palmente quando existem poucas alternativas

239
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

para o manejo como na cultura do em biótipos de caruru-palmeri. No en-


algodão. Esse problema pode evoluir tanto, há atualmente grande preocu-
para situações mais graves caso haja a pação com a resistência não relaciona-
ocorrência de resistência múltipla, ou da ao local de ação do herbicida, pela
seja, um biótipo de planta daninha re- possibilidade de agir simultaneamen-
sistente a dois ou mais sítios de ação. te em vários sítios de ação. Esse meca-
nismo pode originar-se de um ou mais
2.1 Mecanismos de resistência de processos, como a metabolização do
plantas daninhas a herbicidas herbicida pela planta; compartimen-
Dentro de uma população de plan- talização ou sequestro do herbicida; e
tas daninhas suscetível a determinado baixa absorção e/ou translocação.
tratamento herbicida, ocorrem bió-
tipos que são naturalmente resisten- Resistências cruzada e múltipla
tes, e isso pode acontecer por causas Considera-se resistência cruzada o
distintas, chamadas de mecanismos fato de um biótipo ter sido seleciona-
de resistência. Entre esses, o mais fre- do por um herbicida, mas que esse me-
quente tem sido a perda de afinidade canismo o fez ficar resistente também
ao herbicida pela alteração no sítio de a outros herbicidas que têm o mesmo
ação, comuns em herbicidas inibidores sítio de ação. Como exemplo, os bió-
da ALS (chlorimuron, diclosulan, ima- tipos de leiteiro resistentes a imaze-
zethapyr etc.) e da ACCase (haloxyfop, thapyr e clorimuron, selecionados na
clethodim etc.), mas também em inibi- cultura da soja, apresentaram também
dores da EPSPs (glifosato). No caso do resistência a piritiobaque-sódico e tri-
glifosato, outro mecanismo de resis- floxissulfurom-sódico, usados no algo-
tência conhecido é a produção abun- doeiro, sem que nunca tivessem sido
dante da enzima-alvo, como ocorre expostos a esses herbicidas. Os quatro
herbicidas atuam inibindo a ação da
enzima ALS.
A resistência múltipla ocorre quan-
(Imagem: Edson Andrade Junior)

do a planta daninha é resistente a dois


ou mais herbicidas, sendo esses de
diferentes sítios de ação. Esse tipo de
resistência dificulta seriamente o ma-
nejo da planta daninha, pois limita as
opções de herbicidas que podem ser
utilizados no controle daquele biótipo,
podendo inviabilizar o controle quími-
co em certas situações. Como exem-
plo, há biótipo de Amaranthus palmeri
em Mato Grosso com resistência a her-
bicidas inibidores da EPSPS (glifosato)
e inibidores da ALS (Figura 6). Outro
exemplo já identificado são biótipos
de capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)
com resistência múltipla a glifosato e
Figura 6. Biótipos de caruru-palmeri (Amaranthus palmeri) resis- inibidores da ACCase.
tentes a herbicidas inibidores da ALS e inibidores da EPSPS em
lavoura de algodão no Estado de Mato Grosso

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2.2 Panorama de plantas daninhas resistentes a O trabalho foi realizado nos anos de 2012 e
herbicidas em áreas algodoeiras de Mato Grosso 2017, nos núcleos de produção algodoeira de
Com base no histórico e no grande número Mato Grosso, onde foram coletadas amostras de
de reclamações de falhas de controle de plantas sementes de plantas daninhas que escaparam
daninhas em áreas algodoeiras em Mato Grosso, ao controle, e havia suspeitas de que se tratavam
o Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt) de biótipos com resistência (Figuras 7 a 10); após
e a Associação Mato-Grossense dos Produtores esse periodo, o monitoramento passou a ser fei-
de Algodão (Ampa) realizaram levantamento e to através dos grupos técnicos do algodão (GTAs)
monitoramento de plantas daninhas resistentes dos diferentes núcleos algodoeiros do Estado de
a herbicidas em áreas algodoeiras, em parceria Mato Grosso.
com o UNIVAG Centro Universitário e com a Uni- Na Tabela 2 encontram-se as principais espé-
versidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com cies com biótipos resistentes e os herbicidas e
recursos do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA). sítios de ação a eles relacionados.

Tabela 2. Espécies de plantas daninhas em áreas algodoeiras dos núcleos de produção de Mato Grosso, com
biótipos resistentes a herbicidas

Planta daninha Herbicida Mecanismo de ação

Picão-preto (Bidens subalternans) piritiobaque-sódico e trifloxissulfurom-sódico Inibidores da ALS

Leiteiro (Euphorbia heterophylla) piritiobaque-sódico e trifloxissulfurom-sódico Inibidores da ALS

Caruru-rasteiro (Amaranthus deflexus) piritiobaque-sódico e trifloxissulfurom-sódico Inibidores da ALS

Caruru-gigante (Amaranthus piritiobaque-sódico e trifloxissulfurom-sódico / Inibidores da ALS /


retroflexus) fomesafen inibidores da Protox
piritiobaque-sódico e trifloxissulfurom-sódico / Inibidores da ALS /
Caruru-palmeri (Amaranthus palmeri)
glifosato inibidores da EPSPS
Mentrasto (Ageratum conyzoides) trifloxysulfuron-sodium Inibidores da ALS
piritiobaque-sódico e trifloxissulfurom-sódico / Inibidores da ALS /
Buva (Conyza spp.)
glifosato inibidores da EPSPS

Capim-amargoso (Digitaris insularis) glifosato Inibidores da EPSPS

Inibidores da ACCase /
Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) clethodim, tepraloxydim e haloxyfop / glifosato
inibidores da EPSPS

2.3 Práticas para prevenção e controle de seletivos. No caso das culturas com resis-
plantas daninhas resistentes aos herbicidas tência a herbicidas, deve-se atentar para al-
ternar os “traits”, evitando mudar a cultura e
• Uso de herbicidas com diferentes sítios de continuar usando o mesmo herbicida;
ação na mesma área, o que pode ser facili- • Uso associado de herbicidas com diferen-
tado com a rotação e sucessão de culturas tes sítios da ação, com sobreposição do es-
e as opções de variedades de algodoeiro pectro de ação;
transgênicos resistentes aos herbicidas não • Realização de observações sistemáticas nas

241
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

áreas, antes e após aplicação de estruturas de reprodução;


herbicidas, para certificar-se da • Além de método químico, em caso
eficiência do tratamento aplica- de escapes, usar métodos não quí-
do, fazendo controle efetivo de micos, como a capina manual e
plantas remanescentes suspeitas o controle mecânico, desde que
de resistência, antes que essas realizados antes da produção de
(Imagem: Edson Andrade Junior)
produzam sementes ou outras sementes pelas plantas daninhas.

Figura 7. Biótipos de mentrasto (Ageratum conyzoides) resistentes a herbicidas inibido-


res da ALS em lavoura de algodão no Estado de Mato Grosso
(Imagem: Anderson Cavenaghi)

Figura 8. Biótipos de leiteiro (Euphorbia heterophylla) resistentes a herbicidas inibidores


da ALS em lavoura de algodão no Estado de Mato Grosso

242
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IMAmt 2020
2012

Considerações no manejo de plantas daninhas em variedades


resistentes a herbicidas
No manejo das plantas daninhas, o uso de herbicidas de
pré-emergência, além de evitar a competição inicial, é mais uma
oportunidade de incluir sítio de ação diferente no manejo.
Uso de herbicidas latifolicidas (que controlam folhas largas)
seletivos ao algodoeiro convencional (piritiobaque-sódico e tri-
floxissulfurom-sódico), que além de controlar a soja voluntária
atuam na prevenção de resistência de plantas daninhas por pos-
suírem sítios de ação diferentes do glifosato e do glufosinato de
amônio.
Rotação de evento “trait ” – no sistema soja-milho-algodão,
para evitar aplicações sucessivas de um mesmo ingrediente ativo,
o que pode levar à seleção de plantas daninhas resistentes;
Atenção especial para as espécies de difícil controle pelo glifo-
sato, como corda-de-viola, erva-quente e trapoeraba, e pelo glu-
fosinato de amônio, como apaga-fogo e gramíneas, especialmen-
te o capim-pé-de-galinha.
Em variedades que possuem o evento Glytol LibertLink TM, procu-
rar alterar aplicações de glifosato e glufosinato de amônio, retardan-
do a seleção de biótipos resistentes a cada um dos dois herbicidas.

2.4 Panorama futuro de espécies de plantas prazo e tendo como objetivo o sistema.
daninhas resistentes a herbicidas em Atenção deve ser dada a espécies que já se
áreas algodoeiras tornaram problema em outras regiões/países,
Com o advento das variedades transgêni- como sorgo-de-alepo (Sorghum halepense),
cas resistentes ao glifosato, esse produto, de leiteiro (Euphorbia heterophylla), capim-pé-de-
baixo custo e alta eficiência, teve grande au- -galinha (Eleusine indica) e picão-preto (Bidens
mento no uso em áreas algodoeiras, e essas, subalternans e B. pilosa), essa com biótipo re-
geralmente, são usadas com soja e/ou milho sistente a glifosato recentemente identificado
em rotação e/ou sucessão, culturas que mui- no Paraguai. Também nesses casos, prevenir é
tas vezes são tratadas com esse mesmo her- melhor que remediar, e o custo de não adotar
bicida. Como aplicações repetidas do mesmo medidas preventivas pode ser muito alto. As-
ingrediente ativo, ou ingredientes ativos que sim, reforça-se a maior importância de monito-
tenham o mesmo sítio de ação, constituem- ramento nas áreas cultivadas com variedades
-se no principal fator selecionador de plantas resistentes a herbicidas, observando especial-
daninhas tolerantes ou resistentes, cuidado mente essas plantas daninhas, mas não negli-
especial deve ser realizado no manejo, cujas genciando outras que estejam sobrando e/ou
prescrições de herbicidas devem conside- aumentando suas densidades populacionais
rar esse fato, tomando medidas de médio nas áreas.

243
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Edson Andrade Junior)

Figura 9. Biótipos de caruru-gigante (Amaranthus retroflexus) resistentes a herbicidas inibidores


da ALS em lavoura de algodão no Estado de Mato Grosso
(Imagem: Edson Andrade Junior)

Figura 10. Biótipos de buva (Conyza sp.) resistentes a herbicidas inibidores da EPSPS em lavoura
de algodão no Estado de Mato Grosso

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

244
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2012

245
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Controle de doenças no algodoeiro


em Mato Grosso
1. Importância das doenças e do dos principais fatores que influen-
Luiz Gonzaga
monitoramento da lavoura na ciam a produção de algodão; elas são
Chitarra
Embrapa Algodão
cultura do algodoeiro responsáveis pela redução significativa
da produtividade física ou econômica
O Estado de Mato Grosso consolidou- do algodoeiro e, em determinados ca-
-se como o maior produtor de algodão sos, podem ser causa impeditiva da ati-
do Brasil por conta, dentre outros fato- vidade. Atualmente, são reconhecidos
res, de elevada mecanização, investi- cerca de 250 microrganismos capazes
mento em qualidade de fibra, intensifi- de causar doenças no algodoeiro, den-
cação do uso da terra e maior utilização tre os quais 90% são fungos. Portanto,
de tecnologias transgênicas para o con- um dos grandes desafios na cultura do
trole de insetos e plantas daninhas. No algodoeiro é a correta identificação dos
Rafael Galbieri entanto, observa-se elevação nos níveis sintomas das principais doenças e pra-
IMAmt de incidência e severidade das doenças gas que incidem sobre a cultura. Nesse
que afetam o algodoeiro no Estado. O caso, o monitoramento da lavoura deve
plantio repetitivo de cultivares suscetí- ser feito por técnicos (monitores de
veis às doenças no decorrer dos últimos campo) rigorosamente treinados para
anos, condições climáticas favoráveis identificar e quantificar corretamente
ao desenvolvimento dos patógenos, as doenças e as pragas do algodoeiro.
falta de práticas agrícolas como a ro- O monitoramento das pragas é feito
tação de culturas e a destruição inade- constatando-se a presença/reconhe-
quada da soqueira potencializam os cimento do inseto na planta, ao passo
riscos de surtos epidêmicos, resultando que o monitoramento das doenças é
em perdas na produção. feito por meio do reconhecimento dos
Como consequência, associa-se a sintomas causados pelos patógenos às
produção ao uso maciço de fungicidas plantas. Muitas vezes, esses sintomas
no controle de doenças, interferindo di- podem ser confundidos, por exemplo,
retamente no balanço microbiológico com fitotoxicidade causada por herbici-
do sistema produtivo. Para minimizar as da ou outros produtos químicos.
perdas na produção e manter a susten- Por esses motivos, é importante que
tabilidade da cultura em Mato Grosso, é os monitores sejam bem treinados/
fundamental que as medidas de mane- qualificados para reconhecer adequa-
jo e controle das doenças sejam realiza- damente os sintomas que os patóge-
das de maneira adequada, adotando-se nos causam às plantas. Os monitores de
principalmente as práticas culturais de campo treinados/qualificados e com o
rotação de cultura, destruição de so- conhecimento das áreas e das cultivares
queira, monitoramento da lavoura, bem de algodoeiro a serem monitoradas te-
como a utilização de cultivares com ní- rão sucesso para identificar e quantificar
veis de resistência aos principais patóge- as doenças no início dos primeiros sinto-
nos de ocorrência no Estado. mas, o que é essencial para a tomada de
As doenças são consideradas um decisão da aplicação de fungicidas.

246
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IMAmt 2020
2012

2. Principais doenças e aspectos sintomatológicos com incidência muito baixa, podem começar a
para diagnose no Estado de Mato Grosso aparecer de forma expressiva.
Os sintomas das principais doenças do algo- Assim, é importante saber diagnosticar não
doeiro no Estado de Mato Grosso estão descri- só as doenças de maior importância econômica
tos na Tabela 1. Obviamente, esse quadro pode atualmente, mas também aquelas que podem
alterar-se em função do aparecimento de va- aparecer na lavoura. Por isso é importante um
riantes de patógenos ou outras doenças, prin- histórico da ocorrência de doenças nas áreas de
cipalmente aquelas de origem fúngica, pois, plantio e o conhecimento da importância de de-
reduzindo-se o número de aplicações de fun- terminado patógeno frequente para serem to-
gicidas voltados para o controle da mancha de madas medidas prévias para seu controle, como
ramulária em cultivares mais resistentes/tole- tratamento químico de sementes, escolha de
rantes, as doenças provocadas por fungos, que cultivares resistentes/tolerantes, épocas de plan-
antes não se manifestavam ou permaneciam tio, dentre outras medidas.

Tabela 1. Principais doenças do algodoeiro, patógenos, sintomas, ocorrência e grau atual de importância no Estado de
Mato Grosso

Ocorrência Importância
Doenças Patógeno Sintomatologia
DAS1 MT2

Lesões de formato angular ou irregular, com


predominância na face inferior da folha,
Mancha de aspecto branco-azulado; esporulação do
Ramularia areola 15-155 5
ramulária patógeno no centro das lesões apresentando
coloração branca e aspecto farináceo;
podendo ocorrer desfolha precoce (Figura 1).

Inicialmente, pequenos pontos circulares


de coloração marrom ou arroxeada nas
folhas; posteriormente, manchas de
Corynespora formato arredondado ou irregular, com
Mancha alvo 60-120 5
cassiicola bordas de coloração verde escuro a
marrom claro, podem apresentar anéis
concêntricos circundados por halos
cloróticos; desfolha precoce.

Inicialmente, lesões necróticas escuras,


Colletotrichum
de forma estrelada; ramificação dos
Ramulose gossypii South.var. 15-155 5
galhos; internódios curtos e intumescidos
cephalosporioides
apresentando superbrotamento (Figura 2).

Lesões angulares, inicialmente de coloração


Xanthomonas
Mancha verde, aspecto oleoso e, posteriormente,
citri subsp. 15-150 3
angular parda e necrosada; coalescência das lesões
malvacearum
e rasgadura do limbo foliar (Figura 3).

Inicialmente, folhas basais mostrando


perda de turgescência, amarelecimento,
Fusarium crestamento do limbo e, posteriormente,
Murcha de
oxysporum f. sp. queda, murcha das folhas e morte 55-160 4
fusário
vasifectum prematura das plantas; coloração
“chocolate” observada pelo corte da haste
da planta.
Continuação --->

247
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 1. Continuação

Ocorrência Importância
Doenças Patógeno Sintomatologia
DAS1 MT2

Manchas foliares com anéis concêntricos,


circundadas por halo roxo-avermelhado,
Mancha de Myrothecium presença de pontos enegrecidos nas lesões
60-155 4
mirotécio roridum (esporodóquio), circundados por uma
massa de coloração branca (Figura 4); queda
de tecidos necrosados na lesão.

Manchas circulares (anéis concêntricos)


Mancha de Alternaria de coloração marrom ou parda (Figura 5),
20-120 4
alternária macrospora circundadas por halos de coloração amarela
ou arroxeada.

Lesões circulares ou irregulares no fruto,


Apodrecimento normalmente de coloração parda ou
diversos3 105-155 3
de maçãs azulado-escura e deprimida na parte
central.

Lesões deprimidas no hipocótilo, com


coloração de pardo-avermelhada a pardo-
escura; essas lesões podem circundar
Tombamento diversos4 0-35 4
a haste, causando estrangulamento e,
consequentemente, morte da planta
(Figura 6).

Lesão aquosa zonada nas folhas


Mela Rhizoctonia solani cotiledonares; seca dos cotilédones e 0-35 4
morte das plantas.

Mosaico das nervuras; encurtamento de


internódios; redução do porte das plantas;
Doença azul Cotton leafroll rugosidade, encurvamento para baixo e
30-155 5
(virose) dwarf virus (CLRDV) aspecto quebradiço das bordas das folhas
jovens; tonalidade verde-escura das folhas
mais velhas.

Mosaico das nervuras; encurtamento de


Genótipo do Cotton internódios; redução do porte das plantas;
Virose atípica
leafroll dwarf virus rugosidade e encurvamento para baixo das 30-155 5
(virose)
(CLRDV) bordas das folhas jovens; murchamento e
avermelhamento intenso das folhas.

Murcha, seca, necrose e podridão úmida


em hastes, pecíolo e maçãs. Micélio
Sclerotinia
Mofo branco branco de aspecto cotonoso e escleródios 40-155 5
sclerotiorum
escuros irregulares internos ao capulho do
algodoeiro (Figura 7).

1
DAS: Dias após a semeadura, ocorrência aproximada das doenças; 2 importância relevante para
Mato Grosso, escala de notas: 1 = sem importância; 2 = pequena importância; 3 = mediamente
importante, necessitando de preocupação e estudos; 4 = importante, demandando medidas de
controle; 5 = muito importante, inviabilizando a cultura se não houver controle e demandando
estudos. Adaptado de Cia & Fuzatto (1999); 3principais: Fusarium spp., Colletotrichum spp., Diaplo-
dia gossypina, Ascochyta gossypii, Xanthomonas citri subsp. malvacearum; 4 principais: Rhizoctonia
solani, Colletotrichum gossypii, C. gossypii var. cephalosporioides, Fusarium spp., Lasiodiplodia theo-
bromae, Macrophomina phaseolina, algumas espécies do gênero Ascochyta e Pythium.

248
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2012

(Imagem: Rafael Galbieri)

Figura 1. Sintomas provocados pela mancha de ramulária. À esquerda, sintomas iniciais da doença e, à direita, em
estádio mais avançado com alta esporulação do fungo
(Imagem: Luiz G. Chitarra, Rafael Galbieri)

Figura 2. Sintomas provocados pela ramulose. À esquerda, mancha estrelada e, à direita, superbrotamento

249
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Rafael Galbieri)

Figura 3. Sintomas provocados pela mancha angular


(Imagem: Rafael Galbieri)

Figura 4. Mancha de mirotécio, causada por Myrothecium roridum, e estrutura


reprodutiva (esporodóquio)

250
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(Imagem: Luiz G. Chitarra)

(Imagem: Luiz G. Chitarra)


Figura 5. Sintoma provocado pela mancha de alternária Figura 6. Sintomas provocados por tombamento em
(anéis concêntricos) algodoeiro
(Imagem: Luiz G. Chitarra)

Figura 7. Sintomas provocados por mofo branco em algodoeiro, com destaque à formação reprodutiva do fungo
(escleródios)

3. Monitoramento e amostragem das Amostragem


doenças Como sugestão, a amostragem da área para ava-
liação das doenças que incidem sobre a cultura do al-
Monitoramento godoeiro deverá ser realizada caminhando em zigue-
O monitoramento deve ser feito constante- -zague na lavoura, avaliando um ponto a cada 2 ha,
mente durante o ciclo da cultura, intensifican- conforme descrito na Tabela 2. Para cada ponto, cinco
do-se no início-meio e diminuindo com a se- plantas deverão ser avaliadas. A nota média das ava-
nescência das plantas. A recomendação seria a liações ou o número de plantas com sintomas dentre
entrada na área para o monitoramento a cada as cinco plantas avaliadas, em cada ponto, deverá ser
3-5 dias. anotada na planilha (Tabela 2). As avaliações deverão
ser realizadas a cada 3-5 dias.

251
252
Tabela 2. Monitoramento de doenças

Fazenda .............................................................................
Talhão...............Data.............\................\..................
Dias após semeadura ....................
Monitor...............................................................................................................................
Mancha Doenças Mofo Murcha de Mela /
Amostragem Ramulária Ramulose Virose
Angular Foliares* Branco Fusário Tombamento
Nota de 1 a 5* (média de 5 plantas consideradas por ponto) Nº de Plantas com sintomas (0-5 plantas)
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Caminhamento em zigue-zague, 1 ponto a cada


2,0 hectares / 5 plantas por ponto, a cada 3-5 dias
Média
* Manchas de alternária, estenfílio, mirotécio, corynespora. Notas de 1 a 5 com aumento da severidade/incidência das doenças. Nota 1: sem sintomas, a nota 5:
severidade/incidência máxima da doença.
Tabela 3. Histórico do monitoramento de doenças. Médias gerais do talhão em diferentes datas de monitoramento

Talhão: .............................................................................
Fazenda: .............................................................................

Data Mancha Doenças Mofo Murcha de Mela /


Ramulária Ramulose Virose
....../...../....... Angular Foliares* Branco Fusário Tombamento**
Nota de 1 a 5 Nº de Plantas com sintomas
AMPA

to dos talhões sempre atualizado. Para isso, é


É importante ter o histórico do monitoramen-
AMPA -- IMAmt 2012
IMAmt 2020

nados na Tabela 3.

* Mancha de alternária, estenfílio, mirotécio, corynespora. ** Tombamento


necessário o preenchimento dos itens discrimi-

253
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

4. Avaliação da incidência e severidade não estão bem características, o que


das doenças do algodoeiro, níveis de demanda treinamento e experiência do
controle e recomendações de manejo monitor no conhecimento da diagnose
Para um programa eficiente de ma- e quantificação das doenças.
nejo das doenças, o controle tem que O profissional precisa também saber
ser realizado no momento correto, ou distinguir outros sintomas que possam
seja, no aparecimento dos primeiros ser confundidos com doenças, situação
sintomas, e, para que isso ocorra, é im- muito comum em condições reais de
prescindível saber diagnosticar e quan- campo. Em alguns casos, uma doença
tificar corretamente as doenças em aparece de forma secundária, prove-
campo, pois, se essa diagnose for tar- niente de algum evento principal, seja,
dia, os danos podem ser tais a ponto de por exemplo, injúrias provocadas por
comprometer a produtividade. herbicidas (fitotoxicidade - Figura 8) ou
A diagnose de uma doença em es- queima do tecido foliar por adubos, que
tágio mais avançado não apresenta é “porta de entrada” para determinados
muitas dificuldades, pois as lesões es- patógenos. Nesses casos, é fundamen-
tão bem típicas, de acordo com as des- tal que o monitor se atente a essas cor-
crições sintomatológicas prescritas. O relações e sempre se questione sobre o
problema é diagnosticar as doenças no que realmente está causando ou pro-
início; nessa fase, as lesões (sintomas) porcionado o quadro sintomatológico.
(Imagem: Rafael Galbieri)

Figura 8. Sintomas provocados por fitotoxicidade de herbicidas em folhas de algodoeiro

Fazendo uma análise das principais facilita a diagnose quando as folhas são
doenças, com destaque à mancha de colocadas contra o sol, observando es-
ramulária, é fundamental que a diag- sas lesões características (Figura 2).
nose seja realizada no aparecimen- Para a mancha angular, os sintomas
to dos primeiros sintomas, o que não iniciais são de forma irregular, colora-
é tão simples; a Figura 1 ilustra esse ção verde, aspecto oleoso e, posterior-
sintoma e chama a atenção para as mente, de coloração parda e necro-
manchas azuladas. Igualmente para sada (Figura 3). Com o tempo, poderá
ramulose, os pontos marrons/pretos e, ocorrer a coalescência das lesões e ras-
posteriormente, as “manchas estrela- gadura do limbo foliar; em determi-
das” são de tamanho pequeno, o que nadas situações, as lesões podem ser

254
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IMAmt 2020
2012

confundidas com a mancha de ramulária, pois características marcantes que podem diferenciá-
o fungo pode aparecer de forma secundária nas -las. Com isso, pode ser demandada, em deter-
lesões, após o aparecimento do sintoma angular minados casos, uma análise mais aprofundada
provocado pela bactéria. das folhas com os sintomas, sendo necessário
Em relação à mancha de mirotécio, é importan- o envio de amostras para serem analisadas em
te observar a presença da estrutura reprodutiva condições de laboratório, para obter-se uma
do fungo, chamada de esporodóquio (Figura 4), que diagnose correta.
consiste em pontos de coloração escura com base Também quando surgirem dúvidas quanto à
micelial branca e pode estar presente em qual- diagnose de doenças, amostras podem ser en-
quer parte da planta. Esse fungo é favorecido com viadas aos laboratórios especializados, ou es-
a ocorrência de lesões previamente provocadas pecialistas podem ser acionados, seja de órgãos
nas plantas, seja por injúrias causadas por herbi- estaduais, federais ou da iniciativa privada, como
cidas (fitotoxicidade), por equipamentos agríco- o Departamento de Fitopatologia do IMAmt, em
las, pela queima do tecido foliar por adubos ou Primavera do Leste, MT; Embrapa, em Sinop, MT;
por conta de condições ambientais favoráveis ao universidades ou laboratórios particulares para
desenvolvimento da doença, como temperatura eventuais dúvidas ou treinamento de equipes.
entre 25-30°C, alta nebulosidade, umidade do ar Os sintomas iniciais da mancha-alvo no algo-
elevada e alta pluviosidade. Nessas situações, re- doeiro são pequenos pontos circulares, de colo-
comenda-se máxima atenção ao monitoramento, ração arroxeada, nas folhas. Com a evolução da
e, caso seja observada a presença do fungo nes- doença, esses pontos tornam-se manchas de for-
sas condições, deve ser feito o controle químico mato arredondado ou irregular, com bordas mar-
de forma rápida, com fungicida. rom-escuro e centro marrom-claro, variando, em
As manchas de alternária (Figura 5) e estenfí- tamanho, de 2 mm a 20 mm. As lesões, quando
lio são difíceis de serem diagnosticadas nas con- completamente desenvolvidas, podem apresen-
dições de campo por duas razões. A primeira, tar anéis concêntricos e, quando a infecção é ele-
por não serem tão comuns no Estado de Mato vada, as folhas caem prematuramente (Figura 9).
Grosso; a segunda, a principal, é que os sintomas O vento é a principal via de disseminação do pa-
iniciais podem apresentar semelhanças com os tógeno a curtas distâncias, e não há informações
sintomas de outras doenças foliares, tornan- ainda sobre a disseminação por meio de semen-
do-se a diagnose difícil, pois não apresentam tes de algodoeiro.
(Imagem: Rafael Galbieri)

Figura 9. Sintomas provocados pela mancha-alvo (Corynespora sp.) em folha de algodoeiro

255
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Para a murcha de fusário, muitas ve- feito no colo (caule) da planta, normal-
zes, principalmente nos primeiros anos mente efetuado entre 2-5 cm acima da
em que o patógeno foi introduzido na superfície do solo ou cortar o caule no
área, não se observam sintomas folia- sentido longitudinal. Por conta da gran-
res de murcha decorrentes da infecção de importância (destrutiva) da doença,
causada pelo fungo; porém, os vasos do é fundamental que o responsável téc-
xilema da planta estão caracterizados nico da propriedade conheça e acom-
por seu enegrecimento (Figura 10). Nes- panhe o progresso da doença na área,
se caso, é importante cortar ou arrancar mesmo tendo ciência de que a doença
algumas plantas para verificação desse ainda não esteja ocasionando dano
sintoma, lembrando-se que esse corte é econômico.
(Imagem: Rafael Galbieri)

Figura 10. Sintomas vasculares provocados pela murcha de fusário. Da esquerda para a direita, da planta sadia à
alta intensidade

No caso de viroses, com apareci- plantio, grandes perdas em produtivi-


mento da forma “atípica” (Figura 11), dade podem ocorrer quando compa-
as cultivares que são resistentes à radas com a infecção que ocorre mais
doença azul podem apresentar sus- tardiamente. Isso também não signi-
cetibilidade a essa virose. Assim, re- fica que não se deva ter cuidado em
comenda-se cuidado redobrado em controlar essas viroses mais tardias,
relação à infestação das plantas com pois, caso a destruição de soqueira
pulgão, principalmente no início do não seja eficaz, o vírus poderá perma-
desenvolvimento da cultura, saben- necer nessas plantas infectadas e ser-
do-se que, quando essa infestação virá como fonte de inóculo para sua
ocorre até os cinquenta dias após o sobrevivência na próxima safra.

256
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(Imagem: Rafael Galbieri)

Figura 11. Sintomas de mosaico das nervuras atípico em algodoeiro, em Mato Grosso. À esquer-
da, infecção do vírus antes dos cinquenta dias após o plantio, e, à direita, infecção mais tardia

Para algumas doenças foliares, como a mancha têm importância econômica secundária nas con-
de ramulária e a ramulose, quando diagnostica- dições do Cerrado. No entanto, isso não significa
das a campo, é imprescindível que as medidas que eles não possam causar doenças e vir a ser
de controle sejam tomadas o mais rápido possí- economicamente importantes em um futuro pró-
vel, para não haver perdas econômicas. Por outro ximo. Em casos isolados, podem ser citados Ma-
lado, para algumas doenças que são mais restri- crophomina phaseolina e os agentes causais de
tas, como a murcha de fusário, quando detecta- manchas foliares como Stemphylium solani, Asco-
das na lavoura, é fundamental que a área seja mo- chyta gossypii, Phakopsora gossypii e Cercospora
nitorada e medidas de controle sejam adotadas gossypina. Outro patógeno que merece atenção
para as próximas safras. Isso não significa que a é Rosellinea spp., que pode causar apodrecimento
doença seja menos importante, mas que seu ma- de raízes com sintomas semelhantes aos provoca-
nejo deve ser realizado em tempos diferentes. É dos pelo Fusarium spp.
importante que os técnicos/monitores de campo Outra questão é a forma de avaliação para o
tenham isso em mente no momento das avalia- controle de doenças. Para algumas, foram suge-
ções, pois é fundamental para a tomada de deci- ridas a avaliação de severidade (escala de notas),
sões de manejo. como, por exemplo, as manchas foliares, pois,
No caso de mela/tombamento, a incidência e a nesses casos, é mais importante saber qual é a
severidade da doença estão relacionadas às con- porcentagem de tecido lesionado do que o nú-
dições climáticas, que são fundamentais para a mero de plantas com os sintomas. Para os patóge-
decisão das medidas de controle. Com a incidên- nos de solo e as viroses, principalmente por conta
cia do problema e o regime de chuvas intensas, de sua disseminação, a incidência, ou seja, a por-
a necessidade de controle é maior quando com- centagem de plantas que apresentam sintomas é,
parada a essa incidência em períodos sem chuvas para questões de controle, mais importante que
(veranicos), no início do ciclo da cultura. Nessas sua severidade.
condições, a doença possivelmente será inter- A seguir, uma sugestão de metodologia de
rompida, ou sua epidemia será minimizada. avaliação, níveis de controle e recomendações
Além das doenças relatadas, o algodoeiro é de manejo das principais doenças ocorrentes em
hospedeiro de outros patógenos que atualmente Mato Grosso (Tabela 4).

257
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 4. Critérios de avaliações das doenças do algodoeiro, níveis de controle e recomendações


de manejo

Nível de Recomendação
Amostragem Doenças Critério de Avaliação
controle de controle
Nota 1: planta sem sintomas.
Nota 2: planta com até 5% de área foliar Genético: utilização de culti-
infectada, sem incidência no terço médio. Com o aparecimen- vares resistentes /tolerantes.
Nota 3: planta com 5-25% de área foliar to dos primeiros Químico: aplicações de fun-
Mancha de infectada com incidência no terço médio. sintomas (nota 2) e/ gicidas registrados no Mapa.
ramulária* Nota 4: planta com 25-50% de área foliar ou no fechamento Recomenda-se alternân-
infectada e incidência no terço superior. entre linhas da cia dos grupos químicos.
Nota 5: planta com área foliar infectada cultura. Cultural: rotação de cultura e
acima de 50%, incidência no terço superior destruição de soqueiras.
e queda de folhas no terço inferior.
Caminhamento em zigue-zague, um ponto a cada 2 hectares/5 plantas por ponto, a cada 3-5 dias

Nota 1: planta sem sintomas.


Nota 2: planta com folhas do ponteiro
apresentando manchas necrosadas
Genético: utilização de culti-
pequenas, de coloração marrom (início das
vares resistentes.
manchas estreladas). Com o apare-
Químico: aplicação de fungi-
Nota 3: planta com início de redução dos cimento dos
cidas registrados no Mapa.
Ramulose* internódios (no ponteiro), além das man- primeiros sinto-
Cultural: rotação de cultura;
chas pequenas. mas (nota 2) em
utilização de sementes
Nota 4: planta com superbrotamento no reboleira.
sadias; destruição de so-
ponteiro, além das manchas, mas sem
queiras.
redução acentuada do porte.
Nota 5: planta com superbrotamento, man-
chas e redução acentuada do porte.

Nota 1: planta sem sintomas.


Nota 2: planta com até 5% de área foliar
infectada com coalescência de lesões.
Nota 3: planta com 5-25% de área foliar Genético: utilização de culti-
infectada, coalescência de lesões. vares resistentes.
Mancha
Nota 4: planta com 25-50% de área foliar Não definido Cultural: rotação de cultura;
angular
infectada, coalescência de lesões e início de utilização de sementes sadi-
rasgadura do limbo foliar. as; destruição de soqueiras.
Nota 5: planta com área foliar infectada
acima de 50%, coalescência de lesões e
intensa rasgadura no limbo foliar.

Nota 1: planta sem sintomas.


Nota 2: Infecção leve – plantas apresentan-
do lesões em até 5% da área foliar.
Manchas de Nota 3: Infecção moderada – planta apre- Químico: aplicação de fungi-
Com o apare-
mirotécio, sentando lesões entre 5-25% da área foliar. cidas registrados no Mapa.
cimento dos
alternária, Nota 4: Infecção severa – plantas apre- Cultural: rotação de cultura;
primeiros sintomas
estenfílio e sentando lesões entre 25-50% da área sementes sadias; destruição
(nota 2)
corynespora* foliar. de soqueiras.
Nota 5: Infecção muito severa – plantas
apresentando lesões acima de 50% da área
foliar.

Nota 1: plantas sem sintomas. Químico: aplicação de fungi-


Nota 2: presença apenas de micélio branco cidas registrados no Mapa.
em pétalas, folhas, hastes ou capulhos. Com o apare- Cultural: exclusão**, den-
Nota 3: presença de micélio branco e cimento dos sidade de plantas, sementes
Mofo branco*
escleródios em pétalas, folhas, hastes ou primeiros sintomas sadias, rotação de cultura.
capulhos em até dois ramos. (nota 2) Biológico: Trichoderma
Nota 4: três ou mais ramos afetados e harzianum, Trichoderma
morte de plantas. asperelum.

Continuação --->
258
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IMAmt 2020
2012

Tabela 4. Continuação

Nível de Recomendação
Amostragem Doenças Critério de Avaliação
controle de controle
Genético: utilização de culti-
Caminhamento em zigue-zague, um ponto a
cada 2 hectares/5 plantas por ponto, a cada

vares resistentes.
Murcha de Número de plantas com sinto-
Preventivo Cultural: exclusão**, se-
fusário* mas da doença.
mentes sadias, rotação de
cultura.

Químico: aplicação de fun-


gicidas registrados no Mapa
Número de plantas com sinto-
Mela* Não definido (tratamento de sementes e
3-5 dias

mas da doença.
aplicação aérea).
Cultural: época de plantio.

Cultivares sus- Genético: utilização de culti-


cetíveis: nível de vares resistentes.
Número de plantas com sinto- pulgão até 5%. Químico: manter o nível
Viroses
mas da doença. Cultivares resis- baixo do vetor da doença.
tentes: nível de Cultural: rotação de cultura;
pulgão até 40%. destruição de soqueiras.

* Recomenda-se tratamento químico de sementes, utilizando-se produtos registrados no Ministério da


Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
** Evitar a introdução do patógeno em áreas isentas.

Para auxiliar o manejo de doenças, seguem da- patógenos de ocorrência no Estado de Mato Gros-
dos da reação de diferentes cultivares aos principais so (Tabela 5).

259
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 5. Reação de diferentes cultivares aos principais patógenos de ocorrência em MT

Fungos Bactéria Nematoides Viroses

Ramulária* Meloidogyne**
Reni-
Cultivares Murcha formes Doença Virose
Mancha
Fusa- Resis- Tolerân- Azul Atípica
Isolado Isolado Ramulose Angular
rium tência cia Tolera.
1 2

BRS 430B2RF S S MS S R S I I R MR
BRS 432B2RF S MS MS MS R S MT MI R MR
BRS 433FL B2RF S S MS MR R S MI MI MR MR
DP 1536B2RF S S MS MS R S MI I R MS
DP 1552RF MS S MS MR MS S MT MT R MS
DP 1746B2RF S S MS S R S MI MT R MS
FM 906GLT S MS MS S R S I I R MS
FM 940GLT S MS MS MS R S I I R MS
FM 944GL S S MS MS R S MI MT R MS
FM 954GLT S S MS S R S MI I R MS
FM 975WS S S MS MS R S MI MI R MS
IAC RDM MR MS MS R R MR T*** MT R MS
IMA 2106GL S S MR MS R S MT MI R MS
IMA 5801B2RF R R MS MR MS R T*** MI R MS
IMA 6501B2RF S S MS MR R S MT MT R MS
IMA 7501WS MS MS MR MS R S MT MT R MS
IMA 8405GLT MS S MS S R S MI MI R MS
TMG 42WS R MS MS S R S I MI R MR
TMG 44B2RF MR S MS S R S I I R MR
TMG 45B2RF MR S MS S R S MI MI R MR
TMG 47B2RF R S S S R S I I R MR
TMG 81WS S S MS S R S MT MT R S

R: resistente; MR: moderadamente resistente; MS: moderadamente suscetível; S: suscetível; AS: altamente
suscetível; T: tolerante; MT: moderadamente tolerante; MI: moderadamente intolerante; I: intolerante; AI:
altamente intolerante.
*Ramulária: “Isolado 1” média de avaliação de três ensaios em Mato Grosso (dois em Primavera do Leste
e um em Campo Verde) safra 2017-2018. “Isolado 2” mistura de dois isolados um originário de Pedra Preta,
MT, e outro em Sapezal, MT (isolados capaz de quebrar a resistência de alguns cultivares). Atentar para o
local de plantio, pois o fungo apresenta alta variabilidade no Brasil.
**Resistente: genótipos com população final de nematoide entre 0% a 10% do valor obtido no padrão de
suscetibilidade (FM 966); moderadamente resistente: 11-30% da população final obtida no padrão de
suscetibilidade e suscetível: >30% da população obtida no padrão de suscetibilidade.
***Genótipos com níveis de resistência, pelo conceito clássico, não se enquadram adequadamente como
tolerantes e sim resistentes.

Ramulária: Ramularia areola, “Isolados 1 e 2” são origens diferentes do fungo;


Ramulose: Colletotrichum gossypii South. var. cephalosporioides;
Murcha de fusário: Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum;
Mancha angular: Xanthomonas citri subsp. malvacearum;
Nematoides Meloidogyne: Meloidogyne incognita;
Nematoides reniformes: Rotylenchulus reniformis;
Virose doença azul: Cotton leafroll dwarf virus (CLRDV);
Virose atípica: mosaico das nervuras atípico, genótipo do CLRDV.

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

260
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IMAmt 2020
2012

261
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Manejo integrado de pragas no


algodoeiro em Mato Grosso
O algodoeiro é considerado uma das a) Fungos, bactérias e vírus: deno-
Jacob Crosariol
mais importantes culturas no Brasil, minados de agentes entomopatogêni-
Netto
IMAmt tanto pela grande variedade de pro- cos, causam algum tipo de doença nas
dutos dele originados como pela posi- pragas, que sofrem colonização por
ção em destaque no setor socioeconô- esses agentes até a morte;
mico e é também uma cultura muito b) Predadores: larvas e adultos de
atrativa a uma grande variedade de besouros, larvas de algumas moscas
artrópodes, dos quais se destaca uma e, principalmente, alguns percevejos.
série de insetos e ácaros. No Brasil, cer- Têm como presas pulgões, ácaros, la-
ca de trinta espécies são consideradas gartas pequenas, larvas de besouro,
pragas; já as demais constituem um ninfas, ovos e pupas de outros insetos
complexo de organismos formado por e/ou ácaros. Para completar seu ciclo,
Guilherme inimigos naturais (predadores e para- os predadores alimentam-se de mais
Rolim
sitoides), polinizadores e/ou neutralis- de uma presa, o que resulta em grande
IMAmt
tas, na qual a entomofauna associada benefício à cultura do algodão;
à cultura em cada localidade depende c) Parasitoides: pequenas vespas
de condições climáticas (temperatura ou moscas que colocam seus ovos no
e umidade: safra mais chuvosa ou mais interior ou sobre os hospedeiros (pra-
seca), práticas culturais (padrão de uso gas), principalmente em ovos e/ou la-
de defensivos, qualidade da destruição gartas pequenas, resultando no para-
da soqueira, sistema de cultivo (plan- sitismo do interior desses organismos
tio direto, semidireto ou convencional, pelas larvas que saem dos ovos dos
época de semeadura etc.) e sistema de parasitoides. Normalmente, os hospe-
Geraldo Papa produção adotado (espaçamento con- deiros parasitados ainda continuam
Unesp vencional ou adensado, primeira safra, vivos por um determinado tempo, po-
segunda safra, ciclo, tipo da variedade rém param de alimentar-se e de repro-
- Bt ou não Bt - resistentes às viroses duzir-se. Para completar seu ciclo, os
etc.). Por definição, pragas são orga- parasitoides precisam de apenas um
nismos (insetos ou ácaros) que, em hospedeiro, podendo ocorrer mais de
determinada quantidade (população), uma larva de parasitoide no interior do
causam danos econômicos à cultura, hospedeiro por ciclo, o que também
diminuindo diretamente a produção, resulta em grande benefício à cultura
a qualidade da fibra e/ou transmitindo do algodão;
doenças. Já os inimigos naturais, cha- d) Polinizadores: insetos que co-
mados também de organismos bené- letam néctar ou pólen das flores do
ficos, não causam danos ao algodoei- algodoeiro, podendo favorecer a po-
ro; eles agem controlando populações linização ou contribuindo eventual-
das pragas que ocorrem na cultura, mente para o aumento da produtivida-
podendo ser divididos em: de em casos de sistemas integrados de

Obs: Os autores deste capítulo foram encarregados de atualizar o capítulo da edição anterior, de autoria
dos drs. Paulo Degrande e Miguel Soria. Os autores agradecem-lhes por ter aproveitado grande parte do
texto e das informações geradas conjuntamente com a equipe de pesquisa do IMAmt e com os produtores
da Ampa, apresentadas ao público de forma sintética.

262
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IMAmt 2020
2012

produção. Abelhas, vespas, algumas moscas e armadilhas de feromônio, sistemas informati-


besouros são exemplos de insetos polinizadores zados e mapas de distribuição e ocorrência de
que ocorrem na cultura, como visitantes florais; pragas);
e) Neutralistas: outros tipos de insetos ou áca- (6) Conhecer os métodos de controle mais ade-
ros que não causam danos às plantas, nem pa- quados e eficientes que poderão ser emprega-
rasitam ou predam pragas, mas cuja função está dos e como utilizá-los de maneira correta;
ligada à decomposição de matéria orgânica e à (7) Tomar a decisão de controlar a praga com
ciclagem de nutrientes do solo, por exemplo. Es- base na interação das informações levantadas
ses organismos utilizam as plantas de algodoeiro acima.
apenas como abrigo e, normalmente, são encon-
trados sobre o solo. 1. Táticas de controle
Dentre as principais táticas de controle de
O manejo integrado de pragas (MIP) consis- pragas, cinco métodos destacam-se na cultura
te em um conjunto de táticas que visam auxiliar do algodoeiro:
o produtor a evitar perdas pelo ataque de inse-
tos e/ou ácaros, levando em consideração três (1) Cultural: caracterizado pela semeadura em
fatores: o social — que relaciona aspectos de época mais favorável à cultura, de maneira con-
segurança e respeito aos envolvidos no manejo centrada, respeitando a janela de cultivo e o va-
de pragas da propriedade (por exemplo, uso de zio sanitário para a região, destruindo soqueiras,
equipamento de proteção individual — EPI — plantas guaxas e rebrotas, como determina a le-
por quem manipula ou aplica os defensivos — gislação vigente em cada região;
ou oportunidade de trabalho e emprego); o am- (2) Resistência de plantas: caracterizado pelo uso
biental — que relaciona o impacto das ações de de variedades convencionalmente melhoradas
controle no meio ambiente (por exemplo, evitar ou geneticamente modificadas (GM) resistentes
derivas, armazenamento adequado dos defensivos aos insetos, como as que expressam proteínas
agrícolas e descarte correto e seguro de embala- inseticidas (Cry e/ou VIP) da bactéria de solo Ba-
gens vazias); e o econômico — que leva em conta cillus thuringiensis (Bt), ou mesmo resistentes a
a eficiência das táticas de controle sobre as pragas, doenças transmitidas por insetos vetores (como,
de maneira a evitar as perdas financeiras ocasiona- por exemplo, viroses);
das pelos ataques desses organismos e possibilitar (3) Comportamental: caracterizado pelo uso de
o retorno econômico esperado pela atividade. feromônios (de agregação ou sexual) para atra-
Para o emprego do MIP, o responsável pelo ção e captura de adultos das pragas em armadi-
manejo de pragas da propriedade deve ter o mí- lhas específicas, que também podem ser utiliza-
nimo de conhecimento em: das como ferramenta para o monitoramento da
incidência/movimentação de pragas na área cul-
(1) Reconhecer as principais pragas que atacam tivada/sistema de cultivo, especialmente do bi-
a cultura e seus inimigos naturais; cudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis), e de
(2) Reconhecer a interação entre pragas e inimi- lepidópteros como lagarta-rosada (Pectinophora
gos naturais, ou seja, se as pragas estão sofrendo gossypiella), lagarta-militar (Spodoptera frugiper-
algum controle por seus inimigos naturais; da), lagarta-das-maçãs (Helicoverpa armigera,
(3) Saber da influência de fatores climáticos (como Chloridea virescens) e lagarta-falsa-medideira
umidade e temperatura) na dinâmica populacio- (Chrysodeixis includens);
nal da praga, ou seja, no desenvolvimento e na (4) Biológico: caracterizado pelo uso, em pulveri-
incidência das pragas na cultura; zação, de inseticida biológico à base de Bacillus
(4) Conhecer os níveis de controle (NC) das pragas; thuringiensis (Bt), fungos ou vírus da poliedro-
(5) Conhecer as técnicas de monitoramento das se nuclear (NPV) registrados para o controle de
populações das pragas na área cultivada, bem algumas espécies de lagartas e mosca-branca
como utilizar as ferramentas que podem ser (fungos), ou, ainda, liberações inundativas de
empregadas para esse fim (por exemplo, uso de predadores ou parasitoides de interesse;

263
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(5) Químico: caracterizado pelo uso pragas e que atuam sobre sistemas
de inseticidas/acaricidas químicos em ou enzimas exclusivas de artrópodes
pulverização ou tratamento de semen- e seletivas aos mamíferos, tornando
tes (TS), devidamente registrados para possível a integração dos diferentes
a cultura. métodos de controle, com o uso de
Consultas sobre feromônios, inse- defensivos de forma a eliminar ou ate-
ticidas químicos e biológicos registra- nuar significativamente os efeitos ad-
dos para uso na cultura do algodoeiro versos causados. Isso tem contribuído
podem ser realizadas acessando, na in- para um manejo mais racional no con-
ternet, o Sistema de Agroquímicos Fi- trole de pragas e maior segurança aos
tossanitários - Agrofit, do Ministério da agricultores, iniciando-se uma substi-
Agricultura Pecuária e Abastecimento tuição gradativa dos grupos químicos
(Mapa), em: <http://agrofit.agricultu- de pesticidas mais tóxicos e de amplo
ra.gov.br/agrofit_cons/principal_agro- espectro de ação por grupos menos
fit_cons>. tóxicos e mais seletivos.
Os inseticidas e acaricidas utiliza-
1.1 Uso de inseticidas/acaricidas dos para o controle das pragas devem
químicos em algodoeiro apresentar controle superior a 80% de
As mudanças em curso na agricultu- eficácia, estar registrados para uso na
ra brasileira, com plantios sucessivos e/ cultura e ser utilizados dentro dos in-
ou concomitantes, embora proporcio- tervalos das dosagens recomendadas
ne aumento de produção e otimização no registro. O uso de subdosagens
do uso do solo, favorece a reprodução (menores que o recomendado) ou su-
de alguns grupos de pragas por conta perdosagens (maiores que o recomen-
da oferta constante de hospedeiros e dado) contribui para que as pragas se
da dispersão constante dos insetos de tornem resistentes mais rapidamente
um cultivo para o outro. Com isso, a in- aos produtos utilizados. A rotação do
tensidade de ataque e a ocorrência de uso de produtos com diferentes mo-
pragas têm aumentado, e o controle dos de ação, utilizando blocos ou jane-
químico associado a várias outras for- las de grupos químicos (conforme mo-
mas de controle tem contribuído fun- delos abaixo propostos pelo IRAC-Br,
damentalmente para a garantia da pro- na Figura 1) no decorrer do ano agríco-
dutividade na cultura algodoeira. la, contribui para retardar a resistência
Todavia, o uso abusivo e sem crité- das pragas aos produtos utilizados e
rios técnicos poderá acarretar, dentre para assegurar a eficiência de controle
outros, sérios problemas de conta- pelo defensivo por várias safras — de-
minação ambiental e comprometer a ve-se levar em conta o modo de ação
sustentabilidade. Entretanto, acompa- dos produtos já utilizados na cultura
nhando a evolução tecnológica pela cultivada na safra, quando do cultivo do
qual passa todo o setor produtivo e algodoeiro em modalidade de segun-
por sua própria sobrevivência, a indús- da safra. Essas são táticas do manejo
tria de defensivos vive um período de da resistência de insetos (MRI), que
grande modernização de seus produ- está inserido no MIP. Nesse contexto,
tos, introduzindo no mercado inseti- deve-se dar preferência a produtos
cidas e acaricidas menos tóxicos, com menos tóxicos e mais seletivos aos
menor persistência no ambiente, sen- inimigos naturais (para mais informa-
do estes mais seletivos em relação aos ções consultar Circular Técnica IMAmt
mamíferos e aos inimigos naturais das nº 14).

264
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

(Fonte: IRAC-Br)

ALGODÃO
Orientações para o Manejo da Resistência a Inseticidas

Baixar orientações detalhadas Consultar Modos de Ação de


sobre Manejo da Resistência a Inseticidas
Inseticidas www.bit.do/moa-irac
www.bit.do/mri-irac

Algodão Não-Bt Algodão Bt


Janela de Janela de
Janela 1 Janela 2 Janela 3 Janela 4 Janela 5 Janela 1 Janela 2 Janela 3 Janela 4 Janela 5
pré-plantio pré-plantio

Y X
Z W Z Y R X
LAGARTAS Y R LAGARTAS

Q Q
X G X G
MOSCA-BRANCA Q MOSCA-BRANCA Q

W W
W W
BICUDO K BICUDO K

Q K Q K

PULGÃO, ÁCARO PULGÃO, ÁCARO

pré-plantio vegetativo reprodutivo pré-plantio vegetativo reprodutivo

Somente aplique inseticidas se a densidade populacional Siga as orientações dos fornecedores das sementes
atingir o nível de controle. sobre a recomendação para pulverização foliar.

Utilize janelas* de aplicação de inseticidas.

Rotacione inseticidas com diferentes modos de ação. Refúgio (mínimo de 20% da área)
Janela de
Janela 1 Janela 2 Janela 3 Janela 4 Janela 5
No caso de utilização de sementes tratadas, pode-se pré-plantio

realizar pulverização de um inseticida com mesmo modo


Z
de ação apenas dentro da janela de 30 dias. Y R X
LAGARTAS

Dê preferência para os inseticidas seletivos aos inimigos


Q
naturais. X G
MOSCA-BRANCA Q

Não repita a mesma mistura pronta de inseticidas. Caso for


utilizada uma mistura, recomenda-se não utilizar inseticidas W
W
que apresentem o mesmo mecanismo de ação na próxima K
BICUDO
janela ou em rotação.

Evite inseticidas para os quais há casos comprovados Q K

recentemente de resistência na região do cultivo. PULGÃO, ÁCARO

Elimine plantas tigueras e espontâneas.

Faça rotação de culturas.


pré-plantio vegetativo reprodutivo

Distância máxima de 800 m da plantação de algodão Bt.

Legenda Faixas dentro do campo da cultivar Bt são preferíveis.

Inseticida foliar Observe doses e níveis de ação recomendados em bula


para pulverização foliar.
Inseticida aplicado em tratamento de sementes
O uso de pulverização com inseticida foliar com Bacillus
G K Q R
W X Y Z
Grupos de Modo de Ação (códigos fictícios) thuringiensis não é recomendado para o refúgio.

* Janela = período de uma geração da praga

Figura 1. Orientações para manejo de resistência a inseticidas propostas pelo Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas
Brasil

265
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

1.2 Adoção de variedades de capazes de expressar proteínas inseti-


algodoeiro Bt cidas denominadas Cry ou VIP, da bac-
Desde 2005, o Brasil tem autorizado téria de solo Bacillus thuringiensis (Bt).
o cultivo de variedades de algodoei- Atualmente, sete tecnologias de algo-
ro geneticamente modificadas (GM) doeiro Bt para o controle de lagartas
resistentes a insetos (transgênicas), estão disponíveis no Brasil (Tabela 1).

Tabela 1. Tecnologias de algodoeiro Bt liberadas comercialmente no Brasil

Tecnologia Proteína expressa Ano de liberação

Bollgard I Cry1Ac 2005


WideStrike Cry1Ac + Cry1F 2009
Bollgard II Cry2Ab2 + Cry1Ac 2009
TwinLink Cry1Ab + Cry2Ae 2011
Bollgard III Vip3A + Cry1Ac + Cry2Ab2 2016
TwinLink Plus Cry1Ab + Cry2Ae + Vip3A(a) 2017
WideStrike 3 Cry1Ac + Cry1F + VIP3A 2018
(Fonte: CTNBio)

Logo nos primeiros anos após a li- frugiperda (Figura 2), pois, a cada safra,
beração, os cultivares de algodoeiro Bt observam-se danos mais significativos
apresentaram controle satisfatório so- em cultivares de algodoeiro Bt. Assim,
bre as principais espécies de lepidópte- há a necessidade de realização de pul-
ros-praga. No entanto, com o decorrer verizações adicionais para o controle
das safras, por conta da forte pressão de da espécie, o que implica elevação dos
seleção exercida no sistema de cultivo, custos de produção. Além de S. frugi-
decorrente da utilização de forma contí- perda, nas últimas safras, constatou-se
nua e mal planejada de cultivares de mi- com certa frequência a presença de
lho, soja e algodão com a expressão do lagartas de Helicoverpa armigera cau-
mesmo conjunto de proteína inseticida, sando danos significativos em áreas
começaram a ser observadas falhas de semeadas com cultivares de algodão
controle, indicando uma possível sele- com expressão das proteínas inseti-
ção de populações resistentes. cidas Cry1Ac + Cry1F, indicando uma
Dentre os lepidópteros-alvo des- possível seleção de população resis-
ta tecnologia destaca-se Spodoptera tente às proteínas.

266
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Figura 2. Viabilidade larval de Spodoptera frugiperda alimentada com folhas de cultivares de algo-
doeiro de diferentes tecnologias. Primavera do Leste, MT. Safra 2018/2019

Com intuito de evitar ou retardar o processo de geração, suscetíveis ao inseticida em questão ou


seleção de populações resistentes a cultivos Bt, à(s) toxina(s) Bt que a planta expressa, aumentan-
recomendam-se técnicas de manejo da resistên- do, assim, a vida útil da tecnologia para o produ-
cia, que consiste na utilização conjunta de ações tor. A ação faz parte do que se chama de manejo
e o uso de boas práticas agrícolas que envolvem: da resistência de insetos (MRI) às táticas de con-
trole, que integra o MIP. A resistência à(s) toxina(s)
a. Utilização da área de refúgio: área culti- de Bt pode ser decorrente de fatores genéticos,
vada para atuar como fornecedora de indivíduos sendo isso uma característica herdável, em que
(normalmente adultos - mariposas) não resisten- sua frequência no ambiente pode aumentar de
tes (suscetíveis) à tática de controle, como inse- uma safra a outra, uma vez que indivíduos resis-
ticida ou variedade Bt. Seu objetivo é multiplicar tentes existem naturalmente em uma população
no ambiente indivíduos suscetíveis, para que aca- da praga e que, ao sofrerem constante pressão de
salem com eventuais indivíduos resistentes pre- seleção pela toxina de Bt expressa na planta (se
sentes na área com a variedade Bt ou com o uso sobreviverem e cruzarem entre si), a frequência
de determinado modo de ação de inseticida, re- de indivíduos resistentes na população (ambien-
sultando em descendentes, ou em uma próxima te) aumenta, acarretando em falhas de controle.

267
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Figura 3. Sugestões de configurações para o estabelecimento da área de refúgio

Por isso, a área de refúgio de tama- (2) A área de refúgio pode seguir distri-
nho adequado é estratégia fundamen- buição e configuração na área cultivada
tal da boa prática agrícola (variedade em (a) bloco ou no perímetro do talhão,
não Bt), pois manterá um fluxo contínuo (b) em talhões circulares (pivô central),
de indivíduos suscetíveis no ambiente (c) em talhões adjacentes/vizinhos, (d)
(Figura 3). Quando qualquer variedade em talhões alternados ou (e) em blocos
Bt for cultivada (expressando uma ou alternados;
mais toxinas inseticidas), as seguintes (3) A variedade não Bt a ser cultivada
ações devem ser tomadas: deverá ser de ciclo, porte e resistência a
doenças semelhantes aos da variedade
(1) No caso das culturas de soja e algo- Bt, além de terem de ser semeadas no
dão, cultivar uma área com variedade mesmo período (com uma defasagem
não Bt correspondente a 20%* da área máxima de quinze dias antes ou após a
total com variedade Bt, independen- semeadura da variedade Bt);
temente da proteína ou do conjunto (4) A área de refúgio deve estar a uma
de proteínas expressos. Observação: distância máxima de 800 metros da
para o milho, o recomendado é de 10% área cultivada com a variedade Bt;
da área; (5) O monitoramento de pragas nos

*Tomadas com base na recomendação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTN-


Bio, Parecer Técnico Conclusivo nº 513/2005), que esclarece as ações para o MRI em algodão Bt1
(Bollgard®).

268
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talhões/áreas com a variedade Bt deve ser realiza- em consonância e ciente com todos os aspectos
do da mesma maneira que nas áreas com a varie- apresentados pelo sistema de cultivo adotado
dade convencional (não Bt); regionalmente, devendo estar treinado e atua-
(6) Se qualquer praga atingir o nível de controle lizado, com o intuito de enfrentar situações de
(NC) na área cultivada com a variedade Bt, esta forma rápida e precisa, de maneira a reduzir ao
deverá ser controlada da mesma forma que na máximo as perdas ocasionadas pelas pragas pre-
área cultivada com a variedade não Bt, utilizando- sentes no sistema.
-se inseticidas recomendados ou qualquer outra Dessa forma, espera-se que o monitor tra-
tática de controle; balhe de forma justa, organizada e coletiva,
(7) Não devem ser aplicados/utilizados inseticidas balizando-se por um método de trabalho pré-
biológicos à base de Bacillus thuringiensis (Bt) na -definido.
área de refúgio.
Áreas de monitoramento: considerando áreas
b. Utilização de sementes certificadas: essa de topografia plana, típicas de cultivos do Cer-
técnica tem como objetivo garantir o uso de se- rado, a área cultivada com algodoeiro deve ser
mentes com controle de qualidade, incluindo o subdividida em áreas menores, denominadas
conhecimento da origem genética e o controle talhões ou lavouras, para fins de monitoramen-
de gerações conforme define o Mapa. A utilização to e tomada de decisão, com base em níveis de
de sementes certificadas garante ao produtor se- controle (NC). Recomenda-se a divisão da área
gurança sobre o grão cultivado e seus benefícios, da propriedade em subáreas de, no máximo,
além de garantir o conjunto de proteínas realmen- 100-150 ha, para que erros de sub ou superes-
te expressos para cada tecnologia; timação da incidência de pragas não ocorram,
c. Tratamento de sementes: o tratamento de uma vez que, quanto maior a área, maior a chan-
sementes (TS) consiste na aplicação de ingredien- ce de concentração dos pontos de amostragem
tes químicos e/ou biológicos nas sementes. Assim, em locais com ou sem a presença da praga. Isso
a aplicação tem como objetivo proteger o poten- pode resultar em aplicações quando não há ne-
cial genético do grão, ajudando no controle de cessidade e recomendações para que aplicações
pragas ou doenças na fase inicial do desenvolvi- não sejam realizadas, quando houver necessidade.
mento da cultura e auxiliando o estabelecimento
das plantas na área semeada; Caracterização do talhão e formação das Uni-
d. Controle de plantas daninhas: plantas dades Básicas de Decisão (UBD): as áreas resul-
daninhas podem hospedar insetos-praga, permi- tantes das subdivisões ou talhões são definidas
tindo que uma grande quantidade sobreviva e como Unidades Básicas de Decisão (UBD), uma
permaneça na área de cultivo. A maior parte das vez que a decisão para o controle químico deve
plantas daninhas são consideradas hospedeiras ser realizada individualmente para cada talhão
de pragas como lagartas, mosca-branca e ácaros. ou UBD. Esses talhões (lavouras, áreas) devem ser
Logo, o controle efetivo dessas plantas auxilia na uniformes quanto a tipo de solo, sistema de culti-
redução populacional de pragas; dentre as técni- vo (convencional ou adensado), variedade (trans-
cas recomenda-se o uso de herbicidas em pré e gênico ou não transgênico), adubação, tratos cul-
pós-emergência da cultura do algodoeiro (mais turais etc. A divisão da área cultivada em espaços
informações no capítulo sobre manejo de plantas menores que 100 ha (p. ex.: UBD entre 15-50 ha)
daninhas). faz com que o monitoramento e o operacional
para o controle de pragas sejam inviabilizados,
2. Bases para o monitoramento de pragas por conta do grande número de talhões que re-
Para o sucesso na implantação e na realização sultarão da divisão da área total cultivada, em
de um programa de MIP na cultura do algodoei- áreas menores que o recomendado. Caso os ta-
ro, é de extrema importância o entendimento de lhões já existentes sejam grandes demais (entre 300-
todos os pontos envolvidos na execução do pro- 600 ha), e/ou impossibilitem a subdivisão da área
grama. Ou seja, o monitor de pragas deve estar cultivada em subáreas entre 100-150 ha, sugere-se

269
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

o uso de uma “linha morta”, que cor- Observação: a exceção ocorre para va-
responde à falha de uma linha de plan- riedades suscetíveis à virose, quando se
tio e demarcará a divisão do talhão em deve priorizar um intervalo de, no má-
outras três ou quatro UBDs. Os talhões ximo, até três dias durante o ciclo todo
da propriedade devem ser devidamen- da cultura.
te identificados, ou seja, devem possuir
um “nome” (constituído por números ou Caminhamento do monitor: para a
letras) e estar devidamente localizados realização do monitoramento, o moni-
na propriedade. No caso de talhões em tor de pragas deve caminhar no inte-
que foi feito o uso de linhas mortas, eles rior de cada talhão ou UBD, de maneira
podem ser identificados com seu mes- a distribuir os pontos de amostragem
mo número, porém, agora, com uma uniformemente ao longo do percurso,
letra na sequência que identifica a nova representando o máximo possível a área
UBD (p. ex.: talhão 13A, 13B e 13 C). correspondente à UBD, evitando-se er-
ros de sub ou superestimação da popu-
Pontos de amostragem: são os locais lação/ataque das pragas presentes na
no interior da área da UBD, onde o mo- área. Dentre as diversas possibilidades
nitor de pragas realizará a amostragem de o monitor realizar o caminhamento
de pragas nas plantas de algodoeiro. na UBD, ele deve ter em mente que pre-
Preconiza-se a realização de um pon- cisa valer-se de pontos bem distribuí-
to de amostragem por hectare de área dos, ou seja, realizar tanto amostragens
cultivada, normalmente resultando en- em bordaduras como no interior dos ta-
tre cem e duzentos pontos por UBD, de- lhões. Quanto mais pontos de amostra-
pendendo do tamanho da área. Preco- gem o monitor realizar, mais confiável
niza-se, ainda, que: vai ser o nível populacional de pragas
no talhão.
(1) Até 40 dias após a emergência (DAE),
sejam monitoradas entre três e cinco Planejamento de realização de
plantas por ponto de amostragem; amostragens: para obter-se um le-
(2) Após 40 DAE, seja monitorada vantamento preciso que sirva de
uma planta integral por ponto de base para uma tomada de decisão de
amostragem. controle de pragas, deve-se, inicial-
mente, ter um bom planejamento, de
Intervalos entre amostragens: três forma que a equipe de monitoramen-
diferentes intervalos entre amostragem to realize as amostragens dentro dos
são sugeridos, a depender da fase de intervalos preestabelecidos em cada
desenvolvimento da cultura: UBD e percorra todos os talhões da
fazenda. Um bom planejamento evi-
(1) Da emergência ao primeiro botão tará que monitores diferentes ava-
floral: até cinco dias de intervalo, no liem talhões já monitorados, o que
máximo; acarreta perda de rendimento do
(2) Do primeiro botão floral ao primeiro levantamento dentro de um mesmo
capulho: até três dias de intervalo, no período de amostragem. Dessa for-
máximo; ma, o planejamento deve ser realiza-
(3) Do primeiro capulho à colheita: até do de forma periódica, envolvimento
cinco dias de intervalo, no máximo. todos os membros das equipes, com

270
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AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

o intuito de organizar a distribuição dos moni- informações levantadas na ficha de amostragem


tores de forma homogênea dentro da fazenda. ou em planilha eletrônica do software específico
Além disso, é primordial que os monitores re- para monitoramento.
cebam pelo menos um treinamento sobre iden-
tificação de pragas na cultura do algodoeiro an- Coleta das informações
tes do início da safra, com o intuito de reciclar o A coleta das informações é realizada em pla-
conhecimento dos monitores mais antigos sobre nilhas de amostragem de papel ou em aparelhos
pragas da cultura e preparar/formar os iniciantes portáteis eletrônicos em planilha digital de soft-
para o monitoramento adequado. Outro aspecto ware específico para esse fim. Independentemen-
importante é a troca de informações, quando os te do modo utilizado, a planilha deve conter, no
monitores mais experientes devem contribuir e/ mínimo, as espécies mais importantes e de maior
ou auxiliar os monitores mais novos. Em um pla- incidência na região, com suas respectivas fases de
nejamento bem estruturado deve-se evitar que desenvolvimento (ovo, larva/ninfa e/ou adulto).
monitores iniciantes realizem levantamentos sem Além disso, o monitor deve contabilizar a presen-
a presença de monitores experimentes. ça de insetos benéficos.

3. Metodologia para a amostragem de pragas 3.1 O caso especial do bicudo (Anthonomus


grandis)
Avaliação visual Em áreas consideradas com o status de Zona
A amostragem de pragas no algodoeiro é rea- Vermelha (olhar resultados de armadilhamento),
lizada pela metodologia de inspeção visual, em o monitoramento para essa praga deve começar
que todas as partes do dossel (parte aérea) da quando as plantas estiverem em estádio V2; nas
planta (caule, ramos, pecíolos, folhas, brotações, demais áreas, o monitoramento deve ter início
botões florais, flores, maçãs e capulhos) devem quando as plantas emitirem os primeiros botões
ser criteriosamente observadas pelo monitor. Se florais (estádio B1), objetivando identificar rebo-
durante a amostragem o monitor notar mancha leiras infestadas iniciais. A partir daí, monitorar, no
que apresente redução do porte de plantas, a raiz mínimo, 250 botões por UBD – 2,5 botões/ha (um
também deve ser observada. Além disso, o mo- botão/planta) – para sintomas de alimentação e
nitor deve utilizar de armadilhas que sirvam de oviposição do bicudo. O tamanho do botão de-
maneira complementar – nunca substitutiva – du- verá ser padronizado em 6 mm de diâmetro (es-
rante o monitoramento. pessura de um lápis) e coletado de plantas que
se destacam no talhão – “plantas dominantes”
Como monitorar ou “plantas girafas”; o monitoramento dos bo-
Deve-se seguir a sequência de etapas: (1) es- tões deverá ser feito ao longo do caminhamento
colha da planta a ser monitorada (o monitor deve no talhão (entre um ponto e outro). Pode-se es-
escolher sempre uma planta ao acaso); (2) olhar tabelecer o “dia do bicudo” na fazenda, a partir
a planta observando inicialmente a infestação de do início da emissão de botões (B1), em que o
insetos-praga voadores, que facilmente se dis- monitoramento concentra-se na bordadura dos
persam (adultos de mosca-branca e percevejos, talhões (15-20 m iniciais), tomando-se a decisão
por exemplo); (3) tocar a planta, iniciando a vis- de fazer o tratamento com inseticidas apenas da
toria pela parte de cima e ir descendo: observar bordadura (ou reboleiras) ou da área total. Entre-
atentamente brotações, folhas, brácteas, ramos e tanto, em talhões que contarem com a presen-
frutos (botões, flores e maçãs), dando maior aten- ça de plantas de algodão rebrotadas (soqueiras)
ção às estruturas menos desenvolvidas, e abrin- ou germinadas (tigueras) da safra anterior, não
do as brácteas; (4) observar sintomas de dano e é indicado o monitoramento só em bordadura,
porcentagem de desfolha; (5) guardar na memó- uma vez que a praga pode já estar estabelecida
ria o que observou/contabilizou e (5) anotar as dentro do talhão.

271
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: José Medeiros) Técnicas 27, 31, 39 e 44) mostram que,


anualmente, vem ocorrendo redução
na eficiência de moléculas pertencen-
tes a esse grupo químico. Desse modo,
em primeiro momento, deve-se evitar o
uso de piretroides de forma isolada para
o controle do bicudo-do-algodoeiro,
esperando-se o reestabelecimento da
suscetibilidade das populações.
Outros fatores favoráveis importan-
tes à espécie são, por conta da dinâmica
dos agroecossistemas de cultivo do Cer-
Figura 4. O bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis rado, a adoção de cultivares resistentes
a herbicidas e o curto intervalo de tem-
po transcorrido entre a colheita do algo-
dão e o plantio da soja, o que dificulta
Para melhor controle dessa praga é a destruição efetiva dos restos culturais.
necessário um conhecimento mais am- Adultos do bicudo-do-algodoeiro têm
plo: o bicudo tem o comportamento conseguido manter-se nas áreas du-
de ovipositar e completar o desenvolvi- rante a entressafra alimentando-se de
mento no interior das estruturas repro- plantas rebrotadas e/ou tigueras dentro
dutivas do algodoeiro. Além de destruir das culturas subsequentes e nelas se re-
a parte produtiva da planta, esse com- produzindo. Isso acarreta o surgimento
portamento dificulta o contato da pra- precoce de grandes populações na fase
ga com o inseticida, obrigando a ado- inicial das lavouras.
ção de práticas curativas de controle Dessa forma, para o controle da
quase que exclusivamente para a fase praga é necessário um plano regional
adulta. Com a colonização da lavoura e estruturado de manejo. Desde a safra
as oviposições por vários dias, ocorrem 2015/2016 foram formados em Mato
subsequentes emergências de adultos, Grosso grupos regionais chamados
o que, dessa forma, requer aplicações Grupos Técnicos do Algodão (GTAs), o
seriadas de inseticidas em intervalos de que tem surtido efeito positivo sobre
aproximadamente cinco dias, visando o controle do bicudo. As ações adota-
reduzir a população de adultos na área das em cada região são norteadas por
de cultivo. um plano de ação, elaborado e valida-
É importante salientar que, atual- do levando-se em consideração carac-
mente, cerca de 70% dos inseticidas e/ terísticas regionais. Basicamente, esse
ou misturas comerciais registradas pelo conjunto de ações é dividido em ações
Mapa para uso contra o bicudo-do-algo- pré e pós-plantio do algodão, além de
doeiro no Brasil são compostos por pi- ações complementares.
retroides, o que se dá por várias razões,
dentre elas: não causam fitotoxicidade MEDIDAS PRÉ-PLANTIO
em aplicações subsequentes com as
dosagens recomendadas; apresentam 1 – Levantamento do histórico de infes-
baixa toxicidade a mamíferos e toxicida- tação das áreas e talhões;
de para diversas pragas, além do baixo 2 – Mapeamento dos focos conhecidos
custo. Porém, por conta do uso frequen- como porta de entrada e saída do bi-
te, nos últimos anos, estudos periódi- cudo (identificação de possíveis áreas
cos realizados pelo IMAmt (Circulares de refúgio);

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3 – Após a identificação dos focos de entrada e 2 – Ações conjuntas e trocas de informações;


saída, planejar, antecipar e executar medidas de 3 – Validação de sistemas, doses e métodos de
controle diferenciadas; destruição química ou mecânica de soqueira;
4 – Monitoramento de áreas de soja que sucedem 4 – Validação de sistemas relacionados à tecnolo-
algodão, verificando a presença de soqueiras e/ gia de aplicação.
ou tigueras de algodoeiro;
5 – Armadilhamento entre 30-60 dias antes do 3.2 Pragas associadas ao solo
plantio e extensão até a emissão dos primeiros Pragas como o percevejo-castanho (Scap-
botões florais; tocoris castanea, S. carvalhoi e Atarsocoris
6 – Concentração do calendário de semeadura; brachiariae) e a broca-da-raiz (Eutinobothrus
7 – Treinamento de monitores. brasiliensis)(Figura 5) não são monitoradas ro-
tineiramente; apenas deve-se verificar periodi-
MEDIDAS PÓS-PLANTIO camente sua incidência por meio de vistorias
ao longo do ano agrícola na área a ser cultiva-
1 – Aplicação de inseticida em bordadura (apenas da, por meio de trincheiras (0,30 × 0,30 × 0,75
em área de primeira safra de algodão); m), no caso do percevejo-castanho, e pela ava-
2 – Aplicação nas áreas em fase vegetativa; liação do colo e/ou sistema radicular da plan-
3 – Inspeção visual (monitoramento semanal com ta de algodoeiro, no caso da broca-da-raiz. O
pelo menos um monitor para cada 800 ha de histórico de ocorrência desse grupo de pra-
algodão); gas na área é um ótimo indicador de risco de
4 – Aplicação obrigatória em forma de bateria no ocorrência.
surgimento dos primeiros botões florais; Pragas que ocorrem com frequência no pe-
5 – Aplicação em forma de bateria no surgimento ríodo de pré-semeadura em culturas de co-
da primeira flor e do primeiro capulho; bertura (p. ex.: sorgo, milheto e capim-sudão),
6 – Colheita rápida e bem feita; como a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosel-
7 – Destruição efetiva dos restos culturais; lus) e a lagarta-rosca (Agrotis spp., Spodoptera
8 – Cumprimento do vazio sanitário; frugiperda, Striacosta albicosta e Helicoverpa
9 – Uso de tubos mata-bicudo (TMB); armigera), devem ser o alvo principal da vis-
10 – Carregamento adequado de cargas e limpe- toria de palhada, que deverá ser realizada,
za de acessos e rodovias. semanalmente, de duas a três vezes antes da
semeadura, observando-se 1 m² de área com a
AÇÕES COMPLEMENTARES cultura de cobertura (verde ou dessecada), uti-
lizando uma armação de 1 × 1 m, em dez locais
1 – Fazer o dia do bicudo (dia dedicado à realização diferentes no interior da UBD (sete pontos na
de ações dentro de uma mesma propriedade); bordadura e três no interior da área).
(Imagens: Paulo Saran)

1 2

Figura 5. Percevejo-castanho (1) e broca-da-raiz (2)

273
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

As vistorias de pré-safra para cons- cobertura (complementares e/ou se-


tatação das espécies de pragas na área quenciais) para o fortalecimento do sis-
a ser cultivada com algodoeiro, aliadas tema radicular das plantas.
a seus históricos de ocorrência, darão
respaldo para a tomada de decisão de: 4. Fenologia do algodoeiro e
(1) realizar o tratamento de sementes ocorrência de pragas
com inseticidas, (2) aplicar inseticidas A cultura do algodoeiro pode ser di-
na cultura de cobertura isoladamente vidida em quatro fases principais com
ou em conjunto com o herbicida des- relação à incidência/ocorrência de pra-
secante, (3) realizar a dessecação an- gas ao longo de seu ciclo (fenologia),
tecipada da cultura de cobertura, (4) em que determinadas ações e práticas
realizar a semeadura em época menos devem ser tomadas para que os proble-
favorável à incidência das referidas mas causados pelas pragas sejam mini-
pragas e/ou (5) realizar adubação de mizados (Figura 6 e Tabela 2).

Figura 6. Manejo integrado de pragas na cultura do algodoeiro

274
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Tabela 2. Fases da cultura do algodoeiro vs. pragas – observações, ações e/ou práticas
Pragas ocorrentes e/ou
Fase da Cultura Observações, ações e/ou práticas
predominantes
Uso de armadilha com feromônio para o monitoramento do
bicudo-do-algodoeiro em pré-safra (pelo menos 60 dias antes da
semeadura).

Manejo de palhada com inseticidas.

Uso de variedades resistentes à virose (doença azul e virose


atípica).
Lagarta-elasmo, lagarta-ros-
Tratamento de sementes.
Fase 1 – Vegetativa ca, broca-da-raiz, perceve-
(da semeadura/ jo-castanho, tripes, pulgão,
Deve-se contribuir para o estabelecimento do estande, favorecen-
emergência ao cigarrinhas, formigas-corta-
do o bom desenvolvimento inicial da lavoura.
primeiro botão deiras, lagarta-curuquerê,
floral) lagarta-falsa-medideira,
Manter uma lavoura com baixa transmissão de viroses (realizar um
bicudo e lagarta-da-maçã
bom controle de mosca-branca e pulgões).

Atentar-se ao ataque de lagarta-curuquerê nas variedades não Bt


nessa fase, que pode ser muito prejudicial.

Antes dos 80 dias após a emergência (DAE) não realizar aplicações


frequentes de inseticidas piretroides e/ou organofosforados – evi-
tar o desequilíbrio da lavoura, que favorece a ocorrência de pragas
como, por exemplo, o ácaro-rajado.

Fase de estabelecimento e formação da carga (mais suscetível): ter


muita atenção com pragas que afetam as estruturas reprodutivas,
como bicudo, percevejos, lagarta-das-maçãs, lagarta Spodoptera e
lagarta-rosada.

Do 1º botão até a 1ª flor (período de 15-20 dias): momento de cor-


rigir os problemas de manejo (caso a caso), visto que é o período
mais importante do ponto de vista da incidência/ataque de pragas
Bicudo, pulgão, lagarta-das- e seus riscos – (1) é a fase em que o primeiro ovo de bicudo-do-al-
Fase 2 – Floresci- maçãs, lagarta Spodoptera, godoeiro é ovipositado: o descontrole da população pode ser
mento e frutifi- percevejos, ácaro-bran- irreversível, (2) em que as primeiras e contínuas posturas da lagar-
cação co, ácaro-rajado, lagar- ta-das-maçãs e de lagarta Spodoptera são observadas
(do 1º botão até o ta-curuquerê, lagarta-fal- (início das infestações): a perda do timing da aplicação de insetici-
1º capulho) sa-medideira, lagarta-rosada, das pode resultar em sérios problemas de queda/perda de estrutu-
broca-da-haste e cochonilhas ras e dificuldade de controle, e (3) surgem as primeiras reboleiras
de ácaro-rajado e mosca-branca (no caso da mosca-branca, o esta-
belecimento da praga na área – oviposição e desenvolvimento de
ninfas e novas gerações – pode inviabilizar ou dificultar o controle).

Antes dos 80 DAE não realizar aplicações frequentes de insetici-


das piretroides e/ou organofosforados – evitar o desequilíbrio da
lavoura, que favorece a ocorrência de pragas, como, por exemplo,
o ácaro-rajado.

Continuação -->

275
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 2. Continuação

Pragas ocorrentes e/ou


Fase da Cultura Observações, ações e/ou práticas
predominantes
Garantir a produção das maçãs já formadas do baixeiro e terço
Bicudo, pulgão, lagarta médio, procurando proporcionar condições para o pegamento
Spodoptera, lagarta-rosada, daquelas do terço superior.
Fase 3 – Maturação
lagarta-curuquerê, lagar-
(do 1º capulho à
ta-falsa-medideira, broca-da- Preservar a qualidade da fibra.
colheita)
haste, mosca-branca, áca-
ro-rajado e ácaro-branco Maior atenção com bicudo-do-algodoeiro, percevejos, pulgões e
mosca-branca.

Momento em que se realizam a destruição de soqueira e o controle


de plantas tigueras e rebrotas (obedecer à legislação vigente em
cada local).
Fase 4 – Planeja-
mento Pragas presentes na soqueira Momento da escolha das variedades a serem plantadas na próxima
(da colheita até (rebrota), plantas voluntárias safra, dos talhões a serem cultivados, do treinamento da equipe de
o início da safra ou culturas de cobertura monitoramento, da compra de insumos e fertilizantes, do
seguinte) armadilhamento para monitoramento do bicudo-do-algodoeiro.

Vistoria de palhada antes do plantio para decisão de uso de inseti-


cidas na dessecação ou em tratamento de sementes.

5. Distribuição (vertical) de pragas na planta do algodoeiro


A Figura 7 apresenta a distribuição vertical das pragas na planta de algodoeiro.

Figura 7. Algodoeiro vs. distribuição do ataque de pragas

276
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2012

6. Características das pragas para a identificação inimigos naturais o são no Boletim de Identi-
As principais pragas do algodoeiro e seus ficação nº2/2018. Outras informações encon-
danos são descritos no Boletim de Identifi- tram-se no Compêndio de identificação do
cação nº 1/2019 do IMAmt, assim como seus IMAmt (2019).

BOLETIM DE IDENTIFICAÇÃO BOLETIM DE IDENTIFICAÇÃO

Número 1 | Março de 2019 Número 2 | Março de 2018

Pragas e seus danos Inimigos naturais


em algodoeiro em algodoeiro

COMPÊNDIO
DE IDENTIFICAÇÃO
Problemas agronômicos em algodoeiro
e ferramentas de controle

Figura 8. Boletins e compêndio de identificação do IMAmt

7. Níveis de controle abaixo (em torno de 4% a 8%) do NDE (Nível de


Os níveis de controle (NC) são utilizados para Dano Econômico). Isso ocorre para que, quan-
tomar a decisão ou não de se aplicar alguma do a decisão de controle seja tomada, exista um
tática para o controle das pragas incidentes na período de segurança até o momento da inter-
UBD, com intuito de evitar perdas. De acordo venção da população da praga com inseticida
com as informações coletadas pelos monito- (que pode durar mais de um dia, em alguns ca-
res no campo, é feita a comparação com o NC sos), de maneira a não ultrapassar o NDE. O NDE
(Tabela 3) estabelecido e, então, a decisão de corresponde ao nível populacional ou de injúria
controle é tomada, normalmente pelo geren- da praga capaz de causar algum dano igual ou
te-técnico da propriedade. O NC está sempre superior ao custo do controle.

Tabela 3. Níveis de controle (NC) das pragas que atacam a cultura do algodoeiro em MT – observações, ações e/ou práticas
Observações, ações e/ou
Nome Comum Nome científico Nível de Controle (NC)
práticas
Vistoria de palhada pré-des-
secação/semeadura.

Levar em consideração o
Agrotis spp., Spodoptera
estande (plantas/m e dis-
Lagarta-rosca frugiperda e/ou Striacosta Não definido.
tribuição) desejado.
albicosta
Controle preventivo em
função da detecção/histórico
da praga.
Continuação -->

277
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 3. Continuação
Observações, ações e/ou
Nome Comum Nome científico Nível de Controle (NC)
práticas
Vistoria de palhada pré-des-
secação/semeadura.

Em função do histórico de
ocorrência.
Lagarta-elasmo Elasmopalpus lignosellus Não definido.
Semeadura fora de época (ris-
co de veranico)/solo arenoso/
tipo de planta de cobertura
favorável.
Sintomas de ataque: folhas
Frankliniella schultzei 20% de plantas infestadas e/ou deformadas, brilhantes, que-
Tripes Caliothrips phaseoli com sintomas de ataque (constata- bradiças e retorcidas.
Caliothrips brasiliensis da a presença da praga na área).
Atenção em bordaduras.
Simbologia da infestação:

Presença (P): adulto e/ou nin-


fa encontrado isoladamente
Cultivares tolerantes à virose
na planta.
(pulgão vetor): até 40% de plantas
com pelo menos uma colônia –
Alados (A): pulgões com asas
somente colônias.
encontrados na planta ou nas
colônias.
Cultivares suscetíveis à virose
(pulgão vetor): 0-2% de plantas
Colônia (C): grupos de 2-10
viróticas (5-10% de plantas infes-
pulgões (adultos, ninfas e/
tadas); 2-6% de plantas viróticas
ou alados) encontrados na
(até 3% de plantas infestadas); >
planta.
6% de plantas viróticas (presença
Pulgão-do-algo-
Aphis gossypii ou ausência). Usar esses níveis de
doeiro Colônia (C+): grupos de 10 ou
controle após a primeira avaliação
mais pulgões (adultos, ninfas
de plantas viróticas aos 30 DAE;
e/ou alados) encontrados na
antes, a meta é não permitir a insta-
planta.
lação de virose na área (presença
e ausência) – alados entram na
C++: planta com duas ou
avaliação.
mais colônias na planta.
Final do ciclo (após o primeiro
Quanto mais infestada, acres-
capulho): 20% de plantas infesta-
centar “+”.
das com colônias e sinais iniciais de
melado.
Atentar-se ao controle no final
do ciclo: problemas com qual-
idade de fibra (caramelização
ou melado).
10% de desfolha da planta associa- Atentar-se a infestações/in-
Larva-minadora Liriomyza spp. da à presença da larva na folha e/ júrias nas folhas do baixeiro e
ou galerias nas folhas. bordaduras.
Plantas enfezadas, com folhas
e brotações deformadas.

20% de plantas infestadas e/ou Folhas atacadas apresentam


Cigarrinha-cinza Agallia sp. com sintomas de ataque (constata- sinais semelhantes à ramu-
da a presença da praga na área). lose em estádio inicial (evitar
confundir).

Atenção em bordaduras.
Continuação -->
278
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Tabela 3. Continuação
Observações, ações e/ou
Nome Comum Nome científico Nível de Controle (NC)
práticas
Atentar-se a desfolha por
Até 30-40 DAE: 10% de desfolha
granizo, fitotoxicidade de de-
da planta ou 2 lagartas/m (o que
fensivos e fertilizantes, dano
ocorrer primeiro).
mecânico etc.
Lagarta-curuquerê Alabama argillacea
Após 30-40 DAE: 10% de desfolha
Padronização de tamanho:
da planta ou 25% de desfolha do
Pequena (P) – até 7 mm
ponteiro, ou 2 lagartas/planta (o
Média (M) – 7-15 mm
que ocorrer primeiro).
Grande (G) – maior que 15 mm
Idem curuquerê.

Atentar-se à infestação no
Até 30-40 DAE: 10% de desfolha da
baixeiro e no terço médio.
planta ou 2 lagartas/m.
Lagarta-falsa-me- Chrysodeixis includens e
dideira Trichoplusia ni Uso de armadilhas lumino-
Após 30-40 DAE: 10% de desfolha
sas para captura de adultos,
da planta ou 2 lagartas/planta.
detecção do início da infes-
tação e confirmação de qual
espécie está ocorrendo.
Idem curuquerê.
Lagarta-eridania Spodoptera eridania Idem curuquerê.
Atentar-se ao risco de ocor-
rência em reboleiras.

Padronização de tamanho:
Pequena (P) – até 7 mm
Média (M) – 7-15 mm
Grande (G) – maior que 15 mm

Confirmar espécie ocorrente:

C. virescens: tem microespin-


hos visíveis nas pintas mais
6-8% de plantas infestadas (planta proeminentes – examinar
infestada: planta com pelo menos com lupa de bolso (mín. 20x).
uma lagarta).
H. zea/H. armigera: não tem
30-50 ovos/100 plantas: período microespinhos visíveis nas
de atenção – 2 dias após verificar a pintas mais proeminentes –
eclosão: não aplicar para controle examinar com lupa de bolso
Chloridea virescens, Helicover-
Lagarta-das-maçãs de ovos; aplicar somente se o NC (mín. 20x).
pa zea, Helicoverpa armigera
for atingido.
Uso de armadilhas luminosas
Para Helicoverpa zea e Helicoverpa (ou feromônios) para captura
armigera considerar o nível de de adultos, detecção do
controle de 5-8 lagartas em 100 início da infestação e confir-
plantas amostradas, pois é muito mação de qual espécie está
rápida em causar danos. ocorrendo.

No algodão adensado (0,45


m entrelinhas) o NC pode ser
reduzido.

Ocorrência simultânea
com Spodoptera frugiperda,
considerar a somatória das
espécies.

Continuação -->
279
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 3. Continuação
Observações, ações e/ou
Nome Comum Nome científico Nível de Controle (NC)
práticas
Padronização de tamanho:
Pequena (P) – até 7 mm
Média (M) – 7-15 mm
Grande (G) – maior que 15 mm
6-8% de plantas infestadas (planta
Lagarta Spodoptera
Spodoptera frugiperda infestada: planta com pelo menos Observar lagarta Spodoptera
(Lagarta-militar)
uma lagarta). com hábito de lagarta-rosca.

Ocorrência simultânea com a


lagarta-das-maçãs; considerar
a somatória das espécies.
Instalação das armadilhas de
10 adultos capturados por armadilha
feromônio a partir do início do
de feromônio a cada duas noites ou
Lagarta-rosada Pectinophora gossypiella florescimento.
até 3-5% de maçãs com sintomas de
ataque.
Atentar-se a flores em roseta.
Número de BAS (bicudo/armadilha/
semana) em pré-semeadura (60 dias Definição de zonas verde (0
antes da semeadura). BAS), azul (0-1 BAS), amarela
(1-2 BAS) e vermelha (> 2 BAS).
Máximo de 5% de botões preferi-
Bicudo-do- dos (com 6 mm de Ø) atacados Monitoramento da bordadura
Anthonomus grandis
algodoeiro (com sinais de alimentação e/ou (30 m iniciais): “dia do bicudo”
oviposição). (tratamento da bordadura).

**Em locais considerados zona Vigilância e combate das


vermelha, trabalhar com índice de reboleiras.
presença e ausência.
Priorizar a inspeção de maçãs
mais suscetíveis (25 mm de
diâmetro) para sintomas de
injúrias/danos.
Euschistus heros, Edessa
Percevejos invaso-
meditabunda, Nezara viridu- Uso de pano de batida.
res da soja 0,1–0,3 percevejos/planta
la, Piezodorus guildinii e/ou
(complexo)
Dichelops melacanthus Uso de rede de varredura.

Atenção em bordaduras e
período de colheita da soja
vizinha.
Horciasoides nobilellus,
Percevejo-rajado 20% de plantas com presença de
Niestrea sidae e/ou Taedia -
(complexo) ninfas/adultos.
stigmosa
Percevejo- Atentar-se às infestações de
Dysdercus sp. Idem percevejo rajado.
manchador final de ciclo.
Histórico de infestação da
praga na área.
Scaptocoris castanea e/ou
Percevejo-castanho Não definido.
Atarsocoris brachiariae Presença da praga na área de
cultivo (abertura de trincheiras
para vistoria)

Continuação -->

280
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Tabela 3. Continuação
Observações, ações e/ou
Nome Comum Nome científico Nível de Controle (NC)
práticas
Atentar-se ao controle no final
do ciclo: problemas com quali-
20% de plantas com adultos, ninfas dade de fibra (caramelização).
Mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B
e início de formação de melado.
Combate de reboleiras iniciais
de ninfas (bordaduras).
10% de plantas com sintomas/
atacadas (avermelhamento das Priorizar combate de
Ácaro-rajado Tetranychus urticae
folhas, presença de teias e ácaros reboleiras.
na parte abaxial das folhas).
Priorizar combate de
Ácaro-vermelho Tetranychus ludeni Idem ácaro-rajado.
reboleiras.
40% de plantas com sintomas de
Atentar para áreas próximas
ataque (folhas do ponteiro brilhan-
Ácaro-branco Polyphagotarsonemus latus a matas nativas e com alta
tes, coriáceas, bronzeadas, que-
umidade.
bradiças e/ou com rasgaduras).
Histórico de infestação da praga
na área.
Broca-da-raiz Eutinobothrus brasiliensis Não definido.
Cultivos mais precoces tem
maior risco.
Histórico de infestação da praga
Broca-da-haste na área.
(broca-do- Conotrachelus denieri Até 3-5% de maçãs atacadas.
ponteiro) Cultivos mais precoces têm
maior risco.
Phenacoccus solenopsis
Cochonilhas Não definido. -
Planococcus spp.
Vaquinhas des- Atenção a bordaduras e perío-
Diabrotica speciosa,
folhadoras, do de colheita da soja vizinha.
Cerotoma sp., Costalimaita
cascudinhos e Idem curuquerê (desfolha).
ferruginea, e/ou Cycloceph-
besouros Constatar a presença da praga
ala melanocephala
desfolhadores na área.
Presença de formigas forrageando
Formiga-cortadeira
Atta spp. e/ou Acromyrmex a área e/ou cortando folhas/ramos. Atentar-se à bordadura e aos
(saúva e
spp. primeiros 40 dias da cultura.
quem-quem)
Idem curuquerê (desfolha).

281
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

8. Estratégias e táticas de controle das pragas

Tabela 4. Condições favoráveis, estratégias, práticas e/ou medidas de controle das


espécies de pragas ocorrentes em algodoeiro em MT

Condições favoráveis e outras Estratégias/práticas/


Nome Comum Nome científico
observações medidas de controle
Destruição de restos cul-
turais, soqueira e plantas
tigueras.

Clima quente e seco. Vistoria da palhada [10


Culturas de cobertura para plantio pontos (m2)/talhão: 7 na
direto são hospedeiras: gramíneas bordadura (15-20 m) e 3 no
em geral (milheto, capim-sudão e centro].
braquiárias).
Pulverização de inseticidas
Agrotis spp., Spodoptera fru-
Lagarta-rosca Dessecação mal feita da cultura de na cultura de cobertura
giperda, Striacosta albicosta
cobertura: plantas tigueras no meio (em pré-dessecação e
do algodoal. dessecação)
e/ou na palhada
Plantas daninhas hospedeiras no (em pré-semeadura).
entorno dos cultivos e na área de
cultivo. Dessecação antecipadas (30
dias antes da semeadura).

Tratamento de sementes
com inseticidas.
Destruição de restos cul-
turais, soqueira e plantas
tigueras.

Vistoria da palhada [10


Clima quente e seco.
pontos (m2)/talhão: 7 na
bordadura (15-20 m) e 3 no
Algumas culturas de cobertura
centro].
para plantio direto são hospedei-
ras, especialmente o sorgo forrage-
Dessecação antecipadas (30
iro e capim-pé-de-galinha.
dias antes da semeadura).
Lagarta-elasmo Elasmopalpus lignosellus
Plantas daninhas hospedeiras no
Tratamento de sementes
entorno dos cultivos e na área de
com inseticidas.
cultivo: aumento da infestação na
área.
A infestação na área é
desfavorecida por solos com
Solos arenosos: menor retenção de
elevada umidade.
água.
Variedades Bt minimizam o
problema (adotar áreas de
refúgio para evitar problemas
de resistência).
Pulverização foliar de inseti-
cidas em função do NC (não
realizar sub e superdosagens
Frankliniella schultzei Clima seco com temperaturas
para evitar problemas de
Tripes Caliothrips phaseoli amenas.
resistência).
Caliothrips brasiliensis Veranicos.
Tratamento de sementes
com inseticidas.

282 Continuação -->


AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Tabela 4. Continuação
Condições favoráveis e outras Estratégias/práticas/
Nome Comum Nome científico
observações medidas de controle
Pulverização foliar de inseti-
cidas em função do NC (não
realizar sub e superdosagens
Clima quente e relativamente
para evitar problemas de
úmido.
resistência).
Após adubações nitrogenadas
Tratamento de sementes
(plantas tenras).
Pulgão-do- com inseticidas.
Aphis gossypii
algodoeiro
Brotações nas plantas favorecem a
Controlar infestações de final
alimentação da praga: sugam seiva
de ciclo: mela afeta a quali-
do floema.
dade da fibra.
Viroses iniciais em reboleiras.
Realizar catação (roguing)
de plantas com sintomas de
viroses.
Pulverização foliar de inseti-
cidas em função do NC (não
Plantas da fase inicial (primeiros 40
realizar sub e superdosagens
dias) são mais sujeitas ao ataque.
para evitar problemas de
resistência).
Larva-minadora Liriomyza spp. Época seca favorece a praga.
Placas adesivas amarelas (ar-
Folhas do baixeiro sofrem maior
madilhas) podem contribuir
ataque.
para a captura de adultos e
diminuir a infestação.
Pulverização foliar de inseti-
cidas em função do NC (não
Clima quente e úmido. realizar sub e superdosagens
para evitar problemas de
Após a eliminação de gramíneas resistência).
Cigarrinha-cinza Agallia sp. invasoras da área de cultivo pela
aplicação de herbicidas, ocorre a Tratamento de sementes
dispersão da praga para as plantas com inseticidas.
de algodoeiro.
Verificar se o ataque não é
apenas localizado.
Pulverização foliar de inseti-
cidas em função do NC (não
realizar sub e superdosagens
Período ensolarado com chuvas para evitar problemas de
regulares. resistência).
Lagarta-curuquerê Alabama argillacea
Temperatura e umidade altas. Variedades Bt (adotar áreas
de refúgio para evitar prob-
lemas de seleção de popu-
lações resistentes).
Continuação -->

283
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 4. Continuação
Condições favoráveis e outras Estratégias/práticas/
Nome Comum Nome científico
observações medidas de controle
Pulverização foliar de inseti-
cidas em função do NC (não
realizar sub e superdosagens
para evitar problemas de
resistência).
Clima quente e úmido.
Variedades Bt (adotar áreas de
Lavouras densas e com ruas fecha-
refúgio para evitar problemas
das (difícil de atingir o alvo).
de seleção de populações
resistentes).
Cultivo adensado (difícil de atingir
o alvo).
Uso de pingentes ou
Lagarta-falsa- Chrysodeixis includens e
pulverizadores tipo “vortex”
medideira Trichoplusia ni Aplicações indiscriminadas de
favorece a tecnologia de
fungicidas (eliminação de fungos
aplicação.
entomopatogênicos/benéficos).
Uso de armadilhas lumino-
Plantio safrinha após soja.
sas para detectar o início das
infestações.
Rotação soja-algodão por várias
safras: aumento da população.
Inserir outras culturas não
hospedeiras no sistema de
rotação.

Reduzir a janela de cultivo.


Pulverização foliar de inseti-
cidas em função do NC (não
realizar sub e superdosagens
Clima quente e úmido.
para evitar problemas de
resistência).
Lagarta-eridania Spodoptera eridania Aplicações indiscriminadas de
fungicidas (eliminação de fungos
Variedades Bt (adotar áreas de
entomopatogênicos/benéficos).
refúgio para evitar problemas
de seleção de populações
resistentes).
Pulverização foliar de inseti-
cidas em função do NC (não
realizar sub e superdosagens
para evitar problemas de
resistência).
Lagarta-cosmioides Spodoptera cosmioides Clima quente e úmido.
Variedades Bt (adotar áreas de
refúgio para evitar problemas
de seleção de populações
resistentes).

Continuação -->

284
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Tabela 4. Continuação
Condições favoráveis e outras Estratégias/práticas/
Nome Comum Nome científico
observações medidas de controle

Pulverização foliar de inseti-


cidas em função do NC (não
realizar sub e superdosagens
para evitar problemas de
resistência).
Clima quente e úmido.
Variedades Bt (adotar áreas de
Lavouras densas e com ruas fecha-
refúgio para evitar problemas
das (dificuldade em atingir o alvo).
de seleção de populações
resistentes).
Plantio safrinha após soja.
Utilizar o controle biológico
Cultivo adensado (dificuldade em
com Trichogramma e vírus da
Chloridea virescens atingir o alvo).
poliedrose nuclear (NPV)
Lagarta-das-maçãs Helicoverpa zea
Helicoverpa armigera Aplicações indiscriminadas de
Uso de armadilhas lumino-
fungicidas (eliminação de fungos
sas para detectar o início das
entomopatogênicos/benéficos).
infestações.
Maior atividade de adultos (mari-
Inserir outras culturas não
posas) em fase de lua nova.
hospedeiras no sistema de
rotação.
Rotação soja-algodão por várias
safras: aumento da população.
Reduzir a janela de cultivo.

Atentar-se às dosagens
diferenciadas em função da
espécie ocorrente.

Pulverização foliar de inseti-


cidas em função do NC (não
realizar sub e superdosagens
para evitar problemas de
resistência).
Clima quente e seco (estiagem
dificulta o controle, favorecendo a Variedades Bt (adotar áreas de
infestação). refúgio para evitar problemas
de seleção de populações
Lagarta Spodoptera
Spodoptera frugiperda Cultivo de milho não Bt nas ad- resistentes).
(Lagarta-militar)
jacências dos cultivos.
Uso de armadilhas lumino-
Lavouras densas e com ruas fecha- sas e/ou de feromônio para
das (dificuldade em atingir o alvo). detectar o início das infes-
tações.
Utilização de aplicações de
atrativo alimentar visando o
controle de adultos (atrai e
mata).
Continuação -->

285
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 4. Continuação
Condições favoráveis e outras Estratégias/práticas/
Nome Comum Nome científico
observações medidas de controle
Pulverização foliar de inseticidas em
função do NC (não realizar sub e su-
perdosagens para evitar problemas
Época seca, após temporada chu-
de resistência).
vosa, com temperaturas elevadas.
Uso de armadilhas de feromônio/
Maior incidência em cultivo tardio
luminosas para detectar o início da
ou em áreas sem destruição de
infestação (usar o índice de captura
soqueira no ano anterior.
Pectinophora nas armadilhas de feromônio para a
Lagarta-rosada
gossypiella determinação do NC).
Plantios tardios.
Confundimento de machos pela
Proximidade de algodoeiras e usi-
saturação no ambiente com feromônio
nas de beneficiamento.
sexual – técnica do confundimento.
Ataque maior nas bordaduras.
Variedades Bt (adotar áreas de refú-
gio para evitar problemas de seleção
de populações resistentes).
Clima quente e úmido.
Plantio concentrado na região.
Permanência de botões/maçãs
infestadas sobre o solo; possibili- Pulverização foliar de inseticidas nas
dade de rebrota das plantas, com bordaduras a partir de V2.
emissão de botões e formação de
frutos. Aplicações semanais no 1º botão
floral (B1) em função da zona de clas-
Rebrota de plantas desfolhadas sificação pelo número BAS – bicu-
e/ou dessecadas em final de ciclo dos capturados/armadilha/semana
(chuvas indesejadas no final do (Zona Verde: não aplicar; Azul: uma
ciclo). aplicação; Amarela: duas aplicações;
Vermelha: três aplicações).
Áreas próximas aos refúgios de
entressafra são mais sujeitas às Pulverização foliar de inseticidas em
infestações. função do NC (não realizar sub e su-
perdosagens para evitar problemas
Bicudo-do- Ataque inicial é maior nas de resistência).
Anthonomus grandis
algodoeiro bordaduras.
Aplicações de inseticidas no final
Plantas tigueras nas proximidades da safra: redução da população de
dos talhões na entressafra. entressafra (hibernante).

Áreas sem rotação e sem vazio Colheita rápida.


sanitário adequado.
Destruição de soqueiras, plantas
Lavouras densas (dificuldade em tigueras e outros hospedeiros ao
atingir o alvo). redor e no interior dos talhões.

Primeiros talhões semeados. Utilização de tubo mata bicudo – TMB


(na entressafra).
Fluxo de bicudos de áreas vizinhas
em colheita. Monitoramento da população na
entressafra com armadilha de
Proximidade de algodoeiras e usi- feromônio.
nas de beneficiamento.
Continuação -->

286
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Tabela 4. Continuação
Condições favoráveis e outras Estratégias/práticas/
Nome Comum Nome científico
observações medidas de controle

Clima quente e úmido.


Pulverização foliar de inseti-
cidas em função do NC (não
Plantio safrinha após soja.
realizar sub e superdosagens
para evitar problemas de
Cultivos de soja adjacentes às áreas
resistência).
de cultivo (dispersão quando da
maturação e/ou colheita da soja),
Intensificar o monitoramento
especialmente de áreas destinadas
da população e de sintomas
Euschistus heros, Edessa à produção de grãos.
Percevejos invaso- de injúrias no período de
meditabunda, Nezara viridu-
res da soja colheita da soja das adjacências.
la, Piezodorus guildinii e/ou Ataque inicial é maior nas bordaduras.
(complexo)
Dichelops melacanthus
Intensificar o monitoramen-
Diminuição das aplicações de
to nas semanas iniciais do
inseticidas de amplo espectro (áreas
florescimento do algodoeiro
em que se cultivam variedades Bt ou
(da 1ª a 5ª semana): quando
em que a pressão populacional de
a lavoura apresenta maior
bicudo é menor).
quantidade maçãs suscetíveis
ao ataque de percevejos
Uso de inseticidas mais específicos
(com 25 mm de diâmetro).
para o controle de outras pragas.

Pulverização foliar de inseti-


cidas em função do NC (não
realizar sub e superdosagens
Horciasoides nobilellus,
Percevejo-rajado para evitar problemas de
Niestrea sidae e/ou Taedia Clima quente e seco.
(complexo) resistência).
stigmosa
Combate simultâneo com
outras pragas.

Clima quente e seco.

Percevejo- Últimos talhões a serem colhidos


Dysdercus sp. Idem percevejo-rajado.
manchador são mais sujeitos à infestação:
dispersão da praga dos talhões já
colhidos.

Continuação -->

287
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 4. Continuação

Condições favoráveis e outras Estratégias/práticas/


Nome Comum Nome científico
observações medidas de controle
Após a primeira chuva, depois da
colheita da cultura de verão: prepa-
ro do solo (subsolagem ou aração
seguida de gradagens).

Entressafra sem cobertura (pousio).

Antecipação do plantio: escape do


sistema radicular pouco
Período chuvoso: aumenta o desloca-
desenvolvido.
mento da praga à superfície do solo,
bem como sua dispersão, deixando
Pulverização de inseticidas no sulco
às raízes das plantas mais sujeitas ao
Scaptocoris castanea de semeadura.
ataque e infestando outras áreas.
Percevejo-castanho e Atarsocoris bra-
chiariae Adubação de base adequada,
Áreas anteriormente cultivadas
acrescida de Ca e P para aumentar
com pastagens são de maior risco.
enraizamento.
Ataque em reboleiras.
Uso de bioestimuladores de enraiza-
mento.

Bom controle de plantas daninhas


(na entressafra e na cultura).

Aplicar de adubação de cobertura


com sulfato de amônio nas rebolei-
ras infestadas.

Destruição de restos culturais.

Preparo antecipado do solo (30 dias).


Clima quente e seco.
Evitar plantio escalonado.
Aplicações indiscriminadas de
fungicidas (eliminação de fungos
Controle de plantas daninhas
entomopatogênicos/benéficos).
hospedeiras.
Bemisia tabaci Plantio safrinha após soja.
Mosca-branca Utilizar barreiras protetoras (sorgo/
biótipo B
milho).
Rotação soja-algodão por várias
safras: aumento da população.
Rotação de culturas.
Facilmente dispersada pelo vento.
Combate de reboleiras ou bordadu-
ras infestadas.
Ataque inicial de ninfas em reboleiras.
Controlar infestações de final de ciclo:
mela afeta a qualidade da fibra.

Continuação -->

288
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Tabela 4. Continuação

Condições favoráveis e outras Estratégias/práticas/


Nome Comum Nome científico
observações medidas de controle
Tempo quente e seco.

Ataque em reboleiras. Pulverização foliar de acari-


cidas em função do NC (não
Plantio safrinha imediato após soja realizar sub e superdosagens
ou outra cultura hospedeira. para evitar problemas de
resistência).
Rotação soja-algodão por várias
safras: aumento da população. Rotação com culturas não
Ácaro-rajado Tetranychus urticae hospedeiras.
Ácaro-vermelho Tetranychus ludeni Lavouras desequilibradas.
Destruição de soqueira.
Aplicações de inseticidas
piretroides antes dos 80 dias após Eliminar plantas hospedeiras
a emergência (DAE) favorecem a pelo menos 30 dias antes da
praga na área de cultivo. semeadura.

Aplicações indiscriminadas de Combate nas reboleiras.


fungicidas (eliminação de fungos
entomopatogênicos/benéficos).

Pulverização foliar de acari-


cidas em função do NC (não
Ácaro-branco Polyphagotarsonemus latus Tempo quente e úmido. realizar sub e superdosagens
para evitar problemas de
resistência).

Destruição de soqueira e
rebrotas.

Tratamento de sementes, se-


Solos de mais úmidos/frios. guido de duas a três pulveri-
zações de inseticidas a partir
Proximidade de áreas de pastagens da emergência.
e de refúgios de entressafra.
Broca-da-raiz Eutinobothrus brasiliensis Destruição de soqueiras,
Ataque mais comum nas bordaduras. plantas tigueras e outros
hospedeiros ao redor e no
Áreas sem rotação e vazio sanitário interior dos talhões.
adequado.
Aplicações de inseticidas no
final da safra ou dessecação:
redução da população de
adultos de entressafra.

Continuação -->

289
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 4. Continuação
Condições favoráveis e outras Estratégias/práticas/
Nome Comum Nome científico
observações medidas de controle
Tratamento de sementes, seguido de
duas a três pulverizações de insetici-
das a partir da emergência.
Clima úmido e quente.
Destruição de soqueiras, plantas
tigueras e outros hospedeiros ao
Primeiros cultivos: plantio anteci-
Broca-da-haste redor e no interior dos talhões.
pado serve como cultura atrativa/
(Broca-do- Conotrachelus denieri
isca – maior incidência de ataque/
ponteiro) Aplicações de inseticidas no final
infestação.
da safra ou dessecação: redução da
população de adultos de entressafra.
Ataque mais comum nas bordaduras.
Aplicações de inseticidas em flo-
rescimento pleno para a proteção de
maçãs.

Clima quente e seco.

Ataque em reboleiras.
Pulverização foliar de inseticidas/
acaricidas (não realizar sub e super-
Permanência de soqueira, plantas
dosagens para se evitar problemas
tigueras e rebrotas na área de cultivo
Phenacoccus solenopsis de resistência).
Cochonilhas (ausência de vazio sanitário e en-
Planococcus spp.
tressafra livre de plantas hospedeiras).
Destruição de soqueiras, plantas
tigueras e outros hospedeiros ao
Dispersadas facilmente na área de
redor e no interior dos talhões.
cultivo por máquinas/implementos
agrícolas, homem (monitores) e
vento.
Pulverização foliar de inseticidas em
Cultivos com elevada incidência
Diabrotica speciosa, função do NC (não realizar sub e su-
Vaquinhas de plantas daninhas (bordadura e
Cerotoma sp., Cos- perdosagens para evitar problemas
desfolhadoras, cas- interior da área de cultivo).
talimaita ferruginea, de resistência).
cudinhos e besou-
Cyclocephala melano-
ros desfolhadores Cultivos próximos a áreas de soja
cephala Eliminação de plantas daninhas dos
ou mata.
arredores dos cultivos.

Áreas de primeiro ano de cultivo Localizar os ninhos e utilizar inseti-


Atta spp. e Acromyrmex
Formiga-cortadeira e/ou próximas a capoeiras, matas, cidas em pó ou em iscas formicidas
spp.
cerrado. para o controle.

9. Informações adicionais aproximadamente 200 μm; tipo de pon-


tas: jato cônico; volume de calda: 40-
Tecnologia de aplicação – Técnicas 100 l/ha.
para Redução de Derivas (TRD) –
(inseticidas/acaricidas) AÉREA Umidade: > 55%; vento: 4-15 km/h;
temperatura: até 30°C; deposição: mínimo
TERRESTRE Umidade: > 55%; vento: de 40 gotas/cm2; tamanho da gota (DMV):
até 12 km/h (sem rajadas); tempera- aproximadamente 100-200 μm; tipo de
tura: até 30°C; deposição: mínimo de pontas: atomizador rotativo, barra de pon-
40 gotas/cm2; tamanho da gota (DMV): tas; volume de calda: 5-20 l/ha.

290
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Comunicar previamente os apicultores vi- *Respeitar a distância de segurança de áreas de


zinhos sobre os cuidados com as colmeias de mananciais e habitadas (respeitar a legislação).
abelhas. *Atentar-se ao risco de inversão térmica e
derivas.
Observação: usar adjuvante em BV. *Preferir inseticidas seletivos aos inimigos natu-
*Respeitar intervalo de reentrada na área. rais e polinizadores (para mais informações, con-
*Obrigatório o uso de EPIs. sultar Nota Técnica do IMAmt n°14/2014).

Diretrizes técnicas embasadas nas estabelecidas na edição anterior do manual e atualiza-


das junto aos Grupos Técnicos do Algodão (GTAs) estabelecidos no Estado de Mato Grosso.

Referências bibliográficas: algumas referências no final do manual. Para complementos, entrar


em contato com os autores

291
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Manejo de nematoides na cultura do


algodão em Mato Grosso
A produção de algodão no Cerrado culturas, sequência de culturas hospe-
Rafael Galbieri
brasileiro tem enfrentado crescente deiras no mesmo ano agrícola (segun-
IMAmt
disseminação e intensificação de pro- da safra), mecanização intensa e utiliza-
blemas relacionados a nematoides. Nos ção de genótipos suscetíveis.
últimos anos, no Estado de Mato Gros- Produtores, instituições de pesquisa,
so, várias propriedades, antes isentas universidades, extensionistas e con-
desses parasitas, passaram a conviver sultores estão somando forças para
com o problema que, em várias situa- enfrentá-lo. Assim, o presente manual
ções, é considerado entre os principais tratará de aspectos práticos, focando
dentro da escala de produção. Esse reconhecimento e manejo de nematoi-
Mário
quadro vem se formando na contra- des na cultura do algodoeiro no Estado
Massayuki mão do processo de tecnificação da de Mato Grosso.
Inomoto produção, uma vez que a cultura vem
Esalq/USP sendo trabalhada com uso intensivo de 1. Principais nematoides da cultura
tecnologias, dentre elas máquinas cada do algodoeiro
vez mais modernas e eficientes e incor- Os principais nematoides que cau-
poração de eventos transgênicos, que sam danos ao algodoeiro no Brasil são
garantem mais praticidade e segurança o nematoide-das-galhas (Meloidogy-
ao produtor. Com esse alto investimen- ne incognita), o nematoide-reniforme
to/tecnificação na lavoura, os custos de (Rotylenchulus reniformis) e o nematoi-
produção são expressivos e necessitam de-das-lesões-radiculares (Pratylenchus
de retorno. Nesse contexto, perdas oca- brachyurus) (Tabela 2). Dentre eles, o
sionadas por nematoides são extrema- primeiro é o mais destrutivo, com alta
Rosangela
Aparecida da
mente temidas. agressividade para a cultura, merecen-
Silva Atualmente, não se sabe ao certo do grande atenção quando presente na
Fundação MT quanto da produtividade está sendo área. O segundo é o mais persistente,
perdido em função dos nematoides com mecanismos eficientes de sobre-
em Mato Grosso. O fato é que existem vivência no campo, e o terceiro, o mais
localidades onde há perdas expressi- frequente no Estado de Mato Grosso,
vas e outras onde o problema ainda distribuído por todas as regiões de cul-
não existe. Há relatos de perdas de tivo e cujas opções de manejo são difí-
50-60% em casos extremos, com mé- ceis. Além das espécies descritas, con-
dia de até 8-10% em determinadas firmou-se recentemente o nematoide
regiões. Existem vários exemplos de Aphelenchoides besseyi parasitando o
áreas de produção de algodão que se algodoeiro em regiões específicas de
Guilherme tornaram inviáveis pela infestação de Mato Grosso. No entanto, para essa es-
Lafoucar de nematoides, como ocorrido no pas- pécie, vem sendo realizada uma série
Asmus sado nos estados de São Paulo e Paraná. de estudos para entender melhor esse
Embrapa
Nas condições do Cerrado criaram-se situa- patossistema, sendo hoje difícil prever
Agropecuária
Oeste
ções ideais para seu aumento populacio- sua evolução ou não no sistema produ-
nal, dentre elas: diversificação reduzida de tivo envolvendo o algodoeiro.

Mais informações no Boletim de P&D n°3/2016 do IMAmt

292
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IMAmt 2020
2012

Por meio de levantamento da ocorrência de fi- da Petrovina, ou menor incidência de M. incognita


tonematoides na cultura do algodoeiro em Mato e R. reniformis na região Noroeste do Estado. No
Grosso, realizado em 2011-2015, em 1.799 talhões entanto, se vem observando a dispersão dessas
amostrados (solo e raiz), verificou-se, na média, três espécies por todas as principais regiões pro-
que 96,2% apresentaram P. brachyurus, 24,4% dutoras de Mato Grosso.
M. incognita e 12,8% R. reniformis. A distribuição Os sintomas provocados pelo nematoide-das-
dessas espécies eram consideravelmente variá- -galhas ocorrem em “reboleiras” e caracterizam-
veis em função da região, como, por exemplo, o -se pela formação de galhas no sistema radicular
caso de maior ocorrência de R. reniformis na Serra (Figura 1), diminuição da área foliar, deficiências
minerais e murchamento temporário da plan-
ta durante o período mais quente do dia. Nas
folhas, é possível observar mudanças de colora-
ção, variando do amarelo ao vermelho intenso; em
(Imagem: Rafael Galbieri)

quadros mais graves, os sintomas podem evoluir


para um crestamento generalizado com desfolha
muito intensa. Sintoma bastante típico é o mos-
queamento amarelo, distribuído pelo limbo foliar,
em contraste com o verde normal levemente cla-
ro; essas áreas amarelas passam posteriormente a
uma tonalidade castanha e, por fim, necrosam-se.
Esse sintoma é conhecido pelos cotonicultores
como “carijó” do algodoeiro (Figuras 2 e 3). O ideal
é diagnosticar a doença no início do aparecimen-
Figura 1. Sintomas diretos em algodoeiro provocados to dos sintomas, quando o nematoide ainda não
por nematoides. À esquerda, raízes necrosadas pela está causando danos expressivos, o que normal-
infestação de Pratylenchus brachyurus; à direita, galhas mente não é tarefa tão fácil, pois os sintomas são
provocadas por Meloidogyne incognita menos intensos; por exemplo, as galhas são me-
nores e formam-se em radicelas muito jovens.
(Imagem: Rafael Galbieri)

Figura 2. Sintomas reflexos de “carijó” provocados por M. incognita, em Primavera do Leste, MT. Sintomas mais
avançados na foto da direita

293
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Rafael Galbieri)

Figura 3. Sintomas reflexos de “carijó” provocados por M.


incognita em planta de algodoeiro com folha “okra”

Cada galha pode conter de uma a da murcha de fusarium, denominado


várias fêmeas do nematoide; cada qual complexo FUSnem. Na interação, o ne-
depositará aproximadamente 400 matoide impede a formação de tiloses
ovos na parte externa da raiz. Para vi- (estruturas/mecanismos de defesa que
sualização das fêmeas são necessárias a planta produz no xilema para impe-
condições de laboratório com lupas dir a colonização pelo fungo), bem
(Figura 4). como predispõe a planta ao ataque
É importante relatar a forte inte- do fungo. Esse é um grande problema,
ração entre M. incognita e Fusarium principalmente em solo com textura
oxysporum f. sp. vasinfectum, causador arenosa.
(Imagem: Rafael Galbieri)

Figura 4. Ampliação de raiz do algodoeiro com sintomas


de galhas provocados por M. incognita. Destaque para a
fêmea no interior da galha (a parte posterior da fêmea é
visível como a estrutura de coloração branco-leitosa) e
para a massa de ovos (corada em vermelho pela ação
da floxina B)

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Com relação ao nematoide-reniforme massas de ovos do nematoide (Figura 7), que são
(Rotylenchulus reniformis), os sintomas provoca- de tamanho diminuto (Figura 8). Esse nematoide
dos por ele caracterizam-se por ocorrerem em tem uma capacidade muito grande de sobrevi-
reboleiras maiores (Figura 5) e não tão definidas vência no solo na ausência de plantas hospedei-
como em M. incognita, com diminuição do porte ras; em condições de baixa umidade, ele entra
das plantas. As folhas “carijó” ocorrem apenas em em estado de anidrobiose, suportando a desse-
algumas cultivares muito suscetíveis ou em condi- cação. Além disso, apresenta alta capacidade de
ções de altas populações do nematoide (Figura 6). competição com Meloidogyne incognita, prevale-
Não ocorrem alterações visuais muito expressivas cendo em locais onde ocorrem as duas espécies.
nas raízes, que apresentam redução no volume e, Por essas características, o nematoide-reniforme é
quando arrancadas, mantêm o aspecto de sujas, um grande problema no Estado de Mato Grosso,
mesmo depois de lavadas em água corrente,por a exemplo de áreas tradicionais de cultivo, como
conta da aderência de partículas de argila às em Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo.
(Imagem: Rafael Galbieri)

(Imagem: Guilherme L. Asmus; Google Earth julho 2016)

Figura 5. Reboleira em lavoura de algodoeiro causada por Rotylenchulus reniformis


(Imagens: Rosangela Silva)

Figura 6. Sintomas reflexos de “carijó” provocados por R. reniformis, em Pedra Preta, MT, em área com alta
infestação do nematoide

295
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagens: Rafael Galbieri)

Figura 7. Massas de ovos de R. reniformis visualizadas em raízes de algodoeiro após lavagem e coradas com Trypan Blue
(Imagens: Rosangela Silva)

Figura 8. Massas de ovos e fêmea de R. reniformis visualizadas em raízes de algodoeiro

Os sintomas provocados por Praty- do porte das plantas. Os sintomas cau-


lenchus brachyurus somente ocorrem sados por esse nematoide são mais
sob alta infestação e são caracterizados difíceis de serem observados quando
pelo escurecimento de longos trechos comparados aos dos anteriores, dife-
das raízes (Figura 1) e pela diminuição rentemente do que ocorre com a soja,

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cultura em que os danos são maiores do que na do Estado de Mato Grosso, há preocupação com o fato
algodoeiro. Como não apresenta sintomas tão ca- de que a soja também é hospedeira, associado à
racterísticos e evidentes como os outros nematoi- elevada umidade de dezembro a março nessas re-
des, a quantificação em laboratório se faz necessária giões, o que é fundamental para o desenvolvimento
para diagnose correta. Por esses fatores, os danos/ do nematoide.
sintomas provocados pelo nematoide em algodoei- Os sintomas causados pelo A. besseyi em algo-
ro podem ser subestimados e, muitas vezes, confun- doeiro ocorre na parte aérea das plantas e são carac-
didos com aqueles provocados em decorrência de terizados como: engrossamento de nós, bolhas no
questões físicas e químicas de solo. limbo foliar, diminuição de porte e perda de botões
Outra espécie de nematoide que foi recente- florais (Figura 9). Esse complexo de sintomas pode
mente relatada (2017) parasitando o algodoeiro ser confundido com outras causas, sendo recomen-
no cerrado brasileiro foi Aphelenchoides besseyi. Por dada análise nematológica da parte aérea das plan-
mais que ainda esteja restrita a alguns pontos do tas com sintomas para confirmação da diagnose.
(Imagens: Rafael Galbieri)

Figura 9. Sintomas de Aphelenchoides besseyi em algodoeiro: perda de estruturas reprodutivas, engrossamento dos
nós, rugosidade das folhas no ponteiro das plantas

297
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

2. Distribuição e flutuação populacional A análise de poucas subamostras


de nematoides em grandes áreas pode gerar valores
Os nematoides apresentam distri- que não representarão a realidade da
buição espacial (vertical e horizontal) in- área amostrada. As densidades popu-
fluenciada principalmente por umidade lacionais normalmente são maiores na
e presença de raízes. Para culturas anuais, época de desenvolvimento pleno da
as maiores populações concentram-se cultura em condições ideais de umi-
até 25 cm de profundidade, com algumas dade, o que compreende os meses de
exceções, como no caso de R. reniformis, abril e maio. Após a colheita, na entres-
que, em determinadas situações, encon- safra, a população dos nematoides vai
tra-se em populações maiores a 20-40 cm diminuir drasticamente até a ocasião
de profundidade. Já a distribuição hori- do plantio na safra seguinte. Essa flu-
zontal é irregular/desuniforme (distribui- tuação populacional durante a safra
ção agregada), o que necessariamente é influenciada por inúmeros fatores
tem de ser considerado e compreendido que são constantemente modificados,
entre os técnicos de campo na hora da tornando difícil prever exatamente
amostragem para quantificação. essa dinâmica.

Vários fatores físicos, químicos e biológicos afetam diretamente


a dinâmica populacional dos nematoides no campo, dentre eles:

Planta hospedeira: a resistência dos genótipos tem grande influên-


cia na multiplicação do nematoide no campo;
Fatores climáticos: - Temperatura: exerce influência direta na ativi-
dade do nematoide e na duração de seu ciclo de vida, além de afetar
na expressão da resistência da planta hospedeira; extremos de tem-
peratura (muito altas ou muito baixas) limitam a multiplicação dos
nematoides - Umidade: importante na mobilidade e na atividade dos
nematoides, porém, em excesso, afeta sua sobrevivência; ocorrência
de estresses hídricos (veranicos) em áreas infestadas pode acentuar
os danos causados por nematoides;
Textura e fatores edáficos do solo: M. incognita tem preferência por
solos mais arenosos e R. reniformis é mais frequente em solos mais
argilosos;
Fatores biológicos: relacionam-se principalmente à competição en-
tre espécies, na qual a presença de uma pode interferir na população
de outra, o que acontece entre M. incognita e R. reniformis, sobres-
saindo-se a segunda espécie;
Práticas agrícolas: rotação de culturas, uso de nematicidas, data de
plantio, controle de plantas daninhas e preparo de solo.

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3. Quantificação de nematoides no campo mar as medidas de manejo necessárias na safra


posterior. No Estado de Mato Grosso, há dife-
3.1 Coleta de amostras rentes laboratórios de nematologia, que forne-
Para um sistema eficiente de manejo de ne- cem orientações para coleta de amostras; é im-
matoides, é fundamental saber qual ou quais portante que o interessado entre em contato
espécies de fitonematoides estão presentes e previamente com os responsáveis desses labo-
qual sua densidade populacional, necessitan- ratórios, para que possam tomar ciência da re-
do-se de auxílio de laboratório de nematologia. comendação dos procedimentos de coleta. De
O ideal seria proceder a essa análise na safra qualquer forma, na Figura 10, será sugerido um
anterior, quando a cultura está em seu pleno esquema de coleta de solo e raízes para análises
desenvolvimento (volume de raízes), para to- nematológicas.

Figura 10. Esquema de amostragem, homogeneização, acondicionamento, identificação, transporte de amostras de


solo e raiz na cultura do algodoeiro para quantificação de fitonematoides

299
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Data de coleta. Preferencialmente em o que tem que ser levado em considera-


pleno desenvolvimento da cultura, entre ção na amostragem. Em função disso, o
60-120 dias após o plantio. É preciso lem- caminhamento na área deve ser realizado
brar que a população de nematoides apre- em zigue-zague, evitando-se fazer a amos-
senta grande flutuação durante o ano, tragem no centro das reboleiras, pois, nes-
o que se relaciona com a quantidade e a se local, as plantas/raízes já se encontram
idade de plantas e raízes presentes na área possivelmente muito danificadas, poden-
e a umidade do solo. O pico populacional do a população de fitonematoides estar
é atingido normalmente nas fases mais fi- em baixa densidade. Nessas condições,
nais do desenvolvimento da cultura. amostrar as plantas/raízes nas bordas de
Equipamentos necessários. Enxada, áreas com plantas sadias (Figura 10).
enxadão e/ou trado, sacolas plásticas com Material coletado. Formar uma amos-
1-2 l de volume (normalmente são forne- tra composta de, no mínimo, 500 cm3 de
cidas nos laboratórios de nematologia), solo e 20 g de raiz por área amostrada.
balde de 15-20 l, tesoura de poda, caixa Lembrar que as maiores quantidades de
térmica/isopor. nematoides estão nas raízes laterais e ra-
Forma de amostragem. Coletar as dicelas, e não na raiz pivotante. O material
amostras de solo com umidade natural, coletado, solo ou raiz, tem de ser devida-
evitando épocas extremamente secas ou mente homogeneizado no balde.
úmidas. Caminhamento em zigue-zague Acondicionamento e identificação
no talhão, amostrando na linha de plan- da amostra. As amostras devem ser acon-
tio na região da rizosfera das plantas. Os dicionadas em saco plástico, depositando-
nematoides vão permanecer preferencial- -se o solo e, posteriormente, as raízes no
mente onde houver maior quantidade de centro, pois isso auxiliará a preservação do
raiz, assim, recomenda-se a coleta na pro- sistema radicular para análise. As amostras
fundidade de 0-25 cm. No caso de R. reni- deverão ser acompanhadas de uma ficha
formis, observam-se populações mais ele- de identificação, que deverá conter, no mí-
vadas em profundidade maior, de 20-40 nimo, os itens: propriedade, data de coleta,
cm, em determinados períodos do ano, o produtor interessado e seu contato, iden-
que justifica fazer esse procedimento em tificação do talhão, cultura, profundidade
áreas com suspeita do nematoide. Coletar de amostragem, identificação da fase da
20-25 subamostras a cada, no máximo, cultura (dias após o plantio), relato e des-
10 ha. A distribuição de nematoides no crição da presença de sintomas. A seguir,
campo acontece de forma desuniforme, exemplo de ficha de acompanhamento
com formação de agregados (reboleiras), de coleta.

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FICHA DE COLETA N°: ....................................


1. Propriedade (fazenda): ..........................................................................................................................................
2. Responsável interessado: .....................................................................................................................................
3. Telefone para contato: ......................................................................................................................
4. Data de coleta das amostras: .............................. /................................. /.....................................
5. N° do talhão (identificação): ...........................................................................................................
6. Cultura anterior: ..................................................................................................................................
7. Cultura atual: .........................................................................................................................................
8. Espaçamento entre linha utilizado: ( ) 0,90 m ( ) 0,76 m ( ) 0,45 m
9. Tipo de solo: ( ) Arenoso ( ) Areno-Argiloso ( ) Argiloso
10. Sintomas-reflexo provocados por nematoides:
( ) Sem sintomas visíveis
( ) Sintomas em reboleiras
( ) Presença de galhas no sistema radicular
( ) Presença de folhas com sintomas de “carijó”
( ) Variação no porte de crescimento das plantas
( ) Presença de regiões com escurecimento no sistema radicular
( ) Presença de vasos escurecidos pela murcha de fusário
11. Data de semeadura do talhão: ................................. /.................................../..............................
12. Cultivar utilizada: .................................................................................................................................

Na ocasião da coleta, observar a ocorrência de pois essa informação da ocorrência de interação


sintomas de murcha de fusarium (Figura 11). Re- nematoide x fungo é de extrema relevância no
comenda-se indicar esse fato na ficha de coleta, manejo da área.

301
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Galhas Vasos escurecidos


(murcha de fusário)
(Imagens: Rafael Galbieri)

Figura 11. Amostragem em áreas infestadas por M. incognita x Fusarium em Primavera do Leste, MT

Transporte da amostra. Nematoides cas, que consistem em extrair/isolar os


não sobrevivem em solos ou raízes secas e nematoides do solo e/ou de tecidos das
não toleram altas temperaturas. Assim, o plantas. Essa separação é possível, basi-
transporte do campo ao laboratório tem camente pela diferença de densidade do
de ser feito o mais breve possível, de pre- nematoide com os outros componentes
ferência dentro de caixas térmicas para da amostra associando a retenção deles
evitar temperaturas elevadas. Quando as em peneiras específicas. Para isso, são uti-
amostras não puderem ser transportadas lizados 100-500 cm3 de solo e 5-50 g de
ao laboratório de imediato, é preciso ar- raízes.
mazená-las em locais frescos, podendo Quantificação dos nematoides: após
ser em geladeira (6-8°C), mas nunca em extrair/separar os nematoides, a iden-
freezer. Evitar armazenar as amostras em tificação e a quantificação são reali-
locais com temperaturas altas. zadas com auxílio de microscópio em
Todo o esquema apresentado acima laboratório.
restringiu-se aos nematoides presentes Laudo/resultado de análise: o laudo
no solo e nas raízes. Com o objetivo de normalmente refere-se à quantificação
quantificação de Aphelenchoides besseyi, de nematoides encontrados no solo (em
a coleta do material deve ser realizada na 200 cm3 em média) e raiz (5 g em média).
parte aérea das plantas doentes, cortan- É importante verificar o valor da unidade,
do-as 15 cm acima do nível do solo. pois, dependendo do laboratório, pode
haver alterações (100 cm3 de solo ou
3.2 Análise nematológica 10 g de raízes, por exemplo). Os laudos
Processamento de amostra: Os la- contemplarão a quantificação dos ne-
boratórios processarão essas amostras matoides de importância para a cul-
de acordo com metodologias específi- tura do algodoeiro, como já relatado:

302
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Meloidogyne incognita, Pratylenchus brachyurus e perdas em uma propriedade específica, é interes-


Rotylenchulus reniformis. sante o técnico formar um banco de dados indican-
Para o Aphelenchoides besseyi, o laudo é espe- do o histórico dessas análises e a produtividade do
cífico, uma vez que a coleta para quantificação do talhão objeto do manejo.
nematoide foi restrita à parte aérea das plantas com
sintomas. Neste caso particular, a unidade da quan- 4. Manejo de nematoides
tificação no laudo será número de nematoides por Dentro de um programa de manejo de nematoi-
grama de tecido vegetal. des, o primeiro passo é encará-lo como prioridade,
Interpretação dos resultados: o resultado da pois, muitas vezes, o lado comercial sobressai-se so-
quantificação da população de nematoides em bre a necessidade de aplicar determinadas medidas
determinada área é muito variável em função da fundamentais para o controle. Também é necessário
época e da forma de amostragem. Assim, para com- ter consciência de não se basear em uma única, mas
paração de resultados, os procedimentos de amos- sim em um conjunto de práticas que, no decorrer do
tragem (época, local, profundidade) devem ser os tempo, sejam capazes de propiciar a produção satis-
mesmos. É importante lembrar que a presença de fatória do algodoeiro em uma área/região infestada
altas densidades populacionais de nematoides no com fitonematoides.
resultado de análise não estará necessariamente Durante a safra corrente, há poucas medidas a
correlacionada à ocorrência de perdas. Outros fato- serem implementadas. Ou seja, os procedimen-
res, como fertilidade, umidade e densidade do solo tos terão de ser estudados e executados sempre
(presença ou não de camada compactada), teor de com antecedência. Por essa razão, é importante o
matéria orgânica, tolerância de cultivares, entre ou- acompanhamento do histórico da área no que diz
tros, podem afetar na intensidade dos danos causa- respeito a nematoides, produtividade e fertilidade
dos por determinada população de nematoide. No para as tomadas de decisões estarem devidamen-
entanto, grosso modo, as densidades populacionais te embasadas na realidade local. Quando a cultura
(por 200 cm3 de solo), observadas antes do plantio, já está instalada, as medidas a serem tomadas são
a partir das quais provavelmente haverá perdas de escassas e, na maioria dos casos, ineficientes no con-
produção em algodoeiro são, para M. incognita, em trole dos nematoides, servindo como paliativos para
torno de 10-50, para R. reniformis, 400-600, e para evitar perdas. Exemplos são o manejo de fertilidade
P. brachyurus é alta, superior aos demais, porém sem complementar e a intensificação na irrigação, quan-
valor definido. Para relacionar populações a danos e do em área irrigada. Assim, evitam-se condições de
estresse, pois plantas debilitadas e mal nutridas vão
sentir mais intensamente o ataque de nematoides.
De fato, em anos com condições ideais de chuva
e com boa adubação, as perdas por nematoides
são menores.
(Imagens: Rosangela Silva)

A medida mais eficiente é evitar a introdução de


nematoides-chave para a cultura em áreas (região,
fazenda, talhões) isentas; nematoides têm capaci-
dade própria de dispersão muito limitada, neces-
sitando, assim, de outros meios de disseminação.
Teoricamente, tudo que move o solo também tem
condição de dispersar os nematoides, como água
da chuva, vento, insetos e, principalmente, o ho-
mem, que pode carregar os nematoides no próprio
corpo ou em implementos agrícolas. Nesse caso, o
Figura 12. Solo aderido aos discos de corte e carrinhos
solo fica aderido (Figura 12) e é transportado para
da plantadeira locais dentro do talhão ou para outras fazendas, ou
mesmo outros municípios.

303
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Para minimizar ou evitar essa dis- hospedeiras a determinado nematoi-


seminação, é fundamental que pelo de presente na área, restringindo sua
menos os tratos culturais mecaniza- alimentação e, consequentemente,
dos sejam orientados, de forma que as dificultando sua sobrevivência. Com a
áreas/fazendas problemáticas sejam associação desse período de alimen-
feitas por último. Também é importan- tação escassa e a ação de microrganis-
te a limpeza (lavagem) dos implemen- mos presentes no solo, a população do
tos após os tratos, antecedendo ao nematoide na área tenderá a diminuir.
transporte para áreas isentas. Inega- É importante observar que a técnica é
velmente, o ritmo de trabalho impos- completamente dependente do tempo
to às equipes, muitas vezes, torna esse que o local permanecerá sem a cultura
procedimento difícil, porém é funda- hospedeira. Apesar de sua eficácia, a ro-
mental ter ciência da importância de tação é pouco utilizada para o controle
sua execução, incorporando-o à rotina de fitonematoides na cultura do algo-
no manejo de nematoides. Ressalta-se doeiro; no entanto, para o nematoide
ainda que o procedimento também fa- R. reniformis, se o produtor não imple-
vorecerá a não disseminação de outras mentar a rotação de culturas nas áreas
doenças, plantas daninhas e insetos. infestadas, dificilmente conseguirá re-
Em áreas infestadas, os principais tomar a produtividade ou manter o ne-
métodos de controle de nematoides matoide abaixo do nível de dano eco-
são o cultural, o genético, o químico e nômico, principalmente por conta da
o biológico. No primeiro caso, destaca- sucessão soja/algodoeiro, já que ambas
-se a utilização de rotação de cultura as culturas são hospedeiras e a maioria
com espécies não hospedeiras, que se das cultivares de soja que antecede o
caracteriza como uma das principais algodoeiro multiplica muito o nematoi-
técnicas de manejo, pela sua eficácia. de (Figura 13), deixando uma alta popu-
O princípio é implantar culturas não lação para a cultura subsequente.

Figura 13. Reação (fator de reprodução) de trinta cultivares de soja, e do algodão TMG
47B2RF, a Rotylenchulus reniformis, Rondonópolis, 2017

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Também vêm sendo utilizadas plantas não completar a Tabela 1 sobre reação de diferentes
hospedeiras em sucessão com a cultura princi- culturas ao Aphelenchoides. No entanto, de acor-
pal (econômica) na mesma safra agrícola, focan- do com trabalhos recentes, as culturas de milho,
do a redução da população dos nematoides. Um sorgo, braquiária e crotalária não são hospedeiras
exemplo é o uso de milho, das poáceas, como mi- desse nematoide (Favoreto & Meyer, 2019), po-
lheto, braquiária e sorgo, para controle do nema- dendo ser indicadas em um sistema de rotação/
toide-reniforme. Como já colocado, os benefícios sucessão em áreas com infestação.
estão relacionados com o tempo que vão se utili- A utilização da sucessão soja-algodão (segun-
zar plantas não hospedeiras. O ideal seria rotação da safra), sistema que já se consolidou em Mato
de cultura, porém, os benefícios da sucessão não Grosso, traz preocupações, pois os quatro nema-
são desprezíveis. toides do algodoeiro apresentados também são
De acordo com a Tabela 1, que contém a rea- problemas para a cultura da soja. No caso de R.
ção de diferentes culturas aos nematoides-cha- reniformis, o dano em algodoeiro é maior que em
ve do algodoeiro, o nematoide mais fácil de ser soja. Quando se planta primeiramente a legumi-
manejado por meio de rotação ou sucessão é nosa, proporciona-se o aumento populacional do
R. reniformis, pois há várias culturas não hospedei- nematoide, com consequências provavelmente
ras (predominância da cor verde); e o nematoide negativas para a cultura subsequente do algo-
de controle mais difícil é o P. brachyurus. As cultu- doeiro. Há variações na reação de cultivares de
ras mais indicadas para rotação ou sucessão são soja ao R. reniformis que podem ser exploradas na
as braquiárias, Panicum maximum e amendoim, escolha do material a ser cultivado no talhão. Ou-
desde que a densidade de P. brachyurus não seja tro ponto importante, e subestimado, é o efeito da
elevada; caso o nematoide a ser controlado seja utilização do milho safrinha após a soja em áreas
P. brachyurus, a principal opção é Crotalaria spec- infestadas por M. incognita. O milho é tolerante a
tabilis. Também para M. incognita, a cultura da essa espécie de nematoide, porém, a maioria dos
mamona é uma opção interessante que pode ser genótipos de milho proporciona alta multiplica-
implementada, com a ressalva de sua alta susceti- ção do nematoide, ou seja, o milho é suscetível
bilidade a R. reniformis. a M. incognita, deixando para cultura posterior
Por ser um patossistema novo para o algo- população elevada. Esse fator deve ser levado em
doeiro, não há informações suficientes para consideração no manejo da área.
Tabela 1. Reação de culturas selecionadas aos principais nematoides do algodoeiro

Meloidogyne Rotylenchulus Pratylenchus


Cultura
incognita reniformis brachyurus
Soja
Feijão-comum
Milho
Sorgo
Arroz
Cana-de-açúcar
Milheto
Braquiárias
Panicum maximum
Amendoim
Capim Sudão
Mamona
Girassol
Continuação --->

305
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 1. Continuação
Meloidogyne Rotylenchulus Pratylenchus
Cultura
incognita reniformis brachyurus
Crotalaria spectabilis
Crotalaria juncea
Feijoeiro-guandu
Mucuna-preta
Nabo-forrageiro

*Cor vermelha indica que a cultura multiplica intensamente o nematoide (cultura boa hospedeira),
portanto, não deve ser utilizada em rotação ou sucessão com algodão em locais infestados. Assim,
uma extensa lista de culturas deve ser evitada em locais infestados com o nematoide-das-galhas
Meloidogyne incognita: feijão-comum, milho, arroz, milheto, cana-de-açúcar, mandioca, girassol e
nabo-forrageiro.
*Cor azul indica que a cultura multiplica pouco o nematoide (má hospedeira): a mucuna-preta au-
menta lentamente a densidade de M. incognita.
*Cor verde indica que a cultura não multiplica o nematoide (cultura não hospedeira); portanto,
as braquiárias Panicum maximum, amendoim e Crotalaria spectabilis reduzirão a densidade de M.
incognita.
*Cor laranja é utilizada para as plantas que apresentam reação variável: a maioria das cultivares de
soja e guandu é suscetível, mas há cultivares resistentes que não multiplicam M. incognita (Inomoto,
2011).

O mesmo princípio tem de ser usa- conhecida de nematoide. Quando


do para as plantas de cobertura, ou esse valor for menor que 1, significa
seja, a cultura tem que ser não hospe- que o genótipo é resistente, pois reduz
deira ou, pelo menos, má hospedeira a população do nematoide. A tolerân-
a determinado nematoide-alvo do ma- cia diz respeito à capacidade da planta
nejo em uma área. Com isso, não ocor- em suportar o ataque do nematoide
rerá a multiplicação do nematoide e expressa em produtividade.
haverá sua redução populacional. Do ponto de vista do manejo de ne-
O controle genético é realizado pela matoides, a resistência genética, quan-
utilização de genótipos de algodoeiro do presente, é uma ferramenta muito
resistentes/tolerantes aos nematoi- importante, pois promove redução
des. Inicialmente, faz-se necessário drástica da população do nematoide
descrever o conceito que envolve essa comparativamente com utilização de
questão. Resistência é a capacidade da apenas genótipos suscetíveis. Atual-
planta em impedir ou dificultar a re- mente, há cultivar de algodoeiro com
produção dos nematoides, que pode resistência ao Meloidogyne incognita
ser medida pelo fator de reprodução disponível para o plantio nas condi-
(FR) (Figura 14). Por exemplo, quando o ções do Cerrado brasileiro. Já para
FR de um genótipo for 3, significa que R. reniformis, P. brachyurus e A. besseyi
o material multiplica três vezes a popu- não há ainda cultivares com resistên-
lação do nematoide em um determina- cia genética, todas são suscetíveis a
do período, com uma infestação inicial esses nematoides.

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(Imagens: Rafael Galbieri)

Figura 14. Sintomas de galhas no algodoeiro causados por Meloidogyne incognita. À


esquerda, raiz de planta suscetível e, à direta, resistente ao nematoide. Raízes extraí-
das 70 dias após a inoculação do nematoide em condições de casa de vegetação

Considerada uma mesma população de ne- genótipo tem de ter a informação separadamen-
matoides, uma cultivar tolerante produz mais te para cada nematoide-chave. Há grande varia-
que uma cultivar não tolerante (intolerante). bilidade para tolerância nas cultivares disponíveis
Em comparação a uma cultivar não tolerante, para o plantio, principalmente para M. incognita
a cultivar tolerante tem um limite de tolerância (Figura 15) e R. reniformis (Figura 16).
maior, ou seja, começa a sofrer perdas com po- A reação da tolerância de diferentes cultivares
pulações maiores do nematoide; essa informa- de algodoeiro ao nematoide-das-galhas e reni-
ção é muito requisitada pelo produtor, pois está forme pode ser visualizada na Tabela 5 - pag. 260
relacionada à produtividade. O comportamento do capítulo de controle de doenças. Essas infor-
de genótipos é específico para cada nematoide; mações também podem ser requisitadas junto
pode acontecer de um genótipo ter boa reação a aos obtentores nos programas de melhoramen-
mais de uma espécie, mas isso não é regra, cada to de algodoeiro em atividade no Brasil.

307
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagens: Rafael Galbieri)

Figura 15. Reação de cultivares de algodoeiro a M. incognita. À esquerda, material


intolerante e, à direita, tolerante ao nematoide. Área com 5,1 mil espécimes de
M. incognita em 200 cm3 de solo, amostrado em abril de 2015
(Imagens: Rafael Galbieri)

Figura 16. Reação de cultivares de algodoeiro a R. reniformis. À esquerda, ma-


terial tolerante e, à direita, intolerante ao nematoide. Área com 2.630 espéci-
mes de R. reniformis em 200 cm3 de solo, amostrado em abril de 2012

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Outro método de manejo de nematoides é posicionamentos para auxiliarem o manejo


a utilização de nematicidas químicos. Atual- de nematoides na cultura do algodoeiro no
mente, são utilizados tanto no tratamento de Estado. É importante destacar que, por serem
sementes como no sulco de plantio do algo- constituídos de organismos vivos, os nematici-
doeiro; é importante lembrar que essa técnica das biológicos necessitam de cuidados espe-
promove a proteção das raízes por um período ciais para serem eficientes. Altas temperaturas
de, aproximadamente, 30-60 dias após o plan- e baixa umidade do solo podem comprome-
tio. Como o ciclo do algodoeiro no Estado de ter a viabilidade dos agentes de controle bio-
Mato Grosso chega a 180 dias, há tempo para lógico. Assim, espera-se uma maior eficiência
a população do nematoide nas áreas trata- desses produtos em áreas com boa cobertura
das atingir, ao final do ciclo, valores próximos vegetal no momento da semeadura da cultura
àqueles de áreas não tratadas. O foco, nesse do algodoeiro.
caso, é o ganho em produtividade, que tem Um ponto a ser considerado na escolha do
que ser avaliado pela relação custo-benefício produto biológico é a espécie de nematoide
para utilização da técnica. e a forma de atuação do microrganismo, pois,
O tratamento de sementes com nematicidas se o nematoide tem formas de sobrevivência
como abamectina e tiodicarbe vem sendo uti- na ausência da planta hospedeira, os fungos
lizado no Estado, bem como nematicidas em que se desenvolvem e infestam as diferentes
aplicação no sulco de plantio como cadusa- formas do nematoide e ovos no solo são bas-
fos, e, mais recentemente, fluensulfone (nesse tante promissores. Porém, se a ideia é formar
caso, com desenvolvimento do princípio para uma camada de proteção em volta das raízes
TS também). Empresas estão em pleno desen- e diminuir a penetração do nematoide, as bac-
volvimento de outros nematicidas químicos térias cumprem bem esse papel. Outro fator a
para a cultura do algodoeiro no Brasil com lan- ser considerado é o tratamento com os produ-
çamentos nos próximos anos; isso mostra que tos biológicos das plantas de cobertura a se-
o desenvolvimento de produtos químicos vem rem utilizadas, em rotação ou sucessão. Nes-
acompanhando o aumento de problemas com se caso, se a cultura for resistente a todos os
nematoide, gerando opções importantes den- nematoides fitoparasitas presentes na área, os
tro do manejo integrado de nematoides no fungos podem ser as melhores opções, pois
Estado. irão parasitar as estruturas de sobrevivência
O controle biológico vem se destacando do nematoide. No entanto, se o objetivo for di-
também no manejo de nematoides na cultu- minuir a multiplicação de nematoides, em que
ra do algodoeiro. Nessa modalidade, há pro- a planta não é tão eficiente, as bactérias têm
dutos para tratamento de sementes, aplica- apresentado bons resultados.
ção no sulco de plantio ou pulverização em Importante dentro do manejo de nema-
área total. Alguns agentes de controle que toides é a utilização de forma integrada dos
estão sendo utilizados/testados são: diferen- métodos descritos acima (cultural, genético,
tes espécies de Bacillus, como B. amyloliquefa- químico e biológico). Como as ferramentas e
ciens, B. subtilis, B. methilotrophicus, B. firmus, técnicas são específicas para espécie-chave na
B. lentus; a bactéria Pasteuria penetrans (con- cultura do algodoeiro, é fundamental os téc-
tra M. incognita); fungos como Purpureocil- nicos saberem exatamente qual o nematoide
lium lilacinum, Pochonia chlamydosporia e Tri- presente e sua quantificação, bem como todos
choderma sp. São microrganismos efetivos e os métodos de manejo disponíveis para en-
estão sendo testados em diferentes frentar o problema nas áreas de produção.

309
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 2. Descrições dos principais fitonematoides do algodoeiro para o Cerrado brasileiro

População de
Nome comum Espécie Sintomatologia Recomendação de manejo
dano*

Evitar a introdução do nematoide em áreas


Formação de galhas
isentas;
no sistema radicular;
“Baixa” utilização de genótipos resistentes;
presença de sintoma “Baixa”
Nematoide- utilização de rotação de cultura com espé-
Meloidogyne “carijó” nas folhas; >10-50 espéci-
-das- cies não hospedeiras, ex.: Brachiaria decum-
incognita presença em “rebolei- mes por 200 cm3
galhas bens, U. ruziziensis, B. brizantha, amendoim,
ras” no talhão; de solo
mamona, Crotalaria spectabilis;
diminuição do porte
**utilização de produtos nematicidas
das plantas.
químicos/biológicos.

Presença de sinto-
Evitar a introdução do nematoide em
ma “carijó”; em alta
áreas isentas;
infestação, “Média”
“Média” utilização de genótipos moderadamente
presença em “rebolei-
>400-600 resistentes/tolerante;
Nematoide- Rotylenchulus ras” no talhão;
espécimes por utilização de rotação de cultura com es-
reniforme reniformis diminuição do porte
200 cm3 pécies não hospedeiras, ex.: milho, sorgo,
das plantas;
de solo milheto, arroz, braquiária, C. spectabilis;
Presença de massas
**utilização de produtos nematicidas
de ovos aderidas às
químicos/biológicos.
raízes.

Diminuição do porte Evitar a introdução do nematoide em


das plantas; “Alta” áreas isentas;
Nematoide- “Alta”,
Pratylenchus em alta infestação, utilização de rotação de cultura com es-
-das-lesões- porém não
brachyurus presença de escure- pécies não hospedeiras, ex.: C. spectabilis;
radiculares definida
cimento no sistema **utilização de produtos nematicidas
radicular. químicos/biológicos.

*População inicial de dano estipulada antes do plantio do algodoeiro.


** Produtos devidamente registrados em órgãos competentes para utilização em algodoeiro
(Mapa).

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Manejo de reguladores de crescimento

Por que controlar o crescimento curtos, tanto os vegetativos como os


ramos reprodutivos, folhas menores e,
Fábio Rafael O algodoeiro é uma planta perene, de consequentemente, menor índice de
Echer
crescimento indeterminado, com mor- área foliar, o que melhora a penetração
Unoeste
fofisiologia complexa; as altas produti- da luz no baixeiro da planta, contri-
vidades são obtidas quando há balanço buindo para a fixação dos frutos nessa
adequado entre os crescimentos vege- porção do dossel, além de aumentar a
tativo e reprodutivo. eficiência da aplicação de inseticidas e
O crescimento e o desenvolvimen- fungicidas.
to do algodoeiro são influenciados por Considerando a evolução da seve-
fatores exógenos (água, luz e tempe- ridade de algumas doenças fúngicas,
ratura, fertilidade do solo) e também como ramulária e mancha-alvo, e a efi-
por fatores endógenos (hormônios). A ciência de controle dos fungicidas, a
Ciro Antonio ocorrência de estresses que resultem manutenção do dossel arejado deixa
Rosolem em perda da carga frutífera ou con- o microclima menos propício aos pa-
Unesp dições que favoreçam o crescimento tógenos, além de facilitar a deposição
vegetativo (excesso de N no solo; solo da calda de aplicação no terço inferior
úmido, mas não encharcado, e tempe- da planta. Assim, o uso adequado dos
raturas altas - >32ºC) resultam em um reguladores pode auxiliar no controle
crescimento excessivo e, dependen- dessas doenças. Além disso, plantas tra-
do da fase fenológica, reduzem o ín- tadas com regulador de crescimento,
dice de colheita, ou seja, a proporção em função da redução na expansão de
de biomassa reprodutiva em relação área foliar, conservam mais água, uma
ao total produzido pela planta. Nessas vez que a transpiração é menor. Para
condições, o uso de regulador de cres- ambientes cujo déficit de pressão de
Patrícia
cimento torna-se indispensável, pois vapor é elevado, a redução do consu-
Rafaella
possibilita o controle do crescimento mo de água diminui o risco de estresse
de Mello
Unibalsas vegetativo excessivo, a manipulação da hídrico por seca.
arquitetura das plantas, sendo uma es- As doses de regulador de cresci-
tratégia importante para o incremento mento utilizadas atualmente são muito
da produtividade. superiores àquelas utilizadas no passa-
A giberelina é o hormônio respon- do, e as razões para isso são apontadas
sável pela multiplicação e pelo alon- abaixo:
gamento celular e é sintetizada nas
regiões meristemáticas das plantas. Os - Adoção de cultivares transgênicas
reguladores de crescimento, como o resistentes/tolerantes a lepidópteros:
cloreto de mepiquate e cloreto de clor- uma vez que a biotecnologia foi intro-
mequate, são substâncias químicas sin- gredida nos genótipos convencionais,
téticas que se translocam de maneira estes demandam menor resistência na-
ascendente e descendente na planta, tural, o que se traduz em maior energia
inibindo a biossíntese do ácido giberé- disponível para o crescimento, ou seja,
lico, reduzindo, consequentemente, o maior vigor, e;
alongamento celular. - Menor fitotoxidade de herbici-
Plantas que receberam a aplicação das seletivos e não seletivos, tanto na
de reguladores de crescimento são aplicação em pós-emergência quan-
mais compactas, com entrenós mais to em jato dirigido: a redução desse

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estresse demandou controle do crescimento mais ocorrer perda de carga produtiva, especialmen-
precoce, normalmente por ocasião do apareci- te entre F1 e Fn (florescimento pleno), entre 50 e
mento dos primeiros botões florais. 85/90 DAE.
A redução da altura da planta ocorre com a
1. Monitoramento do crescimento diminuição do comprimento dos entrenós, e
A manutenção da carga frutífera sempre será o este é sensível às condições ambientais, sobre-
principal fator a regular o crescimento da planta, tudo temperatura, disponibilidade hídrica e nu-
e, em determinadas situações, demanda menor tricional e características genéticas da cultivar.
quantidade de regulador, principalmente em cul- Eles são considerados longos acima de 7 cm e
tivares de ciclo curto, em que o excesso pode com- indicam condições favoráveis ao crescimento;
prometer a produtividade e a qualidade da fibra, entrenós com comprimento entre 4 cm e 5 cm
por conta do atraso na emissão de novos pontos são considerados ideais por proporcionarem
de frutificação. Por outro lado, o clima favorável melhor circulação de ar, umidade e transmissão
ao desenvolvimento (dias ensolarados, tempera- de luz. Abaixo de 4 cm, os entrenós são curtos
turas entre 20°C e 30°C e boa umidade do solo), e indicam algum estresse durante seu desen-
aliado à boa fertilidade do solo, principalmente a volvimento, como dose muito alta de regulador,
alta disponibilidade de N no solo (altos teores de seca, baixas temperaturas etc. Em geral, 5 cm é o
matéria orgânica, leguminosa como cultura an- comprimento ideal dos internódios, e, dependen-
tecessora ou uso de altas doses de N nas aduba- do do número de nós almejado para a lavoura, é
ções), pode favorecer o crescimento vegetativo e necessário reduzir o comprimento médio dos en-
elevar a demanda por regulador. trenós, caso contrário a planta ficará muito alta. A
O monitoramento da altura das plantas deve Figura 1 mostra um padrão de crescimento consi-
ser iniciado no estádio B1 (1º botão floral), quan- derado ideal, tomando-se como base a relação
do ocorre intenso crescimento do sistema radi- altura de plantas x número de nós. Nota-se que,
cular em vista da parte aérea, e a demanda por quando uma planta avaliada está à esquerda da
regulador é baixa. Os estádios F1 e C1 (1ª flor e reta, o crescimento é excessivo. Por outro lado,
1º capulho) requerem maior atenção, pois é quan- se a avaliação estiver à direta da reta, o controle
do o crescimento é intenso, principalmente se do crescimento está muito rigoroso.

Figura 1. Crescimento ideal de plantas de algodão em relação à altura da planta e


ao número de nós na haste principal

313
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

O momento de aplicação do regu- Utilizam-se como critério de interpre-


lador deve ser definido com base em tação os seguintes valores:
critérios técnicos. Como exemplo de
critérios empregados, mencionam-se: >3,5 cm: crescimento muito vigoroso
razão entre altura de plantas e número 3-3,5 cm: crescimento vigoroso
de nós da haste principal (Figura 1) e o < 3 cm: baixo crescimento
comprimento médio dos últimos cin-
co nós do ponteiro. Nesse caso, com média de 3,2 cm, o
A avaliação do comprimento dos técnico/produtor deve ficar atento ao
cinco nós do ponteiro é um dos mé- crescimento e planejar a aplicação do re-
todos mais eficientes para monitorar gulador, pois é provável que em dois ou
a taxa de alongamento dos entrenós, três dias as plantas tenham “escapado”.
pois a síntese de giberelina se dá no
ápice caulinar, portanto, a região de 2. Definição das doses
maior influência do hormônio será no A definição da dose de regulador
ponteiro da planta. A medição é rea- de crescimento é sempre tema polê-
lizada contando-se o primeiro nó do mico, pois, na maioria das vezes, a ex-
ápice da planta (considera-se como periência do técnico responsável é o
primeiro nó aquele que tenha distân- fator determinante na decisão. Como
cia de, no mínimo, 1,2 cm até o segun- alternativa, pode-se utilizar o método
do nó) até o quinto nó. Essa medida é abaixo, que consiste no emprego de
dividida por 5 para se obter a média diferentes equações, específicas para
dos entrenós. Ex.: distância do 1º ao diferentes condições de crescimento
5º nó: 16 cm divididos por 5 = 3,2 cm. (Tabela 1).

Tabela 1. Sugestão de doses de regulador de crescimento em diferentes condições de


crescimento*. Altura dada em centímetros

Umidade do Taxa de crescimento


Equação Ciclo da cultivar Temperatura
solo diário (cm)
Dose = 12,64 – 0,538A + 0,0083A2 Precoce/médio - - 1,50
Médio/tardio ou
Dose = 24,39 – 1,007A + 0,0154A2 <30°C Boa 1,25
tardio
Dose = 34,16 – 1,438A + 0,0224A2 Tardio >30°C Boa 1,00

*O resultado da equação é expresso em g. i.a. ha-1 de cloreto de mepiquate ou clormequate. Para


transformar em produto comercial, basta dividir o resultado pela concentração do i.a. no produto. Ex.
Para uma cultivar de ciclo tardio e com altura de 70 cm, a dose recomendada de i.a. é de 29,36 g. ha-1.
Se o produtor optar por usar o regulador a base de cloreto de mepiquate que tenha concentração
de 25%, a dose será de 117,4 ml. ha-1 (29,36/0,25).

Uma opção à utilização da tabela 3. Efeito sobre a produtividade e a


acima é o uso de aplicativo para smar- qualidade da fibra
tphones (Regula – disponível na plata- Sob condições propícias a grande
forma Cotton Apps®). Os detalhes do crescimento, o uso de limitadores
funcionamento são apresentados na de crescimento tem sido importan-
parte final deste capítulo. te no controle da altura e da estrutura

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produtiva da planta. A aplicação desses regula- resultará na maior parte do desenvolvimento de fi-
dores resulta em plantas mais baixas, mais com- bras sob temperaturas marginais, incidência de luz
pactas, com folhas melhores e mais precoces. A e/ou disponibilidade de água e qualidade inferior. O
recomendação de reguladores dá-se no sentido excesso de nitrogênio pode resultar em menor qua-
de evitar plantas com arquitetura desfavorável, lidade da fibra e “algodão pegajoso”, ao retardar a
seja para a produtividade como para a colheita. maturidade da planta. Entretanto, o manejo de re-
Encontram-se, na literatura, resultados em que gulador não é suficiente para evitar esses proble-
houve resposta positiva, resposta negativa e sem res- mas. Então, práticas como utilizar altas doses de N
posta na produtividade de algodão. Nos casos em que e altas doses de regulador podem resultar em pre-
a resposta foi positiva, as plantas geralmente tinham juízo na qualidade da fibra.
mais de 1,10 m de altura, em espaçamento mais es-
treito que o recomendado. Um efeito bem conhecido 4. Manejo de reguladores em lavouras
do cloreto de mepiquat é que há um deslocamento sob estresse
da produção para os primeiros nós produtivos. Assim, A finalidade da utilização dos reguladores de
se contado o número total de estruturas frutíferas das crescimento é reduzir a altura da planta e o tama-
plantas, normalmente há uma pequena diminuição. nho do dossel para melhorar a interceptação de luz
Entretanto, como é melhorado o pegamento do nos terços inferiores e médio da planta. Qualquer
baixeiro, com frutos maiores, a produtividade não é estresse ambiental que afete o crescimento poderá
modificada. Evidentemente, doses excessivas ou apli- ser potencializado se a lavoura for tratada com regu-
cações fora da melhor época resultarão em menos lador, e a magnitude do efeito dependerá da dose
estruturas produtivas, sem a devida compensação, e utilizada. Por exemplo, em cultivares com injúrias de
então haverá prejuízo na produtividade. herbicidas pós-emergentes não seletivos, ou mes-
Dessa forma, quando as aplicações são efetuadas mo seletivos que impliquem em inibição do cresci-
na época e na dose correta, não se espera efeito na mento inicial, a aplicação de regulador deve ser pos-
produtividade. O que se espera é que se evite queda tergada, uma vez que o crescimento da planta está
na produtividade em função de outras práticas, tais limitado por outro fator.
como alta adubação, que resultam em plantas com Em lavouras instaladas em solos arenosos ou em
crescimento muito vigoroso. ambientes com baixa disponibilidade hídrica, o ma-
Propriedades da fibra como comprimento, matu- nejo de regulador deve ser feito com mais precau-
ridade, micronaire são componentes de rendimen- ção, pois mesmo que haja uma chuva significativa,
to. A fibra de algodão está, em sua maior parte, sob a retenção da umidade é baixa nesses solos, e, caso
controle genético. No entanto, a qualidade das fibras não haja nova precipitação, a planta pode entrar em
também depende do ambiente e do gerenciamen- estresse em poucos dias. Nesse caso, a estratégia me-
to de culturas. Assim, seria possível ainda um efeito nos arriscada é utilizar várias aplicações com doses
dos reguladores sobre a qualidade da fibra, embora mais baixas, assim, conforme a planta for crescendo,
indireto, proporcionando melhores condições para vai sendo regulada. É importante deixar claro que
o desenvolvimento da fibra de qualidade. Por exem- não há propriamente uma interação do regulador
plo, em função do melhor pegamento de frutos do com a seca; se a planta estiver em estresse por falta
baixeiro, se não ocorrerem problemas, adiantará a de água, estará produzindo pouca giberelina. Como
maturação e colheita, resultando assim em melhoria o regulador é um inibidor de giberelina, não haverá
da qualidade da fibra, que terá ficado menos tempo giberelina a ser inibida.
exposta ao ambiente e amadurecido em melhores O excesso de chuvas em algumas regiões
condições de água e temperatura. de Mato Grosso, principalmente no período de
O manejo de culturas para altos rendimentos é to- fevereiro a abril, tem exposto as plantas ao en-
talmente compatível com alta qualidade de fibra, mas charcamento do solo, o que causa anoxia ou hi-
o ambiente nem sempre é previsível ou gerenciável. poxia (baixo teor ou ausência de O2 na solução
Portanto, a maioria dos fatores de gerenciamento do solo). Cabe ressaltar que o algodoeiro é uma
que otimizam a produtividade também resultará planta originária de regiões desérticas ou semi-
em melhor qualidade da fibra. O cultivo de algodão desérticas, e que, ao longo do processo evolu-
antes ou depois da melhor época recomendada tivo, não desenvolveu habilidade para conviver

315
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

com o excesso de água no solo; ao Assim, a utilização de doses de N


contrário, sua habilidade maior é em superiores às recomendadas deve
tolerar a falta dela. Assim, em lavou- ser vista com precaução, uma vez
ras encharcadas, a absorção de nitro- que nem todas regiões produtoras
gênio será reduzida, prejudicando a de algodão em Mato Grosso pos-
síntese de clorofila e a taxa fotossin- suem ambiente favorável à emissão
tética, o que afetará o crescimento e de nós frutíferos a partir do mês de
a expansão foliar. Desse modo, em maio. Se for feita opção de utilizar
lavouras encharcadas, recomenda- doses mais altas de N, deve-se evitar
-se que, após a drenagem da água que as adubações sejam feitas tar-
(3-8 dias, dependendo da textura do diamente, pois o estímulo vegetativo
solo), proceda-se com a adubação ni- após os 70-80 dias prejudicará a re-
trogenada e avalie-se o crescimento, tenção e o crescimento das estrutu-
para que, então, se houver necessi- ras já formadas.
dade, a planta seja regulada. Em áreas de sistema de semeadu-
Outra situação é a baixa disponi- ra direta consolidado ou em áreas de
bilidade de radiação nos primeiros sucessão com a soja por vários anos
meses de vida da cultura (fevereiro e com elevados teores de matéria
a abril); nesse caso, o manejo de re- orgânica e fertilidade, o crescimen-
gulador permitirá melhor penetra- to do algodoeiro é mais vigoroso,
ção da pouca radiação disponível o que, aliado a doses mais altas de
no terço inferior e médio da planta, N, pode levar a crescimento vegeta-
evitando o crescimento excessivo em tivo excessivo e demandar maiores
altura e em área foliar, o que significa doses de regulador de crescimento,
economia de energia, o que poderá que serão definidas de acordo com o
garantir a fixação de estruturas re- ciclo/porte da cultivar e da condição
produtivas mesmo em condições de ambiental (Tabela 1). O monitora-
baixa disponibilidade de radiação. mento do crescimento da planta deve
ser realizado ao menos duas ve-
5. Nitrogênio e crescimento zes por semana nessas áreas, pois,
vegetativo excessivo caso haja crescimento em excesso e
Doses altas de nitrogênio (>150 a planta aborte algumas posições,
kg. ha-1) têm sido utilizadas em la- mesmo com doses mais elevadas de
vouras no Brasil, muitas vezes em ra- regulador, dificilmente o crescimento
zão das perdas das primeiras de po- será controlado com apenas uma
sições frutíferas da planta, em uma aplicação.
tentativa de recuperar a produção
no ponteiro da planta. Cabe salientar 6. Capação
que nem sempre o aumento da dose A capação, ou terminação do cres-
de N compensará a produção per- cimento, é uma prática adotada na
dida, pois os frutos do ponteiro de- maior parte das lavouras de algodão
penderão da ocorrência mais tardia do Brasil com a finalidade de evitar a
de chuva (maio e junho) e, mesmo emissão de novos nós. O crescimento
nessas condições, pode haver restri- pode ser cessado de maneira natural
ção de temperatura ao crescimento quando há alta quantidade de dre-
e abertura dos frutos formados mais nos na planta, ou pode ser induzido
tardiamente, o que pode prejudicar a com a aplicação de doses mais eleva-
qualidade da fibra. das de reguladores.

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Trabalhos conduzidos em áreas comerciais capação, não há um consenso e depende mui-


não mostram diferença em relação aos ingre- to do manejo empregado durante a cultura;
dientes ativos cloreto de mepiquate ou clore- lavouras que são conduzidas para a precocida-
to de clormequate; as doses a serem utilizadas de (alta fixação dos frutos no baixeiro e terço
irão variar de acordo com a carga frutífera re- médio; doses de N e densidade de plantas ade-
tida, o vigor da cultivar, a disponibilidade de quadas) poderão ser “capadas” mais cedo (90-
água e nitrogênio no solo e a temperatura do 100 DAE); ao passo que lavouras mais tardias
ambiente. Assim, as doses utilizadas têm varia- que concentrem a produção no terço médio e
do de zero a 250 g i.a . ha -1. Quanto à época de ponteiro aos 120-130 DAE.

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

317
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Regula - um aplicativo para manejo de reguladores


de crescimento

O Regula integra a plataforma Cotton Apps®, que está disponível na Play Store e na
App Store (QR codes abaixo).

Algumas instruções de utilização são descritas a seguir.

Instruções de uso
Fazendas – registro do nome da fazenda, área e localização;
Talhões – os talhões são cadastrados dentro de uma fazenda pré-listada;
Produtos – há uma listagem dos reguladores disponíveis no mercado;
Medir amostras – seleciona-se a fazenda e talhão, a altura da planta, o número de
nós e o comprimento dos cinco nós do ponteiro devem ser informados;
Calcular doses – seleciona-se o produto, fazenda, talhão, amostra avaliada e a con-
dição de crescimento (cultivar precoce, cultivar tardia ou cultivar tardia + condição
favorável). O resultado é dado em ml ha-1 do produto escolhido, bem como a quan-
tidade gasta por talhão é mostrada na tela.
Recalcular – Em caso de chuva após a aplicação do regulador, é possível calcular a
dose que precisa ser reaplicada. Para isso, insere-se o tempo sem chuva; se foi usado
ou não adjuvante, o tipo de regulador e a dose aplicada.
Crescimento – o crescimento pode ser monitorado pelo gráfico que mostra uma cur-
va padrão de crescimento (relação altura com número de nós) e as amostras ava-
liadas. É possível determinar se a planta precisa de estímulo ou de retardo a seu
crescimento.

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Manejo de desfolha
O potencial de uma lavoura de algodão, Modulação hormonal como
seja em quantidade ou em qualidade de ferramenta de manejo
fibra, basicamente é determinado pelo Nesse contexto, a modulação hor-
Gustavo Pazzetti
cultivar, ou seja, pelo potencial genéti- monal da lavoura vem sendo consi-
UniRV
co. Na discussão do potencial genético, derada como a estratégia fitotécnica
deve-se ter presente que quase sempre de manejo mais recente visando alta
é impossível reunir na mesma variedade produtividade e qualidade de fibra. No
potencial produtivo elevado e qualida- entanto, é importante frisar que, na es-
de de fibra associados a maior resistên- sência, a modulação hormonal não ne-
cia ou tolerância a doenças, ou seja, toda cessariamente significa aplicar hormô-
vez que são obtidas variedades mais nios à lavoura; vários são os trabalhos
produtivas pelo melhoramento con- de pesquisa com aplicação de hormô-
vencional, nem sempre o benefício vem nios que, ao serem confrontados, mos-
Jerlei Fernando agregado com maior qualidade de fibra, tram inconsistência de resposta, pois,
JF Consultoria e quase sempre a resistência ou a tole- na verdade, é preciso compreender
rância é prejudicada. Especula-se que, que a resposta das plantas à aplicação
até o momento, nem mesmo pela trans- de hormônios tem um componente
genia será fácil associar na mesma varie- genético dependente muito forte e
dade atributos de produtividade com pode ser influenciada pelo momento e
qualidade de fibra e elevada resistência pelas doses das aplicações.
ou tolerância a doenças. Em princípio, a modulação hormonal
Por trás do potencial genético, de- consiste em administrar os hormônios
finindo maior ou menor produtivi- naturalmente produzidos pela planta,
dade, ou qualidade de fibra e maior adotando estratégias de manejo no
ou menor resistência ou tolerância a sentido de obter-se e manter lavouras
doenças, existe um perfil interno de que permaneçam fisiologicamente ati-
mensageiros químicos (hormônios e vas por mais tempo, ou seja, na quais as
reguladores) produzidos pela planta. plantas apresentem maior habilidade
Alguns destes dão sinal verde para para transformar água, luz e nutrien-
crescimento, desenvolvimento, ma- tes em maior quantidade e qualidade
nutenção da jovialidade e produtivi- de fibra ao longo do ciclo. O princípio
dade (auxina, citocinina e giberelina), básico para conseguir tal resultado resi-
enquanto outros determinam sinal de em administrar a energia produzida
vermelho (ácido abscísico e etileno); pela planta, de forma a canalizar mais
alguns ainda estão envolvidos com os energia para crescimento e produtivi-
mecanismos de defesa (brassinoste- dade e reduzir o gasto energético com
roides, jasmonatos, poliaminas e sali- manutenção.
cilatos). Todavia, vale ressaltar que os De toda a energia produzida entre
hormônios da planta não atuam isola- os processos da fotossíntese e, princi-
damente, mas, sim, de forma coopera- palmente, da respiração, o maior inves-
tiva e interativa, num balanço especí- timento da planta, por uma questão
fico que varia de espécie para espécie, de sobrevivência, é com manutenção.
entre híbridos ou cultivares e também Naturalmente, em qualquer ser vivo
é influenciado por fatores bióticos — e com a planta não é diferente —
(pragas e doenças) e abióticos (água, o gasto energético com manutenção
luz, temperatura e nutrição). é grande e é ainda maior quando a

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lavoura é exposta ao estresse. O estresse, inde-


pendentemente do tipo, seja por ataque de pra-
gas ou doenças, hídrico, térmico, luminoso, nu-
tricional, ou mesmo por dano fitotóxico, além de
roubar mais energia da planta, reduz o tempo de
vida útil das folhas, ou seja, provoca a senescên-
cia (envelhecimento) precoce da lavoura e, des-
sa forma, suprime substancialmente o potencial
genético de produtividade e qualidade de fibra.

Potencial genético e ambiente


Para que o potencial genético se expresse, a la-
voura deve receber distribuição hídrica, térmica e
luminosa favorável ao longo do ciclo fenológico.
Ou seja, em sentido mais amplo, o potencial pro-
dutivo e de qualidade de fibra não depende ape-
nas do potencial genético da variedade cultivada,
mas, sim, do sistema de produção, definido basi-
camente pela interação entre o potencial genético
com o ambiente do cultivo e com o manejo adota-
do, como exemplificado na Figura 1.
A distribuição hídrica, térmica e luminosa, é
determinada por altitude, latitude e longitude
da região onde a lavoura é cultivada, e pode ser
mais bem administrada pela data da semeadura
(safra ou segunda safra). Além destes dois siste-
mas, o espaçamento, a população e distribuição
Potencial Genético
espacial de plantas, se condição irrigada ou de
sequeiro, se cultivo convencional ou semeadura
direta, se monocultivo, sucessão ou rotação e se Ambiente Manejo
adota cultivo tradicional ou adensado também
são componentes importantes do vértice am- Figura 1. Potencial produtivo resulta da interação entre
genética, ambiente e manejo
biente que podem influenciar na expressão do
potencial genético.
No vértice manejo, com prioridade absoluta,
deve ser dado destaque à construção de um perfil
físico, químico e biológico que seja um reservató- O papel das folhas
rio nutricional adequado e também um reservató- Entretanto, existem mais dois pilares básicos,
rio de água em profundidade, ou seja, que permi- decisivos; são eles: a preservação da área foliar,
ta maior formação de raízes e que não contrarie o mantendo-a fisiologicamente ativa por mais tem-
sentido geotrópico positivo do crescimento radi- po, e a desfolha em momento oportuno.
cular do algodão em buscar, desde cedo, água nas Na fase fenológica que compreende da emer-
camadas profundas. gência até a emissão dos primeiros botões florais,
O manejo de ervas na dessecação, pré e pós-e- quando a planta dá preferência para investir mais
mergência, a qualidade fisiológica e sanitária da energia em crescimento radicular do que em par-
semente, a plantabilidade (velocidade e distribui- te aérea, uma desfolha precoce repercute direta-
ção de sementes), o manejo adubacional — se a mente em desbalanceamento funcional e hormo-
lanço ou no sulco — e a adubação foliar também nal da planta. Isso porque, para crescer sempre, o
são pilares importantes do vértice manejo. sistema radicular dependerá da energia produzida

321
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

pelas folhas. Com menor área foliar, ha- o manejo com reguladores de cresci-
verá menor biomassa de raízes e, assim, mento, evitar a destruição de estruturas
grande restrição para absorção de água reprodutivas ou o aborto por estresse
e de nutrientes, e por serem as raízes a nutricional e também evitar a desfolha
fábrica exclusiva da citocinina, hormô- e o desgaste fisiológico por doenças.
nio que patrocina a divisão celular, o
que garante a manutenção da clorofila A desfolha da planta
(citocinina) e evita a síntese do etileno Cabe então a pergunta: qual é o
(hormônio da senescência entre ou- momento mais oportuno para fazer a
tros), haverá menor crescimento de par- desfolha?
te aérea e envelhecimento precoce. Nas fazendas, diversas recomenda-
As folhas no algodoeiro representam ções empíricas têm surgido: 60-70% ou
a matriz energética da planta, na qual 70-80% de abertura de capulhos. A res-
é produzida toda a energia que garan- posta correta a tal indagação depende
te sua manutenção, o crescimento ve- do conhecimento da relação fisiológica
getativo (raiz e parte aérea) e também entre o fruto e as folhas e, também, do
formação, crescimento e maturação período de crescimento e do período
dos frutos. Os frutos, apesar de serem da maturação do fruto, ou seja, quando
verdes (possuírem clorofilas) e terem todas as características da fibra estive-
estômatos (porta para a entrada de CO2, rem definidas, e a folha não tiver mais
matéria-prima para a formação do caro- nenhuma obrigação com o fruto.
ço e fabricação da celulose da fibra), são A relação fisiológica entre fruto e fo-
incapazes de autossustentar-se, ou seja, lhas é de total dependência, logo, uma
não produzem o alimento que precisam desfolha precoce, por exemplo, com 60-
para crescer, maturar e transformar-se 70% de capulhos abertos, fatalmente
em capulhos. comprometerá a qualidade da fibra dos
Diversos trabalhos de pesquisa têm frutos que ainda são imaturos.
mostrado que até 45 DAE, o algodoei- A partir da fecundação da flor, tem
ro não suporta grandes perdas de área início a embriogênese, ou seja, a forma-
foliar, tendo sido registradas perdas de ção da semente (caroço); começa tam-
produtividade que variam de 21% a bém o crescimento da fibra em compri-
35%. Outros trabalhos têm mostrado mento. Na média, a fibra define 90% de
que, caso ocorra 50% de desfolha até a seu comprimento máximo num período
formação das maçãs, poderá ocorrer re- de 25-28 dias. Posteriormente, por mais
dução de 14% da produção e, se a partir um período que varia de 25 a 28, ocorre
dos 85 dias após a emergência ocorrer a maturação, quando se definem todas
destruição de botões florais e maçãs as características intrínsecas da fibra. Os
igual ou superior a 33%, diminuirá sen- períodos do crescimento e da matura-
sivelmente a capacidade de recupera- ção da fibra são sensivelmente influen-
ção produtiva da lavoura. Portanto, o ciados pela temperatura. Em locais de
significado fisiológico das folhas para o maior altitude, onde as temperaturas
algodoeiro não está relacionado apenas são mais amenas, têm sido registrados
ao montante da fibra produzida, mas maiores períodos do que em locais de
também à qualidade da fibra produzi- menor altitude, onde a amplitude tér-
da. A partir dos botões florais e durante mica diária é menor.
toda a fase de florescimento e frutifica- Diante do exposto, fica evidente que
ção, precisa ser estabelecido como prio- a desfolha deverá ser feita, quando o
ridades absolutas, garantir o gerencia- último fruto (maçã) que compense ser
mento energético adequado mediante colhido, em termos de tamanho, esteja

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fisiologicamente maduro. Consideram-se frutos

(Fonte: EMBRAPA)
fisiologicamente maduros aqueles que apresen-
tam rigidez e consistência elevadas, oferecendo
resistência ao corte transversal com canivete e,
quando finalmente são assim cortados, as meta-
des exibem sementes (caroços), cujo tegumento
(casca) apresenta coloração escura e, em estádio
mais avançado de maturação, apresenta colora-
ção preta, como ilustrado na Figura 2.
Existe outro indicador fisiológico seguro para
efetuar a desfolha: quando a última maçã que
Figura 2. Frutos em diferentes estádios de maturação
compense ser colhida estiver localizada quatro
nós acima do último capulho aberto. Esta reco-
mendação de desfolha está fundamentada em es-
tudos que demonstram que as maçãs localizadas
até o quarto nó acima do último capulho são fisio-
logicamente maduras (Figura 3).
Entretanto, vale ressaltar que essa informação Maçã
deverá ser considerada absolutamente verdadeira Última imatura
apenas se houver bom nível de enfolhamento e a maçã
madura
área foliar estiver fisiologicamente ativa, ou seja,
se não existir desfolha por lagarta ou ramulária,
ou mesmo desgaste prematuro da área foliar por
qualquer outro tipo de estresse. Último
capulho
Desfolha química aberto
Outro aspecto notável a ser diferenciado na
desfolha é o dos produtos que são usados para
este fim. Existem desfolhantes com ação hormo-
nal, que estimulam a queda de folhas ainda ver-
des e, que em alguns casos, dependendo do nível
de enfolhamento, garantem desfolha de até 90%
em apenas sete dias. Também existem os denomi-
nados herbicidas dessecantes e os erroneamente
chamados maturadores, quando, na verdade, de-
veriam ser chamados promotores de abertura de
capulhos, tendo em vista que a recomendação cor-
reta do seu uso deve levar em consideração que as Figura 3. Determinação da posição da última
maçãs têm de estar fisiologicamente maduras, já maçã madura
que estimular a abertura precoce de maçãs fisiolo-
gicamente não maduras repercute negativamente
em perdas de produção e em qualidade de fibra, existe a possibilidade de ficarem aderidas à fibra dos
especialmente no tocante ao micronaire. capulhos abertos, o que repercute em fibra mais
O uso de herbicidas dessecantes deve ser evi- suja, com presença de pedaços de folhas (“pimenti-
tado, especialmente no cultivo adensado, visto nha”) oriundos da folha seca que não se desprende
que eles causam a morte das folhas por contato, que ao ser esmagada pela colheitadeira contamina
as quais secam, mas, em sua maioria, não se des- a fibra.
prendem da planta, ou, quando se desprendem Embora os promotores de abertura de capulhos
devido ao menor peso, não caem, e, se caem, — erroneamente denominados de maturadores —

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

não sejam tão eficientes na desfolha, máximas acima de 32°C, pode ser
dependendo do nível de enfolhamen- aplicada uma dose menor do produ-
to, podem ser utilizados sozinhos ou to. Caso as temperaturas máximas es-
misturados com desfolhantes ou desse- peradas estejam entre 23°C e 32°C é
cantes. Vale lembrar que o promotor de possível optar pela dose normal e, se
abertura de capulhos, para exercer seu as temperaturas máximas esperadas
efeito, precisa entrar em contato com o forem menores que 22°C, em princí-
alvo (fruto) e, assim, constando-se ma- pio, não se recomenda a aplicação ou
turação fisiológica das últimas maçãs se usam doses mais elevadas.
que compensam ser colhidas e havendo Após a aplicação dos desfolhantes
bom nível de enfolhamento na lavoura, e/ou promotores de abertura de capu-
primeiro, recomenda-se proceder à des- lhos, a lavoura deve ser colhida assim
folha e entre 10 e 14 dias após, se neces- que possível, pois a demora, além de
sário, aplica-se o promotor de abertura resultar em perda de peso por desidra-
de capulhos. tação excessiva, pode tornar a fibra que-
Por outro lado, é importante ter bradiça, aumentando a porcentagem
em mente que o desenvolvimento da de fibras curtas e, assim, a perda da qua-
planta e o efeito dos produtos com lidade da fibra.
ação hormonal (desfolhantes e pro- Os produtos e respectivas doses dis-
motores de abertura de capulhos) são poníveis para desfolha, dessecação e
muito dependentes de temperatura e promoção da abertura de capulhos são
também do estado hídrico da planta. apresentados na Tabela 1, ressaltando-se
Assim, o estado hídrico da planta no que as doses variam conforme monito-
momento da aplicação e os regimes ramento de porcentagem de aberturas,
térmicos que ocorrem após a aplica- número de nós do último capulho aber-
ção destes produtos poderão com- to, variedade, época de plantio, capaci-
prometer sua eficácia. Existindo pre- dade de colheita entre outros fatores de
visão meteorológica de temperaturas manejo, como o clima, citado acima.

Tabela 1. Produtos utilizados como promotor de abertura ou desfolhador na cultura do algodoeiro


(Atualização: Elio Machado, 2019)

Produto comercial Ingrediente ativo Concentração I.A. Dose Produto Comercial

Avguron Extra SC diurom (uréia) + tidiazurom (uréia) 180 g/l e 360 g/l 140 - 170 ml/ha

Dropp Ultra diurom (uréia) + tidiazurom (uréia) 60 g/l e 120 g/l 0,4 - 0,5 l/ha

Punto diurom (uréia) + tidiazurom (uréia) 180 g/l e 360 g/l 140 - 170 ml/ha

Cotton Quik etefom 273 g/L 4,0 - 6,0 l/ha


Finish etefom 480 g/L 1,5 - 2,5 l/ha
Aurora carfentrazona- etílico 400 g/l 0,05 - 0,08 l/ha

Kabuki pirafluflem- etílico 25 g/l 0,08- 0,12 l/ha

Observação: com Aurora e Kabuki, acrescentar 0,5% de óleo mineral

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Destruição dos restos culturais do


algodoeiro
O algodoeiro, como espécie original- V3 e plantas rebrotadas (soqueiras)
Edson Ricardo mente perene, tem a tendência de re- com mais de quatro folhas por broto
de Andrade tomar seu desenvolvimento mesmo ou com presença de estruturas repro-
Junior após a colheita. Os múltiplos nós que dutivas. Caso o agricultor não destrua
IMAmt permanecem na haste aumentam a os restos culturais do algodoeiro até
habilidade da planta em produzir no- o inicio do vazio sanitário, ele poderá
vas estruturas vegetativas e reprodu- sofrer penalidades, como multa.
tivas, principalmente em condições Principal Estado produtor de al-
favoráveis de temperatura e umidade. godão do país, Mato Grosso tem
A eliminação dos restos culturais calendários diferentes para o vazio
do algodoeiro após a colheita, tam- sanitário da cultura, dependendo da
bém conhecida como destruição de região. O território foi dividido em
soqueira, é recomendada como me- duas regiões:
Odilon Reny dida profilática para reduzir a po- Na Região 1, que concentra os
Ribeiro pulação de pragas e doenças que se núcleos regionais Centro (região de
Ferreira desenvolvem nas plantas rebrotadas, Campo Verde), Centro-Leste (região
da Silva destacando-se entre elas: bicudo, ra- de Primavera do Leste) e Sul (região
Embrapa Algodão mulária, ramulose, mancha angular de Rondonópolis), o vazio sanitário se
e as principais lagartas que atacam a inicia em 1º de outubro e vai até 30 de
cultura, que comprometem a produti- novembro de cada ano.
vidade da lavoura. Estudos realizados Na Região 2, que reúne os núcleos
constataram que a prática possibilita regionais Noroeste (região de Sape-
redução de mais de 70% da popula- zal), Médio Norte (região de Campo
ção de insetos em quiescência, os Novo do Parecis) e Norte (regiões de
quais sobreviveriam no período de Sorriso e Lucas do Rio Verde), o va-
entressafra e, consequentemente, in- zio sanitário se inicia em 15 de outu-
Valdinei festariam a cultura precocemente, na bro, seguindo até 14 de dezembro de
Sofiatti safra seguinte. cada ano.
Embrapa Algodão A essencialidade dessa medida, e
a necessidade de que seja adotada 1. Destruição dos restos culturais
por todos os cotonicultores, tornou a (soqueira)
prática obrigatória por lei. Nesse sen- A destruição dos restos culturais
tido, existe no Estado de Mato Gros- pode ser feita mecanicamente, com
so o Vazio Sanitário do Algodoeiro, uso de equipamentos específicos
normatizado pela IN 001/2016, da para essa finalidade, e também qui-
SEDEC/INDEA-MT, que é um período micamente, com uso de herbicidas; a
do ano durante o qual não pode ha- destruição química tem sido ampla-
ver plantas de algodoeiro com risco mente utilizada pelos produtores de
fitossanitário nas propriedades pro- Mato Grosso. Atualmente, 90% dos
dutoras. Lembrando que plantas com restos culturais do estado são destruí-
risco fitossanitário são plantas do al- dos dessa forma, que permite a con-
godoeiro tigueras acima do estádio tinuidade do plantio direto e diminui

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o custo da prática. É importante realçar que, de cortar e estraçalhar a parte aérea das plantas.
atualmente, há inviabilidade de destruir meca- Muitos produtores fazem a completa destruição
nicamente toda a extensão de área plantada de dos restos culturais com o uso da grade aradora
algodão, por conta da disponibilidade de ma- após a roçada (Figura 1). Pela ação de seus dis-
quinário e tempo nas propriedades. cos, a grade aradora incorpora ao solo toda a
vegetação existente na superfície. Entretanto,
1.1 Destruição mecânica dos restos culturais dependendo do tipo de solo, para a completa
Na destruição mecânica são utilizados di- destruição das soqueiras, podem ser necessárias
versos equipamentos ou combinação de equi- até três passadas do equipamento e outra com a
pamentos que apresentam diferentes tipos de grade niveladora, constituindo-se em uma ope-
órgãos ativos e formas de atuação no perfil do ração exigente em potência e de custo elevado.
solo para a destruição ou corte das plantas. Além disso, poderá ocorrer a formação de uma
Para a destruição dos restos culturais, inicial- camada compactada logo abaixo da região de
mente, o produtor utiliza o triturador dos restos ação dos discos, além de deixar a superfície des-
culturais (triton) ou roçadeira, com o objetivo provida de vegetação e suscetível à erosão.
(Imagem: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva)

Figura 1. Efeito do trabalho da grade aradora destruindo os restos culturais

327
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Alguns fabricantes nacionais desen- por discos duplos, côncavos e alinha-


volveram equipamentos com a finali- dos em formato de “V”, os quais agem
dade específica de fazer a destruição arrancando a planta do algodoeiro. Os
dos restos culturais do algodoeiro. Os discos possuem pequenas “garras” sol-
equipamentos apresentam variação dadas na parte externa para facilitar
quanto a profundidade de trabalho, sua aderência ao solo e permitir que
grau de mobilização do solo, velocida- os primeiros girem, facilitando o corte
de de trabalho, demanda de potência e da raiz ou o arranquio do algodoeiro
capacidade operacional. Abaixo, estão (Figura 2).
descritos os principais em operação: Para o arranquio do algodoeiro com
Arrancador de discos em “V” - é espaçamento entre linhas de 0,76 m,
acoplado ao sistema hidráulico três os discos possuem diâmetro de 24”,
pontos do trator, estando disponível com concavidade de 3”, enquanto que,
em configurações de quatro a doze para o espaçamento entre linhas de
linhas. O equipamento comercialmen- 0,90 m, os discos são de 28”, com con-
te disponível pode fazer o arranquio cavidade de 1¾”. O equipamento oca-
em fileiras espaçadas em 0,76 m ou siona baixo revolvimento do solo, o
0,90 m, sendo que, para cada espaça- que favorece práticas de conservação
mento, há uma configuração própria de solo e a adoção do plantio direto.
de diâmetro e concavidade dos discos. Além disso, a capacidade operacional
O equipamento possui um rolo com do equipamento é elevada pela velo-
facas que tem a finalidade de afrouxar cidade de trabalho ser alta, podendo
o solo, e o arranquio é feito em seguida chegar até 15-20 km/h.
(Imagem: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva)

Figura 2. Arrancador de discos em “V” da marca Moraes

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Arrancador de discos - o equipamento é aco- alta eficiência de arranquio das plantas previa-
plado no hidráulico do trator, e seus órgãos ati- mente roçadas, e seu efeito sobre a superfície do
vos são discos lisos côncavos que atuam aos pa- solo consiste na formação de pequenos sulcos
res, desalinhados sobre a fileira do algodão, na ou camaleões. A regulagem da profundidade é
profundidade de 8-15 cm (Figura 3). Apresenta feita pelo hidráulico do trator.
(Imagem: Valdinei Sofiatti)

Figura 3. Arrancador de discos da marca Watanabe

Cortador de plantas - o equipamento pos- cada corpo cortador, um reservatório de óleo que
sui dois discos para cada fileira de algodão, que abastece uma bomba hidráulica, que é acionada
atuam aos pares e dispõem de rotação própria por pela TDP (tomada de potência) do trator e é res-
meio de motores hidráulicos (Figura 4). Os discos ponsável pelo acionamento dos motores hidráu-
apresentam certa angulação em relação ao plano licos de cada disco cortador. Para sua eficiência é
horizontal para favorecer sua penetração no solo importante que os dois discos trabalhem encos-
e manter sempre a mesma profundidade de tra- tados um ao outro, o que é feito por meio de re-
balho, que pode variar de 3 cm a 5 cm. As plantas gulagem do equipamento. O maquinário mobiliza
são cortadas na região do colo, de forma a evitar a pouco o terreno, adequando-se, portanto, aos mé-
rebrota. Apresenta um sistema pantográfico para todos conservacionistas de manejo do solo.

329
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva)

Figura 4. Cortador triturador de plantas acoplado à barra de tração do trator

1.2 Destruição química dos ampla adoção do sistema de cul-


restos culturais tivo de segunda safra, soja pre-
A destruição química das soqueiras coce-algodão, que representa
do algodão (Figura 5) aumentou mui- mais de 80% do algodão em Mato
to nos últimos anos em decorrência da Grosso.
(Imagem: Edson Andrade Junior)

Figura 5. Área manejada com destruição química de soqueira

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De forma geral, pode-se dividir a destruição A primeira aplicação do(s) herbicida(s) deve ser
química em três métodos. realizada imediatamente após a roçada, o mais pró-
ximo possível, não devendo ultrapassar 20-30 mi-
1.2.1 Destruição iniciada no toco nutos (Figura 6). Em razão da ocorrência frequente
Para utilização desse método, é necessário o uso de rebrotes, a área deve ser monitorada para que
prévio de roçadeira/triton para corte das plantas do as reaplicações sejam realizadas com certa quan-
algodoeiro, a cerca de 20-30 cm do solo, procuran- tidade de área foliar, mas que não se ultrapasse o
do-se deixar a parte superior do toco estraçalhada risco fitossanitário. De modo geral, tem-se obtido
para aumentar a interceptação e retenção da calda sucesso no uso desse método com duas aplica-
pulverizada e, consequentemente, a quantidade ções, sendo a primeira aplicação no toco (imedia-
absorvida do herbicida. tamente após a roçada) e a segunda nos rebrotes.
(Imagem: Edson Andrade Junior)

Figura 6. Aplicação imediatamente após a roçada

Vantagens do método e a aplicação (20-30 minutos no máximo), sen-


Aplicação uniforme, uma vez que todos os do este um problema operacional de algumas
tocos recebem a aplicação do produto; fazendas e talhões muito extensos, e;
Início imediato da destruição de soqueira, e; Alvo da aplicação restrito (vasos expostos
Rebrotes/escapes surgem já bastante in- na roçada), pois há pouca ou nenhuma área
juriados e, com isso, levam mais tempo para foliar no momento dessa aplicação para au-
atingir o risco fitossanitário. xiliar a absorção dos produtos, o que torna
ainda mais importante seguir-se o item an-
Desvantagens do método terior, assim como observar a qualidade da
Deve-se respeitar o período entre a roçada aplicação.

331
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

1.2.2 Destruição no rebrote Quanto ao tamanho do rebrote, o ideal é


Para esse método, é necessário o que o mesmo possua 5-8 cm, sempre res-
uso prévio de roçadeira/triton para corte peitando-se o estádio de risco fitossanitá-
das plantas do algodoeiro a cerca de 20- rio previsto na IN do Vazio Sanitário
30 cm do solo, procurando realizar o corte (Figura 7). Em razão da frequente ocor-
o mais rente possível e, assim, proporcio- rência de rebrotes, a área deve ser monito-
nar melhores condições para o rebrote. rada para que as reaplicações sejam reali-
A primeira aplicação do(s) herbicida(s) zadas com certa quantidade de área foliar,
deve ser realizada tão logo a área pos- mas que não ultrapasse o risco fitossanitá-
sua um rebrote o mais uniforme possível rio. De modo geral, tem-se obtido sucesso
(porcentagens das plantas rebrotadas). nesse método com duas aplicações.
(Imagem: Edson Andrade Junior)

Figura 7. Talhão com rebrote de tamanho adequado para a primeira aplicação de herbicida

Vantagens do método demore, fica desuniforme (Figura 8) e é


Maior tempo para organizar as apli- requerido mais tempo para iniciar a des-
cações (facilita o operacional), e; truição da soqueira. Consequentemen-
Efeito visual do tratamento. te, os produtores terão um período curto
para realizar as aplicações necessárias de
Desvantagens do método eliminação da soqueira antes do início
É essencial a presença de rebrote do Vazio Sanitário;
uniforme (porcentagens de plantas Plantas rebrotadas atingirem o risco
rebrotes), pois plantas/tocos não re- fitossanitário rapidamente, com prolife-
brotados não receberão produto, uma ração de pragas e doenças, e;
vez que não possuem área foliar para Aplicações tardias em plantas com
absorção; muita rebrota, o que gera menor efi-
Em anos em que o rebrote da cultura ciência do tratamento.

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(Imagem: Edson Andrade Junior)

Figura 8. Área com rebrote desuniforme: em vermelho, tocos sem rebrota; em amarelo, com pouca rebro-
ta e, em branco, com rebrota ideal para aplicação

1.2.3 Destruição “planta em pé” reaplicações sejam realizadas com certa quanti-
Para esse método, as plantas não são roça- dade de área foliar, mas que não se ultrapasse o
das, e a primeira aplicação do(s) herbicida(s) risco fitossanitário.
deve ser realizada assim que a área possua um De modo geral, tem-se obtido sucesso nesse
rebrote o mais uniforme possível (porcentagens método com duas aplicações (Figura 9). É impor-
das plantas rebrotadas). Quanto ao tamanho tante lembrar que, pela IN do Vazio Sanitário, a
do rebrote, o ideal é quando o mesmo possua destruição dos restos culturais deve ocorrer até
5-8 cm, sempre respeitando-se o estádio de ris- quinze dias após a colheita. Ou seja, como nes-
co fitossanitário previsto na IN do Vazio Sani- se método não ocorre a roçagem (que seria a
tário. Em razão da frequente ocorrência de re- primeira etapa da destruição), teoricamente, a
brotes, a área deve ser monitorada para que as primeira aplicação deve ocorrer nesse período.
(Imagem: Edson Andrade Junior)

Figura 9. Área com manejo de destruição de soqueira planta em pé

333
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Vantagens do método uso de 2,4-D associado a outros her-


Economia da prática da roçagem; bicidas potencializa a eficiência do
Maior tempo para organizar as apli- manejo e, assim, garante menores ou
cações (facilita o operacional), e; nenhuma porcentagem de rebrotas
Efeito visual do tratamento. das áreas. O melhor herbicida para
uso associado ao 2,4-D é o glifosato.
Desvantagens do método Porém, com o advento das variedades
É essencial a presença de rebrote de algodão transgênicas resistentes
uniforme (porcentagens de plantas re- ao glifosato (GL/GLT/GLTP e RF/B2RF/
brotes), pois plantas não rebrotadas B3RF), seu uso não deve ser feito nes-
não receberão produto, uma vez que sas variedades, sendo essa associação
não possuem área foliar para absorção; então restrita às variedades convencio-
Em anos em que a rebrota da cul- nais, LL, LTP e WS.
tura demore, é requerido mais tempo Para as variedades resistentes ao
para iniciar a destruição da soqueira, glifosato, os herbicidas mais utilizados
e, consequentemente, os produtores associados ao 2,4-D são Radiant® (flu-
terão um período curto para realizar as micloraque) e Aurora® (carfentrazone).
aplicações necessárias de eliminação Apesar de dados de pesquisa mostra-
da soqueira antes do início do Vazio rem menores eficiências, os produtores
Sanitário; também utilizam Clorimuron® e Heat®
Plantas rebrotadas atingirem o risco (saflufenacil).
fitossanitário rapidamente, com prolife- Como já citado anteriormente, o
ração de pragas e doenças, e; principal herbicida utilizado na destrui-
Aplicações tardias em plantas com ção de soqueira química é o 2,4-D. Sen-
muita rebrota, o que gera menor efi- do assim, as doses utilizadas nos mane-
ciência do tratamento. jos são de extrema importância. Após
mais de dez anos conduzindo ensaios
1.2.4 Herbicidas usados na e acompanhando o desempenho dos
destruição de soqueira manejos nas propriedades, indepen-
O herbicida mais utilizado na des- dentemente do herbicida associado ao
truição da soqueira do algodoeiro é o 2,4-D, há a necessidade de pelo menos
2,4-D, isolado ou associado e sequen- 3 l de 2,4-D no acumulado do manejo,
cial. Esse ingrediente ativo possui ação sendo de modo geral aplicado da se-
sistêmica, ou seja, depois de absorvido, guinte forma: 2 l na primeira aplicação
é redistribuído dentro das plantas, o e 1 l na segunda aplicação, indepen-
que o torna mais efetivo. dentemente do método utilizado e da
Diversos trabalhos mostram que o associação com outros herbicidas.

Motivos de falhas na destruição de soqueira química observados nas úl-


timas safras (Figura 10)

• Uso de baixas doses de 2,4-D - muitas vezes somando as duas aplicações


não se atingem 2 l (Figura 11);
• Produtores que, em manejos de variedades convencionais e WS, reduzem
a dose do 2,4-D “confiando” em uma maior dose de glifosato, e;
• Realizar apenas uma aplicação para destruição de soqueira (muitas vezes
até sendo feito a aplicação dos 2 l de 2,4-D), porém, a aplicação sequencial
com 2,4-D nas rebrotas é obrigatório, sendo atualmente necessariamente
realizada antes do plantio da soja.

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(Imagem: Jacob Netto)

Figura 10. Área com presença excessiva de plantas de algodão no momento da colheita da soja

Figura 11. Área manejada com subdoses de 2,4D na


destruição de soqueira e com aplicações de glifosato no
manejo em pós-emergência da cultura da soja

335
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

2. Manejo de tigueras usados são: Radiant® (flumicloraque),


As plantas “tigueras” são plantas de Flex® (fomesafen) e Naja® (lactofen).
algodão oriundas da germinação de O principal problema no manejo das
caroço caído no chão, na cultura de su- tigueras é a ocorrência de vários fluxos
cessão (geralmente soja, no Estado de de germinação e, com isso, no momen-
Mato Grosso). to das aplicações, algumas plantas po-
Para o manejo de tiguera, há pro- dem estar em maiores estádios, dificul-
dutos com eficiência para essa práti- tando seu controle. Para isso, há a opção
ca, sendo importante destacar que o do uso de manejo de residual, ou seja,
controle deve ser feito antes do está- uso de herbicidas pré-emergentes para
dio V3, uma vez que após este estádio controle de tiguera antes de sua germi-
as plantas irão entrar em risco fitossa- nação, sendo eles: Spider® (diclosulan) e
nitário, assim como haverá redução da Imazetapir®. É importante destacar que,
eficácia dos produtos no seu controle. além do controle em pré-emergência,
Antes do plantio da soja, os produ- esses produtos proporcionarão um re-
tos usados na destruição de soqueira brote “mais” uniforme, ajudando, assim,
também irão eliminar as tigueras; após no manejo em pós-emergência com os
o plantio da soja, os principais produtos produtos anteriormente citados.

Posicionamento do IMAmt para destruição química de soqueira

Destruição química de soqueira de variedades RF, GL, GLT e GLTP:


1a aplicação no toco, imediatamente após a roçada (máx. 30 min) = 2,4-D
(2 l/ha) + óleo;
2a aplicação nos rebrotes/escapes = 2,4-D (1l/ha) + herbicida de baixa mobi-
lidade (Radiant® - 600 ml/ha) + óleo;
Aurora® (70 ml/ha).
Continuar monitorando e repetir aplicações caso ainda haja escapes;
* Caso o produtor adote a destruição nos rebrotes, os produtos e doses utili-
zados deverão ser os mesmos descritos acima.

Destruição química de soqueira de variedades convencional, LL, LTP, WS


e WS3:
1a aplicação no toco, imediatamente após a roçada (máx. 30 min) = 2,4-D
(2 l/ha) + óleo;
2a aplicação rebrotes/escapes = 2,4-D (1l/ha) + Roundup WG (2 kg/ha).
Continuar monitorando e repetir aplicações caso ainda haja escapes.
* Idem acima.

Destruição química + mecânica de soqueira:


1a aplicação no toco, imediatamente após a roçada (máx. 30 min) = 2,4-D
(2 l/ha) + oleo;
Uso de equipamento de destruição mecânico.
Continuar monitorando e repetir aplicações caso ainda haja escapes.

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

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PRODUÇÃO DE UMA
FIBRA DE QUALIDADE
Cuidar da qualidade da fibra, da sua formação na planta até a comercialização
A qualidade da fibra é predefinida no momento da escolha da variedade e
elaborada ao longo do crescimento da planta. Assim, no momento da colheita,
todas as operações de colheita e pós colheita visam a preservar a qualidade obtida
no campo. Essas operações, para serem realizadas adequadamente, além de
conhecimentos e treinamentos, vão requerer o acesso a capital importante, tanto
para os equipamentos de colheita como os de beneficiamento.
A qualidade da fibra — e sua valorização financeira — é definida em grande parte
em função das exigências da indústria têxtil nacional e internacional. O produtor e
os técnicos das fazendas precisam conhecer essas exigências para poder preservar
as qualidades da fibra ao longo do processo produtivo e ter noções sobre o sistema
de classificação da fibra usado para a comercialização.

339
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Maximizar a rentabilidade do cultivo


algodoeiro, produzindo uma fibra de
qualidade e valorizando os coprodutos
Jean-Louis
Bélot
IMAmt Agrupamos nesta parte sobre produ- Neste capítulo, trataremos rapi-
ção de uma fibra de qualidade infor- damente das ações que a Ampa vem
mações sintéticas a respeito da fibra conduzindo desde os anos 2000 para
e seu uso pela indústria, boas práticas conscientizar os produtores sobre a
de colheita e beneficiamento e valori- importância de produzir fibra de qua-
zação de coprodutos da cultura. Essas lidade e sobre aproximar-se da indús-
sínteses visam dar aos técnicos das tria têxtil e de centros de pesquisa
fazendas uma ideia geral sobre a im- internacionais.
portância de diversos tratos culturais Depois, abordaremos, de forma
e operações de transformação sobre muito resumida, a importância da
Sergio Dutra a qualidade de fibra e sua valorização qualidade da fibra para os diversos
Dutra Projetos comercial. tipos de indústrias têxteis, a fim de
Ltda. Porém, caso seja necessário, infor- conhecer melhor as necessidades e
mações mais detalhadas a respeito as dificuldades que elas encontram
desses temas podem ser encontradas na fabricação do fio e dos tecidos.
em diversos Manuais e Notas Técnicas Essa compreensão é fundamental
editados pelo IMAmt. para evitar problemas graves duran-
- Manual de beneficiamento do al- te a comercialização.
godão (IMAmt - Edt, 2014) Enfim, sintetizamos os manejos
- Manual de qualidade da fibra da da lavoura que incidem significati-
Ampa (IMAmt - Edt, 2018) vamente sobre a qualidade, dando
Todos esses materiais encontram-se abertura para os próximos capítulos,
para download em https://imamt.org.br/ sobre os manejos adequados de co-
lheita, beneficiamento, estrutura da
fibra e classificação, valorização dos
coprodutos do algodão.
(Imagem: Ampa)

1. O programa de qualidade de fi-


bra da Ampa/IMAmt
A Associação Mato-Grossense dos
Produtores de Algodão (Ampa), des-
de a sua constituição, em 1997, vem
dedicando especial atenção à quali-
dade da fibra de produzida em Mato
Grosso e procura atender às neces-
sidades do mercado interno e inter-
nacional; já em 2001, foi responsá-
vel pela realização da 1ª Semana da
Qualidade do Algodão de Mato Gros-
Figura 1. 1ª Semana da Qualidade, Campo so (Figura 1).
Verde/MT, 2001

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2012

Com a criação do Instituto Mato-Grossense dos testes interlaboratoriais utilizando diferentes mé-
Produtores de Algodão (IMAmt), em 2007, novas todos de detecção de pegajosidade do algodão.
ferramentas, dados de pesquisa, monitoramento Ademais, esse Programa de Qualidade propi-
a campo e análises laboratoriais têm sido postos à ciou o desenvolvimento de novas metodologias
disposição aos cotonicultores para garantir a qua- para o monitoramento da qualidade a campo, du-
lidade em todas as etapas da cadeia produtiva do rante a colheita, nas usinas de beneficiamento e
algodão. nos processos de comercialização.
Entre 2012 e 2018, a Ampa conduziu com re-
cursos do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) o 1.2 Integração com a indústria têxtil
Programa de Qualidade de Fibra do Algodão Uma das principais estratégias para garantir a
de Mato Grosso, que foi gerenciado por Sergio efetividade do Programa de Qualidade tem sido a
Dutra e contou com os trabalhos de campo da realização dos Workshops da Qualidade.
equipe de pesquisa e de assessores técnicos re- Desde sua primeira edição, em 22 de março
gionais (ATRs) do IMAmt. de 2013 (Figura 2) até 2018, o evento anual tem
buscado apresentar aos cotonicultores mato-
1.1 Atividades de monitoramento da -grossenses e aos profissionais de suas empresas
qualidade e de pesquisa as principais necessidades da indústria têxtil brasi-
A partir de então, a cada safra têm sido coletadas leira, como também as do mercado internacional.
amostras de algodão em caroço, de 20% dos talhões Essas informações foram obtidas a partir de visi-
em produção, sendo a representatividade proporcio- tas técnicas nacionais, realizadas aos principais
nal à participação de cada cultivar em relação à área polos brasileiros de produção têxtil, e por meio de
plantada no Estado. missões internacionais aos principais centros de
Essas amostras destinam-se ao monitoramento da pesquisa que realizam trabalhos relevantes sobre
qualidade de fibra produzida e têm sido utilizadas a qualidade da fibra de algodão.
para determinação das características HVI, para a Assim, cada workshop constitui-se em um es-
realização de pesquisas em parceria com a Texas paço de integração da cadeia têxtil, no qual os
Tech University (TTU), principalmente por meio principais fatores que interferem na qualidade do
da realização de análises AFIS, para ensaios e es- algodão — da escolha da cultivar ao embarque
tudos sobre tingimento, realizados em conjun- da pluma para os mercados interno e externo —
to com a empresa Santista S.A., bem como para são abordados por diferentes ângulos, a cada ano.
(Imagem: Martha Baptista)

Figura 2. Milton Garbugio, presidente da Ampa, na abertura do 1º Workshop da


Qualidade – 2013

341
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

O último evento, o 6º Workshop de da Santista S.A., em Americana/SP. As


Qualidade, foi organizado na forma visitas técnicas são complementares
de Jornada da Qualidade em 2018, in- aos Workshops da Qualidade e permi-
cluindo visitas a produtores de algo- tem um contato mais próximo entre os
dão, palestras e exposições no CTDT profissionais do campo e as diversas
do IMAmt de Rondonópolis. modalidades de indústrias têxteis em
Outra atividade, também com a fi- atividade no país.
nalidade de promover a integração Outras Visitas Técnicas às Indústrias
dos cotonicultores com toda a cadeia têxteis de Santa Catarina (Figura 3) e
têxtil, teve início em novembro de dos polos têxteis de Sergipe e do Cea-
2015, com a Visita Técnica à fábrica rá foram organizadas posteriormente.
(Imagem: Ampa)

Figura 3. Visita técnica à Cremer S.A., Blumenau/SC, 11 de maio de 2016

Finalmente, entre 4 e 11 de setembro Laboratório Fiber and Biopolymere Re-


de 2016, foi realizada Missão Técnica In- search Institute (FBRI) da Texas Tech Uni-
ternacional, com a presença de produ- versity (TTU) em Lubbock, Texas, onde o
tores de algodão mato-grossenses, aos grupo foi recebido pelo diretor, prof. dr.
Estados Unidos, iniciada com a visita ao Eric Hequet (Figura 4).

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(Imagem: Ampa)

Figura 4. Grupo da Missão Internacional na Texas Tech University, Lubbock, Texas

Esta breve introdução, que relata algumas das exigências da indústria têxtil nacional e internacio-
ações do Programa de Qualidade da Fibra de Algo- nal. O produtor e os técnicos das fazendas precisam
dão no Estado de Mato Grosso, busca apresentar ao conhecer essas exigências para convencerem-se da
leitor o vasto universo que está sendo explorado a importância de preservar as qualidades da fibra ao
partir dessa iniciativa inovadora da Ampa, em sin- longo do processo produtivo.
tonia com a evolução tecnológica do parque indus- Temos, na sequência deste capítulo, uma maté-
trial têxtil em todo o mundo, que requer um nível ria sobre a natureza da fibra e sua classificação
de qualidade cada vez mais elevado por parte dos comercial. Porém, precisamos entender melhor a
cotonicultores, sob pena de serem aplicados desá- preocupação da indústria em relação à “qualidade”,
gios sobre os valores pagos pela pluma, bem como em particular a incidência das diversas característi-
favorecer a perda de mercado para a fibra sintética. cas da fibra sobre a qualidade dos fios e, consequen-
Interagir com esse segmento amplo e especiali- temente, sobre os processos de tecelagem.
zado é muito importante. Qualidade exige atuação
em todas as etapas da cadeia têxtil, e essas ações 2.1 Os diversos tipos de fiação
técnicas e interações entre produtores e industriais Basicamente, temos três tipos principais de
têxteis não podem parar, apesar do encerramento fiação.
do projeto de Qualidade em 2019. Fiação de anel: é provavelmente o sistema
de fiação mais antigo, que simula os primei-
2. Qualidade de fibra e consequência para a in- ros sistemas de confecção artesanal de um fio:
dústria têxtil paralelização e torção das fibras para que haja
A qualidade da fibra — e sua valorização finan- coesão entre elas. Ao longo das décadas, as fia-
ceira — é definida em grande parte em função das ções de anel foram aperfeiçoadas, e as partes

343
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

mecânicas giram cada vez mais rapi- parque mundial de fiação, mas que vem
damente, requerendo, além de com- crescendo ao longo dos anos.
primento, resistência cada vez maior A estrutura do fio é diferente, podendo
das fibras. proporcionar qualidade diferencial aos te-
Fiação de rotor: também chamada cidos que serão confeccionados com es-
de fiação open-end, esse tipo de fiação ses fios; para cada tipo de fiação foi esta-
era destinado a produzir fios grossos belecida pelos industriais a importância/
ou muito grossos. Porém, ao longo do prioridade dos diversos parâmetros de
tempo, o maquinário evoluiu, permi- qualidade da fibra sobre a qualidade do
tindo a produção de fios mais finos e fio (Tabela 1), e, portanto, quais são as ca-
de melhor qualidade. racterísticas da fibra que cada tipo de fia-
Fiação air-jet: esse sistema é o mais re- ção vai priorizar no momento da compra
cente, ainda com pouca participação no da matéria-prima.

Tabela 1. Importância de diversos parâmetros de qualidade da fibra em função do tipo de fiação

Prioridade Fiação de anel Fiação de rotor Fiação


(ring spinning) (open-end) air-jet

1 Comprimento Resistência Comprimento


2 Resistência Finura intrínseca Limpa (sem trash)
3 Finura intrínseca Comprimento Finura intrínseca
4 Limpa (sem trash) Resistência
(Fonte: CSIRO, 2009)

É importante saber que uma fiação namento da fiação ao longo do tempo,


trabalha sempre com mistura de far- é importante que as misturas de fardos
dos (geralmente de sessenta a oitenta evoluam muito pouco, tomando em
fardos por linha de abertura), cuja fibra conta os parâmetros de colorimetria e
é retirada de cada um deles em cama- de características intrínsecas da fibra
das finas (Figura 5). Para o bom funcio- (micronaire, comprimento e resistência).

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(Imagem: SLC Agrícola)

Figura 5. Linha de abertura dentro de uma fiação

O final dos anos 1990 e o início dos anos 2000 têxtil é extremamente rápida. Outros sistemas
marcaram o começo do declínio da indústria têxtil de fiação, como o air-jet, que precisariam de fi-
americana e a migração para países como China e bra de qualidade diferente, poderiam, nas próxi-
outras partes da Ásia, com custo de mão de obra mas décadas, substituir o parque industrial têxtil
menor. A tendência foi-se acentuando depois dos atual.
anos 2010 até hoje; atualmente a migração dá-se Os produtores de algodão do Brasil têm a chan-
para países como Vietnã e outros. A industriali- ce de ter ainda um mercado nacional importante,
zação têxtil desses países foi realizada com base superior a 650 mil toneladas anuais. Esse merca-
principalmente em equipamentos de fiação de do é, às vezes, muito mais exigente em termo de
anel, com poucas indústrias de fio open-end (OE), qualidade de fibra (produção de fios penteados)
porém de alta velocidade. A fibra exportada para que o mercado internacional, mas é muito diver-
os países asiáticos precisa ter qualidade compatí- sificado e permite a comercialização de fibra de
vel com esse tipo de fiação de anel. características muito diferentes.
Porém, os países exportadores de fibra, como
Estados Unidos, e agora o Brasil, precisam ficar 2.2 Incidência da qualidade intrínseca da fibra
atentos às evoluções futuras do parque têxtil De modo geral, os principais critérios de qua-
mundial. A fiação de anel consolidou-se nos paí- lidade intrínseca da fibra podem ter as seguintes
ses asiáticos, porém, a evolução do maquinário consequências para a indústria têxtil:

345
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

- O comprimento da fibra é fun- dificilmente poderá ser reduzido. Eles


damental na aparência do fio, mas elevam os índices de ruptura na fiação
também interfere em sua resistência. e na tecelagem, causando queda na efi-
Talvez, o fator mais importante para a ciência e aumentando o desperdício e
indústria seja a distribuição da fibra, as imperfeições nos fios.
mais que o comprimento. O índice de Um dos maiores problemas para a
uniformidade (Un) e o índice de fibras indústria é o barramento (formação
curtas (SFI) avaliados pelas HVI devem de listras no tecido), que é causado
respeitar certos padrões. Somente as por: fibra (70%); variação do título do
análises AFIS permitem uma boa ava- fio (10%); variação da torção (10%); pi-
liação da distribuição do comprimento losidade (10%). Os barramentos tam-
e da maturidade; bém podem ser causados por variação
- A maturidade da fibra, definida do micronaire, mistura de algodão de
como o grau de depósito de celulose áreas diferentes, mistura de varieda-
nas paredes secundárias da fibra, é pro- des de algodão e mudanças no ciclo de
vavelmente o fator que mais influen- crescimento da planta. Alto C.V.% do
ciará a qualidade. Uma fibra madura micronaire também causa barramento.
produzirá menos fibras curtas durante
o descaroçamento e terá resistência 2.3 Incidência das diversas contami-
individual à ruptura mais elevada. Esse nações nos processos têxteis
grau de maturidade também incidirá Além das características intrínse-
muito durante os processos de tingi- cas da fibra, a indústria precisa rece-
mento dos fios e dos tecidos; ber uma fibra sem contaminações.
O índice Micronaire (IM), que carac- - O primeiro elemento é de receber
teriza o complexo finura/maturidade, os fardos de fibra em bom estado, com
é de grande importância para os indus- lona protetora e arames não estoura-
triais, pois afeta muito a aparência e a to- dos, não molhados ou apodrecidos. A
nalidade nos fios e nos tecidos tingidos; Figura 6 apresenta exemplos de fardos
Os neps no fio (neps de maturidade) danificados recebidos na indústria, preju-
influem na aparência do tecido acaba- dicando muito o operacional da indústria
do, especialmente na absorção do co- para poder usar essa fibra (eliminação
rante durante o processo de tingimento, manual das partes podres, dificuldade de
e este efeito negativo do acabamento manusear os fardos estourados etc.); (Imagens: Carlos Menegati)

1 2

Figura 6. Exemplo de fardos danificados recebidos na indústria (1-apodrecidos; 2-arame estourado)

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- Contaminantes presentes na fibra podem natureza diferente, podem atrapalhar os proces-


prejudicar significativamente o funcionamento sos de fiação ou reduzir a qualidade dos fios. É o
das fiações. caso dos pedaços de plástico (amarelo ou cor-de-
E o caso dos mais diversos objetos encontra- -rosa) provenientes das lonas usadas na confecção
dos nas linhas de abertura de fiação (Figura 7). dos rolinhos de algodão em caroço (Figura 8), que
Objetos de grande porte não são os mais peri- podem fragmentar-se e ser incorporados ao fio e
gosos, porque são eliminados antes de entrar aos tecidos, criando imperfeições visíveis após o
nos processos de elaboração do fio; outros, de tingimento e significativa depreciação.
(Imagem: Trützschler)

Figura 7. Contaminantes diversos encontrados nas linhas de abertura de fiação


(Imagem: Jean-Louis Bélot)

Figura 8. Rolinhos com lonas de plástico amarelo ou rosa

347
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

A presença de açúcar de origem ento- da fiação, provocando enrolamentos de


mológica (pulgões ou moscas-brancas), fibras nas cartas ou depósitos pegajosos
quando detectada, pode provocar a rejei- em diversas partes rolantes e aquecidas.
ção da carga de fibra por parte de algumas Sem falar da degradação da qualidade dos
indústrias (Figura 9). Esses açúcares po- fios produzidos por conta do aumento na
dem atrapalhar muito o funcionamento desuniformidade.
(Imagem: Jean-Louis Bélot)

Figura 9. Açúcar entomológico depositado em cima da fibra, com desenvolvimento de fumagina

Outros contaminantes que po- caule ou de ramos da planta de algodão,


dem incidir significativamente sobre a ou os seed coat fragments (SCF), pedaços
qualidade dos fios e tecidos produzi- de casca de sementes grudados à fibra
dos, são os barks, pedaços de casca de (Figura 10).

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(Imagem: Jean-Louis Bélot)

1 2

Figura 10. Contaminações por bark (1) e SCF (2)

Em resumo, a presença de impurezas e/ou da fibra obtida. Para cada região edafoclimá-
contaminantes nas fibras afeta diretamente tica existem informações para que o produtor
o funcionamento e o rendimento das fiações, possa escolher a variedade de melhor equili-
aumentando o índice de imperfeições no fio bro entre produtividade e qualidade de fibra.
produzido. O custo decorrente da presença Porém, uma vez escolhida a variedade, ela pre-
desses contaminantes pode ser tremendo para cisará ser posicionada segundo as recomenda-
as fiações. ções dos obtentores (datas de plantio, popula-
ção de plantas etc. ), a fim de poder expressar
3. Definição do potencial de qualidade seu potencial de qualidade.
O potencial de qualidade da fibra é defini- Ao longo do ciclo da cultura, todas as falhas
do a campo, antes da colheita. Todas as opera- de manejo incidentes sobre a alimentação da
ções de colheita e pós-colheita (beneficiamen- planta poderão afetar a qualidade da fibra. Ex-
to, armazenamento da fibra e transporte até trema atenção será dada ao controle de pra-
a indústria) podem, no máximo, manter esse gas, plantas daninhas e doenças, ao manejo
potencial, mais, geralmente, reduzem-lhe a de altura de plantas e à época de desfolha.
qualidade. Daí a importância de ter produzido Produzir uma fibra imatura acarretará muitos
a campo uma fibra de qualidade máxima. problemas de qualidade, com possibilidade de
Dentro das diversas etapas de manejo da gerar muitas fibras curtas durante o descaro-
lavoura, a escolha da variedade é a operação çamento e problemas importantes durante as
que terá maior repercussão sobre a qualidade operações de tingimento.

349
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Finalmente, ainda são válidas as intuito de garantir a qualidade do al-


treze diretrizes definidas em meados godão produzido no Estado de Mato
de 2010 e difundidas pela Ampa no Grosso.

Diretrizes para produzir uma fibra de qualidade (Ampa)

1- Avaliar, em todos os sentidos, a área a ser plantada, levando em con-


ta as condições edafoclimáticas, a capacidade da equipe, a infraestrutura, o
maquinário e os implementos disponíveis, do plantio à entrega dos fardos
beneficiados;
2- Certifique-se de que toda mão de obra envolvida na cadeia produtiva
do algodão receba treinamento adequado para cada etapa do ciclo de pro-
dução, do plantio ao beneficiamento;
3- Utilizar sementes com alto grau de pureza e qualidade, seguindo as
recomendações técnicas do obtentor para a época do plantio e manejo;
4- Manejar adequadamente todas as pragas da cultura do algodoeiro,
principalmente as que interferem diretamente na qualidade extrínseca da
fibra, como pulgão, mosca-branca, lagartas, percevejos sugadores, entre
outros;
5- Controlar adequadamente as doenças do algodoeiro, principalmente
a que causam desfolha precoce, interferindo diretamente na qualidade in-
trínseca da fibra;
6- Combater rigorosamente todos os tipos de platas daninhas, visando
manter até a época da colheita a lavoura limpa, a fim de evitar contaminação
da pluma;
7- Em caso do uso de desfolhantes e maturadores, seguir rigorosamente
as recomendações técnicas, para não interferir na qualidade da fibra;
8- Revisar adequadamente todos os equipamentos a serem utilizados na
colheita; aferir as regulagens dos equipamentos e a limpeza destes ao longo
dos dias de colheita;
9- Colher separadamente variedades e talhões com umidade adequada,
identificando-os de forma correta, a fim de evitar a desuniformidade dos
lotes;
10- Preparar adequadamente a formação dos módulos, de forma que te-
nham contaminação mínima de fundo, controlando a temperatura e a umi-
dade, mantendo-os devidamente protegidos de precipitações e poeiras;
11- Planejar e administrar a recepção, o armazenamento e o manejo dos
módulos no pátio da usina, a fim de evitar mistura de algodão, contamina-
ções de poeira e problemas de umidade;
12- Realizar a manutenção preventiva e periódica das algodoeiras, de
modo que o processo de beneficiamento seja adequado à redução dos dife-
rentes tipos de impurezas presentes no algodão;
13- Enviar as amostras para análise de características HVI para laborató-
rios idôneos e com tradição de resultados provados.

Referências bibliográficas: algumas referências no final do manual. Para


complementos, entrar em contato com os autores

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2012

351
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Uso adequado das colheitadeiras


Em Mato Grosso, toda a produção de No mais, todo o restante do algodão
algodão é colhida mecanicamente. As de Mato Grosso foi colhido em 2019
poucas lavouras “adensadas”, geral- com máquinas de tipo “picker”, em sua
Renildo Mion mente são colhidas com máquinas de maioria, máquinas de “rolinho” da John
UFMT tipo “stripper” de pente ou “picker-VRS”. Deere (Figura 1).
(Imagem: Jean-Louis Bélot)

Jean-Louis
Bélot
IMAmt

Figura 1. Máquina JD 7760

O modo de operar as diversas má- o algodão entra em contato com os


quinas, sua manutenção e regulagem fusos recolhedores, as placas laterais
são de importância fundamental na passam a pressionar a planta sobre
preservação da qualidade da fibra. as barras de grade (costelas), que ge-
ram uma divisão de fluxo de algodão.
1. Plataformas de colheita de Os tambores (Figura 2) são equipados
tipo “picker” com barras de fusos articulados, que,
O princípio de funcionamento é o com movimentos de rotação, extraem
seguinte: a pluma de algodão da linha o algodão dos capulhos com o mínimo
vem de encontro à unidade e, quando possível de impurezas.

Obs.: Este capítulo foi atualizado por Jean Belot e resumido a partir do texto da última edição de 2014,
que contou com autores adicionais. Mais detalhes no Manual de Qualidade da Fibra da Ampa, 2018.

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(Imagem: Jean-Louis Bélot)

Figura 2. Tambor de colheita de tipo “picker” de fusos, sem as tampas laterais

Dependendo do modelo da máquina, as bar- desde o manejo da lavoura até as operações


ras podem conter entre dezoito e vinte fusos. De- de colheita.
pois de enrolar o algodão, por meio de um siste-
ma de pista (trilho ou came), as barras deslocam 2.1 Preparo da lavoura para a colheita
os fusos até o eixo desfibrador. O desfibrador de A escolha da variedade pode incidir na quali-
alta rotação faz o giro anti-horário de 180 graus dade da colheita. Características como pilosida-
sobre o fuso, retirando a maioria do algodão, mas de das folhas, tamanho das brácteas ou aderên-
ainda sobram minúsculos restos de fibrilha, que cia do algodão ao capulho podem afetar tanto a
são retirados pelas escovas (sistema umidifica- carga de impurezas do algodão como a eficiên-
dor). No sistema em linha, os tambores giram no cia da colheita e a porcentagem de perdas.
sentido anti-horário, e o fuso no sentido horário. Como comentado nos capítulos anteriores
Após esse processo, o algodão é transportado deste manual, manejo de altura das plantas, la-
por dutos por sucção, gerada por uma corrente voura limpa — sem plantas daninhas — e desfo-
de ar criada pelo ventilador do sistema de ar. lha adequada têm papel importante na qualida-
de da colheita (Figura 3). É importante ressaltar
2. Principais recomendações para uma colheita ainda que a contaminação do algodão por picão-
de qualidade -preto ou sementes de outras plantas daninhas
Para realizar uma colheita de qualidade, é pode gerar descontos significativos no momento
necessário respeitar várias recomendações, da comercialização.

353
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Jean-Louis Bélot)

Figura 3. Lavoura em Sapezal/MT, adequadamente preparada para a colheita

2.2 Manutenção das máquinas extraídas dos Manuais da John Deere.


Grandes problemas de falhas pre- Após a manutenção básica diária da
maturas e de baixo desempenho po- máquina, como lubrificação e abaste-
deriam ser evitados se os encarregados cimento, começa a verificação técnica
pelo maquinário optassem por fazer o dos mecanismos operacionais da co-
uso correto dos manuais técnicos dos lhedora de algodão: unidades de co-
equipamentos. Esses manuais revelam lheita (tambores), dutos de saída e tu-
particularidades como especificações bos de elevação, turbinas de ar, pentes
de lubrificantes, produtos nocivos à de limpeza e telas do cesto, sistema de
pintura, chapas metálicas ou plásticas, descarregamento e proteção contra in-
bem como a maneira correta de lim- cêndio. A calibragem correta dos pneus
peza e manutenção da eletrônica em- garantirá que a estabilidade da máqui-
barcada, cada vez mais presente nos na e a altura de colheita nas linhas de
equipamentos agrícolas. Constam ne- extremidade se mantenham, principal-
les ainda informações sobre a frequên- mente em máquinas montadas para
cia das manutenções e os consumos de colher em espaçamentos largos.
combustível e água/detergente para o
sistema umidificador, entre vários ou- 2.3.1 Recomendações gerais de
tros detalhes. regulagem dos tambores
As unidades de uma colhedora de
2.3 Regulagens gerais das máquinas algodão devem ser inclinadas para faci-
Muitas informações e figuras foram litar a retirada do algodão dos capulhos

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do baixeiro da planta. A parte inferior da unidade 2.4 Regulagens específicas


deve estar a aproximadamente 25 mm acima da
superfície do solo; a adequação dessa inclinação 2.4.1 Placas de pressão
deve-se ao fato da ocorrência de um ligeiro mo- As placas de pressão devem pressionar as
vimento vertical relativo entre a entrada e saída cápsulas vegetais e o algodão aberto contra os
das plantas colhidas. Essa inclinação proporciona fusos. Elas devem ter a capacidade de afastar-se
alinhamentos diferentes dos eixos dos fusos dos e proteger os fusos dos danos causados pelos
tambores dianteiros e traseiros, fazendo com que grandes volumes de plantas, talos de grande
entrem em contato com todas as alturas das plan- diâmetro ou pedras que passam por cada uni-
tas, o que acarreta maior eficiência na colheita, dade de linha. As placas são articuladas e apoia-
além de permitir um alívio na carga de lixo na par- das por molas ajustáveis (Figura 4), e o aperto
te traseira, reduzindo o acúmulo de folhas e restos dos eixos das molas de retenção aumenta a
vegetais. pressão aplicada na placa. Em algumas condi-
O tambor dianteiro deve colher a 19 mm mais ções, há necessidade de colocação de placas de
baixo que o traseiro. Ele já vem ajustado de fá- raspagem pela parte interna da placa de pres-
brica nessa medida, que é de 584 mm de centro são, promovendo um contato mais agressivo
a centro do pino; a medida deve ser ajustada no dos capulhos na entrada e saída das plantas.
campo, principalmente quando a colheita for fei- As condições de cultivo do algodão são
ta em solos macios. diferentes nas diversas regiões do Estado de
Mato Grosso. As plantas de algodão cultivadas
2.3.2 Dutos de saída e tubos de limpeza em condições secas tendem a ser mais curtas
Eles devem estar livres de graxa e restos de e largas, com a maior parte da produção con-
plantas, para evitar o embuchamento. Devem centrada na parte inferior em 0,50 m. Às ve-
também estar bem fixados, pois esse sistema tra- zes, a passagem de grande volume de algodão
balha a vácuo, o que garante a sucção do algodão concentrado no meio das unidades faz com
na primeira porção, evitando o desgaste excessi- que aumente a perda a campo. As recomenda-
vo dos desfibradores e os embuchamentos. ções gerais são inicialmente de ter as placas de
pressão muito soltas e, depois, apertá-las o ne-
2.3.3 Turbinas de ar cessário para melhorar a eficiência da colheita.
Verificar a tensão das correias e a lubrificação Se a lavoura apresenta maturação homogê-
das turbinas conforme o manual da máquina. nea, a regulagem da pressão das placas com-
pressoras deve ser de forma que estas retirem
2.3.4 Pentes de limpeza e telas do cesto o máximo de plumas, sem atacar mecanica-
Os pentes de limpeza são, com as telas, res- mente a planta, pois, assim, ela soltará galhos
ponsáveis pela limpeza do algodão já colhido. É e restos de capulhos, diminuindo a qualidade
importante regulá-los para que o algodão percor- do produto. Se as placas estiverem com uma
ra o máximo da área de limpeza oferecida pelos pressão muito alta, elas podem derrubar os
pentes. capulhos ainda com as plumas, aumentando
as perdas antes da colheita. Como os rotores
2.3.5 Sistema de descarregamento e proteção dianteiros colhem em média 75% do algodão,
contra incêndios um operador prudente regula as placas tra-
A tensão das correntes descarregadoras deve ser seiras sempre um pouco mais apertadas, pois
verificada para garantir que elas não saiam das guias. a planta vai chegar mais ‘magra’ aos rotores
Verificar o sistema de proteção contra incêndio. traseiros.

355
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: John Deere e Jean-Louis Bélot)

Figura 4. Regulagem* das placas de pressão

*As regulagens das placas de pressão são de dois furos na frente e três furos atrás para a primeira apa-
nha. Uma vez que aproximadamente 75% do algodão é colhido no tambor dianteiro, deve-se manter
maior pressão atrás. Para o algodão muito adensado, recomenda-se iniciar com pressão menor, ou seja,
1,5 orifício na frente e dois atrás. Caso seja necessário, aumentar em incrementos de 1/2 orifício, inician-
do-se pelo tambor traseiro.
(Imagem: Jean-Louis Bélot)

Folga entre a placa de pressão e o fuso


A folga entre os fusos e as placas de
pressão deve ser de 3 a 6 mm (Figura 5).
Recomenda-se deixar em torno de 4 mm.
Caso esse espaço seja menor que o es-
pecificado, os fusos podem tocar nas
placas, gerando fagulhas, com risco
de incêndio no algodão em caroço
colhido.
Quanto mais pressão a placa dianteira
tiver, maior será a eficiência na retira-
da da pluma, porém maior será tam-
bém a presença de galhos e impure-
zas (casquinhas e folhas) no algodão
colhido. Por isso é necessário regular
a placa de acordo com as característi-
cas da variedade, da produtividade e
da altura da cultura, de forma a redu-
zir as perdas quantitativas e qualitati-
Figura 5. Regulagem da folga entre os
vas do algodão. fusos e a placa de pressão

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2.4.2 Placas de raspagem primeiramente, as condições do algodão.


Recomenda-se a instalação das placas de raspagem Com a placa de raspagem instalada (Figura 6), põe-
somente no tambor traseiro em circunstância em que -se carga nos desfibradores e fusos, o que ocasiona
a fibra for difícil de retirar do capulho (presença de cari- também um desgaste acentuado. Verificar sempre se
mã ou algodão escorrido). Portanto, quando a máqui- há folga suficiente entre os fusos e as placas, se estas
na for montada nova, não instalar a placa, mas verificar, forem instaladas.
(Imagem: Jean-Louis Bélot)

Figura 6. Placa de raspagem montada no tambor traseiro

2.4.3 Desfibradores que a da superfície de rotação do eixo.


A função dos desfibradores é a de remover Os desfibradores devem manter uma distância
o algodão em caroço dos fusos com um desen- de aproximadamente 1 mm em relação ao fuso,
rolamento, limpando e tirando em direção à conforme Figura 7 e, quando estiverem desgasta-
extremidade do eixo. A velocidade de super- dos, a coluna deve ser retirada e levada para ser
fície do pente é muitas vezes mais rápida do lixada em uma bancada especial.

357
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: John Deere)

Figura 7. Ajustes entre fusos e desfibradores

2.4.4 Ajuste de barra de grade (costelas) qualquer atrito pode resultar em início
Depois da revisão, deve-se sem- de incêndio. Elas podem ser reguladas
pre verificar a distância das costelas soltando-se os parafusos da lateral,
em relação ao fuso (Figura 8), porque com o uso de chave 15 mm.
(Imagem: Jean-Louis Bélot)

Figura 8. Posicionamento dos fusos entre as barras

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Os fusos trabalham com as costelas para exe- de acordo com o relevo da superfície do solo,
cutar a limpeza centrífuga, muito parecida com guiando suavemente os capulhos abertos da
um descaroçador de algodão. Essas dicas serão parte inferior da planta para a unidade. Eles pre-
úteis para manter uma boa colheita: cisam estar regulados a uma altura de 25 mm da
superfície do solo; entretanto, o operador deve-
- As costelas mal-espaçadas, danificadas ou rá ficar atento à presença de impurezas. Não se
soltas podem entrar em contato com os fusos, recomenda instalar esses levantadores quando
contribuindo para aumentar o desgaste e pro- a carga da planta for suficientemente alta.
vocar incêndios;
- A ausência de costela(s) permitirá a passa- 2.4.6 Ajuste da altura da coluna umidificadora
gem de galhos, folhas e outros contaminantes O objetivo do sistema de umedecimento do
no momento da colheita, produzindo um algo- fuso é promover limpeza constantemente sobre os
dão sujo; eixos para remover gomas e resinas das plantas; tal
- Inspecionar os suportes e os parafusos nas procedimento ajuda a manter os fusos agressivos
extremidades das costelas quanto ao desgaste e, e torna mais fácil a retirada da pluma. A solução
caso, seja necessário, providenciar a substituição. remove os resíduos de plantas e de pluma, bem
como realiza uma limpeza no fuso. Uma solução
2.4.5 Levantadores de baixeiro (guia de plantas) de limpeza com a concentração correta é essencial
Os levantadores de plantas devem flutuar para o bom funcionamento do equipamento.
(Imagem: Jean-Louis Bélot)

Figura 9. Posição das escovas umidificadoras em relação


aos fusos

359
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

As escovas da coluna umidificadora com que a resposta do sistema seja mui-


devem tocar nos fusos (Figura 9); deve to lenta. Recomenda-se ajustar a altura
haver uma pequena flexão, pois elas com a máquina no campo, pois, nessas
devem tocar tanto nos fusos superiores circunstâncias, o óleo está quente, e o
como nos inferiores. sistema responderá mais rápido. Ajus-
Quando remover as escovas? As tar as mesmas dimensões em todas as
escovas devem ser substituídas quan- válvulas.
do estiverem com as cerdas rasgadas
ou desgastadas. Para um ótimo de- 2.7 Sensor de monitoramento
sempenho, elas devem estar reguladas da porta
corretamente, e os orifícios de fluxo da O fluxo de algodão dentro das unida-
água desobstruídos. des de colheita é monitorado com um
É importante salientar que certas re- sensor próximo aos desfibradores, que
gulagens devem ser conferidas ao lon- envia um sinal ao painel da máquina,
go do dia, principalmente em função alertando o operador de possíveis pro-
das condições dos talhões colhidos. blemas no fluxo de algodão.
Mudanças de regulagens (fusos-placas
ou fusos-barras) podem ser a origem de 3. Condições de umidade durante
incêndios das máquinas. a colheita
A colheita precisa ser realizada nas
2.5 Fusos melhores condições de umidade pos-
Os fusos são responsáveis pela reti- síveis, a fim de evitar a deterioração do
rada da pluma do algodão do capulho. potencial de qualidade de fibra elabo-
Há tendência de os fusos da parte infe- rado a campo. Por ocasião da colheita,
rior do tambor sofrerem mais desgaste é comum as fazendas buscarem a máxi-
que os da parte superior, pelo fato de ma utilização das máquinas disponíveis,
estarem mais próximos do solo, fazen- a fim de não deixar o algodão com os
do com que tenham um desgaste dife- capulhos abertos expostos às condições
rente nas barras, conforme as caracte- do clima.
rísticas de cultivo. Porém, é importante levar em con-
Os desgastes dos fusos podem re- sideração o efeito da umidade sobre a
duzir a eficiência da colheita; quando qualidade do algodão em caroço colhi-
identificado o desgaste, é necessária a do com colhedoras mecânicas. Muitos
substituição imediata do fuso, quando trabalhos técnicos já apresentaram uma
estiver quebrado ou com as farpas ar- série de considerações sobre a influên-
redondadas ou quebradas — 10%; em cia da umidade no algodão em caroço
caso de dúvidas, rodar o fuso na palma em relação ao processo de colheita e à
da mão, se estiver em boas condições qualidade da fibra. A decisão do início
vai penetrar na pele. da colheita do algodão depende da umi-
dade do algodão em caroço na planta.
2.6 Ajuste do controle de altura
da unidade 3.1 Umidade e qualidade do
Regular o controle de altura de acor- algodão colhido
do com a altura do algodão no pé. As A umidade da fibra do algodão co-
sapatas devem tocar o solo e não ará-lo. lhido mecanicamente não deve ser
Ao ajustar o controle de altura, quanto superior a 8%, para não ocasionar “en-
mais comprimida for a mola, mais alto carneiramento” (Figura 10), degradação
será feita a colheita. Há um limite de com- das fibras, amarelecimento e manchas
pressão da mola, que, ultrapassado, fará que podem ocorrer por conta de fungos.

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(Imagem: Renildo Mion)

Figura 10. Capulhos colhidos com umidade acima da recomendada

Alterações na cor são causadas por microrga- Nos fardos que são colhidos na umidade segura
nismos que proliferam com o aumento da tempe- para armazenamento, a temperatura geralmente
ratura e da umidade, sendo que isso pode ocorrer aumenta em torno dos 10°C a 15°C nos primeiros
mesmo após a formação dos módulos. O algodão 5-7 dias. Caso ocorra aumento superior a 20°C aci-
colhido com umidade superior a 16% sofrerá per- ma da temperatura ambiente, isso significa pro-
das, mesmo que descaroçado imediatamente. blemas na construção do módulo por conta da
O monitoramento de umidade deve ser cons- umidade, indicando que o fardo deve ser descaro-
tante, principalmente no início e ao final do dia, çado imediatamente, evitando perdas importan-
ocasiões em que a umidade pode mudar abrup- tes na qualidade da fibra.
tamente, em poucos minutos, principalmente à Todos os módulos prensados e fardos redon-
noite, por conta da presença de orvalho, fazendo dos devem ser inspecionados após a ocorrência
com que a temperatura caia rapidamente. O mo- de chuvas e, caso seja constatado vazamento de
nitoramento da umidade do algodão em caroço água para o interior dos módulos, a recomenda-
é essencial, e, com o aumento do uso dos fardos ção é proceder ao descaroçamento o mais rápido
redondos, é necessária uma atenção especial, em possível.
função das características da construção desse
módulo. 3.3 Umidade e perdas na colheita
Em diversas publicações, fica demostrado que
3.2 Umidade e armazenamento a eficiência da colhedora é reduzida quando o al-
A temperatura dos fardos de algodão deve ser godão está úmido, além de causar danos às fibras.
verificada diariamente, em seis locais diferentes,
durante os primeiros 5-7 dias após a colheita. De- 4. Formando e armazenando os módulos
pois desse período, o monitoramento da tempera- Os módulos cilíndricos utilizam um mecanismo
tura pode ser realizado a cada três ou quatro dias, semelhante ao de uma enfardadeira de feno circu-
conforme a variação da temperatura. lar; seu funcionamento é altamente automatizado,

361
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

exigindo o mínimo de interação do em relação aos módulos é decidir quan-


operador. Os módulos redondos são do deixará cair o módulo transportado.
cobertos com uma película de polieti- Normalmente, o módulo é descarrega-
leno modificado, que protege tanto o do no final do talhão para facilitar o car-
algodão quanto a semente, proporcio- regamento em caminhões adequados
nando uma força de compressão para para o transporte até as algodoeiras. Se
manter a densidade do módulo. O sis- o rendimento é muito elevado, ou os
tema de controle de formação manipu- comprimentos de linha forem longos,
la a embalagem dos módulos; quando pode ser necessário soltar os módulos
o invólucro for concluído, o módulo é no meio do talhão. Essa ação não tem
ejetado sobre o transportador na parte impacto sobre o funcionamento dos fu-
traseira da máquina, como mostrado na sos, entretanto, pode perfurar ou rasgar
Figura 11. A principal ação do operador o plástico.
(Imagem: Renildo Mion)

Figura 11. Módulo ejetado sobre o transportador na parte traseira da máquina

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No caso dos fardões elaborados com prensas facão, a prensa posicionada em seu lugar. Quan-
(Figura 12), a limpeza do solo onde eles serão do constituído, o fardão é coberto por uma lona,
constituídos é importante para não contaminar amarrado com corda e deixado no local até seu
sua base; os pés de algodão são cortados com transporte para a algodoeira.
(Imagem: Jean-Louis Bélot)

Figura 12. Algodão colhido e armazenado com fardões

É importante vistoriar periodicamente os prejudicar as operações de destruição de soquei-


fardões deixados na lavoura, a fim de detectar ra, realizadas na sequência.
eventual início de incêndio que se pode revelar Na lavoura ou nos pátios das algodoeiras, é
até quatro ou cinco dias depois da colheita, ou recomendado que os rolinhos/fardões sejam
para evitar fermentações no caso de uma colhei- armazenados em pilhas descontínuas, a fim de
ta úmida. No caso dos fardinhos colhidos pelas limitar a propagação do fogo em caso de incên-
máquinas JD 7760, é importante que o operador dio (Figura 13). Deve-se evitar armazená-los sob
os descarregue na beira do talhão, a fim de não linhas de energia elétrica.

363
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Figura 13. Incêndio em rolinhos armazenados de forma contínua

5. Medidas de seguranças estiver em funcionamento;


As colheitadeiras de algodão são - Prestar atenção aos operários que
máquinas complexas, delicadas, caras e ficam na lavoura enquanto a máquina
perigosas quando funcionam, por isso manobra;
merecem atenção particular para sua - Não operar a máquina quando o
manutenção e durante seu uso. É im- cesto for levantado;
prescindível a capacitação dos opera- - Levantar os tambores ao máximo
dores por meio de treinamentos, cursos enquanto são manobrados;
ministrados pelos fabricantes, por es- - Em terrenos irregulares, a máquina
colas especializadas ou por associações deve ser conduzida em marcha lenta;
de produtores. - Evitar frear bruscamente, o que
Quando a máquina funciona, deve- pode ocasionar danos aos tambores;
-se manter em perfeito estado o sistema - Não realizar lubrificação ou limpe-
de contenção de incêndio; recomenda- zas embaixo da máquina com o motor
-se que a máquina seja acompanhada ligado. A única exceção é quando se
ao longo do dia por um tanque de água, usa o controle remoto para acionar as
caso ocorra um início de incêndio. O cabeças de colheita para inspeção;
custo dessa operação é muito baixo em - Não operar a máquina sem as pla-
relação ao valor de uma máquina. cas de proteção e extintores em perfei-
No momento das operações de lim- to estado de funcionamento;
peza periódicas ao longo do dia, os - Limpar folhas secas e algodão even-
operadores das máquinas devem se- tualmente presentes no motor, a fim de
guir as seguintes regras de segurança: evitar incêndios;
- Não tentar apagar o fogo no cesto;
- Ninguém pode permanecer na derramar imediatamente o algodão no
plataforma da máquina quando esta chão.

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Principais recomendações para uma colheita preservando a qualidade


- Manejar a altura das plantas a fim de colher o algodão com altura no máximo 1,5 vez o
valor do espaçamento entre linhas, sendo recomendado o limite de 1,30 m a 1,40 m para
espaçamento de 0,90 m;
- Colher a lavoura sem infestação de plantas daninhas (principalmente picão-preto, corda-
-de-viola etc.);
- Colher a lavoura devidamente desfolhada e com capulhos abertos (mínimo de 90% a
95% dos capulhos abertos), sem rebrotes de folhas;
- Utilizar colhedoras devidamente revisadas e com regulagens adequadas para as condi-
ções de campo, respeitando as normas dos fabricantes;
- Realizar a limpeza periódica das máquinas durante a colheita, principalmente grades e
cestos, evitando a contaminação do algodão colhido;
- Armazenar os módulos prensados ou fardos em rolo em lugares adequados, preferencial-
mente na beirada dos talhões, principalmente quando tiverem de permanecer no campo por
longos períodos.
(Imagem: Renildo Mion)

Figura 14. Sujeiras a limpar periodicamente, nos cestos e nas escovas


umidificadoras

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

365
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Preservar a qualidade da fibra


no beneficiamento

A fibra de algodão tem seu potencial excesso de secagem e aquecimento. A


Jean-Luc de qualidade máximo na abertura do preparação (encarneiramento) (Figura 1)
Chanselme capulho. Várias degradações aconte- pode aparecer em níveis diferentes do
Cotimes do Brasil cem antes e durante a colheita; o be- processo, por processamento forçado
neficiamento melhora certas caracte- (cargas altas, máquinas em mau esta-
rísticas enquanto afeta outras de forma do) ou condições inadequadas (maté-
negativa. Por exemplo, a limpeza do ria muito úmida); os neps de fibra (nós)
algodão em caroço e da fibra remove aparecem progressivamente ao longo
matéria estranha, enquanto tratamen- da sequência de máquinas enquanto
tos térmicos ou mecânicos a danificam. os neps de casca de caroço (seed-coat
De modo geral, o beneficiamento tem fragments - SCF) são gerados no des-
um efeito potencial muito importante caroçador, especialmente em condi-
na qualidade da produção. ções de baixa umidade da semente. O
As principais características da fi- processo de descaroçamento remove
bra impactadas pelo beneficiamento alguns contaminantes vegetais e mi-
são os parâmetros de comprimento, nerais, mas pode gerar contaminantes
a resistência, a cor, as impurezas, os orgânicos, como óleos e gorduras.
neps e a contaminação. O tratamento A classificação instrumental da fibra
mecânico causa rupturas na fibra, di- gera uma maior visibilidade do efeito
minuindo-lhe o comprimento comer- do beneficiamento nos parâmetros
cial e a uniformidade e aumentando de qualidade, reforçando o papel do
a taxa de fibras curtas. A resistência é beneficiador e sua responsabilidade
diminuída por alteração da estrutu- a favor da qualidade das produções
ra molecular da celulose em caso de de algodão.
(Imagem: Cotimes)

Figura 1. Fibra apresentando preparação

Obs.: Este capítulo foi atualizado e resumido a partir do texto da última edição de 2014, que
contou com autores adicionais. Mais detalhes no Manual de Beneficiamento do Algodão, 2014 e
Manual de Qualidade da Fibra da Ampa, 2018.

366
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(Imagem: Cotimes)

Figura 2. Desmanchador fixo Figura 3. Fibra beneficiada pelo desmanchador

Impacto das etapas do processo e recomendações de secagem, o que provoca o encarneiramento


da fibra e de sua sujeira, que fica mais difícil de
1. Descarregamento e alimentação do processo separar nas demais etapas de pré-limpeza, au-
O descarregamento é realizado por desmancha- mentando, no final, as perdas de fibra no limpa-
dores de módulos; o desmanchador utiliza cilindros dor de pluma.
rotatórios de pinos ou facas para desmontar a massa
de algodão. No caso do desmanchador fixo (Figuras 2 Recomendações
e 3), o algodão cai por gravidade em um dispositivo
de regulação de fluxo ou sai lateralmente, em geral • Dispor um sistema de catação de poeira na
por uma fita. No caso do desmanchador móvel, o al- cabeça do desmanchador (Figura 4);
godão é coletado na parte baixa da máquina por uma • Isolar os desmanchadores da sala do processo
rosca e levado a uma correia/fita, que o transporta até de beneficiamento por uma parede vedada
o ponto de sucção para o processo. Os desmancha- para evitar a contaminação do ambiente de
dores de fardões geram muita poeira. trabalho e do algodão;
Ao descompactar o algodão em caroço do far-
dão, os pinos dos rolos desmanchadores arrancam • Evitar fardões muito compactados;
fibra, soltando mechas observáveis no algodão de- • Limitar as rotações de rolos desmanchadores
positado na fita lateral; é um inconveniente do des- a 360 RPM;
manchamento que não existe com os telescópios.
• Preferir o acréscimo de uma segunda etapa
Essas mechas soltas, em sua maioria, perdem-se no
de pré-limpeza ao acréscimo de um batedor
decorrer do processo (principalmente nos batedo-
no desmanchador.
res que trabalham com sucção) ou chegam aos des-
caroçadores, onde se encarneiram, reduzindo o tipo
da fibra produzida. Velocidades maiores aumentam A heterogeneidade da densidade nos módulos
o beneficiamento pelos pinos e afetam negativa- e o uso de módulos cilíndricos com desmanchado-
mente a apresentação da fibra. res fixos geram fortes variações do fluxo de matéria
O desmanchador móvel é frequentemente que desfavoráveis à homogeneidade e à eficiência
equipado de um batedor acoplado; a taxa de da secagem e da pré-limpeza, com risco de sobres-
sujeira fina eliminada é alta, o que explica o su- secar a fibra com consequente perda de resistên-
cesso dessa adaptação. No entanto, nas adapta- cia. Um dispositivo de regulação de fluxo (Figura 5)
ções existentes, a seção batedora não pode ser permite liberar para o processo um fluxo regular e
desviada, o que apresenta um inconveniente controlado; o dispositivo justifica-se para qualquer
grande no caso do algodão úmido, que é batido processo e capacidade e é indispensável para as
e rolado pelos pinos sem possibilidade alguma instalações de capacidades média e alta.

367
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Cotimes)

Figura 4. Sistema de catação de poeira no desmanchador móvel


(Imagem: Cotimes)

Recomendações

• Torre de regulação com secção de


armazenamento (pulmão) e secção
dosadora com dispersor;
• Automação da alimentação, inte-
grando desmanchador, torre de re-
gulação e sobra.

2. Gestão da unidade
As algodoeiras recebem matéria-
-prima com níveis de umidade muito
variáveis (4-20%). O algodão em caroço
de umidade alta pode causar embucha-
mentos e danos aos equipamentos; fica
difícil de abrir, não pode ser adequada-
mente limpo e resulta em rendimentos
de fibra baixos e fibra de aspecto encar-
neirado, com graus baixos; o algodão
seco demais gera eletricidade estática
e embuchamentos. Limpar-se-á facil-
mente, mas quebras de fibra ocorrerão
sob efeito dos tratamentos mecânicos
violentos no descaroçador e no limpa-
dor de pluma; o controle da umidade
Figura 5. Torre de regulação de fluxo montada em cima do chão

368
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

no decorrer do processo gera lucro, pela eficiên- quantidade de água retirada da fibra aumenta
cia do beneficiamento (produtividade) e pela com o tempo de exposição;
qualidade da fibra produzida.
• O deslizamento do ar sobre o algodão favorece
a troca de vapor de água por convecção;
2.1 Secagem do algodão em caroço
Um sistema de secagem bem desenhado e di- • A abertura do algodão: o algodão em caroço
mensionado facilita a limpeza e a abertura do algo- aberto seca mais rapidamente.
dão em caroço, melhora o brilho e reduz as impure- O sistema de secagem comum usa uma
zas e o encarneiramento; uma secagem exagerada fonte de calor (queimador e ventilador), tubu-
resulta em perda de resistência, redução do com- lações, um secador (torre de secagem) e um
primento e amarelamento da fibra. Corretamente dispositivo de separação (batedor). Equipa-
operado, o sistema não apresenta risco para a fibra;
mentos complementares são importantes para
a secagem deve ocorrer o mais cedo possível, antes
operar o sistema, como medidores, sensores e
de qualquer tratamento mecânico, porém, para se-
controladores.
car, o algodão em caroço deve ser bastante aberto.
A fonte de calor condiciona a eficiência do
O princípio da secagem é colocar o algodão
sistema de secagem; ela deve ser adaptada a
em contato com uma corrente de ar quente.
grandes fluxos de ar e ter tempo de resposta
Vários fatores influenciam a secagem:
muito curto para poder adaptar a temperatura
• A temperatura e a umidade do ar: quanto mais do ar às variações de umidade do algodão, pre-
quente e seco o ar, maior o potencial de remo- servar a fibra e gastar a energia justa necessária.
ção de umidade da fibra; Por isso sistemas a gás (Figura 6) ou petróleo são
mais adaptados que sistemas que se valem de
• O volume de ar disponível: haverá maior po- vapor de caldeira, e queimadores de tipo corti-
tencial de secagem quanto maior for a relação na são preferidos aos de tipo canhão. Os quei-
ar/algodão; madores utilizados nas algodoeiras têm poder
• O tempo de contato entre o algodão e o ar: a calorífico entre 250 mil e 4 milhões de kcal/h.
(Imagem: Cotimes)

(Imagem: Cotimes)

Figura 6. Queimadores a gás Figura 7. Trocador de calor

369
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Cotimes)

Figura 8. Secagem com torre sem gavetas em linhas duplas

Com a evolução do conceito da se- (PT100 ou Termopar) no ponto de


cagem moderna, as torres de gavetas mistura e na entrada da torre com
baixas (20 cm) são cada vez menos uti- displays no painel de controle;
lizadas no mundo. A torre de gavetas • Isolação das tubulações e das torres
altas de alto volume usa espaçamentos de secagem com lã de rocha ou de
maiores entre gavetas (até 69 cm) para vidro para conseguir economia de
aumentar a capacidade e serem utili- combustível de até 30%;
zadas em sistema de secagem por suc-
ção; existem vários modelos de secado- • Manter o sistema perfeitamente ve-
res sem gavetas (Figura 8), que sempre dado. Evitar hot-box, que deixa en-
utilizam a agitação do algodão no ar trar ar frio pela frente;
quente para combinar abertura e seca- • Medir manualmente a umidade do
gem, gerando um deslizamento signi- algodão várias vezes durante o des-
ficativo entre o algodão e o ar. O seca- carregamento de um mesmo fardão
dor de fluxo vertical é muito eficiente, e a umidade relativa do ar. Ajustar a
pois combina vários fatores favoráveis temperatura de secagem de acordo,
à secagem, como grande volume de ar, para atuar em temperatura mínima;
tempo de contato entre o ar quente e o
• No caso do controle manual, é indis-
algodão, alto deslizamento entre o ar e
pensável montar uma tabela especí-
o algodão nas barras inclinadas e gran-
fica da usina, que indica a tempera-
de abertura da massa de algodão.
tura de ar a ser utilizada em função
Sem isolação do secador e das tubu-
da umidade do algodão em caroço e
lações, só uma proporção baixa (20%)
umidade do ar;
da energia calórica gasta é utilizada
para secar a fibra. • Para conseguir a umidade certa para
a limpeza do algodão em caroço
Recomendações para secagem (5%), a secagem deve ser aplicada
a partir de uma umidade de fardão
• Instalar sensores de temperatura de 7%. Abaixo desse valor, um leve

370
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IMAmt 2020
2012

aquecimento pode ser aplicado para homoge- que ela possa suportar melhor as agressões
neizar a umidade, afofar a fibra e facilitar a cir- mecânicas do descaroçador e do limpador de
culação da matéria nas máquinas; pluma; nas áreas tropicais secas, é uma operação
essencial para minimizar as quebras de fibra. To-
• As temperaturas utilizadas devem ser razoáveis dos os estudos mostram que a umidificação an-
(70-110°C). A temperatura em qualquer porção tes do descaroçador tem um efeito positivo di-
do sistema não deve exceder a 170°C. reto sobre o comprimento comercial e a taxa de
fibras curtas. Pode-se ganhar 1/32 pol de com-
2.2 Umidificação do algodão em caroço primento e 2% de taxa de fibra curta quando a
A umidificação do algodão em caroço tem umidade da fibra do algodão em caroço aumen-
como objetivo devolver umidade à fibra, para ta em 2 pontos (Figura 9).
(Imagem: Cotimes)

Figura 9. Comprimento de fibra e SFC em função da umidade


(Imagem: Cotimes)

Figura 10. Caixas de umidificação do algodão em caroço (entrada dupla)

371
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

O interesse da umidificação do al- aplicação limpos (limpeza cada turno);


godão em caroço permite melhorar • A limpeza do circuito de água e
o valor comercial da fibra, a produti- do umidificador como um todo é
vidade e aumentar o rendimento de fundamental;
beneficiamento.
Dadas as baixas condições higromé- • Medir frequentemente a umidade do
tricas durante a safra de beneficiamen- algodão na saída dos alimentadores;
to no cerrado, umedecer o algodão em • Ajustar as temperaturas de ar e de
caroço é altamente justificado. água no umidificador para ter a umi-
O dispositivo recomendado de dade de fibra desejada de 6,5-8% na
umidificação do algodão em caroço entrada do descaroçador;
consiste em injetar ar úmido e quente
• A regulagem e o display das tempe-
em caixas situadas entre a rosca distri-
raturas no umidificador devem ser
buidora e cada alimentador de desca-
instalados no painel de controle.
roçador, onde o algodão fica bastante
compactado e com andamento muito
lento (Figura 10). 2.3 Umidificação da fibra antes
O sistema comporta um gerador de da prensagem
ar úmido com fonte de calor (queima- A umidificação da fibra antes da pren-
dor a gás ou petróleo, ou trocador de sagem tem como objetivo aumentar o
calor), um ventilador e uma caixa apli- peso dos fardos e o rendimento do bene-
cadora por linha de beneficiamento. ficiamento e melhorar o funcionamento
O nível de umidade da fibra reco- da prensa, diminuindo a pressão hidráuli-
mendado no algodão em caroço na ca necessária à prensagem em até 40%. A
saída dos alimentadores é de 6,5-8%. diminuição da pressão hidráulica:
Umidades maiores protegem mais a
fibra, mas reduzem o tipo comercial; • Reduz o tempo de prensagem (mais
umidades menores aumentam o tipo capacidade da prensa);
comercial, mas a fibra é danificada no • Reduz a solicitação mecânica da
descaroçador e no limpador de pluma. prensa (menos paradas, menos ma-
A eficiência da umidificação depen- nutenção);
de de vários fatores, como a diferença
entre temperatura do ar úmido e tem- • Reduz os picos de amperagem;
peratura do algodão, o volume e a velo- • Melhora o funcionamento e da qua-
cidade relativa do ar quente, a duração lidade da amarração;
do contato.
• Aumenta o peso médio dos far-
dos (menos embalagens e custo de
Recomendações para a umidificação
transporte).
do algodão em caroço

• Desenhar um sistema com possibili- A umidificação da fibra gera ganho


dade de equilibrar o fluxo de ar entre de centenas de milhares de reais, mas
as caixas e com caixas de entrada du- a umidade deve ser aplicada de ma-
pla, com válvulas pneumáticas ope- neira uniforme, ou seja, regularmente
radas por automação (em função da repartida na manta de fibra toda e na
posição do peito do descaroçador); forma de ar úmido e não na forma lí-
quida. Aqui, trata-se de umedecer, e
• Manter o sistema bem vedado e iso-
não de molhar; é frequente encontrar
lado termicamente;
umidificação por aspersão de água
• Manter o umidificador e as caixas de na bica.

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Recomendações para a umidificação da fibra

(Imagem: Cotimes)
antes da prensagem

• Umidificar a fibra até 8%;


• Não praticar aspersão da manta para evitar molhar a
pluma e gerar problemas de proliferação microbia-
na, perda de grau ou até cartonagem das camadas
de pluma do fardo (Figura 11);
• Umidificar com temperaturas baixas para evitar
amarelamento da fibra.

3. Limpeza do algodão em caroço


O algodão em caroço contém sempre matérias es-
tranhas incorporadas durante a colheita, sobretudo
Figura 11. Fardo molhado por umidificação por
quando esta é mecânica: maçãs, cascas, caules, pecío- aspersão
los, folhas verdes ou secas, gravetos, areia, poeiras. A
limpeza do algodão em caroço tem por objetivo abrir e
(Imagem: Cotimes)
homogeneizá-lo, extraindo dele o máximo de matéria
estranha antes da entrada no descaroçador; esses dois
aspectos são fundamentais para a qualidade e para o
valor comercial.
Distinguem-se os batedores destinados a retirar os
pequenos resíduos (fragmentos de folhas, areia etc.) e
os extratores destinados a retirar resíduos mais grossei-
ros (caules, casquinhas).

Os batedores
Os batedores inclinados ou horizontais permitem
abrir, espalhar e esponjar o algodão em caroço (Figura
12); ao mesmo tempo, a limpeza ocorre por agitação e
fricção, que são mais eficazes quanto mais o algodão em
caroço estiver seco. Os batedores que funcionam por Figura 12. Pinos e grade de batedor
sucção e com ar quente são os mais eficientes; nos siste-
mas de secagem, os batedores ajudam muito, por conta
(Imagem: Cotimes)

da abertura e da agitação do algodão no ar quente.


O batedor retira 50%-55% dos pequenos resíduos
(folhas, fragmentos vegetais, poeiras e areia) e 10%-
40% dos resíduos totais (Figura 13); ele é essencial para
melhorar o tipo, dada sua ação direta e seu efeito, que
beneficia etapas posteriores do processo.

Recomendações para batedores

• Ter uma boa vedação para evitar perdas de efi-


ciência nos circuitos de sucção;
• Rotação de cilindros de pinos de 450 a 500 RPM;
• Espaçamento entre a ponta dos pinos e a Figura 13. Resíduos típicos de batedor

373
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

grelha (1/2 pol a 5/8 pol) em toda a em caroço, aplicado sobre os rolos denta-
largura da máquina; dos por meio de escovas estáticas, ocorre
• Capacidade normal de funciona- por centrifugação e batimento sobre as
mento limitada ao equivalente de barras; o extrator é geralmente alimenta-
2,5 fardos/h/pé de largura; do por gravidade na saída de um batedor.
A máquina geralmente pode ser desviada.
• Limpar a grelha a cada turno e con- O nome HL, usado no Brasil para de-
ferir estado e alinhamento das bar- signar o extrator instalado nos processos
ras de grelha. antigos, vem de HLST, um extrator de três
cilindros introduzido no Brasil pela Mur-
Os extratores (stick machines) ray-Piratininga.
O extrator é dedicado a separar a su- O extrator retira mais de 50% dos
jeira grossa (casquinhas e caules) e com- resíduos maiores (Figura 15) e é indispen-
porta de um a dois cilindros extratores de sável para o algodão em caroço de co-
serrilhas e um cilindro de serrilhas de recu- lheita mecânica; ele retira 20%-50% dos
peração (Figura 14). A limpeza do algodão resíduos totais (colheita com picker).
(Imagem: Cotimes)

Figura 14. Escova, serrilhas e grade de extrator


(Imagem: Cotimes)

Figura 15. Resíduos típicos de extrator

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(Imagem: Cotimes)
Recomendações para extratores

• Rotação do(s) primeiro(s) cilindro(s) extra-


tor(es): 330-400 RPM, conforme modelo;
• Rotações do rolo recuperador: 184-285 RPM;
• Folga recomendada 1/2 pol entre a ponta dos
dentes de serrilha e as barras de batida (reco-
mendamos uma folga de 3/4 pol no cilindro
recuperador do HLST);
• Os dentes das serrilhas devem sempre ser ex-
tremamente afiados;
• As escovas fixas (aço ou nylon) devem ser fir-
Figura 16. Resíduos típicos de alimentador moderno
mes, pouco deitadas e tocar o fundo do canal
de serrilhas;
• Capacidade de funcionamento é limitada ao
equivalente a 2 fardos/h/pé;
• Limpar a grelha em cada turno e conferir esta- Recomendações para alimentadores
do e alinhamento das barras de grelha. Os alimentadores modernos combinam lim-
peza e extração, e as regulagens padrões re-
Alimentador de descaroçador comendadas são, em geral, as mesmas que as
O alimentador de descaroçador recebe o al- recomendadas para os batedores e extratores.
godão em caroço da rosca alimentadora; sua No caso de alimentadores de tipo antigo:
função, importante para a qualidade, consiste
em alimentar o descaroçador uniformemente e • Instalar movimentação própria para ganhar
de forma regulada, garantindo uma limpeza e em produtividade;
abertura complementares e finais do algodão • Instalar motorredutores para movimentar os
em caroço. Os alimentadores modernos combi- rolos alimentadores e ganhar em precisão
nam limpeza e extração, e as regulagens padrões de alimentação e regularidade de funciona-
recomendadas são em geral as mesmas que as mento dos descaroçadores;
recomendadas para os batedores e extratores. Os
• Substituir as chapas furadas por grelhas de
alimentadores de tipo antigo Mitchell Standard
barras de 6-7 mm, espaçadas em 8 mm.
e Super-Mitchell foram desenvolvidos antes da
colheita mecânica; por terem uma eficiência li-
mitada pela falta de rolos de pinos e verdadeiros A sequência de limpeza do algodão em ca-
cilindros extratores, é bom que eles estejam pre- roço (pré-limpeza) recomendada para os algo-
cedidos por duas etapas de pré-limpeza, cada dões colhidos mecanicamente com fusos no
uma com batedor e extrator. Brasil é (Figura 17):
Os alimentadores aproveitam de um algodão
bem aberto, o que permite uma boa eficiência. • 1 sistema de cata-pedras;
Utilizado sozinho, o alimentador moderno pode • 2 etapas de pré-limpeza (cada uma com um
tirar até 40% da matéria estranha do algodão em extrator, no caso das usinas antigas);
caroço, 70% da casquinha, 15 % do piolho e 40%
de outras sujeiras (Figura 16). • 1 extrator-alimentador por descaroçador.

375
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Cotimes)

Figura 17. Sequência de limpeza do algodão em caroço

A exposição das máquinas a uma ma- serras por máquina, redução da distân-
téria suja e abrasiva impõe cuidados cia entre serras e o aumento do diâme-
cotidianos, como abertura, limpeza tro das serras (Figura 20). O aumento de
e verificação das peças submetidas a desempenho dos descaroçadores resulta
desgaste. Os principais pontos de da- em tratamento mecânico mais violen-
nos ou de desgaste situam-se junto aos to para a fibra e o caroço, e, para evitar
extratores (segmentos dentados gas- redução importante de qualidade, tor-
tos, escovas fixas ou rotativas gastas ou nou-se necessário um manejo muito
desfiadas). técnico do descaroçamento. Os equipa-
mentos devem estar em excelente esta-
4. Descaroçador de serras do, com componentes de qualidade e
O descaroçador é a máquina cen- conformidade, perfeitamente regula-
tral do processo de beneficiamento dos, e o algodão em caroço precisa ser
(Figuras 18 e 19); além de condicionar umidificado para proteção da fibra.
a capacidade e produtividade da algo- Na ação de arrancar a fibra do caro-
doeira, tem um impacto significativo ço, o descaroçador gera rompimento da
sobre várias características de fibra im- fibra em pontos que podem ser outros
portantes para a fiação, como o compri- além da base; pelo contato da fibra com
mento e o teor de neps. No descaroça- serras afiadas e girando com velocida-
dor, deve-se separar a fibra do caroço, des até 850 RPM, acontece forte agres-
eliminando certos resíduos, com o mí- são mecânica, chegando a arranhar,
nimo de desgaste da fibra e do caroço. cortar parcialmente ou totalmente a
Muitas melhorias no desenho do fibra. Tudo isso resulta em redução do
peito permitiram aumentar a produtivi- comprimento comercial (UHML), redu-
dade dos descaroçadores: melhor circu- ção da uniformidade de comprimento,
laridade da câmara de beneficiamento, aumento da proporção das fibras cur-
fechamento da parte alta do peito, dis- tas (comprimento inferior a 12,7 mm)
positivos de ajuda à rotação e movimen- e redução da resistência à rotura. Esse
tação lateral do rolo de caroço (agitador), impacto negativo do descaroçamento é
extração interna de caroço (tubo perfu- máximo quando a produtividade é alta
rado e rosca), aumento do número de e a fibra seca.

376
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Dentro do descaroçador ocorre a primeira lim- Recomendações para o descaroçador:


peza da fibra; logo depois, a separação da fibra do
caroço, atrás do costelado, as matérias estranhas • Montagem conforme especificações do fabricante;
com maior densidade e sob ação das forças centri- • Rotações de serras conformes recomendações
fugas e inércia afastam-se das serras. O cata-piolho do fabricante +/- 10 RPM;
é o dispositivo que permite separar essas matérias
(caroço inteiros ou em fragmentos, pedaços de • Espaçamento regular de costelas e entre 2,7-
caules e casquinha, piolho etc.), já no descaroça- 2,9 mm. Preferir costelas com inserto;
dor, evitando posterior fragmentação e contami- • Proscrever a recuperação de costelas no caso
nação. Essa separação ocorre sem desgaste à fibra dos descaroçadores de média e alta capacidade;
e precisa ser aproveitada.
• Compras de serras originais e novas (evitar afiação).
(Imagem: Cotimes)

Figura 18. Descaroçador de baixa capacidade Figura 19. Descaroçador de alta capacidade

Figura 20. Costelas de vários fabricantes Figura 21. Aspecto característico dos resíduos de
cata-piolho

377
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

• Centralização das serras entre com mechas (fibra encarneirada) e


as costelas; manchas. A limpeza da fibra é justifica-
• Penetração das serras nas coste- da pelo sistema de ágios/deságios do
las e altura do ponto de beneficia- mercado envolvendo as características
mento conformes recomendações que constituem o grau visual, ou seja,
do fabricante; tipo (regularidade de aspecto), cor e
folha.
• Não fechar o cata-piolho dos desca- Distinguem-se o limpador de fibra
roçadores Murray-Piratininga; pneumático ou limpador centrífu-
• Regular o cata-piolho para perder go (Figura 22) e o limpador mecânico
fibra somente em forma de mechas ou limpador de serra (Figura 23); as
encarneiradas e somente um pouco usinas modernas geralmente têm os
de fibra solta; dois tipos de máquinas. A fibra passa
• Regular o dispositivo de extração da pelo limpador centrífugo antes de en-
fibra por jato de ar, conforme reco- trar no limpador de serra; o limpador
mendações do fabricante e a sucção centrífugo representa uma proteção
do ventilador de recalque de maneira para o limpador de serra. Os objetivos
a não ter retorno de fibra em nenhum da limpeza da fibra são limpar e pen-
dos descaroçadores do conjunto; tear a fibra para melhorar seu valor de
mercado.
• Regular a penetração das escovas
até a base dos dentes de serras e re- Limpador centrífugo
gular a abertura das tomadas de ar A limpeza centrífuga consiste em se-
da escova. parar o material mais denso que a fibra
pela força de inércia. Os limpadores cen-
5. Limpeza da fibra trífugos apresentam um duto retangular
Na saída do descaroçador, a fibra da mesma largura do descaroçador e
comporta impurezas (fragmentos de estreito (aceleração do fluxo); uma curva
planta, de folha, piolho (Figura 21), fechada com uma fresta de ejeção regu-
fragmentos de caroço) e apresenta lável à mão permite a separação de ma-
um aspecto mais ou menos irregular, terial mais denso que a fibra.
(Imagem: Cotimes)

Figura 22. Corte do limpador centrífugo

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Esse tipo de limpador elimina os resíduos de maior

(Imagem: Cotimes)
densidade (piolhos, caroços, fragmentos de casca de
caroço, miolo, mechas de fibra), com 10% de eficá-
cia. Não há peça alguma em movimento, ou seja,
nenhum desgaste à fibra, mas faz pouca limpeza e
não corrige o aspecto, porque não abre a massa de
fibra. A eliminação de fibra encarneirada participa
na melhoria do tipo.

Recomendações para limpador de fibra centrífugo

• A depressão na tubulação entre descaroçador


e limpador tem que ser de 2-2 ½ pol;
• Uma mangueira de controle da depressão
deve garantir a saída automática do peito do
descaroçador em caso de embuchamento no
condensador do limpador de serra;
• O compromisso de regulagem consiste em eje-
tar o máximo de matérias estranhas, desperdi-
çando-se o mínimo de fibra. Para regulagem,
deve-se abrir a fresta até perder fibra e fechar
um pouco. Deve-se perder um pouco de fibra Figura 23. Limpador de pluma de serra
na forma de mechas mais densas, mas não de
fibra solta.
limpeza da pluma são o teor de neps e os parâme-
Limpador de fibra de serra tros de comprimento. Os neps de fibra são criados
O condensador separa a fibra do ar de trans- na formação da manta e na limpeza; os neps de cas-
porte e forma uma manta de fibra, que é mantida ca de caroço são fragmentados. A força de tração so-
sob pressão enquanto é penteada pelos dentes bre as fibras gera quebras, reduzindo-lhes o compri-
do rolo de serra; as fibras são individualizadas, e as mento comercial, a uniformidade e aumentando a
manchas são disseminadas (penteagem). A fibra é taxa de fibras curtas; as quebras aumentam com a
arremessada contra as barras afiadas, eliminando velocidade de serra e com a relação de penteagem.
as matérias estranhas afrouxadas por centrifuga-
ção, batimento, gravidade e circulação de ar (lim- Recomendações para a limpeza de pluma
peza) (Figura 23). de serra:
Existem variações entre fabricantes conforme o
desenho do condensador, controle da manta, diâ-
• Para conjuntos de cinco descaroçadores de oi-
metro do cilindro de serras, controle da limpeza.
tenta ou noventa serras, utilizar um LP de 86 pol;
O limpador de serra elimina os resíduos finos
(fragmentos de casca, piolhos, folhas) com 40%- • Para os conjuntos de seis descaroçadores de oi-
50% de eficácia. A limpeza é puxada, e a fibra tor- tenta ou noventa serras, utilizar um LP de 102-
na-se homogênea graças à penteagem; todavia, 108 pol ou dois limpadores de 66 pol com fluxo
ela sofre danos. Utilizando a limpeza da pluma dividido e com baixa rotação do condensador;
em boas condições de umidade de fibra e regu-
• Evitar as mantas grossas para favorecer pen-
lagens, os danos à fibra são mínimos; a operação
teagem e limpeza;
pode ser rentável. Caso contrário, perdas e danos
à fibra podem ser importantes e reduzir ou até in- • Abrir visores laterais para controle e regulagem
verter a rentabilidade da operação. dos espaçamentos entre rolo de alimentação/
Além do grau, as características afetadas pela barra/serra (Figura 24);

379
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Fonte: Cotimes)

Figura 24. Regulagem essencial do limpador de pluma e visor

• A distância entre o rolo flutuante e a impacto direto sobre a qualidade da


barra de alimentação deve ser regu- fibra, mas pode acontecer contami-
lada com 0,01 pol, ou seja, 0,25 mm nação por lubrificantes na prensa. Os
sobre toda a curva da barra; contaminantes mais frequentes são
• Um rolo flutuante empenado e uma a graxa utilizada para os calcadores
barra de alimentação deformada de- mecânicos e o fluido hidráulico em
vem ser substituídos; caso de vazamento nos pistões do
calcador hidráulico, dos pistões de
• Manter uma vedação perfeita nas la- prensagem ou no sistema de trava-
terais e no comprimento do tambor mento de portas, nas prensas mais
de condensador; antigas.
• Montar um motorredutor ou um Após a prensagem, o embalamen-
inversor de frequência para a re- to do fardo oferece certa proteção,
gulagem fina das rotações do porém limitada no caso da tela (sa-
condensador; cão); o armazenamento a céu aber-
to exige proteção dos lotes por lona
• Afiar as barras de batida a cada safra.
contra vento, poeira e água de chuva.

6. Prensagem Conclusão: gestão do beneficiamento


O enfardamento tem como ob- para dominar a qualidade dos produtos
jetivo compactar a fibra para facili- Todos os parâmetros tecnológicos
tar e baratear seu armazenamento importantes para a fiação (com exce-
e transporte; o acondicionamento ção do índice micronaire (complexo
requer os seguintes equipamentos: maturidade - finura) são afetados pelo
condensador, bica, dispositivo de beneficiamento; o controle da umidade
umidificação, alimentador, calcador, e a limpeza (particularmente da fibra)
prensa e amarração/ensacamento. são as duas operações essenciais para
A prensagem em si não tem a qualidade.

380
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Diversas medidas e controles são necessários para pelo pessoal é fundamental; os melhores equi-
a tomada de decisões (armazenamento, escolhas da pamentos não podem fazer o melhor sem o
sequência, gestão da umidade) ou para o monitora- melhor pessoal:
mento do desempenho (desfibragem, temperaturas
e umidades das matérias, velocidades de rotações). • Escola de beneficiamento do IMAmt;
Os resultados da classificação HVI precisam • Treinamentos completos e repetidos para ge-
ser aproveitados para manejar o beneficiamen- rentes e maquinistas (escola e na UBA);
to no dia a dia e no decorrer da safra.
As miniusinas constituem uma referência • Curso organizado para operadores (escola
interessante para o monitoramento de desem- e UBA).
penho e para a melhoria da produtividade e da
qualidade das unidades de beneficiamento. Assessorias e engenharias especializadas
Um diagnóstico técnico e organizacional ob-
(1) Medições e controles recomendados para jetivo por especialista independente permite
o monitoramento do beneficiamento identificar todas as possibilidades de correções
e melhorias imediatas e a prazo. O diagnóstico
• Umidade do algodão em caroço à chegada precisa envolver a análise do processo utilizado,
de cada fardão (decisão de armazenamento, o estado dos materiais e equipamentos, a análi-
decisão de secagem/umidificação); se do funcionamento da usina e das praticas de
• Temperatura e umidade relativa do ar várias produção, a observação e análise dos produtos e
vezes, durante o dia e à noite; resíduos etc.
• Temperatura do ar de secagem; Laboratório de tecnologia da fibra
• Umidade do algodão em caroço após seca- O laboratório de tecnologia da fibra é uma
gem e na entrada do descaroçador; ferramenta poderosa de acompanhamento do
• Umidade do fardo; beneficiamento pela qualidade. Na condição de
disponibilizar os resultados em prazo muito curto
• Tempo de produção médio do fardo; (condicionamento rápido das amostras), permite:
• Controle da desfibragem e, eventualmente,
taxas de línter por descaroçador; • Monitorar diariamente a qualidade da
fibra produzida;
• Análises HVI;
• Ajustar o benefício em função da quali-
• A usina deve dispor dos instrumentos necessários;
dade da matéria-prima e dos contratos a
• Termo-higrômetro eletrônico fixo ou portátil; serem cumpridos;
• Sensores de temperatura; • Comparar e monitorar o desempenho das li-
• Umidímetro para algodão em caroço e fibra; nhas de beneficiamento.

• Manômetros diferenciais com tubo Pitot;


• Tacômetro; Além dessas ferramentas de melhoria da qua-
lidade, ainda pode ser recomendado integrar as
• Controladores elétricos. tecnologias modernas em termos de equipamen-
to, automação, organização e venda da produção
(2) Recursos à disposição do beneficiador por lotes homogêneos baseados nas característi-
Capacitação do pessoal cas HVI e implantação de uma rastreabilidade da
O domínio dos equipamentos e da gestão qualidade desde o campo.

Referências bibliográficas: entrar em contato com o autor

381
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

A fibra de algodão: qualidade e


classificação
Neste capítulo, trataremos de dar no comércio nacional e internacional
José Jorge informações sobre estrutura da fibra, da fibra, e fatores principais de cam-
Lima parâmetros de qualidade que dão va- po e de beneficiamento que incidem
J. G. Cursos de lor ao produto, sistema de classifica- sobre a degradação da qualidade da
Classificação de ção do algodão, que é imprescindível fibra (Figura 1).
Algodão em Pluma
e Têxtil Ltda. ME
(Imagem: José Medeiros)

Jean-Louis
Bélot
IMAmt

Figura 1. Capulho de algodão aberto

1. O que é uma fibra de algodão capulho. Esquematicamente, pode


A fibra é um pelo que se localiza na ser considerada como um cilindro for-
superfície do caroço de algodão. Esse mado principalmente de diversas ca-
pelo vem de uma célula diferencia- madas de celulose (parede secundá-
da da epiderme do caroço; ele cresce ria da célula) que são depositadas ao
e se alonga durante a formação do longo da vida dessa célula (Figura 2).

Obs.: Este capítulo foi atualizado e resumido por Jean Belot a partir dos textos da última edição de 2014,
que contou com autores adicionais. Mais detalhes no Manual de Qualidade da Fibra da Ampa, 2018.

382
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

(Fonte: adaptado de USDA-ARS)

Parede segundária

Figura 2. Estrutura de uma fibra de algodão

Vale ressaltar que o grau de maturidade da fi- O tempo de formação de um capulho entre
bra está relacionado diretamente à espessura da a antese e sua abertura é de 45 a 55 dias, de-
parede secundária, formada pela deposição de su- pendendo das condições climáticas e de ma-
cessivas camadas de celulose no interior da fibra nejo. A partir da fecundação do óvulo (dia da
ao longo de seu desenvolvimento. Logo, quanto floração), a fibra de cada óvulo que se trans-
mais camadas de celulose forem depositadas, mais forma em caroço vai ser submetida a diversos
madura estará a fibra. Porém, essa quantidade de processos biológicos: definição do diâmetro da
camadas de celulose depende muito mais das con- fibra, alongamento da célula (o que vai definir
dições de clima, da disponibilidade de água e do o “comprimento” da fibra) e depósitos sucessi-
manejo ao longo do processo de cultivo que da fi- vos de camadas de celulose nas paredes secun-
nura (relacionada ao diâmetro externo da fibra, na dárias (que vão definir a “maturidade” da fibra)
dependência principal da cultivar). (Figura 3).
(Fonte: Cirad)

Figura 3. Formação da fibra da antese até a abertura do capulho

383
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

A estrutura da celulose depositada de fibras individuais com vários níveis


nas diversas camadas da fibra é funda- de qualidade. Alguns métodos caracte-
mental para a definição das proprieda- rizam o comportamento “médio” da fi-
des físicas desta, como a resistência à bra quando submetida, por exemplo, à
ruptura e o alongamento. As condições força de ruptura; outros estudam a dis-
de alimentação da planta durante a for- tribuição de parâmetros morfológicos
mação da fibra incidem diretamente da cada fibra individualmente, como
sobre a qualidade; é o caso da nutrição comprimento, diâmetro etc.
potássica, que pode ter efeito impor-
tante sobre a resistência por conta de 2.1 A caracterização visual da fibra e
seu papel na formação de “pontes” en- dos contaminantes
tre as cadeias de celulose da fibra. Basicamente, a caracterização visual
é baseada em critérios de colorimetria
2. Caracterização da qualidade da do algodão e de carga de impurezas.
fibra de algodão e dos contaminantes Quanto mais branco for um algo-
Existem diversas maneiras de carac- dão melhor será sua qualidade; o algo-
terizar a fibra de algodão (visual e com dão creme ou levemente creme é con-
equipamentos), que evoluíram ao lon- siderado inferior a um algodão branco
go do tempo. No século passado surgiu (Figura 4). Para um mesmo nível de
a metodologia de mensuração de algu- branco, um algodão com brilho será
mas propriedades físicas das fibras de considerado de melhor qualidade que
algodão por aparelhos de laboratório; um algodão apagado, mais “fosco”, o
dos vários aparelhos desenvolvidos, o que geralmente pode acontecer quan-
do tipo High Volume Instrument – HVI é do o algodão aberto em campo rece-
o que foi utilizado para a padronização beu chuva. Esses critérios de cor são
e a classificação da fibra. avaliados por meio dos parâmetros Rd
A dificuldade reside no fato que o algo- (reflectância) e +b (índice de amarela-
dão é multiforme, ou seja, é constituído mento) dos colorímetros.
(Imagem: Jean Louis Belot)

Figura 4. Amostras de fibra com diversos tipos de cor

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2012

Assim, o algodão produzido e com capulhos e do colorímetro do instrumento do tipo HVI.


abrindo em clima ensolarado e/ou semidesértico Os pequenos pedaços de impurezas são comu-
terá sempre uma qualidade visual superior àque- mente denominados de “pimentinhas”, que são
le produzido em clima nublado e/ou chuvoso na de difícil eliminação ao longo dos processos de
época da colheita. fiação. Logo, a indústria de fiação prefere um al-
Outro parâmetro importante de qualidade é o godão com pedaços de folhas maiores do que um
grau de folha (Leaf Grade, LG), que está em função algodão com grande quantidade de pequenos
da presença de pedaços de folhas, de brácteas, na pedaços de folha. A colheita e o beneficiamento
massa de fibra (Figura 5). Essas impurezas são ca- incidem sobre essa qualidade visual, produzin-
racterizadas por seu tamanho e número; o grau do um algodão com fibras mais ou menos bem
de folha e o grau de cor (Color Grade, CG) consti- homogeneizadas, ou mais ou menos carregado
tuem a base da qualidade visual do algodão, que em diversos tipos de impurezas. Os processos de
pode ser avaliada pelo classificador através dos colheita e beneficiamento devem ser ajustados
padrões físicos universais e dos parâmetros men- para danificar o menos possível as fibras, evitando
surados e estimados pelo medidor de impurezas quebra das fibras e sementes.
(Imagem: Jean Louis Belot)

Figura 5. Pedaços de folhas e brácteas na fibra de algodão

Outros critérios visuais e presença de contami- da pluma. O algodão que estiver com alto con-
nantes diversos que vão incidir sobre a qualidade teúdo de umidade no momento dos processos
visual do algodão são os seguintes: de colheita e descaroçamento resultará em plu-
A “preparação”. Determinação feita pelo classi- ma com aparência encarneirada. Tanto o excesso
ficador quanto ao grau de aspecto e toque (lisura) quanto a falta de umidade nas fibras de algodão

385
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

comprometem seu processamento ao quebram durante os processos de co-


longo da cadeia têxtil. O encarneira- lheita, beneficiamento, abertura, mis-
mento da pluma também pode ocor- tura e limpeza (preparação à fiação).
rer por problemas de regulagem das A presença desses neps na massa de
máquinas da linha de beneficiamento fibras em processo geram fios com
do algodão, principalmente perda de maior número de imperfeições (pon-
rotação e deficiência na sucção. tos finos, pontos grossos e neps), alta
Os neps. São emaranhados de fi- irregularidade de massa e de pilosida-
bras (Figura 6) normalmente ocasio- de, redução das diversas resistências.
nados por fibras imaturas, que não Enfim, baixa qualidade, produção e
suportam os esforços mecânicos e se alto custo de processo.
(Imagem: J. J. de Lima)

Figura 6. Neps (pontos brancos) no véu de carda

Os seed-coat neps (SCN) ou seed- de semente de algodão com fibras


-coat fragments (SCF). São fragmentos (Figura 7).
(Imagem: J. J. de Lima)

Figura 7. Seed-coat neps (SCN) ou seed coat fragments (SCF)

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Os SCN são problemáticos na fiação, porque algodão apresenta, em sua composição quími-
não são totalmente removidos durante os pro- ca, cerca de 0,3% de açúcar, cuja presença não
cessos de fiação e ficam incorporados ao fio, provoca problema algum aos processos da fia-
reduzindo sua qualidade. Eles também são de ção. No entanto, agentes externos, como insetos
comportamento pegajoso nos órgãos rotativos (pulgão, mosca-branca e cochonilhas), podem
das máquinas, interrompendo a produção. Cer- depositar substâncias ricas em açúcares (excre-
tas variedades apresentam sementes pequenas mentos) em cima da fibra do capulho aberto
e com casca mais fina, gerando mais SCN no be- (Figura 8); que atrapalham bastante os proces-
neficiamento; mas também a regulagem defei- sos de fiação. Ainda na lavoura, esses açúcares
tuosa dos descaroçadores contribui para a for- podem servir de alimento para microrganismos,
mação de SCN. como a fumagina, prejudicando a qualidade vi-
A “pegajosidade”. Normalmente, a fibra de sual das fibras.
(Imagem: Jean Louis Belot)

Figura 8. Capulho com açúcares e desenvolvimento de fumagina

As contaminações por matérias estranhas: poeira e óleo são alguns exemplos. É o caso tam-
são substâncias que não são originárias do próprio bém de pedaços de plástico provenientes das lo-
algodão. Caule, capim, bucha de fusos da colhedeira, nas amarelas dos rolinhos de algodão (Figura 9).

387
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS
(Imagem: Jean Louis Belot)

Figura 9. Contaminação do algodão por plástico das lonas do rolinho

As principais contaminações encontra- normalmente é acordado um valor de


das no Estado de Mato Grosso são as por deságio.
caule de algodão (bark), ou sementes de Cabe ressaltar que contaminações
plantas daninhas (picão-preto ou carrapi- como picão e caule são unicamente de-
cho) (Figura 10). Dependendo da quanti- tectados visualmente. Logo, é fundamen-
dade dessas contaminações, o algodão tal treinar, conscientizar e educar os ope-
poderá ser desclassificado. Na comer- radores dos aparelhos HVI para detecção
cialização de um algodão contaminado, dessas contaminações.
(Imagem: Jean Louis Belot)

1 2

Figura 10. Contaminações com bark (1) e Picão Preto (2)

388
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2012

2.2 A qualidade intrínseca em percentual) entre o comprimento final e o ini-


A qualidade intrínseca da fibra refere-se às cial do corpo de prova submetido a uma força de
propriedades físicas das fibras. É preciso entender ruptura;
que uma amostra de fibra apresenta muita varia- Finura. Constitui uma característica comple-
bilidade, podendo conter fibras de diversos com- xa, que pode ser definida de um lado como finura
primentos e outras qualidades intrínsecas. “biológica” (perímetro da seção transversal da fibra,
Assim, avaliar somente o comprimento médio diâmetro) ou como finura “gravimétrica” (densida-
da fibra é deficiente, faz-se necessário pelo menos de linear ou massa por unidade de comprimento);
avaliar em conjunto com o comprimento médio, Maturidade. É o grau que indica a espessura
a uniformidade do comprimento e o conteúdo das camadas de celulose da parede secundária
de fibras curtas. Essa variabilidade entre fibras de em relação a seu diâmetro.
uma mesma amostra de algodão se verifica para
todos os parâmetros de qualidade intrínseca. Todas essas características intrínsecas da fibra
Outro ponto fundamental é a representativi- são avaliadas com mais ou menos confiabilidade
dade das fibras efetivamente usadas na máquina por diversos aparelhos desenvolvidos ao longo
de medição em relação à amostra global, saben- dos anos. Alguns desses são usados apenas em la-
do que em uma amostra de algodão pode exis- boratórios de pesquisa; outros, para classificação
tir muita heterogeneidade. Assim, para qualquer comercial, por conta de sua velocidade de análise.
aparelho, as metodologias de análise são elabora- Muitos trabalhos de pesquisa foram realizados
das conforme o tipo de amostra (amostra de fardo, para mostrar que essas propriedades físicas intrín-
amostra experimental previamente homogenei- secas da fibra estão correlacionadas aos parâme-
zada etc.) e conforme a precisão desejada para a tros referenciais da qualidade dos fios e tecidos.
estimativa de cada parâmetro. No caso da classifi- Por isso, alguns instrumentos de medição, como
cação por instrumento HVI, os processos (número os HVI, calculam um parâmetro chamado de SCI,
de pentes e de repetições no colorímetro e no Spinning consistency index, com base na fórmula
micronaire) foram estabelecidos pela USDA ten- a seguir, que, de certa forma, caracterizará o com-
do em vista a variabilidade do algodão americano portamento desse algodão no processo de fiação.
e requerimentos de precisão sobre os principais Quanto mais alto o valor desse índice, melhor o
parâmetros de qualidade intrínseca. algodão.
As características intrínsecas da fibra, determi-
nadas por diversos tipos de aparelhos, podem ter SCI = – 414,67 + 2,90 (tenacidade) – 9,32 (mi-
mais ou menos de importância para a indústria, cronaire) + 49,17 (comprimento em polegadas) +
em função do tipo de fiação, para a produção de 4,74 (índice da uniformidade do comprimento) +
fios ou tecidos com qualidade. 0,65 (reflectância) + 0,36 (amarelamento)

As principais são as seguintes: Finalmente, está bem consolidada a relação


entre as propriedades físicas das fibras com as dos
Comprimento da fibra. É a extensão média ou fios e tecidos. Há vários estudos científicos que
a mais constante ao longo do eixo de um corpo de enumeram por ordem de importância o grau de
prova de fibras paralelas previamente preparadas; relação entre as propriedades físicas das fibras e
Uniformidade do comprimento da fibra. Va- dos fios fiados por tipo de fiação.
riação existente entre os comprimentos das fibras
num corpo de prova, isto é, se os comprimentos 3. A classificação da fibra de algodão
têm pouca ou muita variação. Alguns aparelhos A classificação é o ato de determinar a qualida-
conseguem medir detalhadamente a distribuição de, que é o conjunto das propriedades intrínsecas
do comprimento (AFIS); e extrínsecas de um produto vegetal, com base
Resistência à ruptura. É a força necessária para em padrões oficiais, físicos ou descritos. A classifi-
romper um feixe de fibras; cação será usada para a comercialização da fibra.
Alongamento à ruptura. É a diferença (expressa O sistema de classificação precisa ser confiável,

389
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

porque, a partir dela, será estabelecido Brasil adotou os padrões físicos uni-
o preço de base da fibra, fundamenta- versais, padrões elaborados nos EUA
do em um sistema de prêmio e deságio, pela USDA.
levando em consideração algumas pro-
priedades físicas da fibra. 3.1 Classificação visual
A classificação dá suporte às indús- Basicamente, a classificação por
trias têxteis para selecionar a matéria- tipo é baseada em critérios do grau
-prima mais adequada a seu processo de cor (quantidade de reflectância e
e produtos e é base para discussão de de amarelamento) e do grau de folha
preços. Por outro lado, para os produ- (quantidade e tamanho das partículas
tores/beneficiadores a classificação de impurezas); é realizada em salas de
facilita sobremaneira a colocação do classificação padronizadas, principal-
produto no mercado. Atualmente, há mente em termos de iluminação, e usa
processos de negociação de compra os padrões físicos da USDA (Figura 11).
e venda do algodão em pluma que O tipo do algodão americano Upland
somente utilizam a análise da classi- é definido com base em um código nu-
ficação tecnológica (HVI); há também mérico de três dígitos, composto por
negociações que, além da análise da dois dígitos que representam o grau
classificação tecnológica, utlilizam a de cor (CG), e um dígito que representa
classificação visual/manual, denomina- o grau de folha (LG). Esses códigos de
da de take-up. Pode-se concluir que a identificação do grau de cor e do grau
classificação visual/manual e a classifi- de folha correspondem aos padrões fí-
cação tecnológia se complementam. sicos universais e a outros padrões des-
Para a classificação da fibra, o critivos (Tabela 1).
(Imagem: J. J. de Lima)

Figura 11. Classificação visual

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Tabela 1. Códigos de grau de cor

(Fonte: USDA)

Nota: os padrões físicos estão sinalizados por asterisco (*), todos os outros são descritivos.

Há oito graus de folha para o algodão, sendo Upland. Por exemplo, no Brasil, o algodão padrão
sete com padrões físicos e um com padrão descri- de base é o algodão classificado como 41-4, quer
tivo (Tabela 2). Cabe ressaltar que o padrão físico dizer, um algodão de grau de cor 41 (SLM- Strict
do grau de folha está em conjunto com o padrão Low Middling, Cor Estritamente Abaixo da Média),
físico de cor branca para o algodão americano e com grau de folha 4.

Tabela 2. Códigos do grau de folha do algodão Padrão American Upland

(Fonte: USDA)

391
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

3.2 Classificação por instrumentos - Umidade e temperatura das amos-


A classificação por instrumentos la- tras. As amostras devem ser condicio-
boratoriais é realizada com máquinas nadas em salas com temperatura de
HVI (High Volume Instruments), que 20°C +/- 2°C; umidade relativa: 65%
analisam rapidamente as amostras co- +/- 2%;
letadas nos fardos de fibra produzidos - Calibração dos módulos que men-
nas algodoeiras (Figura 12). suram e estimam as propriedades físi-
cas das fibras relativas ao comprimen-
A confiabilidade dos resultados de to/resistência, índice micronaire, grau
leitura dessas máquinas HVI depende de cor (reflectância/amarelamento) e
de diversos fatores: do grau de folha.
(Imagem: J. J. de Lima)

Figura 12. Laboratório HVI, com sala de condicionamento de máquina HVI e amostras

É de suma importância que todos os laboratórios brasileiros está sendo reali-


laboratórios HVI do Brasil calibrem as má- zada pelo Laboratório Central Abrapa, lo-
quinas da mesma maneira, a fim de que calizado em Brasília (DF), que implemen-
os resultados de análise de uma amostra tou o programa Standard Brasil HVI.
sejam equivalentes estatisticamente aos A Figura 13 apresenta um relatório de
outros laboratórios. A rastreabilidade dos análise HVI de fardos comerciais.

392
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Figura 13. Relatório de análise HVI (Unicotton, 2014)

A descrição das principais características analisadas pelo HVI é apresentada na Tabela 3.

Tabela 3. Descrição dos principais Itens do protocolo do aparelho HVI


Bale I.D. Identificação do fardo (amostra), que normalmente é pelo número do fardo.
SCI Spinning Consistency Index (Índice de consistência da fiação) - é o valor estimado matematicamente da resistência do fio.
Grade – Gr (Grau) - coluna utilizada para introduzir outros dados via teclado, como por exemplo, a classificação visual Color Grade –
Grade (Gr)
CG e Leaf Grade – LG.
Mst (%) Moisture - Mst (Umidade) – é o conteúdo de umidade no algodão.
Mic ou IM Micronaire Index - Mic (Índice micronaire) - Complexo finura/maturidade
Mat Maturity Index - Mat (Índice de maturidade)
UHML ou Upper Half Mean Length – UHML – é o comprimento médio da metade superior ou o comprimento médio dos 50% das maiores
UHM ou LEN fibras, expresso em polegada (in) ou em milímetro (mm).
Length uniformity index – UI (Índice de uniformidade do comprimento) – é a relação do comprimento médio dos 100% das fibras
UI ou Un (%)
(ML) com o comprimento médio dos 50% das maiores fibras (UHML), expresso em percentual.
Short Fibres Index – SF (Índice de fibras curtas) – é a estimativa do conteúdo de fibras menores que 0,5 polegada ou 12,7 milímetros,
SF (%) ou SFI
expresso em percentual.
Strenght – Str (Resistência à rotura) – é a resistência específica ou tenacidade, expressa em gf/tex, ou seja, a divisão da força em
STR
gramas (gf ) pela densidade linear ou título tex (tex).

Elg (%) ou Elongation – Elg (Alongamento à rotura) – é quanto o feixe de fibras se alongou até a rotura em relação ao comprimento do corpo
ELONG ou EL de prova inicial, expresso em percentual.

Rd (%) ou RD % Reflectance - Rd (Reflectância) – é a quantidade de reflectância da luz branca pelas fibras, expressa em percentual.
+b ou +B Yellowness index - +b (Índice de amarelamento) - é a quantidade de amarelamento da luz refletida pelas fibras.
Color Grade - CG (Grau de cor) – é o grau de cor equivalente aos padrões físicos universais, que são memorizados pelo HVI. Sendo o
C Grd ou COR grau de cor determinado pelo cruzamento do valor de reflectância (%Rd) com o valor do amarelamento (+b) no diagrama de cor de
Nickerson/Hunter.

Trash Count - TrCnt (número de lixo ou número de folha) - Conteúdo de impurezas em número de partículas presentes na área total
TrCnt
analisada.

TrAr (%) ou Trash Area - TrAr (Área de lixo) - Área ocupada pelo somatório das partículas de impurezas em função da área total analisada, expres-
AREA sa em percentual.

Trash Grade ou Leaf Grade - TrGrd (Grau de lixo ou folha) – grau de lixo (resíduo) ou grau de folha estimado pelo instrumento, tendo
TrID ou TrGrd
de referência os padrões físicos universais.

Stand desviaton - Std. Dev. (Desvio padrão) – é o desvio médio dos valores ocorridos em relação a média aritmética, expresso em
Std. Dev.
valor absoluto.
C.V.(%) Coefficient of variation (Coeficiente de variação) – é o desvio padrão expresso em percentual em relação a média.

393
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

O grau de cor é determinado pelo Hunter pelo cruzamento dos valores de


colorímetro do instrumento HVI a partir reflectância (%Rd) e de amarelamento
dos diagramas de cores de Nickerson/ (+b) (Figura 14).

(Fonte: USDA)

Figura 14 . Diagrama da cor para o algodão americano Upland com código de três
dígitos. Padrão USDA a partir dos valores de reflectância (% Rd) e o índice de
amarelamento (+b)

Para as principais propriedades físicas 1’3/32” (27,8 mm). Em função da tabe-


analisadas pelo HVI, podemos dar as se- la de classificação oficial (Tabela 4), um
guintes classificações e interpretações: algodão de comprimento 1’3/32” seria
um algodão com comprimento UHML
- Comprimento (UHML ou Len). Para entre 27,3 e 27,9 mm. Abaixo de 27,3
um algodão padrão 41-4, o compri- mm de comprimento, o algodão pode-
mento de referência seria de 35/32” = rá sofrer deságio;

394
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Tabela 4. Código Universal para a determinação do comprimento - Padrões oficiais para o algodão
“Upland” dos Estados Unidos da América

(Fonte: BRASIL. Instrução Normativa nº 63)

- Índice de uniformidade do comprimento (UI): Observe os parâmetros referenciais na Tabela 5;

Tabela 5. Interpretação dos valores do índice de uniformidade do comprimento (UI)

Índice de Uniformidade do Comprimento da Fibra (%UI)


(algodão em pluma de comprimento curto e médio)
Categoria (%UI)
Muito alta Acima de 85%
Alta 85 a 83%
Média 82 a 80%
Baixa 79 a 77%
Baixa muito baixa Abaixo de 77%
(Fonte: BRASIL. Instrução Normativa nº 63)

- Fibras curtas (SFC, SFI, SF): é o conteúdo de fibras curtas, menores que meia (0,5) polegada ou 12,7
milímetros, expresso em percentual. Observe os parâmetros referenciais na Tabela 6;

395
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 6. Interpretação dos valores de SFC/SFI/SF


Índice de fibras curtas
(algodão em pluma de comprimento curto e médio)
Categoria % SFI
Muito baixa Abaixo de 6%
Baixa 6 a 9%
Regular 10 a 13%
Alta 14 a 17%
Muito alta Acima de 17%
(Fonte: USTER, 1999)

- Resistência da fibra à ruptura (STR): Observe os parâmetros referenciais na


Tabela 7;

Tabela 7. Interpretação dos valores de Resistência à rotura (STR)

Resistência da fibra (em gramas-força por tex) com garra de 1/8 de polegada
(algodão em pluma de comprimento curto e médio)
Categoria Gramas - força por tex (gf/tex)
Muito resistente 31 gf/tex para cima
Resistente 30 a 29 gf/tex
Média 28 a26 gf/tex
Intermediária 25 a 24 gf/tex
Fraca 23 gf/tex para baixo
(Fonte: BRASIL. Instrução Normativa nº 63)

- Alongamento à ruptura (Elongation - Elg - %). Observe os parâmetros referen-


ciais na Tabela 8;

Tabela 8. Interpretação dos valores de alongamento à ruptura (EL)

Percentual de alongamento da fibra à ruptura (Elongation - EL - %)


(algodão em pluma de comprimento curto e médio)
Categoria Elongation (Elg - %)
Muito baixo Abaixo de 5,0%
Baixo 5,0 a 5,8%
Médio 5,9 a 6,7%
Alto 6,8 a 7,6%
Muito alto Acima de 7,6%
(Fonte: USTER, 1999)

396
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- Índice micronaire: Observe os parâmetros referenciais na Tabela 9;

Tabela 9. Interpretação dos valores do índice micronaire (Mic)


Índice micronaire (Mic)
Categoria Índice micronaire
Muito fina Abaixo de 3,0
Fina 3,0 a 3,9
Média 4,0 a 4,9
Grossa 5,0 a 5,9
Muito grossa Acima de 6,0
(Fonte: USTER, 1999)

O índice micronaire é muito importante para a a classificação de alguns parâmetros para os clas-
comercialização da fibra, embora esse critério seja sificadores avaliarem de forma visual, tal como o
um conjunto de finura com maturidade. modo de preparação e contaminações de mate-
riais estranhos.
- Maturidade (Mat): o índice de maturidade Para o estabelecimento do preço da fibra, faz-se
estimada pelo HVI é um valor calculado, que en- necessário conhecer os valores tabelados atuais
volve os valores de outras propriedades físicas dos ágios e deságios.
(índice micronaire, resistência e alongamento à No site da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM),
ruptura). Esse índice ainda não apresenta boa no Sistema de Informações de Negócios com Al-
confiabilidade. godão em Pluma (Sinap), são informados valores
de ágios e deságios para os mercados internos e
3.3 Classificação comercial: preços, ágios de exportação (Tabela 10). O tipo SLM (Strict Low
e deságios Middling, Cor Estritamente Abaixo da Média) de
Cada vez mais, o sistema de classificação da código 41-4, sendo o algodão de base para o mer-
fibra de algodão é baseado em classificação por cado interno, e o tipo M (Middling, Cor Média) de
instrumentos, com máquinas HVI, deixando ainda código 31-4 para o mercado de exportação.

397
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 10. Ágios e deságios para o mercado interno e externo (2019)


ÁGIOS E DESÁGIOS
MERCADO INTERNO Ágios e deságios - Padrões universais - pontos em R$/lp 03/10/2019 MERCADO EXTERNO Ágios e deságios - Padrões universais - pontos em US$/lp 23/10/2019
folha folha
Tipos brancos (white grades) 1&2 3 4 5 6 7 Tipos brancos (white grades) 1&2 3 4 5 6 7
tipo tipo

Cor boa média (good middling ) 11 - - - - - - Cor boa média (good middling ) 11 n - - - - -

Cor estritamente média (strict middling ) 21 700 600 - - - - Cor estritamente média (strict middling ) 21 100 75 - - - -

Cor média (middling ) 31 600 500 400 - - - Cor média (middling ) 31 75 50 base - - -
Cor estritamente abaixo da média (strict low
Cor estritamente abaixo da média (strict low 41 - 50 -100 -150 - -
41 - 200 base -200 - - middling )
middling )
Cor abaixo da média (low middling ) 51 - - -300 -350 -400 -
Cor abaixo da média (low middling ) 51 - - -500 -650 -800 -
Cor estritamente boa comum (strict good
Cor estritamente boa comum (strict good 61 - - - -600 -700 -800
61 - - - -1000 -1150 -1400 ordinary )
ordinary )
Cor boa comum (good ordinary ) 71 - - - - n n
Cor boa comum (good ordinary ) 71 - - - - n n
Abaixo de padrão (below grade ) 81 - - - - n n
Abaixo de padrão (below grade ) 81 - - - - n n

C or (color ) Fibra
C or (color ) Fibra
1- Branco (white ) Base 1” n
1- Branco (white ) Base 1” n
2- Ligeiramente creme (light spot ) -100 1.1/32 -400
2- Ligeiramente creme (light spot ) -400 1.1/32 -1200
3- Creme (spotted ) (todos os tipos ) -250 1.1/16 -200
3- Creme (spotted ) (todos os tipos ) -900 1.1/16 -700
4- Avermelhado (tinged ) -500 1.3/32 Base
4- Avermelhado (tinged ) -1800 1.3/32 Base
5- Amarelado (yellow stained ) n 1.1/8 50
5- Amarelado (yellow stained ) n 1.1/8 200
1.5/32 100
1.5/32 400
Micronaire (Para cada micronaire (0,1) abaixo e/ou acima do garantido no
SFI - Fibra C urta
contrato, os seguintes descontos)
Micronaire (Para cada micronaire (0,1) abaixo e/ou acima do garantido
SFI - Fibra C urta Micro Valor Abaixo ou Acima do Garantido Desconto (Pontos) ≤ 10 Base
no contrato, os seguintes descontos)
Desconto 0,1 -100 10,1 a 11 -100
Micro Valor Abaixo ou Acima do Garantido ≤ 10 Base
(Pontos)
11,1 a
0,1 -300 10,1 a 11 -300 0,2 -200 -150
11,9
0,2 -600 11,1 a 11,9 -450 0,3 -300 ≥ 12 n

0,3 -1200 ≥ 12 Nominal 0,4 -400

0,4 -1400 0,5 -600 n = nominal


0,5 -1800 0,6 -800
n = nominal
0,6 -2200 de 0,7 para baixo ou para cima, nominal.

Abaixo 0,7 nominal


Resistência da Fibra
Resistência da Fibra
Desconto Intervalos de resistência abaixo do mínimo contratado: Desconto (Pontos)
Intervalos de resistência abaixo do mínimo contratado:
(Pontos)
0,1 a 0,5 -50
0,1 a 0,5 -200
0,6 a 1 -100
0,6 a 1 -400
1,1 a 2 -150
1,1 a 2 -600
2,1 a 3 -300
2,1 a 3 -1200
3,1 a 4 -400
3,1 a 4 -1600
4,1 a 5 -500
4,1 a 5 -2000
> 5 , nominal
e assim por diante: 500 para cada mais 1 gf / tex de intervalo.

(Fonte: https://www.bbmnet.com.br/sinap-algodao/tabela-de-agios-e-desagios)

A Associação Nacional dos Ex- mercado externo (mercado interna-


portadores de Algodão (Anea) pu- cional) (Tabela 11). Os valores são leve-
blica também valores de ágios e de- mente diferentes daqueles publicados
ságios que obedecem às regras do pela BMF.

Tabela 11. Prêmios e descontos para exportação (Anea - Brasil)


ANEA
Agios Desagios/(Premiums & Discounts)

Valores/(Values): pontos/(points) /lb (US$)


out/19
Padrões Universais
(Universal Standards) Folha: 1&2 3 4 5 6 7

TIPOS BRANCOS/(WHITE GRADES)


Cor Boa Média/(Good Middling) 11 n n n n n n
Cor Estritamente Média/(Strict Middling) 21 75 50 n n n n
Cor Média/(Middling) 31 50 25 Base n n n
Cor Estritamente Abaixo da Média/(Strict Low Middling) 41 n -75 -100 -150 n n
Cor Abaixo da Média/(Low Middling) 51 n n -400 -450 -550 n
Cor Estritamente Boa Comum/(Strict Good Ordinary) 61 n n -675 -725 -875 n
Cor Boa Comum/(Good Ordinary) 71 n n n n n n
Abaixo de Padrão/(Below Grade) 81 n n n n n n

Cor/(Color) < SLM SLM MID Micronaire Resistencia/(Strength)


g/tx
1- Branco (White) 0 0 Base 5.3< n >21,0 n
2- Ligeiramente Creme (Light Spot) -100 -100 -150 5.0/5.2 -600 21.0/22.9 -1.000
3- Creme (Spotted) -400 -400 -500 3.5/4.9 Base 23.0/24.9 -600
3.3/3.4 -600 25.0/26.9 -300
<10 10,1/11,9 12> 3.0/3.2 -950 27.0/29,9 Base
SFI/SFC (Short Fiber Index/Content)
Base -100 n 2.7/2.9 -1.500 30/31,9 50
2.5/2.6 -2.250 >32 100
>2.4 n

Esta tabela se refere a algodão livre de talo, capim, sementes,


caramelização, de boa preparação, não encarnerado.

This table refers to cotton free of bark, grass, seeds, honeydew Comprimento/(Staple)
and of good preparation without spindle twist.
Prêmio para ANEA 21 e 31 31-3 or + 31-4 41-4
31-4-35 = Base >1.1/8" 50 25 0
31 = 100 1.3/32" 0 Base 0
21 = 200 1.1/16" -400 -400 -300
1.1/32" n n n
1" n n n

(Fonte: Anea, 2019. http://www.aneacotton.com.br/pt-br/servicos/agio-e-desagio)

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AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Vendo essas tabelas, percebemos que, muitas Para os mercados mais exigentes, podem ser
vezes, os valores de deságio são mais elevados estipulados valores diferentes nos contratos co-
que os valores de ágio. Assim, é de grande im- merciais, correspondendo à fibra de tipo superior:
portância que o agricultor consiga produzir uma micronaire no intervalo de 3,8-4,2, fibra de com-
fibra com parâmetros de qualidade que ficam primento superior a 29 mm e resistência acima de
acima de certos valores estipulados nos contra- 30 g/tex.
tos comerciais.
De modo geral, para evitar maiores proble- 4. Considerações finais
mas na comercialização, os valores dos parâme- A qualidade da fibra é elaborada a campo; o
tros de qualidade medidos com HVI teriam que manejo da lavoura definirá as principais proprie-
ser, no mínimo, os seguintes: dades de qualidade da fibra, qualidade de “tipo”
e/ou qualidade intrínseca. Muitas etapas do ma-
Comprimento da fibra (Len): ficar na catego- nejo da lavoura, desde a escolha da variedade até
ria de comprimento 1.3/32’ para cima, ou seja, a pré-colheita, podem contribuir para a elabora-
uma fibra de comprimento superior ou igual a ção dessa qualidade.
27,4 mm; Uma vez definida a campo, a qualidade deverá
Uniformidade da fibra (UI): ser superior ou ser preservada ao máximo ao longo dos proces-
igual a 81%. Valores inferiores podem significar sos de colheita e pós-colheita (beneficiamento),
que a fibra apresenta um alto conteúdo em fi- a fim de assegurar rentabilidade máxima para o
bras mais curtas; produtor.
Índice de fibras curtas (SFI): apesar de não Algumas propriedades da fibra, como índice
ter algodão de calibração, os valores desse pa- micronaire, têm forte incidência sobre o valor co-
râmetro precisariam ser inferiores a 10%. Acima mercial do produto, apesar de não ter obrigato-
desse valor, e principalmente acima de 12%, os riamente incidência negativa sobre os processos
deságios podem ser significativos, e certas in- têxteis. Porém, já que essas características fazem
dústrias poderiam até não aceitar a fibra; parte dos critérios de comercialização, o produtor
Resistência (STR): precisa ser superior ou terá que enquadrar o máximo que possível sua
igual a 27 g/tex; produção em função desses critérios.
Micronaire (Mic): deve ficar no intervalo de Enfim, quanto mais se sabe sobre a matéria-pri-
3,5-4,9. Fibra de micronaire inferior a 3,5 ou su- ma, melhor é para vendê-la, comprá-la, processá-
perior a 5 entram nas faixas de desconto. Micro- -la e obter melhores resultados de produtividade
naire inferior a 3,5 é muitas vezes relacionado a em fiação, flexibilidade, qualidade, tempo, custo e
fibra imatura. rentabilidade.

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

399
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Valorização dos coprodutos do algodão


No processo do beneficiamento do gerando volumes significativos de “cas-
algodão, as fibras são removidas e o quinha” e resíduos diversos. Em outras
caroço surge como um coproduto im- etapas do beneficiamento, outros tipos
João Paulo
portante. Para a safra 2019/2020, a pro- de impurezas serão gerados, em quan-
Saraiva
Morais
dução da malvácea no Brasil está esti- tidade menor, como “motes” e fibrilas.
Embrapa mada em 2,755 milhões de toneladas Nas algodoeiras, esses sub-produtos
Algodão de fibra e 4,130 milhões de toneladas podem ser comercializados ou usados
de caroço. Assim, o caroço torna-se o na própria fazenda.
maior coproduto do cultivo algodoeiro É o caso das casquinhas, geral-
(Conab, 2020), rico em óleo e proteínas. mente usadas para alimentar o gado.
Pode ser usado também para produ-
1. Resíduos de algodoeiras ção de “compostos” (Figura 1) ou adu-
O algodão em caroço é levado à al- bos organominerais após processos
godoeira com sujeira, pedaços de fo- de compostagem. Cf. CT11/2014 do
lhas, cascas, ramos, impurezas que se- IMAmt, Compostagem de subprodutos
rão eliminadas em diversos processos, das algodoeiras.
Everaldo
Medeiros
Embrapa
Algodão
(Imagem: Elio Torre)

Jean-Louis
Bélot
IMAmt

Figura 1. Composto feito a partir de casquinhas de algodão e outras matérias-primas

Capítulo reescrito e atualizado por Jean-Louis Bélot, a partir do texto publicado em 2014.

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AMPA
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IMAmt 2020
2012

Algumas fazendas confeccionam com as cas- Prensas para fabricação desses briquetes, inclusi-
quinhas briquetes compactados (Figura 2) para ve a partir de outros tipos de resíduos, são comer-
uso em fornos de secadores no lugar da lenha. cializadas por diversas empresas.

Figura 2. Prensa para fabricação de briquetes a partir de casquinhas de algodão ou de outros resíduos

O poder calorífico desse material é dado na Tabela 1.

Tabela 1. Poder calorífico de briquetes fabricadas com diversos resíduos

(Fonte: Biomax)

2. O caroço de algodão do Estado de Mato Grosso em 2010, podemos


O caroço representa uma parte importante do estimar que entre 85 e 90% do valor monetário
algodão produzido na lavoura. Com as varieda- da cultura é proveniente da fibra e entre 10% e
des atualmente comercializadas, a porcentagem 15% vêm do caroço. O caroço é composto de di-
de fibra fica entre 38% e 45%; o caroço representa versas frações, sendo o línter e as impurezas, as
então mais de 55% do peso colhido. Do algodão cascas (tegumentos da semente) e a amêndoa
em caroço produzido a campo, usando valores (Figura 3).

401
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Jean Louis Belot)

Figura 3. As diversas partes de um caroço de algodão

O caroço de algodão bruto apresenta 8% de embrião (primórdio de caule e


ao redor de 8,5% de línter, fibras peque- raízes). Outras maneiras de apresentar
nas que não foram removidas da super- a composição do caroço são apresen-
fície das sementes durante o processo tadas na Tabela 3, sendo que há muita
de descaroçamento. O caroço sem lin- variabilidade em função das variedades
ter compõe-se aproximadamente de empregadas, condições de cultivo e de
32% de cascas, 60% de cotilédones e beneficiamento, clima etc.

Tabela 3. Conteúdo em óleo e proteína do caroço de algodão

Caroço bruto (com línter) de algodão (G. hirsutum)


Valor médio (%) Intervalo
Línter 8,5 4-12%
Cascas 26 24-28%
Óleo 16 14-22%
Farinha 45,5 43-47%
Continuação --->

402
AMPA
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IMAmt 2020
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Tabela 3. Continuação

Valores geralmente obtidos em unidades industriais de extração de óleo


Proteínas 20-22%
Óleo 18-20%
Amido 3-4%
Fibras 28%

2.1 Uso direto do caroço Porém, a presença do gossipol, pigmento poli-


Por conta de seu alto conteúdo de óleo, o ca- fenólico existente na planta de algodoeiro e na
roço de algodão é um alimento rico em energia. semente, limita seu uso na alimentação.
(Imagem: Jean - Louis Bélot)

Figura 4. Glândula de gossipol na amêndoa do caroço de algodão (pontos pretos)

O gossipol (Figura 4) é um componente com di- torta proveniente das indústrias de esmagamen-
versas atividades biológicas. Presente em diversas to em até 30% na ração do animal.
partes da planta, ele tem atividade repulsiva sobre Com o aumento significativo do cultivo algo-
algumas pragas, mas apresenta toxicidade para doeiro em Mato Grosso nos últimos anos, o preço
pessoas e animais. Pode causar danos ao fígado, do caroço baixou significativamente (Figura 5),
anemia, afetar a tireoide e provocar edemas e da- abrindo espaço para uso de quantidades impor-
nos ao coração se ingerido em doses elevadas. tantes de caroço de algodão não transformado
Os animais poligástricos como os bovinos para alimentação do gado em período de seca,
apresentam menor sensibilidade ao gossipol, no semiárido do Nordeste, ou para confinamen-
permitindo usar o caroço inteiro de algodão ou a to (Figura 6).

403
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS
(Fonte: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br)

Figura 5. Evolução dos preços do caroço de algodão em Mato Grosso (R$/t, sem frete)
(Imagem: M. Moretti)

Figura 6. Uso de caroço de algodão na alimentação do gado confinado

2.2 Transformação do caroço o aproveitamento integral e local do


Outra parte importante do caroço caroço de algodão. Mas, provavelmen-
é comercializada para a produção de te, nas regiões produtoras de algodão
óleo, para indústrias de esmagamento a abundância da oferta do caroço e a
(extração por solventes) ou até em pe- demanda pelos produtos que podem
quenas unidades (extração mecânica). dele ser obtidos justificam esse inves-
Transformação na fazenda: nesse timento, já que aumentam as divisas
caso, visando agregar valor ao caroço, geradas ao longo da cadeia produtiva
diversos processos podem ser con- do algodão.
templados. Porém, uma análise eco- Algumas fazendas equiparam-se
nômica deve ser feita caso a caso para com prensas (Figura 7), a fim de extrair
determinar tanto o custo de investi- óleo bruto de algodão (Figura 8), ten-
mento como as taxas de retorno no tando agregar valor, comercializando
investimento das usinas para garantir o óleo e a torta gorda.

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IMAmt 2020
2012

(Imagem: Jean - Louis Bélot)

Figura 7. Prensa para extração de óleo bruto e produção de torta gorda instalada em uma fazenda
(Imagem: Everaldo Medeiros)

Figura 8. Óleo de algodão não refinado

No passado, algumas algodoeiras investiram em trabalham principalmente com soja, porém


deslintadeiras mecânicas no Paraná, a fim de remo- processam também o caroço de algodão. Os
ver o línter e deixar o caroço quase totalmente “pe- processos industriais são complexos para ex-
lado”. Essas máquinas antigas eram muito exigentes trair o máximo que possível de óleo do caroço,
em energia, e o valor do línter não compensava o usando prensas com altas temperaturas, mui-
investimento, o que as pôs em desuso. tas vezas associadas na sequência à extração
Transformação industrial do caroço: as por solvente (Figura 9).
indústrias brasileiras de produção de óleo

405
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: Caramuru)

Figura 9. Unidade industrial de extração de óleo de algodão

Várias etapas são necessárias. Desse processo industrial, muitos


- Deslintamento - essa etapa é rea- subprodutos são produzidos e comer-
lizada atualmente com máquinas de cializados pelas indústrias para merca-
grande capacidade posicionadas nas dos variados.
unidades de esmagamento. Removen- a) O óleo produzido é principalmen-
do o línter do caroço, na etapa posterior te destinado ao consumo alimentar
de esmagamento, é possível obter um (óleo, margarinas etc.); pouco é usado
maior rendimento de óleo e uma torta atualmente para produção de biodiesel
mais rica em proteína, já que o línter por conta do alto custo do óleo de al-
contaminante não reabsorverá parte godão em relação ao do óleo de soja ou
do óleo extraído; da gordura bovina.
- Descasca do caroço deslintado - A qualidade nutritiva do óleo de al-
permite separar as amêndoas ricas em godão é comparável à da soja, já que é
óleo das cascas. Parte das cascas será composto principalmente por ácidos
reincorporada às amêndoas para o pro- insaturados (ácido mirístico, ácido pal-
cesso de pressão ter maior porosidade mítico, ácido esteárico). A composição
da mistura; química do óleo de algodão, com alto
- Extração mecânica do óleo por teor de antioxidantes naturais, confere-
pressão, com temperaturas elevadas; -lhe maior estabilidade à oxidação e à
- Extração com solvente (hexano), deterioração, em comparação a outros
deixando as tortas com menos de 3% óleos vegetais e gorduras animais.
de óleo; O óleo de algodão é um óleo in-
- Refino do óleo, envolvendo várias dustrial que pode ser usado tanto
etapas para remover quaisquer impure- para fins alimentares quanto não ali-
zas, pigmento e gossipol; mentares. Nos Estados Unidos, des-
de o século XIX até a década de

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1940, foi a principal fonte de óleo alimentar celulose nanofibrilada, que, por sua vez, são em-
vegetal, sendo então superado pelos óleos pregados como insumos em diversas indústrias,
de soja e de milho. No Brasil, atualmente, a como dispositivos eletrônicos, telas, sensores
produção de óleo de algodão é apenas superada miniaturizados, embalagens etc.
pela de óleo de soja. Há estudos que mostram Industrialmente, são produzidos até três tipos
que o óleo de algodão pode ser usado na alimen- de línter: primeiro corte (o mais limpo), segundo
tação humana, baixando os níveis de colesterol. corte (qualidade intermediária) e terceiro corte
b) O línter é uma fibra curta demais para ser (com grande contaminação de resíduos da casca
empregada na fiação, embora possa, eventual- do caroço). A diferença entre esses graus de pu-
mente, ser usada para produção de fios grossos reza é determinada pela proximidade do ajuste
e cordas, por ser mais barato que a pluma. das serras, em máquinas similares aos descaro-
Ele é constituído por cerca de 80% de celulo- çadores; quanto mais rente for o corte da fibra
se, praticamente sem lignina ou minerais conta- do línter, mais sujidades acompanharão as fibras.
minantes, o que o torna uma fonte atraente de A indústria química normalmente comercializa
celulose. Por essas características, ele necessita línter de primeiro e segundo corte, pois a con-
de menos etapas de branqueamento, que po- taminação de caroço no terceiro leva à perda do
dem ser mais brandas que as aplicadas na celu- diferencial da celulose do línter em relação ao
lose de madeira. da madeira. Após a retirada do caroço, os flocos
Normalmente, o línter é usado para a produ- de línter podem ser enfardados e manuseados
ção de papéis especiais (papel-moeda, papel- como fardos normais de algodão.
-passaporte, papel-identificação, papéis médicos c) A torta. É a denominação dada à massa
e laboratoriais), derivados de celulose (acetato sólida que fica após a extração do óleo. O ren-
de celulose, nitrocelulose, carboximetilcelulose), dimento da torta varia em função do rendimen-
celulose regenerada (viscose). Recentemente, a to da extração de línter e de óleo, variação que
pureza de celulose e elevada cristalinidade em depende tanto de fatores relativos às variedades
relação a outras fontes típicas de celulose, como plantadas quanto dos ajustes das máquinas usa-
madeira de pinheiro ou de eucalipto, vêm tor- das nessas etapas. Geralmente, a torta apresenta
nando o línter uma matéria-prima interessante 41% de proteína, embora possa chegar a 44%.
para a produção de nanocristais de celulose e de
(Imagem: Everaldo Medeiros)

Figura 10. Torta de algodão comercializada para alimentação animal

407
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tradicionalmente, a torta tem sido em que ele recebe essa alimentação.


usada como fonte de proteína na ra- Como a proteína e o óleo estão geral-
ção animal, principalmente rações mente combinados na torta, ao serem
para gado. ingeridos por animais ruminantes,
O óleo de algodão pode ser refina- provocam uma liberação lenta no rú-
do para eliminação do gossipol; a torta, men, o que previne a intoxicação por
porém, normalmente não sofre um pro- excesso de gordura.
cessamento posterior para eliminação O teor residual de óleo e de carboi-
da substância residual. Dessa forma, o dratos na torta de algodão, associado
processamento que use calor, como ao conteúdo proteico e à alta quanti-
prensagem a quente, desintoxica a tor- dade de fósforo, comumente estimu-
ta de algodão de uma grande parte do la o uso da torta para a formulação de
gossipol residual. rações para animais em lactação, como
Quando usada em formulação de vacas leiteiras e gado de corte. Uma tor-
dietas, a torta de algodão pode levar ta que tenha passado pelo processo de
o animal a apresentar rendimento deslintamento tem um teor, em massa,
em parâmetros (como peso da carca- maior de proteína e de óleo, o que a tor-
ça e teor de proteína) comparável à na mais atrativa para o mercado de ra-
soja, dependendo do animal e da fase ções, podendo receber um preço maior.

O caroço é mais que um coproduto do cultivo, representando uma receita


significativa para o cotonicultor. Existem alguns caminhos para valorizar mais
o caroço ou outros subprodutos do cultivo, mas uma análise econômica deve
ser feita caso a caso para determinar a viabilidade do investimento.

Referências bibliográficas: entrar em contato com os autores

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2012

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

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2012

MANEJO SUSTENTÁVEL
DO CULTIVO ALGODOEIRO

Como limitar o impacto do cultivo algodoeiro sobre o meio ambiente


Em Mato Grosso, o algodoeiro é cultivado em clima tropical úmido, o que
favorece a incidência de doenças e pragas. O sistema de produção usado
é muito intensivo e utilizador de insumos químicos acima do praticado em
outros países algodoeiros.
Preocupada com a imagem da fibra de Mato Grosso no mercado
internacional, a Ampa têm tomado iniciativas importantes para limitar o
impacto do cultivo sobre o meio ambiente, apoiando os produtores para a
aplicação das normas oficiais em suas fazendas. Cada produtor encontrará
aqui recomendações complementares para reduzir ainda mais o impacto de
certas práticas culturais sobre o meio ambiente.
Muitas técnicas descritas no Manejo Integrado de Pragas (MIP) ou de doenças
são alternativas ao controle químico. Uma delas, o controle biológico, quando
sua eficiência for devidamente comprovada, é uma ferramenta interessante
explorada por algumas empresas privadas e pelo IMAmt, em colaboração
com a Embrapa.

411
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Como limitar o impacto do cultivo


algodoeiro sobre o meio ambiente
Os impactos do cultivo algodoeiro frequência, dosagem, escolha de
Eliana Freire
são decorrentes de mudanças no meio moléculas, tecnologia da aplica-
Gaspar de
físico e da utilização de insumos quími- ção dos agroquímicos e condi-
Carvalho Dores
UFMT cos, que podem ter como consequên- ções meteorológicas no momen-
cia a contaminação ambiental, em par- to da aplicação.
ticular da água, além do assoreamento
de cursos d’água superficiais, podendo Dessa forma, as recomendações para
levar a sua redução ou até eliminação. reduzir o potencial de contaminação
As mudanças no meio físico decor- estão organizadas separadamente por
rem da retirada da vegetação natural e compartimento ambiental, em que se
do manuseio do solo, que podem cau- discute como interferir nos fatores que
sar erosão, perda de fertilidade e mu- afetam os processos de distribuição das
danças do movimento da água no solo, moléculas no ambiente.
Antonio Brandt
tendo como efeito a redução na dispo-
Vecchiato
UFMT
nibilidade da água superficial e subsu- 1. Redução do risco de contaminação
perficial. Assim, o manejo adequado do de águas superficiais
solo é fundamental para minimizar esse Para diminuir o transporte de subs-
tipo de impacto. tâncias pelas águas das enxurradas
A contaminação do ambiente aquáti- (escoamento superficial, Figura 1), é ne-
co por agroquímicos usados na agricul- cessária a adoção de práticas adequa-
tura depende dos seguintes processos: das de conservação de solo voltadas à
prevenção de processos erosivos, tais
• Transporte dessas substâncias pelo como:
escoamento superficial, tanto asso-
ciadas aos sedimentos como solu- • Implantar sistemas de terracea-
bilizadas na água do escoamento; mento, semeadura em nível e
• Movimentação vertical das molé- manutenção de faixa de cultura
culas ao longo do perfil do solo até de contenção e/ou de mata ciliar;
atingir as águas subsuperficiais; • Não cultivar em áreas de ocor-
• Deposição de substâncias presen- rência de solos muito erodíveis
tes na atmosfera pela água de chu- e/ou mal drenados, especial-
va e precipitação seca de material mente quando estes ocorrerem
particulado carreado pelo vento; nas porções mais inferiores das
• Deriva durante a pulverização dos vertentes. Dentre os solos muito
agroquímicos. erodíveis que ocorrem com fre-
quência nas áreas de cultivo de
A magnitude desses processos de- algodão em Mato Grosso, desta-
pende dos seguintes fatores: cam-se os solos arenosos como o
neossolo quartzarênico.
• Características do ambiente (meio
físico e clima) onde o produto é Com relação aos solos mal drena-
aplicado; dos, os plintossolos, que também ocor-
• Sistema de cultivo empregado e rem frequentemente em Mato Grosso

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nas porções inferiores das vertentes, apresentam, em capacidade erosiva. Além disso, durante o período
subsuperfície, camada pouco permeável que impede chuvoso, ocorre a formação de lençol freático suspen-
a infiltração das águas de chuva, favorecendo o es- so, que se dirige aos fundos de vales (Figura 2), onde
coamento superficial concentrado, aumentando sua ocorrem nascentes e cursos d’água.

escoamento superficial
infiltração

fluxo de água subterrânea

Figura 1. Movimentação da água no solo


(Imagem: Eliana Dores)

Figura 2. Exemplo de processo erosivo intensificado em final de vertente

Os solos mal drenados ocorrem também em e o próprio sistema de drenagem favorece o


áreas de campos úmidos, onde se tem observa- transporte das moléculas aplicadas ao solo para
do a prática de drenagem do solo para o cultivo os cursos d’água e áreas de nascente.
do algodão. Nessas áreas, mesmo drenadas, o Com o desencadeamento de processos ero-
lençol freático ocorre a pequena profundidade, sivos e ausência de cobertura vegetal na faixa

413
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

marginal dos cursos d’água, fatalmen- drenagem, uma vez que se trata de
te os sedimentos acumulam-se nos local com concentração de fluxos
fundos de vale e calhas dos cursos d’água, tanto superficial como
d’água, promovendo o assoreamento. subterrâneo e lençol freático aflo-
As principais recomendações são: rante a sub-aflorante. São, por-
tanto, locais extremamente sus-
• Ter especial atenção com rela- cetíveis a erosão e contaminação.
ção à preservação da vegeta- A Figura 3 ilustra uma situação de
ção em áreas de cabeceira de extremo risco de contaminação;
(Imagem: Eliana Dores)

Figura 3. Área de nascente degradada

• Adotar um sistema de manejo e ocorre o acúmulo de matéria


que permita rotacionar as cul- orgânica no solo;
turas, pois, a partir desta, au- • Obedecer às leis ambientais vi-
menta-se o estoque de matéria gentes com relação às áreas de
orgânica no ambiente, de modo preservação permanente (APP)
a reter com maior eficiência as ao longo dos cursos d’água,
moléculas dos agroquímicos; levando em consideração que,
• Adotar práticas que reduzam a quanto mais larga for a vegeta-
compactação do solo, pois este ção ciliar, maior a proteção do
fenômeno reduz a infiltração manancial hídrico no que diz
da água, aumentando o escoa- respeito tanto à contaminação
mento superficial; como ao assoreamento.
• Dar preferência a sistemas de
cultivo que revolvam menos o Destaca-se ainda que a preserva-
solo (semeadura direta, cultivo ção das APPs contribui também para
mínimo etc.), nos quais o car- a preservação dos recursos hídricos
reamento superficial é reduzido em termos de quantidade de água.

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Assim, recomenda-se que os produtores ava- de solo e a declividade da vertente.


liem a possibilidade de utilizar faixas mais largas do Nesse contexto, um exemplo de ação proativa
que o previsto na legislação em áreas de nascen- por parte de alguns produtores foi a recupera-
te e no entorno de cursos d’água quando estas se ção da área degradada representada na Figura 3,
mostrem mais vulneráveis, considerando os tipos como pode ser observado na Figura 4.
(Fonte: Laboratório de Geoprocessamento - ICAT/CUR/UFMT (2018))

Figura 4. Imagem de 2005 da área recuperada extraída do Google Earth (A) Fotografia aérea da área de preservação
permanente em recuperação tirada em 2018 (B) e fotografia da vegetação em processo de recuperação (linhas pon-
tilhadas indicam posição da qual foi tirada a fotografia) (C)

2. Redução da contaminação de vertical dos agroquímicos no perfil do solo com a


águas subterrâneas água percolada. A Figura 5 ilustra os diversos ca-
A principal via de contaminação de águas sub- minhos que uma molécula percorre ao penetrar
terrâneas é a lixiviação, ou seja, a movimentação no solo.

415
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Diferentes moléculas de agroquímicos


se movimentando pelos poros do solo
pela ação da água

Figura 5. Esquema do processo de lixiviação

Sendo assim, regiões de ocorrência • Adotar sistemas de cultivo que au-


de solos permeáveis e com baixa capa- mentem o estoque de matéria or-
cidade de retenção de água apresen- gânica no solo, como sistemas de
tam potencial elevado de contamina- rotação e sucessão de culturas que
ção de águas subterrâneas. Por outro promovam esse acúmulo, plantio
lado, o horizonte superficial do solo, direto ou cultivo mínimo. A matéria
que apresenta maior teor de matéria orgânica é a principal fração do solo
orgânica, é responsável pela retenção que contribui para a retenção das
das moléculas dos contaminantes, moléculas orgânicas, reduzindo o
onde estas podem ser degradadas por transporte para águas subterrâneas;
processos químicos, fotoquímicos e • Evitar cultivar em áreas de neosso-
biológicos. Quanto mais tempo essas lo quartzarênico, que tem alta per-
moléculas permanecerem na camada meabilidade e baixa capacidade de
superficial, maior a probabilidade de retenção de água e de adsorção,
se degradarem. Nos horizontes mais permitindo uma lixiviação rápida
profundos do solo, esses processos são das substâncias usadas no solo.
menos intensos e a persistência dessas
substâncias é mais elevada. Em vista 3. Contaminação atmosférica
disso, as seguintes recomendações po- A ocorrência de resíduos de agro-
dem reduzir o risco de contaminação químicos na atmosfera deve-se a
de águas subterrâneas: dois processos: (i) deriva do produto

416
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durante a aplicação, indo depositar-se em lo- temperaturas elevadas e com ausência de chuva
cais além da área-alvo, e (ii) volatilização dos e seu controle é difícil ou quase impossível. Pro-
produtos a partir da camada superficial do dutos aplicados incorporados ao solo são menos
solo ou da superfície das plantas, de onde po- suscetíveis à volatilização, enquanto aqueles
dem precipitar com a água da chuva em locais aplicados por pulverização aérea ou por trator,
distantes da aplicação. principalmente na superfície da planta, têm
A volatilização é um processo que se intensifica a maior potencial de serem volatilizados.
(Imagem: Pierre Silvie)

Figura 6. Pulverização aeréa de agroquímicos em lavoura de


algodão

As tecnologias de aplicação de agroquímicos 10-15 km/h, condições que aumentam a


têm evoluído rapidamente, tornando-as mais efi- possibilidade de deriva da calda aplicada,
cientes e seguras. Na cultura do algodão, são rea- principalmente se esta for formada por go-
lizadas aplicações de agroquímicos em diferentes tas finas;
estádios da planta. Os seguintes cuidados devem • Considerar, na escolha da ponta de pul-
ser tomados durante a aplicação para reduzir verização, a necessidade de cobertura e
a deriva: penetração do produto na cultura, obser-
vando-se a ação do produto aplicado e o
• Observar a boa calibração dos equipamen- posicionamento do alvo. Uma vez que o
tos de pulverização, seguindo-se as especi- produto que efetivamente controla a praga
ficações adequadas a cada ponta de pulve- é aquele que atinge o alvo, quanto maior
rização utilizada durante o trabalho; a quantidade aplicada que chegar ao alvo,
• Observar as condições climáticas no mo- mais eficaz e econômico será o tratamento
mento da aplicação, não a realizando em fitossanitário e menor o risco de impacto
temperaturas acima de 30°C, umidade ambiental causado pela quantidade de
relativa abaixo de 55% e ventos acima de produto que não atingiu seu objetivo.

417
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

4. Escolha dos agroquímicos ingredientes ativos utilizados na cul-


visando a redução da contaminação tura do algodão no Estado de Mato
ambiental Grosso, com indicação do respectivo
Obviamente, quanto mais frequen- potencial de atingir águas superficiais e
tes e em maiores dosagens forem as águas subterrâneas, além de sua classi-
aplicações dos agroquímicos, maior ficação toxicológica e de periculosida-
será o risco de contaminação ambien- de ambiental, segundo consta na bula
tal. Desse modo, visando a redução do dos produtos comerciais. O potencial
risco, sugere-se: de movimentação em direção a águas
superficiais foi determinado conside-
• Adotar o manejo integrado de rando os critérios estabelecidos por
pragas e doenças de modo a mi- Goss (1992), que levam em conta per-
nimizar a necessidade de aplica- sistência (meia-vida no solo), adsorção
ções de agroquímicos; às partículas do solo e solubilidade em
• Plantar cultivares de algodão água. O potencial de atingir águas sub-
mais resistentes a pragas e, por- terrâneas foi avaliado usando o índice
tanto, menos exigentes em agro- de GUS (Groundwater Ubiquity Score)
químicos; nesse contexto, dentre (Gustafson, 1989).
outras, inserem-se as variedades Essa classificação desconsidera as ca-
transgênicas (Bt) resistentes a in- racterísticas ambientais e do meio físico e
setos. A substituição gradual de refere-se somente ao potencial de trans-
cultivares tradicionalmente usa- porte de cada molécula no ambiente de-
das pelas mais novas, desde que terminado em função das propriedades
mantenham os níveis de produ- das moléculas de modo que deve ser
tividade e de qualidade de fibra, tratada como uma informação auxiliar na
deveria ser estimulada, no senti- escolha dos produtos que podem apre-
do de garantir a qualidade am- sentar menor risco ao ambiente aquático.
biental e a sustentabilidade das Quando a utilização dessa classificação
atividades agrícolas algodoeiras. como critério de escolha das moléculas for
associada às medidas anteriormente men-
As Tabelas 1 e 2 apresentam a re- cionadas, o potencial de contaminação
lação de produtos comerciais e seus pode ser significativamente reduzido.

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Tabela 1. Ingredientes ativos dos agroquímicos utilizados na cultura do algodão e seu potencial de transporte para águas
superficiais e subterrâneas

Potencial de transporte no ambiente


para água
Ingrediente ativo para água Produtos comerciais
para água superficial
superficial
subterrânea adsorvido às
dissolvido em água
partículas do solo
2,4-D baixo baixo alto 2,4-D

abamectina indefinido baixo baixo Vertimec

acefato baixo baixo médio Orthene 750BR

acetamiprido baixo baixo médio Mospilan

alfa-cipermetrina baixo médio baixo Talstar 100 SC

azoxistrobina médio médio alto Priori, Priori Top

beta-ciflutrina baixo médio baixo Connect

carbossulfano baixo médio baixo Marshal 400, Marshal Star

carboxina baixo baixo alto Vitavax Thiram 250SC

carfentrazona-etílica baixo baixo médio Aurora 400 EC

ciclanilida médio médio alto Finish

cipermetrina baixo alto baixo Imunit

ciproconazol alto médio alto Priori

clomazona alto médio alto Gamit Star

clorantraniliprole alto médio médio Premio

cloreto de mepiquat baixo baixo médio Pix HC

clorfenapir baixo baixo baixo Pirate

clormequat alto baixo médio Tuval

clorpirifós baixo médio alto Pyrinex

diafentiurom Baixo baixo baixo Polo 500 SC

difenoconazol baixo alto alto Score

diurom médio médio alto Gramocil, Diuron 500SC

enxofre baixo médio baixo Kumulus

espinosade baixo médio médio Tracer

etefom baixo médio médio Finish

fipronil médio médio médio Regente 800WG

flubendiamida alto alto médio Belt

flumicloraque-pentílico médio baixo baixo Radiant

flumioxazina baixo baixo médio Flumyzin 500

glifosato baixo alto alto Glifosato 720 WG

hidróxido de fentina baixo alto alto Mertin 400


Continuacão -->
419
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 1. Continuação

Potencial de transporte no ambiente


para água
para água
Ingrediente ativo superficial Produtos comerciais
para água superficial
adsorvido às
subterrânea dissolvido
partículas do
em água
solo
imidacloprido alto médio alto Cropstar, Connect

indoxacarbe baixo médio baixo Avatar

lactofen baixo médio baixo Cobra

lambda-cialotrina baixo médio baixo Karate Zeon 250SC

metolacloro alto médio alto Dual Gold

metomil alto baixo médio Lannate

metoxifenozida alto médio alto Inteprid 240 SC

MSMA indefinido indefinido indefinido Volcane

novalurom baixo alto médio Rimon

paraquat baixo alto alto Gramocil

piriproxifem baixo médio baixo Tiger

piritiobaque-sódico indefinido médio alto Staple 280Sc

teflubenzurom baixo médio baixo Nomolt 150, Imunit

tepraloxidim médio médio alto Aramo

tiametoxam alto baixo alto Cruizer 350, Actara 250WG

tidiazurom médio médio alto Dropp Ultra

tiodicarbe baixo baixo alto Cropstar

tiram baixo médio médio Vitavax Thiram 250SC

trifloxissulfurom-sódico alto médio alto Envoke

trifluralina baixo médio baixo Trifluralina Nortox

zeta-cipermetrina baixo médio baixo Fury 400 EC

Tabela 2. Classe toxicológica e periculosidade ambiental dos produtos comerciais utilizados no


controle fitossanitário da cultura do algodão

Nome comercial Classe toxicológica Periculosidade ambiental


Avatar I (extremamente tóxico) I (altamente perigoso)
Cobra I II (muito perigoso)
Dual Gold I II
Finish I II
Lannate I II
Marshal Star I II
Continuacão -->

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Tabela 2. Continuação
Nome comercial Classe toxicológica Periculosidade ambiental
Mertin 400 I II
Pyrinex I II
Radiant I II
Score I II
Tiger I II
Vitavax Thiram 200 SC I II
2-4D I III (perigoso)
Aramo I III
Aurora 400 EC II (muito tóxico) II
Connect II II
Cropstar II II
Fury 400 EC II II
Gramocil II II
Marshal 400 II II
Regent 800 WG II II
Trifluralina Nortox II II
Volcane II III
Karate Zeon 250 CS III (medianamente tóxico) I
Gamit Star III II
Imunit III II
Mospilan III II
Pirate III II
Polo 500 SC III II
Premio III II
Priori top III II
Staple 280 SC III II
Talstar 100 SC III II
Vertimec III II
Actara 250 WG III III
Belt III III
Cruiser 350 III III
Envoke III III
Flumyzin 500 III III
Glifosato III III
Glifosato 720 WG III III
Continuacão -->
421
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Tabela 2. Continuação
Nome comercial Classe toxicológica Periculosidade ambiental
Permit III III
Pix Hc III III
Priori III III
Diuron 500 sc IV (pouco tóxico) II
Dropp ultra IV II
Nomolt 150 IV II
Rimon IV II
Iharol IV III
Intrepid 240 SC IV III
Nimbus IV III
Orthene 750 BR IV III
Tracer IV III
Tuval IV III
Iharaguen-S IV IV (pouco perigoso)

Kumulus IV IV

Destaca-se que é importante consi- produtor para orientar a escolha dos


derar que mesmo os produtos classifi- produtos comerciais que potencial-
cados como pouco tóxicos ou pouco mente causem menor impacto à saúde
perigosos apresentam risco tanto à saú- e ao ambiente. Alguns estudos já reali-
de humana como ao meio ambiente e zados em Mato Grosso demonstraram
devem ser tratados como substâncias a ocorrência de diversas moléculas em
tóxicas. De qualquer forma, é sempre diferentes amostras de água e, assim,
preferível utilizar produtos que repre- sugere-se que as seguintes moléculas
sentem menos riscos. sejam usadas para o controle de pragas,
Outro aspecto a considerar é que doenças e/ou plantas daninhas somen-
o comportamento ambiental de cada te quando extremamente necessário
molécula depende das características e tomando cuidado particularmente
não somente da molécula, mas tam- com situações em que o ambiente seja
bém do ambiente, do clima e da forma mais vulnerável: aldicarb, carbofurano
de aplicação. Assim, ambientes mais (principal metabólito do carbossulfa-
vulneráveis podem sofrer contamina- no), clorpirifós, diurom, metolacloro,
ção mesmo por moléculas menos mó- monocrotofós, parationa-metílica e te-
veis, enquanto o contrário também é flubenzurom. Destaca-se que os moni-
verdadeiro. Desse modo, o produtor toramentos já realizados em áreas de
deve avaliar as classificações acima com algodão não analisaram todas as mo-
cautela e levar em conta as característi- léculas em uso na cultura e, portanto,
cas do meio físico no qual sua cultura outros ingredientes ativos podem tam-
se desenvolve. bém ser transportados para águas sem
As tabelas trazem, portanto, infor- que haja informação concreta sobre
mações que podem ser utilizadas pelo sua ocorrência.

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Nesse contexto, alguns pontos são enfatizados a clorpirifós, metomil e acefato. Por outro lado, os agro-
seguir: químicos glifosato, 2,4-D, paraquat, tepraloxidim, car-
fentrazona-etílica, lactofen, carboxina, hidróxido de
• Evitar o uso dos ingredientes ativos acima fentina, ciproconazol, flubendiamida, clorfenapir, me-
mencionados que foram detectados com fre- toxifenozida, indoxacarbe, novalurom, carbossulfano,
quência em águas superficiais e/ou subterrâ- diafentiurom, piriproxifem, fipronil, enxofre e flumi-
neas, principalmente nas situações de solo e cloraque-pentílico são considerados não voláteis. Os
de manejo que sejam potencialmente mais demais são classificados como de volatilidade inter-
vulneráveis à contaminação das águas; mediária. Essa classificação considera a volatilização a
• Aquelas moléculas que apresentam maior po- partir da folha da planta; no solo, o comportamento
tencial de contaminação de águas subterrâ- pode ser diferente, uma vez que agroquímicos que
neas devem ser usadas com cuidado, evitando se ligam fortemente às partículas do solo tendem a
a aplicação em regiões onde o aquífero freá- volatilizar-se com mais dificuldade.
tico seja mais raso e em locais de solos mais Moléculas mais voláteis podem ser transportadas
arenosos; pela ação do vento e precipitar-se em áreas distantes
• Piretroides adsorvem intensamente a particu- do local de aplicação, causando prováveis efeitos in-
lados e têm sido detectados em sedimento de desejáveis em áreas vizinhas.
fundo de rio, assim o uso de medidas de con- Não se deve deixar de destacar a importância do
tenção de erosão contribuem para a redução programa de recolhimento de embalagens vazias
da contaminação de águas superficiais; para a redução da contaminação ambiental por agro-
• A vegetação ciliar (áreas de APP localizadas no químicos. Mato Grosso tem se destacado como um
entorno de rios e córregos) é extremamente dos estados onde tem sido recolhida a maior porcen-
importante para minimizar o transporte super- tagem das embalagens usadas. A adesão ao progra-
ficial para os cursos d’água, assim, agroquími- ma é essencial para evitar acidentes e contaminação
cos que têm elevado potencial de transporte por vazamentos de restos, além de retirar da proprie-
associados ao particulado ou dissolvidos em dade embalagens não degradáveis. Os produtores de
água não devem ser utilizados em áreas onde qualquer porte não devem reutilizar embalagens de
a vegetação ciliar tenha sido removida ou não agroquímicos em outras atividades, devendo procu-
tenha a largura mínima exigida pela legislação. rar locais que façam o recolhimento dos recipientes
para o descarte seguro.
Com relação à volatilidade, os seguintes ingre- Com a implementação dessas recomendações o
dientes ativos apresentam maior potencial de trans- produtor de algodão do Estado de Mato Grosso po-
porte por via atmosférica: etefom, flumioxazina, clo- derá produzir uma fibra de algodão cada vez mais
mazona, trifluralina, metolacloro, tiram, tiodicarbe, ambientalmente sustentável.

Referências Bibliográficas: entrar em contato com os autores

GOSS, D. W. Screening procedure for soils and pesticides for potential water quality impacts. Weed Technol., v. 6, n.
3, p.701-706, 1992.

GUSTAFSON, D. I. Groundwater ubiquity score: a simple method for assessing pesticide leachability. Environ. Toxi-
col. Chem., v. 8, p. 339-357, 1989.

423
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Controle biológico como ferramenta do


manejo integrado de doenças e pragas
Tamiris Rêgo
IMAmt do algodoeiro
A grande diversidade de doenças e aliada a uma tendência mundial de re-
pragas que ocorrem sistematicamente dução do uso de defensivos químicos
na cultura do algodão pode reduzir sig- para combater doenças e pragas nas
nificativamente a produção da lavoura, lavouras, vem impulsionando o merca-
caso medidas de controle não sejam do de agentes biológicos que, no Brasil,
Eduardo implantadas no momento correto. Essa cresceu mais de 70% em 2018 e movi-
Barros pressão de agentes patogênicos sobre mentou aproximadamente R$ 464,5
IGA
o algodoeiro leva o cotonicultor a viver milhões, sendo considerado o mais ex-
diariamente o desafio de manter o ní- pressivo da história do setor.
vel de infestação de doenças e pragas Os agentes biológicos são conside-
sob controle. rados organismos benéficos, capazes
Atualmente, o manejo fitossanitário de reduzir a população de uma praga
realizado nas lavouras do Cerrado con- ou a incidência de doenças, manten-
siste, quase que exclusivamente, no uso do-as em níveis de infestação que não
Guilherme de defensivos químicos. No Brasil, chega causem danos econômicos à cultura.
Rolim
a ser necessário realizar cerca de trinta São exemplos de agentes biológicos:
IMAmt
aplicações de inseticidas/acaricidas e fungos, bactérias, vírus, nematoides,
até dez aplicações de fungicidas por ci- insetos, ácaros etc. Atualmente, são
clo do algodoeiro. Embora esses produ- mais de 210 produtos registrados com
tos tenham importância fundamental agentes de controle biológico no Mi-
na melhoria dos rendimentos da cultura, nistério da Agricultura, Pecuária e
não se pode confiar em um método úni- Abastecimento (Mapa) para o controle
co de controle; deve-se levar em conta de doenças e pragas em diversas cul-
Jacob Crosariol a adoção de um conjunto de medidas, turas (Tabela 1).
Netto como controle cultural e utilização e/ O aumento da disponibilidade de
IMAmt
ou preservação de agentes biológicos produtos biológicos no mercado está
que, combinados harmonicamente com relacionado à maior facilidade para
a utilização de defensivos químicos, re- o registro de novos produtos, quan-
sultem no controle efetivo das doenças do comparado ao controle químico e
e das pragas do algodoeiro. ao crescente volume de trabalhos e
Dentro dessa perspectiva, a com- pesquisas desenvolvidos na área, que
preensão dos produtores da necessida- resultaram no aperfeiçoamento de
Maria Luísa de de utilização de novas ferramentas técnicas de multiplicação em massa
Zardo
de manejo fitossanitário visando o au- dos agentes de controle biológico e a
IMAmt
mento e a manutenção da produção, comprovação de sua eficiência.

Paulo C. M.
Bittar
Ruralvit

424
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2012

Tabela 1. Número de produtos e agentes biológicos registrados no Brasil em 2019 (Agrofit, 2019)

Nome comercial Classe toxicológica Periculosidade ambiental


Fungo
Beauveria bassiana
1
Cordyceps fumosorosea (2Isaria fumosorosea/
Paecilomyces fumosoroseus)
Hirsutella thompsonii
Metarhizium anisopliae
1
Purpureocillium lilacinum (2 Paecilomyces
97
lilacinus)
Pochonia chlamydosporia
Trichoderma asperellum
Trichoderma harzianum
Trichoderma koningiopsis
Trichoderma stromaticum

Bactéria
Bacillus amyloliquefaciens
Bacillus firmus
Bacillus methylotrophicus
Bacillus subtilis
45
Bacillus licheniformis
Bacillus pumilus
Bacillus thuringiensis
Pasteuria nishizawae

Vírus Baculovírus Anticarsia gemmatalis multiple


nucleopolyhedrovirus (AgMNPV)
Baculovírus Autographa californica nucleo-
polyhedrovirus (AcMNPV)
Baculovírus Chrysodeixis includens nucleo-
polyhedrovirus (ChinNPV)
Baculovírus Helicoverpa armigera nuclear
27 polyhedrosis virus (HearSNPV)
Baculovírus Helicoverpa zea single nucleopolyhe-
drovirus (HzSNPV)
Baculovírus Helicoverpa zea nucleopolyhedrovi-
rus (VPN-HzSNPV)
Baculovírus Spodoptera frugiperda
Baculovírus Spodoptera frugiperda multiple
nucleopolyhedrovirus (SfMNPV)
Nematoide
1 Deladenus siricidicola

Inseto Ceratitis capitata


Cotesia flavipes
Cryptolaemus montrouzieri
45 Trichogramma galloi
Trichogramma pretiosum
Trissolcus basalis
Orius insidiosus
Ácaro Neoseiulus californicus
8 Phytoseiulus macropilis
Stratiolaelaps scimitus

Nomenclatura atual após reclassificação. 2Nomenclatura antiga, que ainda pode ser encontrada em rótulos e bulas.
1

425
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE BIOLÓGICO


O controle biológico é dividido em clássico, inoculativo/aumentativo e natural ou conservativo.
É considerado clássico quando realizado a partir da introdução de inimigos naturais exóticos,
geralmente oriundos da região de origem da praga. Inoculativo/aumentativo quando aplicado
utilizando inimigos naturais que já ocorrem na área, após a multiplicação em laboratório, com
posterior liberação em campo. O controle biológico natural ou conservativo consiste na adoção
de práticas que favoreçam o estabelecimento e manutenção dos inimigos naturais já presentes
naturalmente no campo.

1. Controle biológico de pragas altos índices de eficiência, especial-


do algodão mente para as lagartas-curuquerê-do-
Os inseticidas biológicos estão cada -algodoeiro (Alabama argillacea), lagar-
vez mais presentes no dia a dia do ta-do-algodão (Helicoverpa armigera)
produtor, servindo como alternativa e lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis
para rotação com inseticidas químicos includens) e resultados variáveis para
dentro de um programa estruturado lagartas do gênero Spodoptera.
de manejo integrado de pragas (MIP). Bacillus thuringiensis é uma bactéria
Nesse contexto, um programa bem es- de ocorrência cosmopolita, gram-po-
truturado será embasado sempre por sitiva e aeróbica, podendo facultativa-
amostragens, em que se opta pelo mé- mente crescer em anaerobiose. Pode
todo de controle a ser utilizado de acor- ser encontrada em todas as partes do
do com a espécie, o nível populacional mundo, em vários substratos, como
e o estádio de desenvolvimento da pra- solo, água, superfície de plantas, in-
ga. Dessa forma, a rotação entre inseti- setos mortos e grãos armazenados.
cidas e bioinseticidas reduzirá a pressão Sua capacidade entomopatogênica
de seleção, contribuindo tanto para re- deve-se à presença de inclusões pro-
dução da carga química no ambiente teicas cristalinas, produzidas durante
como para a preservação de moléculas o processo de esporulação, conheci-
químicas que poderiam ser comprome- das por δ-endotoxinas ou proteínas
tidas pela presença de populações de Cry (Figura 1). Inseticidas à base de Bt
pragas resistentes. são produtos seguros aos trabalhado-
res, altamente seletivos e eficientes,
1.1 Bioinseticidas bacterianos mas somente funcionarão se ingeri-
Dentre o complexo de pragas que dos pelas lagartas. Após a ingestão
acometem a cultura do algodoeiro, des- pelo inseto, os esporos de Bt com cris-
tacam-se insetos da ordem Lepidopte- tais são solubilizados no suco gástrico
ra, ou seja, insetos que, durante sua fase alcalino, as protoxinas constituintes
larval, são popularmente conhecidos dos cristais são ativadas e, na região do
como lagartas. Assim, inseticidas bio- mesentério, as toxinas ligam-se a recep-
lógicos à base de Bacillus thuringiensis tores específicos, com a posterior for-
(Bt) são recomendados para o controle mação de poros na membrana, o que
desse grupo de pragas, apresentando causa lise celular.

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(Imagem: M. L. Zardo)
Proteína cristal

Esporo

Figura 1. Microscopia de contraste de fase de Bacillus


thuringiensis: (A) esporo, coloração mais clara; e (B) cristal,
coloração mais escura

Entretanto, para o melhor funcionamento (Figura 2), visto que é nesses estágios que as lar-
desse agente, alguns cuidados devem ser obser- vas apresentam maior número de receptores in-
vados para que se obtenha um bom controle da testinais para as toxinas presentes no cristal, que
praga-alvo. Devem ser utilizados sempre no iní- é produzido pela bactéria no momento da espo-
cio das infestações com populações ainda baixas, rulação. Com o desenvolvimento da larva, há uma
portanto, em consonância com o monitoramento, diminuição na quantidade de receptores e a sus-
visando lagartas de primeiro e de segundo ínstar cetibilidade da lagarta decai acentuadamente.
(Imagem: M. L. Zardo)

Figura 2. Mortalidade de Spodoptera frugiperda de 1º e 2º ínstares quando exposta a proteínas cristais


de Bacillus thuringiensis

427
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Quando comparados aos insetici- das lagartas. Também é importante rea-


das químicos tradicionais, os produtos lizar uma boa cobertura da planta, já
à base de B. thuringiensis ocasionam a que a lagarta precisa ingerir o produto.
morte das lagartas de forma mais len- Cabe destacar que os bioinseticidas bac-
ta, ou seja, o produtor, no dia seguinte terianos à base de B. thuringiensis não
à aplicação, encontrará lagartas ainda podem, em hipótese alguma, ser aplica-
com movimento, mas, decorridas de dos nas áreas de refúgio dos cultivos ge-
quatro a seis horas da ingestão da bac- neticamente modificados, que contam
téria, a lagarta para de alimentar-se e com expressão de proteínas inseticidas
não mais ocasiona prejuízos. Por conta (Bt). Atualmente, 24 produtos à base de
da alta sensibilidade aos raios solares, B. thuringiensis estão registrados no
esses produtos apresentam melhores Mapa e podem ser usados na cultura
resultados quando pulverizados no final do algodão para o controle de alguns
da tarde ou no início da noite, fazendo lepidópteros-praga, pois estão registra-
com que haja uma boa disponibilidade dos para qualquer cultura onde ocorra o
da bactéria no período de alimentação alvo biológico (Tabela 2).

Tabela 2. Bioinseticidas bacterianos: alvo biológico, ingrediente ativo e tipo de formulação dispo-
nível para a cultura do algodão (MAPA, 2019)

Alvo biológico - nome comum (nome *Tipo de


Ingrediente ativo
científico) formulação

Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)


Cosmioides (Spodoptera cosmioides)
Eridania (Spodoptera eridania)
Lagarta-do-algodão (Helicoverpa armigera) WG, WP, EC
Bacillus thuringiensis
Lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e SC
Curuquerê (Alabama argillacea)
Lagarta das maçãs (Chloridea virescens)
Lagarta mede-palmo (Trichoplusia ni)

*WG = granulado dispersível; WP = pó molhável; EC = concentrado emulsionável; SC = suspensão concentrada.

1.2 Bioinseticidas fúngicos Esses fungos invadem os insetos


Os fungos entomopatogênicos têm através da cutícula (tegumento) e, uma
demonstrado grande potencial de uso vez dentro do hospedeiro, multipli-
no manejo de pragas do algodoeiro, cam-se rapidamente por todo o corpo
especialmente Beauveria bassiana, Me- do inseto. Para o sucesso dessa infec-
tarhizium anisopliae e Cordyceps fumo- ção, a aplicação de produtos à base
sorosea (sin. Isaria fumosorosea). Cro- de fungos entomopatogênicos deve
sariol Netto & Barros (2015) realizaram proporcionar o contato direto entre o
trabalhos em condições de campo e produto e o inseto-alvo, pois, após a
constataram ótimos resultados de efi- pulverização, encontrando condições
ciência de controle utilizando inseticida favoráveis (umidade, temperatura etc.),
biológico à base de B. bassiana para o os conídios do fungo germinam na su-
controle de mosca-branca (Bemisia ta- perfície do inseto, penetrando no tegu-
baci biótipo B) na cultura do algodoeiro. mento e colonizando internamente o

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IMAmt 2020
2012

hospedeiro. Durante o processo de infecção, coloração, o corpo torna-se rígido e quebradiço,


ocorre a liberação de toxinas no interior do inse- podendo ainda, apresentar corpo recoberto pelo
to, mudando seus hábitos e levando o hospedei- micélio e esporos, com aspecto e coloração típi-
ro à morte. Os insetos perdem a mobilidade e a cos do entomopatógeno associado (Figuras 3 a 7).

(Imagem: J. Crosariol Netto)


(Imagem: P. T. Tsuruta)

Figura 3. Adultos de mosca-branca parasitados por Figura 4. Adultos de mosca-branca parasitados por
fungo entomopatogênico fungo entomopatogênico
(Imagem: P. T. Tsuruta)
(Imagem: J. Crosariol Netto)

Figura 5. Mosca-branca parasitada por fungo entomo-


patogênico

Figura 6. Adultos de mosca-branca parasitados


por fungo entomopatogênico

429
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: B. Aurélio)

Figura 7. Lagarta parasitada por fungo entomopatogênico

Barros (2019), estudando a efi- impacto negativo é ainda maior


ciência de isolados de B. bassiana e quando fungo e fungicidas são aplica-
C. fumosorosea no manejo do ácaro- dos em mistura na mesma calda, po-
-rajado no algodoeiro, obteve níveis dendo chegar a uma redução de mais
de controle acima de 80% (dados não de 70% na eficiência de B. bassiana. As-
publicados). Entretanto, a eficiência sim, o sucesso na utilização dos fungos
desses fungos benéficos pode ser entomopatogênicos na cultura do al-
comprometida caso não sejam ob- godoeiro está diretamente relacionado
servadas boas práticas de manejo, à atenção aos intervalos das aplicações
como, por exemplo, a aplicação do de fungicidas químicos e às condições
produto em períodos com condições ambientais.
ambientais adequadas para o desen- De maneira geral, lavouras de algo-
volvimento do microrganismo. dão com a linha de plantio fechada (70-
Além disso, é importante evitar a 80 DAE) permitem a manutenção de
utilização de fungicidas visando o ma- umidade relativa mais elevada, condição
nejo de doenças do algodoeiro logo que proporciona um microclima favorá-
após a aplicação dos produtos à base vel para o estabelecimento dos fungos
de fungos entomopatogênicos. Estudo benéficos na área. Atualmente, existem
recente demonstrou que a aplicação 22 produtos à base de fungos entomo-
de fungicidas (protioconazol + trifloxi- patogênicos registrados no Mapa para
trobina e/ou mancozebe) em intervalo o controle de insetos-praga e podem
menor que três dias após a aplicação de ser utilizados na cultura do algodão,
B. bassiana reduz em até 50% a eficiên- pois estão registrados para qualquer
cia do fungo no controle de mosca-branca cultura em que ocorra o alvo biológico
(Barros, 2019 - dados não publicados). O (Tabela 3).

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Tabela 3. Bioinseticidas fúngicos: alvo biológico, ingrediente ativo e tipo de formulação disponível
para a cultura do algodão (MAPA, 2019)

*Tipo de
Alvo biológico - nome comum (nome científico) Ingrediente ativo
formulação
Ácaro-rajado (Tetranychus urticae) WP, GR, EC, SC
Beauveria bassiana
Mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B) e GL

Ácaro-rajado (Tetranychus urticae) Hirsutella thompsonii SL


1
Cordyceps fumosorosea (2 Isaria fumosoro-
Mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B) SL
sea /P. fumosoroseus)
Lagarta-do-algodão (Helicoverpa armigera) 1
Cordyceps fumosorosea (2 I. fumosorosea) SC
Percevejo-marrom (Euschistus heros) Beauveria bassiana + Metarhizium anisopliae SC
Nomenclatura atual após reclassificação. Nomenclatura antiga, que ainda pode ser encontrada em rótulos e bulas. *WP = pó molhável; GR
1 2

= granulado; EC = concentrado emulsionável; SC = suspensão concentrada; GL = gel emulsionável; SL = concentrado solúvel.

1.3 Bioinseticidas virais nas células epiteliais do intestino médio via fusão de
O controle biológico de insetos-praga usando membrana, e os nucleocapsídeos são transportados
vírus como agente biocontrolador é representado ao núcleo. Após a entrada no núcleo, o DNA viral
em sua totalidade pelos vírus da família Baculoviri- é replicado e novos nucleocapsídeos são produzi-
dae. Conhecidos vulgarmente como baculovírus, os dos. A infecção em insetos da ordem Lepidoptera
vírus deste grupo são patogênicos a insetos, sendo geralmente se espalha rapidamente para outros te-
encontrados principalmente na ordem Lepidoptera. cidos, causando a morte da praga em poucos dias.
No geral, todo baculovírus é específico para uma Os sintomas mais comuns da infecção por bacu-
ou poucas espécies de lagartas. Por exemplo, o ba- lovírus incluem perda de apetite, clareamento da
culovírus Spodoptera frugiperda controla somente a epiderme pelo acúmulo de vírus nos núcleos das
lagarta-do-cartucho; já o baculovírus Chrysodeixis
includens controla apenas a lagarta falsa-medidei-
ra/mede-palmo. A especificidade do baculovírus
(Imagem: D. Gomez)

a uma ou poucas espécies de insetos traz algumas


vantagens importantes, pois não eliminam outros
inimigos naturais e é uma ferramenta que traz um
novo mecanismo de ação.
A infecção causada pelos baculovírus ocorre por
ingestão, nunca por contato. Dessa forma, as partí-
culas virais de qualquer baculovírus precisam ser in-
geridas pela lagarta, durante a raspagem das folhas
que foram tratadas com o bioagente.
As lagartas são mais suscetíveis à infecção viral
durante os primeiros estágios larvais. Após ingestão,
as partículas virais (vírions) chegam ao intestino mé-
dio do inseto, onde são expostas a um pH altamente
alcalino (em torno de 11) que dissolve a poliedrina
(proteína que envolve o vírion), liberando-as no Figura 8. Lagarta infectada por vírus
lúmen digestivo. As partículas infectivas penetram entomopatogênico

431
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

células da epiderme e adiposas, parada penduradas nas folhas (Figura 8), com
no desenvolvimento larval e diminuição o corpo escurecido e o tegumento flá-
de movimentos. Quando a infecção está cido, ocorrendo posteriormente a rup-
em fase avançada, as lagartas tornam- tura do tegumento com extravasamen-
-se pálidas e morrem no ápice das plan- to do conteúdo interno das lagartas
tas, sendo normalmente observadas (Figura 9).

(Imagem: P. Silvie)

Figura 9. Lagarta infectada por vírus entomopatogênico

Atualmente existem 22 produtos ocorra o alvo biológico (Tabela 4). En-


à base de baculovírus registrados no tre esses produtos, também podem
Mapa para o controle de lepidópte- ser encontrados mixes de baculovírus
ros-praga e podem ser utilizados na (misturas de dois e até quatro bacu-
cultura do algodão, pois estão regis- lovírus juntos na mesma formulação)
trados para qualquer cultura onde (Tabela 4).

Tabela 4. Bioinseticidas virais: alvo biológico, ingrediente ativo e tipo de formulação disponível
para a cultura do algodão (MAPA, 2019)

Alvo biológico - nome comum (nome cien- *Tipo de


Ingrediente ativo
tífico) formulação

Lagarta-falsa-medideira Chrysodeixis includens nucleo-


(Chrysodeixis includens) polyhedrovirus (ChinNPV)

Autographa californica nucleo-


polyhedrovirus (AcMNPV)

Helicoverpa armigera nucleo-


SC
polyhedrovirus (HearSNPV)
Lagarta-do-algodão
(Helicoverpa armigera)
Helicoverpa zea single nucleo-
polyhedrovirus (HzSNPV)

Helicoverpa zea nucleopolyhe-


drovirus (VPN-HzSNPV)

Continuacão -->

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Tabela 4. Continuação
*Tipo de
Alvo biológico - nome comum (nome científico) Ingrediente ativo
formulação

Spodoptera frugiperda multiple nucleo-


Lagarta-do-cartucho/Lagarta-militar (Spodoptera WP e SC
polyhedrovirus (SfMNPV)
frugiperda)
Lagarta-do-algodão Helicoverpa armigera nucleopolyhedrovirus
(Helicoverpa armigera) (HearSNPV)
Lagarta-falsa-medideira Chrysodeixis includens nucleopolyhedrovirus
(Chrysodeixis includens) (ChinNPV)
Lagarta-falsa-medideira Autographa californica nucleopolyhedrovirus
(Chrysodeixis includens) (AcMNPV) SC
Lagarta-do-algodão Chrysodeixis includens nucleopolyhedrovirus
(Helicoverpa armigera) (ChinNPV)
Lagarta-do-cartucho/Lagarta-militar (Spodoptera Helicoverpa armigera nucleopolyhedrovirus
frugiperda) (HearSNPV)
Lagarta-das-folhas Spodoptera frugiperda multiple nucleo-
(Spodoptera eridania) polyhedrovirus (SfMNPV)
* WP = pó molhável; SC = suspensão concentrada.

Produtos à base de baculovírus têm sido utili- 1990, o Brasil foi palco do maior programa de uso
zados extensamente na agricultura. Cerca de 30% de baculovírus no mundo, tratando mais de 2 mi-
das infecções causadas por insetos nas lavouras, lhões de hectares com o baculovírus para contro-
podem ser controlados por baculovírus. Nos anos le da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis).

IMPORTANTE

Ao decidir pelo uso de baculovírus em sua lavoura, o produtor deve levar em consideração algumas
informações relevantes para a obtenção de um bom resultado:

• Assim como os demais produtos biológicos, os produtos baculovírus são altamente sensíveis à
radiação ultravioleta (UV). Dessa forma, é essencial que as aplicações sejam realizadas no final da
tarde, quando os raios UV diminuem drasticamente;
• A poliedrina, proteína que encapsula as partículas virais dos baculovírus, é muito resistente. Já
se constatou viabilidade de baculovírus no solo, durante meses ou mesmo um ano. Entretanto,
há um ponto fraco: a poliedrina é rapidamente destruída em meio alcalino. Portanto, a calda de
aplicação deve ser levemente ácida ou neutra (pH entre 4 e 7);
• As folhas do algodoeiro excretam substâncias alcalinas. Deve-se, portanto, usar produtos na calda
que mantenham o pH ácido;
• É fundamental posicionar as aplicações de baculovírus no momento correto em relação ao ta-
manho das lagartas, pois elas conseguem chegar ao estádio de pupa e dar continuidade ao ciclo
reprodutivo se forem infectadas por baculovírus tardiamente;
• Resultados de laboratório e a campo indicam que é possível obter mortalidade de mais de 95% em
lagartas de 1-2 dias de vida e cerca de 75% em lagartas com 5 dias de vida (cerca de 1 cm de compri-
mento). Aplicações realizadas para lagartas com mais de cinco dias não terão o controle esperado.

1.4 Parasitoides organismo, completam seu ciclo de vida neste


Os inimigos naturais têm papel importante mesmo organismo, levando-o à morte. As larvas
como reguladores da população de insetos-pra- dos parasitoides apresentam hábito parasítico, sen-
ga. Os parasitoides são insetos que parasitam um do essas o agente biocontrolador; os adultos são de

433
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

vida livre (alimentam-se de néctar, pó- são endoparasitoides de ovos de lepi-


len etc.). dópteros‐praga como o curuquerê-do-
As larvas dos parasitoides desen- -algodoeiro Alabama argillacea.
volvem-se na superfície ou no interior No Brasil, estão registrados sete
do corpo do hospedeiro, podendo ser produtos comerciais à base de para-
classificadas como ectoparasitoides sitoides que podem ser liberados na
(superfície) ou endoparasitoides (inte- cultura do algodoeiro para o controle
rior). Por exemplo, Catolaccus grandis biológico de lagartas, pois estão re-
(Hymenoptera: Pteromalidae) é um gistrados para qualquer cultura onde
ectoparasitoide da larva do bicudo- ocorra o alvo biológico (Tabela 5). Es-
-do-algodoeiro Anthonomus grandis ses produtos possuem como agente
(Coleoptera: Curculionidae). Por outro de controle o parasitoide Trichogram-
lado, muitas espécies de Trichogramma ma pretiosum Riley (Hymenoptera: Tri-
(Hymenoptera: Trichogrammatidae) chogrammatidae).

Tabela 5. Parasitoide: alvo biológico, ingrediente ativo e tipo de formulação disponível para a
cultura do algodão (MAPA, 2019)

Alvo biológico - nome comum (nome cien- Tipo de


Ingrediente ativo
tífico) formulação

Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)


Lagarta-das-maçãs (Helicoverpa zea) Trichogramma pretiosum Insetos vivos
Lagarta-falsa-medideira (Chrysodexi includens)

Insetos do gênero Trichogramma são dependerá da pressão de mariposas no


vespas que parasitam os ovos dos prin- campo, sendo necessárias, no mínimo,
cipais lepidópteros-praga da cultura do duas liberações, com intervalos de qua-
algodão. A eficiência do parasitismo de tro dias. Após serem liberadas, as fêmeas
Trichogramma, visando a contenção de de Trichogramma spp. localizam os ovos
surtos populacionais do complexo de la- das pragas e depositam neles seus ovos;
gartas das maçãs, está entre 70-80% para as larvas do parasitoide alimentam-se do
as lagartas da subfamília Heliothinae. No conteúdo interno dos ovos. Depois de
entanto, esse percentual pode mudar de- 8-10 dias ocorre a emergência dos adul-
pendendo dos demais componentes do tos de Trichogramma spp. no lugar das
sistema de produção. lagartas, resultando na diminuição da po-
O sucesso da utilização de Trichogram- pulação da praga.
ma spp. no controle de lagartas está in-
timamente ligado ao monitoramento 1.5 Predadores
das lavouras, com intuito de detectar a Os predadores atacam, matam e ali-
chegada das mariposas e o início das mentam-se de suas presas. Diferente-
posturas; com esse conhecimento é pos- mente dos parasitoides, os predadores
sível determinar o momento ideal para são indivíduos de vida livre, tanto na fase
as liberações. O número de liberações larval como na adulta e apresentam como

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característica a necessidade de um grande número para qualquer cultura em que ocorra o alvo biológi-
de presas para completar o seu ciclo de vida. co. Os agentes biológicos são o percevejo predador
Seis produtos registrados no mapa podem ser Orius insidiosus e duas espécies de ácaros predado-
liberados na cultura do algodoeiro para o contro- res, Neoseiulus californicus e Phytoseiulus macropilis
le de tripes ou ácaro-rajado, pois estão registrados (Tabela 6).

Tabela 6. Predadores: alvo biológico, ingrediente ativo e tipo de formulação disponível para a cultura do algodão
(MAPA, 2019)

Tipo de
Alvo biológico - nome comum (nome científico) Ingrediente ativo
formulação

Tripes (Frankliniella occidentalis) Orius insidiosus Insetos vivos

Neoseiulus californicus
Ácaro-rajado (Tetranychus urticae) Ácaros vivos
Phytoseiulus macropilis

Assim como para os parasitoides, um fator im- age alimentando-se de todos os estágios de de-
portante para a obtenção de um bom resultado dos senvolvimento do ácaro-rajado (ovo, larva, ninfas e
predadores em campo é a realização de um progra- adultos) (Figura 12). Cada fêmea adulta desse preda-
ma de monitoramento para que a introdução dos dor chega a consumir quarenta ovos da praga por
predadores na lavoura seja realizada no início da in- dia. Para tripes, são recomendadas doses de 15 mil
festação da praga-alvo. a 20 mil predadores por hectare, com reaplicação
Para o ácaro-rajado (Figura 10) a liberação deve após quinze dias. Orius insidiosus fica na parte aérea
ser feita quando forem observados cinco ou mais das plantas e se alimenta dos estágios ninfais de tri-
ácaros por folha. Phytoseiulus macropilis (Figura 11) pes (Figura 13).
(Imagem: M. E. Sato)

Figura 10. Ácaro-rajado, fêmeas adultas e ovos

435
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: M. Z. da Silva)

Figura 11. Ácaro predador Phytoseilus macropilis, fêmea adulta


(Imagem: M. Z. da Silva)

Figura 12. Phytoseilus macropilis atacando ácaro-rajado

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(Imagem: https://promip.agr.br/manejo-integrado-de-tripes/)

Figura 13. Percevejo Orius insidiosus predando ninfa de tripes (Frankliniella


occidentalis)

Existem diversos parasitoides e predadores que patogênico para controlar um microrganismo


ocorrem comprovadamente na cultura do algo- patogênico é um exemplo simplificado do que
doeiro. No entanto, neste manual foram destaca- ocorre no controle biológico de doenças de
dos apenas aqueles que são registrados no Mapa e plantas. Assim, falamos em controle biológico
podem ser adquiridos no mercado nacional. de doenças todas as vezes que nos referimos à
redução de características do patógeno, como
2. Controle biológico de doenças e nematoides crescimento, infectividade, agressividade, viru-
do algodão lência etc., por meio de outro microrganismo
A utilização de um microrganismo não (Figuras 14 e 15).
(Imagem: R. Galbieri)

Figura 14. Plântulas de algodoeiro inoculadas com Rhizoctonia solani, em


condições de casa de vegetação, à esquerda não tratadas e à direita trata-
das com Trichoderma asperellum

437
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

(Imagem: T. Rêgo)

Figura 15. Confronto direto entre fitopatógenos (esquerda) e Trichoderma (direita)

O gênero Trichoderma é reconhecido indutores de resistência e promotores


como o principal grupo de agentes de de crescimento vegetal (Tabela 7).
controle biológico de doenças de plan- Os mecanismos de ação diretos uti-
ta. São microrganismos de vida livre, lizados por Trichoderma spp. contra
frequentemente encontrados em solos fitopatógenos são: antibiose, competi-
de regiões de clima temperado e tropi- ção e parasitismo (Tabela 7). Essa diver-
cal. Fungos desse gênero são conside- sidade de estratégias de sobrevivência
rados altamente versáteis, pois além de torna as espécies de Trichoderma al-
desempenharem atividade como agen- tamente competitivas no ambiente e
tes de controle biológico de doenças de com boa capacidade de multiplicação
plantas, podem também atuar como na rizosfera.

Tabela 7. Mecanismos de ação dos agentes de controle biológico e conceitos

Mecanismo Conceito

Interação na qual um ou mais metabólitos produzidos por um organis-


Antibiose
mo têm efeito nocivo sobre o outro.

Processo referente à interação entre dois ou mais organismos empe-


Competição nhados na mesma ação. Podem competir entre si para obter nutrientes,
água, luz, espaço, fatores de crescimento, oxigênio, entre outros.
Relação nutricional entre dois organismos em que um deles, o parasita,
Parasitismo obtém todo ou parte de seu alimento à custa do outro organismo, o
hospedeiro.
Ativação de rotas de percepção da presença de fitopatógenos em
Indução de resistência potencial e de rotas de sinalização bioquímica envolvidas na síntese de
componentes de resistência da planta.
Produção de hormônios ou fatores de crescimento, maior eficiência no
Promoção de
uso de alguns nutrientes e aumento da disponibilidade e absorção de
crescimento
nutrientes pela planta.

438
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2012

O controle biológico de doenças de plantas sária a integração com outras medidas fitossanitá-
também pode ser realizado por bactérias. As rias (ex.: fungicidas químicos).
espécies antagônicas B. subtilis e B. amylolique-
fasciens são um bom exemplo desse grupo. Ha- 2.1 Fungicida microbiológico (biofungicida)
bitantes natural do solo, essas bactérias agem Atualmente, 23 biofungicidas são registrados
principalmente pela produção de antibióticos no Mapa e podem ser utilizados na cultura, pois
(ex.: iturina A, sufactina e fengicina), que interfe- estão registrados para qualquer cultura onde
rem no crescimento micelial de fungos. Ocasio- ocorra o alvo biológico. Destes, 70% (dezesseis
nalmente, elas podem também agir por parasi- produtos) possuem ingrediente ativo fúngico,
tismo e competição. 26% (seis produtos) ingrediente ativo à base de
bactéria e 4% (um produto) ingrediente ativo fun-
IMPORTANTE: o uso de agentes biológicos no go + bactéria. O ativo fúngico é representado por
manejo de doenças no campo não deve ser con- duas espécies do gênero Trichoderma (T. asperel-
siderado isoladamente, mas como um método lum e T. harzianum), o ativo bacteriano é compos-
dentro do manejo integrado de doenças, pois es- to pela bactéria Bacillus subtilis e o ativo fungo +
ses bioagentes não impedem, completamente, o bactéria composto pelas espécies T. harzianum e
surgimento das doenças na lavoura, sendo neces- Bacillus amyloliquefaciens (Tabela 8).

Tabela 8. Biofungicidas: alvo biológico, ingrediente ativo e tipos de formulações disponíveis para a cultura do algodão
(MAPA, 2019)

*Tipo de
Alvo biológico - nome comum (nome científico) Ingrediente ativo
formulação
Mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum)
Podridão radicular, rizoctoniose, tombamento Trichoderma asperellum WG, WP e EC
(Rhizoctonia solani)

Mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum)


Murcha-de-fusarium (Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici)
WG, WP, SC e
Podridão aquosa (mela), podridão radicular, tombamento
Trichoderma harzianum GL
(Rhizoctonia solani)
Podridão-cinzenta-do-caule (Macrophomina phaseolina)

Mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) Trichoderma harzianum + Bacillus


WP
Podridão radicular (Rhizoctonia solani) amyloliquefaciens

Mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum)


Bacillus subtilis SC
Rizoctoniose, tombamento (Rhizoctonia solani)

Mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum)


Bacillus amyloliquefaciens WG e WP
Rizoctoniose, tombamento (Rhizoctonia solani)

*WG = granulado dispersível; WP = pó molhável; EC = concentrado emulsionável; SC = suspensão concentrada; GL = gel emulsionável.

A aplicação desses produtos deve ser realizada semeadura. Já para Sclerotina sclerotiorum (mofo
sempre de forma preventiva, ou seja, antes que branco), por conta da produção de escleródios,
a doença apareça ou se alastre no campo; o mo- estrutura de resistência desse fungo, o ideal é que
mento e a forma de aplicação dos produtos bio- as aplicações sejam feitas após a emergência das
lógicos variam de acordo com o alvo biológico. plantas e antes do fechamento das entrelinhas,
Para patógenos de solo, como Rhizoctonia solani pois nesse período há maior probabilidade de
e Fusarium spp., recomenda-se que seja feito o atingir os escleródios presentes no solo.
tratamento de sementes ou a aplicação durante a É importante lembrar que esses produtos terão

439
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

melhor eficiência se aplicados sob con- de plantio como, por exemplo, Bacillus
dições climáticas favoráveis ao agen- amyloliquefaciens, o bioagente coloniza
te de controle biológico. Dessa forma, o sistema radicular da planta, alimen-
recomenda-se que as aplicações sejam tando-se dos exsudatos radiculares.
realizadas em dias nublados, com alta Após a colonização do tecido, B. amylo-
umidade relativa, ao fim da tarde, com liquefaciens sintetiza várias toxinas e an-
solo úmido e/ou com possibilidade de tibióticos que serão liberados no solo,
ocorrência de chuva posterior. formando uma “capa” protetora em vol-
ta do sistema radicular da planta. Uma
2.2 Nematicida microbiológico vez modificadas as características quí-
(bionematicida) micas na região da rizosfera pela bac-
O controle de populações de fitone- téria, os nematoides não reconhecem
matoides é bastante complexo, sendo os exsudatos radiculares e, consequen-
necessária a combinação de diferentes temente, não conseguem penetrar nas
medidas para um manejo eficiente des- raízes.
te fitopatógeno. Uma vez introduzido Atualmente, o uso de bionematici-
na área, a eliminação desse organismo das já pode ser visto como um método
é muito difícil, devendo o produtor de manejo de nematoides na cultura
aprender a conviver com ele. Dentre os do algodoeiro, tendo grande potencial
diversos inimigos naturais comumente quando associado a outros métodos
encontrados nos solos, os que apresen- de controle como o genético e/ou cul-
tam maior potencial como agentes de tural. Existem no mercado nacional 22
controle biológico de nematoides são bionematicidas registrados no Mapa e
as bactérias e os fungos. podem ser utilizados na cultura, pois
Os nematoides são orientados qui- estão registrados para qualquer cultu-
micamente por exsudatos produzidos ra onde ocorra o alvo biológico. Esses
pelas raízes das plantas. Assim, quando nematicidas microbiológicos possuem
um produto bionematicida é inocula- como ingrediente ativo fungo, bactéria
do na semente ou aplicado via sulco ou fungo + bactérias (Tabela 9).

Tabela 9. Bionematicidas: alvo biológico, ingrediente ativo e tipos de formulações disponíveis


para a cultura do algodão (MAPA, 2019)

Alvo biológico - nome comum (nome cien- *Tipo de


Ingrediente ativo
tífico) formulação

1Purpureocillium lilacinum (2
WP, SC e GL
Paecilomyces lilacinus
Nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita)
Bacillus amyloliquefaciens SC

Bacillus methylotrophicus SC

Nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylen-
Bacillus amyloliquefaciens SC
chus brachyurus)

Trichoderma harzianum WG

Continuacão -->

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Tabela 9. Continuação
*Tipo de
Alvo biológico - nome comum (nome científico) Ingrediente ativo
formulação

Bacillus licheniformis + Bacillus subtilis WS

B. licheniformis + B. subtilis + 1Purpureo-


WP
cillium lilacinum (2 P. lilacinus)
Nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita)
Nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus bra- Bacillus firmus SC
chyurus)
1
Purpureocillium lilacinum (2 P. lilacinus) WP

Trichoderma koningiopsis WG

Nomenclatura atual após reclassificação. 2Nomenclatura antiga, que ainda pode ser encontrada em rótulos e bulas. *WP = pó molhável; GR
1

= granulado; EC = concentrado emulsionável; SC = suspensão concentrada; GL = gel emulsionável; SL = concentrado solúvel.

IMPORTANTE
O elevado número de produtos comerciais à base de agentes de controle biológico que vêm sendo
registrados recentemente tem contribuído para a difusão da técnica no setor produtivo. O uso desses
produtos tem sido cada vez mais frequente nas lavouras de algodão e um grande número de pro-
priedades rurais tem investido até mesmo na criação de biofábricas próprias, visando à produção dos
próprios agentes de controle biológico – sistema conhecido como produção on farm. Entretanto, é
importante chamar atenção para a necessidade do controle de qualidade do processo de produção
de agentes de controle biológico para garantir a eficiência do método, especialmente nos sistemas
de produção on farm. Lana et al. (2019), em levantamento realizado recentemente para avaliar a
qualidade de biopesticidas a base de Bt produzidos on farm, observaram que 97,5% das colônias
avaliadas não se tratavam de Bt. Em razão do baixo controle de qualidade das biofábricas “caseiras”,
as amostras apresentaram elevados índices de contaminação por outras espécies patogênicas, sendo
ineficientes como biopesticidas e oferecendo riscos à saúde humana.

MICRORGANISMOS ENDOFÍTICOS
Os microrganismos endofíticos são seres que vivem no interior de tecidos vegetais e não causam danos apa-
rentes a seu hospedeiro. Atualmente, atenção considerável tem sido dada a esses agentes, com a realização de
um grande número de estudos envolvendo questões relacionadas à simbiose entre endofíticos e plantas hos-
pedeiras, bem como às funções destes microrganismos que favorecem o hospedeiro, como proteção contra
patógenos, promoção do crescimento das plantas (solubilização de fosfato, fixação de nitrogênio, produção
de reguladores vegetais), proteção contra o estresse hídrico e proteção contra insetos herbívoros.
Como isso acontece? A partir de uma relação coevolutiva endofítico-planta, o microrganismo endofítico
recebe nutriente e proteção da planta e, em contrapartida, esse agente adquiriu a capacidade de auxiliar na
proteção e no desenvolvimento da planta hospedeira.

441
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Considerações finais não utilização de inseticidas e fungicidas


O algodoeiro é atacado por uma uma realidade ainda distante. Mesmo
ampla gama de artrópodes-praga; por assim, os esforços devem continuar con-
outro lado, também é grande a quanti- centrados na busca de alternativas que
dade de agentes de controle biológico permitam a integração dos diferentes
presente naturalmente nesse agroecos- métodos de controle que compõem o
sistema. Mesmo com o número elevado manejo integrado de doenças e pragas.
de aplicações de defensivos na cultura, O emprego e o desenvolvimento de no-
a comunidade de inimigos naturais vos produtos seletivos, os estudos sobre
desempenha papel importante na re- o comportamento das pragas e inimigos
dução populacional das pragas. Sen- naturais (de modo a evitar aplicações
do assim, estratégias que permitam a em horários de forrageamento dos ini-
manutenção desses organismos bené- migos naturais.) etc., são fundamentais
ficos nos sistemas agrícolas devem ser para possibilitar o emprego das diversas
preconizadas. No entanto, o controle estratégias de controle de forma har-
químico para a cultura do algodoeiro mônica, permitindo maior eficiência no
ainda apresenta papel fundamental no controle de doenças e pragas na cultura
manejo de pragas e doenças, sendo a do algodoeiro.

Referências bibliográficas: encontram-se no final do manual. Mais informações,


entrar em contato com os autores

442
AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

443
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Referências bibliográficas

A seguir as referências bibliográficas de diversos capítulos do Manual de Boas Práticas

Parte A

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Parte B

Solos e sistemas de produção para o algodoeiro

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6 Manejo de solo para o cultivo do algodoeiro
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8 Levantamento da área, amostragem de solo e de folhas

Parte C

A planta de algodão

9 Crescimento do algodoeiro
10 Distribuição da produção no algodoeiro: conceitos, fatores ecofisiológicos e implicações
sobre a produtividade e sobre a qualidade de fibra

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Parte D

Implantação da lavoura de algodão

11 A qualidade das sementes


12 Escolha da variedade
13 Implantação da cultura

BOLETIM TÉCNICO DE RESULTADOS. [ Montevidiu] : Instituto Goianio de Agricultura, Ano 1, n°1, novembro 2018.

Parte E

Condução da lavoura

14 Correção de solo e adubação da cultura


15 Tecnologia de aplicação para a cultura do algodão
16 Sistemas avançados de tecnologia de aplicação na defesa fitossanitária

CENTRO BRASILEIRO DE BIOAERONÁUTICA. Compendio de Aviação Agrícola; Edt. CBB, 4a Edição. 2017.

CENTRO BRASILEIRO DE BIOAERONÁUTICA. Manual de Operação e Manutenção do Turboaero modelo TA88D-8

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17 Manejo de plantas daninhas na cultura do algodão


18 Controle de doenças no algodoeiro em Mato Grosso
19 Manejo integrado de pragas em algodoeiro

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20 Manejo de nematoides na cultura do algodão em Mato Grosso


21 Manejo de reguladores de crescimento
22 Manejo de desfolha
23 Destruição dos restos culturais do algodoeiro

Parte F

Produção de uma fibra de qualidade

24 Maximizar a rentabilidade do cultivo algodoeiro, produzindo uma fibra de


qualidade e valorizando os coprodutos
25 Uso adequado das colheitadeiras
26 Preservar a qualidade da fibra no beneficiamento
27 A fibra de algodão: qualidade e classificação
28 Valorização dos coprodutos do algodão

Parte G

Manejo sustentável do cultivo algodoeiro

29 Como limitar o impacto do cultivo do algodoeiro sobre o meio ambiente

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TAMAI, M. A; ALVES, S. B.; LOPES, R. B.; FAION, M.; PADULLA, L. F. L. Toxicidade de produtos fitossanitários para
Beauveria bassiana. Arquivos Instituto Biológico. 69: 89-96; 2002.

VALICENTE, F.H.; TUELHER, E. S. Controle Biológico da lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda, com Baculovirus.
Sete Lagoas: Embrapa, 14p. Circular técnica, 114. 2009.

449
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

Informações sobre os autores do “Manual de Boas Práticas”

Introdução

Jean-Louis René Bélot


Engenheiro agrônomo, mestre e doutor-engenheiro em agronomia pela ENSA
Montpellier, França. Melhorista algodão no Centre de Coopération Internationale
en Recherche Agronomique pour le Développement (Cirad) de 1984 a 2008, com
experiência na África e na América Latina. Foi coordenador da equipe de pesquisa
algodão do Cirad no Cone Sul Americano, do Programa Algodão da Cooperativa
Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec) e da unidade de pesquisa UR10 do Cirad.
Atualmente, é pesquisador/melhorista do IMAmt em Primavera do Leste/MT e
coordenou os aspectos técnicos do Programa de Qualidade da Fibra da Ampa entre
2014 e 2019 (jeanbelot@imamt.org.br).

Patricia Maria Coury de Andrade Vilela


Engenheira agrônoma pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e mestre
em Agricultura Tropical pela mesma universidade, com linha de pesquisa em
Microbiologia do Solo. Trabalhou no programa de melhoramento de algodão da
Coodetec até 2007 e, depois, no Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt),
como coordenadora do projeto de supressão do bicudo-do-algodoeiro. Atualmente,
é coordenadora do programa de melhoramento algodão no IMAmt em Primavera
do Leste/MT e do projeto de publicações, vídeos informativos e encarregada dos
orçamentos dos projetos de pesquisa do IMAmt (patriciavilela@imamt.org.br).

Parte A. Contexto edafoclimático e econômico para o cultivo algodoeiro

1. O cultivo algodoeiro em Mato Grosso

Renato Tachinardi
Engenheiro agrônomo e zootecnista formado em 1989, pela Faculdade de
Agronomia e Zootecnia “Manoel Carlos Gonçalves”, Espírito Santo do Pinhal/SP, com
especialização em Gestão e Manejo Cultural do Algodão - IFMT, 2008. Trabalhou
em diversas fazendas de Mato Grosso e, desde 2006, é assessor técnico regional do
Instituto Mato-grossense do Algodão em Campo Verde e coordenador da equipe dos
ATRs (renato.tachinardi@ampa.com.br).

2. Produtividade do cultivo algodoeiro em Mato Grosso - chuva, solo e época de plantio

José Holanda Campelo Júnior


Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Ceará, mestre em Agrometeorologia
e doutor em Solos e Nutrição de Plantas pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (Esalq/USP), em 1985. Tem experiência e atuação na área de Agronomia, com
ênfase em Agrometeorologia. Atualmente, é professor titular do Departamento de Solos
e Engenharia Rural da Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) (campelo@ufmt.br).

Ricardo Santos Silva Amorim


Engenheiro agrícola pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre
e doutor em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, em 2003. Tem
experiência e atuação na área de Agronomia, com ênfase em Engenharia Agrícola,
conservação do solo e da água, atuando principalmente em manejo e conservação de
bacias e modelos de erosão hídrica. Atualmente, é professor adjunto do Departamento
de Solos e Engenharia Rural da Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e
Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) (rsamorim@cpd.ufmt.br).

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3. Gestão operacional e custo de produção de algodão em Mato Grosso

Lucilio Rogerio Aparecido Alves


Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (2000), mestrado (2002) e doutorado (2006) em Ciências (Economia Aplicada) pela
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/
USP). Tem experiência na área de Economia, atuando principalmente nos seguintes
temas: gestão do negócio agropecuário, comercialização agrícola, economia agrícola e
métodos quantitativos. Atualmente, é professor doutor do Departamento de Economia,
Administração e Sociologia da Esalq/USP e pesquisador do Centro de Estudos Avançados
em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) para fibras (algodão), grãos (soja, milho e trigo)
e raízes (mandioca, fécula e farinha) (lralves@usp.br).

Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros


É graduado em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (Esalq/USP), em 1970, mestre em Economia Agrária pela mesma universidade
(1973) doutor em Economia pela North Carolina State University at Raleigh (1976)
e pós-doutorado na University of Minnesotta (1989). Tem experiência nas áreas de
Macroeconomia, Agronegócio-Agroenergia, Comercialização, Política Agrícola e Economia
Internacional. É ex-presidente da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
(Sober) e consultor frequente do World Bank, Food and Agriculture Organization (FAO) e
da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Atualmente, é professor titular da Universidade
de São Paulo e coordenador científico do Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada (Cepea) (gscbarro@usp.br).

Mauro Osaki
Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),
mestre em Ciência Econômica Aplicada pela Escola Superior da Agricultura “Luiz de
Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e engenheiro agrônomo pela
Universidade Federal do Paraná. Atualmente, é técnico especialista superior do
Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq/USP e pesquisador do
Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), concentrando os
estudos na área de pesquisa de gestão de propriedade rural e análise do panorama de
mercado do setor de grãos e fertilizantes. Membro do Agribenchmark Cash Crop, apoiado
pelo instituto Johann Heinrich von Thünen-Institut (vTI) da Alemanha (mosaki@usp.br).

Fabio Francisco de Lima


Possui graduação em Agronomia pela Universidade Estadual de Maringá (2010),
especialização em MBA em Agronegócio pela Universidade de São Paulo (2012) e
mestrado em Administração pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
(Esalq) da USP (2018). Atualmente é pesquisador do Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada (Cepea/Esalq). Tem experiência na área de Economia agrícola, com
ênfase em grãos e algodão.

Parte B. Solos e sistemas de produção para o algodoeiro

4. Sistemas de cultivo do algodoeiro

Leandro Zancanaro
Engenheiro agrônomo, mestre em Ciências do Solo pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é pesquisador e gestor do Programa de
Monitoramento de Adubação (PMA) da Fundação MT & Manejo de Sistemas de
Produção, Rondonópolis/MT (leandrozancanaro@fundacaomt.com.br).

Claudinei Kappes
Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Agronomia, com especialidade em Sistemas
de Produção, pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp,
Câmpus de Ilha Solteira). Atualmente, é pesquisador do Programa de Monitoramento de
Adubação (PMA) da Fundação MT & Manejo de Sistema de Produção, Rondonópolis/MT
(claudineikappes@fundacaomt.com.br).

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

5. Sistemas alternativos em plantio direto de alta performance

Lucien Seguy
Engenheiro agrônomo formado na Escola Nacional Superior de Agronomia
de Toulouse (Ensat), França, especializado em pedologia no Office de la
Recherche Scientifique et Technique d’Outre Mer (Orstom), em 1967. Fez
carreira de engenheiro de pesquisa no Centre de Coopération Internationale
en Recherche Agronomique pour le Développement (Cirad) de 1968 a 2009,
trabalhando na área de sistemas agrícolas e de melhoramento de arroz na
África (Senegal e República dos Camarões), entre 1968 e 1977, e no Brasil,
entre 1977 e 2009. Trabalhou com Emapa, Embrapa, Rhodia, Agronorte,
USP, UEPG, IMAmt e com entidades privadas e cooperativas na montagem
do plantio direto na palha nos Cerrados e no melhoramento de cultivares
de arroz. Difundiu essas tecnologias no mundo tropical (Ásia, África).
Atualmente, é consultor independente (seguy@wanadoo.fr).

Serge Bouzinac
Engenheiro agrônomo formado na Escola Nacional Superior de Agronomia
de Toulouse (Ensat), França, em 1976. Trabalha no Centre de Coopération
Internationale en Recherche Agronomique pour le Développement (Cirad)
desde 1978, no Brasil, com a equipe de L. Séguy, na área de sistemas
agrícolas e de melhoramento de arroz de sequeiro. Atualmente, está sediado
em Goiânia/GO, em marco do projeto Garp com a Embrapa (influência do
manejo do solo sobre a brusone do arroz), conduzindo trabalhos sobre
melhoramento do arroz com o IMAmt (sbouzinac@bol.com.br).

6. Manejo de solo para o cultivo do algodoeiro

Leandro Zancanaro (confere capítulo 4)

Claudinei Kappes (confere capítulo 4)

7. Agricultura de precisão: tecnologias para o algodoeiro

Ziany Neiva Brandão


Engenheira eletrônica e de telecomunicações. Possui mestrados em
Automação Elétrica pela Universidade de Campinas (Unicamp) e em
Comunicações Ópticas pela Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG). Doutora em Sensoriamento Remoto Aplicado à Agricultura pela
UFCG. Atualmente, é responsável pela área de sensoriamento remoto
da Embrapa Algodão e membro das Redes de Agricultura de Precisão
e Monitoramento do estoque de Carbono em Florestas por meio de
Sensoriamento Remoto (ziany.brandao@embrapa.br).

Álvaro Vilela Resende


Engenheiro agrônomo. Possui mestrado e doutorado em Solos e Nutrição de
Plantas pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Atualmente, é docente
na pós-graduação em Ciência do Solo da UFLA e na pós-graduação em
Ciências Agrárias da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Sete
Lagoas. Exerce a função de gestor do núcleo de pesquisa de Água, Solo e
Sustentabilidade Ambiental da Embrapa Milho e Sorgo. Coordenador das
equipes de culturas anuais dentro da Rede de Agricultura de Precisão da
Embrapa (alvaro.resende@embrapa.br).

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Célia Regina Grego


Possui graduação em Engenharia Agronômica (1996) pela Faculdade de Engenharia de
Ilha Solteira da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Concluiu
Mestrado (1999) e doutorado (2002) em Agronomia, área de Energia na Agricultura,
Departamento de Engenharia Agrícola, pela Faculdade de Ciências Agronômicas de
Botucatu da Unesp. Realizou pós-doutorado no Instituto Agronômico de Campinas
(2006), na área de Geoestatística aplicada ao Manejo e Conservação do Solo. Atualmente,
é pesquisadora na Embrapa Informática Agropecuária na área de Métodos Quantitativos
Avançados, subárea Geoestatística, atuando principalmente nos seguintes temas:
agricultura de precisão, variabilidade espacial do solo e espacialização de dados
agropecuários (celia.grego@embrapa.br).

Eduardo Antônio Speranza


Bacharel em Ciências de Computação pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de
Computação da Universidade de São Paulo (ICMC/USP). Mestre em Engenharia Elétrica
pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Doutor em Ciência da Computação
pelo Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos (DC/
UFSCar). Atuação na Coordenação Geral de Tecnologia da Informação do Ministério
da Agricultura (Mapa), na gestão de sistemas corporativos. Atualmente, é analista de
sistemas da Embrapa Informática Agropecuária, atuando no desenvolvimento de
sistemas de informações geográficas, bancos de dados espaciais e mineração de dados
espaciais para agricultura de precisão (eduardo.speranza@embrapa.br).

8. Levantamento da área, amostragem de solo e de folhas

Leandro Zancanaro (confere capítulo 4)

Claudinei Kappes (confere capítulo 4)

Parte C. A planta de algodão

9. Crescimento do algodoeiro

Ciro Antonio Rosolem


Graduado em Agronomia em 1973, mestre em Agronomia (Solos e Nutrição de
Plantas) em 1978 e doutor em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) em 1979,
pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo
(Esalq/USP). Cientista visitante da Universidade da Califórnia, Davis, em 1984/85. Foi
fundador, diretor e diretor-presidente da Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas
e Florestais. Foi diretor do Instituto de Pesquisas Meteorológicas da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Foi coordenador da área de
agrárias da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) de 1995
a 2007. É professor titular de Agricultura na Faculdade de Ciências Agronômicas da
Unesp. Foi vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e é membro
do International Plant Nutrition Council. Vice-Presidente do Conselho Científico Agro
Sustentável (CCAS). Tem experiência na área de Agricultura, com ênfase em fertilidade
do solo, adubação, fisiologia aplicada, crescimento radicular, sistemas de produção
agrícola, rotação de culturas e ciclagem de nutrientes, atuando principalmente
nas culturas do algodão, soja, plantas de cobertura e integração lavoura-pecuária.
Departamento de Produção e Melhoramento Vegetal - Faculdade de Ciências
Agronômicas/Unesp-Botucatu/SP (rosolem@fca.unesp.br).

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

10. Distribuição da produção no algodoeiro: conceitos, fatores ecofisiológicos e


implicações sobre a produtividade e sobre a qualidade de fibra

Juan Piero Antonio Raphael


Engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da
Universidade de São Paulo (Esalq/USP), Piracicaba/SP. Mestre e Doutor em Agronomia
pela Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu/SP, conduzindo estudos fitotécnicos relacionados
à cultura do algodoeiro. Integrante do Grupo de Estudos do Algodão da Esalq/USP
(2008–2010) e da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) (2016-atual). Atuou
em atividades de pesquisa em ecofisiologia e melhoramento genético de algodão,
nutrição mineral de plantas e manejo do solo em sistemas de produção (juanpiero1@
gmail.com).

Fábio R. Echer
Engenheiro Agrônomo pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat),
Tangará da Serra, 2006; Mestre em Agronomia pela Universidade do Oeste Paulista
(Unoeste), 2008; Doutor em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agronômicas
(FCA) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Botucatu/
SP, 2012, com período “sanduíche” na Universidade do Arkansas (2011-2012). Foi
pesquisador do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt), onde coordenou
o Laboratório de Fisiologia. Pós-Doutor com bolsa do CNPq (FCA/Unesp, 2017).
Especialista em Fisiologia do Algodão. Atualmente é Professor na Unoeste, Presidente
Prudente/SP, nos cursos de graduação, mestrado e doutorado em Agronomia e
vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Agronomia. Líder do Grupo
de Estudos do Algodão (GEA-Unoeste). Universidade do Oeste Paulista (Unoeste),
Presidente Prudente/SP (fabioecher@unoeste.br).

Ciro Antonio Rosolem (confere capítulo 9)

Parte D. Implantação da lavoura de algodão

11. A qualidade das sementes

Priscila Fratin Medina


Concluiu a graduação em Engenharia Agronômica (1982), o mestrado (1988) e o
doutorado (1994) na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade
de São Paulo (Esalq/USP), especializando-se em Fitotecnia, com ênfase em Sementes.
Realizou curso em Produção e Tecnologia de Sementes no Centro Internacional de
Agricultura em Wageningen, Holanda, em 1996. Atua como pesquisadora científica
no Instituto Agronômico (IAC) da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
(Apta), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento (SAA) do Governo do Estado de
São Paulo desde 1989, onde também assumiu os cargos administrativos de Diretor do
Centro de Produção de Material Propagativo de 1998 a 2001, do Núcleo de Negócios
Tecnológicos de 2005 a 2006 e da Unidade Laboratorial de Referência do Centro de
Grãos e Fibras de 2014 a 2017, além da responsabilidade técnica pelo Laboratório de
Análise de Sementes do IAC de 2009 a 2017 (priscilafmedina@gmail.com).

Sheila Fanan
Graduação em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura “Luiz
de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), 2004. Tem mestrado em
Agricultura Tropical e Subtropical pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), 2008,
com ênfase em Tecnologia de Sementes. Trabalhou no laboratório de sementes do
Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt) (sheilafanan@yahoo.com.br).

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Leonardo Bitencourt Scoz


Bacharel em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Santa
Catarina, 2007. Mestre em Fitotecnia com ênfase em Melhoramento e Biotecnologia Vegetal, pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 2010. Atualmente, é pesquisador do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt),
onde coordena o Laboratório de Biologia Molecular. Atua majoritariamente no uso em rotina de marcadores
moleculares dentro do programa de melhoramento de algodoeiro (leonardoscoz@imamt.org.br).

12. Escolha da variedade

Jean-Louis René Bélot (confere introdução)

Patricia Maria Coury de Andrade Vilela (confere introdução)

13. Implantação da cultura

Fernando Mendes Lamas


Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa (1978), mestrado em Fitotecnia (Produção Vegetal)
pela mesma universidade (1988) e doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp, 1997). Atualmente, é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa). Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Manejo e Tratos Culturais,
atuando principalmente nos seguintes temas: cultivo e manejo do algodoeiro, sistema plantio direto, rotação
de cultura, plantas de cobertura e reguladores de crescimento (fernando.lamas@embrapa.br).

Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira


Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), com mestrado e doutorado em
Fitotecnia (Produção Vegetal) também pela UFV. É pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) Algodão desde julho de 2004, trabalhando nas seguintes linhas temáticas: técnicas de cultivo, manejo
e tratos culturais do algodoeiro; matologia; manejo e conservação do solo; diversificação dos sistemas de
produção de algodão com rotação ou sucessão de culturas, integradas ao cultivo de plantas de cobertura, para a
melhoria do ambiente produtivo (alexandre-cunha.ferreira@embrapa.br).

Ruy Seiji Yamaoka


Graduado em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) em 1975, com
Mestrado em Fitotecnia pela mesma universidade em 1980. Pesquisador na Área Técnica de Fitotecnia e
Engenharia Agrícola do Instituto Agronômico do Paraná até 2010. Até agora, pesquisador voluntário tutor do
Instituto Agronômico do Paraná. Desde 2015, consultor do Projeto Viabilidade Técnica e Econômica de um novo
modelo para retomada de algodão no Paraná, da Associação de Cotonicultores do Paraná (Acopar) (yamaoka@
iapar.br).

Parte E. Condução da lavoura

14. Correção de solo e adubação da cultura

Leandro Zancanaro (confere capítulo 4)

Claudinei Kappes (confere capítulo 4)

15. Tecnologia de aplicação para a cultura do algodão

Ulisses Rocha Antuniassi


Engenheiro agrônomo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), em 1986. Mestre e doutor em
Agronomia pela Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
(FCA/Unesp), Botucatu/SP. Pós-doutorado no Silsoe Research Institute (Reino Unido); Atualmente, é professor
titular do Departamento de Engenharia Rural da FCA/Unesp e especialista em tecnologias de aplicação
(ulisses@fca.unesp.br).

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

16. Sistemas avançados de tecnologia de aplicação na defesa fitossanitária

Marcos Vilela de Magalhães Monteiro


Engenheiro e doutor em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (Esalq/USP) (1959-1969); piloto agrícola (1967). Nos sessenta anos de
atividades profissionais, desenvolveu ou introduziu equipamentos e tecnologias
importantes para a Defesa fitossanitária, em particular na Aviação Agrícola
brasileira entre elas: Ultra Baixo Volume – UBV; Atomizador Rotativo Micronair AU-
3000; Balizamento por Satélite – GPS; Ponta de asa Quebra-Vórtices; Atomizadores
Rotativos de Discos Turboaero e Turbotrator; Pulverização Eletrostática Aérea;
Sistema Baixo Volume Oleoso – BVO; Sistema Atrai e Mata, Aplicadora Precisa
para o Sistema Atrai e Mata, Torre de Inversão Térmica, Kit - Medição de Gotas
Finas, Gaiola para Insetos e Descontaminador de Agroquímicos. Por delegação do
Ministério da Agricultura, desde 1967, formou mais de 4 mil técnicos executores
e quinhentos agrônomos coordenadores em Aviação Agrícola. Atualmente, é
diretor da empresa MV Defesa Vegetal Ltda., em Sorocaba/SP, que realiza pesquisas
em desenvolvimento de sistemas e equipamentos de Tratamento Fitossanitário.
Medalha da Ordem do Mérito “Santos Dumont” outorgada pelo Ministro da
Aeronáutica por serviços prestados à Aviação Agrícola Brasileira (marcosvilela@
bioaeronautica.com.br).

17. Manejo de plantas daninhas na cultura do algodão

Edson R. de Andrade Junior


Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) em 2006,
Mestre (2009) e Doutor (2018) em Agricultura Tropical pela mesma instituição.
Desde 2008, pesquisador do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt),
responsável pelo Departamento de Proteção de Plantas, trabalhando com manejo
de plantas daninhas nas culturas do algodão e soja, plantas daninhas resistentes no
Estado de Mato Grosso e na destruição química dos restos culturais do algodoeiro
(edsonjunior@imamt.org.br).

Anderson L. Cavenaghi
Agrônomo formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu,
Mestrado e Doutorado em Proteção de Plantas pela mesma instituição, com
enfoque em herbicidas e plantas daninhas. Desenvolve pesquisas em controle
de plantas daninhas em grandes culturas (algodão, soja e milho) e resistências a
herbicidas. Atualmente, é diretor da área de conhecimento de Ciências Agrárias,
Biológicas e Engenharias no Centro Universitário de Várzea Grande (Univag), Mato
Grosso (alcavenaghi@uol.com.br).

Sebastião Carneiro Guimarães


Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) em 1977,
Mestre em Fitotecnia pela mesma instituição em 1981, Doutor em Fitotecnia pela
Universidade Federal de Lavras (UFLA) em 2000, atualmente Professor Titular
da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) das disciplinas de Matologia e
Experimentação Agrícola (sheepufmt@gmail.com).

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18. Controle de doenças no algodoeiro em Mato Grosso

Luiz Gonzaga Chitarra


Iniciou a graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Católica de Petrópolis (1980),
bacharel em Ciências Agrárias (especialização em Agronomia) pela University of Arizona (1984),
mestrado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), em 1996, e
doutorado em Food Science and Microbiology pela Wageningen University and Research Centre
(2001). Experiência em Fitopatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Gossypium
hirsutum L., algodão, manejo de doenças, epidemiologia e fungicidas. Atualmente, é pesquisador
A da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Algodão - Núcleo do Cerrado) (luiz.
chitarra@embrapa.br).

Rafael Galbieri
Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com mestrado em
Agricultura Tropical e Subtropical pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), com linha de
pesquisa em doenças de plantas (algodoeiro). Doutor em Agricultura Tropical pela UFMT em
2018. Desenvolve pesquisas em resistência genética do algodoeiro a doenças e nematoides.
Atualmente, é pesquisador (fitopatologista) do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt)
e coordenador da Unidade de pesquisa do IMAmt em Primavera do Leste/MT (rafaelgalbieri@
imamt.org.br).

19. Manejo integrado de pragas no algodoeiro em Mato Grosso

Jacob Crosariol Netto


Possui Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas na Faculdade de Filosofia Ciências e
Letras de Catanduva. Mestre e Doutor em Agronomia (Entomologia Agrícola) pela Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCAV/
Unesp) em Jaboticabal. Atualmente, é pesquisador Entomologista do Instituto Mato-Grossense
do Algodão (IMAmt) e atua na área de Manejo Integrado de Pragas, Controle químico e Controle
Biológico de Pragas. Possui experiência na área de Entomologia Fitotecnia e Fitossanidade
(jacobnetto@imamt.org.br).

Guilherme Gomes Rolim


Tecnólogo em Agroecologia pelo Instituto Federal da Paraíba (IFPB). Mestrado e doutorado
em Entomologia Agrícola pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Tem
experiência na área de Entomologia Agrícola, atuando principalmente nos seguintes temas:
ecologia, biologia e resistência a inseticidas de pragas do algodoeiro com ênfase em bicudo-do-
algodoeiro (guilhermerolim@imamt.org.br).

Geraldo Papa
Possui graduação em Agronomia pela Universidade de São Paulo (1986), mestrado (1991) e
doutorado (1998) em Entomologia pela mesma universidade. Atualmente, é Professor Doutor
da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Câmpus de Ilha Solteira.
Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Entomologia, atuando principalmente
nos seguintes temas: Manejo Integrado de pragas em culturas agrícolas, desenvolvimento de
agroquímicos, seletividade de agroquímicos, agentes de controle de pragas (biológico, químico,
comportamento e outros) (gpapa@bio.feis.unesp.br).

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

20. Manejo de nematoides na cultura do algodão em Mato Grosso

Rafael Galbieri (confere capítulo 18)

Mário Massayuki Inomoto


Graduado em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), em 1985, mestrado em Fitopatologia pela USP
(1988) e doutorado em Entomologia pela mesma universidade (1995). Tem experiência
na área de Nematologia Agrícola, com participação em trabalhos experimentais com os
seguintes objetivos: avaliação da resistência de plantas a nematoides-das-galhas e das lesões;
avaliação da eficiência do tratamento de sementes para controle de fitonematoides; controle
de fitonematoides em sistemas de produção consorciados e integrados. Atualmente, é
professor associado da USP, onde ministra disciplinas nos cursos de graduação em Engenharia
Agronômica, Engenharia Florestal, Ciências Biológicas e Gestão Ambiental e no curso de pós-
graduação em Fitopatologia (inomoto@usp.br).

Rosangela Aparecida da Silva


Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT, 1998),
mestrado (2001) e doutorado (2008) em Fitopatologia pela Escola Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP, 2001). Foi professor titular
do Centro Universitário de Várzea Grande no período de julho de 2001 a janeiro de
2013. Atualmente, é pesquisadora da Fundação Mato Grosso em Rondonópolis/MT; tem
experiência na área de Agronomia, com ênfase em Nematologia, atuando principalmente
nos seguintes temas: manejo de nematoides em soja, milho e algodoeiro (rosangelasilva@
fundacaomt.com.br).

Guilherme Lafoucarde Asmus


Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em 1978, com mestrado
em Fitopatologia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), em 1981, e doutorado em
Fitopatologia pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São
Paulo (Esalq/USP), em 2001. Dedica-se à pesquisa em manejo de nematoides fitoparasitas em
sistemas integrados de produção. Pesquisador em Nematologia da Embrapa Agropecuária
Oeste desde 1994 (guilherme.asmus@embrapa.br).

21. Manejo de reguladores de crescimento

Fábio R. Echer (confere capítulo 10)

Ciro Antonio Rosolem (confere capítulo 9)

Patrícia Rafaella de Mello


Engenheira Agrônoma pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp), Bandeirantes/
PR, 2016. Mestre em Agronomia pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), Presidente
Prudente/SP, 2019. Atualmente é professora na Faculdade de Balsas (Unibalsas), Balsas/MA, no
curso de Agronegócio (patriciarf.mello@gmail.com).

22. Manejo de desfolha

Gustavo Pazzetti
Engenheiro agrônomo e mestre em Fisiologia Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Minas Gerais. Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Goiás
(UFG). Tem ampla experiência em fisiologia do algodoeiro. Atualmente, é professor titular
e pesquisador na Faculdade de Agronomia da Universidade de Rio Verde (UNIRV), Goiás
(pazzetti@unirv.edu.br).

Jerley Fernando Alves Lima


Técnico em Agropecuária e Tecnólogo em Agronegócio. Amplo conhecimento sobre o
manejo do algodoeiro, soja e milho. Sócio-proprietário da JF Consultoria em Sorriso/MT
(jerley.lima@uol.com.br).

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AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

23. Destruição dos restos culturais do algodoeiro

Edson R. de Andrade Junior (confere capítulo 17)

Odilon Reny Ribeiro Ferreira Silva


Engenheiro agrícola pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em 1977, mestrado em
Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), em 1983, doutorado em
Engenharia Agronômica pela Universidade Politécnica de Madrid, em 1993. Tem ampla
experiência em mecanização do cultivo algodoeiro. Atualmente, é pesquisador da Embrapa
Algodão em Campina Grande/PB (odilon.silva@embrapa.br).

Valdinei Sofiatti
Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em 2002, mestrado em
Ciências pela UFPel), em 2004, doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa
(UFV), em 2006. Foi chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Algodão.
Atualmente, é pesquisador da Embrapa Algodão em Campina Grande/PB (valdinei.sofiatti@
embrapa.br).

Parte F. Produção de uma fibra de qualidade

24. Maximizar a rentabilidade do cultivo algodoeiro, produzindo uma fibra de qualidade e


valorizando os coprodutos

Sérgio Gonçalves Dutra


Graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de Brasília (1990), mestrado
em Produção Vegetal, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade
de São Paulo (Esalq/USP, 2001) e doutorado em Agronomia pelo Programa de Energia na
Agricultura, da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (FCA/Unesp) de Botucatu (2013). Atua como consultor técnico na área
de gerenciamento e execução de projetos no segmento agropecuário. Tem experiência na
área de Produção Vegetal, Políticas Públicas em Agricultura e Meio Ambiente e Pesquisa,
Desenvolvimento e Inovação em Sistemas de Produção no Bioma Cerrado. Atua junto ao
Programa de Qualidade de Fibra de Algodão da Associação Mato-Grossense dos Produtores
de Algodão. Instituto Mato-Grossense do Algodão (Ampa/IMAmt) desde 2012 (sgdutra.sc@
gmail.com).

Jean-Louis René Bélot (confere introdução)

25. Uso adequado das colheitadeiras

Renildo Luiz Mion


Possui graduação em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), em
1998, mestrado em Engenharia Agrícola (Máquinas Agrícolas) pela Universidade Federal
de Viçosa (UFV), em 1999, e Doutorado em Agronomia (Energia na Agricultura) pela
Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (FCA/Unesp, Câmpus de Botucatu), em 2002. Atualmente, é professor associado no
Câmpus de Rondonópolis da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Coordenador
do Grupo de Pesquisa da Qualidade de Fibra de Algodão da UFMT. Atua na área de colheita,
beneficiamento, processamento e armazenamento de algodão, agricultura de precisão e
máquinas e mecanização agrícola (renildomion@gmail.com).

Jean-Louis René Bélot (confere introdução)

26. Preservar a qualidade da fibra no beneficiamento

Jean-Luc Chanselme
Mestre pela Universidade de Paris XI. Especialista em Manejo e Tecnologia do Beneficiamento
do Algodão da Mississippi State University (EUA). Administrador e diretor técnico da empresa
de consultoria em tecnologia do algodão Cotimes do Brasil (jean@cotimesdobrasil.com.br).

459
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

27. A fibra de algodão: qualidade e classificação

Jorge José de Lima


Pós-graduação em Gestão pela Qualidade Total, Licenciado em Matemática,
Técnico Têxtil e Instrutor de classificação de algodão em pluma, credenciado
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Tem doze
anos de experiência nas áreas de produção e controle da qualidade em
indústrias têxteis. Foi professor do Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial-Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai-CETIQT)
nos cursos técnicos e engenharia têxtil (1988 – 2016). Atuou na função de
classificador de algodão em pluma na parceria Senai-CETIQT/ Master Inspect
no período de 1999 a 2002. Tem trinta anos de experiência nas áreas de
classificação de algodão e controle da qualidade em indústrias têxteis e da
cadeia do algodão. Atua na função de instrutor e classificador de algodão
em pluma, auditor e assistente técnico para empresas do setor têxtil e
da cadeia do algodão. Atuou como auditor técnico para credenciamento
e renovação de credenciamento de alguns laboratórios junto ao Mapa.
Formou treze turmas de classificadores de algodão em pluma entre 2005 e
2014 nas seguintes instituições: FBET, Amipa/Minas Cotton e Unicotton, em
parceria com o Senai-CETIQT e o Mapa. Conselheiro do Conselho Regional
de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) no
triênio 2010-2012. Professor contratado pela Universidade Estadual do Rio
de Janeiro (UERJ) na disciplina de Controle de Materiais Têxteis V do curso de
Engenharia de Produção (1998/2000). E autor de publicações de instituições
como Senai-CETIQT, Abrapa e IMAmt sobre a cadeia do algodão e indústria
têxtil. É professor de matemática do Município do Rio de Janeiro e sócio
minoritário da J. G. Cursos de Classificação de Algodão em Pluma e Têxtil
Ltda. (jorgealgodão@gmail.com).

Jean-Louis René Bélot (confere introdução)

28. Valorização dos coprodutos do algodão

João Paulo Saraiva Morais


Possui graduação em Farmácia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em
2002, e mestrado em Bioquímica (2006) pela mesma instituição. Atualmente,
é pesquisador B na Embrapa Algodão e PhD em Plant and Soil Science pela
TTU - USA. Atua nas áreas de Agronomia, Agroindústria e Nanotecnologia
voltada ao agronegócio, com ênfase em fibras naturais e tortas de oleaginosas.
Também trabalha com coprodutos das cadeias agroindustriais, como algodão,
mamona, sisal, gergelim e amendoim, dentre outras, e desenvolve atividades
com Química Verde e nanopartículas (joao.morais@embrapa.br).

Everaldo Medeiros
Bacharel em Química Industrial pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
em 1999, e doutor em Química pela mesma universidade (2004). Foi professor
adjunto da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e atualmente
é pesquisador A da Embrapa Algodão. Atua como orientador de mestrado e
doutorado do programa de pós-graduação em Engenharia Agrícola (UFCG)
e coorienta alunos de mestrado e doutorado do programa pós-graduação
em Química (UFPB). Em sua produção consta a publicação regular de artigos
em periódicos especializados e de trabalhos em anais de eventos científicos.
Atua na área de Química Analítica, com ênfase em Processos Agroenergéticos,
Métodos Analíticos, Instrumentação e Processos de Automação em Química
Analítica (everaldo.medeiros@embrapa.br).

Jean-Louis René Bélot (confere introdução)

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AMPA
AMPA -- IMAmt
IMAmt 2020
2012

Parte G. Manejo sustentável do cultivo algodoeiro

29 .Como limitar o impacto do cultivo algodoeiro sobre o meio ambiente

Eliana Freire Gaspar de Carvalho Dores


Engenheira química, obteve mestrado em Química Analítica em 1992, pela Salford University, no Reino Unido, e
doutorado em Química em 2004, pela Universidade Estadual de São Paulo, Câmpus de Araraquara. Atualmente, é
professora e pesquisadora do Departamento de Química da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), líder do
grupo de pesquisas denominado Grupo de Estudos em Poluentes Ambientais e professora dos Programas de Pós-
Graduação em Recursos Hídricos e em Química (elidores@uol.com.br).

Antonio Brandt Vecchiato


Geólogo, obteve mestrado em Solos e Nutrição de Plantas em 1987 pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e doutorado em Engenharia Civil, em 1993, pela Universidade
de São Paulo, Câmpus de São Carlos. Atualmente, é professor e pesquisador do Departamento de Geologia Geral da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), vice-líder do Grupo de Estudos em Poluentes Ambientais e professor
do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos (brandt@ufmt.br).

30. Controle biológico como ferramenta do manejo integrado de doenças e pragas do algodoeiro

Tamiris Joana dos Santos Rêgo


Possui Graduação em Agronomia pela Universidade Estadual do Piauí (2012), Mestrado (2014) e Doutorado (2018)
em Fitopatologia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2018), com período de Doutorado Sanduíche
na Universitat Politècnica de València (2017). Atualmente, é pesquisadora do Instituto Mato-Grossense do
Algodão (IMAmt), atuando na área de Controle Biológico de Pragas e Doenças, com ênfase em Prospecção de
Microrganismos Endofíticos e Fungos Entomopatogênicos, e Desenvolvimento de Produtos Biológicos à Base
de Fungos (tamirisrego@imamt.org.br).

Eduardo Barros
Possui Graduação em Tecnologia em Produção de Grãos pelo Instituto Federal Goiano, Câmpus Rio Verde
(2007), Mestrado (2009) e Doutorado (2015) em Entomologia Agrícola pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco. Foi pesquisador na área de Entomologia do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt) (2014
a 2017) e desenvolvedor técnico de mercado na Syngenta Proteção de Cultivos (2017 a 2018). Atualmente, é
pesquisador na área de Proteção de Plantas no Instituto Goiano de Agricultura (IGA), atuando com grandes
culturas nas áreas de Entomologia Agrícola, Fitopatologia, Nematologia e Herbologia (eduardo.barros@iga-go.
com.br).

Guilherme Gomes Rolim (confere capítulo 19)

Jacob Crosariol Netto (confere capítulo 19)

Maria Luíza Zardo


Possui graduação em Biotecnologia pela Pontifícia Universidade do Paraná (2014) e Mestrado em
Biotecnologia pelo Instituto Carlos Chagas (Fiocruz), Paraná (2016). Atualmente, é pesquisadora do Instituto
Mato-Grossense do Algodão (IMAmt), atuando na área de Controle Biológico, com ênfase em Prospecção de
Cepas e Genes de Bacilos Esporogênicos, Bioensaios Entomológicos in vitro e Melhoramento de Moléculas
Entomopatogênicas (mariazardo@imamt.org.br).

Paulo César Manara Bittar


Farmacêutico Industrial pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É Especialista em Homeopatia
pela APH (Associação Paulista de Homeopatia). Teve alguns anos de vivência em grupos de pesquisa da UFMG,
em química orgânica, e na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), na área de parasitologia. É
empresário desde 1999. Tem formação empresarial através do APL de Biotecnologia do Triângulo Mineiro,
Sebrae, Senai, Unitecne, a incubadora da Uniube e cursos isolados. Possui experiência na organização
de equipes de pesquisadores para projetos em atividades empresariais inovadoras. Tem experiência na
relação com grandes empresas e institutos de tecnologia. Promove a ponte entre a academia e o mercado.
Atualmente, é proprietário e diretor do Grupo Vitae Ltda. (Ruralvit Pecuária e Ruralvit Biotech).

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