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a) TEORIA MARXISTA DO CONHECIMENTO E METODO DIALETICO MATERIALISTA A grande e central contribuigdo de Marx para a Filosofia, e da qual direta ou indiretamente vai derivar o conjunto de sua obra ted- rica, foi certamente o seu método, o método dialético materialista. Nisto, acredito, estamos todos de acordo. Os marxistas, pelo menos. Mas onde nao se encontraré tal consenso é na definigao precisa des- se método. Isto é, na rigorosa caracterizagao tedrica dele. Veja-se bem: caracterizagao tedrica, e nao simples exemplificagéo, como € importante realgar em face da frequente confusio no assunto, com a derivagio dele, da consideragio do método propriamente e sua teoria — que é do que se trata ou deveria tratar — para exemplos de aplicagio do método numa ou noutra instincia particular. Até mesmo a propria proposicao dessa quest&o, e perspectiva em que ha de ser colocada e a sua abordagem, nao sao em regra dadas com a devida precisio. Afinal, ainda é de se perguntar, do que se trata quando falamos em “método dialético”? A consulta aos verbetes DIALETICA e METODO, combinando- os entre si, de uma obra em principio tao autorizada (pelo menos a titulo de balango e stimula da situagio) como 0 Diciondrio de Filosofia edi‘ado por M. Rosenthal e P. Iudin sob os auspicios do Instituto de Filosofia de Moscou, e traduzido na prépria Unido Soviética em varios idiomas, pode bem dar a medida da falta de rigor e preciso, e mesmo da ambigiiidade que reina no assunto. Isto é naturalmente lastimavel. Penso que se a questao da dialética marxista nao for colocada em termos tais suscetiveis de servir de base € ponto de partida para a explicitagao de um método cientifico, isto é, de normas precisas para a condugéo do pensamento na ela- boracio do Conhecimento, e isto generalizadamente e nao apenas na de um ou outro fato histérico, nao se estara no caminho certo. Nao me parece que o destino da dialética materialista seja o de mais um tema para os confusos debates no estilo ordinario da Filosofia, Ou antes, da Metafisica como tem sido tio freqtientemente. A dialética materialista deve ter uma finalidade pratica, tornando-se efetivamente (e nao apenas por intuigéo e vago pressentimen‘o) um método explicitado capaz de orientar a elaboragio do Conhecimento © a pesquisa cientifica. Isto em qualquer terreno. E o Dicionario =e que citamos, bem como a generalidade das obras que tra‘am da ma- téria, na Unido Soviética ou fora dela, nfo nos trazem infelizmente grande auxilio para alcangarmos esse objetivo. Marx, como se sabe, nao chegou a desenvolver sistematica- mente © secu método. Limitou-se em principio a aplicé-lo. Mas a maneira como o fez, como dele se uiliza — de que a analise a que procede do capitalismo, e a sua teoria econémica dai resultante, constituem exemplo maximo — fornece os elementos mais que su- ficientes para tragar, pelo menos em suas linhas gerais e fundamen- tais, aquilo em que essencialmente consistem seus procedimentos me- todoldgicos. Tal maneira nos proporciona também a base necessdria donde se ha de partir para a sistematizacao tedrica daqueles procedi- mentos, 0 que nos dard, a par de uma teoria marxista do Conheci- meno — que vem a ser a dialética materiaiista —, uma perspecti- va e os caminhos para os objetivos praticos para que se deve diri- gir uma tal teoria, A saber, as normas prdéprias para a elaboragao do Conhecimento. Um método explicitado, em suma. O que principa'mente e sobretudo caracteriza e identifica o pensamento de Marx na ques‘ao, € sua maneira de aborda-la. Marx nao se propde (como fora antes dele o caso dos empiristas, mate- rialistas e racionalistas, Kant em particular, e ainda é até hoje a norma da filosofia corrente) nfo se propde “inventar” — é-bem o termo proprio no caso — um esquema qualquer introspectivamen- te revelado e especulativamente desenvolvido; e se apresentando mais ou menos formalmente consistente e engenhosamente explicativo do Conhecimento e de sua elaborag’o. Marx procura, antes de tudo, atinar com a maneira pela qual, na pratica corrente dos pensadores € cientistas que o precederam, o Conhecimento efetivamente se ela- borou, fosse embora, como de fato se dava, sem a plena conscién- cia, da parte dos elaboradores, da maneira pela qual se desenvolvia © seu pensamento. Esse procedimento de Marx € por ele mesmo expressamente indicado, se bem que de forma suméaria, na passa- gem do Manuscrito de 1857 onde faz referéncia ao mode'o por ele interpretado e adotado, que Ihe ofereciam os economistas ingleses seus antecessores e iniciadores, j4 no séc. XVII, da Economia Po- litica (1). Ser4 numa tal observagao (de que naturalmente a indicagio ex- pressa na passagem citada constitui apenas uma instancia) que Marx se louvara na determinagéo da maneira como conduzir 0 pensamento na elaboragéo de seus irabalhos. E claro que Marx logrou enxer- (1) Fondements de la Critique de VEconomie Politique (trad. francesa do Manuscrito de 1857, publicado pelo Instituto Marx-Engels-Lenin, de Moscou) Paris, 1967, I, 30 4 Bh— gare discernir nos escritos, entre outros, dos economistas seus ins- piradores, a linha segundo a qua! se desenvolveria o esforgo de ela- poracio do Conhecimento levado por eles a cabo, gragas 4 prepara- cao filoséfica que para isto lhe proporciona a dialética hegeliana. Nao entraremos contudo aqui neste ponto, embora ele seja do maior jnteresse, sobretudo porque a inspiragio hegeliana em Marx vem sendo ultimamente contestada por alguns marxistas de grande pro- jecao, como em particular, como se sabe, por Louis Althusser. O que é de lamentar, pois uma tal posigéo contribui para a subestima- ¢4o, pelos marxistas, da obra de Hegel, onde se encontram indubi- tavelmente, a meu ver (e nao fago aqui mais que repetir, sabemo- lo todos, o proprio Marx, bem como sey colaborador e principal intérprete que foi Engels) as raizes do materialismo dialético, co- mo método. E por isso, nao tendo Marx desenvolvido sistematica- mente a teoria do seu método, limitando-se quasi sé a aplica-lo, a assimilagao da dialética hegeliana é indispensavel, assim penso, pa- ra a comprecensao em profundidade daquele método. E a dialética hegeliana nos imuniza, ou contribui para nos imunizar contra os germes da metaffsica que ainda hoje infestam a cu'tura filosdfica em que todos nos formamos, e que porisso traigoeiramente nos espreitam a cada passo. O traco fundamental e essencial da teoria marxista do cohne- cimento, ou antes daquilo que devia ser esta teoria, caso Marx ti- vesse desenvolvido e expresso a sua concepgéio acerca do conheci- mento, esse trago é a naturesa “construtiva” do conhecimento, Isto é, 0 conhecimento para Marx resulta de construcdo efetuada pelo pensamento e suas operagdes; e consiste numa “representagao” men- tal do concreto (isto é, da parcela de Realidade exterior ao pen- samento conhecedor, e por ele considerada), representagéo esta “elaborada a partir da percepgdo e intuig&io” (2). Veja-se bem: “representacio”, e nao reprodugao, decalque ou outra forma da transposigao de algo, da Realidade para o pensamento, O alcance dessa concepgio e seu significado profundo somen- ‘e se avaliarao ao considerar 0 que se encontra em regra implicito e mais ou menos disfargado na maneira ordindria de conceber o Conhecimento. Isto antes e mesmo depois de Marx e até os nos- sos dias. A saber, nfo como resultante de uma elaboragdo propria- mente, e sim como “apreensio” de a’go exterior ao intelecto ou Pensamento, e preexistente a ele e suas operagdes. E que apreen- dido © incorporado ao pensamen‘o, se faz Conhecimento. _ Essa forma de interpretar o Conhecimento, e que constitui o maior embaracgo oposto 4 adequada anilise ¢ interpretagao dele, (2) Fondements, cit., I, 31. — 44 — se insinua, no mais das vezes inadvertida e desapercebidamente, na generalidade do pensamento filoséfico classico; e se prolonga mesmo até nossos dias, permeando inclusive, por menos que parega, o proprio materialismo e realismo aparentemente mais radicais. E a tradic&o metafisica que se faz ai sentir, como flagrantemente se verifica no considerar atentamente, entre outros, conceitos como os de “essencia” e “verdade”, implicitos naquilo que se entende por Conhecimento. 5 A |esséncia, tal como a concebe a Metafisica, é o que uma coisa é verdadeiramente (3). Visto de perto, percebe-se que af se confunde o fato de ser algo, com o verdadeiro de algo. A per- gunta do que é verdade sob aparéncias, da origem a resposta que indica tanto a existéncia como a verdadeira esséncia. Aristételes da-se conta dessa ambigiiidade (para nds), e afirma, “a esséncia de uma coisa significa, num sentido, a substancia e o ser determi- nado; noutro sentido, de cada um de seus predicamentos, quanti- dade, qualidade, e outros modos da mesma indole”. Avicena, o fildsofo arabe cujos ensinamentos, fundados em Aristételes, se farao entre outros, como se sabe, em ponto de partida da Escolastica, tentara resolver a ambigiiidade do mestre, destinguindo trés modos de considerar a esséncia: 1. — a esséncia na coisa, ou aquilo que a coisa é; 2. — a esséncia no intelecto, ou aquilo que a coisaé segundo a definigio; e finalmente (numa tentativa evidentemente frustra de superacéo da ambigiiidade), 3. — a esséncia em si mes- ma ou o que é. O que John, Duns Scott traduzira afirmando que a esséncia pode ser considerada no real singular (estado ffsico), no pensamento (estado légico), em si mesma (estado metafisico) . Como se verifica, e torga-se embora como se queira a concep- ¢ao metafisica de esséncia (e€ nao faltam na litera’ura filosdfica abundantes e reiterados exemplos dessa verdadeira gindstica verbal), © que sobrara sempre, para o que nos interessa aqui, é irredutivel- mente o fato que a esséncia é parte, ao mesmo tempo, da Reali- dade exterior ao pensamento (a coisa, o ente, a existéncia), e des- se mesmo pensamento. Pensamento esse onde a esséncia figurard necessariamente pois n&o pode ser outra coisa, como Conhecimento. Essa ambigiiidade (para nds) da concepgao metafisica de es- séncia, se perpetua no racionalismo moderno. Spinoza diré a res- peito do assunto: “A esséncia de uma coisa comporta aquilo que, sendo dado, faz necessdriamente que a coisa exista e que, se se (3) Na andlise que segue, dos conceitos clissicos e até hoje accitos em em suas linhas gerais, de “esséncia” e “verdade”, utilizamos largamen- te 0 Dicionério de Filosofia de José Ferrater Mora, Buenos Aires, 1958 ,cuja autoridade, em assunto como esse, é sem duvida incontestavel. == 45 o suprime, faz necessdriamen‘e que a coisa nao exista; dito de ou- tra forma, aquilo sem o que a coisa nao pode existir, nem ser con- cebida e reciprocamente, aquilo que, sem a coisa, néo pode nem exis- tir, nem ser concebida” (4). A esséncia, por ai, tanto constitui a coisa, a faz existente, e portanto faz parte dela, nela se inclui, co- mo compde a concepgio da mesma coisa e cons:itui portanto o conhecimento dela. E por ai afora, como simples variagdes do mes- mo tema, vao a Metafisica e seus derivados descrevendo e concei- tuando aquilo que entendem por esséncia, variando a forma em que o fazem, o linguajar que empregam, mas sempre na mesma linha fundamental de situar a esséncia simultaneamente na Realidade e no pensamento, nas esferas respectivamente objetiva e subjeciva. O que nos revela essa ambigiiidade traduzida em termos fac- tuais, isto é, reportada aos fatos, e em fungio deles interpretada e explicada, senao que, na perspectiva da Metafisica, o Conheci- mento € algo que embora integrado no pensamento, se encontra im- plicito e se inclui também na Realidade exterior ao pensamento? O Conhecimento, que é dado pela esséncia, nao se elaboraria pro- priamente no pensamento, mas ja se acharia de certo modo pre- sente na Realidade, nela preexistindo e a ela pertencendo, nao ca- berndo ao pensamento sendo apreender este seu contetido que é a existéncia, fazendo dela o que propriamente se entende por Conhe- cimento. O Conhecer, em suma, em nada mais consistiria, nos ter- mos da Metafisica — e procurem os metafisicos disfarga-lo como entenderem — que numa transferéncia ou transposic&io da esséncia (€ sdmente nesta operag&o que ocorrem divergéncias) da Realidade ao pensamento, da esfera objetiva para a esfera subjetiva do indi- viduo pensante e conhecedor. E nisto que vai afinal dar a ambivalente nocio metafisica de “esséncia”, ao mesmo tempo realidade exterior ao pensamen‘o, e Conhecimento. Coisa semelhante se da com a nogdo de “verdade”. E ai ainda mais caracterizadamente, se possivel, que no caso da €ssencia”, pois a “verdade” é necessdriamente insepardvel do Co- nhecimento, que para ser propria e legitimamente “Conhecimento”, ha de Ser “verdadeiro”. Ora: verifica-se com a nogdo tradicional de verdade”, situagéo andloga 4 de esséncia. Tal como a esséncia, a Metafisica situa a “verdade” tanto na esfera subjetiva como na Rea- Iidade exterior, nas “coisas”. O verum (e empregamos aqui o latim, que € 0 idioma oficial ¢ padrao da Metafisica) seria algo que se situa na mesma linha do bonum, do unum, do aliquid, do res, como Peace que deriva imediatamente do ente. A verdade é assim © que uma propriedade do ente. E é 0 que faz possivel a for- ——<—<—<___ (4) Etica, Liv. II, def. II. — 46 — mula famosa de Aristételes que ainda hoje tem o beneplacito da generalidade dos metafisicos, e com que o filésofo define o Conhe- cimento adequatio rei et intellectum —; a verdade do Conhecimen- to, isto 6, a coincidéncia entre o juizo e o julgado, se acha fundada na verdade do ser. A Escolastica recolher4 essa tradi¢fo aristotélica, e lhe dara © feitio que se transmitira, mais ou menos expressa, por toda a fi- losofia classica pelos tempos afora. Sdmente porque a verdade se encontra na coisa como fundamento (verdade ontoldgica), pode achar-se no intelecto como Conhecimento (verdade gnoseoldgica) e no enunciado como adequacio entre o juizo e o julgado (verdade 16- gica). Nao é 0 caso de nos estendermos agora, e nos perdermos nos divagantes e tio confusos meandros do verbalismo da filosofia clas- sica e seus prolongamentos modernos, pois nao ha intengao, nem interessa aqui discutir, explicar e mui‘o menos justificar ou contestar as nogdes e formulag6es da Metafisica. Quero apenas tornar clara (€ sdmente por isso trouxe o assunto a baila), bem como explici- tar-Ihe as consequéncias que comporta esta concepgao que permeia, penetra, embora mais ou menos disfarcadamente, todo o pensamen‘o filosdfico cldssico, e que vem a ser de um Conhecimento que nada mais é que reproducao, cdpia de algo que lhe € afim e se encontra presente na Realidade exterior ao pensamento; que independe assim da elaboragdo, desse pensamento, E procuro isto para o fim unica- mente de destacar e contrastar o significado profundo da contribui- go de Marx para a teoria do conhecimento. Esséncia, verdade,qui- didade, ou deem-Ihe o nome que aprouver, se de um lado (“num certo sentido”, como dizia Aristé‘eles) se integra na Realidade ex- terior ao pensamento, de outro nao é de fato senao o préprio Co- nhecimento, Isto pode n&o ser expressamente reconhecido pelos me- tafisicos, e sobretudo, é natural, pelos materialistas que nao logra- ram ainda se desvencilharem por inteiro da Metafisica. Mas nem porisso se encontra menos implicito e incluido em_ suas premissas. E constitui certamente a fonte principal dos embaragos no inter- pretarem o Conhecimento e oferecerem a teoria explicativa dele. E tanto mais grave e pertubadora que € insuspeitada. Encontramos flagrante instancia de situagSes como esta na cha- mada teoria do reflexo dos filésofos soviéticos, O que € tanto mais chocante que se trata, a outros respeitos, de dialéticos. Por onde se vé como as concepgdes da Metafisica so tenazes e resistentes, logrando se insinuarem e disfargarem até mesmo no interior da dia- lética, a anti-metafisica por exceléncia. Ja da muito que pensar a assimilagio, nessa teoria, do fato do Conhecimento a um “refle- 47 xo”, como s¢ O pensamento-conhecedor, ‘al qual um espelho, “re- fletisse” a Realidade que lhe € exterior, reproduzindo no pensamen- to, sob forma de Conhecimento, a imagem refletida dessa Realidade. E por mais que se queira atribuir essa assimilagéo a uma simples analogia, como fazem, freqiientemente os fildsofos Soviéticos, insinua- se nela com muita facilidade, dado ° sentido ordinariamente atribuido A expresso “reflexo”, uma identificagéo. Li an E’ o que se observa, entre outros, no ja citado Dicionéario de Rosenthal e Yudin, onde muitas das formulagGes relativas do assun- to tém sabor nitidamen e metafisico. E tal como na Metafisica con- fessada, e nao apenas inadvertidamente insinuada, 0 Conhecimento se faz em reproducao tal qual da Realidade, torna-se em transposigao dessa Realidade exterior, ao interior do pensamento. Haja vista, por exemplo, a definigao que o Diciondério nos da de “esséncia”, que seria, segundo ele, “o significado de uma coisa dada, aquilo que ela é em si” — formulagio esta que constitui a primeira frase do verbete esséncia. A esséncia aparece ai, flagran- temente, ao mesmo tempo como “significado” de uma coisa (Conhe- cimento portanto), e como aquilo que a coisa é em si, incluindo-se pois na Realidade exterior ao pensamento conhecedor. Inclusdo esta Ultima que se afirma ainda mais categoricamente, se possivel, pouco adian‘e no mesmo verbete, onde se lé: Nao existe esséncia fora das coisas, e sim nelas e atravez delas. FormulagGes igualmente ambiguas e reveladoras da concepgaio que vimos, isto é, a do Conhecimento como preexistente na Rea- lidade exterior ao pensamento, e por cle ai apreendido (ou “refle- tido”, como se exprime a “teoria do reflexo”), se encontram es- parsas pela generalidade dos textos do Diciondrio de Rosen‘hal e Yudin referentes ao assunto. Bem como igualmente em outros traba- balhos de fildsofos soviéticos. Nao nos interessa aqui discutir a questao, e lembramo-la unicamente para mostrar como aquela referi- da maneira de in'erpretar o Conhecimento, herdada da velha Me- lafisica, se insinua inadvertidamente no pensamento filosdfico de Nossos dias ainda, e até mesmo onde menos se poderia esperar encon- tra-la. Insinuagio essa que tem constituido, e ainda constitui o Principal, bem como, a meu ver, fatal embarago oposto a uma teo- Mia do Conhecimento assentado em bases cientificas. Nao discutiriamos também as razées e explicagio da persis- tencia dessa deformada e tao prejudicial visio metafisica do fato do Onhecimento. Ela se enquadra no sistema geral das concepgdes es © sua erradicagao importa numa revis&o geral da filo- Pec ce € seus prolongamentos modernos, O que exige uma ‘aa Sane inteiramente nova do conjunto da problematica filos6- — isto precisamente que coube, e cabe ainda A Dialética rea- = AR Deixando contudo de lado o desenvolvimento desse assunto que nos levaria para fora do que mais diretamen‘e nos interessa no mo- mento, o certo é que coube a Marx abrir aquela nova perspectiva. E isto significou, na questéo do Conhecimento e do ponto de par- tida para o seu equacionamento, conceber 0 Conhecimento como é de fato — e a larga elaboragio cientifica de nossos dias ai es'4 para comprova-lo — como uma elaboracdo propriamente, uma construgdo mental realizada com fatos psicolégicos (sejam eles quais forem, 0 que competiré a Psicologia determinar). Isto ¢, nas pro- prias palavras de Marx, “um produto do cérebro pensante” (5). Elaboragaio ou construgao essa a partir, é cerio, “da percepgao e da intuig&o” (e af se afirma o materialismo da dialética marxista, em contraste com o idealismo), mas com os instrumentos do pen- samento, através de operagdes mentais, e nao com ingredien‘es ou elementos extrafdos da Realidade exterior ao pensamento — seja “esséncia”, “verdade”ou outras quaisquer — que esse pensamento apreenderia ou “refletiria” tal como um espelho. O Conhecimento, na concepgao marxista, é propriamen’e uma produgao do pensar mento, resultado de operagdes mentais.com que se representa — nao repete, reproduz ou reflete — a Realidade objetiva, suas feigdes e situagdes. Mas como se da isto? Como se faz aquela, produgao ou constru- cao pelo pensamento, e que. vai dar na represen’ acao mental da Rea- lidade objetiva? Em que consistem, segundo Marx, as operagées , que a rea'izam? Note-se que a ,resposta final e cabal a essa indagagdo pertence legitimamente a Psicologia. Disso contudo estamos ainda bem afastados, mas cabe indiscutivelmen'e 4 Filosofia, no nivel atual da ciéncia, e isso necessdriamente, abrir caminho e indicar os rumos a\ pesquisa psicolégica. O que desde logo mostra o alcan- ce e a perspectiva que uma adequada teoria do Conhecimento ofe- rece; elaboragio cientifica. E isto que se esboga em Marx. Vejamos contudo como ele aborda o assunto. Referindo-se as origens da Economia Po'ftica, como disciplina cientifica, Marx nos traz, nos chamados Manuscritos de 1857, wma breve simula do que constifui, em suas proprias palavras, “o método cientifico correto” da elaborag’io do Conhecimento. Esse texto é precioso por que ¢m- bora muito conciso e tratando especificamente da Economia Poli- tica, é suficien’emente preciso para se ‘prestar 4 generalizagao quan- do considerado no conjunto da obra de Marx, e sobretudo nos pro- ced:mentos que adotou na observagao, consideragao e¢ teorizagao do sistema econdmico do capitalismo de que os Manuscritos de (5) Fondements, cit., I, 34. 1857 constituem, como se sabe, o esbogo preliminar. E’ interes- sante assim, para maior facilidade do lei or, reproduzirmos aqui, ao longo de nossa andlise, as diferentes passagens desse texto que jremos sucessivamente considerando e comentando. Vejamos a primeira dessas passagens em que Marx, louvando- se nos primeiros autores que langaram as bases da Economia Poli- tica, sintetiza 0 método por eles adotado e que considera “cientifica- men e correto”. “Qs economistas do séc. XVII comegcam sempre por um con- junto vivo, como seja a populacéo, a nagio, o Estado, etc. Mas terminam sempre por descobrirem, pela andlise, um certo nimero de relagdes gerais abstratas que sio determinantes, tais como a divisio do trabalho, o dinheiro, o valor, etc. Uma vez essas categorias mais ou menos elaboradas e abstraidas, eles estruturam os sistemas econdmicos que a partir de nogdes simples — tais como o trabalho, a divisio do trabalho, a necessidade, o valor de troca — se elevam até o Estado, a troca entre as nogdes e 0 mercado mundial, E manifestamente 0 método cientffico correto (6). Observe-se preliminarmente 0 procedimento de Marx, ja refe- rido acima, no tratamento da questo, em que ele se co’oca em perspectiva original e pode-se dizer revolucionaria no campo da Fi- losofia. Afastando-se dos modelos ordinariamente seguidos pela Fi- losofia puramente especulativa, Marx procura inspirar-se ¢ funda- mentar seu método na observacio da maneira como os economis as seus antecessores de fato elaboraram sua disciplina. E nessa obser- vacao, que Marx conduz naturalmente sobre a base de sua prepara- Gio filosdfica, que ele vai caracterizar 0 método segundo o qual aqueles economistas tinham operado. E assim, aquilo que nos eco- nomistas fundadores da disciplina nao passara de pratica esponta- nea e empiricamen’e conduzida tao sdmente pela intuigao ¢ natural talento dos autores, torna-se em Marx fruto de um método caracteri- zado que o conduzird em plena consciéncia de seus procedimentos, no caminho da elaboragdo da teoria do sistema capitalista. A descri- ¢4o que Marx faz no citado texto, do essencial desses proocedimentos, nos proporciona assim o ponto de partida para a interpretagio e compreenséo do que para ele constitui o método cientifico. Esse essencial consiste centralmente e numa palavra, na deter- minacdo de relacdes através da andlise. Precisamos aqui nos deter na consideracaio atenta dessa operagio e sentido que Marx lhe confe- Te. Isto porque a expressio “relagio” é, na literatura filosdfica, ex- ——— (6) Fondements, cit., 1, 30. —=s0t— tremamente ambigua. Situa-se alids no 4mago dos debates filosdficos, embora isto nem sempre aparega explicitamen‘e, o que contribui pa- ra confundir ainda mais aqueles debates, Para o que nos interessa aqui, e em primeira aproximagéo que se ira esclarecendo no desen- volvimento do assunto, “relagéo” sera tomada no sentido da manei- ra ou modo como as feigdes e situagdes da Realidade exterior ao pensamento conhecedor e que constituem o objeto do Conhecimen- to, se dispdem e compdem, em si ¢ emtre si, no espago e no tempo. Como se comporta, em suma. E essa disposigio respectiva, na si- multaneidade e na sucesso, das feigdes do Universo, ou relagées presentes na Realidade, e nela incluidas, é isto que o pensamento trata de apreender e representar mentalmente, constituindo com isso © que entendemos por Conhecimento. Essa caracterizagéo e conceituagao das relagdes se afasta de sua concepgio ordinaria e mais corrente (inclusive e particularmen- te na Logica moderna) em que “relagéo” é tomada no sentido de simples ligagdo exterior entre objetos distintos. Ligagado essa na qual os objetos relacionados conservam sua individualidade anterior, nao Ihes acrescentando a relagéo nada de novo. Para nos aqui, ao contrario, a relagéo engloba os objetos relacionados numa totalidade e nova unidade; num sistema de conjunto dado precisamente pela relacaéo que vem a ser a disposigdo sincrénica e diacrénica dos mesmos objetos, pela posigio espacial e sucessio temporal respectiva de cada um com respcito aos demais e da totalidade que, relacionados, eles constituem. Nisso consiste a relagéo; ¢ € nessa perspectiva que, na opera- ¢ao de relacionamento (isto é, na determinagao de relagdes) se hao de visualizar as feigdes e situagdes da Realidade considerada. O que importa em reduzi-las a um sistema de relagdes. Em outras pala- vras, indagar dos elementos que as constituem e estruturam, mas nao clementos anténomos e sO exteriormente ligados, simplesmente justapostos uns aos outros; e sim entrosados, fundidos em conjunto, e congregados assim numa totalidade que transcende a soma deles e sua individualidade prdpria. Doutro lado, em sentido contrario, os conjuntos assim integra- dos ¢ totalizados se farao elemen.os de conjuntos mais amplos, ar- ticulando-se ¢ se engrenando uns com outros, e integrando com isto os sistemas de relagdes que respectivamente constituem, em sis- temas mais amplos e complexos. Em suma, os obje’os do Conhecimento, que s&o as feigdes ¢ situagdes da Realidade que se trata de conhecer, embora se discri- minando e individualizando, o fazem como elementos do sistema de telagdes em que se totalizam e unificam, e em fungao dele. E o a Ss que Marx denomina “a unidade na diversidade”, e entende por “con- creto”. O que se exprime muito bem e ilustra no conhecido dito no qual tao acertadamente se distingue a floresta das 4rvores que a compéem (viu as drvores, nao vi a floresta). E encontra também expressao no fato tao notério que uma totalidade é sempre mais que a simples soma de suas partes. E em que consiste esse “mais”? Precisamente na relagdo que congrega aquelas partes e faz delas um sistema de conjunto que absorve e modifica sua individualidade an- terior. Ou antes, a transforma em nova individualidade que é fun- co do todo e sdmente existe nesse todo. O modo de ser, a indivir dualidade das diferentes arvores que comp6em a floresta (a sua “esséncia”, eu ia quasi metafisicamente dizendo...) nao é o mesmo quando consideradas independentemen'e do conjunto ¢ sistema de relagdes que é a floresta. Mas se a f'oresta constitui um sistema de relagdes em que se desfaz e nele se absorve a individualidade das arvores que a compdem as Arvores, por seu turno, também constituem, cada uma de per si, um sistema de relagdes. Isto se verificara desde logo na simples imagem visual da arvores que cons‘itui, por assim dizer, a mais ele- mentar de suas feigdes. Observe-se 0 esquematico desenho ao lado. Nele se podera reconhecer uma 4r- yore. Como isto, pergunta-se, uma vez que o confronto deste dese- nho com a imagem de qualquer Arvore verdadeira ev:dencia uma consideravel diferenga: 0 que ha de comum entre este desenho e a configuragéo de uma 4rvore real? E a forma em que se dis- poem os tragados do desenho, as relagdes que se apresentam nes- se tracado. Assim, este “conhe- cimento” mais elementar de uma arvore que € a sua configuragado ou imagem visual, consiste numa representagéo mental de relagdes. Sao essas relagdes e o sistema de conjunto que formam, que nos permitem reconhecer uma drvore neste desenho que coincide com uma drvore unicamente pelas relagdes que nele se exibem. No mais, arvore e desenho nada ttm em comum. n Coisa semelhante se verificaré se passarmos além da simples lmagem para outras circunsténcias mais profundas e amp'as que — 525= carac‘erizam as Arvores em geral. A drvore € um organismo ve- getal, o que vem a ser um sistema de relagdes (€ em fungao de outros organismos e no contexto do conjunto deles, e mesmo no da totalidade dos objetos na Natureza, é¢ ai e sdmente ai que se propde a natureza vege.al da drvore; e coisa andloga se diria com respeito a outras circunstancias de que a 4rvore participa). Relagdes aque- las que presidem 4 morfologia e fisiologia da arvore, e que lhe con- cedem a individualidade que é a sua. Neste caso, ainda mais clara- mente que no da floresta, verifica-se como a individualidade das partes — e que na 4rvore sao entre muitas outras o tronco, as rai- zes, os galhos, as folhas, a circulag&o da seiva, a fotosintese, etc.- é fungdo do conjunto delas e da totaidade da arvore; tanto quanto essa totalidade € fungio das partes nela intregadas e relacionadas no sistema de conjunto que ela forma. O tronco sémente é tronco na qualidade, situagdo, fungao de sustentag&o da drvore, conduto da sei- va que a alimenta, e assim por diante. Separado dessas fungGes, fora da totalidade “drvore” e sistema de conjunto de relagdes que a arvo- re cons itui, o tronco sera lenho, sera matéria organica em decom- posigao... Mas j4 no sera “tronco”, nao tera a individualidade prépria do tronco, individualidade essa que € o sistema “drvore” que Ihe concede, e que somente ele lhe pode conceder. Consideragdes andlogas se farao relativamente 4s “partes” da Arvore, tomando por objeto as partes dessas partes, como sejam o tecido vejetal, as células, compostos de carbono, etc. E podemos ir indefinidamente adiante nesta “decomposigéo” da arvore nas rela- gSes em que se estrutura, E em sentido inverso, em vez de partir, como fizemos, da floresta para a drvore e seus componentes, com- ponentes de componentes, etc., podemos situar a floresta nos sistemas de relagdes em que necessariamente se inclui, como sejam as circuns- tancias geograficas, geolégicas e outras que a condicionam e deter- minam. Estariamos sempre, pela mesma forma que vir mos, caracterizando as feigdes e, situagdes da Realidade de que nos ocuphmos, por sistemas de relagdes en‘re si articulados e entrosados. BE isto que procuro aqui tornar claro (o que nem sempre € facil com os nossos habitos ordindrios de pensamento, e as eX- pressdes e formulagdes verbais que somos obrigados a empregar). A saber, que sao relagdes e os sistemas em que se estruturam, que caracterizam as feigdes, situacdes ou circunstancias em geral da Realidade que tratamos, como individuos pensantes, de conhecer. Que constituem essa Realidade tal como nos é dado conhece-la, & que aprendemos no ato de conhecer e nas operagdes com que se elabora o Conhecimento. As prdéprias expressdes de que nos ser- vimos, e que devemos empregar ao referir as situagdes acima des- critas — a floresta, as drvores, os troncos, a circulagao da seiva, etc. —53e— nos mostram is‘o, direta e imediatamente, a cada passo. “Orga- nismo”, “‘vegetal”... n&o so outras coisas. “Organismo” é siste- ma (relagdes portanto) de orgéo e nao “nome” de coisa ou seres no sentido que a linguagem que empregamos parece 4 primeira vista im- plicar. O mesmo diremos de “vegetal”, que nada significa, ou nao si- gnifica o que pretendemos, fora da sistematica da Natureza: uma vez mais, portanto, sistema de relagdes. Isto é, situagéo em que as partes e elementos consti‘uintes se condicionam e determi- nam mutuamente, sio fungao reciproca uns dos outros. E ao mesmo tempo que integram uma totalidade, sao fungao desta totalidade, e dela derivam sua individualidade, tanto quanto a mesma totalida- de é func&o de seus elementos ou pares, e deles deriva sua indivi- dualidade propria. Poderiamos ilustrar 0 nosso assunto com outra categoria de feigdes e situagdes da Realidade, aquelas mesmas precisamente, que ocuparam centralmente a atengéo de Marx cujo pensamen’o acerca da questéo do Conhecimento, bem como suas implicag6es imediatas, estamos considerando. A saber, a economia capitalista. No 6 sem razao que se costuma falar ai em “sistema” capi- falista, pois trata-se de um conjunto onde todos e cada um dos elementos constituintes se, integram numa unidade e totalidade (pre- cisamente um “sistema”) de tal forma que tanto quanto esse con- junio deriva dos elementos que o compéem, ¢ é por eles determi- nado, esses elementos derivam sua especificidade e individualidade (mais uma vez quasi me escapa, empregando a linguagem meta- fisica, a expresso “esséncia”...) do conjunto de que participam e que constituem. ‘“‘Capitalismo” é a designagao que se d4 a um tipo de organizagao econdmica e seu funcionamento, que em tltima andlise resulta de uma forma de comportamento de individuos cole- tivamente engajados direta ou indiretamente em atividades produtivas, derivadas e conexas, e pata esse fim se ligam e comunicam entre Si. Comportamento esse em que todos os fatos e situagdes nele correntes e que o configuram, se acham estreita e indissoluve’men- te interligados, dependem e resultam uns dogs outros, configuram-se © se de'erminam mutuamente, constituindo um conjunto e comple- XO de relacdes distribuidas nas dimensdes da simultaneidade e da Sucessao (espago e tempo), e conjungadas num todo que constitui Precisamente 0 sistema do capitalismo, cujas partes e elementos cons- tituin’es se condicionam uns aos outros, bem como a totalidade que integram. Capital, meios de produgio e materiais empregados nessa Produgao, forga de trabalho, lucro, mercadorias, comércio, circulagao monetaria, crédito e tantos outros elementos consti’utivos do capi- {alismo, Tepresentam todos formas caracteristicas de comportamen‘o humano (atos e atitudes de individuos agindo coletivamente). E — 54 sZo todos eles fung&o uns dos outros e do sistema de conjunto em que seentrosam e de onde derivam suas caracteristicas e especifici- dade préprias. O papel que cada qual desses elementos desempenha é sempre fungao do dos demais. O capital € capital, e sOmente assim, pelo fato da inversdo ou investimento em atividades produ- tivas, inversdo esta que afinal nada mais significa que compra de forga de trabalho (compra essa efetuada com salario), bem como dos meios de produgao e outros insumos nos quais se aplica aquela forca de trabalho e com que se realiza a atividade produtiva. Ope- ragdo essa tltima da qual resultam as mercadorias que uma vez vendidas recompdem em dinheiro o valor do capital originériamen- te invertido, mais um excedente que representa o Iucro do capita- lista tiular do mesmo capital. Renovando-se em seguida o ciclo produtivo. Por esta pequena ¢ esquematica, mas bem ilustrativa amostra do funcionamento da economia capitalista, verifica-se o entrelagamento organico e “esséncial” (empregamos a expressdo por falta de me- thor, e apezar da ressonancia metafisica que comporta) dos elemen- tos que constituem essa economia. E se evidencia que € nas rela- ¢des em que se integra o conjunto de tais elementos, que se situa a natureza de cada qual deles bem como da totalidade em que se en- grenam e que eles formam. Nao ha capital fora das relagdes (e nessas relagdes sua natureza se esgota) em que o capital figura en- trosado com o fato da compra da forga de trabalho, dos meios de produgaio, etc. para resultar na produgio de mercadorias cuja ven- da repde o capital em sua forma monetéria origindria. Tal como nao ha forca de, trabalho (em termos capitalistas) ou quaisquer ou- tros elementos do sistema, a parte desse sistema e fora das relagdes em que eles entre si se articulam. E assim a mesma coisa que observamos em todas as feigdes € situagdes da Realidade, sejam da Natureza inanimada, sejam as or- ginicas, sejam as que digam respeito ao Homem e suas atividades. Isto é, uma trama de relagdes em que se, estrutura ¢ de que se cons- titui o Universo, ¢ no qual se realiza e manifesta seu comportamen- to. Trama alids sem so'ugao de continuidade que envolve e interliga, e com isto configura todas as feigdes e situagdes universais. Consi- dere-se a floresta ou o sistema capitalista das nossas ilus racdes aci- ma, ou outras quaisquer, e leve-se o processo de relacionamento, ou melhor, determinagio de relagdes (tal como procedemos acima, & que representa alids a marcha progressiva do Conhecimento) leve- se esse processo avante e través de todas as conexGes que se encon- tram pe'o caminho, e logo se vera que ele (0 processo) se dispersa em todas as diregdes, nao tem fim e tende para o infinito. E revela com isto a Unidade universal. Em outras palavras, situagdes ¢ MO-

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