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RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 1.0105.12.

023964-2/003 EM APELAÇÃO
CÍVEL/REMESSA NECESSÁRIA

COMARCA: GOVERNADOR VALADARES

RECORRENTE: MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES


Advogada: Marcela Lemos Carvalho

RECORRIDO: LEONARDO ALVES VARGAS


Advogado: Rogério Geraldo Nalon de Andrade

Trata-se de recurso extraordinário interposto pelo Município de


Governador Valadares, com fundamento no art. 102, III, “a”, da Constituição da
República, após rejeitados embargos de declaração apresentados contra acórdão
deste Tribunal que manteve a sentença de procedência proferida nos autos da ação
proposta por Leonardo Alves Vargas, objetivando o recebimento do abono salarial
anual (PASEP) referente ao ano de 2011, que deixou de receber em virtude de
negligência da administração municipal.
O recorrente argui ofensa ao disposto nos artigos 5º, caput e inciso II, 18,
29, 31 e 37 da Constituição da República e nos enunciados das Súmulas nº s 346 e
473 do STF, invocando repercussão geral da questão constitucional debatida no
recurso.
Afirma que o recorrido não preencheu os requisitos legais previstos no
art. 9º da Lei nº 7.998/90 necessários ao recebimento do abono salarial (PASEP).
Assegura que não houve negligência do recorrente, ressaltando que o
município em questão possui métodos organizacionais que divergem dos demais,
mas não revela nenhuma afronta à legalidade.
Sustenta que a procedência de pedido formulado neste feito importa em
violação aos princípios da legalidade e da separação entre os poderes.

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Insurge-se contra a intervenção do judiciário na concessão do direito
pleiteado na demanda, destacando que a administração pública tem o poder de
autotutela.
Recurso tempestivo e legalmente dispensado de preparo.
A abertura da Instância superior é inviável.
Registre-se, de início, que a apreciação de ofensa a súmula não constitui
uma das hipóteses de cabimento do recurso extraordinário previstas no art. 102, III
e alíneas, da Constituição da República.
No tocante à suposta afronta ao disposto nos artigos 18, 29 e 31 da
Constituição da República, o inconformismo não prospera, visto que essas normas
não foram objeto de debate e decisão prévios pelo Órgão Julgador, que não
examinou a questão posta nos autos sob o pretendido enfoque.
Mister observar, ainda, que a matéria não foi sequer suscitada pelo
recorrente nos embargos declaratórios, incidindo, a toda evidência, os óbices dos
Enunciados nºs 282 e 356 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, ante a ausência
do requisito do prequestionamento.
No que concerne à pretensa violação ao princípio da legalidade,
relativamente à aplicação do direito infraconstitucional, o recurso também não reúne
condições para prosseguir conforme entendimento sumulado no Tribunal ad quem,
no Enunciado nº 636, e sustentado em vasta jurisprudência:
Nesse sentido, confiram-se:

“Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio


constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha
rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela
decisão recorrida.” (Súmula nº 636 do STF)

“[...] 3. O princípio constitucional da legalidade, quando debatido sob


a ótica infraconstitucional, revela uma violação reflexa e oblíqua da
Constituição Federal decorrente da necessidade de análise de
malferimento de dispositivo infraconstitucional, o que torna
inadmissível o recurso extraordinário, a teor da Súmula nº 636 do
STF. [...].” (ARE nº 852.354 AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de
23/04/2015)

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Ademais, verifica-se que a Turma Julgadora dirimiu a controvérsia posta
em juízo concluindo que:

“O PASEP se constitui em abono salarial de um salário mínimo


destinado aos empregados que preencham os requisitos elencados
no art. 9º, da Lei n. 7.998/90, vide:
Art. 9o É assegurado o recebimento de abono salarial anual, no
valor máximo de 1 (um) salário-mínimo vigente na data do
respectivo pagamento, aos empregados que:
I - tenham percebido, de empregadores que contribuem para o
Programa de Integração Social (PIS) ou para o Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), até 2 (dois)
salários mínimos médios de remuneração mensal no período
trabalhado e que tenham exercido atividade remunerada pelo
menos durante 30 (trinta) dias no ano-base;
II - estejam cadastrados há pelo menos 5 (cinco) anos no Fundo de
Participação PIS-Pasep ou no Cadastro Nacional do Trabalhador.
De acordo com os dispositivos transcritos, as exigências para a
percepção do PASEP são: a percepção de remuneração por
empregadores contribuintes do PIS/PASEP; o limite de dois salários
mínimos para a média remuneratória; o trabalho por pelo ou menos
30 (trinta) dias no ano-base e o cadastramento no programa há mais
de cinco anos.
Na hipótese, todos os requisitos se mostram preenchidos para a
concessão do benefício ao autor, em relação à atividade
desempenhada no âmbito do Município de Governador Valadares.
Com efeito, o autor é cadastrado no PIS desde 20/09/2002 (f.09), foi
nomeado para o desempenho do cargo efetivo de Assistente de
Administração em 1º de dezembro de 2010 (f.07) e o requerido
reconheceu, no bojo da contestação, que a posse se deu na mesma
data, o que comprova o labor por trinta dias no referido ano-base.
O recorrente, além de não negar ser contribuinte do PASEP,
reconheceu o direito do autoro, tanto que efetivou a inclusão do
servidor na RAIS, relativamente ao exercício de 2010, em 8/10/2013
(f.46).
Destarte, não há qualquer fundamento apto a afastar a pretensão
autoral, mormente no que se refere ao princípio da legalidade.” (fls.
89-89v – g. n.)

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Como se percebe, a pretensão recursal é irrealizável, para o que não se
prescinde da revisão de juízo consolidado a partir de material probatório, cujo
exame está reservado, exclusivamente, às Instâncias ordinárias, consoante o
disposto no Enunciado nº 279 da Súmula do Supremo Tribunal Federal.
Ante o exposto, nos termos do art. 1.030, V, do Código de Processo Civil,
inadmito o recurso.
Intimem-se.

Desembargador José Flávio de Almeida


Primeiro Vice-Presidente
SBrb

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