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Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Disciplina: Introdução aos Estudos Históricos

Docente: Luiza Laranjeira

Discente: Isabel Azevedo Pina

DRE: 121134700

O conceito moderno de História por Kant e Ranke

(Questão 2):

Immanuel Kant e Leopold Von Ranke foram duas personalidades extremamente


importantes para o desenvolvimento e remodelação do conceito moderno de História Suas
ideologias possuem muitas diferenças e também certas semelhanças. Ao longo deste ensaio,
eu irei apontar tais, por meio da breve explicação do conceito de História cada um, e depois,
fazer uma relação entre os dois.
Kant disserta que a História apresenta uma estrutura universal e compartilhada do
gênero humano, regida por fins e propósitos. A História teria um início, meio e fim, e seria o
progresso das ciências. Um dos propósitos que a natureza deu ao homem teria sido prosseguir
de acordo com os fins dos quais a natureza os dotou — ela produziu o homem com a
finalidade de realizar-se na história: “Todas as disposições naturais de uma criatura estão
determinadas a desenvolver-se alguma vez de um modo completo e apropriado”. (KANT,
1784, p. 11).
Ele argumenta que o desenvolvimento da humanidade se dá pelo acúmulo de
conhecimentos e práticas ao longo dos anos, levando o mundo a um futuro luminoso.
Com isso, o futuro já estaria previsto e o presente aconteceria de forma a atingir esse
fim — a ideia de um futuro sempre melhor do que o passado, pelo tempo teleológico. A
história humana obedeceria guerras e princípios e seria como uma narrativa.
O filósofo também defende o Cosmopolitismo, e disserta que a História e as leis
devem ser sobre toda a totalidade humana, e não apenas sobre um povo específico, como
forma de atingir a paz e liberdade. Com isso, se daria uma constituição universal, que
abarcaria todo o mundo.
Já Ranke, encara a história como uma ciência. De acordo com ele, a História é um
processo, que deveria ser analisado sem julgamentos, e deveria-se apenas analisar os fatos. A
História não deveria ser usada como exemplos éticos e políticos; isso pois a sua função seria
coletar os fatos e formar totalidades, sem julgar situações como boas ou ruins, ou tomá-las
como conduta para o presente.
Ele disserta que a História é uma ciência sem leis, apenas processos, com fatos
humanos e particulares — diferente das ciências naturais, que têm eventos que se repetem e
leis.
Por não existir leis na História, ela não poderia ter um tempo teleológico, pois isso
implicaria o uso de leis das ciências humanas e um ideal de “começo, meio e fim”, e de que o
“fim” já estaria predestinado. De acordo com Ranke, o futuro é totalmente desconhecido, não
pode ser previsto e não deveria ser projetado, pois a função da História é trabalhar com dados
empíricos, de forma imparcial e objetiva.
Os fatos deveriam ser isolados em um processo em movimento, que formaria um
sentido total até o presente — pois não se pode conhecer o sentido futuro.
Por fim, a História deveria abarcar a compreensão da totalidade — do particular para o
plural. Ela deveria incluir a humanidade inteira, conectando os fatos em um processo.
Analisando-se os textos, percebe-se múltiplas diferenças:
Kant diz que a História tem fins e é dotada de leis, e que ela faz parte desses fins junto
com a natureza. Já Ranke, separa a História das ciências naturais e defende-a como uma
ciência independente das outras, na qual não existem leis, apenas processos;
Kant defende a História como teleológica, voltada para um fim específico — esse fim,
fazendo parte das leis naturais. Ranke discorda dessa ideia, e diz que a História não pode ter
um tempo teleológico, pois ela não possui leis;
Kant disserta que o propósito do homem na História é seguir os meios e as leis para
atingir os fins, enquanto Ranke defende o estudo da História puramente como uma ciência e
disciplina, que deveria ser analisada por métodos empíricos, de forma imparcial e objetiva;
Kant argumenta que os conhecimentos são cumulativos ao longo da História, passados
de geração para geração, e devem ser usados para a busca de um futuro melhor e luminoso —
por isso, o futuro seria sempre melhor do que o passado. Já Ranke, diz que a História deve ser
usada como uma disciplina e pesquisa, e que o conhecimento sobre ela não deve servir para
tomar condutas para o presente. Ademais, a História não deve especular o futuro, pois se pode
conhecer apenas o passado e o presente.
Ainda assim, mesmo com tantas diferenças, há semelhanças entre os textos, como a
questão da importância da História ser universal e abarcar as diferentes sociedades, apesar das
diferenças entre elas, pois desse modo a História estaria em seu modo mais efetivo: universal
e diverso, com o coletivo singular — pois só dessa forma nós poderíamos obter o
conhecimento verdadeiro (RANKE, 1831). Ambos também foram importantes para a
definição e redefinição do conceito moderno de História — quando ela deixou de ser apenas
plural e passou a ser definida dentro de um conceito universalizante, mas que também fala
sobre aspectos singulares do mundo e como um grande processo; segundo Kant, “o problema
da instituição de uma constituição civil perfeita depende, por sua vez, do problema de uma
relação externa legal entre os Estados e não pode resolver-se sem esta última.” E de acordo
com Ranke:

“Vê-se como a história universal [Universalhistorie] é algo tremendamente difícil.


Que massa infinita! Quantos esforços diferentes entre si! Quanta dificuldade em
captar uma individualidade! Desconhecendo tantas coisas, como haveríamos de
identificar por toda a parte o nexo causal?” (RANKE, 1831).

Corpus documental:

KANT, Immanuel. Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita. São Paulo:
Brasiliense, 1986.

RANKE, Leopold von. O conceito de história universal. [S. l.: s. n.], 1831.

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