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12 - Beira do Rio - Dezembro, Janeiro e Fevereiro, 2021/2022

Biologia

Lazer e perigo à beira-mar


Pesquisa elabora plano de segurança para sete praias da região
FOTOS ACERVO DA PESQUISA
Ondas e marés
não representam
risco para
banhistas
na praia do
Pesqueiro, no
Marajó. Por lá, os
frequentadores
devem ter
cuidado
com animais
marinhos, como
as arraias.

„  Adrielly Araújo e segurança, à qualidade do meio de sugerir medidas de segurança


natural e aos aspectos históricos e aos usuários dos espaços”, explica

N
o Brasil, de acordo com o culturais lá existentes. a autora.
Pla­no Nacional do Turismo Essas são informações usadas O estudo foi apresentado
(PNT), a participação do setor para contextualizar a dissertação ao Programa de Pós-Graduação em
turístico (praia, ecoturismo, turismo Riscos e perigos em praias estuarinas Biologia Ambiental (PPBA/IECOS) da
gastronômico, religioso, rural, entre e marinhas do litoral amazônico, Universidade Federal do Pará. “O
outros) na economia, em 2018, foi de da bióloga Ana Beatriz Brito Dias. O estado do Pará detém uma ampla
R$ 58,6 bilhões. Esses dados ainda trabalho, orientado pela professora (e economicamente importante)
não foram atualizados durante a pan- Luci Cajueiro Carneiro Pereira, foi linha de costa onde se encontram
demia da Covid-19, mas a diminuição movido pela necessidade de avaliar ambientes com características físicas
da frequência turística no Brasil foi as principais adversidades relaciona- distintas entre si. São praias mari-
sentida, principalmente, pelas eco- das à segurança dos frequentadores nhas e estuarinas, ambientes rurais
nomias regionais. O desenvolvimento das praias paraenses. “A pesquisa e urbanos que atraem milhares de
turístico de uma dada localidade teve como objetivo avaliar os riscos visitantes nos períodos de férias esco-
está relacionado aos interesses da naturais e antrópicos de sete praias lares e merecem atenção especial”,
população, às condições de saúde do litoral paraense, com a finalidade justifica Ana Beatriz Dias.

Ocorrências do Corpo de Bombeiros foram analisadas


Durante a pesquisa, foram realizado um levantamento junto Em seguida, esses dados
analisadas as praias do Atalaia ao Corpo de Bombeiros e Salva-Vi- foram agregados à Análise DPSIR da
(Salinópolis), da Princesa (Mara- das do Pará, sobre o número e os Organization for Economic Co-ope-
canã), de Ajuruteua (Bragança), do tipos de ocorrências e acidentes ration and Development, e, com
Murubira (Mosqueiro/Belém), de registrados por esses profissionais base nos indicadores ambientais
Marudá (Marapanim), do Pesqueiro nas praias analisadas”, relata a e socioeconômicos, foram identi-
(Soure) e de Colares (Colares). “Foi pesquisadora. ficados os problemas centrais, na-
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turais e antrópicos de cada praia. foram identificados canais de marés com a presença de calçadões e/ou
“Avaliamos as pressões exercidas e afloramentos rochosos, além da orlas (Murubira, Marudá e Colares)”,
sobre o ambiente, o estado atual observação direta com registros informa a pesquisadora.
de cada localidade, e, ao final, fotográficos dos principais fatores De acordo com a bióloga,
sugerimos respostas para cada um que geram riscos aos veranistas. Pesqueiro é um caso especial,
dos problemas indicados”, explica “As condições hidrodinâmicas porque está dentro da reserva ex-
Ana Beatriz Brito Dias. foram as mais destacadas na aná- trativista de Soure e é muito bem
A coleta de dados ocorreu lise como fatores de risco para os controlada pelo Instituto Chico
por 25 horas, em cada uma das frequentadores nas praias marinhas Mendes de Conservação da Biodi-
praias. Foram observadas noções (Ajuruteua, Atalaia e Princesa), assim versidade (ICMBio). As construções
hidrodinâmicas (altura de marés, como os riscos de fontes antrópicas de casas e bares são regulamen-
altura de ondas, direção e velo- (causadas por pessoas) foram mais tadas e precisam de autorização,
cidade das correntes de marés) e evidentes nas praias estuarinas tornando o ambiente altamente
morfodinâmicas, por meio das quais devido ao processo de urbanização, preservado.

Perigo: maré alta, animais marinhos e lixo


Nas praias Atalaia, Ajuru- a falta de um sistema mais eficiente Em Mosqueiro, o lixo é res-
teua e Princesa, os principais de segurança praial e a falta de per- ponsável por 16% dos acidentes nas
perigos naturais identificados fo- cepção dos visitantes sobre os riscos praias. Assim, a limpeza efetiva é a
ram: elevação das marés, ondas, que as praias oferecem aumentam as principal recomendação. “Melhorias
correntes marítimas, afloramentos chances de acidentes e afogamen- na infraestrutura física e a constru-
rochosos, formação de canais e as- tos. “Não existem sinalizações sobre ção de redes de esgoto, assim como
simetria das marés. Entre os perigos as condições de banho ou sinaliza- o monitoramento mensal da qualida-
antrópicos, destaca-se a presença ções de áreas de riscos. O monitora- de da água, são soluções sugeridas
de veículos na faixa intermarés, mento efetivo por salva-vidas ocorre para os problemas de contaminação
a falta de saneamento básico e o mais intensamente durante as férias direta da água balnear”, sugere.
acúmulo de resíduos sólidos como escolares e em feriados prolongados. Por fim, o estudo propõe a criação
os maiores perigos para os usuários Na maioria dos casos, o número de de um plano estadual de segurança
do espaço. salva-vidas nas praias é pequeno, praial, com informações sobre as
“Além disso, em Ajuruteua, há comparado à extensão desses am- condições climáticas, de banho e,
construções irregulares à beira-mar bientes e ao número de visitantes principalmente, sobre potenciais Obras de
contenção
que aceleram os processos erosivos, na alta temporada”, alerta. riscos de acidentes. sem qualquer
o despejamento de materiais da cons- De acordo com a pesquisado- A ferramenta seria útil e de manutenção
trução civil na praia (madeira, ferro e ra, os problemas naturais (condições fácil acesso aos gestores praiais e aos são comuns em
propriedades
concreto), e propriedades com obras oceanográficas, altura de marés e veranistas. “O Pará tem mais de 550 localizadas
de contenção sem manutenção”, ondas, mudanças no perfil praial, quilômetros de linha de costa. São na orla de
pontua Ana Beatriz Brito Dias. afloramentos rochosos e apareci- praias ricas em paisagens e culturas, Ajuruteua, em
Bragança. A praia
Murubira, Marudá e Colares mento de animais aquáticos) devem que devem ser gerenciadas de forma também tem sido
apresentam como riscos naturais os ser monitorados pelas autoridades consciente, destacando a preserva- local de descarte
afloramentos rochosos e a formação competentes, pelo Corpo de Bom- ção dos ambientes e servindo aos de material de
construção civil,
de canais, com destaque para a beiros/Salva-vidas e pelo grupo de interesses turísticos e econômicos”, como madeira,
alta declividade na faixa de areia Gerenciamento Costeiro Paraense. conclui a autora do estudo. ferro e concreto.
da praia Murubira, em Mosqueiro.
Nesses locais, os principais perigos
antrópicos são o despejo de esgoto
e resíduos sólidos sem tratamento,
diretamente nas praias.
Animais marinhos – Marés e
ondas não representam risco de afo-
gamento em Pesqueiro, no Marajó.
“O maior risco natural está rela-
cionado aos acidentes com animais
marinhos, principalmente arraias.
Anualmente, tanto em Pesqueiro
quanto em Colares, o número de
acidentes com esses animais é alto,
mostraram os dados cedidos pelos
salva-vidas”, revela a pesquisadora.
De acordo com Ana Beatriz,

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