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O sol e a bigorna
Para levar tal concepção à prática, Walter Gropius, então jovem arquiteto promissor,
transferindo-se de Berlim para Weimar, determinou a junção das duas escolas que lá
existiam: a Escola de Artes e Ofícios (a Kunstgewerbeschule) e a Escola de Belas Artes
(a bildende Kunst): que vieram a formar a célebre Staatliches Bauhaus, ou
simplesmente Escola da Bauhaus, instalada no edifício de Van der Velde.
A formação do artista-artesão
Superado o primeiro contanto com as formas elementares, saltavam eles então para o
aprendizado da construção, da composição das cores e dos tecidos, dos instrumentos-
ferramentas e, por fim, do estudo geral sobre a natureza. Familiarizam-se nesta etapa
com a argila, a pedra, a madeira, o metal, o têxtil, as cores e o vidro. Literalmente
metem a mão na massa, estando então aptos para a construção graças aos
conhecimentos de engenharia recebidos na derradeira etapa do processo educativo.
Nesta fase a formação do aluno da Bauhaus reduzia-se muito “a área de atrito entre o
artesanato e a indústria, entre arte e técnica.” A confiança de Gropius no resultado
levou-o a dizer: “O espírito das pequenas comunidades deve conduzir-nos à vitória, a
vitória das pequenas e fecundas comunidades, os conjurados e as confrarias que, em
silêncio, guardam o segredo inexplicável e libertarão a bandeira da arte por cima da
imundície quotidiana.”
(*) O termo Expressionismo foi usado pela primeira vez na Alemanha em 1911 por Wilhelm Worringer
para definir as novas tendências na literatura (W.Laqueur – Weimar 1918-1933, Paris, 1978, p.156).
A questão da tecnologia
A Escola Bauhaus alinhou-se junto a este último grupo, dos que consideravam que as
novas catedrais viriam a ser erguidas com aço, com cimento e vidro. Não só isso. Tratou
inclusive de propor uma estética que melhor expressasse o domínio da tecnologia,
inspirando-se na geometria euclidiana e nas formas mecânicas (os oposicionistas
acusaram-na de Amerikanismus, de importar uma estética não-germãnica)
Posicionamento que levou a que a Escola Bauhaus se deixasse fascinar pelas linhas
retas, pelas formas cúbicas, triangulares ou circulares e pelo total despojamento
decorativo. Segundo a ambição do projeto social-utópico dos teóricos da Bauhaus, -
profundamente hostil ao passado Barroco e à Art Nouveau, mais recente - o desenho
fortemente geometrizado do edifício presente no novo cenário urbano, resultado do
encontro da ciência com a técnica, causaria um impacto racionalista na sociedade,
imunizando-a e afastando-a das paixões extremadas (por exemplo, do patriotismo e do
nacionalismo chauvinista exacerbado pela guerra de 1914-18).
As ameaças à Escola não vinham somente de fora. Duas correntes começaram a cindir-
se no interior da própria direção da instituição. Uma delas, a do escultor e gravurista
Gerhard Marcks, por exemplo, em nome do purismo e contra “a exploração
econômica”, defendia a continuidade da ligação estreita da Bauhaus com o estado,
enquanto Gropius procurava aproximá-la da indústria privada para que ela pudesse
libertar-se dos condicionamentos orçamentários. O desenlace deu-se em dezembro de
1924, quando a Escola foi fechada pelo governo direitista da Turíngia.
Em Dessau, por fim, surgiu a oportunidade de Gropius erguer um edifício símbolo das
ambições da Escola, uma construção que abrigasse, ligado ao prédio principal onde se
dava o ensino, uma série de outros edifícios (oficias e habitação dos estudantes)
formando um conjunto arquitetônico síntese da integração arte-artesanato .
Foi lá, por igual, que Gropius projetou a construção do bairro modelo de Törten-
Dessau, um conjunto habitacional que serviu à politica da planificação urbana
obediente à uma linha de montagem previamente elaborada. Guardava, o projeto, a
expectativa de servir como modelo à sociedade igualitária do futuro, toda ela
organizada em espaços geométricos amplamente arejados, totalmente contrária aos
cortiços a que os trabalhadores estavam confinados na maioria das grandes cidades
industriais daquela época.
Enquanto isto, dos seus ateliers, surgiam os novos móveis inspirados no design
futurista, feitos de couro, plástico, madeira e aço, obedientes ao estilo funcionalista que
a Escola da Bauhaus adotara desde os seus começos por seus principais mestres. (*)
Por fim, em 5 de outubro de 1932, o contrato da cidade de Dessau com a Escola foi
rescindido, forçando a que Van der Rohe tratasse da transferencia para Berlim. Pouco
adiantou o trabalho. Em 20 de julho de 1933, seis meses após a ascensão de Hitler ao
poder, ela fechou definitivamente suas salas e oficinas. No dia 20 de abril daquele ano,
200 policias a haviam invadido Escola, providenciando-se em seguida um inquérito
contra ela na Procuradoria Geral da República.
A única porta que então se abriu aos integrantes da Bauhaus foi a do exílio. Como
tantos outros artistas, cientistas e homens de letras anti-nazistas, eles também partiram
para longe da Alemanha. Gropius e Van de Rohe foram recebidos de abraços abertos
nos Estados Unidos, país onde a maioria deles iria dar continuidade a uma carreira
brilhante. Gropius, por exemplo, afamou-se ainda mais com seu empenho em favor do
International Style, movimento arquitetônico síntese do estilo Bauhaus com o
funcionalismo norte-americano que, além dos alemães emigrados, contou com
arquitetos como Phillip Johnson e Richard Neutra. Expulso pela Alemanha Nazista, o
estilo Bauhaus, atravessando o Atlântico, facilmente aclimatou-se no Novo Mundo,
dando ainda mais ousadia à revolução modernista do século 20.
(*) Núcleo difusor de novas tendências, a Bauhaus foi composta por um corpo docente formado por
diversas profissões: eram engenheiros, arquitetos, pintores, desenhistas, gravuristas, decoradores e
artistas industriais, grupo este que causou profundo impacto na arte do século XX. Entre eles
encontrava-se, além de Walter Gropius, que foi diretor até 1928, Johannes Itten, Lyonel Feininger,
Gehard Marcks, George Muche, Gertrud Grunow, Lothar Schreyer, Adolf Meyer, Oskar Schelemmer
László Moholy-Nagy, Paul Klee, Wassily Kandinsky, Herbert Bayer, Hinnerk Scheper, Gunta Stölzl,
Joost Schmidt, Hannes Meyer, Ludwig Hilberseimer, Alfred Arndt, Ludwig Mies Van Der Rohe, Lily
Reich e Walter Peterhans.
O manifesto Bauhaus:
As antigas escolas de arte foram incapazes de criar essa unidade, e como poderiam,
visto ser a arte coisa que não se ensina? Elas devem voltar a ser oficinas. Esse mundo
de desenhistas e artistas deve, por fim, tornar a orientar-se para a construção. Quando o
jovem que sente amor pela atividade plástica começar como antigamente, pela
aprendizagem de um ofício, o "artista" improdutivo não ficará condenado futuramente
ao incompleto exercício da arte, uma vez que sua habilidade fica conservada para a
atividade artesanal, onde pode prestar excelentes serviços. Arquitetos, escultores,
pintores, todos devemos retornar ao artesanato, pois não existe "arte por profissão".
Não há nenhuma diferença essencial entre artista e artesão, o artista é uma elevação do
artesão, a graça divina, em raros momentos de luz que estão além de sua vontade, faz
florescer inconscientemente obras de arte, entretanto, a base do "saber fazer" é
indispensável para todo artista. Aí se encontra a fonte de criação. artística.
Formemos, portanto, uma nova corporação de artesãos, sem a arrogância exclusivista
que criava um muro de orgulho entre artesãos e artistas. Desejemos, inventemos,
criemos juntos a nova construção do futuro, que enfeixará tudo numa única forma:
arquitetura, escultura e pintura que, feita por milhões de mãos de artesãos, se alçará um
dia aos céus, como símbolo cristalino de uma nova fé vindoura.”
Bibliografia:
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2005/03/12/002.htm