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CATEGORIA: EM ANDAMENTO
Introdução:
Este texto é parte de uma pesquisa mais ampla que trata de compreender, por meio
dos personagens e narrativas, como os signos visuais e verbais são utilizados nas
histórias em quadrinhos (HQ) da Maurício de Sousa Produções (MSP) para
representar a identidade brasileira. A partir da representação do caipira em
narrativas gráficas ficcionais, pretende-se discutir o preconceito e estigma
relacionado às identidades regionais. O recorte neste trabalho se limita à
representação do caipira nas HQs do personagem Chico Bento.
Objetivo
Analisar a evolução da representação da população interiorana nas histórias em
quadrinhos de Maurício de Sousa.
Metodologia
A pesquisa é de natureza exploratória, composta por um delineamento
documental, e também por revisão bibliográfica. Tem se como corpus de análise as
revistas das coleções “Chico Bento” e “Almanaque do Chico Bento”, do ano 2019, e
as revistas da coleção “Chico Bento Moço”, dos anos 2013 e 2017.
Desenvolvimento
A identidade nacional brasileira se fundamenta na mestiçagem de raças e
culturas, nas misturas de traços característicos de índios, negros, europeus etc.
Para Dahlberg (1907) a miscigenação influencia o sentimento de nacionalidade.
Estados nos quais não ocorreram misturas de raças ou que lutam para neutralizar as
diferenças destroem suas próprias vitalidades. Ribeiro (1995, p.21) define uma
identidade nacional quando se “fala uma mesma língua, só diferenciada por
sotaques regionais”, como se dá no Brasil. Este texto discute especificamente a
representação de um tipo de brasileiro, o caipira.
Segundo Falavina (2014), a cultura caipira começa a ser formada com a
entrada dos bandeirantes no interior paulista em busca de mão de obra escrava
indígena e ouro. Devido ao nomadismo e conhecimentos dos índios eles se
mantiveram fixos em uma economia de subsistência de pesca, plantação etc. Na
mistura das línguas indígenas, africanas e portuguesa, desenvolveu-se um dialeto
visto como inferior se comparado à norma culta. Esse aspecto gera as primeiras
manifestações de preconceito e discriminação em relação à população caipira.
Perceptível e estigmatizada como ‘errada’, a fala caipira pouca
importância dedica às regras sintáticas de concordância, talvez pela
percepção da redundância da regra normativa e, em muitos casos,
pela pouca diferença fonética entre singular e plural, sem nenhuma
implicação que turve o sentido lógico e poético do vernáculo.
(SANT’ANNA, 2009, p.67)
Figura 1. Revistas Chico Bento. Nº 55. 2019 e Almanaque do Chico Bento. Nº 75. 2019
Fonte: Panini
Figura 2. Revistas Chico Bento Moço nº 50. 2017, nº 2. 2013 e nº 44. 2017
Fonte: Panini
Resultados da análise
A presente pesquisa ainda está em fase inicial e os resultados aqui
apresentados reduzem-se a algumas reflexões sobre a forma de representação do
caipira e o preconceito e discriminação voltado à população interiorana.
Aponta-se que a imagem do caipira construída ao longo dos anos vem se
alterando desde a caricata figura primitiva interiorana até o sertanejo moderno que
mora na cidade. Sobre essa atual forma de representação da pessoa do interior,
muitos outros produtos da mídia também tiveram influência em sua formação, como
as novelas e a música popular – segundo o Kantar Ibope Media, o “Sertanejo” foi o
estilo musical mais ouvido no país em 2019. Essa nova forma de retratar o
caipira/sertanejo também se manifesta nas HQs. Nesse sentido, as revistas da MSP
apresentam-se como uma amostra significativa dessa mudança. Dito isso, fica o
questionamento que solicita maior aprofundamento: Até que ponto as HQs
influenciam na construção e transformação de estereótipos que resultam em
preconceito e discriminação regional?
Bibliografia: