Você está na página 1de 13

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

Cultura Organizacional e Mudança:


o estudo da Secretaria de Educação do
Município de Serra Redonda-PB

Maria Luiza da Costa Santos [1], Marcos Igor da Costa Santos [2], Landelina Tavares
Pontes [3]
[1] mluizacs@gmail.com. [2] marcosigor2508@gmail.com. [3] landelinatavaresp@bnb.gov.br. Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Paraíba - IFPB

Resumo

Estudar a cultura organizacional é essencial para entender sua influência no comportamento das pessoas.
São os valores, missão, objetivos que modelam a identidade da organização, a qual formada por pessoas
com comportamentos divergentes, seguem valores comuns. É por meio da compreensão da cultura que é
possível implantar mudanças no sentido de promover resultados que garantam a sobrevivência organizacional.
No cenário público, as organizações tem sido impulsionadas a mudar e esse processo parece interferir no
desempenho dos colaboradores no trabalho. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar a relação entre
Mudança e Cultura em uma Secretária de Educação do Município de Serra Redonda do estado da Paraíba. A
metodologia utilizada foi de natureza qualitativa, por meio de estudo realizado com embasamento descritivo
e bibliográfico. Os dados foram coletados por um formulário aplicado aos funcionários, através da técnica
de entrevista Os resultados apontam que esta organização enfrenta constante mudança em seus planos de
trabalho, em decorrência de mudança na gestão do município, prejudicando a continuidade dos trabalhos e não
oportunizando o envolvimento dos seus colaboradores. Foi possível verificar que os processos de mudanças
ocorridos tem provocado resistências e impactos culturais à organização e ao ambiente de trabalho.

Palavras-chave: Cultura organizacional. Mudança. Resistência.

Abstract

Studying organizational culture is essential to understanding its influence on people’s behavior. The values,
mission, goals shape the identity of the organization, which consists of people with divergent behaviors, follow
common values. It is through the understanding of the culture that it is possible to implant changes in the sense
of promoting results that guarantee the organizational survival. In the public scenario, organizations have been
driven to change and this process seems to interfere with the performance of employees at work. Thus, the
objective of this study was to analyze the relationship between Change and Culture in a Secretary of Education
of the Municipality of Serra Redonda in the state of Paraíba. The methodology used was of qualitative nature,
through a study carried out with a descriptive and bibliographic basis. The data were collected by a form applied
to the employees, through the technique of interview The results indicate that this organization faces constant
change in its work plans, as a result of change in the management of the municipality, harming the continuity
of the work and not allowing the involvement of its employees. It was possible to verify that the processes of
changes occurred have caused resistance and cultural impacts to the organization and the work environment.

Keywords: Organizational culture. Change. Resistance.

1 00 JOÃO PESSOA, 2018 SUBMETIDO 24/04/2018 > AVALIADO 25/05/2018


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

1 Introdução disso, estudar o tema cultura e mudança organizacio-


nal se reveste de significativa importância uma vez
Estudar a cultura de uma organização tem um ca- que busca compreender o modo como as organiza-
ráter histórico mais profundo, o qual remete a origem ções administram a mudança e as repercussões nas
da organização, ao processo de definição de seus va- pessoas, visto que estas podem visualizar a mudança
lores básicos e à modelagem dos padrões culturais. como algo, positivo ou negativo e que, naturalmente,
Tanto o processo de diagnóstico e as intervenções surgem as resistências às mudanças.
sobre a cultura de uma organização demonstram as À vista disso, a pesquisa em estudo foi realizada
dificuldades de se trabalhar com um fenômeno tão com o objetivo de analisar a relação entre Mudança
complexo e profundo (HATCH e SCHULTZ, 1997; e Cultura em uma organização pública, verificando as
SCHEIN, 2009). Entretanto, o estudo da cultura é reações dos colaboradores frente às mudanças, em
fundamental para compreender os aspectos que a decorrência do processo eleitoral, que ocorre a cada
modelam, sejam pessoas, objetos, valores, missões período de quatro anos. Teve, portanto, a pretensão
ou objetivos institucionais. de buscar respostas para a questão: de que forma os
Analisar a cultura de uma organização não é colaboradores da Secretária de Educação reagem as
uma tarefa simples, visto que a mesma não se revela mudanças decorrentes do Processo Eleitoral?
facilmente e pode ser analisada em diferentes níveis
(SCHEIN, 2009). Para uma gestão que perspectiva 2 Cultura e mudança nas organizações
mudanças o conhecimento da cultura é considerado
um fundamento básico, na medida em que parte A cultura está intrinsicamente relacionada com
do diagnóstico interno da organização, isto é, do quase todos os conceitos inerentes ao comportamen-
conhecimento do comportamento das pessoas, das to organizacional, incluindo liderança, comunicação,
histórias e dos valores predominantes no ambiente, grupos, motivação e, particularmente, com a mudan-
no sentido de identificar as reais necessidades de mu- ça. A cultura afeta e é afetada por esta variável, da
danças e analisar as futuras estratégias que devem mesma forma em que é permeada pelas questões
ser implementadas, com a finalidade de beneficiar sociais, históricas e econômicas (HATCH e SCHULTZ,
todas as pessoas que dela fazem parte e garantir a 1997). E, nesse sentido, poucas organizações, se é
sobrevivência organizacional. que há alguma, podem permanecer iguais por um
As organizações, qualquer que seja sua natureza, longo tempo e sobreviver, já que são muitas as
pública, privada ou social, estão expostas ao desa- pressões para que mudem. Logo, é importante com-
fio da mudança e o modo como elas administram preender a relação existente entre cultura e mudança
as mudanças ou deixam de administrá-las será o organizacional.
que, inevitavelmente distinguirá a vitória da derrota
em um cenário altamente competitive. E, cabe aos 2. 1  Cultura organizacional
gestores a função de explorar a mudança de forma Cultura organizacional pode ser compreendida
a capitalizar as possíveis oportunidades geradas por a partir de um conjunto de valores presentes em
ela. Mas esta incumbência não parece fácil quando se uma empresa, suas relações e hierarquia, definindo
verifica que no cotidiano de trabalho, as organizações os padrões de comportamento e de atitudes que
e as pessoas resistem à mudança. Fato que, por um governam as ações e decisões mais importantes da
lado, pode ser considerado uma resistência positiva, administração (BROWN e STARKEY, 2000; LACOM-
uma vez que proporciona certo grau de estabilidade e BE, 2005). E, nesse sentido, pode-se afirmar que são
previsibilidade no interior das organizações, mas, em os valores e as premissas escolhidas pelas pessoas
casos da não ocorrência de resistência, o comporta- que constroem a cultura do ambiente de trabalho de
mento organizacional pode assumir características de uma organização ou parte dela, seja de forma direta
casualidade caótica (FREITAS, 2007). ou indireta, e que se vinculam de forma a condicionar
No contexto das organizações do setor público, as políticas e decisões.
as mudanças vivenciadas estão associadas ao cunho Para Schein (2009), Fleury e Sampeio (2002) a
estrutural, estratégico e principalmente, político, exi- cultura envolve um conjunto de hábitos e crenças,
gindo que os indivíduos necessitem de características estabelecidos pelas regras, valores, atitudes e ex-
que facilitem à adaptação ao novo ambiente. Diante pectativas, compartilhadas por todos os membros da

JOÃO PESSOA, 2018 1 01


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

organização. Ela se refere ao sistema de significados a partir de prioridades em função do desempenho


que distingue uma organização das demais. Constitui, da empresa em harmonia com os interesses de um
de acordo com esses autores, o modo identificável de conjunto de pessoas (ALBERT et al., 2000).
pensar e agir que existe em uma organização. Como destacado por Albert et al. (2000), a iden-
De forma similar, Albert et al. (2000) apresentam tidade organizacional é formada e transformada ao
a cultura organizacional como um conjunto de valo- longo do tempo, a partir do julgamento dos indivíduos
res e pressupostos básicos, expressos em elemen- sobre os aspectos distintos, centrais e duradouros da
tos simbólicos, que em sua capacidade de ordenar, organização. Os aspectos distintos estão relacionados
atribuir significados, construir a identidade organiza- à exclusividade da organização; os aspectos centrais
cional, tanto agem como elementos de comunicação se referem ao sistema de crenças, valores e normas.
e consenso, como ocultam e instrumentalizam as O aspecto duradouro é o que garante a continuidade
relações de dominação. da empresa e a sua constante transformação. Muitas
Assim, cultura organizacional se refere a um con- vezes as abordagens da identidade e da identificação
junto de pressupostos que um grupo inventou, desco- organizacional se misturam, uma vez que envolve
briu ou desenvolveu para lidar com seus problemas cognição e afeto (ALBERT et al., 2000).
de adaptação externa e de integração interna e que Assim, a construção da identidade organizacional
funcionam tão bem que passam a ser considerados é social e se fundamenta em torno das percepções
válidos e ensinados aos novos membros, como a dos indivíduos que passam a impregnar todas as
forma correta de pensar e sentir, em relação a esses práticas, constituindo um complexo de representa-
problemas (REZENDE et al., 2014). ções mentais e um sistema coerente de significados
Considerando os conceitos abordados, um as- que une todos os membros em torno dos mesmos
pecto relevante de destacar se relaciona ao fato de objetivos e dos mesmos modos de agir. Ela serve
que os elementos componentes da cultura parecem de elo entre o presente e passado e contribui para a
agir enquanto fator de aprendizagem dos seus mem- permanência e a coesão da organização (HATCH e
bros, determinando seus comportamentos. O que é SCHULTZ, 1997; FREITAS, 2007).
natural, uma vez que são os valores, princípios, cren- Como apresentado por Schein (2009), Rezende
ças que orientam as atitudes, os comportamentos e et al. (2014), entre outros autores, ainda é importante
definem as ações de forma coerente com a realidade ter a compreensão, que a organização é composta
do contexto interno e também externo, pois sem eles por vários órgãos e cada um tem perfil próprio, iden-
as organizações tornam-se vulneráveis à crises con- tidade e comportamento único que desenha a cultura
junturais. do órgão, através dos comportamentos e formas de
Mas, Schein (2009) chama atenção para o fato agir do conjunto de pessoas que dele fazem parte. São
de que conhecer a cultura de uma organização não comportamentos diversos e divergentes, mas que se
é tarefa simples, visto que a mesma não se revela norteam por valores comuns e que se fundamentam
facilmente e se faz necessário conhecer seus diferen- nas suposições que sustentam a organização e que
tes níveis. O ambiente físico, a linguagem do grupo, a torna diferentes das demais organizações ao seu
sua tecnologia e produtos representa o nível mais redor.
aparente da cultura organizacional, denominado ar- Pode-se entender que a identidade de uma or-
tefato, é considerado o mais difícil de ser decifrado, ganização ou parte dela é construída conforme as
pois precisa de tempo suficiente para ser possível características que permanecem com o passar do
identificar os seus significados. Um segundo nível tempo, e que demonstram os objetivos de um con-
se relaciona as Crenças e valores, que assumem o junto de pessoas e a missão da organização. Assim,
caráter de idealização ou racionalização no qual as a cultura, uma vez estabelecida, com os passar dos
pessoas expressam a razão do seu comportamento, anos se torna mais resistente, ora conservadora e
e por fim, o nível inconsciente, chamado de suposi- menos flexível, ora buscando adaptação às mudan-
ções básicas que determina como os membros do ças (COHEN e FINK, 2003).
grupo percebem, pensam e sentem (SCHEIN, 2009). Neste estudo, o foco se dirige a pertinência do
Dessa forma, a cultura de uma organização se componente “mudança” enquanto agente implícito ou
torna um recurso identificável direcionado ao alcance explícito de cultura organizacional. A mudança aqui
dos objetivos e metas, com critérios estabelecidos abordada se refere ao contexto de uma organizacão

1 02 JOÃO PESSOA, 2018


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

pública municipal, os efeitos que se operam em nível de cultura ocorre não só no interior da organização,
de crenças e valores, no ambiente de trabalho, como entre os colaboradores, mas do lado de fora, entre os
os funcionários reagem frente as demandas de uma fornecedores e clientes (SCHEIN, 2009).
nova gestão e que pode ser traduzida como transfor- No universo público, as organizações não po-
mação da cultura organizacional dem estar ilesas à necessidade de reestruturação
estratégia e de adoção de novas técnicas de ges-
2. 1. 1  Mudança cultural ou organizacional? tão necessárias à sua capacitação ao manejo das
complexas demandas organizacionais e ambientais
O que se entende por mudança cultural é a
(KLIKSBERG, 1992). Um aspecto relevante para se
definição de uma nova maneira de fazer as coisas,
destacar é o fato da continuidade e descontinuidade
alicerçadas em novos valores, símbolos e rituais. São
administrativa citada por Spink (1987) que se refere à
valores culturais essenciais à criação de identidade
troca de poderes da administração pública. Segundo
institucional, comunicando caráter mais estável as
ele a continuidade administrativa mantém a perma-
atitudes e comportamentos. Assim, a cultura tende a
nência dos serviços, evitando a descontinuidade ad-
ser estável e a consolidar e firmar valores e princípios
ministrativa, o que ocasiona a interrupção de projetos
norteadores. O fato da cultura levar muito tempo para
em andamento devido à mudança de governo ou de
se formar e por se constituir de características relati-
dirigentes.
vamente estáveis e permanentes, tende a se tornar
Aparentando indiferença quanto aos cuidados
muito resistente às mudanças (WOOD JR, 2009).
para gerenciar os efeitos naturais decorrentes do
Há mais de uma década, a mudança de cultura
processo de mudança, as organizações públicas vêm
era encarada da forma de jargão esotérico e acadêmi-
aderindo aos processos de transformação em diver-
co. Nos tempos modernos passou a ser uma máxima
sos setores (SPINK, 1987). As proposta se voltam a
para garantir que as premissas, valores, mentalidades
desenvolver maior eficiência e eficácia nos serviços,
e processos de pensamento dos colaboradores de
mesmo nas situações em que se identificam interes-
uma empresa se adaptem à mudança de condições.
ses políticos e eleitoreiros.
Para isso, as organizações têm se apresentado cada
Vale ressaltar que em órgãos públicos, de nature-
vez mais exigentes ao se tratar da busca pela eficiên-
za prefeitura municipal, as gestões costumam mudar
cia e eficácia nos seus processos produtivos, seja um
a cada quatro anos, e isso ocasiona uma cadeia de
órgão público ou privado. Diante disso, observa-se o
mudanças nas suas organizações e respectivos seto-
cenário organizacional passando por processos de
res. De acordo com Araújo, (2008), esse cenário de-
mudança cada vez mais recorrentes.
senha transformações que envolve mais do que uma
Ao tratar do tema de mudança organizacional,
mudança estrutural e de modelo da gestão, alcançan-
Wood Jr (2009, p. 190) destaca que por definição se
do o comportamento e atitudes dos indivíduos.
refere “a qualquer transformação de natureza estru-
Nessa situação, Ulrich (2000) chama atenção
tural, institucional, estratégica, cultural, tecnológica,
para o fato de que qualquer que seja a proposta de
humana”, ou de qualquer outro componente, capaz
mudança a ser operacionalizada, o foco deve estar
de gerar impacto em partes ou no conjunto da or-
voltado para a gestão dos recursos humanos, o que
ganização. Na verdade, a mudança é uma constante
inevitavelmente, exige o reconhecimento e valoriza-
na rotina administrativa das organizações e, para
ção dos colaboradores no sentido de viabilizar estra-
acompanhar o ritmo da acelerado da globalização
tégias que compatibilizem os interesses pessoais com
se faz necessário aprender a conviver e gerenciar o
os interesses organizacionais.
processo da mudança, a fim de atender as exigências
De acordo com Robbins (2010), de um modo
de transformações que têm a finalidade de melhorar
em geral, os agentes de mudança apresentam, es-
o ambiente organizacional em prol da sociedade (RE-
sencialmente, em suas propostas quatro opções de
ZENDE et al., 2014).
categorias: estrutura, tecnologia, arrumação física e
Na verdade, a mudança de cultura tem pouco a
pessoas. Para a categoria estrutura estão envolvidas
ver com implementação de novas iniciativas. Ela se
as alterações das relações de autoridade, coorde-
dirige a mudança da mentalidade fundamental de
nações e cargo. A categoria tecnologia se relaciona
uma organização e diz respeito à distribuição das in-
com as modificações em o trabalho é realizado e com
formações, tratamento dado aos colaboradores, alo-
os equipamentos necessários. A categoria ambiente
cação do trabalho e tomada de decisão. A mudança

JOÃO PESSOA, 2018 1 03


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

físico se refere aos arranjos do espaço, layout e dis- Por fim, Freitas (2007) lembra que a mudança
posições do local de trabalho e, a categoria pessoas da cultura organizacional se institui pela interação,
refere-se às mudanças nas atitudes, habilidades, pelos (des) encontros, pela discussão e debate e
expectativas e comportamentos dos colaboradores. pelo enfrentamento conjunto dos problemas. É só da
Ao tratar sobre mudanças no ambiente das possibilidade da interação, envolvendo todas as vari-
organizações públicas, Araújo (2008) destaca que áveis do contexto, que se pode divisar o significado
naturalmente, os novos gestores ao compor o quadro da mudança.
functional tendem a trazer um novo estilo de gestão,
baseado em valores, ideias e interesses próprios, 2. 2  Processo de Mudança
que fundamentam à escolha das ações que serão
Antes de projetar qualquer proposta de mudança
implantadas e, nem sempre, estas correspondem
é preciso haver uma compreensão dos vários aspec-
aos interesses da organização, dos colaboradores e
tos da organização, os valores dominantes, estrutura,
da comunidade. E, apesar de estarem associadas as
pessoal, metas, missão e visão. Para Hitt et al. (2007),
ações de melhoria e desenvolvimento, podem tam-
a ausência dessas informações torna o sucesso
bém despontar uma ameaça, gerando resistências
impossível e a transformação de uma organização
tanto individual quanto organizacional.
acomodada e rígida para uma organização flexível,
Costumeiramente, ao assumir novos cargos
aberta ao aprendizado é uma ilusão.
ou funções, os gestores das prefeituras municipais
Muitas mudanças em organizações são encarada
apresentam propostas de trabalhos com ações de
da forma de uma ocorrência acidental, entretanto a
mudanças que de início se destinam aos aspectos
mudança deve ser implementada numa ação proati-
mais fáceis de serem modificados e, nesse caso, a
va e proposital, ou seja, intencional e orientada para
primeira ação costuma atingir os aspectos estru-
um objetivo determinado. Robbins (2010) destaca
turais. Por isso, a troca de funções, disposição dos
que ajuda pensar a mudança enquanto uma ação
espaços físicos, mobiliários e equipamentos. Em
planejada, em ordem de grandeza. A mudança de
seguida são evidenciados recursos para tecnologia e,
primeira ordem, linear e contínua, não implica mudar
só por fim, são desenvolvidas ações que se voltem
as pressuposições sobre a organização; e, a mudan-
para as mudanças de atitude e comportamentos dos
ça de segunda ordem, descontínua e radical, implica
membros organizacionais através de processos de
alterações nas pressuposições sobre a organização e
comunicação, tomada de decisão e solução de pro-
o ambiente onde ela está inserida.
blemas (ARAÚJO, 2008).
Para Hitt et al. Miller e Colella (2007) uma forma
Sobre as dificuldades e consequências do pro-
de estabilizar o processo de mudança deve contem-
cesso de mudança na cultura organizacional, Freitas
plar três etapas sequenciais, assim definidas: des-
(2007) e Schein (2009) levantam aspectos interessan-
congelamento, mudança e recongelamento, as quais
tes que se baseiam em observações realizadas em
estão descritas no quadro 01.
várias organizações e que dizem respeito ao fato de
O descongelamento é a fase que os responsáveis
que, independente da natureza, a mudança provoca
pela mudança ajudam os colaboradores a se movi-
sentimento de perda e dor. Diante de situações em
mentarem além do passado fornecendo uma base
que os indivíduos experimentam a perda de sentido
racional para mudança, criando culpa e/ou ansiedade
que geram desconforto psicológico, eles tendem a
quanto ao fato de não mudar e criando um sentimento
reagir prendendo-se no passado ou envolvendo-se
de segurança psicológica quanto à mudança. Ou seja,
com o presente de forma a negar a perda. A mudança
ocorre quando é entendida a necessidade de mudan-
provoca essas reações à medida em que os símbolos
ça e a partir desta conscientização, as velhas ideias
criados para dar sentido à vida foram quebrados, ne-
e práticas iniciam um processo de desaparecimento.
gados ou substituídos ocasionando confusão, abalo,
tristeza e vazio nos indivíduos.

1 04 JOÃO PESSOA, 2018


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

Quadro 1 – As fases do processo de mudança. vida, em partes, de forma gradativa e contínua. Além
disso, cabe ao gestor a tarefa de criar nas pessoas
Fases Tarefas do gerente Ações um sentimento de necessidade e disponibilidade para
a mudança, assim como é sua tarefa implementar a
mudança e, por fim, estabilizar a mudança, fazendo
uso de diferentes estratégias, que variam de acordo
Incentivo à criatividade e à
com a situação e que se destinem a envolver todos
inovação, a riscos e erros.
que estão participando do processo da mudança.
Descongelamento

Boas relações com as


pessoas envolvidas.
Criar um sentimento
de necessidade
Ajuda as pessoas 2. 3  Resistência à mudança
com comportamento
de mudança
pouco eficaz. Segundo Hitt et al. (2007) e Robbins (2010),
Minimização das as pessoas que estão em ambientes conservadores
resistências manifestadas
e fechados tendem a resistir à mudança, visto que a
à mudança.
encaram como algo estranho que pode trazer riscos e
fracassos. Logo, defendem que a mudança represen-
ta perigo e, por isso, a tendência é fugir da situação.
Entretanto, de um modo em geral, as mudanças
Identificação de nas organizações costumam acontecer de maneira
comportamentos novos passiva, sendo só aceita pelas pessoas do ambien-
e mais eficazes.
te de trabalho, quando essas alterações são bem
Mudança

Escolha de mudanças
Implementar definidas e entendidas. Por outro lado, se provocar
adequadas em tarefas,
a mudança
pessoas, cultura, desconforto nas pessoas que executam (deflagram)
tecnologia e/ou estrutura. esse processo de forma a atingir o lado emocional,
Ação para colocar as as habilidades ou motivação, a implementação da
mudanças em prática.
mudança pode apresentar resistências (REZENDE et
al., 2014).
A resistência à mudança é um mecanismo de
Criação da aceitação defesa natural e está presente em todas as organi-
e de continuidade dos zações, mesmo naquelas que se mantem vigilantes
Recongelamento

novos comportamentos.
Estímulo e apoio à necessidade de renovação da cultura. Isto ocorre,
Estabilizar a mudança necessário às mudanças. principalmente quando as pessoas consideram que a
Aplicação de recompensas mudança trará consequências negativas. (COHEN e
contingenciais de FINK, 2003). Assim, percebe-se que quanto mais ne-
desempenho e de
reforço positivo.
gativos os resultados de uma mudança, a resistência
se torna ainda maior, provocando dificuldades para
Fonte: Hitt, Miller e Colella (2007, p. 422-423) inserção de algo novo no ambiente de um órgão.
Para Cohen e Fink (2003), as pessoas resistem
A mudança acontece com o aprendizado de no- às mudanças por alguma razão e a tarefa do gerente
vas práticas e ideias. Por fim, o recongelamento se é tentar identificar essas razões e, quando possível,
refere a fase de mudança em que os responsáveis e planejar a mudança de modo a reduzir ou eliminar os
gestores retêm internamente as novas abordagens e efeitos negativos e corrigir as percepções errôneas,
implementam novos sistemas de avaliação que vão as quais obstaculizam a compreensão da realidade.
no encalço de comportamentos esperados e assim, Beckert et al. (2015) definem que a resistência à
ocorre com o processo de integração do novo padrão mudança pode estar relacionada com questões e as-
aprendido (HITT et al., 2007; ROBBINS, 2010). pectos lógicos, psicológicos ou sociológicos. E, sendo
Cada etapa do processo de mudança exige do assim, a resistência à mudança pode se apresentar de
gestor ou agente de mudança a implementação de ta- forma aberta ou velada, explícita ou implícita, imedia-
refas e disponibilidade de meios específicos para que ta ou protelada. Na verdade, a resistência a mudança
o processo de mudança ocorra de forma a atingir aos é ocasionada pelas barreiras criadas pelo homem,
objetivos propostos e, para isso, deve ser desenvol- que podem ser por objeções racionais, por atitudes

JOÃO PESSOA, 2018 1 05


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

emocionais ou por interesses de grupos, as quais O universo da pesquisa foi composto por funcio-
provocam uma força contrária que pode prejudicar nários públicos designados em cargos, efetivos ou
as mudanças sugeridas. Robbins (2010) destaca que, temporários/comissionados, e teve enquanto amos-
quanto as formas, pode- se explicar que a mudança tra 16 (dezesseis) deles, definido através do critério
é considerada aberta quando e explícita ou imediata de aceitação destes profissionais e foi constituído pela
e está relacionada àquelas que são identificadas facil- indicação de um grupo de foco que estivesse relacio-
mente, enquanto a mudança velada ocorre de forma nado ao tema da pesquisa.
latent, apresentando geralmente reações imprevistas Os dados foram coletados por um formulário
que funcionam de forma implícita ou são proteladas. aplicado a cada funcionário, através da técnica de en-
Para fins de análise, as fontes de resistência trevista, que continha questões objetivas e subjetivas
podem ser classificadas em individuais e organiza- abordando informações sobre atuação profissional,
cionais. A resistência individual tem os principais aspectos relacionados com a cultura dominante no
motivos relacionados as questões de hábito, segu- ambiente de trabalho, mudanças percebidas, e as
rança, fatores econômicos, medo do desconhecido reações e consequências dessas mudanças no coti-
e processamento seletivo das informações. A resis- diano da organização.
tência organizacional se apresenta através da iner- Quanto a abordagem, o estudo envolveu dados
cia estrutural, foco limitado da mudança, inércia do que foram tratados de forma qualitativa e quantitati-
grupo, ameaça à especialização, ameaça às relações va, com vista a responder aos objetivos propostas ao
estabelecidas de poder e ameaça ás distribuições estudo. A abordagem qualitativa enfatizou os indica-
estabelecidas de recursos (ROBBIN, 2010; COHEN e dores relacionados com a cultura dominante no local
FINK, 2003; BECKERT et al., 2015). de trabalho, a interferência das mudanças, decorren-
Por fim, é importante compreender que as mu- tes da substituição do pleito eleitoral na organização
danças no interior de uma organização necessitam e no desempenho profissional dos colaboradores, as
de um catalisador, um colaborador que estimule e reações e consequências.
assume a responsabilidade pela administração do Para isso, foi utilizada a ferramenta de análise
processo de mudança (COHEN e FINK, 2003; BE- de conteúdo, por ser bastante utilizada em investiga-
CKERT et al., 2015). Enquanto estratégia de renova- ção de dados qualitativos e para a interpretação do
ção da cultura, as atividades de mudança precisam sentido das palavras. De acordo com Bardin (2009)
ser intencionais e orientadas por metas e isto implica a análise de conteúdo é composta por técnicas de
em uma atitude de vigilância, na capacidade de ler análise de comunicação, para obter indicadores
a realidade da organização em seu contexto global, (quantitativos ou não) que permitam a compreensão
interpretá-la em termos de diagnóstico, propor e im- dos conhecimentos adquiridos.
plementar mudanças. Um processo permanente de Já a abordagem quantitativa registrou, através
renovação organizacional (políticas, processos, lide- de medidas estatísticas descritivas, os indicadores
rança, estrutura, tecnologias) é a forma de conquistar referentes ao cargo dos pesquisados, comissionado
uma posição auto sustentável. ou efetivo, e o tempo de exercício da profissão.

3 Metodologia 4 Análise dos resultados


O presente estudo, de abordagem quali-
-quantitativa, quanto aos fins, corresponde a uma A Secretaria de Educação é um órgão públi-
pesquisa descritiva e investigação explicativa, que de co que faz parte da estrutura orgãnica da Prefeitura
acordo com Vergara (2006), expõe características de Municipal de Serra Redonda, no estado da Paraíba.
determinada população ou de determinado fenômeno Essa organização tem a função de coordenar a po-
com objetivo de tornar algo inteligível, justificando os litica de educação e agir em beneficio ao desenvol-
motivos. E, quanto aos meios, é caracterizado como vimento da educação local, garantindo às crianças,
estudo de caso, pois se limitou a descrever aspectos jovens e adultos da rede municipal o acesso para uma
da cultura da Secretaria de Educação do Município de educação de qualidade.
Serra Redonda, na Paraíba e o processo de mudan- Por se tratar de um órgão municipal, o qual sabe-
ças na referida organização. -se que ocorre mudanças no governo a cada quatro
anos, é esperado que sofra mudança nos cargos

1 06 JOÃO PESSOA, 2018


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

estratégicos e táticos, envolvendo pois direção geral 10 a 20 anos; e, 43,75% atuam na organização em
e respectivas coordenações, unidades ou setores. estudo há mais de 20 anos. Como o processo eleitoral
Assim, observa-se que a mudança na direção da ocorre de quarto em quarto anos, pode-se inferir que
secretaria da educação, como também as alterações os pesquisados já passaram por mudanças de gestão
das funções de alguns funcionários são habituais e e que, provavelmente, tenham vivenciados interven-
são decorrentes das decisões tomadas pelos novos ções nas suas atividades profissionais e no cotidiano
gestores, em regra geral, sem a participação ou en- da organização.
volvimento dos colaboradores da organização. Como salientado por Schein (2009), para mudar
A mudança de gestão da organização traz a pos- a cultura de uma rganização é importante a mudança
sibilidade de contratação de novos colaboradores, da mentalidade fundamental de uma organização e
contratados em regime comissionado, os quais, ge- diz respeito à distribuição das informações, tratamen-
ralmente, são designados para desempenhar funções to dado aos colaboradores, alocação do trabalho e
de confiança. Ocorrem ainda casos de indicação para tomada de decisão.
funções que não estavam ocupadas, como também Para levantar informações junto aos colabora-
casos de substituição, quando o funcionário, mesmo dores sobre o efeito das mudanças na identidade
que efetivo, mas que por razões diversas não atende da Secretaria de Educação e do que ela representa
as necessidades do trabalho ou não atende aos crité- perante a sociedade foi verificado que 100% dos res-
rios gerenciais. pondentes afirmaram que “o órgão tem sua missão
Como o objetivo de delinear o perfil dos pesqui- claramente definida e cumpre suas ações no sentido
sados em relação a variável “cargo”, foi constatado de manter as atividades educacionais funcionando
que 43,75% dos pesquisados estão em cargos co- com qualidade”. Entretanto, foi destacado que a roti-
missionados e 56,25% são efetivos. Como previsto, a na de trabalho da organização sofre alterações, pois
contratação de funcionários, conforme a investidura de um modo em geral, os funcionários se mostram
de cargo, ocorre por meio de concurso público para apreensivos, principalmente por não saberem se irão
preenchimento de cargos efetivos ou por decisão po- permanecer em suas funções ou posto de trabalho, o
lítica para cargo comissionado, este último se destina que foi destacado por 37,5 dos pesquisados e apre-
a atendimento dos interesses pessoais e de cunho sentado nas falas transcritas a seguir:
poliíico do gestor.
Dando prosseguimento ao delineamento do perfil Pesquisados A, D, F, J, M, P - “a rotina de traba-
profissional foram levantadas informações sobre o lho muda”; “…ninguém sabe o que vai acontecer...”;
tempo de serviço dos funcionários da organização, a “...as coisas ficam incertas”; “a rotina é alterada, não
fim de verificar o quantitativo de colaboradores que se sabe o que fazer...”; “as atividades administrativas
já tinham passado por mudanças de gestão da or- ficam paradas”; “… funcionamento administrativo
ganização, decorrentes de processo eleitoral. Foram sem movimento…”
registrados os dados apresentados na tabela 1.
De acordo com os pesquisados, a Secretaria
Tabela 1 – Tempo de serviço na organização de educação, apesar de sofrer alterações em sua
rotina de trabalho pelas mudanças decorrentes do
Tempo de serviço % pleito eleitoral tem mantido sua missão e a sociedade
reconhece e valoriza o trabalho desenvolvido pelos
De 0 – 5 anos 18,75
funcionários. Como defendido por Fleury e Sampaio
entre 05 a 10 anos 18,75 (2002); e Albert et al., a cultura de uma organização
entre 10 a 20 anos 18,75 se expressa através de elementos simbólicos que
Mais de 20 anos 43,75
possuem significados para os que dele dependem e,
dessa forma consolida sua identidade organizacional
Total 100 perante a sociedade.
Fonte: Dados da pesquisa, 2016. Sobre o impacto da mudanças, provindas da nova
gestão do Município sobre a cultura da Secretaria de
Os dados apurados atestam que 18,75% dos pes- Educação, no que se referem as normas e regras
quisados estão no órgão há no máximo cinco anos; para os cargos comissionados e funções gratificadas,
18,75% estão entre 5 a 10 anos; 18,75 estão entre

JOÃO PESSOA, 2018 1 07


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

foram verificados dados que estão demonstrados na Pesquisados: C, G, H, “...me senti desvalorizado,
tabela 2. injustiçado, desprestigiado”; I, M “…sem saber o que
vem, o que vai acontecer”; O, P “tudo pára”.
Tabela 2 – Impacto da gestão nos cargos e funções
Como destacado pelos autores Robbins (2010);
Falas dos pesquisados % Hitt et al. (2007), as fontes individuais de resistência
“Não ocorreu mudança no cargo à mudança residem em características humanas bá-
e me mantive na mesma função, 31,25% sicas, decorrentes de percepções, personalidades e
desde o início do contrato.” necessidades. Os motivos pelos quais os indivíduos
“Houve perda da gratificação de função.” 37,5% resistem à mudança estão relacionados as questões
“Houve perder do cargo comissionado.” 18,75 de hábito (Pesquisados A, B, D, F, J); segurança (Pes-
quisados E, L, K, N); e, medo do desconhecido (C, G,
“Ocorreu transferência para
12,50 H, I, M, O, P) motivos que podem ser observados nas
outra organização
falas dos pesquisados. Além disso, o “novo” tende a
Total 100 fazer parte da mudança pois representa um desafio
Fonte: Dados da pesquisa, 2016. para o funcionário que procura aceitação para pos-
sibilitar a permanência no seu posto de trabalho e
Wood Jr (2009) destaca que qualquer transfor- manter seu status quo no ambiente de trabalho.
mação é capaz de gerar impacto em partes ou no Quando abordados sobre a influência da mudan-
conjunto da organização e já afirmado por Rezende et ça no funcionamento administrativo da Secretaria de
al., a mudança faz parte também do universe público Educação, foi verificado que 75% dos pesquisados
e é uma constante nas rotinas administrativas, daí destacaram que as regras e linhas de comando são
as pessoas precisam estar preparadas para enfren- alteradas. Os colaboradores não sabem a maneira
tamento das dificuldades buscando alternativas para de agir; todos “mandam” e definem as tarefas a
lidar com ela. serem cumpridas. Esta respostas permitem inferior
Hitt et al. (2007) e Robbins (2010) salientam que que a mudança de gestão interfere sim na cultura da
as pessoas que estão em ambientes conservadores organização; 12,5% responderam que não ocorrem
tendem a resistir à mudança, visto que consideram- interferência e 12,5% não responderam. As alterna-
-na algo estranho que pode trazer riscos e fracassos tivas para o questionamento estão apresentadas em
e, por isso, a tendência é fugir da situação. tabela e as falas dos respondentes estão transcritas
A pesquisa buscou também verificar os senti- logo a seguir.
mentos e reações dos colaboradores frente a situação
de mudança, no sentido de identificar os mecanismos Tabela 3 – Mudança de Gestão e Cultura
de resistência individual e organizacional. E, as res-
postas obtidas sobre os sentimentos dos funcionários Alternativas Pesquisados %
quando vivenciaram situações do tipo: “substituição A mudança de gestão interfere A, C, D, E, F, G, 75
de funções e/ou tarefas, posto de trabalho”, foram ‘sim” na cultura da organização H, I, J, K, O, P
registradas pelas falas dos pesquisados, transcritas a
A mudança de gestão
seguir “não” interfere na cultura L, N 12,5
da organização
Pesquisados: A “...a mudança é difícil, ninguém
Não opinaram B, M 12,5
gosta”; B “muitas novidades e dificuldades”; D “...
tudo passou a ser novo...”; F “aceitar a mudança não Total 100
é bom...”; J “…mudar é difícil”. Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Pesquisados: E “...É sempre assim, só se man- Pesquisados: A, C, H, J “cada novo gestor que
tém quem aceita tudo...”; L “... é cumprir para não chega quer sempre mudar as regras, mas não pre-
piorar...”; , K “... só muda que tem poder...”; N “só cisa”; F, E, I “mostrar que está fazendo diferente”; G,
quem muda é porque tem poder” K “muda sem ouvir e falar com quem de fato faz o
serviço”;

1 08 JOÃO PESSOA, 2018


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

Pesquisados: O, P “as regra de trabalho são Tabela 4 – Mudança de Gestão e


modificadas e ninguém sabe a razão...” D “todo o desempenho no trabalho
funcionamento muda.”
Alternativas Pesquisados %
Robbins (2010) destaca que uma fonte de resis- A mudança de
tência organizacional se refere à inercia estrutural, A, B, C, D, G,
gestão repercute no
H, I, J, K, L.
mecanismo que a própria organização dispõe de desempenho professional 87,5
M, N, O, P
produção de estabilidade e também ocorre a inércia dos funcionários
do grupo, situação que é típica quando os indivíduos A mudança de gestão
querem mudar seus comportamentos, mas as nor- não influencia o
12,5
mas do grupo agem como barreiras. Exemplos são desempenho profissional E, F
dos funcionários
identificados nas falas dos pesquisados A, C, H, J.
Ainda pode-se inferior que a opção pela alter- Total 100
native de que “as mudanças influenciam a cultura Fonte: Dados da pesquisa, 2016.
da organização, pode estar associada a questões
relacionadas com o medo da descontinuidade nos Pesquisados: A, D – “Em relação ao desempenho
trabalhos, uma vez que a mudança representa uma dos funcionários há perda sim...não sabem sobre a
ameaça para a especialização da organização, além continuidade dos trabalhos e atrasam tudo.”
de interferir em distribuição dos recursos e alterar as
relações de poder (BECKERT et al., 2015) Pesquisados C, H, I O, P - “...mudança leva a
Fleury e Sampaio (2002) destacam que é funda- dispensa de funcionários contratados...incerteza
mental a compreensão dos aspectos relativos aos va- prejudica a qualidade do trabalho, cumprimento dos
lores dominantes, estrutura, pessoal, metas e visão, prazos para entrega do trabalho.”
antes de projetar a mudança em qualquer que seja a
natureza e o tamanho da organização. Pesquisado B, G, L - “Sempre há interferência,
Neste estudo ficou evidenciada a influência da modificação; ...quem chega tem outros pensamentos
gestão municipal na cultura de uma organização e os e atitudes que ocasiona morosidade do andamento
efeitos no comportamento organizacional, uma vez dos trabalhos.”
que altera o cumprimentos das regras, a relação de
poder, os valores e crenças. Pesquisado J, K, M, N - “Sim, mudar não quer
Como destacado por Schein (2009), a cultura se dizer que irá melhorar, pode até atrapalhar...o rendi-
forma a partir de um conjunto de valores e compor- mento cai...e os funcionários faltam ao trabalho”
tamentos que têm o propósito de construir a identi-
dade do órgão e também preservá-la. Os valores são Pesquisados E, F - “Não interfere…às vezes o que
elementos de comunicação e funcionam de forma existe é o fator oposição, politico, partidário, que mui-
a revelar ou ocultar as relações de dominação e de tos não respeitam, acarretando o mal desempenho
interesse de alguns do grupo, preservando a continui- na função de alguns.”
dade da razão do trabalho.
No aspecto relacionado as repercussões das mu- Como destacado pelos autores Hitt (2007); Rob-
danças no desempenho profissional dos funcionários bins (2010), resistir a mudança é uma reação natural
da Secretaria de Educação e as prováveis consequ- ocasionada por atitudes emocionais dos funcionários
ências foram obtidas as respostas apresentadas em ou por interesses de grupos dominantes, as quais
tabela, 04, e as falas dos respondentes estão trans- provocam uma força contrária que pode prejudicar as
critas logo abaixo. mudanças sugeridas. Cabe ressaltar que no contexto
público, as mudanças advindas de uma nova gestão,
costumam acontecer de maneira passiva. No entanto,
se provocar desconforto nas pessoas que executam
esse processo, de forma atingir seu emocional, suas
habilidades ou motivação, a proposta de mudança
pode gerar resistências (REZENDE et al.. 2014) e,

JOÃO PESSOA, 2018 1 09


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

naturalmente, dificuldades surgirão no sentido de Tabela 5 – Reação dos colaboradores


atrasar a adaptação e o progresso de mudança. frente aos novos processos de trabalho
Considerando as respostas pode-se inferir que
as mudanças, em decorrência do pleito eleitoral, no Alternativas Pesquisados %
ambiente de trabalho estudado costumam interferir Não houve participação
no desempenho dos funcionários, comprometendo a dos funcionários nas
B, C, E, G, H,
qualidade dos trabalhos dos funcionários, gerando um modificações dos 62,5
I, L. M, N, P
ambiente de incerteza, com trânsito de informações processos de trabalho.
contraditórias, além de provocar a descontinuidade Indiferença quanto
dos trabalhos interferindo nas metas, problemas de a participação dos
pontualidade e frequência ao trabalho. funcionários nas
A, F. J, K 25
modificações dos
Outro aspecto, relacionado ao fator de resistência
processos de trabalho.
individual, se refere ao receio apontado pelos colabo-
radores sobre a questão de substituição dos funcio- Não responderam D, O 12,5
nário e/ou afastamento da organização. Por parte da Fonte: Dados da pesquisa, 2016.
organização, esta situação caracteriza uma fonte de
resistência organizacional, denominada foco limitado Pesquisados B, C, E, G, H, I, L, M, N, P – “...no
de mudança, ao não reconhecer que as organiza- serviço público tem que cumprir o que é mandado e
ções são compostas de sistemas interdependentes não se preocupam em ouvir as dificuldades dos fun-
(WOOD JR, 2009). Além disso, a decisão unilateral cionários para fazer o serviço; “Tem que fazer tudo
acarreta investimentos em treinamento para os no- certinho, manda quem pode...”
vos funcionários conhecerem as tarefas e regras da
organização, o que acrreta em custos e tempo. Pesquisados A, F, J, K – “não é pra complicar... o
Ainda de acordo com Wood Jr (2009), por parte trabalho tá dando certo”; ... “eles sabem o que estão
dos funcionários, a situação desperta sentimentos fazendo...”; “... aos pouquinhos vamos dizendo o que
que ameaçam os hábitos e rotinas de trabalho já mudar, e faz do mesmo jeito...”
garantidas, além da segurança, uma vez que passam
a lidar com uma situação nova e desconhecida e que É possível observar que, embora a maioria dos
ainda pode colocar em risco sua sobrevivência, afe- pesquisados acreditem que a mudança modifica e
tando economicamente suas vidas. interfere na cultura da organização, como também
Referindo-se a forma de reação dos colaborado- provoca efeitos negativos, pelo menos, no início
res, quanto a novos processos de trabalho e regras, da mudança, no que se refere ao desempenho do
foi verificado que 62,5% dos pesquisados destacaram funcionários, parece que os pesquisados procura-
que a nova gestão procedeu alterações nos proces- ram aceitar as mudança propostas e facilmente se
sos de trabalho, sem a participação dos funcionários, acomodaram a nova situação. Como evidenciado
não houve consulta sobre as dificuldades nem forem pelos estudiosos do comportamento organizacional,
solicitadas sugestões. Já 25% afirmaram que não Robbins (2010), Beckert et al. (2015) e Cohen e Fink
se incomodam, preferem cumprir as orientações, (2003), as perspectivas de mudanças induzem aos
se envolvendo nas atividades solicitadas, porém funcionário ao comportamento de passividade, o que
executa-as do jeito que sabem fazer; e, 12,5% não pode representar um comportamento de resistência
se posicionaram, o que está registrado na tabela 5 e a forma como a mudança foi planejada e orquestrada
demonstrado pelas falas dos pesquisados, transcritas no ambiente organizacional.
logo abaixo da tabela. As mudanças impostas, não trabalhadas em
parceria com os colaboradores, geralmente sofrem
resistências em sua implantação, independente da
natureza da organização (REZENDE et al, 2014). No
ambiente público estudado, foi percebido que mesmo
quando a mudança desperta expectativas negativas,
os funcionários parecem aceitar ou se neutralizar
diante de tal fato.

1 10 JOÃO PESSOA, 2018


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

As decisões da gestão são fundamentais e deli- ressaltando a importância de ações de reestrutura-


neiam o desenvolvimento de todo o trabalho organi- ção em sua própria organização, ou seja, eliminar
zacional. Como salientado por Cohen e Fink (2003), processo que já eram rotineiros e estabelecer novas
as pessoas resistem às mudanças por alguma razão formas de desenvolver as atribuições e tarefas a fim
e a tarefa do gestor é tentar identificar essas razões de melhorar a qualidade do trabalho. Mas, por outro
e, quando possível, planejar a mudança de modo a lado, não demonstraram comprometimento com o
reduzir ou eliminar os efeitos negativos e corrigir as trabalho, já que optaram pela aceitação da mudança,
percepções errôneas, que impedem a compreensão parecendo se negar a questionar e contribuir com
da realidade. ideias e experiências.
Por fim, vale ressaltar que toda e qualquer mudan- Logo, para renovação e reestruturação da cultura
ça promovida no ambiente organizacional incide em dominante no ambiente de trabalho pesquisado se faz
alterações em sua cultura que afetam sua identidade, necessário que as mudanças sejam programadas de
já que diz respeito à distribuição das informações, forma gradativa, prevendo períodos que contemplem
tratamento dado aos colaboradores, alocação do tra- uma fase de adaptação e apropriação de novas ideias,
balho e tomada de decisão. Dessa forma, a mudança dos valores e processos de trabalho que devem ser
de cultura ocorre não só no interior da organização, compactuados com todos os funcionários.
entre os colaboradores, mas também do lado de fora, Ainda existem as premissas básicas que preci-
entre os fornecedores e clientes (SCHEIN, 2009). sam ser analisadas cuidadosamente para que possam
ser operacionalizadas, partindo-se da consideração
5 Conclusão de que a cultura precisa mudar seus paradigmas,
os quais devem ser sempre revistos. Mas, deve-se
O conhecimento da cultura de uma organização é alertar que tudo isso passa pela mudança de compor-
essencial para viabilizar as estratégias e os processos tamento das pessoas, constituindo o maior desafio
de Mudança. A força da cultura interfere nas iniciati- para assimilação de uma nova cultura, baseada em
vas organizacionais, quer seja de natureza políticas, estratégias e políticas inovadoras e proativas em
nos aspectos de motivação, produtividade, qualidade, todos os níveis da organização.
uma vez em que esbarram em obstáculos simbólicos, Por fim, implementar a mudança implica a neces-
valores, fazendo parecer que a mudança é uma ação sidade de contar com um gestor que esteja atento aos
inviável. fatores que provocam resistência, com finalidade de
No ambiente público, as organizações enfren- gerenciá-los e contribuir para uma melhor aceitação
tam, forçosamente, mudanças a cada quatro anos, e adaptação das mudanças promovidas no ambiente
devido ao processo eleitoral. E é nesse contexto que organizacional, independente da sua natureza.
os dados coletados apontaram que no ambiente de Considerando estas considerações, conclui-se
trabalho da organização estudada, os colaborado- o tema é de relevância e, por isso, novos estudos
res, apesar de apresentarem comportamentos que devem ser realizados, principalmente nas organiza-
caracterizam fontes de resistência, parecem aceitar ções públicas, a fim de avançar na discussão sobre
com naturalidade as mudanças, mesmo quando as aspectos conceituais da cultura e as estratégias de
perspectivas parecem negativas, ou se mostram mudanças nessas organizações.
indiferentes à modificações propostas ao cotidiano
organizacional.
Ficou evidente que a mudança, apesar de decor- 6 Referências
rência política, tem interferido nos diversos aspectos
da cultura da organização, principalmente provo-
cando efeitos no desempenho dos colaboradores, ALBERT, S.; ASHFORTH, B.E.; DUTTON, J.
afetando a qualidade dos processos de trabalho, no Organizational identity and identification: charting
quesito rapidez e quantidade do serviço e, o mais di- new waters and building new bridges. Academy of
fícil de ser trabalhado que se refere a motivação dos Management Review, v. 25, n. 1, p. 13-17, 2000.
funcionários.
ARAUJO, Luís César G. de. Gestão de
Por um lado, os colaboradores reconheceram pessoas. São Paulo: Atlas, 2008.
que as organizações necessitam de atualização con-
tínua em seus processos e estruturas de trabalho,

JOÃO PESSOA, 2018 111


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | Nº 41

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e


Lisboa: Portugal. Edições 70, LDA, 2009. relatórios de pesquisa em administração.
7 ed. São Paulo: Atlas, 2006.
BECKERT, M.C. P.; JOHAM, S. L.; OLIVEIRA, A. A.
L. Gestão da mudança e cultura organizacional. WOOD, T. Jr. Mudança organizacional.
Rio de Janeiro: FGV Management, 2015. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 2009.

BROWN, A.; STARKEY, K. Organizational identiy and


learning: a psychodynamic perspective. Academy of
Management Review, v. 25, n. 1, p.102-120, 2000.

COHEN, R. Allan; FINK, L. Stephen. Comportamento


organizacional: conceitos e estudos de casos.
7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

FLEURY, Maria Helena Leme; SAMPAIO, Jáder dos


Reis. Uma discussão sobre Cultura Organizacional.
IN: Vários autores. As pessoas na Organização.
São Paulo: Ed. Gente, 2002. p. 283-294.

FREITAS, Maria Ester de. Cultura Organizacional:


evolução e crítica. 1.ed. Rio de Janeiro. Cengace, 2007.

HATCH, M. J.; SCHULTZ, M. Relations between


organizational culture, identityand image. European
Journal of Marketing, v. 31, n. 5, p. 356-365, 1997.

HITT, Michael; MILLER, Chet; COLELLA, Adrienne.


Comportamento Organizacional: uma abordagem
estratégica. Rio de Janeiro: LTC, 2007.

KLIKSBERG, B. Como transformar o Estado, para


além dos mitos e dogmas. Brasília: ENAP, 1992.

LACOMBE, F. J. M. Recursos humanos: princípios


e tendências. São Paulo: Saraiva, 2009.

REZENDE, F. P.; FREITAS, F. O.; SILVA, E.A.T. O.


Cultura Organizacional e Resistencia a Mudança.
Disponível em: http://www.car.aedb.br/seget/
artigos11/305148 08.pdf. Acesso em: 02 de out. 2014.

ROBBINS, S. Comportamento Organizacional.


Rio de Janeiro: LTC, 2010

SCHEIN, E. H. Cultura Organizacional e


Liderança. São Paulo: Atlas, 2009.

SPINK, P. Continuidade e descontinuidade


em organizações públicas: um paradoxo
democrático. Cadernos Fundap, São Paulo,
Ano 7, n. 13, p. 57-65, abr 1987.

ULRICH, D. Recursos Humanos Estratégicos.


São Paulo: Ed. Futura, 2014.

112 JOÃO PESSOA, 2018

Você também pode gostar