Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Maria Luiza da Costa Santos [1], Marcos Igor da Costa Santos [2], Landelina Tavares
Pontes [3]
[1] mluizacs@gmail.com. [2] marcosigor2508@gmail.com. [3] landelinatavaresp@bnb.gov.br. Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Paraíba - IFPB
Resumo
Estudar a cultura organizacional é essencial para entender sua influência no comportamento das pessoas.
São os valores, missão, objetivos que modelam a identidade da organização, a qual formada por pessoas
com comportamentos divergentes, seguem valores comuns. É por meio da compreensão da cultura que é
possível implantar mudanças no sentido de promover resultados que garantam a sobrevivência organizacional.
No cenário público, as organizações tem sido impulsionadas a mudar e esse processo parece interferir no
desempenho dos colaboradores no trabalho. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar a relação entre
Mudança e Cultura em uma Secretária de Educação do Município de Serra Redonda do estado da Paraíba. A
metodologia utilizada foi de natureza qualitativa, por meio de estudo realizado com embasamento descritivo
e bibliográfico. Os dados foram coletados por um formulário aplicado aos funcionários, através da técnica
de entrevista Os resultados apontam que esta organização enfrenta constante mudança em seus planos de
trabalho, em decorrência de mudança na gestão do município, prejudicando a continuidade dos trabalhos e não
oportunizando o envolvimento dos seus colaboradores. Foi possível verificar que os processos de mudanças
ocorridos tem provocado resistências e impactos culturais à organização e ao ambiente de trabalho.
Abstract
Studying organizational culture is essential to understanding its influence on people’s behavior. The values,
mission, goals shape the identity of the organization, which consists of people with divergent behaviors, follow
common values. It is through the understanding of the culture that it is possible to implant changes in the sense
of promoting results that guarantee the organizational survival. In the public scenario, organizations have been
driven to change and this process seems to interfere with the performance of employees at work. Thus, the
objective of this study was to analyze the relationship between Change and Culture in a Secretary of Education
of the Municipality of Serra Redonda in the state of Paraíba. The methodology used was of qualitative nature,
through a study carried out with a descriptive and bibliographic basis. The data were collected by a form applied
to the employees, through the technique of interview The results indicate that this organization faces constant
change in its work plans, as a result of change in the management of the municipality, harming the continuity
of the work and not allowing the involvement of its employees. It was possible to verify that the processes of
changes occurred have caused resistance and cultural impacts to the organization and the work environment.
pública municipal, os efeitos que se operam em nível de cultura ocorre não só no interior da organização,
de crenças e valores, no ambiente de trabalho, como entre os colaboradores, mas do lado de fora, entre os
os funcionários reagem frente as demandas de uma fornecedores e clientes (SCHEIN, 2009).
nova gestão e que pode ser traduzida como transfor- No universo público, as organizações não po-
mação da cultura organizacional dem estar ilesas à necessidade de reestruturação
estratégia e de adoção de novas técnicas de ges-
2. 1. 1 Mudança cultural ou organizacional? tão necessárias à sua capacitação ao manejo das
complexas demandas organizacionais e ambientais
O que se entende por mudança cultural é a
(KLIKSBERG, 1992). Um aspecto relevante para se
definição de uma nova maneira de fazer as coisas,
destacar é o fato da continuidade e descontinuidade
alicerçadas em novos valores, símbolos e rituais. São
administrativa citada por Spink (1987) que se refere à
valores culturais essenciais à criação de identidade
troca de poderes da administração pública. Segundo
institucional, comunicando caráter mais estável as
ele a continuidade administrativa mantém a perma-
atitudes e comportamentos. Assim, a cultura tende a
nência dos serviços, evitando a descontinuidade ad-
ser estável e a consolidar e firmar valores e princípios
ministrativa, o que ocasiona a interrupção de projetos
norteadores. O fato da cultura levar muito tempo para
em andamento devido à mudança de governo ou de
se formar e por se constituir de características relati-
dirigentes.
vamente estáveis e permanentes, tende a se tornar
Aparentando indiferença quanto aos cuidados
muito resistente às mudanças (WOOD JR, 2009).
para gerenciar os efeitos naturais decorrentes do
Há mais de uma década, a mudança de cultura
processo de mudança, as organizações públicas vêm
era encarada da forma de jargão esotérico e acadêmi-
aderindo aos processos de transformação em diver-
co. Nos tempos modernos passou a ser uma máxima
sos setores (SPINK, 1987). As proposta se voltam a
para garantir que as premissas, valores, mentalidades
desenvolver maior eficiência e eficácia nos serviços,
e processos de pensamento dos colaboradores de
mesmo nas situações em que se identificam interes-
uma empresa se adaptem à mudança de condições.
ses políticos e eleitoreiros.
Para isso, as organizações têm se apresentado cada
Vale ressaltar que em órgãos públicos, de nature-
vez mais exigentes ao se tratar da busca pela eficiên-
za prefeitura municipal, as gestões costumam mudar
cia e eficácia nos seus processos produtivos, seja um
a cada quatro anos, e isso ocasiona uma cadeia de
órgão público ou privado. Diante disso, observa-se o
mudanças nas suas organizações e respectivos seto-
cenário organizacional passando por processos de
res. De acordo com Araújo, (2008), esse cenário de-
mudança cada vez mais recorrentes.
senha transformações que envolve mais do que uma
Ao tratar do tema de mudança organizacional,
mudança estrutural e de modelo da gestão, alcançan-
Wood Jr (2009, p. 190) destaca que por definição se
do o comportamento e atitudes dos indivíduos.
refere “a qualquer transformação de natureza estru-
Nessa situação, Ulrich (2000) chama atenção
tural, institucional, estratégica, cultural, tecnológica,
para o fato de que qualquer que seja a proposta de
humana”, ou de qualquer outro componente, capaz
mudança a ser operacionalizada, o foco deve estar
de gerar impacto em partes ou no conjunto da or-
voltado para a gestão dos recursos humanos, o que
ganização. Na verdade, a mudança é uma constante
inevitavelmente, exige o reconhecimento e valoriza-
na rotina administrativa das organizações e, para
ção dos colaboradores no sentido de viabilizar estra-
acompanhar o ritmo da acelerado da globalização
tégias que compatibilizem os interesses pessoais com
se faz necessário aprender a conviver e gerenciar o
os interesses organizacionais.
processo da mudança, a fim de atender as exigências
De acordo com Robbins (2010), de um modo
de transformações que têm a finalidade de melhorar
em geral, os agentes de mudança apresentam, es-
o ambiente organizacional em prol da sociedade (RE-
sencialmente, em suas propostas quatro opções de
ZENDE et al., 2014).
categorias: estrutura, tecnologia, arrumação física e
Na verdade, a mudança de cultura tem pouco a
pessoas. Para a categoria estrutura estão envolvidas
ver com implementação de novas iniciativas. Ela se
as alterações das relações de autoridade, coorde-
dirige a mudança da mentalidade fundamental de
nações e cargo. A categoria tecnologia se relaciona
uma organização e diz respeito à distribuição das in-
com as modificações em o trabalho é realizado e com
formações, tratamento dado aos colaboradores, alo-
os equipamentos necessários. A categoria ambiente
cação do trabalho e tomada de decisão. A mudança
físico se refere aos arranjos do espaço, layout e dis- Por fim, Freitas (2007) lembra que a mudança
posições do local de trabalho e, a categoria pessoas da cultura organizacional se institui pela interação,
refere-se às mudanças nas atitudes, habilidades, pelos (des) encontros, pela discussão e debate e
expectativas e comportamentos dos colaboradores. pelo enfrentamento conjunto dos problemas. É só da
Ao tratar sobre mudanças no ambiente das possibilidade da interação, envolvendo todas as vari-
organizações públicas, Araújo (2008) destaca que áveis do contexto, que se pode divisar o significado
naturalmente, os novos gestores ao compor o quadro da mudança.
functional tendem a trazer um novo estilo de gestão,
baseado em valores, ideias e interesses próprios, 2. 2 Processo de Mudança
que fundamentam à escolha das ações que serão
Antes de projetar qualquer proposta de mudança
implantadas e, nem sempre, estas correspondem
é preciso haver uma compreensão dos vários aspec-
aos interesses da organização, dos colaboradores e
tos da organização, os valores dominantes, estrutura,
da comunidade. E, apesar de estarem associadas as
pessoal, metas, missão e visão. Para Hitt et al. (2007),
ações de melhoria e desenvolvimento, podem tam-
a ausência dessas informações torna o sucesso
bém despontar uma ameaça, gerando resistências
impossível e a transformação de uma organização
tanto individual quanto organizacional.
acomodada e rígida para uma organização flexível,
Costumeiramente, ao assumir novos cargos
aberta ao aprendizado é uma ilusão.
ou funções, os gestores das prefeituras municipais
Muitas mudanças em organizações são encarada
apresentam propostas de trabalhos com ações de
da forma de uma ocorrência acidental, entretanto a
mudanças que de início se destinam aos aspectos
mudança deve ser implementada numa ação proati-
mais fáceis de serem modificados e, nesse caso, a
va e proposital, ou seja, intencional e orientada para
primeira ação costuma atingir os aspectos estru-
um objetivo determinado. Robbins (2010) destaca
turais. Por isso, a troca de funções, disposição dos
que ajuda pensar a mudança enquanto uma ação
espaços físicos, mobiliários e equipamentos. Em
planejada, em ordem de grandeza. A mudança de
seguida são evidenciados recursos para tecnologia e,
primeira ordem, linear e contínua, não implica mudar
só por fim, são desenvolvidas ações que se voltem
as pressuposições sobre a organização; e, a mudan-
para as mudanças de atitude e comportamentos dos
ça de segunda ordem, descontínua e radical, implica
membros organizacionais através de processos de
alterações nas pressuposições sobre a organização e
comunicação, tomada de decisão e solução de pro-
o ambiente onde ela está inserida.
blemas (ARAÚJO, 2008).
Para Hitt et al. Miller e Colella (2007) uma forma
Sobre as dificuldades e consequências do pro-
de estabilizar o processo de mudança deve contem-
cesso de mudança na cultura organizacional, Freitas
plar três etapas sequenciais, assim definidas: des-
(2007) e Schein (2009) levantam aspectos interessan-
congelamento, mudança e recongelamento, as quais
tes que se baseiam em observações realizadas em
estão descritas no quadro 01.
várias organizações e que dizem respeito ao fato de
O descongelamento é a fase que os responsáveis
que, independente da natureza, a mudança provoca
pela mudança ajudam os colaboradores a se movi-
sentimento de perda e dor. Diante de situações em
mentarem além do passado fornecendo uma base
que os indivíduos experimentam a perda de sentido
racional para mudança, criando culpa e/ou ansiedade
que geram desconforto psicológico, eles tendem a
quanto ao fato de não mudar e criando um sentimento
reagir prendendo-se no passado ou envolvendo-se
de segurança psicológica quanto à mudança. Ou seja,
com o presente de forma a negar a perda. A mudança
ocorre quando é entendida a necessidade de mudan-
provoca essas reações à medida em que os símbolos
ça e a partir desta conscientização, as velhas ideias
criados para dar sentido à vida foram quebrados, ne-
e práticas iniciam um processo de desaparecimento.
gados ou substituídos ocasionando confusão, abalo,
tristeza e vazio nos indivíduos.
Quadro 1 – As fases do processo de mudança. vida, em partes, de forma gradativa e contínua. Além
disso, cabe ao gestor a tarefa de criar nas pessoas
Fases Tarefas do gerente Ações um sentimento de necessidade e disponibilidade para
a mudança, assim como é sua tarefa implementar a
mudança e, por fim, estabilizar a mudança, fazendo
uso de diferentes estratégias, que variam de acordo
Incentivo à criatividade e à
com a situação e que se destinem a envolver todos
inovação, a riscos e erros.
que estão participando do processo da mudança.
Descongelamento
Escolha de mudanças
Implementar definidas e entendidas. Por outro lado, se provocar
adequadas em tarefas,
a mudança
pessoas, cultura, desconforto nas pessoas que executam (deflagram)
tecnologia e/ou estrutura. esse processo de forma a atingir o lado emocional,
Ação para colocar as as habilidades ou motivação, a implementação da
mudanças em prática.
mudança pode apresentar resistências (REZENDE et
al., 2014).
A resistência à mudança é um mecanismo de
Criação da aceitação defesa natural e está presente em todas as organi-
e de continuidade dos zações, mesmo naquelas que se mantem vigilantes
Recongelamento
novos comportamentos.
Estímulo e apoio à necessidade de renovação da cultura. Isto ocorre,
Estabilizar a mudança necessário às mudanças. principalmente quando as pessoas consideram que a
Aplicação de recompensas mudança trará consequências negativas. (COHEN e
contingenciais de FINK, 2003). Assim, percebe-se que quanto mais ne-
desempenho e de
reforço positivo.
gativos os resultados de uma mudança, a resistência
se torna ainda maior, provocando dificuldades para
Fonte: Hitt, Miller e Colella (2007, p. 422-423) inserção de algo novo no ambiente de um órgão.
Para Cohen e Fink (2003), as pessoas resistem
A mudança acontece com o aprendizado de no- às mudanças por alguma razão e a tarefa do gerente
vas práticas e ideias. Por fim, o recongelamento se é tentar identificar essas razões e, quando possível,
refere a fase de mudança em que os responsáveis e planejar a mudança de modo a reduzir ou eliminar os
gestores retêm internamente as novas abordagens e efeitos negativos e corrigir as percepções errôneas,
implementam novos sistemas de avaliação que vão as quais obstaculizam a compreensão da realidade.
no encalço de comportamentos esperados e assim, Beckert et al. (2015) definem que a resistência à
ocorre com o processo de integração do novo padrão mudança pode estar relacionada com questões e as-
aprendido (HITT et al., 2007; ROBBINS, 2010). pectos lógicos, psicológicos ou sociológicos. E, sendo
Cada etapa do processo de mudança exige do assim, a resistência à mudança pode se apresentar de
gestor ou agente de mudança a implementação de ta- forma aberta ou velada, explícita ou implícita, imedia-
refas e disponibilidade de meios específicos para que ta ou protelada. Na verdade, a resistência a mudança
o processo de mudança ocorra de forma a atingir aos é ocasionada pelas barreiras criadas pelo homem,
objetivos propostos e, para isso, deve ser desenvol- que podem ser por objeções racionais, por atitudes
emocionais ou por interesses de grupos, as quais O universo da pesquisa foi composto por funcio-
provocam uma força contrária que pode prejudicar nários públicos designados em cargos, efetivos ou
as mudanças sugeridas. Robbins (2010) destaca que, temporários/comissionados, e teve enquanto amos-
quanto as formas, pode- se explicar que a mudança tra 16 (dezesseis) deles, definido através do critério
é considerada aberta quando e explícita ou imediata de aceitação destes profissionais e foi constituído pela
e está relacionada àquelas que são identificadas facil- indicação de um grupo de foco que estivesse relacio-
mente, enquanto a mudança velada ocorre de forma nado ao tema da pesquisa.
latent, apresentando geralmente reações imprevistas Os dados foram coletados por um formulário
que funcionam de forma implícita ou são proteladas. aplicado a cada funcionário, através da técnica de en-
Para fins de análise, as fontes de resistência trevista, que continha questões objetivas e subjetivas
podem ser classificadas em individuais e organiza- abordando informações sobre atuação profissional,
cionais. A resistência individual tem os principais aspectos relacionados com a cultura dominante no
motivos relacionados as questões de hábito, segu- ambiente de trabalho, mudanças percebidas, e as
rança, fatores econômicos, medo do desconhecido reações e consequências dessas mudanças no coti-
e processamento seletivo das informações. A resis- diano da organização.
tência organizacional se apresenta através da iner- Quanto a abordagem, o estudo envolveu dados
cia estrutural, foco limitado da mudança, inércia do que foram tratados de forma qualitativa e quantitati-
grupo, ameaça à especialização, ameaça às relações va, com vista a responder aos objetivos propostas ao
estabelecidas de poder e ameaça ás distribuições estudo. A abordagem qualitativa enfatizou os indica-
estabelecidas de recursos (ROBBIN, 2010; COHEN e dores relacionados com a cultura dominante no local
FINK, 2003; BECKERT et al., 2015). de trabalho, a interferência das mudanças, decorren-
Por fim, é importante compreender que as mu- tes da substituição do pleito eleitoral na organização
danças no interior de uma organização necessitam e no desempenho profissional dos colaboradores, as
de um catalisador, um colaborador que estimule e reações e consequências.
assume a responsabilidade pela administração do Para isso, foi utilizada a ferramenta de análise
processo de mudança (COHEN e FINK, 2003; BE- de conteúdo, por ser bastante utilizada em investiga-
CKERT et al., 2015). Enquanto estratégia de renova- ção de dados qualitativos e para a interpretação do
ção da cultura, as atividades de mudança precisam sentido das palavras. De acordo com Bardin (2009)
ser intencionais e orientadas por metas e isto implica a análise de conteúdo é composta por técnicas de
em uma atitude de vigilância, na capacidade de ler análise de comunicação, para obter indicadores
a realidade da organização em seu contexto global, (quantitativos ou não) que permitam a compreensão
interpretá-la em termos de diagnóstico, propor e im- dos conhecimentos adquiridos.
plementar mudanças. Um processo permanente de Já a abordagem quantitativa registrou, através
renovação organizacional (políticas, processos, lide- de medidas estatísticas descritivas, os indicadores
rança, estrutura, tecnologias) é a forma de conquistar referentes ao cargo dos pesquisados, comissionado
uma posição auto sustentável. ou efetivo, e o tempo de exercício da profissão.
estratégicos e táticos, envolvendo pois direção geral 10 a 20 anos; e, 43,75% atuam na organização em
e respectivas coordenações, unidades ou setores. estudo há mais de 20 anos. Como o processo eleitoral
Assim, observa-se que a mudança na direção da ocorre de quarto em quarto anos, pode-se inferir que
secretaria da educação, como também as alterações os pesquisados já passaram por mudanças de gestão
das funções de alguns funcionários são habituais e e que, provavelmente, tenham vivenciados interven-
são decorrentes das decisões tomadas pelos novos ções nas suas atividades profissionais e no cotidiano
gestores, em regra geral, sem a participação ou en- da organização.
volvimento dos colaboradores da organização. Como salientado por Schein (2009), para mudar
A mudança de gestão da organização traz a pos- a cultura de uma rganização é importante a mudança
sibilidade de contratação de novos colaboradores, da mentalidade fundamental de uma organização e
contratados em regime comissionado, os quais, ge- diz respeito à distribuição das informações, tratamen-
ralmente, são designados para desempenhar funções to dado aos colaboradores, alocação do trabalho e
de confiança. Ocorrem ainda casos de indicação para tomada de decisão.
funções que não estavam ocupadas, como também Para levantar informações junto aos colabora-
casos de substituição, quando o funcionário, mesmo dores sobre o efeito das mudanças na identidade
que efetivo, mas que por razões diversas não atende da Secretaria de Educação e do que ela representa
as necessidades do trabalho ou não atende aos crité- perante a sociedade foi verificado que 100% dos res-
rios gerenciais. pondentes afirmaram que “o órgão tem sua missão
Como o objetivo de delinear o perfil dos pesqui- claramente definida e cumpre suas ações no sentido
sados em relação a variável “cargo”, foi constatado de manter as atividades educacionais funcionando
que 43,75% dos pesquisados estão em cargos co- com qualidade”. Entretanto, foi destacado que a roti-
missionados e 56,25% são efetivos. Como previsto, a na de trabalho da organização sofre alterações, pois
contratação de funcionários, conforme a investidura de um modo em geral, os funcionários se mostram
de cargo, ocorre por meio de concurso público para apreensivos, principalmente por não saberem se irão
preenchimento de cargos efetivos ou por decisão po- permanecer em suas funções ou posto de trabalho, o
lítica para cargo comissionado, este último se destina que foi destacado por 37,5 dos pesquisados e apre-
a atendimento dos interesses pessoais e de cunho sentado nas falas transcritas a seguir:
poliíico do gestor.
Dando prosseguimento ao delineamento do perfil Pesquisados A, D, F, J, M, P - “a rotina de traba-
profissional foram levantadas informações sobre o lho muda”; “…ninguém sabe o que vai acontecer...”;
tempo de serviço dos funcionários da organização, a “...as coisas ficam incertas”; “a rotina é alterada, não
fim de verificar o quantitativo de colaboradores que se sabe o que fazer...”; “as atividades administrativas
já tinham passado por mudanças de gestão da or- ficam paradas”; “… funcionamento administrativo
ganização, decorrentes de processo eleitoral. Foram sem movimento…”
registrados os dados apresentados na tabela 1.
De acordo com os pesquisados, a Secretaria
Tabela 1 – Tempo de serviço na organização de educação, apesar de sofrer alterações em sua
rotina de trabalho pelas mudanças decorrentes do
Tempo de serviço % pleito eleitoral tem mantido sua missão e a sociedade
reconhece e valoriza o trabalho desenvolvido pelos
De 0 – 5 anos 18,75
funcionários. Como defendido por Fleury e Sampaio
entre 05 a 10 anos 18,75 (2002); e Albert et al., a cultura de uma organização
entre 10 a 20 anos 18,75 se expressa através de elementos simbólicos que
Mais de 20 anos 43,75
possuem significados para os que dele dependem e,
dessa forma consolida sua identidade organizacional
Total 100 perante a sociedade.
Fonte: Dados da pesquisa, 2016. Sobre o impacto da mudanças, provindas da nova
gestão do Município sobre a cultura da Secretaria de
Os dados apurados atestam que 18,75% dos pes- Educação, no que se referem as normas e regras
quisados estão no órgão há no máximo cinco anos; para os cargos comissionados e funções gratificadas,
18,75% estão entre 5 a 10 anos; 18,75 estão entre
foram verificados dados que estão demonstrados na Pesquisados: C, G, H, “...me senti desvalorizado,
tabela 2. injustiçado, desprestigiado”; I, M “…sem saber o que
vem, o que vai acontecer”; O, P “tudo pára”.
Tabela 2 – Impacto da gestão nos cargos e funções
Como destacado pelos autores Robbins (2010);
Falas dos pesquisados % Hitt et al. (2007), as fontes individuais de resistência
“Não ocorreu mudança no cargo à mudança residem em características humanas bá-
e me mantive na mesma função, 31,25% sicas, decorrentes de percepções, personalidades e
desde o início do contrato.” necessidades. Os motivos pelos quais os indivíduos
“Houve perda da gratificação de função.” 37,5% resistem à mudança estão relacionados as questões
“Houve perder do cargo comissionado.” 18,75 de hábito (Pesquisados A, B, D, F, J); segurança (Pes-
quisados E, L, K, N); e, medo do desconhecido (C, G,
“Ocorreu transferência para
12,50 H, I, M, O, P) motivos que podem ser observados nas
outra organização
falas dos pesquisados. Além disso, o “novo” tende a
Total 100 fazer parte da mudança pois representa um desafio
Fonte: Dados da pesquisa, 2016. para o funcionário que procura aceitação para pos-
sibilitar a permanência no seu posto de trabalho e
Wood Jr (2009) destaca que qualquer transfor- manter seu status quo no ambiente de trabalho.
mação é capaz de gerar impacto em partes ou no Quando abordados sobre a influência da mudan-
conjunto da organização e já afirmado por Rezende et ça no funcionamento administrativo da Secretaria de
al., a mudança faz parte também do universe público Educação, foi verificado que 75% dos pesquisados
e é uma constante nas rotinas administrativas, daí destacaram que as regras e linhas de comando são
as pessoas precisam estar preparadas para enfren- alteradas. Os colaboradores não sabem a maneira
tamento das dificuldades buscando alternativas para de agir; todos “mandam” e definem as tarefas a
lidar com ela. serem cumpridas. Esta respostas permitem inferior
Hitt et al. (2007) e Robbins (2010) salientam que que a mudança de gestão interfere sim na cultura da
as pessoas que estão em ambientes conservadores organização; 12,5% responderam que não ocorrem
tendem a resistir à mudança, visto que consideram- interferência e 12,5% não responderam. As alterna-
-na algo estranho que pode trazer riscos e fracassos tivas para o questionamento estão apresentadas em
e, por isso, a tendência é fugir da situação. tabela e as falas dos respondentes estão transcritas
A pesquisa buscou também verificar os senti- logo a seguir.
mentos e reações dos colaboradores frente a situação
de mudança, no sentido de identificar os mecanismos Tabela 3 – Mudança de Gestão e Cultura
de resistência individual e organizacional. E, as res-
postas obtidas sobre os sentimentos dos funcionários Alternativas Pesquisados %
quando vivenciaram situações do tipo: “substituição A mudança de gestão interfere A, C, D, E, F, G, 75
de funções e/ou tarefas, posto de trabalho”, foram ‘sim” na cultura da organização H, I, J, K, O, P
registradas pelas falas dos pesquisados, transcritas a
A mudança de gestão
seguir “não” interfere na cultura L, N 12,5
da organização
Pesquisados: A “...a mudança é difícil, ninguém
Não opinaram B, M 12,5
gosta”; B “muitas novidades e dificuldades”; D “...
tudo passou a ser novo...”; F “aceitar a mudança não Total 100
é bom...”; J “…mudar é difícil”. Fonte: Dados da pesquisa, 2016.
Pesquisados: E “...É sempre assim, só se man- Pesquisados: A, C, H, J “cada novo gestor que
tém quem aceita tudo...”; L “... é cumprir para não chega quer sempre mudar as regras, mas não pre-
piorar...”; , K “... só muda que tem poder...”; N “só cisa”; F, E, I “mostrar que está fazendo diferente”; G,
quem muda é porque tem poder” K “muda sem ouvir e falar com quem de fato faz o
serviço”;