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P AINÉIS

Marilda Almeida Marfan


Organizadora

Vo l u m e 2

Brasília
2002
PRESIDENTES DO CONGRESSO
IARA GLÓRIA AREIAS PRADO
Secretária de Educação Fundamental
MARIA AUXILIADORA ALBERGARIA
Chefe de Gabinete

COMISSÃO ORGANIZADORA
Coordenadora: Rosangela Maria Siqueira Barreto
Renata Costa Cabral
Fábio Passarinho de Gusmão
Lívia Coelho Paes Barreto
Sueli Teixeira Mello

COMISSÃO CIENTÍFICA
Coordenadora: Marilda Almeida Marfan
Ana Rosa Abreu
Cleyde de Alencar Tormena
Jean Paraizo Alves
Leda Maria Seffrin
Lucila Pinsard Vianna
Nabiha Gebrim de Souza
Stella Maris Lagos Oliveira

Edição: Elzira Arantes


Projeto Gráfico: Alex Furini
Editoração: José Rodolfo de Seixas

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Congresso Brasileiro de Qualidade na Educação: formação


de professores (1. : 2001 : Brasília)
Painéis [do] Congresso Brasileiro de Qualidade na
Educação : formação de professores. / Marilda Almeida
Marfan (Organizadora). __ Brasília : MEC, SEF, 2002.
240 p. : il. ; v.2

1. Formação de Professores. 2. Qualidade da Educação.


3. Educação Básica. I. Título. II. Brasil. Ministério da
Educação. Secretaria de Educação Fundamental.

CDU 371.13

Patrocínio: PETROBRAS
Apoio: Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI)
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 5
Iara Glória Areias Prado

PAINEL 1 7
DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEITORA E ESCRITORA
Cíntia Fondora Simão – CEEV/SP
Mônica Andréa Porto Louvem – Escola ligada à Aracruz/ES
Bárbara Heller – Unicamp/SP – MEC

PAINEL 2 17
DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEITORA E ESCRITORA
Célia Maria Mattos – PCN em Ação – Itatiaia/RJ
Beatriz Cardoso e Regina Scarpa – Cedac/SP

PAINEL 3 33
DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEITORA E ESCRITORA DOS PROFESSORES
Margareth Aparecida Ballesteros Buzianaro – Escola Estadual SEE/SP
Maria Angélica Alves – Colégio de Aplicação/UERJ
Marília Costa – Fundação Projeto Travessia/SP

PAINEL 4 47
CORRESPONDÊNCIA ENTRE PROFESSORES COMO ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO CONTINUADA
Beatriz Cardoso e Maria Cristina Ribeiro – Cedac/SP
Euzi Moraes –Ried/ES

PAINEL 5 55
FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO PROJETO SABER EM MOVIMENTO
Caio Martins e Marcelo Barros Silva – Escola Pública/Santos/SP

PAINEL 6 59
ARTICULAÇÃO ENTRE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES
Maria Corrêa da Silva – Seduc/AC
Célia Finck Brandt e Sydione Santos – UEPG/PR
Lourdes Lúcia Goi e Isabel Cristina Auler Pereira – Unitins/Seduc/TO
Eliane Gomes Quinonero e Kátia Diniz – SME/São Bernardo do Campo/SP

PAINEL 7 79
FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO PROFORMAÇÃO: UNINDO A TEORIA E A PRÁTICA NO SISTEMA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Bernardete A. Gatti – FCC – PUC/SP
Tereza Barros Amaral – Seduc/PE
Jandira Medrado – Araguaína/TO

PAINEL 8 91
ARTICULAÇÃO ENTRE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES – EDUCAÇÃO INFANTIL
Fátima Regina Teixeira de Salles Dias – UFMG/MG

PAINEL 9 97
AVALIAÇÃO DAS APRENDIZAGENS DOS ALUNOS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Almira Albuquerque Santos – SME/Batalha/AL
Lucia Lins Browne Rego – Seduc/PE
Maria Nilene Badeja – SME/Campo Grande/MS

PAINEL 10 109
ESCOLAS MULTISSERIADAS
Fernando Ferreira Pizza – Escola Ativa/MEC
Francisca das Chagas Souza da Silva – Escola da Floresta/SEE/AC

PAINEL 11 117
ARTICULAÇÃO ENTRE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Emanuela Oliveira Carvalho Dourado – SME/Irecê/BA
Ana Socorro Braga – SME/Vargem Grande/MA
Stela C. Bertholo Piconez – USP/SP
Leôncio José Gomes Soares e Daniela de Carvalho Lemos – UFMG/MG

3
PAINEL 12 137
AVALIAÇÃO DAS APRENDIZAGENS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Cláudia Lemos Vóvio – Ação Educativa/SP
Maria Amábile Mansutti – PCN em Ação/MEC

PAINEL 13 149
O LIVRO ESCOLAR NO CONTEXTO DA POLÍTICA EDUCACIONAL
Jean Hebrard – França
Ralph Levinson – Inglaterra
Luz Philippi – Chile
Nabiha Gebrim – SEF/MEC

PAINEL 14 173
O REFLEXO DA AÇÃO FORMADORA NO PROJETO PEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO – EDUCAÇÃO INFANTIL
Sueli A. Campos Silva e Valéria P. Cortez Corrêa – Creche/Associação Obra do Berço/SP
Ana Maria Mello – Creche Carochinha/USP/SP
Stefânia Padilha Costa – Escola Municipal/Belo Horizonte/MG
Olga Regina Siqueira e Silva – Escola Municipal/Natal/RN

PAINEL 15 191
EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO NA AMAZÔNIA LEGAL
Francisca Bezerra da Silva – SEE/AC

PAINEL 16 195
PROJETO PEDAGÓGICO: POR QUÊ, QUANDO E COMO – EDUCAÇÃO INFANTIL
Cristina Mara da Silva Corrêa e Delba Rejania Santos – Creche USP/SP
Alessandra Latalisa de Sá e Ana Cristina Coura Cheib – Escola Balão Vermelho/MG
Sônia Regina da Silva Souza – Associação Verbo Divino/SP

PAINEL 17 209
PROJETO PEDAGÓGICO: POR QUÊ, QUANDO E COMO – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Rosângela Pereira – Projeto Kellog/SP
Elizabete Monteiro – Projeto Axé/BA

PAINEL 18 217
PROJETO PEDAGÓGICO: POR QUÊ, QUANDO E COMO
Ivanete Carvalho e Andréa Guida Bisognin – PEQV /Fundação Vale do Rio Doce – Cedac/SP
Renata Sanches Silva e Maria Vânia Marques de Carvalho – SME/Caraguatatuba/SP e Fundação Orsa
Rosemere da Silva Vieira – SME/Campo Alegre/AL

PAINEL 19 227
LEITURA NA ALFABETIZAÇÃO
Jacinta de Fátima Camargo Barbieri e Luciana de Almeida Santos – SME/Itapetininga/SP
Eliane Mingues – PCN em Ação/MEC

PAINEL 20 237
A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA SALTO PARA O FUTURO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES
Rosa Helena Mendonça – Seed/MEC
APRESENTAÇÃO

O Primeiro Congresso Brasileiro de Qualidade na Educação – Formação


de Professores, promovido pela Secretaria de Educação Fundamental do
Ministério da Educação (SEF/MEC), foi realizado em Brasília no período
de 15 a 19 de outubro de 2001.
O Congresso tratou, em seus simpósios, palestras, painéis, oficinas e
atividades paralelas, de uma das principais variáveis que interferem na
qualidade do ensino e da aprendizagem: a formação continuada dos pro-
fessores. Buscou propiciar aos educadores e profissionais da área, tanto
nas oito séries do Ensino Fundamental, quanto na Educação Infantil, na
Educação de Jovens e Adultos, na Educação Especial, na Educação Indí-
gena e na Educação Ambiental, informações e conhecimentos relevan-
tes para subsidiá-los em sua prática. Promoveu um balanço geral dos
principais avanços alcançados nos últimos anos, com a implantação de
políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade do ensino, e
enfatizou, de forma especial, os programas de desenvolvimento profis-
sional continuado e de formação de professores alfabetizadores, que fo-
ram debatidos sob diferentes óticas e pontos de vista.
O Congresso envolveu cerca de 3 mil participantes, incluindo, além das
representações municipais, um significativo número de autoridades, es-
pecialistas nacionais e internacionais e representantes de organizações
não-governamentais, privilegiando, quantitativamente, os representantes
dos municípios que procuravam desenvolver em seus sistemas de ensino
as políticas de formação continuada propostas pelo MEC, a saber: o Pro-
grama de Desenvolvimento Profissional Continuado – “Parâmetros em Ação”
e o Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – PROFA.
Ao promover a organização desta publicação, a SEF faz um resgate de
todos os textos apresentados e entregues, em tempo hábil, pelos especia-
listas convidados e procura colaborar com aqueles profissionais da área
que valorizaram o evento e estão em busca de sua memória, ou que, por
diferentes razões, se interessam por reflexões e temas relativos à quali-
5
dade da educação e à formação dos professores, tais como: educação para
a mudança, transversalidade e interdisciplinaridade, educação escolar
indígena, livro didático, inclusão digital, alfabetização, organização dos
sistemas de ensino, educação inclusiva, escola reflexiva, enfim, compe-
tência profissional, o desempenho do professor e o sucesso escolar do
aluno, entre outros.
Como o público-alvo é muito diversificado, o volume de textos apre-
sentados muito grande, e como os principais eixos temáticos podem in-
teressar, de forma mais direta, a diferentes segmentos do Ensino Funda-
mental, os resultados do Primeiro Congresso Brasileiro de Qualidade na
Educação – Formação de Professores foram organizados em quatro volu-
mes: os volumes 1 e 2 referem-se a temas mais gerais, relativos à Educa-
ção Fundamental como um todo, e incluem temas específicos referentes
à Educação Infantil, à Educação de Jovens e Adultos, à Política do Livro
Didático e à Educação Especial; o volume 3 trata da Educação Ambiental;
e o volume 4 é dedicado à Educação Escolar Indígena.
Embora incompleta, pela ausência de alguns textos, e observando que
em alguns casos só apresenta os resumos dos participantes, a presente
edição reflete a importante contribuição e a competência de nossos es-
pecialistas, tanto pelas palestras proferidas nos simpósios, quanto pelos
relatos de experiências contidos nos painéis, e incorpora 25 textos apre-
sentados por renomados especialistas internacionais.
Ressalta-se ainda que os textos contidos nesta publicação são de in-
teira responsabilidade de seus autores e retratam reflexões e pontos de
vista de cada especialista envolvido.
Com a presente publicação, a SEF/MEC espera que os resultados do
Congresso de Brasília possam ser amplamente divulgados e cheguem ao
alcance dos principais interessados: professores do Ensino Fundamen-
tal, diretores de escolas, institutos de formação de mestres, pesquisado-
res, universidades, enfim, todos aqueles ligados à produção, à reprodu-
ção, ao consumo e à transmissão do conhecimento, paladinos da cons-
trução de uma escola de qualidade para todos.

Iara Glória Areias Prado


Secretária de Educação Fundamental
PAINEL 1

DESENVOLVIMENTO
DA COMPETÊNCIA
LEITORA E ESCRITORA
Cíntia Fondora Simão

Mônica Andréa Porto Louvem

Bárbara Heller

7
Desenvolvimento da




competência leitora e escritora






Cíntia Fondora Simão



Centro de Estudos da Escola da Vila – CEEV/SP








Resumo





A painelista apresenta resultados do trabalho instrumentalizada por suas leituras e seus estu-



desenvolvido pelo Centro de Estudos da Escola da dos de outras experiências e situações didáticas
Vila a partir do Programa Praticar – Programa de ○

○ modelares oferecidas pelo Programa Praticar, ali-
Formação e Atualização Profissional Permanente, mentada e incentivada pelo formador durante

especialmente para atender às demandas especí-


toda a produção, compartilhada com a equipe da


ficas do sistema público de ensino, com o qual in- escola, para que se torne um produto finalizado

tensificou sua parceria em ações de capacitação a cada seqüência de trabalho proposta e que,

nos últimos oito anos. eventualmente, pode ser socializada em momen-



O painel em questão enfoca apenas ações de tos especiais, como no caso dos simpósios inter-

registro e leitura do professor, ao longo da realiza- nos à própria rede.


ção do Programa Praticar: os Projetos de Referên- Escrever, pesquisar, coletar imagens, falar em

cia, que são acompanhados e comentados pelo for- público, sintetizar conceitos, socializar resultados,

mador antes, durante e após a realização destes nas compartilhar descobertas – tudo isso faz com que,

próprias salas de aula dos professores participan- por intermédio dos Projetos Especiais, o profes-

tes; e os Projetos Especiais, etapa do processo de sor tenha seu papel ampliado, renovando sua fun-

formação cujo objetivo é tornar o professor oficial- ção na perspectiva do comprometimento social

mente produtor e divulgador da reflexão e da pes- que a caracteriza e justifica. Os Projetos Especiais

quisa sobre seu cotidiano, por meio de publicações. têm uma idéia-força: a interlocução, pois a pro-

A formação permanente, entendida atual-


dução é destinada a um público definido e real.


mente como o modo mais eficaz e produtivo para Assim, a tarefa e todo o empenho que a acompa-

a construção das competências docentes, é rea- nha ganham sentido e significado. Essa é a pro-

lizada pelo Programa Praticar a partir de um eixo posta desses encaminhamentos no sentido de a

central e organizador do trabalho: os Projetos de publicação: produzir para ser apreciada, produzir

Referência. Neles, os professores participantes para colaborar com o colega, produzir para reve-

são convidados a realizar projetos em suas salas lar percursos e criações de seu grupo, de sua co-

de aula, apoiados por uma série de ações for- munidade. São encaminhamentos que visam a um

mativas: na presença do formador ou não, em destino para a produção dos professores, com va-

grupo – com sua equipe da escola ou de toda a riedade de circunstâncias comunicativas e de



rede – e individualmente. Dessa forma, a produ- interlocutores – o que significa diversificar desa-

ção escrita do professor participante está relaci- fios, adequar expectativas, ajustar resultados, en-

onada a uma prática de registro permanente, fim, regular criticamente a própria produção.














8
PAINEL 1
Desenvolvimento da competência leitora e escritora

Desenvolvimento da




competência leitora e escritora





Projeto Formar: uma contribuição à




formação continuada de professores



8




Mônica Andréa Porto Louvem



Escola ligada à Aracruz/ES









Introdução



O Formar (Formação em Rede nos Municí- 1. Preocupação com a continuidade de sua for-

pios de Atuação da Aracruz Celulose) é um pro- mação profissional.



jeto financiado pela Aracruz Celulose S.A. e de- 2. Desejo de aperfeiçoar sua prática pedagógica.

senvolvido pela Rede Interdisciplinar de Edu-


3. Disposição para trabalhar em grupo, discu-


cação (Ried). Teve início em setembro de 1997,


tindo aspectos práticos e teóricos da educa-


envolvendo seis municípios capixabas: Aracruz, ção e redigindo em conjunto textos que re-

João Neiva, Ibiraçu, São Mateus, Conceição da flitam suas discussões e sua prática.

Barra e Pedro Canário.


4. Intenção de dar à sua prática de sala de aula


Trata-se de uma proposta de formação con-


um enfoque interdisciplinar.

tinuada de professores de Bloco Único (1ª e 2ª


séries) à 4ª série, que opera sobre três eixos fun- A proposta de trabalho do Formar é o estu-

damentais: do em grupo, em reuniões semanais com dura-


ção mínima de três horas destinadas à reflexão


• desenvolvimento da competência em leitura


teórica e à discussão prática, o que é feito cole-


e escrita;

tivamente, sob a coordenação de um professor


• associação da teoria à prática da sala de aula;


escolhido pelo grupo. O estudo se baseia em


• interdisciplinaridade na prática escolar. textos encaminhados pela equipe de professo-



O desenvolvimento do trabalho dá-se em res-formadores, ou sugeridos pelos grupos de



partes, por meio do diálogo permanente em estudo. Nessas reuniões de estudo, é elabora-

rede, a distância, entre a equipe de professores- do, por escrito, coletivamente um relatório re-

formadores (Ried) e os grupos de estudo. flexivo, que deve traduzir a discussão do texto

Quando teve início, a proposta era de estu- e sua relação com a prática pedagógica dos par-

do em grupos de no mínimo cinco e no máxi- ticipantes. O grupo escolhe um coordenador



mo dez professores. Mas, no decorrer do Proje- para dar encaminhamento às discussões e um


to, o número de participantes chegou a aproxi- relator para registrar e organizar os registros.

madamente quinze em cada grupo, em razão Para dar apoio contínuo ao grupo, cada

da grande procura de professores interessados pólo, composto por dois ou três municípios,

(a adesão ao Projeto é voluntária). Dessa for- tem um coordenador regional, que visita

ma, os participantes potenciais são professores freqüentemente os grupos, participando das



que tenham compromisso com a transforma- discussões, esclarecendo dúvidas e mediando



ção da escola pública e interesse na atualiza- o diálogo entre grupo e professores-formado-



ção de seus conhecimentos teóricos e práticos, res, além de elaborar relatórios mensais que são

demonstrando: enviados à Ried.




Minha experiência e meu “No dia 03/10, iniciamos o estudo lendo o texto



O papel do papel, em seguida discutimos os pon-
olhar como coordenadora



tos principais do texto…”, ou elaboravam um


regional texto que não retratava a discussão do grupo.



Tendo como referência os relatórios elabo-


Quando iniciamos o Projeto, em 1997, mui-


rados nos primeiros meses de existência do Pro-


tos professores que aderiram ao Formar tinham
jeto, a equipe de professores-formadores levan-


expectativas de encontrar respostas para as di-


tou as seguintes observações:


ficuldades encontradas no processo de ensino–


• os conteúdos dos textos ou não eram levados


aprendizagem. A prática do estudo ainda não em conta pelos grupos de leitores, ou sofriam



fazia parte do dia-a-dia do professor. Estuda- distorções, ou não eram absolutamente


va-se para obter uma graduação – nesse caso


compreendidos;


eram buscados os cursos em faculdades –, es-


• os relatórios comprometiam a lógica do pen-


tudava-se em capacitações e treinamentos ofe-
samento e da linguagem;

recidos pela Secretaria de Educação, em que

eram repassados os conteúdos no período de




• registravam-se erros elementares de linguagem.
um dia ou, no máximo, cinco dias, sendo essa Nas devolutivas dos professores-formadores

função de responsabilidade exclusiva do instru- eram colocadas questões que levavam os profes-

tor ou palestrante. Sendo assim, o hábito de lei- sores a refletir sobre o que pensaram e o que es-

tura e de escrita do professor ficava cada vez creveram, como também sobre a leitura realizada.

mais restrito às atividades desenvolvidas na es- Os primeiros meses do Formar causaram



cola, em geral, limitadas e descontextualizadas. uma angústia muito grande nos professores – o

Diante desse quadro, tivemos um início que eu chamaria de “angústia necessária”. Foi o

muito difícil, em que os professores reclama- momento em que os professores perceberam



vam do tamanho dos textos, ou seja, muitas que não eram leitores e escritores competentes.

páginas, e das propostas de atividades dos pro- Eu, coordenadora em formação, também de-

fessores-formadores, que exigiam um estudo parei com essa situação. Na primeira devolutiva

reflexivo do texto. Além disso, não conseguiam ao meu relatório, havia o seguinte comentário:

colocar no papel, ou seja, registrar, escrever as “Seu relatório é meramente descritivo, não re-

flexivo. Não deixa, portanto, margem para uma


idéias discutidas nos grupos. As propostas de


atividades incluíam sempre um relato reflexivo discussão mais aprofundada da sua ação e do de-

e uma síntese do texto. sempenho do grupo”.



Em minhas visitas semanais aos grupos de À medida que entravam em contato com os

relatórios dos grupos de estudo e das coorde-


estudo, observava que, para estudar os textos


propostos, os professores faziam uma leitura cir- nadoras regionais, os professores-formadores



cular – que muitas vezes era a primeira leitura observavam dificuldades específicas e envia-

do texto. À medida que liam, paravam em algum vam textos produzidos por eles próprios ou por

trecho do texto para discutir. Em geral, as dis- outros autores, para a discussão de questões

cussões conduziam para as dificuldades da sala específicas. Uma das primeiras intervenções

de aula e do contexto escolar. Dessa forma, os enfocava o saber estudar, ou seja, o saber ler um

relatos reflexivos e as sínteses dos textos apre- texto de forma compreensiva. Nessa ocasião, foi

sentavam características diferentes do que se enviado um texto que mostrava a importância



propunha, pois não se registrava no ato das dis- de, ao ler, destacar as idéias centrais, fazer ano-

cussões. Primeiramente, os professores liam e tações e observações pessoais, levantar ques-



discutiam o texto e, depois, tiravam um tempo tões e dúvidas, registrando-as. E ainda, ao es-

para fazer o registro. Ao fazer a síntese, os pro- crever o relatório, fazê-lo de forma reflexiva e

fessores tinham de recorrer novamente ao texto, não apenas descritiva. Num outro momento,

e faziam outro recorte dele. Na elaboração do foram enviados textos sobre sínteses e alguns

relato reflexivo, ou relatavam a seqüência dos exemplos de sínteses produzidas por alguns dos

acontecimentos do momento do estudo, como: formadores, chamando a atenção dos professo-


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PAINEL 1
Desenvolvimento da competência leitora e escritora

res para as características desse tipo de texto. mestres e doutores em educação”.



Outra intervenção da equipe de professores- Inicialmente, houve uma dificuldade muito



formadores, que considero marcante e positi- grande para os professores cursistas se coloca-



va, foi um texto escrito pela professora Euzi rem no lugar de pesquisadores e estudiosos e,


Moraes, integrante e coordenadora da equipe nessa condição, refletirem sobre as colocações



de formadores, que propunha uma classifica- dos professores-formadores. Então, respondiam



ção dos textos que, até então, tinham sido pro- aos professores-formadores em desabafo, fala-


duzidos pelos grupos. Os textos, classificados vam de dificuldades e insatisfações. Mas, com o 10



em uma escala que se inicia com a cópia e cul- diálogo permanente, recebendo orientações e



mina com o texto-autoria, recebiam a seguinte sugestões da equipe de formadores, os profes-



tipologia: sores gradativamente foram mudando os seus re-


Texto-cópia: é o texto que reproduz lite- gistros, a forma de estudar os textos e também a



ralmente o original, sem aspas e sem impressão que tinham sobre as devolutivas. Dis-



entendê-lo. cutiam o foco das questões levantadas pelos pro-



Texto-imitação: é aquele que resulta da intro- fessores-formadores, estudavam os textos, gri-


missão do autor no sistema de língua escrita fando e anotando as idéias centrais, e registra-



sem conhecê-lo, gerando um arremedo de es- vam os pontos principais das discussões, ao

crita e baixa inteligibilidade. mesmo tempo em que elas aconteciam.



Texto discurso alienado: é o texto que se afas- No meu acompanhamento, pude observar

ta do original, concentrando-se em outros te- essas mudanças e esses avanços, e a equipe da



mas. Rede Interdisciplinar de Educação pôde



Texto-lamento: é o texto que se afasta do ori- constatá-los por meio dos registros que cons-

tam em seus relatórios anuais de atividades.


ginal e se refugia no sentimento de frustração


Esse ir e vir, ou seja, esse diálogo permanen-


profissional.

te vem sendo o ponto central do Formar. A di-


Texto-colagem: é o texto feito de pedaços do


ferença entre o Projeto Formar e os “treinamen-


original, copiados na íntegra ou disfarçados

tos”, “capacitações” e “reciclagens” tradicionais


por pequenas alterações no vocabulário ou na


está exatamente no fato de ser formação conti-


estrutura das frases sem, contudo, produzir


significado. nuada, com diálogo permanente e uma rede de



interações, e não ações episódicas ou contatos


Texto-colcha-de-retalhos: é o texto retalhado

esporádicos em que se discutem temas e ques-


em muitos parágrafos curtos e não interliga-


tões descontextualizadas.

dos pelo sentido.


Outra contribuição evidente do Formar está


Texto-montagem: é o texto feito de pedaços


no fato de o professor repensar sua prática na


do original, que se articulam de forma a pro-


sala de aula. As propostas de atividades sempre

duzir significado.

traziam questões teóricas e práticas. No início,


Texto-autoria: é o texto que retrata as idéias,


havia uma grande dificuldade para os profes-


o estilo, o tom, em síntese, a identidade do


sores cursistas colocarem em prática o que se


autor ou dos autores.


estudava e discutia. Em alguns momentos, o

Ao receber as devolutivas dos professores- grupo de estudo planejava uma aula em con-

formadores, que continham questionamentos junto com base nas orientações dos professo-

e observações, os professores, como disse an-


res-formadores, e um professor aplicava aque-


teriormente, sentiam-se angustiados. Encontra- le planejamento em sua sala de aula. Outros



vam inúmeras justificativas para responder às professores participavam da aula observando e



questões colocadas pelos professores-formado- registrando a participação dos alunos e as in-


res, do tipo: “Eles estão exigindo muito de nós”;


tervenções do professor. No estudo seguinte, o


“Nós quase não temos tempo de estudar; as ati- grupo discutia o desenvolvimento do planeja-

vidades escolares são muitas”; “Eles querem nos mento e, no momento do relato da aula, ficava

comparar a eles, que já estudaram tanto, são clara a distorção em relação às atividades de-

senvolvidas e o que realmente se pretendia. dos professores, além de promover o compro-



Mais uma vez, a equipe de professores-forma- misso e a responsabilidade com o estudo, o ho-



dores intervinha, levantando questionamentos rário, os prazos e os retornos, situações essas



e fazendo observações nos relatos escritos das que vêm sendo esquecidas no contexto da edu-


aulas desenvolvidas. cação pública. Esse resgate do cumprimento do



No decorrer do Projeto, por meio do diálo- dever e da necessidade de o professor estar



go permanente entre professores e formadores, sempre estudando poderia ser considerado um


era possível, além de desenvolver a leitura e a dos aspectos fundamentais do Formar.



escrita, o repensar constante sobre a prática Percebo que a formação continuada tem



pedagógica. dado um resultado mais efetivo do que as



Os temas propostos para estudo proporcio- “capacitações” e “treinamentos” acontecidos em


nam aprofundamento de conteúdos e conheci- momentos isolados. Pude constatar esse fato



mentos indispensáveis ao educador. É nesse quando ouvi de um grupo o seguinte depoimen-



sentido que o Formar vem contribuindo para to: “Formávamos alunos, mas não éramos for-


desenvolver a competência leitora e escritora ○







mados. O projeto Formar está nos formando”.

Histórias e histórias




Bárbara Heller

Unicamp – MEC




Resumo



Pretendo comentar, ao longo de minha exposi- nil: Lewis Carroll (traduzido por Ana Maria Macha-

ção, a elaboração do livro Histórias e histórias, que do), Hans Christian Andersen (com tradução de

reuniu dez pesquisadores sob a orientação da pro- Tomás Rosa Bueno), João Carlos Marinho, Mário

fessora Dra. Marisa Philbert Lajolo. Trata-se, portan- Quintana, Pedro Bandeira, Marina Colasanti,

to, de um trabalho coletivo, cujo resultado – um con- Graciliano Ramos, Orígenes Lessa, Marcos Ribei-

junto de 111 cartas ficcionais, para 111 livros reais – ro, Bartolomeu Campos de Queiroz, Tommie de

tenta prever os mais diversos tipos de leitores e mo- Pola, Cora Coralina, Eliardo França, para citar ape-

dalidades de leitura dos livros que o Ministério da nas os nomes de alguns.



Educação, por meio do Programa Nacional Biblio- Os especialistas da Fundação Nacional do Li-

teca na Escola (PNBE), distribuiu, nos últimos dois vro Infantil e Juvenil, que selecionaram o acervo

anos, a 80 a 100 mil escolas públicas do país. adquirido e distribuído pelo MEC, tornaram-se

Os autores dos livros comentados de forma personagens das cartas, por meio da reprodução

epistolar são da literatura infantil e infanto-juve- de trechos de seus pareceres críticos.





Introdução


Histórias e histórias é o resultado de um traba- modalidades de leitura – individual, coletiva,



lho coletivo, elaborado por dez pesquisadores, sob silenciosa, em voz alta, na sala de aula, na bi-

a coordenação da professora Dra. Marisa Lajolo, blioteca, no ônibus, no metrô, no toalete – e de


da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). textos – livros, jornais, gibis, revistas, quadri-

Dez pesquisadores, sim, mas antes de tudo nhos, anúncios, ilustrações, catálogos, manu-

dez leitores, que acreditam nas mais diversas ais de instrução, sites da Internet etc.

12
PAINEL 1
Desenvolvimento da competência leitora e escritora

Dez pesquisadores espalhados pelo Brasil – • variedade de gêneros, de assuntos, de escrito-



São Paulo, Porto Alegre, Campinas, Santos, Re- res e de ilustradores.



cife, Rio de Janeiro –, por meio de poucos con- Para cada um dos 106 títulos selecionados



tatos pessoais, mas muitos virtuais, trocaram pela FNLIJ, de 43 editoras distintas, foram emi-


suas experiências da leitura dos 111 livros que


tidos dois comentários críticos de diferentes es-


compõem o corpus de Histórias e histórias. pecialistas em literatura infantil e juvenil.



Enquanto realizávamos, em 1999, o Histó- Os dados abaixo mostram a distribuição dos


rias e histórias, tínhamos noção de que aquilo 12


livros selecionados pela FNLIJ: 49 livros de nar-


que cada um produzia (isto é, uma carta para


rativas; 15 livros de poesia, 6 livros de imagem


cada livro) seria lido pelos professores, cujas (sem texto); 20 de ficção e não-ficção, compre-



escolas receberiam o acervo dos livros adquiri- endendo os gêneros já citados.


dos e distribuídos pelo Ministério da Educação


Descrevendo com maior riqueza de deta-


(MEC). lhes: são livros que contemplam diversas mo-



A noção, hoje, transformou-se em números dalidades de textos, tais como biografias, clás-



bem concretos: ao todo, por intermédio do Pro- sicos, poemas, lendas, contos de fadas, do fol-


grama Nacional Biblioteca na Escola (PNBE/99),


clore etc., de autores nacionais e estrangeiros.

foram atendidas 36 mil escolas, cadastradas no

Censo Escolar/99, que registraram matrículas


Segunda etapa – Justificando


em número igual ou superior a 150 alunos nas


quatro primeiras séries do Ensino Fundamen- o gênero epistolar



tal. Foram adquiridos 4 milhões de livros, ao


De posse dos 111 exemplares e dos respecti-


custo de R$ 21.427.859,77, dos quais R$ vos pareceres críticos de especialistas, pusemo-


17.447.760,00 para as aquisições e mais R$


nos a discutir a melhor maneira de instrumenta-


3.980.099,77 para a distribuição.


lizar o professor que trabalha nas escolas benefi-


Embora impressionantes, os números não


ciadas pelo PNBE.


falam por si. No máximo, revelam a amplitude No lugar de exercícios voltados à interpreta-

do projeto, mas não sua gênese nem as premis-


ção, que raramente trabalham a multiplicidade de


sas que ele abriga.


sentidos de um texto, propôs-se o gênero


epistolar, já que este não só favorece um clima de



Gênese do projeto intimidade entre narrador e destinatário, como



também permite criar inúmeras situações


Histórias e histórias

ficcionais entre textos e leitores.


Estabelecemos que, em todas as cartas, ha-



Primeira etapa – Seleção do corpus veria a reprodução de trechos dos pareceres,



pois eles expõem os critérios por meio dos quais


Dos 111 livros que fazem parte do corpus de


aqueles livros, e não outros, foram seleciona-


Histórias e histórias, 106 foram selecionados


dos para compor o acervo do PNBE/99.

pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Ju-


À medida que criávamos em nossos textos


venil (FNLIJ) e os outros cinco pela Secretaria


epistolares leitores fictícios, que tinham em suas


de Educação Especial (SEESP), do Ministério da


mãos livros reais, comunicávamo-nos por meio


Educação (MEC).
do correio eletrônico. Assim, a troca das cartas

O site <http://www.fnlij.org.br/livros/

ficcionais que elaborávamos, anexadas às nos-


indice.htm>, da Fundação Nacional do Livro In-


sas mensagens eletrônicas, permitiu-nos uma


fantil e Juvenil, explica que na seleção dos títu-


vivência epistolar moderna e contemporânea.


los indicados ao PNBE foram observados os se-


guintes itens:

Terceira etapa – Elaborando cartas


• adequação e inovação da linguagem (de texto



e de imagem); Os emissores das cartas deveriam ser leito-



• qualidade gráfica; res e os destinatários, docentes ou profissionais



da leitura. Assim, foram sendo criados os mais dade para compreender as escolhas, as resis-



diversos tipos de leitores: homens, mulheres, tências e as dificuldades do aluno que ainda



crianças, mães de alunos, educadores; e os mais não pode ser considerado leitor maduro.



diferentes professores: jovens, nem tão jovens, 4. Por meio do resgate de sua história de leitu-


aposentados, residentes em grandes centros ra, o professor poderá compartilhá-la com



urbanos, em cidades do interior de qualquer os alunos e, assim, ajudá-los a construir a



estado do Brasil. Alguns lecionam na periferia, deles. Pode perguntar se gostam de ouvir


outros, na zona rural. Há, também, os que tra- histórias, de quais autores já ouviram falar,



balham na capital. São homens e mulheres quais os hábitos de leitura da família, as his-


tórias preferidas etc. Se as crianças já forem


cujas idades, implícitas nas cartas, revelam suas


alfabetizadas, pode questionar quem são os


experiências nas salas de aula. Há professores


autores preferidos, os livros mais marcantes,
de Português, de Geografia, de História, de Edu-


em que momento do dia (ou da noite) cos-


cação Artística, de Educação Física.


tumam ler, se gostam de ler em voz alta para

A maior parte das cartas destinou-se a pro-


os outros, se lêem revistas, jornais etc. Nes-
fessores, mas algumas previram diferentes des-
se momento, o professor pode esclarecer

tinatários: editores de material didático, auto-


que está sendo construída a história de lei-


res de livros para crianças, especialistas de lite-


tura de cada um.


ratura infantil e juvenil. Projetamos, portanto,


5. Uma vez que também se lê nos espaços pú-


uma comunidade de leitores que, além de ul-


blicos – parques, ônibus, metrô, nas ban-

trapassar os limites da escola, prevê outros pro-


cas de jornal etc. –, o professor poderá mos-


fissionais da leitura. Em outras palavras: o[a]


trar que a leitura permite uma grande va-


professor[a], principalmente de Português, dei- riedade de suportes (jornais, revistas, folhe-


xou de ser o único responsável pela divulgação


tos, livros escolares, bulas de remédio, pres-


da leitura.

crições médicas, avisos, textos literários, de


auto-ajuda etc.) e que, portanto, a leitura é



Premissas do Histórias uma prática social.



6. Observar o que e como os outros lêem à nos-


e histórias

sa volta é uma excelente oportunidade para


1. Em comum, na totalidade das cartas, a idéia se formar a noção de comunidades de lei-



da mediação do adulto diante das situações tores. Na escola, não são apenas professo-

de leitura dos escolares. Não se trata de um res e alunos que lêem; funcionários, biblio-

adulto qualquer, mas de um que tenha vín- tecários, orientadores, coordenadores tam-

culos afetivos com os alunos e, principalmen- bém devem ser reconhecidos como leito-

te, que goste de ler. Nas escolas, esse papel res, cada qual com sua história de leitura.

costuma ser do professor. Por isso, toda a comunidade escolar deve



2. Sendo o principal mediador entre o texto e se envolver com as atividades de leitura,



seus alunos/leitores, é necessário que o pro- promovendo feira de livros, idas à bibliote-

ca, comentários sobre determinados textos


fessor resgate sua história de leitura. Por isso,


é importante que ele recupere quais foram de livros ou de jornais etc.



os adultos que lhe forneceram, na infância, 7. Ao envolver os mais variados profissionais da



os modelos de leitura; de quais livros, textos escola em atividades de leitura, o aluno passa

ou autores gostou (e não gostou); quem lhe a vivenciá-las como sendo uma prática cole-

contava histórias; onde costumava ouvi-las; tiva, em que todos trocam experiências, livros,

quando descobriu que podia ler sozinho; de modos de trabalhar os textos na aula e fora

quais autores passou a gostar menos ou mais dela. Quanto mais rica for essa troca, mais

à medida que foi amadurecendo; que hábi- chances o aluno terá de se tornar leitor.

tos de leitura mantém nos dias de hoje etc.


8. A prática da leitura começa na escola, mas

3. Conhecendo e reconhecendo sua trajetória não se esgota nela. Quando a criança tiver se

como leitor, o professor terá maior flexibili- transformado em leitora, terá competência

14
PAINEL 1
Desenvolvimento da competência leitora e escritora

para ler um texto literário, uma imagem, um país de leitores”, a campanha teve o reforço



enunciado de um problema de matemática, de um comercial de tevê e de um jingle de rá-



um mapa, um bilhete, uma paisagem, onde dio, além de cartazes e cartilhas feitos por


quer que esteja. Esse leitor não só desconhe- cartunistas famosos.



cerá o comportamento de que apenas lê o É o próprio MEC que divulga no site <http:/


quê e quando o professor quer que ele leia,


/www.mec.gov.br/acs/acorda/leit.shtm> a con-


como também será um leitor do mundo. cepção de tal campanha: professores, diretores,



9. Como ninguém lê tudo do mesmo jeito, não alunos, artistas, esportistas, contadores de his- 14



há uma única leitura possível ou a mais au- tórias e comunidade devem, juntos, reforçar a


torizada. Alguns alunos irão se envolver com importância do hábito da leitura dentro e fora



as emoções do texto, com as cores e formas da sala de aula.


Isso significa que a leitura mediada por adul-


das ilustrações. Outros, com os valores éti-


cos que perpassam as histórias. O professor tos com diversas competências, formando uma



precisa compartilhar esses diferentes modos comunidade de leitores, proposta no Histórias e


histórias, encontra-se identificada com os pro-


de ler dos alunos, sem hierarquizá-los.


jetos mais recentes do Ministério da Educação.


10. Só se aprende a ler em ambientes nos quais


A já citada campanha Tempo de Leitura
se lê. Por isso, o professor deve ser um leitor

maduro, que leia com e para a criança, fa- ○

complementa outras ações já implementadas
pelo Ministério da Educação, como os Progra-

zendo-a familiarizar-se com a atividade da


leitura. mas do Livro Didático e da Biblioteca na Esco-


la, Parâmetros Curriculares e o Programa de



Formação de Professores Alfabetizadores, en-


Considerações finais

tre outros.

Todas essas iniciativas, se bem-sucedidas,


Felizmente, o Programa Nacional Bibliote-


ca na Escola não é uma atividade isolada. A pu- podem começar a destruir uma constatação tão

blicação de Histórias e histórias vem ao encon- divulgada nos meios de comunicação e nas

queixas de professores: a de que os jovens de


tro de outras iniciativas do governo voltadas ao


fomento da leitura, como a campanha Tempo hoje não têm concentração suficiente para ler

de Leitura, promovida em setembro de 2001. obras clássicas, que têm preguiça de ler textos

longos e canônicos.

Com o tema “Vamos fazer do Brasil um






































PAINEL 2

DESENVOLVIMENTO
DA COMPETÊNCIA
LEITORA E ESCRITORA
Célia Maria Mattos

Beatriz Cardoso e Regina Scarpa

17
Valorização da competência leitora




e escritora na rede de ensino do




município de Itatiaia/RJ






Célia Maria Mattos


PCN em Ação – Itatiaia/RJ – SEF/MEC







A Secretaria Municipal de Educação e Cul- Curriculares Nacionais em Ação, desenvolvido


tura do Município de Itatiaia criou um progra- pelo Ministério da Educação e implantado no



ma tendo como eixo temático “Construindo a município desde abril de 2001, programa esse



Cidadania Ativa”, com o objetivo de nortear os que vem promovendo a capacitação permanen-


trabalhos das escolas do município, para pos- ○
te de todos os professores da Educação Infantil
sibilitar o desenvolvimento de habilidades e e do Ensino Fundamental (1º e 2º segmentos).

competências dos alunos direcionadas a uma Esse programa vem possibilitando, ainda,

leitura contextualizada e à interpretação do uma preparação mais adequada e atualizada dos


mundo, tendo como transversalidade a preser-


professores, bem como um melhor acompanha-


vação dos patrimônios ambiental e turístico, mento das atividades escolares, estimulando-os

aspectos considerados relevantes na região. a mudar suas antigas concepções do processo



Assim, fundamentada nos Parâmetros Cur- ensino-aprendizagem, substituindo-as por uma


riculares Nacionais (PCN), buscando desenvol-


nova visão de suas práticas educativas, por meio


ver a competência leitora e escritora de seu cor- da construção dos conhecimentos elaborada

po docente, a Secretaria Municipal de Educa- pelos próprios alunos, na qual novas competên-

ção criou o Projeto Flai – Feira de Livros e Artes cias e habilidades são exigidas pelo mundo atu-

de Itatiaia –, composta por trabalhos de profes-


al, para o pleno desenvolvimento dos educandos.


sores e alunos, apresentados na Semana de Edu- Com a implementação de tal competência, pro-

cação e Cultura de Itatiaia (Seci). curou-se atingir vários objetivos, considerados de



O pleno desenvolvimento da competência singular importância, entre os quais destacamos:


leitora e escritora dos docentes é um desafio • estimular as pesquisas de textos e fontes de



para os formadores, devendo, portanto, ser consultas variadas, tais como jornais, livros,

priorizado. Foi com essa perspectiva que nós, documentos, relatos impressos e outros, pro-

curando contextualizar, de maneira efetiva,


da Secretaria Municipal de Educação de Itatiaia,


direcionamos o foco da formação continuada, todas as áreas do conhecimento com situações



objetivando a atualização profissional de nos- vivenciadas pelos alunos em seu cotidiano;



sos professores e os possíveis reflexos dessas • promover a interdisciplinaridade entre as mais


diversas áreas do conhecimento do 1º e 2º seg-


ações nas salas de aula e no dia-a-dia de nossos


alunos e da comunidade local. mentos do Ensino Fundamental;



Tais ações encontraram justificativas na ne- • introduzir, em todos os ciclos e níveis do En-

cessidade de preparar a clientela educativa do sino Fundamental, a transversalidade do eixo



município para a perfeita adequação às carac- temático de “preservação dos patrimônios


terísticas do mundo pós-moderno, pelo desen- ambiental e turístico da região”, considerados



volvimento de suas capacidades leitoras, as principais vocações do município;



interpretativas e escritoras, atividades funda- • estreitar as relações entre as escolas munici-



mentais nesse mundo globalizado e apoiado na pais e as comunidades locais, por intermé-

mídia, em todas as áreas do conhecimento. dio da participação efetiva dos professores e



Simultaneamente, tais medidas encontra- alunos nos problemas encontrados nas reali-

ram embasamento no Programa Parâmetros dades destes últimos.


18
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora

Assim, após a preparação dos formadores estratégias de leitura;



dos Parâmetros Curriculares Nacionais em


• freqüentes visitas dos envolvidos à biblioteca


Ação, ficou evidenciado que, para garantir a efe- pública do município;



tiva implementação dos PCN, a primeira medi-
• valorização da produção de conhecimentos


da a ser desenvolvida seria a formação da com-


pela comunidade local, com citações de len-


petência leitora e escritora dos professores da


das, relatos, poemas, histórias etc.;


rede municipal de ensino.


• elevação da auto-estima dos professores e dos 18
Nos primeiros encontros de formação, veri-


alunos mais envolvidos com a comunidade


ficamos que, entre os profissionais que atuam


local, ao pesquisarem suas origens;


nos diferentes ciclos e níveis do Ensino Funda-


• implementação da temática “Turismo” nas


mental, uma parcela significativa de professores


escolas, objetivando atender a essa importante
já possuía tal competência desenvolvida, eviden-


vocação regional e local;


ciada nas avaliações dos trabalhos propostos.


• desenvolvimento de contextualizações em


A heterogeneidade dos grupos de professo-


todas as áreas do conhecimento, com os pro-


res levou-nos a implementar o desenvolvimen-


to da competência leitora e escritora por meio fessores inter-relacionando seus assuntos com


o dia-a-dia da comunidade local.

de um projeto que possibilitasse o envolvimen-

to de toda a nossa clientela de docentes, inde- O resultado desse projeto, a edição de um


livro sobre o município de Itatiaia, abordará


pendentemente de suas experiências anteriores


e de suas áreas de conhecimento. aspectos históricos, geográficos, culturais, po-



O projeto da elaboração de um livro de re- líticos, ambientais e turísticos, com ilustrações



ferências sobre o Município de Itatiaia foi o elaboradas pelos alunos, além de relatos, poe-

ponto culminante de idéias compartilhadas mas e outros trabalhos da comunidade local.



entre os formadores e os professores, fruto de A manutenção da valorização da competência



várias reflexões e debates, aliado à necessidade leitora e escritora é feita por meio de “oficinas para

de uma fonte de consultas que atendesse às professores”, oferecidas pela Secretaria de Educa-

expectativas dos professores, alunos, comuni- ção por uma especialista na Biblioteca Pública de

dade e turistas. Outro fator decisivo foi a Itatiaia. Da mesma forma, é oferecida a “hora do

inexistência desse material sobre o município, conto” aos alunos da rede municipal de ensino.

em virtude de sua recente emancipação. A efetivação desse projeto de valorização da


Considerando-se a abrangência do projeto, competência leitora e escritora aponta para



novos encontros entre formadores e professo- novas perspectivas na educação do município.



res foram agendados, com o objetivo de apro- Verificamos que os reflexos de tal compe-

fundar os estudos. As estratégias de leitura – tência interferiram na visão de nosso professor


decodificação, seleção, antecipação, inferência quanto ao planejamento das aulas, quanto à sua

e checagem – foram amplamente vivenciadas auto-avaliação e também quanto à avaliação



por todos os participantes. dos conhecimentos de seus alunos. Um novo


mundo abriu-se à sua frente. Novas estratégias


Os professores que atuam no 3º e 4º ciclos


do Ensino Fundamental, nas áreas do conheci- foram utilizadas na sala de aula, e seus relatos

mento de História, Geografia, Línguas, Matemá- demonstram uma compreensão mais clara de

tica, Ciências, Educação Física, Educação Artís- seu papel como educador.

A participação em uma produção coletiva (li-


tica e Informática, juntamente com os profes-


sores do 1º e 2º ciclos, foram organizados em vro) vem estimulando os professores a desenvol-



grupos de leitores, após pesquisa e seleção dos ver uma nova concepção de sua prática, o que

materiais pertinentes. certamente promoverá uma nova cultura na edu-


cação do município mais voltada para a produ-


Algumas transformações ficaram evidentes


a partir desse projeto, entre as quais destacamos: ção do que para a reprodução e centrada nos in-

• o envolvimento dos alunos, por meio da teresses e nas necessidades da comunidade, por

sensibilização dos professores, utilizando as intermédio dos envolvidos: professores e alunos.



Constituição de uma




metodologia de formação:




caminhos possíveis






Beatriz Cardoso e Regina Scarpa *


Cedac






Apresentação pedagógica como algo sobre o qual se pode pen-



sar com certo distanciamento e com fundamen-


A presente investigação analisou uma expe-


tação. Complementar, porque no contexto des-


riência de formação continuada de professores, se diálogo ambos os aspectos interagem, coo-


no contexto do Programa Escola Que Vale peram reciprocamente e completam-se. Indis-

(PEQV ). O programa consiste em uma série de


sociável, porque na análise da prática pedagó-


ações formativas, articuladas para colaborar de


gica não é possível separar os fenômenos que


forma sistemática com a melhoria da qualida- se apresentam das teorias implícitas que os ori-

de de ensino e da aprendizagem em 30 escolas entam. Em decorrência disso, assume-se a idéia


que atendem a crianças de redes públicas de


de que o professor pode desenvolver sua com-


Ensino Fundamental (no Brasil, o equivalente


petência profissional no próprio processo de


ao segmento de escolaridade que vai dos 7 aos construção e reconstrução de sua prática refle-

14 anos). O programa trabalha com 239 profes- xiva e de que a supervisão do trabalho do pro-

sores, 114 diretores e 116 supervisores, contem-


fessor e a tematização de situações práticas são


plando aproximadamente 8 mil alunos.


estratégias essenciais para a formação, visto que


permitem e favorecem o exercício da interde-



Interdependência pendência.

A terceira perspectiva, que será adotada no


entre teoria e prática

presente trabalho, é uma alternativa fortemen-


Pode-se caracterizar as formas de realizar e te influenciada pelas idéias de Donald Schön,



de investigar a formação de professores em pelo que se dedicou à análise do desenvolvimento



menos três perspectivas. Uma delas defende a da competência profissional e à relação existen-

formação em termos do ensino da prática pela te entre a capacidade de um profissional tor-


prática, isto é, da prática de maneira indepen- nar-se apto para enfrentar situações novas, to-

dente da teoria. A outra tendência caracteriza- mando decisões apropriadas, além da oportu-

se pela subordinação da prática à teoria, ou seja, nidade de exercitar a reflexão sobre situações

valoriza a dependência da prática ao conheci- práticas reais. A partir das proposições de



mento dos especialistas. A terceira perspectiva Schön, diversos autores têm aprofundado a

apresenta uma visão de interdependência en- questão da epistemologia da prática na forma-



tre teoria e prática aplicada à formação de pro- ção de professores (Shulman, Elbaz, Clarck,

fessores, como uma relação irredutível, comple- Alarcão, Perrenoud, Meirieu, Yinger etc.).

mentar e indissociável. Com apoio nos estudos anteriormente men-



Irredutível, porque uma não se subordina à cionados, se considerarmos como premissa que

outra, e refletir sobre a prática no aqui e agora a aprendizagem proveniente da prática é


da sala de aula é diferente de tomar a prática estruturadora do saber do professor e tem de






* Beatriz Cardoso: coordenadora de projetos do Cedac (Centro de Educação e Documentação para a Ação Comunitária) e professora-

doutora pela Faculdade de Educação da USP. Regina Scarpa: coordenadora do Programa Escola Que Vale no Centro de Educação e

Documentação para a Ação Comunitária (Cedac) e mestre pela Faculdade de Educação da USP.

20
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora

ser valorizada no processo formativo, resta o para que as aprendizagens se institucionalizem



desafio de investigar como esse elemento deve de fato.



ser considerado nos programas de formação O maior desafio do PEQV é construir um



continuada de professores. modelo de projeto que ofereça de forma coo-


Essa preocupação norteou simultanea- perativa melhores condições de atuação, refle-



mente a concepção e a definição do conjunto xão e transformação do trabalho educacional,



de estratégias formativas do programa, bem permitindo a apropriação do processo por par-


como suas linhas de investigação. No caso des- te de todos os implicados (professores, direto- 20



se artigo, o foco estará nas seguintes questões: res e supervisores). Ou seja, o programa tem



• Como desenvolver uma metodologia de for- por objetivo criar uma metodologia 2 que fa-


mação continuada de professores que consi-


voreça o desenvolvimento de competências


dere a prática como elemento formativo e profissionais, mas que, acima de tudo, promo-



que seja capaz de interferir positivamente na va o desenvolvimento da autonomia e a neces-


aprendizagem dos alunos?


sidade da reflexão permanente sobre as práti-


• Como realizar uma formação sob tal perspec-


cas institucionais vigentes e sobre a qualidade


tiva, levando em conta a dimensão continen- das situações pedagógicas que estão sendo



tal do nosso país? oferecidas aos alunos, em contraposição ao

Para tanto, descreveremos o campo empí- modelo calcado na mera transmissão de co-

rico, ou seja, a estrutura e as características do nhecimentos.


As ações desencadeadas pela equipe do


programa para, em seguida, problematizar as


questões enunciadas. programa estão fundamentadas na idéia de



que a formação do professor se dá dentro da


unidade escolar como um todo e não apenas


O contexto empírico:

na sala de aula. Para que haja ensino de quali-


Programa Escola Que Vale


dade, é preciso então que se cuide da gestão



do espaço, dos materiais e do tempo, da infra-


(PEQV)

estrutura (melhoria dos ambientes), das rela-



O PEQV foi concebido em 1999, ano em que ções institucionais e, obviamente, do proces-

se estabeleceram as parcerias de trabalho com so de ensino e de aprendizagem dos alunos.



as Secretarias de Educação e com os profissio- O programa procura abranger três dimen-


nais das redes públicas de ensino de seis mu- sões fundamentais no trabalho educativo que

nicípios selecionados para a implementação ressaltam sua natureza social:



da proposta piloto. Atualmente, o programa A ação pedagógica: que tem a ver com as fun-

atua em oito municípios. 1 O projeto deve ser ções que o professor desempenha dentro de

desenvolvido em dois anos de trabalhos inten- sua sala com o seu grupo de crianças, orien-

sos em cada município, contando com mais tadas para conseguir a máxima produtivida-

de na relação ensino e aprendizagem.


um ano de manutenção. O PEQV tem uma in-



tencionalidade clara no sentido de promover A dimensão coletiva e institucional: que re-


a autonomia dos profissionais envolvidos, uma leva a importância de uma boa infra-estru-

vez que uma intervenção externa ao sistema tura e de uma equipe de trabalho que asse-

escolar costuma ser provisória e ter um tempo gure o intercâmbio de idéias e espaços de pla-

de duração definido. Por essa razão, há uma nejamento conjunto. Dentro dessa perspec-

preocupação explícita em criar mecanismos tiva, o PEQV desenvolve concomitantemente






1
Os municípios atendidos atualmente são Marabá, Parauapebas, Barcarena e Canaã (Pará), São Luís e Açailândia (Maranhão), João Neiva

(Espírito Santo) e Catas Altas (Minas Gerais). Essa seleção foi feita depois de visitas aos municípios que pertencem à área de atuação da

Companhia Vale do Rio Doce, e depois de entrevistas com seus secretários de educação e de pesquisa sobre a realidade escolar dessas regiões.

2
Emprega-se aqui o termo “metodologia” no sentido de implementar uma prática e analisar as possibilidades das estratégias utilizadas. Não

se trata de formalizar uma proposta fechada, mas de sistematizar o aprendizado alcançado para orientar novas experiências formativas.

diversas ações articuladas: trabalho sistemá- ca pedagógica são os principais desafios a se-



tico com diretores e supervisores; criação da rem transpostos.



Casa do Professor, de um site e de um supor- É meta do programa possibilitar o traba-


te para a melhoria da infra-estrutura nas es-


lho dos professores com questões sociais sig-


colas de cada município. nificativas para alunos e para a comunidade,



O desenvolvimento pessoal e profissional: as utilizando a leitura, a escrita e a comunicação



dimensões profissional e pessoal são oral como instrumentos para a formação da


indissociáveis. A consideração desse aspecto cidadania. Para isso, destaca-se a possibilida-



deu-se na criação de estratégias que visam de de uso de recursos tecnológicos, tais como:


promover: a ampliação do universo cultural


computador, máquina fotográfica, gravador,


(oficinas de Artes e de Língua Portuguesa), os


filmadora, considerados importantes no pro-


processos de autoformação, a reconsideração
cesso de aprendizagem e formação do aluno,


de valores e da própria imagem como pro-


e que o próprio programa torna disponíveis.


fessor, de forma que este encontre sentidos

O contexto da formação de professores cri-

particulares em seus processos de constru- ○
ado pelo programa consiste no trabalho com
ção de conhecimento.

projetos didáticos de leitura e escrita e na su-


Dessa forma, o programa atua em diferen-


pervisão permanente do desenvolvimento pe-


tes frentes, concomitantemente, e luta contra


los professores.

a idéia de que os problemas da educação se



restringem apenas à formação dos professores.


Projetos de leitura e escrita:

Neste texto, entretanto, faremos um recorte e


convite para uma aventura pedagógica


discutiremos especificamente a questão da



formação continuada de professores. Ao iniciar o trabalho, os professores rece-


bem um cardápio, com diversos projetos didá-



ticos de leitura e escrita, e escolhem um deles


A constituição de uma

para realizar em classe. “Pequena enciclopé-


metodologia de formação

dia”, “As pessoas e as paisagens do lugar onde


vivo”, “Receitas da minha terra”, “Quem canta


continuada de professores:

seus males espanta” são alguns dos projetos


caminhos possíveis

apresentados. Todos obedecem a uma estru-



tura básica, com sugestões didáticas que se-


Anteriormente, enunciamos alguns dos

rão detalhadas e transformadas em seqüências


princípios e fundamentos que norteiam esta


de atividades específicas junto com cada gru-


análise de uma experiência de formação de


po de professores. O desenvolvimento do pro-


professores. Para aprofundar a discussão, além


jeto é detalhado à medida que o professor rea-

de indicar as grandes linhas de atuação do pro-


liza as atividades com seus alunos. 3


grama, é necessário apresentar alguns dados


A idéia de trabalhar com um cardápio de


que contextualizem o recorte em questão. A


projetos se baseia na premissa de que não é


seguir, faremos uma breve descrição das ações

possível desenvolver um material único que se


diretamente ligadas à formação de professo-


adapte a qualquer contexto. A solução encon-


res para, depois, podermos problematizar essa


trada diz respeito à diversidade presente em


mesma atuação.

cada região e em cada sala de aula e, ao mes-


mo tempo, oferece atividades fundamentais


A criação do contexto formativo


para que o processo de aprendizagem da lín-



Ampliar os horizontes dos professores a fim gua possa ocorrer de fato. Com esse trabalho,

de facilitar o acesso à informação e criar um os professores aprofundam diversos conteúdos


espaço de reflexão permanente sobre a práti- de leitura e escrita com seus alunos, que, por




3
Na estrutura proposta, os professores envolvidos no programa realizam, juntamente com seus alunos, quatro projetos no período de dois anos.

22
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora

sua vez, aprendem de forma contextualizada, pal que são selecionadas para assumir essa



sabendo o quê, para quê e para quem estão função).



escrevendo. O programa optou por eleger o conteúdo



Uma das vantagens dos projetos é que seu de Língua Portuguesa como eixo norteador da


desenvolvimento se dá em torno da execução formação de professores por ser esse conhe-



de uma meta clara, como, por exemplo, a con- cimento fundamental e instrumento essencial



fecção de um livro, de um CD, de um vídeo para a aprendizagem de qualquer outro cam-


etc. As situações didáticas oferecidas criam po de conhecimento. 4 Por meio da implemen- 22



condições de sentido para o aluno. A apren- tação de projetos, pretende-se criar para o



dizagem se consolida para ele, despertando o professor um contexto paralelo de desenvol-



seu interesse em permanecer na escola. Mui- vimento. 5


tas vezes, embrenhada em sua tarefa, a esco- Nesse contexto ele poderá, entre muitas



la se volta para a preparação futura do aluno outras coisas, construir conhecimentos peda-



e deixa em segundo plano o estabelecimento gógicos, desenvolver um novo olhar sobre as



de sentido a cada passo do processo de apren- relações entre professor e aluno e reformular


dizagem. o que entende a respeito dos processos de en-



Além disso, os projetos se caracterizam sino e de aprendizagem. O programa pressu-

por uma tarefa coletiva composta de diversas põe que, à medida que se apropria desses no-

subtarefas. Para sua execução, é preciso: pla- vos saberes, o professor certamente passará

nejar; prever; dividir responsabilidades; ad- a utilizá-los em outros momentos de seu tra-

quirir conhecimentos específicos relativos ao balho cotidiano em sala de aula.



tema em questão; desenvolver capacidades e O conteúdo a ser ministrado em qualquer


procedimentos determinados; usar recursos programa de formação de professores deve



tecnológicos; aprender a trabalhar em grupo, nascer necessariamente da concepção didá-



agindo de acordo com normas, valores e ati- tica e do projeto educativo que se têm para o

tudes esperados; organizar o tempo; dividir e aluno. São os objetivos gerais em relação à

redimensionar as tarefas; e avaliar os resulta- aprendizagem dos alunos que devem nortear

dos em função do plano inicial. A caracterís- o trabalho com os professores, a fim de lhes

tica de partilha do planejamento, inerente ao favorecer a apropriação do saber e do saber-



desenvolvimento do projeto, favorece o ne- fazer necessários para tanto. Por essa razão,

cessário compromisso do sujeito que apren- torna-se fundamental a explicitação da con-



de com sua própria aprendizagem, pois ela é cepção do ensino da Língua Portuguesa como

muito mais produtiva quando o grupo que objeto do conhecimento claramente assumi-

realiza tal projeto conta com a participação do para o aluno, bem como a expectativa de-

de cada um para alcançar a meta comum. corrente em termos de sua aprendizagem, o



Os professores participantes são supervi- que faremos a seguir.



sionados em seus trabalhos por coordenado- O PEQV entende que um sujeito prepara-

ras regionais (especialistas na área da educa- do para atuar na transformação da realidade


ção – Cedac) que fazem visitas mensais aos em que está inserido é alguém capaz de utili-

municípios e também utilizam estratégias de zar as ferramentas e os conhecimentos de que



acompanhamento a distância. Além disso, dispomos hoje. Não basta apenas saber ler e

contam com o apoio operacional de coorde- escrever, é necessário também ser capaz de

nadoras locais (professoras da rede munici- interagir com a língua escrita de forma plena.





4
Essa estratégia também tem a intenção de colaborar na implementação das idéias referendadas nos PCN (Parâmetros Curriculares Na-

cionais), que estabelecem uma referência sobre o que e como se deve ensinar em cada área do conhecimento.


5
Embora esse espaço esteja sendo criado dentro do período escolar existente, a experiência é realizada no horário destinado na grade curricular

às aulas de Língua Portuguesa. Como já dissemos, os conteúdos trabalhados nos projetos atendem às expectativas estabelecidas pelos PCN.

É preciso dominar os recursos tecnológicos histórias para crianças menores etc. Para pro-



que a cada dia estão mais presentes no cotidi- piciar aos alunos o domínio no campo da lin-



ano do cidadão, além de desenvolver uma sé- guagem, é preciso fazer que essa língua, a que



rie de valores e atitudes condizentes com uma usamos de fato, “invada” a escola por meio de


prática da cidadania. situações contextualizadas de leitura e escri-



Junto com os profissionais com quem ta, como uma grande campanha em prol do



atua, o PEQV procura ressignificar o sentido saber ler, escrever, ouvir e falar com compe-


da escola em nossa sociedade, por meio de es- tência.



tratégias que integrem, de modo dinâmico, a A realização dos projetos, como está pro-



cultura local e a universal. A escola deve ser posta no âmbito do PEQV, além de criar um



tratada como lugar privilegiado de inserção contexto em que o aluno experimenta de ma-


dos alunos no universo do conhecimento. neira significativa as possibilidades de leitu-



O programa atua em regiões desfavoreci- ra e escrita, favorece a concretização de as-



das do país, onde a falta de acesso ao mundo pectos centrais, anteriormente enunciados,


letrado é sem dúvida um fator de exclusão de ○
relativos à consideração de uma epistemolo-
g ra n d e p a r t e d a p o p u l a ç ã o. Ou t r o d a d o gia da prática. Com a fundamentação em pro-

determinante para a definição do trabalho postas desse tipo é possível criar um contex-

nessa área é que este, quando bem-conduzi- to formativo, em que se mobilizem as com-

do, promove o desenvolvimento de uma sé- petências do professor. A realização de proje-


rie de capacidades cognitivas fundamentais tos sugere problemas concretos, e o formador



para a formação do cidadão. Ler, escrever, ou- atua em função das questões que emergem

vir e falar são as principais habilidades lin- desse processo de implementação.


güísticas que permeiam todas as atividades O importante, para os professores, é com-



escolares ou extra-escolares, sejam elas de preender o que eles têm de ensinar e por que

produção ou de compreensão da Língua Por- ensinar. Se é isso que faz sentido para os pro-

tuguesa. Pode-se dizer que as atividades fessores, torna-se necessário, então, concili-

discursivas expressas em textos orais ou es- ar duas classes de propósitos: a dos que ensi-

critos são imprescindíveis no ambiente esco- nam e a dos que aprendem. As situações pro-

lar, pois todas as ações realizadas individual- fissionais são complexas e os conhecimentos

mente ou em grupo envolvem essas quatro não têm uma aplicação linear. O professor

competências. No entanto, apesar da impor- tem de agir em situação, por isso precisa ad-

tância da linguagem em nosso cotidiano, na quirir conhecimento disciplinar. Entretanto,



maioria das vezes ela aparece na escola essa é apenas uma parte do seu conhecimen-

desvinculada dos propósitos que lhe dão sen- to profissional. É necessário também que ele

tido no uso social. se capacite para compreender o que está por



É muito comum, na escola, que o aluno te- trás daquela situação didática. A construção

nha acesso somente ao livro didático e que as do conhecimento profissional implica, assim,

atividades de Língua Portuguesa acabem sen- a construção de um contexto que ofereça aos

do restritas e não apresentem vínculo com si- professores, simultaneamente, o acesso aos

tuações reais de uso nem promovam o conhe- conhecimentos disciplinares, à didática e ao



cimento de outros registros. processo de aprendizagem do aluno. Para isso,



Tornar os alunos experientes no uso da é imprescindível que levemos em conta o que


língua implica necessariamente colocá-los em pensam os professores, quais são suas “teo-

diversas situações reais de produção de lei- rias”, como realizam seu trabalho em sala de

tura e de produção de texto, como, por exem- aula e as conseqüências desse fazer na apren-

plo, preparar um discurso, fazer uma apresen- dizagem dos alunos (o que sabem, o que des-

tação para um programa de televisão, escre- conhecem e o que precisam aprender).



ver um livro de histórias, contar para os cole- Os resultados alcançados no PEQV validam

gas uma história que tenha lido ou ouvido, ler a utilização do cardápio de projetos como um

24
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora

elemento importante na criação de um con- buscam, a partir da reflexão sobre a ação, iden-



texto formativo com essas intencionalidades. tificar problemas, conhecer os processos de



aprendizagem dos alunos, pensar sobre suas



A supervisão: “uma ampliação da visão” interferências e, portanto, adequar cada vez


mais o diálogo entre o ensino e a aprendiza-


A supervisão do trabalho pedagógico carac-


gem.


teriza-se como espaços presenciais 6 e a distân-


O PEQV atua baseado na prática e na


cia, para que professores e coordenadores (re- 24
teorização da prática, com o intuito de ajudar


gionais e locais) reflitam sobre o que foi pro-


os profissionais envolvidos a aprender a “fa-


posto aos alunos e planejem as próximas eta-


zer”, a compreender esse “fazer”, adequando-


pas do projeto.


o e transformando-o de acordo com uma situ-
Essa supervisão constitui um dos grandes


ação concreta. Portanto, a estratégia de apre-


diferenciais que o PEQV oferece. Esse traba-


sentação de um cardápio com propostas de di-


lho é realizado por um profissional com mais


ferentes projetos a serem realizados ganha


experiência, que atualmente é formador, mas


outra força, na medida em que se oferece uma
já foi professor e, portanto, tem experiência


condição material e conceitual para o seu de-


de sala de aula. Seu encontro sistemático com

senvolvimento.
o professor, o diretor e o supervisor possibili- ○

As principais estratégias formativas utiliza-


ta que os problemas advindos da prática em


das nos momentos de supervisão são:


sala de aula sejam nomeados, interpretados

e transformados. Nessa interlocução, o pro- A observação de sala de aula e o registro em



fessor é ajudado, tanto do ponto de vista da vídeo da atuação do professor



implementação de uma prática, quanto da


compreensão da teoria que a sustenta. A con- Por sua própria especificidade, a observa-

figuração de um espaço de troca e aprendiza- ção em sala de aula é a estratégia que mais da-

gem dessa natureza é muito comum em di- dos nos fornece para a reflexão com os profes-

versas profissões e em muitas escolas que ofe- sores em processo de formação, pois nela não

recem um ensino de qualidade. Para quase se verifica o desenvolvimento do trabalho ex-



todos os profissionais, seu desenvolvimento clusivamente no plano do discurso falado ou



conta com a possibilidade de diálogo entre escrito, mas essencialmente no plano em que

pares, pois estimula a troca de saberes. O fato ocorrem interações, atitudes, valores, objeti-

de configurar uma arquitetura de funciona- vos e intervenções, tendo, por isso, um papel

mento do programa apoiada na idéia de que fundamental no processo de transformação


das práticas.

a possibilidade de troca, a reflexão comparti-


lhada e o acesso à informação devam ser pi- Os encontros de tematização de situações



lares do processo tem feito que as respostas e práticas, que foram diretamente observadas

o nível de compreensão dos professores en- pelo formador ou gravadas em vídeo, têm por

objetivo criar nos professores a disposição para


volvidos nessa experiência sejam surpreen-


dentemente rápidos. refletir criticamente sobre as próprias atua-



Isso representa um enorme avanço, porque ções, buscando as próprias soluções nas ques-

permite superar a situação habitual de solidão tões que essas práticas apresentam. Essa es-

tratégia ajuda os professores a identificar pro-


em que se encontram os professores, e cria


uma interlocução que é o motor do crescimen- blemas e a pensar estratégias de resolução des-

to profissional. Aos poucos, os professores vão tes, a investigar, a ver sob outras perspectivas,

se dando conta de inúmeros aspectos da prá- a problematizá-las, a levantar hipóteses, a


identificar e a nomear as dificuldades para


tica pedagógica que não eram observáveis, e






6
Os encontros presenciais consistem em reuniões organizadas entre professores e coordenadores, que somam um total de sete horas de

trabalho por mês.



buscar alternativas de ação, a elaborar propos- • Na supervisão, a análise feita a partir da ob-



tas de intervenção didática, a refletir e a dis- servação da aula é guiada por uma consigna



cutir a adequação das mesmas. clara, geralmente questões problematizadoras


relacionadas com o propósito da observação,


No primeiro ano do programa, foram mais


freqüentes as situações de observação de au- recortada por comentários dos professores do


grupo sobre situações ou passagens (simila-


las de outros professores realizadas em outros


res ou não) ocorridas em suas salas de aula.


contextos (vídeos de acervos particulares ou


direcionados à formação de professores), a fim • Cada professor tem de se remeter à própria



de garantir o distanciamento necessário para aula para ampliar os aspectos observados.


Dessa forma, portanto, saímos de uma situa-


a análise de questões específicas sobre o ensi-


ção isolada (a aula do professor X) e vamos


no e/ou a aprendizagem e a progressiva cons-


para outros contextos (as vivências de cada
trução de uma atitude profissional de reflexão,


professor participante da supervisão). Isso re-


compartilhada com a prática. No segundo ano


sulta na criação de uma situação-problema:

de trabalho, quando o vínculo de confiança en-


se a atividade é a mesma, o que faz que os
tre professores e formadores estava estabele-
resultados observados tenham características

cido, a observação de aulas realizadas pelos


tão diferentes?

próprios professores ganhou maior espaço,


O fato de se criar essa situação de observa-


dada a importância dessa real proximidade


ção, mesmo que cercada por todos esses cui-


com a prática pedagógica em todo e qualquer


dados, não garante a apropriação imediata da


programa de formação.

idéia de reflexão sobre a ação, como meio para


As pautas de todas as supervisões desse


a auto-observação e auto-avaliação dos profes-


tipo são planejadas de forma que favoreçam


sores em supervisão. Esse é um movimento


a análise de contextos muito familiares para

gradativo, que depende de atitudes a serem


todos os professores (a atividade discutida é

construídas e que estão relacionadas com o


realizada por todos os professores do grupo


aprendizado de ouvir outras opiniões, consi-


de supervisão), com a atenção voltada para


derar outras alternativas, admitir possibilida-


não transformar a observação das aulas gra-

des de erros, reconhecer as conseqüências de


vadas numa situação de avaliação externa de

suas diferentes atuações sobre o desempenho


“erros” e “acertos”. Para tanto, tomam-se al-


dos alunos.

guns cuidados:

• Elabora-se coletivamente o planejamento da O desafio que essa prática coloca para o



atividade que será gravada (o formador se co- formador é o de identificar e isolar determi-

nado aspecto que seja relevante diante das


responsabiliza pela realização da atividade,


fornecendo ajuda “antes”). competências do grupo, da etapa do projeto,



do que se quer destacar das aprendizagens


• Realiza-se um encontro com o professor da

dos alunos. Dessa seleção, surge a necessida-


classe, antes da gravação, com a finalidade de


de de se pensar as melhores estratégias de


planejar, antecipar possíveis problemas e dis-


cutir os aspectos que estarão sendo focaliza- tematização dos conteúdos envolvidos para a

dos na supervisão com todo o grupo. supervisão: esclarecimentos sobre os propó-


sitos da observação, questões que nortearão


• Após as gravações, realiza-se, junto com o


a discussão, pausas para comentários sobre a


professor, uma análise da aula, selecionam-


se trechos dos vídeos e elaboram-se as estra- aula, necessidade de aprofundamento teóri-



tégias para sua apresentação (esclarecimen- co etc. A supervisão potencializa, assim, dis-

cussões significativas sobre determinados as-


tos sobre os propósitos da observação, con-


signas7 que guiarão a observação feita pelos pectos da situação de ensino ou da situação

professores, comentários sobre a aula etc.). de aprendizagem.







7
Consigna é a instrução dada para a realização de determinada tarefa.

26
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora

Após a análise de resultados que represen- referencial para resolver outros problemas pro-



tam diferentes níveis de reflexão, podemos fissionais.



avaliar que as situações que trazem mais de- No trabalho com bons modelos de situa-



safios aos professores e que estão no âmbito ções didáticas, os conteúdos apresentam-se


das supervisões são aquelas que demandam a de forma contextualizada, isto é, procura-se



utilização de competências relacionadas, em lidar com situações que dêem sentido aos co-



menor ou maior grau: nhecimentos que devem ser ensinados, seja


• à organização do discurso sobre a própria na atuação do formador com o grupo de pro- 26



prática; fessores, seja no modelo de atividades presen-



• a um nível de reflexão que passa pela inter- tes nos vídeos que são analisados. Em função



pretação de episódios da própria prática; disso, as situações de descontextualização


desses conhecimentos são fundamentais, pois


• a um nível de reflexão que leva à reconstru-


enquanto os professores participam das situ-


ção e à alteração da prática.


ações propostas não sabem que esses mesmos



Modelos de boas situações didáticas conhecimentos poderão ser utilizados em


outras ocasiões. Assim, a criação de uma si-



A criação de contextos de aprendizagem tuação-problema para que os professores co-

que sejam similares aos que os professores irão ○

loquem em jogo o que aprenderam e plane-


realizar com os alunos é uma estratégia impor-

jem atividades futuras é um momento que


tante para se trabalhar com situações que pro- deve ser garantido na formação, para que os

duzam boas aprendizagens para as crianças e professores, com a ajuda do formador, pos-

a partir das quais se possam compreender seus


sam reconhecer o saber que produziram como


fundamentos. algo que pode ser transferido para outras si-



Não são atividades idênticas às que os tuações.



professores vão realizar com os alunos, mas Temos observado que, quando um conhe-

atividades que contenham os mesmos prin-


cimento é contextualizado e o professor não


cípios didáticos e, por isso, possam servir de recebe ajuda para construir um projeto de

parâmetro. O objetivo dessa situação é dis- descontextualização – ou seja, um projeto no


cutir o “por quê” e o “para quê” de cada pro-


qual ele se questione a respeito do possível uso


posta e o que queremos que os alunos apren-


desse conhecimento em outra situação –, esse


dam com ela. conhecimento pode ficar circunscrito ao con-



Donald Schön tem uma posição clara a texto específico no qual foi inicialmente traba-

respeito da imitação, que por muitos anos


lhado. Assim, o formador ajuda os professores


teve má reputação na esfera educacional. Para


no planejamento de futuras ações, a partir do


ele, muitas das aprendizagens de novas com- que aprenderam, e faz o acompanhamento des-

petências passam pela imitação, que não é sas aprendizagens: os conteúdos tratados são

uma simples repetição ou cópia fiel do mo-


rediscutidos e reavaliados nos próximos encon-


delo; trata-se de um processo ativo, por meio


tros de supervisão (por meio de filmagens, re-


do qual os professores precisam interpretar o gistros da prática e produções das crianças),



que há de essencial na atividade, de modo que após terem sido colocados em prática. Com

ela possa ser interiorizada de forma própria e


isso, criam-se as condições para que os profes-


compreensiva.

sores façam aproximações sucessivas com os


A teoria tem um papel insubstituível nesse conteúdos em questão num nível de complexi-

processo, pois, para que se aprenda com a ex- dade crescente.


periência, é preciso conceitualizá-la, o quer di-



zer teorizar, sistematizar e validar o que se Experiência e análise



aprendeu com a reflexão sobre a experiência, de situações homológicas



estabelecendo relações entre os conceitos,


No caso de situações homológicas, explo-

para que a teorização da prática sirva como


ra-se na situação formativa o paralelismo com



a situação da prática profissional, e isso equi- o objetivo de assegurar a continuidade do



vale a dizer que a didática utilizada pelo for- acompanhamento do trabalho pedagógico dos



mador procura ser coerente com os mesmos professores. Nessa comunicação a distância, a



conceitos e princípios assumidos para o tra- coordenadora local de cada município tem um


balho do professor com as crianças. importante papel, pois é ela quem viabilizará



Sendo assim, nessa modalidade, os pró- a realização das ações combinadas e o envio



prios contextos formativos e a relação entre de materiais para a coordenadora regional, tais


formador e professor são tomados como si- como:



tuações exemplificativas de modelos didáti- • as fitas de vídeo com filmagens de situações



cos, atitudes e modos de organização que se de sala de aula, acompanhadas de registros


escritos pelas professoras e das produções das


pretende que venham a ser desempenhados


na prática pedagógica com as crianças, de crianças da sala;



modo que os mesmos sejam continuamente • seus próprios relatórios das reuniões de su-



analisados com olhares de proximidade e pervisão semanais realizadas com os profes-

distanciamento, alternando entre o vivido e ○

sores;
a reflexão sobre o vivido, entre o observado

• os relatórios de observações em sala de aula


e a reflexão sobre o observado. Dessa forma, elaborados pelas supervisoras que acompa-

o professor compreende, por meio do olhar nham o trabalho.



do formador, o que acontece e quais são as A leitura e a análise de todo esse material

formas e os fundamentos daquilo que ele


são realizadas pela coordenadora regional vi-


propõe.

sando à escrita de retorno, que fará, via e-mail


para a coordenadora local, e ao planejamento


Estratégias de formação a distância


das próximas reuniões de supervisão presen-



Como já foi dito, um dos principais desa- ciais, uma vez que, com a análise das necessi-

fios do programa foi a criação de estratégias


dades formativas dos professores e das dificul-


de formação a distância, dadas a localização dades com que deparam para o desenvolvi-

de cada município participante e a necessida- mento dos projetos, ela pode antecipar ques-

de de acompanhar o desenvolvimento dos pro-


tões que precisarão ser tratadas, selecionar


jetos e o percurso dos professores em forma-


textos para fundamentação teórica a partir das


ção. Para isso, o programa viabilizou em cada reais necessidades dos professores e planejar

município a criação da Casa do Professor, 8 um estratégias mais adequadas para as próximas


espaço dedicado à convivência, à formação e


supervisões presenciais.

ao desenvolvimento pessoal e profissional de



todos os professores. A Casa do Professor re-


Reflexões decorrentes

presenta, em cada município, um lugar para


encontros culturais, reuniões pedagógicas, ses- dessa prática



sões coletivas de vídeo com debate, oficinas de A experiência anteriormente descrita per-

arte, centro de documentação, consultas à bi- mite problematizar as questões enunciadas no



blioteca, acesso a recursos tecnológicos e à início deste texto e identificar alguns aspectos

informática, o que permitiu a utilização do


que nos parecem centrais na constituição des-


correio eletrônico como importante meio de sa metodologia de formação continuada de



interlocução a distância. professores.



Todo mês, após os encontros presenciais da O contexto formativo criado pelo PEQV va-

coordenadora regional em cada município, vá-


loriza como eixo central da formação a mobi-


rios são os encaminhamentos realizados com lização de competências profissionais. A hipó-







8
A Casa do Professor é fruto da parceria com as Secretarias Municipais de Educação e é gerida por grupos de professores e representantes

das equipes técnicas dessas secretarias.


28
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora

tese que está por trás dessa experiência é a de aprofunde seus conhecimentos sobre o con-



que o professor pode desenvolver sua compe- teúdo que será ensinado, articulando-o com o



tência profissional no próprio processo de “como” ensiná-lo e “para quem” ensiná-lo. É



construção e reconstrução de sua prática re- só com base nesse tipo de conhecimento que


flexiva. o professor poderá atuar de maneira pertinen-



Todo o contexto, anteriormente descrito, te na formulação, no encaminhamento e na



propicia a análise de diversos aspectos ligados avaliação de situações didáticas. Para isso, o


ao processo de aprendizagem dos professores. professor precisa saber como a criança pensa 28



A constituição e a implementação de uma e aprende, e a teorização de situações práticas



metodologia de formação de professores, que pode ajudar na construção de novos observá-



tem como objetivo interferir positivamente na veis sobre o processo de aprendizagem da cri-


aprendizagem dos alunos no campo da leitura ança, oferecendo-lhe condições de análise crí-



e da escrita, implicam a consideração de de- tica de diferentes concepções didáticas.



terminados pressupostos e, conseqüentemen- Entretanto, o grande desafio é que esse



te, a validação de certas estratégias. A forma- aprendizado não ocorre de maneira descon-


ção de professores está apoiada em três eixos, textualizada, desvinculada da prática, e, por-



a saber: tanto, não pode ser tratado como conheci-

mentos teóricos a serem simplesmente trans-



mitidos aos professores. É necessário desen-


Conhecimento profissional volver estratégias formativas que permitam o



contato com esses aspectos a partir da práti-



ca pedagógica e da reflexão fundamentada


sobre ela.

O professor é um profissional, e é preciso



Aprendizagem estimular o diálogo com ele a partir de situa-


Didática

do professor ções nas quais se sinta capaz de avançar e pro-


da formação

duzir conhecimentos. O desafio está em en-



contrar situações que criem condições para a



Assim, é na articulação e na ação simultâ- manifestação da competência e do desejo de



nea dos mesmos eixos que se pode compreen- estabelecer um vínculo novo com o conheci-

der os processos dos professores e garantir, ao mento e com o seu processo de aprendizagem.

mesmo tempo, um impacto positivo sobre a O professor não é tratado como um técni-

aprendizagem dos alunos. co ou um mero aplicador de decisões alheias,



Uma real ajuda na formação do professor que recebe instruções e coloca-as em prática.

significa criar condições para que ele de fato Seu desempenho profissional possui dimen-

amplie seus conhecimentos profissionais, en- sões muito mais sofisticadas, pois depende de

tendendo por conhecimento profissional a uma constante reconstrução do que está pla-

tríade: nejado. Ele tampouco é um teórico, pois seu


trabalho possui também uma dimensão con-


• a reconceitualização dos conteúdos de ensi-


creta que lhe apresenta desafios de ordem prá-


no;

tica a serem enfrentados. Ele é um profissio-


• a concepção de aprendizagem da criança;


nal da aprendizagem e precisa encontrar es-


• a concepção didática. paços para construir sua verdadeira identida-



Com essa perspectiva, é preciso desenvol- de. 9 A elaboração de atividades adequadas é o



ver, no processo de formação, estratégias com terreno de criação do professor e essa possibi-

a intenção clara de permitir que o professor lidade se baseia em capacidades muito carac-



9
Esse conceito foi tomado emprestado de Philippe Meirieu.


terísticas, que têm de ser desenvolvidas por o de buscar meios de interferir positivamente



quem assume tal função: a capacidade de ob- em sua atitude perante o trabalho, criando



servar, analisar, mobilizar conhecimentos re- condições para que possam, cada vez mais,



levantes, avaliar e criar vínculos com o aluno. assumir a responsabilidade de ensinar.


Quem efetivamente determina a qualidade do Uma proposta de melhoria da qualidade da



trabalho em sala de aula é o professor. aprendizagem nas escolas deve necessaria-



A atividade docente demanda a construção mente criar espaços de formação em que os


de uma série de conhecimentos e competên- professores possam vivenciar experiências



cias por parte do profissional. Exige uma pos- concretas e se apropriar de procedimentos que



tura reflexiva para que possa: compreender as lhes permitam transformar seu fazer pedagó-



questões envolvidas no trabalho e desenvolver gico. Para que isso ocorra, é necessário: confi-


competências para identificá-las e resolvê-las; gurar espaços que promovam o trabalho cole-



ter autonomia para tomar decisões; assumir a tivo; fazer o intercâmbio entre pares, propici-



responsabilidade pelas opções feitas. Requer ando momentos de ajuda e troca; estimular o


também que o profissional saiba avaliar criti- ○
intercâmbio entre professor e algum agente
camente seu desempenho e o contexto em que externo qualificado, que permita a identifica-

atua, interagindo de forma cooperativa com a ção de aspectos que ficam “invisíveis” para

equipe à qual pertence. quem está fazendo – tudo isso com a perspec-

As competências que esse profissional tiva de ir constituindo gradativamente uma


constrói estão relacionadas com sua capacida- equipe colaborativa de trabalho.



de de utilizar múltiplos recursos – entre os Um projeto de formação de professores



quais estão os conhecimentos teóricos que deve investir na constituição da escola como

possui e suas experiências profissionais e pes- um espaço de formação em que se cria e se



soais, para responder às diferentes demandas recria, e onde se identificam problemas e se



das situações de trabalho. Trata-se de compe- elaboram conjuntamente estratégias para



tências que se traduzem em atos, num saber solucioná-los.


agir que necessita ser reconhecido pelos pares Entretanto, apenas criar um clima favorá-

e pelos outros, e cuja constituição pode e deve vel e fomentar o trabalho em equipe não é su-

ser promovida em termos coletivos. Um exem- ficiente para transformar a condição didática

plo disso seria desenvolver a competência de do professor. É primordial que, associado a


organizar a aprendizagem dos alunos, ou seja, isso, sejam dadas ao professor as condições e

saber fazer uma programação, saber elaborar as possibilidades de aprender a fazer, fazen-

boas situações de aprendizagem, saber anali- do. Mais do que criar mecanismos normativos

sar os erros dos alunos, saber individualizar de explicação sobre o que se deve fazer, a for-

uma resposta etc. Não se trata de instituir um mação continuada tem de ajudá-lo a compre-

modelo único de competência. Há muitas ma- ender o que faz e por que faz, à medida que

neiras de ser um bom professor, e isso implica vá tendo a oportunidade de atuar e de inter-

a construção de um estilo próprio e envolvi- pretar de forma fundamentada o que foi rea-

mento pessoal. É necessário promover o de- lizado.



senvolvimento de competências que permitam E é nesse espaço do fazer pedagógico que



ao profissional uma relação de autonomia no se articularão o papel e a ação do formador



trabalho, criando propostas de intervenção com a do professor. A intervenção do forma-


pedagógica, lançando mão de recursos e co- dor só tem sentido se estiver em sintonia com

nhecimentos pessoais e disponíveis no contex- a possibilidade de compreensão e com as ques-



to, integrando saberes, sensibilidade e inten- tões do professor. É nessa interlocução pauta-

cionalidade para responder a situações reais, da pela prática que será possível a construção

complexas e diferenciadas. de novos sentidos. O trabalho de formação tem



Essa experiência mostra-nos que o foco da de gerar situações que propiciem ao professor:

formação continuada de professores deve ser organizar o discurso sobre a prática; adquirir

30
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora

um nível de reflexão que passe pela interpre-


profesores. In: ANGULO, L. (Org.). Pensamiento de los


tação de episódios da prática; teorizar sobre o profesores y toma de decisiones. Sevilha (Espanha):



Universidad de Sevilla, 1986.
ocorrido, a fim de a promover uma reconstru-


LUQUE, A., ORTEGA, R., CUBERO, R. Concepções


ção e a alteração da prática sempre que se faça


construtivistas e prática escolar. In: RODRIGO, M. J.,
necessário.


ARNAY, J. José. Domínios do conhecimento, prática


Vale ressaltar, ainda, que uma prática de educativa e formação de professores. São Paulo: Ática,



formação continuada deve considerar que o 1998.


desenvolvimento profissional implica um pro- MACEDO, L. de. Epistemologia construtivista de Piaget e 30



cesso no qual o professor vai construindo seus psicopedagogia. In: A práxis psicopedagógica brasilei-


ra. São Paulo: ABPq, 1994.


conhecimentos a partir da própria experiên-


MEIRIEU, Ph. Aprender… sim, mas como? Porto Alegre:


cia e das aprendizagens conquistadas a cada Artmed, 1998.


etapa do trabalho. É um processo gradual em


NÓVOA, A. (Org.). Os professores e a sua formação . Lis-


que, a cada passo, os conhecimentos adquiri- boa: Dom Quixote, 1992.



dos permitirão interpretar, em outras perspec- PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar .


Porto Alegre: Artmed, 1999.


tivas, experiências e questões que antes não


PIAGET, J. Lógica e conhecimento científico. Porto: Porto
eram observáveis. A formação deve ser pensa-


Ed., 1981.

da a partir de uma concepção de níveis de co-

○ . Sobre a Pedagogia. São Paulo: Casa do Psi-
nhecimentos que se vão desenvolvendo por

cólogo, 1998.

meio de processos construtivos de ação–refle- PIAGET, J. et al. Abstração reflexionante . Porto Alegre:

xão–ação, numa espiral.


Artmed, 1995.

PIAGET, J.; GARCÍA, R. Psicogénesis y historia de la



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mação de professores leigos. São Paulo: Casa do Psi-


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preparation: contributions as research thinking. [Apre- de la actividad profesional. In: ANGULO, L. (Org.),

sentado ao Issat, Leuven, Bélgica, 1986.] Pensamiento de los profesores y toma de decisiones .

ELBAZ, F. Cuestiones en el estudio del conocimiento de los Sevilha: Universidad de Sevilla: 1986.



























PAINEL 3

DESENVOLVIMENTO
DA COMPETÊNCIA LEITORA
E ESCRITORA DOS PROFESSORES
Margareth Aparecida Ballesteros Buzianaro

Maria Angélica Alves

Marília Costa

33
Desenvolvimento da




competência leitora e escritora






Margareth Aparecida Ballesteros Buzianaro



Escola Estadual Professor Dário de Queiroz – SEE/SP








Resumo



Aos quase 40 anos, posso afirmar que ler e



Para o relato que faremos sob o tema supracita- escrever são práticas constantes em minha vida,



do optamos por focalizar, entre muitas possibilida- não só vinculadas à minha profissão de educa-
des, a contribuição que o trabalho muito criterioso e ○


dora, mas também à minha vida pessoal; ao meu
sério de toda uma equipe escolar vem desenvolven- ser mulher. Fontes inesgotáveis de prazer e sa-

do, no intuito de caracterizar uma escola pública


tisfação. Sou profunda admiradora da literatura


como espaço educativo e formador de leitores e es-


universal, cujos gêneros que mais aprecio são os


critores. Trata-se de algumas experiências positivas


contos, as crônicas e as poesias de todas as épo-

com a formação de professores e de projetos especi-


cas. Também os textos próprios de minha área


ais para a melhoria da qualidade de ensino e apren-


de trabalho me garantem “alegria”, por mais que


dizagem, com a máxima utilização de recursos ma-


teriais e financeiros, como o PNLD e o “Dinheiro Di- essa expressão possa parecer descabida. Ler e

tomar conhecimento de novas descobertas que


reto na Escola”, e com a busca de parcerias na comu-


pesquisadores, estudiosos e pensadores vão tor-


nidade, entre outras. Considera-se um espaço para


o reconhecimento e a valorização do PROFA como nando públicas com seus escritos trazem, sim, a

um grande facilitador e articulador do nosso traba- alegria do saber; do poder transformar palavras

em ações, e ações em reflexão, e reflexão em no-


lho de formação, como formandos e formadores.


vas palavras e, por meio desse movimento con-



tínuo e constante, dessa teia de idéias, ideais e



Solicitada a participar deste evento para fa- realidade – possível pelo domínio da linguagem

zer um relato sobre “Desenvolvimento da com- escrita –, transformar meninos em cidadãos.



petência leitora e escritora”, pus-me a pensar em Mas tudo isso poderia ser bem diferente…

dois fatores que julgo importantes: “Por que fui Nascida em uma família muito pobre e total-

convidada?” e “Sobre qual aspecto de toda uma mente desestruturada, e tendo sofrido toda a sor-

experiência de vida leitora e escritora deveria me te de violências e abusos que uma criança pode

ocupar, ao proferir esse relato?”. sofrer dentro da própria casa, com certeza, pode-

Confesso não estar sendo fácil limitar-me a ria ser eu mais uma analfabeta, vitimada pelo

um ou dois pontos significativos de uma lista descaso, pelo preconceito e pelo abandono.

deveras grande, que, creio, seja não apenas mui- Foi a escola que mudou o meu destino. Sim, a

to importante, mas essencial para a formação e escola, e com certeza graças a algumas profissio-

o desenvolvimento de tal competência. nais “bem-formadas”, que sabiam algumas coisas



Contudo, suponho que possa e deva me que, infelizmente, ainda hoje, muitas não sabem:

aventurar a contar um pouco de minha própria que às crianças pobres e desprovidas de tantas coi-

trajetória na construção dessa capacidade e, por sas, só resta a escola, e esta não pode lhes fechar

conseqüência dela, minha postura e meu em- mais uma porta. Que crianças pobres e frágeis po-

penho em promover, por meio de ações objeti-


dem aprender a ler e escrever. Podem crescer “for-


vas, uma tomada de consciência acerca do com- tes” no corpo e na alma. E podem mais! Podem vir

promisso que a educação escolar deve ter com a fazer muita diferença no pequeno mundo onde

esse trabalho. vivem, se não no grande mundo onde vivemos.


34
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores

Pois é, tive essa sorte! E talvez por isso eu, todo esse povo, muitas preocupações: “Como



hoje, esteja aqui. Não, não foi à toa que me tor- ressignificar esse espaço de educação? Como har-



nei educadora! Eu precisava mesmo retribuir monizar os relacionamentos? Como contar com



esse tento! Daí, um trabalho incansável pela o apoio da comunidade? Como promover parce-


melhoria da qualidade do ensino oferecido na rias? Como trazer para a realidade, com a devida



escola pública. Um movimento constante em clareza, expressões do tipo ‘exercício da cidada-



busca de mais saberes. Um empenho honesto e nia’, ‘pensamento crítico’, ‘competência leitora e


verdadeiro no trabalho de formação dos educa- escritora’? Como prover e garantir formação den- 34



dores vinculados à escola, atualmente, sob a tro desse espaço formado?



minha responsabilidade. Esses questionamentos e dezenas de outros



A competência leitora e escritora não se dá poderiam estar perdidos ou guardados em ga-


ao léu. Muitas foram as gerações subjugadas e vetas, diários ou sessões terapêuticas, se não fos-



destinadas ao fracasso escolar. Temos hoje, no sem a crença no trabalho e a ousadia de tentar, a



ensino público, um considerável número de edu- partir da formação em serviço, aprofundar essas



cadores que não tiveram a oportunidade de de- questões, paradoxalmente, trazendo-as à tona,


senvolver essa competência e, portanto, não es- tirando-as das profundezas, do que às vezes pa-



tão aptos a colaborar para o desenvolvimento da rece inatingível. Ou seja, fazer aprendendo a fa-

competência de seus alunos. A formação em ser- zer, fazer fazendo.



viço não é apenas importante, ela é indispensá- Com a certeza de estar também aprenden-

vel. Com a já tão falada velocidade com a qual as do, vimos, eu e toda a equipe gestora que cami-

transformações vêm ocorrendo no mundo, é nha ao meu lado, sem a qual esse trabalho seria

mesmo impossível crer que um curso de nível impossível, investindo alegria, energia, entusi-

médio ou um curso acadêmico possa atender às asmo e, ao mesmo tempo, seriedade, compro-

necessidades de formação/transformação de misso e disciplina; angústias, ansiedades e tro-



nós, educadores, e ponto final, bem como não é peços, naquilo que temos chamado, em princí-

possível esperar que essa formação ocorra numa pio, de “capacitação”. E, hoje, há grupos de for-

via de mão única. Não bastará que diretores, co- mação de professores dentro de nossa escola,

ordenadores ou professores, num caminho soli- com maior atenção voltada aos projetos especi-

tário, tomem para si a luta por esse espaço de ais de reforço e recuperação paralela, cientes da

formação. Não bastarão apenas investimentos necessidade desses para o sucesso da progres-

em projetos específicos, vinculados a planos são continuada, principalmente no primeiro ci-



emergenciais, de soluções instantâneas. É neces- clo do Ensino Fundamental.



sário investir seriamente na instauração de uma Grandes foram as dificuldades ao iniciarmos



nova cultura, que cabe às ações de ministérios, todo esse processo. As deficiências em nossa pró-

secretarias de Educação, universidades e de cada pria formação nos fizeram recorrer a cursos de

uma das escolas; cabe a cada profissional envol- extensão universitária, a pesquisas, leituras,

vido nesse processo. Portanto, essa formação acompanhamento de programas destinados à



deve ser garantida a diretores, coordenadores pe- formação de educadores veiculados pelas tevês

dagógicos e professores, dentro de seus ambi- educativas, abertas ou não. E, é claro que, toma-

entes e horários de trabalho. E creio que seja esse das por ocupações de nossa rotina administrati-

o segundo ponto do meu relato. vo-burocráticas, questões fundamentais como o



Estou na Educação há cerca de vinte anos. Tive sempre insuficiente tempo, carregam (e sobre-

a oportunidade de trabalhar em todos os níveis carregam) nossas metas de entraves e frustra-



de ensino, inclusive na coordenação pedagógica ções. Mas não desistimos.



do Ensino Fundamental e da Educação Infantil. É preciso ficar claro que são experiências

Hoje, na direção de uma escola de Ensino Funda- modestas. Pequenos passos diante de tão gran-

mental e Médio, com cerca de 1.800 alunos e pou- de desafio.



co mais de cem funcionários, tenho, juntamente Com o advento do PROFA (Programa de For-

com a equipe que me auxilia na administração de mação de Professores Alfabetizadores), em 2001,



muitas de nossas angústias vêm se subtraindo. professores desde a 1ª série do Ensino Funda-



Tudo o que vimos trazendo desse curso, inclusi- mental, com o intuito de garantir o maior nível



ve todo o material (apostilas, fitas, tarefas, refle- de experiências e a maior circulação de conteú-



xões) vem se somando à nossa iniciativa. dos de cada uma das áreas do conhecimento;


Estamos sendo tomadas por uma clareza de pro- trabalho com artes visuais, inclusive vídeos, Edu-



pósitos, por uma objetividade em nossos encon- cação Física; melhoria nas relações da escola



tros, por uma segurança de estarmos descobrin- com a comunidade por meio de ações que es-


do o caminho correto. clarecem para os pais o que é e qual é a proposta



Juntamente com os grupos de formação de pedagógica da escola, enfim, todo um trabalho



professores, que vêm despertando em todos a serviço de uma transformação desse espaço fí-



maior consciência acerca do papel da escola no sico-social chamado escola.


desenvolvimento da competência leitora e escri- Aqui encerro meu relato de experiência, com



tora de todos os envolvidos no processo, mas, a esperança e a expectativa de ter conseguido



principalmente de cada criança que nela ingres- mais do que ser clara, considerando que nas en-


sa, ações facilitadoras e viabilizadoras desse de- ○
trelinhas muitas marcas ficaram conotadas. E com
senvolvimento também estão ocorrendo, como: uma expressão que, propositalmente, coloca um

projetos que garantem o empréstimo semanal de quê qualquer no ar: “feijão e sonho”. É que, não

livros literários e paradidáticos a todas as crian- sei bem o porquê, mas me faz lembrar uma

ças; visitas semanais de todas as classes à sala dualidade que sempre adorei em nosso mestre

de leitura da escola; saraus de leitura, canto, dan- Paulo Freire, que afirmava ser preciso crer na uto-

ça e outras expressões da linguagem no início de pia, porém com muita competência técnica.

cada período de aula; acervo literário, dicioná- Assim, devo crer que é possível “transformar o

rios, gibis e periódicos à disposição em todas as Brasil num país de leitores” (e escritores) e de algu-

salas de aula; salas-ambientes com rodízio de ma forma, quero ser, também, responsável por isso.






A formação de leitores e escritores




no Colégio de Aplicação da UERJ






Maria Angélica Alves



Colégio de Aplicação/UERJ




Resumo



O que significa ser um verdadeiro leitor? E mação? No Departamento de Ensino Fundamen-



um escritor competente? Para o escritor e tal do CAp/UERJ acreditamos que seja possível

ensaísta Stevenson, somente o autêntico leitor formar bons leitores e escritores na escola, fazen-

poderia desvendar os segredos das palavras, en- do com que aprimorem suas estratégias de ques-

quanto os falsos leitores se manteriam surdos


tionamento dos mais diversos textos. Entende-


aos seus apelos secretos. De acordo com a sua mos que a escola tem como função essencial

concepção de leitor e de leitura, é preciso dei- entretecer os fios que unem a criança a si mesma

xar-se ser cativado pelos livros para se tornar e ao mundo que a cerca. As relações entre a lei-

um bom leitor. tura, a escrita e a escola podem ser fecundas e



O bom leitor e o competente escritor já nas- estimulantes, tornando-se esse um dos lugares de

cem feitos ou a escola tem condições de cativá- efetiva contribuição para a formação do bom lei-

los, interferindo significativamente em sua for- tor, ou seja, do leitor que domina a competência

36
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores

de ler não somente para reproduzir, mas para


legiando as ações que promovam não o hábito,


produzir novos sentidos. mas a paixão de ler.



Estruturando a nossa prática pedagógica a Neste painel apresentamos as nossas concep-


partir de uma abordagem construtivista- ções de ensino e de aprendizagem, narrando as prá-



interacionista, procuramos promover, em nos- ticas de leitura e de escrita desenvolvidas, ao longo



sas salas de aula, a circulação de textos e a par- dos últimos anos, de forma regular, em turmas do


tilha do prazer pelo ato de ler, considerando o Ensino Fundamental. Procuramos ampliar a dis-



professor como mediador desse encontro. Acre- cussão sobre a temática do letramento, desenvol- 36


ditamos, dessa forma, que a escola deva inves-


vendo um trabalho de formação de leitor calcada


tir na democratização do acesso à leitura, privi- na diversidade textual como eixo da ação escolar.







Introdução Concepções de ensino



e aprendizagem no DEF


No Departamento de Ensino Fundamental



do Colégio de Aplicação da Universidade do Es-



tado do Rio de Janeiro, CAp/UERJ, acreditamos A escola precisa de três coisas fundamentais.

que seja possível formar bons leitores e escri- Uma é que todo mundo – rico, pobre, preto,

tores na escola, fazendo que aprimorem suas es- branco, homem, mulher – encontre ali seu lugar

tratégias de questionamento dos mais diversos para aprender. Outra é que a escola tem que

textos. Entendemos que a escola tem como fun- ajudar a criança a perceber o mundo em que

está vivendo e a ela mesma. O terceiro ponto é


ção essencial entretecer os fios que unem a cri-


ança a si mesma e ao mundo que a cerca. As que a escola não é uma instituição que trata

com alunos, mas trata com sujeitos, que têm


relações entre a leitura, a escrita e a escola po-

biografia, identidade e que estão se preparando


dem ser fecundas e estimulantes, tornando-se


para viver o mundo hoje – e não o mundo


este um dos lugares de efetiva contribuição para


amanhã.
a formação do bom leitor, ou seja, do leitor que

domina a competência de ler, não somente para Fernando Hernández



reproduzir, mas para produzir novos sentidos.



Estruturando a nossa prática pedagógica


a partir de uma abordagem construtivista- Como pensamos, hoje, no Departamento de



interacionista, procuramos promover, em Ensino Fundamental, o ensino e a aprendizagem



nossas salas de aula, a democratização do escolar? Consideramos que a escola deva, efetiva-

acesso à leitura, permitindo a circulação de mente, assumir o seu propósito educativo de pro-

textos e a partilha do prazer pelo ato de ler, mover o desenvolvimento e a socialização de seus

considerando o professor como mediador alunos, configurando-se como espaço de forma-



desse encontro. ção e informação, a fim de propiciar a inserção de



Ao apresentar nossas concepções de en- suas crianças e de seus jovens na realidade social.

sino e de aprendizagem e nossas crenças em Tal como previsto no texto da Introdução aos Pa-

relação aos atos de leitura e de escrita e, ain- râmetros Curriculares Nacionais, entendemos a

da, ao narrar algumas práticas de leitura e prática escolar como uma ação “intencional, pla-

de escrita desenvolvidas, ao longo dos últi- nejada e sistemática”, com o objetivo de “formar

mos anos, de forma regular, em turmas do cidadãos capazes de atuar com competência e dig-

Ensino Fundamental do CAp, desejamos nidade na sociedade”. E, da mesma forma, enten-



ampliar a discussão sobre a temática do demos que a escola possa e deva ser o espaço ide-

letramento e do desenvolvimento de um tra-


al para o debate, a parceria e a reflexão entre seus


balho de formação do leitor e do escritor docentes. Concordamos plenamente com Mary



calcada na diversidade textual como eixo da Kato, quando afirma que a escola precisa ocupar

ação escolar. seu verdadeiro lugar de “laboratório de observa-



ção do que ocorre no processo da aprendizagem, No planejamento de nossas atividades, con-



abordando a criança como sujeito ativo desse pro- sideramos a importância de se criar oportunida-



cesso” (Kato, 1990: 14). des de construção de estratégias de formulação,



Os princípios fundamentais norteadores de verificação e comprovação de hipóteses na cons-


nosso plano de trabalho prevêem que a sala de trução do conhecimento do aluno. Recorremos,



aula deva ser entendida como espaço de interação para isso, à utilização de diversos gêneros de tex-



verbal entre sujeitos, ou seja, como espaço efeti- tos, favorecendo a mais ampla compreensão dos


vo de diálogo, sendo que a interação deva ser en- seus empregos sociais. A criança é, desse modo,



carada como o locus produtivo da linguagem e, estimulada constantemente a realizar intercâm-



simultaneamente, como organizadora e formado- bios sociais, interagindo com os diferentes obje-



ra da atividade mental. Consideramos o conheci- tos de conhecimento e com os demais alunos e


mento como algo que não é dado, mas construído, professores envolvidos no processo. Utilizamos,



ou seja, reelaborado pelo sujeito, individual e co- também, os diferentes espaços do colégio – biblio-



letivamente, sob a intervenção segura e planeja- tecas, auditório, clube de leitura e sala de vídeo –


da dos professores. Encaramos o erro como parte ○
para desenvolver situações de leitura, escrita, pes-
importante do processo de aprendizagem. Ten- quisa, discussões e exposições orais.

do em vista, portanto, a abordagem construti- Dedicamo-nos, em suma, a investir na com-



vista-interacionista no planejamento de nossas preensão dos modos de apropriação dos novos



ações pedagógicas, acreditamos estar contribu- conhecimentos dos sujeitos da aprendizagem,


indo para o fortalecimento da autonomia, do res- fazendo uma “escuta” generosa dos depoimen-

peito ao outro e da troca de saberes. tos pessoais, dos comentários, das descobertas

Consideramos a leitura como matéria-prima e dos julgamentos emitidos pelos alunos, em


para o questionamento da escrita e o avançar das nossos encontros. Alguns momentos específicos,

estratégias cognitivas e metacognitivas do leitor como a Roda de Leitura, os debates, os jogos,



em formação. A língua é encarada como produ- privilegiam, decerto, essa prática tão positiva

ção histórica e social, e o texto é, dessa forma, para a afirmação dos sujeitos do conhecimento,

utilizado como unidade de trabalho em todas as em interação com os demais.



áreas de conhecimento. É por meio dele que alu- Considerando os aspectos mencionados, re-

nos e professores confrontam conhecimentos e lacionamos algumas estratégias básicas constan-



saberes. Recorremos às rodas de leitura e aos tes de nossas práticas de leitura e de escrita: le-

projetos como principais opções metodológicas vantamento de hipóteses sobre a língua escrita

a garantir a interação e a inter ou a transdisci- e realização de reflexões metalingüísticas; con-



plinaridade. Procuramos, enfim, manter o olhar fronto de representações ortográficas com as



atento e assumir, coletivamente, a tomada de normas; produção de rascunhos de texto, com


posição em defesa da diversidade cultural e das elaboração de planejamentos prévios e revisão



práticas sociais de inclusão como norteadora da do processo de elaboração do texto; audição, lei-

prática do educador. tura e produção de diferentes gêneros de textos:



Ao organizar o planejamento de nossa práti- narrações, descrições, notícias, contos, textos in-

ca educativa, no Departamento de Ensino Fun- formativos, esquemas, bilhetes e cartas; rees-



damental do CAp/UERJ, enfatizamos as apren- critura de textos conhecidos: repetir, fazer alte-

dizagens essenciais para a formação de cidadãos rações, escrever diferentes versões; elaboração

autônomos, críticos e criativos. de sínteses e resumos; apreciação e declamação


Nosso Plano de Trabalho estabelece os seguin- de poemas; dramatização de cenas e situações



tes objetivos gerais: desenvolver a atividade men- de narrativas; realização de pesquisas e coletas

tal autônoma e criativa no nível intelectual e a au- de informação; elaboração de exposições orais e

tonomia moral; construir a consciência de uma entrevistas; participação de discussões e deba-


identidade e a noção de vida em sociedade; reali- tes, de rodas de leitura e de jogos em grupo, rea-

zar interações sociais; tomar decisões coletivamen- lizando intercâmbios sociais e produção de re-

te; e desenvolver uma leitura crítica do mundo. latos, registros e anotações.


38
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores

O que queremos que nossos alunos pensem leitor”. Sem desejar, portanto, negar a contribui-



a respeito de sua vida intelectual? Não quere- ção da escola para a formação do leitor, o



mos pouco. Nossas expectativas confundem- ensaísta, embora a considere apenas uma das



se com o que desejamos, em suma, para nós instâncias educativas estimuladoras da apren-


mesmos. Esperamos que tenham vontade de dizagem da leitura e da escrita, acredita plena-



conhecer e sintam prazer em aprender e que, mente na possível eficácia de sua ação no pro-



dessa forma, saibam concordar, discordar, cesso de iniciação do leitor. Tal crença leva-o a


relativizar as questões formuladas e, ainda, enumerar ações fundamentais de formação e de 38



saibam buscar novas informações em diferen- informação técnica e do manuseio de livros e



tes meios e possam trocar, por meio de fecun- de escritos variados, que promovam uma fami-



das relações interpessoais, o resultado de suas liaridade com o mundo da escrita, por meio da


pesquisas e descobertas. Enfim, desejamos que utilização de textos “verdadeiros”. Compreen-



nossos alunos assumam seu lugar de cidadãos, de, enfim, seus atos de leitura como o espaço



saibam se adaptar às novas situações e sejam da realização de atividades metaléxicas. As cri-



felizes, se possível. anças, em atividade reflexiva, levantam suas


hipóteses e avançam suas estratégias de ques-



tionamento da escrita.
Concepções acerca ○

Para evitar o fracasso em suas ações, a es-


do aprendizado da leitura

cola, segundo Mary Kato, precisa estabelecer


e da escrita objetivos precisos no ensino da leitura. Deve-



se investir, na escola, nos atos de leitura orien-


Magda Soares (1999) afirma que a escolari-


tados, planejados pelo professor segundo níveis


zação da literatura é inevitável, na medida em graduais de complexidade, que possibilitem o



que ela é trabalhada na escola. Mas ressalta que desenvolvimento de uma consciência metalin-

o fator que determina sua negatividade é a má güística. O desempenho do leitor estaria, dessa

realização dessa escolarização no cotidiano es-


forma, diretamente vinculado às oportunidades


colar. Defende, a educadora, portanto, a ade- de acionar, diante de todo e qualquer texto, seu

quação dos procedimentos empregados na es- sistema de valores, crenças e atitudes, fazendo

cola à realidade social: uso inteligente e regular das estratégias de



inferência de que dispõe.


[…] o que se quer deixar claro é que a literatura Ao enfatizar o papel ativo do leitor em sua

é sempre e inevitavelmente escolarizada, quan- interação com o texto e com o mundo, Maria

do dela se apropria a escola: o que se pode é dis-


Helena Martins ressalta as direções possíveis da


tinguir entre uma escolarização adequada da li-


leitura: “A leitura vai, portanto, além do texto


teratura – aquela que conduza mais eficazmen-


(seja ele qual for) e começa antes do contato

te às práticas de leitura que ocorrem no contex-


com ele. O leitor assume um papel atuante, dei-


to social e às atitudes e valores que correspon-


xa de ser mero decodificador ou receptor pas-


dem ao ideal de leitor que se quer formar – e


uma escolarização inadequada, errônea, preju- sivo” (Martins, 1982: 32).


Sua concepção abrangente de leitura não se


dicial da literatura – aquela que antes afasta que


aproxima de práticas sociais de leitura, aquela reduz ao trabalho de decodificar os sinais



que desenvolve resistência ou aversão à leitura lingüísticos, e sim de dar sentido a esses sinais:

(Soares, 1999: 24-25). “…a leitura tem mais mistérios e sutilezas do


que a mera decodificação de palavras escritas”



Apostando na tese da desescolarização da (idem: 38). A ensaísta considera que a leitura



leitura como reflexo positivo de uma crença na deva ser desmitificada e compreendida como

formação continuada do leitor, Jean Foucam- um processo abrangente, pois envolve um con-

bert (1994: 17) afirma: “Aprende-se a ler em junto de componentes em sua dinâmica. Por

qualquer idade e continua-se sempre apren- conseguinte, estão em jogo, no momento da



dendo. A escola é um momento da formação do leitura de uma obra, aspectos sensoriais, emo-

cionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, Lajolo, pode-se avaliar a eficiência da tarefa do



culturais, econômicos e políticos. professor, nas atividades de leitura escolar, a



O leitor verdadeiro sabe que um texto – e partir de sua competência visível de sujeito lei-



mais especificamente o texto ficcional – não tor, demonstrada no diálogo com seus alunos


tem apenas um sentido, mas vários. Barthes nas atividades de leitura. Somente dessa forma



afirma a pluralidade do texto, assim como a será possível “contagiar” sua classe e promover



necessidade de pluralidade na leitura. “Ler é a inserção de seus alunos no mundo da leitura,


encontrar sentidos”, afirma. O leitor, por si só, favorecendo, sem dúvida, a participação cres-



ao aproximar-se do texto, não se encontra em cente deles como cidadão ativo no mundo. É



estado de inocência, mas já carrega consigo bem mais fácil e coerente formar leitores críti-



“uma pluralidade de outros textos” (Barthes, cos quando se é um deles.


1992: 44). Ao acionar seu olhar plural sobre o Nossas práticas de leitura e de escrita no CAp



texto, o leitor desencadeia um processo de no- originam-se, sem dúvida, de uma sincera paixão



meação progressiva de uma complexa rede de particular pela leitura e pela escrita. Ao realizar


significados. A tarefa do leitor, segundo o ○
nossos projetos, somos, naturalmente, guiadas
ensaísta, está associada à idéia de movimento, pelo desejo de despertar essa paixão em cada um

de deslocamento incessante e de articulação, de nossos leitores em formação. Atentas aos nos-



por meio da leitura, dos sentidos encadeados e sos propósitos e aos interesses das crianças, de-

agrupados no espaço do texto. senvolvemos, em nosso plano de trabalho, o que


“Para gostar de ler, devemos ter paixão pela os autores mencionados sugerem como uma ta-

leitura”, afirma categoricamente a ensaísta refa de questionamento de diversos gêneros de



Angela Kleiman. A escola, segundo a autora, pa- textos, propiciando condições para que o aluno

rece continuar a não perceber que as atividades construa seu aprendizado de forma ativa,

de leitura legitimadas por ela estão distantes do interagindo com o objeto do conhecimento e

ideal de atividade que desperte a curiosidade, o com os demais participantes das situações de

prazer e o desejo de ler. A tarefa de ler em sala de aprendizagem vivenciadas na escola.


aula, para Kleiman, perde o sentido para os alu- Acreditamos que, também na escola, os alu-

nos porque é fácil ou difícil demais. O fracasso nos podem e devem ser contagiados pelo dese-

proveniente dos primeiros frustrantes contatos jo de ler e de ouvir histórias inventadas ou re-

com a palavra escrita tende a continuar nos anos ais e, ainda, poemas, canções, parlendas, pro-

seguintes, criando, segundo a teórica, ao contrá- vérbios, notícias, manchetes, cartazes, docu-

rio de todas as expectativas, um “não-leitor em mentos, textos científicos, mitos e lendas e ou-

formação” (Kleiman, 1993: 16). tros gêneros de texto, ampliando o seu conhe-

Investir no desenvolvimento, na escola, de cimento da língua e da linguagem e constituin-


práticas de leitura que permitam o desabrochar do-se como sujeitos leitores competentes, crí-

do olhar plural do leitor, fazendo que diferen- ticos e criativos.



tes textos e várias leituras circulem e dialoguem Acreditamos, ainda, que possam, utilizan-

entre si e com as leituras desse mesmo leitor, do a escrita, comunicar-se produzindo textos

colocando-se o professor como mediador des- que se orientam pelas normas gramaticais e

se encontro, resume-se, a nosso ver, no passo pela correção ortográfica. Na escola, as crian-

mais natural e acertado. Claro está que se o pró- ças refletindo, juntas, permanentemente, sobre

prio professor não tiver sido orientado, na es- os fenômenos da linguagem buscariam, enfim,

cola e fora dela, na construção de sua compe- expressar-se, oralmente e por escrito, defenden-

tência em leitura, pouco poderá ajudar na for- do seus pontos de vista, apresentando argu-

mação de outros leitores e, em muitos casos, mentos, propondo questões, formulando hipó-

poderá até prejudicar a sua iniciação. A histó- teses e comprovando teorias. Alguns dos proje-

ria de leitor do professor, certamente, determi- tos desenvolvidos aqui descritos permitem que

nará o grau de significação das práticas de lei- se avalie nossa prática diária no aprendizado de

tura realizadas na escola. Segundo Marisa leitura e escrita:


40
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores

Descrição de projetos litou novas formas de construção e de apropria-



ção do conhecimento – em suma, novas formas



de poder. Atualmente, esse poder está distribuí-


Roda de leitura, rede de relações


do, tal qual a riqueza acumulada pelos mais dife-


rentes países, gerando grupos capazes de exercer



Professores: Celi Silva Gomes de Freitas; Cláudia o poder por meio da escrita e da leitura e grupos



Cristina Andrade de Azevedo; Cristina Maria Rocha que não o podem exercer, configurando uma for-


Clemente Ribeiro; Maria da Conceição Carvalho ma de exclusão nas sociedades letradas. Hoje, a 40



Rosa; Olga Guimarães Germano. discussão caminha na direção do letramento,



quando buscamos um trabalho de formação de


Roda de leitura, roda de conhecimento. A


leitor, de forma que este possa fazer uso das prá-


roda, o círculo, está presente nos mitos de distin- ticas sociais de leitura e escrita. A prática peda-



tas civilizações, em diferentes épocas. Espaço pri- gógica que temos adotado busca favorecer essa



vilegiado em todas as culturas – de partilhar, cons- formação, usando a diversidade textual como eixo


truir, tecer ritos, reverenciar costumes –, no mo-


da ação escolar. Na 3ª série do Ensino Fundamen-


vimento da roda há espaço para ouvir, falar, calar, tal, optamos por mergulhar na discussão e na pro-



circular idéias. Todos são um corpo na roda. dução de resenhas literárias, conseguindo, com

A prática da roda de leitura é diária na sala de isso, uma ampliação do horizonte.


aula. Crianças e professores sentados em círculo


Segundo Magda Soares (1999), a palavra


no chão tecem uma grande teia de textos que se “letramento” vem do inglês literacy, em que o

tocam, se cruzam e se entrecruzam em várias di- sufixo cy significa “estado ou condição de quem

reções, entretecendo várias relações, expandindo- tem habilidade de ler e escrever”. Estabelece a

se para além das paredes: faz-se rede. A roda de diferença entre aquele que sabe ler e escrever –

leitura define-se como um trabalho de uma políti- alfabetizado – e aquele que vive na condição ou

ca de inclusão (Geraldi, 1998), recuperando a fun- estado de quem não sabe ler e escrever. Aqui ela

ção social da leitura: ler para o outro, ler com o já observa que a palavra letramento carrega em

outro, contar o que leu, discutir o que leu, levar e si uma pluralidade de práticas sociais veicula-

trazer o lido e o vivido, ouvir opinião, buscar novas das às ações de ler e escrever. Para Kleiman, tam-

opiniões, expor emoções e sentimentos, concor- bém, a palavra singular representa o plural, o

dar e discordar. Como roda, temos a multiplicidade conjunto de ações sociais que envolvem o ler e o

de sentidos possíveis e a interação entre sujeitos. escrever. O nosso trabalho busca essa apropria-

Como rede, mantemos a incompletude da lingua- ção, ao elegermos textos para aprofundamento,

gem (Orlandi, 1988). A roda constitui o espaço de por meio do desvendar de suas estruturas lin-

discussão e de produção onde o professor compa-


güística e semântica.

rece como um dos leitores e como mediador: “ár- Na 3ª série/2000, um dos textos eleitos foi a

bitro, medianeiro, intermediário”. resenha. Para atingir nossos objetivos, passea-



mos por catálogos de livros de diversas editoras,



pela revista Ciência Hoje das Crianças e pelos


A resenha como uma

jornais, ampliando, assim, com a leitura de dife-


das possibilidades de letramento


rentes modelos do texto, o conhecimento das[os]


na 3 a série do Ensino Fundamental


alunas[os]. O Projeto Resenhas foi apresentado



à turma; o desenvolvimento foi sendo combina-


Professores: Cláudia Cristina Andrade de Azevedo; do coletivamente entre professoras e alunas[os]



Cristina Maria Rocha Clemente Ribeiro; Maria Fa- e a produção final também foi decidida: um ál-

tima de Souza Silva. bum individual para consulta do próprio grupo.



O processo de produção das resenhas con-


A escrita configura-se como um dos mais im- templou a análise de alguns aspectos da sinta-

portantes suportes tecnológicos nas modernas xe e da morfologia e a função social dos tex-

sociedades industrializadas. Sua difusão possibi-


tos, acentuando preocupações que deveriam



ser pensadas ao escrever: “Qual é o destinatá- • apreciação de vídeos;



rio?”, “Para que serve esse texto?”. Tais elemen-


• entrevistas com especialistas e autoridades;


tos foram fundamentais para ampliar o conhe-


• leitura de documentos, mapas, notícias, propa-


cimento sobre esse gênero de texto, suscitan-
gandas, folders, folhetos, cartazes, charges, arti-


do o desejo de sua ampliação, verificado a par-


gos de revista, textos ficcionais, músicas, poe-


tir das perguntas que surgiam: “Como conven-


mas, verbetes, fotografias e textos científicos;


cer a[o] outra[o] a ler o livro? Que palavras usar


• observação e caracterização de espécies vege-
para seduzi-la[o]?”. A partir das leituras das di-


tais e animais de mangues;


ferentes resenhas, pudemos perceber como


• realização de pesquisas, experiências científi-


as[os] alunas[os] começaram a querer conhe-


cas, seminários envolvendo outras séries, cam-


cer e ler os livros sugeridos e como o universo


panhas educativas e um ensaio fotográfico;
cultural deles se ampliou: agora conhecem



mais autoras[es], ilustradoras[es], editoras e • produção de relatórios e de um dicionário ilus-


trado e listagem de novas perguntas e interes-

mais livros.


○ ses ao fim do estudo.

Projeto Águas do Rio de Janeiro: Planejamos ações que possibilitassem o cru-



zamento dos olhares dos diferentes sujeitos, pro-


os manguezais

pondo atividades fundamentadas na interação



Professoras: Maria Angélica Alves, Leila Medeiros de grupal, a fim de garantir uma leitura mais

abrangente ou mais complexa dos temas cientí-


Menezes, Celi Silva Gomes de Freitas, Olga Guima-


ficos estudados. Desejamos, enfim, que cada alu-


rães Germano, Glória Maria Paes Brito Miranda.


no procurasse desenvolver mecanismos próprios



Nosso propósito e desafio: entrar por água de vínculo com o conhecimento adquirido, fa-

zendo suas releituras das problemáticas ambien-


e chão, deixando-nos atrair pelas águas do Rio


tais analisadas. Interessou-nos, particularmen-


de Janeiro, conhecendo, a fundo, os segredos


e os encantos (ou os desencantos) de seus rios, te, avaliar se houve avanço dos alunos no que se

mares, lagoas. Parece-nos fundamental pro- refere ao seu envolvimento com o objeto de co-

nhecimento, à sua participação como investiga-


mover entre os alunos o gosto pelo conheci-


dores no campo social e científico e à sua auto-


mento do espaço que os cerca. Crianças, árvo-


res e águas “merecem o gosto de se dar”. E dar- nomia no uso dos diferentes materiais, assim

como na realização das atividades.


se a conhecer é tarefa séria, que requer cuida-



do e empenho.

Ao eleger os manguezais como ecossistema


O guarani : a releitura de um romance

a ser estudado na 2ª série, desejávamos desven-


clássico da literatura brasileira


dar um ambiente com características bastante



específicas, notadamente os ecossistemas mais


Professora: Maria Angélica Alves.


frágeis e de grande capacidade vital, como área


de reprodução, presente em toda a costa brasi-


Entre os meses de agosto e outubro de 1999,


leira e, particularmente, na Baía de Guanabara.


crianças de 9 anos de idade ouviram e leram, pela


Considerando os aspectos abordados no es-


primeira vez, o romance O guarani, de José de

tudo sobre os manguezais e as nossas crenças


Alencar. Sabiam que toda aquela história, vivida

num trabalho que permitisse a interação com os


no século XVIII, entre índios e fidalgos portugue-


diferentes objetos de conhecimento, definimos


ses em plena mata brasileira, era fruto da imagi-


algumas estratégias a serem utilizadas:


nação fértil de um escritor cearense, já tratado in-

• listagem coletiva de perguntas e interesses so-


timamente como Alencar. Entretanto, continua-


bre o tema;

vam a pensar que tudo era muito real: “Peri e Ceci


• investigações realizadas em pequenos grupos;


ainda existiam? Existiram de verdade? Mas os diá-


• excursões às áreas de manguezais; logos são tão reais e tudo é explicado nos mínimos

42
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores

detalhes…”. Liam, com curiosidade e emoção, um rios de avaliação de cada aluno, assim como de



clássico da literatura brasileira. De capítulo em material didático específico para cada turma,



capítulo, discutiam temas complexos, como os ro- partilhado, efetivamente, por cada série.



mânticos e o romantismo, o preconceito, a traição, Ao assumir, com essa iniciativa, a autoria da


a fidelidade, o orgulho, o amor, a vida e a morte. prática pedagógica, apostamos na ruptura com



Começavam a imaginar os gestos, as falas, os ob- modelos cristalizados de relações de ensino. Re-



jetos e as personagens, brincando de representar afirmamos nosso desejo de investir, permanen-


as cenas da narrativa. Por que não ler e reescrever temente, na compreensão da escola condizente 42



a bibliografia e a biografia de Alencar? Por que não com este nosso tempo, assim como a intenção



adaptar o texto original do romance e criar o rotei- de dar continuidade ao nosso trabalho, fazendo



ro de uma peça de teatro? Pensado, dito e feito. A uma discussão responsável com a comunidade


peça O guarani encenada no CAp/UERJ foi o re- escolar, discussão essa orientada por uma con-



sultado de um longo e complexo processo de apro- cepção de escola experimental transformadora.



priação da língua e da literatura, assim como um



alegre, emocionado e emocionante encontro de
Bibliografia

crianças com o livro, da vida com a arte.



ALVES, Maria Angélica. Projeto Águas do Rio de Janeiro: os


manguezais. Rio de Janeiro: CAp/UERJ, 2000.
Debate, parceria, reflexão:

AZEVEDO, Cláudia Cristina Andrade de; RIBEIRO, Cristina


a organização do trabalho do professor Maria Rocha Clemente; SILVA, Maria Fatima de Souza.

A resenha como uma das possibilidades de letramento


Interação, partilha de saberes, troca, debate,

na 3ª série do Ensino Fundamental. Comunicação apre-


discussão, leitura da diversidade de textos que cir-


sentada no XIII COLE, Campinas: jul./2001.


culam no mundo, reflexão sobre aspectos da nos- BARTHES, Roland. S/Z. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.

sa realidade, investigação de problemas e enfren- FREITAS, Celi Silva Gomes de; AZEVEDO, Cláudia Cristina

tamento de desafios são ações fundamentais pre-


Andrade de; RIBEIRO, Cristina Maria Rocha Clemente;


sentes no dia-a-dia da sala de aula, das turmas de ROSA, Maria da Conceição Carvalho; GERMANO, Olga

Guimarães. Roda de leitura, rede de relações : uma ex-


Classes de Alfabetização (CA) até as de 4ª série,

cursão pela prática no Ensino Fundamental. Comunica-


pertencentes ao Departamento de Ensino Funda-


ção apresentada no XIII COLE, Campinas, jul./2001.


mental (DEF). Referimo-nos às trocas de idéias

1 CD-ROM.

entre alunos, entre alunos e professores e, como


FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre:


não poderia deixar de ser, entre professores. Artmed, 1994.



Uma prática pedagógica dessa natureza tem GERALDY, João Wanderley. Linguagem e ensino: exercícios

uma historicidade – é transformadora – e pressu- de militância e divulgação. São Paulo: Mercado das Le-

tras, 1998.
põe um grande investimento dos docentes em sua

KATO, Mary. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins


formação permanente e na produção – e divulga-


Fontes, 1990.

ção – de reflexões sobre a sua prática, bem como KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da lei-

um compromisso com o trabalho de atualização dos


tura. Campinas: Pontes, 1989.


docentes das redes públicas de ensino. O ensino, a . Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas:

pesquisa e a extensão surgem, então, como desdo- Pontes, 1993.


LAJOLO, Marisa. Tecendo a leitura. In: Do mundo da leitura


bramento natural de uma prática que aposta no


para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.


redimensionamento da figura do professor, conver-

. Leitura e literatura na escola e na vida . Dis-


tendo-o em um pesquisador do próprio trabalho.


ponível em <www.proler.com.br>. Acesso em 2000.


Para o DEF está claro que a qualidade do tra- MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? São Paulo:

balho pressupõe o planejamento coletivo. Nos- Brasiliense, 1982.


sa prática confirma essa concepção de organi- ORLANDI, Eni. Discurso e leitura. Campinas: Cortez, 1988.

zação do trabalho pedagógico: participação em SOARES, Magda. A escolarização da literatura infantil e ju-

venil. In: EVANGELISTA, Aracy Alves Martins; BRANDÃO,


quatro Colegiados, visando, exatamente, à am-


Helian Maria Pina; MACHADO, Maria Zélia Versiani


pliação dos espaços coletivos de trabalho; encon-


(Orgs.). A escolarização da leitura literária: o jogo do li-

tros sistemáticos por série; produção de relató-


vro infantil e juvenil. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.



Experiência Projeto Travessia






Marília Costa



Fundação Projeto Travessia/SP





Introdução


mentais na escola, na família e na comunidade.



Durante esse processo, é realizado um tra-
A Fundação Projeto Travessia é resultado de


balho educativo com suas famílias, por meio de


uma criação coletiva de parceiros plurais – sin-


várias ações integradas e complementares, como


dicatos de trabalhadores e instituições – tendo


visitas e encontros com grupos de famílias, com
por missão garantir os direitos de crianças e ado-


o objetivo de gerar transformações nas represen-


lescentes que, circunstancialmente, fazem das


tações acerca dos papéis de cada um na rede fa-

ruas seu espaço de sobrevivência e/ou moradia,


miliar e nas formas de convivência.
como conseqüência da fragilização de seus vín- ○

culos familiares e comunitários e de sua exclu-


A leitura e a escrita como


são das políticas sociais básicas (saúde, educa-



ção, moradia etc.).


fator de inclusão

A intervenção educativa inicia-se a partir do



período da educação na rua, que promove o pro- É fato incontestável que a condição de ser

cesso de “saída da rua”, culminando com a deci- alfabetizado é determinante para o exercício da

são de meninos e meninas por deixar de utilizar cidadania. As condições do mercado de traba-

o espaço público como local de moradia e/ou lho, as formas de produção de conhecimento e a

sobrevivência. Começa, então, o processo de comunicação humana estão intrinsecamente



acompanhamento e orientação visando ao for- atreladas às práticas de leitura e escrita. Um anal-



talecimento das relações familiares e comunitá- fabeto encontra atualmente muita dificuldade

rias, assim como a inclusão dos educandos no para sobreviver em sociedade, visto que o poder

sistema de ensino formal e na rede de atendi- encontra-se associado à cultura letrada. Além

mento (políticas sociais públicas) para a garan- disso, uma pessoa que não sabe ler e escrever não

tia de seus direitos fundamentais. Porém, como pode desfrutar de inúmeras práticas sociais de

na maioria das vezes o retorno à convivência fa- lazer e entretenimento que dependem do domí-

miliar não é imediato, muitos educandos passam nio da escrita. Portanto, em uma cultura letra-

por um período de transição que lhes proporci- da, não saber ler e escrever significa violação de

ona uma aproximação gradativa de seus famili- direitos e exclusão social.


ares ou responsáveis e também dos espaços de- A maioria dos educandos atendidos pela

limitados para educação. Nesses casos, o abrigo Fundação tem pouco domínio das práticas so-

em entidades faz-se necessário como medida de ciais que usam a escrita, e muitos são analfabe-

caráter provisório, dentro de um processo edu- tos. Todos os matriculados na escola estão defa-

cacional mais amplo, que visa à inclusão social sados em relação à idade/série do ensino regu-

de crianças e adolescentes. Para esse período de lar, encontram muita dificuldade para acompa-

transição, a Fundação Projeto Travessia realiza nhar o grupo-classe na escola que freqüentam e

costumam ter uma auto-imagem e uma auto-es-


atividades educacionais em um espaço protegi-


do, com o objetivo de favorecer a estabilização tima bastante depreciadas.



de vínculos afetivos, desenvolver a disponibili- A Fundação Travessia costuma acompanhar



dade para a aprendizagem e propiciar adapta- o processo de inclusão no sistema de ensino for-

mal, realizando visitas periódicas à escola que


ção a uma nova rotina de vida, que inclui ter


horários e regras a cumprir. As crianças e ado- os meninos e as meninas freqüentam, com a in-

lescentes freqüentam as atividades deste progra- tenção de estabelecer uma relação de parceria

ma até que possam exercer seus direitos funda- em prol da inclusão escolar. Mesmo assim, al-

44
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores

guns educandos que freqüentam regularmente A leitura e a escrita nas oficinas



as atividades escolares não conseguem se man-


Os educandos que já deixaram as ruas como


ter por muito tempo na escola, abandonando


espaço de sobrevivência e moradia e vivem um


novamente o ensino formal.


O trabalho educativo tem a intenção de ge- processo de fortalecimento dos vínculos com a


família, comunidade e escola, freqüentam dia-


rar mudanças qualitativas no processo de


riamente as oficinas oferecidas no espaço fixo da


construção da própria identidade, ou seja:


transformações em relação à auto-imagem, ao Fundação. Nessas oficinas são realizadas várias 44



autocuidado, às relações afetivas, aos vínculos atividades envolvendo leitura e escrita, teatro,


dança, música etc.


familiares, à socialização e ao processo de es-


Alguns exemplos de propostas voltadas para


colarização, estimulando o desejo de deixar as


ruas como espaço de moradia/sobrevivência. o desenvolvimento da leitura e da escrita:


Fotonovela. Produção de uma história em


O foco do trabalho é a problematização das


quadrinhos a partir de uma história conheci-


práticas sociais, que são quase impossíveis de


da pelas crianças. Para isso foi necessário


realizar na rua, como, por exemplo: convívio
recontar a história na linguagem dos quadri-


familiar, escolaridade, programações culturais,


nhos, criar cenários e fantasias para serem fo-

esportivas e de lazer etc. Procura-se criar situ-


tografados, assim como o texto da fala dos per-
ações que gerem nos educandos questiona- sonagens.

mentos, perguntas, inquietações e que desper-


Culinária. Leitura, seleção e elaboração de

tem a necessidade de transformação. Essas si-


várias receitas fáceis de realizar e com ingre-


tuações podem ser conversas, atividades de


dientes baratos. Nesse projeto, as crianças


leitura, criação artística, produção escrita, jo- pesquisaram muitas receitas em diversos por-

gos, brincadeiras, passeios – o que realmente


tadores (ou suportes), fizeram orçamento de


importa é estimular a vontade de aprender,


ingredientes em supermercados e realizaram


mudar, transformar. várias atividades de alfabetização com o uni-



verso temático da culinária.



A leitura e a escrita nas ruas


A formação profissional

Diariamente, uma equipe de educadores



vai até as ruas do centro de São Paulo e realiza Os educadores costumam participar de vários

eventos externos que possibilitam o desenvolvi-


atividades educacionais com crianças e ado-


mento profissional, e, internamente, realizam en-


lescentes em situação de rua. Os vínculos de


confiança construídos nesses encontros com contros com profissionais que trabalham na insti-

os educadores são fundamentais para que as tuição – uma psicóloga, uma pedagoga e uma arte-

educadora – para discutir a prática cotidiana.


crianças possam elaborar projetos de vida fora


Além disso, a Fundação Projeto Travessia está


das ruas. Exemplos de alguns projetos desen-


volvidos nas ruas: recebendo financiamento da Fundação Vitae



Fanzine. Elaboração de uma revista de baixo para realizar projeto de alfabetização em parce-

ria com uma escola pública, no qual está previs-


custo e com caráter educacional. As várias ati-


vidades realizadas, envolvendo a leitura de li- ta a capacitação dos profissionais sob orienta-

vros infantis e gibis, resultaram no Fanzine ção de uma equipe multidisciplinar, contem-

número zero, que traz entrevistas, poemas, plando questões relacionadas à didática da alfa-

personagens e histórias em quadrinhos cria- betização, psicologia, psicopedagogia, fonoau-



dos por crianças e educadores, em parceria. diologia e antropologia. Esse projeto tem como

Expo-Rua. Exposição de atividades realizadas objetivo central o desenvolvimento de estraté-



nas ruas com a intenção de dar destino e visi- gias eficazes para alfabetizar crianças e adoles-

bilidade às produções das crianças e adoles- centes que estiveram expostos a situações de ris-

centes, como, por exemplo, poemas, músicas co social e pessoal, como decorrência de um

e desenhos. complexo processo de exclusão social.



PAINEL 4

CORRESPONDÊNCIA ENTRE
PROFESSORES COMO ESTRATÉGIA
DE FORMAÇÃO CONTINUADA
Beatriz Cardoso e Maria Cristina Ribeiro

Euzi Moraes

47
Correspondência entre professores




como estratégia de formação





Beatriz Cardoso e Maria Cristina Ribeiro



Cedac







Resumo





O Cedac vem apostando no intercâmbio escri-


tendemos discutir as seguintes questões:


to entre professores e capacitadores como uma fer- • A criação de um contexto para uma situação real



ramenta importante por meio da qual se pode es- de uso da linguagem escrita.
timular o professor a rever sua prática e a arriscar ○


• O vínculo e o reconhecimento como elementos
novas maneiras de conduzir o trabalho em sala de estruturantes da aprendizagem.

aula. A utilização dessa ferramenta em três proje- • O como fazer pedagógico como eixo do trabalho

tos distintos tem gerado reflexões instigantes so- de reflexão sobre a própria prática.

bre o papel da escrita na interlocução com profes- • A possível negociação de pontos de vista por meio

sores. Por meio do relato dessas experiências pre- da correspondência.










Correspondência entre professores




como estratégia de formação






Euzi Moraes

Rede Interdisciplinar de Educação – Ried/ES





Sintetizando, são quatro as características


Introdução

essenciais dessa correspondência: ser diálogo;


Seja com o suporte do correio convencio- ser permanente; ser em rede; ser por escrito.

nal, seja via Internet, a correspondência entre Neste texto pretendemos relatar o que apren-

formadores e professores vem sendo apontada demos, por meio dessa interlocução.

como estratégia bem-sucedida de formação. A


Começamos a fazer parte do projeto em


experiência que passamos a relatar é, basica- agosto de 1997, com uma clara sensação de que

mente, um diálogo permanente em rede, que dispúnhamos de um conhecimento razoável



se apóia na prática intensiva da leitura e da es- sobre os professores e seus problemas. Afinal,

crita. Esse diálogo vem acontecendo há quatro vínhamos trabalhando em formação de profes-

anos no projeto intitulado Formação em Rede sores havia mais de uma década – tínhamos his-

nos Municípios de Atuação da Aracruz Celulo- tória. No entanto, a primeira grande lição que

se – Projeto Formar –, no Espírito Santo, com o aprendemos foi que conhecíamos muito pou-

financiamento da empresa Aracruz Celulose e co da relação dos professores com os alunos,



a coordenação pedagógica da equipe de pro- com o conhecimento teórico-prático em peda-



fessores-formadores da Rede Interdisciplinar gogia e com a leitura e escrita. Como podería-


de Educação (Ried).

mos, então, dialogar com eles?


48
PAINEL 4
Correspondência entre professores como estratégia de formação continuada

O diálogo



Só que em nosso país é exigido demais do


Precisávamos fazer um exercício de humil- professor e dado pouco valor ao mesmo.



dade. No princípio, escrevíamos muito e os pro-


O ambiente físico é precário, as salas de aula


fessores, quase nada. A dinâmica era enviar o


texto para estudo em grupo, receber o relatório em péssimas condições, principalmente as da



zona rural.
do estudo, dar devolutiva do relatório, enviar



mais texto… e assim, em rede, caminhávamos 49


O material didático é de baixo nível, os livros


– escrevendo e lendo… lendo e escrevendo. Se-


didáticos são seqüências de repetições.
lecionávamos textos, produzíamos textos, tra-



duzíamos textos e elaborávamos instruções so-


A maioria das crianças vai à escola para me-


bre o que fazer com os textos. As discussões nos rendar; as condições de vida são precárias. En-


grupos eram também o espaço em que se


fim, a condição social brasileira não oferece ne-


tematizava a prática pedagógica de cada pro-


nhuma ajuda para a realização do dia integrado.


fessor e professora e onde estes planejavam ino-


Era um diálogo de surdos. O conteúdo das


vações para as suas salas de aula. Datam desse


instruções e do texto era o que menos importa-
período os registros a seguir.



va a esses leitores em formação. Sentimos que
precisávamos chegar mais perto dos professores.

A equipe de professores-formadores enca-


Com o passar do tempo fomos aprendendo que,


minhou aos grupos de estudo um texto tradu-


para desencadear o diálogo, as instruções deve-


zido, “O dia integrado na sala de aula”, dando

riam ser muito mais detalhadas, e essa aprendi-


as instruções a seguir.

zagem produziu textos como este a seguir.




No texto em referência encontramos princípios


Roteiro para estudo de textos

e práticas. A prática pedagógica apresentada acon-



tece numa escola diferente da nossa, em um país 1. Estudo individual do roteiro do texto: cada

membro do grupo deverá ler o texto, individual-


bem distante. Seria interessante identificar os prin-


cípios em que se apóia essa prática e confrontá-la mente, antes das reuniões do seu grupo, obser-

com os princípios que sustentam a nossa prática. vando os seguintes procedimentos:


• destacar no texto o que julgar serem as prin-


Será que desse confronto poderão surgir provoca-


ções à nossa concepção de educação e à nossa cipais idéias: grife à lápis, com caneta ou

sala de aula, dentro da nossa própria realidade? marcador de texto;


• escrever nas margens do texto observações


A esta orientação, as professoras deram as


pessoais sobre os pontos que achar relevan-


seguintes respostas:

tes;

• anotar, também na margem do texto, pergun-


“O dia integrado” é perfeito para o Primeiro Mun-


tas e dúvidas.

do, onde o poder público não tem medo do homem



consciente de seu papel e de seus direitos. 2. Debate sobre o texto:



• cada participante deverá apresentar ao gru-


Achamos perfeita a idéia do dia integrado, po de estudo as principais idéias já destaca-



mas bem distante de nossa realidade, onde o ci- das na leitura individual, suas observações

dadão consciente é problema para os “políticos”


pessoais e suas perguntas e dúvidas;


que fazem da máquina administrativa um meio • iniciado o debate, deverão ser observados os

de garantir a sua velhice e a de seus amigos. procedimentos de praxe, de maneira a per-



mitir que todos possam se manifestar: inscri-


A nós é cobrado muito, exigido que se ensi- ção, limite de tempo para cada fala etc.;

ne a construção do conhecimento em um tempo


• um integrante do grupo deverá anotar os pon-


extremamente pequeno, com um currículo inten-


tos principais de cada fala. Essas anotações


so… Com isso, o professor fica desnorteado, in- serão imprescindíveis para a elaboração do

seguro e assustado.

relatório.


Observação. De maneira geral, ainda que não Pressupostos: Geralmente a escola que muda


esteja prevista uma aplicação imediata do texto seu foco e passa a dar importância ao conteúdo



em discussão a práticas de sala de aula, os pro- dos textos dos alunos acaba deixando de consi-


fessores participantes deverão adotar como prá-


derar o valor da correção ortográfica e gramatical.


tica permanente o registro escrito de toda e qual-


5. Agora que o texto foi apreciado pelo grupo, o


quer ocorrência em sala de aula que possa ter
que fazer para melhorar o conteúdo e a forma do


relação com o texto em estudo.


texto?



Pressuposto: Geralmente, a escola abando-


E os roteiros passaram a fazer parte da roti-


na os textos dos alunos, como se fossem produ-
na de nossa correspondência. Segue-se o “Ro-


tos finais.


teiro para avaliação de trabalhos de alunos” (as-



pecto: linguagem), no qual formulamos cinco


perguntas e oferecemos cinco pressupostos Com o detalhamento de nossas instruções,



para orientar a discussão dos professores. o diálogo entre formadores e professores avan-


çou. Contudo, a leitura compreensiva ainda ca-

Sobre textos expositivos recia de maior profundidade. Procuramos, en-



tão, integrar melhor a leitura à escrita, por meio


1. O texto produzido pelo aluno trata do assunto


da elaboração de sínteses. Pensamos que, se


estudado em aula? Se trata, de que maneira ele

pedíssemos a eles que escrevessem uma sínte-


se relaciona com o assunto da aula? Se não tra-


se do texto lido e discutido em grupo, podería-


ta, como ele pode demonstrar que houve apren-


dizagem? mos conhecer melhor sua relação com a língua



escrita. Nesse momento, o “Relatório” passou a


Pressuposto: Há uma tendência na escola


ter o seguinte formato:

para concluir uma aula pedindo às crianças que



escrevam textos sem contexto, textos que não


• Síntese do texto estudado: resumo das idéias


comunicam nem expõem o que elas aprenderam


principais desenvolvidas pelo autor (15 a 20


do conteúdo estudado.

linhas – aproximadamente 250 palavras).


2. Onde, no texto, encontramos provas concretas


• Comentários sobre o texto: observações, dú-


de que o aluno–autor aprendeu o que foi estuda-


vidas, perguntas, críticas, se for o caso.


do e é capaz de registrar por escrito os novos • Relato de práticas em sala de aula relaciona-

conhecimentos?

das ao texto em estudo.


Pressuposto: Geralmente a avaliação de um


• Breve relato da participação da coordenado-


texto, na escola, focaliza mais a forma do que o ra regional no grupo e manifestação do gru-

conteúdo. Os professores corrigem a ortografia po quanto à devolutiva enviada pela equipe



e a gramática e classificam de “bom” o texto com pedagógica central.


menos erros ortográficos e gramaticais e de



“ruim” o texto com mais erros ortográficos e gra- Só que não ouvimos os professores, antes

maticais. de mudar de rumo. Não fizemos perguntas do



3. A forma do texto atrai leitores? É um texto que tipo: “Qual a familiaridade que os professores

vale a pena ser lido? Ou é apenas mais um exer- têm com a leitura de textos e a escrita de sínte-

cício escolar, uma tentativa de cumprir as exigên- ses?”. Apenas bem mais tarde descobrimos que

cias do professor? não se pode partir do nada. E mais: que fazer


síntese não é fácil. Essa “descoberta” é confir-


Pressuposto: O texto na escola não é visto


como um ato de comunicação entre um escritor mada hoje pelo que leio em um folder da orga-

e um leitor, como um escrito que precisa desper- nização educacional Avante, com sede em Sal-

tar o interesse do leitor. vador. O folder divulga um programa de estu-


dos coordenado por Ana Maria Kaufman, pro-


4. Que erros de ortografia e gramática foram en-


fessora de Letras e Filosofia da Universidade de


contrados no texto? Esses erros atrapalham a


comunicação entre o autor e o leitor? Como? De Buenos Aires. Eis o que encontro na seção so-

que forma? bre os objetivos do curso:


50
PAINEL 4
Correspondência entre professores como estratégia de formação continuada

Abrir um fórum de debates sobre um tipo de tex- diferentes tipos de língua escrita […] A autora,



to particular para onde confluem de maneira para maior esclarecimento, cita as idéias de



especial as práticas de leitura e escrita: o resu- Ana Teberosky [...]”.


mo. Comentar investigações recentes sobre a


Ao longo dessa experiência, repetimos,


construção de resumos escritos. Propor alterna- aprendemos que não se parte do nada. As ins-



tivas didáticas para o ensino de resumos. E so-
truções ou orientações não criam a possibili-


bre o conteúdo: a complexidade do resumo


dade de decolar. Das instruções sobre “como


como tipo particular de texto. As estratégias in- 51


fazer” saltamos para a prática de “fazer” e “mos-
fantis para resumir textos expositivos e a quali-


trar como”: escrevemos nossas próprias sínte-


dade dos produtos obtidos.


ses e enviamos esses textos aos grupos. No ar, a



Sem entrar fundo em minúcias técnicas, re- tensão entre partir de uma base conhecida e não


ser diretivo. Em seguida programamos um mo-


sumo é síntese. Tive vontade de voar para Sal-


mento presencial e fizemos sínteses juntos. A


vador. Não deve ser essa a atitude de professo-


partir daí, o fazer junto veio complementar nos-


res e formadores? Como diz Perrenoud, para


desenvolvermos competência profissional, pre- sa correspondência.


Outro tipo de síntese praticada foi aquilo

cisamos pôr em jogo tudo o que sabemos e, di-

ante de situações emergentes das quais não ○

que chamamos de “Relato de discussão”: uma
síntese das discussões em grupo. O registro es-

damos conta, sair em busca de mais conheci-


mentos. Conhecimentos que devem ser recur- crito ganhou mais força ainda nesse momento,

sos para agir. como subsídio para o “Relatório Final” – às ve-


zes coletivo, às vezes organizado pela coorde-


De fato, aprendemos com os desafios da


nadora do grupo. Queríamos ter uma partici-


prática que é difícil escrever síntese. Bem cedo,


os professores, em seus relatórios escritos, mos- pação vicária na reunião. Interessava-nos “ver”

traram-nos suas dificuldades em ler e sinteti- o que estava acontecendo, por intermédio dos

olhos dos autores do relato. Esse trabalho de


zar textos. O que fizemos, então? Elaboramos


síntese, é claro, envolvia fazer recortes na reali-


um conjunto de orientações sobre como fazer


sínteses. A partir daí, acompanhamos a evolu- dade, selecionar e explicitar falas e fatos, fun-

ção da escrita dos professores. O estudo do pro- damentar afirmações, para que o leitor pudes-

se ter acesso ao objeto retratado e apreciar com


cesso vivido por um dos grupos de estudo está


mais segurança as avaliações e as conclusões


relatado no último número da Revista Brasilei-


ra de Estudos Pedagógicos (nº 195). das observadoras participantes. Que tarefa



No início, a “síntese” era cópia mecânica de complexa! Outra vez percorremos o mesmo ca-

partes do texto original: cópia de palavras, não minho: instruções escritas, devolutivas, fazer

junto.

a reprodução de idéias. Trechos inteiros eram


copiados e rearrumados sem preocupação com



a coerência e a coesão textuais, comprometen- O discurso generalizante



do com freqüência as idéias do autor. Muitas


dos relatos-sínteses

vezes, o novo escrito apresentava a mesma es-


trutura de parágrafos do original.


Com o tempo fomos percebendo que os re-


Daí até o texto novo, síntese de idéias, pro- latos-sínteses eram genéricos, abstratos, sub-

dução autêntica do grupo, foi uma longa ca- jetivos. Enfim, refugiavam-se em um discurso

minhada. Segue-se um exemplo, extraído do generalizante. Para essa questão mobilizaram-


relatório de uma das professoras, no qual o


se, então, nossos esforços. Aprendemos, nessa


grupo mostra ter apreendido a idéia de que, nova empreitada, que sair das generalidades e

numa síntese, fazemos sempre referência aos colocar o foco no específico, no concreto, no

textos que estão sendo sintetizados: “Beatriz detalhe é um desafio maior do que o nosso pri-

Cardoso ressalta que um dos possíveis objeti- meiro olhar poderia distinguir. Seguem-se dois

vos da escola é criar na própria sala de aula episódios identificados na correspondência




entre a professora formadora e os professores


sua cabeça está povoada de depoimentos, nar-


em formação. No primeiro, trechos do discur- rativas, fatos, que levaram as professoras a apro-



so generalizante do relato de uma professora fundar sua reflexão. Fico curiosa para conhecer


essas manifestações das professoras.


são tematizados na devolutiva da professora


formadora. Como avanços, você registra: segurança na



retomada das recomendações, crescimento, in-
No primeiro episódio, a professora relata…


teresse, mudanças na prática (em que você ba-



seou essa conclusão?). Essas são palavras mui-


Uma discussão significativa houve ainda em
to genéricas e subjetivas. Precisamos de infor-


torno da escola […] Os grupos têm crescido de


mações mais objetivas. No item 6, você diz que


modo considerável [...] Nossas coordenadoras


os objetivos do Módulo 1 foram alcançados. A que
vêm buscando alternativas [...] gerando mudan-


conteúdos você se refere? E quais são, no con-


ça significativa em nossos professores. Avanços:


creto, os objetivos do Módulo 1? Gostaria que


segurança na retomada das recomendações,
você fosse mais explícita sobre os resultados da


acrescentando conhecimentos adquiridos e ex-

aprendizagem no seu grupo e ilustrasse suas

periências a partir dos encontros subseqüentes, ○

afirmações com exemplos concretos.
quando ocorreu o texto das recomendações [...]
Seu relatório é bom de ler e suas notícias,

O crescimento e o interesse dos cursistas a par-


boas de ouvir. No entanto, um relato escrito pre-


tir da prática […] mudança na prática.


cisa ser menos subjetivo, mais específico. Preci-


sa recorrer a exemplos e a fatos concretos para


… e a formadora responde:

demonstrar a qualquer leitor atento que a apreci-


ação feita pelo autor do relato tem fundamento



Lendo o seu relatório, senti falta de informa- na realidade. Precisa descrever situações, retra-

ções mais detalhadas sobre o andamento do cur-


tar o clima das reuniões, a fim de que o leitor


so em seu município. Suas observações são mais possa “enxergar” os acontecimentos por meio das

genéricas do que específicas, mais gerais do que palavras (e dos olhos) do narrador. Essas são

particulares, mais abstratas do que concretas [...]


propriedades do texto escrito, em razão de sua


não registram depoimentos, exemplos de práti- própria natureza: escritor e leitor não comparti-

cas, posicionamento de professores.


lham todas as informações.


Por exemplo, você diz: O escritor faz recortes na realidade para dar

1. que a diferença entre o letramento e a alfabe- ao leitor, que está distante dos fatos, a idéia mais

tização foi compreendida, mas não diz qual foi


completa possível do que ele observou e viveu.


esse entendimento; O escritor tem um conhecimento direto do pro-



2. que houve uma discussão significativa em tor- cesso, o leitor, só um conhecimento indireto. Pre-

no da escola e que o grupo pôde trocar experi- cisa de detalhes, de informações precisas, de

ências e sugerir melhorias, mas não diz o que foi descrições, de bons recortes na realidade, para

que deu significado à discussão nem que experi- poder formar um quadro mais fiel do que de fato

ências foram trocadas ou quais as melhorias se passou. E também para fazer a sua própria

sugeridas; avaliação dos fatos, sem ter de se valer apenas



3. que os grupos têm crescido de modo conside- da opinião subjetiva do escritor.



rável graças à ação desenvolvida pelas coorde-


nadoras [...], mas não dá exemplos que mostrem No segundo episódio, a professora, autora

o crescimento do grupo nem explicita as ações do relato, delimita, detalha, especifica, explicita,

desenvolvidas; retrata os fatos com objetividade, mostrando


que superou a tendência generalizante dos seus


4. que as coordenadoras vêm buscando alterna-


tivas para desenvolver um bom trabalho, garan- relatos iniciais.



tindo assim uma mudança significativa, mas não



diz que alternativas são essas nem dá uma idéia A Professora Maria Inês do PC-2 tinha bas-

do que é um “bom trabalho”, na concepção do tante resistência às orientações do Formar/



grupo, e qual a mudança que se pretende. PROFA. Somente após a leitura e a exibição do

Quando você diz que a troca de experiên- vídeo da U7 “Como ler sem saber ler” mudou sua

cias tem enriquecido os trabalhos, eu imagino que maneira de pensar. Propôs a seus alunos que

52
PAINEL 4
Correspondência entre professores como estratégia de formação continuada

lam em seus encontros com a língua escrita: as


formassem conjuntos com os nomes dos cole-


gas da sala. Sua aluna de cinco anos e seis me- hipóteses de escrita. Não lhes interessa muito



ses montou os conjuntos e fez a leitura dos no- saber que hipótese é uma idéia que alguém tem


mes Rafael e Rodolfo. A professora pediu que ela


sobre o modo de ser de alguma coisa. Querem


lesse. Ela leu. A professora perguntou: “Como fazer corresponder os esquemas, as palavras:



sabe que está escrito Rafael e Rodolfo?” A aluna
“As hipóteses de leitura são as mesmas que as


respondeu: “Rafael começa com ‘Ra’, igual ao tio


da escrita?”, perguntam. Não importa que se-


Raul, e Rodolfo termina com ‘fo’, igual ao meu 53
jam processos diferentes. Como estão sempre


urso Fofo.” A professora fez outras perguntas re-


juntos, os olhos vão transferindo de um para o


lacionadas à atividade, e sua aluna respondia a


outro os nomes aprendidos, sem pensar em


partir das intervenções da professora. A partir


dessa experiência, a professora constatou que é idéias. Por isso, enquanto se alinham com a pro-


posta de alfabetização com textos, os professo-


possível, sim, ler sem saber ler.


res ainda pedem “técnicas para trabalhar com



Esse registro explícito, detalhado, ilustrativo professores cursistas para que não aconteçam



recebeu da professora formadora o seguinte co- mais desistências”. E a formadora responde:



mentário: “Quero ainda dizer que você conse-

guiu sair das generalidades e ser específica e Você solicita sugestões de técnicas para tra-

balhar com os cursistas. Se você está se referin-


objetiva em sua narrativa, ilustrando, exemplifi-

do à metodologia de trabalho em grupo, poderei


cando. Parabéns!”

localizar algum texto que trate desse assunto e


A maior descoberta, no entanto, é que nós


lhe enviar. Mas as razões das desistências pre-


mesmos, professores-formadores, não estamos

cisam ser mais analisadas. Certamente há ou-


tão libertos dessa tendência ao discurso genera-


tros fatores. Quais seriam os mais determinantes?


lizante. Precisamos abrir o nosso discurso como


Raramente é um só, não é verdade? Suponho


contribuição à clareza do diálogo. Do contrá- que alguns deles sejam: sobrecarga de trabalho,

rio, estaremos trocando discursos vazios, sem


falta de compromisso com a mudança, interes-


idéias. A realidade escolar, que temos como


ses concorrentes, indisponibilidade para o estu-


meta mudar, pode permanecer intocada. do e a reflexão… E, é claro, também a falta de



estratégias adequadas de estudo em grupo.


Escrita: discurso e linguagem



Mais adiante observamos que, no início, o



Como poderá a correspondência ajudar a exercício de reflexão levava o registro para o


melhorar a escrita dos professores? Até aqui,


lado da pura emoção. E o que poderia ser uma


procuramos mostrar alguns flashes da aprendi- oportunidade de aprofundamento teórico não



zagem do discurso próprio da escrita. Vamos ia além de um diário sentimental. Hoje, o texto

acrescentar mais um: a reflexão. reflexivo já emerge. Seguem alguns trechos do


Somos herdeiros de uma tradição escolar


relato de uma professora:


mecanicista, mas refletir é preciso, cada vez



mais. O processo de construção de um texto é Quando eu pensava em lecionar em uma sala



um momento privilegiado de reflexão, de apro- de alfabetização, sentia até arrepios, eu me acha-


fundamento do pensamento.

va incapaz de alfabetizar alguém, isso era um bi-


Estamos agora envolvidos com o registro cho de sete cabeças. Tinha certeza de que as

(ou o relato) reflexivo. Notamos que, na hora da pessoas nasciam, ou não, com o dom de alfabeti-

reflexão, o pensamento dos professores trope- zar. Soube, no final de 2000, que o Formar iria

ça em palavras e em esquemas. As perguntas transformar-se em PROFA e que seria um curso



que eles propõem procuram definições para sobre “alfabetização”. Não hesitei e me inscrevi.

“síntese”, “resumo”, “esquema”, um festival de Queria descobrir o segredo que havia por trás

dessa palavra “alfabetização” e tinha a certeza de


palavras. O campo semântico que elas cobrem


não chega a despertar interesse. Eles estão agora que iria encontrar a receita certa para alfabetizar.

estudando as hipóteses que as crianças formu- Juntamente com o início desse curso, resol-

novo, mas previsível, foi o seguinte: o texto co-


vi, em março de 2001, alfabetizar meu irmão


Gabriel de quatro anos e dez meses, que está piado era sem erros gramaticais. O texto



cursando o Pré I. E em abril de 2001, comecei a construído pelos autores era gramaticalmente


lecionar em uma sala de estimulação e apoio, na


problemático. Mas, com o tempo, forma e con-


Apae, onde recebo, entre outras, crianças defa- teúdo foram começando a se integrar.



sadas que, às vezes, já estão há três anos na 1ª
Em nossa avaliação, a correspondência na


série, passam então para a 2ª série sem estarem


formação de professores é um fator determi-


alfabetizadas e ficam perdidas. A professora logo
nante do sucesso no desenvolvimento da capa-


diz que a criança deve ter algum problema men-


cidade leitora e escritora, e isso significa desen-


tal e assim elas acabam parando na Apae, mais


volvimento do pensamento.


particularmente na sala de apoio.


Abracei essa nova causa com muito gosto (o Devemos ressaltar, no entanto, que os fatos


relatados mostram que é fundamental tratar os


Gabriel era minha cobaia e já não tinha tanto


interlocutores professores com respeito. Uma


medo do fracasso) e, com a idéia mais amadu-


recida sobre alfabetização, comecei a alfabetizar forma importante de mostrar respeito é nunca


essas crianças, reunindo tudo o que havia apren- ○
deixar os professores sem resposta: a correspon-
dido no PROFA e mais algumas coisas que iam dência deve ser co-respondência.

surgindo, vindo deles. Nossa, eles estão sendo Além disso, é preciso que o diálogo seja per-

um sucesso! manente. O período de quatro anos que esta-


Atualmente, no PROFA, aprendi a importân-


mos relatando foi contínuo, e é nítida a diferen-


cia de trabalhar com textos, e que todo esse pro- ça entre os que permaneceram e os que apenas

cesso, como os outros, deve ser bem-feito, le- passaram pelo projeto.

vando em conta vários aspectos, que não mencio-


Por último, last but not least, é preciso man-


narei aqui. Essa é minha nova meta, daqui em


ter uma relação em rede, um trabalho entre pa-

diante. As crianças estão amando e eu, com tudo


res. Nesses quatro anos de diálogo permanente

isso, percebi que para alfabetizar não se precisa


em rede aprendemos muito. Mas ainda há mui-


nascer com dom, basta ter boa vontade para


to a aprender.

aprender, nunca se acomodar com o que sabe e


atualizar-se sempre mais sobre o assunto. Devo



tudo isso ao PROFA e aconselho a todos os pro-


fessores que desejam alfabetizar a experimentar Bibliografia



o PROFA, e irão descobrir um mundo novo, onde


MORAES, Euzi R. A evolução da leitura e da escrita de um


alfabetizar é um sonho real.


grupo de professores: estudo de caso. Revista Brasilei-


ra de Estudos Pedagógicos (RBEP), Brasília, v. 80, nº


No Projeto Formar, a adesão é voluntária. O


195, p. 212-232, maio/ago. 1999.


diálogo em rede desenrola-se a partir de com- PERRENOUD, Phillippe. Palestra proferida no Encontro da

binados. Esse princípio favorece também a ação


Rede PROFA, em Brasília, 8 de agosto de 2001.


dos professores-formadores sobre questões de PROJETO FORMAR. Textos variados de professores parti-

redação. Consultados sobre o seu interesse em cipantes (ago. 1997-dez. 2000).


PROJETO FORMAR/PROFA. Textos variados de professo-


receber devolutivas sobre problemas de discur-


res participantes (fev. 2001- ).


so e linguagem nos textos de seus relatórios, os

professores manifestaram-se a favor. Desenvol-



vemos, então, um trabalho sistemático de revi-



são comentada dos seus textos. No estudo pu-


blicado na RBEP, já mencionado, apresentamos



alguns dos problemas verificados e mostramos



os avanços dos professores no uso da língua



padrão. Em poucas palavras, o que aconteceu


foi que, na elaboração da síntese, os professo-



res avançaram da cópia mecânica para o texto



autêntico, novo, de sua própria autoria. O fato


54
PAINEL 5

FORMAÇÃO DE
PROFESSORES NO PROJETO
SABER EM MOVIMENTO
Caio Martins e Marcelo Barros Silva

55
Informações sobre o Projeto




Saber em Movimento






Caio Martins e Marcelo Barros Silva



Escola Pública – Santos/SP








O Projeto Saber em Movimento, voltado ao atividades esportivas e culturais no período



segmento de 5ª a 8ª série, está sendo desen- extra-escolar, capacitando os orientadores



volvido em caráter piloto em oito escolas mu- educacionais das escolas e os técnicos dos pro-


gramas extra-escolares;

nicipais de Ensino Fundamental de Santos
(SP), que somam aproximadamente 3.500 alu- ○

○ • viabilizar a locomoção dos alunos aos centros
nos, com vista à construção de oportunidades esportivos, culturais e comunitários, por meio

de subvenção do transporte e em parceria com


de acesso dos adolescentes às manifestações da


a concessionária de transporte público local.


cultura corporal de movimento – jogos, espor-


tes, danças, lutas e ginásticas – que, na escola, O Projeto está sendo realizado desde o ano

são oferecidos pela Educação Física e, no perío- letivo de 2000, em parceria com a Prefeitura

do extra-escolar, pelos programas esportivos, Municipal de Santos, por meio de suas Secre-

culturais e comunitários da cidade. tarias de Educação, Esportes, Cultura e Ação



Para tanto, o Projeto tem tratado de: Comunitária, junto com o Sesi; quatro entida-

• qualificar a Educação Física escolar, capacitan- des sociais (ONGs); Faculdades de Educação

do seus professores – com base nos Parâme- Física da Unimonte e Unisanta e com o Expres-

so Metropolitano.

tros Curriculares Nacionais do MEC – e mu-


nindo as escolas com os materiais e equipa- O processo de capacitação dos quase oiten-

mentos necessários; ta educadores envolvidos no Projeto se realiza



• incentivar e orientar a realização de projetos em serviço e vem resultando em:


• construção de instrumentos didático-pedagó-


interdisciplinares, que a Educação Física tem gran-


de potencial de mobilizar, capacitando a equipe gicos pelos professores de Educação Física;



escolar: coordenadores pedagógicos, professores • realização de projeto interdisciplinar por cada



de Educação Física e de outras disciplinas; uma das escolas (ver anexo);



• promover o diálogo e a articulação entre a es- • 360 alunos inseridos nas atividades extra-es-

cola e os programas públicos que desenvolvem colares oferecidas pela cidade.








Anexo


Descrição sumária dos projetos interdisciplinares



desenvolvidos no ano letivo de 2000





EMEF José da Costa e Silva Sobrinho. O eixo conhecimento, a equipe técnica experi-

temático do projeto foi a prática do skate, mentou nova metodologia de trabalho para

cujo desenvolvimento envolveu todas as a organização e a execução do projeto, in-



disciplinas da 5ª à 8ª séries do Ensino Fun- cluindo dinâmica de encontros, instrumen-


damental. Como resultado, além das con- tos de registro e avaliação permanente, es-

quistas de aprendizagem em cada área de tudo dos PCN para localização de conteú-

56
PAINEL 5
Formação de professores no Projeto Saber em Movimento

uma trama de corda para práticas corporais


dos a serem trabalhados, formas de enca-


minhamento da participação dos alunos, e a pintura de mural tematizando as modali-



assim como favoreceu a concretização dos dades olímpicas, ambos realizados pelos alu-


produtos finais planejados. nos na área externa da escola. O percurso de



trabalho envolveu a apreciação de vídeos de


EMEF Mário de Almeida Alcântara. O proje-
diversas modalidades esportivas, suas práti-


to foi inspirado na Olimpíada de Sidney, para


cas adaptadas às aulas de Educação Física, o


o qual os alunos desenvolveram uma pesqui-


estudo da representação da figura humana 56
sa repleta de conteúdos nas áreas de Educa-


em movimento, as técnicas relacionadas à


ção Física, Inglês e Artes. Como produto fi-


pintura de murais e as utilizadas para a con-


nal realizaram um evento aberto à comuni-


fecção de tramas de corda.
dade, composto de sete estandes informati-



vos sobre modalidades olímpicas, jogos EMEF Vinte e Oito de Fevereiro. O projeto



amistosos, projeções sobre a cidade de tematizou o basquete. Um filme foi utilizado


Sidney e uma instalação artística construída para promover a discussão com os alunos e



em ferro, madeira e tecido. No desenvolvi- com a equipe docente que, de pronto, perce-


mento do projeto, alunos e professores


beu o potencial educativo contido na explo-


aprenderam, para além do conhecimento re- ração do tema. A decisão de elaborar uma re-


lacionado à Olimpíada de Sidney, as habili- ○
vista sobre o basquete, como produto final,
dades necessárias à execução de uma feira e,

possibilitou diversificar os conteúdos a serem


principalmente, como essas aprendizagens pesquisados e. ao mesmo tempo, sinalizou



são facilitadas pela cooperação nas relações. aprendizagens específicas a serem adquiridas

EMEF Martins Fontes. O foco do projeto foi nas áreas de Educação Física, Língua Portu-

o espaço escolar como local de convivência e guesa e Artes. O conhecimento necessário ul-

de prática corporal. Integrando as áreas de trapassou as áreas envolvidas inicialmente,



Educação Física e Artes, as atividades busca- quando os alunos, para entender mais sobre

ram voltar o olhar do aluno para a potencia- o que tinham descoberto, buscaram amplia-

lização do uso do espaço e dos equipamen- ção da informação nas áreas de Matemática,

História e Ciências.

tos escolares. Os produtos do projeto foram









































PAINEL 6

ARTICULAÇÃO
ENTRE FORMAÇÃO INICIAL E
CONTINUADA DE PROFESSORES
Maria Corrêa da Silva

Célia Finck Brandt e Sydione Santos

Lourdes Lúcia Goi e Isabel Cristina Auler Pereira

Eliane Gomes Quinonero e Kátia Diniz

59
Articulação entre formação inicial




e continuada de professores






Maria Corrêa da Silva



Seduc/AC








Breve contextualização no Fundamental, 4,8% no Ensino Médio, uma



distorção idade–série de 50,3% no Ensino


O Acre, estado mais ocidental do Brasil,


Fundamental e de 57,5% no Ensino Médio. O


embora integrando a Região Amazônica, pos-

abandono fica em 16,3% no Ensino Funda-

sui peculiaridades que o tornam distinto no ○
○ mental e, no Ensino Médio, em 19,5%.
cenário amazônico, tanto no que se refere às O estado conta com 7.463 professores,

características geográficas, quanto no tocan-


dos quais 860 possuem 1º grau, 3.755 têm


te às condições para o desenvolvimento hu-


Magistério de nível médio e 2.345 fizeram


mano e social. curso superior.



Possui uma população de 557.337 habi- Diante desse quadro, surge a indagação:

tantes, com mais de um terço concentrado na


“Como garantir a qualidade da educação no


capital, e os demais distribuídos entre 21 mu-


estado e reverter os índices de fracasso es-


nicípios integrados, em sua maioria, somen- colar?”


te por via aérea.



Ao contrário de outros estados da Ama-


Construindo uma proposta


zônia, o Acre não conta com hidrovias inte-


de formação inicial

grando a maioria dos municípios, uma vez


que os rios são todos paralelos. Além disso, o


de professores

solo não tem pedra, dificultando a constru-



ção de rodovias. O desafio estava posto: mudar os rumos



Tudo isso contribui para o isolamento das da educação no estado enfrentando as limi-

populações, principalmente a população ru-


tações de ordem geográfica, econômica e es-


ral. Nesse cenário se impõe o desafio de fazer trutural, elegendo como foco principal o pro-

educação. fessor como agente desencadeador de mu-



danças no âmbito da escola.



Alguns dados sobre Entendendo que muito pouco poderia ser


feito pela qualidade da educação sem inves-


a educação no Acre

tir na formação dos seus professores, a Secre-



O Acre possui uma rede com 1.717 esco- taria de Educação do Estado iniciou, em 1999,

las, das quais 1.364 são rurais e 353, urbanas. as primeiras aproximações com a Universida-

de Federal do Acre (Ufac), no sentido de se


Destas urbanas, 188 são estaduais, 123 são


municipais, 41 particulares e 1 é federal. firmar uma parceria para garantir a formação



Em 2001, a matrícula inicial (dados preli- de seus professores.


Dois foram os objetivos que nortearam


minares) foi de 180.838 alunos, dos quais


essa parceria:

124.156 pertencem à rede pública estadual,


45.794 são das redes públicas municipais e • garantir a oferta de cursos numa abran-

10.888 da rede particular de ensino. gência significativa dos docentes e municí-


pios do Estado;

Os indicadores de qualidade em 2000


• rever as estruturas curriculares dos cursos


apontam uma reprovação de 11,2% no Ensi-


60
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores

da Ufac, de modo a aproximá-las das reais sica, num total de 37 turmas distribuídas em



necessidades do sistema, tomando por base 9 pólos, atendendo os professores das redes



as Diretrizes e os Parâmetros Curriculares estadual e municipais de ensino de 16 municí-


Nacionais, permitindo mais flexibilidade,


pios. Tais cursos foram destinados aos profes-


além do eixo norteador de associação entre sores efetivos que, embora atuando de 5ª a 8ª


teoria e prática.


séries e no Ensino Médio, não possuíam a for-



Ao tempo em que construíam os projetos mação adequada.


de formação inicial, a SEE aderia ao Progra- Foi firmado um convênio entre o Governo 60



ma de Formação Continuada do MEC Parâ- do Estado e a Universidade Federal do Acre no



metros em Ação, envolvendo mais de 87,7% valor de R$ 3.458.415,00 (três milhões, quatro-



dos professores de Educação Infantil de 1ª a centos e cinqüenta e oito mil, quatrocentos e


4ª série, e de 5ª a 8ª séries do Ensino Funda- quinze reais). E as prefeituras também firma-



mental e da Educação de Jovens e Adultos, ram convênios específicos com a Ufac.



num total de 4.835 professores. Considerando as limitações que a univer-


Em 2000 ficou pronto o Programa de For-


sidade teria para, sozinha, garantir um pro-


mação Inicial de Professores para a Educa- grama efetivo de interiorização, à exceção de



ção Básica (Prosaber), destinado aos profes- Rio Branco, nos demais municípios, além do

sores que atuam de 5ª a 8ª séries e no Ensi- atendimento aos professores, foram dispo-

no Médio.

nibilizadas vagas para a comunidade.


Foram estruturados seis cursos em regime O quadro abaixo apresenta o detalha-



modular, nas áreas de Matemática, Letras, mento da oferta dos cursos e sua abran-

Geografia, História, Biologia e Educação Fí- gência.





Professores
No Municípios-pólos Comunidade Total

Total
Estadual Municipal

1 Rio Branco (inclui Bujari e Porto Acre) 200 – 200 – 200



2 Xapuri 27 6 33 167 200



3 Sena Madureira 50 16 66 134 200



4 Plácido de Castro (inclui Acrelândia) 54 7 61 90 151



5 Brasiléia (inclui Epitaciolândia) 51 3 54 146 200



6 Tarauacá 66 13 79 121 200



7 Feijó 20 3 23 128 151



8 Senador Guiomar (inclui Capixaba) 43 7 50 100 150


9 59

Cruzeiro do Sul 193 252 150 402


Total geral 114


704 818 1.036 1.854





São cursos com duração de três anos, com a Ufac, para formar em nível superior os pro-

uma estrutura curricular que inclui um tronco fessores que atuam na Educação Infantil e

comum de 840 horas e parte diversificada vari- nas séries iniciais do Ensino Fundamental.

ando em carga horária conforme o curso, com Coincidindo com a aprovação das Diretri-

um mínimo de 1.215 horas. Estão funcionando zes, concluímos um novo programa, dessa

em todo o estado desde fevereiro de 2001. vez para oferecer um curso de Pedagogia mo-

Paralelamente à discussão que se levava dular voltado para a formação de docentes da



em âmbito nacional, relativa às Diretrizes Educação Infantil e séries iniciais do Ensino



para a Formação de Professores para a Edu- Fundamental, com duração de quatro anos,

cação Básica, ia-se delineando também no carga horária de 3.240 horas e estrutura

estado um outro programa, em parceria com curricular detalhada na próxima página.





Carga Carga


Disciplinas Disciplinas
horária horária




Formação básica Estudo das áreas específicas


do conhecimento


Fundamentos da Educação 60



60 Fundamentos do Ensino de Língua Portuguesa 45
Fundamentos da Pesquisa Pedagógica



Literatura Infantil 60


Investigação e Prática Pedagógica 165



Organização da Educação 60 Ensino de Língua Portuguesa na Educação Infantil e


nos anos iniciais do Ensino Fundamental 120


Identidade Profissional, Profissão e Cidadania no


Investigação e Prática Pedagógica em Língua


Magistério 60


Portuguesa 45


Organização do Trabalho Pedagógico 60


Fundamentos do Ensino de Matemática 45


Planejamento e Avaliação Educacional 90

Elementos de Estatística Aplicada ao Ensino 60

Desenvolvimento e Aprendizagem Humana 60 ○

Ensino de Matemática na Educação Infantil e


Fundamentos da Educação Especial 60


nos anos iniciais do Ensino Fundamental 120

Tecnologia da Comunicação e Informação 60


Investigação e Prática Pedagógica 45


Abordagens Metodológicas no Ensino 60


Fundamentos do Ensino de Ciências Naturais 45


30

Oficina Pedagógica Ensino de Ciências Naturais na Educação Infantil e



Subtotal 825 anos iniciais do Ensino Fundamental 120



Formação comum Investigação e Prática Pedagógica em Ciências Naturais 45



de professor multidisciplinar Corporeidade e Movimento 60



Crescimento e Desenvolvimento Infantil 60 60


Jogo e Educação

Abordagens Metodológicas no Ensino Especial 90 Investigação e Prática Pedagógica


em Educação Física 45

Fundamentos da Educação Infantil 60



Fundamentos do Ensino de História 45


Fundamentos da Alfabetização 75

Ensino de História na Educação Infantil e


Investigação e Prática Pedagógica 30


nos anos iniciais do Ensino Fundamental

120

Oficinas Pedagógicas 30

Investigação e Prática Pedagógica em História 45


Subtotal 345

Fundamentos do Ensino de Geografia 45


Formação específica

Ensino de Geografia na Educação Infantil e


de professor multidisciplinar

nos anos iniciais do Ensino Fundamental 120



Educação Infantil Investigação e Prática Pedagógica em Geografia 45



Organização da Educação Infantil no Brasil 75 Fundamentos do Ensino de Artes


45

Instituições de Educação Infantil e cotidiano 60


Ensino de Artes na Educação Infantil e nos anos


45 iniciais do Ensino Fundamental


Investigação e Prática Pedagógica na Educação Infantil 120



Anos iniciais do Ensino Fundamental Oficinas Pedagógicas sobre Artes (temas básicos:

teatro, musicalização infantil e desenho) 30


Organização da educação no Ensino Fundamental 75


Investigação e Prática Pedagógica no Ensino de Artes 45


Temas Especiais do Ensino Fundamental (Educação Indíge-



na, Ensino Multisseriado, Educação de Jovens e Adultos) 75 Subtotal 1.575



Investigação e Prática Pedagógica Trabalho de conclusão de curso 120


45

Subtotal 375 Total geral do curso 3.240



62
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores

O curso foi pensado para funcionar também


A experiência vem sendo acompanhada pelos


nos nove pólos já definidos, atendendo à clientela professores da rede de formadores dos PCN, que



de 16 municípios, num total de 55 turmas, das promove momentos para avaliação juntamente



quais 27 ficam em Rio Branco. Iniciou-se em Rio com os formadores e a coordenação do curso de


Branco, no final de agosto de 2001, devendo co-


Pedagogia.


meçar nos demais pólos até novembro. Foram be- Depoimentos dos alunos vêm mostrando que a



neficiados 2.250 professores da rede estadual e 454 inserção do PROFA na graduação levou para o curso


professores das redes municipais de ensino, con- 62


uma nova dinâmica de trabalho, abrindo um campo


forme detalhamento no quadro abaixo. de possibilidades para se desenvolver trabalho simi-



lar em outras áreas do conhecimento.


Nº Municípios-pólos Professores da Professores das Total


rede estadual redes municipais A experiência de aproximação entre a for-



1 Cruzeiro do Sul (inclui Mâncio Lima e Rodrigues Alves) 387 144 531 mação inicial e a formação continuada no Es-


tado não se encerra com a inserção do PROFA


2 Sena Madureira 21 56 177


na Pedagogia. Mais recentemente, e pelas
3 Brasiléia (inclui Epitaciolândia) 84 37 121



mesmas razões, decidiu-se inserir nos cur-
4 Tarauacá 126 15 41


sos do Prosaber a formação continuada rela-

5 Plácido de Castro (inclui Acrelândia) 54 25 79

tiva ao meio ambiente. Os cursos de Licencia-

6 Senador Guiomard (inclui Capixaba) 85 ○
27 112
tura também previam a oferta de Educação

7 Feijó 77 20 97

Ambiental, permitindo, assim, a realização da


8 Xapuri 72 13 85 formação continuada de meio ambiente in-



9 Rio Branco 1.244 117 1.361 tegrada à formação inicial dos professores de

2.704

Total 2.250 454 5ª a 8ª séries e Ensino Médio.



Além da formação continuada associa-


da à formação inicial, a SEE mantém turmas de for-


Formação continuada de

mação continuada para professores que já pos-


professores: um jeito de fazer


suem curso superior (quatro turmas do PROFA e



Em 2000 e início de 2001, os professores em todo oito turmas de PCN – Meio Ambiente).

o estado haviam concluído a formação continuada


Algumas conclusões

nos Parâmetros Curriculares em Ação. Junto às as-


sessorias do MEC nessa área, novas demandas fo-


O desafio de fazer educação com qualidade


ram geradas para a continuidade do trabalho com


para todos no Acre nos permite concluir que:


os PCN. Na ocasião, o Ministério acenava com a pos-


1. A formação inicial dos professores em nível supe-


sibilidade de um trabalho voltado para a formação


rior pode representar um salto qualitativo e de-

de professores alfabetizadores por meio do PROFA.


sencadear mudanças importantes nos sistemas


Ao mesmo tempo em que vislumbrávamos um


educacionais.

trabalho nessa área com os professores do estado,


2. A formação continuada, associada à formação ini-


deparávamos com a impossibilidade de oferecer a


cial, pode possibilitar a construção, com as uni-

capacitação, uma vez que a quase totalidade dos


versidades, de novos desenhos para a formação


professores estava cursando Pedagogia e não teria


de professores, na medida em que ensejam o tra-


tempo disponível para a formação continuada. balho com novas dinâmicas, associando teoria e

Isso fez com que buscássemos (MEC, SEE e Ufac) prática e a discussão do que é significativo para

a alternativa de integrar a formação continuada à for-


responder às reais necessidades do sistema.


mação inicial, já que na estrutura curricular do Cur-


3. A excelência em educação também pode ser bus-


so de Pedagogia havia disciplinas voltadas para for- cada por estados considerados periféricos, com

mar o alfabetizador. Incluído na graduação, o PROFA


déficits educacionais significativos, mesmo que


tem uma distribuição de carga horária ao longo de


para isso ainda não existam as condições ideais.


18 meses, contando com professores que também


4. As realidades de cada estado falam mais alto e,


são do estado e estão disponibilizando 20 horas de quando levadas em consideração, abrem espaço

sua jornada semanal para o programa.


para ousar, criar e inovar.


A formação de professores




para os anos iniciais do ensino




fundamental: um desafio na era




das novas tecnologias





Célia Finck Brandt e Sydione Santos *



UEPG/PR









A educação a distância, vista em contraposi- mir criticamente as mudanças.

ção ao ensino presencial face a face, como mo- ○

Cada vez mais, o professor é visto como eixo
dalidade não tradicional, típica da era industrial central da qualidade da Educação escolar, inde-

e tecnológica, permite o atendimento a milha- pendentemente do nível de ensino em que atua.



res de pessoas e a utilização de uma gama varia- A Educação, considerada como direito de todos

da de tecnologias. os cidadãos, surge como responsabilidade so-



É possível perceber que as necessidades cial a ser compartilhada pelos diversos segmen-

emergentes dos avanços tecnológicos, da tos da sociedade brasileira que buscam assegu-

mundialização da cultura e da globalização da rar uma melhor qualidade de vida a todos.


economia produzem uma crescente demanda A melhoria da educação, responsável pelos



social por formação e qualificação profissional, diferentes patamares dessa qualidade de vida

que não encontra paralelo na história. Cabe res- desejada, nas diversas áreas de vivência do ser

saltar também que essa situação se reflete no humano, encontra-se estreitamente relaciona-

mundo do trabalho que está a exigir sujeitos que da com a preparação dos quadros profissionais

possuam capacidade de adaptação a mudanças responsáveis pela excelência do ensino e pela



rápidas, à execução de novas tarefas e que se- ocorrência de aprendizagens significativas.



jam aptos à variabilidade do mercado. Isso re- Em decorrência disso, surge a necessidade

quer formação permanente e uma Educação de modificação da própria concepção do traba-



que atenda, inclusive, à possibilidade de lho do professor, agora muito mais focalizada

“recolocação profissional”. no processo de gestão da aprendizagem de seus



A EAD constitui-se numa alternativa edu- alunos e na dimensão do papel da escola que,

cacional por ser uma opção altamente viável, hoje, sofre transformações.

do ponto de vista do custo/benefício, ao esten- Em face do exposto e buscando atender a



der o atendimento a milhares de pessoas e por uma demanda social de 35 mil professores que

se utilizar de uma gama imensamente variada


atuam na Educação Infantil e em séries iniciais


de tecnologias velhas e novas, nesse processo. do Ensino Fundamental no Estado do Paraná,



Além disso, nessa visão, há necessidade de uma por formação em nível de graduação, a Univer-

completa reestruturação dos sistemas edu- sidade Estadual de Ponta Grossa, como institui-

cacionais em todas as instâncias e em todos os ção pública, instituiu um curso de graduação



aspectos: financeiros, administrativos, didáti- com mídias interativas, mergulhado no virtual,



co-pedagógicos. As oportunidades e impasses utilizando equipamentos de ponta e uma



deste início de século apresentam à Educação metodologia inovadora, buscando a competên-


o desafio de formar cidadãos capazes de assu- cia no trato das novas tecnologias, numa dinâ-




*Professoras do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Mestres em Educação. Inte-

grantes do grupo de coordenação do Curso Normal Superior com Mídias Interativas da UEPG.

64
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores

mica inédita, cujas propriedades são: conectivi- proposta não-convencional de formação de



dade, interatividade e transversalidade. professores, mediante mídias interativas, orga-



A UEPG entende que a demanda social, prin- nizadas e monitoradas pela Universidade Es-


tadual de Ponta Grossa.


cipalmente no tocante à formação de professo-


res, precisa ser enfrentada por meio de propos- O Curso Normal Superior é organizado sob a



tas ousadas, e resolve, por isso, aceitar o desafio forma de um Módulo Introdutório e quatro



de inovar com a competência e a seriedade que módulos interativos. Os módulos interativos sis-


lhes são características. Entende também que, 64


tematizam os referenciais teóricos do curso, por


para inovar, é preciso romper barreiras de ordem meio de temas e unidades, presentes na estru-



institucional e pessoal. O novo pode assustar, tura curricular, mediante a modalidade de



mas não pode intimidar. O curso conta com do- videoconferências e teleconferências. As primei-


centes de universidades e faculdades do Paraná ras são ministradas pelos docentes do curso, em



e especialistas convidados de fora do Estado, ofe- duas sessões semanais, enquanto as teleconfe-



recendo uma estrutura curricular que leva em rências estão a cargo de especialistas convida-



consideração as experiências e a formação já dos, nacionais e internacionais, sendo realizadas


adquiridas pelos professores cursistas, com a mensalmente.



utilização de um conjunto de mídias interativas. No desenvolvimento do curso, realizam-se

O curso propõe ampliar os referenciais teórico- sessões de trabalho monitorado, num total de

três sessões semanais, no decorrer dos módulos


conceituais para uma melhor compreensão de


conteúdos e formas pedagógicas, possibilitando interativos, com participação direta de tutores e



a produção e a criação de opções mais significa- assistentes, e, eventualmente, orientadores aca-



tivas de aprendizagem. dêmicos. Essas sessões são distribuídas nos dias


O Curso Normal Superior com Mídias Inte- e turnos previstos, em três modalidades: on-line,

rativas tem por objetivo: off-line e de suporte,1 nas quais, em grupos de



• Habilitar o contingente de professores em re- dez alunos, são atendidos os integrantes de uma

lação à melhoria de sua atuação na rede oficial turma.


de ensino, municipal, estadual ou particular, Estudos independentes estão previstos no



nas séries ou ciclos iniciais do Ensino Funda- decorrer da formação, à escolha do estudante/

mental e na Educação Infantil.


professor, os quais poderão ser desenvolvidos


por meio de estudos complementares, mais con-


• Cumprir com a responsabilidade social de qua-


lificar professores em formação de grau supe- vencionais, com uso de biblioteca, ou realizados

rior, pela instituição universitária, no decorrer via Internet, utilizando-se de biblioteca virtual,

desta década, em consonância com a legisla- podendo constituir-se em: sistematização cien-

ção atual. tífica, organização e análise de conteúdos de



• Ampliar os referenciais teórico-conceituais para sites, produção de recursos de tecnologia apli-



uma melhor compreensão e descoberta de con- cada à educação, docência em cursos para a co-

teúdos e formas pedagógicas menos convencio- munidade; apresentação de trabalhos em even-


nais, possibilitando a produção e criação de op- tos técnicos ou científicos de interesse profis-

ções mais significativas de aprendizagens, den- sional, entre outros, a critério do estudante/pro-

tro do coletivo das escolas, como parte de uma fessor e a partir da proposta apresentada.

grande rede integradora de geração de conheci-


Há a previsão de um trabalho de síntese ela-


mento no Estado, mediante o uso da tecnologia borada do curso, que acompanhará o desenvol-

de comunicação. vimento de todo o currículo, com uma proposta



• Possibilitar a experimentação e a avaliação, pela de sistematização gradativa do conhecimento


comunidade acadêmica paranaense, de uma acumulado e do saber apropriado nos diversos






1
Sessões on-line são caracterizadas pelo desenvolvimento das temáticas com utilização de mídias interativas ou Internet. Sessões off-line

são presenciais, com acompanhamento e orientação do tutor. Sessões de suporte são oportunizadas para administração da vida acadêmi-

ca pelo próprio estudante/professor.



momentos, a partir de reflexão e produção pes- lhar de experiências e da problematização das



soal, inspirada na construção coletiva do conhe- questões do cotidiano.



cimento, analisada e comentada em função de Nesse sentido, no contexto do curso, são re-



diferentes aspectos, à escolha do cursista. alizados momentos presenciais, sob a orienta-


O currículo proposto para o Curso Normal ção de um tutor/professor, responsável por trinta



Superior com mídias interativas observa o aspec- estudantes/professores. Esse momento é deno-



to referente à articulação entre teoria e prática, minado de sessão off-line, na qual o tutor/pro-


valorizando o exercício da docência. Os estudan- fessor orienta e acompanha um grupo de dez



tes/professores, que já são profissionais em exer- estudantes/professores por encontro, conforme



cício, têm suas próprias práticas como referen- a logística do curso.



ciais. Nesse sentido, objetiva-se: O tutor constitui-se num importante supor-


• Partir de situações concretas para que o estu- te pedagógico, cognitivo e afetivo, que estimula



dante/professor busque refletir e compreender a aprendizagem do estudante/professor. Tendo



com ferramentas conceituais, voltando à prá- por objetivo a construção de uma prática refle-
tica para modificar essas situações. ○


xiva, o tutor promove situações que permitam
• Alternar momentos de prática, reflexão, exer- ao estudante/professor discutir sua própria prá-

cício de desempenhos pedagógicos e interven- tica e seus referenciais teóricos prévios, na rela-

ção, tendo em vista a compreensão dos fenô- ção com os conceitos abordados nas temáticas

menos relevantes numa sala de aula.


que compõem os Módulos Interativos, com a fi-


nalidade de estabelecer novas relações teóricas


• Conduzir a criação de estratégias de interven-


ção mais adequadas às situações de ensino e com a sua ação docente. Insere-se, nesse proces-

de aprendizagem vividas. so, o trabalho com os Parâmetros Curriculares


Nacionais em Ação.

• Aproximar o professor do seu objeto de traba-


Os temas e unidades que compõem os mó-


lho e de estudo, propiciando o retorno à práti-


dulos interativos são trabalhados a partir de


ca refletida.

referenciais teórico-conceituais e da vivência prá-


• Desenvolver competências orientadas à inves-


tica nas áreas do conhecimento, em consonância

tigação docente.

com os Parâmetros Curriculares do Ensino Fun-



• Assegurar a articulação entre conteúdo e mé- damental, da Alfabetização e Educação Infantil.


todo, teoria e prática, objetivando aprendiza-


Os PCN em Ação servem como baliza-


gens significativas (Projeto do Curso Normal mento para as discussões e análises realizadas

Superior, 2000). durante as sessões de tutoria. O trabalho com



Nesse currículo, a articulação entre teoria e os PCN abrange momentos de simulação da



prática ocorre pela ênfase dada aos temas dos prática, estudo de casos, questionamentos

módulos interativos, articulados com os traba- para desencadear a problematização e a refle-



lhos monitorados e as vivências educadoras. xão docente, a sistematização e a socialização



A integração entre teoria e prática também do conhecimento por intermédio de diversas



se expressa na investigação de processos, na pro- produções individuais e coletivas. Criam, ain-


dução de registros e nas sínteses elaboradas no da, oportunidades no sentido de trazer, para o

decorrer do curso. Prioriza-se o desenvolvimen- contexto da formação, as narrativas orais e es-



to da autonomia cognitiva, o despertar e a ma- critas dos professores.



nutenção pessoal e coletiva, a experimentação a A metodologia problematizadora que norteia


partir do aprender mediante meios não-conven- o curso pretende romper com as práticas edu-

cionais e o prazer de aprender nas relações inter cativas que perpetuam a racionalidade técnica e

e intrapessoais. a cristalização do conhecimento. Busca-se rom-



Busca-se a ruptura com a fragmentação do per com a racionalidade técnica por meio da

conhecimento e o reencontro entre a teoria e a interação com a prática. Os saberes da prática



prática. Esse reencontro é estimulado a partir das possibilitam o confronto com a teoria estudada,

falas dos estudantes/professores, do comparti- abrindo-se espaço para questionamentos e para


66
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores

a produção do conhecimento novo. Assim a prá- Terceira vivência educadora: baseado em



tica torna-se fonte de teoria para o estudante/ questionamentos levantados a partir da sua



professor durante todo o curso. prática nas vivências anteriores, o estudante/


professor desenvolve um projeto de investiga-


A articulação entre os referenciais teórico-


conceituais e a prática em construção do estu- ção na escola, com opção de realizar também


uma pesquisa em instituição da comunidade.


dante/professor efetiva-se durante as vivências


Pretende-se a problematização, o estudo aca-


educadoras, que são momentos de reflexão prá-


dêmico e o debate de situações contextualiza- 66
tico-teóricas que ocorrem durante o curso, com


das, por meio da investigação científica. Torna-


ênfases diferenciadas e complementares, tendo


se necessário, nesse âmbito, aprender a com-


em vista as competências previstas na matriz


partilhar a reflexão pessoal em diferentes gru-


curricular. Elas são realizadas em diferentes am- pos, incluindo a comunidade, buscando-se a


bientes de aprendizagem, dentro e fora da esco-


mudança de práticas e a revisão de valores.


la, considerando a relação com os conteúdos Como produção, o estudante/professor deve



desenvolvidos nos módulos interativos e as aná- elaborar um relatório, descrevendo processos,



lises feitas a partir do trabalho com os PCN. Ao discussões e resultados da investigação reali-


final de cada vivência, ocorre uma produção es- zada, além de síntese reflexiva, a partir dos re-


crita para sistematização e socialização dos sultados.

avanços prático-teóricos. Quarta vivência educadora: tem como finali-



São propostas seis vivências no decorrer do dade articular o papel social da escola junto à

curso, a saber: comunidade. Compreende uma proposta de



Primeira vivência educadora: tem como fina- intervenção em uma instituição ou espaço da

lidade o levantamento de informações, proble- comunidade, integrando todos os referenciais


mas e necessidades, por meio de diagnóstico trabalhados nos módulos interativos, além de

realizado na escola e em classes de séries inici- envolver alunos e outros professores da escola.

ais. Pretende-se também contextualizar a es-


Como produção, espera-se o relatório da inter-


cola, analisando-a na relação com a família e venção, situando-se o contexto da ação, o pro-

com a comunidade em que está inserida. O di- cesso realizado e os resultados obtidos, acom-

agnóstico é realizado mediante observações,


panhado de reflexão sobre as mudanças da


entrevistas, análise de documentos, estudo do contemporaneidade. Trata-se de ampliar os re-



meio, buscando-se partir da prática como eixo ferenciais para compreender e atuar em con-

para a problematização, integrando a teoria


textos diversificados, valorizando-se a plurali-


como referência para a compreensão da reali- dade e a diversidade.



dade. Elabora-se, a partir disso, uma reflexão


Quinta vivência educadora: nesta vivência, o

escrita, que aponta encaminhamentos para a


estudante/professor deve realizar uma síntese


segunda vivência.

pessoal entre docência, investigação, relação


Segunda vivência educadora: visa à docência com a comunidade e construção do currículo.



reflexiva. O estudante/professor realiza um pla- É o espaço para analisar e vivenciar o currículo


no de atividades para atuar numa classe de sé-


dentro do projeto pedagógico da escola, medi-


ries iniciais, norteando seu trabalho a partir do ante troca de informações entre os professores.

diagnóstico anterior. Pretende-se que o estudan- O estudante/professor terá a oportunidade de


te/professor desenvolva a interdisciplinaridade socializar a experiência que vem acumulando



e a problematização, ao planejar, executar e ava- no decorrer do curso, buscando formas criati-



liar seu processo de ensino. Nesse momento, vas para disseminar o que compreendeu, o que

estimula-se que o estudante/professor assuma descobriu, o que produziu e criou durante seu

um processo de reconstrução da sua experiên- processo de formação. Pretende-se efetivar a



cia docente, ao orientar suas escolhas e decisões participação do estudante/professor na sua es-

teórico-metodológicas. Após a realização da cola, contribuindo para a solução de problemas



vivência, é elaborado um relatório analítico, e aperfeiçoamento do currículo. A produção


explicitando-se, teoricamente, os pontos que


esperada refere-se à contribuição oferecida ao


foram modificados na prática de sala de aula. projeto pedagógico, envolvendo os depoimen-




tos dos professores da escola e a reflexão do es- a converte em fundamento do conhecimento,



tudante/professor. fonte de teoria.



Sexta vivência educadora: o objetivo desta Dessa maneira, a prática educativa só tem



vivência é promover a organização de uma co- sentido se não perder os nexos com a prática


social, que o homem produz como ser da práxis.


munidade virtual, em que todos os atores da


prática educativa poderão participar da cons- Daí a necessidade de uma formação que possi-



trução coletiva de diferentes formas de produ- bilite a compreensão da realidade e estimule a


busca da melhoria das condições de existência


ção, sistematização e socialização do conheci-


mento, que podem ser: sites, portais, artigos, humana, numa sociedade aprendente.



jornais, fórum de discussão, bancos de expe- Da mesma forma, é importante ressaltar que



riências, entre outros. Nesse processo, ocorre a a proposta prevê processos de descoberta a se-


aprendizagem do funcionamento de uma co- rem realizados pelo estudante/professor no to-



munidade virtual, descobrindo-se as diferen- cante a novos referenciais advindos de teorias e


tes formas de implementação e de produção

informações das diferentes ciências nas áreas do
de protocolos de trabalho na Internet. Busca- ○


conhecimento que compõem o currículo. No que
se concretizar uma rede colaborativa de conhe- diz respeito a esse aspecto, para que o professor

cimento, denominada Rede Escola Ação e Re- se desenvolva como bom usuário de pesquisas,

flexão, criada e mantida pelos professores


esses resultados serão veiculados, por meio das


concluintes do curso, gerindo-se um processo


mídias interativas, assegurando o acesso a todos


de formação continuada.
os cursistas.

O trabalho realizado no Curso Normal Supe- No projeto pedagógico do curso, destaca-se



rior com mídias interativas desperta oportuni- a orientação curricular com aprendizagem ba-

dades para a reflexão sobre o significado que a seada em competências, que permitem a articu-

relação teoria/prática assume nesse contexto. lação entre as diferentes áreas do conhecimen-

Ressignificar a prática não significa privilegi- to. A aprendizagem por competências expressa

ar o ativismo pedagógico ou o praticismo didáti- a capacidade de mobilização de múltiplos recur-


co, em que se enfatiza a resolução de questões sos numa mesma situação, entre os quais, os

imediatas da prática, por meio de receitas e ações conhecimentos adquiridos na reflexão sobre as

emergenciais que não consideram o conteúdo questões pedagógicas e aqueles construídos na


teórico, histórico e político das questões relacio-


vida profissional e pessoal, para responder às


nadas com essa prática. Significa, portanto, com- diferentes demandas das situações de trabalho.

preender a prática educativa como práxis, como Por competências, entendem-se estruturas

atividade real e transformadora que supera a prá- mentais prévias a desempenhos de qualquer

tica utilitária, pois a práxis “é uma atitude mate-


natureza, não se confundindo com eles, pois são


rial do homem que transforma o mundo natural estruturas mais gerais e mais profundas. O de-

para fazer dele um mundo humano” (Vázquez, sempenho consiste nas ações – são o fazer em

1968: 3). O homem é ser da práxis que, ao trans- si. As competências geram tais ações. Não há,

formar o mundo natural, produz objetivos e a si


portanto, desempenho sem competências, nem


próprio. Esse processo ocorre historicamente, competências sem desempenho.



numa renovação contínua, por intermédio da As competências a serem adquiridas pelos



unidade homem-mundo, finalidade subjetiva e estudantes/cursistas, propostas pelo projeto do


determinismo objetivo, teoria e prática.


curso normal superior, tendo em vista os objeti-


Nesse sentido, a práxis é realizada num mo- vos que expressam o compromisso social por

vimento dinâmico que expressa autonomia e parte da Universidade Estadual de Ponta Gros-

dependência, simultaneidade e reciprocidade. sa, são mobilizadas a partir dos eixos de trata-

Além disso, a práxis só tem sentido enquanto


mento dos diferentes conteúdos propostos pelo


prática social, a qual se dá pelo trabalho coleti- currículo.



vo, em função de exigências coletivas e necessi- Estes se expressam nuclearmente pelos pro-

dades sociais, o que lhe infere qualidade social e cessos de compreensão, descoberta, produção e

68
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores

criação. Os referidos processos são contemplados educativa, ocorre no processo de criação. O exer-



por meio das atividades curriculares propostas, cício de reflexão sobre a prática será sistematiza-



seja no tocante à interação via mídias eletrôni- do durante todo o curso. Parte da observação e



cas, com os docentes do curso e convidados, seja reflexão daquilo que é realizado em suas classes


no trabalho monitorado, com suporte dos tuto- regulares e nas vivências educadoras, para com-



res e assistentes. E, ainda, nos momentos de rea- preender e atuar em situações contextualizadas,



lização dos trabalhos acadêmicos, estudos inde- buscando a interdisciplinaridade. Esse contato


pendentes e síntese elaborada de curso e, princi- com a prática real será complementado por re- 68



palmente, nas vivências educadoras a serem rea- cursos a serem utilizados nas sessões de trabalho



lizadas nas escolas e setores da comunidade. monitorado, onde os professores poderão ter



O processo de compreensão amplia os fun- acesso, por meio das tecnologias de informação


damentos e os procedimentos da prática educa- – como Internet e vídeo – às narrativas orais e es-



cional, por meio de suporte conceitual atualiza- critas de professores, às produções dos alunos, às



do e significativo para a formação e atuação dos situações simuladas e ao estudo de casos. Desse



professores da etapa inicial da educação básica, modo, as novas tecnologias podem ampliar as


compreendendo Educação Infantil e as séries ou possibilidades de discussão da prática, pois ofe-



ciclos iniciais do Ensino Fundamental. Ocorre recem múltiplas formas de registro e de aborda-

mediante as videoconferências, teleconferências gem da experiência pedagógica.



e o trabalho monitorado, que desenvolverá as Os quatro processos acima referidos consti-


competências por meio de desempenhos indivi- tuem os eixos do currículo que possibilitarão o

duais, em grupo e no coletivo. As vivências edu- desenvolvimento da autonomia cognitiva por



cadoras criam a oportunidade de maior entendi- parte do professor em formação, contribuindo


mento das realidades contextualizadas, amplian- para que ele adquira um estilo próprio em seu

do a compreensão, por parte do professor, de seu fazer pedagógico, a partir de um saber consolida-

trabalho pedagógico, social e cultural. do na relação de integração entre teoria e prática.



Já o processo de descoberta ocorrerá, basi- No currículo do Curso Normal Superior bus-


camente, no currículo, em momentos nos quais ca-se assegurar a articulação entre conteúdo e

o estudante/professor busca novas referências método para que as aprendizagens sejam signi-

para seu desenvolvimento, a partir de prática ficativas. Os conteúdos serão analisados e colo-

refletida, do levantamento de informações e de cados em contextos que formem uma rede de


experiências veiculadas por outras pessoas. Sua significados para o professor. A compreensão é

culminância ocorrerá quando, ao final do curso, um dos eixos processuais desse currículo; assim

na última vivência educadora, cada um deve ela- sendo, é de extrema importância assegurar cada

borar um plano de estudos de aperfeiçoamento conteúdo em suas relações com os demais, e


pessoal-profissional para orientar seu processo entre todos eles e a prática, por intermédio das

de educação continuada. vivências educadoras.



O processo de produção visa ao desempenho O ofício de ensinar é caracteristicamente re-



acadêmico e científico, com elaboração de for- lacional, pois, para coexistir, comunicar e traba-

mas diferenciadas de comunicação e de expres- lhar com outros, é necessário enfrentar a dife-

são, considerando normas metodológicas vincu- rença e o conflito. Relações profissionais, como

ladas a estas. São registros, projetos, ensaios, re- a de professor, mobilizam não só as competên-

latórios, roteiros, sínteses elaboradas, a partir da cias, mas também a pessoa que intervém, por-

sistematização do pensamento. Apóia o desen- que as ações desenvolvidas em contextos



volvimento de competências em Língua Portu- relacionais delimitam-se pela influência de um



guesa, essenciais para a formação de um profis- sujeito sobre outro sujeito, em um tempo e es-

sional da educação. paço dados.


O desenvolvimento de um estilo pedagógico Essa vivência também é contemplada pela



próprio, mediante a reflexão sobre vivências pes- própria forma de conduzir o curso, por meio de

soais sobre as relações estabelecidas na prática mídias interativas, sensibilizando os professores



para uma das transformações de maior impacto diversos tipos de atividades propostas aos estu-



do mundo contemporâneo: as novas relações dantes/professores para reflexão sobre conheci-



que se estabelecem por intermédio de uma rede mentos específicos às diversas áreas de saber. Os



cooperativa, anárquica por natureza, e que pode protocolos de trabalho serão desenvolvidos num


ser utilizada não só para disseminar informa- tempo de quatro horas, propostos a dez alunos



ções, mas também para gerar conhecimento. por sessão, disponibilizados no notes application,



A Internet, a videoconferência e a teleconfe- utilizando os recursos da ferramenta do aplicativo


rência expressam esse caráter relacional: sujeito learning space, cujo acesso se dará pela Internet.



a sujeito; sujeito a grupos menores; sujeito ao A forma de organização da modalidade prevê ses-



coletivo e também entre turmas distribuídas ge- sões de trabalho que permitem a interação com



ograficamente e com características culturais os docentes por meio dos assistentes on-line. As


diferenciadas, por causa das diferentes regiões atividades propostas visam desdobrar os temas



do Estado. trabalhados nas videoconferências.



É compromisso da presente proposta criar Essas sessões caracterizam, nesse sentido,


oportunidades para que os professores, em cur- ○
uma modalidade de Educação a Distância, pois
so, aprendam a utilizar diferentes tecnologias, a comunicação bidirecional é realizada com a

como suporte de seu fazer pedagógico junto com utilização de tecnologias, no caso, a Internet. Os

os alunos e demais atores. estudantes/professores devem realizar uma sé-



Além da tecnologia, é necessário, num pro- rie de atividades voltadas à sua aprendizagem,

jeto como esse, oferecer momentos de revisão por meio de materiais previamente preparados.

atualizada do conhecimento contemporâneo, Outra característica é a forma especificamente



em suas múltiplas expressões: ciência, arte, cul- organizada de auto-estudo, na qual o aluno

tura e humanidade. aprende a partir de um material e com o acom-



O professor, com domínio dos objetos de co- panhamento de um grupo de professores (do-

nhecimento de cada disciplina, dos ciclos, dos con- centes e assistentes). Essa característica da mo-

teúdos, por meio de seus conceitos fundadores e dalidade vai exigir novos papéis dos estudantes/

estruturais, necessita compreendê-los como uma professores, dos docentes/assistentes, novas ati-

rede de significações, na relação com os outros sa- tudes e novos enfoques metodológicos.

beres, com as outras fases da educação básica e O tempo delimitado para as atividades pro-

com as outras culturas. Isso permite uma visão postas deve possibilitar aos estudantes/profes-

contextualizada, interdisciplinar e integradora. sores a reificação de saberes construídos nas



Num salto qualitativo, o curso é organizado relações sociais. Deve ser o momento de pro-

numa logística diferenciada: sessões on-line: cessamento das idéias e dos fazeres que carac-

aulas realizadas por videoconferência (multi- terizam o ambiente da sala de aula quando os

cast), pelos docentes; protocolos organizados de estudantes/professores interagem com as cri-



trabalho disponibilizados por meio do learning anças. Deve também ser caracterizado pelo

space, via Internet, em interação com os assis- processo de simetria invertida, no qual ao es-

tentes. Assim, estabelecem-se os pontos básicos tudante/professor são propostas atividades


do processo de aprendizagem: interação, tais como deveriam ser propostas às crianças



interiorização, autonomia cognitiva e mediação no ambiente escolarizado. A reificação possi-



pedagógica entre o sujeito aprendente e sua bilita a metacognição, pois permite rever con-

aprendizagem; teleconferências que abordam ceitos e idéias a partir dos saberes elaborados

temas transdisciplinares, que ampliam a relação pela comunidade científica, contrapondo-se



entre educação e as demais áreas culturais de ex- com os conhecimentos do senso comum, ca-

pressão criativa e cidadã. racterizando o processo de transposição didá-



As sessões realizadas pelo learning space são tica. Deverá compreender as novas concepções

oferecidas para o desenvolvimento dos temas que do processo de aprendizagem colaborativa, a



compõem o currículo do curso normal superior atualização do papel do professor e a utiliza-



pelos docentes e assistentes, assim como entre os ção de novas tecnologias, visando à aprendi-

70
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores

zagem dos alunos, e não apenas servindo para vimento educacional e cidadão de nossa geração.



transmitir informações (ensino a distância Os textos elaborados para o learning space



versus Educação e aprendizagem a distância). devem ser apresentados no formato de hiper-



As atividades propostas na modalidade assim textos, nos quais as áreas de sentido são selecio-


especificada e no ambiente acima delimitado nadas, hierarquizadas com zonas interligadas e



devem ser objeto de reflexões, que compreendem: nos quais os textos são conectados a outros do-



• a quantidade de textos para leitura; cumentos. O texto pode ser elaborado de modo


a permitir anotações do leitor, possibilitando a 70


• as questões propostas (em quantidade e natu-


personalização da leitura. Segundo Lévy, “a abor-


reza);


dagem mais simples do hipertexto […] não ex-


• a forma de interação dos estudantes/professo-


clui nem os sons nem as imagens, é a de descre-


res com os docentes/assistentes;
vê-lo, por oposição a um texto linear, como um



• a interação dos docentes com os assistentes no texto estruturado em rede. O hipertexto seria


momento da proposta de trabalho;


constituído de nós (elementos da informação),



• os relatórios de acompanhamento para retor- parágrafos, páginas, seqüências musicais etc., e


no aos alunos e aos assistentes, com comentá- de ligações entre esses nós (referências, notas,



rios, orientações, discussões, encaminhamen- indicadores, ‘botões’, que efetuam a passagem

tos, debates, entre outros; de um nó a outro).” (1988: 44).



Os tutores poderão também, junto com os


• a otimização do tempo para maior excelência;

estudantes/professores, desenvolver as ativida-


• o processo de avaliação implícito na natureza


des, articulando-as ao trabalho desenvolvido com


da modalidade, mas a se tornar consciente.


os PCN em Ação, discutindo ou debatendo du-


Abarcando esse processo como um todo, rante as videoconferências, levantando as ques-



encontra-se a necessidade da utilização dos re- tões teórico-conceituais na elaboração dos pro-

cursos disponibilizados pela ferramenta que se jetos voltados às vivências educadoras. O tempo

torna fundamental. destinado para a realização da atividade deverá


As diversas características da modalidade exi- compreender a leitura do texto pelo estudante/



gem a reflexão sobre a forma de interagir com os professor, a realização da atividade e a interação

estudantes/professores por meio de um material com o assistente para debate, orientações, refle-

impresso, num tempo determinado, que esteja xões, compreensões e processos de intervenção

voltado para as aprendizagens significativas. O em âmbito macroscópico e microscópico da ins-



acompanhamento da modalidade durante o pro- tituição escolar: currículo, instituição, legislação,



cesso de implantação do curso acontece no senti- políticas educacionais, sala de aula, processo de

do de caracterizar a especificidade das propostas, ensino e aprendizagem, avaliação, entre outros.


a interação entre estudantes/professores e os do- As questões propostas deverão privilegiar a



centes/assistentes, a mediação pedagógica como interatividade entre estudantes/professores e as-



categoria presente, tanto no processo de avaliação, sistentes e entre estudantes/professores.



como no uso das técnicas e ferramentas utilizadas Três tipos de atividades podem ser propos-

– no caso específico, o learning space. tas: atividades individuais (que privilegiam a



Como a tecnologia atingiu e envolveu a to- interação entre estudante/professor e assisten-



dos como uma avalanche, é necessário ampliar te); atividades em equipes (que privilegiam a

e ressignificar o conceito de aula, de espaço e de interação entre os estudantes/professores de um


tempo, estabelecendo novas pontes entre o es- mesmo município) e debates na sala de discus-

tar juntos física e virtualmente. são (que privilegiam a interação entre os estu-

Se os pontos críticos e cruciais não estiverem dantes/professores dos diversos municípios).


merecendo as considerações e preocupações ne-


A natureza das atividades propostas deve


cessárias, toda essa questão tecnológica pode se compreender os eixos norteadores do currículo:

transformar numa grande “panacéia”, que não tra- descoberta, compreensão, produção e criação,

rá nenhum resultado significativo para o desenvol- assim como o aspecto da simetria invertida e

metacognição já comentados. Elas devem per- diagnóstica e inclusiva. Por meio de mídias



mitir o desdobramento dos conceitos e idéias interativas, todos são sensibilizados para as no-



tratados nas videoconferências pelos docentes, vas relações que se estabelecem por uma rede



numa dimensão teórico-prática reflexiva. Tam- cooperativa, anárquica, e que pode ser utilizada


bém a articulação com os PCN, considerando o não só para disseminar informações, mas tam-



trabalho realizado pelos tutores e as produções bém para gerar conhecimento. Nesse contexto,



acadêmicas a serem realizadas no decorrer do como teia de relações, todos os envolvidos, num


curso: estudos independentes, síntese elabora- esforço coletivo institucional, enfrentam o de-



da de curso e vivências educadoras. safio das redes na sociedade aprendente.



A interação é valiosa no processo de cons- Segundo Lévy,



trução do conhecimento, se considerarmos que


um primeiro tipo de conhecimento, o senso co- Com certeza, nunca as mudanças das técnicas,



mum, tem sua gênese nas relações entre os in- da economia e dos costumes foram tão rápidas e



divíduos e na comunicação dos fatos e informa- desestabilizantes. Junto, uma onda de fundo, ul-

○ trapassa a informação e a comunicação, consti-
ções por eles veiculados. Esse tipo de conheci- ○

mento, cuja natureza é essencialmente social, tuindo o nó de forças que acompanha uma situ-

ação, um acontecimento, um objeto qualquer ou


deverá passar por um processo de reificação que

uma entidade: é a virtualização. Esse complexo


compreende o processo de contextualização e


problemático chama uma atualização. A


interdisciplinaridade, marcados pelo processo


interação entre humanos e sistemas informáti-

de transposição didática.

cos tem a ver com a dialética do virtual e do atu-


Os encontros deverão também criar oportuni-


al. Todos que se organizam por intermédio de sis-


dades para a avaliação do processo como um todo, temas de comunicação, se reúnem pelos mesmos

permitindo apreciar as atividades propostas, a for-


interesses, pelos mesmos problemas, porém re-


ma de organização e seleção dos conteúdos e de


pletos de paixões, sonhos, projetos, conflitos e


encaminhamento metodológico dos mesmos, e amizades (1998).



sua relação com as ultrapassagens de conceitos


menos elaborados para noções mais elaboradas,


As oportunidades e impasses deste início de


por todos os participantes no processo. século apresentam à educação novos desafios.



Os assistentes deverão ter compreensão de Por isso mesmo, é importante formar cidadãos

todos os subtemas propostos, pois os estudan- capazes de assumir criticamente as mudanças e


tes/professores desenvolvem as atividades pro-


que estejam preparados para a integração da in-


postas nas diversas semanas em que o tema se formação e da revolução tecnológica.



desenrola. Isso significa que a compartimenta- O educador precisa estar atento às mudan-

lização ou fragmentação não têm lugar nessa ças, acompanhando os avanços tecnológicos e

forma de organização de curso, em virtude de


lembrando Paulo Freire, que sugeria, como re-


seus pressupostos filosóficos-conceituais. quisitos para tornar-se educador, que o candi-



Esse espaço também serve para interagir dato possuísse, entre outras qualidades, rigoro-

com os alunos ou para propor uma discussão sidade metódica, pesquisa, bom senso e convic-

sobre algum tópico determinado, em horário ção de que a mudança é possível.



previamente combinado. Outro recurso é o chat Atualmente são 2.700 estudantes/professores



para discussões sobre tópicos específicos. envolvidos, que estão se adaptando gradualmen-

A construção coletiva de conhecimento é te às várias possibilidades do ensino presencial


compartilhada pelos internautas interessados, virtual, integrados numa rede colaborativa, cujos

em forma de artigo, site, portal, jornal, fórum de fios tramam vinte municípios paranaenses, numa

discussão, chat e/ou listas de discussão, geran- ecologia cognitiva e tecnológica.



do seu processo de educação continuada. A todo Os docentes do curso trabalham de forma


esse processo, que tem como eixo a investiga- interdisciplinar, na organização das temáticas

ção e a problematização, corresponde uma ava- das videoconferências, impregnando nelas um



liação abrangente, contínua, multidimensional, caráter provocativo e reflexivo.


72
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores

Geograficamente distantes, mas virtualmen- Bibliografia



te presentes, os docentes do curso estão sempre


BRANDT, Célia Finck. Atividades on-line: orientações. Texto


atentos às necessidades de seus estudantes/pro-


digitado. UEPG, 2000.


fessores e buscando a competência no trato das BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação


novas tecnologias.


Fundamental. Diretrizes para a formação de professores


Esses momentos têm sido de enorme impor- da educação básica no ensino superior . Brasília, 2001.



tância no processo, quando o aprendente usa o LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.


computador como ferramenta de trabalho. MANSANI, Neuza Helena P. Educação a distância e a for- 72



mação de formadores: um desafio na era das novas
Como feixe de relações, os docentes, assis-


tecnologias. Texto digitado. UEPG, 2000.


tentes, tutores, orientadores, coordenadores e


RAMOS, Corina C.; VALENTE, Silza. As vivências educado-


estudantes/professores, num esforço coletivo, ras na matriz curricular do Curso Normal Superior com


em âmbito institucional, enfrentam o desafio da


Mídias Interativas. Texto digitado. Ponta Grossa/PR, 2001.


era das redes na sociedade da informação, na SANTOS, Sydione. A formação do educador no âmbito teóri-



sociedade do conhecimento, na sociedade co-prático: re-significando o estágio. Trabalho apresen-


tado no 10º Endipe/ Painel: Prática educativa e pesqui-


aprendente: a educação virtual.


sa: conquistas e desafios no processo de formação do
Lembramos que, hoje, três são os analfa-


educador. Rio de Janeiro, 2000.

betismos por derrotar: o do texto-escritura, o


UEPG. Projeto Pedagógico do Curso Normal Superior com
sociocultural e o tecnológico, e que toda esco- Mídias Interativas. Texto digitado. Ponta Grossa/PR, 2000.

la incompetente em alguns desses aspectos é VÁZQUEZ, Adolfo S. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz

socialmente retrógrada (Mansani, 2000: 20). e Terra, 1968.









Os PCN mobilizando a formação




inicial e continuada de


professores no Tocantins




Lourdes Lúcia Goi e Isabel Cristina Auler Pereira



Unitins – Seduc/TO




A Fundação Universidade do Tocantins 2000, sobre Parâmetros Curriculares Nacionais



(Unitins), compromissada com a qualidade da e formação de professores, com os docentes



educação, assume como prioridade, nos cursos dos cursos de licenciatura. Esse encontro con-

de licenciatura, a formação de docentes com tribuiu para a reorientação da formação inici-



profissionalidade prática e reflexiva, tendo al, passo importante para a construção de



como referência as diretrizes pedagógicas da competências profissionais e ressignificação



educação básica. Sob essa ótica, reorienta seu de conhecimentos em processos contínuos de

projeto institucional, reconstrói seu currículo aprendizagens significativas nas escolas de



tendo como concepção norteadora a problema- educação básica. Essa proposta é relevante

tização, a reflexão e a análise contextualizada pois, além de atingir todos os cursos de licen-

da prática docente, articulando os processos de ciatura em regime regular (2.629 licenciandos),


ação/formação e pesquisa. contempla também os 2.496 professores/alu-



O MEC, por meio da Secretaria de Ensino nos da rede pública estadual dos cursos em re-

Fundamental, realizou um encontro de capa- gime especial.



citação, em Palmas, no segundo semestre de A Unitins, além da formação inicial, parti-



cipa do processo de educação continuada dos


docentes universitários, que se reúnem men-


professores de educação básica da rede pública salmente para avaliar, programar e analisar a



estadual do Tocantins, entre outros, como as- sua prática, dos coordenadores-gerais e dos co-


sessora pedagógica do Projeto Parâmetros em


ordenadores de grupos de estudo das escolas,


Ação, desde setembro do ano 2000, no Progra- colaborando para a mudança processual didá-



ma de Desenvolvimento Continuado de Profes- tica e conceitual da prática pedagógica, que de-



sores – como ação política do MEC, em parce- manda a construção de conhecimento em pro-


ria com a Secretaria da Educação (Seduc). Nes-


cessos contínuos de aprendizagens significati-


sa assessoria estão envolvidos diretamente 27 vas, no interior da escola.








Resumo – Experiência


São Bernardo do Campo/SP ○





Eliane Gomes Quinonero e Kátia Diniz



SME – São Bernardo do Campo/SP




A passagem do milênio carrega em útero os mistérios dos tempos, a


esperança de transformações, mas também o enigma do desconhecido.



A capacidade de antever possíveis mudanças pode colaborar para que



o indivíduo se prepare, articule saídas, funcionando como autor.



Ciça Lourenço






Articulando a formação

para seu desenvolvimento global.


inicial e continuada: O conceito educador aqui colocado conside-



ra como atores desse processo os professores, os


uma ação necessária


diretores e os especialistas, que constituem equi-



Com o objetivo de constituir em cada escola pe multidisciplinar e atuam em todas as inter-


faces do contexto escolar, contribuindo com seus


um pólo de formação que propicie a construção,


diversos saberes e competências para o objetivo


de forma articulada e coletiva, dos projetos edu-


cacionais, e instrumentalizar os educadores para comum da construção do projeto educacional de



a garantia de práticas cada vez mais comprome- cada escola.


Nesse contexto, observamos que a grande


tidas com as aprendizagens dos alunos, inicia-


dificuldade consiste na vinculação da teoria


mos a formação dos educadores da rede muni-


cipal em 1997. aprendida durante a formação inicial com o co-



Orientada por essa perspectiva, a Secretaria tidiano complexo das escolas, faltando o saber

agir em cada situação. Essa constatação nos le-


de Educação e Cultura tem tido como eixo prin-


cipal de trabalho em seu Plano de Formação Con- vou a buscar, junto às universidades da região,

tinuada a busca da qualidade progressiva no aten- parceria para atender às necessidades formativas

dimento educacional realizado no município. comuns, estreitando a relação entre o sistema


educacional e as universidades.

Considerando as necessidades das comuni-


dades locais, entendemos que cabe aos educa- Nesse processo, o Horário de Trabalho Peda-

dores assumir o comando de seu trabalho, pro- gógico Coletivo (H.T.P.C.), existente na jornada

piciando aos alunos as condições necessárias do professor, tem possibilitado aos educadores,

74
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores

tanto aos novos como aos mais antigos, inter- lorizava demais a teoria, e a queixa freqüente era:



câmbios que otimizam a reflexão crítica da prá- “O professor não quer pensar; quer apenas re-



tica pedagógica de forma solidária, construindo ceitas”. Por sua vez, os professores explicitavam


que os cursos não traduziam a necessidade e a


competências e reflexões para a atuação profis-


sional de ambos. complexidade da escola, ficando no ideal, e não



Articular institucionalmente essas duas no real.



agências formadoras, universidade e sistema, Outro ponto importante, naquele momen-


passou a ser um de nossos desafios. Essa frente to, era a falta de horário para o trabalho coletivo 74



de trabalho teve início com um convênio junto dentro da jornada de trabalho do professor, es-



às universidades, pelo qual as estagiárias atuam paço essencial para que eles pudessem discutir


suas dificuldades em grupo, realizar combina-


nas unidades escolares e podem levar suas re-


flexões e ansiedades para dentro das faculdades dos e estar constantemente aprimorando suas



e para os espaços de trabalho pedagógico cole- práticas.



tivo das escolas, o que dá forma e sentido às As principais dificuldades observadas na


prática dos educadores eram:


dúvidas e ansiedades e garantindo concretude


às discussões realizadas, integrando o saber e o • Inexistência de projeto educacional orientador



saber fazer. das ações, construído coletivamente.

Essa ação vem paulatinamente dando indi- • Formação extremamente acadêmica, não con-

cadores para o sistema e para as universidades siderando as reais necessidades e a prática dos

sobre a formação inicial e continuada, explici- educadores.



tando nossas dificuldades e urgências na busca


• Conteúdos desenvolvidos com visão homo-


de uma formação que acolha as muitas necessi- geneizadora e generalista, sem se ater às fun-

dades de nossos educadores e alunos.


ções e necessidades dos diferentes atores en-


Temos certeza de que o caminho é necessá-


volvidos no processo educacional.


rio. Aos poucos essa parceria se consolida, mas


• Falta de clareza quanto aos resultados a serem


o desafio ainda continua.


alcançados nas aprendizagens dos alunos e dos

educadores.

Retrospectiva 1997-2001 • Escola não se constituindo como local privile-



giado para a formação em serviço.



Para transformar esse contexto, era necessá-


Histórico

rio efetivar o diagnóstico da rede municipal,



Assumimos a coordenação da rede munici- identificar as necessidades, redefinir as funções,


pal em 1997. Naquele momento, a rede de ensi-


estimular os processos individuais e coletivos


no era composta pela Educação Infantil, Educa- que pudessem colaborar conosco nessa emprei-

ção Especial e Educação de Jovens e Adultos, tada.



num atendimento total de 25 mil alunos. Che- Também se fazia necessário refletir “de qual”

gamos, em agosto de 2001, a 126 unidades esco-


formação falávamos, explicitando a concepção


lares, num atendimento total de 65 mil alunos que orientava nossas ações.

(Educação Infantil, Fundamental, Especial e de Para tanto, fomos em busca dos conheci-

Jovens e Adultos). mentos acumulados nessa área e aprendemos


Observávamos que a formação continuada juntos: departamento de ações educacionais,



desenvolvida até então na rede municipal não escolas, parceiros externos. E, ainda hoje,

alterava a prática dos educadores. As discussões estamos nos aproximando desse fazer formação,

estavam desvinculadas das ações, os cursos e mais pautado em como aprendemos e mais

oficinas eram teóricos, levando os professores a comprometido com os resultados produzidos,



um descrédito das necessidades deles para o no qual as alterações das práticas dos diferentes

aprimoramento de suas ações. profissionais da educação são constantemente



Nas discussões, o grupo de formadores va- reavaliadas, na busca da construção contínua



das competências profissionais necessárias para • A aprovação do Estatuto do Magistério com a



exercermos nossa função cada vez melhor. função de Professor Coordenador.



Nesse processo, desenvolvemos o diagnós- • O grupo de trabalho com diretores e professo-


tico sobre as áreas, procurando explicitar as


res coordenadores, para a constituição de equi-


principais dificuldades, a saber: pes de gestão articuladas em cada escola.



• trabalhar adequadamente com a heterogenei-


• Cursos e oficinas comprometidos com os proble-
dade da classe;


mas reais e específicos de cada unidade escolar.



• realizar intervenções pedagógicas que poten-
A constatação da falta de articulação entre


cializem as aprendizagens dos alunos de for-


as instituições de ensino superior (formação ini-


ma intencional.


cial) e a Secretaria de Educação (formação con-


Em resumo, a maior dificuldade centrava-


tinuada), colocou-nos o desafio de mobilizar


se no fazer, no saber agir no contexto singular essa integração para, a médio prazo, instrumen-


de cada classe, atrelando a teoria ao cotidiano.


talizar o professor recém-formado para as diver-

Nessa exploração, constatamos que tan-


sas competências necessárias à sua ação profis-
to os professores recém-formados como os sional, pois apenas o sistema educacional de for-

mais antigos da rede apresentavam as mes- ma isolada não terá êxito nesse processo.

mas dificuldades. Esse fato nos levou a ob-


Buscamos estreitar a relação por meio de con-


servar que tanto a formação inicial como a


vênio de parceria entre os institutos de formação


continuada não haviam apresentado altera- da região e o sistema educacional com os objetivos.

ções significativas na forma e no conteúdo,


ao longo do tempo, pois, as dificuldades dos


Cabe à Rede Municipal:


professores antigos e recém-formados eram


• Otimizar a formação continuada, por meio de


comuns.

discussões junto às universidades, com os di-


Diante do contexto, nosso desafio nas dife-


ferentes educadores, especialistas em educação


rentes frentes de trabalho foi realizar uma for-

e outros.

mação que instrumentalizasse os educadores,


• Identificar com clareza os problemas existen-


estreitando a relação teoria e prática, garantin-


tes na prática profissional dos educadores, para


do espaços de formação aos diferentes educa-


dores (diretores, professores coordenadores e explicitar as demandas de formação e planejar


intervenções adequadas.

professores), onde os conteúdos pudessem ser



discutidos, tematizados na busca das compe- • Envolver o professor na atuação, no processo


de discussão da formação de professores e es-


tências necessárias às diferentes funções, com


o único objetivo de garantir sucesso às apren- timular o desenvolvimento da competência no


gerenciamento de sua própria formação.


dizagens de nossos alunos.



Assumimos como objetivo central: • Participar ativamente do processo de forma-


• Constituir em cada escola um pólo de forma- ção inicial de professores, pelo diálogo freqüen-

ção que propicie a construção de forma arti- te com as instituições formadoras, oferecendo

culada e coletiva dos projetos educacionais. campo de estágio e dando retorno sobre o de-

sempenho dos professores em formação ou re-


• Instrumentalizar os educadores para a garan-


cém-formados, nessas instituições.


tia de práticas cada vez mais comprometidas


com as aprendizagens dos alunos. • Suprir a carência de professores para faltas



eventuais.


Como ação, realizamos:


Compete às Instituições Formadoras:


• A criação do Horário de Trabalho Pedagógico


Coletivo (H.T.P.C.), num total de cinco horas • Possibilitar o reconhecimento e a atuação, de



semanais, divididas entre três horas de traba- forma concreta, das instituições de formação

nas escolas, sentindo e conferindo significado


lho pedagógico coletivo e duas horas de tra-


balho pedagógico individual. à sala de aula real.



76
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores

• Fomentar e fortalecer os processos de mudan- buscar alternativas para a solução dos proble-



ça no interior dessas instituições formadoras. mas identificados.



• Aprimorar a capacidade acadêmica e profissi- 4. Formação de professores tutores, que serão co-



onal dos docentes formadores. responsáveis pela formação de alunos estagi-


ários.


• Atualizar e aperfeiçoar os currículos viven-



ciados, considerando as mudanças em curso na 5. Realização de seminário para a discussão das


organização pedagógica e curricular da educa- questões mais amplas da formação de pro-


76


ção básica. fessores.



Entendemos que, nesse processo, cabe ao



A formalização legal dessa parceria foi realizada sistema de ensino propiciar às instituições de


formação inicial espaço para o desenvolvimen-


por meio de:


to da competência profissional dos professores,


• Lei Municipal e Decreto Municipal que regula-


mentaram o Projeto. de modo que, mutuamente, enfrentem o contex-



to educacional presente em nossos dias num ci-


• Termo de compromisso assinado pela Esta-
clo contínuo de aprimoramento.


giária, pela Prefeitura e pela Instituição For-


Muitas dificuldades têm sido observadas nes-

madora.

○ se processo. O sistema educacional e as institui-
• Bolsa-Auxílio escalonada – R$ 3,31/hora para

ções de Formação Inicial ainda precisam se orga-


estagiário que se encontra no antepenúltimo


nizar melhor para acolher esse novo estagiário,

ano; R$ 3,79/hora para estagiário do penúlti-


potencializando e tutorando seu desenvolvimen-


mo ano; e R$ 4,39/hora para aqueles que estão


to profissional de forma intencional, em que se


no último ano.

considere suas diferenças, conhecimentos, defi-


• Estágio permitido de até 160 horas/mês, pro- ciências de escolarização e a relação entre o co-

piciando um ganho médio de até R$600,00/mês


nhecimento do objeto de ensino e sua expressão


(Bolsa-Auxílio).

escolar (transposição didática), num sentido úni-


Aos estagiários foi disponibilizada toda a


co de colaborar na construção das competências


formação continuada desenvolvida para os necessárias a esse professor da educação básica.



nossos professores, como cursos, oficinas, pa- Acreditamos que essa construção propiciará

lestras, Parâmetros em Ação, H.T.P.C., PROFA, novo paradigma curricular para os dois parcei-

entre outros.

ros, no qual os conteúdos constituirão funda-


Também foram elaboradas pelo grupo de tra-


mentos para que os alunos possam desenvolver


balho a avaliação formativa e a auto-avaliação, capacidades e competências que possibilitarão



com o objetivo de propiciar a devolutiva a essas projetos educacionais que atendam melhor a

instituições quanto às aprendizagens já desen-


nossa sociedade.

volvidas e às necessidades dos futuros professo-


Para tanto, caberá aos Institutos de Forma-


res. Isso possibilita, caso considerem necessário, ção se desnudarem e redescobrirem o complexo

que eles revisitem seus currículos, efetivando cotidiano das escolas, trazendo o foco para a re-

reformas curriculares e conhecendo o resultado


alidade e para o Sistema Educacional, além de


da sua formação. Essa avaliação, atualmente,


se submeterem ao olhar crítico das universida-


encontra-se em processo de adequação. des para, como parceiros, traduzirem seu con-

Para o ano de 2002, as seguintes propostas teúdo em ações concretas e comprometidas com

estão em discussão no grupo de trabalho:


as aprendizagens dos alunos.


1. Construção do perfil do professor da rede


Isso fará com que o nosso professor se torne


municipal, quanto à formação e atuação pro-


um aprendiz crítico, que atua e interfere na rea-

fissional.

lidade presente, como ator que estranha, ques-


2. Identificação dos principais problemas de


tiona e constrói o processo educacional, com-


aprendizagem e dos fatores que os originam.


prometendo-se com a progressiva melhoria da


3. Constituição de grupos de estudo a fim de qualidade educacional de sua cidade.



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