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Vo l u m e 2
Brasília
2002
PRESIDENTES DO CONGRESSO
IARA GLÓRIA AREIAS PRADO
Secretária de Educação Fundamental
MARIA AUXILIADORA ALBERGARIA
Chefe de Gabinete
COMISSÃO ORGANIZADORA
Coordenadora: Rosangela Maria Siqueira Barreto
Renata Costa Cabral
Fábio Passarinho de Gusmão
Lívia Coelho Paes Barreto
Sueli Teixeira Mello
COMISSÃO CIENTÍFICA
Coordenadora: Marilda Almeida Marfan
Ana Rosa Abreu
Cleyde de Alencar Tormena
Jean Paraizo Alves
Leda Maria Seffrin
Lucila Pinsard Vianna
Nabiha Gebrim de Souza
Stella Maris Lagos Oliveira
CDU 371.13
Patrocínio: PETROBRAS
Apoio: Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI)
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 5
Iara Glória Areias Prado
PAINEL 1 7
DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEITORA E ESCRITORA
Cíntia Fondora Simão – CEEV/SP
Mônica Andréa Porto Louvem – Escola ligada à Aracruz/ES
Bárbara Heller – Unicamp/SP – MEC
PAINEL 2 17
DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEITORA E ESCRITORA
Célia Maria Mattos – PCN em Ação – Itatiaia/RJ
Beatriz Cardoso e Regina Scarpa – Cedac/SP
PAINEL 3 33
DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEITORA E ESCRITORA DOS PROFESSORES
Margareth Aparecida Ballesteros Buzianaro – Escola Estadual SEE/SP
Maria Angélica Alves – Colégio de Aplicação/UERJ
Marília Costa – Fundação Projeto Travessia/SP
PAINEL 4 47
CORRESPONDÊNCIA ENTRE PROFESSORES COMO ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO CONTINUADA
Beatriz Cardoso e Maria Cristina Ribeiro – Cedac/SP
Euzi Moraes –Ried/ES
PAINEL 5 55
FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO PROJETO SABER EM MOVIMENTO
Caio Martins e Marcelo Barros Silva – Escola Pública/Santos/SP
PAINEL 6 59
ARTICULAÇÃO ENTRE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES
Maria Corrêa da Silva – Seduc/AC
Célia Finck Brandt e Sydione Santos – UEPG/PR
Lourdes Lúcia Goi e Isabel Cristina Auler Pereira – Unitins/Seduc/TO
Eliane Gomes Quinonero e Kátia Diniz – SME/São Bernardo do Campo/SP
PAINEL 7 79
FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO PROFORMAÇÃO: UNINDO A TEORIA E A PRÁTICA NO SISTEMA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Bernardete A. Gatti – FCC – PUC/SP
Tereza Barros Amaral – Seduc/PE
Jandira Medrado – Araguaína/TO
PAINEL 8 91
ARTICULAÇÃO ENTRE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES – EDUCAÇÃO INFANTIL
Fátima Regina Teixeira de Salles Dias – UFMG/MG
PAINEL 9 97
AVALIAÇÃO DAS APRENDIZAGENS DOS ALUNOS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Almira Albuquerque Santos – SME/Batalha/AL
Lucia Lins Browne Rego – Seduc/PE
Maria Nilene Badeja – SME/Campo Grande/MS
PAINEL 10 109
ESCOLAS MULTISSERIADAS
Fernando Ferreira Pizza – Escola Ativa/MEC
Francisca das Chagas Souza da Silva – Escola da Floresta/SEE/AC
PAINEL 11 117
ARTICULAÇÃO ENTRE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Emanuela Oliveira Carvalho Dourado – SME/Irecê/BA
Ana Socorro Braga – SME/Vargem Grande/MA
Stela C. Bertholo Piconez – USP/SP
Leôncio José Gomes Soares e Daniela de Carvalho Lemos – UFMG/MG
3
PAINEL 12 137
AVALIAÇÃO DAS APRENDIZAGENS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Cláudia Lemos Vóvio – Ação Educativa/SP
Maria Amábile Mansutti – PCN em Ação/MEC
PAINEL 13 149
O LIVRO ESCOLAR NO CONTEXTO DA POLÍTICA EDUCACIONAL
Jean Hebrard – França
Ralph Levinson – Inglaterra
Luz Philippi – Chile
Nabiha Gebrim – SEF/MEC
PAINEL 14 173
O REFLEXO DA AÇÃO FORMADORA NO PROJETO PEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO – EDUCAÇÃO INFANTIL
Sueli A. Campos Silva e Valéria P. Cortez Corrêa – Creche/Associação Obra do Berço/SP
Ana Maria Mello – Creche Carochinha/USP/SP
Stefânia Padilha Costa – Escola Municipal/Belo Horizonte/MG
Olga Regina Siqueira e Silva – Escola Municipal/Natal/RN
PAINEL 15 191
EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO NA AMAZÔNIA LEGAL
Francisca Bezerra da Silva – SEE/AC
PAINEL 16 195
PROJETO PEDAGÓGICO: POR QUÊ, QUANDO E COMO – EDUCAÇÃO INFANTIL
Cristina Mara da Silva Corrêa e Delba Rejania Santos – Creche USP/SP
Alessandra Latalisa de Sá e Ana Cristina Coura Cheib – Escola Balão Vermelho/MG
Sônia Regina da Silva Souza – Associação Verbo Divino/SP
PAINEL 17 209
PROJETO PEDAGÓGICO: POR QUÊ, QUANDO E COMO – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Rosângela Pereira – Projeto Kellog/SP
Elizabete Monteiro – Projeto Axé/BA
PAINEL 18 217
PROJETO PEDAGÓGICO: POR QUÊ, QUANDO E COMO
Ivanete Carvalho e Andréa Guida Bisognin – PEQV /Fundação Vale do Rio Doce – Cedac/SP
Renata Sanches Silva e Maria Vânia Marques de Carvalho – SME/Caraguatatuba/SP e Fundação Orsa
Rosemere da Silva Vieira – SME/Campo Alegre/AL
PAINEL 19 227
LEITURA NA ALFABETIZAÇÃO
Jacinta de Fátima Camargo Barbieri e Luciana de Almeida Santos – SME/Itapetininga/SP
Eliane Mingues – PCN em Ação/MEC
PAINEL 20 237
A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA SALTO PARA O FUTURO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES
Rosa Helena Mendonça – Seed/MEC
APRESENTAÇÃO
DESENVOLVIMENTO
DA COMPETÊNCIA
LEITORA E ESCRITORA
Cíntia Fondora Simão
Bárbara Heller
7
Desenvolvimento da
○
○
○
competência leitora e escritora
○
○
○
○
○
Cíntia Fondora Simão
○
○
Centro de Estudos da Escola da Vila – CEEV/SP
○
○
○
○
○
○
○
Resumo
○
○
○
○
A painelista apresenta resultados do trabalho instrumentalizada por suas leituras e seus estu-
○
○
desenvolvido pelo Centro de Estudos da Escola da dos de outras experiências e situações didáticas
Vila a partir do Programa Praticar – Programa de ○
○
○ modelares oferecidas pelo Programa Praticar, ali-
Formação e Atualização Profissional Permanente, mentada e incentivada pelo formador durante
○
ficas do sistema público de ensino, com o qual in- escola, para que se torne um produto finalizado
○
○
tensificou sua parceria em ações de capacitação a cada seqüência de trabalho proposta e que,
○
O painel em questão enfoca apenas ações de tos especiais, como no caso dos simpósios inter-
○
○
ção do Programa Praticar: os Projetos de Referên- Escrever, pesquisar, coletar imagens, falar em
○
○
cia, que são acompanhados e comentados pelo for- público, sintetizar conceitos, socializar resultados,
○
○
mador antes, durante e após a realização destes nas compartilhar descobertas – tudo isso faz com que,
○
próprias salas de aula dos professores participan- por intermédio dos Projetos Especiais, o profes-
○
○
tes; e os Projetos Especiais, etapa do processo de sor tenha seu papel ampliado, renovando sua fun-
○
○
formação cujo objetivo é tornar o professor oficial- ção na perspectiva do comprometimento social
○
mente produtor e divulgador da reflexão e da pes- que a caracteriza e justifica. Os Projetos Especiais
○
○
quisa sobre seu cotidiano, por meio de publicações. têm uma idéia-força: a interlocução, pois a pro-
○
mente como o modo mais eficaz e produtivo para Assim, a tarefa e todo o empenho que a acompa-
○
○
a construção das competências docentes, é rea- nha ganham sentido e significado. Essa é a pro-
○
lizada pelo Programa Praticar a partir de um eixo posta desses encaminhamentos no sentido de a
○
○
central e organizador do trabalho: os Projetos de publicação: produzir para ser apreciada, produzir
○
○
Referência. Neles, os professores participantes para colaborar com o colega, produzir para reve-
○
são convidados a realizar projetos em suas salas lar percursos e criações de seu grupo, de sua co-
○
○
de aula, apoiados por uma série de ações for- munidade. São encaminhamentos que visam a um
○
○
mativas: na presença do formador ou não, em destino para a produção dos professores, com va-
○
rede – e individualmente. Dessa forma, a produ- interlocutores – o que significa diversificar desa-
○
○
ção escrita do professor participante está relaci- fios, adequar expectativas, ajustar resultados, en-
○
onada a uma prática de registro permanente, fim, regular criticamente a própria produção.
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
8
PAINEL 1
Desenvolvimento da competência leitora e escritora
Desenvolvimento da
○
○
○
competência leitora e escritora
○
○
○
○
Projeto Formar: uma contribuição à
○
○
○
formação continuada de professores
○
○
8
○
○
○
Mônica Andréa Porto Louvem
○
○
Escola ligada à Aracruz/ES
○
○
○
○
○
○
○
○
Introdução
○
○
○
O Formar (Formação em Rede nos Municí- 1. Preocupação com a continuidade de sua for-
○
○
jeto financiado pela Aracruz Celulose S.A. e de- 2. Desejo de aperfeiçoar sua prática pedagógica.
○
envolvendo seis municípios capixabas: Aracruz, ção e redigindo em conjunto textos que re-
○
○
João Neiva, Ibiraçu, São Mateus, Conceição da flitam suas discussões e sua prática.
○
um enfoque interdisciplinar.
○
séries) à 4ª série, que opera sobre três eixos fun- A proposta de trabalho do Formar é o estu-
○
○
e escrita;
○
partes, por meio do diálogo permanente em estudo. Nessas reuniões de estudo, é elabora-
○
○
rede, a distância, entre a equipe de professores- do, por escrito, coletivamente um relatório re-
○
formadores (Ried) e os grupos de estudo. flexivo, que deve traduzir a discussão do texto
○
○
Quando teve início, a proposta era de estu- e sua relação com a prática pedagógica dos par-
○
○
to, o número de participantes chegou a aproxi- relator para registrar e organizar os registros.
○
○
madamente quinze em cada grupo, em razão Para dar apoio contínuo ao grupo, cada
○
○
da grande procura de professores interessados pólo, composto por dois ou três municípios,
○
○
(a adesão ao Projeto é voluntária). Dessa for- tem um coordenador regional, que visita
○
ção de seus conhecimentos teóricos e práticos, res, além de elaborar relatórios mensais que são
○
○
○
O papel do papel, em seguida discutimos os pon-
olhar como coordenadora
○
○
tos principais do texto…”, ou elaboravam um
○
regional texto que não retratava a discussão do grupo.
○
○
Tendo como referência os relatórios elabo-
○
Quando iniciamos o Projeto, em 1997, mui-
○
rados nos primeiros meses de existência do Pro-
○
tos professores que aderiram ao Formar tinham
jeto, a equipe de professores-formadores levan-
○
expectativas de encontrar respostas para as di-
○
tou as seguintes observações:
○
ficuldades encontradas no processo de ensino–
○
• os conteúdos dos textos ou não eram levados
○
aprendizagem. A prática do estudo ainda não em conta pelos grupos de leitores, ou sofriam
○
○
fazia parte do dia-a-dia do professor. Estuda- distorções, ou não eram absolutamente
○
va-se para obter uma graduação – nesse caso
○
compreendidos;
○
eram buscados os cursos em faculdades –, es-
○
• os relatórios comprometiam a lógica do pen-
○
tudava-se em capacitações e treinamentos ofe-
samento e da linguagem;
○
recidos pela Secretaria de Educação, em que
○
○
função de responsabilidade exclusiva do instru- eram colocadas questões que levavam os profes-
○
tor ou palestrante. Sendo assim, o hábito de lei- sores a refletir sobre o que pensaram e o que es-
○
○
tura e de escrita do professor ficava cada vez creveram, como também sobre a leitura realizada.
○
○
cola, em geral, limitadas e descontextualizadas. uma angústia muito grande nos professores – o
○
Diante desse quadro, tivemos um início que eu chamaria de “angústia necessária”. Foi o
○
○
vam do tamanho dos textos, ou seja, muitas que não eram leitores e escritores competentes.
○
○
páginas, e das propostas de atividades dos pro- Eu, coordenadora em formação, também de-
○
fessores-formadores, que exigiam um estudo parei com essa situação. Na primeira devolutiva
○
○
reflexivo do texto. Além disso, não conseguiam ao meu relatório, havia o seguinte comentário:
○
○
colocar no papel, ou seja, registrar, escrever as “Seu relatório é meramente descritivo, não re-
○
atividades incluíam sempre um relato reflexivo discussão mais aprofundada da sua ação e do de-
○
○
Em minhas visitas semanais aos grupos de À medida que entravam em contato com os
○
cular – que muitas vezes era a primeira leitura observavam dificuldades específicas e envia-
○
○
do texto. À medida que liam, paravam em algum vam textos produzidos por eles próprios ou por
○
trecho do texto para discutir. Em geral, as dis- outros autores, para a discussão de questões
○
○
cussões conduziam para as dificuldades da sala específicas. Uma das primeiras intervenções
○
○
de aula e do contexto escolar. Dessa forma, os enfocava o saber estudar, ou seja, o saber ler um
○
○
relatos reflexivos e as sínteses dos textos apre- texto de forma compreensiva. Nessa ocasião, foi
○
propunha, pois não se registrava no ato das dis- de, ao ler, destacar as idéias centrais, fazer ano-
○
○
discutiam o texto e, depois, tiravam um tempo tões e dúvidas, registrando-as. E ainda, ao es-
○
para fazer o registro. Ao fazer a síntese, os pro- crever o relatório, fazê-lo de forma reflexiva e
○
○
fessores tinham de recorrer novamente ao texto, não apenas descritiva. Num outro momento,
○
○
e faziam outro recorte dele. Na elaboração do foram enviados textos sobre sínteses e alguns
○
○
relato reflexivo, ou relatavam a seqüência dos exemplos de sínteses produzidas por alguns dos
○
10
PAINEL 1
Desenvolvimento da competência leitora e escritora
○
○
Outra intervenção da equipe de professores- Inicialmente, houve uma dificuldade muito
○
○
formadores, que considero marcante e positi- grande para os professores cursistas se coloca-
○
○
va, foi um texto escrito pela professora Euzi rem no lugar de pesquisadores e estudiosos e,
○
Moraes, integrante e coordenadora da equipe nessa condição, refletirem sobre as colocações
○
○
de formadores, que propunha uma classifica- dos professores-formadores. Então, respondiam
○
○
ção dos textos que, até então, tinham sido pro- aos professores-formadores em desabafo, fala-
○
duzidos pelos grupos. Os textos, classificados vam de dificuldades e insatisfações. Mas, com o 10
○
○
em uma escala que se inicia com a cópia e cul- diálogo permanente, recebendo orientações e
○
○
mina com o texto-autoria, recebiam a seguinte sugestões da equipe de formadores, os profes-
○
○
tipologia: sores gradativamente foram mudando os seus re-
○
Texto-cópia: é o texto que reproduz lite- gistros, a forma de estudar os textos e também a
○
○
ralmente o original, sem aspas e sem impressão que tinham sobre as devolutivas. Dis-
○
○
entendê-lo. cutiam o foco das questões levantadas pelos pro-
○
○
Texto-imitação: é aquele que resulta da intro- fessores-formadores, estudavam os textos, gri-
○
missão do autor no sistema de língua escrita fando e anotando as idéias centrais, e registra-
○
○
sem conhecê-lo, gerando um arremedo de es- vam os pontos principais das discussões, ao
○
○
Texto discurso alienado: é o texto que se afas- No meu acompanhamento, pude observar
○
Texto-lamento: é o texto que se afasta do ori- constatá-los por meio dos registros que cons-
○
profissional.
○
tões descontextualizadas.
○
duzir significado.
○
Ao receber as devolutivas dos professores- grupo de estudo planejava uma aula em con-
○
○
formadores, que continham questionamentos junto com base nas orientações dos professo-
○
“Nós quase não temos tempo de estudar; as ati- grupo discutia o desenvolvimento do planeja-
○
○
vidades escolares são muitas”; “Eles querem nos mento e, no momento do relato da aula, ficava
○
○
comparar a eles, que já estudaram tanto, são clara a distorção em relação às atividades de-
○
senvolvidas e o que realmente se pretendia. dos professores, além de promover o compro-
○
○
Mais uma vez, a equipe de professores-forma- misso e a responsabilidade com o estudo, o ho-
○
○
dores intervinha, levantando questionamentos rário, os prazos e os retornos, situações essas
○
○
e fazendo observações nos relatos escritos das que vêm sendo esquecidas no contexto da edu-
○
aulas desenvolvidas. cação pública. Esse resgate do cumprimento do
○
○
No decorrer do Projeto, por meio do diálo- dever e da necessidade de o professor estar
○
○
go permanente entre professores e formadores, sempre estudando poderia ser considerado um
○
era possível, além de desenvolver a leitura e a dos aspectos fundamentais do Formar.
○
○
escrita, o repensar constante sobre a prática Percebo que a formação continuada tem
○
○
pedagógica. dado um resultado mais efetivo do que as
○
○
Os temas propostos para estudo proporcio- “capacitações” e “treinamentos” acontecidos em
○
nam aprofundamento de conteúdos e conheci- momentos isolados. Pude constatar esse fato
○
○
mentos indispensáveis ao educador. É nesse quando ouvi de um grupo o seguinte depoimen-
○
○
sentido que o Formar vem contribuindo para to: “Formávamos alunos, mas não éramos for-
○
○
desenvolver a competência leitora e escritora ○
○
○
○
○
○
○
○
mados. O projeto Formar está nos formando”.
Histórias e histórias
○
○
○
○
○
Bárbara Heller
○
○
Unicamp – MEC
○
○
○
○
○
Resumo
○
○
○
○
Pretendo comentar, ao longo de minha exposi- nil: Lewis Carroll (traduzido por Ana Maria Macha-
○
ção, a elaboração do livro Histórias e histórias, que do), Hans Christian Andersen (com tradução de
○
○
reuniu dez pesquisadores sob a orientação da pro- Tomás Rosa Bueno), João Carlos Marinho, Mário
○
○
fessora Dra. Marisa Philbert Lajolo. Trata-se, portan- Quintana, Pedro Bandeira, Marina Colasanti,
○
to, de um trabalho coletivo, cujo resultado – um con- Graciliano Ramos, Orígenes Lessa, Marcos Ribei-
○
○
junto de 111 cartas ficcionais, para 111 livros reais – ro, Bartolomeu Campos de Queiroz, Tommie de
○
○
tenta prever os mais diversos tipos de leitores e mo- Pola, Cora Coralina, Eliardo França, para citar ape-
○
Educação, por meio do Programa Nacional Biblio- Os especialistas da Fundação Nacional do Li-
○
○
teca na Escola (PNBE), distribuiu, nos últimos dois vro Infantil e Juvenil, que selecionaram o acervo
○
anos, a 80 a 100 mil escolas públicas do país. adquirido e distribuído pelo MEC, tornaram-se
○
○
Os autores dos livros comentados de forma personagens das cartas, por meio da reprodução
○
Introdução
○
○
○
lho coletivo, elaborado por dez pesquisadores, sob silenciosa, em voz alta, na sala de aula, na bi-
○
○
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). textos – livros, jornais, gibis, revistas, quadri-
○
○
Dez pesquisadores, sim, mas antes de tudo nhos, anúncios, ilustrações, catálogos, manu-
○
○
dez leitores, que acreditam nas mais diversas ais de instrução, sites da Internet etc.
○
12
PAINEL 1
Desenvolvimento da competência leitora e escritora
○
○
São Paulo, Porto Alegre, Campinas, Santos, Re- res e de ilustradores.
○
○
cife, Rio de Janeiro –, por meio de poucos con- Para cada um dos 106 títulos selecionados
○
○
tatos pessoais, mas muitos virtuais, trocaram pela FNLIJ, de 43 editoras distintas, foram emi-
○
suas experiências da leitura dos 111 livros que
○
tidos dois comentários críticos de diferentes es-
○
compõem o corpus de Histórias e histórias. pecialistas em literatura infantil e juvenil.
○
○
Enquanto realizávamos, em 1999, o Histó- Os dados abaixo mostram a distribuição dos
○
rias e histórias, tínhamos noção de que aquilo 12
○
livros selecionados pela FNLIJ: 49 livros de nar-
○
que cada um produzia (isto é, uma carta para
○
rativas; 15 livros de poesia, 6 livros de imagem
○
cada livro) seria lido pelos professores, cujas (sem texto); 20 de ficção e não-ficção, compre-
○
○
escolas receberiam o acervo dos livros adquiri- endendo os gêneros já citados.
○
dos e distribuídos pelo Ministério da Educação
○
Descrevendo com maior riqueza de deta-
○
(MEC). lhes: são livros que contemplam diversas mo-
○
○
A noção, hoje, transformou-se em números dalidades de textos, tais como biografias, clás-
○
○
bem concretos: ao todo, por intermédio do Pro- sicos, poemas, lendas, contos de fadas, do fol-
○
grama Nacional Biblioteca na Escola (PNBE/99),
○
clore etc., de autores nacionais e estrangeiros.
○
foram atendidas 36 mil escolas, cadastradas no
○
○
falam por si. No máximo, revelam a amplitude No lugar de exercícios voltados à interpreta-
○
Educação (MEC).
do correio eletrônico. Assim, a troca das cartas
○
O site <http://www.fnlij.org.br/livros/
○
guintes itens:
○
○
○
diversos tipos de leitores: homens, mulheres, tências e as dificuldades do aluno que ainda
○
○
crianças, mães de alunos, educadores; e os mais não pode ser considerado leitor maduro.
○
○
diferentes professores: jovens, nem tão jovens, 4. Por meio do resgate de sua história de leitu-
○
aposentados, residentes em grandes centros ra, o professor poderá compartilhá-la com
○
○
urbanos, em cidades do interior de qualquer os alunos e, assim, ajudá-los a construir a
○
○
estado do Brasil. Alguns lecionam na periferia, deles. Pode perguntar se gostam de ouvir
○
outros, na zona rural. Há, também, os que tra- histórias, de quais autores já ouviram falar,
○
○
balham na capital. São homens e mulheres quais os hábitos de leitura da família, as his-
○
tórias preferidas etc. Se as crianças já forem
○
cujas idades, implícitas nas cartas, revelam suas
○
alfabetizadas, pode questionar quem são os
○
experiências nas salas de aula. Há professores
○
autores preferidos, os livros mais marcantes,
de Português, de Geografia, de História, de Edu-
○
em que momento do dia (ou da noite) cos-
○
cação Artística, de Educação Física.
○
tumam ler, se gostam de ler em voz alta para
○
A maior parte das cartas destinou-se a pro-
○
○
os outros, se lêem revistas, jornais etc. Nes-
fessores, mas algumas previram diferentes des-
se momento, o professor pode esclarecer
○
da leitura.
○
da mediação do adulto diante das situações tores. Na escola, não são apenas professo-
○
○
de leitura dos escolares. Não se trata de um res e alunos que lêem; funcionários, biblio-
○
adulto qualquer, mas de um que tenha vín- tecários, orientadores, coordenadores tam-
○
○
culos afetivos com os alunos e, principalmen- bém devem ser reconhecidos como leito-
○
○
te, que goste de ler. Nas escolas, esse papel res, cada qual com sua história de leitura.
○
seus alunos/leitores, é necessário que o pro- promovendo feira de livros, idas à bibliote-
○
os modelos de leitura; de quais livros, textos escola em atividades de leitura, o aluno passa
○
ou autores gostou (e não gostou); quem lhe a vivenciá-las como sendo uma prática cole-
○
○
contava histórias; onde costumava ouvi-las; tiva, em que todos trocam experiências, livros,
○
○
quando descobriu que podia ler sozinho; de modos de trabalhar os textos na aula e fora
○
quais autores passou a gostar menos ou mais dela. Quanto mais rica for essa troca, mais
○
○
à medida que foi amadurecendo; que hábi- chances o aluno terá de se tornar leitor.
○
○
3. Conhecendo e reconhecendo sua trajetória não se esgota nela. Quando a criança tiver se
○
como leitor, o professor terá maior flexibili- transformado em leitora, terá competência
○
○
14
PAINEL 1
Desenvolvimento da competência leitora e escritora
para ler um texto literário, uma imagem, um país de leitores”, a campanha teve o reforço
○
○
enunciado de um problema de matemática, de um comercial de tevê e de um jingle de rá-
○
○
um mapa, um bilhete, uma paisagem, onde dio, além de cartazes e cartilhas feitos por
○
quer que esteja. Esse leitor não só desconhe- cartunistas famosos.
○
○
cerá o comportamento de que apenas lê o É o próprio MEC que divulga no site <http:/
○
quê e quando o professor quer que ele leia,
○
/www.mec.gov.br/acs/acorda/leit.shtm> a con-
○
como também será um leitor do mundo. cepção de tal campanha: professores, diretores,
○
○
9. Como ninguém lê tudo do mesmo jeito, não alunos, artistas, esportistas, contadores de his- 14
○
○
há uma única leitura possível ou a mais au- tórias e comunidade devem, juntos, reforçar a
○
torizada. Alguns alunos irão se envolver com importância do hábito da leitura dentro e fora
○
○
as emoções do texto, com as cores e formas da sala de aula.
○
Isso significa que a leitura mediada por adul-
○
das ilustrações. Outros, com os valores éti-
○
cos que perpassam as histórias. O professor tos com diversas competências, formando uma
○
○
precisa compartilhar esses diferentes modos comunidade de leitores, proposta no Histórias e
○
histórias, encontra-se identificada com os pro-
○
de ler dos alunos, sem hierarquizá-los.
○
jetos mais recentes do Ministério da Educação.
○
10. Só se aprende a ler em ambientes nos quais
○
A já citada campanha Tempo de Leitura
se lê. Por isso, o professor deve ser um leitor
○
maduro, que leia com e para a criança, fa- ○
○
complementa outras ações já implementadas
pelo Ministério da Educação, como os Progra-
○
Considerações finais
○
tre outros.
○
ca na Escola não é uma atividade isolada. A pu- podem começar a destruir uma constatação tão
○
○
blicação de Histórias e histórias vem ao encon- divulgada nos meios de comunicação e nas
○
fomento da leitura, como a campanha Tempo hoje não têm concentração suficiente para ler
○
○
de Leitura, promovida em setembro de 2001. obras clássicas, que têm preguiça de ler textos
○
longos e canônicos.
○
DESENVOLVIMENTO
DA COMPETÊNCIA
LEITORA E ESCRITORA
Célia Maria Mattos
17
Valorização da competência leitora
○
○
○
e escritora na rede de ensino do
○
○
○
município de Itatiaia/RJ
○
○
○
○
○
Célia Maria Mattos
○
PCN em Ação – Itatiaia/RJ – SEF/MEC
○
○
○
○
○
○
A Secretaria Municipal de Educação e Cul- Curriculares Nacionais em Ação, desenvolvido
○
tura do Município de Itatiaia criou um progra- pelo Ministério da Educação e implantado no
○
○
ma tendo como eixo temático “Construindo a município desde abril de 2001, programa esse
○
○
Cidadania Ativa”, com o objetivo de nortear os que vem promovendo a capacitação permanen-
○
○
trabalhos das escolas do município, para pos- ○
te de todos os professores da Educação Infantil
sibilitar o desenvolvimento de habilidades e e do Ensino Fundamental (1º e 2º segmentos).
○
○
competências dos alunos direcionadas a uma Esse programa vem possibilitando, ainda,
○
○
vação dos patrimônios ambiental e turístico, mento das atividades escolares, estimulando-os
○
○
ver a competência leitora e escritora de seu cor- da construção dos conhecimentos elaborada
○
○
po docente, a Secretaria Municipal de Educa- pelos próprios alunos, na qual novas competên-
○
○
ção criou o Projeto Flai – Feira de Livros e Artes cias e habilidades são exigidas pelo mundo atu-
○
sores e alunos, apresentados na Semana de Edu- Com a implementação de tal competência, pro-
○
○
para os formadores, devendo, portanto, ser consultas variadas, tais como jornais, livros,
○
○
priorizado. Foi com essa perspectiva que nós, documentos, relatos impressos e outros, pro-
○
Tais ações encontraram justificativas na ne- • introduzir, em todos os ciclos e níveis do En-
○
○
mentais nesse mundo globalizado e apoiado na pais e as comunidades locais, por intermé-
○
Simultaneamente, tais medidas encontra- alunos nos problemas encontrados nas reali-
○
○
18
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora
○
○
dos Parâmetros Curriculares Nacionais em
○
• freqüentes visitas dos envolvidos à biblioteca
○
Ação, ficou evidenciado que, para garantir a efe- pública do município;
○
○
tiva implementação dos PCN, a primeira medi-
• valorização da produção de conhecimentos
○
da a ser desenvolvida seria a formação da com-
○
pela comunidade local, com citações de len-
○
petência leitora e escritora dos professores da
○
das, relatos, poemas, histórias etc.;
○
rede municipal de ensino.
○
• elevação da auto-estima dos professores e dos 18
Nos primeiros encontros de formação, veri-
○
alunos mais envolvidos com a comunidade
○
ficamos que, entre os profissionais que atuam
○
local, ao pesquisarem suas origens;
○
nos diferentes ciclos e níveis do Ensino Funda-
○
• implementação da temática “Turismo” nas
○
mental, uma parcela significativa de professores
○
escolas, objetivando atender a essa importante
já possuía tal competência desenvolvida, eviden-
○
vocação regional e local;
○
ciada nas avaliações dos trabalhos propostos.
○
• desenvolvimento de contextualizações em
○
A heterogeneidade dos grupos de professo-
○
todas as áreas do conhecimento, com os pro-
○
res levou-nos a implementar o desenvolvimen-
○
to da competência leitora e escritora por meio fessores inter-relacionando seus assuntos com
○
o dia-a-dia da comunidade local.
○
de um projeto que possibilitasse o envolvimen-
○
○
ferências sobre o Município de Itatiaia foi o elaboradas pelos alunos, além de relatos, poe-
○
várias reflexões e debates, aliado à necessidade leitora e escritora é feita por meio de “oficinas para
○
○
de uma fonte de consultas que atendesse às professores”, oferecidas pela Secretaria de Educa-
○
expectativas dos professores, alunos, comuni- ção por uma especialista na Biblioteca Pública de
○
○
dade e turistas. Outro fator decisivo foi a Itatiaia. Da mesma forma, é oferecida a “hora do
○
○
inexistência desse material sobre o município, conto” aos alunos da rede municipal de ensino.
○
○
res foram agendados, com o objetivo de apro- Verificamos que os reflexos de tal compe-
○
○
decodificação, seleção, antecipação, inferência quanto ao planejamento das aulas, quanto à sua
○
○
do Ensino Fundamental, nas áreas do conheci- foram utilizadas na sala de aula, e seus relatos
○
○
mento de História, Geografia, Línguas, Matemá- demonstram uma compreensão mais clara de
○
○
tica, Ciências, Educação Física, Educação Artís- seu papel como educador.
○
grupos de leitores, após pesquisa e seleção dos ver uma nova concepção de sua prática, o que
○
○
a partir desse projeto, entre as quais destacamos: ção do que para a reprodução e centrada nos in-
○
○
• o envolvimento dos alunos, por meio da teresses e nas necessidades da comunidade, por
○
○
○
○
○
metodologia de formação:
○
○
○
caminhos possíveis
○
○
○
○
○
Beatriz Cardoso e Regina Scarpa *
○
Cedac
○
○
○
○
○
Apresentação pedagógica como algo sobre o qual se pode pen-
○
○
sar com certo distanciamento e com fundamen-
○
A presente investigação analisou uma expe-
○
tação. Complementar, porque no contexto des-
○
riência de formação continuada de professores, se diálogo ambos os aspectos interagem, coo-
○
○
no contexto do Programa Escola Que Vale peram reciprocamente e completam-se. Indis-
○
forma sistemática com a melhoria da qualida- se apresentam das teorias implícitas que os ori-
○
○
ao segmento de escolaridade que vai dos 7 aos construção e reconstrução de sua prática refle-
○
○
14 anos). O programa trabalha com 239 profes- xiva e de que a supervisão do trabalho do pro-
○
Interdependência pendência.
○
○
menos três perspectivas. Uma delas defende a da competência profissional e à relação existen-
○
○
prática, isto é, da prática de maneira indepen- nar-se apto para enfrentar situações novas, to-
○
○
dente da teoria. A outra tendência caracteriza- mando decisões apropriadas, além da oportu-
○
○
se pela subordinação da prática à teoria, ou seja, nidade de exercitar a reflexão sobre situações
○
mento dos especialistas. A terceira perspectiva Schön, diversos autores têm aprofundado a
○
○
tre teoria e prática aplicada à formação de pro- ção de professores (Shulman, Elbaz, Clarck,
○
fessores, como uma relação irredutível, comple- Alarcão, Perrenoud, Meirieu, Yinger etc.).
○
○
Irredutível, porque uma não se subordina à cionados, se considerarmos como premissa que
○
○
* Beatriz Cardoso: coordenadora de projetos do Cedac (Centro de Educação e Documentação para a Ação Comunitária) e professora-
○
○
doutora pela Faculdade de Educação da USP. Regina Scarpa: coordenadora do Programa Escola Que Vale no Centro de Educação e
○
Documentação para a Ação Comunitária (Cedac) e mestre pela Faculdade de Educação da USP.
○
20
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora
○
○
desafio de investigar como esse elemento deve de fato.
○
○
ser considerado nos programas de formação O maior desafio do PEQV é construir um
○
○
continuada de professores. modelo de projeto que ofereça de forma coo-
○
Essa preocupação norteou simultanea- perativa melhores condições de atuação, refle-
○
○
mente a concepção e a definição do conjunto xão e transformação do trabalho educacional,
○
○
de estratégias formativas do programa, bem permitindo a apropriação do processo por par-
○
como suas linhas de investigação. No caso des- te de todos os implicados (professores, direto- 20
○
○
se artigo, o foco estará nas seguintes questões: res e supervisores). Ou seja, o programa tem
○
○
• Como desenvolver uma metodologia de for- por objetivo criar uma metodologia 2 que fa-
○
mação continuada de professores que consi-
○
voreça o desenvolvimento de competências
○
dere a prática como elemento formativo e profissionais, mas que, acima de tudo, promo-
○
○
que seja capaz de interferir positivamente na va o desenvolvimento da autonomia e a neces-
○
aprendizagem dos alunos?
○
sidade da reflexão permanente sobre as práti-
○
• Como realizar uma formação sob tal perspec-
○
cas institucionais vigentes e sobre a qualidade
○
tiva, levando em conta a dimensão continen- das situações pedagógicas que estão sendo
○
○
tal do nosso país? oferecidas aos alunos, em contraposição ao
○
○
Para tanto, descreveremos o campo empí- modelo calcado na mera transmissão de co-
○
○
O contexto empírico:
○
O PEQV foi concebido em 1999, ano em que ções institucionais e, obviamente, do proces-
○
○
nais das redes públicas de ensino de seis mu- sões fundamentais no trabalho educativo que
○
○
da proposta piloto. Atualmente, o programa A ação pedagógica: que tem a ver com as fun-
○
atua em oito municípios. 1 O projeto deve ser ções que o professor desempenha dentro de
○
○
desenvolvido em dois anos de trabalhos inten- sua sala com o seu grupo de crianças, orien-
○
○
sos em cada município, contando com mais tadas para conseguir a máxima produtivida-
○
a autonomia dos profissionais envolvidos, uma leva a importância de uma boa infra-estru-
○
○
vez que uma intervenção externa ao sistema tura e de uma equipe de trabalho que asse-
○
○
escolar costuma ser provisória e ter um tempo gure o intercâmbio de idéias e espaços de pla-
○
de duração definido. Por essa razão, há uma nejamento conjunto. Dentro dessa perspec-
○
○
1
Os municípios atendidos atualmente são Marabá, Parauapebas, Barcarena e Canaã (Pará), São Luís e Açailândia (Maranhão), João Neiva
○
(Espírito Santo) e Catas Altas (Minas Gerais). Essa seleção foi feita depois de visitas aos municípios que pertencem à área de atuação da
○
○
Companhia Vale do Rio Doce, e depois de entrevistas com seus secretários de educação e de pesquisa sobre a realidade escolar dessas regiões.
○
○
2
Emprega-se aqui o termo “metodologia” no sentido de implementar uma prática e analisar as possibilidades das estratégias utilizadas. Não
○
se trata de formalizar uma proposta fechada, mas de sistematizar o aprendizado alcançado para orientar novas experiências formativas.
○
diversas ações articuladas: trabalho sistemá- ca pedagógica são os principais desafios a se-
○
○
tico com diretores e supervisores; criação da rem transpostos.
○
○
Casa do Professor, de um site e de um supor- É meta do programa possibilitar o traba-
○
te para a melhoria da infra-estrutura nas es-
○
lho dos professores com questões sociais sig-
○
colas de cada município. nificativas para alunos e para a comunidade,
○
○
O desenvolvimento pessoal e profissional: as utilizando a leitura, a escrita e a comunicação
○
○
dimensões profissional e pessoal são oral como instrumentos para a formação da
○
indissociáveis. A consideração desse aspecto cidadania. Para isso, destaca-se a possibilida-
○
○
deu-se na criação de estratégias que visam de de uso de recursos tecnológicos, tais como:
○
promover: a ampliação do universo cultural
○
computador, máquina fotográfica, gravador,
○
(oficinas de Artes e de Língua Portuguesa), os
○
filmadora, considerados importantes no pro-
○
processos de autoformação, a reconsideração
cesso de aprendizagem e formação do aluno,
○
de valores e da própria imagem como pro-
○
e que o próprio programa torna disponíveis.
○
fessor, de forma que este encontre sentidos
○
O contexto da formação de professores cri-
○
particulares em seus processos de constru- ○
ado pelo programa consiste no trabalho com
ção de conhecimento.
○
los professores.
○
A constituição de uma
○
metodologia de formação
○
continuada de professores:
○
caminhos possíveis
○
mesma atuação.
○
Ampliar os horizontes dos professores a fim gua possa ocorrer de fato. Com esse trabalho,
○
○
espaço de reflexão permanente sobre a práti- de leitura e escrita com seus alunos, que, por
○
○
○
○
○
3
Na estrutura proposta, os professores envolvidos no programa realizam, juntamente com seus alunos, quatro projetos no período de dois anos.
○
22
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora
sua vez, aprendem de forma contextualizada, pal que são selecionadas para assumir essa
○
○
sabendo o quê, para quê e para quem estão função).
○
○
escrevendo. O programa optou por eleger o conteúdo
○
○
Uma das vantagens dos projetos é que seu de Língua Portuguesa como eixo norteador da
○
desenvolvimento se dá em torno da execução formação de professores por ser esse conhe-
○
○
de uma meta clara, como, por exemplo, a con- cimento fundamental e instrumento essencial
○
○
fecção de um livro, de um CD, de um vídeo para a aprendizagem de qualquer outro cam-
○
etc. As situações didáticas oferecidas criam po de conhecimento. 4 Por meio da implemen- 22
○
○
condições de sentido para o aluno. A apren- tação de projetos, pretende-se criar para o
○
○
dizagem se consolida para ele, despertando o professor um contexto paralelo de desenvol-
○
○
seu interesse em permanecer na escola. Mui- vimento. 5
○
tas vezes, embrenhada em sua tarefa, a esco- Nesse contexto ele poderá, entre muitas
○
○
la se volta para a preparação futura do aluno outras coisas, construir conhecimentos peda-
○
○
e deixa em segundo plano o estabelecimento gógicos, desenvolver um novo olhar sobre as
○
○
de sentido a cada passo do processo de apren- relações entre professor e aluno e reformular
○
dizagem. o que entende a respeito dos processos de en-
○
○
Além disso, os projetos se caracterizam sino e de aprendizagem. O programa pressu-
○
○
por uma tarefa coletiva composta de diversas põe que, à medida que se apropria desses no-
○
○
subtarefas. Para sua execução, é preciso: pla- vos saberes, o professor certamente passará
○
nejar; prever; dividir responsabilidades; ad- a utilizá-los em outros momentos de seu tra-
○
○
agindo de acordo com normas, valores e ati- tica e do projeto educativo que se têm para o
○
○
tudes esperados; organizar o tempo; dividir e aluno. São os objetivos gerais em relação à
○
redimensionar as tarefas; e avaliar os resulta- aprendizagem dos alunos que devem nortear
○
○
dos em função do plano inicial. A caracterís- o trabalho com os professores, a fim de lhes
○
○
desenvolvimento do projeto, favorece o ne- fazer necessários para tanto. Por essa razão,
○
de com sua própria aprendizagem, pois ela é cepção do ensino da Língua Portuguesa como
○
○
muito mais produtiva quando o grupo que objeto do conhecimento claramente assumi-
○
○
realiza tal projeto conta com a participação do para o aluno, bem como a expectativa de-
○
sionados em seus trabalhos por coordenado- O PEQV entende que um sujeito prepara-
○
○
ção – Cedac) que fazem visitas mensais aos em que está inserido é alguém capaz de utili-
○
○
acompanhamento a distância. Além disso, dispomos hoje. Não basta apenas saber ler e
○
○
contam com o apoio operacional de coorde- escrever, é necessário também ser capaz de
○
nadoras locais (professoras da rede munici- interagir com a língua escrita de forma plena.
○
○
○
○
○
○
4
Essa estratégia também tem a intenção de colaborar na implementação das idéias referendadas nos PCN (Parâmetros Curriculares Na-
○
cionais), que estabelecem uma referência sobre o que e como se deve ensinar em cada área do conhecimento.
○
○
○
5
Embora esse espaço esteja sendo criado dentro do período escolar existente, a experiência é realizada no horário destinado na grade curricular
○
às aulas de Língua Portuguesa. Como já dissemos, os conteúdos trabalhados nos projetos atendem às expectativas estabelecidas pelos PCN.
○
É preciso dominar os recursos tecnológicos histórias para crianças menores etc. Para pro-
○
○
que a cada dia estão mais presentes no cotidi- piciar aos alunos o domínio no campo da lin-
○
○
ano do cidadão, além de desenvolver uma sé- guagem, é preciso fazer que essa língua, a que
○
○
rie de valores e atitudes condizentes com uma usamos de fato, “invada” a escola por meio de
○
prática da cidadania. situações contextualizadas de leitura e escri-
○
○
Junto com os profissionais com quem ta, como uma grande campanha em prol do
○
○
atua, o PEQV procura ressignificar o sentido saber ler, escrever, ouvir e falar com compe-
○
da escola em nossa sociedade, por meio de es- tência.
○
○
tratégias que integrem, de modo dinâmico, a A realização dos projetos, como está pro-
○
○
cultura local e a universal. A escola deve ser posta no âmbito do PEQV, além de criar um
○
○
tratada como lugar privilegiado de inserção contexto em que o aluno experimenta de ma-
○
dos alunos no universo do conhecimento. neira significativa as possibilidades de leitu-
○
○
O programa atua em regiões desfavoreci- ra e escrita, favorece a concretização de as-
○
○
das do país, onde a falta de acesso ao mundo pectos centrais, anteriormente enunciados,
○
○
letrado é sem dúvida um fator de exclusão de ○
relativos à consideração de uma epistemolo-
g ra n d e p a r t e d a p o p u l a ç ã o. Ou t r o d a d o gia da prática. Com a fundamentação em pro-
○
○
determinante para a definição do trabalho postas desse tipo é possível criar um contex-
○
○
nessa área é que este, quando bem-conduzi- to formativo, em que se mobilizem as com-
○
○
para a formação do cidadão. Ler, escrever, ou- atua em função das questões que emergem
○
○
escolares ou extra-escolares, sejam elas de preender o que eles têm de ensinar e por que
○
○
produção ou de compreensão da Língua Por- ensinar. Se é isso que faz sentido para os pro-
○
○
tuguesa. Pode-se dizer que as atividades fessores, torna-se necessário, então, concili-
○
discursivas expressas em textos orais ou es- ar duas classes de propósitos: a dos que ensi-
○
○
critos são imprescindíveis no ambiente esco- nam e a dos que aprendem. As situações pro-
○
○
lar, pois todas as ações realizadas individual- fissionais são complexas e os conhecimentos
○
○
mente ou em grupo envolvem essas quatro não têm uma aplicação linear. O professor
○
competências. No entanto, apesar da impor- tem de agir em situação, por isso precisa ad-
○
○
maioria das vezes ela aparece na escola essa é apenas uma parte do seu conhecimen-
○
○
desvinculada dos propósitos que lhe dão sen- to profissional. É necessário também que ele
○
É muito comum, na escola, que o aluno te- trás daquela situação didática. A construção
○
○
nha acesso somente ao livro didático e que as do conhecimento profissional implica, assim,
○
○
atividades de Língua Portuguesa acabem sen- a construção de um contexto que ofereça aos
○
do restritas e não apresentem vínculo com si- professores, simultaneamente, o acesso aos
○
○
língua implica necessariamente colocá-los em pensam os professores, quais são suas “teo-
○
○
diversas situações reais de produção de lei- rias”, como realizam seu trabalho em sala de
○
○
tura e de produção de texto, como, por exem- aula e as conseqüências desse fazer na apren-
○
○
plo, preparar um discurso, fazer uma apresen- dizagem dos alunos (o que sabem, o que des-
○
ver um livro de histórias, contar para os cole- Os resultados alcançados no PEQV validam
○
○
gas uma história que tenha lido ou ouvido, ler a utilização do cardápio de projetos como um
○
24
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora
elemento importante na criação de um con- buscam, a partir da reflexão sobre a ação, iden-
○
○
texto formativo com essas intencionalidades. tificar problemas, conhecer os processos de
○
○
aprendizagem dos alunos, pensar sobre suas
○
○
A supervisão: “uma ampliação da visão” interferências e, portanto, adequar cada vez
○
mais o diálogo entre o ensino e a aprendiza-
○
A supervisão do trabalho pedagógico carac-
○
gem.
○
teriza-se como espaços presenciais 6 e a distân-
○
O PEQV atua baseado na prática e na
○
cia, para que professores e coordenadores (re- 24
teorização da prática, com o intuito de ajudar
○
gionais e locais) reflitam sobre o que foi pro-
○
os profissionais envolvidos a aprender a “fa-
○
posto aos alunos e planejem as próximas eta-
○
zer”, a compreender esse “fazer”, adequando-
○
pas do projeto.
○
o e transformando-o de acordo com uma situ-
Essa supervisão constitui um dos grandes
○
ação concreta. Portanto, a estratégia de apre-
○
diferenciais que o PEQV oferece. Esse traba-
○
sentação de um cardápio com propostas de di-
○
lho é realizado por um profissional com mais
○
ferentes projetos a serem realizados ganha
○
experiência, que atualmente é formador, mas
○
outra força, na medida em que se oferece uma
já foi professor e, portanto, tem experiência
○
condição material e conceitual para o seu de-
○
de sala de aula. Seu encontro sistemático com
○
senvolvimento.
o professor, o diretor e o supervisor possibili- ○
○
compreensão da teoria que a sustenta. A con- Por sua própria especificidade, a observa-
○
○
figuração de um espaço de troca e aprendiza- ção em sala de aula é a estratégia que mais da-
○
○
gem dessa natureza é muito comum em di- dos nos fornece para a reflexão com os profes-
○
versas profissões e em muitas escolas que ofe- sores em processo de formação, pois nela não
○
○
conta com a possibilidade de diálogo entre escrito, mas essencialmente no plano em que
○
pares, pois estimula a troca de saberes. O fato ocorrem interações, atitudes, valores, objeti-
○
○
de configurar uma arquitetura de funciona- vos e intervenções, tendo, por isso, um papel
○
○
das práticas.
○
lares do processo tem feito que as respostas e práticas, que foram diretamente observadas
○
○
o nível de compreensão dos professores en- pelo formador ou gravadas em vídeo, têm por
○
Isso representa um enorme avanço, porque ções, buscando as próprias soluções nas ques-
○
○
permite superar a situação habitual de solidão tões que essas práticas apresentam. Essa es-
○
uma interlocução que é o motor do crescimen- blemas e a pensar estratégias de resolução des-
○
○
to profissional. Aos poucos, os professores vão tes, a investigar, a ver sob outras perspectivas,
○
○
6
Os encontros presenciais consistem em reuniões organizadas entre professores e coordenadores, que somam um total de sete horas de
○
○
○
tas de intervenção didática, a refletir e a dis- servação da aula é guiada por uma consigna
○
○
cutir a adequação das mesmas. clara, geralmente questões problematizadoras
○
relacionadas com o propósito da observação,
○
No primeiro ano do programa, foram mais
○
freqüentes as situações de observação de au- recortada por comentários dos professores do
○
grupo sobre situações ou passagens (simila-
○
las de outros professores realizadas em outros
○
res ou não) ocorridas em suas salas de aula.
○
contextos (vídeos de acervos particulares ou
○
direcionados à formação de professores), a fim • Cada professor tem de se remeter à própria
○
○
de garantir o distanciamento necessário para aula para ampliar os aspectos observados.
○
Dessa forma, portanto, saímos de uma situa-
○
a análise de questões específicas sobre o ensi-
○
ção isolada (a aula do professor X) e vamos
○
no e/ou a aprendizagem e a progressiva cons-
○
para outros contextos (as vivências de cada
trução de uma atitude profissional de reflexão,
○
professor participante da supervisão). Isso re-
○
compartilhada com a prática. No segundo ano
○
sulta na criação de uma situação-problema:
○
de trabalho, quando o vínculo de confiança en-
○
○
se a atividade é a mesma, o que faz que os
tre professores e formadores estava estabele-
resultados observados tenham características
○
tão diferentes?
○
dos alunos.
○
guns cuidados:
○
atividade que será gravada (o formador se co- formador é o de identificar e isolar determi-
○
cutir os aspectos que estarão sendo focaliza- tematização dos conteúdos envolvidos para a
○
○
tégias para sua apresentação (esclarecimen- co etc. A supervisão potencializa, assim, dis-
○
signas7 que guiarão a observação feita pelos pectos da situação de ensino ou da situação
○
○
7
Consigna é a instrução dada para a realização de determinada tarefa.
○
26
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora
Após a análise de resultados que represen- referencial para resolver outros problemas pro-
○
○
tam diferentes níveis de reflexão, podemos fissionais.
○
○
avaliar que as situações que trazem mais de- No trabalho com bons modelos de situa-
○
○
safios aos professores e que estão no âmbito ções didáticas, os conteúdos apresentam-se
○
das supervisões são aquelas que demandam a de forma contextualizada, isto é, procura-se
○
○
utilização de competências relacionadas, em lidar com situações que dêem sentido aos co-
○
○
menor ou maior grau: nhecimentos que devem ser ensinados, seja
○
• à organização do discurso sobre a própria na atuação do formador com o grupo de pro- 26
○
○
prática; fessores, seja no modelo de atividades presen-
○
○
• a um nível de reflexão que passa pela inter- tes nos vídeos que são analisados. Em função
○
○
pretação de episódios da própria prática; disso, as situações de descontextualização
○
desses conhecimentos são fundamentais, pois
○
• a um nível de reflexão que leva à reconstru-
○
enquanto os professores participam das situ-
○
ção e à alteração da prática.
○
ações propostas não sabem que esses mesmos
○
○
Modelos de boas situações didáticas conhecimentos poderão ser utilizados em
○
outras ocasiões. Assim, a criação de uma si-
○
○
A criação de contextos de aprendizagem tuação-problema para que os professores co-
○
que sejam similares aos que os professores irão ○
○
tante para se trabalhar com situações que pro- deve ser garantido na formação, para que os
○
○
duzam boas aprendizagens para as crianças e professores, com a ajuda do formador, pos-
○
professores vão realizar com os alunos, mas Temos observado que, quando um conhe-
○
cípios didáticos e, por isso, possam servir de recebe ajuda para construir um projeto de
○
○
Donald Schön tem uma posição clara a texto específico no qual foi inicialmente traba-
○
ele, muitas das aprendizagens de novas com- que aprenderam, e faz o acompanhamento des-
○
○
petências passam pela imitação, que não é sas aprendizagens: os conteúdos tratados são
○
que há de essencial na atividade, de modo que após terem sido colocados em prática. Com
○
compreensiva.
○
A teoria tem um papel insubstituível nesse conteúdos em questão num nível de complexi-
○
○
○
○
vale a dizer que a didática utilizada pelo for- acompanhamento do trabalho pedagógico dos
○
○
mador procura ser coerente com os mesmos professores. Nessa comunicação a distância, a
○
○
conceitos e princípios assumidos para o tra- coordenadora local de cada município tem um
○
balho do professor com as crianças. importante papel, pois é ela quem viabilizará
○
○
Sendo assim, nessa modalidade, os pró- a realização das ações combinadas e o envio
○
○
prios contextos formativos e a relação entre de materiais para a coordenadora regional, tais
○
formador e professor são tomados como si- como:
○
○
tuações exemplificativas de modelos didáti- • as fitas de vídeo com filmagens de situações
○
○
cos, atitudes e modos de organização que se de sala de aula, acompanhadas de registros
○
escritos pelas professoras e das produções das
○
pretende que venham a ser desempenhados
○
na prática pedagógica com as crianças, de crianças da sala;
○
○
modo que os mesmos sejam continuamente • seus próprios relatórios das reuniões de su-
○
○
analisados com olhares de proximidade e pervisão semanais realizadas com os profes-
○
distanciamento, alternando entre o vivido e ○
○
sores;
a reflexão sobre o vivido, entre o observado
○
e a reflexão sobre o observado. Dessa forma, elaborados pelas supervisoras que acompa-
○
○
do formador, o que acontece e quais são as A leitura e a análise de todo esse material
○
propõe.
○
Como já foi dito, um dos principais desa- ciais, uma vez que, com a análise das necessi-
○
de formação a distância, dadas a localização dades com que deparam para o desenvolvi-
○
○
de cada município participante e a necessida- mento dos projetos, ela pode antecipar ques-
○
ção. Para isso, o programa viabilizou em cada reais necessidades dos professores e planejar
○
○
supervisões presenciais.
○
sões coletivas de vídeo com debate, oficinas de A experiência anteriormente descrita per-
○
○
blioteca, acesso a recursos tecnológicos e à início deste texto e identificar alguns aspectos
○
Todo mês, após os encontros presenciais da O contexto formativo criado pelo PEQV va-
○
8
A Casa do Professor é fruto da parceria com as Secretarias Municipais de Educação e é gerida por grupos de professores e representantes
○
28
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora
tese que está por trás dessa experiência é a de aprofunde seus conhecimentos sobre o con-
○
○
que o professor pode desenvolver sua compe- teúdo que será ensinado, articulando-o com o
○
○
tência profissional no próprio processo de “como” ensiná-lo e “para quem” ensiná-lo. É
○
○
construção e reconstrução de sua prática re- só com base nesse tipo de conhecimento que
○
flexiva. o professor poderá atuar de maneira pertinen-
○
○
Todo o contexto, anteriormente descrito, te na formulação, no encaminhamento e na
○
○
propicia a análise de diversos aspectos ligados avaliação de situações didáticas. Para isso, o
○
ao processo de aprendizagem dos professores. professor precisa saber como a criança pensa 28
○
○
A constituição e a implementação de uma e aprende, e a teorização de situações práticas
○
○
metodologia de formação de professores, que pode ajudar na construção de novos observá-
○
○
tem como objetivo interferir positivamente na veis sobre o processo de aprendizagem da cri-
○
aprendizagem dos alunos no campo da leitura ança, oferecendo-lhe condições de análise crí-
○
○
e da escrita, implicam a consideração de de- tica de diferentes concepções didáticas.
○
○
terminados pressupostos e, conseqüentemen- Entretanto, o grande desafio é que esse
○
○
te, a validação de certas estratégias. A forma- aprendizado não ocorre de maneira descon-
○
ção de professores está apoiada em três eixos, textualizada, desvinculada da prática, e, por-
○
○
a saber: tanto, não pode ser tratado como conheci-
○
○
sobre ela.
○
○
Didática
○
nea dos mesmos eixos que se pode compreen- estabelecer um vínculo novo com o conheci-
○
der os processos dos professores e garantir, ao mento e com o seu processo de aprendizagem.
○
○
mesmo tempo, um impacto positivo sobre a O professor não é tratado como um técni-
○
○
Uma real ajuda na formação do professor que recebe instruções e coloca-as em prática.
○
significa criar condições para que ele de fato Seu desempenho profissional possui dimen-
○
○
amplie seus conhecimentos profissionais, en- sões muito mais sofisticadas, pois depende de
○
○
tendendo por conhecimento profissional a uma constante reconstrução do que está pla-
○
○
no;
○
ver, no processo de formação, estratégias com terreno de criação do professor e essa possibi-
○
○
a intenção clara de permitir que o professor lidade se baseia em capacidades muito carac-
○
○
○
○
9
Esse conceito foi tomado emprestado de Philippe Meirieu.
○
○
terísticas, que têm de ser desenvolvidas por o de buscar meios de interferir positivamente
○
○
quem assume tal função: a capacidade de ob- em sua atitude perante o trabalho, criando
○
○
servar, analisar, mobilizar conhecimentos re- condições para que possam, cada vez mais,
○
○
levantes, avaliar e criar vínculos com o aluno. assumir a responsabilidade de ensinar.
○
Quem efetivamente determina a qualidade do Uma proposta de melhoria da qualidade da
○
○
trabalho em sala de aula é o professor. aprendizagem nas escolas deve necessaria-
○
○
A atividade docente demanda a construção mente criar espaços de formação em que os
○
de uma série de conhecimentos e competên- professores possam vivenciar experiências
○
○
cias por parte do profissional. Exige uma pos- concretas e se apropriar de procedimentos que
○
○
tura reflexiva para que possa: compreender as lhes permitam transformar seu fazer pedagó-
○
○
questões envolvidas no trabalho e desenvolver gico. Para que isso ocorra, é necessário: confi-
○
competências para identificá-las e resolvê-las; gurar espaços que promovam o trabalho cole-
○
○
ter autonomia para tomar decisões; assumir a tivo; fazer o intercâmbio entre pares, propici-
○
○
responsabilidade pelas opções feitas. Requer ando momentos de ajuda e troca; estimular o
○
○
também que o profissional saiba avaliar criti- ○
intercâmbio entre professor e algum agente
camente seu desempenho e o contexto em que externo qualificado, que permita a identifica-
○
○
atua, interagindo de forma cooperativa com a ção de aspectos que ficam “invisíveis” para
○
○
equipe à qual pertence. quem está fazendo – tudo isso com a perspec-
○
○
quais estão os conhecimentos teóricos que deve investir na constituição da escola como
○
agir que necessita ser reconhecido pelos pares Entretanto, apenas criar um clima favorá-
○
○
e pelos outros, e cuja constituição pode e deve vel e fomentar o trabalho em equipe não é su-
○
○
ser promovida em termos coletivos. Um exem- ficiente para transformar a condição didática
○
○
organizar a aprendizagem dos alunos, ou seja, isso, sejam dadas ao professor as condições e
○
○
saber fazer uma programação, saber elaborar as possibilidades de aprender a fazer, fazen-
○
○
boas situações de aprendizagem, saber anali- do. Mais do que criar mecanismos normativos
○
○
sar os erros dos alunos, saber individualizar de explicação sobre o que se deve fazer, a for-
○
uma resposta etc. Não se trata de instituir um mação continuada tem de ajudá-lo a compre-
○
○
modelo único de competência. Há muitas ma- ender o que faz e por que faz, à medida que
○
○
neiras de ser um bom professor, e isso implica vá tendo a oportunidade de atuar e de inter-
○
○
a construção de um estilo próprio e envolvi- pretar de forma fundamentada o que foi rea-
○
pedagógica, lançando mão de recursos e co- dor só tem sentido se estiver em sintonia com
○
○
to, integrando saberes, sensibilidade e inten- tões do professor. É nessa interlocução pauta-
○
○
cionalidade para responder a situações reais, da pela prática que será possível a construção
○
Essa experiência mostra-nos que o foco da de gerar situações que propiciem ao professor:
○
○
formação continuada de professores deve ser organizar o discurso sobre a prática; adquirir
○
30
PAINEL 2
Desenvolvimento da competência leitora e escritora
○
profesores. In: ANGULO, L. (Org.). Pensamiento de los
○
tação de episódios da prática; teorizar sobre o profesores y toma de decisiones. Sevilha (Espanha):
○
○
Universidad de Sevilla, 1986.
ocorrido, a fim de a promover uma reconstru-
○
LUQUE, A., ORTEGA, R., CUBERO, R. Concepções
○
ção e a alteração da prática sempre que se faça
○
construtivistas e prática escolar. In: RODRIGO, M. J.,
necessário.
○
ARNAY, J. José. Domínios do conhecimento, prática
○
Vale ressaltar, ainda, que uma prática de educativa e formação de professores. São Paulo: Ática,
○
○
formação continuada deve considerar que o 1998.
○
desenvolvimento profissional implica um pro- MACEDO, L. de. Epistemologia construtivista de Piaget e 30
○
○
cesso no qual o professor vai construindo seus psicopedagogia. In: A práxis psicopedagógica brasilei-
○
ra. São Paulo: ABPq, 1994.
○
conhecimentos a partir da própria experiên-
○
MEIRIEU, Ph. Aprender… sim, mas como? Porto Alegre:
○
cia e das aprendizagens conquistadas a cada Artmed, 1998.
○
etapa do trabalho. É um processo gradual em
○
NÓVOA, A. (Org.). Os professores e a sua formação . Lis-
○
que, a cada passo, os conhecimentos adquiri- boa: Dom Quixote, 1992.
○
○
dos permitirão interpretar, em outras perspec- PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar .
○
Porto Alegre: Artmed, 1999.
○
tivas, experiências e questões que antes não
○
PIAGET, J. Lógica e conhecimento científico. Porto: Porto
eram observáveis. A formação deve ser pensa-
○
Ed., 1981.
○
da a partir de uma concepção de níveis de co-
○
○ . Sobre a Pedagogia. São Paulo: Casa do Psi-
nhecimentos que se vão desenvolvendo por
○
cólogo, 1998.
○
meio de processos construtivos de ação–refle- PIAGET, J. et al. Abstração reflexionante . Porto Alegre:
○
Artmed, 1995.
○
estratégias de supervisão. Porto: Porto Ed., 1996. SHULMAN, L. Knowledge and teaching foundations of the
○
CARDOSO, B. Ensinar a ler e escrever: análise de uma new reform. In Harvard Educ. Ver, v. 57, n.1, 1987.
○
○
competência pedagógica. São Paulo, 1997. Tese (dou- TEBEROSKY, A. Aprendiendo a escribir. Barcelona: Horsori,
○
CARDOSO, B.; EDNIR, M. Ler e escrever, muito prazer. São da leitura e da escrita. Petrópolis: Vozes, 1993.
○
○
CLARCK, C. Asking the right questions about teacher pensamiento de los profesores hacia una concepción
○
○
preparation: contributions as research thinking. [Apre- de la actividad profesional. In: ANGULO, L. (Org.),
○
sentado ao Issat, Leuven, Bélgica, 1986.] Pensamiento de los profesores y toma de decisiones .
○
○
ELBAZ, F. Cuestiones en el estudio del conocimiento de los Sevilha: Universidad de Sevilla: 1986.
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
PAINEL 3
DESENVOLVIMENTO
DA COMPETÊNCIA LEITORA
E ESCRITORA DOS PROFESSORES
Margareth Aparecida Ballesteros Buzianaro
Marília Costa
33
Desenvolvimento da
○
○
○
competência leitora e escritora
○
○
○
○
○
Margareth Aparecida Ballesteros Buzianaro
○
○
Escola Estadual Professor Dário de Queiroz – SEE/SP
○
○
○
○
○
○
○
Resumo
○
○
Aos quase 40 anos, posso afirmar que ler e
○
○
Para o relato que faremos sob o tema supracita- escrever são práticas constantes em minha vida,
○
○
do optamos por focalizar, entre muitas possibilida- não só vinculadas à minha profissão de educa-
des, a contribuição que o trabalho muito criterioso e ○
○
○
dora, mas também à minha vida pessoal; ao meu
sério de toda uma equipe escolar vem desenvolven- ser mulher. Fontes inesgotáveis de prazer e sa-
○
teriais e financeiros, como o PNLD e o “Dinheiro Di- essa expressão possa parecer descabida. Ler e
○
o reconhecimento e a valorização do PROFA como nando públicas com seus escritos trazem, sim, a
○
○
um grande facilitador e articulador do nosso traba- alegria do saber; do poder transformar palavras
○
Solicitada a participar deste evento para fa- realidade – possível pelo domínio da linguagem
○
petência leitora e escritora”, pus-me a pensar em Mas tudo isso poderia ser bem diferente…
○
○
dois fatores que julgo importantes: “Por que fui Nascida em uma família muito pobre e total-
○
○
convidada?” e “Sobre qual aspecto de toda uma mente desestruturada, e tendo sofrido toda a sor-
○
experiência de vida leitora e escritora deveria me te de violências e abusos que uma criança pode
○
○
ocupar, ao proferir esse relato?”. sofrer dentro da própria casa, com certeza, pode-
○
○
Confesso não estar sendo fácil limitar-me a ria ser eu mais uma analfabeta, vitimada pelo
○
○
um ou dois pontos significativos de uma lista descaso, pelo preconceito e pelo abandono.
○
deveras grande, que, creio, seja não apenas mui- Foi a escola que mudou o meu destino. Sim, a
○
○
to importante, mas essencial para a formação e escola, e com certeza graças a algumas profissio-
○
○
Contudo, suponho que possa e deva me que, infelizmente, ainda hoje, muitas não sabem:
○
aventurar a contar um pouco de minha própria que às crianças pobres e desprovidas de tantas coi-
○
○
trajetória na construção dessa capacidade e, por sas, só resta a escola, e esta não pode lhes fechar
○
○
conseqüência dela, minha postura e meu em- mais uma porta. Que crianças pobres e frágeis po-
○
vas, uma tomada de consciência acerca do com- tes” no corpo e na alma. E podem mais! Podem vir
○
○
promisso que a educação escolar deve ter com a fazer muita diferença no pequeno mundo onde
○
○
34
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores
Pois é, tive essa sorte! E talvez por isso eu, todo esse povo, muitas preocupações: “Como
○
○
hoje, esteja aqui. Não, não foi à toa que me tor- ressignificar esse espaço de educação? Como har-
○
○
nei educadora! Eu precisava mesmo retribuir monizar os relacionamentos? Como contar com
○
○
esse tento! Daí, um trabalho incansável pela o apoio da comunidade? Como promover parce-
○
melhoria da qualidade do ensino oferecido na rias? Como trazer para a realidade, com a devida
○
○
escola pública. Um movimento constante em clareza, expressões do tipo ‘exercício da cidada-
○
○
busca de mais saberes. Um empenho honesto e nia’, ‘pensamento crítico’, ‘competência leitora e
○
verdadeiro no trabalho de formação dos educa- escritora’? Como prover e garantir formação den- 34
○
○
dores vinculados à escola, atualmente, sob a tro desse espaço formado?
○
○
minha responsabilidade. Esses questionamentos e dezenas de outros
○
○
A competência leitora e escritora não se dá poderiam estar perdidos ou guardados em ga-
○
ao léu. Muitas foram as gerações subjugadas e vetas, diários ou sessões terapêuticas, se não fos-
○
○
destinadas ao fracasso escolar. Temos hoje, no sem a crença no trabalho e a ousadia de tentar, a
○
○
ensino público, um considerável número de edu- partir da formação em serviço, aprofundar essas
○
○
cadores que não tiveram a oportunidade de de- questões, paradoxalmente, trazendo-as à tona,
○
senvolver essa competência e, portanto, não es- tirando-as das profundezas, do que às vezes pa-
○
○
tão aptos a colaborar para o desenvolvimento da rece inatingível. Ou seja, fazer aprendendo a fa-
○
○
viço não é apenas importante, ela é indispensá- Com a certeza de estar também aprenden-
○
vel. Com a já tão falada velocidade com a qual as do, vimos, eu e toda a equipe gestora que cami-
○
○
transformações vêm ocorrendo no mundo, é nha ao meu lado, sem a qual esse trabalho seria
○
○
mesmo impossível crer que um curso de nível impossível, investindo alegria, energia, entusi-
○
médio ou um curso acadêmico possa atender às asmo e, ao mesmo tempo, seriedade, compro-
○
○
nós, educadores, e ponto final, bem como não é peços, naquilo que temos chamado, em princí-
○
○
possível esperar que essa formação ocorra numa pio, de “capacitação”. E, hoje, há grupos de for-
○
via de mão única. Não bastará que diretores, co- mação de professores dentro de nossa escola,
○
○
ordenadores ou professores, num caminho soli- com maior atenção voltada aos projetos especi-
○
○
tário, tomem para si a luta por esse espaço de ais de reforço e recuperação paralela, cientes da
○
○
formação. Não bastarão apenas investimentos necessidade desses para o sucesso da progres-
○
nova cultura, que cabe às ações de ministérios, todo esse processo. As deficiências em nossa pró-
○
secretarias de Educação, universidades e de cada pria formação nos fizeram recorrer a cursos de
○
○
uma das escolas; cabe a cada profissional envol- extensão universitária, a pesquisas, leituras,
○
○
deve ser garantida a diretores, coordenadores pe- formação de educadores veiculados pelas tevês
○
dagógicos e professores, dentro de seus ambi- educativas, abertas ou não. E, é claro que, toma-
○
○
entes e horários de trabalho. E creio que seja esse das por ocupações de nossa rotina administrati-
○
○
Estou na Educação há cerca de vinte anos. Tive sempre insuficiente tempo, carregam (e sobre-
○
do Ensino Fundamental e da Educação Infantil. É preciso ficar claro que são experiências
○
○
Hoje, na direção de uma escola de Ensino Funda- modestas. Pequenos passos diante de tão gran-
○
co mais de cem funcionários, tenho, juntamente Com o advento do PROFA (Programa de For-
○
○
○
○
Tudo o que vimos trazendo desse curso, inclusi- mental, com o intuito de garantir o maior nível
○
○
ve todo o material (apostilas, fitas, tarefas, refle- de experiências e a maior circulação de conteú-
○
○
xões) vem se somando à nossa iniciativa. dos de cada uma das áreas do conhecimento;
○
Estamos sendo tomadas por uma clareza de pro- trabalho com artes visuais, inclusive vídeos, Edu-
○
○
pósitos, por uma objetividade em nossos encon- cação Física; melhoria nas relações da escola
○
○
tros, por uma segurança de estarmos descobrin- com a comunidade por meio de ações que es-
○
do o caminho correto. clarecem para os pais o que é e qual é a proposta
○
○
Juntamente com os grupos de formação de pedagógica da escola, enfim, todo um trabalho
○
○
professores, que vêm despertando em todos a serviço de uma transformação desse espaço fí-
○
○
maior consciência acerca do papel da escola no sico-social chamado escola.
○
desenvolvimento da competência leitora e escri- Aqui encerro meu relato de experiência, com
○
○
tora de todos os envolvidos no processo, mas, a esperança e a expectativa de ter conseguido
○
○
principalmente de cada criança que nela ingres- mais do que ser clara, considerando que nas en-
○
○
sa, ações facilitadoras e viabilizadoras desse de- ○
trelinhas muitas marcas ficaram conotadas. E com
senvolvimento também estão ocorrendo, como: uma expressão que, propositalmente, coloca um
○
○
projetos que garantem o empréstimo semanal de quê qualquer no ar: “feijão e sonho”. É que, não
○
○
livros literários e paradidáticos a todas as crian- sei bem o porquê, mas me faz lembrar uma
○
○
ças; visitas semanais de todas as classes à sala dualidade que sempre adorei em nosso mestre
○
de leitura da escola; saraus de leitura, canto, dan- Paulo Freire, que afirmava ser preciso crer na uto-
○
○
ça e outras expressões da linguagem no início de pia, porém com muita competência técnica.
○
○
cada período de aula; acervo literário, dicioná- Assim, devo crer que é possível “transformar o
○
rios, gibis e periódicos à disposição em todas as Brasil num país de leitores” (e escritores) e de algu-
○
○
salas de aula; salas-ambientes com rodízio de ma forma, quero ser, também, responsável por isso.
○
○
○
○
○
○
○
Colégio de Aplicação/UERJ
○
○
○
○
○
Resumo
○
○
○
○
um escritor competente? Para o escritor e tal do CAp/UERJ acreditamos que seja possível
○
ensaísta Stevenson, somente o autêntico leitor formar bons leitores e escritores na escola, fazen-
○
○
poderia desvendar os segredos das palavras, en- do com que aprimorem suas estratégias de ques-
○
aos seus apelos secretos. De acordo com a sua mos que a escola tem como função essencial
○
○
concepção de leitor e de leitura, é preciso dei- entretecer os fios que unem a criança a si mesma
○
xar-se ser cativado pelos livros para se tornar e ao mundo que a cerca. As relações entre a lei-
○
○
O bom leitor e o competente escritor já nas- estimulantes, tornando-se esse um dos lugares de
○
cem feitos ou a escola tem condições de cativá- efetiva contribuição para a formação do bom lei-
○
○
los, interferindo significativamente em sua for- tor, ou seja, do leitor que domina a competência
○
36
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores
○
legiando as ações que promovam não o hábito,
○
produzir novos sentidos. mas a paixão de ler.
○
○
Estruturando a nossa prática pedagógica a Neste painel apresentamos as nossas concep-
○
partir de uma abordagem construtivista- ções de ensino e de aprendizagem, narrando as prá-
○
○
interacionista, procuramos promover, em nos- ticas de leitura e de escrita desenvolvidas, ao longo
○
○
sas salas de aula, a circulação de textos e a par- dos últimos anos, de forma regular, em turmas do
○
tilha do prazer pelo ato de ler, considerando o Ensino Fundamental. Procuramos ampliar a dis-
○
○
professor como mediador desse encontro. Acre- cussão sobre a temática do letramento, desenvol- 36
○
ditamos, dessa forma, que a escola deva inves-
○
vendo um trabalho de formação de leitor calcada
○
tir na democratização do acesso à leitura, privi- na diversidade textual como eixo da ação escolar.
○
○
○
○
○
○
Introdução Concepções de ensino
○
○
e aprendizagem no DEF
○
No Departamento de Ensino Fundamental
○
○
do Colégio de Aplicação da Universidade do Es-
○
○
tado do Rio de Janeiro, CAp/UERJ, acreditamos A escola precisa de três coisas fundamentais.
○
○
que seja possível formar bons leitores e escri- Uma é que todo mundo – rico, pobre, preto,
○
tores na escola, fazendo que aprimorem suas es- branco, homem, mulher – encontre ali seu lugar
○
○
tratégias de questionamento dos mais diversos para aprender. Outra é que a escola tem que
○
○
textos. Entendemos que a escola tem como fun- ajudar a criança a perceber o mundo em que
○
ança a si mesma e ao mundo que a cerca. As que a escola não é uma instituição que trata
○
○
amanhã.
a formação do bom leitor, ou seja, do leitor que
○
○
nossas salas de aula, a democratização do escolar? Consideramos que a escola deva, efetiva-
○
○
acesso à leitura, permitindo a circulação de mente, assumir o seu propósito educativo de pro-
○
textos e a partilha do prazer pelo ato de ler, mover o desenvolvimento e a socialização de seus
○
○
Ao apresentar nossas concepções de en- suas crianças e de seus jovens na realidade social.
○
sino e de aprendizagem e nossas crenças em Tal como previsto no texto da Introdução aos Pa-
○
○
relação aos atos de leitura e de escrita e, ain- râmetros Curriculares Nacionais, entendemos a
○
○
da, ao narrar algumas práticas de leitura e prática escolar como uma ação “intencional, pla-
○
○
de escrita desenvolvidas, ao longo dos últi- nejada e sistemática”, com o objetivo de “formar
○
mos anos, de forma regular, em turmas do cidadãos capazes de atuar com competência e dig-
○
○
ampliar a discussão sobre a temática do demos que a escola possa e deva ser o espaço ide-
○
calcada na diversidade textual como eixo da Kato, quando afirma que a escola precisa ocupar
○
○
○
○
abordando a criança como sujeito ativo desse pro- sideramos a importância de se criar oportunida-
○
○
cesso” (Kato, 1990: 14). des de construção de estratégias de formulação,
○
○
Os princípios fundamentais norteadores de verificação e comprovação de hipóteses na cons-
○
nosso plano de trabalho prevêem que a sala de trução do conhecimento do aluno. Recorremos,
○
○
aula deva ser entendida como espaço de interação para isso, à utilização de diversos gêneros de tex-
○
○
verbal entre sujeitos, ou seja, como espaço efeti- tos, favorecendo a mais ampla compreensão dos
○
vo de diálogo, sendo que a interação deva ser en- seus empregos sociais. A criança é, desse modo,
○
○
carada como o locus produtivo da linguagem e, estimulada constantemente a realizar intercâm-
○
○
simultaneamente, como organizadora e formado- bios sociais, interagindo com os diferentes obje-
○
○
ra da atividade mental. Consideramos o conheci- tos de conhecimento e com os demais alunos e
○
mento como algo que não é dado, mas construído, professores envolvidos no processo. Utilizamos,
○
○
ou seja, reelaborado pelo sujeito, individual e co- também, os diferentes espaços do colégio – biblio-
○
○
letivamente, sob a intervenção segura e planeja- tecas, auditório, clube de leitura e sala de vídeo –
○
○
da dos professores. Encaramos o erro como parte ○
para desenvolver situações de leitura, escrita, pes-
importante do processo de aprendizagem. Ten- quisa, discussões e exposições orais.
○
○
indo para o fortalecimento da autonomia, do res- fazendo uma “escuta” generosa dos depoimen-
○
○
peito ao outro e da troca de saberes. tos pessoais, dos comentários, das descobertas
○
○
para o questionamento da escrita e o avançar das nossos encontros. Alguns momentos específicos,
○
○
em formação. A língua é encarada como produ- privilegiam, decerto, essa prática tão positiva
○
○
ção histórica e social, e o texto é, dessa forma, para a afirmação dos sujeitos do conhecimento,
○
áreas de conhecimento. É por meio dele que alu- Considerando os aspectos mencionados, re-
○
○
saberes. Recorremos às rodas de leitura e aos tes de nossas práticas de leitura e de escrita: le-
○
projetos como principais opções metodológicas vantamento de hipóteses sobre a língua escrita
○
○
práticas sociais de inclusão como norteadora da do processo de elaboração do texto; audição, lei-
○
○
Ao organizar o planejamento de nossa práti- narrações, descrições, notícias, contos, textos in-
○
damental do CAp/UERJ, enfatizamos as apren- critura de textos conhecidos: repetir, fazer alte-
○
○
dizagens essenciais para a formação de cidadãos rações, escrever diferentes versões; elaboração
○
○
tes objetivos gerais: desenvolver a atividade men- de narrativas; realização de pesquisas e coletas
○
○
tal autônoma e criativa no nível intelectual e a au- de informação; elaboração de exposições orais e
○
○
identidade e a noção de vida em sociedade; reali- tes, de rodas de leitura e de jogos em grupo, rea-
○
○
zar interações sociais; tomar decisões coletivamen- lizando intercâmbios sociais e produção de re-
○
○
38
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores
O que queremos que nossos alunos pensem leitor”. Sem desejar, portanto, negar a contribui-
○
○
a respeito de sua vida intelectual? Não quere- ção da escola para a formação do leitor, o
○
○
mos pouco. Nossas expectativas confundem- ensaísta, embora a considere apenas uma das
○
○
se com o que desejamos, em suma, para nós instâncias educativas estimuladoras da apren-
○
mesmos. Esperamos que tenham vontade de dizagem da leitura e da escrita, acredita plena-
○
○
conhecer e sintam prazer em aprender e que, mente na possível eficácia de sua ação no pro-
○
○
dessa forma, saibam concordar, discordar, cesso de iniciação do leitor. Tal crença leva-o a
○
relativizar as questões formuladas e, ainda, enumerar ações fundamentais de formação e de 38
○
○
saibam buscar novas informações em diferen- informação técnica e do manuseio de livros e
○
○
tes meios e possam trocar, por meio de fecun- de escritos variados, que promovam uma fami-
○
○
das relações interpessoais, o resultado de suas liaridade com o mundo da escrita, por meio da
○
pesquisas e descobertas. Enfim, desejamos que utilização de textos “verdadeiros”. Compreen-
○
○
nossos alunos assumam seu lugar de cidadãos, de, enfim, seus atos de leitura como o espaço
○
○
saibam se adaptar às novas situações e sejam da realização de atividades metaléxicas. As cri-
○
○
felizes, se possível. anças, em atividade reflexiva, levantam suas
○
hipóteses e avançam suas estratégias de ques-
○
○
tionamento da escrita.
Concepções acerca ○
○
○
que ela é trabalhada na escola. Mas ressalta que desenvolvimento de uma consciência metalin-
○
○
o fator que determina sua negatividade é a má güística. O desempenho do leitor estaria, dessa
○
colar. Defende, a educadora, portanto, a ade- de acionar, diante de todo e qualquer texto, seu
○
○
quação dos procedimentos empregados na es- sistema de valores, crenças e atitudes, fazendo
○
○
[…] o que se quer deixar claro é que a literatura Ao enfatizar o papel ativo do leitor em sua
○
○
é sempre e inevitavelmente escolarizada, quan- interação com o texto e com o mundo, Maria
○
que desenvolve resistência ou aversão à leitura lingüísticos, e sim de dar sentido a esses sinais:
○
○
leitura como reflexo positivo de uma crença na deva ser desmitificada e compreendida como
○
○
formação continuada do leitor, Jean Foucam- um processo abrangente, pois envolve um con-
○
bert (1994: 17) afirma: “Aprende-se a ler em junto de componentes em sua dinâmica. Por
○
○
dendo. A escola é um momento da formação do leitura de uma obra, aspectos sensoriais, emo-
○
cionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, Lajolo, pode-se avaliar a eficiência da tarefa do
○
○
culturais, econômicos e políticos. professor, nas atividades de leitura escolar, a
○
○
O leitor verdadeiro sabe que um texto – e partir de sua competência visível de sujeito lei-
○
○
mais especificamente o texto ficcional – não tor, demonstrada no diálogo com seus alunos
○
tem apenas um sentido, mas vários. Barthes nas atividades de leitura. Somente dessa forma
○
○
afirma a pluralidade do texto, assim como a será possível “contagiar” sua classe e promover
○
○
necessidade de pluralidade na leitura. “Ler é a inserção de seus alunos no mundo da leitura,
○
encontrar sentidos”, afirma. O leitor, por si só, favorecendo, sem dúvida, a participação cres-
○
○
ao aproximar-se do texto, não se encontra em cente deles como cidadão ativo no mundo. É
○
○
estado de inocência, mas já carrega consigo bem mais fácil e coerente formar leitores críti-
○
○
“uma pluralidade de outros textos” (Barthes, cos quando se é um deles.
○
1992: 44). Ao acionar seu olhar plural sobre o Nossas práticas de leitura e de escrita no CAp
○
○
texto, o leitor desencadeia um processo de no- originam-se, sem dúvida, de uma sincera paixão
○
○
meação progressiva de uma complexa rede de particular pela leitura e pela escrita. Ao realizar
○
○
significados. A tarefa do leitor, segundo o ○
nossos projetos, somos, naturalmente, guiadas
ensaísta, está associada à idéia de movimento, pelo desejo de despertar essa paixão em cada um
○
○
por meio da leitura, dos sentidos encadeados e sos propósitos e aos interesses das crianças, de-
○
○
“Para gostar de ler, devemos ter paixão pela os autores mencionados sugerem como uma ta-
○
○
Angela Kleiman. A escola, segundo a autora, pa- textos, propiciando condições para que o aluno
○
rece continuar a não perceber que as atividades construa seu aprendizado de forma ativa,
○
○
de leitura legitimadas por ela estão distantes do interagindo com o objeto do conhecimento e
○
○
ideal de atividade que desperte a curiosidade, o com os demais participantes das situações de
○
○
aula, para Kleiman, perde o sentido para os alu- Acreditamos que, também na escola, os alu-
○
○
nos porque é fácil ou difícil demais. O fracasso nos podem e devem ser contagiados pelo dese-
○
○
proveniente dos primeiros frustrantes contatos jo de ler e de ouvir histórias inventadas ou re-
○
○
com a palavra escrita tende a continuar nos anos ais e, ainda, poemas, canções, parlendas, pro-
○
seguintes, criando, segundo a teórica, ao contrá- vérbios, notícias, manchetes, cartazes, docu-
○
○
rio de todas as expectativas, um “não-leitor em mentos, textos científicos, mitos e lendas e ou-
○
○
formação” (Kleiman, 1993: 16). tros gêneros de texto, ampliando o seu conhe-
○
○
práticas de leitura que permitam o desabrochar do-se como sujeitos leitores competentes, crí-
○
○
tes textos e várias leituras circulem e dialoguem Acreditamos, ainda, que possam, utilizan-
○
○
entre si e com as leituras desse mesmo leitor, do a escrita, comunicar-se produzindo textos
○
colocando-se o professor como mediador des- que se orientam pelas normas gramaticais e
○
○
se encontro, resume-se, a nosso ver, no passo pela correção ortográfica. Na escola, as crian-
○
○
mais natural e acertado. Claro está que se o pró- ças refletindo, juntas, permanentemente, sobre
○
○
prio professor não tiver sido orientado, na es- os fenômenos da linguagem buscariam, enfim,
○
cola e fora dela, na construção de sua compe- expressar-se, oralmente e por escrito, defenden-
○
○
tência em leitura, pouco poderá ajudar na for- do seus pontos de vista, apresentando argu-
○
○
mação de outros leitores e, em muitos casos, mentos, propondo questões, formulando hipó-
○
○
poderá até prejudicar a sua iniciação. A histó- teses e comprovando teorias. Alguns dos proje-
○
ria de leitor do professor, certamente, determi- tos desenvolvidos aqui descritos permitem que
○
○
nará o grau de significação das práticas de lei- se avalie nossa prática diária no aprendizado de
○
○
40
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores
○
○
ção do conhecimento – em suma, novas formas
○
○
de poder. Atualmente, esse poder está distribuí-
○
Roda de leitura, rede de relações
○
do, tal qual a riqueza acumulada pelos mais dife-
○
rentes países, gerando grupos capazes de exercer
○
○
Professores: Celi Silva Gomes de Freitas; Cláudia o poder por meio da escrita e da leitura e grupos
○
○
Cristina Andrade de Azevedo; Cristina Maria Rocha que não o podem exercer, configurando uma for-
○
Clemente Ribeiro; Maria da Conceição Carvalho ma de exclusão nas sociedades letradas. Hoje, a 40
○
○
Rosa; Olga Guimarães Germano. discussão caminha na direção do letramento,
○
○
quando buscamos um trabalho de formação de
○
Roda de leitura, roda de conhecimento. A
○
leitor, de forma que este possa fazer uso das prá-
○
roda, o círculo, está presente nos mitos de distin- ticas sociais de leitura e escrita. A prática peda-
○
○
tas civilizações, em diferentes épocas. Espaço pri- gógica que temos adotado busca favorecer essa
○
○
vilegiado em todas as culturas – de partilhar, cons- formação, usando a diversidade textual como eixo
○
truir, tecer ritos, reverenciar costumes –, no mo-
○
da ação escolar. Na 3ª série do Ensino Fundamen-
○
vimento da roda há espaço para ouvir, falar, calar, tal, optamos por mergulhar na discussão e na pro-
○
○
circular idéias. Todos são um corpo na roda. dução de resenhas literárias, conseguindo, com
○
○
no chão tecem uma grande teia de textos que se “letramento” vem do inglês literacy, em que o
○
○
tocam, se cruzam e se entrecruzam em várias di- sufixo cy significa “estado ou condição de quem
○
○
reções, entretecendo várias relações, expandindo- tem habilidade de ler e escrever”. Estabelece a
○
se para além das paredes: faz-se rede. A roda de diferença entre aquele que sabe ler e escrever –
○
○
leitura define-se como um trabalho de uma políti- alfabetizado – e aquele que vive na condição ou
○
○
ca de inclusão (Geraldi, 1998), recuperando a fun- estado de quem não sabe ler e escrever. Aqui ela
○
○
ção social da leitura: ler para o outro, ler com o já observa que a palavra letramento carrega em
○
outro, contar o que leu, discutir o que leu, levar e si uma pluralidade de práticas sociais veicula-
○
○
trazer o lido e o vivido, ouvir opinião, buscar novas das às ações de ler e escrever. Para Kleiman, tam-
○
○
opiniões, expor emoções e sentimentos, concor- bém, a palavra singular representa o plural, o
○
○
dar e discordar. Como roda, temos a multiplicidade conjunto de ações sociais que envolvem o ler e o
○
de sentidos possíveis e a interação entre sujeitos. escrever. O nosso trabalho busca essa apropria-
○
○
Como rede, mantemos a incompletude da lingua- ção, ao elegermos textos para aprofundamento,
○
○
gem (Orlandi, 1988). A roda constitui o espaço de por meio do desvendar de suas estruturas lin-
○
güística e semântica.
○
rece como um dos leitores e como mediador: “ár- Na 3ª série/2000, um dos textos eleitos foi a
○
○
Cristina Maria Rocha Clemente Ribeiro; Maria Fa- e a produção final também foi decidida: um ál-
○
○
A escrita configura-se como um dos mais im- templou a análise de alguns aspectos da sinta-
○
○
portantes suportes tecnológicos nas modernas xe e da morfologia e a função social dos tex-
○
○
○
rio?”, “Para que serve esse texto?”. Tais elemen-
○
• entrevistas com especialistas e autoridades;
○
tos foram fundamentais para ampliar o conhe-
○
• leitura de documentos, mapas, notícias, propa-
○
cimento sobre esse gênero de texto, suscitan-
gandas, folders, folhetos, cartazes, charges, arti-
○
do o desejo de sua ampliação, verificado a par-
○
gos de revista, textos ficcionais, músicas, poe-
○
tir das perguntas que surgiam: “Como conven-
○
mas, verbetes, fotografias e textos científicos;
○
cer a[o] outra[o] a ler o livro? Que palavras usar
○
• observação e caracterização de espécies vege-
para seduzi-la[o]?”. A partir das leituras das di-
○
tais e animais de mangues;
○
ferentes resenhas, pudemos perceber como
○
• realização de pesquisas, experiências científi-
○
as[os] alunas[os] começaram a querer conhe-
○
cas, seminários envolvendo outras séries, cam-
○
cer e ler os livros sugeridos e como o universo
○
panhas educativas e um ensaio fotográfico;
cultural deles se ampliou: agora conhecem
○
○
mais autoras[es], ilustradoras[es], editoras e • produção de relatórios e de um dicionário ilus-
○
trado e listagem de novas perguntas e interes-
○
mais livros.
○
○
○ ses ao fim do estudo.
Professoras: Maria Angélica Alves, Leila Medeiros de grupal, a fim de garantir uma leitura mais
○
Nosso propósito e desafio: entrar por água de vínculo com o conhecimento adquirido, fa-
○
e os encantos (ou os desencantos) de seus rios, te, avaliar se houve avanço dos alunos no que se
○
○
mares, lagoas. Parece-nos fundamental pro- refere ao seu envolvimento com o objeto de co-
○
res e águas “merecem o gosto de se dar”. E dar- nomia no uso dos diferentes materiais, assim
○
do e empenho.
○
○
bre o tema;
○
• excursões às áreas de manguezais; logos são tão reais e tudo é explicado nos mínimos
○
○
42
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores
detalhes…”. Liam, com curiosidade e emoção, um rios de avaliação de cada aluno, assim como de
○
○
clássico da literatura brasileira. De capítulo em material didático específico para cada turma,
○
○
capítulo, discutiam temas complexos, como os ro- partilhado, efetivamente, por cada série.
○
○
mânticos e o romantismo, o preconceito, a traição, Ao assumir, com essa iniciativa, a autoria da
○
a fidelidade, o orgulho, o amor, a vida e a morte. prática pedagógica, apostamos na ruptura com
○
○
Começavam a imaginar os gestos, as falas, os ob- modelos cristalizados de relações de ensino. Re-
○
○
jetos e as personagens, brincando de representar afirmamos nosso desejo de investir, permanen-
○
as cenas da narrativa. Por que não ler e reescrever temente, na compreensão da escola condizente 42
○
○
a bibliografia e a biografia de Alencar? Por que não com este nosso tempo, assim como a intenção
○
○
adaptar o texto original do romance e criar o rotei- de dar continuidade ao nosso trabalho, fazendo
○
○
ro de uma peça de teatro? Pensado, dito e feito. A uma discussão responsável com a comunidade
○
peça O guarani encenada no CAp/UERJ foi o re- escolar, discussão essa orientada por uma con-
○
○
sultado de um longo e complexo processo de apro- cepção de escola experimental transformadora.
○
○
priação da língua e da literatura, assim como um
○
○
alegre, emocionado e emocionante encontro de
Bibliografia
○
crianças com o livro, da vida com a arte.
○
○
ALVES, Maria Angélica. Projeto Águas do Rio de Janeiro: os
○
○
manguezais. Rio de Janeiro: CAp/UERJ, 2000.
Debate, parceria, reflexão:
○
a organização do trabalho do professor Maria Rocha Clemente; SILVA, Maria Fatima de Souza.
○
○
culam no mundo, reflexão sobre aspectos da nos- BARTHES, Roland. S/Z. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.
○
○
sa realidade, investigação de problemas e enfren- FREITAS, Celi Silva Gomes de; AZEVEDO, Cláudia Cristina
○
sentes no dia-a-dia da sala de aula, das turmas de ROSA, Maria da Conceição Carvalho; GERMANO, Olga
○
○
1 CD-ROM.
○
Uma prática pedagógica dessa natureza tem GERALDY, João Wanderley. Linguagem e ensino: exercícios
○
uma historicidade – é transformadora – e pressu- de militância e divulgação. São Paulo: Mercado das Le-
○
○
tras, 1998.
põe um grande investimento dos docentes em sua
○
Fontes, 1990.
○
ção – de reflexões sobre a sua prática, bem como KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da lei-
○
docentes das redes públicas de ensino. O ensino, a . Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas:
○
○
Para o DEF está claro que a qualidade do tra- MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? São Paulo:
○
○
sa prática confirma essa concepção de organi- ORLANDI, Eni. Discurso e leitura. Campinas: Cortez, 1988.
○
○
zação do trabalho pedagógico: participação em SOARES, Magda. A escolarização da literatura infantil e ju-
○
○
○
○
○
○
Marília Costa
○
○
Fundação Projeto Travessia/SP
○
○
○
○
Introdução
○
mentais na escola, na família e na comunidade.
○
○
Durante esse processo, é realizado um tra-
A Fundação Projeto Travessia é resultado de
○
balho educativo com suas famílias, por meio de
○
uma criação coletiva de parceiros plurais – sin-
○
várias ações integradas e complementares, como
○
dicatos de trabalhadores e instituições – tendo
○
visitas e encontros com grupos de famílias, com
por missão garantir os direitos de crianças e ado-
○
o objetivo de gerar transformações nas represen-
○
lescentes que, circunstancialmente, fazem das
○
tações acerca dos papéis de cada um na rede fa-
○
ruas seu espaço de sobrevivência e/ou moradia,
○
○
miliar e nas formas de convivência.
como conseqüência da fragilização de seus vín- ○
período da educação na rua, que promove o pro- É fato incontestável que a condição de ser
○
○
cesso de “saída da rua”, culminando com a deci- alfabetizado é determinante para o exercício da
○
○
são de meninos e meninas por deixar de utilizar cidadania. As condições do mercado de traba-
○
o espaço público como local de moradia e/ou lho, as formas de produção de conhecimento e a
○
○
talecimento das relações familiares e comunitá- fabeto encontra atualmente muita dificuldade
○
rias, assim como a inclusão dos educandos no para sobreviver em sociedade, visto que o poder
○
○
sistema de ensino formal e na rede de atendi- encontra-se associado à cultura letrada. Além
○
○
mento (políticas sociais públicas) para a garan- disso, uma pessoa que não sabe ler e escrever não
○
○
tia de seus direitos fundamentais. Porém, como pode desfrutar de inúmeras práticas sociais de
○
na maioria das vezes o retorno à convivência fa- lazer e entretenimento que dependem do domí-
○
○
miliar não é imediato, muitos educandos passam nio da escrita. Portanto, em uma cultura letra-
○
○
por um período de transição que lhes proporci- da, não saber ler e escrever significa violação de
○
○
ares ou responsáveis e também dos espaços de- A maioria dos educandos atendidos pela
○
○
limitados para educação. Nesses casos, o abrigo Fundação tem pouco domínio das práticas so-
○
○
em entidades faz-se necessário como medida de ciais que usam a escrita, e muitos são analfabe-
○
○
caráter provisório, dentro de um processo edu- tos. Todos os matriculados na escola estão defa-
○
cacional mais amplo, que visa à inclusão social sados em relação à idade/série do ensino regu-
○
○
de crianças e adolescentes. Para esse período de lar, encontram muita dificuldade para acompa-
○
○
transição, a Fundação Projeto Travessia realiza nhar o grupo-classe na escola que freqüentam e
○
dade para a aprendizagem e propiciar adapta- o processo de inclusão no sistema de ensino for-
○
horários e regras a cumprir. As crianças e ado- os meninos e as meninas freqüentam, com a in-
○
○
lescentes freqüentam as atividades deste progra- tenção de estabelecer uma relação de parceria
○
○
ma até que possam exercer seus direitos funda- em prol da inclusão escolar. Mesmo assim, al-
○
44
PAINEL 3
Desenvolvimento da competência leitora e escritora dos professores
○
○
as atividades escolares não conseguem se man-
○
Os educandos que já deixaram as ruas como
○
ter por muito tempo na escola, abandonando
○
espaço de sobrevivência e moradia e vivem um
○
novamente o ensino formal.
○
O trabalho educativo tem a intenção de ge- processo de fortalecimento dos vínculos com a
○
família, comunidade e escola, freqüentam dia-
○
rar mudanças qualitativas no processo de
○
riamente as oficinas oferecidas no espaço fixo da
○
construção da própria identidade, ou seja:
○
transformações em relação à auto-imagem, ao Fundação. Nessas oficinas são realizadas várias 44
○
○
autocuidado, às relações afetivas, aos vínculos atividades envolvendo leitura e escrita, teatro,
○
dança, música etc.
○
familiares, à socialização e ao processo de es-
○
Alguns exemplos de propostas voltadas para
○
colarização, estimulando o desejo de deixar as
○
ruas como espaço de moradia/sobrevivência. o desenvolvimento da leitura e da escrita:
○
Fotonovela. Produção de uma história em
○
O foco do trabalho é a problematização das
○
quadrinhos a partir de uma história conheci-
○
práticas sociais, que são quase impossíveis de
○
da pelas crianças. Para isso foi necessário
○
realizar na rua, como, por exemplo: convívio
recontar a história na linguagem dos quadri-
○
familiar, escolaridade, programações culturais,
○
nhos, criar cenários e fantasias para serem fo-
○
esportivas e de lazer etc. Procura-se criar situ-
○
○
tografados, assim como o texto da fala dos per-
ações que gerem nos educandos questiona- sonagens.
○
○
leitura, criação artística, produção escrita, jo- pesquisaram muitas receitas em diversos por-
○
A formação profissional
○
○
vai até as ruas do centro de São Paulo e realiza Os educadores costumam participar de vários
○
confiança construídos nesses encontros com contros com profissionais que trabalham na insti-
○
○
os educadores são fundamentais para que as tuição – uma psicóloga, uma pedagoga e uma arte-
○
Fanzine. Elaboração de uma revista de baixo para realizar projeto de alfabetização em parce-
○
vidades realizadas, envolvendo a leitura de li- ta a capacitação dos profissionais sob orienta-
○
○
vros infantis e gibis, resultaram no Fanzine ção de uma equipe multidisciplinar, contem-
○
○
número zero, que traz entrevistas, poemas, plando questões relacionadas à didática da alfa-
○
dos por crianças e educadores, em parceria. diologia e antropologia. Esse projeto tem como
○
○
nas ruas com a intenção de dar destino e visi- gias eficazes para alfabetizar crianças e adoles-
○
bilidade às produções das crianças e adoles- centes que estiveram expostos a situações de ris-
○
○
centes, como, por exemplo, poemas, músicas co social e pessoal, como decorrência de um
○
○
CORRESPONDÊNCIA ENTRE
PROFESSORES COMO ESTRATÉGIA
DE FORMAÇÃO CONTINUADA
Beatriz Cardoso e Maria Cristina Ribeiro
Euzi Moraes
47
Correspondência entre professores
○
○
○
como estratégia de formação
○
○
○
○
Beatriz Cardoso e Maria Cristina Ribeiro
○
○
Cedac
○
○
○
○
○
○
Resumo
○
○
○
○
O Cedac vem apostando no intercâmbio escri-
○
tendemos discutir as seguintes questões:
○
to entre professores e capacitadores como uma fer- • A criação de um contexto para uma situação real
○
○
ramenta importante por meio da qual se pode es- de uso da linguagem escrita.
timular o professor a rever sua prática e a arriscar ○
○
○
• O vínculo e o reconhecimento como elementos
novas maneiras de conduzir o trabalho em sala de estruturantes da aprendizagem.
○
○
aula. A utilização dessa ferramenta em três proje- • O como fazer pedagógico como eixo do trabalho
○
tos distintos tem gerado reflexões instigantes so- de reflexão sobre a própria prática.
○
○
bre o papel da escrita na interlocução com profes- • A possível negociação de pontos de vista por meio
○
○
Euzi Moraes
○
○
Seja com o suporte do correio convencio- ser permanente; ser em rede; ser por escrito.
○
○
nal, seja via Internet, a correspondência entre Neste texto pretendemos relatar o que apren-
○
○
formadores e professores vem sendo apontada demos, por meio dessa interlocução.
○
experiência que passamos a relatar é, basica- agosto de 1997, com uma clara sensação de que
○
○
se apóia na prática intensiva da leitura e da es- sobre os professores e seus problemas. Afinal,
○
crita. Esse diálogo vem acontecendo há quatro vínhamos trabalhando em formação de profes-
○
○
anos no projeto intitulado Formação em Rede sores havia mais de uma década – tínhamos his-
○
○
nos Municípios de Atuação da Aracruz Celulo- tória. No entanto, a primeira grande lição que
○
○
se – Projeto Formar –, no Espírito Santo, com o aprendemos foi que conhecíamos muito pou-
○
de Educação (Ried).
○
48
PAINEL 4
Correspondência entre professores como estratégia de formação continuada
O diálogo
○
○
Só que em nosso país é exigido demais do
○
Precisávamos fazer um exercício de humil- professor e dado pouco valor ao mesmo.
○
○
dade. No princípio, escrevíamos muito e os pro-
○
O ambiente físico é precário, as salas de aula
○
fessores, quase nada. A dinâmica era enviar o
○
texto para estudo em grupo, receber o relatório em péssimas condições, principalmente as da
○
○
zona rural.
do estudo, dar devolutiva do relatório, enviar
○
○
mais texto… e assim, em rede, caminhávamos 49
○
O material didático é de baixo nível, os livros
○
– escrevendo e lendo… lendo e escrevendo. Se-
○
didáticos são seqüências de repetições.
lecionávamos textos, produzíamos textos, tra-
○
○
duzíamos textos e elaborávamos instruções so-
○
A maioria das crianças vai à escola para me-
○
bre o que fazer com os textos. As discussões nos rendar; as condições de vida são precárias. En-
○
grupos eram também o espaço em que se
○
fim, a condição social brasileira não oferece ne-
○
tematizava a prática pedagógica de cada pro-
○
nhuma ajuda para a realização do dia integrado.
○
fessor e professora e onde estes planejavam ino-
○
Era um diálogo de surdos. O conteúdo das
○
vações para as suas salas de aula. Datam desse
○
instruções e do texto era o que menos importa-
período os registros a seguir.
○
○
○
va a esses leitores em formação. Sentimos que
precisávamos chegar mais perto dos professores.
○
as instruções a seguir.
○
tece numa escola diferente da nossa, em um país 1. Estudo individual do roteiro do texto: cada
○
cípios em que se apóia essa prática e confrontá-la mente, antes das reuniões do seu grupo, obser-
○
○
ções à nossa concepção de educação e à nossa cipais idéias: grife à lápis, com caneta ou
○
○
seguintes respostas:
○
tes;
○
tas e dúvidas.
○
mas bem distante de nossa realidade, onde o ci- das na leitura individual, suas observações
○
que fazem da máquina administrativa um meio • iniciado o debate, deverão ser observados os
○
○
A nós é cobrado muito, exigido que se ensi- ção, limite de tempo para cada fala etc.;
○
so… Com isso, o professor fica desnorteado, in- serão imprescindíveis para a elaboração do
○
seguro e assustado.
○
relatório.
○
○
Observação. De maneira geral, ainda que não Pressupostos: Geralmente a escola que muda
○
esteja prevista uma aplicação imediata do texto seu foco e passa a dar importância ao conteúdo
○
○
em discussão a práticas de sala de aula, os pro- dos textos dos alunos acaba deixando de consi-
○
fessores participantes deverão adotar como prá-
○
derar o valor da correção ortográfica e gramatical.
○
tica permanente o registro escrito de toda e qual-
○
5. Agora que o texto foi apreciado pelo grupo, o
○
quer ocorrência em sala de aula que possa ter
que fazer para melhorar o conteúdo e a forma do
○
relação com o texto em estudo.
○
texto?
○
○
Pressuposto: Geralmente, a escola abando-
○
E os roteiros passaram a fazer parte da roti-
○
na os textos dos alunos, como se fossem produ-
na de nossa correspondência. Segue-se o “Ro-
○
tos finais.
○
teiro para avaliação de trabalhos de alunos” (as-
○
○
pecto: linguagem), no qual formulamos cinco
○
perguntas e oferecemos cinco pressupostos Com o detalhamento de nossas instruções,
○
○
para orientar a discussão dos professores. o diálogo entre formadores e professores avan-
○
çou. Contudo, a leitura compreensiva ainda ca-
○
○
do e é capaz de registrar por escrito os novos • Relato de práticas em sala de aula relaciona-
○
conhecimentos?
○
texto, na escola, focaliza mais a forma do que o ra regional no grupo e manifestação do gru-
○
○
“ruim” o texto com mais erros ortográficos e gra- Só que não ouvimos os professores, antes
○
○
3. A forma do texto atrai leitores? É um texto que tipo: “Qual a familiaridade que os professores
○
vale a pena ser lido? Ou é apenas mais um exer- têm com a leitura de textos e a escrita de sínte-
○
○
cício escolar, uma tentativa de cumprir as exigên- ses?”. Apenas bem mais tarde descobrimos que
○
○
como um ato de comunicação entre um escritor mada hoje pelo que leio em um folder da orga-
○
○
e um leitor, como um escrito que precisa desper- nização educacional Avante, com sede em Sal-
○
○
comunicação entre o autor e o leitor? Como? De Buenos Aires. Eis o que encontro na seção so-
○
○
50
PAINEL 4
Correspondência entre professores como estratégia de formação continuada
Abrir um fórum de debates sobre um tipo de tex- diferentes tipos de língua escrita […] A autora,
○
○
to particular para onde confluem de maneira para maior esclarecimento, cita as idéias de
○
○
especial as práticas de leitura e escrita: o resu- Ana Teberosky [...]”.
○
mo. Comentar investigações recentes sobre a
○
Ao longo dessa experiência, repetimos,
○
construção de resumos escritos. Propor alterna- aprendemos que não se parte do nada. As ins-
○
○
tivas didáticas para o ensino de resumos. E so-
truções ou orientações não criam a possibili-
○
bre o conteúdo: a complexidade do resumo
○
dade de decolar. Das instruções sobre “como
○
como tipo particular de texto. As estratégias in- 51
○
fazer” saltamos para a prática de “fazer” e “mos-
fantis para resumir textos expositivos e a quali-
○
trar como”: escrevemos nossas próprias sínte-
○
dade dos produtos obtidos.
○
ses e enviamos esses textos aos grupos. No ar, a
○
○
Sem entrar fundo em minúcias técnicas, re- tensão entre partir de uma base conhecida e não
○
ser diretivo. Em seguida programamos um mo-
○
sumo é síntese. Tive vontade de voar para Sal-
○
mento presencial e fizemos sínteses juntos. A
○
vador. Não deve ser essa a atitude de professo-
○
partir daí, o fazer junto veio complementar nos-
○
res e formadores? Como diz Perrenoud, para
○
desenvolvermos competência profissional, pre- sa correspondência.
○
Outro tipo de síntese praticada foi aquilo
○
cisamos pôr em jogo tudo o que sabemos e, di-
○
ante de situações emergentes das quais não ○
○
que chamamos de “Relato de discussão”: uma
síntese das discussões em grupo. O registro es-
○
mentos. Conhecimentos que devem ser recur- crito ganhou mais força ainda nesse momento,
○
○
os professores, em seus relatórios escritos, mos- pação vicária na reunião. Interessava-nos “ver”
○
○
traram-nos suas dificuldades em ler e sinteti- o que estava acontecendo, por intermédio dos
○
sínteses. A partir daí, acompanhamos a evolu- dade, selecionar e explicitar falas e fatos, fun-
○
○
ção da escrita dos professores. O estudo do pro- damentar afirmações, para que o leitor pudes-
○
No início, a “síntese” era cópia mecânica de complexa! Outra vez percorremos o mesmo ca-
○
○
partes do texto original: cópia de palavras, não minho: instruções escritas, devolutivas, fazer
○
junto.
○
Daí até o texto novo, síntese de idéias, pro- latos-sínteses eram genéricos, abstratos, sub-
○
○
dução autêntica do grupo, foi uma longa ca- jetivos. Enfim, refugiavam-se em um discurso
○
○
grupo mostra ter apreendido a idéia de que, nova empreitada, que sair das generalidades e
○
○
numa síntese, fazemos sempre referência aos colocar o foco no específico, no concreto, no
○
○
textos que estão sendo sintetizados: “Beatriz detalhe é um desafio maior do que o nosso pri-
○
○
Cardoso ressalta que um dos possíveis objeti- meiro olhar poderia distinguir. Seguem-se dois
○
○
sua cabeça está povoada de depoimentos, nar-
○
em formação. No primeiro, trechos do discur- rativas, fatos, que levaram as professoras a apro-
○
○
so generalizante do relato de uma professora fundar sua reflexão. Fico curiosa para conhecer
○
essas manifestações das professoras.
○
são tematizados na devolutiva da professora
○
formadora. Como avanços, você registra: segurança na
○
○
retomada das recomendações, crescimento, in-
No primeiro episódio, a professora relata…
○
teresse, mudanças na prática (em que você ba-
○
○
seou essa conclusão?). Essas são palavras mui-
○
Uma discussão significativa houve ainda em
to genéricas e subjetivas. Precisamos de infor-
○
torno da escola […] Os grupos têm crescido de
○
mações mais objetivas. No item 6, você diz que
○
modo considerável [...] Nossas coordenadoras
○
os objetivos do Módulo 1 foram alcançados. A que
vêm buscando alternativas [...] gerando mudan-
○
conteúdos você se refere? E quais são, no con-
○
ça significativa em nossos professores. Avanços:
○
creto, os objetivos do Módulo 1? Gostaria que
○
segurança na retomada das recomendações,
você fosse mais explícita sobre os resultados da
○
acrescentando conhecimentos adquiridos e ex-
○
aprendizagem no seu grupo e ilustrasse suas
○
periências a partir dos encontros subseqüentes, ○
○
afirmações com exemplos concretos.
quando ocorreu o texto das recomendações [...]
Seu relatório é bom de ler e suas notícias,
○
… e a formadora responde:
○
Lendo o seu relatório, senti falta de informa- na realidade. Precisa descrever situações, retra-
○
so em seu município. Suas observações são mais possa “enxergar” os acontecimentos por meio das
○
○
genéricas do que específicas, mais gerais do que palavras (e dos olhos) do narrador. Essas são
○
não registram depoimentos, exemplos de práti- própria natureza: escritor e leitor não comparti-
○
Por exemplo, você diz: O escritor faz recortes na realidade para dar
○
○
1. que a diferença entre o letramento e a alfabe- ao leitor, que está distante dos fatos, a idéia mais
○
2. que houve uma discussão significativa em tor- cesso, o leitor, só um conhecimento indireto. Pre-
○
○
no da escola e que o grupo pôde trocar experi- cisa de detalhes, de informações precisas, de
○
ências e sugerir melhorias, mas não diz o que foi descrições, de bons recortes na realidade, para
○
○
que deu significado à discussão nem que experi- poder formar um quadro mais fiel do que de fato
○
ências foram trocadas ou quais as melhorias se passou. E também para fazer a sua própria
○
○
nadoras [...], mas não dá exemplos que mostrem No segundo episódio, a professora, autora
○
○
o crescimento do grupo nem explicita as ações do relato, delimita, detalha, especifica, explicita,
○
○
diz que alternativas são essas nem dá uma idéia A Professora Maria Inês do PC-2 tinha bas-
○
grupo, e qual a mudança que se pretende. PROFA. Somente após a leitura e a exibição do
○
Quando você diz que a troca de experiên- vídeo da U7 “Como ler sem saber ler” mudou sua
○
○
cias tem enriquecido os trabalhos, eu imagino que maneira de pensar. Propôs a seus alunos que
○
52
PAINEL 4
Correspondência entre professores como estratégia de formação continuada
○
formassem conjuntos com os nomes dos cole-
○
gas da sala. Sua aluna de cinco anos e seis me- hipóteses de escrita. Não lhes interessa muito
○
○
ses montou os conjuntos e fez a leitura dos no- saber que hipótese é uma idéia que alguém tem
○
mes Rafael e Rodolfo. A professora pediu que ela
○
sobre o modo de ser de alguma coisa. Querem
○
lesse. Ela leu. A professora perguntou: “Como fazer corresponder os esquemas, as palavras:
○
○
sabe que está escrito Rafael e Rodolfo?” A aluna
“As hipóteses de leitura são as mesmas que as
○
respondeu: “Rafael começa com ‘Ra’, igual ao tio
○
da escrita?”, perguntam. Não importa que se-
○
Raul, e Rodolfo termina com ‘fo’, igual ao meu 53
jam processos diferentes. Como estão sempre
○
urso Fofo.” A professora fez outras perguntas re-
○
juntos, os olhos vão transferindo de um para o
○
lacionadas à atividade, e sua aluna respondia a
○
outro os nomes aprendidos, sem pensar em
○
partir das intervenções da professora. A partir
○
dessa experiência, a professora constatou que é idéias. Por isso, enquanto se alinham com a pro-
○
posta de alfabetização com textos, os professo-
○
possível, sim, ler sem saber ler.
○
res ainda pedem “técnicas para trabalhar com
○
○
Esse registro explícito, detalhado, ilustrativo professores cursistas para que não aconteçam
○
○
recebeu da professora formadora o seguinte co- mais desistências”. E a formadora responde:
○
○
mentário: “Quero ainda dizer que você conse-
○
guiu sair das generalidades e ser específica e Você solicita sugestões de técnicas para tra-
○
○
cando. Parabéns!”
○
contribuição à clareza do diálogo. Do contrá- que alguns deles sejam: sobrecarga de trabalho,
○
zagem do discurso próprio da escrita. Vamos ia além de um diário sentimental. Hoje, o texto
○
○
fundamento do pensamento.
○
Estamos agora envolvidos com o registro cho de sete cabeças. Tinha certeza de que as
○
○
(ou o relato) reflexivo. Notamos que, na hora da pessoas nasciam, ou não, com o dom de alfabeti-
○
○
reflexão, o pensamento dos professores trope- zar. Soube, no final de 2000, que o Formar iria
○
que eles propõem procuram definições para sobre “alfabetização”. Não hesitei e me inscrevi.
○
○
“síntese”, “resumo”, “esquema”, um festival de Queria descobrir o segredo que havia por trás
○
não chega a despertar interesse. Eles estão agora que iria encontrar a receita certa para alfabetizar.
○
○
estudando as hipóteses que as crianças formu- Juntamente com o início desse curso, resol-
○
novo, mas previsível, foi o seguinte: o texto co-
○
vi, em março de 2001, alfabetizar meu irmão
○
Gabriel de quatro anos e dez meses, que está piado era sem erros gramaticais. O texto
○
○
cursando o Pré I. E em abril de 2001, comecei a construído pelos autores era gramaticalmente
○
lecionar em uma sala de estimulação e apoio, na
○
problemático. Mas, com o tempo, forma e con-
○
Apae, onde recebo, entre outras, crianças defa- teúdo foram começando a se integrar.
○
○
sadas que, às vezes, já estão há três anos na 1ª
Em nossa avaliação, a correspondência na
○
série, passam então para a 2ª série sem estarem
○
formação de professores é um fator determi-
○
alfabetizadas e ficam perdidas. A professora logo
nante do sucesso no desenvolvimento da capa-
○
diz que a criança deve ter algum problema men-
○
cidade leitora e escritora, e isso significa desen-
○
tal e assim elas acabam parando na Apae, mais
○
volvimento do pensamento.
○
particularmente na sala de apoio.
○
Abracei essa nova causa com muito gosto (o Devemos ressaltar, no entanto, que os fatos
○
relatados mostram que é fundamental tratar os
○
Gabriel era minha cobaia e já não tinha tanto
○
interlocutores professores com respeito. Uma
○
medo do fracasso) e, com a idéia mais amadu-
○
recida sobre alfabetização, comecei a alfabetizar forma importante de mostrar respeito é nunca
○
○
essas crianças, reunindo tudo o que havia apren- ○
deixar os professores sem resposta: a correspon-
dido no PROFA e mais algumas coisas que iam dência deve ser co-respondência.
○
○
surgindo, vindo deles. Nossa, eles estão sendo Além disso, é preciso que o diálogo seja per-
○
○
cia de trabalhar com textos, e que todo esse pro- ça entre os que permaneceram e os que apenas
○
○
cesso, como os outros, deve ser bem-feito, le- passaram pelo projeto.
○
to a aprender.
○
diálogo em rede desenrola-se a partir de com- PERRENOUD, Phillippe. Palestra proferida no Encontro da
○
dos professores-formadores sobre questões de PROJETO FORMAR. Textos variados de professores parti-
○
○
54
PAINEL 5
FORMAÇÃO DE
PROFESSORES NO PROJETO
SABER EM MOVIMENTO
Caio Martins e Marcelo Barros Silva
55
Informações sobre o Projeto
○
○
○
Saber em Movimento
○
○
○
○
○
Caio Martins e Marcelo Barros Silva
○
○
Escola Pública – Santos/SP
○
○
○
○
○
○
○
O Projeto Saber em Movimento, voltado ao atividades esportivas e culturais no período
○
○
segmento de 5ª a 8ª série, está sendo desen- extra-escolar, capacitando os orientadores
○
○
volvido em caráter piloto em oito escolas mu- educacionais das escolas e os técnicos dos pro-
○
gramas extra-escolares;
○
nicipais de Ensino Fundamental de Santos
(SP), que somam aproximadamente 3.500 alu- ○
○
○ • viabilizar a locomoção dos alunos aos centros
nos, com vista à construção de oportunidades esportivos, culturais e comunitários, por meio
○
tes, danças, lutas e ginásticas – que, na escola, O Projeto está sendo realizado desde o ano
○
○
são oferecidos pela Educação Física e, no perío- letivo de 2000, em parceria com a Prefeitura
○
○
do extra-escolar, pelos programas esportivos, Municipal de Santos, por meio de suas Secre-
○
Para tanto, o Projeto tem tratado de: Comunitária, junto com o Sesi; quatro entida-
○
○
• qualificar a Educação Física escolar, capacitan- des sociais (ONGs); Faculdades de Educação
○
○
do seus professores – com base nos Parâme- Física da Unimonte e Unisanta e com o Expres-
○
so Metropolitano.
○
nindo as escolas com os materiais e equipa- O processo de capacitação dos quase oiten-
○
○
• promover o diálogo e a articulação entre a es- • 360 alunos inseridos nas atividades extra-es-
○
○
Anexo
○
○
○
EMEF José da Costa e Silva Sobrinho. O eixo conhecimento, a equipe técnica experi-
○
temático do projeto foi a prática do skate, mentou nova metodologia de trabalho para
○
○
damental. Como resultado, além das con- tos de registro e avaliação permanente, es-
○
○
quistas de aprendizagem em cada área de tudo dos PCN para localização de conteú-
○
56
PAINEL 5
Formação de professores no Projeto Saber em Movimento
○
dos a serem trabalhados, formas de enca-
○
minhamento da participação dos alunos, e a pintura de mural tematizando as modali-
○
○
assim como favoreceu a concretização dos dades olímpicas, ambos realizados pelos alu-
○
produtos finais planejados. nos na área externa da escola. O percurso de
○
○
trabalho envolveu a apreciação de vídeos de
○
EMEF Mário de Almeida Alcântara. O proje-
diversas modalidades esportivas, suas práti-
○
to foi inspirado na Olimpíada de Sidney, para
○
cas adaptadas às aulas de Educação Física, o
○
o qual os alunos desenvolveram uma pesqui-
○
estudo da representação da figura humana 56
sa repleta de conteúdos nas áreas de Educa-
○
em movimento, as técnicas relacionadas à
○
ção Física, Inglês e Artes. Como produto fi-
○
pintura de murais e as utilizadas para a con-
○
nal realizaram um evento aberto à comuni-
○
fecção de tramas de corda.
dade, composto de sete estandes informati-
○
○
vos sobre modalidades olímpicas, jogos EMEF Vinte e Oito de Fevereiro. O projeto
○
○
amistosos, projeções sobre a cidade de tematizou o basquete. Um filme foi utilizado
○
Sidney e uma instalação artística construída para promover a discussão com os alunos e
○
○
em ferro, madeira e tecido. No desenvolvi- com a equipe docente que, de pronto, perce-
○
mento do projeto, alunos e professores
○
beu o potencial educativo contido na explo-
○
aprenderam, para além do conhecimento re- ração do tema. A decisão de elaborar uma re-
○
○
lacionado à Olimpíada de Sidney, as habili- ○
vista sobre o basquete, como produto final,
dades necessárias à execução de uma feira e,
○
são facilitadas pela cooperação nas relações. aprendizagens específicas a serem adquiridas
○
○
EMEF Martins Fontes. O foco do projeto foi nas áreas de Educação Física, Língua Portu-
○
o espaço escolar como local de convivência e guesa e Artes. O conhecimento necessário ul-
○
○
Educação Física e Artes, as atividades busca- quando os alunos, para entender mais sobre
○
ram voltar o olhar do aluno para a potencia- o que tinham descoberto, buscaram amplia-
○
○
lização do uso do espaço e dos equipamen- ção da informação nas áreas de Matemática,
○
História e Ciências.
○
ARTICULAÇÃO
ENTRE FORMAÇÃO INICIAL E
CONTINUADA DE PROFESSORES
Maria Corrêa da Silva
59
Articulação entre formação inicial
○
○
○
e continuada de professores
○
○
○
○
○
Maria Corrêa da Silva
○
○
Seduc/AC
○
○
○
○
○
○
○
Breve contextualização no Fundamental, 4,8% no Ensino Médio, uma
○
○
distorção idade–série de 50,3% no Ensino
○
O Acre, estado mais ocidental do Brasil,
○
Fundamental e de 57,5% no Ensino Médio. O
○
embora integrando a Região Amazônica, pos-
○
abandono fica em 16,3% no Ensino Funda-
○
sui peculiaridades que o tornam distinto no ○
○ mental e, no Ensino Médio, em 19,5%.
cenário amazônico, tanto no que se refere às O estado conta com 7.463 professores,
○
Possui uma população de 557.337 habi- Diante desse quadro, surge a indagação:
○
de formação inicial
○
de professores
○
Tudo isso contribui para o isolamento das da educação no estado enfrentando as limi-
○
ral. Nesse cenário se impõe o desafio de fazer trutural, elegendo como foco principal o pro-
○
○
a educação no Acre
○
O Acre possui uma rede com 1.717 esco- taria de Educação do Estado iniciou, em 1999,
○
○
las, das quais 1.364 são rurais e 353, urbanas. as primeiras aproximações com a Universida-
○
essa parceria:
○
45.794 são das redes públicas municipais e • garantir a oferta de cursos numa abran-
○
○
pios do Estado;
○
60
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores
da Ufac, de modo a aproximá-las das reais sica, num total de 37 turmas distribuídas em
○
○
necessidades do sistema, tomando por base 9 pólos, atendendo os professores das redes
○
○
as Diretrizes e os Parâmetros Curriculares estadual e municipais de ensino de 16 municí-
○
Nacionais, permitindo mais flexibilidade,
○
pios. Tais cursos foram destinados aos profes-
○
além do eixo norteador de associação entre sores efetivos que, embora atuando de 5ª a 8ª
○
teoria e prática.
○
séries e no Ensino Médio, não possuíam a for-
○
○
Ao tempo em que construíam os projetos mação adequada.
○
de formação inicial, a SEE aderia ao Progra- Foi firmado um convênio entre o Governo 60
○
○
ma de Formação Continuada do MEC Parâ- do Estado e a Universidade Federal do Acre no
○
○
metros em Ação, envolvendo mais de 87,7% valor de R$ 3.458.415,00 (três milhões, quatro-
○
○
dos professores de Educação Infantil de 1ª a centos e cinqüenta e oito mil, quatrocentos e
○
4ª série, e de 5ª a 8ª séries do Ensino Funda- quinze reais). E as prefeituras também firma-
○
○
mental e da Educação de Jovens e Adultos, ram convênios específicos com a Ufac.
○
○
num total de 4.835 professores. Considerando as limitações que a univer-
○
Em 2000 ficou pronto o Programa de For-
○
sidade teria para, sozinha, garantir um pro-
○
mação Inicial de Professores para a Educa- grama efetivo de interiorização, à exceção de
○
○
ção Básica (Prosaber), destinado aos profes- Rio Branco, nos demais municípios, além do
○
○
sores que atuam de 5ª a 8ª séries e no Ensi- atendimento aos professores, foram dispo-
○
no Médio.
○
modular, nas áreas de Matemática, Letras, mento da oferta dos cursos e sua abran-
○
○
Professores
No Municípios-pólos Comunidade Total
○
Total
Estadual Municipal
○
○
9 59
○
São cursos com duração de três anos, com a Ufac, para formar em nível superior os pro-
○
○
uma estrutura curricular que inclui um tronco fessores que atuam na Educação Infantil e
○
comum de 840 horas e parte diversificada vari- nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
○
○
ando em carga horária conforme o curso, com Coincidindo com a aprovação das Diretri-
○
○
um mínimo de 1.215 horas. Estão funcionando zes, concluímos um novo programa, dessa
○
○
em todo o estado desde fevereiro de 2001. vez para oferecer um curso de Pedagogia mo-
○
para a Formação de Professores para a Edu- Fundamental, com duração de quatro anos,
○
○
cação Básica, ia-se delineando também no carga horária de 3.240 horas e estrutura
○
○
Disciplinas Disciplinas
horária horária
○
○
○
Formação básica Estudo das áreas específicas
○
do conhecimento
○
Fundamentos da Educação 60
○
○
60 Fundamentos do Ensino de Língua Portuguesa 45
Fundamentos da Pesquisa Pedagógica
○
○
Literatura Infantil 60
○
Investigação e Prática Pedagógica 165
○
○
Organização da Educação 60 Ensino de Língua Portuguesa na Educação Infantil e
○
nos anos iniciais do Ensino Fundamental 120
○
Identidade Profissional, Profissão e Cidadania no
○
Investigação e Prática Pedagógica em Língua
○
Magistério 60
○
Portuguesa 45
○
Organização do Trabalho Pedagógico 60
○
Fundamentos do Ensino de Matemática 45
○
Planejamento e Avaliação Educacional 90
○
Elementos de Estatística Aplicada ao Ensino 60
○
Desenvolvimento e Aprendizagem Humana 60 ○
○
30
○
Jogo e Educação
○
○
em Educação Física 45
○
120
○
Oficinas Pedagógicas 30
○
Subtotal 345
○
Formação específica
○
de professor multidisciplinar
○
45
○
Anos iniciais do Ensino Fundamental Oficinas Pedagógicas sobre Artes (temas básicos:
○
45
○
○
62
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores
○
A experiência vem sendo acompanhada pelos
○
nos nove pólos já definidos, atendendo à clientela professores da rede de formadores dos PCN, que
○
○
de 16 municípios, num total de 55 turmas, das promove momentos para avaliação juntamente
○
○
quais 27 ficam em Rio Branco. Iniciou-se em Rio com os formadores e a coordenação do curso de
○
Branco, no final de agosto de 2001, devendo co-
○
Pedagogia.
○
meçar nos demais pólos até novembro. Foram be- Depoimentos dos alunos vêm mostrando que a
○
○
neficiados 2.250 professores da rede estadual e 454 inserção do PROFA na graduação levou para o curso
○
professores das redes municipais de ensino, con- 62
○
uma nova dinâmica de trabalho, abrindo um campo
○
forme detalhamento no quadro abaixo. de possibilidades para se desenvolver trabalho simi-
○
○
lar em outras áreas do conhecimento.
○
Nº Municípios-pólos Professores da Professores das Total
○
rede estadual redes municipais A experiência de aproximação entre a for-
○
○
1 Cruzeiro do Sul (inclui Mâncio Lima e Rodrigues Alves) 387 144 531 mação inicial e a formação continuada no Es-
○
tado não se encerra com a inserção do PROFA
○
2 Sena Madureira 21 56 177
○
na Pedagogia. Mais recentemente, e pelas
3 Brasiléia (inclui Epitaciolândia) 84 37 121
○
○
mesmas razões, decidiu-se inserir nos cur-
4 Tarauacá 126 15 41
○
sos do Prosaber a formação continuada rela-
○
5 Plácido de Castro (inclui Acrelândia) 54 25 79
○
tiva ao meio ambiente. Os cursos de Licencia-
○
6 Senador Guiomard (inclui Capixaba) 85 ○
27 112
tura também previam a oferta de Educação
○
7 Feijó 77 20 97
○
9 Rio Branco 1.244 117 1.361 tegrada à formação inicial dos professores de
○
2.704
○
Em 2000 e início de 2001, os professores em todo oito turmas de PCN – Meio Ambiente).
○
○
Algumas conclusões
○
educacionais.
○
tempo disponível para a formação continuada. balho com novas dinâmicas, associando teoria e
○
○
Isso fez com que buscássemos (MEC, SEE e Ufac) prática e a discussão do que é significativo para
○
so de Pedagogia havia disciplinas voltadas para for- cada por estados considerados periféricos, com
○
são do estado e estão disponibilizando 20 horas de quando levadas em consideração, abrem espaço
○
○
○
○
para os anos iniciais do ensino
○
○
○
fundamental: um desafio na era
○
○
○
das novas tecnologias
○
○
○
○
Célia Finck Brandt e Sydione Santos *
○
○
UEPG/PR
○
○
○
○
○
○
○
○
A educação a distância, vista em contraposi- mir criticamente as mudanças.
○
ção ao ensino presencial face a face, como mo- ○
○
Cada vez mais, o professor é visto como eixo
dalidade não tradicional, típica da era industrial central da qualidade da Educação escolar, inde-
○
○
res de pessoas e a utilização de uma gama varia- A Educação, considerada como direito de todos
○
É possível perceber que as necessidades cial a ser compartilhada pelos diversos segmen-
○
○
emergentes dos avanços tecnológicos, da tos da sociedade brasileira que buscam assegu-
○
○
social por formação e qualificação profissional, diferentes patamares dessa qualidade de vida
○
○
que não encontra paralelo na história. Cabe res- desejada, nas diversas áreas de vivência do ser
○
○
saltar também que essa situação se reflete no humano, encontra-se estreitamente relaciona-
○
mundo do trabalho que está a exigir sujeitos que da com a preparação dos quadros profissionais
○
○
jam aptos à variabilidade do mercado. Isso re- Em decorrência disso, surge a necessidade
○
que atenda, inclusive, à possibilidade de lho do professor, agora muito mais focalizada
○
○
A EAD constitui-se numa alternativa edu- alunos e na dimensão do papel da escola que,
○
cacional por ser uma opção altamente viável, hoje, sofre transformações.
○
○
der o atendimento a milhares de pessoas e por uma demanda social de 35 mil professores que
○
Além disso, nessa visão, há necessidade de uma por formação em nível de graduação, a Univer-
○
○
completa reestruturação dos sistemas edu- sidade Estadual de Ponta Grossa, como institui-
○
o desafio de formar cidadãos capazes de assu- cia no trato das novas tecnologias, numa dinâ-
○
○
○
○
○
*Professoras do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Mestres em Educação. Inte-
○
grantes do grupo de coordenação do Curso Normal Superior com Mídias Interativas da UEPG.
○
64
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores
○
○
dade, interatividade e transversalidade. professores, mediante mídias interativas, orga-
○
○
A UEPG entende que a demanda social, prin- nizadas e monitoradas pela Universidade Es-
○
tadual de Ponta Grossa.
○
cipalmente no tocante à formação de professo-
○
res, precisa ser enfrentada por meio de propos- O Curso Normal Superior é organizado sob a
○
○
tas ousadas, e resolve, por isso, aceitar o desafio forma de um Módulo Introdutório e quatro
○
○
de inovar com a competência e a seriedade que módulos interativos. Os módulos interativos sis-
○
lhes são características. Entende também que, 64
○
tematizam os referenciais teóricos do curso, por
○
para inovar, é preciso romper barreiras de ordem meio de temas e unidades, presentes na estru-
○
○
institucional e pessoal. O novo pode assustar, tura curricular, mediante a modalidade de
○
○
mas não pode intimidar. O curso conta com do- videoconferências e teleconferências. As primei-
○
centes de universidades e faculdades do Paraná ras são ministradas pelos docentes do curso, em
○
○
e especialistas convidados de fora do Estado, ofe- duas sessões semanais, enquanto as teleconfe-
○
○
recendo uma estrutura curricular que leva em rências estão a cargo de especialistas convida-
○
○
consideração as experiências e a formação já dos, nacionais e internacionais, sendo realizadas
○
adquiridas pelos professores cursistas, com a mensalmente.
○
○
utilização de um conjunto de mídias interativas. No desenvolvimento do curso, realizam-se
○
○
O curso propõe ampliar os referenciais teórico- sessões de trabalho monitorado, num total de
○
O Curso Normal Superior com Mídias Inte- e turnos previstos, em três modalidades: on-line,
○
○
• Habilitar o contingente de professores em re- dez alunos, são atendidos os integrantes de uma
○
○
nas séries ou ciclos iniciais do Ensino Funda- decorrer da formação, à escolha do estudante/
○
lificar professores em formação de grau supe- vencionais, com uso de biblioteca, ou realizados
○
○
rior, pela instituição universitária, no decorrer via Internet, utilizando-se de biblioteca virtual,
○
○
desta década, em consonância com a legisla- podendo constituir-se em: sistematização cien-
○
uma melhor compreensão e descoberta de con- cada à educação, docência em cursos para a co-
○
○
nais, possibilitando a produção e criação de op- tos técnicos ou científicos de interesse profis-
○
○
ções mais significativas de aprendizagens, den- sional, entre outros, a critério do estudante/pro-
○
○
tro do coletivo das escolas, como parte de uma fessor e a partir da proposta apresentada.
○
mento no Estado, mediante o uso da tecnologia borada do curso, que acompanhará o desenvol-
○
○
1
Sessões on-line são caracterizadas pelo desenvolvimento das temáticas com utilização de mídias interativas ou Internet. Sessões off-line
○
○
são presenciais, com acompanhamento e orientação do tutor. Sessões de suporte são oportunizadas para administração da vida acadêmi-
○
○
○
soal, inspirada na construção coletiva do conhe- questões do cotidiano.
○
○
cimento, analisada e comentada em função de Nesse sentido, no contexto do curso, são re-
○
○
diferentes aspectos, à escolha do cursista. alizados momentos presenciais, sob a orienta-
○
O currículo proposto para o Curso Normal ção de um tutor/professor, responsável por trinta
○
○
Superior com mídias interativas observa o aspec- estudantes/professores. Esse momento é deno-
○
○
to referente à articulação entre teoria e prática, minado de sessão off-line, na qual o tutor/pro-
○
valorizando o exercício da docência. Os estudan- fessor orienta e acompanha um grupo de dez
○
○
tes/professores, que já são profissionais em exer- estudantes/professores por encontro, conforme
○
○
cício, têm suas próprias práticas como referen- a logística do curso.
○
○
ciais. Nesse sentido, objetiva-se: O tutor constitui-se num importante supor-
○
• Partir de situações concretas para que o estu- te pedagógico, cognitivo e afetivo, que estimula
○
○
dante/professor busque refletir e compreender a aprendizagem do estudante/professor. Tendo
○
○
com ferramentas conceituais, voltando à prá- por objetivo a construção de uma prática refle-
tica para modificar essas situações. ○
○
○
xiva, o tutor promove situações que permitam
• Alternar momentos de prática, reflexão, exer- ao estudante/professor discutir sua própria prá-
○
○
cício de desempenhos pedagógicos e interven- tica e seus referenciais teóricos prévios, na rela-
○
○
ção, tendo em vista a compreensão dos fenô- ção com os conceitos abordados nas temáticas
○
ção mais adequadas às situações de ensino e com a sua ação docente. Insere-se, nesse proces-
○
○
Nacionais em Ação.
○
ca refletida.
○
tigação docente.
○
gens significativas (Projeto do Curso Normal mento para as discussões e análises realizadas
○
○
prática ocorre pela ênfase dada aos temas dos prática, estudo de casos, questionamentos
○
dução de registros e nas sínteses elaboradas no da, oportunidades no sentido de trazer, para o
○
○
partir do aprender mediante meios não-conven- o curso pretende romper com as práticas edu-
○
○
cionais e o prazer de aprender nas relações inter cativas que perpetuam a racionalidade técnica e
○
○
Busca-se a ruptura com a fragmentação do per com a racionalidade técnica por meio da
○
prática. Esse reencontro é estimulado a partir das possibilitam o confronto com a teoria estudada,
○
○
66
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores
○
○
tica torna-se fonte de teoria para o estudante/ questionamentos levantados a partir da sua
○
○
professor durante todo o curso. prática nas vivências anteriores, o estudante/
○
professor desenvolve um projeto de investiga-
○
A articulação entre os referenciais teórico-
○
conceituais e a prática em construção do estu- ção na escola, com opção de realizar também
○
uma pesquisa em instituição da comunidade.
○
dante/professor efetiva-se durante as vivências
○
Pretende-se a problematização, o estudo aca-
○
educadoras, que são momentos de reflexão prá-
○
dêmico e o debate de situações contextualiza- 66
tico-teóricas que ocorrem durante o curso, com
○
das, por meio da investigação científica. Torna-
○
ênfases diferenciadas e complementares, tendo
○
se necessário, nesse âmbito, aprender a com-
○
em vista as competências previstas na matriz
○
partilhar a reflexão pessoal em diferentes gru-
○
curricular. Elas são realizadas em diferentes am- pos, incluindo a comunidade, buscando-se a
○
bientes de aprendizagem, dentro e fora da esco-
○
mudança de práticas e a revisão de valores.
○
la, considerando a relação com os conteúdos Como produção, o estudante/professor deve
○
○
desenvolvidos nos módulos interativos e as aná- elaborar um relatório, descrevendo processos,
○
○
lises feitas a partir do trabalho com os PCN. Ao discussões e resultados da investigação reali-
○
final de cada vivência, ocorre uma produção es- zada, além de síntese reflexiva, a partir dos re-
○
○
crita para sistematização e socialização dos sultados.
○
○
São propostas seis vivências no decorrer do dade articular o papel social da escola junto à
○
Primeira vivência educadora: tem como fina- intervenção em uma instituição ou espaço da
○
○
mas e necessidades, por meio de diagnóstico trabalhados nos módulos interativos, além de
○
○
realizado na escola e em classes de séries inici- envolver alunos e outros professores da escola.
○
cola, analisando-a na relação com a família e venção, situando-se o contexto da ação, o pro-
○
○
com a comunidade em que está inserida. O di- cesso realizado e os resultados obtidos, acom-
○
meio, buscando-se partir da prática como eixo ferenciais para compreender e atuar em con-
○
segunda vivência.
○
ries iniciais, norteando seu trabalho a partir do ante troca de informações entre os professores.
○
○
liar seu processo de ensino. Nesse momento, vas para disseminar o que compreendeu, o que
○
estimula-se que o estudante/professor assuma descobriu, o que produziu e criou durante seu
○
○
cia docente, ao orientar suas escolhas e decisões participação do estudante/professor na sua es-
○
○
○
tudante/professor. fonte de teoria.
○
○
Sexta vivência educadora: o objetivo desta Dessa maneira, a prática educativa só tem
○
○
vivência é promover a organização de uma co- sentido se não perder os nexos com a prática
○
social, que o homem produz como ser da práxis.
○
munidade virtual, em que todos os atores da
○
prática educativa poderão participar da cons- Daí a necessidade de uma formação que possi-
○
○
trução coletiva de diferentes formas de produ- bilite a compreensão da realidade e estimule a
○
busca da melhoria das condições de existência
○
ção, sistematização e socialização do conheci-
○
mento, que podem ser: sites, portais, artigos, humana, numa sociedade aprendente.
○
○
jornais, fórum de discussão, bancos de expe- Da mesma forma, é importante ressaltar que
○
○
riências, entre outros. Nesse processo, ocorre a a proposta prevê processos de descoberta a se-
○
aprendizagem do funcionamento de uma co- rem realizados pelo estudante/professor no to-
○
○
munidade virtual, descobrindo-se as diferen- cante a novos referenciais advindos de teorias e
○
tes formas de implementação e de produção
○
informações das diferentes ciências nas áreas do
de protocolos de trabalho na Internet. Busca- ○
○
○
conhecimento que compõem o currículo. No que
se concretizar uma rede colaborativa de conhe- diz respeito a esse aspecto, para que o professor
○
○
cimento, denominada Rede Escola Ação e Re- se desenvolva como bom usuário de pesquisas,
○
de formação continuada.
os cursistas.
○
○
rior com mídias interativas desperta oportuni- a orientação curricular com aprendizagem ba-
○
dades para a reflexão sobre o significado que a seada em competências, que permitem a articu-
○
○
relação teoria/prática assume nesse contexto. lação entre as diferentes áreas do conhecimen-
○
○
Ressignificar a prática não significa privilegi- to. A aprendizagem por competências expressa
○
○
co, em que se enfatiza a resolução de questões sos numa mesma situação, entre os quais, os
○
○
imediatas da prática, por meio de receitas e ações conhecimentos adquiridos na reflexão sobre as
○
○
nadas com essa prática. Significa, portanto, com- diferentes demandas das situações de trabalho.
○
○
preender a prática educativa como práxis, como Por competências, entendem-se estruturas
○
○
atividade real e transformadora que supera a prá- mentais prévias a desempenhos de qualquer
○
rial do homem que transforma o mundo natural estruturas mais gerais e mais profundas. O de-
○
○
para fazer dele um mundo humano” (Vázquez, sempenho consiste nas ações – são o fazer em
○
○
1968: 3). O homem é ser da práxis que, ao trans- si. As competências geram tais ações. Não há,
○
Nesse sentido, a práxis é realizada num mo- vos que expressam o compromisso social por
○
○
vimento dinâmico que expressa autonomia e parte da Universidade Estadual de Ponta Gros-
○
○
dependência, simultaneidade e reciprocidade. sa, são mobilizadas a partir dos eixos de trata-
○
vo, em função de exigências coletivas e necessi- Estes se expressam nuclearmente pelos pro-
○
○
dades sociais, o que lhe infere qualidade social e cessos de compreensão, descoberta, produção e
○
68
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores
criação. Os referidos processos são contemplados educativa, ocorre no processo de criação. O exer-
○
○
por meio das atividades curriculares propostas, cício de reflexão sobre a prática será sistematiza-
○
○
seja no tocante à interação via mídias eletrôni- do durante todo o curso. Parte da observação e
○
○
cas, com os docentes do curso e convidados, seja reflexão daquilo que é realizado em suas classes
○
no trabalho monitorado, com suporte dos tuto- regulares e nas vivências educadoras, para com-
○
○
res e assistentes. E, ainda, nos momentos de rea- preender e atuar em situações contextualizadas,
○
○
lização dos trabalhos acadêmicos, estudos inde- buscando a interdisciplinaridade. Esse contato
○
pendentes e síntese elaborada de curso e, princi- com a prática real será complementado por re- 68
○
○
palmente, nas vivências educadoras a serem rea- cursos a serem utilizados nas sessões de trabalho
○
○
lizadas nas escolas e setores da comunidade. monitorado, onde os professores poderão ter
○
○
O processo de compreensão amplia os fun- acesso, por meio das tecnologias de informação
○
damentos e os procedimentos da prática educa- – como Internet e vídeo – às narrativas orais e es-
○
○
cional, por meio de suporte conceitual atualiza- critas de professores, às produções dos alunos, às
○
○
do e significativo para a formação e atuação dos situações simuladas e ao estudo de casos. Desse
○
○
professores da etapa inicial da educação básica, modo, as novas tecnologias podem ampliar as
○
compreendendo Educação Infantil e as séries ou possibilidades de discussão da prática, pois ofe-
○
○
ciclos iniciais do Ensino Fundamental. Ocorre recem múltiplas formas de registro e de aborda-
○
○
competências por meio de desempenhos indivi- tuem os eixos do currículo que possibilitarão o
○
○
mento das realidades contextualizadas, amplian- para que ele adquira um estilo próprio em seu
○
○
do a compreensão, por parte do professor, de seu fazer pedagógico, a partir de um saber consolida-
○
○
camente, no currículo, em momentos nos quais ca-se assegurar a articulação entre conteúdo e
○
○
o estudante/professor busca novas referências método para que as aprendizagens sejam signi-
○
○
para seu desenvolvimento, a partir de prática ficativas. Os conteúdos serão analisados e colo-
○
○
experiências veiculadas por outras pessoas. Sua significados para o professor. A compreensão é
○
○
culminância ocorrerá quando, ao final do curso, um dos eixos processuais desse currículo; assim
○
○
na última vivência educadora, cada um deve ela- sendo, é de extrema importância assegurar cada
○
○
pessoal-profissional para orientar seu processo entre todos eles e a prática, por intermédio das
○
○
acadêmico e científico, com elaboração de for- lacional, pois, para coexistir, comunicar e traba-
○
mas diferenciadas de comunicação e de expres- lhar com outros, é necessário enfrentar a dife-
○
○
são, considerando normas metodológicas vincu- rença e o conflito. Relações profissionais, como
○
○
ladas a estas. São registros, projetos, ensaios, re- a de professor, mobilizam não só as competên-
○
○
latórios, roteiros, sínteses elaboradas, a partir da cias, mas também a pessoa que intervém, por-
○
guesa, essenciais para a formação de um profis- sujeito sobre outro sujeito, em um tempo e es-
○
○
próprio, mediante a reflexão sobre vivências pes- própria forma de conduzir o curso, por meio de
○
○
○
○
do mundo contemporâneo: as novas relações dantes/professores para reflexão sobre conheci-
○
○
que se estabelecem por intermédio de uma rede mentos específicos às diversas áreas de saber. Os
○
○
cooperativa, anárquica por natureza, e que pode protocolos de trabalho serão desenvolvidos num
○
ser utilizada não só para disseminar informa- tempo de quatro horas, propostos a dez alunos
○
○
ções, mas também para gerar conhecimento. por sessão, disponibilizados no notes application,
○
○
A Internet, a videoconferência e a teleconfe- utilizando os recursos da ferramenta do aplicativo
○
rência expressam esse caráter relacional: sujeito learning space, cujo acesso se dará pela Internet.
○
○
a sujeito; sujeito a grupos menores; sujeito ao A forma de organização da modalidade prevê ses-
○
○
coletivo e também entre turmas distribuídas ge- sões de trabalho que permitem a interação com
○
○
ograficamente e com características culturais os docentes por meio dos assistentes on-line. As
○
diferenciadas, por causa das diferentes regiões atividades propostas visam desdobrar os temas
○
○
do Estado. trabalhados nas videoconferências.
○
○
É compromisso da presente proposta criar Essas sessões caracterizam, nesse sentido,
○
○
oportunidades para que os professores, em cur- ○
uma modalidade de Educação a Distância, pois
so, aprendam a utilizar diferentes tecnologias, a comunicação bidirecional é realizada com a
○
○
como suporte de seu fazer pedagógico junto com utilização de tecnologias, no caso, a Internet. Os
○
○
Além da tecnologia, é necessário, num pro- rie de atividades voltadas à sua aprendizagem,
○
jeto como esse, oferecer momentos de revisão por meio de materiais previamente preparados.
○
○
em suas múltiplas expressões: ciência, arte, cul- organizada de auto-estudo, na qual o aluno
○
O professor, com domínio dos objetos de co- panhamento de um grupo de professores (do-
○
○
nhecimento de cada disciplina, dos ciclos, dos con- centes e assistentes). Essa característica da mo-
○
○
teúdos, por meio de seus conceitos fundadores e dalidade vai exigir novos papéis dos estudantes/
○
estruturais, necessita compreendê-los como uma professores, dos docentes/assistentes, novas ati-
○
○
rede de significações, na relação com os outros sa- tudes e novos enfoques metodológicos.
○
○
beres, com as outras fases da educação básica e O tempo delimitado para as atividades pro-
○
○
com as outras culturas. Isso permite uma visão postas deve possibilitar aos estudantes/profes-
○
Num salto qualitativo, o curso é organizado relações sociais. Deve ser o momento de pro-
○
○
numa logística diferenciada: sessões on-line: cessamento das idéias e dos fazeres que carac-
○
○
aulas realizadas por videoconferência (multi- terizam o ambiente da sala de aula quando os
○
trabalho disponibilizados por meio do learning anças. Deve também ser caracterizado pelo
○
○
space, via Internet, em interação com os assis- processo de simetria invertida, no qual ao es-
○
○
pedagógica entre o sujeito aprendente e sua bilita a metacognição, pois permite rever con-
○
○
aprendizagem; teleconferências que abordam ceitos e idéias a partir dos saberes elaborados
○
entre educação e as demais áreas culturais de ex- com os conhecimentos do senso comum, ca-
○
○
As sessões realizadas pelo learning space são tica. Deverá compreender as novas concepções
○
pelos docentes e assistentes, assim como entre os ção de novas tecnologias, visando à aprendi-
○
70
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores
zagem dos alunos, e não apenas servindo para vimento educacional e cidadão de nossa geração.
○
○
transmitir informações (ensino a distância Os textos elaborados para o learning space
○
○
versus Educação e aprendizagem a distância). devem ser apresentados no formato de hiper-
○
○
As atividades propostas na modalidade assim textos, nos quais as áreas de sentido são selecio-
○
especificada e no ambiente acima delimitado nadas, hierarquizadas com zonas interligadas e
○
○
devem ser objeto de reflexões, que compreendem: nos quais os textos são conectados a outros do-
○
○
• a quantidade de textos para leitura; cumentos. O texto pode ser elaborado de modo
○
a permitir anotações do leitor, possibilitando a 70
○
• as questões propostas (em quantidade e natu-
○
personalização da leitura. Segundo Lévy, “a abor-
○
reza);
○
dagem mais simples do hipertexto […] não ex-
○
• a forma de interação dos estudantes/professo-
○
clui nem os sons nem as imagens, é a de descre-
○
res com os docentes/assistentes;
vê-lo, por oposição a um texto linear, como um
○
○
• a interação dos docentes com os assistentes no texto estruturado em rede. O hipertexto seria
○
momento da proposta de trabalho;
○
constituído de nós (elementos da informação),
○
○
• os relatórios de acompanhamento para retor- parágrafos, páginas, seqüências musicais etc., e
○
no aos alunos e aos assistentes, com comentá- de ligações entre esses nós (referências, notas,
○
○
rios, orientações, discussões, encaminhamen- indicadores, ‘botões’, que efetuam a passagem
○
○
encontra-se a necessidade da utilização dos re- tões teórico-conceituais na elaboração dos pro-
○
○
cursos disponibilizados pela ferramenta que se jetos voltados às vivências educadoras. O tempo
○
○
gem a reflexão sobre a forma de interagir com os professor, a realização da atividade e a interação
○
○
estudantes/professores por meio de um material com o assistente para debate, orientações, refle-
○
○
impresso, num tempo determinado, que esteja xões, compreensões e processos de intervenção
○
cesso de implantação do curso acontece no senti- políticas educacionais, sala de aula, processo de
○
○
como no uso das técnicas e ferramentas utilizadas Três tipos de atividades podem ser propos-
○
dos como uma avalanche, é necessário ampliar te); atividades em equipes (que privilegiam a
○
○
tempo, estabelecendo novas pontes entre o es- mesmo município) e debates na sala de discus-
○
○
tar juntos física e virtualmente. são (que privilegiam a interação entre os estu-
○
○
cessárias, toda essa questão tecnológica pode se compreender os eixos norteadores do currículo:
○
○
transformar numa grande “panacéia”, que não tra- descoberta, compreensão, produção e criação,
○
○
rá nenhum resultado significativo para o desenvol- assim como o aspecto da simetria invertida e
○
metacognição já comentados. Elas devem per- diagnóstica e inclusiva. Por meio de mídias
○
○
mitir o desdobramento dos conceitos e idéias interativas, todos são sensibilizados para as no-
○
○
tratados nas videoconferências pelos docentes, vas relações que se estabelecem por uma rede
○
○
numa dimensão teórico-prática reflexiva. Tam- cooperativa, anárquica, e que pode ser utilizada
○
bém a articulação com os PCN, considerando o não só para disseminar informações, mas tam-
○
○
trabalho realizado pelos tutores e as produções bém para gerar conhecimento. Nesse contexto,
○
○
acadêmicas a serem realizadas no decorrer do como teia de relações, todos os envolvidos, num
○
curso: estudos independentes, síntese elabora- esforço coletivo institucional, enfrentam o de-
○
○
da de curso e vivências educadoras. safio das redes na sociedade aprendente.
○
○
A interação é valiosa no processo de cons- Segundo Lévy,
○
○
trução do conhecimento, se considerarmos que
○
um primeiro tipo de conhecimento, o senso co- Com certeza, nunca as mudanças das técnicas,
○
○
mum, tem sua gênese nas relações entre os in- da economia e dos costumes foram tão rápidas e
○
○
divíduos e na comunicação dos fatos e informa- desestabilizantes. Junto, uma onda de fundo, ul-
○
○ trapassa a informação e a comunicação, consti-
ções por eles veiculados. Esse tipo de conheci- ○
mento, cuja natureza é essencialmente social, tuindo o nó de forças que acompanha uma situ-
○
○
de transposição didática.
○
dades para a avaliação do processo como um todo, temas de comunicação, se reúnem pelos mesmos
○
Os assistentes deverão ter compreensão de Por isso mesmo, é importante formar cidadãos
○
○
desenrola. Isso significa que a compartimenta- O educador precisa estar atento às mudan-
○
○
lização ou fragmentação não têm lugar nessa ças, acompanhando os avanços tecnológicos e
○
Esse espaço também serve para interagir dato possuísse, entre outras qualidades, rigoro-
○
○
com os alunos ou para propor uma discussão sidade metódica, pesquisa, bom senso e convic-
○
para discussões sobre tópicos específicos. envolvidos, que estão se adaptando gradualmen-
○
○
compartilhada pelos internautas interessados, virtual, integrados numa rede colaborativa, cujos
○
○
em forma de artigo, site, portal, jornal, fórum de fios tramam vinte municípios paranaenses, numa
○
○
esse processo, que tem como eixo a investiga- interdisciplinar, na organização das temáticas
○
○
72
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores
○
○
te presentes, os docentes do curso estão sempre
○
BRANDT, Célia Finck. Atividades on-line: orientações. Texto
○
atentos às necessidades de seus estudantes/pro-
○
digitado. UEPG, 2000.
○
fessores e buscando a competência no trato das BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
○
novas tecnologias.
○
Fundamental. Diretrizes para a formação de professores
○
Esses momentos têm sido de enorme impor- da educação básica no ensino superior . Brasília, 2001.
○
○
tância no processo, quando o aprendente usa o LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.
○
computador como ferramenta de trabalho. MANSANI, Neuza Helena P. Educação a distância e a for- 72
○
○
mação de formadores: um desafio na era das novas
Como feixe de relações, os docentes, assis-
○
tecnologias. Texto digitado. UEPG, 2000.
○
tentes, tutores, orientadores, coordenadores e
○
RAMOS, Corina C.; VALENTE, Silza. As vivências educado-
○
estudantes/professores, num esforço coletivo, ras na matriz curricular do Curso Normal Superior com
○
em âmbito institucional, enfrentam o desafio da
○
Mídias Interativas. Texto digitado. Ponta Grossa/PR, 2001.
○
era das redes na sociedade da informação, na SANTOS, Sydione. A formação do educador no âmbito teóri-
○
○
sociedade do conhecimento, na sociedade co-prático: re-significando o estágio. Trabalho apresen-
○
tado no 10º Endipe/ Painel: Prática educativa e pesqui-
○
aprendente: a educação virtual.
○
sa: conquistas e desafios no processo de formação do
Lembramos que, hoje, três são os analfa-
○
educador. Rio de Janeiro, 2000.
○
betismos por derrotar: o do texto-escritura, o
○
○
UEPG. Projeto Pedagógico do Curso Normal Superior com
sociocultural e o tecnológico, e que toda esco- Mídias Interativas. Texto digitado. Ponta Grossa/PR, 2000.
○
○
la incompetente em alguns desses aspectos é VÁZQUEZ, Adolfo S. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz
○
inicial e continuada de
○
○
○
professores no Tocantins
○
○
○
○
○
Unitins – Seduc/TO
○
○
○
○
○
educação, assume como prioridade, nos cursos dos cursos de licenciatura. Esse encontro con-
○
educação básica. Sob essa ótica, reorienta seu de conhecimentos em processos contínuos de
○
tendo como concepção norteadora a problema- educação básica. Essa proposta é relevante
○
○
tização, a reflexão e a análise contextualizada pois, além de atingir todos os cursos de licen-
○
○
O MEC, por meio da Secretaria de Ensino nos da rede pública estadual dos cursos em re-
○
○
○
docentes universitários, que se reúnem men-
○
professores de educação básica da rede pública salmente para avaliar, programar e analisar a
○
○
estadual do Tocantins, entre outros, como as- sua prática, dos coordenadores-gerais e dos co-
○
sessora pedagógica do Projeto Parâmetros em
○
ordenadores de grupos de estudo das escolas,
○
Ação, desde setembro do ano 2000, no Progra- colaborando para a mudança processual didá-
○
○
ma de Desenvolvimento Continuado de Profes- tica e conceitual da prática pedagógica, que de-
○
○
sores – como ação política do MEC, em parce- manda a construção de conhecimento em pro-
○
ria com a Secretaria da Educação (Seduc). Nes-
○
cessos contínuos de aprendizagens significati-
○
sa assessoria estão envolvidos diretamente 27 vas, no interior da escola.
○
○
○
○
○
○
○
Resumo – Experiência
○
○
○
Ciça Lourenço
○
○
○
○
○
○
○
Articulando a formação
○
Orientada por essa perspectiva, a Secretaria tidiano complexo das escolas, faltando o saber
○
cipal de trabalho em seu Plano de Formação Con- vou a buscar, junto às universidades da região,
○
○
tinuada a busca da qualidade progressiva no aten- parceria para atender às necessidades formativas
○
○
educacional e as universidades.
○
dades locais, entendemos que cabe aos educa- Nesse processo, o Horário de Trabalho Peda-
○
○
dores assumir o comando de seu trabalho, pro- gógico Coletivo (H.T.P.C.), existente na jornada
○
○
piciando aos alunos as condições necessárias do professor, tem possibilitado aos educadores,
○
74
PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores
tanto aos novos como aos mais antigos, inter- lorizava demais a teoria, e a queixa freqüente era:
○
○
câmbios que otimizam a reflexão crítica da prá- “O professor não quer pensar; quer apenas re-
○
○
tica pedagógica de forma solidária, construindo ceitas”. Por sua vez, os professores explicitavam
○
que os cursos não traduziam a necessidade e a
○
competências e reflexões para a atuação profis-
○
sional de ambos. complexidade da escola, ficando no ideal, e não
○
○
Articular institucionalmente essas duas no real.
○
○
agências formadoras, universidade e sistema, Outro ponto importante, naquele momen-
○
passou a ser um de nossos desafios. Essa frente to, era a falta de horário para o trabalho coletivo 74
○
○
de trabalho teve início com um convênio junto dentro da jornada de trabalho do professor, es-
○
○
às universidades, pelo qual as estagiárias atuam paço essencial para que eles pudessem discutir
○
suas dificuldades em grupo, realizar combina-
○
nas unidades escolares e podem levar suas re-
○
flexões e ansiedades para dentro das faculdades dos e estar constantemente aprimorando suas
○
○
e para os espaços de trabalho pedagógico cole- práticas.
○
○
tivo das escolas, o que dá forma e sentido às As principais dificuldades observadas na
○
prática dos educadores eram:
○
dúvidas e ansiedades e garantindo concretude
○
às discussões realizadas, integrando o saber e o • Inexistência de projeto educacional orientador
○
○
saber fazer. das ações, construído coletivamente.
○
○
Essa ação vem paulatinamente dando indi- • Formação extremamente acadêmica, não con-
○
○
cadores para o sistema e para as universidades siderando as reais necessidades e a prática dos
○
de uma formação que acolha as muitas necessi- geneizadora e generalista, sem se ater às fun-
○
educadores.
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Histórico
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no era composta pela Educação Infantil, Educa- que pudessem colaborar conosco nessa emprei-
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num atendimento total de 25 mil alunos. Che- Também se fazia necessário refletir “de qual”
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lares, num atendimento total de 65 mil alunos que orientava nossas ações.
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(Educação Infantil, Fundamental, Especial e de Para tanto, fomos em busca dos conheci-
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desenvolvida até então na rede municipal não escolas, parceiros externos. E, ainda hoje,
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alterava a prática dos educadores. As discussões estamos nos aproximando desse fazer formação,
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estavam desvinculadas das ações, os cursos e mais pautado em como aprendemos e mais
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um descrédito das necessidades deles para o no qual as alterações das práticas dos diferentes
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exercermos nossa função cada vez melhor. função de Professor Coordenador.
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Nesse processo, desenvolvemos o diagnós- • O grupo de trabalho com diretores e professo-
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tico sobre as áreas, procurando explicitar as
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res coordenadores, para a constituição de equi-
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principais dificuldades, a saber: pes de gestão articuladas em cada escola.
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• trabalhar adequadamente com a heterogenei-
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• Cursos e oficinas comprometidos com os proble-
dade da classe;
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mas reais e específicos de cada unidade escolar.
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• realizar intervenções pedagógicas que poten-
A constatação da falta de articulação entre
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cializem as aprendizagens dos alunos de for-
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as instituições de ensino superior (formação ini-
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ma intencional.
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cial) e a Secretaria de Educação (formação con-
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Em resumo, a maior dificuldade centrava-
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tinuada), colocou-nos o desafio de mobilizar
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se no fazer, no saber agir no contexto singular essa integração para, a médio prazo, instrumen-
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de cada classe, atrelando a teoria ao cotidiano.
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talizar o professor recém-formado para as diver-
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Nessa exploração, constatamos que tan-
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sas competências necessárias à sua ação profis-
to os professores recém-formados como os sional, pois apenas o sistema educacional de for-
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mais antigos da rede apresentavam as mes- ma isolada não terá êxito nesse processo.
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continuada não haviam apresentado altera- da região e o sistema educacional com os objetivos.
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comuns.
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e outros.
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intervenções adequadas.
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• Constituir em cada escola um pólo de forma- ção inicial de professores, pelo diálogo freqüen-
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ção que propicie a construção de forma arti- te com as instituições formadoras, oferecendo
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culada e coletiva dos projetos educacionais. campo de estágio e dando retorno sobre o de-
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eventuais.
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semanais, divididas entre três horas de traba- forma concreta, das instituições de formação
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PAINEL 6
Articulação entre formação inicial e continuada de professores
• Fomentar e fortalecer os processos de mudan- buscar alternativas para a solução dos proble-
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ça no interior dessas instituições formadoras. mas identificados.
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• Aprimorar a capacidade acadêmica e profissi- 4. Formação de professores tutores, que serão co-
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onal dos docentes formadores. responsáveis pela formação de alunos estagi-
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ários.
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• Atualizar e aperfeiçoar os currículos viven-
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ciados, considerando as mudanças em curso na 5. Realização de seminário para a discussão das
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organização pedagógica e curricular da educa- questões mais amplas da formação de pro-
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ção básica. fessores.
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Entendemos que, nesse processo, cabe ao
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A formalização legal dessa parceria foi realizada sistema de ensino propiciar às instituições de
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formação inicial espaço para o desenvolvimen-
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por meio de:
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to da competência profissional dos professores,
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• Lei Municipal e Decreto Municipal que regula-
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mentaram o Projeto. de modo que, mutuamente, enfrentem o contex-
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to educacional presente em nossos dias num ci-
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• Termo de compromisso assinado pela Esta-
clo contínuo de aprimoramento.
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giária, pela Prefeitura e pela Instituição For-
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Muitas dificuldades têm sido observadas nes-
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madora.
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○ se processo. O sistema educacional e as institui-
• Bolsa-Auxílio escalonada – R$ 3,31/hora para
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no último ano.
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• Estágio permitido de até 160 horas/mês, pro- ciências de escolarização e a relação entre o co-
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(Bolsa-Auxílio).
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nossos professores, como cursos, oficinas, pa- Acreditamos que essa construção propiciará
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lestras, Parâmetros em Ação, H.T.P.C., PROFA, novo paradigma curricular para os dois parcei-
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entre outros.
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com o objetivo de propiciar a devolutiva a essas projetos educacionais que atendam melhor a
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nossa sociedade.
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res. Isso possibilita, caso considerem necessário, ção se desnudarem e redescobrirem o complexo
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que eles revisitem seus currículos, efetivando cotidiano das escolas, trazendo o foco para a re-
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encontra-se em processo de adequação. des para, como parceiros, traduzirem seu con-
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Para o ano de 2002, as seguintes propostas teúdo em ações concretas e comprometidas com
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fissional.
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