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https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/o-federalismo-norte-americano-em-
comparacao-ao-federalismo-a-brasileira-origens-comparacao-entre-os-dois-modelos-de-estado-e-
problematicas-acerca-de-suas-transformacoes-nos-orgaos-de-poder/
liberalismo econômico; 2.3.5. Do Regime Militar à Promulgação da Constituição Federal de 1988:
Predominância do autoritarismo e do Nacional-Desenvolvimentismo.
INTRODUÇÃO
Inicialmente, o presente trabalho busca a análise histórico-evolutiva para comparar o Estado Federal
estadunidense com o Estado brasileiro nos aspectos político, jurídico, econômico e social com a
finalidade de apontar as semelhanças e as muitas diferenças entre ambos quanto a sua forma de
organização político-administrativa e dos direitos fundamentais em cada Constituição.
Salienta-se que os trabalhos do Barão de Montesquieu tiveram grande influência sobre o movimento
Iluminista na Europa e com relação aos “Pais da Pátria” norte-americana, sendo que contribuiu para
que estes pudessem fundar uma República sob a organização política-administrativa inovadora do
Pacto Federativo de cunho Segregacionista.
Por outro lado, o Estado brasileiro fora concebido no âmbito de uma colônia de exploração, servindo
aos interesses econômicos da Metrópole portuguesa e, mais tarde, o seu desenvolvimento se dará
como um todo em razão das disputas entre os defensores da centralização e descentralização político-
administrativa e sem ampla participação do Povo quanto as decisões tomadas.
Por fim, buscar-se-á a complementariedade das Teorias desenvolvidas pelos autores Jorge Miranda e
Dalmo de Abreu Dallari quanto as origens da comunidade politica e da Sociedade política em relação
aos casos norte-americano e brasileiro.
1. Conceito, formação e evolução histórica das Sociedades Políticas: da Antiguidade até a difusão
em escala global do Modelo de Estado Europeu
Inicialmente, a Sociedade Política se origina de comunidades políticas de alta complexidade, e que
deram origem aos grandes Estados da Antiguidade Ocidental e Oriental.
De acordo com Dalmo de Abreu Dallari, citando Goffredo da Silva Telles Jr., afirma que o denominado
“processo de integração” permite compreender o surgimento dos aglomerados primitivos de uma
forma simples, homogêneo e sem complexidade alguma, sendo que a partir de um “movimento de
diferenciação” por parte de um determinado grupo mais apto a impor a sua vontade sobre os outros
membros em razão de uma relação de solidariedade e conjugação destes.
Desta forma, para se garantir a paz social por meio da coercibilidade (monopólio da força) e da
garantia do bem comum à toda a coletividade, cria-se uma estrutura organizacional dotada de
autoridade sobre todos os membros da Comunidade Política.
Com relação as Sociedades Políticas que surgiram na Antiguidade Oriental e Ocidental, as primeiras
têm como a estrutura hierárquica de uma classe privilegiada (ou mais) e a subordinação das demais,
enquanto nas segundas fora alcançada a isonomia (Civilização Greco-Romana) entre os cidadãos e
depois entre as classes menos favorecidas (inicialmente).
Após a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C. e até o Século IX, deu-se início ao período
chamado de Idade Média ao qual foram ocorrendo as “Invasões Barbaras” sendo que tais povos foram
ocupando e conquistando os territórios do antigo Império e o Poder Central que havia fora sendo
lento e gradualmente substituído pelos Senhores Feudais (a partir do Século X).
Porém, foi com o período das Cruzadas e com o “Renascimento Comercial e Urbano” é que houve o
fortalecimento das Monarquias Nacionais e a centralização dos poderes coercitivo e da coercibilidade
no âmbito político-administrativo e judicial.
De acordo com Jorge Miranda, “depois da organização política medieval-uma série de poderes ou
autoridades, cada qual com ampla jurisdição, verticalmente dispostos-vai ressurgir a noção de Estado,
na plena acepção. Pois o poder centraliza-se e concentra-se no Rei e toda a autoridade pública passa
e emanar dele; ele atinge todos os indivíduos-por serem súbditos do mesmo Rei; o território adquire
limites precisos e a todas as parcelas o governo central vai fazer chegar a sua lei.”34 Portanto, a
centralização do Poder em torno do Rei decorreu do enfraquecimento do Sistema Feudal, o que deu
lugar aos Estados Modernos e a uma Comunidade Política vinculada a figura monárquica.
Tal Estado Moderno ou do tipo Europeu foi difundido pelo restante do globo ao longo do Século XIX,
durante o período do chamado Neocolonialismo da África, Ásia e Oceania, tornando a influência
cultural Europeia predominante.
Por fim, a Sociedade Política e assim como a Comunidade Política se apresentam de uma forma bem
definidas e conceituadas com o modelo de Estado Europeu, demonstrando haver um vínculo político
entre o Povo e o Estado Monárquico (Rei).
2.2.1. Aspectos históricos do Direito Americano e da formação da nação nos Séculos XVII e XVIII
Inicialmente, os argumentos que levaram aos americanos a adotarem o modelo republicano, a
democracia representativa como forma de governo, o sistema presidencialista e a organização do
território de acordo com o pacto federativo estão relacionados a modelos distintos de colonização no
Norte e no Sul da Costa Leste.
De acordo com Rene David, desde o começo da Colonização pelos protestantes fugidos das Guerras
Religiosas no Norte da Costa Leste americana, houve a aplicação do Sistema Jurídico da “Common
Law” no que era possível pois as condições do Território e além dos interesses dos colonos tornavam
inaplicável tal Sistema em sua grande parte e, sendo assim, nas Colônias do Norte fora concebido
uma codificação primitiva e com base nos ensinamentos da Bíblia.
Tal ponto divergente entre o Direito Inglês e o Americano seria responsável, mais tarde, pela
concepção do Constitucionalismo moderno por intermédio do Pacto Federativo entre todas as
colônias.
Quanto as colônias do Sul, estas eram de cunho exploratório e grandes produtoras de monocultura
para exportação (plantation) e tinham a ingerência da Coroa Inglesa sobre os seus produtos no âmbito
do Pacto Colonial.
A partir do Século XVIII, houve a melhoria nas condições de vida nas colônias do Norte e do Sul, com
destaque do desenvolvimento das atividades econômicas de maior complexidade nas Colônias do
Norte. Foi a partir deste Século é que começou a ser aceita a Common Law como Sistema Jurídico
oficial.
Portanto, tais características do Direito Americano se apresentam favoráveis para a recepção dos
institutos do Sistema Romano Germânico com a conquista das novas terras ao Oeste, além de serem
divergentes do Direito inglês.
Desde o início da expansão territorial rumo a Costa Oeste e das pressões exercidas pelas novas
populações que passaram a integrar o território americano até a segunda metade do Século XX, foram
feitas mudanças no âmbito da Constituição Federal que acarretaram no fim das eleições indiretas para
membros do Senado Federal (eleitos pela Assembleia Legislativa), Presidente e Vice por meio do
Colégio Eleitoral (eleitores indicados pelas Assembleias Legislativas), assim como a exigência da
característica cultural dos eleitores equivalente aos membros da Câmara dos Representantes.
Desta forma, de acordo com Renè David “(…)convém notar que as autoridades federais gozam,
atualmente, duma vasta competência, infinitamente mais extensa da que haviam suposto os autores
da Constituição. A Constituição de 1787, que limitava rigorosamente os poderes das autoridades
federais, só raramente foi modificada (…)”
A extensão dos direitos eleitorais para todos (sufrágio universal) exigiu, consequentemente, a
ampliação das Competências Legislativas e Administrativas da União, além da possibilidade de
cooperação entre os entes estatais.
Portanto, a autonomia que cada ente estatal possuía em relação as suas competências foi modificada
ao longo dos Séculos XIX e XX, tendo sido decorrência das pressões de um povo com características
heterogêneas e em atendimento às suas diferentes necessidades e aos interesses político-
econômicos. Consequentemente, o Sistema de Freios e Contrapesos entre os órgãos de Poder fora
flexibilizado ao longo dos anos por meio das emendas constitucionais promulgadas a partir do final
do Século XIX e do Século XX.
2.3.2. Do Período da “República das Espadas” até a Revolução de 1930: acordo informal entre
as elites e arrefecimento dos movimentos de Centralização e Descentralização
Após o fim da Monarquia com o Golpe de Estado de 15 de novembro de 1889, iniciara-se o Governo
Provisório, chefiado pelo Marechal Manoel Deodoro da Fonseca.
Nota-se que havia uma disputa política entre a elite cafeicultora e os militares positivistas quanto a
interesses políticos locais (da elite) e centralizadores (de cunho nacional). Apesar disso, estavam todos
de acordo com o fim do Regime Monárquico e com a nova ordem jurídica que iria se estabelecer por
meio da Constituição Federal, no ano de 1891.
Sobre a nova Carta, ela se baseou no Federalismo Dual Norte-americano e com garantia de autonomia
política, administrativa e legislativa para o Estados (antigas províncias), tripartição de poderes de
Montesquieu, Sistema de Governo Presidencialista e direitos fundamentais de 1º geração.
Cumpre salientar que a respeito da Simetria Federativa (artigo 63 da Constituição Federal), estava
relacionada a vinculação dos Entes Estatais a União quanto aos Princípios Constitucionais da União,
no sentido formal.24 Nota-se que é algo distinto da Simetria Federativa no contexto da Constituição
Federal de 1934 e em especial da Constituição Federal de 1988.
Além disso, denota-se a divisão de competências Legislativas da União e dos Estados Membros, sem
a interferência do primeiro ente sobres os demais. Cada Estado tinha Competência para tratar sobre
Direito Material e Formal (Cível e Penal), tendo uma autonomia maior do que era no período Imperial.
Quanto ao Sistema Político Eleitoral das Casas Legislativas do Congresso Nacional eram Majoritário
(Senado Federal e o Executivo Federal e Estaduais) e Proporcional (Câmara dos Deputados e
Assembleias Legislativas). Além disso, o Sistema é Bicameral e herdou dos tempos do Império a falta
de divisão de trabalho por meio das funções estabelecidas por Montesquieu.
Assim como foi no Império, há uma proximidade do Senado Federal com o Executivo em razão do
mesmo Sistema Eleitoral, mas será com a Câmara dos Deputados que haverá necessidade de se ter o
“toma-lá-dá-cá” entre Poderes Públicos Federal e Estadual, conhecido como “Política dos
Governadores”. E, para garantir os interesses das elites, o Sufrágio era masculino e o voto de
característica aberta o que favorecia o acordo informal.
Tal acordo iria garantir, informalmente, as políticas de cunho nacional em troca das políticas em
âmbito local, sendo que eram de interesse das elites cafeicultoras e do “Coronelismo” dos Estados do
Norte e Nordeste. Neste momento da história observa-se um predomínio de exportações agrícolas
(em especial do Café) como foco da política econômica, enquanto a industrialização ficava em
segundo plano.
Portanto, os aspectos políticos, econômicos e jurídicos eram determinados principalmente pela Elite
econômica e cultural, tanto no âmbito local como em âmbito estadual.
Em razão da desconsideração com a chamada “questão social”, a população que estava prejudicada
fez diversos levantes, sejam no meio rural ou urbano.
Por fim, após a Crise de 1929 e o fato de que não se conseguia exportar café para os países mais ricos
da Europa e principalmente para os Estados Unidos, além da disputa política pela Presidência da
República demonstrar o desentendimento entre as Elites houve a chamada “Revolução de 1930” e a
deposição do último Presidente da República oligárquica.
Conclusão
Com relação ao Estado Federal norte-americano e o modelo integralista adotado pelo Estado
brasileiro, há muitas diferenças e poucas semelhanças nos aspectos político, jurídico, social e
econômico.
Quanto as suas origens, o Estado brasileiro foi predominantemente, no passado, uma colônia de
exploração e tinha o intuito de servir aos interesses da Metrópole, no âmbito Pacto Colonial. Após a
sua independência e com a formação da polarização dos grupos dentre aqueles que defendiam uma
maior descentralização politica administrativa em relação aos seus impares (defensores da
centralização), afirma-se que todas as transformações que se deram no âmbito político, jurídico e
econômico foram impostas pela prevalência de um dos grupos ao longo do Processo histórico-
evolutivo. Observa-se, também, que a coletividade (maioria) esteve ausente da tomada de decisões
que acarretaram as transformações do Estado brasileiro em um Estado Federal Integralista e com
proximidade quanto a um Estado Unitário Descentralizado.
Quanto ao Estado norte-americano, observa-se que as transformações no âmbito do pacto federativo
ao longo do Século XIX e começo do Século XX estavam associadas as necessidades do povo
estadunidense. Em outras palavras, fora em decorrência da coletividade que os governantes deste
período dedicaram os seus esforços para transformar a vida de todos os americanos para melhor, sem
deixar de lado os interesses da elite cultural.
Por fim, é de se salientar que os trabalhos do Barão de Montesquieu foram decisivos para o
estabelecimento de um Estado Federal no caso norte-americano e podem ser utilizados para
estabelecer um Sistema de Freios e Contrapesos, adequado aos anseios da comunidade política e da
sociedade política, na atual Constituição da República brasileira.