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Nº01

2019

Revista de Extensão
da UPE - REUPE
ISSN: 2675-2328

3183-3766 / 3183-4008

www.upe.br/extensao
V. 4
Corpo Institucional da Universidade de Pernambuco
- Reitor: Prof. Pedro Henrique de Barros Falcão
- Vice-Reitora: Profª. Maria do Socorro de Mendonça Cavalcanti
- Pró-Reitoria de Extensão e Cultura: Prof. Luiz Alberto Rodrigues
- Coordenação Geral de Extensão: Prof. Odair França de Carvalho

Editora chefe
Prof. Dra. Maria Beatriz Araújo Silva

Conselho Editorial
- Profa. Dra. Claudinalle Farias Queiroz de Souza
- Profa. MsC. Edilene Maria da Silva Barbosa
- Prof. Dra. Maria Lana Monteiro de Lacerda
- Profa. Dra. Maria Amália Oliveira de Arruda Camara
- Prof. Dr. Higor Ricardo Monteiro Santos
- Profa. Dra. Isabele Bandeira de Moraes D'Angelo

Conselho Consultivo (Revisores)


- Amanda Alves Marcelino da Silva - UPE
- Ana Rita Valverde Peroba - UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
- Andrea Karla Pereira da Silva - UPE
- Bruno Viana - UPE
- Emilia Rahnemay Kohlman Rabbani - UPE
- Genivaldo Nascimento - UPE
- Graça Graúna - UPE
- Helena Paula de Barros Silva - UPE
- Herika de Arruda Maurício - UPE
- Izabele Souza Barros - UPE
- Jeronimo Faustino Rego Filho - UPE
- Lina Raquel Santos Araújo - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
- Luiz Gutenberg Coelho Junior - UPE
- Maria Joana Pereira Neta - UPE
- Maria Regina Almeida de Menezes - UPE
- Pablo Aurélio Lacerda de Almeida Pinto - UPE
- Rafael David Souto de Azevedo - UPE
- Raphaela Delmondes - UPE
- Sibele Ribeiro de Oliveira - CENTRO UNIVERSITÁRIO ASCES UNITA
- Suely Emília de Barros Santos - UPE

Editora Assistente de Normatização


Roseane Almeida da Silva
Apresentação
A Revista de Extensão da UPE – REUPE recebe trabalhos que tratem
exclusivamente sobre Extensão Universitária.
Foi criada pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária – PROEC com o
objetivo de ampliar a divulgação das atividades de cultura e extensão existentes no âmbito
da Universidade de Pernambuco e de outras comunidades. Além de apresentar as
interfaces que essas atividades desenvolvem com o ensino e pesquisa e de propiciar a
pesquisadores e coordenadores de projetos de cultura e extensão, desenvolvidos junto à
comunidade, discorrerem sobre seu trabalho nessa área, em uma linguagem acessível ao
público.

Foco e escopo
A Revista de Extensão da UPE – REUPE visa se consolidar como um espaço
qualificado para a promoção do conhecimento e diálogo de novas ideias e, principalmente,
ampliar a comunicação da Universidade com a sociedade. Para isso, atua na divulgação
das atividades de cultura e extensão, apresentando as interfaces que tais ações
desenvolvem com o ensino e pesquisa.
A revista tem por finalidade publicar artigos relacionados a projetos ligados às áreas
de comunicação, cultura, educação, tecnologia e produção, saúde, direitos humanos, meio
ambiente e trabalho. Além disso, é também um veículo para a valorização da área,
principalmente em função da realidade atual, na qual o papel da cultura e da extensão é
fundamental para os propósitos da Universidade.
Os trabalhos devem ser apresentados em língua portuguesa, devendo ser originais
e inéditos, o que significa que não devem ter sido anteriormente publicados nem enviados
simultaneamente para outra revista. A publicação dos trabalhos dependerá da observância
das normas da Revista de Extensão da UPE – REUPE e da decisão do Conselho Editorial
e após apreciação por especialistas da área.
SUMÁRIO
EDITORIAL .......................................................................................................................... 4
EXTENSÃO NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO UTERINO E MAMA.................... 6
PROMOÇÃO DE EDUCAÇÃO SOBRE CONSUMO E EFEITO DO ÁLCOOL NO ENSINO
MÉDIO ............................................................................................................................... 15
PARA ALÉM DOS MUROS: A ATUAÇÃO DO PROJETO DIREITOS EM MOVIMENTO NA
COMUNIDADE QUILOMBOLA MUNDO NOVO – BUÍQUE/PE ........................................ 22
COLABORAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA.
........................................................................................................................................... 32
EDUCAÇÃO SEXUAL PARA ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO NO INTERIOR DE
PERNAMBUCO ................................................................................................................. 44
O TEATRO DO OPRIMIDO COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO DA PSICOLOGIA
SOCIAL .............................................................................................................................. 52
Editorial

Editorial

Em um contexto de crise, de insistentes tentativas para desqualificar a educação e, de modo


particular, a universidade pública no Brasil, de ameaças em não reconhecer o valor social e sua
necessária autonomia, a extensão universitária tem se revelado uma importante trincheira de luta
para elevar a importância social da sua atuação e melhorar a formação superior no Brasil. Após
quase três décadas de discussão e embates liderados pelo Fórum Nacional de Extensão, foi enfim
homologada uma normatização sobre a extensão no ensino superior brasileiro: Diretrizes para as
Políticas de Extensão da Educação Superior Brasileira, Resolução CNE nº 7, DE 18 DEZ 2018.
A extensão se renova e tem a partir de então um conceito ampliado, compreendida como uma
atividade que se integra à matriz curricular e à organização da pesquisa, afirma a diretriz. Devendo
ser realizada com o envolvimento da comunidade externa, assim sendo vinculada à formação do
estudante e estruturada de modo a garantir a sua creditação no histórico do estudante. Um marco
na história da universidade, um passo na direção da indissociabilidade da extensão para com as
dimensões de ensino e de pesquisa.
Fazer extensão é assim produzir conhecimento socialmente legitimado, comprometido com os
desafios sociais presente nos diversos contextos sociais. Sistematizar e publicizar são os grandes
desafios de quem faz extensão. A Revista de Extensão da Universidade de Pernambuco vem nessa
direção e quer ser um instrumento a mais para socializar experiências e aprendizagens formativas
desenvolvidas na interação entre docentes, estudantes e a sociedade. Os artigos versam sobre
experiências vividas nas áreas da saúde, do direito, da formação de professores, da Cidadania e
da Psicologia social.
O primeiro, relata atividades de prevenção do Câncer de Colo Uterino e Mama, desenvolvido no
interior do Agreste Pernambucano. Na sequencia, o artigo tem o propósito de avaliar o perfil de
consumo de álcool entre a população adolescente do ensino médio de duas escolas públicas da
cidade de Serra Talhada-PE. “Para além dos muros: a atuação do projeto Direitos em Movimento
na comunidade quilombola Mundo Novo – Buíque/PE”, propõe apresentar a importância da relação
entre pesquisa e extensão a partir da experiência etnográfica desenvolvida naquela comunidade.
Na área da educação, um destaque para o artigo “Colaboração na formação de professores que
ensinam matemática”, com o propósito de explicitar as ações do projeto Estudos Colaborativos em
Educação Matemática (ECEM), desenvolvido no âmbito do curso de Licenciatura em Matemática
da UPE/Campus Petrolina. No encadeamento o artigo seguinte visa promover educação em saúde
sexual para adolescentes de escolas públicas da cidade de Serra Talhada/PE. Por fim o artigo “O
Teatro do oprimido como instrumento de intervenção da psicologia social” apresenta relatos em
específico sobre violência feminina e como através das apresentações, os casos são tratados com
maior empatia e cuidado.
Em novo formato e amplamente melhorada, a Revista de Extensão da Universidade de
Pernambuco se qualifica para receber sistematicamente novos artigos e contribuir com a melhoria
da qualidade da extensão universitária. Gratidão e votos de êxito à equipe de editores e aos autores
que publicam seus relatos neste número.

Prof. Luiz Alberto Rodrigues

Pró-Reitor de Extensão e Cultura da UPE

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 4


Editorial

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 5


Prevenção do Câncer de Colo Uterino e Mama

Artigo Original

Extensão na Prevenção do Câncer de Colo Uterino e Mama

Adrya Lúcia Peres Bezerra de Medeiros1 orcid.org/0000-0003-4892-5486


Raquel Bezerra dos Santos2 orcid.org/0000-0002-9730-4718
Sibele Ribeiro de Oliveira3 orcid.org/0000-0001-8211-7357
Juliana Lúcia de Albuquerque Vasconcelos4 orcid.org/0000-0001-7429-1398
1-4
Centro Universitário Tabosa de Almeida (Asces-Unita), Caruaru, Pernambuco, Brasil
E-mail do autor principal: julianavasconcelos@asces.edu.br

RESUMO

O câncer do Colo do Útero e Mama como o terceiro e primeiro lugar mais frequentes nas mulheres do Brasil,
respectivamente. A realização de exames citopatológicos da cérvice uterina é utilizado como estratégia de
rastreamento em todo o mundo. Para o câncer de mama, o exame clínico das mamas, é utilizado para o
diagnóstico precoce desta enfermidade. Objetivou-se relatar as atividades do Projeto de Extensão: Prevenção
do Câncer de Colo Uterino e Mama, de um Centro Universitário do interior do Agreste Pernambucano, durante
11 anos de existência. O projeto foi iniciado em 2007, e atende mulheres para coletas de amostras
citopatológicas e realização de exame clínico das mamas, além das abordagens dialogadas relacionadas à
prevenção dos cânceres de útero e mama. O atendimento acontece na Clínica Escola da Asces-Unita.
Resultados: Em torno de 9.775 mulheres participaram nas ações do referido projeto para realização da coleta
de amostras citológicas, exame clínico das mamas e para ações de educação em saúde. Evidencia-se a
importância da transmissão do conhecimento voltado ao público não acadêmico, além de necessidade de
contribuir para o diagnóstico precoce do câncer de colo uterino e mama, levando a melhorias na saúde pública
regional.
Palavras-chave: Câncer Cervical; Câncer de Mama; Prevenção do Câncer; Detecção Precoce.

ABSTRACT

The cervical cancer and the breast cancer are in the third and first place more frequent in women from Brazil,
respectively. The achievement of cytopathology of the uterine cervix is used as a screening strategy in the
whole world. For breast cancer, the clinical breast exam is used for the early diagnosis of this disease. The
objective is to report on the activities of the Project Extension: prevention of cancer of the cervix and breast of
a university center in the countryside of the Wild in Pernambuco, during 11 years of existence. The project
was started in 2007 and meet women for collections of cytopathological samples and achievement and clinical
breast exam, besides the dialogued approaches related to the prevention of cancers of the uterus and breast
cancer. The care happens in Clinical School of Asces-Unita. Results: Around 9,775 women participated in the
actions of this project to completion of the collection of cytological samples, clinical breast exam and for actions
in health education. It is evident the importance of transmission of knowledge directed to the non-academic
public, in addition to the need to contribute to the early diagnosis of cancer of the cervix and breast cancer,
leading to improvements in Regional Public Health.
Keywords: Cervical Cancer; Breast Cancer; Prevention of Cancer; Early Detection

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Prevenção do Câncer de Colo Uterino e Mama

1. INTRODUÇÃO educação em saúde, as campanhas e


multirões são estratégias utilizadas na
O câncer de mama (CM) e de colo do tentativa de melhoria das condições de
útero estão em primeiro e terceiro tipo de saúde da população5.
câncer mais comum em mulheres no Diante da necessidade, a olhos vistos,
Brasil, respectivamente, figurando entre sobre prevenção e diagnóstico precoce
as causas mais frequentes de mortalidade dos tumores malignos de Colo Uterino e
na população feminina. Segundo dados Mama, este estudo deseja relatar o
do INCA1, estimativas para o ano de 2018 desenvolvimento de um projeto de
e 2019, apresentam 16.370 novos casos extensão, o qual foi implantado em 2007
de câncer do colo do útero e 59.700 novos e, desde então, vem efetivando
casos de câncer de mama. estratégias para levar à comunidade
A infecção cervical por tipos informações sobre a prevenção do câncer
oncogênicos do Papilomavírus humano do colo uterino e mama, criando uma
(HPV) tem sido estabelecida como o interação universidade-sociedade.
principal critério de causalidade, podendo
apresentar alterações morfológicas na 2. PERCURSO METODOLÓGICO
análise da citologia do colo uterino2. O
teste de Papanicolau ou Citopatológico é Coleta de Espécimes Cérvico-Vaginal e
o principal exame para diagnosticar Técnica de Papanicolaou
doenças cervicais, sendo utilizado desde As mulheres que procuram o
sua introdução, por volta de 1950. Quando Laboratório Escola da Asces-Unita para
realizado dentro dos padrões de realização do exame citopatológico são
qualidade definidos e oferecido orientadas quanto aos procedimentos aos
amplamente à população, desempenha quais serão submetidas, além de
um papel importante na redução do participarem do preenchimento de uma
câncer cervical3. ficha contendo dados como: nome, idade,
Como primeira causa de história obstétrica, número de parceiros
morbimortalidade em mulheres por câncer sexuais, além dos achados ao exame
no Brasil, está o câncer de mama. Para o direto do colo uterino.
diagnóstico precoce do câncer de mama, As coletas aconteceram em consultório
são preconizados métodos como o exame da Clínica Escola da Asces-Unita, onde
clínico das mamas, realizada por foram realizadas, primeiramente, na área
profissionais da saúde como médicos e da ectocérvice com a espátula de Ayre,
enfermeiros, além do diagnóstico por apoiando a sua extremidade mais longa
imagem, realizados através de no orifício cervical, fazendo um giro de
1
ultrassonografia e mamografia . A 360°, percorrendo o contorno do orifício
realização do exame clínico das mamas cervical externo e, então, dispondo o
(ECM), tem grande importância para o material sobre a lâmina. Em seguida é
diagnóstico precoce de doenças coletado material endocervical com
mamárias, associado a exames de escovinha endocervical, introduzindo-a no
imagem, proporcionando uma análise de canal cervical, percorrendo todo seu
alterações mamárias sugestivas de contorno, e dispondo delicadamente
malignidade4. sobre a mesma lâmina. Na extremidade
Além do uso dos métodos de rastreio fosca da lâmina previamente limpa, é
dos tumores de Colo Uterino e Mama, a
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Prevenção do Câncer de Colo Uterino e Mama

realizada a identificação da mulher com com uso de simuladores ginecológicos e


iniciais e n° de registro. Comumente é mamários. Tais atividades acontecem
coletada uma lâmina de cada paciente, semestralmente, sendo desenvolvidas por
sendo a fixação imediata, segundos após estudantes e professores participantes do
a coleta, utilizando Álcool 99,5%6. projeto de extensão.
As lâminas coletadas são submetidas à
coloração pela técnica de Papanicolaou, Desenvolvimento de Projetos de
utilizando os seguintes corantes: Pesquisa
Hematoxilina, Orange G6 e EA 65, além Ao longo dos 11 anos de atuação do
de álcool absoluto comercial e Xilol P.A. projeto foram desenvolvidos projetos de
Após coloração, as lâminas são montadas pesquisa de trabalhos de conclusão de
com bálsamo do Canadá e, então, curso e iniciação científica, utilizando
levadas a análise microscópica7. dados do serviço de prevenção de câncer
As lâminas são avaliadas em de colo uterino da ASCES, seguindo
microscópio óptico, utilizando objetivos de normas do Comitê de Ética em Pesquisa
10 x e 40 x, sendo os resultados e resolução 466/12 do Conselho Nacional
expressos e categorizados de acordo com de Saúde (CNS).
o sistema Bethesda, como: negativo para
lesão intraepitelial e malignidade, lesão 3. RESULTADOS
intraepitelial escamosa de baixo grau,
lesão intraepitelial escamosa de alto grau, O projeto atendeu em torno de 9.775
carcinoma ou adenocarcinoma8. mulheres, na faixa etária entre 18 e 70
Exame Clínico das Mamas (ECM) anos. Um total de 1.627 pacientes foram
O ECM é realizado de acordo com o atendidas para realização da coleta de
Caderno de Atenção Básica: Controle dos amostras citológicas, havendo
Cânceres do Colo do Útero e da Mama do consequentemente, a emissão de 1.627
Ministério da Saúde, incluindo as etapas laudos de análise citológica com
de inspeção estática, inspeção dinâmica, conclusão diagnóstica de normalidade
palpação das mamas e dos gânglios cervical, inflamação cervical, lesões de
axilares e supraclaviculares, no baixo grau, lesões de alto grau,
consultório da Clínica Escola da Asces- adenocarcinoma e carcinoma cervical. As
Unita4. coletas foram realizadas por professora
Realização de Eventos em extensionista Biomédica, componente e
Comunidades fundadora do projeto, e alunos
Os eventos voltados para educação em extensionistas.
saúde, compreendem encontros O ECM foi implementado no primeiro
promovidos pela universidade ou a semestre de 2016, e avaliou mais de 178
convite de municípios, empresas e outras mulheres até o momento. Todas as
entidades locais e regionais. Nestes mulheres foram avaliadas por professora
eventos são demonstrados à sociedade, a extensionista Enfermeira, componente do
importância da prevenção do câncer de projeto de extensão, e alunos
colo uterino e mama, utilizando extensionistas.
apresentações, como: palestras, Foram realizados mais de 150 eventos
distribuição de folders, além de durante os 11 anos do projeto, os quais
informações dialogadas com as mulheres compreenderam encontros promovidos na
própria universidade e em comunidades
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Prevenção do Câncer de Colo Uterino e Mama

do município de Caruaru ou de outros


municípios da região, empresas públicas
e privadas, e outras entidades locais e
regionais. Dentre estes eventos
destacamos: O Dia mundial da Saúde,
Semana da Mulher, Comemoração ao Dia
do Biomédico, Evento da TV Asa Branca,
Evento da TV Jornal em Caruaru, Eventos
SESC, Fabrica Hebron, Polo Comercial de
Caruaru, Feira de Artesanato de Caruaru,
Escola Mario Sette e Escola Estadual de
Referência Nelson Barbalho, em Caruaru, Fonte: Arquivo do Projeto
Evento em Chã Grande-PE, São Joaquim
do Monte-PE e Gravatá-PE. A maior parte destas pacientes são
Foram atendidas no processo de provenientes de demanda espontânea de
educação em saúde, mais de 8.148 origem externa a instituição. Também
mulheres, demonstrando a sociedade, foram incluídas as mulheres de diversas
constantemente, a importância da localidades, bairros do município de
prevenção do câncer de colo uterino e Caruaru, além de comunidades de outros
mama, utilizando apresentações como municípios circunvizinhos. Nestes últimos
palestras, distribuição de folders, uso de casos, as pacientes foram envolvidas no
simuladores ginecológicos e de mamas, protejo para receberem orientações
além de informações dialogadas com as relacionadas à importância dos exames
mulheres sadias e doentes por câncer, citopatológicos.
refletindo sempre no autocuidado e Já participaram do projeto, mais de 600
levando aspectos de prevenção estudantes de graduação dos cursos de
secundária e terciária às mulheres já biomedicina, farmácia e enfermagem. A
diagnosticadas com câncer (Figura 1). seleção para integração no referido
projeto ocorre semestralmente, e permite
Figura 1: Formas de abordagens utilizadas para que os estudantes selecionados possam
levar à comunidade informações relacionadas à
participar por até dois semestres. Neste
importância da prevenção do câncer de colo
uterino: A) demonstração da coleta para exame período, os estudantes participam de
citopatológico; B) entrega de folders e informações treinamentos que compreendem o estudo
dialogadas com a população; C) apresentação de de conteúdos teóricos relacionados à
palestras e peças teatrais; D) momento de prevenção do câncer, vivência na prática
massagens relaxantes nas pacientes oncológicas;
laboratorial de realização de exames
E) momento de maquiagem nas pacientes
oncológicas. citopatológicos, construção de material
educativo para a população, além da
criação de dinâmicas para apresentação a
comunidade, tendo como ponto principal
garantir a informação relacionada à
importância da prevenção do câncer de
colo uterino e mama (Figura 2).

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Prevenção do Câncer de Colo Uterino e Mama

por esse câncer pode ser alcançada


Figura 2: À esquerda: momento de análise através do rastreamento de mulheres na
microscópica das amostras coletadas dos faixa etária de 25 a 64 anos com o teste
pacientes do projeto de extensão. À direita:
momento de acolhimento de novos alunos
de Papanicolau e tratamento das lesões
extensionistas, apresentando nossas etapas de precursoras com alto potencial de
trabalho e conteúdos abordados para momentos malignidade ou carcinoma in situ. Para
de educação em saúde. tanto, é necessário garantir a
organização, a integralidade e a qualidade
do programa de rastreamento, bem como
o seguimento das pacientes. A prevenção
e a detecção precoce do câncer de colo
uterino se constituem em um marco inicial
de seu controle, tornando-se, assim, as
medidas mais eficazes para minimizar sua
evolução. Resulta no decréscimo
significativo da morbimortalidade,
caracterizando o conceito amplo de
Fonte: Arquivo do Projeto.
prevenção4.
Foram desenvolvidos mais de dez O câncer do colo do útero apresenta
projetos de pesquisa, envolvendo alto potencial de prevenção e cura, sendo
trabalhos de conclusão de curso e algo próximo a 80%, quando
1
iniciação científica institucional (INICIA), diagnosticado precocemente . A
utilizando dados do serviço de prevenção colpocitologia oncótica é um método de
do câncer de colo uterino da ASCES, rastreamento que, desde a sua
seguindo normas do Comitê de Ética em introdução, tem sido de enorme valor na
Pesquisa e resolução 466/12 do Conselho redução da mortalidade por esse tumor,
Nacional de Saúde. Sendo todos os embora, na verdade, isso só tenha
projetos submetidos ao comitê científico e ocorrido em países que instituíram
comitê de ética em pesquisa da Asces- rigorosos e ininterruptos programas de
Unita. Os temas desenvolvidos nestes prevenção a longo prazo9.
projetos compreenderam assuntos O exame do esfregaço cervicovaginal,
relacionados a frequências de lesões, ou simplesmente teste de Papanicolaou,
alterações citopatológicas benignas e mostrou-se eficiente para detecção
evidências de microrganismos através da precoce da neoplasia cervical em sua fase
citomorfologia, sendo abordado a citologia assintomática, se tornando a técnica eleita
do colo do útero. para rastreamentos populacionais em
todo mundo10. Desta forma, evidencia-se
4. DISCUSSÃO a importância do projeto de extensão que
realiza o método diagnóstico padrão para
Os fatores de risco para o surgimento detecção precoce de alterações do colo
do câncer cervical uterino (e de suas uterino. Este projeto, demonstra-se
lesões precursoras) têm sido eficiente como auxílio ao serviço público
determinados epidemiologicamente nas de saúde. O rastreamento das lesões do
últimas três décadas. É estimado que uma colo uterino em suas fases iniciais antes
redução de cerca de 80% da mortalidade de se tornarem lesões invasivas é
realizado através do exame citopatológico
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Prevenção do Câncer de Colo Uterino e Mama

cervical, sendo a principal estratégia de pesquisa realizada por Ribeiro, Santos,


rastreamento deste câncer no Brasil1. Teixeira5, mulheres entrevistadas
No âmbito das investigações das demonstraram escasso conhecimento
alterações mamárias, o ECM, deve ser sobre o exame preventivo, sua finalidade,
realizado em consultas médicas e/ou de sua população-alvo e sobre a
enfermagem e é recomendado a partir dos periodicidade de sua realização.
20 anos de idade. São observados alguns Demonstram também, desconhecimento
aspectos relacionados a doenças de que, em seus estágios iniciais, o câncer
malignas mamárias como: mudanças de do colo do útero, apresenta-se
tamanho mamário unilateral, aspecto assintomático.
rugoso (casca de laranja) da pele Este escasso nível de conhecimento, é
mamária e aspecto inflamatório (eritema visto também, nos momentos de
mamário), presença de secreção atendimento e/ou educação em saúde do
purulenta ou sanguinolenta mamária, projeto de extensão. Compreendemos o
inversão, descamação ou ulceração do quanto o conhecimento modifica a
mamilo, percepção de nodulação realidade de muitos e motiva as
4
mamária e/ou em axilas . percepções de autocuidado e melhoria na
Este método tem maior percepção de qualidade de vida. A falta de
nodulações acima de 1 cm, em mulheres conhecimento sobre a periodicidade e a
entre 50 a 59 anos de idade, chegando a finalidade do exame preventivo, acarreta
83% de sensibilidade e 96% de numa despreocupação e desinteresse
especificidade11. Diante desta importância pela sua procura. Enquanto que ao se
e efetividade, em uma análise transversal obter esses conhecimentos resulta numa
e comparativa entre as regiões Nordeste e maior e mais consciente busca pela
Sul do Brasil, evidenciou em pesquisa prevenção13.
com 8.076 mulheres da região Nordeste, As intervenções que o referido projeto
mais de 30% das mulheres nunca haviam vem realizando na comunidade, reforça as
realizado o ECM, caracterizando um descrições sobre a extensão universitária,
número médio de 2.422 mulheres. Já na que segundo Sousa14 definem
região Sul, analisando apenas 4.417 proporcionar uma vivência determinante e
mulheres, 16% relataram nunca ter feito o diferenciada em contribuir com o serviço,
ECM, representando um número bem formar profissionais diferenciados,
menor, de 707 mulheres, em comparação qualificar à atenção à saúde prestada à
com a região Nordeste. Estes dados, comunidade.
relatam a dificuldade de educação em A participação de acadêmicos em
saúde e a necessidade de maior atividades extensionistas proporciona
dedicação ao incentivo da realização do grande impacto em sua formação
ECM12. acadêmica por proporcionar o
O referido projeto é uma ótima desenvolvimento de habilidades de
estratégia para aumentar os números de participação, proatividade, planejamento,
mulheres assistidas neste aspecto clínico, inserção na sociedade14, No estudo de
além de levar, através das ações Rios15 os estudantes ressaltaram que ao
educativas, mais informações sobre a longo da realização das atividades no
simplicidade do ECM e da sua território foram estimulados a pensarem
necessidade quando falamos em rastreio acerca de competências inerentes ao
precoce do Câncer de Mama. Segundo exercício da profissão, como empatia,
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Prevenção do Câncer de Colo Uterino e Mama

valorização dos saberes e vivências dos a exames de imagem como a mamografia,


sujeitos, respeito, capacidade de escuta, efetivando o protocolo de rastreio precoce
atendimento integral, entre outras. Com do CM.
isso, se torna importante destacar a Além disto, há grande necessidade em
amplitude e dimensão que a extensão levar a sociedade o conhecimento
universitária pode causar na formação relacionado à prevenção do câncer de
discente, onde o referido projeto em colo uterino e mama, tendo em vista a
intervindo ao longo dos mais de 10 anos grande necessidade que alguns locais
de atuação. apresentam este conhecimento deficitário,
os quais envolvem desconhecimento de
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS métodos de rastreio e como, ou em que
local, o exame deve ser realizado.
O projeto de extensão: Prevenção do Percebe-se continuamente, a
Câncer do Colo do Útero e Mama importância em transmitir conhecimento a
encontra-se atualmente em andamento na população, uma vez que este, quando
Asces-Unita. Os resultados esperados na associado a adequadas orientações
criação deste projeto estão sendo relacionadas ao exame citopatológico,
atendidas e semestralmente inovações favorece a acreditação da paciente e
são implementadas, principalmente maior confiança relacionada à sua
relacionadas à abordagem das pacientes finalidade, possibilitando
na transmissão da informação a consequentemente uma maior procura
comunidade. para realização periódica dos exames
O diagnóstico precoce do câncer do preventivos e de rastreio precoce do
colo uterino permite o rastreamento das câncer de Colo Uterino e Mama.
lesões de colo em suas fases iniciais Assim, evidencia-se a importância da
antes de se tornarem lesões invasivas existência deste projeto de extensão no
através de um método de detecção Agreste Pernambucano, visto a
conhecido como exame de Papanicolau. importância da transmissão do
Conhecido também como exame conhecimento e uso dos métodos
citopatológico, periódico para prevenção diagnósticos, de instituição de ensino
do câncer de colo uterino, tem sido a voltada para as necessidades das
melhor estratégia de Saúde Pública para comunidades locais e regionais
a detecção de lesões pré-neoplásicas e contribuindo para melhorias na Saúde
neoplásicas, sendo desta forma muito útil Pública regional.
na identificação de alterações
citomorfológicas nucleares e REFERÊNCIAS
citoplasmáticas relacionadas ao HPV.
Com a implementação do ECM, 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto
evidencia-se sua importância na detecção Nacional do Câncer – INCA.
de alterações mamárias em mulheres Estimativa 2018 – Incidência de
assistidas pelo o projeto, desmistificando câncer no Brasil. Instituto Nacional do
o exame e demonstrando sua eficiência, Câncer José Alencar Gomes da Silva
além de proporcionar um melhor preparo (INCA). Rio de Janeiro, 2018.
técnico aos futuros profissionais formados Disponível em:
pela Asces-Unita. Ressalta-se que este <http://www.inca.gov.br/estimativa/20
exame, muitas vezes deve ser associado 18/>. Acesso em: 15 maio 2019.
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 12
Prevenção do Câncer de Colo Uterino e Mama

2. RODRIGUES, A. F.; SOUZA, J. A.. Revista Brasileira de Análises


Papilomavírus humano: prevenção e Clínicas, Rio de Janeiro, v. 40, n. 2, p.
diagnóstico Human papilomavirus: 115-119, 2008.
prevention and diagnosis. Revista de 10. ROBERTO NETTO, A.; RIBALTA.J. C.
Epidemiologia e Controle de L., FOCCHI. J. A Dimensão da
Infecção, Santa Cruz do Sul, v. 5, n. 4, Prevenção e o câncer do Colo Uterino.
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3. EIFEL, P. J.; LEVENBACK, C. Exame brasileira das associações de
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FARIA, M. S. Atipias Cervicais Médica, Revista Brasileira de
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Mulheres Atendidas em Dois Hospitais 3, p. 184-195, 2019.
da Rede Pública de São Luís – MA.
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 13
Prevenção do Câncer de Colo Uterino e Mama

Agradecimentos

Ao Centro Universitário Tabosa de


Almeida (Asces-Unita) todo estímulo,
apoio e confiança, à toda comunidade que
confia em nosso projeto e a todos os
alunos que passaram e passam pelo
projeto, contribuindo de forma tão integra
e humana.

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 14


Educação sobre consumo e efeito do álcool

Artigo Original

Promoção de educação sobre consumo e efeito do álcool no ensino


médio

George Alessandro Maranhão Conrado1 orcid.org/0000-0001-6649-577X


Fetxanê Menira Tni-ah Oliveira Brandão2 orcid.org/0000-0003-3548-0895
Daniela de Araújo Viana Marques3 orcid.org/0000-0002-2380-7910

1-2
Universidade de Pernambuco. Serra Talhada, Pernambuco, Brasil.
3
Universidade de Pernambuco. Recife, Pernambuco, Brasil.
E-mail do autor principal: george.maranhao@upe.br

RESUMO

Em se tratando do tema “álcool”, no Brasil, dois fatos chamam atenção: é a droga lícita mais consumida e a
idade de primeira ingestão está cada vez mais precoce. Estima-se que em 2010, cada brasileiro acima de 15
anos consumiu cerca de 8,7 litros de álcool puro - consumo acima da média mundial. Isto contribui para um
maior número de indivíduos com sequelas pelo uso cotidiano e abusivo do álcool. Mediante esse panorama,
decidiu-se avaliar o perfil de consumo de álcool entre a população adolescente matriculada no ensino médio
de duas escolas públicas da cidade de Serra Talhada-PE. Realizou-se um uma intervenção transversal com
267 discentes de escolas públicas do Sertão do Pajeú pernambucano. Para isto, os participantes receberam
capacitações sobre o tema e nas apresentações foram utilizados recursos midiáticos, conjugando os
mecanismos vocal e visual. Na ocasião foi aplicado o “Alcohol Use Disorders Identification Test” e um
questionário demográfico. Evidenciou-se que a grande maioria dos participantes praticavam consumo de
baixo risco ou abstinência; porém, aproximadamente 1/5 da população apresentou hábitos etílicos dentro das
zonas de risco. Apesar de majoritariamente a amostra ter sido adequadamente atendida pela intervenção,
percebeu-se, ainda, a necessidade de novas intervenções e talvez mais precocemente ainda.
Palavras-chave: AUDIT; Estudantes de ensino médio; Escolas públicas; Perfil de consumo de álcool;
Promoção de educação.

ABSTRACT

When the topic of "alcohol" in Brazil is being dealt with, two facts stand out: it is the legal drug that is the most
consumed and the age at which it is first taken ingestion is getting younger and younger. It is estimated that
in 2010, every Brazilian over 15 years drank about 8.7 liters of pure alcohol – an amount that is above the
world average. This fact contributes to a greater number of individuals with acute and chronic sequelae due to
drinking alcohol every day and in excessive amounts. Therefore, it was decided to evaluate the profile of
alcohol consumption among the adolescent population enrolled in two state high schools in the town of Serra
Talhada-PE. A transversal intervention was carried out with 267 state school students in the Sertão do Pajeú,
Pernambuco. To do so, these student participants in the project received training on the topic for which media
resources, using both audio and visual mechanisms, were deployed. The "Test to identify Disorders arising
from drinking Alcohol" and a demographic questionnaire were applied at the start of the Project, which had
received prior approval from the Committee on Ethics in Research. Evidence was found that the great majority
of participants either consumed alcohol at a low level of risk or were tee-total. However, approximately one-
fifth of the population presented alcohol habits within risk zones. Although most of the sample was adequately
covered by the intervention, it was also noticed that there is a need for new interventions and perhaps to
include even younger pupils.
Keywords: AUDIT; High school students; State schools; Profile of alcohol consumption, Encouraging more
training courses.

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 15


Educação sobre consumo e efeito do álcool

1. INTRODUÇÃO
Foi solicitado, inicialmente, aos
O álcool é uma substância psicoativa gestores das Escola de Referência em
com alto potencial de desencadear Ensino médio Professor Adauto Carvalho
dependência. E no mundo, os problemas e Escola Estadual Cornélio Soares, a
relacionados ao abuso do uso de álcool permissão para serem realizadas as
variam1,2,3. Segundo a 10ª Revisão da apresentações. As instituições com 9 e 6
Classificação Estatística Internacional de turmas, respectivamente, possuíam
Doenças e Problemas Relacionados com turmas de 1º, 2º e 3º ano do ensino médio,
a Saúde, 2007, o álcool está associado a com uma média de 40 alunos por turma. A
mais de 200 doenças e lesões. Portanto, escolha das instituições, inclusive, seguiu
as consequências do seu uso crônico e a ordem de permissão, sendo as duas
exacerbado são além de muito diversos, primeiras escolas que aceitaram nos
bastante onerosos para o sistema de receber as abarcadas pela intervenção. O
saúde pública. projeto foi submetido ao Comitê de Ética e
Embora no Brasil exista uma lei que Pesquisa da Universidade de
impeça a comercialização de bebidas Pernambuco e está de acordo com
alcoólicas para menores de 18 anos - Lei determinações éticas da Resolução
nº 9.294, de 15 de julho de 1996 – é cada nº466/2012 CNS/CONEP (CAAE:
vez mais precoce a idade da primeira 73568617.0.0000.5207). Todos os
ingestão alcóolica, e são crescentes o discentes participantes assinaram o
número de intoxicação aguda por álcool Termo de consentimento Livre e
ou suas sequelas agudas e crônicas nas Esclarecido e um Termo de Assentimento
urgências e emergências4,5. Pode-se Livre e Esclarecido foi assinado
falar, ainda, que a o consumo de álcool previamente pelos pais.
iniciado antes dos 15 anos de idade A estratégia utilizada foi a aplicação de
aumenta em 4 vezes o risco de recursos midiáticos durante as
desenvolver dependência6. apresentações em forma de exposição
A necessidade da intervenção surgiu, dialogada com apoio de diapositivos,
na verdade, da observação de dados seguida de roda de conversa, como forma
coletados no mesmo locus, porém, com o de dar oportunidade para compartilharem
público universitário. Ao perceber que os experiências e trazer esclarecimentos
perfis de consumo de álcool na faculdade sobre o tema. Fizemos uso da
de Medicina, apesar da maioria ser combinação de estímulos verbais e
abstêmia ou praticar um consumo visuais, usando como imagens da série
alcoólico de baixo risco, havia uma “The Simpsons” facilitando a ilustração
parcela relevante de indivíduos que já dos casos, para significar o tema e discutir
possuía hábitos de risco. Então, viu-se a os dados epidemiológicos sobre o
necessidade de realizar uma intervenção consumo do álcool no Brasil e no mundo,
para os jovens no momento anterior à comentar acerca da ação do álcool sobre
entrada na universidade, o ensino médio. o funcionamento do corpo, suas
Aproveitando a ocasião para identificar consequências, estado psicológico e
qual o padrão de consumo de álcool relações interpessoais. A fim de deixar as
destes adolescentes. apresentações mais fluidas, sob a
supervisão dos coordenadores, todos os
2. PERCURSO METODOLÓGICO participantes contribuíram na fabricação
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 16
Educação sobre consumo e efeito do álcool

dos materiais utilizados nas exposições, para avaliar a efetividade e relevância da


fazendo, assim, todos os conhecerem intervenção.
bem. Foram realizados, também, vários
ensaios, inclusive com possíveis 3. RESULTADOS
perguntas que os adolescentes poderiam
levantar e requisitada, ainda, a opinião de A população selecionada para receber
um profissional psicólogo para ajudar a a intervenção foi composta por 267
adequar a linguagem e o conteúdo indivíduos de ambos os sexos, com média
exposto. de idade de 15,84 ± 1,03 anos,
Ademais, aproveitamos a ocasião para matriculados no ensino médio público e
realizar uma coleta de dado, que, após a que aceitaram participar da intervenção
proposta ter sido submetida ao Comitê de por livre e espontânea vontade como
Ética e Pesquisa da Universidade de colaboradores. A maioria da população foi
Pernambuco, foi realizada com a composta por indivíduos do gênero
utilização de um questionário feminino, (55,0% versus 45,0%). 45,5%
socioeconômico, no qual consta os estava inscrita no primeiro ano do ensino
tópicos: sexo, idade atual, idade em que médio, 18,3% no segundo ano, e 36,2%
experimentou álcool pela primeira vez e no terceiro ano. A pontuação do AUDIT
qual o nível de socioeconômico. Além está exposta na figura 1.
deste, fizemos uso do Teste de
Identificação de Desordens do Álcool Figura 1. Gráfico percentual: Pontuação do
(questionário AUDIT), desenvolvido pela questionário AUDIT da amostra estudada.

Organização Mundial da Saúde (OMS) e


estruturado com 10 questionamentos que
classificam o indivíduo quanto ao
consumo de álcool de acordo com a
pontuação atingida – A Zona I abrange os
scores de 0 à 7 e os indivíduos nesta são
classificados como “Abstêmios ou que
realizam consumo de baixo risco”; a Zona
II, scores de 8 à 15 e realizam “consumo
de risco”; a Zona III, score de 16 à 19 e
realizam “consumo de alto risco com Fonte: Pesquisa direta. 2018
tendências a dependência”; e a Zona IV,
acima de 20 pontos e que já é considerado Através do questionário AUDIT, pode-
dependente alcoólico. Este questionário se constatar que a população analisada
foi escolhido pois, além de classificar se apresentou majoritariamente
quanto aos perfis de consumo de álcool, classificada na Zona I, ou seja, indivíduos
indica qual seria o melhor método de abstêmios ou que realizam um consumo
intervenção para cada padrão de de álcool de baixo risco (86,5%). Porém,
consumo de álcool, sendo possível ainda existe uma quantidade relevante de
realizar prevenção primária; orientação indivíduos que estão classificados nas
básica; intervenção breve e zonas de consumo de álcool de risco.
monitoramento; e encaminhamento para Em se tratando da relação entre o
serviço especializado, respectivamente, gênero e o consumo de álcool, observou-
sendo utilizado também como parâmetro se que o sexo feminino lidera na maioria
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 17
Educação sobre consumo e efeito do álcool

das zonas de classificação no concentração, problemas com a família,


questionário AUDIT (Figura 2). Porém, problemas financeiros, e depressão, um
apesar do consumo de baixo risco e quadro muito semelhante ao encontrado
abstemia ter sua maioria composta por do estudo de Cavalcanti e colaboradores
indivíduos do sexo feminino, as mulheres (2008) e Oliveira, et al (2016).
estão à frente dos homens quando se fala Mencionaram, ainda, que o álcool é uma
no perfil de consumo de álcool da Zona IV forma fácil de poder adentrar nos grupos
– dependentes alcoólicos, o que é sociais e de fugir do bullying.
preocupante. Diante destes relatos, a postura tomada
pelos ministrantes das palestras foi a
Figura 2. Gráfico percentual: Pontuação no indicação da busca por uma assistência
questionário AUDIT em relação ao gênero. mais direcionada. Foi orientado que
existem uma gama de profissionais com
capacidade de ajudar a encaminhar os
problemas desses jovens e que tudo isso
poderia ser realizado através do Sistema
Único de Saúde através da Política
Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras
drogas - na forma de assistência nos
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),
nos Núcleos de Apoio a Saúde da Família
(NASF), entre outras instâncias - sem
custo algum7-8.
Fonte: Pesquisa direta. 2018 Na discussão final, notou-se a
compreensão da maioria dos alunos que,
É importante comentar que, no quem é abstêmio ou que realiza o
momento da apresentação, os alunos consumo de baixo risco, não sofre com os
demonstraram muito interesse pelo tema problemas do metabolismo alcóolico com
em questão. Interagiram de maneira tanta recorrência. Inclusive que, quem não
satisfatória com os participantes que realiza hábitos de alto risco tem maior
estavam ministrando as palestras, disposição para conseguir resolver os
fazendo questionamentos e também problemas cotidianos e maior
relatos de caso pessoal, das experiências produtividade, portanto, intervindo na
vividas pela família, sua comunidade e perpetuação do ciclo de pobreza6.
notícias que foram divulgadas na mídia. É válido informar, ainda, que, as
No momento em que começou-se a instituições visitadas acharam de o projeto
falar dos cuidados com a saúde, os jovens de extrema relevância, chegando a
alegavam que seja durante o consumo ou solicitar que as apresentações fossem
na fase de veisalgia, sentiam-se executadas em mais turmas. Uma
acometidos por transtornos observação importante é que, os
gastrointestinais, tremores e verificavam professores, no momento do feedback,
mudanças na textura da pele e cabelos. A conversaram com os participantes que
presença de cefaleia foi um achado intercedessem com as palestras também
recorrente. Falou-se também sobre saúde nos colégios de ensino fundamental, pois
mental, sendo que as queixas mais já vinham observando que os
recorrentes eram ansiedade, adolescentes estavam sendo introduzidos
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 18
Educação sobre consumo e efeito do álcool

ao ensino médio já com hábitos etílicos alunos. O que entra em contraste com o
inadequados. observado na literatura. Num estudo
realizado no município de Cajazeiras-PB,
4. DISCUSSÃO demonstrou-se que apenas 7,8% da
população estava classificado na zona de
A intervenção escolhida, prevenção provável abstinência. Um número
primária e orientação básica, conseguiu consideravelmente inferior ao encontrado
abranger de forma ideal a maioria da na população3.
população. Isto porque, segundo o Apesar de não haver consenso, a
questionário AUDIT e como foi literatura demonstra que o consumo de
demonstrado anteriormente em texto e álcool em relação ao sexo é relativamente
gráficos, esta seria a intervenção que proporcional, durante essa intervenção
mais se adequaria aquela amostra9. notou-se ser maior entre o sexo feminino
Inclusive, quando consideramos o que o masculino5,13. Este fato que é de
álcool como a droga porta de entrada para extrema relevância no âmbito da saúde, já
o consumo de outras drogas, para os que que as mulheres são as mais prejudicadas
foram sensibilizados, essa intervenção quanto as variabilidades fisiológicas
consegue atenuar a exposição destes intrínsecas do metabolismo e excreção
adolescentes ao uso recreativo de alcoólica, e em se tratando da idade, uma
substâncias entorpecentes e ao uso do maior vulnerabilidade a estupros,
tabaco, diminuindo este comportamento infecções sexualmente transmissíveis,
de risco, o envolvimento e patrocínio do gravidez não planejada e indesejada,
tráfico de drogas, além da morbidade e além das consequências para o concepto
mortalidade que são consequências do pela exposição aguda e crônica ao álcool.
seu uso1-2,5-6. Porém, apesar destas situações, os
A decisão de realizar a intervenção homens continuam sendo mais onerosos
neste tipo de população, considerando ao sistema de saúde pelo fato de que são
faixa etária e ambiente, também foi os que líderes em condução de risco
interessante pelo fato de que os automobilística de risco e situações de
adolescentes são potenciais agressão, portanto, tendem a aumentar o
disseminadores de conhecimento. Tanto espectro de indivíduos atingidos - direta
para os seus amigos como para os seus ou indiretamente - pelo consumo de
familiares e comunidade em que está álcool11.
inserido. Estima-se que pelo menos duas Um fator relevante nesta população é
pessoas, além do discente que participou de que 13,5% apresentava algum grau de
da intervenção, poderiam receber estas consumo de álcool de risco. Um valor
informações e ser beneficiadas por esta muito inferior ao descrito na literatura, na
ação, o que é bastante interessante, pois qual 92,2% da população dos
faz com que os objetivos traçados pela adolescentes apresentava algum nível de
ação alcancem um público muito maior do consumo de risco – 31,1% na Zona II, 3%
que apenas a população que participou. na Zona III, e 58,1% se encontravam na
A vertente estatística do estudo Zona IV12.
demonstrou uma quantidade percentual Os estudos vêm relatando uma idade
significativa de indivíduos classificados cada vez mais precoce de início de
como abstêmios ou que realizavam consumo de álcool, entre 10 e 12 anos de
consumo de baixo risco 231 (86,5%) idade1,5. Um fato interessante, já que esta
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 19
Educação sobre consumo e efeito do álcool

mesma variante foi analisada na reuniões auxiliaram na interação e troca


população e foi encontrada uma idade de conhecimentos entre acadêmicos de
inferior às médias internacionais 13. Esse turmas diferentes e profissionais aos
fato, talvez, contribua para que atividades quais não são de contato cotidiano.
proponentes de mudanças estagnadoras Compreendeu-se, também, de maneira
ou descendentes nos padrões de mais profunda o funcionamento do
consumo sejam mais efetivas. sistema de redes de saúde pública.
Portanto, fica evidente a necessidade
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS de mais intervenções sensibilizadoras
acerca das complicações do abuso agudo
Compreendeu-se, logo, que embora ou uso crônico do álcool não apenas em
nossa intervenção tenha abrangido um populações como estas, mas agir de
grupo que majoritariamente realiza um maneira mais precoce, no ensino
consumo de baixo risco ou são abstêmios, fundamental.
e que apesar de nossa intervenção ter Comenta-se, ainda, que este projeto
sido adequada para a maioria da permite a abordagem de diversos temas,
população, ainda há aqui indivíduos que fazendo com que sua perpetuação seja
cultivam um perfil de consumo do álcool uma realidade possível, variando desde
de risco, e que carecem de atenção uma nova intervenção no mesmo público,
especial. Principalmente pela faixa etária avaliando se houve mudanças em sua
em que se encontram, pelo início cada vez percepção quanto ao consumo de álcool,
mais precoce de contato inicial com o como a possibilidade de ampliação da
álcool, nível educacional e status abordagem do tema para o consumo de
socioeconômico dependente. outras drogas como cigarro e drogas
Acredita-se que a intervenção foi muito ilícitas, inclusive para outras escolas da
bem sucedida em decorrência da grande região.
interação entre os participantes e
ministrantes das palestras. E que sua REFERÊNCIAS
efetividade gerará um impacto
psicológico, social e biológico bastante 1. ALMEIDA, J. C.; CAMPOS, J. A. D.
positivo, diminuindo as consequências B. Consumo de álcool por adolescentes.
agudas e crônicas decorrentes do Revista Uningá,Maringá, v. 19, n. 1, p.
consumo e abuso do álcool para com os 161-172, nov., 2017.
discentes participantes da intervenção e 2. OLIVEIRA, G. S.; ROCHA, C. A.;
para aqueles os quais estes SANTOS, B. E. F.; SENA, I. S.; FAVARO,
disseminarem as informações. L.; GUERREIRO, M. C. Prevalência e
É válido ressaltar que não apenas os fatores associados à depressão em
adolescentes se beneficiaram deste estudantes de medicina da Universidade
projeto, já que foi possível observar a Federal do Amapá. Rev. de Medicina e
ampliação de habilidades de Saúde de Brasília, Brasília, v. 5, n 3, p.
comunicação, trabalho em equipe, 186-199, 2016.
elaboração e seguimento de projetos de 3. PELICIOLI, M.; BARELLI, C.;
extensão, reflexão sobre temas GONÇALVES, C. B. C.; HAHN, S. R.;
complexos e organização, entre os SCHERER, J. I. Perfil de consumo de
acadêmicos envolvidos no seguimento do álcool e prática do beber pesado
projeto. A proposta do projeto e as episódico entre universitários brasileiros
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 20
Educação sobre consumo e efeito do álcool

da área de saúde. Jornal Brasileiro de dependence. Genebra, 2004. Disponível


Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 66, n. 3, p. em:
150-156, set., 2017. <http://www.who.int/iris/handle/10665/428
4. BRASIL. Decreto-Lei nº 9.294, de 63>. Acesso em: 30 maio 2018.
15 de julho de 1996. Diário Oficial da 11. QUENTAL, O. B.; FEITOSA, A. N.
União, Brasília, jul. 1996, Seção 1, p. A.; LACERDA, S. N. B.; ASSIS, E. V.;
13074. ISIDÓRIO, U. A.; ABREU, L. C.
5. GONÇALVES, A. M.; OLIVEIRA, A. Prevalência de uso de álcool entre
F.; GANDRA, H. M.; ASSUNÇÃO, P. G.; estudantes adolescentes. Rev. Enferm.
OLIVEIRA, T. M.; SILVA, T. P. R. UFPE on line, Recife, v. 9, n. 1, p. 91-97,
Avaliação do padrão de uso do álcool jan. 2015.
entre moradores de uma região 12. WORLD HEALTH
socialmente vulnerável. Revista ORGANIZATION. Global status reporto
Portuguesa de Enfermagem de Saúde n alcohol and health. Genebra, 2018.
Mental, Porto, n. esp. 2, p. 95-100, fev., Disponível em:
2015. <https://www.who.int/substance_abuse/p
6. CAVALCANTE, M. B. P. T.; ublications/global_alcohol_report/en/>.
ALVES, M. D. S.; BARROSO, M. G. T. Acesso em: 30 maio 2018
Adolescência, álcool e drogas: uma
revisão na perspectiva da promoção da Agradecimentos
saúde. Esc. Anna Nery Rev. de Enferm,
Rio de Janeiro, v 12, n. 3, p. 555-559, set. Aos alunos, professores e gestores das
2008. escolas envolvidas nesse projeto de
7. BRASIL. Resolução nº 32, de 14 promoção de educação sobre consumo e
de dezembro de 2017. Diário Oficial da efeito do álcool no ensino médio e a todos
União, Brasília, dez. 2017, n. 245, p. 239. os colegas que nos ajudaram e
8. FORTNEY, J.; MUKHERJEE, S.; participaram das atividades nas escolas.
CURRAN, G.; FORTNEY, S.; HAN, X.;
BOOTH, B. M. Factors Associated with
Perceived Stigma for Alcohol Use and
Treatment Among At-Risk Drinkers. The
Journal of Behavioral Health Services
& Research [JBHSR], Thousand Oaks, v.
31, n. 4, p. 418-429, 2004.
9. BABOR, T. F.; HIGGINS-BIDDLE,
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Alcohol Use Disorders Identification
Test: Guidelines for Use in Primary
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10. WORLD HEALTH
ORGANIZATION. Neuroscience of
psychoactive substance use and
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 21
Direitos em movimento no quilombo mundo novo

Artigo Original

Para além dos muros: a atuação do projeto Direitos em Movimento na


comunidade quilombola Mundo Novo – Buíque/PE

Clarissa Marques1 orcid.org/0000-0003-2567-141X


Isaene de Arruda Santos2 orcid.org/0000-0003-3505-7341
Maria Roberta da Silva3 orcid.org/0000-0001-8191-0927
1-3
Universidade de Pernambuco, Arcoverde, Pernambuco, Brasil
E-mail do autor principal: marquesc2504@gmail.com

RESUMO

O presente artigo propõe apresentar a importância da relação entre pesquisa e extensão a partir da
experiência etnográfica desenvolvida na comunidade Mundo Novo, Buíque-PE, que atuou como ponto de
partida para a formação do projeto de extensão “Direitos em Movimento”. Tem como objetivo geral observar
como os estudos sobre o "Mundo Novo" colaboraram para ações as quais transpassaram os muros da
universidade e promoveram significativas transformações na comunidade. Como objetivos específicos busca
apresentar a relevância da regulamentação das comunidades remanescentes de quilombos, bem como
apresentar a colaboração do projeto de extensão Direitos em Movimento (DIMO) no caso da comunidade
Mundo Novo. Para tanto, foi utilizado o método hipotético-dedutivo. O projeto já obteve resultados uma vez
que foi possível acompanhar o procedimento de certificação da comunidade como Comunidade
Remanescente de Quilombola - CRQ e desenvolver ações de fortalecimento da identidade quilombola.
Palavras-chave: Direitos em Movimento; Comunidade Mundo Novo; quilombola; etnografia.

ABSTRACT

This article aims at illustrating the importance of the links between research and extension projects from the
ethnographic experience developed in the Mundo Novo community, located in the district of Buíque, state of
Pernambuco, Brazil, which was a starting point for the "Rights in Motion" university extension project. Its
general objective is to observe how studies about Mundo Novo have collaborated towards actions that have
gone beyond university walls and promoted a significant transformation in the community. Specific goals aim
at showcasing the importance of regulating the remaining quilombo communities, as well as introducing the
collaboration of the "Rights in Motion" extension project in the Mundo Novo community. The hypothetico-
deductive method was used for this purpose. The project has obtained results, as it was possible to follow the
process of certiying the community as a "Remaining Quilombola Community" (Comunidade Remanescente
de Quilombola - CRQ) and develop actions to strengthen the quilombola identity.
Keywords: Rights in motion; Mundo Novo Community; quilombo; ethnography.

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 22


Direitos em movimento no quilombo mundo novo

1. INTRODUÇÃO retornar o conhecimento produzido no


meio acadêmico à sociedade. Dito isso, a
A Constituição Federal de 1988, no art. problemática enfrentada pelo presente
68º ADCT, previu o direito de trabalho é de que maneira esses estudos
regulamentação, identificação, sobre a comunidade Mundo Novo
reconhecimento e delimitação das terras conseguiram ultrapassar as barreiras
dos povos tradicionais quilombolas. acadêmicas e auxiliar transformações na
Todavia, apenas com Decreto no 4.887 de comunidade. Para tanto, foram utilizadas
novembro de 2003 foi regulamentado o como aporte teórico as obras de Quijano
processo de identificação dos (2005), Mignolo (2005) e Dussel (1993)6-
7,11
remanescentes de quilombos através da .
autodefinição da comunidade, certificada
pela Fundação Cultural Palmares. 2. PERCURSO METODOLÓGICO
Contudo, atualmente, muitas
comunidades ainda não possuem o título O método de procedimento etnográfico
de remanescentes de quilombo nem a é definido como “um modo de investigar
regulamentação de suas terras. Nesse naturalista, baseado na observação,
contexto, foi desenvolvido um trabalho descritivo, contextual, aberto e profundo.”2
etnográfico na Comunidade Mundo Novo, Tem ainda o objetivo de conciliar o ponto
situada no município de Buíque/PE, como de vista do observador interno e externo a
requisito das disciplinas Metodologia da fim de descrever e interpretar a cultura, de
Pesquisa e Psicologia Jurídica do curso acordo com Marconi e Lakatos3. Esse é o
de Bacharelado em Direito da método em que nossa pesquisa mais se
Universidade de Pernambuco, campus encaixa. Inicialmente, foi estabelecido que
Arcoverde, ocasião na qual foram a pesquisa seguiria etapas que se
constatadas inúmeras vulnerabilidades, iniciavam com coleta de dados e
dentre elas a ausência da certificação entrevistas, além da formulação de
como Comunidade Remanescente de questionários. Neste seguimento, ao
Quilombo, cuja publicação cumpre papel entrarmos em contato com os moradores,
fundamental nas reivindicações dos nos deparamos com um quadro de
direitos das comunidades quilombolas1-5. extrema vulnerabilidade, destacando-se
Diante dessa realidade, vislumbrou-se uma grande quantidade de pessoas sem
a necessidade de ir além da pesquisa escolaridade, impossibilitando a coleta de
etnográfica, com o objetivo de colocar “os informações por meio de questionários o
direitos em movimento” e fazer a que reforçou o sentimento sobre a
Universidade difundir o conhecimento necessidade de ações de extensão.
desenvolvido no meio acadêmico por Dessa forma, o Projeto de Extensão
meio de um projeto de extensão. Sendo Direitos em Movimento surgiu com o
assim, o presente trabalho relata a objetivo de colaborar para a
trajetória de atuação do projeto Direitos transformação social da comunidade a
em Movimento com o objetivo de partir do fortalecimento de sua identidade
colaborar para a transformação social da quilombola.
comunidade Mundo Novo e também O Quilombo Mundo Novo iniciou o
contribuindo para que a Universidade processo para obter sua Certidão de
Pública cumpra o seu papel social de Autorreconhecimento em 2015, mas ainda

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 23


Direitos em movimento no quilombo mundo novo

não havia obtido resultado positivo, assim, Sob uma perspectiva teórica, as ações
o projeto Direitos em Movimento colocou- do Projeto "Direitos em Movimento"
se à disposição para auxiliar nas ações contribuíram para a ampliação do debate
necessárias ao cumprimento das etapas sobre uma “afro-epistemologia” nos
restantes. A metodologia utilizada partiu estudos sobre o constitucionalismo na
de dois pontos: a) ação educativa e graduação em Direito. O intuito é a
capacitação dos alunos selecionados a colaboração, do ponto de vista teórico-
participar do Projeto para que os mesmos prático, com o ainda "silencioso" diálogo
tivessem contato com as informações entre os estudos sobre memória
técnicas e jurídicas necessárias. Foram ancestral, África, América Latina e a
realizadas reuniões para esclarecimentos história constitucional no Brasil. Em outras
e rodas de debates com os moradores da palavras, permitir uma afroperspectiva4
comunidade. Os discentes utilizavam constitucional e colaborar para a
camisetas de identificação no intuito de descolonização curricular através da
serem facilmente identificados ao experiência do Projeto.
caminharem pela comunidade, a ideia era
tornar a equipe uma referência de apoio 3. RESULTADOS
ao Mundo Novo. Nas rodas de debates
foram tratados temas como a importância Após as ações de acompanhamento do
da preservação da identidade quilombola, processo de certificação em curso o
a legislação protetiva, o procedimento objetivo primeiro foi alcançado: a
necessário para conclusão da emissão da publicação no Diário Oficial da União da
Certidão de Autorreconhecimento; b) foi certificação do Mundo Novo como
revisada a estratégia jurídico- comunidade remanescente de quilombo -
administrativa de atuação, contando com CRQ. Seguiram-se, então as ações de
a participação da comunidade, bem como, fortalecimento identitário com a
a partir da contribuição da rede de Comunidade. Tais atuações deram-se em
colaboradores construída durante o visitas ao Mundo Novo, especialmente as
Projeto, destacando-se o apoio do ações envolvendo crianças e jovens, a
Ministério Público de Pernambuco e da exemplo da exibição de filmes e rodas de
Secretaria de Defesa da Mulher de conversa. Destaca-se ainda a ação que
Buíque. arrecadou fundos para compra do material
escolar de todas as crianças da
comunidade como forma de
fortalecimento da permanência dos jovens
nas escolas. Outra importante ação foi a
inscrição do Samba de Coco da
comunidade no Edital Nacional do Prêmio
de Cultura Popular do Ministério da
Cultura - Minc, com a classificação e
premiação no valor de R$ 20.000,00 (vinte
mil) reais.
Por fim, o projeto atuou em parceria
com a Defensoria Pública do Estado -
DPE, a Secretaria de Defesa da Mulher do

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 24


Direitos em movimento no quilombo mundo novo

município de Buíque, Secretaria de Ação análise da produção científica em matéria


Social do município de Buíque, SESC - jurídica e sociológica, discutida durante as
Buíque, Colônia Penal Feminina para atividades do Grupo de Pesquisa que
realizar um mutirão que atendeu não só colaborou para a presente proposta de
aos moradores do Mundo Novo, mas Extensão (Grupo de Estudos e Pesquisas
também a todos os moradores de Buíque Transdisciplinares sobre Meio Ambiente,
que buscaram orientação jurídica. Diversidade e Sociedade -
Segundo a Defensoria, estima-se que GEPT/UPE/CNPq).
duzentas pessoas circularam nas ações A ideia consiste em investir na
do mutirão e 146 atendimentos jurídicos visibilidade de grupos, marcados como
foram realizados, muitos deles minorias e vulneráveis, por meio de ações
culminaram no ajuizamento de ações críticas formuladas a partir de seus
judiciais. Para a realização do mutirão o próprios anseios e sujeitos,
Projeto precisou selecionar novos alunos acompanhadas do suporte jurídico
o que levou à formação de uma equipe de necessário ao fortalecimento e
trinta alunos, representando todos os legitimação de Direitos. Nesse sentido, o
períodos do Curso. Destacamos que Projeto, utilizando-se de uma rede de
todas as atividades do DIMO contaram colaboradores (docentes, discentes,
com apresentações do Samba de Coco da egressos, órgãos públicos e outras
comunidade Mundo Novo, uma estratégia instituições), pretende em anos
de fortalecimento identitário diante do posteriores movimentar-se e apoiar outras
município onde está localizado o comunidades, quilombolas ou não,
quilombo. marcadas pelos traços da vulnerabilidade.
Vislumbra-se, por meio do aporte
4. DISCUSSÃO decolonial, reconhecer nas aproximações
ambientais, sociais e culturais, entre os
O projeto de extensão e a necessidade espaços americano e africano, a
de colocar os “Direitos em Movimento” oportunidade de (re)pensar
O Projeto de Extensão "Direitos em epistemologias a partir de suas próprias
Movimento" tem pretensão de experiências históricas e ir além do
desenvolver-se ao longo de três anos a Direito, colocando-o em "Movimento" no
partir de perspectivas independentes e intuito de permitir que a Universidade
complementares, tendo sido a primeira movimente-se em favor daqueles os quais
etapa, desenvolvida ao longo de 2018, enfrentam o esquecimento e permanecem
voltada especificamente à orientação acortinados por um olhar subalternizado.
jurídica à comunidade Mundo Novo, É por estranhar o não investimento nas
localizada no município de Buíque - PE no particularidades afrodescendentes no
intuito de apoiá-la durante seu processo contexto jurídico-administrativo brasileiro
de regularização como comunidade que se justificou a ideia do projeto. A
remanescente de quilombo. pouca visibilidade da contribuição africana
Fundamentou-se a partir da emergência nos estudos do Direito resulta no
de uma produção acadêmica interessada distanciamento de conhecimentos
no fortalecimento efetivo de um diálogo necessários para compreender o caráter
Sul-Sul, entre as "várias Américas multiconstitutivo do espaço mestiço latino-
Latinas" e África, mediado por uma americano incluindo-se o Brasil. No

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 25


Direitos em movimento no quilombo mundo novo

entanto, essa expansão apenas pode trabalho. O ideal de raça possuiu


tornar-se possível a partir da ampliação de intrínseca contribuição para o
redes que oportunizam o conhecimento desenvolvimento econômico hegemônico,
de particularidades ignoradas, inclusive, visto que associou-se à natureza dos
as ignoradas pelo arcabouço jurídico- papéis sociais e ao espaço territorial
normativo, eis o papel assumido como (lugar), transformando o negro não
desafio pelo Projeto "Direitos em apenas em mão-de-obra barata, bem
Movimento". como em mecanismo para o lucro6.
Maria Lugones5 à luz de Aníbal Em outras palavras, o colonizador
Quijano, entende que o poder capitalista, europeu desenvolveu uma dominação
eurocêntrico e global está organizado, marcada pela apropriação de espaços e
distintamente, em dois eixos: o poder da pela exploração extensa de recursos
colonialidade e a modernidade. Enquanto naturais e dos povos os quais por eles
a modernidade foi imaginada como foram considerados mercadoria. Deu-se
experiências e produtos exclusivamente uma internalização dos valores da cultura
europeus, o poder colonial foi estruturado dominante, neste caso, do homem branco
em relações de dominação, exploração e europeu. A tomar por esse parâmetro, é
conflito, o que terminou por proporcionar possível identificar um processo de
os meios e caminhos necessários à aculturação, boa parte em decorrência
formação da dita "modernidade" europeia6 dos valores advindos da catequização
mantendo-se, em certa medida, até os colonial, a qual trazia uma perspectiva
dias de hoje quando assume o papel não civilizadora e desenvolvimentista baseada
mais de colonialismo, mas de na filosofia moderna eurocêntrica7. Dessa
colonialidade. Essas relações, segundo o forma, as relações coloniais de
autor, foram criadas na colonização latino- exploração e dominação foram
americana, cuja legitimação deu-se por fortalecidas pela tríade superioridade-
meio da exploração dos povos tradicionais subalternidade-exclusão. Ao lado disso, o
e africanos, e por que não afirmarmos que Direito serviu de instrumento de
se deu por meio da invenção do ideal de dominação.
"raça”, operacionalizado a partir da As normas jurídicas eram criadas e
distinção da estrutura biológica e aplicadas com objetivo de manutenção do
linguística?7. poder colonial, limitação e controle dos
Assim, o chamado “novo mundo”, indivíduos e grupos originais, incluindo-se
considerado imaturo e incivilizado7, foi o reconhecimento apenas do clássico
marcado por um período colonial modelo de propriedade privada deixando
escravocrata, fundado na exploração dos minorias e grupos vulneráveis à margem
negros e comunidades indígenas a partir do Direito ao longo da história. Eis mais
da imposição de um status de uma razão para colocar os "Direitos em
inferioridade dito “natural”6 aqui assumido Movimento". O discurso moderno soube
a partir da denominação "subalternidade". dar sustentação ao sujeito, através das
Nesse sentido, o capitalismo retóricas de igualdade, liberdade e
desenvolveu-se como um novo padrão fraternidade. Todavia, os sinais apontam
global de controle da mão de obra, por para um diagnóstico jurídico-iluminista
meio de uma estrutura articulada de instável, na medida em que a política
controle de recursos naturais, produtos e contemporânea é contrariada pela

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 26


Direitos em movimento no quilombo mundo novo

desigualdade, na qual ainda prevalece a supremacia dos grupos hegemônicos.


falta de liberdade em muitos aspectos e Essa observação leva à discussão sobre
sobressai o individualismo na esfera da a diferença apontada por G. Spivak10
sociedade civil8. acerca da articulação problemática da
Ao lado desse cenário de contrastes é “representação”. Para a autora a
possível observar a seleção dos discursos representação existente na política é
dominantes, incluindo-se os discursos classificada como “falar por”, não
jurídico-positivos, organizados de modo representando, dessa forma, o grupo
que favoreçam procedimentos de oprimido. Os que falam pelos subalternos
exclusão social e reforçam a não enfrentaram ao longo do tempo as
vulnerabilidade de certos grupos e marcas da subalternidade, logo, a
minorias. Assim, as falas ainda representação torna-se frágil.
hegemônicas refletem uma "dominação Mais uma vez destaca-se a importância
relativa" na qual a figura do “subalterno” da regularidade formal dessas minorias
torna-se evidente - grupos considerados subalternizadas no intuito de fortalecer
dominados, os quais, não raramente, suas representações, a importância de
trazem como características a diversidade colocar seus direitos "em movimento".
e heterogeneidade9. Ou seja, os Assim, a diferença proposta na
quilombolas, além de terem passado pelo colonialidade pelas máximas da liberdade,
processo de exploração com a igualdade e fraternidade encontraram
escravidão, permanecem excluídos, pois lugar ativo no mundo moderno, mas
não integram os atos de fala dominantes, somente após movimentos de
daí a relevância de seu reconhecimento descolonização dá-se a travessia para o
formal-administrativo como comunidades lugar antes tido como passivo11. É nessa
remanescentes de quilombos. A travessia que fundamenta-se o Projeto
dominação, outrora justificada pelo critério "Direitos em Movimento", atualmente
biológico ou linguístico dos povos prestes a colocar em prática ações de
tradicionais e africanos7 os quais não se extensão em seu segundo ano de
encaixavam no molde ocidental-colonial, atuação, as quais serão voltadas à
deixou como uma espécie de herança intersecção entre raça-classe-gênero, por
permanente a subalternidade, legitimada meio de atividades a serem desenvolvidas
muitas vezes pelo sistema jurídico. com o grupo de maracatu Baque Mulher
Destaca-se que por ser fruto da de Arcoverde (Edital PIAEXT/2019-UPE).
modernidade, a ideia inicial de direitos Nesse sentido o Projeto apresentou
humanos foi edificada a partir de como objetivo geral promover a
paradigmas modernos, com pretensões participação da equipe de discentes no
de universalidade e veracidade absoluta. processo de formalização da comunidade
Dessa forma, o subalterno não tem voz, Mundo Novo como Remanescente de
não encontra legitimação no discurso Quilombo - CRQ, sob a orientação da
humanitário (BIDASECA, 2010). Somado Professora Clarissa Marques e em
a isso, a ideologia de branqueamento parceria com uma rede de atuação
criou um racismo sofisticado, no qual construída ao longo das atividades,
internalizam-se os valores distantes da destacando-se o apoio do Ministério
pluralidade originária, distante, portanto, Público de Pernambuco, da Secretaria da
dos subalternizados, fortalecendo a Defesa da Mulher do município de Buíque

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 27


Direitos em movimento no quilombo mundo novo

e da Gerência Regional de Educação. a programas governamentais como o


Como objetivos específicos o DIMO Minha Casa Minha Vida Rural, o Luz para
apresentou: 1) capacitar a equipe DIMO Todos, o Programa Nacional de
para atuar no apoio à comunidade Mundo Fortalecimento da Agricultura Familiar
Novo em seu processo administrativo de (Pronaf) e o Programa de Bolsa
formalização como CRQ; 2) construir uma Permanência - e, por outro lado, para
rede de apoiadores por meio de parcerias fortalecer a identidade quilombola e
com órgãos e instituições que pudessem possibilitar a demarcação territorial de
colaborar com as orientações ao competência do INCRA.
Processo administrativo de formalização Dessa forma, o projeto de extensão
da comunidade Mundo Novo como CRQ e Direitos em Movimento (DIMO)
em futuras Ações do Projeto DIMO; 3) concentrou suas atuações para contribuir
levantar o andamento do Processo com a concretização do pedido de
administrativo de formalização da certificação que já havia sido iniciado pela
comunidade Mundo Novo como CRQ, Comunidade Mundo Novo em 2015. Em
iniciado em 2015 e ainda não finalizado e 17 de agosto de 2018 foi emitida a
construir estratégia jurídico-administrativa Certidão de Reconhecimento do Mundo
de atuação para finalização positiva do Novo pela Fundação Cultural Palmares,
processo; 4) apoiar a comunidade Mundo passando a ser chamada de Comunidade
Novo na execução das etapas previstas Remanescente de Quilombola do Sítio
como necessárias à sua formalização Mundo Novo e Façola - CRQ. Após essa
como CRQ no intuito de alcançar a importante conquista, a Comunidade
certificação almejada. Considerando que Mundo Novo necessita da demarcação e
os objetivos foram cumpridos já na proteção de suas terras.
primeira etapa do Projeto, tendo em vista Segundo o Decreto Federal N. 4.887,
que em agosto de 2018 foi publicada no que regulamenta os procedimentos para:
Diário Oficial da União a portaria de identificação, reconhecimento,
certificação, a equipe voltou suas delimitação, demarcação e das terras, a
atividades para colaborar no titulação só será emitida após as
fortalecimento da identidade quilombola avaliações técnicas a serem realizadas no
Mundo Novo. território a partir de características
O necessário reconhecimento como espaciais, econômicas, ambientais e
Comunidade Remanescente de socioculturais da localidade em questão.
Quilombo e o fortalecimento da Portanto, seu processo de identificação
identidade está ligado diretamente à relação que
Tendo em vista as informações esse grupo tem com a ancestralidade,
colhidas durante a pesquisa etnográfica, terra, práticas culturais e tradição.
ficou evidenciada a situação de A atuação do projeto Direitos em
vulnerabilidade da Comunidade Mundo Movimento voltou-se para o
Novo, destacando-se dentre elas a não fortalecimento da identidade e do resgate
certificação como Comunidade da ancestralidade na Comunidade Mundo
Remanescente de Quilombo. A Novo, que foi invisibilizada por um
certificação pela Fundação Cultural histórico de violência racial, a qual
Palmares é de extrema importância, de destinou essa população à condição
um lado, por oferecer benefícios e acesso marginalizada, que precisa agora provar

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 28


Direitos em movimento no quilombo mundo novo

sua ancestralidade, apesar dos processos A partir dessa discussão e voltando ao


que a apagaram, para garantir a proteção enfoque territorial, é importante ressaltar
de seu próprio território. Volta-se, que a formação dos quilombos ocorreu ao
portanto, a refletir acerca do longo da história e por diversas razões e
negligenciamento com as comunidades maneiras. Sendo assim, por estarem
tradicionais. Para tanto, faz-se necessário subordinados a esse contexto de
compreender as narrativas históricas que inferiorização, mesmo após conseguir
criaram e mantêm essa estrutura social e fixar moradia e se relacionarem com o
cultural. local que se estabeleceram, as
Quijano6 afirma que a supremacia comunidades quilombolas sempre
europeia tem origem no comércio nas enfrentaram perseguições, invasões e
regiões do Atlântico, devido ao poder de desapropriações, que os tiram de suas
mercado que foi adquirido pelos europeus origens e impedem a manutenção dos
que partir de então, atribuíram - de costumes e ancestralidade desses povos
maneira quase aristotélica - a cada raça tradicionais.
um tipo de trabalho. O trabalho Acentua-se, portanto, a discussão
assalariado era restrito aos brancos e o sobre a importância do território para a
não assalariado (escravo) aos negros. identidade quilombola, configurada a
Nesse contexto, percebemos aqui o partir do sentimento de pertencimento.
momento em que os brancos fizeram a Para isso, é importante mencionar que o
distinção entre brancos, negros e conceito de território ao qual nos referimos
orientais, então se auto-denominaram não se limita apenas ao lugar físico, dentro
como uma raça superior que teria o direito de uma definição geográfica, e sim, de
de controlar a vida das outras raças uma construção histórica de processos
“inferiores”. É o processo de políticos e sociais13. Essa relação entre
12
"outrificação" no qual aos “sujeitos assim identidade e território é o que configura a
marcados somente resta existir na territorialidade que, em um conceito mais
gramática social como outredade”12. bem definido, consiste no “esforço coletivo
Faz-se importante entender o de um grupo social para ocupar, usar,
imaginário do mundo moderno/colonial controlar e se identificar com uma parcela
que é abordado por Mignolo (2005). Para específica de seu ambiente biofísico,
ele, a imagem que temos do Ocidente convertendo-se assim, em seu
13
hoje, é fruto de uma construção simbólica território” .
que não é formada apenas com a Assim, pontua-se que a construção
“definição que os ocidentais afirmaram identitária quilombola parte de uma
sobre si, mas, também, a partir das construção econômica, cultural, social e
respostas das comunidades que foram política das relações que ocorrem no
envolvidas nesse processo de auto- território, e com o território, unindo o
descrição”11 Surge então a noção de aspecto simbólico ao geográfico. Essa
diferença colonial, “articulada a partir de relação entre os dois aspectos é
questões etno-raciais”11. É possível denominada por Haesbart14 de
perceber aqui que existem duas versões "identidade territorial". Podemos perceber,
da colonização: a que é vista por quem então, que "território" acaba por
sofreu esse processo e por quem o complementar a noção de identidade
realizou. quilombola, tornando-se parte dela. A

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 29


Direitos em movimento no quilombo mundo novo

identidade, por sua vez, atribui territorialidade. Ou seja, é no território que


significação ao território. Portanto, pode- as comunidades constituem e reproduzem
se afirmar que não se pode falar de seus costumes e modos de produção,
identidade quilombola sem considerar seu adicionando a ele significados. Ademais,
sentido de territorialidade. salienta-se que toda e qualquer ação de
proteção aos povos tradicionais é, na
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS verdade, uma tentativa de mínima
reparação em relação a um histórico de
Para além da elaboração da pesquisa invisibilidade e negligência.
etnográfica com a Comunidade
Quilombola Mundo Novo, a proposta do REFERÊNCIAS
Projeto de Extensão Direitos em
Movimento (DIMO) permitiu uma 1. BRASIL. Decreto no 4.887, de 20 de
humanização dos estudos elaborados no novembro de 2003. Diário Oficial da
meio acadêmico. Considerou a produção República Federativa do Brasil,
de pesquisa como um conhecimento que Brasília. DF, 20 nov. 2003. Disponível
deve retornar para a sociedade e trazer em:
algum tipo de modificação social, não <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/d
restringindo o objeto de pesquisa apenas ecreto/2003/D4887.htm>. Acesso em:
à observação, cumprindo, dessa forma, 20 maio 2019.
uma das funções da Universidade: o 2. EISMAN, L. B.; BRAVO, P. C.; PINA,
desenvolvimento para além da F. H. Métodos deinvestigación em
comunidade acadêmica. psicopedagogia. Madri: McGrae-Hill,
Dessa forma, exercido o seu objetivo 1997.
principal, o Projeto Direitos em Movimento 3. MARCONI, M. S.; LAKATOS, E. M.
trouxe, inicialmente, a visita do Ministério Fundamentos de metodologia
Público ao Mundo Novo e articulou a científica. 7. ed. São Paulo: Atlas,
formação de uma comissão para o 2010.
acompanhamento do processo de 4. BELCHIOR, T. A. N.
Certificação de Comunidade Afroperspectividade: por uma
Remanescente de Quilombo, emitido pela filosofia que descoloniza. São Paulo:
Fundação Cultural Palmares, além de Geledés, 2015. Disponível em:
atender à solicitação da comunidade para <https://www.geledes.org.br/afropersp
que o Coletivo auxiliasse no processo de ectividade-por-uma-filosofia-que-
fortalecimento da identidade e descoloniza/> Acesso em: maio 2019
ancestralidade da comunidade, 5. LUGONES, M. Rumo a um feminismo
especialmente com as crianças. descolonial. Estudos Feministas,
Faz-se importante ressaltar que essas Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 935-952,
medidas de asseguramento dos direitos 2014.
das comunidades tradicionais, em 6. QUIJANO, A. Colonialidade do poder,
especial o direito à terra, é fundamental eurocentrismo e américa latina. In:
para a manutenção da ancestralidade LANDER, E. (Org.). A colonialidade
dessas comunidades, tendo em vista que do saber: eurocentrismo e ciências
sua identidade relaciona-se com o sociais. Perspectivas latino-
território, no processo chamado de americanas. 1. ed. Buenos Aires:

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 30


Direitos em movimento no quilombo mundo novo

Consejo Latinoamericano de Ciencias Agradecimentos


Sociales, 2005. p. 107-130.
7. DUSSEL, E. O encobrimento do Agradecemos às moradoras e
outro: a origem do mito da moradores da comunidade Mundo Novo
modernidade. Petropolis: Vozes, 1993. pela acolhida, à Profa. Irailda Leandro e à
8. CARRETERO, M. Documentos de Secretária de Defesa da Mulher em
identidad: la construcción de la Buíque, Santina Tereza, pela caminhada,
memoria histórica em un mundo seguimos fortes!
global. Buenos Aires: Paidós, 2007.
9. BIDASECA, K. Perturbando el texto Fomento
colonial: los estudios (pos) coloniales Projeto de Extensão financiado pelos
en América Latina. Buenos Aires: SD, recursos do Edital PIAEXT/2018 - UPE.
2010.
10. SPIVAK, G. C. Pode o subalterno
falar? Belo Horizonte: UFMG, 2010.
11. MIGNOLO, W. D. A colonialidade de
cabo a rabo: o hemisfério ocidental no
horizonte conceitual da modernidade.
In: LANDER, E. (Org.). A colonialidade
do saber: eurocentrismo e ciências
sociais. Perspectivas latino-
americanas. 1. ed. Buenos Aires:
Consejo Latinoamericano de Ciencias
Sociales, 2005.
12. SEGATO, R. L. Raça é signo. Brasília:
UnB, 2005. (Série Antropologia nº
372).
13. LITTLE, Paul E. Territórios sociais e
povos tradicionais no Brasil: por
uma antropologia da territorialidade.
Brasília: Departamento de
Antropologia, 2002. (Série
Antropologia 322).
14. HAESBAERT, R. Viver no limite:
território e multi/ transterritorialidade
em tempos de insegurança e
contenção. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2014.

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 31


Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

Artigo Original

Colaboração na formação de professores que ensinam matemática.

Lemerton Matos Nogueira1


Carla Saturnina Ramos de Moura2
1-2
Universidade de Pernambuco, Petrolina, Pernambuco, Brasil
E-mail do autor principal: lemerton.nogueira@upe.br

RESUMO

As atuais discussões sobre a Formação de Professores que ensinam Matemática revelam que a constituição
de grupos colaborativos na parceria Universidade-escola é importante para as trajetórias de aprendizagem
docente. Pensando nisso, este trabalho objetiva explicitar as ações do projeto Estudos Colaborativos em
Educação Matemática (ECEM), desenvolvido no âmbito do curso de Licenciatura em Matemática da
UPE/Campus Petrolina, refletindo sobre seus impactos e desdobramentos no processo de desenvolvimento
profissional de professores que ensinam Matemática de escolas públicas de Petrolina. Metodologicamente, o
projeto contempla a criação de espaços-tempos para a consecução de estratégias teórico-práticas, seguindo
ciclos de ação-reflexão-ação na prática e sobre a prática. Os resultados revelam que a perspectiva das
parcerias colaborativas engendradas pelo projeto tem contribuído para a consolidação de novos modos de
ensinar e aprender Matemática na escola básica. Os relatos e as respostas presentes em questionários
aplicados revelam que o ECEM surge como um sustentáculo que tem ajudado os professores a melhor gerir
o planejamento curricular e as intervenções necessárias frente à realidade escolar vivida por cada um.
Acreditamos que o projeto tem cumprido com o seu papel de fortalecer a parceria colaborativa entre
Universidade-Escola, tão necessária para o processo de desenvolvimento profissional de professores que
ensinam Matemática.
Palavras-chave: Extensão; Colaboração; Formação de Professores; Desenvolvimento profissional;
Matemática.

ABSTRACT

The current discussions about teacher training that teach mathematics reveal that the formation of
collaborative groups in the university-school partnership is important for the trajectories of teacher learning.
With this in mind, this paper aims to explain the actions of the Collaborative Studies in Mathematics Education
project (ECEM), developed within the scope of the degree course in Mathematics of UPE / Campus Petrolina,
reflecting on its impacts and results in the professional process development of teachers who teach
Mathematics in public schools of Petrolina. Methodologically, the project contemplates the creation of space-
times for the achievement of theoretical-practical strategies, following cycles of action-reflection-action in
practice and about the practice. The results show that the perspective of the collaborative partnerships
engendered by the project has contributed to the consolidation of new ways of teaching and learning
Mathematics in basic school. The reports and answers present in applied questionnaires reveal that the ECEM
emerges as a support that has helped teachers to better manage curricular planning and the necessary
interventions in face of the reality school lived by each one. We believe that the project has fulfilled its role of
strengthening the collaborative partnership between University-School, so necessary for the professional
development process of teachers who teach Mathematics.
Keywords: Extension; Collaboration; Teacher Training; Professional Development; Mathematics.

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 32


Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

1. INTRODUÇÃO de professores que ensinam Matemática


na Educação Básica. Entendemos que,
O projeto de Extensão Estudos garantindo melhores perspectivas para o
Colaborativos em Educação Matemática desenvolvimento profissional desses
(ECEM) existe há três anos, tendo iniciado professores, estamos também primando
suas ações no ano de 2016, com o por uma melhor aprendizagem
objetivo maior de firmar parcerias Matemática dos estudantes da Educação
colaborativas entre o curso de Básica da região (notadamente,
Licenciatura em Matemática da estudantes do 5º ano do Ensino
UPE/Campus Petrolina e escolas da Fundamental ao Ensino Médio).
região. Durante esse tempo, o grupo Pensando nisso, é que as ações do
agregou diversos atores, quais sejam: ECEM privilegiam dinâmicas de atuação
Professores e Estudantes do Curso de pautadas em práticas colaborativas,
Licenciatura em Matemática da segundo estudos teóricos1-4 os quais
UPE/Campus Petrolina; Estudantes do comprovam que tais práticas tendem a
curso de Pedagogia; Professores de reduzir o individualismo e isolamento
Matemática em serviço, atuantes nos docente, tão comuns nas escolas de
anos finais do Ensino Fundamental e educação básica. Com efeito, este
Médio e Pedagogos atuantes nos anos trabalho objetiva explicitar as ações do
inicias de escolarização. projeto ECEM, refletindo sobre seus
O mote do projeto é constituir e impactos e desdobramentos no processo
consolidar um grupo que, de desenvolvimento profissional de
colaborativamente, possa refletir, professores que ensinam Matemática de
investigar, problematizar e contribuir com escolas públicas de Petrolina, desde os
o processo formativo e de anos iniciais de escolarização.
desenvolvimento profissional de
professores que ensinam Matemática das 2. PERCURSO METODOLÓGICO
escolas envolvidas. O ECEM também
olha atentamente para os futuros As linhas de atuação do projeto
professores (estudantes dos cursos de compactuam com a premissa de que,
Licenciatura em Matemática e Pedagogia através do fomento de programas e
da UPE/Campus Petrolina). Desde a projetos de Extensão, as universidades
entrada nesses cursos, alguns estudantes conseguem contribuir para as melhorias
já têm experienciado diversas situações dos processos de profissionalização
que marcam o exercício da docência em docente (em se tratando de cursos de
Matemática, contribuindo também para o Licenciaturas), mediante a constituição de
processo (re)construção de suas práticas colaborativas e investigativas
identidades docentes. entre Universidade-Escola.
Para além disso, a motivação para a Por conta disso, o design metodológico
idealização e execução do projeto esteve do projeto prevê o equilíbrio entre tempos
relacionada ao fato de o curso de de aprendizagem pessoal e colaborativa
Licenciatura em Matemática da dos sujeitos envolvidos, a fim de minimizar
UPE/Campus Petrolina, até então, não ter o isolamento dos professores que
executado ações extensionistas que, ensinam Matemática em seu trabalho nas
diretamente, pudessem contribuir para o escolas, como também é asseverado
processo de desenvolvimento profissional pelos estudos de Freitas et al5 e Rocha6.
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 33
Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

Corroborando com esses estudos, sempre fomentando diálogos mais


Fiorentini2 reflete que muitos destes estreitos entre Universidade-Escola.
professores colocam esperança de Desse modo, o ECEM busca
solução para os problemas vivenciados no compreender as reais necessidades dos
chão da escola, na união de esforços com professores, no que tange às melhorias de
os demais professores. suas práticas, no planejamento de aulas
Dessa forma, a hipótese de trabalho do que assegurem aprendizagens mais
projeto está subsidiada no fato de que a significativas para seus alunos, na gestão
constituição de comunidades dos currículos prescritos e, quando
colaborativas de docentes (que ensinam necessário, na construção de ações
Matemática) propicia o melhor intervencionistas relativas a conteúdos
enfrentamento dos desafios de específicos da Matemática.
“transformar qualitativamente as práticas Também, desenvolvemos práticas de
escolares e de contribuir para a formação ensinar e aprender Matemática, tomando
de professores frente aos problemas da como base outras experiências de grupos
prática escolar atual2. Para tanto, todas as colaborativos existentes no país
ações realizadas passam pelo crivo dos na qual pesquisadores e formadores de
professores, de tal forma que seus relatos professores da universidade, futuros
e reflexões é que balizam as ações docentes e professores da escola
realizadas. Segundo esse mesmo autor, a básica possam, juntos, estudar,
analisar, investigar e escrever sobre o
ação de tomar os professores como cerne
desafio de ensinar e aprender
do processo formativo, como aqueles que
matemáticas nas escolas, negociando o
pensam e refletem sobre suas práticas, é currículo desejável e possível para
que, de fato, contribui para o processo de cada2.
desenvolvimento profissional desses Abaixo, sintetizamos os sujeitos, as
profissionais. interlocuções estabelecidas entre eles e
Assim, buscamos valorizar os ciclos de as linhas de atuação do projeto,
reflexão-ação-reflexão na prática e sobre destacando, sobretudo, as preocupações
a prática de tais professores (e também com o processo de formação inicial e
dos futuros professores). Levamos em continuada de professores que ensinam
consideração que este pressuposto Matemática (incluindo os Pedagogos).
metodológico visa principalmente à
melhoria da prática pedagógica dos Figura 1: As relações entre os sujeitos no
professores; o desenvolvimento curricular projeto ECEM.
centrado na escola; o desenvolvimento de
um grupo autorreflexivo na escola e a
melhoria das condições de trabalho
pedagógico e investigativo dos sujeitos
envolvidos7.
Pensando nisso, todas as ações do
ECEM, nesses três anos de existência,
seguiram pressupostos metodológicos
que melhor atendessem aos processos de
Reforçamos que, ao longo do tempo, o
formação e ao desenvolvimento
projeto foi aperfeiçoando suas maneiras
profissional de professores que ensinam
de atuar, principalmente, nas formas de
Matemática em contextos colaborativos,
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 34
Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

interações entre os participantes. No ano no projeto. Além disso, quando


de 2016, desenvolvemos as primeiras necessário, também solicitamos dos
ações do projeto, somente realizando estudantes da Educação Básica a escrita
encontros presenciais periódicos em uma de textos, relatando as suas
escola estadual de Petrolina. No ano de aprendizagens.
2017, passamos a experimentar uma Reforçamos que neste trabalho,
perspectiva de Educação Híbrida, traremos dados do projeto baseados em
inserindo também as interações online no alguns dos materiais empíricos
ambiente Moodle, do Núcleo de Educação supracitados. Para tanto, por questões
a Distância da UPE (NEAD/UPE). Os éticas, resguardaremos as imagens dos
encontros presenciais acontecerem nos sujeitos no que tange à divulgação dos
espaços da Universidade e na Gerência seus nomes.
Regional de Educação.
Em 2018, os encontros continuaram 3. RESULTADOS
numa perspectiva híbrida (EDPp1 +
EDPo2), mas com prevalência dos Para fins de sistematização da escrita,
encontros presenciais, que aconteceram traremos alguns resultados, considerando
em três escolas municipais de Petrolina. os anos de 2016 a 2018.
Ao longo desses anos, a composição O nascimento do ECEM em 2016: foco
do grupo sofreu mudanças, pois alguns no planejamento e gestão curricular em
integrantes deixavam de fazer parte das Matemática
ações e outros eram inseridos. Por conta O projeto foi criado em 2016, mediante
do apoio dado pelas Secretárias e aprovação no Edital de Extensão (PIAEXT
Gerências de Educação das redes 2016/1) e mirou suas ações para a
Estadual e Municipal, conseguimos melhoria e ressignificação das práticas de
legitimar nossas ações e a facilitação do ensinar e aprender Matemática em uma
acompanhamento dos resultados escola estadual de Petrolina. O projeto
auferidos com essas ações. atendeu a um quantitativo de sete
Reiteramos que sempre buscamos professores da escola que lecionavam
organizar um corpus de material empírico, nos anos finais do Ensino Fundamental e
que nos permitisse avaliar e no Ensino Médio. Além disso,
redimensionar nossas ações, bem como participaram alguns estudantes do curso
mensurar a consecução dos objetivos do de Licenciatura em Matemática da
projeto. Portanto, durante todo o tempo da UPE/Campus Petrolina, sendo alguns
sua vigência, fizemos diversos registros deles, recém-ingressantes no curso.
fotográficos, aplicamos questionários, Os primeiros encontros presenciais
construímos fóruns temáticos de foram destinados às discussões dos
discussões online, incentivamos a pressupostos teórico-metodológicos do
construção de Narrativas pelos projeto. Diante da necessidade dos
professores, no sentido de relatarem professores, decidimos implementar as
reflexivamente sobre os seus percursos ações direcionadas à formação

1 2
Encontros de Desenvolvimento Profissional Encontros de Desenvolvimento Profissional
Presencial, que aconteciam nas escolas, na Online, utilizando interações via WhatsApp e
Universidade e quando necessário nas ferramenta do Gmail.
dependências da Secretária Municipal de
Educação.

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 35


Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

matemática deles, também pensando na Os professores avaliaram


melhoria das aprendizagens matemáticas positivamente as ações do projeto nesse
dos seus alunos. Para tanto, o foco foi ano, destacando o fato de a Universidade
compreender as prescrições curriculares buscar interlocucionar suas ações
de Matemática, em termos de formativas, junto às escolas de Educação
competências e expectativas de Básica. Esta Figura 2 retrata um dos
aprendizagens, pensando em formas de encontros presenciais do projeto, pautado
planejamento de aulas que dessem conta no (re)planejamento curricular
de articular os conteúdos de Matemática colaborativo.
atrelados aos eixos temáticos
contemplados no currículo. As ações do ECEM em 2017:
Após a compreensão do documento, perspectivando novos cenários
partimos para a construção de formativos
planejamentos de aulas, as quais Em 2017, o ECEM ganhou novos
versaram sobre conteúdos requeridos contornos, principalmente pelas
pelos próprios professores. Foram preocupações em atender às demandas
pensados em conteúdos que, na opinião da utilização das Tecnologias Digitais.
dos professores, eram de difícil Assim, além de buscar inserir os recursos
compreensão pelos estudantes e, ao tecnológicos para a construção de
mesmo tempo, desafiadores para o materiais curriculares educativos
planejamento docente, considerando necessários às práticas matemáticas na
principalmente os recursos necessários. Escola Básica, experienciamos formas de
Conseguimos planejar, executar e refletir interações online. A proposta era que,
sobre os resultados das aulas, mediante o complementarmente aos encontros
que propõe a Metodologia Lesson Study. presenciais, que ocorriam na Gerência
Essa metodologia segue basicamente Regional de Educação, também
essas três etapas e, por conta disso, tem conseguíssemos melhorar o processo de
apresentado diversas potencialidades desenvolvimento profissional dos
para o desenvolvimento profissional professores e futuros professores.
docente, notadamente, na Matemática8.
Figura 3: Primeiro encontro presencial do
Figura 2: Encontro presencial em uma escola ECEM em 2017.
estadual de Petrolina no ano de 2016.

Fonte: Acervo fotográfico do ECEM (2017)

Fonte: Acervo fotográfico do ECEM (2016). Com efeito, neste ano, o projeto foi
novamente submetido ao Edital de
Extensão (PIAEXT 2017/01) e já previu

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 36


Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

em seu design teórico-metodológico a diretamente de todas as etapas, desde a


utilização do Moodle como um espaço que construção das SD, a implementação nas
permitiria uma melhor aproximação entre salas de aula e a posterior reflexão dos
os integrantes. Conseguimos um espaço sucessos e insucessos.
no ambiente Moodle da UPE (NEAD/UPE) Lembramos que, além de nos
e, assim, conseguimos organizar alguns dirigirmos a algumas dessas escolas para
fóruns temáticos de discussão e de acompanharmos as vivências de aulas,
construção de Narrativas sobre o trilhar de também conseguimos que alguns
alguns integrantes no projeto. professores trouxessem seus alunos para
O cerne das ações pautou-se na o Laboratório de Informática da UPE. Tal
organização colaborativa de um conjunto iniciativa facilitou sobremaneira a
de Sequências Didáticas (SD) que consecução dos objetivos do projeto, qual
versaram sobre conteúdos de Matemática seja, também permitir a melhorias das
do Ensino Médio, utilizando o software aprendizagens matemáticas dos
Geogebra. Posteriormente à construção e estudantes da Educação Básica, por meio
validação das SD, realizamos algumas da melhoria das práticas matemáticas dos
aplicações em algumas escolas, seus professores.
mediadas pelo acompanhamento e pela O ECEM em 2018: intervindo mais
supervisão dos professores dessas diretamente na realidade das escolas
escolas (participantes do projeto). No ano de 2018, o projeto ampliou
ainda mais suas linhas de atuação na
Figura 4: Vivência da aplicação de uma SD comunidade. Agora, além de atendermos
em uma escola estadual de Petrolina. à demanda de professores de Matemática
em serviço e estudantes da Licenciatura
em Matemática da UPE/Campus
Petrolina, buscando respaldo na literatura
vigente, também passamos a olhar mais
atentamente para os Pedagogos e
estudantes de Pedagogia, já que estes
também lidam com o fazer pedagógico de
Matemática nos anos iniciais de
escolarização. Desse modo,
necessitamos estabelecer uma parceria
Fonte: Acervo fotográfico do ECEM (2017). direta com a Secretária de Educação
Municipal de Petrolina e, assim,
Após as aplicações, como passamos a atender diretamente três
exemplificado na nesta Figura 4, escolas e um total de sete professores.
desenvolvíamos outros encontros Desse quantitativo, três deles foram
presenciais e a abertura de fóruns no professores do 4º e/ou 5º ano do Ensino
ambiente online para avaliarmos as Fundamental e quatro deles, professores
ações. Salientamos que nesse ano, que atuavam do 6º ao 9º ano do Ensino
atendemos incialmente cerca de 10 Fundamental.
escolas estaduais, contudo somente três Continuamos tomando como cerne do
escolas acompanharam todas as ações processo formativo o uso das Tecnologias
até o final desse ano. Desse quantitativo, Digitais nas práticas de ensinar e
cerca de seis professores participaram aprender Matemática. Contudo,
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 37
Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

passamos a atender ainda mais aos nos permitiam sempre estar reavaliando
anseios dos professores, no sentido de nossos percursos dentro do grupo.
contemplar ações que atendessem às
suas necessidades, seja quanto às 4. DISCUSSÃO
dificuldades didáticas de abordagem de
conteúdos matemáticos e, Os resultados alcançados com o
articuladamente, pelas dificuldades projeto reverberaram positivamente em
apresentadas pelos estudantes, segundo novos modos de pensar e agir no fazer
a fala dos professores. pedagógico de Matemática na escola
Dessa forma, definimos um conjunto de básica. Partindo da premente
metas, mediante os resultados de um necessidade de se estabelecerem
instrumento diagnóstico aplicado em parcerias colaborativas entre
turmas do 4º ao 9º ano do Ensino Universidade-Escola, as ações do projeto
Fundamental. Esses resultados balizaram permitiram redimensionar as práticas de
a construção e vivência de uma série de professores que ensinam Matemática,
intervenções didáticas, as quais foram consequentemente, garantindo melhores
construídas e colocadas em prática, resultados nas aprendizagens
colaborativamente. matemáticas por parte de seus alunos.
Como já mencionamos em seções
Figura 5: Encontro presencial para as análises anteriores, os princípios do projeto
qualiquantitativas de um instrumento sempre estiveram atrelados a
diagnóstico. pressupostos teórico-metodológicos que
asseveram as necessidades de
mudanças nas práticas de professores
que ensinam Matemática, partindo da
valorização dos seus percursos de
desenvolvimento profissional. Por conta
disso, desde os primeiros passos do
ECEM em 2016, temos conseguido
revelar marcas de aprendizagens
docentes, demonstradas nas falas e nos
Fonte: Acervo fotográfico do ECEM (2018). escritos dos professores.
Em 2016, mesmo timidamente,
Após as aplicações, reavaliamos as conseguimos, no âmbito de uma única
potencialidades e fragilidades escola estadual em Petrolina, ressignificar
constatadas no processo. O ponto alto diversas concepções e ações referentes
das ações neste ano, estiveram ao ensinar e aprender Matemática. Nesse
relacionadas, principalmente ao fato de caso, a utilização da metodologia Lesson
adentrarmos às salas de aula e Study nos permitiu, de fato, compreender
constatarmos de perto a realidade do a real importância de planejar
ensino-aprendizagem de Matemática, das colaborativamente e decidir as melhores
dificuldades conceituais dos estudantes e ações didáticas, partindo da gestão
das limitações na formação e no curricular em Matemática.
desenvolvimento profissional dos Nessa ocasião, ficou clara a
professores. Foram tais constatações que importância de utilizar os espaços-tempos
de planejamento pedagógico instituído
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 38
Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

pela rede estadual, para pensar, a nossa didática em sala de aula


problematizar e agir em torno de (Resposta do professor D ao
propósitos coletivos. Pensar na questionário aplicado em 2016)
arquitetura pedagógica de uma aula de As duas respostas dadas por esse
Matemática tornou-se algo mais simples e professor deixam claro que houve
passível de execução. Essa constatação aprendizagem docente, fato que já é
foi pontuada na resposta de um dos comprovado pela literatura especializada.
professores, a um questionário aplicado Um dado importante é que, nesse ano,
no final do ano de 2016. Na pergunta, alguns professores revelaram que o
“Como você avalia as contribuições do ECEM foi uma das poucas experiências
ECEM para suas próximas atuações na formativas (no contexto da Formação
prática de ensino de Matemática na Matemática) de que participaram e que,
escola?”, o professor D respondeu que: de fato, a Universidade esteve presente
“Contribuiu no sentido de refletir sobre na escola, no sentido de problematizar e
como seria o andamento de minha aula” refletir conjuntamente a realidade dessa
(Resposta do professor D ao questionário escola.
aplicado em 2016). No ano de 2017, o projeto deu
A resposta desse professor deixa claro continuidade às suas ações, tendo mais
que, muito provavelmente, até antes da uma vez verificado diversas trajetórias de
sua participação no ECEM, ele e outros aprendizagens docentes. Em alguns dos
professores de Matemática da escola não fóruns temáticos realizados, alguns
“refletiam” consistentemente sobre a professores se colocaram, reforçando a
organização didática das aulas que eram obtenção de novos conhecimentos
executadas. Esse reconhecimento do docentes, principalmente aqueles
professor D é reforçado na resposta dada referentes às abordagens didáticas dos
a outra pergunta “A partir da sua conteúdos, de tal modo que atendessem à
participação no ECEM, você considera realidade dos estudantes.
importante a participação do professor de Este segundo encontro mostrou que
Matemática em um grupo com dimensões de fato, fizemos parte do processo
colaborativas?”. O professor respondeu ensino-aprendizagem. Posso dizer
que “Sim”, justificando que a sua que assim como aconteceu no
participação no projeto o oportunizou a primeiro, este também para mim
trocar experiências entre seus pares e, acarretou em obtenção de novos
além disso, a ajudar a pensar em conhecimentos. Estes momentos
instrumentos pedagógicos (recursos) são tão importantes que aprimoram
necessários às suas práticas, na os saberes já adquiridos, sendo que
sistematização do planejamento e na simultaneamente possibilita que
análise das aulas (neste caso, na sejam feitas outras abordagens de
perspectiva da Lesson Study). Abaixo um conteúdo, porém de uma
têm-se a resposta na integra. maneira mais próxima a realidade
Porque tivemos a oportunidade de dos discentes. Enfim, nesse sentido,
trocar experiências, aprendendo conclui-se que essa interação tem
outros instrumentos pedagógicos, uma contribuição positiva para todos
Sequências Didáticas, a os envolvidos e, principalmente no
sistematização do planejamento, as que tange a formação dos
análises das aulas e reflexões sobre educadores (Narrativa do professor
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 39
Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

V postada no Fórum Temático possuíam algumas dificuldades,


realizado em 10 Nov 2017). sobretudo àquelas referentes ao
Observa-se ainda, nesse excerto, que tratamento didático-pedagógico dos
o professor deixa claro que as interações conteúdos matemáticos. Parecia faltar-
entre os participantes do projeto têm um lhes uma base de conhecimentos
fator decisivo no processo formativo de especializados referentes a tais
todos. Também incluímos os estudantes conteúdos.
do curso de Licenciatura em Matemática, Com efeito, arquitetamos dinâmicas
os quais já reconhecem os contributos da intervencionistas que, além de atenderem
participação do grupo para os seus à demanda das aprendizagens
processos formativos. A propósito, esses matemáticas dos estudantes, também
sujeitos têm grande importância no âmbito permitiram contribuir com o processo de
do projeto, contribuindo sobremaneira desenvolvimento profissional docente
para o sucesso de muitas atividades. desses profissionais. Sem dúvidas, os
Como já mencionamos, no ano de 2018 pressupostos teórico-metodológicos dos
as ações estiveram mais profundamente estudos sobre grupos colaborativos nos
atreladas ao chão da escola. Nesse ano, guiaram em algumas atitudes tomadas
conseguimos vivenciar diversas dentro do ECEM, principalmente por
experiências, as quais foram subsidiadas sempre darmos espaços a opiniões,
pelos resultados de um questionário dúvidas, contribuições e sem jamais
diagnóstico construído por todos os hierarquizar a importância de cada um.
integrantes. A linha de frente era Aplicamos um questionário ao final
conseguir estruturar intervenções desse ano e constatamos diversas
didáticas calcadas nos resultados aprendizagens docentes. Nesse
qualiquantitativos do diagnóstico, sem instrumento, contemplamos perguntas de
perder de vista, alguns estudos teóricos dimensões mais gerais (sobre as
que melhor nos permitissem enxergar a percepções dos professores quanto às
realidade posta. suas presenças no grupo e o quanto isso
Ficou evidente, sobretudo, a permitiu ressignificar suas práticas) e de
necessidade de (re)pensar o fazer maneira geral, os processos de
pedagógico de matemática nas escolas e desenvolvimento profissional. Outras
que essas reflexões devem ser também perguntas foram específicas para
desenvolvidas pelos professores que avaliarmos os impactos do uso das
ensinam Matemática nos anos iniciais de Tecnologias Digitais em algumas
escolarização. O estudo de Cunha e intervenções realizadas.
Costa9, o qual balizou nossas ações, Na pergunta, “De que forma as ações
deixa claro que o pedagogo apresenta do projeto ECEM ajudaram a melhorar
aversão e medo em relação aos seu desenvolvimento profissional
conteúdos e disciplinas Matemáticas e docente?”, o professor J refletiu que, o
que, por conta disso, tendem a ECEM contribuiu nesse processo, no que
demonstrar dificuldades conceituais e tange ao suporte dado na utilização de
metodológicas em relação aos conteúdos metodologias alternativas para a melhoria
matemáticos nas suas práticas. da sua prática.
Por conta disso, atendemos de perto As ações trouxeram metodologias
aos três Pedagogos participantes do alternativas para melhorar a nossa
projeto nesse ano, verificando que eles prática docente, trocando sempre
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 40
Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

experiências entre professores da antes de levar para a sala de aula


universidade, professores da (Resposta do professor J ao
Educação Básica e estudantes da questionário aplicado em 2018).
graduação. Essa troca foz com que À luz dessa resposta, refletimos que
o professor reflita a sua prática e esse professor conseguiu redimensionar o
queira buscar melhorar a sua uso e a importância das Tecnologias no
didática (Resposta do professor J ao Ensino da Matemática, levando em
questionário aplicado em 2018). consideração que, no início das ações que
Além disso, percebemos, na resposta dependiam do manejo tecnológico, a
do professor J, que as experiências maioria dos professores relataram ter
vivenciadas no grupo permitem o dificuldades, certo despreparo e receio em
compartilhamento de conhecimentos, de usar alguns recursos, como Applets,
modo que, contribuiu com os processos Softwares matemáticos.
de reflexão sobre as suas práticas, em As respostas apresentadas pelas
prol da (re)constituição das organizações professoras que lecionavam no 4º e/ou 5°
didáticas implementadas pelos ano também reforçam a importância do
professores. Outros pontos positivos projeto para os seus processos de
foram apontados por esse mesmo desenvolvimento profissional, como é
professor, quais sejam: explicitado pela professora R, que, na
Participação dos professores nas ocasião, lecionava em uma turma do 5º
aplicações das tarefas; ano.
Envolvimento e dedicação dos O projeto ECEM veio em melhor
estudantes durante a elaboração e hora para meu desenvolvimento
aplicação das tarefas; Adaptação profissional, amadurecimento pela
das atividades para as escolas que Matemática, o fato que não sabia o
não possuem recursos tecnológicos; fundamento na graduação
Troca de experiências; Identificar as (Pedagogia). Deveríamos ter mais
dificuldades dos estudantes e buscar tempo porque aplicamos em sala
saná-las (Resposta do professor J para alunos até o 5º ano, a base
ao questionário aplicado em 2018). sempre precisa ser fortalecida. Eu
Salientamos que tal professor já aprendi muito e posso dizer que
possuía a Graduação em Matemática e, estou amando a Matemática e
na ocasião, lecionava em turmas do 7º consigo repassar o que aprendo com
ano do Ensino Fundamental. vocês (Resposta da Professora R ao
Ao ser perguntado sobre “Como avalia questionário aplicado em 2018).
o uso das Tecnologias no ensino de As reflexões dessa professora,
Matemática e se sente seguro para lidar corroboram com uma gama estudos em
com essa fermenta de ensino?”, o que comprovamos as “fragilidades” na
professor J responde que: formação matemática do pedagógico.
A utilização das Tecnologias para o Além disso, suas palavras deixam claro o
ensinar Matemática é um excelente papel desempenhando pelo ECEM, no
recurso, pois estimula o estudante a sentido de mostrar-lhes outras facetas do
querer aprender [...]. Acredito que eu conhecimento matemático e as questões
seja capaz de utilizar tal ferramenta, didáticas, fazendo com que coloquem em
sabendo que, caso não saiba prática (reflexivamente) tudo aquilo que é
manipular algo, deve-se aprender proposto no coletivo do grupo.
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 41
Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

Uma outra professora também A cada experiência nova, temos


respondeu que as experiências enxergado o alcance dos objetivos
compartilhadas durante os encontros pretendidos com o projeto. Ressaltamos
foram importantes para o seu aqui que, a partir da colaboração, os
crescimento, fazendo-a repensar sobre as professores passaram a lidar com o
metodologias que adotam e as planejamento e a gestão do currículo de
possibilidades de caminhos para trabalhar Matemática de outros modos.
a Matemática de uma forma diferente. Entenderam que é necessário refletir
Notadamente, essa professora ainda sobre o seu fazer pedagógico e investir no
relatou que o ECEM lhe oportunizou seu desenvolvimento profissional. Esse
trabalhar com Tecnologias, tendo em vista investimento perpassa, sobretudo, pelo
que, nem sempre, a escola promove manejo adequado de recursos,
situações para se trabalhar com recursos principalmente os recursos tecnológicos,
tecnológicos. pela inovação e criatividade. No contexto
da formação de professores que ensinam
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Matemática, esse investimento torna-se
ainda mais premente, dado que diversos
Ao longo desses três anos de atuação, estudos têm apontado as fragilidades na
o projeto ECEM tem se revelado como formação desses professores e que isso
uma estratégia que permite estabelecer se reverbera nos desempenhos e nível de
interlocuções profícuas entre proficiência de crianças, jovens e adultos
Universidade-Escola, notadamente, em todo o país.
visando melhorar os cenários das ações De maneira geral, esperamos que as
de formação inicial e continuada em ações do ECEM possam se perpetuar e
Matemática no Vale do São Francisco. dar conta do desafio de mudar as práticas
Sem sombra de dúvida, temos escolares e formar professores que
conseguido perscrutar práticas ensinam Matemática ainda mais
colaborativas, reflexivas e investigativas competentes para enfrentar a realidade
que permitem (re)construir outros modos complexa e multifacetada da escola atual.
de ensinar e aprender matemática em Acreditamos no potencial extensionista do
escolas públicas de Petrolina. projeto, no sentido de torná-lo uma grande
Temos confrontado nossos resultados comunidade de aprendizagem fronteiriça3,
com o que tem apregoado a literatura já que se situa em um espaço de fronteira
especializada sobre a constituição de entre escolas e a Universidade de
grupos colaborativos como um caminho Pernambuco/Campus Petrolina,
promissor para a conquista dessas constituindo-se em um profícuo espaço de
práticas. Com efeito, alguns dos estudo e investigação em Educação
resultados que foram trazidos aqui são Matemática, promovido pelo curso de
denunciativos de que temos conseguido Licenciatura em Matemática desse
promover mudanças de concepções campus.
sobre a Matemática e seu ensino,
suscitando mudanças na forma de pensar REFERÊNCIAS
sobre a organização de práticas
matemáticas que primem por uma 1. FIORENTINI, D. Pesquisar práticas
formação e aprendizagem matemática de colaborativas ou pesquisar
melhor qualidade. colaborativamente? In: BORBA, M, C;
REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 42
Colaboração na formação de professores que ensinam matemática

ARAÚJO, J, L. (org.). Pesquisa <http://www.ie.ulisboa.pt.> Acesso em: 12


qualitativa em Educação Matemática. mar. 2019.
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diálogos entre Universidade e Escola. In: Matemática para a Docência nas Séries
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MATEMÁTICA, 10., Ijuí, 2009. Palestra. Paulo, 2008. Disponível em:
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FIORENTINI, D.; FERNANDES, F. L. P.;
CARVALHO, D. L. Narrativas de Agradecimentos
Práticas e de Aprendizagem docente
em Matemática (org.). São Carlos: Pedro Agradecemos às escolas, aos
& João Editores, 2015. professores e futuros professores
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de professores. São Paulo: Cortez, 2005. ações. À Gerência Regional de Educação
5. FREITAS, M. T. M.; NACARATO, A. M.; e à Secretária de Educação de Petrolina.
PASSOS, C. L.; FIORENTINI, D.; Agradecemos em especial à UPE pelo
FREITAS, F. F.; apoio financeiro concedido ao projeto nos
ROCHA, L. P.; MISKULIN, R. G. O desafio anos de 2016 e 2017.
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profissional de professores que
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REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 43
Educação sexual para estudantes do ensino médio

Artigo Original

Educação sexual para estudantes do ensino médio no interior de


Pernambuco

George Alessandro Maranhão Conrado , orcid.org/0000-0001-6649-577X


1

Iara Geisa Lima Ferreira , orcid.org/0000-0002-0730-3990


2

Lílian Karine Machado de Souza , orcid.org/0000-0002-3809-7667


2

Kauanne Araújo Barbosa Ribeiro , orcid.org/0000-0001-6805-0301


2

Ailton José de Souza Junior , orcid.org/0000-0002-5134-5987


2

Maria Luiza Ferreira da Silva , orcid.org/0000-0003-0425-7391


2

Marcela Silvestre Outtes Wanderley , orcid.org/0000-0002-4236-5820


3

1-2
Universidade de Pernambuco, Serra Talhada, Pernambuco, Brasil.
3
Universidade de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil.
E-mail do autor principal: george.maranhao@upe.br

RESUMO

A adolescência é o período em que a maioria dos jovens inicia a vida sexual, necessitando do aporte
educacional para evitar problemas sexuais e reprodutivos. Verifica-se então, a importância dos estudantes
universitários como promotores de estratégias dessa educação em saúde. Objetivou-se promover educação
em saúde sexual para adolescentes de escolas públicas da cidade de Serra Talhada/PE, realizando-se projeto
de extensão no período de abril a dezembro/2017. Os alunos foram convidados a participar de ações
englobando temas sobre sexualidade, que foram realizadas através de oficinas com metodologias ativas e
tradicionais. Para análise do conhecimento dos estudantes, foram aplicados questionários antes e após as
ações. Executaram-se 6 palestras em cada uma das seis turmas, com participação de 220 estudantes e
aplicação de 623 questionários de pré e pós-teste. Os alunos tinham entre 14 e 20 anos, 51,2% eram mulheres
e 82,5% da zona urbana. Verificou-se aumento dos acertos no pós-teste em relação ao pré-teste: 21,8%
acertaram entre 6 e 10 questões no pré-teste e 72,1% no pós-teste. As intervenções beneficiaram ampla
população de adolescentes e que é necessário que a universidade extrapole os seus muros e se aproxime
da comunidade cada vez mais.
Palavras-chave: Sexualidade; Adolescência; Educação Sexual; Acadêmicos de Medicina; Estudantes do
Ensino Médio.

ABSTRACT

Adolescence is when most young people start their sexual life, and they need educational support to avoid
sexual and reproductive problems. Thus, it is important that university students should be promoters of
strategies of this form of health education. This study sought to promote education on sexual health among
adolescents from state schools in the town of Serra Talhada/PE, for which an extra-mural project was
undertaken from April to December/2017. Students were invited to participate in sessions that covered topics
on sexuality, for which workshops were conducted with active and traditional methodologies. In order to
analyze students' knowledge, questionnaires were applied before and after the workshops. Six talks were
given in each of the six classes in which a total of 220 students took part and 623 pre- and post-test
questionnaires were applied. The students were between 14 and 20 years old, 51.2% were women and 82.5%
were from the urban area. There was an increase in right answers to the post-test questionnaire: 21.8%
answered between 6 and 10 questions correctly in the pre-test and this rose to 72.1% in the post-test. The
interventions benefited a large number of adolescents. They also show that the university needs to go beyond
its walls and to get closer to the local community.
Keywords: Sexuality; Adolescence; Sexual Education; Medical Students; High School Students

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 44


Educação sexual para estudantes do ensino médio

1. INTRODUÇÃO pessoas acometidas por estas afecções


em sua prática profissional5.
A adolescência é um fenômeno de Diante disso, objetivou-se promover
passagem caracterizado por um conjunto a educação sexual de adolescentes
de transformações biopsicossociais. É, matriculados no ensino médio de escolas
também, o período em que a maioria dos do município de Serra Talhada,
jovens inicia sua vida sexual1-2. A Pernambuco, através de metodologias
sexualidade se insere como a tradicionais e oficinas de aprendizagem
redescoberta de um aspecto intrínseco à realizadas por acadêmicos de medicina,
natureza humana, ultrapassando as contribuindo para que alunos do ensino
funções reprodutivas, e se estabelecendo médio adquiram conhecimentos em
como fator socializador do adolescente1. sexualidade a partir da construção
Nesse contexto, a Educação Sexual coletiva e para que os estudantes de
é a mais importante forma de prevenção medicina adquiram mais conhecimentos
de problemas ligados à saúde sexual e sobre o tema e o aperfeiçoem suas
reprodutiva dos jovens, devendo ser competências acerca de trabalho em
exercida não como domesticação dos equipe, estratégias de comunicação,
indivíduos, mas como uma oportunidade metodologias ativas de ensino-
de autorreflexão, a partir do qual há a aprendizagem.
transmissão de informações e o
desenvolvimento de atitudes e 2. PERCURSO METODOLÓGICO
competências relacionadas à sexualidade
humana2. Assim, para que um jovem se O projeto foi realizado durante o
torne agente da própria saúde, é período de abril a dezembro de 2017, no
necessário que conheça o seu corpo e município de Serra Talhada - PE, no
formas de obter prazer, conheça os riscos Colégio Manoel Pereira Lins (CMPL), e na
de determinados comportamentos e Escola de Referência em Ensino Médio
possa elaborar, para sua vida, projetos Cornélio Soares (ECS), pertencendo
que visem lidar com a sexualidade de ambas as escolas à rede pública de
forma ética e responsável3. educação, funcionando esta última em
Embora os estudantes universitários regime de ensino semi-integral e a
constituam uma pequena parcela de primeira no modelo de ensino regular.
nossa população jovem, é importante Os alunos foram convidados a
ressaltar seu papel como formadores de participar de diversas ações que
opinião, o que os define como um grupo- contemplaram os mais variados assuntos
chave na formulação de estratégias de que regem as questões biopsicossociais
educação e prevenção em saúde4. Os do desenvolvimento sexual. Como
acadêmicos de Medicina são de especial tratava-se de um componente
interesse, não só pelo conhecimento extracurricular e a maioria dos alunos
específico a que normalmente estão ainda não havia atingido a maioridade, o
expostos, mas também porque irão lidar Termo de Assentimento Livre e
diretamente com a prevenção do Vírus da Esclarecido (TALE) foi disponibilizado
Imunodeficiência Humana (HIV) e demais antes do início das atividades para os
infecções sexualmente transmissíveis alunos que quisessem participar e o
(ISTs), com a eventual assistência às Termo de Consentimento Livre e

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 45


Educação sexual para estudantes do ensino médio

Esclarecido (TCLE) foi enviado para que


os pais ou responsáveis pudessem ter 3. RESULTADOS
conhecimento e autorizar a participação
do estudante no projeto. O projeto em questão abordou, de
Foram realizadas seis palestras em forma continuada, um aspecto relevante
cada turma e foram contempladas seis no processo de promoção da saúde na
turmas do primeiro ano do ensino médio, população de Serra Talhada. Quando
sendo três de cada escola participante. O foram traçadas estratégias que visavam a
projeto contou com a participação de 220 priorização da informação a respeito da
estudantes no ano de 2017. prevenção e da promoção da saúde,
Uma parte das ações foi realizada buscou-se colaborar para a redução de
através de aulas tradicionais expositivas efeitos indesejados decorrentes de
sobre os temas escolhidos. Também práticas irresponsáveis relacionadas à
foram realizadas oficinas que visaram sexualidade entre adolescentes sem o
estimular que o discente de ensino médio conhecimento adequado. Dessa forma, a
se perceba como ferramenta capaz de partir da atuação dos estudantes de
construir o seu próprio conhecimento, por Medicina no campo da sexualidade dos
meio de atividades expositivas e adolescentes, pode-se propor uma
interativas, com utilização de dinâmicas melhoria da qualidade de vida desses,
de grupo e com produção ativa de além de reduzir gastos com o tratamento
conhecimento. Essas atividades foram de enfermidades que poderiam ser
planejadas e colocadas em prática evitadas.
quinzenalmente com o mesmo grupo de O presente estudo beneficiou
estudantes do ensino médio, seguindo as diretamente 220 (duzentos e vinte) jovens
recomendações do Ministério da Saúde. entre 14 e 19 anos que cursam o ensino
Para adequar as atividades às médio em Serra Talhada, PE. Levando em
necessidades dos estudantes, foi consideração que o projeto contribuiu
realizada a análise do conhecimento dos para a formação desses jovens como
estudantes de ensino médio. Para isso, multiplicadores do conhecimento, admite-
foram aplicados questionários antes e se que o número de beneficiários indiretos
após da realização das ações. Esses seja superior. É importante salientar que
instrumentos foram construídos mediante ações semelhantes têm sido promovidas
adaptação do Global School-based pelos alunos da Universidade de
Student Healt Survey (GSHS), Pernambuco - Campus Serra Talhada
desenvolvido pela Organização Mundial desde o ano de 2014, contemplando um
da Saúde em colaboração com o Fundo amplo número de adolescentes, notando-
das Nações Unidas para a Infância, com a se que os mesmos difundem esses
assistência técnica do Centro de Controle conhecimentos em suas comunidades
e Prevenção de Doenças dos Estados desde então.
Unidos, sendo adaptado para os Aspectos sociodemográficos dos
determinados fins do presente estudo. A participantes do projeto são expostos na
partir desse questionário adaptado, foram tabela 1. Pode-se perceber que houve
coletados dados com o objetivo de avaliar predominância de adolescentes do sexo
o estilo de vida e o conhecimento sobre a feminino (60,0%), residentes na zona
sexualidade.

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 46


Educação sexual para estudantes do ensino médio

urbana (78,2%) e que não exerciam visto que todos os alunos apresentaram o
atividades laborais (93,6%). TCLE devidamente assinado. Desse
modo, percebeu-se uma mudança de
Tabela 1: Características sociodemográficas dos pensamento em relação a temas que
participantes. ainda são vistos como tabus pela
Variável n % sociedade, sobretudo ao serem discutidos
Sexo com adolescentes.
Feminino 132 60,0 Além disso, no decorrer das
Masculino 88 40,0 atividades, verificou-se aumento no
Trabalho número de acertos dos alunos
Não 206 93,6 participantes, notando-se que, em média,
Sim 14 6,4 21,8% dos alunos acertaram entre 6 e 10
Zona questões no pré-teste, subindo para
Urbana 172 78,2 72,1% no pós-teste. Vale salientar que o
pré e pós-teste eram compostos
Rural 48 21,8
exatamente pelas mesmas questões,
Fonte: Pesquisa direta. 2018
sendo o primeiro aplicado antes da oficina
A principal dificuldade encontrada e o último imediatamente após. Ressalta-
para a execução desse projeto foi se, ainda, que uma parcela dos
compatibilizar os horários entre a escola e adolescentes entregou os testes em
os estudantes de medicina, visto que a branco.
escola possui cronograma próprio e uma
série de outras atividades 4. DISCUSSÃO
extracurriculares que não poderiam ser
interrompidas para a realização das Os adolescentes ganharam com o
ações. Porém, através do diálogo com as aumento do conhecimento sobre
gestoras de ambas as escolas, foram anatomia e fisiologia genital, patologias
encontrados horários comuns entre as frequentes, métodos contraceptivos,
escolas e os discentes de Medicina, dentre outros. Isso reflete em uma
favorecendo a realização de todas as redução dos índices de ISTs e de gravidez
atividades sem prejuízo. na adolescência, além de diminuir os
Nesse âmbito, foi fator determinante riscos para a gestante. Os estudantes de
para o sucesso do projeto, o envolvimento medicina foram beneficiados com o
dos professores das escolas, já que aumento do senso interdisciplinar e pela
muitos cederam os horários de suas aulas maior integração entre alunos de
para que as oficinas fossem ministradas e diferentes períodos; entre os alunos e os
alguns participaram do processo professores e também com a comunidade
juntamente com os alunos. Além disso, na qual atuaram. Isso contribui para uma
muitos docentes reforçaram a importância formação acadêmica mais completa e
do debate sobre sexualidade com os para a futura atuação profissional desses
adolescentes durante o desenvolvimento jovens de modo adequado, tornando-os
das ações. médicos mais sensíveis com as causas da
Em relação aos pais, não houve comunidade.
nenhuma resistência acerca da Cada turma participante do projeto
participação dos estudantes no projeto, teve atividades acerca de anatomia e

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Educação sexual para estudantes do ensino médio

fisiologia do sistema genital feminino e das informações citadas, foram mostradas


masculino; ISTs; planejamento familiar; imagens de cada uma das patologias,
violência sexual, abortamento e gravidez facilitando a posterior identificação dessas
na adolescência; sexualidade humana e, lesões ou secreções por parte dos alunos,
no final, houve uma oficina de revisão para caso fosse necessário7,8,11. Notou-se
consolidar a aprendizagem. Os temas e a espanto por grande parte dos discentes ao
forma de abordagem foram escolhidos ver as imagens e perceber as
conforme pesquisa na literatura e consequências que tais patologias podem
orientações do Ministério de Saúde2,6-7. trazer para a vida dos indivíduos. Quando
Considera-se que as oficinas são a melhor adotada a metodologia ativa, os alunos
maneira de aprimorar as competências foram incentivados a discutir sobre cada
necessárias para transformar os IST e percebeu-se, como na outra oficina,
adolescentes em protagonistas capazes que o conhecimento prévio não era sólido
de construir o seu próprio conhecimento e que, inclusive, eles não conheciam
sobre sexualidade e outros assuntos, algumas das ISTs abordadas.
observando-se grandes transformações O terceiro tema debatido foi
no modo de pensar e agir. Durante as planejamento familiar, sendo cada um dos
oficinas, estimula-se a reflexão sobre a métodos contraceptivos descrito
vida, a saúde e o papel de cada um nas detalhadamente em termos de
escolhas a serem realizadas6-7. mecanismo de ação, eficácia e aplicação6-
7
A primeira atividade sobre anatomia e . Na aula expositiva, abriu-se espaço
fisiologia do sistema reprodutor feminino e para tirar dúvidas dos estudantes a
masculino apresentou para os escolares respeito dos métodos a medida em que se
todos os elementos que compõe esses desenvolvia a apresentação. Já na
sistemas e as suas funções, de forma metodologia ativa, exemplares dos
clara e sucinta, de modo a facilitar a métodos eram levados para a sala de aula
compressão7. Quando realizada a oficina, e mostrados para os alunos na prática,
foram mostradas ilustrações dos detalhando também cada um deles. Foi
aparelhos reprodutores e os discentes perceptível que a maioria dos estudantes
foram levados a discussão através do tinha conhecimento apenas a respeito dos
questionamento sobre o nome e função de anticoncepcionais orais e do preservativo
cada estrutura1,7. Inicialmente, percebeu- masculino. Contudo, apresentavam
se que boa parte dos grupos respondeu dúvidas quanto a utilização de cada um.
de forma incorreta a maioria dos Além disso, na maioria das turmas não se
questionamentos, demonstrando que tinha conhecimento da existência do
provavelmente não havia um preservativo feminino, dispositivo intra-
conhecimento prévio sobre os uterino e dos anticoncepcionais injetáveis
componentes anatômicos. ou adesivos.
A segunda atividade tratou das A atividade quatro teve como temática
Infecções Sexualmente Transmissíveis, violência sexual, gravidez na
2,7,12
sendo debatidos a definição, os sintomas adolescência e abortamento .
e as formas de transmissão da sífilis, Também foi ministrada utilizando as duas
gonorreia, HIV, Clamídia, Hepatite B e metodologias, sendo a aula tradicional
Papiloma Vírus Humano (HPV)8-10. Na realizada através de slides e a
apresentação expositiva dialogada, além metodologia ativa através de vídeos

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 48


Educação sexual para estudantes do ensino médio

confeccionados pelos discentes de em relação ao demonstrado nas oficinas


medicina que simulavam situações de anteriores.
cada assunto em questão. Nessa, era A falta de conhecimento sobre temas
apresentado um vídeo por vez e, após relacionados à sexualidade por parte de
cada um, abria-se espaço para ouvir a adolescentes escolares foi percebida em
opinião dos estudantes a respeito da estudos realizados8,14. Romero et al.,
cena. Ao final de todos os vídeos, os 2007, percebeu em seu estudo que 34,0%
acadêmicos ministrantes da oficina faziam das jovens da zona rural e 33,0% da
uma síntese acerca do assunto. A urbana conhecem métodos preventivos
percepção mais marcante foi sobre a para ISTs e, respectivamente, 44,0% e
sensibilização causada pelos vídeos nos 45,0% para gestação, o que demonstra
estudantes, sendo notável o impacto que grande parte dos adolescentes
dessa metodologia. secundaristas ainda possuem problemas
A quinta atividade abordou com a saúde reprodutiva12. Em trabalho
sexualidade e adolescência, buscando realizado por Kumar et al., 2013,
discutir crenças e atitudes dos jovens observou-se que apesar dos jovens
através de roda de conversa3,6,13. Os canadenses possuírem bom
escolares foram levados a refletir sobre o conhecimento acerca das ISTs, quase
significado de sexualidade e gênero7,14. 60,0% não possuíam conhecimento que o
Além disso, eles tiveram momentos para HPV também pode provocar câncer de
tirarem dúvidas quanto à sexualidade e pênis9. Ainda, demonstraram
outras questões que se sentissem à conhecimento inferior acerca de métodos
vontade para falar com os demais colegas contraceptivos. Cirino, Nichiata e Borges,
e os estudantes de medicina. Ao final, 2010, revelaram que grande parte das
percebeu-se que eles tiveram dificuldades adolescentes não possuía conhecimento
sobre alguns termos discutidos. adequado sobre o câncer de colo uterino
A sexta e última ação junto aos e os meios de prevenção e diagnóstico,
estudantes do ensino médio tratou-se de além de desconhecerem, em sua maioria,
uma revisão sobre todos os temas a relação entre HPV e contágio sexual10.
abordados ao longo do desenvolvimento Conforme a literatura, mesmo aquelas
do projeto7. Foi realizada em metodologia que já tinham realizado o exame
única, cerca de sessenta dias após a Papanicolaou desconheciam o objetivo do
quinta, através de uma apresentação que mesmo quanto ao HPV10,11. Todos esses
continha perguntas dos assuntos e os temas citados foram abordados nos pré-
alunos eram estimulados a discorrer sobre testes e trabalhados nas oficinas no
o que lembravam a respeito do que estava projeto aqui descrito e se percebeu essa
sendo questionado. Em seguida, os falta de conhecimento dos alunos, algo
acadêmicos explicavam o que tinha sido que pode ser observado com o resultado
perguntado e faziam as considerações do pré-teste apresentado.
finais sobre o assunto. Notou-se que os Em um estudo realizado por Freitas e
temas de maior facilidade de respostas, Dias, 2010, com jovens com média de
em geral, foram planejamento familiar e idade de 15 anos no município de Porto
gravidez na adolescência. Além disso, Alegre – RS, foi observado que estes
percebeu-se que os alunos detinham ainda possuem dificuldade em definir o
maior segurança ao falar sobre os temas que é sexualidade e, principalmente, em

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Educação sexual para estudantes do ensino médio

diferenciá-la de relação sexual13. Além Desse modo, notou-se que a troca


disso, no que diz respeito às questões do de saberes entre acadêmicos de
próprio ato sexual, os adolescentes medicina e os estudantes das escolas
demonstraram inúmeras dúvidas, foi uma experiência valiosa, visto que,
principalmente em relação à idade correta de acordo com os dados obtidos, o
de se iniciar a vida sexual, a idade em que objetivo de contribuir no processo de
a mulher pode ou não engravidar, educação sexual dos adolescentes foi
questionamentos acerca do ciclo atingido. Além disso, o trabalho
menstrual, da menarca e do início da proporcionou aos discentes de medicina
fertilidade, sobre o uso do preservativo a oportunidade de lidar diretamente com
feminino, sobre as formas de transmissão a comunidade e perceber-se como
de ISTs e sobre a gravidez na agentes promotores de modificação de
adolescência. Outro dado encontrado é uma realidade local, contribuindo assim
que os adolescentes do estudo acharam para o desenvolvimento da
mais embaraçoso se prepararem com responsabilidade social dos envolvidos.
contraceptivos em frente ao parceiro do Diante disso, é perceptível a
que o próprio ato sexual. Isso demonstrou necessidade de que a universidade
uma falta de informação e uma quantidade extrapole os seus muros e se aproxime
alarmante de questionamentos que, se da comunidade cada vez mais através
fossem sanados, contribuiriam para uma de projetos que sejam promotores de
melhor vida sexual desses. Vale ressaltar benefícios não somente para os
que grande parte dessas dúvidas também acadêmicos envolvidos, mas também
esteve presente no desenvolvimento do para a população local, através da
presente projeto de extensão, difusão do conhecimento e do
percebendo-se a semelhança entre os compartilhamento de saberes.
estudos.
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REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 50


Educação sexual para estudantes do ensino médio

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Todos foram muito importantes para a
Canadian adolescents after
execução desse trabalho junto às escolas.
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sobre o Papilomavírus Humano
Relacionado ao Câncer de Colo do

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 51


Teatro do oprimido: metodologia de intervenção

Relato de Experiência

O Teatro do oprimido como instrumento de intervenção da psicologia


social

Carla Silva Luna¹ orcid.org/0000-0002-5504-7987


José Anilson Xavier Filho² orcid.org/0000-0002-0134-7124
Andrezza Priscylla Vieira Gomes Pena³ orcid.org/0000-0003-2583-3589

¹-3Centro Universitário UNIFAVIP I Wyden. Caruaru, Pernambuco, Brasil


E-mail: krlinha.luna@hotmail.com

RESUMO

O presente artigo vem discutir como as estratégias do teatro do oprimido podem ajudar no processo de ensino-
aprendizado dos alunos do curso de psicologia do Centro Universitário UNIFAVIP I Wyden, fazendo análise
com a Educação do Oprimido, como é realizada esta união entre teatro e educação. Utilizando esta junção
para abordagem a temas polêmicos com a violência enfrentados pela mulher dentro da sociedade brasileira.
Utilizando a prática do teatro como instrumento de intervenção de psicologia social, fazendo uso das técnicas
da psicologia educativa e promovendo aos alunos do curso de extensão recursos e condições para o
acompanhamento e realização de intervenções junto aos grupos que estejam sendo monitorados e tratados
dentro da temática de violência. O grupo também aborda outras temáticas como bullying, depressão, violência
infantil, medos e fobias, porém o artigo irá apresentar relatos em específico sobre violência feminina e como
através das apresentações, os casos são tratados com maior empatia e cuidado.
Palavras-chave: Teatro; oprimido; transformação; educação; violência.

ABSTRACT

The present article discusses how the strategies of the theater of the oppressed can help in the teaching-
learning process, along with psychology students of UNIFAVIP I Wyden University Center. It also analyses the
Education of the Oppressed, as a bridge between theater and education. It is using this junction to approach
controversial issues like the violence faced by women within Brazilian society - adding to that the importance
of the practice of theater as an instrument of intervention in social psychology. Exercising techniques of
educational psychology and promoting the students of the extension course resources and conditions for the
monitoring and implementation of interventions for groups that are being monitored and treated within violence.
The group also deals with other topics, such as bullying, depression, child violence, fears, and phobias, but
the article will present specific reports on female violence, as, through the presentations, are the cases treated
with greater empathy and care.
Keywords: Theater; oppressed; transformation; education; violence.

1. INTRODUÇÃO metodologia do Teatro do Oprimido de


Augusto Boal e teorias que fundamentam
O objetivo dessa pesquisa é promover a educação de combate a violência
uma análise dos efeitos educativos e feminina, com dados obtidos através de
sociais, que são gerados pela utilização pesquisas documentais e bibliográficas e
das técnicas do Teatro e da Educação do observação e entrevista nas atividades
Oprimido, através da análise da acadêmicas desenvolvidas pelo grupo de

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Teatro do oprimido: metodologia de intervenção

alunos e professores do curso de mundialmente reconhecido pelos


extensão de psicologia do Centro organismos de Saúde e de Direitos
Universitário UNIFAVIP I Wyden e quais Humanos como um problema social grave
reações e percepções dos envolvidos no com sérias consequências para a saúde e
projeto. qualidade de vida das mulheres. Esta
Utilizando para a investigação a violência pode ser encontrada numa
metodologia descritiva qualitativa, com forma de relação pessoal, política, social e
base num estudo fenomenológico, uma cultural, pode ser resultante de interações
vez que os sujeitos da investigação são sociais; ou ainda, pode ser um
observados, relatando as suas componente cultural naturalizado.
experiências em entrevistas, sendo assim, Assim, evidenciando o quanto é
elaborado um instrumento para o roteiro e significante trabalhar as técnicas do
realização das entrevistas e para Teatro e da Educação do Oprimido para o
avaliação do processo de intervenção do desenvolvimento educacional destes
grupo com a apresentação do Teatro do alunos, a fim de causar empatia com
Oprimido. Observação e análise das temáticas como a violência feminina e
apresentações, onde acontecem, público como os jovens podem ajudar aos
que participa das intervenções e a lição envolvidos a desenvolver empatia e
que os aluno do projeto desenvolvem respeito pelos expectadores-ouvintes do
através da técnica. projeto.
Selecionamos para a nossa
investigação as variáveis: o professor que 2. PERCURSO METODOLÓGICO
implementou o projeto no Centro
Universitário e um aluno participante do O teatro do oprimido como instrumento
projeto de extensão, que utiliza a técnica de práticas pedagógicas
em alguns grupos de intervenções com Segundo Boal¹, o teatro pode ser uma
temáticas de abordagem complexas e que arma de libertação, de transformação
precisam expressar de forma real as social e educativa. O termo: Teatro do
dores, limitações, trazendo o espectador a Oprimido refere-se explicitamente a
realidade do que está sendo tratado. Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, o
O processo de análise tem envolvido a aspecto pedagógico desse teatro aparece
articulação entre os objetivos do trabalho, em primeiro plano. O projeto destaca-se
as informações e observações e o com força e impõe-se através de um
referencial teórico pesquisado. As processo análogo ao que deu luz à
referências pesquisadas das ações Pedagogia da Libertação de Paulo Freire.
relatam experiências relacionadas com A técnica teatral é empregada como um
intervenções sociais, em um espaço onde método de educação popular, que
exista situações de desconforto social e contribui para a compreensão do indivíduo
opressão, sendo relatado através de um e contextualização dos fatos sociais. Nem
dos casos com maior ênfase a opressão sempre os canais formais de participação
feminina. social, são suficientes para detectar as
A violência contra a mulher, que ocorre demandas da população. No ambiente
no âmbito doméstico, conjugal ou familiar, formal das reuniões, nem sempre as
é a mais frequente forma de violência de pessoas se sentem desinibidas para se
gênero. Este fenômeno é hoje manifestarem, o que prejudica a

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Teatro do oprimido: metodologia de intervenção

discussão de temas importantes. O Teatro do Oprimido, segundo Boal¹


Promover a participação popular exige a “é uma forma de manifestação de teatro
procura de novas linguagens que popular. O teatro do oprimido não é o
favoreçam ao diálogo entre governo e teatro para o oprimido: é o teatro dele
população, criando novos espaços onde a mesmo”. Não é o teatro no qual o artista
expressão criativa dos indivíduos seja interpreta um papel de alguém que ele não
estimulada. A participação popular é um é: é o teatro no qual cada um, sendo quem
componente fundamental para é, representa seu próprio papel (isto é,
consolidação da democracia. Para que organiza e reorganiza sua vida, analisa
esta participação se torne efetiva, é suas próprias ações) e tenta descobrir
necessário um trabalho educativo que formas de liberação. O teatro do oprimido
ajude a população a entender os aspectos não é um teatro de classe, é um teatro das
envolvidos nas relações de poder. Na vida classes oprimidas e dos oprimidos, no
cotidiana, observamos situações de interior dessas classes.
opressão, discriminação e preconceitos Atesta Boal¹ o oprimido e espectador
não discutidos e, muitas vezes, não são conceitos quase sinônimos ligados e
resolvidos. intermediados pelo diálogo. Que as
O Teatro do Oprimido, através da sociedades tendem a exercer uma relação
prática de jogos, exercícios e técnicas de aparente diálogo, na verdade um
teatrais, procura estimular a discussão e a monólogo, presente nas relações
problematização de questões do humanas. Os pressupostos conceituais do
cotidiano, com o objetivo de fornecer uma Teatro do Oprimido giram em torno de
maior reflexão das relações de poder, cultura, cidadania e opressão em uma
através da exploração de histórias entre sociedade dividida em classes sociais.
opressor e oprimido. Tem sido utilizado Para Boal é um movimento teatral e
como ferramenta de participação popular, modelo de prática cênico-pedagógica que
como uma forma de discussão dos possui características de militância e
problemas públicos, constituindo também destina-se à mobilização do público,
um instrumento de educação informal de vinculando-se ao teatro de resistência.
participação popular, ao estabelecer Que o “oprimido” seria aquele indivíduo
temas para a discussão coletiva, “despossuído do direito de falar, do direito
envolvendo a população no debate das de ter a sua personalidade, do direito de
questões públicas, o Teatro do Oprimido, ser”³.
estimula também a criatividade e a Os dois principais objetivos do Teatro
capacidade de propor alternativas para as do Oprimido definido por Boal são:
questões do cotidiano. • Transformar o espectador, de um
O teatro popular para Boal², é uma ser passivo e depositário, em protagonista
estratégia de educação não formal, que da ação dramática;
propicia o desenvolvimento, a criação • Nunca se contentar em refletir
artística e o acesso cultural para as sobre o passado, mas se preparar para o
comunidades. Não trata exclusivamente futuro.
dos chamados temas políticos, nenhum Boal atesta que a metodologia
tema é estranho ao teatro popular, porém proporciona uma preparação do indivíduo
alguns são prioritários, dando maior para ações reais na sua existência
relevância aos temas políticos e sociais. cotidiana e social com vistas a uma

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Teatro do oprimido: metodologia de intervenção

liberação. Basicamente, o “espectador” é relatórios. As análises destes relatórios


incentivado a interromper a ficção são a base para a formulação de novas
observada, sempre que julgar “falsas, ou leis.
irreais, ou mistificadoras ou ineficientes ou Os “ensaios” são entendidos como
idealistas” as soluções vistas em cena, reunião político-cultural, faz parte o
situando-se este teatro, portanto, nos diálogo intergrupos com outras
limites entre ficção e realidade, e o comunidades e os festivais, para
“espectador” entre pessoa e personagem. conhecerem a opressão dos demais e se
Nesse teatro, o indivíduo representa o seu solidarizarem: “devem conhecer e
próprio papel, analisa suas próprias reconhecer e trocar ideias, informações e
ações, questiona e reorganiza a sua vida sugestões, informes, propostas, isto é,
dentro de uma nova visão de mundo. fazer política”³. A dinâmica envolve um
As técnicas desenvolvidas pelo Teatro animador-líder, o Curinga, em oficinas de
do Oprimido são: Teatro Imagem, Teatro duas horas ou de anos, a depender da
Jornal, Teatro Invisível, Teatro Legislativo necessidade e objetivos dos interessados.
e Teatro-Fórum. No Teatro Fórum, como técnica teatral,
O Teatro Imagem é um conjunto de é uma pergunta feita pelo elenco aos
técnicas que transformam questões, espectadores. É apresentado um
problemas e sentimentos em imagens problema objetivo, através de
concretas. Busca-se a compreensão dos personagens opressores, que entram em
fatos através da linguagem das imagens. conflito por causa de seus desejos e
Já o Teatro Jornal é um conjunto de vontades contraditórias. Nesta luta por
nove técnicas que dinamizam notícias de seu objetivo, o oprimido,
jornal, dando-lhes diferentes formas de necessariamente, fracassa e os espec-
interpretação. atores devem ao representar suas
O Teatro Invisível é uma técnica de alternativas para os problemas
representação de cenas cotidianas onde encenados, através da intervenção direta
os espectadores são reais participantes no espetáculo, substituindo o personagem
do fato ocorrido, reagindo e opinando oprimido.
espontaneamente na discussão No final da representação, Boal e sua
provocada pela encenação. equipe explicam que não estão de acordo
O Teatro Legislativo é uma experiência com o que foi representado e se eles não
sociocultural que visa à produção de apresentaram soluções melhores, é
propostas de propostas: legislativas e /ou porque não as conhecem. A trupe, como é
jurídicas, a partir da intervenção do denominada a equipe, propõe-se a
público em espetáculos de Teatro Fórum. reapresentar a peça. Porém, dessa vez,
É a forma de implantar o conteúdo político quando um espectador considerar que um
do Teatro do Oprimido. A partir dos dos personagens "age" favorecendo a
problemas cotidianos da população, é opressão, pode gritar "Stop!" e substituí-
feito um levantamento de informações lo. Em cena, os outros atores improvisarão
para a elaboração de leis. Os grupos com ele a solução proposta.
populares montam peças de Teatro Nas comunidades, os tópicos
Fórum e as apresentam para diversos usualmente abordados pelo Teatro do
públicos. As intervenções realizadas pela Oprimido são aqueles vividos no
plateia no Teatro Fórum são anotadas em cotidiano: saúde e prevenção de doenças,

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Teatro do oprimido: metodologia de intervenção

discriminação social, violência, uso indiscriminadamente, talvez pelo fato de


indevido de drogas, trabalho, relação que, quando se fala em poder, fala-se do
familiar, relações sociais de gênero, meio domínio que uma pessoa exerce sobre a
ambiente e educação. Propõe a outra. Na compreensão das autoras,
mobilização da população para discussão poder é a capacidade coletiva para tomar
do orçamento participativo, incentivando a decisões, sendo expressão de justiça,
presença nas ações governamentais e espaço de criação de direitos e garantia
também na formulação de leis, fazendo do justo pelas leis. Ele está ligado à
com que a população apresente possibilidade humana não apenas de agir,
propostas de lei de forma criativa. mas de agir em conjunto. O poder não é
Constitui-se em instrumento facilitador da propriedade de um indivíduo – o poder
discussão dos problemas sociais. costuma pertencer a um grupo e, para ser
As técnicas do Teatro do Oprimido usado, este grupo deverá estar unido.
podem ser utilizadas por qualquer grupo, Para Oliveira e Araújo4, a violência
pois permite a troca de informações e advém do ódio e este aparece apenas
experiências na medida em que os onde existe razão (reagimos com ódio
problemas vão surgindo no decorrer da porque nosso senso de justiça é ofendido,
encenação. mas não reagimos assim diante de uma
doença incurável. Recorremos ao uso da
Violência de gênero: mulher o sexo violência porque é tentador, dado seu
“frágil” imediatismo, entretanto, isso não torna o
Segundo Oliveira e Araújo4, a violência ódio ou a violência situações irracionais.
é uma realização determinada nas Deste modo, o ódio e a violência seriam
“relações de força”. “Força”, para a autora, emoções “naturais” do ser humano e
implica na ausência de poder, baseada extirpá-los seria equivalente à castração
em relações de exploração econômica, ou desumanização, já que “a ausência de
dominação política, exclusão cultural, emoções nem causa nem promove a
sujeição ideológica, coação física e racionalidade”. A violência, assim, seria
psíquica. Analisam a violência sob dois sempre de natureza instrumental,
aspectos: como a conversão de uma dependendo da orientação e justificação
diferença ou assimetria em uma relação pelo fim que almeja. Ela jamais é legítima,
hierárquica de desigualdade, com fins de ainda que possa ser justificável por quem
dominação, exploração e opressão, e a prática. Diferente do poder, que
como uma ação que trata um ser humano depende de números (grupo), a violência
não como sujeito, mas como coisa. A depende dos implementos que amplificam
diferença entre força e violência é que a o vigor humano.
primeira deseja a morte ou supressão Está relação entre poder e violência
imediata do outro, ao passo que na também é teorizada por Foucault (apud
segunda, o que se deseja é a sujeição Oliveira e Araújo4, para quem o poder não
consentida ou a supressão midiatizada é da ordem do consentimento ou da
pela vontade do outro, que consente em violência - não é em si renúncia da
ser suprimido na sua diferença. liberdade; não é o poder de todos e de
Para as autoras é importante cada um delegado a alguns. Para
diferenciar violência e poder. Estes dois Foucault, uma relação de poder se
termos são frequentemente usados estabelece sobre dois elementos

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Teatro do oprimido: metodologia de intervenção

indispensáveis: que “o outro” (aquele ele dá à organização e à percepção do


sobre o qual o poder se exerce) seja conhecimento histórico.
inteiramente reconhecido e mantido até o Além disso, o seu uso rejeita as
fim como o sujeito da ação, diferente, explicações biológicas, como aquelas que
portanto, da relação de violência, que tentam atribuir a subordinação das
relega tudo à passividade, tentando mulheres à reprodução e à
destruir qualquer forma de resistência. “superioridade” dos homens à sua força
Ainda assim, cabe salientar que o muscular. Fala dos “sistemas de
funcionamento das relações de poder não significação” como uma forma de
dispensa o uso da violência e a aquisição compreender as maneiras como as
do consentimento. O poder só pode ser sociedades representam o gênero,
exercido sobre “sujeitos livres”, utilizando-os para articular regras de
entendendo-os como sujeitos, individuais relações sociais ou mesmo para construir
ou coletivos, que possuem diante de si um o sentido da experiência.
campo aberto de condutas. Deste modo, é O que as teorias feministas propõem é
necessário que haja liberdade para que o a desconstrução dos dualismos atribuídos
poder seja exercido. Na concepção de ao “sexo feminino” e ao “sexo masculino”,
Foucault uma relação de poder é uma além de fazerem a leitura da naturalização
“ação sobre ações”, ou seja, o poder é de aspectos sociais antes fundidos com os
uma maneira de estruturar o campo de aspectos biológicos nestas duas
ação possível dos outros, sendo este um categorias, o que implica em dizer que
de seus objetivos. “anatomia não é destino” e que o corpo
Oliveira e Araújo4 citam que a palavra feminino não determina a condição social
“gênero” vem sendo usada pelas da mulher. Para essas autoras, existem
feministas há mais de duas décadas, dispositivos específicos que contribuem
como uma maneira de referir à para regulação social de gênero, como os
organização social da relação entre os dispositivos legais, institucionais,
sexos e como forma de resistir ao militares, educacionais, sociais,
determinismo biológico implícito, além de psicológicos e psiquiátricos.
enfatizar o caráter social das diferenças O gênero é construído tenuamente
baseadas no sexo: é uma maneira de através do tempo, por meio de uma
aludir às origens exclusivamente sociais repetição incorporada pelos gestos,
das identidades subjetivas dos homens e movimentos e estilos. Qualquer verdade
das mulheres, sendo, desta forma, uma sobre o gênero resultaria, portanto, numa
categoria social imposta sobre um corpo ficção reguladora. Podemos então pensar
sexuado. a violência como surgindo dentro desse
É a forma com que as características constructo que interpreta o que é ser
sexuais são representadas e valorizadas homem e o que é ser mulher, atribuindo-
que vão dizer sobre o feminino e o lhe papéis, expectativas e normas a serem
masculino (e não as características seguidas.
sexuais per si). O gênero, então, é forjado Como um fenômeno complexo, articula
no âmbito das relações sociais, e o que se relações de poder, dominação e
deve observar é o modo como ele submissão, geradas dentro desse sistema
funciona nessas relações, o sentido que sexo/gênero. Assim, podemos afirmar, de
acordo com Rubin4, que a opressão das

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Teatro do oprimido: metodologia de intervenção

mulheres não é inevitável, mas indica um arbitrárias começa pela divisão entre os
modo das relações sociais específicas sexos, que, embora construídas
que organiza sexo e gênero. A parcela socialmente, são vistas como naturais e
feminina participaria ora mais, ora menos evidentes, adquirindo, assim, legitimação
da capacidade de impor a sua vontade. e reconhecimento, fazendo parte da
No exercício da função patriarcal, representação andocêntrica. Socializando
conforme Saffioti5, os homens detêm o em uma cultura machista, o homem julga-
poder de determinar a conduta das se no direito de espancar sua mulher, e
categorias sociais nomeadas, recebendo esta, por sua vez, é educada para se
autorização para punir o que se apresenta submeter aos desejos masculinos6.
como desvio para eles, tendo, assim, o De certa forma, Oliveira e Araújo4
direito a exercer uma “função corretiva” justificam porque muitas mulheres não
sobre aqueles que estão sob seu domínio. denunciam a agressão sofrida e, mesmo
Desta forma, estão permanentemente quando o fazem, voltam para os seus
autorizados a realizar o projeto de companheiros continuando a serem
dominação-exploração das mulheres, vitimadas. As justificativas para isso são
mesmo que utilizem, para isso, da força várias: culpa, filhos, família, medo do
física. Apenas os excessos destes agressor, dependência econômica e,
castigos físicos são codificados como também, porque as agressões podem ser
tipos penais. Saffioti5 ilustra esse fato com uma forma de comunicação encontrada
os casos de lesão corporal dolosa (LCD) pelo casal, na qual “não existe
em que o autor está sujeito à punição propriamente acordo, entendimento ou
somente se a violência deixar marcas no negociação de decisões”.
corpo da vítima. Se isso não ocorrer, há
necessidade de prova testemunhal. 3. RESULTADOS
Geralmente a violência é praticada
diante de parentes, especialmente filhos Técnicas do teatro do oprimido como
menores, o que dificulta a existência deste prática de intervenção
tipo de prova, pois as testemunhas são psicopedagógico para os alunos do
invalidadas pelo laço de parentesco. Por curso de extensão do
saberem disso, muitos homens procuram UNIFAVIP/WYDEN
espancar as mulheres na cabeça, já que O projeto de extensão do curso de
as marcas seriam disfarçadas pelos Psicologia do Centro Universitário
cabelos. As mulheres são, portanto, UNIFAVIP/Wyden foi implantado pelo
vítimas da organização social de gênero Professor Marcos Pablo Martins Almeida,
que as transformam em quase- Psicólogo e Doutorando em Ciências
propriedades dos homens6. Sociais, no ano de 2010, para os alunos
Para Bourdieu (apud Oliveira e Araújo do curso de graduação de Psicologia. O
2010)4, a violência resulta da objetivo do projeto era trabalhar as
internalização das estruturas históricas de diversidades e dificuldades encontradas
dominação masculina, presentes na na sociedade através das técnicas do
sociedade e incorporadas às estruturas Teatro do Oprimido, gerando empatia e
cognitivas e sociais de mulheres e mostrando que, através de técnicas
homens. A experiência de apreensão do específicas, as dores e dessabores
mundo social e de suas divisões podem ser “tratados” de maneira coerente

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Teatro do oprimido: metodologia de intervenção

e com tamanha sutileza, levando o sensibilidade, os envolvidos se


espectador e praticante da técnica a se descobrem, encontrem a naturalidade do
colocar no lugar do outro, assumindo, corpo, da voz, da capacidade de
assim, uma intervenção responsável e improviso, de deslocamento de espaço,
que mostra através de “relatos fictícios- entre outras condições e características
reais” como amparar um envolvido em importantes para que as apresentações
processo de dor e sofrimento. fluam com maior naturalidade através
As técnicas utilizadas pelo grupo de deste autoconhecimento;
extensão do UNIFAVIP são baseadas nas • Nos 04 últimos encontros, o grupo
apresentações do Teatro Fórum, geralmente faz a escolha das histórias que
modalidade mais difundida por Boal, onde serão encenadas e que terão maior
a história contada é baseada em uma ênfase e abordagem dentro do cenário de
história real, vivida por alguém real e o cuidados e humanização das dores e
espectador tem a oportunidade de sentimento vividos.
interagir com a peça apresentada e pode, • O último encontro terá a
assim, dar o caminho final, que considere culminância da apresentação do Teatro
correto para ele. Ele pode atuar na peça do Oprimido, com a participação dos
mostrando o melhor o desfecho para atores envolvidos e espectadores que
aquela situação, podendo ser em podem fazer intervenções sempre que
qualquer cena da peça, ele entra no lugar achem necessário, de acordo com alguma
do ator e faz da sua forma aquela cena apresentada e que possa ser
interpretação, com suas percepções e modificada ou até mesmo “melhorada” do
reais sobre a temática que esteja sendo ponto de vista de quem participa em
abordada naquele momento. observação.
• O grupo participante é estimulado
Fotografia 1: registro feito pelo Prof. Marcos Pablo através de situações de opressão,
em momentos de encontro do grupo de extensão.
havendo dentro da encenação papéis de
opressor e oprimido, sendo levado em
consideração temáticas que são
sugeridas pelos espectadores e que
possam contribuir para a busca por
respostas a situações de crise e de como
podem ser conduzidas para melhor
resolução.
Todo o trabalho, de acordo com o Prof.
Pablo, é pautado nas experiências
vivenciadas, os alunos do curso de
extensão aprendem que não é apenas
O Professor Marcos Pablo organiza as através de conteúdo teórico que se
encenações em 08 encontros: constrói o caminho para dialogar com
• Nos 04 primeiros encontros pessoas que são expostas a situações de
acontecem verificações do público e vulnerabilidade, que não se encontram
ambiente que ocorrerão as encenações e, nos livros as respostas para estas
através de algumas técnicas com a situações, e sim nas experiências das
desmecanização corporal e da quais eles participam ativamente. Por esta

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Teatro do oprimido: metodologia de intervenção

razão o grupo não apresenta uma peça Fotografia 2: Registro feito pelo Prof. Marcos
pronta para os participantes, para que a Pablo em momentos de encontro do grupo de
extensão.
construção possa ser um instrumento real
de intervenção psicoeducativo.
Esta acaba sendo a grande diferença
na atuação do curso, pois os alunos de
Psicologia aprendem que a linguagem da
arte possui muitas vantagens em relação
a linguagem racional, aplicada nas
práticas educativas, pois, algumas
pessoas se sentem inferiorizadas em
relação a outras, pelo fato natural de que
algumas tenham mais domínio que outras
para falar em grupos ou em público.
Através da lógica da linguagem do corpo O aluno José Carlos Alves Gomes, do
todos conseguem se expressar à sua curso de Psicologia, do 10º período,
maneira, não existe censura e cada um participante e atuante das encenações do
agi da melhor forma para trabalhar as Teatro do Oprimido nas atividades do
inquietudes e colocações que lhes são curso de extensão do Centro
apresentadas. Universitário, também, contribuiu com a
E sob uma ótica lúdica, que o teatro análise da utilização da técnica do teatro e
proporciona, é possível trabalhar desenvolvimento dos alunos do curso.
temáticas profundas, de grande O Carlos relata que a primeira
intensidade de sentimentos, sejam eles apresentação que realizou foi no evento
tensos ou dolorosos, e que geram grande InterartPsi, em comemoração ao dia do
debate. Além de se trabalhar com a maior psicólogo, que aconteceu em agosto de
realidade possível, colocando-se uma 2015, com a apresentação de um esquete
lupa sobre as temáticas de forma que levantou as temáticas do
comprometida, evidenciando que podem empoderamento feminino e machismo. O
ser trabalhadas com a arte e buscando professor Pablo o convidou para que ele e
soluções solidárias e práticas mais alguns alunos formassem um grupo
humanizadas, que permitam um melhor de intervenções artísticas, que pudessem
desenvolvimento da vida social e pessoal. apresentar temáticas através dos jogos e
técnicas do teatro do oprimido.
Este grupo de alunos, do qual ele faz
parte, faz a utilização das técnicas e dos
fundamentos teóricos que Augusto Boals
esquematiza em seus escritos, estas são
utilizadas para explicitar e tratar os casos
de vulnerabilidade e privação de direitos.
Carlos fala sobre os efeitos positivos
nesta dinâmica das técnicas de jogue
exercícios, promovendo a
desmecanização do corpo e de técnicas
grupais entre os alunos do curso,

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Teatro do oprimido: metodologia de intervenção

favorecendo os espaços de fala físicos e Fotografia 4: Registro feito pelo Prof. Marcos
objetivos. Assim as peças de teatro fórum, Pablo em momentos de encontro do grupo de
extensão.
amplamente usadas para retratar as
histórias reais de opressão, torna-se
ferramenta potente para discursão de um
tema com pontos de vistas diferentes, em
relação aos mesmos, pois a plateia
também chamada de espect-atores, entra
em cena trazendo outras perspectivas em
relação aos temas abordados.

Fotografia 3: Registro feito pelo Prof. Marcos


Pablo em momentos de encontro do grupo de
extensão.

Os relatos de José Carlos são


importantes para tornar mensurável a
compreensão e envolvimento dos alunos,
através de temas tão significantes e
marcantes, fazendo com que eles reflitam
sobre as dificuldades e problemáticas que
irão deparar-se ao longo de sua vida
profissional, após suas formações.
Outra pessoa que contribuiu de
maneira importantíssima, expondo
características singulares e de suma
Uma cena que elucida bem a importância traçada por este projeto, foi a
intervenção em relação a violência contra Professora Mestre, Julliany Valério, Prof.ª
a mulher, foi em um evento no Marco Zero de Tempo Integral e responsável pela
de Caruaru, chamado de Coletivo Coordenação dos Projetos de Extensão
Comeia, que trouxe ao público uma do curso de Psicologia do UNIFAVIP I
encenação sobre uma mulher de meia Wyden.
idade, dona de casa, que sofria agressões A Profª Julliany relata que o projeto
do esposo. Após a apresentação, quando desde o seu início, atua de forma
aberto o espaço para o público interagir, articulada com os alunos extensionistas, e
uma senhora que havia sido confrontada serviços prestados à comunidade. Ela
para participação, ainda em receio com o nota que os alunos são impulsionados a
que havia visto não quis interagir falando participar de reuniões com Gestores e
que não poderia fazer nada contra aquele Técnicos do CRA’S (Centro de Referência
homem, pois ele poderia agir com e Assistência Social) e CREA’S (Centro de
tamanha violência e que ali ela não teria Referência Especializado de Assistência
força para confrontá-lo. Social), de Caruaru. E, os processos de
territorialização entre as instituições
parceiras e o grupo de extensão acontece
numa relação processual e cuidadosa, de
tal maneira que favoreça à inserção do

REVISTA DE EXTENSÃO DA UPE – REUPE. Recife: UPE, v. 4, n. 1, out. 2019. 61


Teatro do oprimido: metodologia de intervenção

aluno na comunidade e o cuidado com o


público a ser acompanhado. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fotografia 5: Registro feito pelo Prof. Marcos Para o grupo de extensão do curso de
Pablo em momentos de encontro do grupo de Psicologia do Centro Universitário
extensão.
UNIFAVIP I Wyden, a utilização das
técnicas de jogos e propostas
educacionais oriundas do “movimento do
oprimido” contribui, molda, ressignifica e
valoriza a atuação destes estudantes
como agentes de transformação e
realidade dos pacientes que estão em
acompanhamento. Dando sentido ao
“tratamento da vida e do ser”, promovendo
um olhar mais humanista às causas e
reafirmando a importância das técnicas
utilizadas pelo Teatro do Oprimido, para
A partir da prática do grupo de solidificação do ensino-aprendizagem que
extensão, com o projeto Teatro do ao longo destes anos, com a constante
Oprimido, a Prof.ª percebe que as utilização e aplicação do movimento, só
mulheres inseridas em contextos de aprimora e o promove como um
violência doméstica e/ou familiar, podem desenvolvedor de uma visão humanística,
vivenciar às oficinas e participar de todas onde aponta a importância e cuidado ao
as etapas previstas para a produção de ser humano envolvido nos processos.
cenas de teatro-fórum, que são As técnicas do Teatro do Oprimido,
executadas a partir da relação de sentidos também, promovem um novo sentido a
e significados que cada mulher todos aqueles que necessitam de apoio
participante exprime durante a moral ou físico para vencer as dificuldades
experiência que está sendo representada. encontradas para superar obstáculos
Julliany afirma que a partir dos relatos como a violência que diversas mulheres
dos alunos participantes, por meio das sofrem em seus ambientes familiares.
oficinas, as mulheres refletem sobre o seu Mostrando o poder que o olhar
lugar na relação e sobre sua condição de diferenciado e uma “voz ativa” poderá
vida atual. Através das vivências as transformar realidades. Além de reforçar a
mulheres passam a identificar elementos importância, entre os alunos do curso, que
psicossociais que estão disponíveis e que ministram as problemáticas do curso de
poderão favorecer a sua autoestima, extensão, como estes jogos e encenações
autonomia e gestão da própria vida. A são fundamentais e modificam vidas,
professora conclui que os alunos pensamentos e comportamentos.
participantes apresentam uma postura
ética e humanizada, principalmente, na REFERÊNCIAS
relação empática que eles estabelecem
com as mulheres durante a realização do 1. BOAL, A. Teatro do oprimido e outras
Teatro Fórum. poéticas políticas. 2. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1980.

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