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Nikolai Her Russian Protector-04
Roxie Rivera

Sinopse
Depois de um encontro com a morte como uma delinquente juvenil, Vivian jurou que nunca iria se
desviar por esse caminho novamente, mas há apenas um problema com seu plano para ficar no
lado certo da lei. Ela é completamente, de forma irrevogável e descaradamente apaixonada por
Nikolai, o chefe da máfia russa que salvou sua vida.

A partir do momento em que Vivian apareceu em sua vida na trágica noite de abril, Nikolai sentiu-se
indissoluvelmente ligado a ela. Ela é a luz brilhante em seu mundo escuro e a única coisa que o im-
pede de se aprofundar mais em uma vida de crime e violência, uma vida que o cerca e que não po-
de escapar, não importa o quanto tente.

Depois de Vivian ser arrancada de seus braços em um ataque surpresa, nada irá parar Nikolai na
luta para recuperá-la, mas salvá-la e mantê-la segura em seus braços não será o suficiente. De re-
pente, a única chance de Nikolai mantê-la segura é fazer a única coisa que jurou nunca mais fazer:
arrastá-la mais fundo em seu mundo sombrio, e a unir a ele para sempre.

Porque seus passados emaranhados estão prestes a se colidirem e a onda de choque ameaça fazer
o submundo criminoso de Houston cair de joelhos...

Tradução: Perséfone
Primeira Revisão: Perséfone
Segunda Revisão:Pandora
Revisão Final: Selene
Formatação: Afrodite
Disponibilização: Afrodite
Grupo Rhealeza Traduções

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Capítulo Um

Ofegante e com a respiração acelerada eu acordei. Piscando rapidamente, tentei


limpar meus pensamentos atrapalhados, em pânico. Passei a mão trêmula pelo meu rosto
e me sentei. Ainda confusa com o pesadelo, freneticamente olhei no quarto até que meu
olhar caiu sobre a luz perto da porta.

Era o mesmo sonho que me atormentava desde a noite em que tinha sido baleada.
Quase 11 anos se passaram desde aquela noite terrível de abril, mas as lembranças ain-
da estavam tão reais, tão vivas. Esfreguei as manchas no meu peito e barriga que doíam,
como dores fantasmas das balas rasgando minha carne.

Meu olhar saltou para a porta e eu meio que esperava que Lena viesse correndo
para o meu quarto para ver como eu estava. Mesmo que ela já tivesse se mudado do a-
partamento ha uma semana, eu ainda não tinha me acostumado a sua ausência. Depois de
vivermos juntas por tanto tempo, ia levar algum tempo para me acostumar a ficar sozi-
nha novamente.

Certa de que não seria capaz de dormir olhei para o relógio, era um pouco cedo
para começar a minha corrida matinal, mas não poderia ficar aqui neste tranquilo, apar-
tamento vazio com os meus pensamentos conturbados. Desliguei o meu alarme, sai da
cama e passei a minha rotina matinal.

Uma espiada pela janela me ajudou a escolher o que usar. Embora as ruas esti-
vessem secas agora, o clima de Houston poderia mudar em instantes. Fiz questão de
usar várias camadas de roupa por causa do frio do fim de dezembro e escolhi um casaco
de chuva com fita refletiva nas mangas e nas costas.

Com meu cabelo puxado em um rabo de cavalo alto e aquecedores de orelha con-
fortavelmente no lugar, embolsei meu MP3 player e fui para a cozinha. Meu olhar se
demorou na caixa ao lado da mesa da cozinha. Eu tinha encontrado várias coisas de Lena
e as coloquei em várias caixas, desocupando os armários. Quando ela voltasse de suas
férias de inverno com Yuri, eu tinha certeza que ela entenderia.

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Peguei minhas chaves, celular e guardei no bolso. Folheando as playlists no meu
iPod, escolhi uma mistura de música alternativa e música eletrônica, coloquei meus fo-
nes de ouvido no lugar. Os fones do MP3 se encaixam perfeitamente em meus aquece-
dores de orelha.

Fora, na manhã fria, estiquei meus braços ouvindo e bocejando algumas vezes.
Ajustei o volume da minha música antes de correr pela calçada em frente ao estaciona-
mento. Eu não estava surpresa quando dois faróis se acenderam em um SUV prata esta-
cionado na vaga de visitantes. Revirei os olhos em aborrecimento, mas acenei para o po-
bre cara que Nikolai tinha mandado para cuidar de mim hoje.

Essas eram as "regalias" de ter um mafioso russo como um guardião. Embora de-
testasse ser seguida a cada minuto do dia, entendi por que teria que ter esse SUV na
minha cola por um longo tempo. Esperava que as coisas voltassem ao normal para mim,
depois de Lena e Yuri sobreviverem à morte e o cartel Gusman liberar seu pai, mas não
foi assim.

Na última semana, tinha chegado a Nikolai a informação de que meu pai ia ser
solto em breve. Não saber a data exata de sua liberação me deixava nervosa. O que era
mais preocupante para mim. Ninguém sabia como ele conseguiu sair antes de cumprir a
pena. Um homem como meu pai não ia conseguir liberdade por bom comportamento. Só
de pensar o que ele poderia ter feito para conseguir isso, deixou meu estômago azedo.
Lá no fundo, sabia que ele iria encontrar uma maneira de me arrastar de volta para den-
tro da merda com ele.

Enquanto meus pés corriam o caminho de três quilômetros que já me era familiar,
deixei minha mente vagar. Ultimamente, meus pensamentos pareciam sempre retornar
para Nikolai. Nosso relacionamento era estranho e poucas pessoas poderiam entender.
Desde o momento em que ele apareceu na minha vida, naquela terrível noite de abril
quase 11 anos antes, ficamos para sempre entrelaçados.

Meu peito se apertou quando me lembrei da coisa estúpida que eu tinha feito. En-
tão, desesperada para ser amada por meu pai perdedor, deixei que ele me convencesse
a ajudá-lo a entrar em uma casa. Ele tinha jurado que os proprietários estavam fora da
cidade e que estávamos indo simplesmente roubar algumas jóias e dinheiro de um cofre.
Então ele ia me tirar de Houston, longe dos meus avós que estavam me sufocando, e que
me mantinham longe dele, e fora para uma nova vida onde nós estaríamos felizes.

Olhando para trás, eu não podia acreditar que tinha sido tão crédula. Mesmo com

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a tenra idade de onze anos, deveria conhecê-lo melhor. Inferno, talvez o conhecesse
melhor, mas estava tão emocionalmente traumatizada pelo suicídio de minha mãe que
não me importava. Eu só precisava desesperadamente acreditar que um dos meus pais
me amava o suficiente para me querer.

Mas a casa que tínhamos arrombado não estava vazia afinal. Alguém estava dor-
mindo lá. Alguém com uma arma. Alguém com uma mira muito boa. Alguém que atirou em
mim enquanto eu tentava fugir por uma janela do segundo andar com um capuz de pelú-
cia, com jóias e dinheiro, enquanto meu pai saiu correndo pela porta dos fundos. Meu
instinto me fez pular em queda livre da janela.

Corri para um cruzamento e tentei controlar as minhas emoções selvagens. Res-


pire. Apenas respire. Olhando para os dois lados, cruzei e pulei para o meio-fio. O aper-
to no meu peito diminuiu enquanto me lembrava de como Nikolai tinha salvado minha vi-
da. Enquanto meu podre pai covarde fugiu da cena, Nikolai e alguns dos vizinhos que ti-
nham sido despertados pelos tiros. Ele se ajoelhou ao meu lado, segurando minha cabe-
ça com uma mão e pressionando uma toalha enrolada na minha barriga e o sangramento
no peito com a outra até que os paramédicos e a polícia chegassem.

Mais tarde, quando acordei no hospital, soube que Nikolai e meus avós, na verda-
de, se conheciam da Rússia. Desse ponto em diante, ele tinha sido um personagem som-
brio na minha vida. Não foi até que a minha avó morreu durante meu último ano do ensi-
no médio e meu avô sucumbiu a um caso agressivo de Alzheimer que Nikolai saiu das
sombras e ofereceu sua ajuda e amizade.

Geralmente, as pessoas faziam duas suposições sobre o nosso relacionamento cu-


rioso. Alguns achavam que Nikolai tinha assumido o papel de minha figura paterna de-
pois que o meu pai tinha sido preso.

Ele não tinha.

Ou, achavam que a nossa relação tinha algum tipo de sórdido componente sexual,
distorcido.

Absolutamente não.

A verdade é bastante simples. Nikolai era o meu guardião. Não no sentido legal, é
claro, mas em um sentido mais amplo. Ele olhava por mim. Ele manteve o inferno das co-
nexões do meu pai com o Cartel Guzman e uma gangue de motoqueiros miseráveis longe
de mim.

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Quando precisei de um emprego, ele me ofereceu uma vaga como garçonete no
Samovar, o restaurante extremamente bem sucedido, de sua propriedade. As poucas
vezes que tive problemas com minha faculdade, ou seguros de saúde, ele tinha tomado
conta, sem que eu mesmo tivesse que pedir. Como ele sempre sabia quando eu precisava
de ajuda permanecia um mistério para mim.

Olhando para trás, reconheci que ele silenciosamente tinha intercedido em meu
nome em várias ocasiões. Ficou claro para mim agora que Nikolai tinha sido a fonte do
financiamento para pagar as mensalidades do ensino médio privado. Ele que pagou as
despesas médicas e o lar de idosos para meu avô. Ele até arranjou tudo para os funerais
deles.

Outros homens teriam feito os atos de bondade e caridade e esfregado na minha


cara, ou os usaria para explorar ou se aproveitar de mim, mas não Nikolai. Ele sempre
me manteve à distância de um braço, sempre assegurando que a minha honra permane-
cesse intacta e que a nossa amizade fosse irrepreensível. E isso me deixava louca.

Queria ser embrulhada pelos seus braços fortes, não constantemente mantida à
distância. Embora não tivesse coragem de dizer a ele como me sentia, estava absoluta-
mente certa, de que ele entenderia que minha paixão infantil tinha se transformado em
algo mais profundo, algo mais real. Às vezes, ele me olhava e eu jurava que podia ver o
mesmo desejo refletido em seus olhos verdes.

Mas, tão rápido como um flash, a necessidade aparecia e sumia, e eu ficava duvi-
dando de mim mesma. Talvez fosse apenas um caso de falsa impressão da minha parte.
Não querendo fazer uma idiota completa de mim mesma, tinha continuado a me apegar
apenas à proximidade da nossa amizade, sem nunca me atrever a dar um passo à frente.
A última coisa que eu não queria era afastá-lo, porque eu precisava dele. Entre todas as
pessoas no mundo, Nikolai era um dos poucos que podia realmente compreender minha
história e até onde eu chegaria na vida. Minha melhor amiga, Lena, chegou muito perto,
mas mesmo ela havia sido poupada dos piores horrores em sua infância. Ela tinha tes-
temunhado a violência das gangues, tráfico de drogas e tinha sido abandonada pela mãe,
ela sempre teve um pai que a amava.

Mas eu? Eu não tinha ninguém.

A doença mental não tratada da minha mãe a deixou incapaz de me amar ou cui-
dar. Quando não estava abusando de mim, ela me ignorava completamente, muitas vezes
ficando dias sem me alimentar. Meu pai tinha sido um pouco melhor, quando estava por

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perto, mas não era frequente. Ele tinha estado dentro e fora da prisão ou, envolvido
com os meliantes de uma gangue de motoqueiros, Calaveras, pela maior parte da minha
infância.

Eu não tinha conhecido a bondade ou amor, até que os pais da minha mãe tinham
tomado a minha custódia. Apesar de serem disciplinadores rigorosos, eles tinham me
regado com amor verdadeiro. Como eu estava emocionalmente destruída quando cheguei
na casa deles, me rebelei e lutei contra cada passo no caminho. Foi só quando escapei do
meu encontro com a morte, que acordei no inferno, que percebi o quão sortuda era de
ter duas pessoas dispostas a lutar tanto por mim.

Nikolai entendia o que era ser abandonado por seus pais. Ele entendia o que era
ser ferido e negligenciado pelas pessoas que deveriam amar e cuidar dele. Ele sabia
muito bem qual era a sensação de ter que ser escancarado, com um buraco de dor na
boca do estômago.

Quando estava servindo mesas no Samovar, gostava de ver as famílias felizes


desfrutando de um jantar no sábado á noite, com inveja. Embora finalmente tivesse co-
nhecido a felicidade, segurança e satisfação quando era adolescente, passei os anos
mais impressionáveis e vulneráveis da minha vida com amor e conforto. Mas, ver os pais
sorrindo alimentando seus bebês e mães colorindo junto com eles seus desenhos pré-
escolares, enquanto esperavam por suas refeições, me faziam sentir vazia.

Às vezes eu pegava Nikolai me observando. Nós partilhávamos um olhar silencio-


so. Nada tinha de ser dito. Era como se nós dois compreendêssemos instintivamente o
outro, ele insistia em me manter do lado de fora da parede de gelo que havia erguido
em torno de si mesmo.

Durante anos, Lena e Erin me incentivaram a deixar minha paixão por Nikolai ex-
travasar. Elas achavam que a minha atração por ele era fruto de velhos sentimentos de
adoração ao herói, mas elas estavam totalmente erradas. Não era simplesmente o fas-
cínio por um misterioso e perigoso homem mais velho que me atraia para ele. Não, era
muito mais do que isso.

Depois de conhecer Ivan e ficar de cabeça para baixo em um curto espaço de


tempo, Erin parecia ter finalmente compreendido o que eu estava sempre tentando ex-
plicar. Ela parou de insistir no meu amor não correspondido por ele. A nova relação de
Lena com Yuri, outro dos amigos de Nikolai, tinha suavizado sua opinião sobre a minha
posição insustentável.

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Elas finalmente pararam de arrumar encontros com caras mais agradáveis. Não
me interpretem mal. Na maioria das vezes, eu me divertia nos encontros. Eu tinha sido
abençoada com boa sorte no jogo de namorar. Embora tenha tido vários encontros du-
rante o meu primeiro ano de faculdade que, provavelmente, são os piores encontros, eu
me diverti muito.

Mas, nunca tinha sentido aquela centelha. Os beijos de boa noite eram menos do
que emocionantes e eu nunca queria um segundo, ou terceiro encontro. Nikolai tinha me
arruinado para qualquer outra pessoa. Embora soasse incrivelmente melodramático,
percebi que era Nikolai ou nada para mim.

Fazendo a curva final para o meu complexo de apartamentos, empurrei de lado


meus pensamentos tristes e olhei para o relógio. Eu fiz um bom tempo nesta manhã. A-
pesar de correr competitivamente no ensino médio, não possuía a força ou a inclinação
para fazer na faculdade. Consegui uma bolsa de estudo em artes ao invés de correr,
mas corria no parque para me manter em forma.

Enquanto corria até o portão do complexo, olhei por cima do ombro para ver se
SUV prata ainda me seguindo. Ainda estava escuro demais para eu identificar o moto-
rista claramente. Pelo tamanho do homem sentado atrás do volante, imaginei que era
Sergei, um dos funcionários de Nikolai. Do tamanho de um urso russo, que passava pelo
menos uma noite de sábado por mês lutando. Depois que Ivan havia se aposentado e se
afastado da multidão, Sergei havia tomado o lugar de Ivan como campeão de Nikolai. Se
eu tivesse que ter uma sombra, supunha que era melhor ter o filho mais cruel de uma
cadela de Houston me seguindo.

Depois de uma lenta volta de relaxamento em torno do complexo e um par de


trechos para aliviar a tensão em minhas panturrilhas e costas, comecei a descer a cal-
çada para o meu apartamento. Enfiei a mão no meu casaco para recuperar minhas cha-
ves. Com o MP3 tocando em meus ouvidos, não ouvi os passos atrás de mim, até que fos-
se tarde demais.

No momento em que uma mão tocou meu ombro, eu me apavorei, me virei e, ins-
tintivamente, dei um soco no meu suposto assaltante na boca.

—Fique longe de mim!

Um segundo mais tarde, percebi que tinha acabado de socar Eric, meu primo que
é um detetive Houston PD. Com os olhos arregalados de surpresa, ele colocou a mão na

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boca sangrando e cambaleou para trás. Eu tirei os meus fones de ouvido, libertando-os
a tempo de ouvi-lo gritar comigo.

—Droga, Vivian! Você tem as chaves na mão?

Olhei para as chaves ensanguentadas nos meus dedos. Minha mão doeu pelo im-
pacto, mas ignorei, pensando apenas no dano que tinha feito em Eric.

—Sinto muito! —Corri para frente e coloquei uma mão firme em seu ombro. —
Você está bem? Está muito ruim?

Ele baixou a mão e inclinou a cabeça para trás. Gotas finas de sangue apareciam
ao longo de sua mandíbula e pingavam sobre sua camisa.

—Já tive piores.

Corri para a porta da frente e a abri.

—Vamos lá. Vamos limpar você.

Enquanto ele me seguia até o apartamento, começou a rir.

—Os caras da central nunca vão me deixar esquecer isso. Só eu para ter minha
bunda chutada por uma garota.

—Eu realmente sinto muito. —Fechei a porta e o levei para a cozinha. —Eu não o
ouvi. Entrei em pânico.

—A culpa é minha. —Ele pulou em cima do balcão. —Eu deveria ter ligado para que
você soubesse que eu estava vindo.

Eu empurrei um pano de prato úmido em suas mãos.

—Coloque isso. Vou pegar um pouco de gelo.

Ele enxugou o rosto ensanguentado enquanto deixei cair o gelo em um saco plás-
tico e o envolvi em outra toalha.

—Como está? —Eu inspecionei seu lábio cortado e nariz sangrando. —Não está
nada bom. —Fiz um gesto para os riscos profundos acima seu lábio e ao longo de sua
bochecha. —Minhas chaves fizeram algumas marcas feias.

Balançando a cabeça, ele pegou o saco de gelo de mim e apertou contra seu rosto
machucado.

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—Você foi passar um tempo na academia do Ivan?

Eu sorri para sua observação.

—Não, eu realmente aprendi em um desses cursos de autodefesa que universida-


de dá a cada semestre.

—Você deve levar spray de pimenta quando for correr. —Ele estendeu a mão e
pegou o cabo do fone de ouvido do meu iPod. —E abaixe o volume disso. Deveria ter sido
capaz de me ouvir atrás de você.

Eu me senti envergonhada.

—Nikolai sempre pega no meu pé por causa da música. Ele me avisou que eu não
ouviria alguém se aproximar de mim. Acho que ele estava certo.

Eric apenas grunhiu com a ideia de Nikolai estar certo sobre qualquer coisa. Eu
não sabia a história completa entre os dois. Não era simplesmente a minha estreita re-
lação com o chefe da máfia russa que irritava Eric. Eu tinha a sensação de que tinha
algo a ver com uma menina, mas eu não estava brava ou curiosa o suficiente para per-
guntar.

Ele baixou o saco de gelo e segurou o meu olhar. Sua expressão preocupada me
gelou.

—Seu pai está livre.

Meus braços caíram.

—Quando?

—Ontem à noite.

—Mas, como?

Eric hesitou.

—Ele pulou fora.

Meu estômago revirou.

—Da Calaveras? Você tem certeza? —A cada pergunta, minha voz ficava mais rá-
pida e entrava em pânico. —Como você sabe? Talvez você esteja errado.

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—Eu não estou errado. Os presos que saem de uma prisão federal e vão para a
proteção a testemunha, não vão por bom comportamento.

Meu estômago revirou porcamente.

—Por que ele faria isso? Todos esses anos, ele colocou sua gangue de motociclis-
tas em primeiro lugar. Por que cair fora agora?

—Eu ouvi que há uma luta interna pelo poder na gangue. Um lado quer ficar com o
Cartel Guzman. O outro lado quer fazer novas alianças.

—O que o meu pai quer?

Eric encolheu os ombros.

—Sei lá. Ele está sempre apenas pensando em si mesmo. Tudo o que ele faz, no
final, é sempre pensando nele mesmo.

Outro pensamento horrível de repente me bateu.

—Mas, se ele entregou a sua gangue, eles vão querer encontrar uma maneira de
machucá-lo.
Sua expressão sombria confirmou meus piores medos.

—Ele não pediu sua proteção. Eu tentei falar com alguém da polícia federal, para
que você ficasse sobre custódia protetora, mas eles não confirmaram nem negaram que
seu pai está livre. E a polícia de Houston não tem orçamento para colocar um carro te
vigiando. Não até…

—Alguém tentar me matar. —Eu terminei por ele.

Ele se encolheu. Com um suspiro, ele confirmou:

—Basicamente. Eles têm que ser capazes de justificar as horas pagas em vigilân-
cia.

Como se estivesse tentando acalmar meus nervos em frangalhos, acrescentou ra-


pidamente:

— Olha, nós poderíamos estar errados. Talvez o clube não se importe com você. É
claro que o seu pai não se importa com você, certo? Então, por que machucá-la para lhe
enviar uma mensagem, se ele não dá a mínima?

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Embora as palavras de Eric fossem duras, ele não falou com malícia. Disse com
naturalidade.

—Porque eles são loucos? Porque eles têm um código de honra estúpido? Porque
eles vão ficar chateados? Porque eles vão querer enviar uma mensagem para cada mem-
bro de sua turma que ninguém está a salvo se saírem da gangue? —O frio do pânico a-
pertou meu coração. —Eric, o que diabos eu devo fazer?

Antes que ele pudesse me responder, uma batida forte ecoou no meu apartamen-
to. Nossos olhares saltaram para a porta da frente. Sem dizer uma palavra, Eric desceu
do balcão e puxou a pistola do coldre escondido debaixo de sua jaqueta. Ele me deu um
leve empurrão em direção a geladeira, assim ficava escondida pela porta aberta.

Agachada, eu prendi a respiração e esperei. Finalmente, ouvi um suspiro alto, o


som de uma mistura de irritação e alívio.

—Você pode sair. É ele.

—Ele? Nikolai.

Dei um passo para longe da geladeira apenas a tempo de ver Eric abrir a porta.
Ainda segurando a arma na mão, ele cumprimentou Nikolai com o cano de sua pistola.
Nenhuma palavra foi dita entre os homens quando eles se encararam.

Frio e calmo, Nikolai entrou no meu apartamento. Seu olhar girou em torno, até
que ele me encontrou. Seus olhos verdes me olharam. Vi sua mandíbula se apertar antes
de se virar para fechar e trancar a porta.

—Nós temos que conversar.

Eu tive um sentimento de naufrágio, isso ia ser uma conversa que eu não ia gos-
tar.

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Capítulo Dois

Respirando fundo, Nikolai conseguiu controlar o desejo de pegar o detetive San-


tos pelo pulso e colocá-lo de joelhos. Só a presença de Vivian o impediu de mostrar a
seu primo o quanto ele não gostava de ter uma arma apontada para seu rosto. Ele podia
apreciar o desejo de Santos em manter Vivian segura, mas apontar a arma para ele?
Essa era a maneira do detetive lembrar a Nikolai que estava no lado direito da lei nesta
equação.

—Eric? Sério? Abaixe essa arma já.

Vivian deu a volta no bar e na sala de estar. Ela abriu o zíper de sua jaqueta en-
quanto caminhava e encolhia os ombros. Quando ela estendeu os braços para tirar sobre
sua cabeça, a frente de sua camiseta levantou apenas, o suficiente para dar uma peque-
na amostra de pele.

Seu olhar se demorou mais do que deveria ter demorado, mas ele não conseguia
se controlar. Ele tentou não estar ciente de sua forma atraente nessas meias slim ou na
forma como os criminosos pequenos shorts que ela usava, mal cobriam a curva arredon-
dada de sua bunda, mas era impossível. Ela tinha há muito tempo enlaçado ele, o deixado
completamente indefeso, quando tentava ignorar seu corpo.

Apesar de seu esforço para ver Vivian como uma irmã mais nova e nada mais, ele
falhou espetacularmente. Em algum lugar ao longo do caminho, ele tinha caído perdida-
mente apaixonado por ela.

Ao contrário de Dimitri, que jurava que ele tinha se apaixonado por sua esposa,
Benny, a primeira vez que ela riu, Nikolai não conseguia identificar o momento exato em
que ele tinha se apaixonado por Vivian. Tinha acontecido tão lentamente que ele ainda
não tomou conta do perigo até que fosse tarde demais.

Mas ele não poderia amá-la. Ele não deveria amá-la. Vivian personifica a doçura e
beleza inocente, mas e ele? Oh, Nikolai personificava a escuridão e a violência do mun-
do. As manchas de seus pecados jamais seriam limpas e ele se recusava a manchá-la com
as suas transgressões.

—Vocês querem um pouco de café ou chá? —Ela tirou os sapatos. —Café da ma-
nhã?

Eric guardou a arma.

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—Eu não vou ficar muito tempo.

—Eu vou. —Chá, por favor.

Vivian voltou para a cozinha, mas ficou ao alcance para ouvir. Nikolai olhou para a
boca machucada de Santos.

—Que diabos aconteceu com você?

Ele lançou um olhar irritado para a cozinha e conscientemente esfregou o queixo.

—Eu acho que o minha prima frequentou aulas de luta, na antiga fábrica de em-
balagem de carne.

Nikolai endureceu com surpresa.

—Vivian bateu em você?

—Por acidente. —Ela gritou, de costas para eles enquanto ela enchia uma chalei-
ra.

Nikolai considerou a boca arrebentada do detetive, o nariz inchado e o arranhão


na bochecha.

—Isso não parece muito acidental.

—Eu tinha as minhas chaves na mão. — Ela explicou enquanto voltava para a sala
de estar. —Ele me pegou de surpresa e eu meio que reagi.

—Com um soco no rosto? —Ele fechou a distância entre eles e agarrou sua mão
esquerda. O mais leve toque de sua pele quente contra a sua, causou um arrepio elétrico
ao longo de seu braço até o peito. Gentilmente, ele inspecionou os nós dos dedos incha-
dos. Já sua pele escureceria com um hematoma. —Por que você não pôs gelo nisso?

Ela mordeu o lábio inferior carnudo.

—Bem, Eric estava sangrando.

—E depois que ele parou de sangrar?

—Você bateu na porta.

Agarrando o pulso, ele puxou-a para a cozinha. Ele viu um pano com gelo em cima
do balcão e deduziu que havia sido utilizada por Santos. Após trocar o pano de prato
sujo de sangue por um limpo, ele pressionou a bolsa de gelo contra os nós dos dedos in-
chados. Embora ele geralmente não tentasse tocá-la por muito tempo, esta manhã, ele
se permitiu desfrutar do simples prazer de segurar a mão dela e tratar de sua lesão.

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Eles estavam perto o suficiente para que ele pudesse sentir o cheiro de lavanda
fraco do xampu que ela usava. O calor do corpo subiu e ampliou o seu perfume. Apenas a
visão de Santos entrando na cozinha o impediu de mergulhar a cabeça e inalar o perfu-
me floral. Ele começou a estender a mão para limpar algumas das gotas de suor e em-
purrar seu cabelo atrás da orelha, mas ele flexionou os dedos em seu lado em vez disso.

—Você não deveria estar perfurando seus atacantes. Você deve fazer muito ba-
rulho e correr. —Ele tentou dar um curso de tiro e uma arma no seu último aniversário,
mas ela não queria uma arma. Em vez disso, ele finalmente a convenceu a levar spray de
pimenta. —Você estava carregando o spray de pimenta que lhe dei?

Ela se recusou a encarar o seu olhar interrogativo.

—É muito pesado e grande demais para o meu bolso.

—Vee. —Ele a repreendeu suavemente. —Se você insiste em correr no escuro,


você tem que levar algum tipo de proteção.

—Ok. —Sua voz soou frustrada.

Finalmente levantando o olhar, ela perguntou:

—Você está aqui por causa de meu pai, não é?

Ele confirmou sua suspeita com um aceno de cabeça firme e, em seguida, olhou
para Santos.

—Você já ouviu falar que ele entregou a Calaveras?

—Sim.

—Pode ser pior do que isso. Já ouvi rumores de que ele pode ter ido mais longe,
acusando o cartel por alguns crimes dentro da prisão.

Vivian engoliu em seco. Como se ela não tivesse sofrido o suficiente quando era
mais jovem, agora seu pai tinha que colocá-la em uma posição insustentável.

Nikolai não acreditava por um segundo que seu pobre pai se preocuparia de uma
forma ou de outra com a vida de Vivian. Ele já a tinha usado, como uma mula de drogas e
parceira em seus esquemas de roubo, quando ela era uma criança. Colocar sua vida em
perigo agora não seria nada para aquele homem.

Santos xingou e correu os dedos pelos cabelos.

—Eu tentei conseguir vigilância para ela ou até mesmo mantê-la em custódia, mas
eles não autorizaram. Não há nenhuma ameaça aparente.

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—Nenhuma ameaça? Que diabos a polícia quer? Uma cabeça em uma caixa de iso-
por?

Vivian visivelmente estremeceu. Ele se sentiu culpado. Então, esfregou o polegar


na parte inferior de seu pulso.

—Sinto muito.

Seus ombros saltaram.

—Você não está dizendo nada que não seja verdade.

—Olha...— Santos disse: —Eu concordo que o nosso sistema não é perfeito, mas é
o melhor que temos. Vou arrumar um lugar e levá-la para longe daqui até que essa coisa
acabe.

O coração de Nikolai apertou com a ideia de Vivian estar fora de sua vista e fora
de seu alcance. O aperto em seu pulso aumentou quando a possessividade o dominou.

—Ela não vai a lugar nenhum a não ser que esteja comigo.

Os olhos do detetive se estreitaram quando a raiva passou pelo seu rosto. —

—Você não tem que tomar decisões pela minha família. Eu sou um policial. Vou
protegê-la.

—E o que faz você pensar que o cartel ou a gangue dá a mínima para o emblema
que você carrega? Você já viu o que se passa ao sul da fronteira? O peso da polícia de
Houston não significa nada para estes homens.

—E para a máfia russa? —A mandíbula do detetive estava cerrada. —Como diabos


eu deveria confiar em um homem que ganha a vida negociando armas e drogas e seja lá o
que mais você negocia nesse seu restaurante, para proteger minha prima?

Apesar do fato do Samovar ser completa e totalmente legítimo, Nikolai não cor-
rigiu Santos sobre o restaurante.

—Se você confia em mim ou não, não é a questão. —Seu olhar caiu para o rosto
preocupado de Vivian. —Ela pode fazer a sua própria escolha.

Santos zombou em voz alta.

—Dá um tempo! Você tem ela enrolada em seu dedo sujo com tanta força que ela
não sabe o que precisa ou o que é mais certo.

—Desculpe? —Vivian virou olhos irritados em seu primo. —Quem diabos você pen-
sa que é? Você é meu primo, você é basicamente toda a família de sangue que me resta,

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mas eu não vou ficar aqui e deixar você falar de mim como se eu fosse uma criança es-
túpida.

—Eu não te chamei de estúpida ou de criança. —Santos respondeu: —Mas às ve-


zes você faz coisas muito estúpidas. —Ela engasgou com indignação, mas seu primo fa-
lou diretamente com ela. —Aquele carro lá fora? Você acha que eu não sei sobre isso?
Que diabos, Vivian? Por que você deixou esse cara comprar um carro com o dinheiro
sujo?

De repente, a chaleira começou a assobiar. Nikolai largou a mão de Vivian e a


desligou. Ele enfiou a mão no bolso e retirou as chaves do presente de Natal que ele
tentou dar a ela na manhã de ontem, o presente que ela recusou delicadamente a princí-
pio. Atirou-as na bancada onde aterrissaram com um ruído.

—Ela não aceitou o carro e não foi comprado com dinheiro sujo.

O detetive ignorou os fatos apresentados a ele.

—E o seu trabalho em seu restaurante? A taxa de matrícula paga? Seu seguro de


saúde? O estúdio de arte profissional que ele te deu? —Ele acenou com as mãos. —Você
entende o que isso parece no mundo exterior? Você percebe o que todo mundo pensa
sobre você? Sobre o que você é?

As palavras não ditas pairavam no ar entre eles, a feiura de tudo suspensa por
um fio. Nikolai tinha uma boa ideia do que pensava Santos. Ele tinha feito tudo o que
podia para manter a reputação de Vivian impecável, mas claramente falhou em algum
ponto. O que eles estavam dizendo sobre ela? A chamavam de sua amante ou algo pior?

Vivian não mordeu a isca.

—Eu sei o que eu sou, Eric. Isso é suficiente para mim. Todos os outros? Eles não
são problema meu.

Confundidos por sua resposta calma, Santos olhou para ela.

—Jesus, eu nunca pensei que você fosse tão ingênua.

—Chega. —Nikolai não gostava de se envolver em questões da família de Vivian,


mas teve que intervir, não podia permitir que seu primo a atacasse com acusações in-
fundadas.

Para provar seu ponto que Vivian era uma mulher mantida sob o polegar de Niko-
lai, Santos lançou lhe um olhar de desaprovação.

—Então, agora ele fala por você?

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—Você sabe que não. Pare de ser um idiota. Você não é, Eric.

Com um suspiro irregular, o detetive balançou a cabeça.

—É do caralho, me mata dizer isso, mas você precisa ficar com ele até que esta
coisa passe. Eu faria qualquer coisa para protegê-la, Vivian, mas não tenho o poder que
ele tem. Eu não posso te salvar disso.

—Talvez ninguém possa. —Respondeu ela, infelizmente, sua voz suave quase num
sussurro.

Uma dor invisível apertou o peito de Nikolai com o pensamento de seu sofrimen-
to.

—Talvez. —Santos concordou relutantemente. —Mas ele é a sua melhor chance.

Vivian virou os olhos azuis preocupados para ele, queria deslizar seus braços em
seu corpo pequeno e arrastá-la para seus braços. Ele queria sussurrar que ficaria tudo
bem, que iria mantê-la segura e fora de perigo.

Mas ele não fez. Ele mentiu para ela uma vez, apenas uma vez, e a dor que o cor-
roía nunca o deixou. Ele havia jurado depois daquela primeira mentira que nunca haveria
outra entre eles.

—Eu vou fazer tudo que puder para protegê-la.

Sua expressão se suavizou.

—Eu sei que você vai.

Se ele merecia a confiança, ela voluntariamente colocou em suas mãos, ele daria
sua própria vida antes de trair essa confiança.

O telefone de Santos começou a tocar. Ele arrancou do bolso de sua jaqueta e


franziu a testa antes de responder.

—Santos. —Ele arregalou os olhos por alguns instantes. —Quando? Sim. Okay.
Estarei lá em dez minutos.

—O que está errado? —Vivian perguntou quando seu primo terminou a chamada.

—Parece que os Hermanos e os albaneses estão na garganta um do outro nova-


mente. —Ele tirou um gorro estampado com o logotipo do departamento de polícia de
um bolso e colocou-o sobre a sua cabeça. —Eles encontraram o corpo de Afrim Barisha
dentro do porta-malas de um carro. Ele tinha o sinal da gangue Hermanos esculpida em
seu peito.

19
Vivian recuou.

—Isso é horrível.

Ela não sabia da missa a metade. Nikolai tinha intermediado a paz entre as duas
gangues no início do verão, logo depois que aquela confusão com a irmã de Erin tinha
sido resolvida. Ele mantinha seu dedo no submundo de Houston então ele estava plena-
mente consciente da rixa entre o líder da gangue Hermanos Diego Montoya e Afrim,
sobre a recusa do agiota em reduzir os juros de uma dívida contraída por um dos capi-
tães de Diego. Embora Diego fosse um cabeça quente, o homem não era um idiota. Não
fazia sentido os Hermanos matar o maior arrecadador dos albaneses e provocar uma ira
infernal em cima de suas cabeças.

Como um detetive da unidade especial, Santos sabia disso. Eles trocaram um o-


lhar, mas não falaram em voz alta o que eles estavam pensando. Este não era um simples
caso de violência entre gangues e não ia acabar com a morte de um homem.

Santos se aproximou e beijou o rosto de Vivian.

—Eu vou verificar você mais tarde. —Ele se dirigiu para a porta da frente e Vivi-
an o seguiu. Quando ele chegou, ele voltou-se para encará-la. —Sinto muito.

Ela sorriu e deu-lhe um abraço.

—Desculpas aceitas.

Nikolai maravilhou-se com a sua capacidade de perdoar e esquecer tão depressa.


Depois da forma como ela foi tratada por sua mãe e seu pai, ele teria esperado que ela
fosse muito desconfiada e uma especialista em guardar rancor, mas parecia determina-
da a nunca deixar a feiura de sua infância defini-la. Ele teve inveja de sua bondade. Só
Deus sabia que havia muito pouco disso nele.

Ela fechou e trancou a porta antes de lentamente virar para encará-lo. Inclinan-
do-se contra a porta, ela olhou para ele.

—Você realmente acha que as pessoas que o meu pai deixou putas vão tentar me
machucar?

—Sim. —Ele não hesitou em responder. —Se isso realmente iria afetar o seu pai
ou não, não é a questão. Sua motivação é o medo. Eles vão querer ter certeza de que
ninguém mais na organização tenha a ideia de pisar fora da linha.

Ela inalou uma respiração lenta.

—O que acontece agora?

20
Nikolai tirou o casaco e colocou-o sobre uma cadeira próxima.

—Você vai tomar banho e se vestir enquanto eu faço o café da manhã. Arrume
uma troca de roupa ou duas. Você vai precisar delas.

Ela piscou.

—Eu tenho que sair do apartamento?

—É impossível para Sergei e Kostya manterem um olho em cada entrada daqui. Há


muitos pontos cegos. —Ele cortou a mão no ar. —Você vai ficar comigo, então eu saberei
que você está segura.

Choque passou através de seu rosto.

—Na sua casa?

—Claro.

Pânico iluminou seus olhos. O que a assustou tanto sobre ficar sozinha com ele?

—Mas ….

Porque ela poderia se controlar, melhor em qualquer outro lugar no planeta, ca-
ramba, ele bateu o pé no chão.

—Isso não está em debate, Vee. Tome seu banho e arrume suas malas.

Seus ombros inclinaram para trás. Seu olhar ardente avisou para fazer o que di-
zia.

—Dizer por favor, seria bom.

Ele olhou-a com cuidado antes de inclinar a cabeça para ela.

—Por favor, não brigue comigo sobre isso.

Seus lábios cheios se abriram em um sorriso que parecia ser uma mistura de di-
versão e irritação.

—Como se eu já tivesse sido capaz de lutar contra você em qualquer coisa.

—Você lutou comigo por causa do carro e ganhou. —Ele tentou não deixar sua de-
cepção da sua rejeição de seu presente de Natal infiltrar na sua voz.

—Uma vez, em todos os anos que temos sido amigos. —Ela lembrou. —E eu não
disse que eu não gostava do carro ou apreciava a oferta. Eu só disse que era demais.

—Nada é demais para você.

21
Seus olhares se chocaram com o que as palavras dele significavam, mas manteve
o silencio. Para seu crédito, ela não forçou o assunto. Em vez disso, abriu porta e cami-
nhou em direção a seu quarto. Na porta do quarto, ela parou e olhou para ele:

—Há alguns bolos de Benny na geladeira.

Enquanto ela tomava banho e se vestia, ele preparou um café simples e mergulhou
chá em duas canecas diferentes. Enquanto fazia ovos, tentou ignorar o desejo dentro
dele. Esta cena doméstica tranquila o lembrava de todas as coisas que ele se negava
com Vivian. Eles continuamente disfarçavam sua atração mútua, ambos fingindo sorrisos
fáceis e provocações lúdicas e somaram pouco mais de uma amizade platônica.

Disse a si mesmo que ela era muito jovem, muito inocente e muito boa para ele,
mas o fato é que desde o primeiro momento que ele realmente abriu os olhos e a viu,
não como a criança que ele tinha assumido tutela, mas como uma mulher, não havia mais
ninguém para ele. Ele não conseguia olhar para outra mulher sem compará-la a Vivian.
Com esse cabelo escuro e os olhos azuis pálidos, ela o encantou de forma completamen-
te irrevogável.

Quando ouviu a porta do banheiro abrir, levou cada grama de seu autocontrole
para não olhar para o corredor em uma tentativa desesperada de ter um vislumbre dela
em uma toalha ou um roupão. Sua mente vagou por um caminho bastante lascivo.

E se ele caminhasse por esse corredor agora e batesse na porta de seu quarto?
Será que ela diria a ele para ir embora ou ela o convidaria a entrar? A própria ideia dela
enrolada em uma toalha macia e nada mais, enviou calor através de sua barriga.

Ele deslizaria os dedos pelo seu cabelo molhado e, em seguida, iria beijá-la. E ela
iria deixar. Ela gostaria de receber o toque sensual de sua boca contra a dela. Ela gos-
taria de receber o emaranhado erótico de suas línguas até...

—Você precisa de alguma ajuda?

A culpa se apoderou dele. Ele não tinha que estar fantasiando sobre ela, não ago-
ra, quando todo o mundo parecia cair sobre ela. Agora que estava vulnerável e precisava
ser protegida, não seduzida ou corrompida.

Ele olhou para ela, tendo diante dos olhos o seu cabelo úmido e jeans baixo. Uma
pequena espiada na pele entre sua camiseta de algodão e a parte superior da calça jeans
fizeram esfriar um pouco a sua luxúria furiosa.

—Não. Seu chá está pronto.

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Ela deslizou ao lado dele e pegou as duas canecas. Depois de colocá-las em cima
da mesa, ela pegou leite da geladeira. Ela serviu chá bastante vezes no restaurante pa-
ra saber exatamente como ele gostava. Até o momento que ele terminou os ovos, ela já
tinha colocado os talheres e pegado o bolo.

Quando eles tomaram seus assentos, ele esperou pacientemente enquanto ela
disse sua rápida oração, silenciosa, de agradecimento. Embora ela só tivesse sido apre-
sentada a sua fé Ortodoxa Russa quando ela se mudou para a casa de seus avós, Vivian
levava suas crenças muito a sério e parecia decidida a viver a sua vida de acordo. Ao
contrário de alguns crentes radicais, Vivian nunca forçava sobre o assunto. Pelo que ele
era eternamente grato.

Terminou com a sua oração, ela sorriu para ele.

—Obrigada, pelo café da manhã.

—São apenas ovos.

Ela deu de ombros e pegou o garfo.

—É bom partilhar uma refeição com alguém novamente. Eu estava tão acostuma-
da a ter Lena aqui todas as manhãs. Ainda é muito estranho comer sem o noticiário fa-
lando no fundo ou o celular tocando.

Ele olhou para a caixa do outro lado da mesa. Ela tinha marcado com o nome de
Lena.

—Você falou com ela desde que ela e Yuri viajaram para Moscou depois do casa-
mento de Dimitri?

—Ontem à noite. —Disse Vivian. —Aparentemente, Yuri a cobriu com presentes


de Natal. Ela ainda não tinha aberto todas as caixas quando nós conversamos.

—Eu não estou surpreso. Ele é absolutamente apaixonado por ela.

—E isso é uma coisa ruim? — Confusão em sua voz.

—É uma fraqueza.

Ela sentou-se e olhou para ele.

—Como você pode dizer uma coisa dessas, Kolya?

O som de seu apelido saindo de seus lábios fez coisas malucas para ele. A famili-
aridade fazia doer, por todas as coisas que ele não podia ter.

23
—Eu sei que não é um sentimento popular, mas é verdade. Amor é uma fraqueza
que é facilmente explorado.

Ela deixou cair o garfo e ele ruidosamente saltou em seu prato.

—Isso é besteira e você sabe disso.

Sua sobrancelha se arqueou com raiva.

—Essa paixão, o amor que Yuri sente por Lena quase a matou quando seu passado
veio bater à sua porta da frente. —Ele não mencionou que foi apenas seus contatos na
Rússia que lhe permitiu salvar os dois amantes antes que eles tivessem sido mortos. —
Foi à mesma coisa para Benny e Dimitri, Ivan e Erin.

—E nós? —Ela o desafiou a negar que ele se importava com ela. —Nós nos preo-
cupamos com o outro como os amigos fazem. Há o amor de amizade entre nós. Isso me
faz fraca? Isso te faz fraco?

Amor entre amigos? Não, o que ele sentia por ela era muito mais profundo.

Ele ignorou o olhar furioso e se voltou para o seu café da manhã.

—Você deve ter cuidado de fazer perguntas como essa. Duvido muito que você
vai gostar da resposta.

Quando ele se recusou a encontrar seu olhar intenso, Vivian empurrou a cadeira
para trás e começou a sair da mesa. Ele a prendeu no lugar com um olhar. Gesticulando
para seu prato, ele ordenou:

—Sente-se e coma.

Ela olhou para ele.

—Não me diga o que fazer.

—Então não se machuque tentando me punir. Eu não sou a pessoa que vai passar o
resto da manhã com fome.

Ela rangeu os dentes, mas caiu em seu assento. Pegando um dos bolos cheios de
frutas, ela deu uma desagradável grande mordida.

—Feliz agora, chefe?

Ao invés de repreendê-la por mastigar com a boca aberta, ele deu de ombros.

—Eu não estou infeliz.

Ela rosnou e estendeu a mão para seu chá. Depois de engolir, ela disse:

24
—Você é impossível, sabe disso?

Ele mordeu a língua. Não faria nenhum bem a qualquer um deles se ele dissesse a
ela como ela era enlouquecedora e quanto ele queria saltar sobre a mesa e pegar a boca
dela para beijá-la até sua submissão.

Certo de que precisava mudar de assunto, ele perguntou:

—Você vai pintar hoje?

—Sim.

—Está tudo pronto para a próxima exposição?

—A galeria está enviando mais um caminhão amanhã para as últimas peças. Vou
fazer uma verificação final em alguns dias, mas duvido que alguma coisa terá que ser
alterada. O layout que o Gustavo me mostrou estava incrível.

Ele adorava ouvir a emoção na voz dela quando ela falava sobre sua arte. De to-
das as coisas que ele já tinha feito por ela, a reforma do armazém para um estúdio ti-
nha sido o que mais significava a ambos.

—Você se importaria se Kostya permanecesse no estúdio?

—Será que eu tenho escolha?

Seus lábios se estabeleceram em uma linha sombria.

—Isso não tem que ser difícil, Vee. Você tem que se ajustar a uma nova rotina.

—Por quanto tempo?

—Enquanto for preciso. —Disse ele, sem querer dar uma previsão que poderia ter
que ser alterada continuamente. —Depois do restaurante, eu vou te levar para casa.

Ela balançou a cabeça e tomou um gole de chá.

— Eu não vou trabalhar hoje à noite.

Ele franziu o cenho.

—Você está na programação.

—Eu troquei ontem à noite com Sveta. Vou sair hoje à noite.

Seu estômago doeu com essas palavras.

—Para um clube?

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—Depois de jantar. —Ela confirmou. —O Faze tem um novo DJ que eu ouvi coisas
impressionantes, como estou escalada para trabalhar na véspera de Ano Novo, isso será
a minha comemoração de ano novo.

—Você vai sair em um grupo? —Ele expressou sua questão com cuidado e deses-
peradamente esperava que ela dissesse que sim. Ele viu um dos guarda-costas, que tra-
balhava para Dimitri a farejando nas últimas semanas. O ex-fuzileiro naval parecia que-
rer fazer mais do que apenas proteger o corpo de Vivian.

—Apenas alguns amigos. —Disse ela. —Sabe? Bianca, Nadya, Kelly, um dos seus
irmãos e alguns caras que conhece.

—E Sergei. —Completou. —Ele realmente gosta de clubes assim e você vai levá-lo
com você esta noite.

—Tudo bem. —Ela abriu um sorriso malicioso. —Eu tenho um toque de recolher?

Ele resmungou e estendeu a mão para o chá.

—Você é uma mulher adulta. Eu confio em você para saber quando terminar a noi-
te, mas, lembre-se, que Sergei tem que trabalhar amanhã.

—Fazendo o quê, exatamente?

Ele pegou e segurou o olhar dela. Logo depois que ela começou a trabalhar no Sa-
movar, Vivian se atreveu a perguntar se ele realmente era o chefe da máfia russa de
Houston. Ele disse a ela a verdade absoluta, uma verdade que ele nunca tinha confirma-
do a qualquer outra pessoa. Embora todo mundo soubesse o que não era algo que fosse
de propriedade pública.

—Acho que esta cai no grupo de perguntas que você pode não gostar da resposta,
Vee.

Ela revirou os olhos e levantou-se da cadeira.

—Como se eu não soubesse?

Talvez ela soubesse. Talvez não. Ele não queria dizer mais do que ela precisava
saber.

—Eu vou lavar os pratos. Você termina a mala.

—Sim, senhor. —Ela concordou.

A olhou sair da cozinha, com o olhar colado ao balanço sensual de seus quadris.
Ela nem sequer percebia o efeito que tinha sobre os homens. Se ela soubesse, Nikolai
não tinha dúvida de que ela teria encontrado uma maneira de usar para tirar vantagem.

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Em vez disso, ela passava pela vida sem nunca realmente compreender o que um de seus
doces sorrisos fazia a um homem.

Enquanto ele recolhia os pratos, Nikolai se perguntou o que era mais perigoso pa-
ra ele. A possibilidade muito real de problemas com a gangue de motociclistas Calaveras
e o Guzman Cartel ou Vivian viver em sua casa e dormir no mesmo corredor que ele?

Ele apostava em Vivian.

27
Capítulo três

—Só mais uma bebida e depois vamos. —Bianca prometeu enquanto ela me arras-
tava em direção ao bar VIP exclusivo, no andar de cima do Faze. Com a minha amizade
com Yuri e Lena, tinha acesso à área VIP, algo que o meu pequeno grupo de amigos sol-
teiros amaram.

Desde que minhas amigas mais próximas tinham namorados, comecei a gostar
mais de sair com outros amigos. Era divertido me reunir com Erin, Lena, Benny e seus
homens uma vez por semana para jantar, mas eu sempre me sentia deslocada. Com Bian-
ca, uma amiga do colégio, era mais fácil desfrutar da vida noturna de Houston.

Em algum ponto da noite, Kelly Connolly, um segurança de meio período no Faze e


um agente de segurança da empresa de Dimitri, se juntou o nosso pequeno grupo. Ele
conhecia o irmão mais velho de Bianca, que voltando da escola se juntou a nós. Hoje à
noite, ele convenceu, Marinhos e Finn que era seu irmão mais velho, a sair com a gente.

Olhando para trás no nosso grupo de amigos, os vi se esmagando entre os que


dançavam na pista. Nadya, uma garçonete de Samovar, liderava o grupo, seus quadris
balançando com a batida do hip-hop. Dois de meus amigos de faculdade se juntaram ao
nosso grupo na porta da frente do clube.

Finn Connolly movia-se em um ritmo ligeiramente mais lento. Eu ainda estava sur-
presa com o quão bem ele dançava. Eu tinha percebido seu mancar, pouco perceptível,
de um ferimento de guerra, mas eu não tinha percebido que ele tinha perdido a metade
inferior de sua perna direita em combate, até que seu jeans tinha subiram um pouco
durante o jantar e eu tinha visto as hastes de metal escondidas.

Como Kelly, Finn tinha servido em várias missões como fuzileiro naval. Eu tinha
certeza de que o irmão mais velho, Jack, tinha feito o mesmo. Aparentemente, era uma
tradição familiar, trabalhar na academia que os três irmãos tinham recentemente her-
dado de seu pai doente. Eu tinha ouvido através de comentários que o velho estava com
enorme dívida por causa de seu vício em jogos de azar, mas eu não era intrometida ou
corajosa o suficiente para perguntar a Kelly se era verdade.

—Essa DJ é boa! — Bianca tomou um gole de bebida. —Ela parece ter doze anos!

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Eu só conseguia distinguir uma jovem na cabine de DJ do nosso local na seção
VIP. Ela não parecia ter doze, mas, parecia mais jovem do que eu. —Eu acho que é por-
que ela é pequena.

—Bem, eu não entendo nada disso. —Disse Bianca, com uma risada e fez um gesto
para seu corpo pequeno. Ela era uma fashionista feroz, que possuía suas curvas de ta-
manho Plus e seguia blogs sobre moda para meninas maiores, desde o colegial. Ela tinha
estado em Nova York por três anos em uma escola de design, antes de ser chamada pa-
ra casa depois que sua mãe sofreu um derrame. Ela agora tinha uma boutique de noivas
e começou recentemente a vender seus próprios projetos de vestido de noiva.

Eu invejava sua confiança. Ela fazia ser sexy parecer muito fácil. Hoje à noite,
ela usava um vestido de estilo bandagem que abraçou suas amplas curvas perfeitamen-
te. A cor dourada cintilante do tecido destacou sua pele escura lindamente. O batom
escuro em seus lábios e a sombra dourada nas pálpebras acentuava sua boa aparência.
Ela havia recebido olhar apreciativo de dezenas de homens esta noite. Com muita natu-
ralidade.

Um homem em particular parecia incapaz de afastar o olhar dela. Eu peguei Ser-


gei observando-a da extremidade oposta do bar. Ele se enturmou bem com o nosso gru-
po esta noite, mas deixou claro que ele não estava lá para se socializar. No restaurante,
ele sentou-se entre Kelly e Finn e juntou-se a conversa, mas, uma vez que nós chegamos
ao Faze, ele ficou atrás para manter o olhar melhor em mim.

—O que há com alto, moreno e russo? —Bianca tomou um gole de sua bebida sua-
ve. —O que ele faz? Tem dois metros de altura?

Eu ri e mexi nos cubos de gelo em meu mojito com um canudo.

—Ele é realmente alto. Mais alto que Ivan, isso não é pouca coisa.

—Então, o ele faz? Quero dizer, você sabe, quando não trabalha para o chefe. —
Ela balançou as sobrancelhas.

—Ele é dono de parte de uma empresa de construção. —Ela me lançou um olhar


de descrença.

—Juro. —Eu disse com uma risada. —Alguns desses caras têm interesses em ne-
gócios legítimos.

—Tipo?

—Lava rápidos, concessionárias de veículos, salões de beleza, spas, clubes de S-


tripp…

29
Ela fez uma careta.

—Desagradável.

Revirei os olhos.

— Eu devo trazer alguns em sua festa de aniversário? Esses dançarinos seminus


são strippers famosos.

—Isso é diferente. Eu gostaria desses pedaços de carne sexy por uma noite. Eu
não pago minha hipoteca balançando minha bunda na frente de homens estranhos para
viver. —Quanto tempo você acha que vai ter a grande sombra do russo?

—Eu realmente não sei. Pode ser por um longo tempo.

Seu rosto era uma máscara de preocupação, ela tocou minha perna.

—Eu sei, você me disse de seu primo e Nikolai, acho que eles podem mantê-la se-
gura, mas, garota, eu tenho amigos em Manhattan. Se você precisar sair da cidade, você
diz uma palavra e eu encontro um lugar para você ir.

—É uma oferta tentadora. —Eu empurrei a hortelã esmagada contra a lateral do


copo com o canudo. —Mas essas pessoas poderiam me achar lá tão facilmente quanto
eles podem chegar a mim aqui. Talvez ainda mais fácil. —Eu acrescentei com um arrepio.
—O fato é que eu realmente não pertenço aos russos, a gangue de motociclistas ou ao
cartel.

Bianca fez uma careta.

—O que significa isso? Você é meio russa. Nikolai, a colocou debaixo de sua asa.

—Não é a mesma coisa que ser parte da família. Meus avós não faziam parte des-
se grupo. Eles mantiveram seus narizes limpos, sabe? Minha mãe cortou todas as liga-
ções com a família ao se casar com o meu pai, que em seguida, a fez fraudar a identida-
de, cartão de crédito e cheque, para seus esquemas de roubo.

Tentei descobrir a melhor maneira de explicar a ela.

—Se eu fosse tipo, filha de um dos membros da família, os caras que meu pai tra-
iu não se atreveriam a vir atrás de mim. Eles sabem que os russos cairiam sobre eles
como o fogo do inferno, mas eu não sou.

Enquanto ela considerava minha explicação, uma série de gritos irromperam da


pista de dança. Nós duas nos levantamos e corremos para a grade, para que pudéssemos
ver o que era aquela confusão. A DJ cortou a música com um grito alto. Gritando em seu

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microfone, ela incitou a multidão a se acalmar e se afastar do bar, mas todo mundo es-
tava correndo para frente, para ver melhor.

A briga começou perto do bar. Quatro ou cinco homens estavam batendo uns nos
outros. Seguranças estavam tentando abrir caminho através da multidão de corpos na
pista de dança lotada, mas era bastante difícil se mover na multidão. Finalmente, uma
barman com calças de couro apertadas e um top pulou para fora e levantou um balde
cheio de água suja. Ela atirou o sobre os homens os esfriando.

Até agora, três seguranças haviam chegado aos lutadores. Big V, o touro maciço,
agarrou dois homens pela nuca e os arrastou para as portas dianteiras. Seus colegas
rapidamente seguiram o exemplo.

Vi Kelly de pé ao lado do bar e segurando a mão dele, uma jovem mulher em um


pequeno mini vestido rosa, que parecia ter ido dançar lá em cima. Pelos olhares que tro-
cavam, ficou claro que eles conheciam. Ele olhava furioso e ela parecia envergonhada.
Será que ela tinha sido a causa da briga?

Um zelador saiu correndo com um esfregão e o barman pulou sobre o balcão para
ajudá-lo a recolher as toalhas molhadas e limpar a bagunça. Quase imediatamente, a DJ
começou a tocar novamente e os foliões retornaram à sua dança. Na verdade, foi um
pouco

estranho ver como rapidamente tudo voltou ao normal.

—Tudo bem, senhoras, é hora de ir. —A voz baixa de Sergei, sumiu sob a música.

Eu me virei para vê-lo segurando nossas bolsas e casacos em suas grandes mãos.
Ele usava uma expressão que me disse que argumentar não adiantaria. Com um suspiro
dramático, peguei minha bolsa de sua enorme mão.

—Tudo bem.

Segurando a bolsa e o casaco de Bianca debaixo do braço, ele balançou o meu ca-
saco e me ajudou a vestir. Enquanto eu abotoava, ele ajudou Bianca deslizar os braços
em sua jaqueta. Eu notei o jeito que ela olhou para ele e deu alguns passos rápidos longe
de Sergei. Eu não conseguia entender se ela fez isso por mal estar genuíno ou para cor-
tar qualquer atração crescente pela raiz. Eu sabia que ela e Sergei definitivamente não
se encaixam no mesmo molde.

—Vamos lá. —Disse ele com um movimento dos dedos. —Eu vou te levar para casa.

—Eu vou pegar um táxi. —Bianca respondeu.

—Está frio e tarde. Você virá conosco. —Sergei, ordenou.

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Ela olhou para mim com uma expressão um pouco confusa.

—Eles são sempre mandões assim?

Eu sorri para Sergei.

—Ele é bastante inofensivo em comparação com alguns outros.

Ela balançou a cabeça e puxou a bolsa para longe do alcance de Sergei.

—Bem, vamos Hulk. Leve-me para casa.

Ele olhou para ela como se quisesse dizer alguma coisa. A forma como seus lábios
tremeram, com o pequeno indício de um sorriso, confirmou que era provavelmente algo
escandalosamente inadequado. Ele era inteligente o suficiente para saber que Bianca
não era o tipo de garota que iria deixá-lo fugir com ela.

Encaminhou-nos para frente, usando seus ombros largos, de tamanho intimidante,


para criar uma passagem segura através da pista de dança lotada. Nós conversamos com
nossos amigos e trocamos abraços e beijos rápidos antes de sair do Faze.

Lá fora, no frio da noite, eu tremia quando um sopro de ar frio passou em torno


de minhas pernas nuas. A temperatura parecia ter caído vinte graus enquanto estáva-
mos no clube. Eles estavam prevendo que uma tempestade de inverno chegaria em pou-
cos dias, mas parecia ter chegado um pouco mais cedo.

Segura dentro da SUV de Sergei, ele saiu do estacionamento do Faze para as ru-
as movimentadas. Inclinei-me e digitei endereço de Bianca no GPS. Começou a chuviscar
quando saímos do centro da cidade para o bairro histórico, onde Bianca morava. A casa
que Nikolai tinha comprado alguns meses antes estava na mesma área, de modo que a
viagem não nos desviaria muito do nosso caminho.

Quando Sergei dirigia pelas ruas mais estreitas, o telefone começou a tocar. Ele
pegou do bolso, mas eu roubei de sua mão com uma careta.

—Você não pode falar e dirigir!

Ele franziu a testa para mim e tentou pegar o telefone, mas eu bati em sua mão.
Bianca riu no banco traseiro.

—Crianças, precisamos encostar?

Sorrindo, eu respondi a chamada.

—Olá?

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—Vee? — Nikolai pareceu surpreso. —Por que você está atendendo ao telefone
de Sergei? Onde diabos ele está?

—Acalme-se. Ele está dirigindo. Nós estamos deixando minha amiga em casa.

—Quando você deixar sua amiga, diga a ele para trazê-la para o armazém.

Seu tom de voz era estranhamente duro, me preocupou.

—O que está errado?

—Alguém vandalizou seu estúdio. —Sua relutância em dizer foi clara. —Eu sinto
muito. Eu deveria ter alguém aqui.

—Não é culpa sua. —Meu coração doía e meu estômago azedou quando eu imagina-
va o que os meliantes haviam arruinado no meu estúdio. Meu olhar saltou para o para-
brisa. A casa de Bianca já estava a vista. —Eu vou te ver em 15 minutos, mais ou menos.

Depois que terminei a chamada, olhei para Sergei.

—Alguém entrou no meu estúdio. Nikolai quer que você me leve pra lá.

Suas mãos apertaram em torno do volante.

—Sim. Okay.

—Hum, o que está acontecendo? —Bianca se inclinou para frente e apontou para
si mesma. —Não falo russo, lembra?

Eu não tinha percebido que eu falei em outro idioma.

—Sinto muito. —Eu dei um sorriso de desculpas. —Alguém vandalizou o meu estú-
dio.

—Oh, não! E seus quadros? Oh, eu espero que eles estejam bem. Você quer que
eu vá com você?

—Não, isso provavelmente vai me manter acordada a noite toda. Você tem noivas
que vem atrás dos seus acessórios de última hora, de amanhã. —Eu apertei sua mão. —
Mas eu realmente agradeço a oferta.

O SUV continuou até parar diante de sua casa. Sergei apontou para mim.

—Você fica aqui. Eu já volto.

Antes que Bianca pudesse protestar, dizendo que não precisava ser acompanhada
para dentro, Sergei já tinha a porta aberta e um guarda-chuva a espera. Ela parecia

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perturbada por suas atenções, mas permitiu acompanhá-la até a porta da frente e vê-la
em segurança lá dentro.

Depois de colocar o guarda-chuva no banco de trás, ele deslizou atrás do volante.


Eu queria provocá-lo sobre Bianca, mas decidi deixar passar, esta noite. Eu não queria
dar esperanças a respeito dela. Havia uma coisa que ela jurou que nunca faria, sair com
qualquer cara do submundo. Depois do que tinha acontecido com o irmão dela, eu enten-
dia essa regra.

No momento em que cheguei ao armazém que Nikolai tinha convertido em estúdio


para mim, já haviam dois caras na frente tentando pintar as palavras sujas que haviam
sido escritas com tinta spray na fachada. Meus lábios se separaram com um suspiro
chocado quando percebi o que tinha sido escrito lá.

Os vândalos haviam marcado a parede com a palavra informante em Inglês e Es-


panhol. Havia inúmeras tatuagens de gangues mal desenhadas, também. Alguém familia-
rizado com o idioma russo havia rabiscado, prostituta, em letras cirílicas. Eles haviam
traduzido desajeitadamente, mas o significado era claro o suficiente.

Sergei praguejou. Eu ainda estava vendo toda aquela feiura, quando minha porta
foi aberta. Um olhar para o rosto furioso de Nikolai e eu sabia que eu estava na merda.
Ele veio, soltou o cinto de segurança, me puxou para a direita, fora do meu assento e
para a calçada. Segurando firmemente meu braço, ele me levou para o armazém e subiu
as escadas para o meu estúdio escancarado. A porta bateu atrás de nós, o som ricoche-
teou como tiros na sala grande.

—Qual é o seu problema? —Eu perguntei quando estávamos seguros, longe da vi-
são e da audição de seus guarda costas.

Ele não me soltou, mas seu aperto afrouxou. Eu vi a culpa imediatamente piscando
em seus olhos. Embora ele não tivesse sequer chegado perto de me machucar, eu senti
que ele estava com raiva de si mesmo, por agir como homem das cavernas comigo.

—Quando você ia me dizer?

Eu tentei ler a expressão dele, mas não consegui. Ele estava definitivamente cha-
teado, mas não consegui saber com o que. Ele estava desapontado comigo? Será que ele
estava se sentindo traído? —Contar o quê?

—Sobre as pinturas. —Ele rosnou e apontou com o braço para as telas na extre-
midade oposta da sala.

—Oh! —O pânico tomou conta de mim. —Bem, eu queria fazer uma surpresa.

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—Surpresa? —Suas sobrancelhas se ergueram.

—Eles são o meu melhor trabalho. Eles são provocantes, sombrios e…

—Provocante? —Ele me cortou no meio da frase. —Eu pensei que eu deixei bem
claro quando você veio me perguntar sobre minhas tatuagens. Que foi que eu lhe disse
Vee?

Lembrei-me da conversa estranha de três anos atrás, quando meu fascínio com
tatuagens de gangue tinha começado. Silenciosamente, eu respondi:

—Você me disse para esquecer e não ir cavando as histórias dos homens com ta-
tuagens, porque eu não ia gostar das coisas que descobriria.

—E o que você fez? —Ele caminhou até a parede oposta e começou a sacudir as
telas penduradas de modo que cada uma ficasse momentaneamente visível. —Você criou
uma mostra de arte de tatuagens que são evidência de crimes violentos!

Ouvi sua respiração profunda quando ele chegou a tela de Kostya.

—E isto...? —Ele parou em descrença. —Eu vou torcer o pescoço dele, maldição.

—Você vai se acalmar? Quero dizer, sério! Elas são apenas pinturas, Nikolai. Eles
são minhas interpretações das histórias desses homens e mulheres e suas tatuagens.

—Acalmar? — Ele apontou para a parede. —Você não viu a sujeira exposta? Você
não acha que essas interpretações vão chatear um monte de gente? Você acha que Be-
sian vai ficar feliz quando vir às costas de um dos seus capitães pendurada em uma ga-
leria de arte no centro?

Engoli em seco nervosamente enquanto eu considerava o que o chefe da máfia al-


banesa poderia pensar sobre a história que seu capitão tinha me contado sobre essa
tatuagem em particular.

—É apenas arte.

—Não é apenas, qualquer coisa, Vee. Nada neste mundo meu é simples ou preto no
branco. Uma estupidez, uma coisa idiota, pode matar um homem. Olhe para essa bagun-
ça entre o agiota e o Hermanos! —Passou os dedos em seu pescoço em um movimento de
corte rápido. —Isso provavelmente foi causado por algo tão estúpido como uma discor-
dância de juros sobre um empréstimo.

Decepcionado e irritado comigo, Nikolai murmurou com raiva e começou a folhear


as telas programadas para serem levadas para a galeria amanhã. Quando chegou a últi-
ma, a que eu tinha mantida coberta com um pano, corri para frente para impedi-lo. De-
pois da forma como ele reagiu às outras, eu percebi que está iria deixa-lo enfurecido.

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—Não! Não, essa não!

Mas já era tarde demais.

Ele puxou o pano e ficou congelado. Cambaleando para trás, ele colocou a mão no
peito. Por um momento, eu pensei que ele realmente ia ter um ataque cardíaco.

—Kolya?

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Capítulo Quatro

Com a garganta apertada e uma torção no seu interior, Nikolai lutou contra o pâ-
nico que ameaçava seu controle. O que era aquela pintura, porra!

Ela tinha pintado a noite que ela tinha sido baleada. A janela quebrada, os vidros
cobertos com o seu sangue, o peito do homem que tinha puxado o gatilho. Ela pintou o
corpo do homem todo embaçado, exceto o seu peito tatuado. Ele supôs que era pelo
trauma, com onze anos de idade, seu cérebro só tinha guardado essa grande parte do
atirador.

Ele olhou para Vivian, viu a preocupação contorcendo seu belo rosto. Será que ela
sabia? E se ela tivesse de alguma forma finalmente conseguido lembrar mais? Ou, esta
imagem era uma parte de suas memórias? Com a voz rouca, ele finalmente disse:

—Você não pode expor essa.

Suas palavras pareciam sacudi-la para fora de seu estupor.

—Mas eu construí a exposição inteira em torno desta peça, ela é o centro de tu-
do.

—Eu não me importo. Esta não vai sair do estúdio. —Ele olhou ao redor procuran-
do alguma coisa, qualquer coisa, para destruí-la. —Essa não pode existir.

Ela correu para frente e colocou seu corpo entre ele e a pintura.

—Porra nenhuma, que vai destruí-la!

O choque de ouvir sua maldição deixou a ele momentaneamente sem palavras.

—Você tem alguma ideia do que você está arriscando com isso? —Ele procurou as
palavras certas. —E se alguém reconhecer essas tatuagens?

—Ótimo! —Ela gritou estridentemente. —Espero que alguém as reconheça. Espe-


ro que alguém aponte o bastardo que me acertou com uma 9 milímetros e me mandou
voando para fora da janela do segundo andar.

Apesar de ter mantido a compostura aparentemente, por dentro ele se encolheu


com a raiva e a sinceridade em sua voz. O que ela diria se ele se abrisse e lhe dissesse a
verdade? A horrível, sórdida, porra da verdade? Ela o odiaria. Ela iria desprezá-lo. Ela
fugiria dele e deixaria a sua vida para sempre.

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Ele morreria. Ela era tudo o que o segurava, tudo o que o impedia de ir completa-
mente para a escuridão do submundo e ficar lá. Por ela, ele tentava andar em uma linha
muito fina e mantinha sua equipe fora das sórdidas maneiras mais desagradáveis de ga-
nhar dinheiro. Apesar de traficar armas e narcóticos, que não eram coisas das quais se
orgulhava, eram muito mais limpas do que o tráfico sexual que alguns dos outros sindi-
catos da cidade faziam.

Passando os dedos pelos cabelos, ele tentou fazê-la entender.

—Vee, tanta coisa aconteceu desde aquela noite. Você não pode carregar isso.
Você tem que deixá-la ir.

Ela rangeu os dentes e bateu o pé como uma criança.

—Eu estou tão cansada de ouvir isso de você. Essa é a sua resposta para tudo e
eu tenho que me conformar com ela.

—Vee…

—Não, você não vai me convencer a fazer o que você quer. Desta vez, não. —Ela
passou as mãos na frente dela. —Eu trabalhei tão duro para conseguir estas peças to-
das juntas.

Seu interior torceu, quando ele percebeu o que isso estava fazendo com ela e
como ele a estava machucando.

—Eu sei que você trabalhou.

—Eu não estou falando apenas sobre a pintura. Desde a criação do conceito, de
encontrar os temas, em seguida, conseguir expor na melhor galeria em Houston, são
centenas de horas de trabalho, estudando e pintando. —Ela furiosamente socou o ar
entre eles. —Você não vai estragar isso. Vou fazer esta exposição com todas as pintu-
ras.

Ele pensou que nunca em sua vida existiria alguma coisa que ele negaria a ela, mas
ele estava errado.

—Não, você não vai.

Ela cerrou os dentes.

—Eu quero ver você tentar me impedir.

—Não me obrigue Vee. —Ele deixou a dureza que ele usava para manter seus ho-
mens na linha se infiltrar na sua voz. Foi a primeira vez que ele se atreveu a usar esse

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tom com ela, ele se arrependeu imediatamente. Ele nunca tinha visto tanta fúria estam-
pada em seu belo rosto.

Sem um segundo de aviso, ela saltou para frente e bateu com as duas mãos con-
tra o peito dele. Perdendo o equilíbrio por seu ataque surpresa, ele cambaleou para trás
e mal conseguiu evitar cair no chão depois de tropeçar em um banquinho.

Respirando com dificuldade, perguntou:

—E agora?

Nikolai endireitou lentamente.

—Você pode me bater chutar, gritar e ter um ataque, mas você não vai colocar
essa pintura na exposição. Fique feliz que eu não estou colocando um ponto final na
coisa toda.

Ela se irritou agora, seu rosto vermelho e os olhos brilhando com lágrimas não
derramadas.

—Te odeio.

Ele estremeceu, quando suas palavras furiosas lhe bateram como um tapa na ca-
ra.

—Eu sei.

O queixo dela caiu.

—É isso? Eu sei. Isso é tudo que você tem a me dizer?

Ele não sabia mais o que dizer. Um doloroso silêncio se estendeu entre eles. Fi-
nalmente, ela exalou asperamente e enxugou os olhos. Sem outra palavra, ela girou nos
calcanhares e caminhou em direção à porta. Seus saltos altos batiam contra as tábuas
de madeira, batendo nele como pregos em seu coração.

Com cada passo, ela aumentou a distância entre eles. Ele queria ir atrás dela, pa-
ra agarrá-la pelos ombros e girá-la para que ele pudesse beijar seus lábios, com o beijo
que ele tinha tanto tempo negado a ambos. Ele queria esmagar sua boca e beber em sua
doçura até que não conseguisse mais respirar. Ele queria dizer a ela que sentia muito,
que ele odiava o quão complicada sua vida havia se tornado, que ele queria dar a ela
qualquer coisa e tudo no mundo, que ele faria qualquer coisa para fazê-la feliz. Mas, a
mentira entre eles o impediu de se mover.

Em vez disso, ele olhou para a pintura que ameaçava estragar tudo. Por que, de-
pois de todos esses anos, ela tinha que pintar sua lembrança daquela noite?

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O som dos berros de Sergei o tirou de seus pensamentos conturbados. No ins-
tante seguinte, ele ouviu Vivian gritando. Rosnando com frustração, Nikolai passou a
mão pelo rosto e correu para fora do estúdio. Quando ele desceu as escadas, a voz irri-
tada de Kostya entrava na briga. Ele percebeu que Vivian estava se recusando a entrar
na SUV de Sergei.

Até o momento, Vivian estava na calçada. A garoa fria caía mais constante agora,
tornando difícil vê-la na névoa fria. Ele atirou a Kostya um olhar de consternação.

—O que foi agora?

—Ela se recusa a ir para casa com você. Ela nos disse para colocar fogo ao arma-
zém e queimar tudo lá dentro, porque ela nunca vai pintar de novo.

Ele gemeu com seu melodrama. Desempenhar o papel de artista torturada parecia
vir naturalmente dela.

—Dê-me as chaves do caralho.

Kostya jogou o conjunto de chaves do sedan preto contra a palma da sua mão.

—Tenha cuidado, chefe. Ela já bateu em Sergei.

O homem do tamanho de um urso esfregou o braço e fez uma careta.

—Eu acho que ela tem um tijolo nessa bolsa de maldição.

Xingando, Nikolai entrou no carro preto e ligou o motor. Ele se sentia ridículo
correndo na rua atrás dela e pedindo para entrar no carro. Ela parou para tirar seus
sapatos de salto altos e correu descalça no frio e na calçada molhada. Onde diabos ela
pensava que estava indo, ele não tinha ideia.

—Vee! —Ele gritou o nome dela pela janela a abaixada. —Pare de ser boba e entre
no carro.

—Me deixe em paz! —Ela jogou seu sapato no capô do carro e deixou uma marca
feia na pintura que ia deixar Kostya fora de si.

—Isso não vai acontecer e você sabe disso. —Seu olhar saltou entre ela e a es-
trada. Ele estava grato pois esta área era quase toda dele e quase vazia. Não havia trá-
fego para atrapalhar. —Qual é o seu plano, Vee? Vai a pé todo o caminho de volta para o
seu apartamento?

—Talvez, ela respondeu de volta com raiva. Segurou sua bolsa enquanto ela anda-
va. —Ou talvez eu só vá chamar Erin. Ela vai mandar Ivan vir me pegar.

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—E depois? Huh? Vai arrastar Erin nessa confusão com seu pai? —Ele jogou o
carro no acostamento e saltou do banco do motorista. Desesperado para fazê-la sair do
frio, ele implorou: — Por favor, Vivian, entre no maldito carro. Vamos para casa e con-
versaremos sobre isso.

—Não há nada para falar, Nikolai. Você acha que pode simplesmente dar ordens e
latir para mim, mas isso não é sobre o restaurante e eu não sou parte de sua família.
Você não consegue mandar em mim.

Ele exalou bruscamente.

—Você está certa. Sinto muito.

Ela virou a cabeça para estudá-lo.

—Você está realmente sentido? Ou você está apenas dizendo isso porque você
quer que eu pare de causar problemas e entre em seu carro.

—Ambos. —Admitiu. Seu olhar caiu sobre seus pés descalços. As luzes da rua i-
luminava cor turquesa brilhante sobre as unhas dos pés. —Você vai ficar com hipoter-
mia e perder os dedos dos pés.

Ela revirou os olhos.

—Aqui não é a Sibéria.

Juntando as mãos na frente dele, ele implorou:

—Por favor. Entra no carro?

Ela ainda tinha o outro sapato na mão. Ele se perguntou se ela pretendia acerta-
lo com ele ou se era o suficiente amassar o capô do carro.

—Tudo bem. Tanto faz. Apenas me leve para casa.

Ele não ia lembrá-la, que ela estava voltando para casa com ele. Depois, quando
ela estava afivelada com segurança em seu assento e não conseguiria fugir, ele tinha
certeza que ela se lembraria de que concordou em ficar com ele.

—Obrigado.

Sem pedir a permissão dela, ele a pegou nos braços e colocou-a no banco do pas-
sageiro. Ela não molhou a parte coberta com o casaco, mas suas pernas e pés estavam
encharcados e gelados. Ele abriu o porta-luvas e encontrou uma pilha de guardanapos
das redes de fast food que Kostya frequentava.

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—Eu posso fazer isso. — Ela tentou detê-lo quando ele apertou os guardanapos
em sua mão.

—Eu faço isso. — Agachou-se ao lado da porta aberta, Nikolai fez um rápido tra-
balho de secar os pés frios e pernas nuas. Consumiu cada grama de seu auto controle
para não deixar que suas mãos deslizassem ao longo de sua sedosa pele mais que o ne-
cessário.

Quando isso foi feito, ele amassou os guardanapos sujos e enfiou-os no bolso de
sua jaqueta. Ele fechou a porta e voltou alguns metros para pegar o sapato no meio da
estrada.

Olhando para trás no armazém, ele avistou Kostya e Sergei que o observavam di-
vertidos. Pela manhã, a história do que aconteceu esta noite seria aumentada e deveria
ser muito diferente da verdade, ele teria que suportar. Em sua experiência, os homens
eram o piores em espalhar esses tipos de histórias.

Quando ele sentou no banco do motorista, el sentiu o ar quente do aquecedor.


Era bom contra sua pele gelada.

—Obrigado.

—Tanto faz. — Ela manteve o olhar fixo na janela do passageiro.

Com um suspiro cansado, ele se afastou do meio-fio e voltou para a estrada. O si-
lêncio sufocava, mas ele não sabia o que dizer para melhorar tudo.

—Eu sempre pensei que você fosse diferente.

Ele franziu o cenho.

—Diferente como?

—De todos os outros. —Disse ela em voz baixa. —Todos supõem que eu sou algum
bebê ingênuo, emocionalmente danificado que precisa ser mimado, mas eu pensei que
você me via de forma diferente.

—Eu sei que o que aconteceu com você quando era pequena não a define. Você so-
breviveu a mais do que a maioria das pessoas pode imaginar, e a respeito ainda mais por
isso.

—Mas você não confia em mim para tomar minhas próprias decisões. — Ela final-
mente se virou em seu assento para olhar melhor para ele. —Eu sabia exatamente o que
estava fazendo quando comecei essa série de pinturas. Tive cuidado. Fiz questão de
destruir todas as minhas anotações. Eu só tirei fotos do pescoço para baixo. Tudo o que
me foi dito, foi dito em confiança.

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—Eu não tenho dúvidas de que você foi cuidadosa, Vee. Às vezes, ser cuidadoso
não é suficiente.

—Eu estou tão cansada dessa vida. —Ela esfregou o rosto. —Eu estou tão cansa-
da de toda a minha vida ser ditada pelos erros estúpidos que meus pais cometeram e
estas regras insanas. —Ela fez um som irritado. —Talvez Bianca estivesse certa. Talvez
eu devesse deixar Houston.

O medo tomou conta dele, mas ele empurrou para baixo a emoção egoísta. Ele
sempre apenas queria o melhor para ela. Embora o fizesse sentir como suas entranhas
estivessem sendo arrancadas, ele disse:

—Talvez você deva considerar isso.

Seu olhar estalou em seu rosto.

—Você quer dizer que realmente quer que eu vá?

Eles estavam se aproximando de um cruzamento agora.

—O que eu quero não é importante. Nunca foi.

—Isso não é verdade. Eu...

—Merda!

No último segundo possível, ele percebeu os faróis brilhantes correndo em dire-


ção a eles enquanto eles atravessaram o cruzamento. Pensando apenas em Vivian, ele
estendeu o braço para segurá-la contra o assento. O impacto no SUV que bateu na
frente do carro girou o deles violentamente. Em meio a pedaços de metal e vidro estou-
rando, ele ouviu o grito aterrorizado de Vivian. O som o gelou até o osso.

Quando o carro finalmente parou, ele piscou e tentou limpar sua mente atordoa-
da. Ele colocou a mão na têmpora doendo e sentiu o sangue escorrendo por sua pele. O
gemido de dor de Vivian chamou sua atenção. Ele torceu o cotovelo tentando segurá-la
no lugar. Agora ele latejava terrivelmente. Dobrar o braço seria quase impossível.

Vagamente, estava ciente de outros carros correndo, seus pneus cantando quan-
do eles pararam, mas ele estava focado exclusivamente em Vivian. Ela fez uma careta
de dor, mas parecia completamente ilesa. Seu olhar turvo procurou em seu corpo por
qualquer indício de sangue, mas não encontrou nada.

—Moy Angel. — Ele pegou a mão dela. —Você está bem?

—Acho que sim. —Respondeu ela em um sussurro. Ela piscou algumas vezes e vol-
tou seu olhar em direção ao seu rosto. Seus olhos se arregalaram com pânico súbito.

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Sua mão voou para fora e agarrou a frente da camisa. Quando o puxou para ela, ela gri-
tou, — Nikolai!

Um segundo depois, algo muito duro bateu na janela atrás de sua cabeça. Um
martelo? Um pé de cabra? Ele não tinha certeza.

Alguém tentou abrir a porta do carro, mas o impacto do SUV tinha amassado a
porta. Passos pesados soaram no teto e no capô do carro. Uma marreta empunhada por
um homem de preto bateu contra o para-brisa. Estilhaços de vidro explodiram ao redor
deles, quando o para brisa quebrou.

Ele estendeu a mão para Vivian e arrastou-a para abraçá-la. Ele passou os braços
em volta dela em uma tentativa desesperada de não deixar o vidro voando cortar o seu
rosto e pescoço. Ela soltou o cinto de segurança e se enterrou na segurança de seus
braços, escondendo o rosto contra o peito e chorando de medo.

Uma multidão de homens desceu do carro, Nikolai ouviu tiros à distância. Kostya
e Sergei? Ele esperava que eles pudessem alcançar o carro a tempo de ajudá-los a fugir
desse ataque relâmpago.

Os homens fora o carro começaram a liberar passagem no para brisas, ele esten-
deu a mão sob o casaco e pegou sua arma carregada.

—Tape seus ouvidos.

Vivian correu para cumprir sua ordem, colocando suas pequenas mãos contra os
ouvidos. No momento em que o para-brisa ficou totalmente livre, ele disparou contra o
primeiro homem que veio à tona. Cambaleando para trás e apertando o peito, o homem
caiu sobre o capô e caiu sobre a calçada. Outro homem tomou seu lugar e Nikolai dispa-
rou de novo, conservando cuidadosamente suas balas até que a ajuda chegasse.

Mas não foi o suficiente.

A janela atrás dele estava livre. Uma série de golpes na parte de trás de sua ca-
beça o surpreendeu. Quatro mãos agarraram seus ombros e braços. Na confusão, a ar-
ma foi derrubada de seu alcance. O grito de Vivian ecoou na noite quando ele foi puxado
pela janela. Os cacos de vidro rasgaram suas roupas e em sua pele.

Ele assistiu com horror quando três homens tentaram agarrar Vivian. De alguma
forma, ela conseguiu pegar o spray de pimenta de sua bolsa. A julgar pelos gritos de dor
e os sons de tosse ele entendeu que ela os tinha atingido, pelo menos dois deles.

Recusando-se a ser dominado com tanta facilidade, Nikolai girou e chutou até
que conseguiu libertar-se das garras dos homens que o haviam arrastado pela porta.

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Com um movimento rápido, ele puxou a faca que tinha no coldre em sua bota e empunhou
ameaçadoramente.

Ele esteve em brigas na prisão o suficiente, armados apenas com estiletes, para
saber como esta luta contra cinco homens terminaria. Ele teria a sorte se sobrevivesse,
mas ele faria o que fosse preciso para ganhar tempo suficiente para Kostya e Sergei
chegarem a Vivian e levá-la em segurança.

Dois dos homens rapidamente se dirigiram até ele. Baseando-se no instinto e a-


drenalina, Nikolai esfaqueou e abaixou para evitá-los. Ele acertou um na mão, dirigindo
sua lâmina através da palma do homem, arrancando um grito gutural da garganta do ata-
cante. Empunhando a lâmina, ele voltou sua atenção para o outro homem. O ferido caiu,
mas outro rapidamente tomou seu lugar, estava carregando um pedaço de cano.

Se preparando para o impacto doloroso, Nikolai se recusou a abaixar. No fundo,


ele ouviu gritos e Vivian lutando contra os homens tentando puxá-la para fora do carro.
O cano acertou o braço e o ombro, enquanto ele testemunhava Vivian sendo tirada para
fora através do buraco onde estava o parabrisas. Seu grito de pânico quebrou sua con-
centração, dando aos seus agressores a abertura que eles precisavam.

O homem atingiu o cano do lado da cabeça de Nikolai. A dor que o cegava o dei-
xou de joelhos. Uma bota acertou no queixo e depois em seu estômago. Arrastando-se
no chão, ele tentou forçar seu corpo golpeado a se mover, mas os golpes do cano e bo-
tas tornava isso inútil.

Enquanto o sangue escorria em seus olhos e nublava sua visão, ele viu, impotente,
dois homens arrastarem Vivian para um SUV, como em câmera lenta. Ela chutava e gri-
tava, mas não conseguia se libertar. Seus olhares se encontraram na distância intrans-
ponível agora entre eles. Rolando para o lado, ele ergueu a mão em uma tentativa deses-
perada, mas inútil de alcançá-la.

—NIKOLAI!

Seu grito aterrorizado de repente foi abafado, quando seus sequestradores con-
seguiram levá-la para o SUV. O veículo partiu, levando a mulher que ele amava mais do
que qualquer coisa no mundo.

Um chute com raiva arrancou um gemido de dor de sua garganta. Outro golpe no
ombro acertou suas costas novamente. Um dos assaltantes se abaixou e fincou a pró-
pria faca de Nikolai em seu ombro. Ele engasgou, mas a dor do corte da lâmina através
do músculo era nada comparada com a agonia esmagando sua alma, sabendo que ele tinha
falhado com Vivian.

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—Jesus, não era para matá-lo. —Um dos homens mascarados afastou o homem
que havia esfaqueado Nikolai. —Vamos.

Os atacantes e seu pessoal começaram a trocar tiros. Os assaltantes entraram


no SUV que ficou para trás, deixando o veículo batido, mas, levaram os feridos com e-
les. Kostya e Sergei finalmente chegaram ao seu lado.

Caindo de joelhos, Kostya pegou Nikolai pela cintura e arrastou-o para fora da
estrada. Os homens gritavam ao redor, mas ele não conseguia entender nada que dizi-
am. Sua cabeça ferida não entendia uma única palavra, após os golpes que ele recebeu.

Segurando a mão de Kostya, ele rosnou:

—Eles a levaram. Eles levaram minha Vivian.

—Nós vamos pegá-la de volta.

Enquanto Kostya gritava para Sergei conseguir uma porra da ambulância, Nikolai
lutou para permanecer consciente. O sangue escorria de seu corpo e ensopava sua ja-
queta e empoçava torno das pernas de Kostya. Nikolai sentia uma dor excruciante que
acompanhava cada respiração. Ela o lembrava que ele ainda estava vivo, e se estava vivo,
poderia buscá-la de volta. Ele tinha que conseguir.

E os homens que tinham levado sua bela e preciosa Vivian sentiriam a verdadeira
agonia.

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Capítulo Cinco

Ivan detestava hospitais, quase tanto quanto odiava delegacias. O aroma cítrico
dos produtos usados para esterilização traziam à tona as terríveis lembranças das mui-
tas lesões violentas que ele tinha sofrido em sua vida. Ele distraidamente esfregou o
lado esquerdo do abdômen lembrando o calor abrasador que uma faca com ponta de na-
valha causou o rasgando.

Este hospital no centro de Houston era muito melhor do que as terríveis e infer-
nais enfermarias da prisão, que ele tinha visitado com muita frequência, mas, ainda o
deixavam rangendo os dentes. Nos últimos meses, ele tinha passado muito tempo nesses
lugares. Primeiro, tinha sido a irmã de Erin, depois Dimitri e Yuri. Felizmente, eles ti-
nham todos sido liberados, ou fugido no caso de Ruby, dentro de um dia ou dois, mas e
Nikolai? Ele estava muito mal, porra.

Mas o sortudo tinha a cabeça mais dura que todo o mundo e graças a Cristo por
isso! Nikolai devia ser o único homem, que poderia sobreviver a um espancamento com
um tubo e não sair com danos cerebrais. Ele teve uma concussão cerebral, costelas que-
bradas, rins feridos e um número de cortes que exigiam extensa sutura. Ele viveria,
mas ele ia ter dezenas de novas cicatrizes para adicionar às outras inumeráveis já que
pontilhavam seu corpo tatuado.

Mas Nikolai não encontraria conforto em sobreviver ao terrível ataque.

As entranhas de Ivan se contorciam enquanto tentava imaginar o que Nikolai sen-


tiria quando ele acordasse e lembrasse que Vivian tinha sumido. Apenas o pensamento
de homens encapuzados roubando sua Erin fazia Ivan querer vomitar. Ele passou a mão
sobre o peito, enquanto o seu coração doía imaginando Erin sendo arrancada dele e le-
vada para um lugar desconhecido.

Seu olhar mudou-se para a forma adormecida de Nikolai. Era tarde da noite e o
hospital estava muito tranquilo, exceto pelos bips contínuos das máquinas de monitora-
mento cardíaco e da pressão sanguínea de Nikolai. Mesmo durante o sono, o rosto de
seu amigo estava sofrido e fechado. Será que ele estava sonhando com o ataque? Será
que ele estava sonhando com ela?

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Quando Nikolai finalmente acordasse, haveria um inferno para controlar. Kostya
tinha conseguido manter os homens sob controle até agora, mas Ivan duvidava que ele
pudesse segurar os sanguinários, capitães e soldados enfurecidos muito mais. Eles que-
riam justiça pelo ataque a Nikolai e o sequestro de Vivian. Kostya foi inteligente o sufi-
ciente para saber que atacar indiscriminadamente só iria causar mais derramamento de
sangue e problemas. Os homens estavam calmos no momento, mas um movimento errado
e tudo explodiria.

Embora ela não fosse tecnicamente parte da família, os homens que serviam a
Nikolai amavam Vivian e a consideravam uma deles. Enquanto a deliciosa comida prepa-
rada pelos chefs do Samovar lhe lembravam de casa, era o brilhante sorriso de Vivian,
bondade e doçura que traziam à gente de Nikolai para o restaurante novamente e no-
vamente.

Como Ivan, a maioria desses homens tinha assumido que, eventualmente, Nikolai
iria parar de brincar de protetor e assumir Vivian como sua. Estava claro para todos,
mesmo os que trabalhavam com ele, que Nikolai precisava dela. Ivan realmente não ti-
nha entendido o que atraiu Nikolai na direção de Vivian até que ele conheceu Erin, então
tudo fez sentido.

Às vezes, até para a mais escura das almas é necessário o equilíbrio de uma boa e
pura mulher. Erin havia trazido tanta doçura e luz para sua vida. Ivan só podia imaginar
o quão desesperadamente Nikolai desejava o que ele agora tinha cada dia e cada noite
com Erin.

Para os homens de Nikolai, a ideia de que alguém se atreveu a levar a mulher pro-
tegida de seu chefe, a mulher que todos esperam que um dia assuma o papel de matri-
arca da família, os enfurecia. Eles tinham a sensação de que nenhuma de suas esposas,
filhos ou namoradas estavam em segurança. As regras foram quebradas da maneira
mais violenta e agora alguém tinha que pagar. Se Nikolai não acordasse logo e trouxesse
as coisas de volta sob seu controle, toda a cidade seria capaz de explodir em violência e
caos.

—Hey! —Dimitri chamou baixinho da porta do quarto de Nikolai.

—Eles estão prestes a nos expulsar, até de manhã.

O olhar preocupado de Dimitri caiu sobre Nikolai.

—Será que ele terá alta?

Ivan balançou a cabeça.

—Você falou com Yuri?

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Dimitri assentiu.

—As tempestades de neve irão mantê-los em Moscou por mais alguns dias. Ele
está tentando manter Lena calma, mas ela está ameaçando caminhar da Rússia até aqui.
Ele ofereceu uma quantia obscena de dinheiro para obter informações sobre o ataque
ou o resgate de Vivian. Kostya tem seus homens espalhando sobre a recompensa nas
ruas.

Se alguma coisa pode motivar o submundo da cidade a falar, era o dinheiro.

—Vamos esperar que funcione.

—Já passou quase 24 horas e não há pedido de resgate. Se isso não funcionar, se
alguém não falar, eu não sei como nós vamos encontrá-la. — Dimitri hesitou. —Se ela
ainda estiver viva.

Ivan se desesperou com o pensamento de Vivian estar morta. Erin a amava muito
e a considerava uma irmã. Ele não sabia se ela se recuperaria do horror de perder Vivi-
an.

—Ela está viva. Ela tem que estar.

Dimitri olhou para o corpo imóvel de Nikolai.

—Deus nos ajude se ela não estiver.

De olhos vendados e nua, abracei meus joelhos apertados contra o peito e tentei
acalmar meus dentes batendo. Eu não conseguia me lembrar da última vez que tinha
sentido este frio. Meus ouvidos se animaram ao som de sapatos pesados batendo contra
concreto. O eco era semelhante ao do meu estúdio, então eu achava que tinha sido leva-
da a algum armazém ou fábrica abandonada, havia muitos desses em volta de Houston.

Eu não podia absolutamente dizer com certeza quanto tempo tinha passado desde
que tinha sido tão violentamente arrancada de Nikolai e jogada nesse SUV. Eu pensava
que fosse um dia, talvez dois. Uma vez que esses monstros tinham me metido no veículo,

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eles me picaram com uma seringa cheia com algum tipo de sedativo. Algum tempo de-
pois, acordei com os olhos vendados e nua nesta jaula estranha.

Não era um espaço muito grande. O meu quadrado era minúsculo, e não poderia
esticar minhas pernas totalmente. Eu tentava mudar minha posição sempre que meus
músculos começavam a ter cãibra. Quando os guardas me deixavam sair da jaula para
usar o banheiro, eu aproveitava a chance de esticar as pernas. A humilhação de fazer
minhas necessidades enquanto me assistiam, era quase demais para suportar, mas pelo
menos eles me deixaram usar um banheiro, não um balde ou coisa pior. A venda ajudava
a aliviar o meu constrangimento. Pelo menos eu não tinha que olhar para eles.

Eu tinha sido alimentada duas vezes, uma vez com um hambúrguer frio e depois,
um sanduíche de ovo e um muffin. Ambas às vezes uma garrafa de água tinha sido em-
purrada pelas grades da jaula. Mesmo estando com muita sede, cuidadosamente racionei
a água. Eu não tinha certeza de quantas vezes ocorreriam estas entregas de alimentos.

Enquanto ouvia os passos se aproximando, tentei diminuir minha respiração, em


pânico. Minha nudez e a cegueira forçada só aumentavam o meu terror. Eu tentei uma
vez e apenas uma vez remover minha venda, mas um homem que cheirava a cigarros ti-
nha atingido meu braço com algum tipo de dispositivo de choque, um choque com força
suficiente para me fazer ganir e chorar. Tremendo, toquei as marcas de queimadura
profundas que o dispositivo tinha deixado na minha pele. Desde então, estava apavorada
em fazer algo errado, para que não me atingisse novamente.

Os passos se aproximavam mais e mais, até que finalmente pararam. Eu viria a


reconhecer os sons dos diferentes homens que estavam me mantendo cativa. Este ho-
mem, aquele com os passos pesados, desajeitados, nunca falou. Eu ouvi o farfalhar de
tecido, quando ele se agachou fora da minha gaiola. Embora eu não pudesse vê-lo, eu
podia senti-lo me olhando, me olhando.

—O que ele queria?

As possibilidades me encheram de medo. Sozinha nesta gaiola, eu tinha muito


tempo para pensar sobre o que poderia acontecer comigo. Se fosse muito, muito sortu-
da, os homens que tinham me levado pediriam resgate e me devolveriam para Nikolai.
Ele moveria céus e terra para conseguir o dinheiro para me ter de volta. E se eu esti-
vesse sem sorte? Bem, não havia fim para os cenários horríveis que a minha cabeça as-
sustada tinha imaginado desde que fui sequestrada.

Eu tentei me convencer de que o melhor cenário, ser resgatada por Nikolai, ia


acontecer. Olhando para trás, podia ver agora, que vandalizar o armazém tinha sido uma

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armadilha. Tinham nos atraído para a rua vazia, sabendo que iríamos ter que atravessar
e estaríamos expostos.

Foi o clube de motoqueiros que meu pai tinha delatado que nos atacou e me se-
questrou? Foi o cartel? Eu não sabia, e isso me assustava. Se eu tivesse alguma noção
da identidade dos meus captores, poderia ser capaz de chegar a um plano ou uma ma-
neira de tentar negociar com eles, fazê-los me ver como um ser humano, inocente.

Um estalar de dedos me assustou. Mais dois conjuntos de passos ecoavam na sala


grande agora. Eles se dirigiram direto para a minha gaiola. Uma chave girou na fechadu-
ra. As dobradiças da gaiola chiaram quando a porta foi aberta. Uma mão grande entrou
na gaiola e agarrou meu braço. Engoli em seco quando os dedos apertaram a minha pele.

Como um cão de rua, fui arrastada para fora da gaiola e jogada no chão. Meus jo-
elhos bateram no chão de concreto tão duro que a minha mandíbula tremeu. Eu deixei
um gemido de dor escapar dos meus lábios antes de apertá-los fechados. Eu não ousava
mostrar mais fraqueza.

Uma mão enrolada no meu cabelo me levantou. Eu gemi, mas consegui silenciar o
grito doloroso de dor que tentou sair da minha garganta. Outro, este mais suave e deli-
cado, segurou meu queixo. Embaixo do mau cheiro de cigarro agarrado ao guarda, eu
senti um leve aroma de cravo. O homem na minha frente, com a mão no meu queixo,
cheirava a especiarias. Ele não disse nada, mas podia sentir seu olhar penetrante sobre
o meu corpo nu.

Sem aviso, a mão enrolada no meu cabelo mudou-se para a minha nuca. A mão
grande apertou meu pescoço e fui empurrada para frente. Aqueles dedos terríveis do
guarda rasparam na minha pele enquanto estava sendo meio empurrada e meio arrasta-
da por algum espaço aberto. Com medo de cair ou tropeçar, coloquei minhas mãos na
minha frente para ter equilíbrio, mas eles rapidamente as abaixaram novamente.

A porta rangeu à frente. Os ecos de nossos passos tornaram-se mais suaves e eu


percebi que estava em um corredor. Meus pés descalços corriam pelo concreto em uma
tentativa desesperada de acompanhar meus captores.

Enquanto caminhávamos pelo corredor, me tornei consciente de vozes femininas.


Em meio aos sussurros, ouvi os sons mais suaves de choros e gemidos. Havia mais mu-
lheres sendo mantidas em gaiolas? Que diabos era esse lugar?

E então eu entendi. Eu não tinha sido sequestrada. Eu estava sendo traficada!

Porque Lena assistia ao noticiário todas as manhãs, eu tinha ouvido tudo sobre os
casos de tráfico sexual que estavam acontecendo desde o verão. Os federais e a polícia

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local tinham descoberto redes de tráfico e invadido bordéis móveis. Tinham libertado
dezenas de jovens mulheres, muitas delas menores de idade, que tinham sido traficadas
de Houston para o Sudeste da Ásia e da Europa Oriental.

Meu estômago embrulhou ao perceber que estava para ser vendida, estuprada e
brutalizada. Rapidamente, meus instintos de sobrevivência tomaram conta de mim. Eu
tinha que sair daqui. Eu não era muito forte, mas era rápida e poderia correr para longe
sem me cansar. A primeira chance que tivesse de me afastar desses animais, eu tenta-
ria.

Outra porta se abriu. O eco aqui soou diferente. Era uma sala de azulejos? Um
banheiro? O barulho do esguicho de água confirmou a minha dedução.

A mão segurando o meu pescoço me impeliu para frente. Eu escorreguei no chão


molhado e por pouco consegui não bater o meu rosto.

—Mãos no azulejo, vadia. O sotaque sulista me chocou tanto quanto a palavra de-
sagradável da qual ele me chamou. Eu achava que o tráfico era executado por um dos
sindicatos do crime, estrangeiro, que operam em Houston. Como eu estava errada.

Não querendo ser agredida ou eletrocutada com esse dispositivo horrível, plantei
minhas mãos contra o azulejo. A água fria correu meu corpo nu. Eu comecei a tremer
violentamente quando a temperatura do meu corpo despencou.

Quando senti algo áspero esfregando as minhas costas, eu chiei com horror. Cer-
das duras raspavam para cima e para baixo na minha pele, esfregando com um desagra-
dável sabonete todo meu corpo.

—Vire-se, vadia.

Humilhada e tentando não chorar, eu me virei e mostrei minha frente a este ho-
mem terrível. A escova esfregou meus seios e barriga. Com um poderoso empurrão no
meu peito, o pincel me jogou de volta sob a ducha fria.

No momento em que a espuma saiu, a água foi desligada e a escova caiu no chão.
O guarda agarrou um punhado do meu cabelo molhado e me empurrou em direção a ele.
Tentei uma respirar pela boca, como os meus olhos estavam vendados, a venda molhada
escorregou para baixo o suficiente para tapar o meu nariz. Respirar através do tecido
encharcado me deixou em pânico.

Como se apreciando o meu medo, o guarda fechou a mão sobre minha boca. Ele riu
enquanto eu lutava e tentava me libertar.

—Olhe para esta pequena puta dançando!

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Debochando, ele moveu a mão apenas o suficiente para cobrir o meu nariz tam-
bém. Enfraquecida e sem oxigênio, eu batia os punhos contra o seu peito, mas ele ape-
nas ria mais ainda.

—Talvez devêssemos tentar afogamento em algumas dessas meninas. Olha como


ela está lutando e balançando.

—John, solta ela. —A voz do outro guarda vacilou com nervosismo. —Você sabe o
que ele disse sobre isso.

Ele? O homem que cheirava a cravo? Ele era o todo poderoso?

John, o guarda que mantinha apertada a mão sobre minha boca e nariz, finalmen-
te me soltou. Chupei uma golfada de ar e cuspi. Ainda tonta, não podia lutar quando
John me empurrou contra a parede. Entalada entre o corpo barrigudo e a parede de
azulejo, eu mal conseguia me mover.

—O que há de tão especial sobre você, menina? Huh? — Suas mãos sujas moeram
sobre o meu corpo nu. Fiquei feliz pela venda, fechei os olhos e tentei fingir que não
estava lá, que este imbecil nojento não estava colocando as mãos sobre meus seios. —É
verdade que esta pequena vagina ainda não foi usada?

Eu me encolhi com a sujeira que vinha da sua boca. Quando ele tentou deslizar a
mão entre minhas coxas, o agarrei pelo braço e dei um tapa no seu rosto. Ele sussurrou
com dor e agarrou meu pescoço, apertando tão forte que eu pensei que fosse desmaiar.

—John! Droga! Pare! —O outro guarda correu em nossa direção. —Você vai ma-
chucar ela. Vocês sabem que odeio quando as bonitas estão machucadas. Este é o nosso
dia de pagamento.

Seu dia de pagamento? Oh Deus.

John afrouxou o aperto no meu pescoço, mas pegou meu cabelo molhado em seu
lugar. Ele me empurrou ao redor tão forte que senti cabelo sair do meu couro cabeludo.
A bota chutou o meu traseiro nu.

—Leve ela de volta para sua gaiola, Robbie.

—Vamos lá, garota. —Robbie, o outro guarda, me pegou pelo braço e me apressei
para fora do banheiro. Enquanto caminhávamos pelo corredor, eu ouvi as outras mulhe-
res de novo, mais claras desta vez. Será que tinham muitas lá? Soavam como muitas.
Dezenas, talvez.

Será que em breve seria uma delas? Eu seria repassada entre clientes pagantes?
Minha virgindade, a única coisa que eu tinha guardado com tanto cuidado, o presente

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que eu queria dar para o meu marido na minha noite de núpcias, logo seria cruelmente e
desprezivelmente tirada de mim. Não haveria amor, palavras ditas com cuidado e carí-
cias suaves. Eu seria obrigada e duramente, abusada e espancada.

—Ei, garota, não vai ser tão ruim para você.

Mesmo não podendo vê-lo por causa da venda, virei meu olhar em direção a Rob-
bie. Esse cara é doido?

—Você não vai para um dos bordéis. Eles vão colocá-la em leilão. Algum rico bas-
tardo velho vai comprar você. Ouvi dizer que tratam algumas dessas escravas muito
bem.

Muito bem? Eu queria vomitar. Como poderia um homem ser tão insensível? Como
ele poderia manter todas nós trancadas aqui e não pensar sobre o que diabos estava
fazendo? Será que ele não nos via como seres humanos? Só como se fôssemos apenas
uma mercadoria a ser vendida e comercializada?

Empurrou-me de volta na minha gaiola, eu deslizei para o canto mais distante e


abracei meus joelhos no meu peito. Ainda tremendo de frio e toda molhada, esfreguei
minhas mãos para cima e para baixo na minha pele nua. A porta da minha gaiola abriu
inesperadamente e uma toalha foi empurrada contra a minha mão. Peguei-a rapidamente
e apressadamente sequei minha pele.

Mas, como seco meu cabelo, não podia imaginar mas, me pergunto, se não teria
sido melhor morrer de hipotermia. Teria sido um final bondoso, mais suave do que o que
enfrentaria uma vez que me vendessem?

Os soluços que eu tinha sido capaz de abafar de repente se soltaram. Envolta


com a toalha ao redor dos meus ombros em uma busca desesperada por um pouco de
calor, baixei minha testa para os meus braços cruzados. Eu chorei na pequena cavidade
entre os joelhos dobrados e os braços.

Eu gostaria de encontrar uma maneira de passar por isso. Eu não era tão fraca
como todos pareciam pensar. De alguma forma, de alguma maneira, eu sobreviveria ao
que fosse que me aguardava.

Mas não saber se Nikolai tinha sobrevivido ao ataque ameaçava esmagar o meu
espírito. Eu queria desesperadamente acreditar que ele estava vivo. Se alguém no mun-
do poderia sobreviver a uma surra e esfaqueamento e, viver para me salvar, era Nikolai.
Ele faria qualquer coisa para me levar de volta. Qualquer coisa.

Eu só queria ter sido corajosa o suficiente para dizer a ele o quanto o amava.

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Capítulo Seis

Lutar pela consciência através da névoa de drogas e da dor foi mais difícil do que
Nikolai tinha esperado. Ele acordou no início da manhã. O horizonte cinza visível através
da janela do hospital, só tinha começado a clarear. Por mais que tentasse, não conseguia
se concentrar o suficiente para se manter acordado. Os braços fortes do sono o arras-
taram de volta para o abismo silencioso.

Quando conseguiu emergir novamente algum tempo depois, Nikolai tinha certeza
de que estava morto. Não havia outra explicação para os sons de oração enchendo seus
ouvidos. Piscando, sua visão clareou o suficiente para identificar o homem sobriamente
vestido sentado ao seu lado. Drogado e confuso por causa do traumatismo craniano, le-
vou alguns minutos para reconhecer o homem como o padre Semyon, sacerdote de Vivi-
an.

Por que diabos um sacerdote veio visitá-lo? Um pensamento terrível aconteceu.


Vivian estava morta? Tinha o homem santo vindo dar a notícia pra ele?

A dor rasgou o estômago de Nikolai e socou seu coração.

—Não!

—Calma! —Padre Semyon pediu e pegou sua mão. —Está tudo bem. Você precisa
descansar. Ela precisa de você.

Acalmou um pouco a afirmação do padre de que Vivian ainda precisava dele, Niko-
lai sucumbiu à calmaria dos cânticos russos familiares e das orações do homem mais
velho.

A próxima vez que suas pálpebras se abriram ele avistou Ivan sentado ao lado de
sua cama de hospital. Seu leve movimento chamou a atenção do amigo. Em um instante,
Ivan já estava de pé e inclinando-se sobre ele.

—Kolya?

Sua mão tremia e sentia como se pesasse cem libras, enquanto tentava agarrar a
frente da camisa de Ivan.

—Vanya, eles a levaram.

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Rosto áspero de Ivan virou simpático.

—Eu sei.

—Resgate?

—Nada ainda.

A resposta de Ivan perfurou sua barriga como uma faca quente. Se isso não era
sobre dinheiro...

—Nós temos que encontrá-la.

Ivan agarrou sua mão.

—Nós estamos procurando. Todo mundo está procurando. Dimitri, Kostya, Santos
e a polícia, estamos todos procurando por ela. Yuri ofereceu uma recompensa enorme.
Nós vamos encontrá-la. Você tem que descansar.

—Eu tenho que me levantar. —Ele tentou se sentar, mas os medicamentos pin-
gando em suas veias o deixaram tonto e fraco. Carrancudo olhando as mangueiras intra-
venosas em seus braços, ele estendeu a mão para arrancá-las, mas a mão poderosa de
Ivan o deteve.

—Não, você não fará bem para ela assim. Restabeleça-se. Cure-se.

Nikolai começou a lutar contra Ivan, mas o bastardo apertou o botão de dosagem
da bomba de medicação. O pouco de força que possuía fugiu dele quando as drogas fo-
ramderramadas em sua corrente sanguínea. Ele bateu com raiva em Ivan, mas foi inútil.
O sono tomou conta dele e não o deixou ir.

Mas da próxima vez que ele acordou, Nikolai percebeu imediatamente que algo
estava diferente. Seu corpo inteiro vibrava com a dor. O topo de sua cabeça dolorida
ameaçava estalar fora a qualquer momento. Ele assobiou quando o desconforto fez seu
estômago revirar.

Do nada, uma mão segurando uma bacia de plástico rosa apareceu. Apoiando suas
entranhas com o braço, Nikolai vomitou na bacia. Todo o seu corpo protestou com es-
pasmos até o âmago.

—Terminou?

Nikolai levantou o olhar turvo para o pedregoso rosto do detetive Santos. Lim-
pando a boca, Nikolai assentiu.

—Sim.

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—Eu sei que você está com dor e desculpe por isso, mas tive que desligar as dro-
gas. Eu preciso de você acordado. — Santos colocou a bacia na pia do outro lado do
quarto do hospital. —Você pode andar?

—Eu vou rastejar se precisar. —Nikolai grunhiu e puxou o lençol de seu corpo.

—Não temos muito tempo. Dimitri e Ivan estão lá fora, interferindo com as en-
fermeiras do seu quarto. —Santos passou o braço em volta dos ombros de Nikolai e a-
judou-o a descer da cama. Afastou-se o tempo suficiente para pegar um saco plástico
cheio de roupas.

—Um de seus homens reuniu suas coisas.

Nikolai lançou um olhar desconfiado para o detetive. —Por que você está me aju-
dando?

—Porque você é a melhor chance que tenho de conseguir minha prima de volta.
Mesmo que você a tenha perdido. — Santos acrescentou com raiva.

—Eu não perdi. Ela foi tirada de mim. —Uma dor em torno de seu coração se a-
pertou quando a memória de seu grito aterrorizado ricocheteou em sua cabeça. Era um
som que nunca esqueceria.

Nikolai pegou a sacola e jogou em cima da cama. Ele tinha estado em hospitais su-
ficientes vezes para saber como retirar o cateter e a intravenosa.

Movendo-me lentamente, ele sentiu o desconforto que acompanhou cada contra-


ção de seus músculos machucados. Ele merecia essa dor por colocar Vivian em risco e
não protegê-la e mantê-la segura.

Por que ele pediu a Sergei para trazê-la para o estúdio? Por que brigou com ela a
respeito dos quadros? Por que ele não lutou mais para protegê-la? Como ele pode deixar
esses monstros levá-la?

Atormentado com suas falhas, ele terminou de se vestir. Colocar os sapatos qua-
se o fez desmaiar, mas ele aguentou a dor. O detetive olhou ao redor da porta o tempo
suficiente para saber que eles estavam livres, antes de acenar com a mão para Nikolai o
seguir. Ainda um pouco tonto, Nikolai colocou a mão na parede para apoiar, quando ele
saiu de seu quarto de hospital.

Olhando para trás, Santos lançou um olhar furioso breve, de irritação. O deteti-
ve relutante colocou um braço em volta dos ombros de Nikolai para ajudá-lo a se mover
mais rápido. Ele a contragosto aceitou ajuda de Santos.

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No frio, úmido da noite de dezembro, ele encontrou Kostya e Sergei esperando
perto de um SUV estacionado na zona de carga na parte de trás do hospital. Nem uma
palavra foi dita quando subiram no SUV. Ele sussurrou com dor e colocou uma mão para
estabilizar suas costelas.

—Aqui. —Kostya empurrou um par de comprimidos e uma garrafa de água na sua


mão. —Tome isso. Eles vão ajudar com a dor, mas manterão a mente clara.

Ele confiou o medicamento que caiu na palma da mão. Antes de vir aqui, Kostya
tinha sido um bioquímico que trabalhou em pesquisa e desenvolvimento, em uma das me-
ga empresas farmacêuticas da Europa. Seu conhecimento profundo da ciência era a
chave de sua excelência na área de limpeza.

A poucos quarteirões do hospital, três carros diferentes se juntaram a eles, ca-


da um ocupado com seus soldados e capitães. Com a voz rouca, ele ordenou:

—Conte-me tudo, Kostya.

—Não há muito para dizer. —Kostya não dourava a pílula. —Temos ido para os
suspeitos de costume. Todo mundo está falando. Eles estão cagando com medo de que
sejam os culpados ou pego no fogo cruzado. Ninguém nos deu nada de bom até agora. —
Kostya virou em seu assento. —E o velho chamou duas vezes. Ele está ameaçando enviar
Grisha.

A última complicação que Nikolai precisava era de Maksim, seu chefe, enviando
um dos meninos de Moscou até Houston. Embora Grisha tinha sido o homem que trouxe
Nikolai para o rebanho da família quando era um adolescente, ele não confiava no capi-
tão para manter esse pesadelo em uma espiral fora de controle.

Grisha sempre foi o tipo a favor de uma resposta violenta a cada problema. Uma
vez, Nikolai tinha sido tão estúpido e imaturo, mas com a idade veio a sabedoria. Ele
aprendeu que a melhor maneira de lidar com esses tipos de situações era calma e silen-
ciosamente.

Mais dolorosamente, Maksim tinha sinalizado seu descontentamento com a forma


como Nikolai agia em Houston. Enquanto Nikolai tinha conscientemente mudado seu sin-
dicato em negociador, menor, Maksim queria crescer em áreas de maior risco, de ga-
nhos mais elevados. A recusa de Nikolai em abrir Houston para algumas dessas oportu-
nidades não tinha ido muito bem com o velho.

Se Maksim pensava que esta era sua chance de tirar o controle das mãos de Ni-
kolai, ele estava errado. Nikolai conhecia seus homens. Isso os deixariam mais próxi-
mos. Eles se reuniriam em torno dele agora.

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—Você me deixe lidar com o velho. —Ele gesticulou em direção a Sergei com uma
ponta de seu queixo. —Onde estamos indo?

—Besian chamou. Ele diz que tem algo que você vai querer ver.

O albanês não era o tipo de homem que iria desperdiçar o tempo de Nikolai. Mais
importante, Kostya e Sergei não teriam deixado o detetive tirá-lo do hospital, se essa
oportunidade não fosse promissora.

Ele olhou para o primo de Vivian. O jovem parecia como se não tivesse dormido
em dias. Sua expressão tensa mostrava isso.

—A polícia interceptou uma chamada entre alguém nos Calaveras e Romero. Era
uma chamada rápida e uma mensagem simples. —Ele está com ela. —É inútil, mas eu pen-
sei que você gostaria de saber.

—Não é inútil. —Murmurou Nikolai. —Ele? Romero sabe quem está com sua filha.
Ele provavelmente estava esperando que eles a sequestrassem.

—Você acha que ele se importaria? —Santos hesitou. —Talvez a prisão amaciou o
velho bastardo. Ele poderia ter feito isso para mantê-la segura, enquanto faz o está
planejando que aconteça.

Ele bufou com desdém.

—Um homem que usou sua filha para carregar drogas nos arredores de Houston,
não iria adquirir consciência na prisão.

—Eu acho que você é a autoridade, sobre adquirir consciência e de prisão.

Nikolai ignorou. Em vez disso, ele insistiu:

—Romero não conseguiu a diminuição da pena e a liberdade antecipada só por en-


tregar sua antiga gangue. Ele está fazendo outro jogo, um jogo que a polícia provavel-
mente nem sequer suspeita.

—Eu tenho certeza de que eles o estudaram de todos os ângulos. Eles não teriam
dado a ele um acordo de outra forma.

—E eu tenho certeza de que os policiais e advogados não pensam como crimino-


sos. — Irritação apareceu em sua voz. —Você tem que parar de pensar com o seu cére-
bro policial. O que um homem como Romero quer?

—Dinheiro? Poder?

—Sim, mas ele também quer algo ainda mais precioso. Ele quer liberdade.

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Santos piscou.

—Liberdade? Da prisão?

—Nada é tão simples. —Respondeu Nikolai. —Você não pode compreender, mas há
um alto preço a ser pago por uma vida como a de Romero. Ele tem 50 anos de idade, mas
ainda tem alguém o comandando e dizendo o que fazer. Ele que pular fora e rápido. Isso
desgasta um homem. O torna com fome de liberdade. Pela chance de tomar suas pró-
prias decisões.

Santos o estudou.

—E qual é o preço da liberdade nos dias de hoje?

—Muito alto. —Nikolai murmurou. Olhando para fora da janela, ele se lembrou do
que Ivan havia sobrevivido a sair dessa vida. Apesar das tentativas de Nikolai para pro-
teger seu amigo e diminuir a dor envolvida com a separação de sua família, Ivan sofreu
terrivelmente. A surra que tinha levado nas mãos de sua própria equipe tinha sido aque-
la que a maioria dos homens não teria sobrevivido.

Ignorando essas terríveis memórias, Nikolai pensou em Vivian.

—Tiraram ela de mim e de Romero, mostrando que não estamos no controle. Tra-
ta-se de medo e poder.

Santos riu asperamente e incrédulo.

—Há alguém lá fora, que te assusta? Que assusta Romero?

—Nós todos temos nossos bichos papões. —Ele olhou para o detetive. —Como vo-
cê. —Ele considerou para onde estavam indo. —Você entende o que acontece se você
ficar com a gente hoje à noite?

Santos sustentou o olhar por um longo momento antes de voltar para sua janela.

—Hoje, eu não sou um policial. Eu sou apenas um homem que tenta salvar sua fa-
mília.

Nikolai entendia a motivação do detetive, mas ele não permitiria que o homem
cruzasse a linha. Quando tivesse Vivian em segurança e em casa, ela nunca o perdoaria
se soubesse que ele tinha permitido que seu primo comprometesse a sua carreira e sua
integridade pessoal.

Sergei levou-os a uma das garagens dos albaneses, utilizadas como fachada para
o seu comércio de desmanche. Eles estacionaram. Dois homens de macacão de mecânico
baixaram as portas para lhes dar privacidade.

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Embora seu corpo pulsava impiedosamente e sua cabeça latejava, Nikolai saiu do
SUV, sem permitir que uma dica de seu estado de dor atravessasse o seu rosto. Ele ca-
minhou para o centro da garagem onde Besian esperava. Ladeado por seus homens, eles
cumprimentaram uns aos outros com olhares silenciosos.

—Merda. —Besian estremeceu com a visão dele. —Eles realmente te foderam. —


Seu olhar mudou para Santos. Com os olhos apertados, ele perguntou: —Por que diabos
ele está aqui?

—Eu não sabia que precisava de sua permissão para realizar o meu negócio como
eu achasse melhor.

Besian levantou as mãos.

—Não há necessidade de ser tão sensível.

Sem clima para bate-papo, Nikolai foi direto ao assunto.

—Você tem informações sobre Vivian ou não?

Antes que Besian pudesse responder, a porta lateral foi aberta. Sergei e Kostya,
atentos, sacaram imediatamente suas armas. A visão de armas em punho impulsionou a
equipe de Besian a fazer o mesmo.

—Ei! Espere! —Besian deu um passo para o lado, colocando seu corpo na linha de
fogo. —Eu prometi a Lorenzo Guzman que esse cara estaria seguro. Se você quiser ma-
tá-lo, faça em seu próprio território. Por enquanto, ele está protegido.

Julio Jimenez, um dos representantes do cartel Guzman, saiu do escritório com


as duas mãos erguidas. Nikolai tinha trabalhado com Julio ao tentar garantir a liberta-
ção de Joe Cruz das garras do cartel. Se Lorenzo tinha dado uma ordem para matar
Nikolai e sequestrar Vivian, Julio teria sido o homem que a realizaria.

E Eric Santos sabia disso. O detetive deu um passo adiante, mas Nikolai conse-
guiu detê-lo com um olhar severo. Lembrou-o de seu lugar, Santos apertou a mandíbula
e deu um passo para trás.

Para mostrar que estava desarmado, Julio girou lentamente enquanto levantava
sua camisa.

—Eu só estou aqui para falar.

Nikolai sacudiu os dedos. Sergei e Kostya baixaram as armas, mas não as coloca-
ram no coldre. A equipe de Besian seguiu o exemplo.

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Mostrando alguma relutância, Julio se juntou a eles no centro da garagem. Ele
colocou as mãos na frente dele antes de declarar:

—Nós não temos nada a ver com isso. Nós não queremos problemas com você. Lo-
renzo queria assegurar-lhe que estamos interessados em proteger e manter a relação
de negócio com você.

—Você pode dizer a seu chefe que até que minha Vivian seja entregue com segu-
rança, não haverá negócio. Entiendes?

—Absolutamente. —Julio respondeu com um sorriso açucarado.

—Se eu descobrir que os Calaveras estavam por trás deste ataque e sequestro,
eu vou colocar um fim a essa gangue.

—Nós entendemos qual é o preço para fazer negócios, mas posso garantir a você
que a gangue não está por trás disso.

Nikolai estudou Julio. O homem era tão liso, mas ele não tinha uma expressão
clara. Hoje à noite, Nikolai não viu isso. Julio estava dizendo a verdade, ou, pelo menos,
o que ele sabia ser a verdade.

—Vamos ver.

Um barulho estranho assustou todos eles. Seus olhares se agarraram ao sedan


marrom nas proximidades. Desta vez, o barulho que emanava era mais alto e mais facil-
mente identificado como um homem gritando em uma mordaça.

Ele olhou para Besian.

—O que tem lá dentro?

—Seu presente. — O albanês respondeu com um sorriso. —E a minha recompensa.

Ele arqueou uma sobrancelha.

—Recompensa?

Kostya pigarreou.

—Yuri ofereceu uma grande recompensa para informações sobre Vivian. E o tri-
plo por seu retorno em segurança.

Nikolai não queria nem pensar em quanto dinheiro o seu querido amigo com esses
bolsos profundos, bilionários tinha oferecido. Porque sua namorada era a melhor amiga
de Vivian, Yuri faria qualquer coisa para ajudar.

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Besian aproximou do carro e tirou um chaveiro de suas calças. O carro buzinou
duas vezes e o porta malas se abriu. Levantando a tampa, ele fez um gesto para o ho-
mem amarrado e amordaçado lá dentro. Vestido com calça jeans e um moletom, o ho-
mem não pareceu familiar para Nikolai, até que ele avistou com raiva a ferida vermelha
na mão do homem.

—Sim. —Disse Nikolai quando as memórias do ataque freneticamente passaram


pela sua mente. —Eu esfaqueei um deles.

—Seu irmão o entregou para mim. Ele queria a recompensa, mas não quis avançar
por conta própria. Melhor me deixar fazer o sujo negócio e obter a maior fatia.

—Quem é ele? —Nikolai o alcançou e puxou para baixo a gola da camisa do homem
em busca de tatuagens de gangue, mas ele tinha uma pele sem marcas.

—Ele não tem filiação. O irmão joga em um dos meus cassinos subterrâneos, mas
ele é só um encanador. — Besian cruelmente cutucou a mão ferida do homem e ele deu
um grito de dor. —Ele é chamado Bill Rathbone. Ele é um dentista. — Besian encolheu os
ombros. —Ele é ninguém. —Ele cuspiu no porta-malas, salpicando no homem chorando. —
Ele era ninguém. Agora ele é todo seu.

—Sergei.

Sem dizer uma palavra, o executor desajeitado se aproximou, pegou o homem


gemendo e levou-o de volta para o SUV. Kostya abriu a porta malas e Sergei jogou o
dentista lá dentro.

Nikolai não tirava os olhos do homem que tinha tomado parte no ataque e seques-
tro. Sua mente correu com todas as coisas terríveis que ele poderia fazer para que es-
te homem falasse. Tinha sido um longo tempo desde que ele tinha sentido este tipo de
necessidade sanguinária para ferir um homem. A ideia de Vivian poder estar sofrendo
agora, estimulou sua sede de sangue.

Besian se atreveu a colocar a mão em seu braço.

—Aconteça o que acontecer, estamos com você.

Nikolai aceitou a oferta de aliança com um breve aceno de cabeça. As coisas ain-
da estavam tão incertas. Havia algo no ar, algo novo e preocupante, que todas as fac-
ções do mundo do crime de Houston podiam sentir o cheiro.

—Nikolai? —Julio Jimenez chegou um pouco mais perto. —Quando tudo isso for
resolvido, Lorenzo gostaria de uma reunião para discutir novos termos.

Os olhos de Nikolai se estreitaram.

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—Vamos ver.

Julio não forçou. Ele se afastou com um sorriso doentio.

Voltando-se para o SUV, Nikolai juntou-se a Santos em uma caminhada lenta.


Pensando no homem amarrado e amordaçado, contorcendo-se no portamalas, ele queria
dar ao primo de Vivian a chance de se afastar, sem se comprometer. —Esta é sua última
chance de voltar para o seu lado da lei, Eric.

O detetive pareceu surpreso com uso de Nikolai por seu primeiro nome, mas ele
não disse uma palavra maldita. Não, ele simplesmente abriu a porta do passageiro e en-
trou no SUV.

Assim seja, Nikolai pensou e deslizou para o banco do passageiro na frente.


Quando Sergei saiu da garagem, Kostya se inclinou para frente e estendeu a Nikolai o
isqueiro favorito e um pacote fechado de cigarros. Ele o mantinha em sua mesa no Sa-
movar, mas Kostya, obviamente, sabia que ele ia usá-los esta noite. Embora tivesse ten-
tado a abandonar a pedido de Vivian, ele não podia negar a necessidade de alimentar sua
dependência pela nicotina no momento.

O primeiro trago longo da fumaça quente em seus pulmões trouxe alívio. Consci-
ente de que Sergei apoiava Vivian nisso, quanto a este hábito em particular, ele abriu a
janela. O ar frio de dezembro girava em torno dele. O frio o deixou sonolento.

Olhando para as luzes brilhantes da cidade, Nikolai pensou em Vivian. Ela estava
aquecida? Ela estava com fome? Ela estava ferida? Eles a estavam machucando? O peso
esmagador da culpa e medo comprimia o seu peito.

Batendo a cinza do cigarro pela janela, ele pensou em sua última conversa. Ele re-
almente disse a ela que deveria considerar deixar Houston? A própria ideia era como
um picador de gelo através de seu coração.

As memórias de tudo o que tinha sido destruído em seu estúdio, doía em sua
consciência. Ela estava tão zangada com ele e, por boas razões. Ele tinha sido um idiota
abominável com ela sobre a pintura. Ele reagiu com pânico e medo, em vez abrir a boca e
dizer-lhe a verdade sobre o que realmente aconteceu naquela noite.

E ele nunca ia se perdoar por isso.

Nunca.

Assim como ele nunca iria se perdoar por não contar a ela o que ela significava
para ele. Diante de perdê-la para sempre, agora entendia o quão estúpido ele tinha sido
em mantê-la à distância. Ele se convenceu de que ele estava cuidando dela, que ele es-

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tava tentando fazer o melhor para ela, se recusando a reconhecer o que tinha crescido
entre eles, mas ele estava errado.

Um gemido lamentável na parte traseira do SUV interrompeu seus pensamentos.


Finalizando o cigarro, ele deu um último trago, antes de jogá-lo para fora da janela.

Finalmente, Santos se atreveu a perguntar:

—Onde o estamos levando?

Kostya deu a resposta.

—Nós estamos indo para minha casa.

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Capítulo Sete

Esta hora da noite, o bairro de armazéns, parecia uma cidade fantasma. Eles e-
ram proletários e operavam em vários deles em torno da cidade. Apesar do alto inves-
timento inicial, os hectares de galpões de armazenamento, alguns climatizados, prova-
ram ser rentáveis. Com a vantagem adicional de ter centenas de locais disponíveis a
qualquer momento em que não pudessem ser encontrados.

Sergei foi até o final, no labirinto de galpões, antes de apagar as luzes e desligar
o motor. Do lado de fora, esta linha de galpões conectados pareciam exatamente como
todos os outros, mas por dentro a história era diferente.

Kostya tirou as chaves e abriu seu espaço secreto. Sergei agarrou o dentista da
parte traseira do SUV e ergueu-o por cima do ombro como um saco de batatas. Final-
mente sentindo o efeito que os analgésicos de Kostya lhe fizeram, Nikolai era capaz de
se mover sem a náusea constante, e a dor. O cigarro, o seu primeiro em quase duas se-
manas, lhe tinha dado uma boa diminuição da latejante dor em seu crânio e da dor aguda
no ombro.

Sentiu o interior gelado do armazém de Kostya. Brilhantes luzes fluorescentes


iluminavam o interior surpreendentemente cavernoso. Embora parecesse uma unidade
de médio porte do lado de fora, eram, na verdade, quatro unidades conectadas. Folhas
de plástico cobriam as paredes, teto e piso. Um som de batida acompanhava seus pas-
sos.

Quando Sergei sentou o dentista na cadeira solitária no meio da sala, o homem


tentou fugir, mas a mão carnuda de Sergei segurou-o no lugar. Kostya abriu um armário
na parede à direita e pegou um punhado de braçadeiras que ele usou para prender rapi-
damente o homem na cadeira. Preso lá, o dentista examinou a sala em pânico. Foram os
ganchos de carne penduradas no teto que realmente o fizeram gritar.

Um olhar para o rosto pálido do detetive Santos disse a Nikolai que a teatralida-
de de Kostya estava funcionando. Quando Kostya calçou botas cirúrgicas e um avental
preto, Santos deslizou mais perto de Nikolai. E ele sussurrou.

—Que diabos é isso? Eu pensei que você seria um pouco duro. Eu não sabia que
você iria torturar o pobre coitado.

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Nikolai sustentou o olhar do detetive antes de olhar para a porta atrás deles.

—Se você quer sair, vá agora.

Santos apertou a mandíbula e cruzou os braços, mas não se moveu. Sergei colo-
cou outra cadeira dobrável de metal em frente ao dentista. Nikolai cuidadosamente
sentou-se, levando em conta as contusões no abdômen e a forma como movimentos rápi-
dos faziam a sua dor de cabeça aumentar.

Inclinando-se para trás, ele ficou confortável e olhou para o dentista chorando.
O homem parecia lamentavelmente fora de lugar. Não havia nada de ruim nele. Ele tinha
o olhar para baixo. Por que diabos ele tinha participado de um ataque tão descarado?

—Tudo bem, Bill. —Disse Nikolai com muita calma. —Nós vamos ter uma conversa.
Você vai me dizer a verdade. Você sabe o que acontece se você mentir para mim?

Na sugestão, Kostya tirou o pano preto que cobria um carrinho de horrores. Os


reluzentes instrumentos de prata de tortura provocaram um grito de Bill. A mordaça
em sua boca amorteceu o som, mas isso não importava. O vigia da noite nos armazéns
sabia que o melhor era não bisbilhotar ou perguntar, se ele ouvisse um som como aquele.

Inclinando a cabeça, Nikolai estudou o homem.

—Vou entender isso como um sim.

Kostya adiantou-se e puxou a mordaça de pano da boca do homem. No segundo


que ficou livre, o dentista começou a implorar por sua vida.

—Por favor. Por favor. Não me mate. Tenho filhos. Tenho uma esposa. Por favor.

—Você tentou me matar. Tirou algo muito precioso de mim. Porque eu deveria
deixá-lo viver?

—Não, por favor! —Ele soluçava pateticamente. —Olha, eu não sou um criminoso.
Eu sou um dentista, sabe? Lido com cáries e dentaduras. Eu não sou um sequestrador.

—Não é um sequestrador? —Ele nivelou um olhar gelado para Bill. —Kostya, isso
soou como uma mentira para você?

—Sim. Ele virou-se para seu carrinho e pegou um alicate, que parecia horrível.

—Não é uma mentira. Eu não queria levá-la. Eles me obrigaram.

Aproveitando a chance de chegar ao cérebro por trás desta trama doente, Niko-
lai perguntou:

—Quem o obrigou?

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Bill balançou a cabeça. Suando em bicas, ele se recusou a responder.

—Eu não posso.

Pescando o maço de cigarros do bolso do paletó, Nikolai disse:

—Sabe, meu amigo aqui, ele faz algumas intervenções odontológicas.

Com os olhos arregalados, Bill começou a pular na cadeira.

—Não. Não. Não.

Ligeiramente divertido, Nikolai assistiu a cadeira de metal rastejar alguns me-


tros antes de Sergei finalmente se adiantar e colocar o pé para impedir a fuga do den-
tista. Apertando as mãos sobre a mandíbula do homem, Sergei forçou a abrir totalmen-
te para que Kostya pudesse chegar com o alicate.

—Jesus, Maria, José! —Santos esfregou o lado do seu rosto. Claramente pertur-
bado, ele perguntou: — Seus dentes?

Nikolai olhou para o detetive, Bill borbulhava e gritou. Sua paciência acabou, ele
rosnou: —Se você não tem estômago para isso, dê o fora, eu não deveria ter que te
lembrar que este pedaço de merda sequestrou Vivian. Pelo que sabemos, os porcos que
estão com ela devem ter feito muito pior do que puxar um par de dentes.

Santos respirou fundo e visivelmente cerrou o seu maxilar, Kostya forçou e o


dentista gritou. Pálido, com horror, o detetive virou as costas quando Kostya jogou o
dente ensanguentado em uma bandeja de metal em cima de seu carrinho.

—Outro, chefe?

Nikolai deu uma balançada leve de sua cabeça e puxou um cigarro do maço. Quan-
do ele rolou entre os dedos, ele viu uma mancha molhada espalhar em toda a frente da
calça jeans de Bill. Urina se espalhou sob o homem. Certo de que ele tinha começado a
mostrar seu ponto de vista, Nikolai disse:

—O meu amigo precisa deixar sua boca com mais cavidades ou você vai cooperar?

—Eu vou cooperar. — A saliva tingida de sangue derramou pelo queixo de Bill. —
Não mais. Por favor. Nunca mais.

—Para quem você trabalha?

—Ninguém. —Bill inalou uma respiração instável. —Eu realmente sou apenas um
dentista, mas havia uma dívida. O agiota foi morto e este novo cara disse que tinha
comprado o empréstimo, mas ele não queria dinheiro. Ele queria este favor e então ele
limparia todas as nossas dívidas.

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Os dedos de Nikolai ficaram imóveis e ele apertou o cigarro entre os dedos.
Mesmo em seu estado lesionado, sua mente rapidamente folheou todos os ângulos.

—Você tinha uma dívida com Afrim Barisha?

Bill balançou a cabeça rapidamente.

—Eu tive que fazer para expandir o consultório. A porra da recessão bateu e eu
tinha muitas despesas. Tinha meu filho e a pensão alimentícia para minha ex-mulher em
Dallas e, em seguida, os gêmeos com a minha nova esposa, eu não conseguia me manter,
meu cunhado me contou sobre o albanês e seus empréstimos.

—Mas você não pagou. —Nikolai adivinhou.

—Sim, mas ele estava me deixando parcelar os pagamentos. Ele concordou em


roubar meu barco.

Em outras palavras, Afrim teria um dos homens de Besian roubando o barco e o


venderia no mercado negro. Depois que ele recebesse o pagamento do seguro de Bill e o
valor do barco de Besian, ele estaria sem dívidas de novo.

—Mas então Afrim foi morto e um cara apareceu e me disse que se eu não o en-
contrasse no bar onde Afrim fazia os negócios de agiotagem, ele mataria a minha espo-
sa e venderia os meus filhos. Ele tinha suas fotos e seus horários. Entrei em pânico.

—Um cara? Que cara? Branco? Preto? Latino? Asiático? —Agora Santos quem fi-
cou intrigado. Seu horror ao assistir Kostya arrancar esse dente da boca de Bill parecia
desaparecer quando ele começou a interrogar o homem.

—Ele é um cara branco. Alto. Cabelos castanhos. Cerca de vinte quilos acima do
peso. Ele disse que seu nome era John.

—Será que você o reconheceu?

—Não, eu nunca o tinha visto antes daquela noite.

—Ele disse para quem ele trabalhava?

—Não, ele tinha tatuagens no pescoço. Relâmpagos e um crânio. Ele disse que seu
chefe iria fazer a máfia albanesa parecer com os escoteiros. Eu não fazia perguntas.

Eric olhou para ele. Relâmpagos e crânios eram comuns entre os skinheads que
estavam tentando crescer o seu território.

—Quantos de vocês estavam no bar naquela noite?

—Eu não sei. Dez? Onze?

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—Você conhecia qualquer um desses homens?

—Eu reconheci os rostos, mas não sei seus nomes. Eles eram caras que vejo nos
bares para fazer pagamentos, sabe?

Santos fez uma pausa.

—Você disse que esse cara John ameaçou vender os seus filhos. Que quer dizer
com isso?

—Ele tinha fotos de gaiolas de cão, mas elas não estavam com cães. Elas estavam
segurando meninas. Mulheres. —Acrescentou e fungou ruidosamente. A frente da cami-
sa agora estava coberta de saliva sangrenta e suas bochechas brilhavam com lágrimas.
—Ele é doente. Doente.

O estômago de Nikolai azedou quando aquelas velhas memórias enterradas de sua


infância miserável ressurgiu. Até o recente problema de Yuri, ele tinha sido capaz de
esquecer, mas elas tinham sido desenterradas por uma psicopata, cheio de rancor que
tinha tentado matar Lena e Yuri. Quando era uma criança no orfanato com Yuri, Dimitri
e Ivan, os homens que ele considerava seus irmãos, ele era o mais velho apenas alguns
meses. Ele sempre tinha feito o seu melhor para cuidar dos outros, para protegê-los do
pesadelo, do buraco do inferno, mas ele nunca tinha imaginado que seu desejo de prote-
gê-los lhe custaria tanto.

Tinha começado inocentemente. Naquela época, ele não tinha entendido como pe-
dófilos escolhiam suas vítimas ou mesmo o que era um pedófilo, mas ele rapidamente
iria descobrir. Pasha, o homem que dirigia o orfanato, pegou os meninos mais bonitos
para seus favores. Eventualmente, Pasha começou alugando alguns dos meninos para cli-
entes ricos.

O velho bastardo sujo tinha usado a necessidade desesperada de Nikolai para


proteger seus irmãos de tal dor, para manipulá-lo, obrigá-lo a ficar quieto. Ele teria fei-
to qualquer coisa para proteger Ivan, Dimitri ou Yuri de experimentarem a vergonha e
trauma de ter homens e até mesmo duas mulheres, arranhando-os e abusando deles.

Mas, Yuri o havia seguido uma noite e tinha descoberto Pasha machucando-o. Ele
reagiu como qualquer criança faria. Ele pegou como arma um tubo que estava próximo e
bateu em Pasha em toda a volta da cabeça. O homem mais velho tinha caído como um
saco de pedras. Eles correram de volta para o orfanato, tiraram Dimitri e Ivan de suas
camas e fugiram.

Mesmo agora, tantos anos depois, as memórias dolorosas davam ânsia de vômito.
Era tudo que Nikolai conseguia sentir, vontade de vomitar. Sua pele se arrepiou. Arre-

70
pios quentes e frios correram para cima e para baixo de suas costas. Com um suspiro
tranquilo lento, ele conseguiu recuperar o controle de seu corpo e mente.

—O tráfico sexual? — Horrorizado, Santos olhou para ele. Medo contorceu seu
rosto. —Não, não Vivian.

De repente, toda essa confusão lhe pareceu muito pessoal. Talvez não tivesse
nada a ver com o pai de Vivian, afinal. Nikolai sempre tinha tomado uma posição dura,
quando ele soube sobre o comércio de gente. Desde o início da sua introdução ao sub-
mundo, ele se recusou a lidar com prostituição ou tráfico. Ele virou os olhos para o clu-
be de strip de Kostya, mas não se sentia bem com isso e ele não aceitou a porcentagem
habitual que ele receberia.

—Onde é que está Vivian? —O tom de Nikolai advertiu o homem não mentir.

—Eu não sei. Eu estava em um SUV diferente. Nós fomos a um estacionamento na


cidade, onde nos encontramos com o cara que planejou o ataque.

Kostya pegou o alicate e deu um passo ameaçador para frente.

—Jesus! —Bill gritou e virou sua cabeça, o mais possível para o lado. —Espere!
Espere! Quando eu estava saindo, naquela noite, eu ouvi John falando ao telefone com
um cara chamado Lou sobre como fazer arranjos para uma transferência.

—Lou? —Santos se animou. —Você quer dizer o Sr. Lu?

Nikolai desviou a atenção para o detetive. Lu tinha um negócio movimentado de


importação e exportação que parecia limpo por fora, mas era mais sujo do que o inferno
por dentro. Ele lavava dinheiro para o sindicato Triad local e trazia armas e outros bens
para a família do crime vietnamita. Aparentemente, não eram apenas imitação de bol-
sas que tinha nesses seus navios porta containers.

—Talvez? —Bill engoliu em seco, nervoso. —Eu realmente não sei. Eles nos sepa-
raram em grupos na noite que nos encontramos no bar. Nossa equipe era para atacá-lo,
ferí-lo, e os outros caras deveriam pegar a menina.

—Esse porra é inútil. — Santos rosnou. — Olha, eu tenho uma ex-namorada, Ka-
trina, que trabalha com o trafego. Ela tem obtido a maioria das apreensões de tráfico
desde o verão. Talvez ela possa nos ajudar a diminuir a lista de possíveis locais onde
eles estão mantendo Vivian.

—Me deixe fazer algumas chamadas. Há um cafetão que gosta das meninas na ru-
a. Se há concorrência nas ruas, ele vai saber tudo sobre isso. — Kostya olhou com des-
confiança para Santos. —Nós não precisamos deles envolvido mais do que já estão.

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—Vá. —Nikolai sacudiu os dedos. —Descubra tudo o que puder.

Ele não queria imaginar o que Vivian podia estar sofrendo agora. A raiva dentro
dele ameaçava explodir e quando fizesse, toda a cidade de Houston iria queimar.

—Que diabos vamos fazer com ele? —Santos apontou para Bill. Finalmente en-
controu as palavras e disse: — Você não pode matá-lo. Eu não vou deixar.

—Não? — As sobrancelhas de Nikolai arquearam imperiosamente. —Bem. —Ele


respirou fundo e encontrou a força para levantar da cadeira. Com um leve um estreme-
cimento, ele levantou os braços doloridos e acendeu o cigarro com o qual ele estava
brincando durante o interrogatório. Quando ele deu uma tragada, ele considerou o que
fazer com o homem. Todos os tipos de possibilidades violentas passaram diante de seus
olhos.

Mas, então, a imagem de Vivian nublou sua visão. Doce, de coração mole, Vee pe-
diria por misericórdia.

—Você tem 48 horas para dar o fora da minha cidade. Se eu descobrir que você
ficou aqui...

—Eu não vou. Juro. Vou embora. —Bill estremeceu de alívio. —Vou pegar a minha
família e partir hoje à noite.

Nikolai percebeu que o dentista entendeu que ele era a menor de suas preocupa-
ções. O homem que havia comprado sua dívida gostaria de aparar as pontas, agora que o
ataque e o sequestro tinham sido concluídos.

Apertando o cigarro entre os lábios, ele se aproximou do carrinho de Kostya e


examinou os instrumentos disponíveis para ele. Ele finalmente pegou o pequeno maçari-
co. Santos gemeu e passou a mão pelo rosto antes de dizer palavrões em espanhol. Ig-
norando o detetive, ele acendeu a tocha. —Vamos corrigir essa mão...

Tremendo, tentei ficar acordada na gaiola apertada. Uma coleira desagradável


agora machucava meu pescoço forçando minha cabeça em uma posição desconfortável.
Uma curta corrente tinha sido presa na parte de trás da coleira e ao teto da gaiola.
Toda vez que me cansava, o peso da minha cabeça fazia a coleira apertar e se aprofun-
dar em minha garganta e começava a me estrangular.

72
As cordas fortemente amarradas nos meus pulsos e aos meus tornozelos me
mantinham em uma posição dolorosamente dobrada. A respiração estava começando a
ficar difícil e eu já tinha perdido a sensibilidade na ponta dos meus dedos das mãos e
pés.

Eu não tinha ninguém para culpar por minha situação, a não ser a mim mesma.
Quando eles me levaram para fora da jaula para o meu banho mais cedo, eu tinha feito à
coisa mais estúpida. Eu tinha tentado escapar, falhei.

Antes que eles viessem para me tirar da minha gaiola, eu ouvi um caminhão gran-
de parar perto do armazém. O alarme apitou e o som sibilante do freio que eu reconhe-
ceria em qualquer lugar. Muitos dos vendedores que entregavam no Samovar faziam com
seus caminhões enormes cheios de encomendas, para restaurantes de toda a cidade.

Mas eu duvidava que este caminhão estivesse carregando algo tão inocente como
produtos.

Não muito tempo depois que o caminhão chegou, eu já tinha ouvido choro e gritos
agudos. Eu quase vomitei com o horror que senti. As pobres mulheres estavam sendo
levadas do armazém. Elas seriam vendidas, usadas e abusadas até, bem, eu realmente
não sei até quando. O negócio do tráfico era tão feio, que eu duvidava que as meninas
que estavam sendo compradas e vendidas como gado teriam uma vida longa pela frente.
Eles eram descartáveis.

E isso me enojava. Eu não conseguia parar de pensar sobre o destino que me es-
perava depois que ouvi o barulho do caminhão se afastando do armazém. Eu comecei a
planejar ali mesmo. Eu tinha que sair daqui. Na menor chance, tinha que tentar. Eu não
poderia deixar algum monstro nojento me comprar em um leilão e me transformar em
sua escrava sexual.

Quando Robbie tinha vindo me buscar para o banho, eu me alegrei com a minha
boa sorte. Ele não era tão grande como John. Apesar da venda, tinha certeza de que
poderia superá-lo. Pensando agora, deveria ter esperado por uma oportunidade melhor
porque falhei miseravelmente na minha tentativa de fugir.

Ah, claro, consegui chutar Robbie nas bolas, arrancar minha venda e fazer uma
corrida para as portas duplas no final de um longo corredor, mas John estava esperando
do outro lado com o seu marcador de gado terrível. Um toque contra minhas costelas e
eu caí no chão com um grito.

Mas ele não parou por aí. Ele tinha tocado meu traseiro e coxas com o dispositivo
horrível, até que eu estava chorando e implorando para ele parar. Só então Robbie, o

73
guarda que parecia ter mais consciência, interveio e obrigou-o a parar de me torturar.
A coleira e a corda tinha sido ideia de Robbie, para minha punição.

Os dois idiotas não parecem perceber que o grande pagamento que tanto queriam
estava prestes a morrer por falta de cuidados.

Pela primeira vez desde que fui tirada de Nikolai, experimentei o verdadeiro de-
sespero. Minha esperança começou a desvanecer. Amarrada e encoleirada nesta jaula,
não havia nenhuma chance de escapar. Meu destino foi selado. Eu vou sucumbir à exaus-
tão e lentamente me estrangular até a morte por causa da coleira cortando minha gar-
ganta ou eu iria ser vendida para algum psicopata doente que faria coisas horrorosas
em mim.

Meu espírito se partiu, e comecei a chorar. Com meu corpo dobrado ao meio e
meus seios esmagados contra meus joelhos, forcei os soluços para parar. Foi ficando
difícil até para fazer respirações lentas em meus pulmões esmagados. Chorar só ia me
fazer morrer mais rápido.

Tonta e insensível, pensei que estava tendo alucinações quando ouvi o som de pas-
sos correndo no corredor. O som de disparos me assustou. Segurando minha respiração,
ouvia atentamente. O que diabos estava acontecendo lá fora?

A porta do quarto onde eu estava se arrebentou.

—Não, por favor!

Era John e ele estava implorando por sua vida.

—Eu fiz tudo o que você pediu. Somos parceiros. No…

Mas ele nunca chegou a terminar a sua declaração de súplica. O som de um tiro
ecoou alto na sala cavernosa. Um segundo mais tarde, um corpo caiu no chão com um
baque surdo. Com a venda cobrindo meus olhos e meus braços e pernas presos, eu só
podia esperar e ouvir em puro terror.

Esses passos pesados que eu viria a reconhecer como pertencente ao atirador


chegou mais perto da minha gaiola. Tentei respirar calmamente e achatei meu corpo tão
firmemente quanto possível, como se me tornar um alvo menor, de alguma forma me
protegeria.

Os passos pararam ao lado da minha gaiola. Aquele cheiro muito familiar de cravo
invadiu meu nariz. Fraco, mas notável era o cheiro acre da pólvora. Meu corpo inteiro
tremia de ansiedade.

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Algo de metal raspou a lateral da minha gaiola. Um momento depois, o cano quen-
te, duro de um revólver apontou contra o minha testa. Eu gemi quando meu coração ga-
guejou descontroladamente. Era isso. Ele ia me matar agora.

A angustiante espera pelo final fez o meu estômago revirar. Eu sentiria a bala
rasgando meu crânio? Será que eu ouviria o barulho ensurdecedor do disparo da pisto-
la? Será que isso aconteceria tão rápido que eu seria poupada da agonia de ser baleada?

O cano empurrou com força contra minha testa, com tanta força que eu engas-
guei. O disparo da ponta de metal na minha pele. A qualquer momento...

Com um puxão áspero, o homem que tinha cheiro de cravo tirou a arma da minha
cabeça. Eu não ousava respirar. Eu fiquei completamente imóvel e orei para Deus me
poupar agora.

Um farfalhar de roupas foi o único som que eu ouvi no momento em que o homem
se afastou da gaiola e saiu da sala. A porta batendo me fez pular. Deixada sozinha,
trancada na jaula com apenas dois corpos mortos para me fazer companhia, eu final-
mente me rendi.

Tremendo e chorando, eu virei minha cabeça, para o lado, o máximo que o colar
estúpido me deixou e vomitei. Meu estômago vazio produziu apenas bile, mas o trauma
do que eu tinha acabado de experimentar, de escapar por pouco, com vida, me envolveu.

Agora eu realmente temia ser deixada para morrer. Ficou claro que a mudança
das outras mulheres anteriormente tinha sido parte de um plano maior, do homem res-
ponsável. Alguma coisa tinha acontecido para mexer com ele, para fazê-lo acreditar que
sua localização não era tão segura. Tinha Nikolai ou Eric descoberto algo? Eles estavam
chegando perto de me encontrar? Uma centelha de esperança acendeu dentro de mim.

Mas por que o homem que tinha cheiro de cravo matou seus parceiros? Por que
John e Robbie foram mortos, eu ainda estava viva? Se ele estava limpando as pontas
soltas, ele deixou um grande problema aqui nesta gaiola apertada.

O cheiro de fumaça fez cócegas no meu nariz. Certamente eu estava tendo algum
tipo de disfunção cerebral, eu levantei minha cabeça e respirei fundo. Não havia dúvida
do cheiro de metal chamuscado e drywall queimando.

Meu Deus. O prédio está em chamas.

A terrível verdade me atingiu. Eu não era uma ponta solta que ele tinha deixado
para trás. Ele encontrou uma maneira de me fazer sofrer verdadeiramente em meus
momentos finais aqui na terra.

75
—Socorro! —Eu não sei por que gritei. Não havia ninguém lá fora para me ajudar,
mas eu não conseguia parar. —Socorro!

Apesar de ter sido inútil, puxei duro nas cordas que uniam os meus pulsos aos
meus tornozelos. Eu ignorei a dor lancinante das fibras da corda raspando minha pele
macia. Neste ponto, eu não me importava se arrancasse toda a pele dos meus braços. Eu
tinha que me soltar.

—Por favor, Deus. Por favor. — Eu não quero morrer assim. Eu não queria sufo-
car por inalação de fumaça ou experimentar a agonia das chamas lambendo a minha pele
nua. —Por favor.

Ao orar por um milagre, e continuei a puxar e torcer. Esfregando meu rosto con-
tra o meu joelho, eu finalmente consegui empurrar a venda para fora do caminho o sufi-
ciente para ver meus tornozelos e pulsos. A falta de iluminação nesta sala mal clareava
a metade inferior da gaiola.

Em pânico senti quando os primeiros tufos rodopiantes de fumaça começaram a


entrar por debaixo da porta. Puxei com tanta força nas cordas que o sangue começou a
vazar dos meus pulsos. A pele machucada pulsava impiedosamente, mas eu não me im-
portei. Eu tinha que sair daqui. Se isso significasse perder a mão que assim seja.

O rugido do incêndio nas outras partes do armazém tinha crescido tão alto agora.
Metal pingava com o calor deformando sua estrutura. O tilintar de folhas de metal ba-
tendo no chão de concreto me disse que eu não tinha muito tempo. Antes que a fumaça
me matasse, o edifício provavelmente entraria em colapso. Já a espessa nuvem de fu-
maça no quarto me fez tossir. Em breve, ela iria me sufocar.

Soluçando, tentei ainda mais me libertar das cordas. —Não, por favor.

Empurrando, torcendo e chorando, nem sequer ouvi as vozes gritando no início.


Não até que eu ouvi meu nome ricocheteando ao redor do armazém, que virei o meu o-
lhar para a porta. Eu não acreditei em um primeiro momento. Certamente estava tendo
alucinações agora.

—Vivian!

Inundada com desespero, eu gritava:

—Socorro! Estou aqui! Socorro!

—Vee!

Meu coração ameaçava explodir. Havia apenas um homem no mundo inteiro que me
chamava de Vee.

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—Nikolai!

O meu coração bateu depois que gritei o nome dele, a porta se abriu e ele trope-
çou na sala. Fumaça subia ao seu redor. Com o braço sobre seu nariz e boca, ele procu-
rou no espaço mal iluminado por mim. Seu olhar caiu sobre o corpo de John antes de
entrar para a jaula.

—Vee!

Ele correu para a jaula e caiu de joelhos ao lado dela. Aqueles dedos fortemente
tatuados invadiram a grades para tocar no meu ombro. O horror da minha situação apa-
receu em seu rosto bonito, mas muito machucado e arranhado.

—Solnyshko moyo. —Disse ele com uma respiração irregular. —O que eles fize-
ram com você?

Meu sol. As palavras ditas com ternura trouxeram lágrimas de alegria absoluta
para os meus olhos. Alívio eu sentia enquanto sua pele quente tocava a minha. Amarrada
e espancada, eu esfregava meu rosto contra sua mão suave como um cachorrinho que
procura conforto de seu proprietário.

—Você veio por mim.

—Sempre, Vee. Nada vai me manter longe de você.

Ele falou as palavras como um voto. Mesmo que o mundo inteiro parecia queimar
em torno de nós, percebi que tudo tinha mudado entre nós.

—Vivi! —Eric correu para o quarto com Sergei e Kostya seguindo logo atrás. To-
dos olharam para o corpo morto no chão, com os rostos contorcendo com a confusão.
Não havia tempo para explicar. O armazém logo estaria em chamas.

Nikolai pegou os cadeados pesados na frente da minha gaiola.

—Procure a chave no corpo.

—Não temos tempo, chefe. —Sergei ousou ir contra Nikolai. Ele empurrou todo
mundo para fora do caminho, agachou-se na altura dos joelhos e agarrou os lados da
minha gaiola. Com apenas um curto grunhido, ele levantou a gaiola comigo, do chão de
concreto. Eu fiquei rígida e com o medo de ser abandonada, mas se alguém poderia me
levar daqui com o peso adicional da gaiola era esse porra de urso russo.

—Vamos.

Eu nunca tinha estado mais agradecida por ser tão pequena e magra. Embora
sempre invejasse as curvas de Lena e Bianca, percebia agora o quanto de tensão que

77
teria colocado em Sergei. O gigante russo tinha os mais grossos braços, mais musculo-
sos que eu já vi, mas foi um longo caminho para fora desse armazém e ainda maior por
causa do fogo.

Nikolai correu ao nosso lado enquanto Kostya corria na frente e Eric atrás. No
momento em que saímos, estávamos todos tossindo e com falta de ar. Sergei mal rela-
xou e Kostya abriu a porta de trás do SUV prata. Ele me levantou dentro do portamalas
com um grunhido de esforço.

Não disposto a se separar de mim, Nikolai se arrastou para o espaço ao meu lado.
Vendo sua mandíbula tensa, eu poderia dizer que ele estava com muita dor. Depois da
surra que tinha levado, não conseguia acreditar que ele estava de pé e se movendo tão
rapidamente. Por mim, porém, ele parecia disposto a fazer qualquer coisa, até mesmo
correr o risco de novas lesões.

Kostya pulou atrás com a gente enquanto Eric e Sergei foram nos bancos da
frente. Nikolai enfiou a mão na gaiola novamente e acariciou meu braço quando Sergei
deu partida e correu para longe do armazém em chamas.

Enquanto Kostya abria uma mochila preta, Nikolai empurrou a venda para o topo
da minha cabeça. Seus dedos roçaram a minha bochecha. De repente, eu estava muito
consciente do meu estado nu. Nenhum homem tinha me visto sem roupa. Agora mais
quatro homens tinham me visto assim, um deles o meu próprio primo.

Nikolai sussurrou docemente para mim em russo. Sua voz reconfortante me aju-
dou a manter o foco. Depois do inferno ao que eu tinha acabado de sobreviver, eu esta-
va perdendo a consciência rapidamente.

—Ela precisa de uma ambulância. — Eric se arrastou para o assento do meio. —Ela
pode ter lesões por inalação de fumaça.

—O médico está há cinco minutos daqui. —Kostya tirou um alicate da mochila e


começou a tirar as fechaduras. —Sergei!

—Já estou indo para lá. —Ele gritou de volta.

—Um médico? —Eric não parecia feliz. —Ela precisa de um hospital de verdade,
não um veterinário que vocês pagam para costurá-los.

Nikolai acariciou meu braço.

—Ele é um cirurgião de trauma e tem total capacidade de atendimento. Ela vai


estar em boas mãos.

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—Você tem um telefone? — A voz de Eric ficou distante quando ele voltou para o
banco da frente do SUV. A voz rouca de Sergei respondeu a ele. Não muito tempo de-
pois, ouvi Eric chamando 9-1-1 e relatar um armazém em chamas.

Kostya cortou a última fechadura e empurrou a porta da gaiola aberta. Instanta-


neamente, Nikolai deslizou em frente da gaiola para chegar a mim. Kostya enfiou uma
faca em sua mão. Com movimentos rápidos, Nikolai cortou as cordas de meus membros e
a coleira amarrada ao pescoço. Eu gemia com a dor que disparou através dos meus pés e
mãos. Meus ombros doíam tanto. Puxar uma respiração profunda em meus pulmões se-
dentos de oxigênio aliviou um pouco da tontura que eu estava sentindo.

—Deixe. —Kostya empurrou gentilmente Nikolai para o lado e me tirou para fora
da gaiola. Era claro que ele queria poupar Nikolai a dor e a lesão de me pegar.

Lembrando como eu estava machucada, me desculpei com o homem a quem cha-


mavam um produto de limpeza.

—Eu sinto muito. Estou deixando você todo sujo.

Ele esboçou um pequeno sorriso.

—Já estive pior que isso.

Nikolai tirou a jaqueta e segurou seus braços abertos. Kostya me depositou no


colo de Nikolai antes de sair do portamalas para nos dar privacidade. Com muito cuida-
do, Nikolai colocou seu casaco em volta de mim. Quando estava coberta, ele soltou o
colar desagradável que estava apertando meu pescoço e o jogou longe.

Protegendo meu rosto, ele olhou para mim. Com a voz embargada, ele finalmente
perguntou:

—Eles machucaram você?

Quando ele disse machucaram, ele quis dizer estupro.

—Não.

Ele estudou o meu rosto para detectar quaisquer sinais de mentira. A linha som-
bria de sua boca relaxou quando teve a certeza de que eu estava dizendo a verdade.

—Mas eles fizeram outras coisas para você.

Engoli em seco quando seu dedo traçou uma das marcas de queimadura em minha
coxa. Novas lágrimas surgiram em meus olhos.

—Sim.

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Apertando-me com força contra o peito, ele enfiou os dedos pelo meu cabelo.

—Não pense em nada disso agora. Repouse. —Ele pressionou um beijo carinhoso
na minha cabeça. —Laskovaya Moya. — Mesmo como os mais dolorosos espasmos muscu-
lares e sensações de alfinetadas que acumulavam em meu pobre corpo abusado, eu me
deleitava no jeito de Nikolai. A suave carícia de suas mãos me fez sentir segura e pro-
tegida. Embora tentasse ficar acordada, comecei a cochilar.

O SUV finalmente desacelerou e parou. Eu estava à beira de desmaiar, mas agora


podia ouvir Eric discutindo com Kostya. Uma palavra dura de Nikolai os silenciou. A por-
ta de trás do SUV se abriu para revelar a forma desmedida de Sergei.

—Vou levá-la, chefe.

—Tenha cuidado com ela. —Nikolai relutantemente permitiu a Sergei me levar.

Nos braços maciços do lutador, olhei de volta para Nikolai, que deslizou para fora
do portamalas para nos seguir. Quando ele se inclinou para frente, a parte dianteira da
camisa desabotoada estava aberta apenas o suficiente para dar um vislumbre de seu
peito. Com a luz do teto do portamalas dava para ver a silhueta dele tão estranhamente
na escuridão da noite. Não foi até que ele se virou totalmente para mim e eu pude dar
uma boa olhada na tatuagem estampada em seu esterno.

De repente, fui levada de volta para uma noite, uma noite mais quente e perfu-
mada que essa. Uma noite, quando um homem, uma silhueta nas sombras tinha atirado
em mim. Um homem com a tatuagem exata...

Nossos olhares se chocaram. Naquele momento, eu vi a feia e terrível verdade


gravada na face do homem que eu amava mais do que tudo neste mundo. Não era um
bandido não identificado, em uma bela casa, que tinha atirado em mim naquela noite.

Foi Nikolai.

80
Capítulo Oito

Às quatro da manhã, Nikolai tinha Vivian deitada em sua cama. Ele estava na por-
ta de seu quarto e vigiava o seu sono. Ela tinha passado por tanta coisa nos últimos dias
e desesperadamente precisava descansar e se curar.

Sua visita ao médico tinha durado quase três horas, porque o médico queria ver
se todos eles teriam reações adversas à inalação de fumaça. Depois de hidratar Vivian,
tratar suas queimaduras e arranhões e, administrar um sedativo, o médico havia deixa-
do que fossem para casa, com instruções especificas para seu cuidado e uma série de
medicamentos para o tratamento das lesões de Nikolai. Os analgésicos eram tentado-
res, mas ele se recusou a nublar sua mente agora, não quando tudo ainda era muito in-
certo.

Ele não queria pensar sobre o quão perto ele esteve de perdê-la. Se Sergei não
tivesse conseguido tirar à força a localização do motorista do caminhão e eles não ti-
vessem conseguido achar através do GPS de Kostya, eles poderiam ter chegado tarde
demais. Ele agradeceu a Deus terem chegado lá a tempo de salvá-la daquele inferno em
fúria.

Mesmo que ele ainda tivesse que descobrir quem diabos tinha arquitetado o ata-
que e sequestro, sua primeira preocupação era Vivian. Tinha visto um lampejo de reco-
nhecimento em seu rosto, quando ela avistou a tatuagem que ele tinha escondido tão
cuidadosamente dela todos esses anos. Naquele momento, ele queria cair de joelhos e
implorar seu perdão. Ele queria rastejar para ela e implorar para deixá-lo explicar.

Ela se fechou, depois que fez sua descoberta terrível e evitou o contato com os
olhos. Ele não sabia se ela iria perdoá-lo pelo que ele tinha feito ou, por ter mentido
para ela. Ele não merecia perdão e se ela o odiasse a partir de agora até o seu último
suspiro, ele não guardaria rancor.

—Chefe? —A voz de Sergei tirou Nikolai de seus pensamentos conturbados. Ele


olhou para o corredor para ver o seu funcionário estendendo um telefone celular. As
juntas de Sergei estavam inchadas e sangrando. —É o detetive.

Depois que eles receberam o seu tratamento, Santos pediu para ser deixado a
poucos quarteirões da garagem onde ele pegaria seu carro. Nikolai viu o homem em con-
flito por sua participação nos eventos da noite. Frio como parecia, a culpa do detetive
não era o seu problema, ele não ia gastar mais energia pensando nisso.

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—Sim? —Ele respondeu um pouco bruscamente, o estresse e esgotamento físico
irritavam os nervos já desgastados.

—Como ela está?

Nikolai observou Vivian por alguns segundos.

—Ela está dormindo.

—Bom. Olha pelo que eu ouvi, todo o maldito armazém foi queimado até o chão.
Não há nenhuma evidência que nos ligue a ele ainda, mas….

—A polícia já está me perseguindo para interrogar. Meu advogado informou que


Vivian está se recuperando e está aqui na minha casa. Dois detetives pediram para nos
entrevistar em algumas horas.

—Sim, eu sei. Fui chamado cinco segundos após seu advogado informar o estado
de Vivian, avisado que ela estava a salvo.

—E o que foi que você disse?

—Eu agi com surpresa. Se Katrina acreditou é uma incógnita.

—Tanto quanto eu saiba, eu não te vejo desde o outro dia de manhã no aparta-
mento de Vivian.

—Eu fui visto entrando em seu quarto de hospital.

—Onde eu estava inconsciente. —Nikolai lembrou.

—Você não precisa me proteger. Fui de bom grado com você está noite. Cruzei a
linha por minha própria vontade.

O olhar de Nikolai voltou a Vivian.

—Eu não estou te protegendo. Estou protegendo a ela. Se você receber alguma
punição, ela vai se sentir culpada.

Santos suspirou.

—Qual é a história que você está contará aos detetives?

—Recebi um telefonema com um pedido de resgate, sai do hospital, reuni o di-


nheiro e troquei por Vivian.

Santos resmungou com a incerteza.

—Vamos esperar que funcione.

—Vai.
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—Vou aparecer mais tarde para visitá-la. —Santos hesitou. —Somente cuide dela.

Ele ouviu a provocação sutil. Cuide dela melhor do que a última vez...

Um segundo depois, a linha de telefone ficou muda. Nikolai franziu o cenho para
o telefone antes de entregá-lo de volta para Sergei. O gigante parecia prestes a cair
de exaustão. —Vá para casa. Durma um pouco. Coloque gelo em suas mãos.

Sergei sacudiu a cabeça.

—Meu lugar é aqui, guardando a vocês dois.

—Eu aprecio a sua lealdade, mas Kostya já tem cinco homens na casa. Se você não
vai para casa, use um dos quartos de hóspedes e tire um cochilo. Preciso de você des-
cansado e alerta.

Com certa relutância, Sergei assentiu e caminhou pelo corredor. Com a casa pro-
tegida por homens de sua confiança, Nikolai fechou a porta do quarto e, lentamente,
sentou na cadeira de leitura confortável ao lado de sua cama.

Ciente de suas costelas doloridas e da latejante dor de cabeça sentou-se com


muito cuidado. Ele esticou as pernas cansadas e fechou os olhos. Por um longo tempo,
ele se sentou lá e apreciou o silêncio. Ele passou a mão levemente sobre o buraco costu-
rado em seu ombro. Ele agravou a ferida, hoje, mas milagrosamente não abriu qualquer
um dos pontos. A parte de trás de sua cabeça doía sem piedade. Ele tocou os grampos lá
e fez uma careta.

—Estou ficando muito velho para esta merda. —As palavras resmungadas pareci-
am bastante altas no silêncio e calma de seu quarto. Muito em breve ele estaria com
quarenta e seria velho demais para ter brigas nas ruas e arrastar uma mulher para fora
de um armazém em chamas.

Sua mulher? Ele olhou para Vivian. A luz do abajur iluminava seu rosto lindo.
Mesmo com as contusões ela ainda era a coisa mais bonita que ele já tinha visto. Ele es-
tendeu a mão para segurar a sua. Culpa perfurou seu coração com a visão das ataduras
cobrindo as feridas desagradáveis em seus pulsos.

Ele traçou cada dedo fino e viu suas iniciais na parte de trás de sua mão. As ta-
tuagens que marcam sua pele pareciam tão violentas quando comparadas com a pele i-
maculada de Vivian. Ele usava as provas de seus crimes para o mundo ver.

E hoje à noite ela viu pela primeira vez o que ele era realmente capaz de fazer.
Ele atirou numa criança inocente. Tinha quase a matado. Não havia nada que o absolves-
se desse pecado. Nada.

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Embalando sua pequena mão, ele tentou memorizar a sensação de sua pele contra
a dele. Por tudo o que sabia, esta seria a última vez que ele seria capaz de tocá-la.
Quando ela acordasse, ficaria furiosa com ele e com razão.

Nikolai pensou em como tentou de tudo para ignorar seu amor por ela e a agora
faria qualquer coisa para mantê-la em sua vida. Todas as coisas que ele tinha visto como
obstáculos, sua idade, sua profissão, sua inocência, sua escuridão, já não importava para
ele. Apenas o emaranhado do passado estava entre eles agora.

Mas ele não sabia como consertar isso. A verdade surgiria quando ela acordasse
e depois? Será que ela o odiaria para sempre? Será que ela exigiria ir embora? Será
que ele poderia mantê-la aqui contra a sua vontade, mesmo que fosse melhor?

A resposta veio rapidamente. Ele a deixaria ir. Ele a mandaria para qualquer lugar
do mundo que ela quisesse desde que estivesse segura e feliz. Isso iria matá-lo, desistir
dela, mas ele faria isso, se ela realmente quisesse ir embora.

Uma batida na porta atraiu seu olhar irritado.

—O quê?

Kostya espiou para dentro do quarto.

—Você tem outra chamada.

Não querendo levantar a sua cansada e dolorida bunda da cadeira, Nikolai sacudiu
os dedos.

—Quem é?

—Grisha.

Os lábios de Nikolai franziram. A última pessoa com quem ele queria falar essa
noite.

—Eu liguei para Ivan e Dimitri para que eles saibam que Vivian está segura. Dimi-
tri prometeu chamar Yuri para repassar a boa notícia.

Nikolai aceitou o telefone de Kostya.

—Obrigado.

—Eu vou sair por um tempo. Volto ao meio-dia.

Nikolai assentiu.

—Leve o tempo que você precisar.

84
Quando Kostya fechou a porta atrás dele, Nikolai esfregou a testa e respondeu
com um suspiro resignado.

—Grisha.

—Kolya. O apelido soava diferente vindo de seu velho conhecido, do que soava
vindo da boca doce de Vivian. Com ela, era sempre provocante e iluminado. De Grisha,
era um aviso. —Ouvi dizer que você tem a sua menina de volta.

—Sim.

—Você sabe quem a levou ou que te atacou?

—Ainda não. —Ele não ligava em contar os detalhes que sabia. As coisas ainda es-
tavam muito incertas para enviar as informações para a chefia. Ele não queria provocar
mal entendidos e estimular uma má decisão, que viria colocar sua equipe em perigo.

—O velho não está feliz. Primeiro, você teve essa merda com os albaneses, por
causa da drogada que roubou deles. Você arriscou seu pescoço para comprar proteção
para a irmã viciada em crack, mesmo que você tinha dito para não ir, depois foi essa
merda com Yuri e a garota louca. Que eu rastreei em Moscou. Agora isso?

Nikolai não mordeu a isca. Grisha gostava de discutir, mas ele não ia jogar esse
jogo, não está noite. Ele sempre foi ciumento da posição de cereja do bolo, de Nikolai
aqui em Houston e Nikolai estava cansado demais para ouvir merda de Grisha sobre as
escolhas que tinha feito por seus amigos.

Mesmo que não estivesse feliz com toda a porra de drama com o qual tinha lidado
este ano, Nikolai também sabia que seu período no controle de Houston tinha sido o
mais tranquilo, bem sucedido e rentável em toda a história da organização.

—Se você acabou de chutar minha bunda, eu gostaria de ir para a cama. Tem sido
uma longa noite.

Grisha riu.

—Se eu tivesse uma coisinha doce esperando na minha cama, eu não gostaria de
perder tempo com o telefone também.

Nikolai estreitou os olhos. Tinha Kostya dito a Grisha que Vivian estava hospeda-
da no quarto dele ou, Grisha simplesmente adivinhou?

—Terminamos?

—Maksim diz para limpar essa bagunça e rapidamente. Ele não gosta de proble-
mas.

85
Nikolai ficou maravilhado com a hipocrisia do velho bastardo. Nos últimos anos,
Maksim tinha diversificado a organização em muitas direções, algumas das áreas muito
arriscadas, com altos ganhos como: a fraude de identidade. Houve mais problemas para
cuidar do que Nikolai lembrava. Sua equipe tinha sido poupada da maioria dos problemas
por causa de suas regras, mas outros não tiveram tanta sorte.

—Nem eu. —Encerrando a ligação, Nikolai jogou o telefone na mesa de cabecei-


ra. Fechando os olhos, ele encontrou uma posição confortável para a cabeça e começou
a trabalhar com os vários ângulos desta bagunça.

Kostya tinha conseguido chegar a Sheets, o cafetão que frequentava o Wet, seu
clube de Strip. O homem tinha sido informado sobre o tráfico ilícito ocorrendo em toda
a cidade. Quando ele confirmou que o Sr. Lu era o homem que passava os contêineres de
mulheres pela alfândega, Sheets surpreendeu Nikolai com a informação de que o sindi-
cato asiático não era quem mandava. Ele não sabia a identidade do chefe, era tudo um
segredo, mas ele sabia o nome da empresa de caminhões usados para transportar as
mulheres pela cidade.

Nikolai tinha reconhecido instantaneamente a empresa como de propriedade de


um homem ligado ao Calaveras. Os sinos de alarme começaram a tocar. Estaria o pai de
Vivian envolvido em seu sequestro? Seria esta a maneira da gangue de motociclistas
recebê-lo de volta? Onde é que o cartel se encaixava em tudo isso?

Júlio parecia sincero quando tinha jurado que nenhum dos aliados do cartel Guz-
man estava envolvido no sequestro ou ataque. Ele não era tão bom mentiroso, por isso,
ou ele tinha sido propositadamente mantido fora da associação com os Calaveras, para
usarem uma de suas empresas para o tráfico ou a gangue tinha de alguma forma conse-
guiu manter isso muito escondido.

O que se passava na teia de aranha do cartel importava muito pouco a ele, desde
que ficasse fora do seu negócio e do seu caminho. De alguma forma eles foram arrasta-
dos nisso e ele precisava saber como e por que.

Mas quem ordenou o ataque e sequestro? Quem queria machucá-lo? Quem queria
machucar Vivian? Essas eram as perguntas que precisavam ser respondidas.

Lu parecia o lugar mais provável para começar, mas se ele iria ou não estar dis-
posto a cooperar era uma incógnita. O velho pode ser um bastardo cauteloso. Ele sem-
pre foi muito cuidadoso em deixar muitas explicações plausíveis entre ele e quaisquer
ilegalidades.

Era um modelo que Nikolai estava tentando seguir nos últimos anos. Lenta, mas
seguramente, ele foi se distanciando da equipe nojenta, do lado mais sombrio de seu

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mundo e entrando em formas legítimas de ganhar. Ao contrário de Ivan, seu desejo de
deixar para trás essa vida não seria fácil ou rápido. Talvez fosse impossível, mas ele
estava tentando.

Agora não parecia apenas ser uma maneira de descobrir as respostas que tanto
precisava. Ele tinha que ir mais profundo e mais para dentro dessas águas turvas e re-
zar para que ele não se afogasse.

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Capítulo Nove

Eu sonhei o mesmo sonho que me atormentava desde aquela fatídica noite de a-


bril, a cerca de 11 anos atrás, mas desta vez não houve o fim abrupto. Dessa vez me
lembrei de tudo.

O cheiro da casa encheu meu nariz. Lembrei-me do fraco e persistente aroma de


amora de uma vela. Eu podia sentir o peso do grande moletom com capuz que meu pai
tinha me dado, de algodão preto drapeado, que eu era muito menor que ele. Eu senti a
mordida da moldura contra meus joelhos enquanto subia pela janela do banheiro para
abrir a porta da frente para o meu pai.

E então eu estava dentro da casa escura, movendo-me em silêncio atrás de meu


pai. Ele sinalizou que eu deveria ir lá em cima e pegar os pertences do armário enquanto
ele roubava os do escritório. Eu calmamente subi a escada para o segundo andar e cami-
nhei para o quarto principal.

Tudo era exatamente como meu pai havia descrito, no desenho do guardanapo de
fast food que ele tinha me dado mais cedo naquela noite. Parei na porta do quarto per-
feitamente organizado e pensei em como era estranho que meu pai conhecesse sim-
plesmente tudo sobre esta casa. Mesmo naquela tenra idade, sabia que algo não estava
certo.

Em vez de o sonho pular para a pior parte, ao momento de puro terror em que eu
tinha sido atingida com uma 9mm, o sonho parecia abrandar. Mudei-me para o armário,
encontrei as caixas de madeira com jóias e comecei a encher os bolsos com todos os
objetos de valor que eu podia pegar.

Mas um barulho estranho no andar de baixo me fez sair do armário. Isso era algo
que eu nunca tinha lembrado. Isso era novo.

Colocando um punhado de jóias no bolso, saí do armário e ouvi os sons de uma bri-
ga. Um tiro abafado estalou no silêncio da casa. Assustada com o som, eu pulei. Era isso
que tinha me feito correr para a janela?

Mesmo nas horas após o tiroteio, nunca tinha sido capaz de lembrar por que corri
para a janela. Isso nunca tinha feito sentido para mim. Agora entendi por que tinha fei-
to isso. Eu era uma criança em pânico procurando o primeiro meio de fuga.

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Mas tropecei em um pufe e caí no chão duro. O barulho alto havia alertado o ho-
mem lutando com meu pai, que eu estava lá em cima. O som de passos pesados subindo
as escadas me assustou tanto que me levantei e corri para a janela, numa tentativa de-
sesperada de fugir. A janela estava aberta, coloquei um pé no parapeito, quando um
rosnado áspero, me paralisou.

—Largue a arma!

A arma? Eu não tenho uma arma. Apavorada e incapaz de falar, me virei rapida-
mente e enfiei a mão no bolso do meu casaco para pegar todas as joias que eu tinha
roubado. Quase instantaneamente, o primeiro tiro explodiu na sala. Não foi até que a
segunda e a terceira balas atingiram em meu corpo, que percebi que tinha sido baleada.

Cambaleando para trás, bati no parapeito da janela e perdi o equilíbrio. Nesse


momento antes de cair, vi o homem que atirou em mim. Havia luar apenas o suficiente
para iluminar o rosto horrorizado. Era um jovem, Nikolai.

Com um soluço irregular, sentei na cama.

—Não!

—Vee! —Nikolai estava ao meu lado em um instante, sua mão suave acariciando
meu rosto.

De repente, avessa ao seu toque, eu bati afastando sua mão.

—Não!

Nikolai recuou imediatamente. Ele cambaleou para trás e colocou espaço entre
nós. Levei alguns minutos para limpar a minha mente sonolenta e ver as faixas em meus
pulsos. Eu não me lembro de nada depois de conhecer o médico e da luz ultra brilhante
do centro cirúrgico ambulatorial.

Eu estava na casa de Nikolai? Em seu quarto? O espaço parecia tão masculino


com o seu mobiliário de couro e tons de terra. Era exatamente o tipo de decoração que
eu teria imaginado escolher.

De todas as maneiras que eu já fantasiei ser convidada para sua cama, essa abso-
lutamente não era uma delas. Sequestrada e quase morta em um inferno em chamas,
tinha sido trazida para cá para me recuperar. Eu finalmente passei a noite na cama do
homem que eu amava tão desesperadamente.

Na cama do homem que tentou me matar quando eu era apenas uma garota.

Com a voz falhando, eu exigi:

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—Tire sua camisa.

Nikolai engoliu em seco, mas não negou o meu pedido. Ele desabotoou lentamente
os botões e retirou o algodão branco de seu corpo. A área do ombro estava manchada
de sangue seco ao redor do curativo cobrindo os pontos. Com as cortinas pesadas fe-
chadas, o brilho da lâmpada de cabeceira iluminaram as muitas e muitas tatuagens que
agora me revelava.

Mas foi a tatuagem bem no centro do peito que mais me interessou. A cruz es-
tranhamente adornada com videiras espinhosas era a dos meus pesadelos. Foi à única
coisa que havia inspirado minha última coleção de pinturas. Era a coisa que ameaçava nos
separar para sempre.

Nem mesmo tentando segurar, chorei lamentando.

—Você atirou em mim.

Nikolai caiu de joelhos. Eu nunca tinha visto nada parecido. Ele parecia ter perdi-
do todo o controle de seu corpo. Caindo para frente, sobre as palmas das mãos, ele se
arrastou para mim. A agonia esculpida nas linhas angulares do rosto dele me disse o
quanto ele se arrependeu do que havia acontecido.

—Sinto muito.

—Sinte muito? Você mentiu para mim. — Ficando em pé, ia bater na sua cara,
mas, no último momento me lembrei de que ele tinha sofrido um ferimento na cabeça. O
golpe aterrissou entre o pescoço e seu ombro, longe do lugar onde ele tinha sido esfa-
queado.

A raiva pela traição me enfureceu. Eu fechei meu punho e bati em seu peito de
novo, de novo e de novo. Ele não tentou me parar. Ele parecia desesperado para que eu
continuasse batendo, até derrubá-lo, até que a dor física superasse o inferno emocional
que sofreu.

Fraca, com fome e exausta, finalmente parei de bater nele. Nikolai caiu para
frente. Ele pressionou seu rosto na minha coxa nua, o restolho áspero de sua mandíbula
raspou na minha pele. O aquecimento da umidade de suas lágrimas me surpreendeu.

—Sinto muito. Sinto muito.

Tremendo de choque com sua reação, eu olhava para a cabeça e a extensão de


suas costas. Vendo as cicatrizes e as tatuagens que mostrava o quão sofrido ele era.
Quanto deve ter sido agonizante para ele manter este segredo todos esses anos?

90
Embora a minha raiva em relação à mentira que eu desconhecia durante tanto
tempo, não fosse desaparecer esta noite, com o tempo ela iria me irritar cada vez me-
nos. De alguma forma estranha, a mentira entre nós não nos afastava. Ela nos unia tão
fortemente que não havia maneira de saber onde começava um e terminava o outro.

Eu enfiei o meus dedos trêmulos pelos cabelos grossos. Eu cuidadosamente evitei


o ferimento feio na parte de trás de sua cabeça, enquanto meus dedos desciam em di-
reção ao seu pescoço. Fiquei maravilhada com a maciez surpreendente de sua pele tatu-
ada. As marcas se destacavam contra sua pele pálida e cada uma, era a lembrança de um
crime terrível.

Ele carregava as provas de seus crimes em sua pele, para todo mundo ver. Parte
do meu fascínio por tatuagens relacionadas com gangues estava à disposição em uma
pessoa para mostrar os seus pecados para o mundo exterior. Eu não conseguia enten-
der. Todas as coisas, criminosas e estúpidas que fiz quando era criança, eram as minhas
maiores vergonhas. Eu não queria que ninguém soubesse sobre elas.

Mas homens como Nikolai, Ivan e Kostya? Eles usavam descaradamente, mas não
com orgulho. Eu rapidamente aprendi que a maioria dos indivíduos que entrevistei, para
minhas pinturasm não tinha orgulho das coisas que tinham feito. Eles lamentavam imen-
samente, e ainda assim, marcaram seus corpos como lembretes. Seria uma forma de
penitência?

As tatuagens de Nikolai se distinguiam das dos outros. Elas eram enormes. Será
que ele queria ser evitado e tratado mal? Será que isso o faz se sentir melhor ou alivia
a sua culpa?

Mesmo Ivan que tinha se regenerado, recebeu muitas vezes o tratamento de le-
proso. Erin tinha me falado de uma vez que eles tinham ido a um dos melhores restau-
rantes da cidade e foram informados que a sua reserva tinha sido misteriosamente
cancelada. Em alguns aspectos, Ivan ainda estava sendo punido por crimes que ele tinha
pagado há anos atrás.

Sentindo-me muito confusa, tentei me lembrar da fé que me fez superar passa-


gens difíceis na minha vida. Fechei os olhos e lembrei o que a minha fé me ensinou. Só
havia uma coisa a ser feita.

—Eu te perdoo, Kolya.

Sua cabeça se ergueu. Com os olhos turvos, arregalados para mim.

—Não diga isso.

Eu escovei meus dedos ao longo de sua mandíbula quadrada.

91
—Eu disse isso. Eu quero dizer isso. Eu te perdoo.

Sua respiração áspera passou pelo tecido fino da camisola azul de hospital, que
cobria minha nudez.

—Eu não mereço isso. Eu sou um monstro que atirou em uma criança e depois
mentiu para ela por onze anos, caralho.

Eu não poderia discordar disso.

—Por quê?

Ele olhou para mim com os olhos avermelhados.

—Por que eu atirei em você? Ou por que eu menti?

—Os dois.

—Quando acordei com uma arma na minha cara, entrei em modo de sobrevivência.
Depois que peguei a arma de seu pai, eu lutei, mas ele ficou livre e correu. Então ouvi
aquele barulho no andar de cima. Era tão alto. Eu corri até lá e vi uma figura sombria na
janela. Achei que você tinha uma arma. Eu não podia... Eu não podia ver muito bem. A
sombra e a luz da janela fez você parecer muito maior, e então você enfiou a mão no
bolso e eu reagi.

Meus olhos se fecharam. Claro. Ele estava cheio de adrenalina.

—Eu estava tentando puxar a joia do meu bolso. Eu não tinha uma arma.

—Eu percebi isso depois que você caiu. Eu corri até lá para ver se você ainda es-
tava viva. —Ele esfregou a testa e sufocou as próximas palavras com tal angústia. —
Você pegou minha mão e chamou por sua mãe.

Lágrimas quentes escorriam pelos cantos dos meus olhos.

—Eu não me lembro de nada disso.

—Eu sim. Lembro-me de tudo.

Eu realmente não queria entrar em todos os pequenos detalhes, mas eu sabia que
se não perguntasse agora, nunca o faria.

—Como você convenceu a polícia de que não era a pessoa que atirou em mim?

—Kostya estava na casa ao lado. Nós a tínhamos comprado como parte do nosso
plano de expansão neste território. Ele cuidou de tudo na casa para deixá-la limpa antes
que a polícia chegasse.

92
—Todo mundo sabia a verdade, menos eu?

Ele fez uma careta.

—Só Kostya, Ivan, Dimitri e Yuri. Eles juraram silêncio.

Aparentemente, eles mantiveram sua promessa. Se Erin ou Lena soubessem a


verdade, teriam me dito.

A única coisa que ele disse sobre o meu pai finalmente me atingiu.

—Espera, você disse que meu pai tentou matá-lo? Foi uma tentativa que deu er-
rado?

Nikolai assentiu.

—Eu nunca descobri quem o pagou e ele nunca falou sobre isso. Ele levou esse
nome com ele para prisão.

Se houvesse algo no meu estômago, eu teria vomitado ali mesmo.

—Fiz parte disso.

Nikolai segurou meu rosto.

—Você não sabia. Você era apenas uma criança. Nada do que aconteceu naquela
noite foi culpa sua.

—Mas você poderia ter morrido.

—Mas não morri. Eu sobrevivi e você sobreviveu. Isso é tudo que importa.

Engoli em seco.

—Por que você não me disse a verdade? Todos esses anos…

—Eu não sabia como fazer. Num primeiro momento, fiquei aliviado por você não
se lembrar. Era egoísmo da minha parte, mas eu não queria voltar para a prisão. Pela
primeira vez desde a infância, estava assustado. Eu morria de medo do monstro que me
tornei. Um homem que poderia disparar numa criança? —Ele balançou a cabeça. —Eu
tinha que mudar. Eu tinha que encontrar uma maneira de arrumar todas as coisas ruins
que tinha feito.

—Por que cuidou de mim?

—Sentia-me responsável por você. Depois da maneira que você lutou para sobre-
viver, eu queria ter certeza de que você nunca passasse por isso de novo. Queria que
tivesse oportunidades na vida. Nunca tive a intenção...

93
Inclinei a cabeça depois de sua voz sumir.

—Você nunca quis o quê?

—Chegar perto de você. —Disse ele finalmente. —Depois que seus avós tinham
ido embora, planejei cuidar de você de longe, me certificar de que suas despesas fos-
sem pagas, para que você pudesse prosseguir com sua arte. —Ele exalou com tanta tris-
teza. —Mas então você se aproximou de mim e estava tudo acabado. Comecei a desejar
você. Eu preciso de você. O pensamento de estar separado de você faz meu coração
sangrar.

Meu cérebro ameaçou derreter, quando as palavras que tinha sonhado que ele me
dissesse derramaram de sua boca.

—Mas isso é doentio, Vee? Eu estou apaixonado por você, a mulher que eu quase
matei quando era criança. — Ele estremeceu com desgosto. —Eu sou a porra de um
monstro.

Meu peito se apertou enquanto sua voz cheia de dor girava a minha volta. Tocan-
do sua mandíbula, eu sussurrei,

—Você não é um monstro.

—Eu sou Vee.

Encorajada, insisti:

—Você não pode ser um monstro, porque eu te amo.

Ele respirou fundo.

—Você não deveria.

—Talvez você esteja certo. —Eu admiti. —Mas não importa. Isso não muda a ma-
neira como me sinto por você.

—Você não pode me amar.

Limpei a umidade que manchava suas bochechas.

—Eu te amo.

Seu olhar intenso me queimava. Com a voz rouca de emoção, ele admitiu:

—Você é boa demais para mim, eu deveria ser um homem melhor e mandá-la para
longe, mas Deus me ajude, não posso. Eu te amo, Vee.

94
Eu tentei diminuir a tontura vindo sobre mim, meu mundo girou, com sua admissão
de amor. Ainda ajoelhado aos meus pés, Nikolai deslizou um braço em volta da minha
cintura. Timidamente, tocou minha bochecha, seus dedos deslizando sobre a minha pele
leve como uma pluma. Nossos olhares se encontraram quando ele se aproximou. Meus
olhos se fecharam enquanto esperava pelo beijo que queria há muito tempo...

—Chefe? — O vozeirão de Sergei penetrou na porta. —Detetive Santos está a-


qui. Os outros policiais estão a caminho.

Eu silenciosamente amaldiçoei a interrupção de Sergei. Empurrado para fora da-


quele momento perfeito, Nikolai se sentou em seus calcanhares. Ele correu o polegar
sobre meu lábio inferior, seu toque me marcando para sempre como sua. —Você deve
tomar banho e se vestir. A sua mala está aqui. Venho buscá-la daqui a pouco.

—Ok. —Não era a resposta mais eloquente, não depois da revelação de nossas al-
mas, mas foi tudo o que consegui no meu estado atordoado.

Como Nikolai, eu esperava que uma parede de gelo surgisse entre nós novamente,
mas ele parecia quase aliviado de ter tudo revelado. Eu tinha crescido tão acostumada a
ele desviando o caminho para evitar me tocar, que foi um pouco surpreendente vê-lo se
curvando para beijar o topo da minha cabeça. Não era o beijo que eu desejava tão de-
sesperadamente, mas significava quase tanto para mim.

—Você precisa que eu fique aqui? Está muito tonta para tomar banho sozinha?

Lambi meus lábios com a ideia de Nikolai me ajudando a tomar banho.

—Hum... Não. Estou bem.

—Se precisar de mim…

—Eu vou gritar para você.

Nikolai entrou em seu banheiro e no armário em anexo para pegar suas roupas e
produtos de higiene pessoal. Ele parou na porta e fez um gesto entre nós.

—Vamos terminar isso mais tarde.

Quando ele saiu do quarto, fiquei me perguntando o que era aquilo. Eu duvidava
que fosse algo tão simples como namorar. Eu suspeitava que Nikolai Kalasnikov estivesse
prestes a virar a minha vida perfeitamente ordenada de cabeça para baixo.

95
Quando ele saiu do quarto com a camisa escancarada, Nikolai percebeu os olhos
surpresos de Sergei. O funcionário não disse nada e logo desviou o olhar. Qualquer ou-
tra pessoa teria feito um comentário sujo por ele sair do seu quarto seminu, mas Sergei
era inteligente o suficiente para saber que Nikolai não permitiria esse tipo de comentá-
rio quando se tratava de Vivian.

Limpando a garganta, Sergei disse:

—Eu vou dizer a Santos que você descerá em breve.

—O David já está aqui? —Ele precisava de seu advogado ao lado de Vivian antes
que os outros detetives chegassem para interrogá-la sobre o sequestro.

—Ele ligou do escritório mais cedo. Está a caminho.

—Mantenha-os na biblioteca. Os outros detetives também. —Acrescentou. —


Santos pode esperar, mas mantenha um olho nele.

—Kostya está com ele agora.

—Bom. —A última coisa que ele precisava era do primo de Vivian bisbilhotando
sua casa. Pensando nela, ele ordenou: — Mande alguém preparar o café da manhã. Vivian
precisa comer.

—Dimitri passou esta manhã, deixou caixas da padaria de Benny. Disse para to-
mar cuidado, chefe.

Isso eram Dimitri e Benny sendo atenciosos sem se intrometer ou fazer uma
grande cena.

—Chefe, uh, o sacerdote de Vivian está aqui.

Nikolai piscou.

—Padre Semyon?

—Yeah. Ele estava na porta da frente logo depois do nascer do sol. Ele disse que
estava feliz em esperar, por isso, não o acordei. Dei-lhe chá e café da manhã. Ele está
com Santos.

96
Jesus, Nikolai pensou irritado. Um detetive, um padre e um advogado em sua ca-
sa! Era como uma piada de bar de mau gosto.

—Mantenha-o ocupado. —Nikolai fechou a porta da suíte master. —Não deixe que
ela vá lá embaixo sem mim.

Com suas instruções dadas, Nikolai caminhou para o quarto de hóspedes do outro
lado do corredor e entrou no banheiro. Despir provou ser mais doloroso do que ele es-
perava. Dormir naquela cadeira não tinha feito a seu corpo golpeado quaisquer favores.
Talvez ele precisasse ouvir o médico e ter calma hoje. Um desses analgésicos pode não
ser uma ideia tão ruim...

Uma vez no chuveiro, ele descansou a cabeça contra o azulejo e deixou a água
quente escorrer sobre seu corpo cansado e dolorido. Ele pensou que sentiria tanta ver-
gonha de fraquejar na frente de Vivian. Ele tinha vivido muito tempo escondendo suas
emoções e agora que as liberou se sentia estranho e inquieto. Ele esfregou seu peito. A
dor causada pelos golpes de Vivian iria desaparecer em breve. Lá no fundo, sentiu a dor
de sua culpa finalmente aliviar um pouco.

O rosto de Vivian dançava diante de seus olhos. Embora tivesse temido a revela-
ção feia, o sórdido segredo entre eles, ele nunca se sentiu mais livre do que nos momen-
tos seguintes, depois que a verdade tinha sido revelada. O seu perdão ainda o atordoa-
va. Ele não merecia isso e não aceitou o plenamente. Talvez nunca fosse aceitar, mas ele
amava a sua bondade.

Enquanto se secava e vestia a calça jeans, Nikolai percebeu que as coisas nunca
poderiam voltar a ser como eram antes entre eles. Os velhos tempos de girar em torno
de seus sentimentos e fingir que não eram reais, tinham ido embora. Ele tinha que to-
mar uma decisão sobre o seu futuro e tinha que fazer em breve.

Quando ele deixou o quarto de hóspedes, encontrou Sergei montando guarda fo-
ra da suíte master.

—David já está aqui, mas os outros detetives ainda não.

—Nós vamos descer em alguns minutos. — Nikolai bateu na porta e esperou. Em-
bora ele adorasse muito pegar um vislumbre dela em seu closet, duvidou que ele pudes-
se se controlar se o fizesse. Suas emoções estavam muito afloradas hoje. A interrup-
ção de Sergei anteriormente o havia impedido de beijá-la. Agora, ele não sabia se isso
era uma coisa boa ou ruim.

—Entre.

97
Nikolai abriu a porta e encontrou-a em pé ao lado da janela com vista para o quin-
tal. O sol fraco do início de uma manhã de dezembro a pintava com uma luz cinza suave.
Ela prendeu o cabelo em um coque baixo com mechas emoldurando seu rosto.

Ele notou as roupas que ela tinha escolhido: jeans, uma camiseta e um cardigã.
Não porque sua casa estava fria. Não, ele percebeu que, após a provação traumática que
ela sobreviveu, ela queria se sentir embrulhada e coberta. A lembrança de sua falha
esfaqueou seu coração.

—Eu não tinha ideia de que seu quintal era tão bonito.

Ele atravessou o quarto até estar ao lado dela.

—É mais bonito na primavera e no verão, quando todas as árvores e arbustos es-


tão florescendo.

—Eu não sabia que você era um jardineiro. — Seu olhar permaneceu no quintal de
grandes dimensões e extremamente privado. —Aqueles são repolhos?

—Eu cultivo repolhos ornamentais e couve próxima às cercas. —Ele destacou as


linhas densas de floração claras ao longo da parede traseira. —Eu tive sorte com elas e
o açafrão este ano.

Ela virou um sorriso deslumbrante para ele.

—Eu não posso acreditar que nunca percebi que você tem um polegar verde.

—Eu não sabia que tinha jeito até que comprei este lugar. —Ele apontou para o
quintal agora bem cuidado. —Quando comecei, era pobre, uma bagunça, resumindo. A
casa também. —Acrescentou.

—Então por que você comprou este lugar se era tão ruim assim?

—Eu não sei. Algo me atraiu. Talvez fosse o desafio que representava. Há muita
privacidade nestes bairros históricos mais antigos. — Pensou em seus vizinhos que ti-
nham muito dinheiro e eram discretos, a não ser que precisassem de um favor, é claro.
—É tranquilo aqui. Gosto de sossego.

—Então é melhor você me mudar daqui, porque tenho um sentimento que todo es-
se lixo com o meu pai está prestes a explodir e ficará muito barulhento.

—Você não vai sair da minha vista. —As palavras saíram com pressa. Sua expres-
são assustada pediu para ser gentil. —Eu preciso que você fique aqui, onde posso ficar
de olho em você. Depois do que aconteceu com a gente, nós temos que ter mais cuidado.

98
—Eu sou a razão porque você se machucou. Meu pai é a razão de ter sido feita
refém.

—Nós não sabemos disso. Talvez estes sejam meus velhos pecados, vindo à tona.

—Ou talvez sejamos nós. —Disse ela suavemente. —E se... E se a ordem não foi
cancelada, Nikolai? E se a pessoa que ordenou matá-lo tenha simplesmente esperado
todos esses anos? E se ele está pronto para terminar o que começou?

Acariciando seu rosto, ele perguntou:

—O que aconteceu naquele armazém?

—Os homens que me levaram me entregaram a dois guardas, John e Robbie, mas
eles eram os únicos que falavam. Havia um outro homem, um homem silencioso, que ati-
rou neles. Ele entrou na sala e olhou para a minha gaiola... E eu tenho a sensação de que
ele não sabia o que fazer comigo. Quando ele matou Robbie e John ontem à noite, ele
veio até minha gaiola e colocou o cano de sua arma contra a minha cabeça, mas ele não
puxou o gatilho.

As pontas dos dedos de Nikolai circularam sua testa. Seu coração pulou algumas
batidas com a compreensão de quão perto ele esteve de perdê-la.

—Eu acho que ele queria nos prejudicar. Machucar você e eu. —Ela disse suave-
mente. —E se o meu pai está ameaçando contar quem o contratou para matá-lo? E se é
disso que se trata isso tudo? Será que o homem que me sequestrou acha que eu sei?
Quando ele colocou o fogo, ele esperava que eu morresse ali, assim esperava machucar
você, com o fato de que eu tinha sofrido até o fim. —Ela segurou a mão dele. —Mas eu
ainda estou viva e ele ainda está lá fora.

—Eu falhei uma vez. —Ele apertou sua mão. —Eu não vou deixar você de novo.

—Não estou preocupada comigo, Nikolai. É você. Eu não posso protegê-lo da ma-
neira que você pode me protege. Não tenho um exército de soldados de rua inteligentes
para me apoiar e mantê-lo seguro.

Sua preocupação o tocou profundamente.

—Eu posso cuidar de mim mesmo.

—Você nem sempre tem que fazer tudo sozinho.

—Eu não estou fazendo isso sozinho. Tenho Kostya e Sergei e os outros.

Ela engoliu em seco, nervosa.

—E eu? Onde eu me encaixo na sua vida?

99
Agarrando a oportunidade de mostrar a Vivian exatamente o que ele queria com
ela, ele passou os braços ao redor da sua cintura e puxou-a para perto.

—Você se encaixa bem aqui.

Como um adolescente com sua primeira menina, os dedos de Nikolai tremeram um


pouco, excitação e ansiedade percorreram seu interior. Ele acariciou o rosto dela e
deslizou a mão pela nuca. Colocando a mão na parte de trás de sua cabeça, ele abaixou a
boca para a dela.

Ele levou um tempo, encarando, mergulhando sua cabeça até que seus lábios esta-
vam a meros centímetros de distância. Suas respirações se misturavam animadas que o
momento que ambos tinham desejado por tanto tempo, finalmente chegou. Com o cora-
ção acelerado e um gelo no estômago, ele pressionou seus lábios nos dela em um beijo
inocente e casto.

Suas mãos voaram para seus braços como se ela precisasse se apoiar. Sua mão
flutuou ao redor do pescoço, parando sobre o ponto onde sentia a pulsação rápida.

Desesperado por mais dela, ele passou a língua contra a sua boca fechada e silen-
ciosamente pediu permissão para entrar.

Como os lábios entreabertos, Vivian fez uma choramingo, um gemido, e que Deus
o ajude, foi direto para seu pênis. Duro e dolorido, ele enfiou a língua entre os lábios e
provou o gosto mentolado de sua pasta de dente. Ele lutou consigo mesmo para ter con-
trole, enquanto devorava sua boca doce, deslizando sua língua contra a dela, da mesma
forma que ele queria afundar em sua carne quente. O conhecimento de que sua cama
estava a poucos metros de distância, o tentava.

Mas ele dominou seus desejos e os obrigou a submeter. Vivian merecia muito mais
do que um esboço, uma foda frenética, enquanto sua casa estava cheia de policiais e
advogados e seus guarda-costas.

Ele abrandou a intensidade e deixou seu beijo perversamente sensual ir parando


lentamente. Estremecendo em seus braços, ela encostou o rosto em seu peito. Ele bai-
xou os lábios até o alto da cabeça dela e a abraçou.

Quando ela falou, sua voz era rouca e cheia de determinação.

—Nós não podemos voltar a ser como éramos, Kolya. Você não pode me afastar.
Se vamos passar por isso, precisamos um do outro.

—Estou cansado de jogar esse jogo.

100
—Bom. —Com uma inspiração constante, ela endireitou-se e saiu do seu abraço. —
Nós devemos descer e enfrentar a polícia agora. Melhor acabar logo com isso, sabe?

—Eu quero que você coma primeiro. Seu padre está aqui. Você deve deixar que
ele a aconselhe. —Nikolai sentia que discutir assuntos sobre fé era difíceis. —Tenho
certeza de que ele vai saber as coisas certas para dizer, para ajudá-la. Pode falar com
o meu advogado e seu primo, enquanto você toma café da manhã. Os detetives podem
esperar.

—Eles são pessoas ocupadas.

—Que pode reagendar se eles não puderem esperar. —Ele interrompeu. —Você já
esteve no inferno e precisa descansar. O médico me deu instruções rigorosas sobre sua
hidratação e ingestão de alimentos. Se você não tiver um tempo para se recuperar, você
vai acabar no hospital.

—E você? —Ela gentilmente esfregou seu peito. —Você sofreu mais lesões do
que eu. Você precisa descansar. Você precisa se recuperar.

—Eu sobrevivi a piores.

—Eu não acho isso reconfortante.

Certo de que ela não iria deixar passar, ele prometeu:

—Vou tentar ter calma hoje à noite. — Quando uma de suas sobrancelhas delica-
damente arqueou, ele rapidamente emendou. —Eu vou pegar leve hoje à noite.

Parecendo satisfeita com a sua promessa, ela tirou a mão de seu peito. Ele tocou
abaixo nas suas costas e guiou-a para a porta. À medida que se aproximava, ela começou
a resistir. De repente, ansiosa, ela perguntou:

—O que devo dizer?

—A verdade. —Ele disse simplesmente. —Você deve dizer absolutamente tudo o


que aconteceu até o momento em que você foi salva. Queremos que eles encontrem es-
sas outras mulheres que foram sequestradas e traficadas. Você tem que dar a eles toda
a ajuda que você puder, porque eles vão precisar.

—Eu quero ajudar as meninas. —Ela parecia tão triste. —Eu acho que você pode
estar melhor preparado para isso. Você e Eric me encontraram naquele armazém antes
da polícia.

—Temos melhores contatos.

—Engraçado. —Disse ela secamente. —O que posso dizer sobre o médico?

101
—Diga a eles que tínhamos um médico de família que veio visitá-la aqui.

—Um médico de família?

—Conhece o Dr. Moscowitz? — Ele nomeou um dos clientes regulares do Samovar.

—Nikolai, ele tem, tipo, 90 anos de idade e não pratica medicina, desde a queda
do Muro de Berlim. Será que ele ainda tem uma licença?

Ele bufou com sua descrição do homem velho.

—Sim, ele tem uma licença, e sim, ele ainda pratica. Ele é voluntário em uma des-
sas clínicas gratuitas.

—Bem... Tudo bem.

Ele pegou a mão dela e deu um apertão tranquilizador.

—Você vai ficar bem. Diga a verdade e tudo vai ficar bem. Você é inteligente e
forte, e tem um dom maravilhoso para ler as pessoas. — Tão feliz de estar livre para
tocá-la como desejava, Nikolai beijou sua testa. —Não se subestime.

Sua conversa importante terminou, ele a levou para fora do quarto e até a cozi-
nha, onde o café e o detetive Santos a esperava. No momento em que Santos os viu de
mãos dadas, ele fez uma careta. Parecia que ele queria separá-los, mas ele mordeu a
língua.

Quando os primos se abraçaram e falavam baixinho, o telefone privado de Nikolai


começou a tocar. Ele entrou na despensa do mordomo para atender.

—Sim?

—Nikolai! —Julio Jimenez cumprimentou. —Ouvi dizer que você tem a sua menina
de volta com segurança. Estou feliz por você.

—O que você quer Julio?

O outro homem riu.

—Isso é bem você, hein? Sempre direto ao ponto. Olha, El Jefe quer uma reunião
hoje à noite.

—Por quê?

—Eu sou apenas o mensageiro. Não tenho os detalhes. —Julio fez uma pausa. —
Ele disse que era muito importante que você o encontrasse hoje à noite.

102
—Tudo bem. —Ele não encontraria o bastardo escorregadio em qualquer lugar que
ele não pudesse verificar primeiro. —Kostya vai chamá-lo com os detalhes.

Terminando a chamada, ele voltou para a cozinha, encontrou David dando a Vivian
instruções para a entrevista com os detetives. Ela olhou para ele e ele deu um sorriso
de apoio. Sua expressão tensa relaxou.

Nesse momento, ele sabia que era a hora. Ele tinha que acelerar seus planos para
sair desta vida. Ele tinha que encontrar uma maneira de se livrar, ou então se arriscaria
a perder Vivian para sempre.

103
Capítulo Dez

—Você pode nos ver agora? —Mais tarde naquela noite, eu coloquei meu laptop
em uma pilha de livros que Erin tinha pegado da estante de Nikolai. Estávamos tentando
falar pelo Skype com Lena que ainda estava presa pela neve em Moscou.

—Ok, agora tudo o que posso ver é o ângulo perfeito de Benny. —Disse Lena com
uma gargalhada. —É sério Benny, como é que seus seios ficaram tão enormes? Isso é
tipo, uma coisa da gravidez ou uma coisa de menina casada?

Benny mostrou o dedo.

—Você pode ver isso?

—Oh, alguém está sensível. —Lena riu alegremente enquanto Erin colocou outro
livro sobre a pilha e eu ajustei meu laptop de novo. —Tudo bem. Está perfeito. Agora
vocês duas se sentem no sofá com Benny para que eu possa ver todas vocês de uma vez.

De brincadeira, Erin disse:

—Se o crescimento do seio de Benny é uma coisa de menina casada, Ivan vai ficar
feliz.

Meu olhar se desviou para o anel de noivado que ela usava. Ela tinha ficado um
pouco nervosa sobre dar a notícia quando chegou em casa, mas honestamente fiquei tão
feliz por ela. Seu pedido no Dia de Natal parecia tão mágico e doce, quando ela contou
todos os detalhes para nós.

Neste momento, foi bom estar rodeada por minhas amigas e suas risadas. Depois
do que passei, ansiava por normalidade. Esta noite com as meninas de improviso na bibli-
oteca na casa de Nikolai foi o final perfeito para um dia estressante.

—Garota, mostre-me o anel de novo! — Lena praticamente salivava sobre a opor-


tunidade de admirar o anel de Erin. Eu achei um pouco divertido considerando que Yuri
já havia presenteado Lena com mais diamantes do que a maioria de nós gostaria de ver
na vida. —Oh, Erin. —Disse ela com tanta felicidade. —É perfeito. Diga a Ivan que eu
disse que ele fez muito bem.

—Eu vou. —Com um pouco de lágrimas nos olhos, ela piscou rapidamente e acari-
ciou o anel requintado. Animando-se, ela perguntou:

104
—Então, como é Moscou?

—Frio. —Disse Lena. —E com neve.

—É a Rússia. —Benny apontou.

—É ridículo. —Lena respondeu. —Mas eu tenho que admitir que haja algo muito
lindo sobre este lugar. É uma espécie... Gritante. No período da manhã, tudo brilha e é
realmente adorável.

—Devemos esperar mudar o seu endereço em breve? — Eu provoquei.

—Claro que não. —Ela revidou com uma risada. —Está menina do Texas precisa de
calor, sol e quarenta graus. Hey, mas falando de mudanças de endereço, quando vou co-
meçar a ver fotos desta nova casa que você e Dimitri compraram, Benny?

—Em breve. —Benny e Dimitri tinham comprado sua primeira casa juntos alguns
dias antes do Natal. Eles estavam planejando comprar um dos lotes no condomínio fe-
chado onde Ivan e Erin viviam e construir uma casa, mas tinham tropeçado em uma casa
perfeita em uma rua. A casa tinha ido a leilão e Dimitri tinha conseguido comprar.

—Você está fazendo uma série de mudanças? —Erin perguntou entre os petiscos
e alguns lanches que ela trouxe com ela. —A estrutura da casa está ótima. Do lado de
fora, pelo menos. — Acrescentou. —Não é muito antiga.

—A casa está em boas condições. —Benny concordou. —Mas Dimitri não gosta do
carpete e acho que a cozinha, cor laranja abóbora, é assustadora.

—Os funcionários de Sergei, fazem um trabalho fantástico. Você deve consultá-


lo. —Erin sugerido. —Ficamos felizes com os pequenos projetos que fez para nós.

—E tenho certeza de que você vai ter um desconto de família. — Lena entrou na
conversa.

—Vamos esperar. Então, conte sobre este estágio rápido que você está fazendo
aí? —Benny interrompeu. —Você ainda quer abrir o seu negócio de gestão de crises, é
isso que vai fazer?

—Estou tendo um bom pressentimento quanto a isso. —Disse Lena. —Ty e eu meio
que começamos quando ajudamos Dimitri a livrar a sua empresa de segurança privada
daquela enrascada, depois do que aconteceu com Katya e Jake. Tivemos sorte que tudo
o que tentei funcionou bem. Agora, estou tomando muitas notas e tentando fazer o me-
lhor desta oportunidade.

—Onde você está indo agora? —Eu queria ver através dela. —Um lugar incrível?

105
—Se a neve maldita parar o suficiente para uma pista ser liberada, nós vamos vo-
ar para Amsterdã para encontrar com o amigo de Yuri, Niels, e um colega dele, que diri-
ge uma das mais importantes empresas de gestão de crise da Europa.

Sentada no canto do sofá e cercada por minhas amigas, senti um pouco do medo
persistente começando a se dissipar. Todas elas instintivamente entenderam que eu não
queria sentar aqui e relembrar todos os detalhes do meu sequestro e do tratamento
abusivo. Depois de contar tudo aos detetives, indo tão longe a ponto de esboçar, tudo o
que lembrei sobre o armazém e os rostos dos dois homens mortos que haviam me vigia-
do e deixá-los tirar fotos dos meus ferimentos, eu não queria falar sobre o que tinha
acontecido. Precisava de um tempo para recarregar minhas baterias, por assim dizer.

Provando que eram as amigas mais incríveis que uma garota pode ter, elas conti-
nuaram a fazer piadas e falar sobre tudo e qualquer coisa, menos o sequestro e eu as
amava por isso.

Erin agiu como uma mãe quando a nossa entrega de comida chinesa chegou e eu
disse que não estava com muita fome. Sob seu olhar atento, encontrei o meu apetite e
comi o suficiente para satisfazê-la. Ela estava certa, é claro. Com mais comida na minha
barriga, comecei a me sentir melhor.

Benny fez algumas bombas de açúcar que tentei não comer muito. Hoje à noite,
descobri que não podia dizer não. Eu praticamente lambi o embrulho de papel para apro-
veitar os saborosos pedaços de chocolate.

Muito em breve, Lena teria que encerrar sua sessão no Skype e, em seguida,
Benny e Erin teriam que ir. Dimitri e Ivan foram pacientes em esperar em outra sala
enquanto nós tivemos nossa noite de meninas. Eu achava que ambos estavam preocupa-
dos em deixar as mulheres que amavam a sós comigo agora. Eu não os culpo. Não havia
como dizer o quanto quem estava atrás de mim ou Nikolai, estava disposto a ir ou ferir.
Quero dizer, eles tinham me sequestrado e estavam dispostos a me vender no mercado
do sexo no submundo!

Quando abracei Erin e Benny na entrada da casa de Nikolai, um fluxo de homens


carregando caixas começou a entrar pela porta da frente. Surpresa, os vi com as caixas
em cima da cabeça. Alguns deles falaram com Ivan e Dimitri. Notei os olhares, ó merda,
entre os dois amigos e percebi que eles sabiam de algo que eu não sabia. A maneira co-
mo eles apressadamente levaram Erin e Benny para casa confirmou minha suspeita.

Carregando duas caixas grandes, Sergei seguiu a fila. Eu estendi o pé para detê-
lo.

—O que está acontecendo?

106
Ele ajeitou as caixas.

— Olha, eu só faço o que me mandam, Vivian. Se o chefe diz para ir para o seu
apartamento e empacotar tudo, é o que eu faço.

Eu cambaleei para trás com o choque.

—Essas são as minhas coisas? Tudo isso? —O meu olhar saltou para o segundo
andar. —Por que você não me disse que estava indo para o meu apartamento?

—Porque eu sabia que você ia ficar com raiva de mim e eu não quero ficar no meio
de tudo o que está acontecendo aqui. —Explicou.

Infeliz, cruzei os braços, mas segurei minha língua. A pessoa com quem eu queria
gritar por ser tão incrivelmente arrogante não estava aqui, mas ele estaria em casa em
breve. Eu esperava pelo seu bem, que ele finalmente tivesse tomado uma daquelas pílu-
las para dor, porque depois que eu tivesse terminado, ele iria precisar.

Nikolai esperou pacientemente Lorenzo Guzman chegar ao hangar vazio. Sentado


no banco de trás do carro novo de Kostya, ele tentou encontrar uma posição confortá-
vel para o seu corpo dolorido. Puxando conversa, ele comentou:

—Eu gosto deste novo carro. É espaçoso aqui.

Kostya o olhou no espelho retrovisor.

—Você pode não gostar tanto quando você vir o preço dele sobre a sua mesa.

Nikolai riu. Ele não iria discutir com Kostya sobre o valor do carro, mesmo porque
o seguro reembolsaria o valor do carro velho.

Pensando no dano que o carro de Kostya tinha sofrido durante o ataque, Nikolai
reviveu a agonia de ouvir Vivian contar sua provação para os detetives. Seus dedos se
fecharam com raiva saindo de todos os poros de seu corpo.

Ouvir a maneira que eles tinham abusado dela no chuveiro, tinha feito com que
ele quisesse cometer um assassinato. De certa forma, o fato dos dois guardas terem

107
sido executados, facilitou as coisas. Se eles tivessem sido encontrados vivos, Nikolai
não sabia o que teria feito para eles. Coisas terríveis...

—Parece que eles estão aqui. —Kostya endireitou-se. Com as luvas de couro pre-
to, ele estava pronto para problemas. Hoje à noite, Nikolai não esperava que houvesse
nada disso. Kostya tinha organizado a segurança e Nikolai confiava que tudo iria bem.

O SUV de Lorenzo parou. O chefe do cartel saiu sozinho e mostrou que ele esta-
va desarmado antes de se aproximar do carro de Nikolai. Kostya deslizou para fora do
banco da frente, abriu a porta do passageiro e esperou fora do carro, enquanto os dois
homens tinham sua conversa.

A luz brilhante, antes da porta se fechar, deu a Lorenzo a oportunidade de dar


uma boa olhada no rosto machucado de Nikolai. Ele assobiou baixinho.

—O que diabos está acontecendo nesse mundo, quando um chefe não está seguro
em suas próprias ruas?

Nikolai tinha se perguntando a mesma coisa.

—Me disseram que alguém novo está tentando mudar para a cidade e perturbar o
equilíbrio. —Ele olhou de relance para o mafioso mexicano. —Você não sabe nada sobre
isso, não é?

—Você acha que eu cheguei até aqui para atirar merda, Nikolai? — Lorenzo toca-
va seus negócios como um relógio. —Nós trabalhamos juntos há anos. Eu fico fora de
seus negócios. Você fica fora dos meus. Todo mundo fica feliz.

—Até que alguém é arrancado pela janela de um carro e uma mulher inocente é
sequestrada…

—Eu teria cuidado de chamar a menina de Romero de inocente. Ela tentou matá-
lo, antes de tudo.

O olhar de Nikolai observou o perfil de Lorenzo. A semiescuridão do banco tra-


seiro tornou difícil para ele ver o homem.

—O que aconteceu naquela época não foi culpa dela. Ela era apenas uma criança
que estava sendo manipulada por seu pai, um homem que ainda está em sua folha de pa-
gamento.

Lorenzo fez um som suave.

—Não acredite em tudo que ouve.

108
—Eu acredito no que vejo e o no que posso provar. Gostaria de me explicar como
uma empresa de transportes aliada a você forneceu o caminhão usado para transportar
jovens traficadas do mesmo armazém onde minha Vivian estava sendo mantida?

Agora Lorenzo era o único que se mostrou surpreso.

—Eu não posso explicar isso, mas tenho minhas suspeitas.

—Quais são?

—As suspeitas vou guardar para mim mesmo, até que eu tenha a prova. —
Respondeu ele, misteriosamente.

Nikolai suspirou.

—Então, qual diabos é o motivo desta reunião?

—O Calaveras colocaram um preço sobre a cabeça de Vivian. Eles acham que vão
atingir Romero. Sei que não vão, mas eles não são muito inteligentes. Felizmente para
ela, eles são motivados por dinheiro e a promessa de que negociaria com você a compra
de equipamentos, fez com que suspendessem provisoriamente o assunto.

Nikolai digeriu a informação. Agora, a razão para a visita de Lorenzo era cristali-
na.

—Nós não trabalhamos com os Calaveras. Essa é uma regra de longa data.

—Nem mesmo para salvar sua namorada?

Lorenzo o pegou pelas bolas e ele sabia disso.

—O que você quer?

—Eu preciso de armas.

Nikolai franziu a testa.

—O que aconteceu com a sua conexão no Oriente Médio? Pensei que estivessem
fazendo embarque da Palestina.

—Estávamos, mas a situação na Síria reduziu drasticamente a disponibilidade.


Tenho necessidades específicas.

E Nikolai tinha uma ligação que ninguém mais tinha. Ele não costumava sair da
família para realizar negócios, mas Grisha tinha apertado o cerco contra a exportação
de armas há alguns anos atrás. Grisha tinha jurado que era por causa de problemas de
abastecimento, mas Nikolai não tinha acreditado. Ele suspeitava que Grisha estivesse
tentando impedir que a equipe Nikolai crescesse e fosse bem sucedida. Recusando-se a

109
ser espremido por sua própria família, Nikolai tinha pedido ajuda para um velho conhe-
cido.

—Liam não gosta de trabalhar ao sul da fronteira. Você é um pouco chamativo pa-
ra ele.

—Marque uma reunião. Vamos ver o que ele diz depois de falarmos de dinheiro.

—Eu não posso prometer nada.

—Eu vou fazer uma promessa. Consiga esse contrato correndo para mim e eu vou
cuidar de Romero, de uma vez por todas.

A oferta era muito tentadora. Apesar de sua má reputação, Nikolai nunca tinha
sido um fã de eliminar problemas. Ele sempre encontrou outras maneiras de contorná-
los. Às vezes, tudo o que tinha que fazer era chutar a bumba, para colocar um homem
na linha, mas queria ter esse trabalho com Romero. O homem era um peso morto. Sua
própria existência era uma ameaça para a segurança de Vivian.

—Não se eu chegar a ele antes. —Nikolai respondeu calmamente.

—Você pode tentar. —Respondeu Lorenzo, igualmente calmo. —Marque a reunião.


Vamos partir daí. Estou ansioso para muitos outros anos de negócios com você, Nikolai.

Com sua oferta feita, Lorenzo saiu do banco de trás, voltou para o seu SUV e
deixou o hangar. Precisando de um pouco de ar e algum espaço para pensar, Nikolai saiu
do carro e caminhou até a extremidade aberta do hangar.

Por um longo tempo, ele simplesmente olhou para os aviões decolando e pousando
nas pistas próximas. No seu limite, ele acendeu um cigarro e contou com a fumaça quen-
te e calmante em seus pulmões, enquanto sua mente avaliava os ângulos e considerava as
suas opções.

Problemas estavam por vir. Ele podia sentir isso em seus ossos, malditos. Isto ia
sacudir o submundo de Houston e ele teria que trabalhar mais se quisesse sobreviver,
ele tinha que começar a pensar grande. Teria que começar a pensar sobre as muitas ma-
nobras que seriam necessárias fazer para manter a sua equipe a salvo e manter Vivian
viva.

Apagando o cigarro, ele arrancou o celular do bolso e discou o número de Liam.


Demorou quase sete toques para o traficante de armas irlandês finalmente responder.
Quando o fez, ele estava ofegante. Conhecendo Liam, ou ele estava se exercitando, ou
fodendo. O homem fazia muito.

—Bem, se não é meu amigo russo de longa data! Como está a cabeça e o ombro?

110
Nikolai tocou os pontos em seu couro cabeludo.

—Eles vão curar. Como você está?

—Oh, com a mesma merda de idade. Apenas com um dia a mais. —Disse ele com
uma risada. —Mas eu sei que você não chamou para conversar. O que você precisa? Você
está querendo estocar um pouco de armas para uma nova guerra?

—Ainda não. —Disse ele. Relutantemente, ele finalmente admitiu: - Lorenzo Guz-
man quer uma reunião.

—Puta que pariu. —Liam chegou. —Eu não trabalho com esses homens. É muito ar-
riscado.

—Eu não estou pedindo para você mudar o seu modelo de negócio. Só estou pe-
dindo um encontro.

Liam grunhiu na outra extremidade da linha.

—Este favor não teria nada a ver com uma pequena garçonete, não é?

Ele sempre tinha suspeitado que Liam sempre soube quando se tratava de Vivian
e seu pai.

—Talvez.

Liam ficou em silêncio. Eventualmente, ele e bufou e disse:

—Véspera de Ano Novo. Você escolhe o lugar, mas é melhor que seja em seu ter-
ritório.

—Feito.

—Vejo você depois.

—Sim.

Com o arranjo feito, Nikolai colocou o telefone no bolso e voltou para o carro.
Kostya não disse uma palavra enquanto se dirigiam para casa. Ele provavelmente sentiu
que Nikolai não estava com vontade de conversar. Era uma das coisas que Nikolai mais
gostava sobre seu braço direito. Ele sempre sabia quando era necessário e quando ele
não era.

Agora, ele não era.

Correndo o polegar para trás e para frente de seu isqueiro, Nikolai repassou a
conversa com Lorenzo Guzman. Mesmo Nikolai conseguindo arrumar um encontro entre
Liam e Lorenzo, o chefe do cartel ia continuar com a ameaça sobre Vivian, até que fina-

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lizasse a compra. Lorenzo obviamente achava que ele precisava de um trunfo, e isso era
preocupante.

Lorenzo suspeita claramente de um dos aliados de Nikolai. O mexicano quer ter a


certeza de que terá o apoio de Nikolai. Que tipo de problema Lorenzo estava esperan-
do? Tinha que ser grande, para deixá-lo nervoso o suficiente para mudar de negociante
de arma, em vez de esperar que tivesse problemas de abastecimento, com o seu forne-
cedor atual.

A menos que ele não estivesse dizendo a verdade sobre a conexão Síria. E se ele
tivesse sido abandonado por seu antigo fornecedor? Ele estaria sem opção? Liam co-
braria uma taxa exorbitante para o reabastecimento de Lorenzo. Se o chefe do cartel
estava entre uma rocha e um lugar duro, ele não teria escolha a não ser pagar. Para Ni-
kolai, significava um enorme pagamento em taxas.

Enquanto brincava com o isqueiro entre suas mãos, Nikolai deixou que seus pen-
samentos se voltassem para Romero e o Calaveras. Essa situação tinha que ser tratada
e muito em breve. Nikolai não estava disposto a deixar Lorenzo ditar os termos quando
ele viesse eliminar esse problema.

Fazia parte de suas metas deixar Lorenzo pensar que ele tinha a vantagem, mas
Nikolai tinha outra maneira de atingir Romero e o Calaveras e pretendia usá-la.

Quando entrou na garagem do lado de sua casa, Nikolai estendeu a mão para to-
car o ombro de Kostya.

—Você deveria ir para casa e descansar um pouco.

—Amanhã. —Disse ele e desligou o motor.

Girando para a esquerda e franzindo a testa no banco de trás, Nikolai chegou a


sua porta, mas Kostya já a estava abrindo. Lado a lado, ele bateu Kostya no braço.

—Você é um bom amigo.

Kostya riu.

—O que você precisa?

Nikolai sorriu.

—Não é um grande favor. Mande uma mensagem para Besian. Diga-lhe que eu
quero me reunir com ele e Diego amanhã. Vamos resolver essa merda entre eles. Alguém
está tentando começar uma guerra de gangues e é a última coisa que esta cidade preci-
sa.

112
—Eu vou fazer. Mais alguma coisa?

—Me arrume um encontro com o Sr. Lu.

Kostya fez um som nervoso.

—Isso vai ser caro.

—Eu vou fazer valer a pena. Tenho a sensação de que vamos precisar de sua ex-
periência de importação muito em breve.

Suas ordens dadas, Nikolai de um tapinha nas costas de Kostya e saiu da gara-
gem. Ele caminhou para a entrada lateral da casa. No hall de entrada, ele cuidadosa-
mente tirou seu casaco e o pendurou.

Quando Nikolai entrou na cozinha, Sergei olhou por cima de seu prato com um
sanduiche de metros de altura. O guarda costa deu uma olhada para ele e colocou uma
de suas garrafas de cerveja na ilha de granito.

—É melhor você beber isso antes de ir vê-la.

Nikolai empurrou a cerveja de volta para Sergei.

—Ela está brava?

—Furiosa. —Corrigiu Sergei. Com um sorriso torto, acrescentou: — Mas ela está
com os pés descalços e não tem a bolsa, por isso há pouca chance dela atacar você, co-
mo ela fez comigo e o carro de Kostya.

Nikolai grunhiu com a lembrança de correr atrás dela na rua. Na época, aquilo pa-
receu tão importante. Agora, depois de tudo o que tinha sobrevivido, parecia quase na-
da.

—Kostya estará aqui em breve. Se aparecer alguma coisa, deixe que ele resolva.
Eu não quero ser incomodado.

Sergei assentiu.

—Nós vamos resolver tudo aqui embaixo.

Se preparando para uma discussão, ele saiu da cozinha. Levou alguns minutos para
encontrá-la na sala de TV vendo um daqueles terríveis reality shows. Ele não sabia como
é que alguém tão inteligente poderia gostar de assistir a tal lixo, mas ele não estava
disposto a censurar a sua opção de entretenimento esta noite.

Ele não entrou em seu raio de visão imediatamente. Em vez disso, ficou num can-
to escuro para observá-la melhor. Ele gostou do jeito que ela ficava em sua casa. Vê-la

113
com os pés descalços e de pijama pareceu tão correto, tudo o que ele imaginou durante
todo o dia. Não havia nenhum outro lugar a que ela pertencesse mais do que aqui com
ele. Em sua vida, em sua casa, em seus braços. Ela era dele e era hora de fincar seu no-
me.

Entrando completamente na porta, ele chamou sua atenção. No momento em que


o viu, sentou-se e desligou a televisão. Ela jogou o controle remoto na almofada ao lado
dela.

—Nós precisamos conversar.

Ele esfregou a parte de trás do seu pescoço.

—Não aqui, Vee. Vamos para a biblioteca. É privado.

—Tudo bem. —Com uma carranca zangada, ela se levantou do sofá e caminhou em
direção a ele. Ela tentou passar por ele, mas ele a capturou com uma mão curvada con-
tra seu quadril. Com um passo, ele a encostou contra a porta e deslizou a outra mão pa-
ra sua nuca. Com os olhos arregalados, ela colocou as mãos no peito dele, mas não para
afastá-lo.

—Nikolai…

—Eu senti sua falta hoje. —Ele nunca tinha sido um homem muito emotivo. Não
era fácil para ele se tornar vulnerável, mas depois da forma como ele se desnudou na
frente dela, ele sabia que ela não iria ridicularizá-lo por mostrar um lado mais suave.

Mas ele só faria isso por ela.

Sua expressão de raiva desapareceu.

—Senti sua falta. —Ela inalou e estreitou os olhos. —Você tem que fumar?

Ele deixou um grunhido de aborrecimento escapar de sua garganta.

—Hoje foi um dia estressante.

—Não volte a cair no hábito. —Ela passou a mão para cima e para baixo de seu
braço de forma encorajadora. —Você está indo muito bem.

Não querendo mentir para ela jurando que ia parar, ele disse:

—Eu vou me esforçar mais.

Um sorriso doce curvou sua boca.

—Eu sei que você vai.

114
Enrolando os dedos no tecido, ela agarrou a frente de sua camisa quando ele a-
baixou a boca para provocá-la. Ele deu um simples beijo, por alguns segundos antes de
aprofundar a língua entre os lábios dela. A doçura açucarada de bolo gelado estava a-
garrada a sua boca. Ela gemeu baixinho quando ele passou a língua contra a dela.

Estimulado por sua reação, ele moveu a mão de seu quadril para embalar seu ros-
to. Quando seus dedos se apertaram em sua camisa, ele aprofundou o beijo. Ela ficou na
ponta dos pés para receber a descida voraz de sua boca. Quando os seios macios pres-
sionaram contra o peito dele, ele sentiu seu controle escapar. O desejo de passar as
mãos ao longo de suas curvas femininas era quase demais para silenciar.

Afastando-se, ele a beijou com ternura. Ela relaxou contra a porta e deixou as
mãos caírem lentamente em seu peito. Fazendo biquinho para ele, alegremente ela o a-
cusou:

—Você fez isso de propósito.

Ele sorriu.

—Será que funcionou?

—Um pouco. —Ela disse e brincou com um botão em sua camisa. —Eu ainda estou
muito chateada com você.

Ele segurou a mão dela e deu-lhe um puxão. Ainda um pouco atordoada com o bei-
jo, ela o seguiu sem uma luta. Uma vez que eles estavam fechados e em segurança em
sua biblioteca, ele soltou sua mão e a encostou na porta. Ela colocou alguma distância
entre eles e mudou-se para a área de estar.

—Você fica lá. Eu não quero que você me beije de novo e me faça esquecer por
que estou com raiva de você.

—Tudo o que você quiser, Solnyshko moyo.

Ela revirou os olhos.

—É melhor você ser direto. — Ela fitou-o com seu olhar frustrado. —Você disse a
Sergei e seus rapazes para limpar meu apartamento.

Não era uma pergunta, mas ele respondeu de qualquer maneira.

—Sim, eu mandei.

—Eles mexeram em minhas coisas particulares, Nikolai. Como você acha que isso
me faz sentir?

A verdade era que ele não tinha nem pensado nisso. Ele xingou baixinho.

115
—Eu sinto muito. Eu não pensei dessa forma. Eu só queria tirá-la do apartamento
o mais rápido possível.

—Por quê?

Olhando para ela, ele se perguntou se ela não estava sofrendo de algum tipo de
amnésia.

—Vee, você foi sequestrada. Estava quase morta. Você não pode ficar sozinha.
Tenho que ficar de olho em você. Não... — Ele cortou sua mão no ar. —Você não vai vol-
tar.

Seus ombros inclinaram para trás.

—Quem disse?

—Eu digo. — Sua declaração como um fato, pareceu aumentar sua raiva. —É bo-
bagem discutir isso. Você precisa de suas coisas aqui. Você não pode viver com uma mala
para sempre.

Ela cruzou os braços.

—Olha, Nikolai, você não pode simplesmente me dizer que eu não vou voltar para
o meu apartamento. Essa não é a maneira como isso funciona. Eu não vou morar aqui.

—Sim, você vai.

—Que inferno. —Ela respondeu irritada. —Eu concordei em ficar com você até
que essa tempestade com meu pai passe. Nós nunca discutimos algo assim.

Ela estava certa, é claro, mas ele não estava disposto a desistir.

—A situação mudou drasticamente, Vee. Você não pode viver sozinha. Não é se-
guro.

—Então me diga isso e depois me pergunte o que eu acho que devemos fazer, Kol-
ya!

Ele fez uma careta quando o peso da sua decisão unilateral foi finalmente jogada
na cara dele. Ele estava tão acostumado a dar ordens sem pedir opiniões, que passou
por cima Vivian.

—Eu não tive a intenção de parecer tão... Controlador. Eu só queria o melhor para
você.

116
—E é por isso que eu não estou jogando livros em sua cabeça. — Ela respondeu
com um pequeno sorriso. —Eu sei por que você fez isso. Eu só preciso que você entenda
por que estou chateada.

—Eu entendo. —Ele hesitou. —Eu não posso prometer que isso não vai acontecer
novamente. Na verdade, tenho certeza de que isso vai acontecer novamente. Tenho sido
assim por muito tempo, Vee. Não vou mudar do dia para a noite.

—Eu não esperava por isso, mas não vou receber ordens de você como um de seus
homens. —Ela engoliu em seco. —Quero dizer... Eu realmente não sei o que estamos fa-
zendo ou o que essa coisa entre nós é... Mas eu não posso, não vou andar por aí como
uma empregada. Vi meus pais tratarem um ao outro muito mal e não estou interessada
nesse tipo de coisa. Ou nós somos iguais e parceiros... Ou não somos nada.

Horrorizado com o quanto ele tinha ultrapassado seus limites, ele cruzou a dis-
tância entre eles em passos rápidos. Ele podia imaginar quanta coragem ela precisou
para dizer isso a ele.

Ele passou os dedos machucados ao longo de sua bochecha.

—Não há muitas pessoas neste mundo corajosas o suficiente para me colocar na


linha. —Sorrindo, ele abaixou a cabeça e beijou-a docemente. —Estou feliz que você é
uma delas.

Ela exalou com alívio.

—Não foi fácil.

—Não tenha medo de mim, Vee. Não há nada que você não possa dizer para mim.
Quero que estejamos no mesmo nível.

Ela hesitou e mordeu o lábio. Passou o polegar através de seu lábio carnudo para
detê-la. Olhando para ele, ela o segurou no lugar com seus olhos azuis vulneráveis.

—Eu não acho que ficar aqui é uma boa ideia. —Antes que ele pudesse perguntar
por que não, ela apressadamente explicou: - Um par de beijos e você me leva ao limite.
Você é muito tentador, Nikolai. Não posso cruzar essa linha. Nem mesmo por você. —Ela
adicionou num sussurro.

—Essa linha?

—Sexo.

Ele seria um bastardo mentiroso se lhe dissesse que não estava interessado em
um relacionamento físico. Mesmo com a dor de cabeça, latejando no lado machucado,
ele queria deitaála na frente da lareira e violentá-la. Ele queria sentir suas coxas enro-

117
ladas na sua cintura e suas respirações trêmulas contra sua garganta quando ela gozas-
se. Ele queria impulsionar em sua vagina escorregadia de novo e de novo, enchê-la com
seu sêmen, para marcar e uní-la a ele para sempre.

—Então, nós estamos em uma encruzilhada, Vee.

Confusão desfigurou seu rosto bonito.

—O que você quer dizer?

—Bem, eu não vou deixar você sair de casa, você não pode ficar aqui se a sua vir-
tude está constantemente sob ataque.

Ela o olhou com cautela.

—Qual é a sua solução?

O que ela estava pensando? Será que ela imagina que ele ia deixar para Sergei ou
Kostya protegê-la? Ou ela estava começando a entender que ele estava prestes a pro-
por uma solução muito mais permanente.

—Há duas opções aqui. Primeira, eu a coloco em um avião hoje à noite e a mando
para o Yuri. E ele vai esconder você em algum lugar secreto que nem mesmo Lena vai
saber, até que você esteja finalmente segura novamente.

Seu suspiro cansado disse que ela não gostava dessa opção.

—E a segunda opção?

Com um nó na garganta, ele ofereceu a última forma de proteção possível.

—Case comigo.

118
Capítulo Onze

Case comigo.

As palavras chocantes ricochetearam em minha cabeça. Lançada completamente


para um loop, tropecei até a cadeira mais próxima e cai sobre a almofada, sem qualquer
sutileza. Meus joelhos vacilaram e minha barriga doeu enquanto tentava descobrir se
ele estava falando sério.

—Casar com você?

Ele lentamente sentou-se na mesa de café. Não havia como mascarar a dor que o
levou a fazer uma careta. Eu sofria por ele e estendi a mão para acariciar suavemente o
joelho. Em um movimento rápido, ele capturou minha mão.

—Você merece alguém muito melhor do que eu. Eu sei disso. É egoísmo da minha
parte até mesmo pedir para ser minha esposa.

—Por quê? —Eu tinha que saber o que ele estava pensando. O que o motivou a me
pedir algo tão incrivelmente sério?

De cabeça baixa, ele traçou o meu dedo do meio.

—Eu preciso de você ao meu lado. Toda esta cidade é um barril de pólvora e uma
faísca está prestes a colocá-la em chamas. Tenho que saber que você está protegida.
Tenho que saber que você está aqui.

O que impulsionou a sua proposta súbita? Certo, eu não iria gostar da resposta, e
perguntei:

—Onde você estava hoje à noite?

O olhar de Nikolai finalmente encontrou o meu. Com um suspiro pesado, ele con-
fessou:

—Eu estava reunido com Lorenzo Guzman.

Meus lábios se separaram em um suspiro.

—O senhor das drogas? Eu não sabia que você tinha negócios com ele.

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—Há muita coisa que você não sabe sobre mim, Vee. Estou disposto a dizer-lhe
algumas, mas não tudo. O que você precisa saber agora é que há um preço por sua cabe-
ça e Lorenzo Guzman comprou. Ele está usando como chantagem contra mim.

Meu batimento cardíaco correu.

—Para quê?

—Um acordo de armas. —Disse ele relutantemente. —Seu fornecedor está tendo
problemas e ele precisa de uma nova linha de abastecimento.

Lambi meus lábios.

—E então o que quer dizer, que ele não vai parar apenas com estas armas, certo?
Ele vai continuar a me usar para fazê-lo fazer o que ele quer.

—Ele vai tentar.

—O que isso significa?

—Isso significa que ele está me subestimando. Ele não tem ideia de quão longe eu
estou disposto a ir para acabar com isso.

Segurei seus dedos ainda mais apertados.

—Por favor, não faça nada terrível por mim. Eu não poderia suportar isso. —
Minha voz falhou quando pensei que ele poderia já ter feito, apenas para me levar de
volta. —Por favor.

O pomo-de-adão subia e descia.

—Eu não posso prometer isso, Vee. Não vou sentar aqui e fazer uma promessa
que não pretendo manter. Não posso ter mais mentiras entre nós. Esta última quase nos
matou. Nenhuma mais, meu anjo.

Percebi então o quanto ele gostava de mim e o quão determinado ele estava para
que a nossa relação continuasse, com uma base sólida de verdade. Mesmo que a verdade
não fosse algo que eu quisesse ouvir...

—Você sabe o que eu sou. Você sabe quem eu sou. Este sou eu, Vee. Isto é tudo o
que posso oferecer.

Ouvi a vergonha enchendo sua voz. Tocando o seu queixo, levantei o seu olhar pa-
ra o meu.

—Eu sei o que você é.

120
—Eu sou um criminoso que atirou numa menina e depois mentiu para ela por 11 a-
nos. Isso é o que eu sou.

O lamento doloroso apertou meu coração.

—Eu te perdoei por isso. Temos que seguir em frente, Nikolai. Está acabado.

—Para você, talvez. —Disse ele com tristeza. —Para mim? Eu nunca vou me per-
doar pelo que fiz.

Não havia nada que pudesse dizer para mudar sua mente ou amenizar a terrível
culpa que carregava. Eu rocei a ponta dos dedos por sua bochecha em um gesto recon-
fortante. Suas pálpebras brevemente se fecharam. Tamanha necessidade apareceu em
seu rosto. Quanto tempo se passou desde que alguém o havia tocado com a bondade?

—Na noite em que atirei em você... Quando estava ajoelhado em cima de você e
apertando a minha mão em sua barriga sangrando... Foi à primeira noite em que rezei
desde a infância.

Eu não deveria saber sobre o abuso que ele tinha sobrevivido quando era uma cri-
ança. Quando aquela louca tinha tentado matar Lena e Yuri, deixou um bilhete enigmáti-
co escrito em russo no travesseiro de Lena. Não sendo capaz de traduzir, Lena me envi-
ou uma foto pelo seu telefone. Lá, em tinta vermelha, eu tinha lido tudo sobre a forma
como Nikolai tinha sido negociado por dinheiro.

Depois do que ele havia sofrido nas mãos daquele diretor nojento do orfanato e
seus clientes pedófilos, eu não estava surpresa que Nikolai tinha se separado de um re-
lacionamento com Deus. Eu só podia imaginar quantas orações sem resposta que ele en-
viou para o grande além ao ser abusado tão horrivelmente.

—Você sobreviveu. —Nikolai continuou. —E eu soube que tinha sido apontado para
cuidar de você. É meu dever mantê-la segura. Eu sinto isso aqui. —Ele arrastou minha
mão em seu peito, logo acima seu coração batendo. —Quando eles te levaram, rezei para
te encontrar segura e viva, e consegui.

Ouvir Nikolai falando de fé e de oração me deixou sem palavras.

—Eu não vou correr mais riscos quando se trata de você. —Ele pegou as minhas
mãos agora. —Você vai se casar comigo e ser minha esposa e ai todo mundo vai saber o
preço de prejudicar até mesmo um fio de cabelo da sua cabeça.

Ele estava me oferecendo tudo o que eu sempre quis com ele, mas eu não tinha
certeza de que a motivação estava certa. Talvez fosse uma coisa pueril e ingênua de se
considerar com a minha vida em risco, mas não podia negar o que eu estava sentindo. Eu

121
não era como Lena, Benny, Bianca ou Erin. Eu nunca quis uma carreira de alto nível ou um
negócio. Eu sempre fui atraída para coisas mais calmas, mais simples. Como manter uma
bela casa, educar os filhos, era o meu maior sonho.

Mas este não era o jeito que eu queria.

—Eu não quero me casar como uma medida preventiva, Kolya. Eu quero me casar
porque o homem, que me pedir em casamento quer construir uma vida comigo.

—Eu quero isso. —Disse ele em uma respiração apressada. —Eu quero tantas coi-
sas com você. Eu nunca quis que você acabasse com um homem como eu. Eu fiz todo o
possível para afastá-la, então sei que é hipocrisia, me sentar aqui e pedir sua mão.

—Mas?

—Mas eu te amo, Vivian. Certo ou errado, estamos unidos para sempre. Não há
mais ninguém para mim. —Ele acariciou meu rosto e olhou fixamente nos meus olhos. —
O que você quer, Vee?

Pegando minha chance de ter a única coisa que eu queria há muito tempo, respon-
di honestamente.

—A única coisa no mundo que você continua me dizendo que não deveria querer.

Desta vez, fui eu quem o beijou. Como se estivesse se controlando, ele ficou per-
feitamente imóvel quando pressionei meus lábios nos dele. Não foi até que eu transfor-
mei o beijo carinhoso em uma necessidade, aqui Nikolai pareceu perder o seu controle.
Envolvendo os braços em volta de mim, ele caiu de joelhos na frente da minha cadeira.

Com um rosnado baixo de desejo, ele esfaqueou a sua língua contra a minha. Eu
tinha sido beijada algumas vezes, mas nunca tinha experimentado um beijo como este.
Este foi um acasalamento de almas ardentes, que me deixou tremendo e superaquecida.
Quando Nikolai me beijou, ele fez isso com tanta intensidade, apaixonado que me dei-
xou sem fôlego.

Eu fiquei consciente do meu corpo. Claro, nunca tive minhas pernas em volta da
cintura de um homem antes que este, mas ele fazia coisas malucas em mim. O peito
musculoso de Nikolai parecia incrivelmente duro contra a minha frente. Meus seios de
repente pareciam mais pesados e doíam para serem tocados e acariciados. O tecido fino
do pijama solto que eu usava não era páreo para o calor do corpo de Nikolai. Ele me a-
queceu por completo.

Quando a mão dele deslizou pela minha espinha, ofeguei contra sua boca. O toque
simples ateou fogo em mim. Eu balançava contra ele, e me tornei muito consciente de

122
outra parte dele. Ajoelhado entre minhas coxas separadas, a frente endurecida de sua
calça jeans esfregou contra o algodão frágil das minhas calças de pijama. Apenas alguns
milímetros de tecido separavam nossos corpos agora.

Eu quis dizer isso, quando disse antes a Nikolai que ele me tentava. Nunca antes
me permiti entrar em uma situação difícil como esta. Sempre que um beijo de boa noite
ou uma sessão de cinema com alguém se aquecia, eu habilmente pisava nos freios. Esta
noite, porém, me sentia impotente para deter Nikolai. Meu corpo doía por seu toque
íntimo.

Como se estivesse lendo minha mente, Nikolai arrancou sua boca da minha. Ofe-
gante contra o meu pescoço, ele enterrou o rosto na curva inclinada.

—Nós temos que parar.

Não! Meu cérebro gritava para nós continuarmos. Eu queria saber os segredos
que minhas amigas conheciam. Eu queria saber qual era a sensação de ter o meu amante
me levando até o chão. Eu queria sentir o peso de Nikolai em cima de mim, sentir sua
pele nua contra a minha.

Não. Desta vez foi a minha consciência falando. A neblina causada pela luxúria
começou a desaparecer e fui capaz de olhar para a nossa situação com os olhos claros e
um coração limpo. Sim, eu ainda queria Nikolai na forma mais selvagem e íntima, mas eu
tinha que esperar.

Ele falou em voz baixa, com a voz abafada pela maneira como ele ainda tinha sua
boca pressionada à minha garganta. Palavras em russo chegaram aos meus ouvidos.

—Sinto muito.

Confusa, perguntei:

—Por quê?

Ele se afastou e me beijou suavemente.

—Por ter te agarrado assim. —Ele esclareceu. —Você já passou por um terrível
trauma, e eu deveria estar te dando um tempo para curar e resolver os seus pensamen-
tos, não a bombardeando com propostas de casamento e beijando você.

—Eu estou bem. Realmente. —Eu acrescentei, quando ele me lançou um olhar in-
crédulo. —Eu nunca vou olhar para uma gaiola de cão da mesma forma novamente, eu não
acho que quero tentar qualquer tipo de contenção como Dimitri e Benny, mas vou ficar
bem.

Nikolai olhou com partes iguais de escândalo e diversão.

123
—Eu sempre me perguntei o que as quatro falavam, quando se reuniam para es-
sas aulas de russo de vocês. Estou surpreso que você saiba as palavras para descrever o
pequeno segredo sujo de Dimitri na nossa língua.

Revirei os olhos.

—Oh, por favor. Eu posso ser uma virgem, mas não sou inocente. Já li coisas. Vi
coisas.

Malícia apareceu em seus olhos claros.

—Que tipo de coisas?

Meu rosto ardia de vergonha.

—Eu não vou falar sobre isso com você.

Ele arrastou a ponta do dedo da minha garganta para o decote da minha camisola.
Segurando meu olhar, ele disse:

—Você vai.

Minha boca ficou seca e minha barriga tremeu quando o seu pleno significado me
atingiu. Um dia muito em breve, ele não pararia depois de alguns beijos.

—Você não me respondeu. —Tocando meu queixo, Nikolai perguntou: - Quer casar
comigo?

—Sim. —A resposta veio tão facilmente. Eu amava Nikolai por tanto tempo. O a-
ceitava como ele era com sua complicada história sombria e tudo.

Quando concordei em casar com ele, sabia que haveriam pessoas que me conde-
nariam por minha escolha. Meu primo Eric ia explodir. Benny e Bianca me apoiariam,
mesmo que ambas pensassem que tinha ficado louca. Embora sua situação fosse um pou-
co diferente, porque Ivan tinha deixado para trás sua antiga vida, Erin iria me enten-
der. Lena, bem, ela provavelmente iria me ler o Código Penal.

Mas eu não podia viver a minha vida me preocupando com o que as outras pessoas
pensavam de mim. Eu tinha que viver minha vida por mim e só para mim.

E eu queria Nikolai. Queria ser sua esposa. Queria enfrentar os nossos obstácu-
los juntos. Mais do que tudo, queria ajudá-lo a sair dessa vida, se isso fosse mesmo pos-
sível.

—Eu vou cuidar de você. —Prometeu com tanto amor. —Eu não posso lhe dar ia-
tes, brilhantes e diamantes como Yuri dá a Lena, mas eu vou te amar com todas as fi-
bras do meu ser.

124
—Eu não preciso de diamantes e iates. Eu só preciso de você.

—Eu sou seu. Acho que tenho sido seu desde a primeira vez que ouvi você cantan-
do Ocai Chernye com Sveta no restaurante.

A provocação na sua boca me fez sorrir. Eu era uma terrível cantora. Houve mo-
mentos que Lena tinha ameaçado se mudar, se ela tivesse que me ouvir cantar mais uma
canção, e com razão.

—Bem, deve ser amor, se a minha voz horrível encantou você.

Ele riu e me beijou novamente.

—É tarde. Você deve ir dormir.

De nós dois, ele parecia mais abatido.

—Você vai para a cama?

—Sim. —Ele se moveu lentamente e com cuidado de modo a não agravar seus fe-
rimentos.

—Você vai tomar uma pílula para dor? Você não deveria estar em tanta agonia,
Nikolai. —Certamente a única maneira de fazê-lo cuidar de si mesmo era usar culpa,
então eu disse: —Eu não vou ser capaz de dormir, se estiver pensando em você sofren-
do.

Parecia que ele queria recusar, mas finalmente concordou com um aceno de cabe-
ça.

—Tudo bem.

—Obrigada.

Quando chegamos lá em cima, eu o segui até seu quarto e passei por ele antes
que ele pudesse me parar. Fui direto para o banheiro principal, encontrei os frascos de
comprimidos que o médico lhe tinha dado e li os rótulos. Depois de encher um copo com
água, coloquei dois comprimidos na minha mão e levei para o quarto. Nikolai já tinha ti-
rado os sapatos e estava desabotoando sua camisa quando lhe presenteei com a medica-
ção. Eu senti que ele não gostou, mas, ele não brigou comigo. Ele jogou os comprimidos
na boca e bebeu o copo de água.

—Você pretende verificar minha boca agora?

Eu coloquei a mão no meu quadril.

—Eu preciso?

125
—Eu engoli.

—Você teria engolido se eu não estivesse aqui?

—Provavelmente não. —Ele admitiu a contragosto. —Eu não gosto de ter meus
sentidos confusos, especialmente agora.

—Nikolai, você tem Kostya, Sergei e, uma dúzia de outros caras ao redor deste
lugar. Você e eu sabemos que o departamento de polícia, provavelmente, tem esta casa
sob vigilância. Estamos a salvo.

—Por enquanto. —Ele resmungou e começou a tirar sua camisa. Quando ele fez
uma careta, empurrei de lado suas mãos e a puxei para baixo dos braços. Positivamente
ele não seria capaz de curvar-se para tirar as meias, então me agachei e as tirei de
seus pés. Meu olhar pousou sobre a fivela do cinto, mas ele apenas sorriu. —Eu acho que
consigo fazer isso.

—Certo. —Eu murmurei nervosamente. Eu levei a camisa e meias para o espaçoso


closet. Quando voltei para o quarto, ele ainda estava sentado na beira da cama. A ansi-
edade tomou conta de mim. —Hum... Então... Eu acho que esta é uma boa noite.

—Fica comigo.

Ele não estava pedindo. Engoli em seco, nervosa.

—Eu não posso.

—Você pode. —Ele estendeu a mão. —Você precisa ficar comigo esta noite.

Olhei para sua mão com alguma apreensão.

—Por quê?

—Porque depois de tomar os dois comprimidos para a dor, eu vou desmaiar muito
em breve. Se você tiver outro pesadelo como na noite passada, vou estar muito grogue
para atravessar o corredor e encontrá-la. —Sua sobrancelha arqueou. —A menos que
você queira Kostya a segurando até que caia no sono.

A ideia de Kostya aconchegando-se contra mim não era uma que eu achava muito
interessante. Ainda assim... Eu me preocupava que isso poderia ser um passo muito
grande para nós, especialmente depois da sessão apaixonada de amasso em sua bibliote-
ca.

—Estaremos apenas dormindo. —Isso é tudo.

Eu confiei nele para não criar problema. Se a nossa relação tinha provado alguma
coisa, era que nós dois fomos muito pacientes e bons em esperar.

126
—Tudo bem.

Ele apontou para o lado mais próximo da janela.

—Você dorme lá.

Enquanto deslizava sob as cobertas, ele desapareceu no banheiro. Ele saiu poucos
minutos depois e parou na porta. Ele vestiu a calça do pijama, mas permaneceu total-
mente nu da cintura para cima. Cada uma de suas muitas tatuagens ficou na minha vista.
As contusões escuras na sua pele pareciam tão dolorosas.

—Você precisa de luz?

Sentindo-me um pouco infantil, eu admiti:

—Eu durmo com uma luz à noite em casa.

Ele não disse nada sobre isso. Ele simplesmente diminuiu a luz e fechou a porta,
antes de cruzar o quarto e desligar a lâmpada da cabeceira. Quando senti a cama afun-
dar com o peso dele, cerrei as pálpebras firmemente. Eu não tinha certeza de como iria
relaxar o suficiente para dormir com Nikolai descansando a centímetros de distância
de mim.

Demorei alguns segundos para perceber que ele estava deitado em cima do edre-
dom.

—Você vai congelar.

Ele riu.

—Querida, eu sou da Rússia. Isto não é frio.

—Bem…

Ele se inclinou na escuridão e beijou minha bochecha.

—Pare de se preocupar comigo. Vá dormir.

O sono viria em breve, porque estava tão exausta, física e emocionalmente, como
ele estava, mas duvidava que fosse possível eu parar de me preocupar com ele. Não era
uma opção que poderia escolher tão facilmente. Agora que não havia dúvida de que per-
tencíamos um ao outro, sentia uma onda de possessividade em relação a ele.

Virando de lado, olhei para o rosto dele. A luz do banheiro iluminava apenas a me-
tade inferior da cama, então não podia ver seus olhos, mas podia sentir seu olhar me
perfurando. Muito lentamente, deslizei minha mão sobre a colcha em direção a ele. No

127
meio do caminho para tocá-lo, o senti vir para mim. Com os dedos entrelaçados, não dis-
semos nada, mas simplesmente seguramos firme um ao outro.

Eu não sabia como iríamos passar por todas as dificuldades que enfrentaríamos,
mas acreditava que iríamos ficar vivos e seguros. Não havia nada que não pudéssemos
conquistar juntos.

128
Capítulo Doze

—Tem certeza de que quer fazer isso?

Nikolai desligou o motor e olhou para Vivian. Ela tirou um lenço de renda longo de
sua bolsa e colocou no alto da cabeça. Embora ele nunca a tivesse visto mal vestida, ain-
da era um pouco chocante vê-la cobrindo seu lindo cabelo escuro. O código de vestuário
na igreja era extremamente conservador e ela parecia muito devota à congregação.

—Eu não me importo com apenas um juiz de paz para o casamento. —Ela colocou o
chale em volta de seu ombro.

—Eu tenho certeza de que você não iria, mas quero fazer tudo corretamente pa-
ra você.

Ela mexia com o lenço de renda.

—E se o padre Semyon se recusar a nos casar?

Ele pode tentar, Nikolai pensou irritado.

—Vamos nos sentar com ele e ver como reagirá. Não há nenhuma razão para an-
tecipar algo que não aconteceu.

Vivian mordeu o lábio inferior. Ela parecia um pouco nervosa antes de perguntar:

—Hum... Quanto tempo se passou desde que você esteve dentro de uma igreja?

—Muito tempo. —Ele admitiu e abriu a porta.

Essa foi provavelmente a razão do padre Semyon lhes pedir para acompanhá-lo a
ante sala da nave da igreja, em vez de seu escritório. O padre queria lembrar a Nikolai
quem definia as regras aqui. Embora ele estivesse relutante em admitir isso, Nikolai já
se sentia desconfortável e na defensiva, e ele ainda não tinha nem escoltado Vivian pela
porta da frente.

Um calafrio deslizou pelo pescoço de Nikolai, quando eles entraram na antessala


decorada de forma simples. Ele ignorou a sensação desagradável e tentou se lembrar do
por que ele tinha vindo aqui.

129
Apesar das garantias de Vivian que ela não se importaria com apenas o cartório
para consolidar sua união, ele queria fazer melhor. Ela abraçou sua fé e viveu de acordo
em sua vida do dia-a-dia. Se ela um dia sonhou com seu casamento, provavelmente so-
nhou com um casamento na igreja lindamente celebrado. Ele queria dar isso a ela.

Afastou-se quando o padre Semyon calorosamente recebeu Vivian. Ela passou


muito tempo no voluntariado da congregação e assistiu aos serviços, ela era muito pró-
xima do homem santo. Com idade para ser seu avô, o padre tinha se interessado em gui-
á-la, uma vez que ela se juntou ao seu rebanho.

Nikolai tinha dado ao homem um amplo espaço quando ele visitou Vivian em casa.
Ele deu boas vindas e fez o padre se sentir confortável, mas ele ainda não o conhecia, o
que quer dizer que parecia um pouco estranho. A breve memória do padre rezando em
seu leito no hospital ainda o deixava inquieto. Por que um sacerdote desperdiçaria suas
orações em um caso perdido como ele?

—Nikolai, bem-vindo. —Padre Semyon apertou sua mão. —Você está familiarizado
com o seu entorno? Gostaria que explicasse o que este lugar é e o que significa?

Nikolai sacudiu a cabeça.

—Passei muito tempo em lugares como este quando criança. Isso não é algo que
se esqueça.

—Não. — Padre Semyon ofereceu um sorriso gracioso antes de apontar para um


trio de cadeiras que tinha arranjado. —Vamos conversar.

Nikolai tomou o assento ao lado de Vivian e lutou contra a vontade de mudar de


lugar quando o sacerdote simplesmente olhou para eles. Com um suspiro profundo, o
homem sentou-se e cruzou as pernas. Ele pressionou os dedos para formar uma torre.

—Vou ser totalmente honesto com vocês dois. Não estou entusiasmado com este
relacionamento.

E assim começou...

—Padre...

O padre levantou a mão e gentilmente cortou a interjeição de Vivian.

—Mas, não vou tentar impedir.

130
Nikolai ficou tenso, com surpresa. Ele estava esperando realmente uma batalha.
Por que o homem santo entendeu tão facilmente?

—Obrigado, padre. —Disse aliviado.

—Não tome isso como um endosso de pleno direito a essa união. — Ele advertiu.
—Você é uma jovem inteligente, Vivian, mas todos nós podemos estar cegos de amor. Às
vezes o que o coração quer não é o que o corpo físico e espiritual precisa. Este é um
compromisso de vida, que você está fazendo com esse homem. Você deve ter algum
tempo para pensar sobre isso.

Pela primeira vez desde que pediu para ser sua esposa, Nikolai sentiu um medo
real. Se alguém no mundo poderia influenciá-la a recusar sua oferta, seria este homem.
Nikolai furtivamente deu um olhar para Vivian, mas ela parecia totalmente calma e re-
solvida.

—Eu sei tudo sobre o homem com quem vou casar padre Semyon. Estou pronta
para assumir esse compromisso.

De repente, Nikolai era o único com os pés frios. Será que ele estava realmente
indo arrastar Vivian ainda mais para o mundo obscuro que ele habitava? Ele ia manchar a
alma dela com sua alma escura?

Mas então ela sorriu para ele. Um sorriso brilhante, brincalhão que o aqueceu de
maneira que ele não conseguia descrever. Esse sorriso o encheu com esperança. Com
Vivian ao seu lado nada era impossível. Talvez até mesmo sair...

—Muito bem. —Padre Semyon comentou com tristeza. Voltando sua atenção para
Nikolai, o padre perguntou: — Você já foi batizado?

Nikolai assentiu.

—Todos os meninos do orfanato foram batizados e receberam crisma.

O padre fez um ruído gutural.

—E quanto tempo se passou desde que você fez a sua última confissão?

—Um pouco. —Nikolai respondeu e mudou de posição na cadeira desconfortavel-


mente.

As sobrancelhas espessas do sacerdote se levantaram.

—Quanto tempo é um pouco, Nikolai?

Nikolai não podia suportar o olhar de Vivian.

131
—Vinte e quatro anos. —Ele finalmente respondeu. —E mais ou menos alguns me-
ses.

Padre Semyon fez outro barulho infeliz.

—Você já foi casado ou divorciado?

—Não.

—Você se lembra do nome de sua igreja de infância? Vou precisar de seus regis-
tros, se possível. Entendo que às vezes é difícil lembrar essas coisas antigas, da Rússia.

Ele estava aliviado por ter uma pergunta que ele poderia responder facilmente.

—Ivan ainda tem contato com o padre de lá. Vou pegar os detalhes com ele.

—Em quanto tempo vocês gostariam de se casar?

—Quanto mais cedo melhor. —Disse Nikolai com um olhar significativo para o pa-
dre.

Seus olhos se arregalaram um pouco.

—Entendo. O mais rápido que eu posso realizar o casamento é em meados de ja-


neiro, mas vou exigir que você faça as sessões de aconselhamento. —O homem mais ve-
lho o olhou duramente. —Todos eles.

—Isso não é um problema, padre. —Nikolai iria saltar através de qualquer obstá-
culo que o sacerdote colocasse entre ele e o casamento. Ele esperava transformar essa
experiência completamente desconcertante.

Padre Semyon enfiou a mão no bolso e tirou um chaveiro.

—Vivian, você se importaria de ir ao meu escritório e pegar a pasta que está na


minha mesa. Deixei sua papelada lá, você vai precisar preencher antes da nossa primeira
sessão de aconselhamento.

Ela deu ao padre um sorriso.

—Sim, padre.

Com as chaves na mão, ela passou por Nikolai e caminhou para o escritório. Ela
deu em seu ombro um aperto reconfortante de encorajamento antes de desaparecer,
deixando ele sozinho com o padre. Sentado lá, tremendo, ele percebeu o quão louca era
sua vida. Ele se sentiu mais confortável sentado no banco de trás de um carro com um
assassino, chefe de cartel, do que aqui sentado em frente a este homem de bom cora-
ção.

132
—Ela ainda está em perigo?

—Sim.

—Por causa de seu pai, ou por causa de você? —O padre não fez rodeios.

—Eu não sei. Provavelmente é uma mistura de ambos.

Padre Semyon soltou um suspiro irritado.

—Você deve parar este absurdo agora e mandá-la embora. Você tem amigos para
tornar isso possível.

—Eu tentei. Ofereci essa alternativa. —Nikolai esfregou as costas de seu pesco-
ço e decidiu colocar tudo para fora para o padre. —Eu concordo com você. Ela não per-
tence a mim. Ela é boa demais para mim.

—Então por que você quer se casar com ela?

—Porque eu a amo. —Nikolai respondeu simplesmente. —Porque ela me ama. Você


pode me julgar, mas não vai mudar a forma como nos sentimos. Eu não sou um homem
perfeito. Inferno, eu nem sou mesmo um homem muito bom, mas ela me faz querer ser
melhor.

O padre sorriu.

—Bem, Deus trabalha de formas misteriosas. Talvez ela vá ser a sua salvação. Al-
gum dia você pode até mesmo ser um líder em nossa congregação.

Nikolai riu asperamente.

—Eu não iria tão longe, padre.

—Eu sou um eterno otimista. —De pé, o padre Semyon estendeu a mão. Nikolai se
levantou e a aceitou. —Eu vou esperar uma confissão completa antes do casamento. Não
posso, em sã consciência, casar vocês dois no interior desta igreja sem saber que você
cumpriu penitência e veio limpo para Deus.

Sentindo que isso era o teste final, Nikolai aceitou com um aceno.

—Escolha o dia padre, e nós vamos estar aqui. —Com um sorriso irônico, ele a-
crescentou: —É melhor você limpar a sua agenda. Nós vamos estar nesse confessionário
por um longo tempo...

133
Naquela tarde, desci para a biblioteca e fechei a porta. Sergei meu guarda-
costas, entendeu o recado, que eu queria um pouco de privacidade e não me seguiu. Ele
provavelmente estava de pé do lado de fora com o ouvido pressionado contra a porta,
mas ele não estava sendo invasivo.

Coloquei a grande cadeira de leitura confortável perto da janela para o meu tele-
fonema. Minha barriga era uma bola de nervos, e esperei Lena atender. Ela levou um
tempo como de costume, mas finalmente atendeu no quinto toque.

—Olá? —Ela ofegava no telefone.

—Hum... Eu peguei você em um momento ruim?

Ela riu.

—Eu queria que fosse algo devasso que estivesse me deixando ofegante assim!
Não, eu estava no quarto ao lado da suíte do hotel, tropecei em um dos meus malditos
sapatos no caminho para cá.

Revirei os olhos.

—Sério? Quantas vezes lhe disse para colocar no armário quando você os tirar?

—Cara, você e Yuri muitas vezes! —A voz profunda de Yuri era quase inaudível em
segundo plano. —Oh, cale-se! —Lena brincando, repreendeu o namorado. —Estou ten-
tando falar com a minha melhor amiga. Agora vá embora.

Sorri para a forma como eles provocaram um ao outro.

—Eu posso ligar mais tarde.

—Não, quero falar com você. —A porta se fechou. —Ok, somos só nós duas agora.
Sério, Vivian, você está bem? Quero dizer, você parecia bem ontem à noite, mas sei que
isso pode demorar um pouco, para um trauma como esse desaparecer. Depois do que
aconteceu na minha casa com Katya e Jake... —A voz dela morreu. —Você se lembra de
que fiquei uma bagunça, quando finalmente caiu a ficha. Já faz quase dois meses e ainda
há dias em que sinto pânico, tipo, a um passo de ficar em pânico, é foda. Então, real-
mente, como você está?

134
—Eu estou bem. Não totalmente, mas estou chegando lá. Eu só fico pensando so-
bre as outras garotas, as que não se salvaram. Tenho tanta sorte Lena. —Eu disse sua-
vemente.

—Você acha que vão encontrá-las?

—Eu espero que sim. Rezo para isso sempre que posso. Segundo a polícia, todos
os detalhes que forneci foram úteis. Nikolai me prometeu que ia fazer o possível para
encontrá-las e acabar com o tráfico.

—Eu imagino que ele simpatiza com aquelas mulheres de maneira que nós duas não
podemos. —Ela sussurrou. —Será que ele sabe que você sabe sobre... Você sabe?

—Eu achava que Yuri mencionou quando todas essas coisas terríveis aconteceram.
Mesmo que Yuri não dissesse nada sobre eu traduzir essa carta, tenho certeza de que
ele presumiu que você teria me enviado uma cópia. —Eu segui o meu dedo sobre a costu-
ra irregular sobre a almofada de couro. —Eu não sei como vou falar sobre isso com ele,
mas vou ter que falar, eventualmente.

—Boa sorte. —Disse ela, inquieta. —Isso vai ser a conversa mais estranha de to-
das.

—Provavelmente. —Eu concordei.

—Então, como é ficar na casa dele?

—Hum... É diferente. Estou cercada por seus homens durante todo o dia, então
realmente não tenho uma sensação de como se fosse apenas nós dois.

—Bem, espero que essa merda com o seu pai e quem tentou sequestrar você seja
esclarecida em breve e você possa ir para um novo apartamento e deixar os guarda-
costas.

Percebendo que o momento tinha chegado, engoli em seco.

—Bem... É que…

—Vivian. — Lena disse meu nome naquele tom de aviso. —O que está acontecen-
do?

—Não fique com raiva de mim. —Tínhamos sido amigas por tanto tempo que não
sabia se ela desaprovaria minha decisão, ou tentaria me parar.

—Vivi!

135
—Nikolai me pediu para casar com ele e eu disse sim. —As palavras saíram de
uma vez. Eu nem sabia se ela tinha entendido, porque um longo e tenso silêncio se es-
tendeu entre nós. Fiquei apavorada. —Lena?

—O que você quer que eu diga?

—Eu quero que você seja honesta.

—Você quer?

—Claro.

—Então, honestamente, acho que você nunca vai ser feliz com outra pessoa, só
com ele. Por alguma razão, vocês dois estão amarrados um no outro, talvez vocês sejam
almas gêmeas. Não sei. Mas... —Ela enfatizou: —Eu vou dizer isto. Se você está pensan-
do que pode salvá-lo, ou mudá-lo, ou qualquer outra coisa, você precisa parar com isso
agora. Porque não poderá, Vivian. Nikolai é quem ele é. Ele é o que é. Você tem que ficar
bem com isso, desde o momento em que a aliança for para o seu dedo e não esperar ou-
tra coisa dele.

Ela não estava dizendo nada que já não tivesse considerado.

—Eu não quero mudá-lo, mas tenho que tentar ajudá-lo a sair.

Lena murmurou uma série de palavrões.

—Vivian, isso é perigoso. Provavelmente não seja mesmo possível. Olha, Yuri me
disse o que eles fizeram para Ivan, quando ele quis sair. Eles quase o espancaram até a
morte, e isso foi depois que tomaram cada centavo dele, que ele não tinha para onde ir
e acabou com Yuri. Ivan não estava nem perto do nível de Nikolai nessa organização. O
que você acha que vão fazer com ele se ele tentar ir embora?

Meu intestino se retorcia.

—Eles vão tentar matá-lo.

—Exatamente, menina. —Com um suspiro de resignação, ela aconselhou: — Você


tem que estar bem com ele nessa vida, Vivian. Se você está com a intenção de ficar com
ele, tem que entender que está adquirindo o pacote e toda a merda que vem com ele.

Colocada em preto e branco, era uma coisa muito assustadora para considerar,
mas não iria mudar.

—Eu já tomei minha decisão.

—E eu apoio.

136
—Obrigada.

—Sendo assim, quando estaremos fazendo isso? Preciso de um vestido? Vamos ao


cartório?

—Na verdade, nós vamos nos casar na igreja.

Lena gaguejou e engasgou. Tossindo para limpar a garganta, ela gritou:

—A próxima vez que você for soltar uma bomba como essa, me avise para não es-
tar bebendo água. Você quase me matou!

—Sinto muito.

—Jesus. —Ela parecia atordoada. —Nikolai realmente entrou em uma igreja com
você e não entrou em combustão espontânea?

Eu olhei para o meu telefone.

—Oh, há há... Muito engraçada.

Ela riu.

—Vamos lá, Vivi! Você tem que admitir que é meio selvagem, certo? Quero dizer,
Nikolai em uma igreja.

—Eu vou desligar agora…

—Pare de ser um bebê! Estou apenas brincando. Mas, hey! Se você vai se casar na
igreja, isso significa que vou ser sua dama de honra?

Eu podia ouví-la fazendo beicinho.

—Pode ser minha dama de honra, mas você não pode ser a madrinha do nosso ca-
samento. —Eu usei termos que ela entende. —A menos que você deseje se converter?

—Uhum não, obrigada. Eu realmente só quero ficar do seu lado e bonita.

Eu bufei com diversão.

—Estou chocada.

—Então, qual é a data?

—Estaremos fazendo isso em 3 semanas. Vou enviar todas as informações mais


tarde, em um e-mail.

—É melhor você ir ver Bianca! Se há alguém com quem você pode obter um vesti-
do em pouco tempo, é ela.

137
—Eu pretendo chamá-la mais tarde, depois que conversar com Erin e Benny.

—Ooh! —Lena soltou. —Você acha que Erin vai ficar chateada com você roubando
a atenção de seu casamento?

—Você está brincando? Ela vai querer planejar tudo.

—Deixe-a. Você viu o trabalho fabuloso que ela fez no baile de Benny e Dimitri.
Vai ser uma boa prática para o seu casamento no verão.

—Como se eu tivesse uma escolha! —Eu ri. —Dez dólares que ela estará tocando a
campainha amanhã de manhã com uma braçada de revistas.

Lena riu.

—Isso é tão Erin.

—Gatinha? —Yuri chamou baixinho para Lena. Seu apelido doce, sempre me fez
sorrir. —O carro vai estar pronto em dez minutos.

—Tudo bem. Hey, Vivi? Tenho que desligar. Estamos indo jantar.

—Está tudo bem. Vá se divertir.

—Oh, nós o faremos. —O jeito que ela disse, me convenceu de que eles estariam
entrando no ano novo com um grande estrondo. — Parabéns, Vivi. Eu realmente quero
dizer isso. Espero que você seja muito feliz.

—Obrigada.

—Tudo bem. Envie a informação e vou te ligar em algum momento amanhã.

—Eu vou. Feliz Ano Novo, Lena.

—Feliz Ano Novo, Vivi.

Depois de dizer nosso adeus, terminei a chamada. Em vez de chamar Erin, sentei-
me para trás e olhei para fora da janela com vista para o canto da frente do quintal. Eu
invejava o branco Natal de Lena e a véspera de Ano Novo na Rússia e Amsterdã. Eu i-
maginei o quão bonito deveria ser com tudo novo e branco.

O inverno em Houston raramente tinha neve. Este ano, ele tinha sido muito frio
para nós, pelo menos, mas a precipitação tinha consistido em pouco mais de garoa e gra-
nizo. Hoje, uma névoa gelada bem espessa tornava quase impossível ver além da varan-
da.

Não havia muito tráfego na rua tranquila de Nikolai por isso o caminhão azul que
descia a estrada chamou a minha atenção, pois surgiu da neblina. Nada disso despertou

138
minha suspeita até que diminuiu para observar. Quando a janela começou a baixar, en-
trei em pânico e quase pulei para fora da minha cadeira. Foi um reflexo?

Meu coração pulou no meu pescoço quando uma mão apareceu na janela aberta. O
nevoeiro frio era muito denso para que identificasse o homem sentado no banco do pas-
sageiro, mas havia algo terrivelmente familiar sobre essa mão de quatro dedos e pele
escura.

Comecei a gritar por Sergei, mas, algo me disse para ficar quieta. A janela do
caminhão se fechou e o veículo desapareceu da minha vista. Levantei e fui para a janela,
esticando o pescoço para ver melhor, mas era tarde demais. O caminhão estava muito
longe agora.

Era isso...? Não, não podia ser. Ele não viria aqui. Ele não ousaria. Ele estava sen-
do vigiado pelos policiais.

A menos que...

—Sergei?

A porta abriu um momento depois, confirmando a minha suspeita de que o gigante


estava sempre muito perto. Ele entrou na biblioteca. Seus enormes ombros e altura in-
comum fez o quarto espaçoso, parecer de repente pequeno.

—O que está errado?

—Quando Nikolai estará em casa?

—Será tarde. Ele está trabalhando.

Eu entendi o que ele estava dizendo, sem realmente dizer.

—Ok.

—Eu posso conseguir tudo o que você precisa. Qualquer coisa. —Acrescentou. —
Você pede e eu vou trazer para você.

Enquanto apreciava a sua oferta, a única coisa que queria agora era Nikolai. Não
querendo deixar Sergei preocupado, dei um sorriso.

—Está tudo bem. Pode esperar. Vou chamar Erin e Benny. — Fiz um gesto para o
meu telefone. —Depois disso, devemos fazer algo para o jantar. É véspera de Ano Novo,
afinal.

—Nikolai fez arranjos para nós. Há uma entrega que chegará em algumas de ho-
ras.

139
—Oh.

—Ele queria que você descansasse esta tarde. Tenho que ter certeza de que você
vai relaxar.

Colocando Sergei à vontade, eu prometi.

—Depois que terminar com meus telefonemas, vou ser uma boa menina e assistir
TV e desenho.

Mas não tinha certeza de como ia relaxar com o fantasma do retorno de meu pai
me assombrando.

140
Capítulo Treze

—Foi melhor do que eu esperava. —Comentou Nikolai quando ele estendeu a mão
para o cinto de segurança.

—Eu tenho certeza que você se certificou de que o bar fosse bastante reduzido.
—Liam respondeu secamente. Ele esticou as pernas quando o SUV conduzido por Kostya
se afastou do lava rápido. Era uma das empresas legítimas dirigidas por Nikolai e um
lugar onde ele ocasionalmente realizava reuniões delicadas como a que acabara de ter
com Lorenzo Guzman.

—Suas necessidades de equipamentos parecem bastante fáceis de encontrar.

—A maioria deles. —Liam concordou. Com um sorriso, ele acrescentou: — Vai ser
um ganho justo para você.

Nikolai fez um som de zumbido em reconhecimento. Para intermediar o negócio,


Liam ia repassar vinte por cento para todas as remessas de sucesso. Nikolai iria dividir
dez por cento entre seus capitães e embolsar o resto. Fazer pouco mais do que inter-
mediar era um bom rendimento.

—Mas o que é que vamos fazer a respeito dos embarques? —Liam enfiou a mão no
casaco e pegou um pacote de goma de mascar. Enquanto ele tirava o papel, ele continu-
ou. —Eu não tenho uma rota de abastecimento estabelecida aqui. Quando executo um
carregamento rápido para você, de vez em quando, é uma coisa. Isto exige algo diferen-
te. Preciso garantir um certo nível de proteção.

—Deixe-me lidar com isso. Tenho algo em obras. Vai ter grandes contentores de
embarque a bordo de navios. Eles não devem ser um problema. —Ele não acrescentou
que o homem que ele tinha em mente para ser usado para trazer as cargas, era muito
mais arriscado.

—Eu confio em você ter tudo sob controle, mas é melhor se mover rápido. Ele
quer o primeiro carregamento em duas semanas e tenho a intenção de obter para ele.

—Relaxe. Será feito.

Liam colocou a embalagem de chiclete vazia no bolso.

—Então, é verdade?
141
Não gostava de jogos de adivinhação, Nikolai perguntou:

—O que é verdade?

—O comentário nas ruas é que você foi visto indo para a igreja mais cedo hoje e
que você vai se casar com aquela garota doce.

A bochecha de Nikolai se contraiu. Ele odiava ser o assunto de que falavam, mas
isto era surpreendente o suficiente para manter as fofocas durante semanas.

—Eu vou casar com Vivian.

Liam assobiou.

—Ela é um inferno de bagunça para casar, Nikolai. Com um pai como Romero Vale-
ro, deve estar entre as piores opções.

—Não será um problema por muito tempo.

Liam riu asperamente.

—Oh, isso vai ser um inferno, sem trégua.

Nikolai não lhe respondeu.

—É melhor você ter cuidado. Um homem como Romero não dá informações sem
cobertura. Sabendo como o bastardo é astuto, ele provavelmente está jogando o gover-
no contra o moto clube e o moto contra o cartel. Ele encontrou um melhor ângulo para
sair ganhando.

—Sem dúvida. —Ele concordou em silêncio.

Depois de deixar Liam a poucos quarteirões de seu hotel, Kostya o levou para o
restaurante vietnamita escondido em um centro comercial decadente, assim Nikolai po-
deria fazer sua reunião com o Sr. Lu. Ele entrou sozinho e foi direcionado para uma me-
sa na parte traseira, onde o homem mais velho o esperava. Conhecendo a natureza para-
nóica de Nikolai, o Sr. Lu havia deixado o banco voltado para a entrada da frente para
ele.

—Lu. —Nikolai cumprimentou.

—Russo. — O homem de cabelos brancos respondeu. —Eu já encomendei. Gosta


de Muc Rang Muoi?

—Lula não é uma das minhas favoritas.

—Então você vai comer a Bo Nuong Xa.

142
Nikolai decidiu que era uma coisa muito boa que gostasse de carne de pato com
limão porque ele claramente não teria escolha em seu jantar.

—Você sabe por que estou aqui.

—Claro. —Ele tomou um gole de cerveja quente. —E você sabe o que eu quero.

—Uma forma de sair desta desagradável confusão em que você se meteu, eu es-
pero. —Lu sorriu. —Estou ouvindo.

Nikolai sentou-se quando a garçonete entregou sua bandeja de comida. Ele espe-
rou que ela saísse antes de abordar o velho.

—Você primeiro.

—Um homem chamado JP veio me ver cerca de um ano atrás. Ele queria organizar
transferências de cargas entre Chipre e aqui. Ele tinha o dinheiro na mão, e eu não es-
tava particularmente preocupado com a carga até que …

—Até que? —Nikolai perguntou.

—Em julho, meus funcionários me chamaram no armazém. Estavam todos em pâni-


co. No momento em que me aproximei do container, eu sabia o que era. O cheiro... — A
voz do Sr. Lu ficou tensa. —Uma vez que você sente o cheiro de decomposição, você
nunca esquece.

O estômago de Nikolai revirou.

—O calor?

Lu concordou.

—Eles tinham aquelas meninas embalados nesses recipientes como gado. Não ha-
via ventilação suficiente ou água para elas. Elas cozinharam até a morte.

Se ele tinha algum apetite antes, agora o tinha perdido. Nikolai empurrou o prato
para frente para fugir do cheiro cítrico da carne.

—Por que você não parou com isso, então?

—Este não é o tipo de acordo que um homem pode acabar. —Ele hesitou. —O di-
nheiro e os contatos principais vieram de um cara de boa aparência. Esse JP era limpo.
A tripulação que pegou os embarques? Nem tanto. —Ele balançou a cabeça. —Eles são
do tipo que gostam de se esconderem rápido…

Nikolai piscou.

—Você foi para a cama com os defensores da supremacia branca?

143
—Como eu disse, isso não foi feito deliberadamente.

Tamborilando os dedos sobre a mesa, Nikolai perguntou em voz alta:

—Mas como eles estão recebendo as mulheres de Chipre? Os skinheads por aqui
são nascidos aqui. Eles têm poucas conexões com qualquer coisa internacional.

—Oh, eles têm uma conexão com alguém muito poderoso. — O homem mais velho
sorriu ironicamente. —Alguém do seu passado.

Os olhos de Nikolai se estreitaram.

—Quem?

Lu deu de ombros.

—Eu não sei o nome dele. Eu não posso nem mesmo dizer como ele se parece. Tu-
do o que sei é que JP estava trabalhando com um russo do sindicato de Moscou. Ele re-
colheu as meninas da Europa Oriental e Sudeste da Ásia e as enviou para o Chipre, onde
meus contatos pegaram os containers e os trouxeram aqui para Houston. Os skinheads
levaram a carga e isso é tudo que eu sei.

Recuperando-se da revelação do Sr. Lu, Nikolai começou a formar uma imagem


mais clara da situação. O sequestro de Vivian e o ataque contra ele não era sobre seu
pai em tudo. Era sobre ele. Tratava-se de alguém de Moscou tentando empurrá-lo para
fora do caminho. Eles haviam tomado Vivian e tentado matá-lo para mostrar a sua fra-
queza, para fazer seus homens duvidarem dele.

E esta confusão de tráfico era um disfarce. O homem que tenta se apoderar de


sua posição, estava plantando as bases para a sua conquista através da criação de uma
margem de ganho, inclusive matando Afrim Barisha e tendo controle da agiotagem.

—Onde posso encontrar este J.P?

—No cemitério.

—Ele está morto?

Lu parecia bastante divertido.

—Se matou. Eu estava lidando com um homem chamado John, mas pelo que ouvi,
ele levou um tiro também. Parece ser um negócio arriscado.

Nikolai sustentou o olhar de Lu.

—Eu quero que você pare os embarques.

Lu levantou uma sobrancelha fina.

144
—É um monte de dinheiro.

—É um monte de risco. Risco muito grande para um homem como você. —


Acrescentou Nikolai.

—E você? —Lu espetou o ar com seus pauzinhos. —Você se tornou bastante aves-
so à riscos durante os últimos anos. Quando te conheci, não havia um trabalho que você
não faria se o dinheiro fosse certo. Agora ouvi que você está intermediando entre os
Hermanos e Albaneses para amenizar a morte de Afrim Barisha.

Nikolai passou o dedo ao longo da borda da mesa.

—Um homem tem que reavaliar sua estratégia de vez em quando.

—E a sua nova estratégia é?

—Menos risco, mais dinheiro. —Disse Nikolai, pensando em Vivian e a vida que ele
queria com ela. Era uma vida que não incluía outra temporada na prisão ou pior.

Lu fez um gesto para o prato de Nikolai.

—Coma. Converse. Vamos fazer negócio…

Eram quase onze horas quando Nikolai deixou Lu e o restaurante vietnamita. Com
sua barriga cheia, ele deslizou para o banco da frente com Kostya. Enquanto eles atra-
vessavam Houston, Nikolai olhou para fora da janela. Ele queria perguntar a Kostya se
tinha ouvido algo sobre alguém na Rússia estar tentando se infiltrar em seu território,
mas ele manteve suas perguntas para si mesmo. Não havia nada a ganhar por expor o
seu lado no início do jogo.

Quando ele entrou em sua casa um quarto de hora mais tarde, Nikolai conscien-
temente colocou todos os negócios sujos que ele tinha realizado hoje em uma caixa
mental e os empurrou para o fundo de sua mente. Ele não queria nada disso tocando em
Vivian. Embora o relacionamento deles fosse longe de ser típico, ele esperava dar algum
sentido de normalidade.

Não surpreendentemente, ele encontrou Sergei comendo na cozinha. A comida


vinda do Samovar tinha sido cuidadosamente colocada em cima da ilha. Pela aparência
dele, a comida tinha sido muito apreciada. Claro, Sergei provavelmente tinha aspirado
metade do próprio parto.

—Se você continuar comendo assim, vamos ter que colocá-lo em uma dieta antes
de sua próxima luta. —Avisou Kostya e tirou o prato das mãos de Sergei.

145
—Quando você puder sobreviver a um dos exercícios de Ivan, eu vou deixar você
me dizer quando parar de comer. —Sergei esfaqueou outro piroshky com um garfo e
colocou no prato que ele puxou da mão de Kostya. —Ela está na sala de TV, chefe.

Nikolai pegou uma garrafa de cerveja gelada e tirou a tampa. Ele jogou-a no lixo
e deixou para trás os dois homens brigando. Quando ele entrou na sala de TV, ele des-
cobriu Vivian assistindo um daqueles shows de contagem regressiva da véspera de Ano
Novo. Foi a segunda vez em muitas noites que ele chegou em casa e a encontrou vestida
para ir para cama e parecendo relaxada. Ele tinha que admitir que gostavae disso.

Ele torceu o nariz ao sentir o cheiro de removedor de esmalte. Ela tinha uma dú-
zia de vidros de esmalte em diferentes cores alinhados na mesa de café, junto com um
punhado de ferramentas de manicure. Quando ele entrou na sala, ela sorriu para ele e
fez um gesto em direção a sua loja de beleza.

—Eu espero que você não se importe.

—Eu não. — Ele tirou sua jaqueta, desabotoou os punhos da camisa e arregaçou as
mangas da camisa antes de chutar os sapatos.

Ela deu um tapinha no espaço ao lado dela.

—Sente-se comigo.

—Onde mais eu poderia sentar-me? —Sua voz soou divertida enquanto se acomo-
dava na almofada ao lado dela. Aliviado por finalmente ser capaz de fazer o que deseja-
va, ele se inclinou e a beijou longa e profundamente. Sua respiração trêmula fez cóce-
gas em seu rosto quando ele se afastou o suficiente para olhar em seus olhos claros. —
Eu gosto de voltar para casa com você aqui.

—Fiquei muito triste por estar longe de você durante todo o dia, mas se você vai
me beijar assim todas as noites, eu acho que vou aprender a lidar com isso.

Seu sorriso travesso o aqueceu até o âmago. Ele tomou um gole de cerveja antes
de deixá-la de lado. Olhando para as cores dos esmaltes, ele perguntou:

—Qual deles?

Ela mexeu os dedos dos pés descalços.

—Estou dividida entre o roxo e o rosa.

—Então nós vamos usar os dois.

Surpresa em seu rosto.

—Nós?

146
Ele pegou o vidro roxo e agitou. —Eu pintei todas as paredes desta casa. O quão
difícil pode ser pintar dez pequenas unhas dos pés?

Ela mordeu o lábio para não sorrir.

—Hum... Tudo bem. Só para você saber, há uma abundância de bolas de algodão e
cotonetes ali para limpar seus erros.

Ele zombou de brincadeira. —Você não é a única artista nesta casa.

—Uh, huh. —Disse ela com uma risada.

Ele mudou de posição no sofá e arrastou os pés delicados para o seu colo. Ela en-
rolou a barra de suas calças de pijama até os joelhos para que seus dedos estivessem
totalmente à mostra. Apesar do fato de que ele só deveria estar pintando as unhas dos
pés, ele não poderia deixar esta oportunidade de acariciar sua pele macia.

Calor correu abaixo em sua barriga quando ele arrastou seus dedos para cima e
para baixo de seus tornozelos tonificados. Muito em breve, ele não teria que se conten-
tar com apenas tocar sua pele. Em poucas semanas, seu corpo seria dele para descobrir
e desfrutar. As inúmeras formas que ele poderia fazê-la suspirar, gemer e gritar de
prazer fez seu pênis pulsar.

Ignorando seus pensamentos mais básicos, Nikolai abriu a tampa do esmalte, ti-
rou o excesso contra a borda do vidro antes de pintar seu dedão do pé. Ele planejava
pintar o dedão de roxo e os outros na cor rosa.

—Kolya?

—Sim?

—Eu acho que... Eu acho que eu vi o meu pai hoje.

Sua cabeça se levantou ante sua chocante declaração. Ele borrou o esmalte roxo
em todo o seu dedo do pé, mas a nenhum deles ocorreu limpar.

—Você acha ou você viu?

Ela engoliu em seco.

—Eu estava sentada na janela, na biblioteca depois que liguei para Lena. Tinha
uma espécie de neblina, e eu não conseguia ver muito bem. Tinha um caminhão azul des-
cendo a rua, e que diminuiu a velocidade em frente da casa. O vidro desceu e eu vi a
mão de um homem. Ele não estava acenando. Só estava... Lá. Ele só tinha quatro dedos.

—Quais quatro? — Romero Valero tinha perdido o dedo indicador após uma tran-
sação de drogas mal sucedida há muitos anos. O pai de Lorenzo Guzman tinha o cortado

147
com um facão, para enviar uma mensagem para qualquer um que tentasse algo contra
ele. Anos depois, quando Lorenzo liderou um golpe contra seu pai, foi Romero que matou
o Guzman ancião com o mesmo facão.

Ela mexeu o dedo indicador.

—Este faltava.

Ele largou o vidro de esmalte, pegou uma bola de algodão e embebeu em remove-
dor. Enquanto limpava, ele disse: — Não deixe que ele mexa com você. Ele só está ten-
tando te perturbar.

—Bem, ele conseguiu Nikolai. —Ela torceu as mãos. —O que ele quer?

—Quem sabe. —Ele resmungou. —Ele não é um homem fácil de entender.

—Ele estava me ameaçando? Ele estava nos ameaçando?

—É possível.

—O que mais ele quer comigo? Será que não fez o suficiente para me machucar?

Pensando em sua discussão com o Sr. Lu, Nikolai revelou:

—Ele não é a razão pela qual você foi levada ou a razão pela qual foi atacada.

—Mas…

—Eu acho que provavelmente é uma coincidência que tudo isso aconteceu logo de-
pois que seu pai saiu da prisão. São duas questões distintas. O que quer que seja que o
seu pai está fazendo, não acho que realmente nos interessa.

—E o prêmio que o Calaveras colocou em cima de mim?

—Eu duvido que fizeram isso. —Ele secou a sua pele com uma toalha de papel e
abriu o esmalte novamente. —Isso é ideal para Lorenzo Guzman usar contra mim, eu
deixei ele fazer isso para que ele pensasse que estava ganhando a rodada.

—Mas ele não está?

Nikolai sacudiu a cabeça.

—Ele realmente fez o meu jogo.

—Como?

Ele avaliou o quanto dizer a ela.

148
—Eu queria acabar com o tráfico, mas precisava de algo para oferecer ao impor-
tador que lida com os embarques. Lorenzo queria armas então o apresentei para a minha
conexão.

—O irlandês? —Ela o interrompeu.

Nikolai olhou para ela.

—Como é que você sabe sobre o Liam?

Ela encolheu os ombros.

—As pessoas dizem coisas.

—As pessoas?

—Bem... Quer dizer, às vezes eu ouço coisas no Samovar…

—Ouviu por acaso? —Ele beliscou a perna. —Você quer dizer escutou.

—Ai! —Ela bateu levemente em sua mão. —Ok, talvez de vez em quando eu ouvia
conversas que não deveria.

—Vee, isso é perigoso. —Ele usou o seu tom de aviso com ela. —Ouça-me. Uma
coisa é eu optar por dizer uma coisa. E outra bem diferente é você ir bisbilhotar onde
não é chamada.

—Caramba! —Ela franziu o cenho para ele. —Você não tem que ser tão mal-
humorado sobre isso.

—Eu não sou mal-humorado. Eu me preocupo com você saber demais. Até que nós
estejamos casados, você pode ser obrigada a testemunhar contra mim.

Seus lábios se abriram em choque.

—Eu não pensei sobre isso.

—Eu sei que você não pensou. Esqueça o irlandês.

—Eu vou. —Ela tirou os pés do seu colo e o obrigou a encontrar o seu olhar inter-
rogativo. —Você ofereceu ao cara importador o tráfego de armas para o cartel?

Seus lábios se estabeleceram em uma linha sombria, quando ele começou a se


questionar se já tinha dito muito. Ele puxou seus pequenos pés de volta no lugar.

—Vivian, eu concordei que não haveria segredos entre nós, mas existem alguns
detalhes que você simplesmente não pode saber. Deixe pra lá.

149
Ela ficou quieta enquanto ele pintava as unhas em seu pé direito. Quando ele mu-
dou para o esquerdo, ela perguntou:

—Você acha que vai encontrar aquelas meninas que estavam comigo no armazém?

—Eu não sei. —Admitiu relutantemente. —Eu gostaria de poder te prometer que
vou encontrá-las, mas não é assim tão fácil.

Ele não disse a ela que as pobres mulheres estavam afastadas por agora e nas
mãos de novos cafetões ou proprietários. Se os defensores da supremacia branca sus-
peitassem que houvesse qualquer chance delas terem sido rastreadas, eles as matariam
e se livrariam das mulheres, em vez de se arriscarem. Para eles, aquelas meninas eram
descartáveis e facilmente substituídas.

—Vou continuar procurando, Vee.

—Eu sei que você vai. —Ela estendeu a mão e deu um aperto no braço dele. Sen-
tada de costas contra o braço do sofá, ela riu baixinho. —Isso parece tão... Normal. Vo-
cê, eu e a TV.

Infectado por sua risada, ele sorriu para ela.

—Eu gosto disso.

—Você acha que talvez nós pudéssemos ter um encontro verdadeiro? Antes de
nos casarmos, quero dizer.

Ela tinha razão. Eles estavam pulando todas essas coisas. A maioria dos casais se
beijam, se encontram, fazem amor e vivem juntos antes de se casar. Ele a trouxe para
sua casa, a beijou, mas eles tinham ignorado todos os outros passos.

Muitas pessoas diriam que estavam entrando de cabeça em um evento que muda-
ria suas vidas. Ele sentia que seu último ano de amizade tinha sido simplesmente uma
versão mais suave de namoro. Eles eram como Dimitri e Benny que compartilhavam uma
amizade de cinco anos, antes de se reunirem em uma noite de paixão selvagem. Sem a
noite selvagem de paixão, é claro.

—O que você gostaria de fazer? —Ele fechou o esmalte roxo e mudou para o
frasco rosa.

—Nós poderíamos jantar e ver um filme.

Ele fez uma careta.

—Eu não frequento cinemas e teatros. Eles são escuros. Não consigo ver todas as
saídas e entradas.

150
—Oh.

Odiava derrubar a sua ideia, mas ele não ia comprometer a sua segurança. Antes
que ela oferecesse alguma outra sugestão, ele cuidadosamente acrescentou:

—Eu não danço também.

Ela bufou.

—Estou atordoada. Realmente.

Ele ignorou sua pequena farpa.

—Eu não me importo de tomar bebida no clube de Yuri enquanto você dança com
seus amigos.

—Até com os meus amigos homens?

Surpreso com a pergunta, ele levantou lentamente o olhar para o rosto dela. Seus
lábios carnudos estavam curvados em um sorriso provocante e travesso.

—Eu duvido que alguns deles sejam corajosos o suficiente para tentar.

—Kelly poderia ser.

Nikolai grunhiu com o pensamento do marinheiro mais jovem. De todos os homens


que já tinham mostrado interesse em Vivian, Kelly Connolly era o único que lhe tinha da-
do qualquer preocupação. Se alguma vez houve um homem que poderia ter conseguido a
afastar para longe dele, foi Kelly.

—Eu estou brincando. —Ela esfregou a perna. —Eu nunca estive interessada em
Kelly dessa forma. Nós só somos amigos. Pois é o que vale a pena, eu acho que ele tem
uma coisa de luxúria complicada acontecendo com a irmã de seu amigo.

—Se a sua situação é complicada, como você descreveria o nossa? — Nikolai levou
o seu tempo de aplicar a cor rosa quente em sua pequena unha do dedo mindinho.

—Eu não tenho certeza se existe uma palavra para descrever a nossa situação.

—Nem mesmo nas três línguas que você fala?

Ela sorriu para ele.

—Não.

Comentar sobre suas habilidades de linguagem o fez pensar em sua escolaridade.

—Quando seu último semestre começa?

—No dia treze.


151
Era na segunda-feira antes de seu casamento.

—E você terá a próxima segunda-feira de folga?

Ela assentiu com a cabeça.

—É um feriado.

Sentia-se culpado sobre o casamento rápido e a falta de uma lua de mel. Ela me-
recia muito mais.

—No verão, quando você se formar, vamos fazer uma lua de mel atrasada.

—Eu gostaria disso.

Ele terminou as unhas e sentou-se.

—O que você acha?

Ela se inclinou para frente para inspecionar.

—Muito bom para a sua primeira vez.

Ele encontrou a felicidade em seu simples elogio.

—Não tão bom quanto seus quadros, mas talvez haja esperança para mim.

Ela se moveu lentamente os pés da mesa de café.

—Talvez.

—Está tudo pronto para a exibição?

—Gustavo me ligou mais cedo. Ele está enviando um caminhão amanhã até o depó-
sito para pegar as pinturas finais. Aparentemente, ele não conseguiu levar tudo quando
enviou o caminhão pela primeira vez, pois estava isolada como uma cena de crime. Eu
disse a ele que o encontraria lá para que ele soubesse quais pinturas pegar. Eu meio que
achei que você iria querer olhar primeiro e me dizer quais são para expor, ok?

Nikolai se encolheu com a memória da maneira como ele se comportou depois de


descobrir o tema de sua exposição. Ele pegou a mão dela e levou-a a boca. Ele beijou os
dedos talentosos que criaram essas peças impressionantes e belas.

—Você vai mostrar todas elas.

Ela engoliu em seco.

—Todas elas? Mesmo...?

Ele exalou um suspiro firme.

152
—Todas.

Ela não desviou o seu olhar intenso.

—Obrigada.

—Não. —Ele disse, com a voz embargada. —Eu nunca deveria ter me comportado
dessa forma. Entrei em pânico quando vi o que tinha pintado e aquelas coisas imundas
terríveis pulverizadas na parede do estúdio. Pensei que alguém estava tentando enviar
uma mensagem, quando na realidade foi uma armação para nos levar até lá e tornar pos-
sível que pudessem nos ferir. Eu estava com raiva, mas descontei na pessoa errada. —
Ele beijou os nós dos dedos. —Eu sinto muito, Vee.

—Eu sei que você sente. É por isso que eu não vou lembrar o pé no saco que você
foi. —Isso deixou de ser uma repreensão, porque ela disse com esse sorriso doce dela.

—Essa palavra suja em uma boca tão bonita. —Ele a repreendeu suavemente en-
quanto se inclinava para reivindicar seus lábios.

Ela colocou as mãos em seu peito, impedindo-o a poucos centímetros de seu des-
tino final.

—Espere.

—Para quê?

Ela apontou para a televisão.

—É quase meia-noite.

Ele não queria esperar, não quando sua boca suave e doce estava tão perto, mas
ele esperou. Quando os fogos começaram a estourar, ele se aproximou mais. Enquanto a
multidão estava em contagem regressiva a cada segundo, Nikolai chegou cada vez mais
perto, até que ele estava quase em cima dela. Enquanto a multidão foi à loucura na tele-
visão, ele se perdeu em seus olhos azuis brilhantes.

—Feliz Ano Novo, Vee.

Ele não precisava assistir a exibição deslumbrante de fogos de artifício na tela.


Quando seus lábios se tocaram, os seus próprios fogos de artifício pessoais começaram.
À medida que suas línguas dançavam eroticamente, Nikolai decidiu que ia ser um ano
muito bom, de fato.

153
Capítulo Quatorze

—É estranho voltar aqui. —Eu segurei o cinto de segurança apertado na minha


mão esquerda enquanto Nikolai dirigia pela mesma rua onde havíamos sido brutalmente
atacados naquela noite terrível.

Ele estendeu a mão sobre o espaço entre nós e puxou minha mão para longe da
correia. Entrelaçando os dedos, ele esfregou círculos suaves contra a minha pele com o
polegar. —É melhor enfrentar de uma vez.

Eu entendi o que ele quis dizer, mas isso não fez com que fosse mais fácil. Eu es-
tava tão feliz que ele veio comigo para conhecer Gustavo, no meu estúdio.

—Você vai ser capaz de trabalhar aqui? — A preocupação irradiava dele. —Se es-
te lugar não servir mais pra você, há outras propriedades que possuo que poderíamos
adequar. Se você quiser continuar a trabalhar fora de casa. —Acrescentou.

Sua observação me fez franzir a testa.

—Kolya, eu não pretendo parar de pintar ou desistir da minha arte só porque nós
vamos nos casar.

Ele me lançou um olhar estranho.

—Eu acho que nós cruzamos os fios em algum lugar, Vee. Eu não quis insinuar que
eu penso que você deveria parar de pintar uma vez que nos casarmos.

—Oh. —Eu considerei o que ele disse sobre o trabalho fora de casa. Que signifi-
cava literalmente parar de pintar, em vez de pintar em casa. —Oh.

—O que eu quis dizer é que podemos converter a marquise na parte de trás da


casa em um espaço de pintura para você. Se você preferir não dirigir a um estúdio to-
dos os dias…

—Eu pensei que você quis dizer...

—Sim. —Disse ele com uma risada divertida. Seu sorriso desapareceu. —Você vai
ter que parar de trabalhar em Samovar.

—Por quê?

154
—É inconveniente.

—Inconveniente?

—Que a minha esposa fique servindo mesas. —Explicou.

Comecei a discutir com ele, mas mordi a língua. Senti que isso era importante pa-
ra ele. Ele parecia ter ideias muito tradicionais quando se trata de casamento. Eu com-
partilhava algumas dessas opiniões, mas eu não iria simplesmente concordar só porque
ele disse isso.

Como se sentisse o meu desconforto, Nikolai perguntou:

—Eu te chateei?

—Não.

—Vee? —Ele não estava acreditando.

—Eu só estou tentando descobrir qual é o seu problema. Você não quer que eu vá
trabalhar em nada?

—Vivian. —Disse ele com certa descrença. —Eu posso ser o que você chama de
velha escola, mas eu não sou um atrasado. Eu quero que você tenha uma carreira de su-
cesso como artista. Eu quero que você siga seus sonhos, mas você não tem que esperar
para fazer isso. Vou apoiá-la enquanto você encontra o seu caminho.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele disse:

—Se você honestamente quer continuar trabalhando no Samovar, estou feliz de


encontrar uma nova posição para você, mas você não pode servir mesas. Seria um ambi-
ente de trabalho desconfortável para todos.

Pensei nos meus colegas de trabalho. Seria estranho ter a esposa do patrão car-
regando bandejas da cozinha para as mesas e embolsando gorjetas.

—Você quer continuar trabalhando no restaurante?

Sentindo-se um pouco envergonhado, confessei:

—Eu estava planejando me demitir, com esta exposição se aproximando, seria


bom ter um tempo apenas para pintar e criar.

—E depois? —Ele estacionou em um dos lugares do estacionamento perto do ar-


mazém.

—Bem... Eu não sei.

155
Sua boca inclinou com diversão.

—Você não sabe? Vee, você tem que ter um plano.

Segurei os botões de grandes dimensões de meu casaco.

—Eu não sou como Lena e Benny. Não faço planos para cinco anos.

—Talvez você devesse pensar nisso. —Ele pegou no meu queixo e virou para en-
contrar o meu olhar. Quando eu olhei para ele, meu coração acelerou pelo amor refleti-
do em seus olhos. —Você é tão incrível, Vee. Há muito talento dentro de você, mas você
tem que ser corajosa o suficiente para assumir e encarar as grandes oportunidades e
colocá-lo para fora.

Mordi o lábio inferior, quando a ansiedade inundou o meu núcleo.

—Eu não sou muito boa em correr riscos.

Ele sorriu.

—Isso não é verdade. Você vai casar comigo, não é?

Revirei os olhos.

—Isso é diferente.

—É mesmo?

—Sim.

—Por quê?

—Porque eu te amo. —Eu respondi simplesmente.

Ele destravou o cinto de segurança e se inclinou sobre o console. Enfiando os de-


dos pelo meu cabelo solto, ele agarrou a parte de trás da minha cabeça e me olhou nos
olhos. Eu me perdi nas piscinas esverdeadas de sua íris.

—Porque eu te amo, vamos nos sentar hoje à noite e organizar um plano para vo-
cê. Eu te amo demais para sentar e assistir você desperdiçar seu potencial.

Como se selasse um voto, ele pressionou sua boca na minha em um beijo carinho-
so. Ciente de seu ombro ferido, eu deixei minhas mãos caírem em seus braços. Eu não
queria que o beijo chegasse ao fim, mas desde aquela noite na biblioteca, quando as coi-
sas estavam tão perigosamente aquecidas entre nós, ele tinha sido muito cuidadoso co-
migo.

156
Mesmo na noite passada, quando tinha me beijado para celebrar o início de um
novo ano, ele só se permitiu o encontro de nossas bocas avançarem até certo ponto, an-
tes de se afastar. Ele estava me deixando louca com esses beijos provocantes que pro-
metiam muito mais, mas entendi que ele estava apenas me dando o que eu queria.

Toda vez que nos tocávamos, eu começava a duvidar da minha decisão de esperar.
Eu sentia respeito pelos casais que eu conhecia que tinham feito isso, um ou dois anos
entre os primeiros encontros e o casamento.

—Vamos entrar. Ele destravou o cinto de segurança e me deu um beijo mais brin-
calhão antes de deslizar para fora do seu assento. Até o momento em que ele deu a vol-
ta para abrir minha porta, Sergei e outros dois homens tinham chegado. Dois deles fi-
caram no SUV, mas Sergei veio com a gente, apenas no caso de que precisasse de ajuda
para mover as telas maiores. Embora ele nunca admitisse isso, os ombro e costelas de
Nikolai não estavam em boa forma suficiente para que ele arrastasse objetos pesados.

Eu tremia quando entramos no interior frio do estúdio. Como de costume, fiz a


varredura nas mesas e paredes para garantir que tudo estava exatamente como eu ha-
via deixado. As lembranças da última vez que estive aqui e daquela terrível briga que eu
tive com Nikolai passou diante dos meus olhos. Meu coração doeu enquanto me lembrava
do jeito que ele tinha falado comigo e da maneira que o empurrei.

Como se compartilhasse dessa memória, Nikolai deslizou o braço em volta da mi-


nha cintura e deu um beijo suave em minha testa. Olhei para ele e vi o arrependimento
gravado em seu rosto. Tenho certeza de que ele viu o mesmo refletido em meus olhos.
Eu odiava que tínhamos sido tão maus, um com o outro, mas, de certa forma, eu estava
feliz que tinha acontecido. Essa briga tinha sido como uma tempestade. Todas essas
emoções turbulentas que tinham sido mantidas com tanta força escondidas, tinham sido
forçadas a brotar. Cada trovão de raiva entre nós havia limpado o ar.

Sergei encaminhou-se para a parede traseira.

—Que pinturas vão para o caminhão?

Saí do abraço de Nikolai e guiei Sergei. Quando cheguei ao balcão de telas, co-
mecei a apontar para as que estariam indo com Gustavo hoje. Quando comecei a assina-
lá-las, percebi que faltava uma.

Meu estômago se apertou enquanto corria pelo rack e tocava o espaço vazio onde
a pintura da noite que levei o tiro estava faltando também.

—Kolya!

157
Ele apareceu ao meu lado e estendeu a mão para tocar no mesmo lugar vazio.
Nossos dedos tocaram juntos e nossos olhares se chocaram. Eu não queria pensar que
tinha feito alguma coisa, mas ele ficou tão chateado naquela noite, quando eu saí do es-
túdio.

Ele deve ter sido capaz de ler a desconfiança em meu rosto, porque ele fez uma
careta.

—Eu não faria isso com você, Vee.

Sentindo-se culpada por pensar que ele faria algo tão cruel, eu coloquei minha
mão em seu peito.

—Sinto muito.

Ele balançou a cabeça como se para indicar que ele não estava ferido por minha
insinuação em silêncio, mas podia vê-lo claro como o dia em seus olhos. Ele voltou seu
olhar estreitado em direção a Sergei e rapidamente o interrogou.

—Quem veio ao estúdio depois que fomos atacados?

Sergei deu de ombros.

—Eu não tenho certeza, chefe. Tudo ficou louco. Eu estava tentando fazê-lo pa-
rar de sangrar até a morte e Kostya estava limpando a cena antes que a polícia chegas-
se. Tivemos Alexei e Danny correndo atrás do SUV que tinha.

Só então, fomos interrompidos pelo barulho de um caminhão chegando lá fora. Eu


comecei a me desesperar sobre a exposição. Havia apenas alguns dias para deixar tudo
certo e agora a peça principal estava faltando.

—Eu vou encontrar a sua pintura, Vee.

Se alguém poderia realizar o que parecia impossível, era Nikolai.

Algumas noites depois, Nikolai cruzava uma rua tranquila e estacionava na gara-
gem de Kostya. A casa estilo rancho modesto em um terreno de esquina, não parecia o
tipo de lugar que um limpador móvel viveria, mas, Kostya nunca haviam abraçado tais
estereótipos. Enquanto esperava seu amigo atender a porta da frente, Nikolai olhou

158
para os estranhos pequenos anões de jardim escondidos entre os amores-perfeitos nos
canteiros da frente. Kostya tinha um estranho senso de humor...

A porta se abriu e Kostya acenou para ele entrar.

—Ela está aqui.

Quando eles descobriram a falta da pintura de Vivian, Nikolai tinha suspeitado


imediatamente que Kostya a tinha pegado. Não de uma forma maliciosa, é claro, mas em
uma tentativa equivocada de protegê-lo. A lealdade inabalável de Kostya às vezes se
manifestava de maneiras estranhas como pegar a pintura.

Kostya o levou para o quarto principal. As sobrancelhas de Nikolai dispararam pa-


ra sua testa quando viu a pintura em questão pendurada na parede em frente à cama.

—Existe uma razão para que você tenha a pintura de Vee no seu quarto?

—Eu gosto de olhar para o seu peito nu antes de cair no sono. É reconfortante. —
Kostya traiu sua sempre inexpressiva expressão com a contração ínfima de um sorriso
brincando em seus lábios.

—Engraçado. —Nikolai resmungou. Quando Kostya desceu a tela, fez um som de


raspagem contra a parede, ele se encolheu. —Tenha cuidado. Ela vai ficar com o coração
partido, se algo acontecer a esta.

—Eu não posso acreditar que você vai deixá-la mostrar isso. —Kostya enrolou o
pano de proteção ao redor da tela.

—Eu provavelmente não deveria. —Nikolai concordou. —Mas a verdade existe en-
tre nós. Nós não vamos voltar a ser como éramos.

—Você percebe que Santos provavelmente viu suas tatuagens no peito, no hospi-
tal. Se ele estiver na galeria está noite, ele vai reconhecê-lo.

Era um risco considerável que ele estava assumindo, uma vez que concordasse em
permitir a Vivian mostrar a pintura.

—Eu prometi a ela que ela poderia mostrar isso.

—E como é que a promessa vai parecer quando você estiver sentado na prisão?

Com razão, Nikolai não sabia como responder a essa pergunta por isso ele perma-
neceu em silêncio. Quando se aproximou da pintura, Kostya manteve controle apertado
e se recusou a deixar ir. O olhar endurecido de Nikolai finalmente o forçou a ceder pa-
ra seu amigo. Suspirando pesadamente, Kostya advertiu:

—Você vai se arrepender.

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Quando se despediu de Kostya suas palavras giravam na cabeça de Nikolai en-
quanto ele levava a pintura para Vivian. O trânsito da cidade pesadamente congestiona-
do diminuiu o progresso e lhe deu muito tempo para pensar sobre o que ele estava fa-
zendo. Seu olhar saltou do para-brisa para a pintura coberta e espremida no banco de
trás do carro.

Guerreando com a sua consciência, ele considerou o quão fácil seria mentir para
ela e dizer-lhe que tinha sido destruída ou que ele não tinha sido capaz de localizar. Ele
não tinha revelado a Vivian que Kostya tinha escondido, de modo que seria fácil o sufici-
ente fingir que estava perdida para sempre.

Imaginar o olhar triste no seu rosto o impediu de rasgar a tela com sua faca e
distribuí-la nos muitos caixotes do lixo ao longo de seu caminho. Ele não podia fazer
isso com ela. Ele não podia destruir algo que ela tinha criado, mesmo o colocando em
risco.

Quando ele se dirigiu ao estacionamento privado ao longo das costas da galeria, o


telefone começou a tocar. Reconhecendo o ringtone de Vivian, ele respondeu descendo
do banco da frente.

—O que está errado, Vee?

—Nada. —Respondeu ela alegremente. —Onde você está?

—Estou aqui. —Ele abriu a porta do passageiro. —Eu tenho uma surpresa para vo-
cê.

—Você encontrou a pintura. —Ela disse, sem fôlego, sua voz cheia de esperança.

—Sim. —Deslizando o telefone entre a orelha e o ombro, ele fez uma careta en-
quanto pegava a tela. Embora ele estivesse se curando bem, seu corpo golpeado ainda
protestava com certos movimentos e posição.

—Não a traga, Kolya.

Dobrando-se ao meio e disse:

—O quê?

—Eu não vou mostrar essa.

—Você fez a exposição em torno desta pintura.

—Eu fiz, mas você é mais importante para mim do que mostrar uma obra de arte.
Eu mudei algumas peças e a substituí pela pintura de Ivan. A narrativa ainda flui bem. —
Ele se levantou e colocou a mão no capô de seu carro. O metal queimou a palma da mão.

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—Você não tem que fazer isso, Vee.

—Eu quero. Estive pensando sobre nós e sobre o que poderia acontecer ao mos-
trá-la, especialmente se alguém te reconhecer. Não sei o qual é o prazo de prescrição
para o que aconteceu naquela noite, mas não quero você vá para a prisão por isso. Tudo o
que aconteceu naquela noite foi um erro. Nós dois pagamos por ele ao longo dos anos.
Está acabado. Eu o quero enterrado no passado, onde ele pertence.

Seu corpo relaxou e a tensão que ele nem tinha percebido que estava segurando
derreteu de seus ossos. Uma parte dele ainda acreditava que merecia ser punido pelo
que tinha feito. Ele duvidava que a culpa nunca fosse deixá-lo e com razão.

Mas o pensamento de perder tudo o que ele estava tentando construir com Vivian
o fez fechar e trancar a porta de seu carro. Hoje à noite, ela estava fazendo um sacri-
fício para o seu futuro. Ele faria tudo em seu poder para se certificar de que ela nunca
se arrependeria.

—Venha me encontrar. —Disse ela com um toque de um sorriso em sua voz.

Ele guardou o telefone e tocou a gravata antes de abotoar a frente de seu pale-
tó. Apesar do frio de janeiro, ele não se preocupou com um casaco para o curto percur-
so entre o carro e a galeria. Ele mostrou o seu passe VIP para uma das assistentes na
entrada dos fundos e foi para dentro do prédio.

Havia ainda um quarto de hora antes da abertura oficial de sua exposição, mas
alguns de seus amigos e um pequeno grupo de público de arte de Houston já estavam lá
dentro. Ele viu Vivian poucos segundos após entrar no espaço da galeria bem iluminada.
Em pé, com Gustavo, o dono da galeria e seu parceiro, um negociante de arte com várias
galerias internacionais, ela parecia totalmente à vontade e em seu elemento.

Ela tirou o fôlego com esse vestido para cocktail pouco sedutor e a sandália de
tiras de salto alto. Desta distância, o vestido de renda preta parecia escandalosamente
curto e transparente. Na verdade, ele quase morreu sufocado quando apareceu vestin-
do-o mais cedo naquela noite. Não foi até que ela tinha se aproximado que ele notou a
ilusão habilmente trabalhada do tule cor nude por baixo da renda preta.

Nikolai não se sentia desconfortável muitas vezes. Ele havia subido para um de-
terminado nível de destaque dentro do submundo, com isso veio uma grande quantidade
de energia, mas este mundo fascinante da arte, que Vivian o tinha convidado a habitar
era totalmente estranho para ele.

—Você parece deslocado como Ivan.

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Atraído pela voz suave de Erin Hanson, ele se virou para a esquerda e encontrou-
a em pé ao lado dele, com uma taça de champanhe. Com seu corte de cabelo tipo duen-
de, delicada, estrutura pequena e suave doçura, ela era a última mulher no mundo que
Nikolai teria imaginado que seu amigo se casaria. Bem educada e de uma família de clas-
se média alta, Erin não era o tipo que normalmente dava a um homem como Ivan uma
segunda olhada, mas dane-se, se ela não tivesse se apaixonado por ele à primeira vista.
O romance foi um furacão.

—Este não é meu lugar.

Ela riu.

—Eu não suporto essas lutas terríveis que Ivan me arrasta, mas aprendi a sentar
com eles e sorrir. Já me ensinou as regras de artes marciais mistas e as formas dos
torneios, porque eu sei que o faz feliz me ter lá apoiando a ele e seus combatentes,
mesmo que eu me encolha cada vez que um deles é atingido.

—Parece haver uma dificuldade de aprendizagem mais elevada quando se trata de


obras de arte.

Ela bebeu o líquido efervescente e encolheu os ombros.

—Um dia você vai ser capaz de falar sobre as impressões de arte como um chefe.
Você vai ler livros ou no Google. Isso é o que fazemos quando amamos alguém e quere-
mos mostrar a eles o quanto nós os apoiamos.

Do outro lado da galeria, Ivan aparentava um exterior calmo enquanto ele con-
versava com Dimitri e Benny, mas Nikolai reconheceu a postura rígida com um descon-
forto. Como ele, Ivan mantinha as mãos para baixo e fora de vista, quando ele estava
em público e no meio de estranhos, escondendo as tatuagens pesadas que o marcavam
como um criminoso.

—É diferente para vocês dois. —Disse ele finalmente. Se alguém pudesse com-
preender a complexidade de seu relacionamento com Vivian, era Erin. —Você conheceu
Ivan depois que ele reformou-se e depois de ter recriado a si mesmo, como alguém que
poderia ser motivo de orgulho, como alguém que você quer se casar.

—Vivian quer casar com você. Ela te ama. —Erin olhou-o com cuidado. —Você a
ama. Eu sei que você está com medo de prendê-la. É a mesma coisa que Ivan temia
quando ficamos juntos, mas parti para a nossa relação com os olhos bem abertos. Cla-
ramente Vivian fez a mesma coisa.

Ele ouviu o desapontamento em sua voz.

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—Você não aprova.

Ela evitou o olhar dele.

—O que acho que não importa. Vivian tem a cabeça feita e vou apoiá-la. Deus sabe
que ela é mais consciente do que quem você é, do que todos nós. Se ela pode aceitar,
vamos aprender a aceitar também.

Um grande elogio, de fato.

Antes que ele pudesse dizer a Erin que ele não era tão terrível quanto sua repu-
tação sombria fazia acreditar, ele fez contato visual com Vivian. Ela sorriu para ele e
deu alguns passos em sua direção, mas um homem que parecia vagamente familiar mu-
dou-se para o seu caminho. Ele fez um gesto em direção a suas pinturas, e enquanto fa-
lava, os olhos de Vivian se iluminaram como o Natal.

—Ele é amigo de Yuri. Aquele que ajudou a salvar o pai de Lena, quando o primo
roubou a pintura. —Erin esclareceu.

—Niels. —O nome do extremamente rico dinamarquês, finalmente se lembrou. Po-


lido e suave, Niels conversou com Vivian com um profissional. —O que ele está fazendo
aqui?

—Aparentemente, Lena mostrou-lhe algumas fotos do trabalho de Vivian. Ele fi-


cou tão apaixonado que mudou as férias de inverno. — Ela olhou para o relógio. —Eles
deverão estar aqui em breve.

Nikolai deixou um som baixo escapar de sua garganta enquanto observava o cole-
cionador de arte bilionário e empresário se aproximar ainda mais de Vivian. Certa vez,
Yuri confessou que visitou junto com Niels e um amigo, um dos seus clubes de sexo de
propriedade privada. Niels tinha certos gostos. Bilionário ou não, ele achataria o maldi-
to dinamarquês se ele deslizasse até uma polegada mais perto de Vivian.

—Calma. —Disse Erin no tom maternal dela. —Vivian só tem olhos para você. Ela
provavelmente nem percebe que ele está tentando flertar com ela. Goste ou não, Vivian
tem conhecimento. Um cara como ele poderia fazer coisas incríveis para sua carreira.

Ele ouviu a censura silenciosa na voz de Erin. Não atrapalhe.

—Eu nunca faria nada para prejudicar o seu futuro.

Erin colocou a mão suavemente no seu braço.

—Eu sei que você não faria isso.

163
Ele manteve seu olhar sobre Vivian que agora tinha atraído outro par de ricos
compradores de arte.

—Esta provavelmente será a minha primeira e única aparição em um de seus e-


ventos.

—Por quê? —Erin pareceu chocado.

—Pelas mesmas razões, que eu tento cobrir tudo isso quando estou com ela. —Ele
esfregou o dedo sobre a tatuagem em um de seus dedos. —Eu sei o que as pessoas pen-
sam quando veem isso. Eu não as culpo você entende, mas eu não vou deixar meus erros
arruinarem suas chances.

—Nikolai. —Erin disse com uma risada. —Você realmente está exagerando. Vivian
é uma artista. Inferno, é esperado que ela tivesse uma história misteriosa e um caso de
amor tórrido com um bad boy.

Nikolai não tinha tanta certeza de que gostava de ser chamado de bad boy. Pare-
cia tão infantil e bobo, especialmente considerando todas as coisas que ele tinha feito.
Lá no fundo, ele esperava que Erin estivesse certa. Ele nunca se perdoaria, se amar Vi-
vian e fazê-la sua esposa arruinasse a carreira artística promissora pela frente.

—Merda. —Erin sussurrou o palavrão tão baixinho que ele mal ouviu.

Seu olhar disparou na direção que ela estava olhando. O detetive Santos entrou
na galeria usando um terno e uma carranca muito irritada. Quando Santos encontrou-o
no meio da multidão, o detetive olhou com punhais no olhar. O olhar furioso prometia
uma briga, que se arrastaria para fora.

Tantos planos para fazer tudo certo...

164
Capítulo Quinze

No momento em que avistei Eric atravessar a galeria eu sabia que estávamos


prestes a ter uma briga feia.

Benny deve ter notado a expressão no rosto de Eric porque ela pareceu voar para
interceptá-lo com um sorriso. Aqueles dois eram amigos há tanto tempo que Eric não
seria rude com ela, especialmente em seu estado, obviamente grávida. Quando Dimitri
se juntou a eles, eu sabia que tinha apenas o tempo suficiente para me livrar cuidado-
samente da conversa que estava tendo com Niels Mikkelsen e os dois donos de hotéis
em Houston amantes de arte que queriam encomendar peças para sua nova casa.

Como habilidade, saí da conversa com promessas de voltar e entrei na linha de vi-
são de Eric. Ele me fuzilou com o olhar irritado. Eu tinha uma ideia muito boa do porque
ele estava tão chateado.

Olhei para Nikolai e Erin. Seu rosto era uma máscara de preocupação, ela me lan-
çou um sorriso encorajador, mas foi Nikolai que me deixou mais preocupada. Embora ele
geralmente tentasse ficar fora do meu negócio com a família, tinha a sensação de que a
linha estava prestes a ser apagada. Em breve, seríamos uma família e eu duvidava que
Nikolai iria dar espaço no nosso novo pequeno círculo, para Eric.

Nikolai e eu dividimos um olhar que dizia tudo. Se eu quisesse, ele lidaria com is-
so agora. Porque ele me amava, e ele estava perto e esperando eu decidir o que queria.

Inalei uma respiração, e me aproximei do meu primo.

—Ei, Eric.

—Vivian. —Seu olhar caiu para a mão esquerda e no dedo anelar que permanecia
nu. —Nós temos que conversar.

—Um… — Eu procurei na galeria por um espaço tranquilo. —Vamos para a parte de


trás. Há uma área de armazenamento que é privada.

Quando deixamos Benny e Dimitri, ela estendeu a mão e deu um aperto de mão de
apoio. Precisava muito de sua confiança. Eu tinha uma sensação de que Eric estava pres-
tes a perder a cabeça e eu ia ser o alvo de sua fúria.

165
Seguramente escondidos na sala de armazenamento, fechei a porta e encostei
para me apoiar. Eric e eu olhávamos um para o outro. Ele estava com tanta raiva, seu
rosto estava corado e seu peito arfava com cada respiração. Finalmente, eu suspirei.

—Basta dizer.

—Que porra você está fazendo?

Eu vacilei com a pergunta que rosnou. Lembrando-me da manhã na minha cozinha,


quando ele me disse que eu tinha que encontrar alguém para me proteger, eu lembrei a
ele:

—Você me disse para ir para Nikolai para obter ajuda.

—Eu não quis dizer-lhe para casar com o cara, porra!

—Eric, POR FAVOR!

—Não. —Ele passou as duas mãos na frente dele. —Eu não vou deixar você fazer
isso. Eu não vou deixar você jogar sua vida fora por um pedaço de merda criminoso co-
mo aquele.

Ouví-lo descrever Nikolai de uma forma tão horrível fez minha barriga doer.

—Por que, Vivian? De todos os homens nessa terra de Deus, por que diabos você
está casando com esse?

—Eu o amo, Eric.

Sua risada zombeteira ecoou no quarto mal iluminado. Ele amaldiçoou em espa-
nhol, e as palavras faladas amargamente me esfaquearam como picadores de gelo.

—Você se ouve? Você entende como idiota é isso? Ele é um maldito mafioso, Vivi-
an.

Endireitando meus ombros, me afastei da porta. Eu tive o suficiente de Eric fa-


lando comigo assim.

—Eu sei o que ele é e eu não me importo.

—Meu Deus! —Eric jogou as mãos no ar. —Você não pode ser tão estúpida e ingê-
nua.

—Aparentemente eu sou.

—Uau. —Ele parecia totalmente enojado. —Eu sempre pensei que você fosse uma
maçã que caiu longe da árvore da família, mas agora vejo que você é tão louca como sua
mãe.

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Não poderia haver dor pior, se ele tivesse me dado um tapa.

—Foda-se, Eric.

Seu rosto se contorceu de arrependimento e escureceu seus olhos.

—Vivi…

—Saia! —Minha resposta pouco fez para dissuadi-lo de tentar mudar minha cabe-
ça.

—Não, ele sequer colocou um anel em seu dedo. Basta dizer-lhe que cometeu um
erro e que pretende acabar com o casamento.

—Não.

—Vivian, isso não é uma piada. Quando você estava saindo com ele, ou dormindo
com ele ou o que diabos vocês dois estavam fazendo, era uma coisa. Mas isso? Isso não
está acontecendo. Olha, eu sei que você está animada sobre o dinheiro, as joias e os
carros…

—Você está louco? —Interrompi. —É isso que você acha? Que eu estou com Niko-
lai porque eu sou uma prostituta, que por um pouco de dinheiro, estou disposta a abrir
as pernas por um carro esportivo?

—O que mais eu deveria pensar Vivian? Esse cara, basicamente, foi preparando
você para ser sua amante desde que começou a faculdade.

Eu nunca quis socar alguém tão fortemente em toda a minha vida.

—Cala a boca. Cale-se.

—Não, você vai me ouvir.

—Não. —Eu interrompi furiosamente. —Você vai me escutar. Tudo o que você a-
cha que está acontecendo ou aconteceu entre nós é, uma doente invenção torcida de
sua imaginação. Isso não é da tua conta, mas eu nunca estive com um homem, Eric. Nun-
ca. Nikolai nunca tentou cruzar a linha comigo. Nem uma única vez.

O conhecimento de que eu ainda era um membro de carteirinha, orgulhosa, do


Clube das virgens pareceu chocar Eric.

—Mas ele…

—Ele o quê, Eric? Ele me ajudou quando meus avós morreram, e eu estava sozi-
nha? Ele fez com que eu terminasse a faculdade? Ele me deu um trabalho, uma maneira

167
de me sustentar e realizar meus sonhos de me tornar uma artista de sucesso? Quem
diabos mais se aproximou para me ajudar? Oh, isso é certo. Ninguém!

Agora ele era o único visivelmente vacilando. O lado do meu pai da família tinha
me abandonado desde que eu era uma criança, muito jovem. Eu nem sabia que Eric exis-
tia até que eu era adolescente. Mesmo assim, como eu tinha maneiras rebeldes, sua
mãe, minha tia, não me deixou ir à casa deles. Eu nem deveria passar perto da sua vizi-
nhança.

—Isso não é justo, Vivian. —Sua voz se suavizou agora, mas eu estava em cima
dele.

—Sim, bem, Eric, eu sei melhor do que ninguém que a vida com certeza não é jus-
ta.

—A vida pode ter-lhe dado muita merda, Vivian, mas isso não significa que você
tem que jogar tudo fora por essa porra de mafioso.

—Eric, eu tomei a minha decisão. Está feito.

—Então não se incomode de me enviar um convite. Não vou participar da sua


brincadeira de casamento.

Irradiando decepção e raiva, Eric saiu da sala e me deixou sozinha. Meus olhos
ardiam tanto. Eu lutei contra a vontade de chorar. Tentando me recompor, me virei pa-
ra a parede e toquei de leve no canto dos meus olhos. Minha garganta estava tão aper-
tada, mas me recusei a deixar que saísse um soluço doloroso.

Enquanto eu abanava meu rosto quente e tentava esquecer as coisas feias que E-
ric havia dito, ouvi a porta atrás de mim se abrir. Certa de que Nikolai veio me salvar,
olhei por cima do ombro e quase desmaiei quando meu pai entrou na sala.

—Minha filha.

O som de sua voz rouca enviou um certo calafrio através de mim. Boca seca e co-
ração na boca, girei rapidamente e coloquei mais espaço entre nós.

—Fique longe de mim.

Ele riu o som seco, duro como pregos martelando em um quadro.

—Acho que nos separamos tempo suficiente.

A prisão não pareceu envelhecer muito ele. De qualquer maneira, ele parecia mais
saudável e mais magro do que eu lembrava. Sua pele escura parecia mais pálida para
mim, mas duvidava que os homens em prisões de segurança máxima tinham muito tempo

168
ao ar livre. Ele usava um terno e sapatos finos, provavelmente para se misturar na mul-
tidão. Os longos fios de cabelo preto que outrora pendiam até o meio de suas costas
tinham sido cortados em um corte simples.

Olhando em volta a procura de uma arma, vi um cortador de caixa em uma das


mesas de trabalho e rapidamente o peguei. Eu peguei a lâmina brilhante e a estendi di-
ante de mim.

—Eu não estou brincando. Vou cortá-lo se você tentar chegar mais perto.

Ele não se moveu, mas abriu um sorriso.

—Eu sempre soube que você era uma lutadora como eu.

—Eu não sou como você.

—Não se venda barato, garota. Você e eu? Nós somos duas ervilhas em uma va-
gem.

A própria ideia de ser qualquer coisa como ele, me fez querer vomitar.

—O que você quer? Pensei que estivesse com os Federais.

Sua expressão se voltou para um deboche total.

—A prisão ensina um homem todo tipo de truques interessantes. Negociação é um


deles.

Eu não queria nem imaginar como meu pai tinha negociado essa liberdade com os
federais.

—Por que você está aqui?

—Para dar os meus parabéns, é claro. —Ele inclinou a cabeça para um melhor o-
lhar para minha mão esquerda. —Não se tornou oficial ainda? —Rindo, ele perguntou: -
Ou talvez Nikolai esteja me esperando para dar a minha bênção?

Eu ignorei sua tentativa de ser engraçado.

—Eu sei o que aconteceu naquela noite na casa. Quando você me deixou lá para
morrer.

—Você quer dizer a noite, quando o homem com quem você vai se casar atirou em
você?

—Quero dizer a noite que você me levou para ser alvejada.

169
Por um breve momento, algo que parecia suspeitosamente pesar brilhou em seus
olhos escuros.

—Não é o meu momento de maior orgulho como pai.

Eu não sabia o que dizer sobre isso.

—Por que você está aqui?

—Quando um homem fica na prisão durante o tempo que fiquei, não há muito o
que fazer lá. — Ele parecia em conflito e balançou a cabeça. —É preciso ter muito cui-
dado, Vivian. Há pessoas lá fora que querem ferir Nikolai, e eles vão usá-la para machu-
cá-lo.

—Pessoas? Que pessoas?

—Ciumentas. Pessoas com raiva. —Disse ele. —As pessoas que carregam ressen-
timentos por muito tempo.

—Quem? Eu não posso estar segura se você não me der nomes.

—Não é a hora certa para isso. —Ele deu um passo em minha direção e depois ou-
tro. Minha mão tremia enquanto eu segurava o cortador de caixa, pronta para atacar, se
ele chegasse muito perto. Ele cuidadosamente me contornou e foi para uma porta que
dava para o beco. Quando ele a abriu, sorriu para mim. —Onde você está morando?

—O quê? —Eu fiquei boquiaberta para ele, incrédula.

Ele deu de ombros.

—Eu tenho certeza de que vou pensar em um presente de casamento apropriado


para a minha única filha. —Com um aceno, ele disse: — Eu vou te ver em breve, minha
filha.

E então, tão rapidamente como tinha aparecido, ele foi embora.

Eu ainda estava tremendo e apertando o cortador de caixa quando a porta que


dava para a galeria se abriu e Nikolai entrou na sala. Ele deu uma olhada para mim e
correu para o meu lado. Segurando meus ombros, ele perguntou:

—Vee, o que aconteceu?

—Era o meu pai.

Chocado com a minha resposta, Nikolai olhou para a porta de acesso ao beco an-
tes de me estudar com mais cuidado.

170
—Solnyshko moyo. —Ele me beijou com ternura e arrancou o cortador de caixa
da minha mão. Depois de fechar e colocá-lo de lado, ele passou os braços em volta de
mim e me puxou para uma das caixas de madeira. Segurando-me em seus braços quen-
tes, amorosos, ele se sentou e me puxou para baixo em seu colo. —Você está bem? Ele
te assustou?

—Sim—. Eu enterrei meu rosto na curva de seu pescoço e inalei o aroma recon-
fortante de sua colônia. —Eu não quero nunca mais vê-lo novamente.

—Eu sei que você não quer. —Ele suavemente acariciou minhas costas. —O que ele
queria?

—Me avisar.

—Para ficar longe de mim?

—Não, ele disse que existem pessoas que querem prejudicá-lo. Pessoas com ran-
cor. —Ergui a cabeça e olhei em seus olhos. —Ele está falando sobre as pessoas que or-
denaram o ataque em você?

—Acho que sim. —Nikolai parecia relutante em acrescentar: — Eu acho que é al-
guém do meu passado. Da Rússia. —Esclareceu ele.

Incapaz de falar, voltei minha cabeça novamente para seu peito e fechei os olhos.
Se alguém da equipe antiga de Moscou estava tentando machucá-lo agora, isso ia ficar
muito confuso.

Não querendo falar sobre essa possibilidade, ele disse:

—Eu falei com Eric.

Eu fiquei tensa imaginando os dois brigando no meio da galeria.

—Onde?

—Lá fora. —Ele e beijou minha testa. —Eu nunca faria nada para envergonhá-la
assim.

—O que ele disse para você?

—Provavelmente as mesmas coisas desagradáveis que ele disse a você. —Nikolai


acariciou meu braço. —Ele está certo, você sabe. Ao se casar comigo, você está levando
tudo o que eu já fiz de errado para você.

Irritada que ele estava deixando Eric o atingir, eu insisti:

—Eu sei no que estou me metendo, Kolya. Eu escolhi você. Eu quero você.

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—Você ainda pode mudar de ideia. — Ele disse as palavras em um sussurro. —Eu
não iria forçá-la, se você decidir que eu não valho a pena. Quero que entenda que eu não
iria parar de ajudá-la. Que eu estaria sempre perto para você e eu não faria...

—Pare. —Eu coloquei meu dedo sobre os lábios. Segurando seu olhar, reafirmei o
que já sabia. —Eu te amo, Nikolai. Eu quero ser sua esposa. Quero construir uma vida
juntos. Sei que não vai ser fácil, mas e acredito em nós.

Ele engoliu em seco e finalmente assentiu. Arrastando o dedo da sua boca, ele
segurou o meu olhar quando se inclinou para um beijo que fez minha barriga vibrar e
meus dedos formigarem. Embora eu soubesse que teríamos que mostrar nossos rostos
felizes, em breve, fechei os olhos e gostei de ser abraçada por ele por alguns momen-
tos mais.

Mas os rostos de meu pai, de Eric e da figura negra sombria ameaçando o nosso
futuro, nublaram meu entusiasmo com o que prometia ser um show muito bem sucedido.
Eu não sei como diabos iríamos encontrar o nosso caminho e sair dessa bagunça, mas eu
sabia que só havia uma maneira de se chegar lá.

Juntos.

172
Capitulo Dezesseis

—Depressa, Vivi. Quero ver esse vestido!

Revirei os olhos quando Erin praticamente derrubou a porta de um dos provado-


res na boutique de noivas de Bianca. Em pé atrás de mim, Bianca bufou baixinho com
risos e terminou de puxar o zíper no lugar. Ela alisou as mãos sobre a renda e sorriu por
cima do meu ombro. Nossos olhares se encontraram no reflexo do espelho.

—Você está tão bonita.

—Vivi, é melhor você se mexer ou Erin vai derrubar essa porta. —Lena brincou. —
Benny está prestes a bater nela com uma dessas revistas de casamento.

Eu podia apenas imaginar Erin lá fora batendo o pé e deixando Benny louca. Com a
ajuda de Bianca, juntei a bainha do vestido e sai do provador. Os oohs e ahs começaram
no momento em que me viram.

—É perfeito. —Erin declarou, e subi em uma plataforma circular cercada por es-
pelhos. —A renda, o estilo é tão romântico, é muito você.

—Você está maravilhosa. —Confirmou Benny. —É realmente bonito.

Lena, na verdade, enxugou os olhos enquanto me olhava.

—Uau. Uau.

Mesmo Sergei que havia sido minha sombra sem parar, parecia bastante surpreso
em me ver em um vestido de noiva. Ele ficou de pé ao lado da nossa pequena festa, mas
inclinou a cabeça enquanto lentamente me virei para mostrar a parte de trás do vestido.

Porque St. Vladimir tinha códigos de vestimenta muito restritos para os serviços,
eu tinha escolhido um vestido que tinha um corpete bordado delicado e mangas curtas.
Lena avançou com o véu que eu tinha escolhido e ajudou Bianca colocar perfeitamente
no lugar.

—Bianca. —Erin disse tão entusiasmada. —Você está incrível. Eu não posso acre-
ditar que você foi capaz de confeccionar este vestido tão rapidamente.

Bianca sorriu enquanto ela ajeitava a saia.

—Eu tento manter uma ampla seleção de vestidos prontos para fazer alterações
mínimas. Às vezes uma garota precisa de um vestido e ela precisa agora.

173
Sua piscadela brincalhona me fez rir. Enquanto minhas amigas discutiam que tipo
de joias eu deveria usar, se eu precisava usar um sutiã diferente, ou aqueles modelado-
res, Bianca pegou sua cesta de costura e começou a marcar o vestido para o seu ajuste
final. A loja estava movimentada hoje, seus outros assistentes e costureiras estavam
ocupados com outras noivas.

—Você precisa de alguma ajuda? —Sergei me surpreendeu agachando-se ao lado


de Bianca, que marcava a barra do meu vestido.

Ela lançou um olhar estranho.

—Ah, então você sabe sobre alterações de vestido de casamento, não é?

Ele tirou sua jaqueta de couro e jogou em uma das cadeiras próximas.

—Minha mãe é costureira. Aprendi a ajudá-la quando era pequeno.

Bianca ficou estática. Recuperando-se de sua surpresa, ela entregou-lhe uma al-
mofada de alfinetes.

—Mostre-me.

Quando ele pegou a almofada de alfinetes de sua mão, ele franziu a testa e aper-
tou os dedos.

—Você se machucou?

Ela puxou sua mão livre e escondeu.

—Eu tive uma discussão com minha lixadeira, enquanto eu estava tentando repa-
rar algumas portas.

Ele se sentou em seus calcanhares.

—Você está reformando sua própria casa?

—Sim.

—Mas isso é um trabalho perigoso. É um trabalho duro. — Sua expressão de


consternação me divertiu. —É o trabalho dos homens.

Bianca revirou os olhos.

—Diz o homem de joelhos fazendo o trabalho das mulheres.

Nós quatro olhamos com interesse. Percebendo que tinha muito público, Bianca
fez um gesto para a barra do meu vestido.

—Mãos à obra.

174
—Querida, você pode me dar ordens como essa qualquer dia. — O sorriso torto
de Sergei fez Bianca corar. Ela virou-lhe as costas e focou em apenas ajustar a bainha
do meu vestido. Ele continuou a dirigir olhares para ela enquanto eles trabalhavam lado
a lado.

Lena tinha aquele olhar intrigante em seus olhos, mas eu balancei a cabeça para
avisá-la, que era contra a tentativa de aproximação dos dois. Bianca não era como eu ou
Erin. Ela tinha sérias razões para querer ficar longe de homens como Sergei, não impor-
ta o quanto ela se sentia atraída por eles.

Enquanto Bianca e Sergei terminavam de trabalhar nas alterações, Erin percor-


reu a lista com a gente. Eu estava espantada com o casamento que ela organizou para
Dimitri e Benny em tão pouco tempo, mas ela realmente parou tudo para me ajudar.

Eu tinha certeza de que não seria capaz de encontrar um salão de recepção em


tão pouco tempo, mas Yuri tinha cedido um atenciosamente. Quando as luzes não eram
destinadas a oferecer um clima de boate, o interior do Faze era realmente muito ele-
gante. Erin e eu tínhamos esboçado algumas ideias para incorporar os tons metálicos do
clube. Nós tínhamos escolhido tecidos brancos e arranjos brilhantes coloridos de flo-
res. Com tanta falta tempo, o nosso tema era simples, mas elegante.

Providenciar a comida e o bolo tinha sido muito fácil. Samovar iria atender a re-
cepção e o padeiro que tinha feito o bolo de Benny, lhe devia um favor e tinha alegre-
mente concordado em nos espremer em sua agenda. Yuri tinha oferecido os bartenders
VIP do Faze e seu fornecedor de bebidas aparentemente negociou com Erin um bom
preço para o vinho, champanhe e licor. Considerando-se a multidão que viria a este ca-
samento, iríamos precisar de um bar bem abastecido.

—Então, tenho todas as entregas arranjadas. —Disse Erin como sua caneta se
movendo por seu checklist. —Alguns dos caras do ginásio de Ivan se voluntariaram para
ajudar a arrumar tudo após a recepção.

—Porque eles querem comida e álcool. —Sergei resmungou de sua posição no


chão.

Erin riu e brincando cutucou com a ponta da caneta a cabeça.

—É mão de obra barata e, eu não vou dispensar.

—Uma mulher, segundo o meu coração! —A loira alegre que tinha ocupado o pro-
vador ao lado voou com um cartão de visita já na mão. —Eu não deveria escutar, mas não
pude evitar. Está muito organizado. Meu nome é Jean, por sinal, eu possuo uma empresa
de planejamento de casamento.

175
—Oh. —Erin aceitou o cartão e olhou para os detalhes. Ela apertou a mão de Je-
an.

—Eu sou Erin Hanson.

—E parece que você está prestes a ser uma noiva, Erin! —Jean admirado anel de
noivado de Erin. —Quando é o dia feliz?

—Não definimos uma data certa ainda, mas estamos pensando final de maio.

—Essa é uma boa época para fazer um casamento no Texas. Não são muito quen-
tes, e as noites permitem fazer uma recepção agradável ao ar livre. —Jean sorriu para
mim. —Parece que você planejou um casamento bonito para a sua amiga.

—Bem… — Erin disse um pouco nervosa. —Eu estou tentando.

—Você é uma nova consultora? Iniciando seu próprio negócio?

Erin balançou a cabeça.

—Não, eu realmente sou contadora. Ou era. Agora estou de volta na escola e tra-
balhando em um MBA.

—Bem, se você decidir que gostaria de pegar um pouco de trabalho em meio perí-
odo, ou se você quiser uma mudança de carreira, me ligue. Meu negócio está em expan-
são, e estou sempre à procura de novos consultores e planejadores.

Aparentemente boquiaberta, Erin assentiu.

—Ok.

—Ótimo. —Jean estendeu a mão e de uma tapinha nas costas de Bianca. —Eu vou
vê-la novamente amanhã, Bee.

Tão rapidamente como ela entrou em nossa conversa, Jean rapidamente saiu.
Benny foi a primeira a perguntar o que todos nós estávamos pensando.

—Bem, Bianca, ela é de verdade?

—Absolutamente. —Confirmou Bianca. —Seu negócio de planejamento de eventos,


faz casamentos, aniversários, bailes de gala... Ela projetou alguns casamentos realmen-
te lindos. Ela tem sido destaque em revistas de noivas.

—Você deveria dar uma chance. —Lena pediu. —O que tem a perder, Erin?

—Vamos ver. —Disse ela timidamente e colocou o cartão em sua bolsa.

176
Quando os ajustes terminaram e coloquei a minha roupa, não conseguia parar de
pensar sobre como nossas vidas profissionais estavam mudando tão rapidamente. Lena
tinha se afastado de um trabalho confortável, mas sufocante e estava em fase de pla-
nejamento para lançar sua própria empresa especializada. Benny estava lutando para
manter apadaria de sua família aberta, perdeu tudo em um incêndio criminoso, quase
fatal e tinha reaberto em um local muito melhor e o negócio estava prosperando. Erin
tinha sido despedida de seu trabalho de contabilidade, que ela odiava e parecia ter en-
contrado seu nicho no planejamento do evento. E eu? Bem a mostra de arte produziu
resultados muito acima dos meus sonhos.

Tinha passado uma semana desde a exposição e eu ainda não conseguia acreditar
em todas as oportunidades que ela havia criado para mim, especialmente com as impres-
sões dos que entendiam de arte e pintura. Eu sempre acreditei que era boa e que tinha
o potencial como artista, mas não tinha ideia de que estava tão perto de realizar esse
sonho. Embora não estivesse totalmente pronta para desenvolver e aperfeiçoar o meu
ofício, estava chegando lá. Eu estava perto o suficiente, agora que pude provar o suces-
so.

—Vamos fazer alguma parada a caminho de casa? —Sergei perguntou quando afi-
velei o cinto de segurança. Desde que tinha voltado às aulas após as férias de inverno,
ele tinha sido meu companheiro constante.

—Eu não preciso parar em qualquer lugar. Não é?

Ele balançou a cabeça.

—Eu estou bem.

Enquanto nos dirigíamos para casa, deixamos a estação de rádio alternativa to-
mar o lugar da conversa. Senti que Sergei estava imerso em pensamentos sobre Bianca.
Quando ele nos guiou até a entrada da garagem, foram confirmadas as minhas suspei-
tas.

—Sobre Bianca.

—Sim?

—Ela tem um namorado?

—Não, mas você provavelmente está perdendo o seu tempo.

Ele franziu a testa e destravou o cinto de segurança.

—Por quê?

—Ela não se interessa por caras como você.

177
—Gente como eu? Quer dizer russo? Ou você quer dizer branco?

Revirei os olhos.

—Quero dizer tipo gangster.

Aborrecimento passou pelo seu rosto.

—Por que não?

Não era do meu feitio falar sobre a história de Bianca, mas eu poderia dizer que
Sergei não ia parar de perguntar.

—Quando era mais jovem, ela e seu irmão mais velho pararam em uma loja de
conveniência, uma noite antes de irem ao cinema. Enquanto eles estavam lá, uma dupla
de punks decidiu roubar o lugar. Eles atiraram no caixa, e quando viraram a arma contra
ela, o irmão de Bianca entrou na frente e pegou a bala.

—Ele morreu?

Eu balancei a cabeça.

—Ela ficou realmente muito confusa com isso. Nós, na verdade, nos encontramos
em um desses grupos de terapia para sobreviventes de crimes violentos. Ela sempre foi
muito cuidadosa com os homens que ela sai. Seu... Tipo de trabalho... O coloca em uma
categoria que ela provavelmente quer esquecer.

Sergei pôs as mãos no volante e olhou para fora do para-brisa. Ele parecia estar
pensando sobre tudo o que disse a ele sobre Bianca. Eventualmente, ele se virou para
mim e sorriu.

—Tudo bem. Eu gosto de um bom desafio.

Eu não pude deixar de sorrir. Ele não tinha ideia do que ele estaria enfrentando.

—Bem boa sorte, Sergei.

Ele ainda estava rindo quando começamos a subir a calçada da casa.

—Como o resto de vocês se conheceram?

Sentindo-me um pouco envergonhada, eu admiti:

—Lena e eu tivemos o mesmo oficial de justiça, por conta de nossos desentendi-


mentos com a detenção juvenil.

Sergei parou e olhou para mim com choque absoluto em seu rosto.

—Você era uma delinquente juvenil?

178
Com o rosto vermelho, eu assenti.

—Em minha defesa, eu era muito jovem, entre dez e onze. Minha mãe tinha aca-
bado de morrer, e meu pai estava realmente virando a minha cabeça. Meus avós esta-
vam tentando me controlar e me manter na linha. Eu era basicamente uma bagunça.

Ele tocou meu braço.

—Eu não queria te envergonhar. Sinceramente, não sabia.

Eu só tinha conhecido Sergei há alguns anos, então eu não estava surpresa. Eu


duvidava que Nikolai permitisse que seus homens se sentassem e fofocassem sobre o
passado sórdido da minha família.

—Está tudo bem. Temos todos cometidos erros, certo?

—Sim.

Nós começamos a andar novamente e eu terminei de responder a sua pergunta.

—Quando chegou a hora de eu ir para a escola, os meus avós me enviaram a Santa


Maria. É um colégio só de meninas, uma escola católica, que tem um dos melhores pro-
gramas de preparação para faculdade no estado. Lena estava no último ano lá e Erin era
uma novata e sua melhor amiga. Elas meio que me colocaram sob suas asas e ficaram de
olho em mim.

—E a mulher de Dimitri? Quando conheceu Benny?

—Benny era colega de quarto de Lena durante o seu primeiro ano de faculdade.
Eu a conheci através de Erin, que a conheceu através de Dimitri. Ela ajudou Lena e
Benny a se reencontrarem.

Nós entramos na sala e tiramos nossas jaquetas. Porque estava molhado e nebu-
loso lá fora, eu tirei os meus sapatos e deixei-os para secar em uma das esteiras em
vez de molhar todo o piso de madeira.

Sergei me arrastou para a cozinha.

—Escola católica, hein? Aposto que ficavam quente nesse uniforme, especialmen-
te com a pequenina saia xadrez.

Em jeito de brincadeira lhe dei um soco no braço.

—Você é um pervertido.

Ele balançou as sobrancelhas.

179
—Você ainda tem esse uniforme? Eu ficaria feliz de ir lá em cima e ajudá-la a
encontrar em uma daquelas caixas para que você vista para mim.

—Sergei! —A voz severa de Nikolai nos assustou. O olhar gelado no rosto do meu
futuro marido deixou Sergei pálido.

Não querendo que Sergei ficasse em apuros por alguma brincadeira inofensiva,
eu fiquei entre eles.

—Ele estava apenas brincando comigo.

O olhar de Nikolai deslizou para mim antes de passar rapidamente de volta para
Sergei.

—Danny precisa de ajuda para pendurar aqueles quadros que Vee desempacotou
na noite passada. Ele está na biblioteca.

—Claro, chefe. —Sergei apressadamente atravessou a cozinha e desapareceu de


vista.

Irritada, apertei os lábios.

—Nikolai…

Ele ergueu a mão.

—Eu sei que ele estava brincando com você, mas eu não aprecio isso. Não vou
permitir que os homens que trabalham para mim façam observações sujas sobre a minha
esposa.

A feminista desabrochando em mim criticou a postura extremamente conserva-


dora de Nikolai. Eu estaria mentindo se dissesse que, secretamente gostei de seu com-
portamento possessivo, protetor. Ainda assim...

—Kolya, você não pode me manter em uma caixa de vidro.

Seu rosto se contorceu em uma maneira que reconheci como inegociável. Ele só
fez isso quando se recusou a reconhecer quão irracional ele estava agindo.

—Quando se trata de você, existem limites.

Ficou claro que não iríamos chegar a lugar nenhum com essa conversa, não hoje,
pelo menos. Coloquei a minha bolsa em cima do balcão, me aproximei e passei meus bra-
ços ao redor da sua cintura. Ele relaxou sob o meu toque e me abraçou com força.

Acariciando meu rosto, ele sussurrou em russo.

180
—Eu não quero incomodá-la. Eu não deveria me sentir tão possessivo sobre você,
mas você é preciosa para mim.

Dizer que eu era preciosa para ele fez meu coração inchar. Depois do jeito que
eu tinha sido descartada, abusada e usada por meus pais, secretamente temia que eu
não fosse boa o suficiente para ser amada ou querida. Foi uma das razões por que deci-
di esperar até o casamento para fazer amor. Eu queria saber que era verdadeiramente
amada, desejada e especial. Que valia a pena esperar.

Nikolai segurou meu rosto e traçou a minha boca com o polegar.

—Eu não estou orgulhoso, mas ouvir vocês dois rindo, me deixou tão ciumento.

—Isso não significa nada. Era apenas uma brincadeira boba.

—Eu sei, mas quero ser o único a provocar você assim. Eu quero ser aquele que te
faz corar.

—Não vai demorar muito. —Eu disse com um sorriso brincalhão.

—Não? —Ele baixou até que nossos rostos se tocaram. Seus lábios roçaram mi-
nha orelha. —E se eu lhe dissesse que estou contando as horas até que possa tirar até a
última peça de roupa do seu corpo e passar minhas mãos por toda a sua pele nua? Que
eu sento no meu escritório e sonho com todas as maneiras que vou usar a boca para fa-
zer você gritar meu nome?

Meu rosto ficou quente quando ele descreveu as coisas que ele queria fazer co-
migo. Respirações aceleraram no meu peito e me atrevi a olhar para ele. A intensidade
de seu olhar ardente me deixou tremendo de emoção e excitação. Desejo encheu meu
coração e meu corpo doía com essa necessidade.

Tentei não deixar minha mente vagar por esse caminho, mas suas palavras provo-
caram imagens eróticas que me deixaram lambendo meus lábios e apertando os braços.

—Eu penso sobre as mesmas coisas à noite. Você não tem ideia de como é difícil
para eu ficar no meu quarto. Às vezes, me levanto e vou até a minha porta, antes de
encontrar a força para voltar para a minha cama.

Minha confissão o fez respirar mais forte.

—Só mais alguns dias e não haverá mais nenhuma porta entre nós.

Quando sua boca desceu em direção a minha, ele curvou com malícia.

—E é melhor achar o uniforme da velha escola, porque agora tenho que saber co-
mo você fica naquela pequena saia xadrez.

181
Meu coração batia freneticamente no meu peito por causa do seu pedido imperti-
nente.

—Ah, é?

—Sim. —Seus lábios provocaram toda a minha boca. —E eu tenho a firme inten-
ção de fazer amor com você enquanto a veste…

—Nikolai! —Engoli em seco a seu pedido escandaloso.

Ele riu baixinho e me beijou novamente.

—Eu gosto de ouvir você suspirar meu nome assim.

Eu não podia acreditar como ele estava me provocando. Este era um lado de Ni-
kolai que nunca tinha visto e eu realmente gostei. Quanto mais perto nós chegávamos do
nosso casamento, mais ele relaxava comigo. Estes pequenos vislumbres de como a nossa
vida íntima seria me deixou tremendo de antecipação.

Lambendo meus lábios, deslizei minhas mãos por seus braços e levantei na ponta
dos pés para beijá-lo. Quando a minha mão deslizou ao longo de seu peito, encontrei um
volume duro.

—O que é isso?

—Coloque a mão no bolso e descobrirá.

Apertei os olhos com o sorriso travesso na sua boca sensual, mas fiz como me
instruiu. Meus dedos se fecharam ao redor da pequena caixa. Mesmo antes de pegá-la,
eu sabia exatamente o que era.

Nikolai pegou a caixa de joias de mim e abriu-a com cuidado.

—Eu pensei que era hora de tornar isso oficial.

Não me importava meu dedo nu. Anéis de noivado eram apenas símbolos. Era o
amor entre nós que importava.

Mas eu seria uma mentirosa deslavada se dissesse que mal podia esperar para ter
seu anel no meu dedo. Ele escolheu um diamante redondo brilhante rodeado por um cír-
culo de pedras menores. Em vez de platina, ele tinha pedras deslumbrantes intrincadas
e entrelaçadas em ouro amarelo e branco.

—Nikolai… — Eu sussurrei com admiração quando ele deslizou o anel no meu dedo.
—É tão bonito.

182
—Você gosta dele? —A insegurança na voz dele me surpreendeu. Com todos os
outros ele era extremamente confiante. Só comigo ele se permitia mostrar qualquer
vulnerabilidade. Lembrei-me da manhã ele me fez café, quando me falou sobre o amor
ser uma fraqueza. Eu não tinha entendido completamente o seu significado então. Ago-
ra, depois de tudo o que eu tinha sobrevivido, entendi muito melhor o que ele estava
tentando dizer naquela manhã.

Toquei seu rosto e beijei-o.

—Eu amei, Kolya.

Ele tocou o ouro trançado.

—Eu escolhi a platina no começo, mas pensei que ficaria muito fria em seu dedo.

Gostei da forma como ele descreveu a riqueza e o calor do ouro.

—Ele vai combinar com a aliança de casamento que eu escolhi para você.

—Eu sei.

Claro que sim. Sem dúvida, ela já tinha dado uma espiada na sua aliança, no joa-
lheiro que ele me enviou para escolher.

Um barulho alto e uma série de palavrões, alguns em inglês e outro em russo, ex-
plodiram do outro lado da casa. Danny começou a discutir sobre de quem foi à culpa da
escada que havia caído enquanto Sergei reclamava do polegar martelado.

Com um profundo suspiro de frustração, Nikolai tocou sua testa na minha. Desde
que ele me salvou, sua casa tinha sido invadida por pessoas. Para um homem que valori-
zava sua privacidade, ele provavelmente achava isso quase insuportável.

—Por quanto tempo mais nós temos que viver assim?

Seus dedos roçaram meu rosto.

—Eu não tenho certeza.

Olhando fixamente em seus olhos, encontrei a coragem de perguntar:

—Isso não te deixa nervoso, essa tranquilidade desde que você me salvou? Que
ninguém tentou nos machucar de novo?

Ele me puxou mais apertado em seu abraço.

—Você não deve se preocupar tanto.

183
Mesmo enquanto ele tentava me acalmar, eu sentia que ele dividia meus medos. A
pessoa que tinha ordenado o ataque sobre ele, anos atrás, tinha esperado tanto tempo
para tentar machucá-lo novamente. Eu suspeitava que a saída do meu pai da prisão tinha
estimulado meu sequestrador a agir. Ele provavelmente temia que meu pai falasse. Dei-
xar-me morrer no fogo era a sua maneira de ferir meu pai e Nikolai.

Mas ele falhou. Será que ele desapareceu nas sombras novamente como desapa-
receu durante anos? Ou ele iria encontrar uma maneira de terminar o que tinha come-
çado? A aparição inesperada e indesejada do meu pai na galeria tinha me inclinado para
a segunda opção. Esse cara, quem diabos ele fosse, não ia aceitar o fracasso pela ter-
ceira vez.

Nosso casamento estava a apenas alguns dias de distância. Deveríamos estar a-


nimados para começar esta nova fase de nossas vidas juntos. Em vez de nos concentrar
na criação de um lar e família juntos, nós dois estávamos pensando constantemente so-
bre o perigo que nos aguardava. A ameaça iminente que pairava sobre nós iria sugar a
alegria do que deveria ser o dia mais feliz de nossas vidas.

Os lábios de Nikolai beijaram o topo da minha cabeça.

—Ninguém vai te machucar.

—E você? Quem é que vai mantê-lo seguro?

—Eu estou lidando com isso, Vee.

Ele falou com tanta calma e soou tão garantido. Ocorreu-me que Nikolai estava,
provavelmente, executando algum plano que estava deliberadamente escondendo de
mim. Eu queria ficar irritada com ele, mas tinha a sensação de que ele estava tentando
me proteger. Há realmente algumas coisas que eu não precisava, ou coisas que não que-
ria saber.

Ele gentilmente inclinou a cabeça para trás e olhou para dentro dos meus olhos.

—Eu não vou deixar nada estragar o nosso dia do casamento. Vai ser perfeito.

O calor se espalhou pelo meu peito e se enrolou em volta do meu coração, saber
que ele faria qualquer coisa para me fazer feliz.

—Eu só posso imaginar o número de favores que você teve que pedir para fazer
essa promessa para mim.

Seus lábios tocaram os meus brevemente antes dele sussurrar:

—Você vale a pena, Solnyshko moyo.

184
Capítulo Dezessete

Antes que percebesse, estava em uma antessala da igreja, enquanto Lena se pre-
ocupava com o meu vestido e véu. Os dias entre a última prova do vestido e nosso casa-
mento tinham passado rapidamente. Minha barriga vibrou como um enxame selvagem de
borboletas.

—Você está bem? —Lena me lançou um olhar compreensivo enquanto limpava mi-
nha testa com um lenço de papel. —Você está começando a suar, Vivi.

—São os nervos. —Eu mexi com o meu anel de noivado. O peso familiar dos dia-
mantes e ouro estavam tão bem no meu dedo.

Ela colocou as mãos nos meus ombros e me olhou nos olhos.

—Tem certeza de que quer fazer isso? Ainda há tempo para desistir.

Se outra pessoa tivesse me feito essa pergunta, eu teria ficado irritada ou com
raiva. Lena perguntou por que ela me amava e queria o que era melhor para mim.

—Eu sei o que estou fazendo. Eu quero casar com Nikolai.

—Você não está apenas se casando com Nikolai. Vai casar com tudo dele.

Ela não estava dizendo nada que eu já não tinha considerado. Não era bonito e
não era adequado, mas não posso mudar a maneira como eu me sentia.

—Eu o amo. Tudo dele.

—Eu sei que você ama. —Seu sorriso gentil aliviou a leve picada de decepção. —
Independente de minhas divergências com sua linha de trabalho, eu sei que ele te ama
muito, Vivi. —Ela arrumou minha manga e inalou uma respiração curta. —Por isso, vamos
fazer isso. Vamos te casar e começar o próximo capítulo de sua vida. Um capítulo muito
feliz. —Disse ela com um sorriso.

Eu escorreguei meus braços em torno Lena e a abracei.

—Eu amo você, Lena. Estou muito feliz por você está comigo hoje.

—Você é minha melhor amiga no mundo todo.

185
—Onde mais eu estaria? —Seus olhos escuros brilhavam com lágrimas. Ela pegou
as lágrimas ameaçando derramar dos meus cílios para o vestido com um lenço.

—Veja! —Eu disse. —Esse caro rímel à prova d'água valeu a pena.

Nós rimos enquanto retocava a maquiagem mínima que eu usava hoje. Eu tinha ido
a casamentos aqui em St. Vladimir, onde noivas se vestiam com muita frescura, mas, eu
tinha escolhido um look natural com apenas o menor indício de cor.

—Você vai acabar com eles. —Disse Lena quando me bateu de lado com o quadril
para que ela pudesse ter uma visão melhor de seu reflexo no espelho.

—Diz a dama de honra que ofuscou a noiva. —Eu provoquei. Com a pele mais escu-
ra, ela poderia realçar cores que eu só podia sonhar especialmente o amarelo amantei-
gado do cetim. A gola destacou seu pescoço e clavículas. Os diamantes que ela usava
hoje eram os mesmos que tinha usado no casamento de Benny com Dimitri. Aparente-
mente, eles eram oficialmente seus diamantes da sorte agora.

Ela revirou os olhos e ajustou a inclinação de seu chapéu.

—Oh, por favor. Você é a única que parece uma princesa de conto de fadas. O
resto de nós será invisível uma vez que eles derem uma olhada em você.

Uma batida na porta anunciou a aparição de Sveta. A garçonete mais velha tinha
sido por muito tempo uma boa amiga e defensora minha. Uma amiga da minha avó, que
tinha me levado debaixo da asa dela quando comecei a frequentar serviços em St. Vla-
dimir e tinha sido minha madrinha quando eu tinha sido batizada. Agora, tantos anos
depois, ela concordou alegremente em ficar como minha madrinha Ortodoxa de casa-
mento.

Sveta sorriu para mim.

—Está quase na hora, querida. Você está pronta?

Dei uma última olhada no espelho. As últimas apreensões fugiram. Não havia mais
ninguém no mundo que eu queria, só Nikolai.

—Estou pronta.

Recolhendo minha saia e os metros de rendas do meu véu, Lena me seguia de per-
to, e saímos da pequena área de vestir. Eu tinha dado seis passos para fora antes que
visse Eric de pé no corredor. Vestido com um terno escuro, ele parecia um dos convida-
dos do casamento, mas eu duvidava que ele viesse para comemorar.

—Vivian. —Seu rosto era uma máscara de ansiedade e arrependimento, e ele a-


pressou-se a fechar a distância entre nós.

186
Meu estômago revirou. Ele ia brigar comigo de novo? Aqui? A poucos minutos do
meu casamento?

—Eric.

Ele segurou minhas mãos, mas não falou por uns segundos tensos. —Eu não deve-
ria ter dito aquelas coisas horríveis para você na galeria. Sinto muito, Vivian. Realmente
sinto. Eu estava com tanta raiva, mas isso não significa que esteja certo. Sinto muito.
Sinto muito.

Meu coração amoleceu.

—Eu te perdoo, Eric.

Ele esfregou a renda do meu véu entre os dedos.

—Eu não concordo com a escolha que você fez. Honestamente, eu vim aqui com a
intenção de arrastá-la para fora daqui.

Lena deu um passo adiante.

—ERIC!

—Mas… — Ele olhou diretamente em sua direção: — Eu não vou fazer isso. É mi-
nha prima. Você é a minha família e eu te amo. Eu não quero perder você da minha vida.

—Eu não quero perder você também.

—Você não vai. —Ele andou ao meu lado e ofereceu o braço. —Eu sei que vocês
não fazem isso, entregar a noiva, mas, eu gostaria de levá-la o resto do caminho.

Meus olhos se arregalaram com o calor, quando eu coloquei meu braço em volta
dele. Eric representava o último elo com a minha família de sangue. Mesmo que ele não
gostasse da minha decisão, isso significava muito para mim, tê-lo comigo hoje.

—Obrigada, Eric.

Ele se inclinou e beijou minha testa.

—Eu te amo, garota. Se for isso que você quer, então vai fazer. — Ele olhou para
Lena e sorriu. —Se eu tiver o impulso de me levantar e interromper o casamento, tenho
certeza de que um bom pontapé de Lena com aqueles saltos altos pontiagudos vai me
impedir.

A tensão entre nós desapareceu com o riso que compartilhamos. De braços da-
dos, deixei Eric me acompanhar pelo corredor onde iria me encontrar com Nikolai e co-
meçar minha nova vida como sua esposa.

187
Nikolai pousou a mão contra a janela fria e olhou para os bancos vazios sob as ár-
vores. Havia pássaros pulando no chão, mas ele não estava prestando muita atenção.
Seus pensamentos estavam ocupados com Vivian.

Ele nunca quis nada tanto quanto ele a queria. Certo ou errado, ele não poderia
imaginar um dia em sua vida sem ela ao seu lado. Ele precisava dela como precisava de
ar. Ela era a luz do sol que prometia iluminar a escuridão em seu mundo. Ele ansiava seu
calor amoroso.

Mas o medo de que ele iria arruinar a vida dela tomava conta dele. Os dedos frios
do medo floresceram na sua barriga e se espalhou através de seu peito. Todos aqueles
velhos medos retornaram. Ela era boa demais para ele. Ela era muito inocente. Ela me-
recia muito mais do que um homem como ele.

A culpa se apoderou dele quando ele pensou em torná-la sua esposa e sua ligação
com ele para sempre. Ele poderia fazer isso? Ele deveria fazer isso?

Yuri pigarreou.

—Não fique com raiva, mas tenho que te contar uma coisa que você provavelmen-
te não vai gostar.

Arrancado de seus pensamentos conflitantes, Nikolai olhou de volta para seu pa-
drinho.

—O quê?

—Eric Santos está aqui. Ele está com Vivian.

O coração de Nikolai falhou em seu peito.

—O que ele quer?

—Eu não sei. Ele não parecia estar disposto a brigar. Ele está em um terno. E fa-
lou com o padre. — Yuri deu um passo adiante para ajustar a gravata de Nikolai. —Acho
que ele veio para fazer as pazes.

Nikolai grunhiu.

—Eu só acredito nisso vendo.

—Eu não disse que a paz é com você. Eu quis dizer paz com ela. —Yuri esfregou
com as mãos sobre os ombros de Nikolai. —Eles são partes da mesma família. Quando

188
você der a ela o seu nome hoje, você aceitará a família dela como a sua. Lembre-se dis-
so.

—Eu nunca tentei separá-los. Nem mesmo quando eu queria quebrar suas pernas
por fazê-la chorar...

—Vou pedir a Dimitri para manter um olho nele durante a recepção. Eles se dão
muito bem.

Nikolai entendeu que Yuri estava tentando eliminar qualquer constrangimento na


celebração.

—Essa é uma boa ideia.

—Bem, você me conhece. Sou cheio de boas ideias.

Nikolai bufou.

—Você está cheio de algo.

Yuri riu. Sua expressão ficou séria. Segurando os ombros de Nikolai, ele pergun-
tou:

—Você está pronto para fazer isso?

Será que Yuri leu seus pensamentos?

—Estou pronto.

—Bom. —Yuri bateu-lhe nas costas. —Eu tinha certeza de que você não iria con-
gelar, mas um padrinho deve perguntar esse tipo de coisa. Se houver céticos que ainda
questionam o seu amor e compromisso com a Vivian, não deve ter ouvido falar sobre a
sua confissão de cinco horas com o pobre padre.

Nikolai olhou para o amigo.

—Não foram cinco!

O sorriso de Yuri virou provocação.

—Fizemos apostas se teriam ou não que chamar uma ambulância para reanimá-lo.

Ele disparou a Yuri um olhar que teria congelado a maioria dos homens no local.

—Não foi fácil para mim.

A expressão de Yuri foi paternal.

—As coisas que fazemos por amor raramente são.

189
—Então, eu aprendi.

Brincando de novo, Yuri perguntou:

—Qual o tamanho de uma doação que ele arrancou de você?

—Isso é entre mim e o sacerdote e Deus. —Nikolai se evadiu. Ele não disse a Yuri
que o padre Semyon o lembrou de que nenhum homem estava além da graça de Deus. As
palavras do padre ainda eram incertas para ele. Havia muitos milagres que Nikolai acre-
ditava ser possível, mas salvar a sua alma não estava entre eles.

O diácono deu uma batida de alerta antes de entrar na pequena sala onde eles
esperavam.

—Está quase na hora, Nikolai.

Nikolai assentiu, mas permaneceu em silêncio. Seus batimentos cardíacos acele-


raram agora que sua hora estava chegando.

—Oh, eu quase esqueci. —O diácono procurou sob suas vestes e pegou alguns pa-
péis dobrados. —Era para eu devolver estes documentos oficiais para você em sua últi-
ma sessão de aconselhamento.

Nikolai aceitou os papéis do diácono distraído. Antes que ele pudesse dizer obri-
gado, o homem se virou e saiu. A expressão confusa de Yuri disse tudo.

—Cara interessante.

—Você não sabe da missa a metade. —Nikolai resmungou, pensando nas sessões
de aconselhamento excruciantes que tinha assistido com Vivian. Eles tiveram surpreen-
dentemente poucas discordâncias quando se tratava dos dois, mas o diácono fez as ses-
sões parecerem uma tortura. Ele prefere sentar naquela cadeira de metal frio no arma-
zém de Kostya do que ouvir outra palestra monótona do diácono.

—O que ele te deu?

Nikolai folheou os documentos em questão.

—Certidão de nascimento de Vivian, sua certidão de batismo...— Sua voz se des-


vaneceu quando um documento que não tinha entregado ao padre veio à tona.

—O que está errado? —Yuri se aproximou para ver melhor. Ele examinou o docu-
mento em questão. —É essa a sua certidão de nascimento? Onde diabos você achou is-
so?

—Eu não achei.

190
—Como é que o padre conseguiu isso?

Nikolai sacudiu a cabeça.

—Ele solicitou meus registros na igreja. Ivan deu-lhe as informações de contato


para o sacerdote na Rússia. O sacerdote deve ter mandado uma cópia.

—Kolya. — O pânico na voz de Yuri atraiu seu olhar para o certificado em ques-
tão. — É que...

Nikolai tinha que ler o nome listado como de seu pai biológico quatro vezes.

—Isso não é possível.

—Ao que parece é.

Meio cambaleando, Nikolai desejou que nunca tivesse visto sua certidão de nas-
cimento. Ele lutou contra a vontade de rasgá-la em pedaços. Em vez disso, ele dobrou
tudo cuidadosamente e colocou-o no bolso no interior de sua jaqueta.

Mais tarde, quando tivesse tempo, ele pensaria sobre as implicações do que ele
leu. Hoje era tudo sobre Vivian. Ele não ia deixar esta notícia chocante e bastante in-
desejável arruinar seu dia.

—Você está bem? —A preocupação escureceu o rosto de Yuri. —Seria um choque


em qualquer dia, mas saber isso no dia do seu casamento?

—Eu estou bem. —Nikolai minimizou a preocupação de Yuri. Ele não estava bem. O
punho torcendo suas entranhas provou isso. —Vamos esquecer.

—Ok. —Yuri não forçou o problema. —Então é hora de ir casar com a mulher que
você ama.

Nikolai se recusou a ir para a sua cerimônia de casamento com nada menos do que
uma mente clara e um coração limpo. Os sentimentos feridos de traição e raiva surgindo
dentro dele eram difíceis de esquecer, mas ele conseguiu, finalmente. Ele se recusou a
ser ligado a Vivian com tais pensamentos feios em sua cabeça.

No pequeno corredor com Yuri, Nikolai procurou por um vislumbre dela. Na fren-
te, o sacerdote, o diácono e Sveta bloqueavam a visão. Quando se afastaram, tudo e
todos se desvaneceram em segundo plano. Seus olhares se encontraram, nos dela tinha
um reflexo da esperança sobre suas vidas juntos.

Naquele momento, apenas os dois existiam. Ela nunca tinha parecido mais bonita
para ele. O vestido, o véu, os olhos brilhantes, ele poderia passar o resto de sua vida
olhando para ela e nunca se cansaria.

191
Os sinos começaram a tocar, sinalizando que a cerimônia estava a apenas alguns
minutos de iniciar. Ela sorriu para Eric, que deu um beijo casto contra a parte superior
de seu véu antes de liberá-la. Ela estendeu a mão, em silêncio, pedindo-lhe para se jun-
tar a ela em seus primeiros passos para o matrimônio. Suas dúvidas em fazê-la sua es-
posa desapareceram. O que quer que aconteça, ele seria um homem melhor por tê-la ao
seu lado.

Tomando-lhe a mão, negou-se o beijo que ele ansiava tanto. Mãos cruzadas e os
braços enlaçados, eles enfrentaram o sacerdote. Era hora de começar a sua nova vida
juntos.

192
Capítulo Dezoito

Sem fôlego e rindo, finalmente consegui me livrar de bater nos corpos dançando
na pista de dança lotada no Faze. Eu precisava desesperadamente de uma bebida e des-
cansar. Abanando-me, contornei a borda da multidão dançando e corri direto para Ivan.

O brilho em seus olhos me disse que eu estava prestes a ser agarrada e resgata-
da de volta para Nikolai. Parecia que os amigos de Nikolai tinham se reunido e decidiram
prestar uma homenagem com uma antiga tradição do casamento russo, me afastavam
várias vezes durante a recepção e o faziam executar determinadas tarefas para me
levar de volta.

Dimitri tinha sido o primeiro a me levar, mas ele tinha feito isso com tanta doçu-
ra e delicadeza. Ao invés de roubar e fugir comigo, ele sentou-se ao meu lado, tinha uma
fatia de bolo e, em seguida, perguntou-me se estaria tudo bem me esconder na área dos
casacos. Sem dúvida, eles estavam todos preocupados comigo, depois do que tinha acon-
tecido em dezembro. Na verdade, eu estava tão feliz de ter todos me tratando como
uma garota normal de novo e sem as luvas de pelica.

Ivan estendeu a mão. Eu duvidava que ele estivesse apenas me guiando para longe
da pista de dança. Minhas suspeitas se mostraram corretas quando eu agarrei a mão
dele. O grande urso me virou sobre seu ombro como se eu não pesasse nada e me levou
para longe da pista de dança e no andar de cima de uma das seções VIP. Eu não podia
me controlar. Eu ri todo o caminho.

—Você está bem? —Ele perguntou depois cuidadosamente me descendo.

—Sim. —Eu ainda tinha um sorriso no meu rosto quando me mudei para o parapei-
to com vista para o piso principal. —Quanto tempo você acha que vai demorar para Ni-
kolai perceber onde eu estou escondida?

—Ele já sabe. Ele está de olho em você como um falcão. —Ivan estendeu um copo
de água gelada. —Você está dançando por horas. Necessita manter-se hidratada.

—Obrigada. —Eu aceitei alegremente o copo de água e tomei um longo gole. Lá em


baixo, avistei Nikolai atravessar a pista de dança para me buscar. Ele começou a encon-
trar obstáculos a cada passo. Fizeram-no beber e responder a enigmas e até mesmo
pagar.

193
Certa de que ele estaria ocupado por alguns minutos, eu aproveitei o meu lugar no
alto para inspecionar os nossos convidados da recepção. A cerimônia de casamento foi
menor e mais intimista, mas centenas de nossos amigos e conhecidos tinham vindo ao
Faze elegantemente decorado para a celebração. Os russos tinham certa reputação de
suas festas e hoje não foi exceção.

—Parece que Santos finalmente encontrou um motivo para comemorar. —Ivan fez
um gesto para Eric, que agora dançava entre duas loiras bombásticas.

Com a visão de meu primo certinho girando entre as mulheres, perguntei:

—Quanto ele bebeu?

—Não é uma festa até que alguém acaba dançando nu sobre uma mesa.

Eu me encolhi.

—Prometa-me que você vai ter certeza de que ele chegue em casa com seguran-
ça. Não há nenhuma maneira dele poder dirigir assim.

—Eu vou ter certeza de que ele pegue um táxi. —Ivan inclinou a cabeça e sorriu.
—Embora eu tenha um pressentimento de que ele não vai precisar da minha ajuda para
chegar a sua casa.

Meu queixo caiu quando uma das mulheres agarrou o traseiro de Eric. Sentindo-
me desconfortável em assistir meu primo sendo tateado e apertado, eu rapidamente
desvie o olhar do trio.

—Eu vejo que Sergei ainda está na lista negra de Nikolai. —Ivan comentou com
uma risada.

Avistei Sergei de guarda na mesa dos presentes. A expressão infeliz no rosto


não era direcionada para a sua posição atual, mas ao ver Bianca dançando colada com
seu par. Ela tinha escolhido um médico como seu “mais um” e eu poderia dizer que esta-
va irritando Sergei.

Não querendo aprofundar a atração não correspondida de Sergei por Bianca, eu


disse:

—Eu não posso acreditar que Nikolai está o fazendo tomar conta dos presentes.

—Considerando os presentes que estão sendo colocados sobre a mesa, é um tra-


balho importante.

A julgar pelo tamanho dessas pilhas, eu ia escrever notas de agradecimento por


um mês. A visão de envelopes empilhados me fez sentir desconfortável. Nikolai não era

194
tão rico como Yuri, mas ele estava indo muito bem. O valor do meu trabalho, provavel-
mente ia aumentar ao longo dos próximos anos, definitivamente não precisávamos do
dinheiro que tínhamos ganhado de nossos convidados.

—É uma questão de respeito.

Olhei para Ivan.

—Você pode ler mentes agora?

—Eu sei ler muito bem as pessoas. Posso ver em seu rosto quando você olha para
os presentes. Você está pensando que você não precisa do dinheiro, mas não é por isso
que as pessoas deram a você. Deram porque eles querem mostrar a Nikolai que a respei-
tam.

—Eu não gosto disto.

Ivan deu de ombros e tomou um gole de cerveja. —Estas são as regras do mundo
de Nikolai. —Ele me olhou com atenção. —Essas são as regras do seu novo mundo. Você
tem que aprender a jogar por elas antes que possa mudá-las.

O conselho de Ivan ficou dando voltas e voltas na minha cabeça. Nikolai final-
mente chegou lá em cima para me recuperar. Ivan cruzou os braços e bloqueou o cami-
nho. Eu o vi estender a mão. Nikolai pegou sua carteira e colocou algum dinheiro contra
a palma de Ivan.

O resgate foi pago, Nikolai triunfante me recuperou. As vaias começaram e Niko-


lai sorriu para mim. Ele passou os braços em volta da minha cintura e reivindicou a mi-
nha boca em um beijo apaixonado que me deixou tremendo de emoção. Nossos convida-
dos gritaram e aplaudiram.

Nikolai me arrastou para longe da varanda para uma área mais privada. Ele passou
os dedos pela minha bochecha.

—Você está corando.

—Você acabou de me beijar na frente de centenas de pessoas.

Ele traçou ainda zumbindo meu lábio inferior.

—Eu sou seu marido. Tenho que fazer muito mais do que beijá-lo agora.

Engoli em seco e tentei ignorar o calor pulsante entre as minhas coxas.

—Nikolai…

195
Ele silenciou meu protesto com outro beijo sensual, mordiscando meu lábio infe-
rior e sugando suavemente a ponta da minha língua.

—Mais uma dança. —Ele disse. —E então eu vou te levar para casa.

De mãos dadas, descemos para a pista de dança. A banda ao vivo que Erin tinha
arranjado começou uma música mais lenta que nos permitiu dançar juntos. Foi tão bom,
dançar tão de perto em seus braços e sentir o calor do corpo que irradiava através de
mim. Durante a noite ele tinha perdido o casaco e gravata. Agora as mangas estavam
enroladas até os cotovelos, mostrando as muitas tatuagens em torno de seus braços
musculosos.

Os dedos de Nikolai passavam pelo meu cabelo enquanto dançávamos. Eu pressio-


nei meu rosto em seu peito e me deleitava com a sua força. Enquanto nós nos movemos
em torno da pista de dança, notei nossos amigos ao redor. Ivan com Erin, enquanto Di-
mitri mantinha a mão em Benny. Lena sentou no colo de Yuri e deu uma risadinha quando
ele sussurrou em seu ouvido.

Era incrível para mim como as coisas mudaram muito desde aquele dia em que E-
rin tinha corajosamente entrado no ginásio de Ivan, em uma tentativa desesperada de
encontrar sua irmã. Agora Erin estava noiva de Ivan. Benny e Dimitri estavam casados e
esperando seu primeiro filho. Lena e Yuri estavam loucamente apaixonados, e eu era
uma mulher casada.

Quando a música terminou, Lena levantou do colo de Yuri. Segundos depois, ela
voou para me puxar para fora dos braços de Nikolai. Com Lena, Benny, Bianca e Erin me
rodeando, elas me levaram para o banheiro. Minhas amigas me arrastaram para dentro e
Yuri bloqueou a porta. Uma vez lá dentro, Lena desfraldou o guardanapo branco que ti-
nha agarrado em sua mão.

—Beijos, meninas!

Eu ri quando minhas amigas pressionaram suas bocas com batom coberto no guar-
danapo de linho. Meus lábios também estavam marcados. Lena abriu a porta apenas o
suficiente para dar o guardanapo para Yuri e apontar qual par de lábios de batom eram
os meus. Aparentemente, escolher, meus lábios seria o último enigma que Nikolai teria
que resolver.

Com a porta bem fechada, Lena se inclinou contra ela e sorriu.

—Então, nós pensamos que você pode querer algumas dicas antes de correr para
a vida de casada.

Meu queixo caiu com o choque.

196
—Você está falando sério? Meninas, por favor!

Erin pulou em cima do balcão.

—Olha, minha irmã pode ser uma bagunça, mas ela me deu alguns conselhos muito
bons antes da minha primeira vez.

Eu achei difícil acreditar, mas não disse a Erin.

—E o que foi isso?

—Ela me disse para manter minhas expectativas baixas.

Benny bateu no braço de Erin.

—Não diga isso! Totalmente sem romantismo! É sua noite de núpcias.

Erin cutucou o lado de Benny.

—É um bom conselho. Acredite em mim. Se eu estivesse esperando que a minha


primeira vez tivesse ficado na minha cabeça, eu provavelmente nunca teria tido rela-
ções sexuais novamente.

—Oh, certo. —Disse Lena conscientemente. —Sr. Stroke, né?

—Oh, sim. Ele mal tinha colocado a camisinha e já estava cantando para Jesus.

—Ok. —Bianca interrompeu em voz alta. —Esqueça as baixas expectativas. Garo-


ta, escute, apenas relaxe. Deixe seu homem assumir a liderança.

—Estou com Bianca. —Lena concordou. —Relaxe. Deixe Nikolai dirigir o espetácu-
lo pela primeira vez. Tenho certeza de que ele tem muita experiência.

—Lena! — Os olhos de Benny estavam arregalados.

—O quê? — Lena respondeu com confusão.

—Você basicamente está chamado Nikolai de um homem puta, na frente de sua


nova esposa.

—Eu não!

—Sim. —Disse Erin com uma risadinha. —Você meio que fez.

—Uau. —Eu balancei a cabeça e tentei não rir. —Talvez da próxima vez vocês
possam se reunir antes e bolar um plano de ação.

Benny bufou.

—Eu te disse.

197
Lena revirou os olhos.

—Tudo bem. Então, talvez nós não tenhamos pensado nisso, mas é a intenção que
conta, certo?

—Eu acho. —Eu respondi convencida. —Eu aprecio o que vocês estão fazendo. Re-
almente. E não se preocupem. Não imagino nenhuma ideia maluca romântica de como vai
ser.

—Pode ser surpreendente. —Bianca disse apressadamente. —Você nunca sabe.


Minha primeira vez foi muito, muito quente.

—O meu foi muito bom, também. —Acrescentou Benny. —Foi muito doce e terno.
Foi uma boa introdução para o ato sexual.

—Você quer saber sobre os pontos? —Lena sorriu maliciosamente. —Porque há


um certo ponto nos homens ...

—Ok. —Eu levantei minhas mãos quando meu rosto foi inundado com o calor do
embaraço. —O que estamos fazendo aqui.

As meninas riram, Nikolai bateu na porta.

—Lena, já posso pegar minha esposa agora?

Lena abriu a porta e olhou para fora.

—Mais um minuto.

Benny foi a primeira a me abraçar.

—Parabéns, querida. Foi um belo casamento.

Erin agarrou-me ao lado. Ela tinha lágrimas em seus olhos quando suspirou. —
Estou tão feliz por você. Boa sorte.

—Você foi à noiva mais bonita que tive desde que assumi a boutique. —Bianca a-
cariciou minhas costas, enquanto ela me abraçava. —Divirta-se hoje à noite.

Lena estava com os olhos enevoados quando ela me puxou para um abraço aperta-
do.

—Você me ligue se precisar de alguma coisa. Vou ter o meu telefone comigo a
noite toda. Qualquer coisa.

Visões de mim escondida no banheiro e chamando Lena para dar apoio moral pas-
sou diante de mim.

198
—Eu poderia ter de consultá-la sobre isso.

—Você vai ficar bem. —Ela sorriu encorajadora. —Não fique pressionada. Apenas
deixe acontecer.

Uma bola de nervos mexeu na minha barriga. Antes que eu estivesse pronta, Lena
abriu a porta. Com a mão apoiada na moldura da porta, Nikolai pairava sobre mim. Ele
vestiu o casaco e gravata, mas estava despenteado, muito sexy. Lábios se contorcendo
com diversão, ele me prendeu no lugar com um olhar que fez minhas coxas apertarem
juntas. Ele ergueu a mão e um dedo torto em um movimento de ‘vem cá’. Impotente para
negar, me juntei a ele na porta.

Nikolai deslizou o braço em volta da minha cintura e me puxou para um beijo.

—Vamos sair daqui antes que estes três amigos meus, acabem com meu dinheiro
com esses resgates.

Meus olhos se fecharam brevemente quando sua boca roçou a minha. Perscrutan-
do o seu olhar escuro, eu sussurrei:

—Eu estou pronta.

Nikolai agarrou minha mão e me levou de volta para a pista de dança onde os nos-
sos convidados esperavam para nos ver. Lena trouxe meu buquê enquanto dezenas de
nossos amigos se amontoaram em um pequeno espaço para a chance de pegá-lo. Uma das
garçonetes de fim de semana do Samovar lançou-se acima da multidão empurrando para
arrebatar triunfalmente o buquê.

Em um turbilhão de beijos, abraços e desejos de felicidades, fomos conduzidos


para fora do Faze e em uma limusine. Não surpreendentemente, vi Sergei e Kostya su-
bir em dois SUVs em torno da limusine. A visão deles nos guardando me fez lembrar o
quanto minha vida tinha mudado desde aquela fatídica noite de dezembro.

Embora tivesse brincado durante a recepção, Nikolai parecia tenso à medida que
se afastava do clube. Eu acariciava sua mão, mas não questionei. Eu senti que ele estava
preocupado com a nossa segurança. Se alguém pretendia atacar, esta seria a noite para
fazer.

Nikolai trouxe a minha mão à boca e beijou as costas dela. Apreciei o seu sorriso
tranquilizador, mas seus olhos preocupados me mantiveram em alerta. Como se quisesse
me colocar à vontade, ele se inclinou e me beijou com ternura. Seus dedos roçaram meu
rosto quando ele olhou para mim com tanto amor queimando em seus olhos.

—Foi tudo o que você queria?

199
—Sim. —Toquei seu queixo. —Obrigada. Foi um casamento perfeito. — Sentindo-
me um pouco culpada, acrescentei: — Eu imagino o que custou para fazer tudo isso em
tão pouco tempo.

—Eu pagaria novamente em um piscar de olhos para ver você sorrir do jeito que
você sorriu o dia todo. —Sua doce resposta me fez sorrir. Tocando meu queixo, ele sus-
surrou, — Simples assim.

Encorajada pela aliança de casamento agora descansando em minha mão direita,


eu arrastei Nikolai para um beijo tentador. Ele fez um som feliz e passou os braços em
volta de mim. Sentindo-me mais corajosa do que nunca, passei a minha língua contra a
costura de seus lábios. Ele soltou um grunhido necessitado antes de me conceder o a-
cesso.

Quando nossas línguas começaram a duelar, e perdi o controle do beijo. As mãos


magistrais de Nikolai percorriam minhas costas e seguraram meu pescoço. Seu ataque
voraz me deixou tonta. Agarrei as lapelas de seu paletó quando a paixão ardente entre
nós se alastrou como um rastro de pólvora. Quando ele apalpou meu peito, eu quase
desmaiei. Foi a primeira vez que ele se atreveu a me tocar daquele jeito e eu queria
mais.

Eu deslizei minhas mãos sob o paletó e segurei firme em seu corpo poderoso. Vi-
rei o mais longe que consegui, com o meu cinto de segurança no lugar, eu arqueei com
seus beijos ardentes. Sua mão deslizou nas minhas costas e, finalmente, chegaram à
minha bunda. Quando ele apertou minha carne gorda, eu ofeguei contra sua boca.

Se não fosse por nossos cintos de segurança e sua constante preocupação com a
minha segurança, eu tenho certeza de que ele teria me deitado de costas, levantado a
minha saia para me possuir aqui mesmo. Sua respiração pesada provou que seu lendário
controle estava prestes a explodir. Como se desesperado para manter a linha tênue em
sua luxúria furiosa, Nikolai respirou fundo e colocou um pouco de espaço entre nós.

No momento em que chegamos em casa, ele conseguiu arrefecer um pouco, mas a


promessa do que esta noite me traria me deixou tremendo e quente. Nikolai saiu da li-
musine primeiro e veio para o meu lado para me ajudar. Mesmo eu tendo certeza de que
seus ferimentos ainda não estavam curados totalmente, Nikolai puxou-me em seus bra-
ços para me carregar até a calçada e para a casa.

Notei a maneira que Sergei, Kostya e os outros não nos seguiram ao interior. Ho-
je à noite, pelo menos, parecia que Nikolai tinha recuperado a privacidade de sua casa.
Ele me colocou no chão para fechar a porta, mas não a trancou. Em vez disso, ele me
arrastou para um beijo carinhoso. Ele falava em russo quando murmurou:

200
—Bem vinda ao lar, senhora Kalasnikova.

Eu pressionei meu rosto em seu peito.

—Isso não parece real. É como um sonho.

—Um bom sonho? —Ele perguntou esperançoso.

—O melhor. —Eu sussurrei.

—Vire-se. —Ele ordenou suavemente.

Engolindo em seco, eu me virei para ele. Nikolai reuniu as mechas longas do meu
cabelo com uma mão e empurrou por cima do meu ombro esquerdo. Seus dedos ágeis
abriram os botões de pérolas delicadas. Ele desabotoou o vestido e baixou o zíper. Eu
tremia por dentro quando ele pressionou beijos suaves no meu ombro.

—Eu vou estar lá em cima rapidamente. Há coisas que preciso fazer em primeiro
lugar.

Presumi que significou dar Kostya e Sergei as suas recomendações para a noite.

—Tudo bem.

Nikolai recheou de beijos ruidosos ao longo da curva do meu pescoço. Ele deu ao
meu vestido um pequeno puxão.

—Tira isso. —Ele passou o dedo ao longo da faixa do meu sutiã. —E isso também.

Minha voz me deixou quando a excitação e ansiedade tomaram conta. Tudo o que
eu podia fazer era acenar, quando eu juntei a saia do meu vestido em uma mão e come-
cei a lenta caminhada em direção à escada. Quando cheguei ao segundo andar, eu me
virei para olhar Nikolai. Ele não se moveu um músculo. Ele simplesmente me olhou, com
os olhos brilhando de desejo e amor.

Eu esperei até que estivesse em segurança no interior do quarto de hóspedes pa-


ra começar a entrar em pânico e correr. Mesmo que meus amigos tivessem me avisado
para não me preocupar em fazer tudo perfeitamente, eu ainda queria tentar. Depois
que tirei meu vestido e coloquei sobre a cadeira de leitura, corri para o banheiro e tirei
a minha calcinha para me preparar.

Então eu tirei minha maquiagem e escovei meus dentes, e tentei ficar calma. Tal-
vez Lena e Erin estivessem certas sobre manter minhas expectativas baixas para esta
primeira vez. Eu esperava que a experiência de Benny e de Bianca espelhasse minha
própria experiência. Eu poderia ter uma terna e doce primeira vez. Eu não tinha dúvidas

201
de que Nikolai seria paciente comigo e que ele iria me mostrar o prazer. Eu só esperava
que eu pudesse descobrir como fazê-lo se sentir bem também.

Quando terminei de me preparar, olhava para o conjunto ridiculamente caro de


lingerie que as meninas tinham me dado. Eu levantei as peças rendadas, acanhada, mas
não me senti à vontade para usá-las. Algo me dizia que Nikolai preferia me encontrar
nua e esperando.

Eu escorreguei para o roupão de seda rosa pálido que combinava com a roupa in-
terior e amarrei o cinto em volta da minha cintura. Engolindo o meu nervosismo, final-
mente consegui deixar o quarto de hóspedes e atravessar o corredor para nosso quarto.

Quando abri a porta, encontrei-o sentado na beira da cama, tirando os sapatos e


as meias. Ele já havia descartado o paletó, gravata e camisa. Seu peito e costas tatua-
dos o faziam parecer tão perigoso e aterrorizante. Eu não estava tão cega pelo amor
que eu não reconhecesse o que suas tatuagens significavam, mas não as achava assusta-
doras ou intimidadoras.

Como uma mariposa atraída para uma chama, atravessei a sala para ficar na fren-
te dele. Espalhando suas coxas, Nikolai me puxou entre as pernas. O tecido duro da cal-
ça pareceu estranho contra a minha pele nua. Sem palavras, Nikolai puxou uma extremi-
dade do cinto do robe, afrouxando o nó até que ambos os lados caíram. Durante muito
tempo, ele simplesmente olhou para o meu corpo nu.

—Você é tão linda. Você é linda todos os dias. —Acrescentou com um sorriso. —
Mas hoje você está excepcionalmente perfeita.

Arrepios floresceram na minha pele nua quando as pontas dos dedos arrastaram
uma linha reta desde minha clavícula ao meu peito. Meus dedos se curvaram contra a
cabeceira da cama quando ele circulou lentamente meu mamilo. O bico escuro reagiu ao
seu toque, endurecendo com firmeza. Nikolai deslizou a outra mão ao longo da minha
cintura até a parte baixa das minhas costas, segurando-me firmemente no lugar en-
quanto sua boca baixou para o meu peito.

—Oh! —Um suspiro chocado deixou minha garganta no momento em que seus lá-
bios macios se fecharam ao redor do meu corpo dolorido. Ele me sugava suavemente, e
cada puxada de seus lábios em volta do meu mamilo transferia as sensações do peito
direto para o meu clitóris latejante. Superaquecida e tremendo, agarrei seu ombro e
rezei para que meus joelhos não falhassem. —Nikolai…

Quando sua boca começou a atormentar sensualmente meu outro seio, ele belis-
cou meu mamilo molhado entre as pontas dos dedos. Arcos luminosos de sensação per-
correram do meu peito até meu interior. Minhas coxas flexionaram enquanto tentava

202
acalmar a dor entre elas. Eu estava animada antes, mas este foi um novo nível de exci-
tação.

Sem uma palavra de advertência, Nikolai me pegou e me deitou no meio de sua


cama. Em um instante, ele estava rastejando em cima de mim. Com um joelho entre as
minhas pernas, ele me prendeu ao colchão e bateu a boca para a minha. Eu adorava a
sensação de sua pele quente contra a minha.

Nós nos beijamos freneticamente enquanto me apertava e acariciava. Eu podia


me sentir mais úmida cada vez que as mãos de Nikolai deslizavam em minhas curvas. Eu
queria desesperadamente que ele me tocasse lá, mas ele manteve as mãos acima da mi-
nha cintura até agora.

Nikolai se deslocou até que suas pernas estavam entre as minhas. O comprimento
rígido dele formava uma tenda na frente de suas calças. Querendo sentir o peso de seu
calor de aço na minha mão, comecei a desatar o cinto. Minha coordenação não era boa o
suficiente para beijar e desatar ao mesmo tempo, então Nikolai me ajudou nas minhas
tentativas desajeitadas.

Deixando de lado as minhas mãos, ele rapidamente tomou conta de seu cinto e zí-
per. Tomando minha mão pequena na sua, ele arrastou-a para baixo entre os nossos cor-
pos entrelaçados. Quando meus dedos encontraram o calor escaldante de seu pau, senti
uma necessidade desesperada de acariciá-lo.

Nikolai gemeu quando minha pequena mão se fechou em torno dele. Sua língua
empurrou na minha boca de uma forma que imitava o que ele pretendia fazer comigo
muito em breve. Eu não conseguia respirar agora. Estremeci com antecipação e entusi-
asmo. Correntes em brasa percorreram para cima e para baixo do meu corpo.

Quando a ponta de seu pau forçou contra minha boceta, eu gemia e afastei de
sua boca.

—Espere. —Eu implorei, sem fôlego.

O som da minha voz pareceu assustá-lo. Nikolai parou imediatamente ainda por
cima de mim. Antes que eu pudesse explicar, não queria que ele parasse, apenas que a-
brandasse, ele levantou seus quadris e empurrou para cima sobre os joelhos. Ele que-
brou o contato comigo e isso machucou.

Respirando com dificuldade, ele passou os dedos pelo cabelo. Quando ele olhou
para mim, essa máscara de indiferença voltou para seu rosto. A parede de gelo que ele
usou para me manter à distância por tanto tempo bateu entre nós, deixando-me total-
mente confusa.

203
Ele se inclinou para roçar um beijo carinhoso na minha testa.

—Este foi um longo dia. Deveria descansar.

—Mas… — Eu nem sequer tive a chance de perguntar o que eu tinha feito de er-
rado. Ele fugiu do quarto sem sequer fechar suas calças. Sozinha na nossa cama olhei
para a porta fechada agora entre nós. Constrangimento doeu em mim.

O que diabos havia acontecido?

204
Capítulo Dezenove

Foda-se. Foda-se.

Seguro no corredor, Nikolai fechou o zíper da calça e apertou a testa na parede.


Vergonha o agarrou. Ele quase perdeu o controle com Vivian. Ele prometeu a si mesmo
que iria demorar um tempo com ela e mostrar-lhe o prazer, mas em vez disso ele deixou
o pau dele assumir o controle. Ele esteve há segundos de distância de tirar sua virgin-
dade como um maldito ogro.

O jeito que ela praticamente implorou para parar fez seu estômago revirar. Ele
só podia imaginar o que ela pensava dele agora. Ela confiava nele para ser gentil e ele a
assustava.

Quando ele passou a mão pelo rosto, ouviu a porta da frente abrir. Irritado, ele
se afastou da parede e correu para as escadas. Kostya estava dentro da porta de en-
trada e olhou para o segundo andar. Ao olhar nos olhos de Kostya gelaram a luxúria fu-
riosa de Nikolai.

Esperando o pior, ele perguntou:

—O que aconteceu?

—Alguém deixou um presente de casamento no Samovar.

A declaração sinistra o deixou inquieto. Recusando-se a enfrentar Vivian, logo


após ter fodido tudo entre eles, ele desceu as escadas até a lavanderia. Ele encontrou
um par de jeans e uma camisa limpa que a governanta havia deixado no balcão, vestiu
meias limpas e suas botas. Uma vez na varanda, ele deu a Sergei e Danny ordens estri-
tas para manter Vivian segura.

Certo de que ela estava em boas mãos, ele deslizou para o banco da frente do
SUV de Kostya. Durante o trajeto, as imagens do corpo lindo de Vivian o bombardea-
vam. Ele ainda podia sentir o calor de sua pele sedosa sob seus dedos. Seus gemidos
excitados ecoavam em seus ouvidos. Ele pensou em todas as maneiras que ele poderia
pedir desculpas por assustá-la e, as formas que ele poderia ganhar sua confiança.

Quando eles chegaram ao restaurante, Nikolai notou os rostos sombrios dos ho-
mens que esperavam do lado de fora. Ninguém o encarava. Seu peito se apertou quando

205
ele entrou no restaurante pela entrada de funcionários, atravessou a cozinha e entrou
na sala de jantar. As luzes tinham sido diminuídas para impedir que alguém visse atra-
vés das janelas da frente.

No início, ele pensou que os homens estavam pregando uma peça nele. Ele viu as
formas dos clientes sentados nas mesas. Ele levou dez segundos para finalmente enten-
der o que ele estava vendo.

Corpos. Cadáveres. Congelados. Sentados à sua mesa.

—Jesus Cristo. — Nikolai tinha visto algumas coisas malucas em seus muitos anos
vividos no submundo, mas isto superava todas elas. Ele se aproximou do corpo mais pró-
ximo e estendeu a mão. A fumaça de vapor que saia do corpo enquanto descongelava
flutuava contra a palma da mão. —Quanto tempo eles estão aqui?

—Uma hora? —Kostya arriscou.

Nikolai olhou para seu braço direito.

—Quem diabos deveria estar vigiando o restaurante hoje à noite?

Um jovem garoto, talvez dezenove anos, foi empurrado para frente para enfren-
tar sua ira. Ele não conhecia o rapaz pessoalmente, mas ele tinha sido avaliado por um
dos comandantes. Sem dúvida, o garoto iria levar uma surra depois.

Ele engoliu em seco visivelmente antes de gagueira. —Ch... Chefe me desculpe. Eu


não vi isso.

Nikolai levantou a mão para acabar com o pedido de desculpas e a choramingação.

—O que aconteceu?

—Bem... Hum... Eu estava fora fazendo uma caminhada ao redor, como Arty me
disse e... Hum... Uma van parou. Um cara saiu e me pediu instruções, disse que estava
levando suas meninas para uma festa.

—Um cara?

—Sim. Ele tinha algumas tatuagens em seu pescoço. Não era como as nossas. Eles
eram tipo, caveiras e relâmpagos.

—Skinheads. —O que aconteceu depois?

—Eu dei uma olhada no seu mapa e ensinei o caminho, você sabe e... Uh... Ele meio
que me ofereceu uma recompensa.

Nikolai cruzou os braços. Ele sabia exatamente onde a história estava indo.

206
—Uma recompensa?

—Certo. —Disse o garoto, nervoso. —E, você sabe, a menina estava muito linda e,
em seguida, me deu outra garota e por isso meio que durou mais tempo do que eu espe-
rava.

Risadas surgiram quando os homens encontraram humor na história do garoto e


no duplo sentido intencional. As mãos de Nikolai cerraram. O desejo de bater no merdi-
nha irresponsável quase levou a melhor sobre ele, mas ele se segurou.

—Quantos anos tinham essas garotas?

O garoto piscou.

—Bem, eu não sei. Elas pareciam maiores.

—Elas pareciam maiores. —Ele repetiu secamente. —Você quer saber como o in-
terior de uma cela de prisão se parece? Porque isso é o que acontece com punks estúpi-
dos que metem seus paus em prostitutas menores de idade.

—Eu não achei...

—Eu não estou surpreso. Parece que a única cabeça que você usa e a que está si-
tuada entre as pernas. —Irado, Nikolai grunhiu sua próxima pergunta. —O que aconte-
ceu quando você terminou com essas garotas?

—Só quando tinha terminado e a van se afastou, entrei e encontrei isso. — Ele
gesticulou para os corpos congelados. —Eu liguei para Arty e acho que ele chamou Kost-
ya e... Bem... Você sabe o resto.

—Você sabe que dia era hoje, Genya? —Ele finalmente se lembrou do nome do
garoto magro.

—O dia do seu casamento, senhor.

—E você acha que eu queria passar a minha noite de núpcias aqui, neste necroté-
rio improvisado, porra?

Genya balançou a cabeça.

—Não, senhor. Vi sua esposa. Eu gostaria de passar a noite nela. Com ela… —Ele
rapidamente corrigiu. —Eu sinto muito. Eu não quis dizer…

—Arty! —Nikolai interrompeu o garoto antes que ele cavasse seu buraco mais
fundo.

Artyom avançou.

207
—Sim, chefe?

—Tirem-no da minha frente. Descubra o que ele se lembra sobre a van, o moto-
rista e essas meninas.

Arty agarrou seu sobrinho pela parte de trás do pescoço e o levou para fora da
vista e para a cozinha. Nikolai se agachou na frente de um dos corpos para estudá-lo. O
homem usava todo preto e estimulou as lembranças daquela noite terrível em que Vivian
havia sido sequestrada. Um único tiro no meio da cabeça tinha terminado com a vida
deste homem, mas ele tinha marcas de tortura em sua barriga e peito.

A julgar pelo posicionamento e rigidez de seu corpo, ele tinha sido baleado en-
quanto estava amarrado a uma cadeira e foi deixado lá para congelar. Havia câmaras
frigoríficas grandes o suficiente para manter esta quantidade de corpos congelados.
Não teria sido muito difícil manter os corpos escondidos.

—Agora sabemos por que não conseguimos encontrar qualquer um dos homens. —
Nikolai se dirigiu a Kostya. —Parece que alguém amarrou todas as pontas soltas antes
mesmo que eu estivesse fora do hospital.

—Sim. —Kostya cutucou a bochecha rígida. —As meninas que mantiveram Genya
ocupado provavelmente eram algumas das que foram sequestradas com Vivian.

O estômago de Nikolai azedou com a lembrança de encontrar Vivian amarrada


naquela jaula de cachorro.

—Isso significa que eles as estão mantendo na cidade. Nós ainda podemos encon-
trá-las.

—E fazer o que com elas?

—Entregá-las a Santos e seus amigos da polícia. —Nikolai geralmente gostava de


manter a polícia afastada do seu negócio na medida possível, mas eles eram os únicos
que poderiam dar a essas meninas o tipo de ajuda que precisavam.

—Antes de salvar o resto do mundo, o que diabos vamos fazer com esses caras?
—Kostya cutucou outro corpo com a ponta da bota. —Eu tenho um par de meninos diri-
gindo até Fresh Start para pegar um dos caminhões. Estão congelados o suficiente para
transportá-los daqui sem que descongelem e virem uma bagunça. Posso me livrar de al-
guns deles, mas são muitos aqui.

—Nós não vamos nos livrar deles. — Nikolai estendeu a mão. —Dê-me o telefone.

208
Kostya não questionou a ordem. Ele colocou o telefone na mão de Nikolai que con-
tinuava a se mover ao redor do restaurante para examinar os corpos. Nikolai encontrou
o número que ele queria e esperava por uma resposta.

—Kostya! —Besian respondeu com uma risada. —Você está perdendo um inferno
de uma festa.

A última vez que tinha visto o chefe da máfia albanesa, ele estava dançando so-
bre uma mesa no Faze.

—Besian.

—Nikolai?

—Junte sua equipe e me encontre Samovar.

—Agora?

—Agora.

Besian não hesitou.

—Meia hora.

Quando ele entregou a Kostya seu telefone, seu limpador arqueou as sobrance-
lhas.

—E então?

—Besian queria fazer esses skinheads pagar por matar Afrim. Aqui está a sua
chance.

—Entregá-los? —O sorriso de Kostya disse a Nikolai que ele gostou da ideia.

—Eles estão envolvidos nessas mortes, de uma forma ou de outra. Vamos deixar
Besian obter sua vingança e resolver essa confusão de uma vez por todas.

—E nós? —Kostya esquadrinhou a cena mórbida. —Este é um inferno de uma men-


sagem, chefe.

Ele estava ouvindo alto e claro. Quanto mais tempo Nikolai olhava para a cena
macabra ante ele, mais familiar lhe parecia. Ele foi transportado de volta para uma noi-
te, há muitos anos. Ele era um adolescente, em seguida, estava com Ivan nas ruas de
Moscou. Eles haviam se envolvido com a “família” há um pouco menos de um ano, mas
foram subindo lentamente as fileiras de soldado provando estarem dispostos a fazer
qualquer trabalho.

209
Essa foi à noite em que conheceram Maksim, o chefe de Moscou. O chefe de ca-
belos grisalhos e imaculadamente vestido tinha chegado em um daqueles reluzentes
carros pretos que ele adorava e parou na calçada.

O chefe tinha vindo verificar o clube que Grisha comprou. Na época, Nikolai e
Ivan tinham sido contratados como seguranças. Naquela época, os clubes de Grisha e-
ram algumas das maiores empresas de ganhos da organização. Em seus vinte e poucos
anos, Grisha tinha aberto o seu caminho no círculo dos vencedores, inundando as ruas
de Moscou com drogas sintéticas e tornando-as disponíveis em seus clubes.

Nikolai ainda se lembrava de quão nervoso ele tinha ficado por atender Maksim.
Ele sabia que as primeiras impressões e reputação eram tudo na vida que tinha escolhi-
do. Ele queria provar a si mesmo como um membro útil da equipe. Era a única maneira de
subir mais alto na escada de ganhos.

Lembrou-se da maneira que Maksim tinha parado para falar com eles depois que
Grisha fez as apresentações. Foi uma conversa breve e principalmente um agradecimen-
to por sair de um assalto a uma farmacêutica sem um único ferimento ou morte. Mesmo
naquela época, Nikolai tinha percebido que a melhor maneira de fazer negócios era
mantendo as coisas tranquilas e seguras. Quanto menos polícia, melhor.

Maksim colocou um isqueiro na mão de Nikolai. Era o mesmo que ele carregava em
todos os lugares até hoje. Apesar de ter sido um presente pequeno, insignificante, Ni-
kolai o tinha estimado. Para ele, tinha sido melhor do que um troféu.

Mas foi a coisa que Maksim dera a Ivan que Nikolai lembrava tão claramente ago-
ra. O chefe presenteou Ivan com um punhado de histórias em quadrinhos norte-
americanas. Grisha estava sempre brincando com Ivan sobre seus hábitos de leitura por
isso era sabido que Ivan faria qualquer coisa para colocar as mãos em um novo persona-
gem.

Embora o hábito infantil tivesse irritado Nikolai, ele tinha escondido sua irrita-
ção naquela noite e permitiu que Ivan lhe mostrasse todos os gibis coloridos e amiga-
velmente os folheou. Um em particular tinha chamado a atenção de Nikolai. Foi a cena
em que um vilão comia seu jantar cercado pelos corpos de seus inimigos.

Nikolai lembrou pensando que era horrível e fria. E agora, tantos anos depois, ele
estava olhando para ela, ao vivo, por assim dizer.

Isso não foi coincidência. Esta foi uma mensagem de Maksim.

Após o fracasso por Romero, Nikolai tinha assumido que era uma das equipes lo-
cais que tentavam tirá-lo, antes que ele pudesse construir a presença russa em Hous-

210
ton. Agora ele tinha que saber se Maksim não os tinham enviado aqui para tirá-lo do ca-
minho.

Voltando à Russia, Nikolai tinha subido tão alto quanto pôde na família. Houve bo-
atos de que ele poderia ficar por conta própria, para formar sua própria organização.
Esses foram os rumores, que ele tinha estridentemente negado, porque eles não eram
verdadeiros. Ele nunca quis formar a sua própria família de ladrões e criminosos.

Mas, então, Maksim lhe tinha dado ordens para ir para Houston e fazer crescer o
sindicato aqui. Nikolai queria um novo começo, como Ivan, para que eles ficassem sobre
seus pés, trazendo Kostya e alguns outros com eles. Na época, ele havia considerado a
possibilidade de iniciar um novo ramo da família em Houston.

Mas agora? Agora, ele se perguntou se Maksim não estava tentando remover dis-
cretamente um problema. Se Romero tivesse conseguido matá-lo, ninguém nunca teria
suspeitado que Maksim estivesse por trás. Todos teriam assumido que era uma questão
territorial e deixaria passar.

Foi por isso que essa confusão tinha explodido desde a saída inesperada de Ro-
mero da prisão? Estava Maksim tentando expulsar o pai de Vivian, para que ele pudesse
se esconder antes que a verdade chegasse a Nikolai? Tinha Maksim sido o único a se-
questrar Vivian e ameaçar vendê-la em um leilão de escravos do sexo? Estava ele tra-
zendo meninas traficadas para Houston e começando um novo negócio para o território
de Nikolai?

Ele era poderoso o suficiente para fazer tudo isso e muito mais. De repente, Ni-
kolai desconfiava de todos ao seu redor, mesmo Kostya. Com todo o poder que Maksim
tinha, ele poderia transformar qualquer homem contra ele.

Tensão deslizou ao longo do pescoço de Nikolai e para sua coluna, deixando um


rastro de frio que fez seu estômago revirar. Nada sobre essa situação era simples. Ele
tinha que fazer um movimento, mas tinha que ser a decisão certa e no momento certo.

—Chefe? —Kostya calmamente o chamou. —Qual é o plano?

—Colocar todos estes corpos carregados em caminhão antes de Besian chegar


aqui. Quanto ao resto, você me deixe lidar com isso.

211
Um alerta de texto me acordou na manhã seguinte. Tirada de um sono profundo,
eu me sentei e esfreguei meu rosto entre as mãos. Minha cabeça doía e a sonolência
nublava meus pensamentos, se recusando a desaparecer.

Olhei para o lado vazio da cama onde Nikolai deveria estar. As memórias do meu
fracasso absoluto como esposa machucavam meu coração. Eu não sei como diabos ia o-
lhá-lo nos olhos esta manhã. Eu ainda não entendi o que tinha feito de errado ou por que
ele correu daqui como se seu traseiro estivesse em chamas.

Meu celular tocou novamente. Olhei para a mesa de cabeceira com alguma sur-
presa. Eu não me lembrava de trazer o meu telefone para cá. Uma pesquisa rápida da
sala me disse que Nikolai tinha retornado em alguma hora. A xícara e o pires, da almo-
fada amassada em sua cadeira eram prova disso.

Será que ele simplesmente ficou lá a noite toda me olhando? Antes de eu chorar
até dormir, ouvi a porta da frente se abrir e fechar algumas vezes. Eu achava que era
Kostya ou Sergei, mas agora me perguntava se Nikolai tinha saído. Onde ele tinha ido?
O que no mundo era mais importante do que a nossa primeira noite como marido e mu-
lher?

Um pensamento terrível aconteceu. E se alguém tinha sido ferido? Um dos meus


amigos ou Eric?

Eu virei para pegar meu telefone. A mensagem de texto de Lena parecia tão si-
nistra, até que eu abri.

Então ?! Como foi?

A calma me inundou. Se algo terrível tivesse acontecido, Lena teria sido a primei-
ra a me dizer. Comecei a deixar de lado o meu telefone, mas eu precisava falar com ela.
Eu precisava de alguém para me dizer que eu não era totalmente indesejável.

Em vez de mensagens de texto, eu liguei. Quando ela respondeu dois toques de-
pois, um ronco alto explodiu no meu ouvido. Mesmo em meu estado de depressão, eu não
conseguia parar de rir.

—Oh meu Deus! O que é isso?

Lena riu baixinho.

212
—Espere aí. Deixe-me sair da cama. Yuri está de ressaca e está roncando como
um urso.

—Você tem certeza de que ele está bem? Talvez você devesse rolá-lo para o lado
ou algo assim.

—Ele vai ficar bem. —Ouviu barulho de cobertas e o ronco ficou mais suave. —
Tudo bem, melhor assim?

—Muito melhor.

—Eu vou ter sorte se tirá-lo da cama antes do meio-dia. Depois que vocês dois
foram embora, ele realmente se soltou. Acho que ele conclui que seus deveres como pa-
drinho tinha sido executado com sucesso então era hora de curtir a festa, como um ga-
roto de faculdade.

Eu não conseguia imaginar Yuri festejando. Como Nikolai, ele sempre pareceu tão
conservador e no controle.

—Então...?

Um soluço que eu não queria liberar escapou dos meus lábios.

—Foi horrível.

Lena inalou uma respiração afiada.

—Você está bem? Ele… Você está ferida?

—Não. Não. Nada disso. — Eu rapidamente esclareci, para que ela não pensasse o
pior de Nikolai. —Ele não fez, quero dizer, bem... Ele saiu.

Lena não disse nada por alguns segundos.

—O que quer dizer com ele saiu?

—Nós estávamos fazendo e eu estava nua e estava realmente quente e tudo es-
tava indo tão bem e, em seguida, ele se apavorou e saiu.

—Saiu? Saiu para onde?

Eu fungava ruidosamente.

—Eu não sei. Ele correu para fora do quarto sem sequer fechar suas calças. Ouvi
a porta da frente abrir e fechar algumas vezes, mas acho que ele voltou enquanto eu
estava dormindo.

213
—Deus, Vivi. —Lena disse em uma respiração ruidosa. —Eu nem sei o que dizer.
Será que... aconteceu alguma coisa enquanto você estava beijando? Talvez ele não pu-
desse... Você sabe?

—Isso não foi o problema. —Lembrei-me da sensação de seu pau duro na minha
mão. —Ele estava pronto. Eu estava pronta. Ele ficou um pouco intenso e eu quis retar-
dá-lo.

—O que você disse quando quis retardá-lo?

—Espere.

—Oh. Bem... Talvez ele pensasse que significava parar?

—Talvez. —Eu disse hesitante. —Mas por que ele não me perguntou?

—Se eu entendo os homens, eu ficaria mais rica que Yuri escrevendo livros para
nós meninas. Olha Nikolai não é o mais expressivo dos homens. Talvez ele não soubesse
como perguntar ou talvez ele quisesse que as coisas esfriassem para se certificar de
que você estava absolutamente pronta.

—Eu me casei com ele, Lena. Quanto mais preparada ele precisa que eu esteja?

—Essa é uma pergunta que você tem que fazer a ele. Ele é seu marido. Inferno,
talvez seja melhor perguntar para Benny. Ela tem algumas semanas de experiência de
mulher casada. Ela poderia ter um melhor conselho.

—Eu acho.

Lena pareceu hesitar antes de perguntar:

—E se ele reagiu daquele jeito ontem à noite por causa daquela coisa que aconte-
ceu com ele quando ele era um menino?

Meu coração pulou algumas batidas. De repente, eu me senti tão egoísta. —Eu a-
inda não tinha considerado que ele poderia ter problemas com intimidade por causa do
que eles fizeram com ele.

—Eu me sinto como uma idiota perguntando isso, mas ele namorou muito antes de
você? Quero dizer, você sabe se ele estava fazendo sexo regular com alguém?

Meu estômago doeu com a ideia de Nikolai nos braços de outra mulher.

—Eu o vi sair um pouco, quando comecei a trabalhar em Samovar, mas faz um lon-
go, longo tempo desde que eu o vi com alguém.

—Então ele pode fazer sexo.

214
—Mas não comigo? —Meu lábio inferior tremeu. —O que há de errado comigo?

—Nada! —Lena rapidamente respondeu. —Você é perfeita, bela, doce e desejável.


Não há nada de errado com você. Mesmo se acontecer dele não pode ficar com você por
qualquer motivo, não é sua culpa. Ok? Seja o que for não é sua culpa.

Embora Lena tentasse desesperadamente me tranquilizar, eu não conseguia afas-


tar a sensação de que eu era a razão para a nossa noite de núpcias ter ido tão mal. En-
quanto tomava banho e me vestia, tentei ignorar o edifício de ansiedade dentro de mim.
Eu não sabia o que diabos ia dizer ou fazer quando visse Nikolai lá embaixo. Ele prova-
velmente seria doce e gentil comigo e fingiria que nada tinha acontecido.

Mas eu não queria fingir. Eu queria descobrir o que diabos havia de errado para
que pudéssemos corrigir o problema. Eu o amava e queria ele, tudo dele.

Desci as escadas devagar e silenciosamente. Meu coração disparou e minha boca


ficou seca. Ao invés de evitar o inevitável, decidi procurá-lo agora. Passei na biblioteca
e em seu escritório em casa, mas ambos estavam vazios.

Eventualmente, circulei pela casa inteira antes de chegar à cozinha, onde desco-
bri Sergei sentado em uma banqueta na ilha desfrutando de uma xícara de café. Ele
olhou para mim e sorriu.

—Bom dia.

—Bom dia. —Eu pulei o café e fui para a geladeira por uma lata de refrigerante.
Esta manhã tive um desejo de algo efervescente e doce.

—Há frutas e doces. —Ele apontou para o outro lado do balcão. —Eu posso te fa-
zer alguns ovos ou bacon, se você quiser.

—Obrigado, mas não. —Eu não acrescentei que o único homem que deveria estar
me fazendo o café pela manhã, após o meu casamento deveria ser meu marido. Sergei,
obviamente, não queria estar nesta posição desconfortável. Senti que ele queria estar
em qualquer lugar, mas não aqui esta manhã. —Onde está Nikolai?

O olhar de Sergei caiu para sua xícara de café.

—Ele teve que sair a negócios.

—Negócios. —Eu repeti com descrença.

—Sim. —Sergei nervosamente pigarreou. —Eu tenho que ter certeza de que você
será cuidada hoje. Se você precisar ir a qualquer lugar, é só pedir.

—Leve-me para Nikolai.

215
—Você sabe que eu não posso fazer isso.

Irritação me queimou.

—Então me leve para o meu estúdio.

—Mas você não comeu. —Sergei interrompeu.

—Eu não estou com fome.

—Nikolai não vai gostar de saber que eu a deixei sair sem café da manhã.

—Se ele não gostar, ele pode falar comigo. — Eu saí da cozinha e fui para o hall,
onde peguei meu casaco e bolsa. Enquanto me vestia, comecei a chorar. Isso me fez
sentir tão fraca e boba, mas não conseguia parar as lágrimas quentes escorrendo pelo
meu rosto.

—Querida. —Disse Sergei suavemente da porta. —Não chore. Ok? Eu não posso
lidar com a visão de uma garota bonita como você chorando.

Limpei meu rosto e me recusei a enfrentá-lo.

—É melhor você se acostumar com isso. Tenho a sensação de que você vai estar
vendo muito disso.

Ele riu da minha resposta melodramática.

—Aqui…

Olhei para trás para vê-lo estendendo um guardanapo.

—Obrigada.

—Escute. —Disse ele com cuidado enquanto eu limpava meu rosto. —Se Nikolai
pudesse estar aqui agora, ele estaria. Acha que ele queria passar a noite passada longe
de você? —Sergei sacudiu a cabeça. —Algo aconteceu ontem à noite e ele está fazendo
o que um bom chefe faz. Ele está cuidando disso.

—E o que dizer de um bom marido? Não é um marido que deveria cuidar de sua
esposa?

—Ele não é só um marido, Vivian. Ele é Nikolai.

E lá estava ela. A verdade nua e crua absoluta. Na hierarquia do mundo de Niko-


lai, a classificava em algum lugar perto do topo, mas algumas estacas abaixo de sua leal-
dade para com a família.

216
Meu coração doía de tão amarga decepção. Virando as costas para Sergei, eu pe-
di:

—Vista sua jaqueta. Eu estou pronta para ir.

Ele não respondeu de imediato. Quando o fez, foi em uma voz cheia de tristeza.

—Sim, senhora.

217
Capítulo Vinte

Nikolai reconheceu a expressão sombria no rosto de Sergei quando ele chegou ao


estúdio naquela noite. Olhou para o relógio e fez uma careta. Eram quase sete. Ele só
podia imaginar como enfurecida Vivian estava até agora. Toda vez que ele queria chamá-
la, ele tinha sido interrompido com algo mais urgente. Tentando sair fora dessa bagunça
e conseguir o apoio para a possível guerra que surgia no horizonte, tinha levado muito
mais tempo do que tinha previsto.

—Você pode querer manter uma mesa entre vocês. —Sergei sugeriu enquanto se
aproximava da porta. A batida pulsando forte da música eletrônica fazia as paredes
tremerem. —Ela tem todos os tipos de objetos cortantes ao alcance do braço. Formões,
facas, e eu ficaria para trás se fosse você.

Nikolai levou o aviso a sério. Reunindo sua coragem, ele entrou no estúdio e fe-
chou a porta atrás de si. Este era um momento que não queria ser interrompido.

—Eu disse para ficar de fora, Sergei! —Ela nem se incomodou em olhar para ver
quem tinha chegado à porta. Ele se aproveitou e observou o ambiente. Ela espalhou pa-
nos no chão. Duas telas estavam em cavaletes. Ambas estavam em vários estágios de
conclusão. Outras quatro telas pintadas, mas destruídas, tinham sido atiradas a esmo
contra uma parede.

Ele caminhou até o sistema de som e abaixou o som.

—Vee.

Ela ficou rígida com o som de sua voz. Quando ela se virou, tinha uma daquelas
espátulas estranhamente em uma mão e uma paleta manchada de tinta na outra. A pale-
ta poderia lhe dar um bom golpe, mas foi à espátula que o fez se preocupar. Ele tinha
visto facas menos ameaçadoras do que aquela coisa.

Olhando para ele, ela comentou com severidade:

—Bem, você é mais corajoso do que Sergei.

—Eu não iria tão longe. —Disse ele, enquanto cuidadosamente diminuía a distância
entre eles. —Eu sou claramente estúpido.

—Não espere que eu argumente quanto a isso.

218
—Eu não. —Ele tinha certeza de que ela tinha um número de palavras bem esco-
lhidas que gostaria de atirar na sua cara. Olhando para as telas em ruínas, ele pergun-
tou em tom de brincadeira: — Isso é uma nova técnica?

Vivian estreitou os olhos.

—Não, é a minha mais recente série. Eu a chamo: A Estúpida Garota Que Se Ca-
sou Com O Chefe da Máfia E Espera Que Ele Se Importe. —Ela apontou para as duas
telas em seus cavaletes. —Eu acho que eu vou chamar estas de Amarga Decepção e as
Alegrias de Um Café da Manhã De Casamento.

Nikolai estremeceu.

—Ponto esclarecido, Vee.

Ela jogou a paleta e a espátula sobre a mesa de trabalho mais próxima. Ela colo-
cou as mãos nos quadris manchadas de tinta, em seu vestido cor de areia. Aparente-
mente, ela estava tão chateada que nem sequer se preocupou em proteger sua roupa
com um avental.

—Onde diabos você estava?

Ele inalou uma respiração ruidosa e esfregou as costas de seu pescoço. Ele come-
çou a questionar sua decisão de renunciar ao sigilo que tanto queria. Agora, ele poderia
ter usado seus nervos, porque estava claro que ela queria brigar.

—É complicado.

—Temos tempo para a explicação.

—Eu não posso, Vee.

—Bobagem. Estamos casados agora. —Ela levantou a mão e tocou-lhe o anel de


casamento. —Nós devemos ser parceiros. Acha que Dimitri esconde as coisas de Benny?
Acha que ele passa o dia todo sem ligar para ela?

Ele se irritou com a comparação.

—Somos dois homens diferentes em dois casamentos diferentes.

Ela pegou uma caneta e um pedaço de papel, batendo-os em cima da mesa e em-
purrou para ele.

—Você pode muito bem ir em frente e escrever as regras do nosso casamento,


porque eu perdi claramente esse memorando.

219
Parte dele queria pegar o papel e começar a rabiscar na folha de papel em bran-
co. Talvez seria mais simples colocar tudo escrito agora. A dor que escurecia aqueles
lindos olhos azuis dela, empurrou o pensamento para fora de sua cabeça. Desesperado
para fazer as coisas direito, contornou a mesa para ficar na frente dela.

—Vee…

—Não. — Ela colocou as mãos sobre o peito dele para impedí-lo de beijá-la. —
Você só... Você me deixou.

A angústia na sua voz doeu nele. Ela não estava simplesmente falando sobre a
maneira como ele abruptamente tinha terminado a sua noite de núpcias. Ocorreu em que
toda a sua vida, as pessoas que ela cuidou e amou se afastavam dela ou a deixavam para
trás. Sua mãe se suicidou. Seu pai foi para a prisão. Seus avós tinham morrido.

E ele saiu na noite de núpcias, mesmo sem se explicar. Ele passou todo o dia sem
falar com ela. Ele só podia imaginar como ela se sentiu abandonada.

Tocando a testa dela, ele sussurrou.

—Eu sinto muito. Eu deveria ter te chamado, deixado um bilhete ou te acordado


para falar com você.

—O que aconteceu ontem à noite?

Ele não estava pronto para discutir o que tinha acontecido em sua cama ainda.
Com a voz baixa, ele explicou:

—Alguém colocou os corpos dos homens que nos atacaram no Samovar.

Vivian cambaleou para trás com horror.

—O quê?

Ele acenou com a cabeça.

—Eu estou tentando lidar com isso durante toda a noite e hoje. Pode haver uma
guerra.

Seu rosto empalideceu.

—Não.

—Eu não gosto que você saiba disso. Eu queria esconder de você. Gostaria de po-
der fazer tudo sumir, mas não posso. Você está certa. Você precisa saber.

—Quem, Nikolai? Que está tentando prejudicá-lo? Quem quer nos machucar?

220
—Eu acho que pode ser o chefe.

—Maksim?

Ele não estava surpreso que ela soubesse o nome dele. Ela bisbilhotava no Samo-
var, ela provavelmente sabia muito mais do que ele tinha imaginado.

—Sim.

—Oh, Deus. —Tocou-lhe o queixo. —O que vamos fazer?

Nós. Mesmo diante de tal horror, ela queria ficar e apoiar. Ela estava certa. Ca-
saram-se e agora eram realmente parceiros. Para navegar por essas águas traiçoeiras,
ele poderia usar uma caixa de proteção. Vee não entendia todas as nuances sutis de seu
mundo, mas ela era uma aprendiz rápida e tinha uma consciência aguda quando se trata-
va de relações entre as pessoas.

—Sente-se aqui. —Ele bateu na superfície da mesa de trabalho. Vivian voltou pa-
ra ele, colocou as palmas das mãos no topo de aço inoxidável e sentou. Ele se aproximou.

Com as pernas envoltas em torno de sua cintura, ela apoiou as mãos em seus om-
bros.

—Diga-me.

—Eu estou fazendo planos, mudando algumas alianças. Lorenzo Guzman recebeu
sua primeira carga do irlandês algumas noites atrás. Correu tudo bem, por isso ele pre-
cisa de mim vivo. Ele sabe que o irlandês não vai negociar com ele, se não estiver por
perto. Ele não quer alguém como Maksim se metendo na sua zona de qualquer maneira.
Eles são ambos muito grandes e nunca iria funcionar.

—E se Maksim oferecer aos jogadores menores na cidade um melhor negócio?


Como os albaneses e os Hermanos ou aqueles caras brancos loucos que odeiam a todos?

Talvez ela não fosse tão ignorante nas nuances de seu mundo como ele tinha ima-
ginado.

—Se ele fizer um movimento, irá falhar. As pessoas não gostam de mudanças e
isso é especialmente verdade nesta linha de trabalho. Temos todo o comércio na confi-
ança e reputação. O sindicato de Moscow tem uma reputação de ser ganancioso e vio-
lento. Ninguém quer essa merda aqui.

Seus olhos baixaram, enquanto seus dedos suaves moviam pelo seu rosto e ao lon-
go de sua mandíbula.

—O que eu preciso fazer?

221
—Eu preciso que você esteja segura. Fique com Sergei e Danny. Mantenha os o-
lhos abertos. Se algo parecer estranho, você corre.

—Eu prometo que vou ser muito cuidadosa.

—Eu sei que você vai. —Ele odiava assustá-la e tentou diminuir a gravidade de tu-
do o que ele tinha acabado de descarregar sobre ela, apertando seu rosto e reivindi-
cando sua boca doce. A julgar pelos indícios de chocolate com açúcar agarrados a seus
lábios, ela estava comendo porcarias durante toda à tarde. Quando o beijo terminou,
ele olhou ao redor da sala e encontrou seu estoque de embalagens vazias do outro lado
da mesa de trabalho. —Quanto açúcar você já comeu hoje?

—Bem … —Ela brincava com um de seus botões da camisa. —Eu estava chateada e
Sergei continuou empurrando as caixas através da porta. Eu meio que me perdi por vol-
ta do meu quarto cupcake.

Nikolai franziu o cenho para a porta fechada. Quando eles saíssem daqui, ele ia
ter uma conversa com Sergei. Ele não se importava com os seus homens agradando Vivi-
an. Só Deus sabia o que ele fez, mas dando-lhe diabetes Tipo II com vinte e cinco anos
não era do interesse de ninguém. —Você precisa comer uma refeição de verdade.

—Mais tarde. —Disse ela e agarrou sua cintura com as pernas. Ela baixou o olhar
para o colo com constrangimento e vergonha. —Você não vai sair até que você me diga o
que eu fiz de errado na noite passada.

Nikolai abaixou a cabeça e levantou o queixo até que seus olhares se encontra-
ram. Espiando nos olhos dela, ele perguntou:

—O que você fez de errado? Vivian, você não fez nada de errado. Eu sou o único
que fodeu com tudo.

—O que você quer dizer?

—Eu te assustei. Eu fui muito intenso. Você me pediu para parar.

—Eu não pedi para você parar. Pedi-lhe para esperar. Eu só... Eu queria ter um
pouco mais de tempo para desfrutar de tudo.

Nikolai piscou. Será que ele tinha interpretado mal a ela?

—Merda. Vee. Eu pensei que tinha quebrado sua confiança em mim ou aterroriza-
do você, comportando-me como um animal.

—Bem, eu pensei que talvez você estivesse tendo problemas por causa de... — Ela
hesitou e mordeu o lábio nervosamente. —Por causa do que aconteceu com você quando
você era pequeno.

222
O choque de ouví-la falar de seu abuso sexual quase o fez pular. Ele suspeitou
que Lena pudesse tê-la deixado ler a carta ameaçadora que havia sido deixada no iate,
mas esta foi a primeira vez que ele tinha a confirmação. A próxima vez que ele visse
Yuri ia chutá-lo direto na porra das bolas por não avisá-lo e permitir que ele fosse pego
de surpresa.

Incapaz de suportar seu olhar curioso, Nikolai afastou as pernas e deslizou para
fora do banco. Ele virou as costas para ela e tentou obter o controle sobre suas emo-
ções vacilantes. Vergonha e humilhação azedou seu intestino, enquanto a estranha sen-
sação de liberdade invadiu seu peito. Era menos um segredo entre eles.

—Eu sinto muito. Eu não deveria ter dito isso.

Não querendo que ela se sentisse culpada, ele virou-se para encará-la. Já dois ri-
os brilhantes escorriam pelo rosto. Ele empurrou de lado o banquinho e colocou seus
braços em volta dela.

—Vee, está tudo bem. Estou feliz que você saiba.

Ela se enterrou mais perto.

—Eu queria te dizer tantas vezes, mas eu não sabia como fazer. Lena me mandou
uma foto da carta. Eu li e disse a ela para destruir a foto e a carta. Eu sabia que você
não queria que ninguém soubesse.

Enquanto acariciava as costas, ele percebeu que ela sabia há meses. Nenhuma vez
ela o tratou de forma diferente.

—Não dá nojo em você?

Ela se afastou e olhou para ele com descrença.

—Por que você me pergunta isso? Eu te amo pra caralho. Todo você. O que alguém
fez com você quando era pequeno não te faz menos digno de ser amado e isso com cer-
teza não dá às pessoas o direito de ridicularizar ou excluir você.

Ele não sabia se ela já tinha declarado seu amor por ele de modo tão estridente.
Engolindo o nó em sua garganta, ele admitiu:

—Acho difícil de ser tocado pela maioria das pessoas. Eu não me importo quando
Yuri, Ivan ou Dimitri o faz.

—E eu?

Ele beijou a ponta de seu nariz.

—Eu imploro seu toque.

223
—Se você precisar de tempo eu sou realmente boa em esperar.

Ele riu com diversão.

—Vee, acho que já esperou tempo suficiente. —Ele colocou os longos fios de ca-
belo emoldurando o rosto dela atrás da orelha e enxugou as lágrimas do rosto. —Não
chore por mim. Nem por isso. Eu sobrevivi e me recuso a deixar que esses monstros te-
nham qualquer poder sobre mim.

—Então, ontem à noite…

—Ontem à noite fui tudo eu. Tinha tudo tão perfeitamente planejado, mas você
entrou lá e estava tão sexy. Uma vez que coloquei minhas mãos em você, meu cérebro
entrou em curto-circuito. Eu tinha que ter você. Eu não podia esperar. —Sua mandíbula
se apertou com a lembrança de suas mãos acariciando seu pau. —Eu queria fazer amor
com você, mas não tenho certeza de que sei como.

Os olhos de Vivian se arregalaram com a confusão.

—Mas você já fez só pelo sexo.

—Eu tive muito sexo. —Ele interrompeu. —Não é a mesma coisa. Eu só comi uma
mulher. Isso não é o que eu quero com você. Antes, era sempre sobre a maneira mais
rápida para encontrar a libertação. Era áspero, sujo e duro. Eu não quero isso com você.
Eu quero que signifique alguma coisa.

Ela engoliu em seco e lambeu os lábios.

—Bem, você sabe que talvez um dia nós possamos experimentar dessa forma?
Porque isso soa realmente muito quente.

Nikolai riu e ficou feliz com o momento de leviandade.

—Tenho certeza de que nós vamos.

Ela apertou suas mãos.

—Olha, acho que, de certa forma, nós dois somos virgens.

Seus lábios tremeram com diversão em pensar ser considerado puro ou inexperi-
ente.

—Você poderia dizer isso.

—Então, nós apenas... Nós vamos devagar. —Com um sorriso malicioso, ela acres-
centou: — E mesmo se você estragar tudo, eu não saberei. Com quem mais eu tenho que
comparar Kolya?

224
Ele bufou com divertimento.

—Você realmente sabe como incentivar um homem.

Ela passou a língua contra sua boca.

—Cale a boca e me beija já.

Quando ele capturou sua boca, Nikolai duvidava que isso ia acabar com um sim-
ples beijo.

Não havia nenhuma maneira disso terminar com um beijo. Eu poderia ser a inex-
periente em nosso casamento, mas sabia o que eu queria, e conseguiria. Agora mesmo.
Bem aqui.

Quando sua língua mergulhou entre meus lábios, eu empurrei o casaco de seus
ombros. Ele ajudou e o jogou para o lado, caindo sobre a tinta fresca da paleta. Eu tive
a sensação de que ele não se importava em arruinar o casaco.

—Espere. —Nikolai disse com um riso surpreso quando comecei arrancar a grava-
ta. —Aqui?

—Aqui. —Eu tirei a gravata e a deixei cair no chão. —Quem sabe quando vamos
ter outra chance?

Minha pergunta pareceu convencê-lo. Enquanto ele me apertou com um beijo exi-
gente, Nikolai tirou os sapatos e começou a desabotoar sua camisa. Corri minhas mãos
ao longo de seu peito exposto, tomando cuidado com a ferida ainda sarando em seu om-
bro, e puxei a camisa fora de seu corpo. Quando ela caiu no chão, Nikolai agarrou a bar-
ra do meu vestido e puxou-o para minha cintura.

—Levante o bumbum.

Ele não teve que me dizer duas vezes. Eu apressadamente cumpri sua ordem e lo-
go estava com apenas com minhas roupas de baixo e as meias que eu usava para manter
meus pés quentes. Elas não teriam muita chance com Nikolai. Em quatro puxões rápidos,
ele me despojou das meias. Meu sutiã levou cinco segundos para ser removido. Só minha
calcinha ficou.

225
Nikolai olhou ao redor da sala. Eu poderia dizer que ele estava à procura de um
local adequado para me possuir. Finalmente, ele encontrou os tecidos que eu tinha joga-
do. Pegou-me, e disse:

—Não vai ser o local mais confortável.

—Eu não me importo. —Eu realmente não me importava. Eu estava pegando fogo
agora. Meu corpo todo queimava com desejo. —A porta?

Nikolai me levou para o chão e se ajoelhou aos meus pés.

—Está trancada. Estamos a salvo.

De olhares curiosos talvez, mas das ameaças obscuras contra nós? Nunca.

Recusando-me a pensar sobre o pesadelo que nos esperava, eu agarrei seu cinto.

—Tira isso. Eu quero sentir você de novo. Tudo de você.

Seu sorriso sexy me fez tremer com antecipação. Nikolai levantou tempo o sufi-
ciente para desatar o cinto e abrir a calça antes de empurrá-las para baixo de suas
pernas. Ele saiu delas e as descartou na pilha crescente de roupas na beirada do pano.

Apoiada nos cotovelos, o vi retirar sua cueca boxer preta. Eu não podia acreditar
que ele tinha mais tatuagens escondidas sob o algodão escuro. Suas coxas eram marca-
das com símbolos da prisão e os troféus de tinta de assaltos bem feitos.

Mas foi o seu pênis duro que realmente prendeu minha atenção. Eu não tenho na-
da para comparar, além de outros que vi nos filmes sujos que Lena e Erin me obrigaram
a assistir ao longo dos anos. Ele estava em linha reta para fora, eu poderia dizer que ele
é diferente da maioria das caras que eu tinha visto nos filmes pornôs. Longo e grosso,
sua ereção prometia ser um obstáculo difícil para esta primeira vez.

Como se sentisse o meu medo, ele prometeu:

—Vamos devagar. Muito, muito lentamente.

Como um gato selvagem e elegante, ele se abaixou para o pano e se arrastou em


direção a mim. Eu ri como uma louca quando ele salpicou beijos de cócegas nas minhas
coxas e sobre meus quadris. Quando ele encontrou a primeira cicatriz da noite em que
ele atirou em mim, ele vacilou. Ergui a cabeça para vê-lo. Não havia dúvida da culpa es-
tampada em seu belo rosto.

Ele beijou reverentemente as três cicatrizes franzidas que pontilham a minha


barriga e o peito. Entre cada beijo, ele sussurrou docemente para mim em russo, me

226
chamando de seu amor, sua namorada, seu sol. Fechei os olhos e saboreei a sensação de
sua boca na minha pele nua.

Embora esta não fosse nada como a maneira que eu imaginava a minha primeira
vez, eu sabia que era como deveria ser. Não havia velas, pétalas de rosa ou roupa de
cama branca e fofa, mas eu não preciso de nada disso. Eu só preciso de Nikolai.

Enquanto ele fazia amor com a minha boca, eu passava meus dedos pelo cabelo
grosso. Ele espalmou meus seios e magistralmente brincava com meus mamilos. Cada
aperto e puxão me fazia suspirar e arquear contra ele. Meus seios pareciam tão pesa-
dos, avermelhados e picos inchados. Nikolai acalmou a dureza dos toques um pouco ás-
peros, com sua língua ferina.

—Kolya... —Seu nome saiu dos meus lábios com um suspiro prazeroso.

A mão que estava sensualmente atormentando meus seios lentamente deslizou


para baixo na frente do meu corpo, passando pela curva inclinada da minha barriga para
o “vê” entre as minhas coxas. Seu olhar perfurava o meu, enquanto ele acariciava leve-
mente meu sexo nu. Meu coração batia tão forte e rápido que eu mal conseguia ouvir
nada, só a lufada de sangue contra os meus tímpanos.

Superando o calor e o pânico do constrangimento, eu enterrei meu rosto contra


seu pescoço enquanto Nikolai explorou delicadamente meu lugar secreto. Ele foi incri-
velmente cuidadoso quando separou as dobras delicadas para revelar meu clitóris. Já
uma pequena pérola rosa que pulsava incessantemente.

—Você pode me dizer o que é bom?

Eu rangia nervosamente. A ideia de expressar o modo como seus dedos me fazia


sentir enquanto circulavam meu clitóris era demais.

—Olhe para mim. —Ordenou rispidamente. Ele suavizou a dureza da sua voz com
um beijo carinhoso. —Se você não pode me dizer então me mostre. Deixe ver seu rosto.

Quando ele falou assim com ternura para mim, não houve como recusar. Agarrei
nos seus lados, mas não desviei do olhar intenso. Rendendo-me a meu marido, eu me
perdi na força do seu abraço e no amor refletido em seus olhos. Seus dedos giravam em
torno do meu clitóris, massageando o botão com a pressão mais leve.

Ele mordiscou meu lábio inferior e tocou a língua dele na minha, Nikolai deslizou
os dedos um pouco mais abaixo. Ele umedeceu os dedos na minha umidade para mudar a
sensação. Eu soluçava e segurei mais apertado. Meu núcleo tremeu violentamente en-
quanto frissons de luzes brancas brilhantes desenrolaram dentro de mim. Minhas coxas

227
flexionadas enquanto eu perseguia as sensações poderosas que ele provocava em mim,
apenas esfregando meu clitóris e me beijando.

Nossas bocas estavam separadas por meros milímetros. Nós compartilhamos as


respirações um do outro. A sua era relaxada e calma, mas a minha era trêmula e quase
entrei em pânico. Ele olhava para mim com tanta admiração e afeto. Era como se eu fos-
se à coisa mais bela e preciosa que ele já tinha visto.

Seus dedos circularam com mais pressão e em uma velocidade mais rápida. Mes-
mo se eu quisesse segurar, não havia nenhuma maneira de parar o meu clímax iminente.
Felizes explosões abalaram o meu núcleo. Com a cabeça jogada para trás, eu subi nas
ondas arrebatadoras.

—Nikolai!

—Vee. —Ele abaixou-se para colocar seus lábios ao longo de minha garganta. Eu
gritei de surpresa quando ele mordeu de leve, me marcando como sua. A mordida afiada
acentuou o delicioso tremor que emanava de dentro de mim.

Quando o meu clímax começou a desvanecer, Nikolai se deslocou até que estava
em cima de mim. Ele me deixou louca com beijos, que deixaram os meus lábios inchados
e meus dedos enrolando com prazer. Os dedos que estava me massageando e levando ao
céu deslizaram mais baixo e me penetraram, sempre tão cuidadosamente.

—Está tudo bem? —Nikolai olhou para mim com preocupação em seus olhos. —
Diga se isso é demais.

—Não pare. —Eu implorei, amando cada segundo de seus dois dedos me espetan-
do. Moveu para dentro de mim com tanta delicadeza, apenas uma polegada, antes de se
retirar. Enquanto ele me preparava para o seu pau duro, Nikolai saboreava minha boca.
Quando o polegar começou a esfregar meu clitóris, eu quase morri.

—Oh Deus!

Ele riu.

—Não está bom assim.

Eu ri, mas sua mão era tão boa, que eu gemi.

—Nikolai, por favor…

—Diga-me o que você quer, Vee.

—Eu... Eu não sei o que eu quero.

228
—Eu sei o que eu quero. —Ele sugou meu mamilo enquanto seus dedos me pene-
travam novamente e novamente. Respirando pesadamente, ele admitiu:

—Você é mais úmida e mais apertada do que eu imaginava. Sonhei com isso, en-
terrar meu pau em sua boceta. Imaginei como seria o caminho, a sensação de afundar
de novo e de novo, sentir você me prender e ordenhar minha porra.

Minha boceta vibrou ao redor de seus dedos empurrando enquanto descrevia to-
das as coisas sujas que ele queria fazer para mim.

—Ah!

Ele mordiscou meu peito.

—Você quer que eu te foda agora?

—Sim. —Eu estava pronta. Eu o queria dentro de mim, tanto que podia sentir o
gosto. —Sim.

Nikolai plantou uma mão ao lado de minha cabeça, antes de abrir mais minhas co-
xas, movendo-se entre elas. Eu hesitei, agora com ele sobre mim. Em alguns momentos,
eu saberei todos os segredos da feminilidade. Em alguns momentos, eu descobriria o
que significava compartilhar algo tão incrivelmente íntimo com o homem que eu amava.

A evidência da minha excitação deixou seus dedos brilhantes quando ele removeu
de mim. Segurando a base de sua ereção, Nikolai alinhou nossos corpos. Sem seus dedos
dentro de mim, eu me senti tão vazia e doeu de necessidade para que ele me enchesse
de novo. Eu envolvi minhas pernas em torno de seus quadris e acariciei seu peito.

—Eu preciso de você.

Cobrindo-me com seu corpo grande e magro, Nikolai capturou minha boca e em-
purrou para frente. Não havia nada fácil ou suave sobre ser penetrada. Eu gritei quando
ele me perfurou e mergulhou profundamente em minha passagem virgem. Meu corpo
protestou contra a invasão repentina de seu eixo longo, grosso, mas Nikolai empurrou
para frente até que ele estava totalmente dentro de mim.

—Perdão. —Ele murmurou, com a voz aflita. Beijando-me carinhosamente, Nikolai


não se mexeu. Ele segurou perfeitamente, para que eu pudesse acostumar com a estra-
nha sensação de ser esticada em torno de seu pênis grosso. Doce e suavemente, ele
sussurrou-me em russo, e me disse o quanto ele me amava.

Quando sua língua se enroscou com a minha, comecei a relaxar. O pulsar ali come-
çou a diminuir. Concentrei-me no caminho das palmas das mãos, deslizando sobre meus
seios e acariciando meus braços.

229
À medida que nossos beijos se tornaram mais aquecidos e sensuais, Nikolai se
moveu, experimentando. Eu suspirei na primeira vez, o trecho queimava ainda muito pa-
ra eu gozar, mas Nikolai tentou de novo e de novo. Ele arrastou a ponta dos dedos pelo
meu rosto enquanto ele se afastou, até que apenas a ponta dele permaneceu enterrada
dentro de mim. Quando ele empurrou para frente novamente, eu engasguei e arranhei
suas costas.

—Em breve. —Prometeu. —Vai ficar bom em breve.

Com cada avanço lento e suave, ele reuniu mais de minha umidade em seu pênis e
aliviou as pressões de deslizar. Eu gemia com a sensação do seu pênis dentro e fora de
mim que me deixou tremendo.

—Sim.

Nikolai se moveu deliberadamente, com seus golpes longos, profundos e sem


pressa. Ele deslizou seus dedos entre os nossos corpos e encontrou meu clitóris. Ele
tocou a pérola sensível, e ofegante tentei ir para longe dele. Agarrando seu pulso, eu
ofegava.

—Não, é demais.

—Shhhh. —Ele silenciou suavemente. —Deixe.

Segurei firme em seu pulso, mas não o impedi quando ele segurou o meu clitóris
inchado entre os dedos e começou a esfregar suavemente. O intenso sentimento, quase
esmagador começou a desvanecer-se. De repente, me senti muito, muito bem.

—Kolya! —Eu arqueei para ele empurrar. —Não pare. Por. Favor.

Eu queria muito. Eu queria experimentar o clímax com ele dentro de mim, acarici-
ando todos os lugares certos. Meu corpo começou a aumentar o ritmo, apertando seu
eixo duro para obter cada última gota de prazer das estocadas do seu pênis.

—Oh. Oh!

—Sim. —Ele engoliu meus gritos apaixonados com beijos vorazes. —Sim.

Ele parecia incrivelmente mais duro agora, suas estocadas cresceram mais rápi-
das e mais ásperas. Eu arranhei suas costas e me entreguei à promessa de êxtase, que
estava fora do meu controle. Nikolai mudou o ângulo da penetração e eu disparei como
um foguete.

—Kolya! — Seu nome ecoou no teto e paredes, mas nenhum de nós se importava.
Estávamos perdidos no êxtase maravilhoso do nosso primeiro acoplamento. Balançando

230
juntos e nos segurando, nós apreciamos as sensações perversamente pecaminosas de um
clímax compartilhado.

Alguns segundos depois eu explodi de felicidade pura, Nikolai me seguiu e gozou.


Ele bateu dentro de mim e empurrou grosseiramente enquanto sua semente me queima-
va.

—Vee. —Ele sussurrou com reverência. —Vee.

Por um longo tempo, nenhum de nós se atreveu a mexer. Nós estremecemos nos
braços um do outro e compartilhamos os tremores ondulantes. Com um gemido alto e
satisfeito, Nikolai saiu de cima de mim e rolou de costas. Ele me arrastou em seus bra-
ços e me segurou com força contra o peito.

—Deus, Vee, foi tão bom. Tão bom. —Ele acariciou minhas costas. —Você está
bem? Machuquei você muito?

—Você não me machucou e foi incrível. —Eu tinha lágrimas nos meus olhos, en-
quanto a maravilha de tudo isso me consumia. —Isso foi tão incrível, valeu a pena espe-
rar.

—Obrigado. —Ele sussurrou.

—Por quê?

—Compartilhar isso comigo. —Ele enredou os dedos pelo meu cabelo, mas parou
abruptamente. —Você tem tinta no cabelo. —Disse Nikolai com uma risada.

—Tenho? — Estendi a mão para tocar a área que ele tocou, e encontrei a umidade
pegajosa. —Ótimo.

Nikolai beijou minha testa.

—Listras roxas ficam bem em você.

—Uh-huh.

—Antes você do que eu.

Ele deslizou um pouco e rolou para o lado para que ele pudesse olhar dentro dos
meus olhos.

—Eu realmente sinto muito sobre ontem à noite. Podemos começar de novo? Apa-
gar tudo?

Eu me apoiei no meu cotovelo e tracei uma das tatuagens em seu pescoço.

—Sim.

231
—Eu não sei se podemos sempre ser parceiros da maneira que Dimitri e Benny
são, mas posso tentar te deixar saber mais. Há algumas coisas que não posso, não devo
lhe dizer.

—Eu entendo isso. Francamente, há provavelmente coisas que eu não quero saber.
Só não me deixe de fora, como você fez hoje.

Nikolai passou o dedo sobre o lábio inferior.

—Eu não vou. Preciso de você agora. —Ele me beijou carinhosamente. —Mais do
que nunca.

232
Capítulo Vinte e Um

Algumas horas mais tarde, Nikolai fez sua última turnê na casa antes de ir para
cima se juntar a Vivian na cama. Ele deliberadamente demorou, porque ele queria dimi-
nuir a ansiedade de fazer amor com ela novamente. Ele não tinha sido capaz de tirar o
sorriso do rosto desde que haviam saído de seu estúdio. O seu primeiro dia como um
casal pode ter começado com o pé errado, mas estava terminando no caminho certo.

Ele desceu para a biblioteca para olhar as pilhas de presentes de casamento. Eles
chegaram durante os dias que antecederam ao casamento e esta tarde ele tinha pedido
a seus homens que trouxessem o restante que estava no Faze. Ele passou as mãos sobre
as caixas colorida envolvidas em papéis grossos. Ele não ligava muito para o costume de
dar esses presentes caros para os homens em sua posição, mas ele entendeu que era
uma questão de respeito.

Um objeto embrulhado volumosos no canto chamou sua atenção. Mesmo a essa


distância, ele poderia dizer que era uma pintura. Ele achava que era um presente de Yu-
ri porque ele compartilhava o amor de Vivian pela arte, mas um olhar no cartão anexado
ao presente mudou sua ideia. Sua mandíbula apertou com a visão da mensagem corajo-
samente rabiscada de Niels Mikkelsen.

Estrelas brilhantes para a próxima estrela brilhante, Niels.

Ele não queria nem saber o que obscenamente caro, o bilionário dinamarquês ti-
nha dado para Vivian como presente de casamento. Enquanto ele se debatia em rasgar
ou não o papel de embrulho para dar uma olhada, seu celular começou a tocar. Ele pegou
do bolso e atendeu.

—Sim?

—Eu estou interrompendo os recém-casados? —A diversão de Yuri pareceu alta e


clara.

—Ainda não. —Respondeu Nikolai. —Olha, você precisa dizer para o bastardo di-
namarquês seu amigo, para ficar na dele.

—Niels? —Yuri suspirou alto. —O que ele fez agora?

—Ele enviou a Vivian uma pintura como presente de casamento.

—Que pintura?

233
—Eu não abri ainda.

—Ele não parou de falar sobre o talento de Vivian desde que a conheceu. Saben-
do de sua coleção, é provavelmente uma peça muito rara. —Yuri hesitou. —Não faça na-
da estúpido com ela.

Nikolai encarou seu reflexo no espelho.

—Eu não sou tão mesquinho. Eu não confio em seus motivos, mas isso não significa
que Vivian não deve manter e desfrutar da pintura.

—Você vai precisar de seguro para ela. Uma vez que Vivian dê uma olhada, mande
ela me chamar e eu vou enviar o nome do agente que eu uso. Mas, escute, eu não liguei
para falar de negócios. Eu estive pensando sobre os papéis que o diácono te deu ontem.

Estômago de Nikolai doeu.

—O que têm eles?

—Você se lembra da noite em que alguém tentou matar Lena, atirando no meu
quintal?

Era um telefonema que ele nunca iria esquecer.

—Claro.

—Nós assumimos que era Jake. Imaginamos que de alguma forma ele conseguiu
pegar uma arma e atirar a distância. Os disparos em Lena foram muitos, mas eles não
eram os tipos de tiros que você espera de um especialista atirador.

Nikolai se lembrou das teorias de Dimitri, que tinham rejeitado, parecia algo que
pertencia às páginas de romances de suspense favoritas de Ivan.

—Onde é que Jake teria conseguido uma arma como essa?

—Eu estive me perguntando a mesma coisa. Ha muito mais sobre esse caso que
não faz sentido. Há muitos buracos na história para mim, então contratei um detetive
particular, em Moscou.

—E?

—E ele me ligou mais cedo para dizer que deixava o caso para nunca mais entrar
em contato com ele novamente. Parecia que ele estava prestes a desaparecer.

—Por quê?

—Bem, pedi para ele me enviar por e-mail tudo o que ele tinha compilado sobre
Katya e Jake até o momento. Ele concordou, mas só se eu desse a ele mais dinheiro. —

234
Yuri suspirou. —Eu estou olhando para o arquivo e só há um nome que continua apare-
cendo novamente e novamente.

—Maksim?

—Grisha.

Nikolai piscou.

—Grisha?

—Sim. Ele estava em contato com ela durante anos. Eles tinham um apartamento.
Eu não sei se eles eram amantes, mas eles definitivamente cavaram em nosso passado.
Há arquivos aqui de Ivan, Dimitri e você. Ela até tinha dossiês sobre Erin, Lena, Benny e
Vivian naquele apartamento. São extensos. Ele estava fazendo enormes pagamentos pa-
ra Jake, mas eu não acho que Jake estava embolsando o dinheiro. Parece que ele estava
retirando e pagando alguém, ou outra coisa. Há anotações sobre honorários de consulto-
ria...

—Taxas de consultoria? —Uma suspeita se formou. —Qual foi o último nome de


Jake?

—Peterson.

E de repente tudo se tornou claro.

—As meninas. Meu contato me disse que um homem que se chamava JP fez os pa-
gamentos e arranjos.

Yuri fez um som ofegante.

—Não, não é possível. Jake era um monte de coisas, mas não era cruel o suficien-
te para tráfego meninas.

—Ele provavelmente não sabia. Tenho certeza que Katya ou Grisha o convenceu
de que ele estava pagando frete por algo menos sinistro. — Nikolai arranhou o topo de
sua cabeça, enquanto sua mente disparou. —Meu contato me disse que o pagamento e o
tratamento mudaram há alguns meses atrás, quando JP foi baleado. Isso teria sido na
época que Jake morreu.

Yuri xingou porcamente.

—Eu não posso acreditar nisso. Não posso. —Ele exalou bruscamente. —O nível
de obsessão de Grisha com a gente é doentio. Esses arquivos são assustadores. E o meu

235
investigador fez anotações da crescente dependência de Grisha nas drogas. Estou mui-
to preocupado.

—Você deve estar. —Como o capitão de Moscou, Grisha exercia um poder imenso.
Por alguma razão que Nikolai não entendia muito bem, Grisha tinha colocado um abismo
entre eles. Nada disso fazia sentido. Grisha era o herdeiro da família. Não havia nada
que Nikolai tivesse que Grisha poderia querer o suficiente para matá-lo e ferir seus
amigos.

A menos que...

Nikolai pensou na certidão de nascimento, que o sacerdote da Rússia havia de-


senterrado e enviado para Houston. Era essa a razão para tudo isso?

—Tem mais uma coisa que você deve saber. —Disse Yuri. —Eu liguei e pedi alguns
favores e consegui um resumo da movimentação e viagens de Grisha no último ano. Ele
estava nos Estados Unidos quando Vivian foi sequestrada e você foi atacado.

O estômago de Nikolai revirou. Foi Grisha o homem que tinha segurado uma arma
em sua têmpora e colocou o prédio em chamas para queimá-la viva?

—E ele está aqui agora.

Nikolai ficou rígido quando aquela informação foi registrada. Ele agarrou as cor-
tinas e rapidamente as fechou. A noite do resgate de Vivian veio à mente. Grisha sabia
que Vivian estava em sua casa. Na época, ele assumiu que Kostya tinha deixado escapar,
mas agora ele se perguntava se ele estava sob vigilância.

—Você deve pegar Lena e sair da cidade. Chame Ivan e Dimitri. Diga-lhes para
sair por um tempo ou terem muito cuidado. Ninguém pode ser confiável.

—O que você vai fazer? — Ele ouviu o medo na voz de Yuri.

—Eu vou proteger a minha família.

236
Eu já tinha tomado banho e vestido uma camisola antes de Nikolai finalmente
chegar lá em cima. Ele tinha uma expressão intensa e minha barriga tremeu com a visão
dele. Eu tinha uma sensação de que ele tinha uma má notícia.

—Está tudo bem?

Ele me arrastou em seus braços e beijou o topo da minha cabeça.

—Deixe-me tomar banho. Então, vamos conversar.

—Ok. —Eu relutantemente o permiti escapar do meu abraço. Assim que a porta
do banheiro se fechou, olhei ao redor da sala a procura de algo para fazer. Meu olhar
se fixou no paletó e na camisa de Nikolai. A mancha no cotovelo do paletó me fez sorrir.
Sem dúvida, ele esbarrou em alguém na recepção ao falar ou tirar uma foto.

Peguei um dos cabides de madeira resistentes do armário de Nikolai e coloquei


seu casaco e camisa em cima. Quando o escovei para tirar um fiapo da frente do casaco,
ouvi barulho de papéis. Curiosa, enfiei a mão no bolso frontal e peguei uma pilha de do-
cumentos dobrados. Eu rapidamente reconheci como a nossa papelada da igreja.

A visão da certidão de nascimento de Nikolai me surpreendeu. Nós achávamos


que seria impossível localizar, mas, aparentemente, aquele padre que Ivan havia mantido
contato tinha sido capaz de encontrá-lo. Olhei para o documento russo e para os deta-
lhes relevantes. O nome de sua mãe era Marina, ela tinha apenas dezesseis anos quando
ele nasceu.

Mas foi o nome de seu pai, que fez meus joelhos fraquejarem. Eu caí na cama e
olhei para o nome em estado de choque e descrença. Maksim Nikolayevich Prokhorov,
chefe de Moscou, era o pai de Nikolai.

Antes que eu pudesse terminar de processar a minha descoberta, Nikolai saiu do


banheiro com apenas uma toalha enrolada na cintura. Ele congelou no momento em que
me viu lendo a certidão de nascimento. Eu esperava que ele ficasse chateado, mas uma
expressão de alívio total brilhou em seu rosto.

—Há quanto tempo você sabe?

Nikolai suspirou e atravessou a sala para se sentar ao meu lado.

—Eu descobri logo antes do casamento.

Peguei a mão dele.

237
—Isso é terrível. Porque padre Semyon entregou para você assim?

—Não foi o padre. Foi seu diácono.

Revirei os olhos.

—Claro.

—Eu não acho que Maksim sabe que eu sei.

—Ele nunca disse nada para você? Nem uma vez?

Nikolai sacudiu a cabeça.

—Não, ele nunca me tratou de forma diferente dos outros homens. Talvez ele a-
inda não saiba.

—Eu duvido muito disso. — Eu estiquei os papéis. —Você acha que um homem tão
poderoso como Maksim permitiria que uma menina de dezesseis anos de idade, colocas-
se o seu nome na certidão de nascimento sem o seu conhecimento? As coisas poderiam
ser diferentes por lá quando você nasceu, mas eles não eram tão diferentes. Além dis-
so, você tem o nome do seu avô.

Ele passou a mão sobre o papel.

—Eu não acho que ele sabia sobre mim quando eu era pequeno. Se ele soubesse,
não teria nunca me abandonado em um orfanato. Mesmo para um chefe da máfia, filhos
ilegítimos são cuidados adequadamente.

Eu pensei em todas as coisas que ele sofreu e fiquei doente.

—Eu sinto muito, Kolya.

Ele beijou minha bochecha.

—Está feito. Não posso voltar atrás e mudar qualquer coisa. Só posso seguir em
frente.

—No início, você disse que achava que Maksim estava tentando se mover contra
você. Ele é seu pai, Nikolai. Será que ele realmente fez isso?

—Eu estava errado. —Nikolai admitiu. —Yuri ligou com uma informação que mudou
tudo. Eu não acho que é Maksim. Acho que é Grisha.

Grisha Gregori Vostrikova, um capitão notório do sindicato em Moscou. Eu tinha


ouvido o nome dele, sussurrado em voz baixa. As histórias de suas violentas explosões
eram lendárias.

238
A bile subiu em minha garganta enquanto eu me lembrava do meu tempo naquela
jaula de cachorro.

—Nikolai, Grisha cheira cravo?

Nikolai ficou ereto. Ele agarrou meus ombros e me virei para encará-lo. Procu-
rando o meu rosto, ele perguntou: — Por quê? Quando você sentiu cheiro de cravo?

—O homem que entrou no quarto e me cutucou na minha gaiola cheirava a cravo.


Foi ele quem disparou nos guardas e colocou a arma na minha cabeça. — Eu esfreguei
minha testa.

—Você não disse nada antes disso. Por quê?

—Eu não achei que isso importasse. Era apenas um cheiro.

Nikolai fechou olhos brevemente. —Ele fuma cigarros de cravo, desde que o co-
nheço. É um perfume que o segue em todos os lugares.

—Eu sinto muito. Eu deveria ter mencionado isso.

—Não. —Ele sussurrou e me puxou para os seus braços fortes. —Você estava
traumatizada. É normal esquecer pequenos detalhes.

—O que Grisha tem contra você, Nikolai?

—Ele sempre teve ciúmes de mim. —Nikolai enfiou os dedos pelo meu cabelo. —
Ivan e eu fomos introduzidos na família por ele. Ele sempre esperou que fossemos como
seus soldados, infelizes, mas depois de alguns anos trabalhando diretamente sob ele, eu
sabia que não poderia lidar com isso por muito mais tempo. Ele era muito violento, muito
macabro. Ele estava constantemente colocando drogas novas nas ruas. Fazia tudo de
maneira irregular. Eventualmente, Maksim me colocou no comando de minha própria e-
quipe. Peguei Kostya e Ivan comigo. Tivemos uma temporada de sucesso em Moscou.

—Mas?

—Mas, então, os rumores começaram. —Disse ele com um pouco de frustração. —


As pessoas começaram a me perguntar se eu estava realmente com a intenção de criar
a minha própria organização. Eu não podia acreditar. Eu nunca quis romper com a famí-
lia. Fiquei feliz com a minha pequena equipe e nosso pequeno, mas rentável emprego .

—Você acha que isso foi Grisha? — Parecia uma coisa sorrateira que ele faria.

—Eu nunca suspeitei dele na época. Ele sempre foi um bom amigo. —Nikolai riu
asperamente. —Agora, eu percebo que ele estava tentando me manter perto para que
ele pudesse me ver melhor.

239
—O que aconteceu depois que os rumores começaram?

—Maksim me chamou para uma reunião privada. Ele me pediu para não ficar con-
tra ele e eu jurei que não tinha intenção de fazer isso. Então ele me ofereceu Houston.
Ele queria expandir a família, e queria que eu viesse aqui e visse se eu poderia fazer
quaisquer incursões. Agora eu estou querendo saber se ele não estava tentando salvar
minha vida por me tirar da mira do Grisha.

—Mas Grisha contratou meu pai para matá-lo.— A terrível verdade me apareceu
finalmente. —E eu fui com ele.

O abraço de Nikolai apertou.

—Você não sabia. Você era tão jovem.

—Agora meu pai está fora e eu aposto que ele está estremecendo Grisha.

—Eu tenho certeza disso. —Nikolai concordou. —Grisha está tentando limpar as
pontas soltas antes que o velho descubra o que ele tem feito por aqui, o tráfico dessas
meninas, tentar me matar e sequestrá-la.

—O que você vai fazer? —Eu tinha um mau pressentimento de que as coisas esta-
vam prestes a ficar muito violentas e muito rapidamente.

—O que eu vou fazer? —A linha sombria de sua boca se curvou em um sorriso di-
abolicamente sexy. Ele andou brincando com o dedo, em cima da minha coxa para a bar-
ra da minha camisola curta. —Eu vou fazer amor com a minha linda esposa. Como isso
soa?

Ele estava tentando me proteger dos detalhes feios do que provavelmente iria
acontecer. Eu não deveria ter cedido tão facilmente, mas a sensação de cócegas de sua
mão avançando ao longo da minha coxa tornou impossível para eu ficar na minha, ele sa-
bia disso.

Rindo, eu caí de volta para a cama. Em um instante, Nikolai estava em cima de


mim. Ele beijou para longe as minhas preocupações, apunhalando a língua entre meus
lábios e girando-a em torno da minha. Sua mão serpenteou sob a minha camisola para o
cume do meu seio. Corri minhas mãos por suas costas e gostava de sua forma física ma-
gra.

A toalha que ele usava caiu. Não se afastando da minha boca, Nikolai deu-lhe um
empurrão para tirá-la do local onde ela estava presa entre nossos quadris e jogou-a no
chão. Minha camisola rapidamente seguiu a toalha.

240
Nua por baixo dele, olhei-o nos olhos. O amor que o consumia, me queimando, me
fez estremecer. Desesperada para ele saber que eu me sentia da mesma forma, levan-
tei-me para pressionar minha boca na dele.

—Eu te amo muito. Aconteça o que acontecer.

—Nós vamos dar um jeito... Juntos. —Ele selou sua promessa com um beijo. —
Você e eu, Vee. Para sempre.

Jurei então que eu faria o que fosse preciso para me certificar de que isso acon-
tecesse. Eu não estava tão bem inteirada das ruas, ou era inteligente como Nikolai, mas
eu não ia deixar nada me parar. Assim como ele faria qualquer coisa por mim, eu faria
qualquer coisa por ele.

A mão de Nikolai desceu na minha barriga e me arrastou de meus pensamentos


conturbados. Ele empurrou minhas coxas abertas e acariciou minha vagina. Ele pontilhou
meus seios com beijos ruidosos. —Você está ferida?

A pergunta fez o meu rosto ruborizar de vergonha, mas eu respondi honestamen-


te.

—Um pouco.

Ele levantou a cabeça e sorriu para mim.

—Deixe-me tentar uma coisa.

Eu esperava que ele saísse da cama e me oferecesse algum remédio, mas ao invés
disso ele mordiscou e beijou o seu caminho pelo meu corpo e escorregou para o chão.
Quando ele arrastou o meu bumbum para a beira da cama e abriu minhas coxas, Engoli
em seco e tentei fechá-las, mas suas mãos fortes me seguraram no lugar. —O que você
está fazendo?

Ele riu e me lançou um sorriso divertido.

—Eu vou beijá-la para curar.

—Você o quê? Não, eu não acho que… Oh Deus! — Eu gritei com o choque encan-
tada quando ele colocou um beijo carinhoso bem em cima do meu clitóris. Ele gentilmen-
te separou minhas dobras delicadas e passou a ponta aguda de sua língua ao longo de
ambos os meus lados. —Oh!

—Fique quieta. —Insistiu ele com uma risada. —Você está prestes a pular para
fora da cama.

241
—Eu não acho que possa. —Eu gemia alto quando sua língua tremulou sobre o cli-
tóris inchado escondido lá. —Oh, Nikolai. Nikolai... Espere... Eu não posso...

—Você pode. —Ele acabou com meus protestos chupando o meu clitóris com suc-
ções longas e lentas. Meus quadris pularam da cama, mas o seu controle apertado sobre
as minhas coxas me impediu de ir muito longe. Ele lambia e lambia minha boceta como
um homem faminto.

Eu me agarrei na cama enquanto sua língua circulou, se agitou e mergulhou dentro


de mim. Eu nunca tinha imaginado que pudesse me sentir assim. Quando minhas amigas
tinham descrito as técnicas que seus homens usavam, eu sempre me sentia incerta, se
gostaria de ter um homem fazendo isso comigo, mas agora? Oh Deus. Eu não queria que
Nikolai parasse.

—Por favor. Por favor... — Pedi-lhe que, mesmo sem saber o que eu realmente
queria. Ele pareceu entender. Aquela sua língua hábil me levou direto para o orgasmo. Eu
rebolava freneticamente enquanto ele sugava e brincava com meu clitóris, provocando
as explosões mais maravilhosas em minha barriga.

—Nikolai!

Ele fez um som animado enquanto continuava a me deixar louca com essa boca
impiedosa. Parecia que um clímax não foi o suficiente para ele, e eu não ia pedir-lhe pa-
ra parar. Foi tão bom. Eu me rendi então, dando-lhe o controle total quando ele foi à
loucura entre as minhas coxas e me fez gozar novamente e novamente e novamente.

Quando ele finalmente teve misericórdia de mim, eu joguei meu braço sobre
meus olhos e tentei recuperar o fôlego. Minha cabeça latejava e minha barriga tremia.
Meu clitóris vibrou e eu não sabia se eu já tinha descido do alto eufórico que ele me
mandou.

Nikolai beijou seu caminho de volta até o meu corpo. Ele passou alguns minutos
apenas apreciando meus seios antes de tirar o meu braço dos olhos para olhar para mim.

—Você está bem?

—Sim. —Eu tenho certeza que estava com um sorriso de satisfação. —Isso foi
incrível.

Ele sorriu antes de dar um beijo lento na minha boca. A intimidade de cheirar a
minha excitação sobre ele me sacudiu até a medula. —Eu pensei que você iria gostar.

—Gostar? — Eu passei meus dedos contra sua mandíbula. —Você quase me matou.

242
—Isso é provavelmente porque os franceses chamam os orgasmos de pequena
morte. — Ele deslizou ao meu lado e colocou a perna sobre a minha.

—Provavelmente. —Eu concordei e rolou do meu lado para encará-lo. A palpitação


entre as minhas coxas tinha aliviado um pouco, mas eu ainda estava tão sensível que o
menor movimento enviava deliciosas ondulações através da minha barriga.

Curiosa, eu explorei seu corpo. Meus dedos traçaram suas tatuagens e cicatrizes.
A sensação de sua pele quente sob minhas palmas me encorajou a beijar seu queixo e
pescoço. Querendo saber se os homens eram tão sensíveis como as mulheres, passei a
minha língua contra seu mamilo. Seu assobio de surpresa me estimulou na minha pequena
experiência. Eu rodei minha língua sobre o disco escuro antes de passar meus dentes
sobre ele.

Seu pênis saltou contra a minha coxa. Aparentemente, ele gostava, tanto quanto
eu. Olhando para baixo em seu eixo rígido, notei as gotas brilhantes que vazam da pon-
ta. Incapaz de me conter juntei a umidade com meus dedos e trouxe-a para minha boca.

Nikolai praguejou enquanto me observava lamber seu pré-sêmen dos meus dedos.
Ele gentilmente agarrou meu pulso.

—Você não tem que fazer isso, Vee. Não precisa.

—Eu quero. —Disse eu, morrendo de vontade de experimentá-lo. —Eu quero fa-
zer você se sentir bem.

—Isso me faz sentir bem. —Ele apontou para a nossa posição confusa. —Nunca se
sinta obrigada a fazer as coisas para mim. Você sabe.

Sua capacidade de colocar a sua satisfação e prazer por último me encheu de


amor. Empurrando-o de costas, eu montei nas coxas dele e me inclinei para beijá-lo.

—E se eu lhe dissesse que costumava fantasiar sobre isso?

Seus olhos e suas narinas se arregalaram.

—Me conte.

Apesar da minha vergonha, eu encontrei a coragem de confessar:

—Eu costumava fantasiar sobre você me chamando para o seu escritório no Sa-
movar para me dar um prêmio por ser a melhor garçonete.

Ele riu.

—Vá em frente.

243
Eu passei meus dedos ao redor de sua ereção e acariciei lentamente.

—Quando eu entrava na sala, você fechava e trancava a porta e dizia para espe-
rar na sua mesa. Então você me dizia que queria ver se eu realmente estava comprome-
tida com ser a melhor servidora da casa.

Ele respirou mais pesado.

—E então, o que acontecia?

—E então você me dizia para me ajoelhar enquanto você desabotoava as calças. —


Minha barriga apertou com entusiasmo e meu coração disparou enquanto eu contava so-
bre as histórias sujas que imaginei com a gente nos papéis principais. —Você me dizia
que estava na hora do meu primeiro teste, e se eu fosse realmente boa, ganharia uma
estrela de ouro.

Os olhos de Nikolai brilharam com a luxúria.

—Eu seria um bastardo mentiroso, se dissesse que nunca sonhei com ideias seme-
lhantes. Este foi um dos motivos de eu raramente chamar você em meu escritório e por
isso que eu sempre mantive a porta aberta. Você me tentava muito. Não confiava em
mim mesmo.

Corri meus dedos para cima e para baixo do comprimento dele.

—Eu confio em você.

Nikolai envolveu sua mão ao redor da minha e guiou-a para cima e para baixo em
seu eixo de aço.

—Diga-me o que você quer, Vee?

Lambi meus lábios.

—Eu quero chupar você.

Sua boca estava inclinada com um sorriso sensual.

—Então eu acho que é hora de sua primeira aula...

244
Capítulo Vinte e Dois

Nikolai acordou com a sensação de cócegas da mão macia de Vivian deslizando ao


longo de suas costelas. Ela aninhou o rosto contra a curva de seu pescoço enquanto ela
explorava seu peito. Ele inalou uma respiração lenta e estendeu a braços acima da cabe-
ça.

—Bom dia. —Disse ela docemente.

—Bom dia. —Ele não sabia se já tinha sido mais feliz do que naquele momento ao
acordar com Vivian, sua esposa em seus braços. Contendo-se para deixá-la acariciar seu
corpo, ele flexionou as panturrilhas e os pés, pelo modo como seus dedos delicados mo-
viam através de sua pele. Quando sua mão mergulhou abaixo do lençol, ele sorriu. Ela
parecia estar perdendo um pouco de sua timidez. Querendo incentivar sua ousadia, ele
estendeu a mão para guiar sua mão direita para seu pênis.

Ela riu baixinho, mas seguiu sua ordem silenciosa. Ele reprimiu um gemido quando
ela acariciou seu pênis.

—Você fica sempre duro assim pela manhã?

Ele achou a sua pergunta divertida.

—Sim.

—Oh. —Ela parecia bastante animada. —Isso significa que nós começamos as ma-
nhãs fazendo amor todos os dias?

Seu comentário brincalhão o lembrou da sua diferença de idade. Sua piada sobre
ele tentando matá-la com prazer, quando ele estava saboreando aquela vagina doce dela
parecia o mais provável para ele. Ele teria quarenta em breve, com uma jovem deliciosa,
esposa, insaciável. Deixar os cigarros e entrar na academia parecia uma ótima ideia, se
quisesse mantê-la.

—Você pode pensar em uma maneira melhor de começar o dia?

—Não. —Sua mão deslizou para baixo no seu saco.

Sua mão fria apalpando sua carne aquecida era bom pra caralho. Ontem à noite,
eles haviam encontrado satisfação usando as mãos e as bocas, mas nesta manhã ele

245
precisava de mais do que isso. Ele desejava a sensação de sua lisa boceta apertando,
segurando seu pau.

Virando, Nikolai prendeu Vivian embaixo dele. Ele agarrou os pulsos em uma mão
e puxou acima de sua cabeça. Desamparada, ela respirava com entusiasmo e lambeu os
lábios. Ele capturou sua boca em um beijo lento e sensual.

—A quem você pertence, Vee?

—Você. —Seus olhos brilharam com tal necessidade. —Só você.

Nikolai beliscou seu seio e fez uma pequena marca com os dentes. Ela gemeu e
arqueou as costas, empurrando seu seio para a sua boca, silenciosamente, implorando
por mais. Ele deu exatamente o que ela queria. Ele chupou seu mamilo escuro entre os
lábios e girou sua língua ao redor do pico carnudo.

Quando se moveu para o outro seio, ela choramingou como um gatinho e envolveu
sua perna em volta de sua cintura. Querendo certificar-se de que ela estava pronta,
Nikolai soltou a mão de seus pulsos para deslizar entre as coxas. Sua respiração ruidosa
estava presa na garganta quando ele esfregou a ponta do dedo sobre o clitóris.

Ontem à noite, ele quase gozou enquanto lambia e chupava o suculento clitóris.
Ela respondeu tão bem a ele. Mesmo agora, com apenas seus círculos de ponta do dedo
ao redor de seu clitóris, ela estava quase gozando. Querendo ver o quão animada ela se
tornava, ele deslizou os dedos por suas dobras cor de rosa e com cuidado a penetrou. O
mel liso, almiscarado já fluía de seu núcleo.

Desesperado para prová-la, ele puxou o lençol e se moveu para baixo de seu cor-
po. Ele empurrou suas coxas abertas e atacou aquela vagina doce dela. Ela gritou e ar-
ranhou a cama enquanto ele mordiscava seu clitóris e passava o lado da língua sobre o
botão inflamado.

Quando ele mergulhou sua língua dentro dela, ela praguejou em russo, as palavras
sujas saíram de seus lábios, como uma ladainha. Ele adorava o som de sua perda de con-
trole e continuou a atormentá-la com seu ataque oral. Sua língua vibrou ao redor de seu
clitóris enquanto ele a penetrava com um dedo curvado. Ele localizou o ponto esponjoso
em sua passagem, e seus quadris saltaram para fora da cama.

—Nikolai!

Sim, ele pensou animadamente. Acariciando seu clitóris com a língua, ele a fodia
com o dedo. Ela vibrou ao redor de seu dedo, ficando mais e mais molhada até que ela
finalmente gozou. Seu pênis pulsava impiedosamente enquanto a ouvia chegar ao clímax.

246
Ela ainda estava ofegante e tremendo quando ele subiu ao lado dela. Agarrando-a
pela cintura, ele a puxou para ele e forçou para uma posição de pernas abertas. Ela o-
lhou para ele com confusão. Segurando a base do seu pênis, deu-lhe uma ordem.

—Levante-se.

Ela apoiou as mãos no peito e fez como ordenou. Atordoada e ofegante de seu
clímax, ela mordeu o lábio inferior enquanto guiava sua boceta molhada para baixo em
seu pau.

—Oh!

Seus olhos se fecharam enquanto ele apreciava a sensação perversa de sua vagi-
na apertada apertando-o.

—Sim.

Olhando incerta, ela sussurrou:

—Eu não sei como.

Seu desejo desesperado para lhe agradar o encheu de amor. Ele nunca trairia sua
confiança nele ou a sua vontade de fazê-lo feliz. Nunca.

Colocando sua parte inferior, ele puxou-a para si, em seguida, empurrou-a para
trás. Ela engasgou quando ele empurrou dentro de seu calor acolhedor.

—Você vai aprender.

Havia algo tão incrivelmente sedutor em seus primeiros movimentos desajeita-


dos. Suas mãos possessivas percorriam suas curvas exuberantes. Ele espalmou os seios
e encorajou-a com palavras gentis. Observar a sexualidade florescer bem na frente
dele, provou ser uma experiência inebriante.

Quando ela ganhou mais confiança, Vivian montava um pouco mais rápido e mais
profundo. Seus quadris balançavam e seus seios saltaram. Ele brincou um pouco mais
áspero com seus mamilos, arrancando suspiros e gemidos afiados enquanto ele beliscava
e puxava os picos rosados.

Ele empurrou o polegar contra a boca.

—Molhe para mim.

Ela chupou o dedo entre os lábios e lambeu-o com a língua. Ele tirou o dedo úmido
e apertou contra seu clitóris. Com a cabeça jogada para trás, ela gritou com entusiasmo
e prazer. Não demoraria muito para ela agora.

247
—É isso aí, Vee. —Ele esfregou seu clitóris enquanto ela montava como uma coisa
selvagem. —Monte meu pau.

Sua expressão escandalizada foi rapidamente superada por uma de puro desejo.
Suas unhas arranhavam sua barriga enquanto ela se aproximava mais e mais perto do
clímax. Ele gemeu quando sua vagina ritmicamente o apertou. A qualquer momento ela
iria gozar.

Quando ela gritou, quando seu orgasmo chegou, ele tinha certeza de que toda a
vizinhança tinha ouvido. Segurando sua cintura, ele se bateu nela até que os músculos
de seu abdômen queimaram. Ainda tremendo, ela caiu para frente contra ele e contra
seu peito que arfava.

Mas ele não tinha conseguido ainda.

Gentilmente, ele a rolou de costas e afundou profundamente em sua vagina es-


corregadia. Ela gemeu e agarrou seus braços.

—Nikolai…

Ele moveu para baixo num impulso frenético para foder com ela. Ele não queria
nada mais do que colocar os joelhos dela nos seus ombros e bater na boceta dela até
que ele gozasse, mas haveria tempo suficiente para esse tipo de acoplamento animal
mais tarde. Hoje, ele queria fazer amor com ela.

Enredando a mão em seu cabelo, ele inclinou a boca para trás e beijou-a. Ela ge-
meu contra seus lábios e se contraiu abaixo dele. Ele fez movimentos longos, lentos,
empurrando nela de novo e de novo. Seu clímax veio com ele de forma gradual. O zumbi-
do em sua barriga que se espalhou através de seu peito. Ele tentou segurar o maior
tempo possível, para aproveitar cada segundo de estar tão profundamente enterrado
dentro de sua esposa, mas o inevitável veio e gozou por fim.

Quando a primeira explosão de sêmen disparou através de seu pênis, ele pressio-
nou o rosto em seu pescoço e rosnou,

—Eu te amo, Vee.

Ela choramingou novamente e abraçou-o com tanta força. Seus impulsos cresce-
ram enquanto ele a enchia com sua porra quente. Nesse momento, uma necessidade pos-
sessiva, o dominou. Imaginou sua semente em solo fértil e criando vida. O pensamento
de Vivian carregando seu filho trouxe lágrimas aos seus olhos, lágrimas que ele escon-
deu, mantendo seu rosto escondido.

248
—Eu te amo, Nikolai. —Ela carinhosamente acariciava suas costas enquanto pres-
sionava beijos suaves ao longo de seu pescoço. Ele piscou e discretamente limpou a umi-
dade do seu rosto antes de olhar para ela. Ele capturou seu lábio inchado e mostrou a
ela o quanto a amava.

Uma insistente batida interrompeu a troca de beijos. Ele ignorou a batida no co-
meço, mas quando ficou mais alto e mais rápido, ele rosnou e se afastou da boca doce.
Relutante em deixá-la, ele sussurrou:

—Eu já volto.

Ela gemeu baixinho quando ele se soltou de seu corpo trêmulo. Furioso por ser
forçado a estar longe dela, pegou a toalha que ele tinha descartado ontem à noite e en-
volveu-o em torno de sua cintura. Ele abriu a porta e gritou:

—O quê?

Kostya não disse uma palavra. Ele abriu a porta, empurrou Nikolai para o lado e
caminhou direto à televisão na parede em frente à cama. Vivian arrastou as cobertas
em volta dos ombros e deslizou para baixo até que apenas seus olhos e o topo de sua
cabeça fossem visíveis. Kostya não prestou atenção, ele ligou a televisão e mudou para o
canal de notícias local.

—Kostya, o que diabos deu em você… —Mas ele nunca terminou a frase. Ele assis-
tiu com horror enquanto a morena âncora da manhã contava os detalhes sórdidos de
uma perseguição policial pela I-45 que terminou com uma batida horrível.

—Fontes da polícia dizem que o assassinato violento de ontem à noite está ligado
a uma testemunha do governo em um próximo julgamento. —Disse ela com entusiasmo
quase sem fôlego. —A pessoa em questão ia testemunhar contra o clube Calaveras de
motociclistas e seus companheiros, o Cartel Guzman.

O coração de Nikolai pulou uma batida. Romero Valero estava morto? Será que
um dos policiais que o protegiam, mataram o filho da puta?

Na tela, um caminhão azul, costurava pelo tráfego da manhã, enquanto dezenas


de carros de polícia com luzes piscando e sirenes corriam atrás dele. Nikolai lembrou o
que Vivian contou a ele sobre o caminhão azul que tinha trazido seu pai na rua em fren-
te à sua casa.

—Os detalhes são vagos no momento, mas aqui está o que sabemos. Um policial
dirigindo o caminhão azul, tentando escapar da captura, parece que o condenado recen-
temente colocado em liberdade condicional teria fornecido informações importantes

249
por isso ele estava sob proteção, acredita-se que o policial possa ter cometido o assas-
sinato brutal ontem à noite em Sugar Land.

O rosto de Romero apareceu na tela e Vivian engasgou. Nikolai se encolheu ante o


horror contorcendo seu belo rosto.

—Desligue Kostya.

—Não. —Vivian disse calmamente. —Deixe. Eu quero saber.

Ele odiava que a sua manhã maravilhosa tinha sido arruinada desta forma. Pegan-
do o olhar de Kostya, ele fez um gesto em direção à porta. Uma vez no corredor, ele
fechou a porta e se virou para Kostya.

—Diga-me tudo o que sabe.

—Parece que Lorenzo Guzman ajudou Romero a fugir para fazer o trabalho sujo.
—Explicou Kostya. —Romero chantageou seu guarda, assim Lorenzo conseguiu a locali-
zação. Ouvi que o policial tinha um filho doente no hospital. Romero provavelmente ame-
açou machucar a criança ou a esposa. Talvez ele tenha oferecido dinheiro para o trata-
mento.

—É isso?

—Se você tivesse assistido antes, teria visto o resto do noticiário da manhã. Al-
guém atirou na metade do pessoal do Calaveras na noite passada.

As sobrancelhas de Nikolai se arquearam.

—A metade que ficou contra Romero, tenho certeza.

Kostya assentiu.

—Sim. E o plano parece ter funcionado. Ouvi dizer que eles queimaram uma dúzia
desses skinheads no início desta manhã.

—Isso é algo positivo. —Nikolai esfregou o rosto com as duas mãos. —Onde está
Romero agora?

Kostya ergueu as mãos. —Ele provavelmente está longe agora. Tenho certeza de
que Guzman tinha um avião esperando por ele.

Nikolai sacudiu a cabeça e olhou para a porta do quarto fechada.

—Não, ele ainda está aqui. Ele tem negócios inacabados.

—O que você quer que eu faça, chefe?

250
—Encontre-o. —Disse baixinho. —Você terá que fazer sem sair daqui. —Nikolai
apontou em direção ao chão. —Eu estou confiando Vivian para você. Isso é muito para
Sergei ou Danny.

Kostya tocou o peito.

—Com minha vida.

Nikolai não tinha dúvidas de que o seu braço-direito de bom grado daria a sua vi-
da para manter Vivian segura.

—Acho que a polícia estará aqui em breve para nos questionar. Mantenha-os na
sala de estar.

—Feito.

Antes que Kostya pudesse sair, Nikolai colocou uma mão de advertência em seu
peito.

—Não venha para o nosso quarto assim novamente. Esta é a casa de Vivian e ago-
ra ela tem o direito de se sentir segura em sua própria cama.

Devidamente castigado, Kostya baixou a cabeça.

—Entendo.

Nikolai deu no ombro de Kostya um aperto antes de voltar para seu quarto. Ele
encontrou Vivian olhando para a televisão em transe. O lençol tinha caído até a cintura,
revelando seus seios. Mesmo dali ele podia ver as marcas avermelhadas, causadas pela
barba em seu queixo e a marca púrpura que tinha feito quando fizeram amor no estúdio.
Parecia que tinha passado uma eternidade.

—Solnyshko moyo …

—Eu queria dizer que não posso acreditar que ele faria algo assim, mas não estou
surpresa. Estou enojada. Estou horrorizada. Mas não estou surpresa.

A tristeza em sua voz doeu nele.

—Não se sinta culpada por isso. Você não pode mudar o que o seu pai é. Ele toma
suas próprias decisões.

Não querendo que ela ficasse mais deprimida ou chateada, ele atravessou a sala e
desligou a televisão. —Isso é o suficiente. Você precisa se vestir. A polícia estará aqui
em breve. Tenho certeza de que você não quer lidar com eles, mas é melhor acabar com
isso agora. —Ele a ajudou a sair da cama e beijou-a. — Vou ligar para David. Terá o nos-
so advogado para isso.

251
Resignada, ela suspirou alto e desapareceu no banheiro. Suas esperanças de uma
ducha de vapor e a chance de colocar suas mãos gananciosas por todo o corpo dela fo-
ram frustradas. Em vez disso, ele pegou o telefone e ligou para David, que tinha visto a
notícia e já estava a caminho.

Ele tinha acabado essa chamada quando seu telefone começou a vibrar e tocar
novamente. Ele quase não atendeu ao chamado de Ivan, mas algo lhe dizia que era me-
lhor atender.

—Vanya?

—Eu estraguei tudo. — Ele ouviu culpa na voz rouca de Ivan.

Nikolai franziu a testa.

—O quê? Como? Será que você fez algo para perturbar Erin?

—Não, é sobre Vivian.

—Vee? — Ele agarrou o telefone com mais força. —O que você quer dizer?

—Eu prometi a ela que iria me certificar de que Santos chegasse em casa depois
da recepção, com segurança. Vi ele sair com duas mulheres e não fiz nada. Eu estava
muito ocupado tentando levar Erin casa para que pudesse...

—Vanya. —Ele interrompeu e beliscou a ponte de seu nariz. —O que você está
tentando me dizer?

—Eu liguei para Santos na manhã de ontem para ver se ele tinha chegado bem em
casa, mas ele não respondeu. Presumi que ele estava de ressaca, então esperei, mas es-
ta manhã comecei a me preocupar. Estou na casa dele agora.

—E?

—E a porta foi arrombada. Há sangue no chão. Já chamei a polícia. Eles estão a


caminho. Achei que você deveria saber. — Ele hesitou. —Tem a ver com a gente? Sobre
Grisha?

—Você falou com Yuri?

—Sim.

—Você viu a notícia esta manhã?

—Sobre Romero? Erin me ligou. Ela está preocupada com Vivian.

Nikolai olhou para o banheiro.

252
—Diga a ela para não se preocupar. Vou mantê-la segura.

—O que precisa que eu faça?

Nikolai sorriu tristemente para a disposição de Ivan em ajudar. —Eu preciso que
você fique de fora. Você deixou essa vida para trás e por boas razões. Diga a polícia a
verdade e então vá para casa e fique perto de Erin. Esta é minha bagunça, Vanya.

—Se você mudar de ideia…

—Eu sei. Você está comigo.

—Sempre, irmão.

Nikolai terminou a chamada e se sentou na beirada da cama. Ele deixou cair o te-
lefone sobre o edredom e segurou a cabeça entre as mãos. Se Santos ainda estava vivo,
ele provavelmente desejaria não estar. Não havia nenhuma dúvida na cabeça de Nikolai
que Grisha o tinha sequestrado, Grisha tinha prazer em infligir dor. Por que ele tinha
sequestrado o detetive, era um mistério para Nikolai. Não que o motivo importava.
Qualquer que fosse seus desentendimentos com o primo de Vivian, nunca deixaria o ho-
mem morrer.

Vivian saiu do banheiro enrolada em uma toalha. Ela tinha outra firmemente pre-
sa em torno de seu cabelo molhado. Seus batimentos cardíacos aumentaram quando ele
estendeu a mão se preparando para contar a ela sobre Eric.

—Venha aqui, querida.

Ela se recusou a mover-se e agarrou a frente de sua toalha.

—O que está errado?

—Venha aqui.

Relutante, ela forçou seus pés para se mover e permitiu que ele a puxasse para o
seu colo. Ele tirou a toalha em torno da cabeça e a deixou cair no chão. Depois de pas-
sar os dedos pelo cabelo molhado, ele arrastou-a para um beijo apaixonado. Ela gemeu e
deslizou os braços ao redor de seu pescoço enquanto suas línguas dançavam.

Ele aliviou o beijo e olhou para seu rosto doce. Não havia outra maneira de dizer
isso, a não ser sem rodeios.

—Eric sumiu.

Assustada com a informação, ela começou a chorar.

—Mas eu o vi na nossa recepção e Ivan me prometeu...

253
—Ele viu Eric sair com duas mulheres e ele o procurou na manhã seguinte. Quan-
do ele não respondeu, foi à casa dele, nesta manhã. Ele viu sinais de luta e chamou a po-
lícia.

—Meu Deus. —Ela chorou ainda mais. —Isso é por causa de nós?

Ele não ia mentir para ela.

—Sim.

Ela levantou de seu colo e virou as costas.

—Eric me avisou. Ele me disse o que aconteceria se nós nos casássemos. Isto é
minha culpa. Eu fiz isso para minha família. Trouxe isso para a vida de Eric.

Nikolai se encolheu com seu exagero. Ele não acreditou por um instante que ela
se arrependeu de se casar com ele, mas isso não fez suas palavras doerem menos.

—Vou trazê-lo de volta.

Ela girou para encará-lo.

—Como?

—Eu vou encontrar um caminho. —Ele se levantou e foi para o banheiro para que
pudesse tomar banho e se vestir. Este ia ser um longo dia.

Vivian pegou sua mão e parou.

—Eu sinto muito pelo que eu disse.

Ele usou os polegares para escovar a umidade do rosto dela antes de reivindicar
sua boca.

—Nós vamos passar por isso. Passamos por pior.

—Eu estou cansada de lutar arduamente através da lama, Nikolai. Isso vai melho-
rar certo?

Ele não queria fazer uma promessa que não podia cumprir. Ao contrário, ele bei-
jou sua testa.

—Acredito que sim.

Ela bateu em seu peito nu.

—O chuveiro. Se vista. Vou ficar pronta e descer para fazer o café.

Nikolai segurou com força a mão dela.

254
—Não fale com a polícia até depois que eu falar com David. Se a virem, mostre a
sala de estar, ofereça um café, mas nada mais.

—Tudo bem.

Com suas instruções dadas, Nikolai fechou-se no banheiro e correu para seu ba-
nho da manhã e fazer sua barba rotineira. No momento em que ele saiu para se vestir,
ela já tinha feito à cama e descido. Ele escolheu seu traje habitual, de gravata. Esta
manhã a sua aliança de casamento parecia mais natural em seu dedo. Ele começou a a-
preciar a familiaridade reconfortante de seu peso.

Lá embaixo, Sergei apontou para a cozinha, para que ele soubesse onde Vivian es-
tava. Encontrou-a vestindo um avental e lutando com ovos e distraída por um momento
simples, em uma cena doméstica. Isso era o que ele queria para ela. Sem primos desapa-
recidos, ou capitães russos loucos, ou pais assassinos em fuga.

Só isso. Simples. Fácil. Normal.

Mas ele não podia ter isso, a menos que terminasse este negócio de uma vez por
todas. Custe o que custar, ele tinha que conseguir.

Antes deles terminarem a refeição, David chegou. Ele já tinha anotações para Vi-
vian e sentou-se à ilha para treinar suas respostas ao interrogatório. Quando os dois
detetives em busca de seu pai e Eric chegaram, ele os levou para a sala e depois buscou
Vivian na cozinha. Ela tremia de ansiedade, mas bravamente enfrentou a polícia. Ela fa-
ria qualquer coisa para encontrar Eric e começou a esboçar as duas mulheres que tinha
visto dançando com ele na recepção.

Os detetives deixaram claro que não tinham perguntas para ele, então ele apro-
veitou a oportunidade para recuperar o pacote de cigarros escondido em seu escritório.
Ele passou os dedos pelo isqueiro que manteve consigo em todos os momentos. Seus
sentimentos conflitantes em relação a Maksimm, seu pai biológico, brotavam dentro
dele.

No quintal, ele gostou do ar frio. Subindo e descendo as vias pavimentadas que


cuidadosamente tinha construído, Nikolai acendeu um cigarro, seu primeiro em semanas,
e contou com o prazer inicial. Ele não gostava que Vivian se decepcionasse, mas ele tinha
um pressentimento de que ela iria ignorar este.

Ele estava na metade do cigarro quando seu celular vibrou em seu bolso. Ele olhou
para o alerta de mensagem de texto. Não reconhecendo o número, ele abriu a mensa-
gem de texto e a foto anexa. Ele virou o telefone, abriu a foto e quase engasgou. A casa

255
era de uma cor diferente agora, mas ele nunca esqueceria. Não havia dúvidas quanto à
identidade do remetente.

Você sabe o que eu quero.

Nikolai tinha uma boa ideia do que Grisha queria. Ele. Morto.

Ele olhou de volta para a casa onde Vivian estava cercada em segurança por Ser-
gei, Kostya, Danny, policiais e um advogado. Ele digitou.

Vamos acabar com isso agora.

Com uma última tragada em seu cigarro, Nikolai jogou a ponta no chão e esmagou
sob o seu sapato. Ele foi direto para a garagem, deslizou atrás do volante de seu carro,
e abaixou a viseira para revelar a pistola que mantinha escondida lá em cima. Depois de
verificar, ele recarregou a pistola e a colocou nas proximidades.

Alguém não sairia vivo e ele seria condenado se fosse ele.

256
Capítulo Vinte e Três

Sentada no sofá de frente com os detetives, eu tinha uma visão perfeita das ja-
nelas com vista para o jardim da frente. Eu não pude acreditar quando vi Nikolai diri-
gindo para longe da casa. Suas janelas eram de cor escura o suficiente para que eu não
puder ter certeza absoluta de que ele estava ao volante, mas nunca tinha visto ninguém
dirigir seu carro.

Eu disfarcei bem e continuei a responder às perguntas. Quando relatei a visita


que recebi do meu pai na galeria, observei o carro SUV prateado de Sergei lentamente
sair da casa. Sem dúvida Kostya o tinha enviado atrás de Nikolai. Meus níveis de ansie-
dade começaram a disparar. O que diabos estava acontecendo?

Quando os detetives concluíram o interrogatório, rezei que fossem embora da


nossa casa rapidamente. David demorou um pouco mais para sair pela porta da frente,
mas ele saiu finalmente. Quando as pessoas tinham ido embora, procurei Kostya e o en-
contrei gritando ordens pelo telefone em seu escritório. Ele me viu e fez uma careta.

Levantando a mão, ele terminou a sua chamada e guardou o telefone.

—Eu não sei onde ele foi.

Pânico tomou conta de mim. Se ele tivesse ido sozinho atrás de Grisha? Meu cé-
rebro começou a calcular as opções.

—Seu carro tem GPS.

Kostya balançou a cabeça.

—Ele desativou meses atrás. Você tem alguma ideia de onde ele possa ter ido?

—Ele provavelmente está tentando encontrar Grisha.

Os olhos de Kostya se arregalaram.

—Grisha? De Moscou?

Eu balancei a cabeça.

—Nikolai suspeita que ele é o único mentor de tudo isso. —Eu fiz uma careta com
confusão. —Ele não te disse?

257
—Não. —A resposta cortada de Kostya mostrou tal desagrado.

—Oh Deus.

—Acalme-se. —Kostya tocou meu ombro. —Como dizem por aqui, este não é o seu
primeiro rodeio. Ele não teria deixado você sem dizer adeus, se ele não tinha a intenção
de voltar.

Ele queria que fosse reconfortante, mas ele só me assustou muito mais.

—Kostya...

—Eu vou encontrá-lo. Sergei foi apenas a uma curta distância atrás do chefe. Vai
dar tudo certo. Ele estará em casa em breve.

Sentindo que Kostya queria se livrar de mim para que ele pudesse voltar a encon-
trar Nikolai ou Grisha, girei em meus calcanhares. À beira de hiperventilar, saí do es-
critório em transe e entrei na biblioteca. Fechando a porta atrás de mim, caí no chão e
comecei a chorar. Primeiro Eric some e agora Nikolai. Eu não tinha dúvidas de que Gri-
sha o havia atraído para longe da casa.

O monstro com aroma de cravo dos meus pesadelos não iria concordar com uma
simples troca por Eric. Ele queria sangue, sangue meu e de Nikolai. Eu não podia deixar
o meu marido morrer. Não agora. Não depois de tudo o que tínhamos conseguido sobre-
viver todos esses anos.

Mas o que eu faço?

Cercada por pilhas e pilhas de presentes de casamento, tentei pensar em alguma


coisa, qualquer coisa, que pudesse me ajudar a descobrir onde Nikolai tinha ido. Eu nun-
ca me senti mais fora dos meus pés em minha vida. Ocorreu-me que, se tivesse ficado
no caminho que meu pai escolheu para mim, estaria em uma posição muito melhor para
ajudar o meu marido agora. A ironia não me escapou.

Meu pai...

Suas palavras de despedida naquela noite na galeria me bateram de novo. Ele fez
uma observação sobre o meu casamento e me dar um presente.

De repente, fui levada de volta para o meu nono aniversário. Ele estava em liber-
dade condicional na época e proibido de me ver por meus avós. Como se isso o tivesse
impedido. Eu tinha ido lá em cima numa noite para encontrar um presente de aniversário
colocado na minha cama. Dentro tinha descoberto um simples telefone celular com um
número de telefone programado nele.

258
Fiquei em pé e comecei a derrubar as caixas em busca de uma etiqueta de pre-
sente com a letra do meu pai. Eu acreditava com todas as fibras do meu ser que iria
encontrar um. Meu velho era nada, se não sentimental.

Assim que comecei a me desesperar e duvidar, o encontrei. Uma caixa prateada


envolvida com tule branco parecia indefinida e genérica o suficiente. A etiqueta oval
tinha uma etiqueta rabiscada, nela tinha um R.

Eu arranquei a caixa, rasgando o tule e o papel como um gato, e despejei o conte-


údo sobre o tapete. Um novo telefone e carregador caíram com um baque. Peguei o te-
lefone e apertei o botão de ligar. Ele tinha a bateria completa e uma mensagem de tex-
to à minha espera.

Se precisar de mim...

Eu nunca precisei do meu pai. Querendo ou não ele para mim era uma incógnita.

Mas eu tinha que tentar. Pelo amor a Nikolai, tentaria qualquer coisa, mesmo que
isso significasse fazer um acordo com o meu diabo pessoal.

Com os dedos trêmulos, bati na tela e disquei o número que tinha enviado com a
sua mensagem. O telefone tocou duas vezes antes de responder. Não houve saudação
animada.

—Se você quiser salvar o seu marido e seu primo, vista o casaco e me encontre lá
fora agora.

—Agora? —Fui até a janela da sacada e olhei para a rua. Eu não vi nada.

—Estávamos esperando sua ligação. Eu estava prestes a recorrer ao plano B.

Eu duvidava que tivesse gostado muito do Plano B.

—Quem somos nós?

—Você verá em breve. Estamos descendo a rua. Não haverá muito tempo.

Embora meu estômago virasse violentamente e meu coração estivesse disparado


tão rápido que eu tinha certeza que teria um ataque cardíaco, me afastei da janela e
corri pela biblioteca até a porta. Eu corri para a porta da frente, agarrei o meu casaco
do cabide na entrada. A porta de vidro fez um barulho rangendo enquanto a abri.

O barulho alertou Danny e Kostya que vieram correndo para a varanda atrás de
mim. Eu ignorei seus gritos e corri pela calçada até o carro preto lustroso correndo pe-
la estrada.

259
Antes que eu chegasse, a porta dos fundos se abriu. Eu não pensei duas vezes.
Praticamente mergulhei dentro. A porta se fechou e o carro correu para longe da casa
de Nikolai e dos homens que ele tinha confiado para cuidar de mim. Eu estava fazendo a
coisa mais corajosa que nunca, ou a mais estúpida.

—Coloque o cinto de segurança. Eu não quero que a mãe dos meus futuros netos
acabe morta em um acidente de carro.

A voz grave com sotaque em russo momentaneamente me surpreendeu. Meus o-


lhos finalmente se acostumaram à penumbra do carro com janelas fortemente escuras.
Eu percebi que não estava sentada ao lado de meu pai. Não, eu estava sentada ao lado
do pai de Nikolai.

Maksim Prokhorov arqueou uma sobrancelha branca espessa. Recusando-me a in-


terrogá-lo, peguei meu cinto de segurança e coloquei no lugar. Meu pai virou-se do ban-
co do passageiro da frente. —Nós não temos muito tempo. Você tem que fazer uma es-
colha.

—Uma escolha? —Eu rangia nervosamente. —Que escolha?

Maksim deu um olhar gélido para mim.

—Você decide, agora e aqui. Quer ser uma esposa da máfia ou uma viúva da má-
fia?

—O quê? —Eu agarrei o meu casaco com força contra o peito. —Eu não entendi.

—Eu sei onde Grisha está segurando seu primo e meu filho, mas o motorista não
vai nos levar lá até que você decida o que você quer com o meu Nikolai.

—Você está me chantageando?

—Eu prefiro persuasão.

—E daí? Quer que eu prometa que não vou tentar fazer Nikolai deixar sua famí-
lia? É isso?

—Basicamente. —Maksim concordou. —Ele te ama mais do que ele jamais vai nos
amar, mas não posso deixá-lo sair.

Não houve tempo para considerar as opções ou possibilidades.

—Eu o amo. Eu quero que ele viva. Mesmo que isso signifique que estaremos pre-
sos nesta vida para sempre.

Um sorriso frio curvou a boca de Maksim.

260
—Eu sabia que ia gostar de você.

O motorista virou a esquerda bruscamente e acelerou. Evitando o olhar frio de


meu sogro, perguntei:

—Onde vamos?

—Onde tudo começou. —Maksim disse asperamente.

Meu pai pegou aquele facão horrível dele e começou a limpar a lâmina brilhante.

—E onde tudo termina.

Embora ele não tivesse conduzido por este bairro de classe média desde aquela
terrível noite de abril, quando ele quase matou Vivian, Nikolai não teve qualquer pro-
blema em encontrar a casa em questão. Ele estacionou em um beco a poucos quarteirões
e caminhou até o muro de trás da casa.

Durante o boom imobiliário, a área tinha sido desvalorizada no mercado imobiliá-


rio. Ele e sua equipe fizeram uma matança em bairros como estes. Eles tinham compra-
do barato, feito algumas melhorias e vendido a preços altíssimos.

Com a queda do mercado imobiliário, o bairro estava sofrendo como muitos ou-
tros. Ele viu um número chocante de placas de venda. Se ele tivesse alguma preocupa-
ção em ser visto ou denunciado, ele não tinha agora. O bairro estava vazio.

Seus pensamentos se voltaram naturalmente para o dia que ele sozinho conseguiu
salvar Yuri e Lena de Katya e Jake. O bairro antigo de Lena parecia uma zona de guer-
ra, mas, foi fácil entrar e sair sem ser visto. Saber que Grisha estava por trás de Kat-
ya, fez com que as semelhanças entre aquele e esse dia fossem muito estranhas.

Ele entrou no quintal por um portão lateral e foi até a porta que dava para a cozi-
nha. Mesmo antes dele entrar, o ritmo da música tocando chegou a seus ouvidos. Se
Grisha estava torturando Eric, ele gostaria do som para cobrir seus pecados.

O odor de vômito e de decomposição atingiu Nikolai na cara quando ele entrou na


casa. Ele orou para que não fosse o corpo de Eric que cheirava. Vivian nunca se perdoa-
ria se ele fosse assassinado.

261
Ele atravessou a cozinha o mais silenciosamente possível. Parecia exatamente
como ele se lembrava da última vez em que esteve aqui. O azulejo, as bancadas e as co-
res de tinta desbotada eram exatamente as mesmas.

Mas, os dois cadáveres loiros apoiados na mesa de jantar eram novos.

Não disse Ivan, que tinha deixado Eric com duas loiras? Sem dúvida, estas foram
as infelizes mulheres que Grisha pagou ou manipulou para atrair Santos para longe da
recepção. Elas, obviamente, foram para casa com ele, e depois? Será que o atacaram?
Grisha estava à espreita?

Naquele momento, Nikolai percebeu que Grisha tinha ido ao fundo do poço do ca-
ralho. Seu fascínio macabro com exposição dos mortos era pura insanidade. Isso pode
ter começado como uma disputa territorial estúpida e simples inveja na Rússia, mas ele
tinha ido a lugares loucos que Nikolai provavelmente não poderia sequer compreender.
Grisha era louco e extremamente perigoso.

De repente, a arma escondida em sua cintura não parecia proteção suficiente. Ele
questionou sua decisão de sair sem informar Kostya. Um pouco de apoio teria sido bom
agora.

Barulho no andar de cima chamou sua atenção. Era o detetive? Ele ainda estava
vivo? Ferido? Sangrando até a morte?

Nikolai reuniu sua coragem e subiu as escadas. O cheiro metálico amargo de san-
gue fresco se tornou mais forte quando ele cautelosamente subiu para o segundo andar.
Conhecendo o humor negro de Grisha, ele imaginou que Santos estava no quarto princi-
pal, onde Nikolai tinha atirado em Vivian.

Com o coração batendo na garganta, Nikolai abriu a porta. Ele hesitou antes de
pisar dentro da sala estranhamente acolchoada. Grisha cobria as janelas e paredes com
painéis de amortecimento de som. Ele copiava a maneira de limpeza de Kostya de colar
plástico sobre o chão. A preparação cuidadosa indicava que Grisha tinha estado aqui há
algum tempo, esperando por sua chance de atacar.

Suspenso por seus tornozelos em um gancho colocado no teto, Eric lutava para se
libertar. Suas mãos estavam amarradas atrás de suas costas e ele tinha sido amordaça-
do. Seu corpo nu ostentava, muitos hematomas e pequenos cortes. Os cortes finos de
navalha que cobriam a barriga, costas e peito eram semelhantes aos que Nikolai tinha
visto nos corpos desovados no Samovar. Sangue e suor empoçavam no plástico embaixo
dele.

262
—Jesus Cristo. —O sussurro rouco de Nikolai soou incrivelmente alto na sala. O
olhar de pânico de Eric pulou para o seu rosto. Ele torceu para ver melhor, mas tinha
que continuar a piscar por causa do sangue correndo pelo rosto.

Nikolai olhou ao redor do quarto, mas não viu Grisha escondido em qualquer lugar.
Sem dúvida, ele estava escondido em alguma outra parte da casa. Ao invés de procurá-
lo, Nikolai correu para ajudar Santos. O homem estava ferido, mas ele ainda podia ser
útil. Dois eram muito melhores chances do que um.

Sem palavras, Nikolai tirou uma faca da bainha da bota que ele levava a todos os
lugares. Ele puxou a mordaça da boca do detetive antes de serrar as cordas dos torno-
zelos.

—Depressa. —Eric sussurrou. —Ele está no banheiro no corredor. Acho que ele
deixa o seu cachimbo de crack lá.

—Crack? —Nikolai conseguiu deixar uma das pernas de Eric livre. O peso adicio-
nado a um só tornozelo ainda amarrado do detetive o fez grunhir. Nikolai tentou segu-
rá-lo enquanto ele cortava o segundo conjunto de grossos nós.

—Esse cara é alto como uma porra. Ele está fumando crack e cheirando metanfe-
tamina. Ele é um psicopata. — Ele estremeceu violentamente. —Eu acho que ele estava
fazendo isso com aquelas garotas mortas. Os sons de lá de baixo...

—Chega. Nikolai o interrompeu. Ele não queria ouvir todos os detalhes repugnan-
tes. Ele queria Eric livre, matar Grisha e dar o fora daqui.

—Ah-ah-ah. —Aparecendo na porta, Grisha ameaçadoramente sacudiu um fuzil


para eles. —Você está tentando roubar o meu brinquedo?

Nikolai não podia acreditar na mudança no homem que uma vez tinha considerado
um amigo. Magro e acabado, Grisha parecia como se estivesse em uma farra de metan-
fetamina há uma semana. Ele coçou uma das feridas em seu pescoço. —Você sempre foi
um filho da puta ganancioso, Nikolai.

Na esperança de proteger Santos, Nikolai lentamente apoiou o pobre homem que


ainda pendia em uma perna.

—Eu me lembro de você sempre estar querendo mais do que sua parte justa e a-
fundando os negócios.

—É, um homem precisa comer. —Os olhos de Grisha se estreitaram. —Nem todos
tem a sorte de nascer filho de Maksim Prokhorov.

263
Nikolai tentou calcular se ele poderia pegar sua pistola rápido o suficiente. Os ti-
ros do fuzil o atingiriam, mesmo se ele conseguisse dar a volta.

—Há quanto tempo você sabe?

—Sobre o seu pai? Não muito tempo. —Grisha admitiu. —Eu sempre me perguntei
por que ele te mandou aqui, quando os rumores começaram.

—Os rumores que você começou. —Ele interrompeu.

—É claro. —Grisha confirmou com uma risada ácida. —Largue a arma que está por
trás de suas costas. Lentamente. —Acrescentou. —Eu odiaria ter que te matar antes de
me divertir.

Nikolai manteve a faca escondida atrás das costas, mas tirou a pistola da cintura
e jogou como ele ordenou. Ele decidiu manter Grisha falando.

—Por que você começou esses rumores?

—Eu vi o jeito que você estava vindo atrás de mim. —Grisha chutou para o lado a
arma. —Você estava com tanta fome de provar a si mesmo. Você e aquele maldito gorila,
Ivan. Eu sabia que era só uma questão de tempo antes que vocês dois me substituíssem.
—O rosto de Grisha estava contorcido de raiva. —Maksim teria matado qualquer um,
por causa desses rumores, mas não você. Não, ele lhe deu este lugar.

—E isso só o irritou ainda mais. —Nikolai corretamente adivinhou.

—Aqui deveria ter sido meu. Todo esse mundo novo para ganhar, e o que você fez
com ele? Hum? —Grisha praticamente cuspiu a palavra. —Você tirou seus homens do
dinheiro sujo, do dinheiro fácil, muito dinheiro, para esta merda limpa. Foi uma desgra-
ça.

—É um mundo diferente aqui. Quando um homem fica grande e chamativo é envi-


ado para a prisão.

—O que importa? Quantas vezes você já esteve atrás das grades? A prisão deve
ser para você como voltar para casa. Além disso, tenho certeza de que você encontraria
muita coisa para mantê-lo ocupado lá dentro. Um menino bonito como você provavelmen-
te gosta de todo tipo de atenção. Você toma no cu desde que você tinha... O quê? Oito?

O riso de zombaria de Grisha enfureceu Nikolai. Ele se recusou a ser instigado


pelo maluco e tentou manter a calma. Preso no quarto com Santos que permanecia amar-
rado e indefeso, as opções de Nikolai eram poucas. A faca que ele havia escondido atrás
das costas poderia dar-lhe uns poucos segundos, mas só alguns.

264
—Eu não posso acreditar que você se casou com aquela vadia que tentou matá-lo.
—Grisha continuou a reclamar. —Eu deveria ter pensado melhor antes de confiar na
porra do agiota para contratar alguém.

Agiota? Afrim Barisha tinha sido o intermediário entre Grisha e Romero? Agora
seu assassinato fez mais sentido para Nikolai. Essa tinha sido a primeira ponta solta
que Grisha tinha embrulhado quando Romero foi libertado da prisão. Ele provavelmente
se preocupava que Afrim finalmente confessasse a Besian, que teria corrido para Niko-
lai com essa notícia.

—O que há de tão especial nela, hein? — Grisha inclinou a cabeça como se esti-
vesse verdadeiramente perplexo. —Talvez eu devesse ter testado, quando a tive naque-
la jaula de cachorro. Ela tinha uns peitinhos mais tentadores que eu já vi. —Ele começou
a rir. —Você deveria ter ouvido os sons que ela fazia quando batia nela com o marcador
de gado. Gritou como um bebê porco!

Sua descrição do tormento de Vivian enojou Nikolai. Quando Grisha empurrou o


dedo no nariz e começou a fazer sons guinchando, Nikolai agradeceu a oportunidade. Ele
colocou sua mão para trás e jogou a faca direto em Grisha. A lâmina afiada bateu no
peito de Grisha e apunhalou profundamente em seu alvo.

Sufocando com o choque, Grisha puxou a lâmina de seu peito. O sangue jorrou da
ferida. Gritando com raiva, ele levantou o fuzil, mas Nikolai correu antes que ele pudes-
se atirar.

Com a arma entre eles, se socaram e bateram um no outro. Esta era uma luta até
a morte, Nikolai tinha de ser o único a sair vivo. Por Vivian, ele tinha que ganhar.

Grisha teve a vantagem apenas o suficiente para bater a coronha da arma no


queixo de Nikolai. A explosão do impacto sacudiu seu cérebro ainda se curando. Afeta-
do pelo golpe, ele perdeu o equilíbrio por alguns segundos. Foi tempo suficiente para
Grisha derrubá-lo no chão.

Recusando-se a cair sozinho, Nikolai agarrou a frente da camisa de Grisha e o ar-


rastou para o chão. Grisha acabou em cima dele e apertou o cano da arma contra a gar-
ganta de Nikolai. Ele parecia decidido a estrangulá-lo. Nikolai reagiu, empurrando a ar-
ma em seu pescoço, mas Grisha tinha a melhor posição e forçou de volta com o seu peso
de corpo inteiro.

Nikolai arranhou os olhos e o rosto de Grisha, o rosto de seu outrora amigo. Gri-
sha gritou enquanto o sangue escorria pelo seu rosto, mas ele só empurrou com mais
força sobre a arma. Com o canto do olho, Nikolai podia ver Eric lutando para se soltar.

265
Ele balançou o peso do corpo com força suficiente para deslocar o tornozelo em uma
tentativa desesperada de se libertar.

Duvidoso de que Eric conseguiria ficar solto, Nikolai concentrou toda a sua força
em obter a arma fora de sua garganta. Sua visão começou a ficar irregular, quando os
pulmões sem oxigênio começaram a falhar e com ele o seu cérebro.

Ele não ia morrer assim. Ele se recusava a deixar Vivian viúva.

—Depressa! —O apelo desesperado de Eric superou os grunhidos e sons guturais


saindo das bocas de Nikolai e Grisha.

Depressa? Com quem diabos ele estava falando?

E então, como o maldito Anjo da Morte, Romero Valero apareceu sobre o ombro
de Grisha. Ele levantou o braço, trazendo a reluzente lâmina de seu facão erguida no ar
antes de balançar para baixo na direção do pescoço de Grisha.

Nikolai fechou os olhos no último segundo. Grisha fez um ruído surpreso quando a
lâmina bateu em seu pescoço. O sangue quente pulverizou o rosto de Nikolai. O peso do
corpo de Grisha caiu sobre ele. Outro jorro de líquido quente derramou sobre ele quan-
do o facão terminou o seu movimento de corte. Um momento depois, o corpo foi deslo-
cado para longe dele e para o chão.

Nikolai rolou para o lado e ficou de joelhos. Ele limpou o sangue de seu rosto e
olhos com a bainha de sua camisa. Precavido, ele olhou para Romero, que estava sobre o
corpo ensanguentado de Grisha, enquanto limpava seu facão com um pano que tinha ti-
rado de um bolso.

—Seja bem-vindo. —Disse Romero, finalmente, com a voz rouca tingida com di-
versão. —Eu comprei à bela Vivian um conjunto de cristal, mas pode considerar este o
meu presente de casamento para você.

Nikolai não achou nem um pouco engraçado.

—O que você está fazendo aqui?

Romero avançou para Eric, mas Nikolai se colocou entre eles. O sogro parecia
bastante divertido com a visão de um chefe da máfia protegendo um detetive.

—Minha filha precisava de mim. Decidi que talvez fosse hora de finalmente fazer
algo por ela.

—Onde está a Vivian? —Ele não queria nem pensar no que ela tinha prometido a
seu pai em troca de sua ajuda.

266
—Ela está tendo uma boa conversa com seu sogro.

Chocado. Sogro? O sogro.

—Maksim está aqui?

—Sim. —Romero contornou-o e fez um gesto para os nós da corda que suspendia
Eric. Nikolai recuou apenas o suficiente para deixá-lo libertar o detetive. —Ele e eu
temos um entendimento. Você e Vivian ficam em Houston. Recebo o comércio de armas
da Rússia, no México.

Nikolai estreitou os olhos.

—Mas Lorenzo...

—Lorenzo conseguiu o que queria. Cuidei de dois problemas para ele. Os Calaveras
não vão sair da linha novamente e entrar em qualquer coisa desagradável, como traficar
meninas menores de idade do terceiro mundo, e ele não tem que se preocupar em ter
qualquer de suas conexões políticas no norte da fronteira exposta. Em outras palavras,
bons negócios.

Romero cortou as cordas atadas e Eric caiu no chão com tanta força que Nikolai
estremeceu. Nikolai se agachou para ajudá-lo a rolar de costas. —Fiquei quieto. Você
está muito tonto para se mover.

Santos não lutou contra ele. Ele gemeu e apertou os olhos fechados como se esti-
vesse com dor. Ele provavelmente tinha uma dor de cabeça do inferno.

—Foi uma boa jogada que você fez. Conseguindo que os Hermanos e albaneses fi-
zessem a paz. —Esclareceu ele. —Enquadrar esses skinheads foi um toque agradável.
Deus sabe que eles mereciam sua vez na frente de um juiz.

Para um homem que tinha ficado preso por mais de uma década, Romero parecia
ter mantido todos os seus contatos.

—A propósito, vou deixar esse negócio que você tem entre o irlandês e Lorenzo
quieto, mas não tente invadir meu território de novo. —Ele acenou com o lado do facão.
—Negócios e família, não se misturam.

—Isso vale para os dois lados. —Nikolai ajudou Santos a ficar em uma posição
sentada. —Onde estão suas roupas?

—Eu não sei cara. Ele me drogou. Não me lembro muito.

—O carro está na frente. Vocês dois devem se apressar. Você não quer estar a-
qui quando chamar minha equipe de limpeza.

267
Nikolai olhou ao redor e, finalmente, viu a pilha de roupas no canto. Ele pegou as
calças e camisa, mas deixou o resto. Não havia tempo para deixar Eric completamente
vestido.

Com Santos decente, mas balançando em seus pés, Nikolai acompanhou-o até a
porta. Ele abaixou-se para pegar sua pistola e a faca ensanguentada que Grisha tinha
arrancado de seu peito. Então ele ajudou Eric mancando lá para baixo em sua perna boa.
Na outra, o tornozelo estava muito inchado e provavelmente quebrado ou deslocado, e o
detetive perguntou com alguma descrença:

—Será que estamos realmente o deixando viver?

Nikolai olhou por cima do ombro para encontrar seu sogro observando. Não teria
sido difícil de acabar com o homem mais velho. Ele só tinha o facão para protegê-lo e
Nikolai tinha uma arma totalmente carregada, mas algo parou Nikolai. Lealdade? Grati-
dão? Ele não sabia como chamar.

—Por hoje. —Disse Nikolai, finalmente. Ele não tinha dúvidas de que algum dia em
breve ele iria se arrepender de deixar Romero vivo, mas agora, ele estava mais preocu-
pado em Santos ter atenção médica e encontrar Vivian. A eles havia sido dada uma se-
gunda chance, e ele estava segurando isso em ambas as mãos e nunca deixaria escapar.

268
Capítulo Vinte e Quatro

Mais tarde naquela noite, sob a cobertura da escuridão, Nikolai e eu estaciona-


mos um dos SUVs de sua frota em cima de uma garagem de propriedade de sua organi-
zação. Usando binóculos, vimos o departamento de polícia de Houston e os federais in-
vadirem uma antiga fábrica dos skinheads que Grisha vinha usando para manter todas
aquelas mulheres que tinham sido traficadas.

Depois de largar Eric em uma esquina e chamar o 911 para relatar um homem
drogado e perdido, a gente esperou até que a ambulância e a polícia chegassem para
ajudá-lo. Eu senti que ele ainda estava furioso por meu pai ter ido embora vivo, mas ele
não parecia querer ferir Nikolai.

A verdade não era muito diferente do que a história que Eric tinha oferecido pa-
ra contar. Ele havia deixado de fora apenas os detalhes referentes a Nikolai. Então, a
polícia acreditava que Grisha e meu pai estavam trabalhando juntos para agitar uma
guerra de territórios na cidade.

Com Eric seguro, tínhamos voltado para casa. Eu tinha seguido Nikolai no andar
de cima para ajudá-lo a tomar banho, porque não acreditava que ele não tinha se ferido.
Havia muito sangue. Acho que jamais poderia tirá-lo do seu cabelo. Eu não queria ouvir
os detalhes horríveis do fim de Grisha, mas tinha sido capaz de presumir o que tinha
acontecido, uma vez que meu pai entrou naquela casa com seu facão.

Ser entretida por Maksim tinha sido uma experiência estranha. O homem mais
velho foi amável comigo, mas também, distante e frio. Nikolai ficou furioso que Maksim
me chantageou para tomar a decisão de salvar sua vida, mas estava feito. Não havia co-
mo voltar atrás.

Da mesma forma rápida e inesperada como Maksim havia entrado em nossas vidas
naquela manhã, ele saiu naquela tarde. Antes de ir, ele me entregou um envelope sim-
ples, contendo todas as provas que a polícia precisava para rastrear essas mulheres.
Embora ainda tivesse um quarto inteiro cheio de presentes para abrir, não tinha dúvi-
das de que esse envelope seria o que eu teria mais carinho.

Eu tinha enviado a informação para o departamento de polícia através de Katrina,


que era uma amiga detetive de Eric, que trabalhava na Narcóticos e tinha estado incan-

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savelmente procurando essas pobres garotas. Ela tinha sido compreensivelmente caute-
losa, mas me agradeceu por minha ajuda e prometeu fazer todo o possível para salvá-
las.

E agora aqui estamos nós.

—É uma coisa bonita. —Nikolai murmurou enquanto dezenas de mulheres jovens


foram levadas para fora do prédio e em ambulâncias a espera. Esses homens nojentos
que haviam feito o tráfico estavam alinhados e algemados em frente ao prédio. Eu duvi-
dava que iriam capturar todos os homens responsáveis ou encontrar todas as mulheres
que precisavam de ajuda, mas já era um começo.

—Sim, é.

Nikolai me entregou o binóculo para outra olhada. Eu continuei a assistir ao ata-


que, ele segurou minha mão entre as suas e entrelaçou nossos dedos.

—Eu gostaria de poder prometer que estas serão as últimas meninas que serão
mantidas em gaiolas e vendidas como gado, mas não posso.

Baixei os binóculos e estudei seu rosto bonito na luz do luar entrando através do
para-brisa.

—Eu não sou ingênua o suficiente para pensar que acabe aqui, mas pelo menos
conseguimos ajudar estas.

—É bom finalmente fazer algo de bom.

Depois de todo o horror que tínhamos visto e sobrevivido no mês passado, eu


compartilhei o seu sentimento.

—Há sempre um amanhã, Kolya. Nós não podemos deixar que esse seja o último
bom final.

Seus lábios tremeram com a sugestão de um sorriso.

—É essa a sua maneira de me dizer que tem que haver equilíbrio?

—Talvez.

A expressão de Nikolai ficou tensa. Ele apertou minha mão com mais força. —Eu
sinto muito que não podemos sair Vee.

—Fora? Dessa vida? —Eu balancei minha cabeça. —Isso não importa. Nós esta-
mos juntos. Você está vivo. Eu estou viva. Isso é que é importante.

270
—Maksim deixou claro hoje quando falamos em privado que vai me deixar dirigir
a minha equipe e Houston como eu achar melhor, mas ele ainda vai esperar que eu reali-
ze certas coisas para a família.

—Eu não vou sentar aqui e dizer que eu não estou desapontada. —Se eu queria
que ele fosse sincero comigo, tinha que ser sincera com ele. —Você provavelmente vai
pensar que sou boba e infantil, mas sempre meio que sonhei que seria eu a única a livrá-
lo. Com toda essa confusão sou a única que forçou você a entrar ainda mais profundo,
não é?

—Você não é boba ou infantil de querer o melhor para alguém que você ama. Sal-
vou minha vida hoje. —Ele engoliu em seco. —Se fosse apenas sobre amar você, Vee, eu
estaria fora num piscar de olhos.

—Eu sei.

—Por favor, não duvide do quanto eu te amo.

—Eu não. Nunca. —Eu esfreguei meu polegar sobre a estrela tatuada nas costas
de sua mão. —Isso não significa que vou parar de tentar salvá-lo.

—Eu não posso ser salvo, Vee. Eu sou o que sou.

Eu me mexi no meu lugar e fiquei de joelhos. Inclinando para frente, eu abaixei o


rosto e olhei seus olhos assombrados.

—E eu te amo. Tudo em você. Assim como você é.

—Mesmo que esta seja a nossa vida?

—Temos que escolher o modo como vivemos. Se Maksim diz que você pode co-
mandar em Houston da maneira que você quiser, execute à sua maneira.

—Eu estive nos puxando para fora de negócios arriscados. Tenho feito crescer
os nossos interesses legalmente. Nós realmente ganhamos mais através de meios legais
do que no lado errado da lei. Entre Samovar, os centros de armazenamentos, imóveis,
construção, os lava rápidos, garagens de estacionamento, estamos indo muito bem. Acho
que a maioria de nós realmente está aliviada por estar trabalhando em zonas cinzentas
em vez de totalmente na escuridão.

Eu não podia acreditar que ele estava me contando tudo sobre fluxos de renda
de sua organização.

—Você está na construção desses interesses legítimos por um longo tempo?

Ele balançou a cabeça e olhou para o para-brisa.

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—Naquela noite, que quase a matei, decidi que tinha que mudar. Que tínhamos de
mudar. Nosso negócio não poderia ser construído sobre morte e violência. Tinha que ser
inteligente.

Nikolai voltou sua atenção para mim. Ele estendeu a mão e acariciou meu rosto.

—Então você entrou na minha vida de novo. Você apareceu no Samovar como um
raio de sol e eu soube que tinha que tentar sair. Eu não achei que seria tão fácil como
foi para Ivan. — Seus lábios se estabeleceram em uma linha sombria. —Não foi fácil
para ele. Ele lutou como o inferno para sair vivo.

O medo me fez estremecer.

—Nikolai, por favor, não tente nada arriscado. Maksim pode ser o seu pai, mas
ele não é o tipo de homem para deixar apenas se afastar dele.

—Depois de hoje, tenho plena consciência de quão longe ele está disposto a ir pa-
ra me manter na linha. —O polegar de Nikolai roubou meu lábio inferior. —Eu sonhei
que um dia, talvez, se tivesse muita sorte, você poderia se tornar minha. Mantive viva a
esperança, fazendo planos para sair e mudar minha equipe cada vez mais longe da linha
mais escura.

Ele passou os dedos pelo meu cabelo e nossas bocas se juntaram. Culpa irradiava
dele em ondas poderosas.

—Eu queria ser capaz de oferecer muito mais do que esta vida. Que eu queria te
dar uma coisa melhor do que isso.

—Nikolai…

Ele me afirmou com um beijo carinhoso, empurrando todo o amor que ele sentia
por mim na união de nossas bocas. Espiando intensamente nos meus olhos, ele sussurrou
com muita angústia:

—Não há conto de fadas no final para nós, Vee.

—Kolya. —Eu apertei o seu rosto e colei o nariz junto ao dele. —Eu não preciso de
um conto de fadas. Eu só preciso de você.

—E se um dia você acordar e eu não for mais o suficiente?

—Você planeja parar de me amar?

—Nunca. —Ele jurou estridentemente.

Sorrindo, eu beijei sua boca:

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—Então, você sempre será o suficiente.

Nikolai acariciou minhas costas.

—Vamos para casa. Acho que poderemos ter uma boa noite de sono.

Sentindo-me brincalhona, eu perguntei:

—Só dormir?

Ele riu e deu um tapa no meu traseiro.

—Com você na minha cama? Nunca.

Rindo, o beijei uma última vez e deslizei de volta para o meu lugar. Enquanto de-
mos a volta, circulando nos muitos níveis da garagem, eu segurava firmemente a mão de
Nikolai e pensava sobre o nosso futuro.

Maksim poderia ter me obrigado hoje, mas eu ainda estava aprendendo. Um dia,
seu poder iria diminuir e então? Bem, então conseguiríamos.

Até esse dia, nós faríamos as coisas do nosso jeito. Nós tínhamos feito algo mui-
to bom hoje e era um começo.

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Epílogo

Quatro meses depois

—Vee? —Nikolai desceu ainda ajustando sua gravata. Ele olhou para o relógio e
franziu a testa. Essa sessão de amor improvisada no chuveiro tinha nos atrasado. Recu-
sando a se atrasar para sua formatura, ele chamou por ela de novo. —Vee?

—Estou na biblioteca.

Ele seguiu o som de sua voz doce e encontrou-a embrulhando o último dos pre-
sentes para o bebê de Dimitri e Benny.

—O que você está fazendo?

—Eu fiquei nervosa, enquanto estava esperando por você, então pensei que eu ia
terminar de embrulhar essas coisas para amanhã. —Ela acenou com o cartão que tinha
escolhido. —Assina este?

Ele balançou a cabeça e tomou o cartão cor-de-rosa brilhante dela. Tinha uma
bela mensagem escrita dentro. Ele rabiscou sua assinatura no local que ela indicou antes
de entregá-lo de volta para ela. Contando as grandes caixas empilhadas sobre a mesa,
ele perguntou:

—Você acha que tem presentes o suficiente?

Ela revirou os olhos.

—Este chá de bebê é muito importante. Além disso, é o primeiro bebê do nosso
grupo.

O coração de Nikolai ameaçou explodir de amor quando ela tocou sua barriga.

—Mas não o último.

Sorrindo para ele, ela cobriu sua mão.

—Nós prometemos não dizer nada ainda.

Ele a beijou com ternura.

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—Meus lábios estão selados.

Eles só tinham descoberto sua notícia feliz poucos dias antes. Vee tinha certeza
de que sua exaustão e náuseas eram devido ao stress de terminar seu curso e preparar
sua primeira exposição internacional em uma das galerias de Niels em Londres, mas ele
suspeitou que fosse algo muito diferente.

Ela, na verdade, riu dele quando ele lhe entregou o teste, mas alguns minutos de-
pois ela saiu do banheiro com uma expressão chocada. Ele estava preocupado que ela
não estivesse pronta, mas então ela sorriu para ele. O mesmo amor e emoção que ele
sentiu, ficou refletido em seus olhos.

—Você se sente bem? —Ele esfregou suas costas. —Se você ficar cansada e qui-
ser deixar a sua festa mais cedo, me diga e nós sairemos.

—Eu estou bem. —Ela levantou-se na ponta dos pés para beijá-lo. —Não se preo-
cupe tanto.

Agora que ela carregava seu filho, ele estava mais preocupado com ela do que
nunca. Ele permitiu que ela dispensasse a guarda constante de Sergei, mas tinha dúvi-
das. Talvez Danny não se importasse de assumir o papel de seu motorista e guarda...

—O que você está pensando?

—Isso, nós vamos nos atrasar para a sua formatura. —Disse ele e puxou a fita da
sua mão. —Nós podemos terminar isso amanhã.

—Nós ainda não compramos para Erin e Ivan um presente. Seu casamento será
em duas semanas.

—Eu tenho algo em mente para eles.

—Ah, é? —Em seu caminho para fora da biblioteca, ela parou para esfregar a es-
trutura de madeira da pintura que Niels lhe dera como presente de casamento. Ela con-
siderava a cena do café sob uma noite estrelada seu amuleto da sorte. —Deseje-me
sorte, Vincent!

Nikolai balançou a cabeça com sua tolice e acompanhou-a até o corredor.

—A coisa que tenho em mente para Ivan e Erin não é tão caro.

Ela lançou um sorriso enquanto pegava sua bolsa.

—Eu convidei Niels para jantar com a gente quando ele estiver na cidade no início
de junho.

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Nikolai resmungou baixinho, mas não disse nada. Ele ainda não gostava do colecio-
nador de arte multimilionário e investidor, mas ele o tolerava. Apesar do presente obs-
cenamente caro de casamento, Niels não parecia nem um pouco interessado em tentar
seduzir Vivian. Era tudo um jogo para ele e Vivian se recusou a jogar.

Enquanto eles se dirigiram pela calçada em direção a Kostya e o carro em marcha


lenta à espera deles, Nikolai gostou da sensação de relaxamento de saber que estava
tudo bem. Desde janeiro, as coisas tinham acalmado em Houston. Ainda havia as brigas
e desavenças ocasionais, mas nada como o inferno que todos eles sobreviveram no in-
verno.

Correndo para o banco traseiro com Vivian, ele agarrou a mão dela e puxou-a para
seu colo. Ele brincou com a aliança de casamento quando Kostya os levou para a univer-
sidade. Ele não conseguia evitar a ansiedade que surgia quando as coisas eram boas, mas
ele não ia pensar nela.

Ele tinha Vivian ao seu lado e sua criança que crescia em seu ventre. A vida nunca
seria normal para eles, mas seria cheia de risos e amor.

E isso era o suficiente para ele.

Fim

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