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FORMULAÇÕES

EM
COSMETOLOGIA

Alexandra Allemand
Legislação brasileira de
produtos cosméticos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a legislação sanitária vigente para registro e notificação


de cosméticos.
„„ Reconhecer os dizeres obrigatórios de rotulagem de cosméticos.
„„ Relacionar o Guia para Avaliação de Segurança de Produtos Cos-
méticos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária aos dizeres de
rotulagem.

Introdução
Neste capítulo, você estudará a legislação vigente sobre registro e no-
tificação de cosméticos, como estes se classificam para fins de registro,
quais são eles e por que alguns precisam de registro e outros apenas de
notificação. Você aprenderá também qual legislação trata da sua rotulagem,
quais são os dizeres obrigatórios gerais e os produtos que necessitam de
dizeres mais específicos, bem como a importância do Guia para Avaliação
de Segurança de Produtos Cosméticos da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e sua relação com os dizeres de rotulagem.

Registro e notificação de cosméticos


No site da Anvisa, existe uma série de informações necessárias à regularização
tanto de empresas como dos produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfu-
mes, como informações sobre autorizações e licenças de funcionamento, Boas
Práticas de Fabricação e Certificado de Boas Práticas de Fabricação, registro
e comunicação prévia de fabricação, certificados, entre outros.
O registro de um produto se trata do ato legal que reconhece sua adequação
à legislação sanitária, e sua concessão é dada pela Anvisa. Para que ele seja
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registrado, deve-se atender aos critérios estabelecidos em leis e à regulamen-


tação específica da agência. Tais critérios visam minimizar eventuais riscos
associados ao produto.
Cabe à empresa fabricante ou à importadora a responsabilidade pela quali-
dade e segurança dos produtos registrados junto a Anvisa. Para isso, o detentor
do produto deve possuir dados comprobatórios que atestem sua qualidade,
segurança e eficácia, a idoneidade dos dizeres de rotulagem, bem como os
requisitos técnicos estabelecidos na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC)
nº. 07, de 2015, os quais deverão ser apresentados aos órgãos de vigilância
sanitária, sempre que solicitados ou durante as inspeções. Deve ainda garantir
que o produto não constitui risco à saúde quando utilizado em conformidade
com as instruções de uso e demais medidas constantes da embalagem de venda
durante o período de validade. A empresa deverá, então, anexar à transação
o Termo de Responsabilidade, disponível na RDC, devidamente assinado
pelo responsável técnico e representante legal da empresa (BRASIL, 2015a).
Os requisitos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal,
cosméticos e perfumes estão descritos na RDC nº. 07, de 2015. De acordo
com essa normativa:

Produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes são preparações constituí­


das por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do
corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos,
dentes, membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou
principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores
corporais ou protegê-los ou mantê-los em bom estado (BRASIL, 2015a, p. 6).

A classificação para fins de registro ou notificação identifica os produtos


de higiene pessoal, cosméticos, perfumes e os infantis em dois graus: 1 e 2.
Seus critérios foram definidos em função da probabilidade de ocorrência de
efeitos não desejados devido ao seu uso inadequado, sua formulação, finalidade
de uso, áreas do corpo a que se destinam e cuidados a serem observados ao
utilizá-los.
Os produtos Grau 1 “[...] se caracterizam por possuírem propriedades bási-
cas ou elementares, cuja comprovação não seja inicialmente necessária e não
requeiram informações detalhadas quanto ao seu modo de usar e suas restrições
de uso, devido às características intrínsecas do produto” (BRASIL, 2015a, p. 7).
Portanto, esses cosméticos não podem ter indicações específicas, como ação
anticaspa, antiqueda, antiperspirante, antiacne, anticelulite, antirrugas, etc.
Já os produtos Grau 2 “[...] possuem indicações específicas, cujas caracterís-
ticas exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como informações
Legislação brasileira de produtos cosméticos 3

e cuidados, modo e restrições de uso” (BRASIL, 2015a, p. 7), apenas eles estão
sujeitos ao procedimento de registro. Você pode ver alguns desses produtos
a seguir:

ANEXO VIII
Produtos Grau 2 sujeitos a Registro
1. Bronzeador.
2. Protetor solar.
3. Protetor solar infantil.
4. Gel antisséptico para as mãos.
5. Produto para alisar os cabelos.
6. Produto para alisar e tingir os cabelos.
7. Repelente de insetos.
8. Repelente de insetos infantil.
(BRASIL, 2015a, p. 20–21).

Os demais produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes são isentos


de registro e estão sujeitos ao procedimento de comunicação prévia a Anvisa,
que é o procedimento administrativo a ser aplicado para informar a intenção
de comercialização de um produto isento de registro por meio de notificação
(BRASIL, 2015a).

As legislações podem sofrer mudanças ao longo do tempo, como alterações, revisões


ou serem revogadas. Por exemplo, a RDC nº. 07, de 2015, já sofreu uma modificação
pela RDC nº. 237, de 2018 (BRASIL, 2018).
Para manter-se atualizado, consulte sempre o portal da Anvisa, observando o status
da norma.

Rotulagem de cosméticos
A rotulagem tem como objetivo estabelecer as informações indispensáveis
que devem figurar nos rótulos dos produtos de higiene pessoal, cosméticos
e perfumes, concernentes a sua utilização, assim como toda a indicação ne-
cessária referente a eles. Ela também não deve conter indicações e menções
4 Legislação brasileira de produtos cosméticos

terapêuticas, nem denominações e indicações que induzam a erro, engano


ou confusão quanto à sua procedência, origem, composição, finalidade ou
segurança (BRASIL, 2015a).
Antes de você compreender quais são os dizeres obrigatórios exigidos pela
Anvisa para a rotulagem dos cosméticos, é preciso entender alguns conceitos
descritos na RDC nº. 07, de 2015, Anexo V (BRASIL, 2012a; 2015a, p. 16–17):

1. Embalagem Primária: envoltório ou recipiente que se encontra em contato


direto com os produtos. Considera-se material de embalagem primária: ampola,
bisnaga, envelope, estojo, flaconete, frasco de vidro ou de plástico, frasco-
-ampola, cartucho, lata, pote, saco de papel e outros. Não deve haver qualquer
interação entre o material de embalagem primária e o seu conteúdo capaz de
alterar a concentração, a qualidade ou a pureza do material acondicionado.
2. Embalagem Secundária: é a embalagem destinada a conter a embalagem
primária ou as embalagens primárias. É a que possibilita total proteção do
material de acondicionamento nas condições usuais de transporte, armazena-
gem e distribuição. Considera-se embalagem secundária: caixas de papelão,
cartuchos de cartolina, madeira ou material plástico ou estojo de cartolina,
dentre outros.
3. Rótulo: identificação impressa ou litografada, bem como dizeres pintados
ou gravados, decalco sob pressão ou outros, aplicados diretamente sobre
recipientes, embalagens, invólucros, envoltórios ou qualquer outro protetor
de embalagens.
4. Folheto de Instruções: texto impresso que acompanha o produto, contendo
informações complementares.
5. Nome/Grupo/Tipo: designação do produto para distingui-lo de outros, ainda
que da mesma empresa ou fabricante, da mesma espécie, qualidade ou natureza.
6. Marca: elemento que identifica um ou vários produtos da mesma empresa
ou fabricante e que os distingue de produtos de outras empresas ou fabricantes,
segundo a legislação de propriedade industrial.
7. Origem: lugar de produção ou industrialização do produto.
8. Lote ou Partida: Quantidade de um produto em um ciclo de fabricação,
devidamente identificado, cuja principal característica é a homogeneidade.
9. Prazo de Validade: tempo em que o produto mantém suas propriedades,
quando conservado na embalagem original e sem avarias, em condições
adequadas de armazenamento e utilização.
10. Titular de registro: pessoa jurídica ou denominação equivalente definida
no ordenamento jurídico nacional que possui registro de Produtos de Higiene
Pessoal, Cosméticos e Perfumes.
11. Elaborador/Fabricante: empresa que possui as instalações necessárias para a
fabricação/elaboração de Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes.
12. Importador: pessoa jurídica ou denominação equivalente definida no
ordenamento jurídico nacional responsável pela introdução em um país, de
Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes estrangeiros.
13. Número de Registro do Produto: corresponde ao número de identificação de
empresa e o número de Resolução ou Autorização de comercialização do produto.
Legislação brasileira de produtos cosméticos 5

14. Ingredientes/Composição: descrição qualitativa dos componentes da


fórmula através de sua designação genérica, utilizando a codificação de
substâncias estabelecida pela Nomenclatura Internacional de Ingredientes
Cosméticos (INCI).
Advertências e Restrições de Uso: são as estabelecidas nas listas de substân-
cias quando exigem a obrigatoriedade de informar a presença das mesmas
no rótulo e aquelas estabelecidas no Anexo V desta Resolução “Regulamen-
to Técnico sobre Rotulagem Específica para Produtos de Higiene Pessoal,
Cosméticos e Perfumes”.

O Anexo V da RDC nº. 07, de 2015, dispõe sobre o regulamento técnico


sobre rotulagem obrigatória geral para produtos de higiene pessoal, cosméticos
e perfumes, o qual tem como objetivo estabelecer as informações indispensáveis
que devem figurar nos rótulos desses produtos, concernentes a sua utilização,
assim como toda a indicação necessária referente a eles.

Quadro 1. Rotulagem obrigatória

Rotulagem Obrigatória Geral

REF. ITEM EMBALAGEM

1 Nome do produto e grupo/tipo a que pertence Primária e Secundária


no caso de não estar implícito no nome.
2 Marca Primária e Secundária
3 Número de registro do produto Secundária
4 Lote ou Partida Primária
5 Prazo de Validade Secundária
6 Conteúdo Secundária
7 País de origem Secundária
8 Fabricante/Importador/Titular Secundária
9 Domicílio do Fabricante/Importador/Titular Secundária
10 Modo de Uso (se for o caso) Primária ou Secundária
11 Advertências e Restrições Primária e Secundária
de uso (se for o caso)
12 Rotulagem Específica Primária e Secundária
13 Ingredientes/Composição Secundária

Fonte: Adaptado de Brasil (2015a, p. 17–18).


6 Legislação brasileira de produtos cosméticos

Algumas observações devem ser consideradas quanto à rotulagem obri-


gatória geral:

„„ quando não existir embalagem secundária, toda a informação requerida


deve figurar na embalagem primária;
„„ o modo de uso poderá figurar em folheto anexo por meio de indicação
na embalagem primária, por exemplo, “Ver folheto anexo”;
„„ quando a embalagem for pequena e não permitir a inclusão de adver-
tências e restrições de uso, estas poderão figurar em folheto anexo,
por meio de indicação na embalagem primária — “Ver folheto anexo”.

Já o Anexo VI da RDC nº. 07, de 2015 (BRASIL, 2015), trata do regula-


mento técnico sobre rotulagem específica para produtos de higiene pessoal,
cosméticos e perfumes.

„„ Aerossóis:
■■ inflamável, não pulverizar perto do fogo;
■■ não perfurar, nem incinerar;
■■ não expor ao sol nem a temperaturas superiores a 50º C;
■■ proteger os olhos durante a aplicação;
■■ manter fora do alcance de crianças.
„„ Neutralizantes, produtos para ondular e alisar os cabelos:
■■ não aplicar se o couro cabeludo estiver irritado ou lesionado;
■■ manter fora do alcance das crianças.
„„ Agentes clareadores de cabelos e tinturas capilares:
■■ pode causar reação alérgica. Fazer a Prova de Toque;
■■ não usar nos cílios e sobrancelhas;
■■ não aplicar se o couro cabeludo estiver irritado ou lesionado;
■■ em caso de contato com os olhos, lavar com água em abundância;
■■ manter fora do alcance das crianças.
„„ Tinturas capilares com acetato de chumbo:
■■ não aplicar se o couro cabeludo estiver irritado ou lesionado;
■■ o uso inadequado pode provocar intoxicação por absorção de chumbo;
■■ aplicar somente no couro cabeludo (cabelos);
■■ depois do uso, lavar as mãos com água em abundância para evitar
a ingestão acidental;
■■ manter fora do alcance das crianças.
Legislação brasileira de produtos cosméticos 7

„„ Depilatórios e epilatórios:
■■ não aplicar em áreas irritadas ou lesionadas;
■■ não deixar aplicado por tempo superior ao indicado nas instruções
de uso;
■■ não usar com a finalidade de se barbear;
■■ em caso de contato com os olhos, lavar com água em abundância;
■■ manter fora do alcance das crianças.
„„ Dentifrícios e enxaguatórios bucais com flúor:
■■ indicar o nome do composto de flúor utilizado e sua concentração
em ppm (parte por milhão);
■■ indicar o modo de uso, quando necessário;
■■ não usar em crianças menores de 06 anos. (somente para enxagua-
tórios bucais).
„„ Produtos antiperspirantes/antitranspirantes:
■■ usar somente nas áreas indicadas;
■■ não usar se a pele estiver irritada ou lesionada;
■■ caso ocorra irritação e/ou prurido no local da aplicação, suspender
o uso imediatamente.
„„ Tônicos capilares:
■■ em caso de eventual irritação do couro cabeludo, suspender o uso.

Além das advertências na rotulagem específica, deve-se acrescentar, obri-


gatoriamente, nas embalagens primária e secundária, os dizeres específicos
apresentados a seguir (BRASIL, 2015a, p. 4):

I- AEROSSÓIS: “Evite a inalação deste produto”.


II- NEUTRALIZANTES, PRODUTOS PARA ONDULAR E ALISAR OS
CABELOS: “Este preparado somente deve ser usado para o fim a que se
destina, sendo PERIGOSO para qualquer outro uso”.
III- AGENTES CLAREADORES DE CABELOS E TINTURAS CAPI-
LARES: Os rótulos das tinturas e dos agentes clareadores de cabelos que
contenham substâncias capazes de produzir intoxicações agudas ou crônicas
deverão conter as advertências: “CUIDADO. Contém substâncias passíveis
de causar irritação na pele de determinadas pessoas. Antes de usar, faça a
prova de toque”.
IV- BRONZEADORES SIMULATÓRIOS: Os rótulos dos produtos destinados
a simular o bronzeamento da pele deverão conter a advertência “Atenção: não
protege contra a ação solar”.
8 Legislação brasileira de produtos cosméticos

Veja na Figura 1 um exemplo de rotulagem obrigatória geral na embalagem primária, a


qual fica em contato direto com o produto. Quando não existir a embalagem secundária,
toda a informação requerida deve figurar na primária.

Figura 1. Exemplo de rotulagem obrigatória geral na embalagem primária.


Fonte: Santos (2016, documento on-line).

Os cosméticos para crianças são cada vez mais populares, e o Brasil é um dos maiores
mercados mundiais desses produtos, que incluem maquiagens, esmaltes, sabonetes,
batons, entre outros. As crianças devem utilizar apenas produtos infantis, pois eles são
elaborados respeitando as necessidades específicas dessa faixa etária.
A RDC nº. 15, de 24 de abril de 2015, e suas atualizações dispõem sobre os requisitos
técnicos para a rotulagem de produtos infantis, bem como para sua formulação. Para
saber mais detalhes, acesse o link a seguir.

https://goo.gl/m3WM92
Legislação brasileira de produtos cosméticos 9

Guia para Avaliação de Segurança de Produtos


Cosméticos
A empresa fabricante do cosmético é responsável pela segurança desse produto,
conforme assegurado pelo Termo de Responsabilidade disponível no Anexo
VII da RDC nº. 07, de 2015 (BRASIL 2015a) que deve ser apresentado no ato
da sua regularização e no qual ela declara possuir dados comprobatórios que
atestam sua eficácia e segurança. A avaliação da segurança deve preceder a
colocação do produto cosmético no mercado (BRASIL, 2012b).
Com o intuito de não limitar as empresas de apresentarem alternativas
de avaliações, a Anvisa elaborou um Guia para Avaliação de Segurança de
Produtos Cosméticos, com sugestões de critérios para avaliar a segurança dos
produtos e fornecer os subsídios para esse fim.
Como já observado, na rotulagem, alguns dizeres obrigatórios em pro-
dutos específicos são relacionados a advertências e restrições de uso, bem
como elaborados de acordo com os resultados apresentados por eles após os
testes necessários para avaliar sua segurança. Essa avaliação está baseada
na avaliação do risco e deve considerar os parâmetros toxicológicos dos
ingredientes com base em dados atualizados, as condições de uso do produto
cosmético e o perfil do consumidor alvo (ROGIERS; PAUWELS, 2008 apud
BRASIL, 2012b).
Quanto à avaliação dos riscos, você deve compreender os seguintes con-
ceitos: (BRASIL, 2012b, p. 11):

Perigo: propriedade intrínseca de um ingrediente. É o potencial de causar um


dano, sem relação com a dosagem ou a exposição.
Dano: é a lesão ou reação causada pelo ingrediente ou associação de ingre-
dientes de um produto.
Risco: é a probabilidade de ocorrência do dano, em função do nível de ex-
posição.

Segundo o Guia para Avaliação de Segurança de Produtos Cosméticos


(BRASIL, 2012b), o risco cosmético se trata da probabilidade de ocorrência
de uma das reações apresentadas a seguir (SAMPAIO; RIVITTI, 2007; CA-
SARETT, KLAASSEN, DOULL, 2008):

Irritação: processo inflamatório que ocorre na área de contato com o produto,


podendo ocorrer após a primeira aplicação (irritação primária) ou com a con-
tinuidade do uso (irritação acumulada). É determinada por um dano tecidual
agudo ou crônico de intensidade variada. É dependente da concentração dos
10 Legislação brasileira de produtos cosméticos

ingredientes no produto final, da formulação como um todo, quantidade


aplicada, frequência e modo de aplicação.
Sensibilização: processo inflamatório que envolve mecanismo imunológico,
do tipo celular, com tempo de contato variável, de alguns dias ou mesmo
alguns anos, até que o organismo reconheça um ou mais ingredientes como
alergênicos. Em geral, é uma resposta que não ocorre nas primeiras aplicações,
a não ser que o indivíduo já se encontre sensibilizado a um dos ingredientes
do produto, podendo aparecer em outra área, diferente da área de aplicação.
O processo alérgico pode decorrer tanto em função dos ingredientes isola-
dos, quanto da interação entre eles no produto, formando novo componente.
As respostas de irritação e sensibilização do ponto de vista clínico são seme-
lhantes, caracterizadas pela ocorrência de um ou mais dos seguintes sinais
clínicos: eritema, edema, pápula e pústula. Diferenciam-se pelo fato da irrita-
ção ser dose dependente, enquanto que a sensibilização não: o indivíduo uma
vez sensibilizado desenvolverá a reação a toda exposição ao(s) ingrediente(s).
Sensações de desconforto: são reações comuns a cosméticos, caracterizadas
por sintomas subclínicos que podem sinalizar uma irritação: ardência, prurido/
coceira, dor, pinicação, etc.
Efeito sistêmico: resulta da passagem de quaisquer ingredientes do produto,
para a corrente circulatória, independentemente da via de aplicação. O risco
sistêmico é avaliado a partir dos dados relativos aos ingredientes.

A maioria das informações necessárias na avaliação do risco potencial de


um produto cosmético resulta do conhecimento dos ingredientes que compõem
sua fórmula, porém, a associação entre os insumos pode influenciar nesse risco
e, por conta disso, a avaliação de segurança pressupõe uma abordagem caso a
caso, observando-se, preliminarmente, todas as informações disponíveis que
contribuam para o conhecimento do risco potencial, em condições normais
ou razoavelmente previsíveis de uso. Embora os cosméticos sejam aplicados
topicamente, um ou mais de seus ingredientes podem permear a barreira
cutânea; já outros, devido à sua apresentação e ao modo de uso, podem ser
até inalados, por exemplo, o spray para cabelos (BRASIL, 2012b).
De acordo com o Guia para Avaliação de Segurança de Produtos Cos-
méticos (BRASIL, 2012b), caso não haja risco previsível decorrente do uso,
avalia-se a fórmula per si para determinar a aceitabilidade dos ingredientes
nas condições de utilização do produto acabado. Por razões éticas, quando o
risco previsível não pode ser suficientemente conhecido, recorre-se, segundo
o nível de conhecimento, aos métodos experimentais, in vitro ou in vivo
(BRASIL, 2012b).
As metodologias utilizadas para demonstrar a segurança dos produtos
cosméticos propostas pelo Guia para Avaliação de Segurança são divididas
em dois grupos: os ensaios pré-clínicos (in vitro e em animais) e os clínicos.
A seguir, você pode ver a relação dos testes recomendados em cada grupo.
Legislação brasileira de produtos cosméticos 11

Ensaios pré-clínicos
In vitro

„„ Avaliação do potencial de irritação ocular: membrana cório-alantoide;


permeabilidade e opacidade de córnea bovina/olho isolado de galinha
(BCOP/ICE); red blood cell (RBC); citotoxicidade pelo método de
vermelho neutro (NRU) e citotoxicidade pelo método MTT.
„„ Avaliação do potencial de irritação cutânea: epiderme reconstituída.
„„ Avaliação do potencial fototóxico: teste de fototoxicidade.
„„ Avaliação da permeação e retenção cutâneas.

In vivo

„„ Toxicidade aguda oral: método de doses fixas, método up and down,


método de classes.
„„ Irritação/corrosividade ocular.
„„ Irritação/corrosividade cutânea.
„„ Avaliação da irritação primária.
„„ Avaliação da irritação acumulada.
„„ Sensibilização dérmica.
„„ Teste de irritação da mucosa oral.
„„ Teste de irritação da mucosa vaginal.
„„ Teste de irritação da mucosa peniana.
„„ Teste de comedogenicidade.

Ensaios clínicos
Produtos cosméticos podem necessitar de estudos clínicos em humanos para
que as empresas ofereçam aos consumidores o máximo de segurança, com o
menor risco, garantindo suas melhores condições de uso. A partir das infor-
mações pré-clínicas, deve ser confirmada a evidência de segurança com o uso
por humanos. Essas informações também são importantes para estabelecer
advertências de rotulagem e orientações para o serviço de atendimento ao
consumidor.

„„ Estudos de compatibilidade (condições maximizadas): avaliação da


irritação cutânea primária e acumulada; avaliação da comedogeni-
cidade em patch; avaliação da sensibilização dérmica; avaliação de
12 Legislação brasileira de produtos cosméticos

fotoirritação; avaliação de fotossensibilização. Elas devem anteceder


os estudos de aceitabilidade.
„„ Estudos de aceitabilidade (condições reais de uso): avaliação de acne-
genicidade e comedogenicidade em uso; avaliação de produto para pele
sensível; verificação da aceitabilidade ocular.

Rótulos com atributos de segurança


Geralmente, os rótulos dos cosméticos apresentam descrições como der-
matologicamente testado, não comedogênico, hipoalergênico, entre outras
especificações. Além desses dizeres, considerados atributos de segurança,
é crescente o número de produtos cujos rótulos têm indicação para públicos
específicos, por exemplo, pessoas alérgicas, com pele sensível, gestante e
público infantil.
O Guia da Anvisa, por meio do Anexo IV, descreve os atributos de
segurança e os ensaios recomendados em humanos para estes produtos.
Por exemplo, um cosmético que apresenta no rótulo “dermatologicamente
testado” significa que ele foi avaliado em seres humanos sob controle do
dermatologista. De acordo com o Guia, os ensaios recomendados são estudos
de compatibilidade cutânea conforme o grupo de produto e/ou aceitabilidade
cutânea, em condições normais de uso com avaliação clínica, no mínimo,
inicial e final. Já o ensaio de irritação dérmica primária não pode ser usado
isoladamente para a comprovação do atributo “dermatologicamente testado”
(BRASIL, 2012b).

Acesse a RDC nº. 07, de 2015, e suas atualizações no link a seguir.

https://goo.gl/uEyVMv
Legislação brasileira de produtos cosméticos 13

1. Aspectos legais relacionados a) Um gel esfoliante facial é


à saúde da população, como considerado Grau 2, pois
medicamentos e cosméticos, necessita de uma indicação
podem ser obtidos por meio do site específica quanto ao seu uso.
da Agência Nacional de Vigilância b) Um desodorante antitranspirante
Sanitária (Anvisa), no link legislação, é classificado como Grau 1,
e é importante sempre observar a pois apresenta propriedades
vigência da norma, se houve alguma básicas ou elementares,
alteração ou se foi revogada. Com cuja comprovação não é
base nessa informação, qual das inicialmente necessária.
alternativas a seguir está correta? c) Os produtos classificados
a) Atualmente, os produtos com Grau 1 e Grau 2
sujeitos a registro podem necessitam de registro.
ser encontrados na d) Apenas os produtos classificados
RDC nº. 07, de 2015. como Grau 2 estão sujeitos
b) A RDC nº. 237, de 2018, altera ao procedimento de registro,
os dizeres obrigatórios sobre os demais estão sujeitos ao
a rotulagem dos cosméticos. procedimento de comunicação
c) A RDC nº. 237, de 2015, dispõe prévia a Anvisa, que é o
sobre a regularização dos processo de notificação.
cosméticos e sua atualização, e) O protetor solar e os produtos
já a RDC nº. 07, de 2018, altera o para alisar cabelo são
Anexo VIII que lista os produtos exemplos de cosméticos que
Grau 2 sujeitos a registro. necessitam de notificação.
d) Os dizeres obrigatórios para 3. A RDC nº. 07, de 2015, estabelece
rotulagem encontram-se os requisitos para as rotulagens
na RDC nº. 237, de 2018. obrigatórias geral e específica.
e) A RDC nº. 07, de 2015, dispõe Por exemplo, você comprou dois
sobre a regularização dos demaquilantes, um deles vem
cosméticos e sua atualização, já embalado em uma caixinha, e o
a RDC nº. 237, de 2018, altera o outro não, quanto à rotulagem
Anexo VIII que lista os produtos desses produtos, você poderá
Grau 2 sujeitos a registro. observar os seguintes dizeres:
2. Para registro e notificação, os a) o nome do produto, a marca
cosméticos são classificados e o modo de uso poderão ser
em graus 1 e 2. Pesquise na lidos tanto na caixinha como
legislação vigente quais dos no frasco do demaquilante.
produtos a seguir são Grau 1 ou b) como a caixa é a embalagem
Grau 2, quais deles necessitam primária, você poderá ler
de registro ou notificação e informações como conteúdo,
marque a alternativa correta. prazo de validade e fabricante.
14 Legislação brasileira de produtos cosméticos

c) o lote do produto deverá e) todos devem dizer “manter


estar escrito obrigatoriamente fora do alcance das crianças
na embalagem secundária, e fazer à prova de toque”.
no frasco que contém 5. O que é necessário para que a
o demaquilante. empresa comprove a segurança de
d) os dizeres obrigatórios para a um cosmético e que este apresente,
embalagem secundária não por exemplo, no rótulo o seguinte
precisarão estar escritos no frasco dizer “dermatologicamente testado”?
do demaquilante sem caixa. a) A comprovação da segurança
e) o nome do fabricante ou e suas indicações específicas
importador são considerados são realizadas por meio
dizeres específicos e não de testes pela Anvisa.
fazem parte da rotulagem b) A empresa é responsável pela
obrigatória geral. segurança do produto cosmético
4. Além da rotulagem obrigatória e deve apresentar a Anvisa um
geral, alguns produtos necessitam Termo de Responsabilidade,
de uma específica, com dizeres o qual se encontra no Guia
específicos sobre o uso e as para Avaliação de Segurança
advertências. Por exemplo, um de Produtos Cosméticos.
desodorante aerossol, uma tintura c) A empresa deve apresentar
capilar e um produto depilatório à Anvisa um Termo de
devem conter, respectivamente, Responsabilidade com dados
os seguintes dizeres específicos comprobatórios indicando
na sua rotulagem: que o produto foi avaliado
a) não expor ao sol nem a em seres humanos sob
temperaturas superiores a 50 ºC; controle do dermatologista.
não usar em crianças menores de d) O Guia para Avaliação de
6 anos; fazer à prova de toque. Segurança de Produtos
b) inflamável; fazer à prova de Cosméticos contém todos
toque; não deixar aplicado por os testes obrigatórios que a
tempo superior ao indicado empresa fabricante deve realizar.
nas instruções de uso. e) O Guia para Avaliação de
c) não perfurar, nem incinerar; Segurança de Produtos
pode causar reação alérgica; não Cosméticos, elaborado pela
usar nos cílios e sobrancelhas. Anvisa, apresenta apenas
d) evite a inalação deste produto; sugestões de ensaios
proteger os olhos durante clínicos para avaliação in
a aplicação; não usar com a vivo da segurança dos
finalidade de se barbear. produtos cosméticos.
Legislação brasileira de produtos cosméticos 15

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário


nacional da farmacopeia brasileira. 2. ed. Brasília: Anvisa, 2012a. 224 p. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/33832/259372/FNFB+2_Revisao_2_COFAR_se-
tembro_2012_atual.pdf/20eb2969-57a9-46e2-8c3b-6d79dccf0741>. Acesso em: 13
out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia para avaliação
de segurança de produtos cosméticos. 2. ed. Brasília: Anvisa, 2012b. 71 p. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/106351/107910/Guia+para+Avalia%C3%A7%
C3%A3o+de+Seguran%C3%A7a+de+Produtos+Cosm%C3%A9ticos/ab0c660d-3a8c-
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BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
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BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
Diretoria Colegiada - RDC Nº 15, de 24 de abril de 2015. Dispõe sobre os requisitos
técnicos para a concessão de registro de produtos de higiene pessoal, cosméticos e
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portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2798795/RDC_15_2015_COMP.pdf/7be44226-
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BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
Diretoria Colegiada - RDC nº 237, de 16 de julho de 2018. Altera a Resolução da Diretoria
Colegiada – RDC nº 07, de 10 de fevereiro de 2015, e a Resolução da Diretoria Colegiada
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