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Composição do Judiciário, características dos membros do sistema da

Justiça. É muito fácil e muito possível projetar esse Censo do Judiciário nas outras
carreiras no ministério público, na Defensoria, com nuances é claro, nas
procuradorias, advocacias públicas, são semelhantes os perfis. Então sai um pouco
do debate de Judicialização, um pouco “para quem é esse judiciário?” que responde
a essas demandas que serão levadas a ele. No princípio da inércia, o juiz está
limitado ao que foi pedido na petição inicial, por meio de provocação, só quando
alguma instituição, algum advogado, alguma parte são prejudiciais que, o ex-
magistrado juízes, enfim instituições do sistema de Justiça, respondem instituições
do Poder Judiciário. As políticas públicas dos direitos sociais estão chegando ao
judiciário e agora, a proposta é um pouco, responder “quem são esses juízes que
respondem a esses processos?”.
O texto “quem são nossos juízes?”, por Rafael Flávia Ester Rodney. Dois
fatos importantes relacionados a escolha de membros do judiciário: foram noticiados
nos últimos dias a decisão do Conselho Nacional de Justiça rechaçando as
entrevistas secretas realizadas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo como etapa
do concurso para ingresso na magistratura e a sabatina do ministro Teori Zavascki,
indicado pela presidente da república para o STF. Sobre o primeiro caso, é
importante destacar que o concurso público é uma exigência constitucional para
ingresso na magistratura, isso significa que a seleção dos magistrados deve se dar
por meio de uma avaliação objetiva da capacidade dos candidatos ainda que seja
evidente que somente saber jurídico, não faz um bom juiz. Mas, ao contrário do
defendido nesta sessão, tem a ver com a formação de questões que dizem respeito
à vida pessoal ou a estrutura familiar dos participantes do processo seletivo, até
porque nesses casos surgem fissuras insanáveis como são avaliadas as respostas
dos candidatos, a banca examinadora do concurso tem um entendimento prévio a
respeito de qual seria o perfil mais adequado para o magistrado. Seria melhor para
exercer a função de um juiz, um candidato casado, ou solteiro, com filhos ou sem
filhos, ou heterossexual?
Há tempo sabe-se que o Poder Judiciário Paulista realiza uma seleção que
privilegiam determinado perfil de seus integrante, esse argumento é tão verdadeiro
que foi necessária a aprovação de uma lei estadual para garantir que nas duas
primeiras fases do concurso de ingresso na magistratura, os candidatos não fossem
identificados na lei 9351/96.
As entrevistas pessoais e secretas abrem as portas para perpetuação de
antigas práticas que não combinam com o Estado de Direito, no trânsito, a questão
da opacidade do processo de escolha dos ministros do STF, também merece
atenção. O chefe do Executivo Federal indica o nome escolhido entre cidadãos de
notório saber jurídico e reputação ilibada, em seguida, o Senado deve votar a
indicação após um processo de Sabatina realizada pela comissão de Constituição e
Justiça. Nesses dois momentos, bem delineados, escolha do novo Ministro, há
questões que não são levadas a público, a sociedade tem direito de saber o que
levou à presidência priorizar uma determinada pessoa, quais foram os fatores
levados em consideração, quem apoia aquele indicado, quais outros nomes foram
considerados mais preferidos. Do outro lado, no momento da Sabatina realizada
pelos senadores, seria salutar a existência de mecanismos formais para a
sociedade civil e demais interessados a participarem do processo, como ocorre na
Argentina, por exemplo.
Existe, na sociedade, mobilização por uma política de Justiça mais
transparente, aberta e democrática. A independência do Poder Judiciário não pode
ser usada como justificativa para que este poder provoque uma função pública mais
ampla, sobre quais devem ser os critérios para uma pessoa ser investida dos
poderes de magistrado, seja no início ou no topo da carreira. Certamente, o
caminho de casa pela Constituição, constrói a portas fechadas ou com critérios.
A análise escrita pelo Antonio Filho, “Porteiro Guardião Supremo Tribunal
Federal em face aos direitos humanos”, questiona a forma de escolha dos ministros
do STF e, não só a forma de escolha, mas o fato de os ministros do STF
permanecerem como ministros até a aposentadoria compulsória, aos 75 anos.
Enfim, a discussão sobre o processo de indicação viria acompanhada de um
processo de repensar se faz sentido vitaliciedade no STF e não esperar como
acontece nos Estados Unidos, a morte ou no Brasil, a compulsória. Aos 75 anos, o
ministro é obrigado a se aposentar.
Ambos textos dizem respeito à especificamente, a transparência e ao
processo de indicação via Presidência da República. Questiona-se diretamente a
possibilidade do Presidente da República escolher um ministro, mas sim muito mais
fortemente e quais são as etapas de participação social de controle social nesse
processo de indicação e em saber quais são os candidatos, promover debates
públicos acerca deles, enfim ter uma participação mais ampla do que simplesmente
a indicação, a escolha quase arbitrária ou a tirada. Não se sabe por meio de qual
procedimento o Presidente da República pensa também em listas de candidatos,
alguma forma de indicação de candidato pela sociedade civil, algum tipo de medida
afirmativa, para que a composição do Supremo não seja até o precário.É importante
ter representativa de mulheres, de negros.
A primeira página do documento tem um resumo dessas posições políticas e
depois, eles vão construir ao longo quais são os que estão, como de onde vem esse
modelo na história desse modelo e, também, o que está em discussão no Supremo,
no Congresso Nacional, de alteração das regras indicação dos ministros do STF. O
texto é de maio de 2018, é um texto bastante recente sobre o estado da arte das
emendas constitucionais de indicação do STF, mas a primeira página resume as
posições políticas desse documento.
O segundo documento olha para base do Judiciário, do Judiciário Estadual e
da forma como os concursos são realizados e, enfim, que fica de forma veemente a
identificação dos candidatos e candidatas na primeira e na segunda fase e, critica
também as entrevistas secretas. Perguntas bastante constrangedora serão feitas
também nas duas indicações de texto, por um lado, olhando para STF e para o
processo de indicação da nossa corte constitucional e, a última instância recursal e
ao mesmo tempo, nossa corte condicional que realiza controle concentrado de
constitucionalidade da importância do Supremo Tribunal Federal.
É importante olhar para base da magistratura, base do Poder Judiciário
através do relatório do Censo do Judiciário, documento mais novo, realizado pelo
Conselho Nacional de Justiça e publicado em 2013. Os processos de mudança de
perfil são lentos, então nada indica que uma grande mudança foi foi feita a partir de
2013. Na página 32 do PDF, Seção 3, do capítulo 3, do livro do relatório
magistrado “Quem são e o que pensam” pág 32, também. O documento começa
falando sobre a idade média de ingresso e, a primeira coisa que se nota é que
houve um aumento do número de idade média com a qual os juízes começam suas
carreiras; Na média, os juízes começam suas carreiras com 31, 32 anos de idade,
mas, recentemente, a partir de 2012, teve um pico na faixa dos 34 anos de idade.
Até o começo da década de 80, a média de idade para começar a ser juiz era 20 e
poucos, 27, 28 anos. Em 2004, houve uma mudança grande e, com a reforma do
Judiciário, passou a exigir dos candidatos, três anos de experiência, assim uma
tendência de aumento, aumentando o patamar de idade de uma média bem
constante perto dos 31 32 anos. Então, os juízes ingresso na carreira no Brasil por
volta de 30 anos, majoritariamente, estudaram até os 30 anos quase
ininterruptamente, então para seguir uma carreira de Juiz é preciso que você seja
capaz de estudar e quase começar mesmo sua carreira com 30 anos, dado
relevante para entender quem são os juízes no Brasil. O documento segue fazendo
algumas análises da idade por sexo e idade das magistrados mulheres
ingressantes, sendo um ano menor na média.
Na página 36 do documento, tem-se a analise das desigualdades de gênero
segundo ano de ingresso, número de ingressantes na carreira da magistratura por
ano de ingresso, quantos magistrados, quantos novos juízes entraram na carreira
por sexo. É interessante notar que, quando diminui o número de ingressos, diminui
os dois, quando aumenta, aumenta os dois. No início dos anos 2000, a distância
entre o número de mulheres ingressantes e o número de homens interessantes com
vantagens para os homens ingressantes na carreira da magistratura, é quase
constante.
Na página 37, o gráfico mostra o número de magistrados segundo ano de
ingresso por sexo, de 5581, 78% de ingressantes eram homens e 21% mulheres. A
mudança de patamar pós redemocratização, as mudanças de processos históricos,
não são relevantes. O dado se mantém, sendo 65% de homens e 35% de mulheres
na média, nos anos 90. Na página 38, mais um elemento de perfil, sendo o de
brancos, negros, indígenas ingressantes nas carreiras da magistratura é maior do
que a distância entre homens e mulheres, os brancos representam a ampla maioria
do sistema de Justiça e do Poder Judiciário e, o gráfico da página 38, indica que é
um problema permanente, porque falando em magistrados, juízes, que estão
ingressando, o número de ingressantes a cada ano, quantos novos ingressantes
tem? Na página 39 é uma repetição no gráfico e podemos dizer que, mais de 80%
da magistratura brasileira é branca, menos de 20% ou algo em torno de 15% da
magistratura brasileira é negra.
Temos uma desigualdade racial dentro da magistratura e esse dado sobre
desigualdade racial se compõe junto com outros elementos como seleção
socioeconômica, sobrepondo nas nossas desigualdades interseccionais,
reverberando nas carreiras e nos ingressantes. Desde o começo da década de 80
até 90, a desigualdade racial não era tão grande, quando aumenta o número de
juízes ingressantes, a desigualdade entre brancos e negros ingressantes aumenta.
Na página 42, temos o número de magistrados com e sem deficiência
segundo número de ingresso, sendo uma porcentagem muito baixa, em torno de 1%
de magistrados juízes são portadores de alguma deficiência. Na página 44, número
de magistrados com deficiência por ano de ingresso, tem um pico entre 94/95, que é
aprovação de uma norma que estabelece cotas para ingresso de pessoas com
deficiência em instituições com um certo número de funcionários e eles têm um
efeito depois da aprovação da Lei, cotas para deficientes. Na página 45, mostra
essa política de cotas e quanto isso influenciou nesse número.
Na página 47, por sua vez, há dados estatísticos sobre o percentual de
estado civil e quantidade de filhos dos magistrados, nessa sequência, homens
brancos, heterossexuais, casados e com filhos, cenário de um juiz típico, de origem
de classe média alta. Temos mais um elemento para isso é número de magistrados
casado ou em união estável com pessoa de outro sexo, 78% solteiros, 11%
divorciados e os 7%, separado judicialmente, 1% casado ou em união estável com
pessoa do mesmo sexo. Pode ser que haja homossexuais e bissexuais também
entre os solteiros e divorciados, mas que está numa relação com uma pessoa do
mesmo sexo, apenas 1% da magistratura.
A página 48, aponta que 75% dos juízes têm filhos e, entre as juízas, 30%
não tem filhos. Na porcentagem de magistrados que têm pós-graduação Lato
Sensu, só 36% dos juízes têm ensino superior, a grande maior parte 47%, quase
metade tem também alguma pós-graduação Lato Sensu uma parte ministrada, uma
parte do 12%, mestrado 3% e doutorado. Na página seguinte, questiona-se quem
possui mais de um curso de graduação, sendo 11% dos magistrados. Outro dado
interessante, na página 50, magistrados que concluíram formação em instituições
públicas ou privadas de ensino. 60% na elite do Poder Judiciário, tem uma
prevalência de instituições públicas embora, no resto seja bastante equilibrado.
Na página 56, tem o percentual de juízes que exercem a única outra
atividade que eles podem exercer que é a docência, juízes que são também
professores e, no total 14% dos juízes são também professores de universidades e
exerce atividade docente na justiça militar, sendo esse percentual ainda mais alto,
seguido apenas pelos conselhos superiores da Justiça Federal, 20% à justiça
eleitoral e à justiça estadual. O documento traz ainda informações sobre diferenças
entre a justiça estadual Eleitoral do trabalho.
Na página 85, temos reflexões sobre o percentual de reação negativa por ser
mulher, desigualdade de gênero, questões atitudinais em atitudes e discriminações
não só no ingresso. O documento segue, após de falar dos magistrados, aborda os
servidores da Justiça, o que foi feito e, mais importante, a falta de diversidade tanto
no que tange a gênero, quanto a diversidade sexual, a raça, principalmente.
Não adianta fazer percepção de rendimentos atuais dos juízes sobre quanto
ganha um juiz e o quanto é escuro também essas remunerações com auxílio
moradia, entre outros. O professor Conrado Rubi tem feito várias artigos no jornal
falando sobre essas características e é importante saber que um juiz geralmente
vem de uma classe média alta, pois este é um indicador relevante, pois o mesmo
precisa de além do estudo da graduação, de mais algum tempo de estudo para o
concurso, logo, possivelmente essas pessoas ficaram apenas estudando e se
dedicando a se tornarem juízas até perto dos 30 anos sendo financiados,
sustentados pela sua família de origem até se tornarem juízes.

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