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Autenticidade de João 5.

7
“Porque são três que testificam no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes Três são Um.
E Três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam
num” [I João 5.7,8]

As palavras escritas em negrito constituem o que os críticos do texto chamam, em latim,


Comma Johanneum (a Cláusula Joanina).

Quando abrimos a “Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas”, das Testemunhas de
Jeová, notamos que essa cláusula foi omitida do seu texto. “. E este quem veio por meio de
água e sangue, Jesus Cristo; não apenas com água, mas com a água e com o sangue. E é o
espírito que está dando testemunho, porque o espírito é a verdade. 7. Porque são três os que
dão testemunho: 8. O espírito, e a água, e o sangue, e os três estão de acordo”3.

Acontece, porém, que o texto grego adotado para a tradução do Novo Testamento das
Testemunhas de Jeová também a excluiu. Aliás, outras Bíblias há, além da das Testemunhas de
Jeová, que também omitem esse trecho da Palavra de Deus.

Ocorre que essas traduções adotam o mesmo texto usado pelas Testemunhas de Jeová; ou
seja, o texto dos críticos textuais Westcott e Hort. Digamos de passagem que, além da Comma
Johanneum, muitos outros versículos da Palavra de Deus são omitidos no texto da crítica. É
bom que o leitor verifique na sua Bíblia se estão omissas passagens que tratam de importantes
doutrinas tais como:
———————————————-
Mt6.13 – Mt17.2 – Mt18.11
Mt23.14 – Mc7.16 – Mc9.44
Mc 11.26 – Mc 15.28 – Mc 16.9-20
Lc 23.17 – 3o 5.3b-4 – AT 8.37
At 28.29 – At 15.34 – Rm 1.16
Rm 8.lb – Rm 14.10 – Rm 16.24
———————————————-

Pode parecer enfadonho, mas julguei necessário listar aqui os versículos inteiros que são
omissos no Novo Testamento das Testemunhas de Jeová e no texto grego por elas adotadas,
que é o mesmo de algumas outras Bíblias. Mas voltemos à Comma Johanneum e perguntemos:

Quais as razões alegadas para sua omissão?

Os críticos do texto alegam as seguintes razões para omitir a Comma:

1. Não se conhecem Mss gregos autênticos que a contenham;

2. Não aparecem nas versões antigas;

3. Não foi conhecida pelos pais da Igreja.


Antes de refutarmos tais alegações, devemos, porém, lembrar que é muito mais fácil provar a
existência da Comma do que negá-la. Para negar qualquer fato seria necessário que, quem a
isto se propõe, tenha estado presente em todos os lugares, em todos os tempos e com toda a
capacidade de observação. Para provar algum fato, pode-se fazer com duas ou três
testemunhas verdadeiras.

É verdade que poucos são os Mss gregos até agora encontrados que contêm a Cláusula
Joanina. Mas isto não provaria a sua inexistência. O fato de já terem sido encontrados alguns
Mss gregos que citam o texto em estudo prova sua existência e nos dá a esperança certa de
que outros também existiram, e, quem sabe, poderão até ser encontrados. Antes de 1945,
quem negasse a existência dos Mss 1000 anos mais velhos do que os até então conhecidos
ficaria desacreditado depois da descoberta do material das Cavernas de Quram.

Para fortalecer seu argumento, os que omitem a Comma Jolzanneum costumam citar o fato de
que Erasmo não a incluiu na Ia edição de seu Novo Testamento Grego, porque não conhecia
nenhum manuscrito grego que a contivesse. Mas, quando isto aconteceu, foi grande a reação
dos que já conheciam a existência da Comma, mesmo em outras línguas. Para acalmar os
ânimos, Erasmo prometeu que a incluiria nas próximas edições do Novo Testamento Grego, se
viesse a conhecer algum manuscrito que a contivesse.

Essa promessa foi cumprida na 3ª edição do Novo Testamento de Erasmo, por lhe haver sido
apresentado o Ms 61. A relutância de Erasmo para incluir a Comma na 1ª edição do seu Novo
Testamento será um argumento a favor da sua inexistência? Ou, ao contrário, é mais uma
razão ou prova de sua existência?

Porém, o Ms 61 (os críticos rejeitam sua autenticidade) não é o único Manuscrito Grego, até
agora conhecido, que contém a Comma.

Os críticos do texto reconhecem e nomeiam outros Mss gregos nas mesmas condições:

a) Ms 61 — do século 15 ou 16;

b) Codex Ravianus, na margem do Ms 88- do século 12;

c) Tisch. W1 10 — do século 16;

d) Greg. 629 — do século 14v.

Se um copista notava a omissão da Comma no Ms que lhe servia de modelo, ao

fazer a nova cópia escrevia, na margem, as palavras da Comma, como uma correção. E o que
deve ter acontecido com o Ms 88.

Dizer que não aparece a Comma nas versões antigas confiáveis também é alegação que nos
parece fraca. Conforme Hill, há uma abundância de outros antigos manuscritos que evidenciam
e provam esta cláusula:

1. Nos escritos dos bispos espanhóis do 4º século — Prisciliano e Idrascius Clarus;


2. Vários escritores africanos, ortodoxos, para defender a doutrina da Trindade contra os
vândalos — no 5º século;

3. Nos escritos dos pais da igreja latina, como:

a. Cypriano — C-250;

b. Cassidoro — 480-570;

c. Ms da Velha Latina — 5º ou 6º século;

d. Speculum;

e. A Velha Latina do Ms do 5º ou 6º século;

f. A Vulgata Latina do ano 800;

g. A Vulgata Latina de Clemente, que é a Bíblia oficial da Igreja Católica Romana.Por que foi
realmente omitida a Comma Johanneum dos Mss gregos?

Se a Comma foi conhecida por todos esses pais da Igreja de fala latina é porque ela existia
também na língua grega mesmo antes de ser encontrado o primeiro Ms grego que a continha.
E por que, já que existia em grego, essa cláusula aparentemente desapareceu dos futuros Mss
gregos? Há três explicações razoáveis:

1. Omissão involuntária

Por um erro comum entre os copistas, que é chamado de Homoioteleuton (final igual). Ao
copiar o verso 7, depois de copiar as palavras “são três os que testiticam”, o copista levantou
os olhos do original enquanto molhava a pena e, ao voltar os olhos ao Ms, viu agora duas
linhas abaixo, as mesmas palavras, mas continuou escrevendo “são três que testificam na
terra”. Desse modo, omitiu parte final do verso 7 e do início do verso 8 (a Comma Johanneum).

2. Omissão proposital com Boas Intenções

(Se pudermos chamar de boa intenção a uma omissão do trecho bíblico). Foi durante o 2º e 3º
séculos, de acordo com Harnack, que os cristãos tiveram de se defender contra a heresia
chamada Sabelianismo. Seu fundador, Sabéllio, ensinava a identidade das três pessoas da
divindade, negando a distinção entre elas. A divindade é uma só. Ela tem três manifestações
idênticas. Essas manifestações não são pessoas distintas. Mas o Pai é o Filho, o Pai é o Espírito
Santo. O Pai, sendo Filho, sofreu e morreu. Daí a heresia resultante: Patripassionismo. Por
julgar que a expressão “e os três são um” os favorecia, os seguidores da heresia do
sabelianismo cristão de Alexandria, já acostumados a adulterar o texto Sagrado, não tiveram
dúvida: omitiram de suas cópias a Comma Joanina.
3. Omissão voluntária de má fé

As modernas versões e traduções da Bíblia são feitas a partir de um punhado de Mss gregos
chamados Alexandrinos, por terem sua origem naquela cidade que foi o berço das heresias.
Esses Mss, chamados pelos críticos de superiores e melhores, são os seguintes: o Ms Sinaitico,
também chamado de Aleph (1ª letra do alfabeto hebraico) e o Ms Vaticano, também chamado
Ms B. Na realidade, são os mais corrompidos, como vamos mostrar”:

a. O descobridor do Códice Sinaitico – Tischendorf contou em torno de 14.800 alterações feitas


por nove pessoas diferentes dos copistas originais;

b. Ebernard Nestle — admitiu que teve de modificar o estilo do Texto Grego do Códice Sinaitico,
que apresentava um estilo do grego de Aristóteles e Platão, para o estilo Koinê;

c. O texto do Ms Vaticano omite 2877 palavras só nos evangelhos;

d. O Ms Sinaitico omite 3453 só nos evangelhos;

e. Em relação ao Textus receptus, o Texto Crítico difere 5337 vezes;

f. O Códice Sinaitico e o Códice Vaticano divergem entre si cerca de 3000 vezes, só nos
evangelhos.

Por aqui se vê que as várias omissões, inclusive da Comma, foram feitas intencionalmente e
com má fé.

Erro Gramatical

A omissão da cláusula Joanina envolve também um erro gramatical. As palavras gregas


espírito, água e sangue são neutras em gênero, na gramática grega. Mas em 1 João 5.8, se a
Comma for rejeitada, tais palavras são tratadas como se fossem masculinas. Essa
irregularidade é difícil de se explicar.

Dizer aqui que essas palavras foram personificadas, e por isso o tratamento masculino, não
resolve o problema da exegese, pois no versículo 6 o termo grego para Espírito também é
personificado e se refere ao Espírito Santo, mas não é tratado como se fosse masculino, mas,
sim, neutro.

A razão da mudança do gênero neutro para o masculino é a presença das palavras masculinas
(em grego) Pai e Palavra, que, gramaticalmente, levam o vocábulo Espírito para o masculino.
Estamos falando em relação aos artigos numerais gregos: EIS, MIA, EN E TREIS. 01, AI,TA,TRIA.

Mas isto é assunto para outro artigo mais exegético. O leitor interessado pode por si mesmo
fazer uma exegese e ver que a Comma Johanneum não pode ser uma interpolação. II

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