Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EDITORA UNISINOS
2012
APRESENTAÇÃO
LISTA DE QUADROS
Discute-se neste capítulo os principais aspectos derivados das relações existentes entre
três elementos que diretamente interferem na continuidade sustentável das operações, ou
seja, o volume de operações, os custos relacionados e as repercussões no resultado da
organização. Trata-se de uma técnica que possibilita otimizar os resultados no âmbito
das operações de curto prazo, destacando-se as decisões sobre política de preços,
terceirização ou não de uma atividade, níveis de investimentos operacionais, lançamento
ou não de um produto, negociações especiais com clientes e fornecedores etc.
1.1 Introdução
O conhecimento sobre qual o reflexo das decisões sobre a ocorrência dos custos,
ou seja, saber como os custos se comportam em relação às operações realizadas é de
grande utilidade para os gestores. A simulação dos efeitos que se terá nos resultados
em virtude de mudanças provocadas nos volumes tem se mostrado como um pré-
requisito para bem direcionar as decisões no sentido de se alcançar a desejada eficácia
na gestão dos negócios.
Compreender a gestão desses fatores tem como premissa dominar os conceitos
sobre métodos de custeio, variabilidade de custos, absorção de custos pelo volume de
produtos e dimensionar os impactos do uso da capacidade instalada. Conhecer outros
conceitos derivados, tais como a margem de contribuição, seja ela unitária ou total,
representatividade da estrutura de custos fixos, entre outros, são necessários para o
planejamento das atividades.
A relação dessas diversas variáveis (preços, custos, margens, volumes físicos,
capacidades de produção) está no âmago da análise custo-volume-lucro (CVL ), de
grande utilidade para a gestão de resultados. Técnicas decorrentes da análise CVL como
o ponto de equilíbrio, a margem de segurança operacional (MSO ) e o grau de
alavancagem operacional (GAO ) são instrumentos utilizados em uma variada gama de
decisões na gestão organizacional, tanto na determinação de níveis de atividades para
se proteger contra prejuízos, como para assegurar o alcance do retorno sobre
investimentos realizados.
A análise CVL , aplicável aos mais variados segmentos de negócio, desde hotéis,
linhas aéreas, indústria automobilística, restaurante etc., pode ser utilizada em várias
dimensões decisoriais, ou seja, presta-se tanto para atividades já existentes como no
planejamento e estudo de viabilidade de futuras operações. De fato, o conhecimento
da estrutura interna de custos e preços, aliado ao domínio das variáveis ambientais
externas de mercado (concorrentes, fornecedores, clientes), pode ser um diferencial
para se alcançar o sucesso na condução dos negócios.
Souza e Diehl (2009) reconhecem tal realidade e destacam que uma dessas
simplificações decorre da classificação dos custos em fixos e variáveis. Embora essa
classificação possa ser mais fácil para algumas empresas, para outras isso pode ser
muito dificultoso. Outra simplificação é considerar como constantes diversas variáveis
que pelas instabilidades de mercado nem sempre se comportam assim. Dentre tais
variáveis destacam-se os preços de venda de produto e de aquisição de matéria prima e
de outros. Isso sinaliza a importância de utilizar os resultados no contexto de uma
dimensão de curto prazo e dentro das características de cada mercado.
Também deve ser destacada a simplificação adotada na relação entre o volume
produzido e o volume vendido. Quando da realização e interpretação dos resultados,
tem-se como pressuposto que o volume produzido pela empresa será igual à
quantidade de produtos vendidos, o que pode não ocorrer na prática. Por fim, há
também a realidade de que, por mais que se mantenham sistemas de controle, há a
ocorrência de perdas durante o processo de fabricação, onerando os custos de forma
além do previsto. De outra parte, há também ganhos de maior eficiência, de escala e
variações favoráveis no rendimento de insumos tais como a matéria-prima ou outros
fatores de produção.
Apesar dessas simplificações do modelo da análise CVL, há o reconhecimento de
que elas não invalidam a importância do modelo como um recurso importante para dar
apoio ao processo de decisões operacionais nas empresas. A respeito disso, Souza e
Diehl (2009) complementam esclarecendo que pequenas distorções provocadas por
tais simplificações e características, se bem trabalhadas, não alteram substancialmente
o resultado do uso desse tipo de análise, nem eliminam os seus atributos principais,
mas que devem ser observadas quando do seu uso.
REFERÊNCIAS
GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 10 ed. São Paulo: Pearson Addison
Wesley, 2004.
SOUZA, Marcos A.; DIEHL, Carlos A. Gestão de custos: uma abordagem integrada entre
contabilidade, engenharia e administração. São Paulo: Atlas, 2009.
SOUZA, Marcos A.; SCHNOOR, Carla; FERREIRA, Fernanda B. Análise das relações custo-
volume-lucro como instrumento gerencial: um estudo multicaso com indústrias de grande porte do
Rio Grande do Sul. Revista de Contabilidade e Organizações, v. 5, n. 12, p. 109-134, 2011.
CAPÍTULO 2
O conteúdo deste capítulo amplia a ótica do produto como objeto central da mensuração
do resultado das operações, situação em que ele é o foco das técnicas de custeio,
mensuração de estoques e de resultados. Tal ampliação constitui-se em compreender e
analisar que diversas são as entidades geradoras do resultado (custos e receitas) das
organizações, além dos produtos. Incluem-se nessa categoria adicional o resultado por
clientes, por família de produtos, por pedido, por divisão. Há então um processo
decisório diferenciado que demanda informações de custos igualmente diferenciadas.
2.1 Introdução
A lógica da gestão das empresas fundamenta-se na otimização do resultado global
via planejamento e controle dos custos e receitas dos produtos e serviços produzidos
e comercializados. Apesar de essa lógica ser verdadeira, é preciso compreender que em
diversas situações isoladamente ela não é suficiente para uma gestão eficaz, fazendo
com que a gestão se concentre em outras unidades de mensuração.
O reconhecimento dessa realidade faz com que a empresa direcione suas atividades
também para a análise de custos e receitas no nível de cliente, regiões de venda,
representantes, família de produtos. Não raro, e dependendo do porte da empresa,
essa análise se amplia para outras unidades organizacionais, tratadas como divisões ou
unidades de negócios. Alguns exemplos podem ajudar na compreensão dessa situação:
(1) em uma negociação entre uma indústria de linha branca com uma grande rede
varejista o resultado global do pedido, e não por unidade de produto, mostra-se muito
mais relevante como uma informação para decisão; (2) um cliente, ao fazer uma
compra de valor significativo em uma loja, pleiteia um desconto para efetivar a
operação: esse desconto, se analisado individualmente, pode indicar que um dos
produtos está sendo vendido com prejuízo, mas, no global, há realização de lucro. Em
ambos os casos, portanto, deve prevalecer o resultado global da operação, que não
seria obtido caso a transação não fosse realizada, ou a análise somente concentrada no
nível de produto, com todos os riscos que isso pode envolver.
Também nessas análises e avaliações o domínio sobre a natureza e comportamento
dos custos mostra-se necessário. Assim, o conceito de custos variáveis, custos fixos e
custos diretos a determinados objetos de custeio são bases relevantes para a correta
geração e uso de informações gerenciais. Da mesma forma, dominar as características e
aplicação do método de custeio direto, em vez dos métodos por absorção e variável,
torna-se relevante para profissionais de custos e gestores usuários das informações
produzidas.
Em certas circunstâncias, como veremos adiante, poderemos atribuir aos departamentos (e,
portanto, à produção) certos tipos de custos fixos perfeitamente identificados com e no
departamento (por exemplo, depreciação das máquinas utilizadas no departamento), e deixar os
demais como custo de período. Trata-se de um meio-termo entre o custeamento direto puro e o
custeio por absorção. Parece-nos uma abordagem bastante racional.
O custeio direto, segundo nossa opinião, não é bem distinguido do custeio variável. Deveria
admitir apenas os custos facilmente identificáveis com o produto (ou melhor dizendo, com a
linha de produto), fossem variáveis e/ou fixos. […] Constituir-se-ia uma melhor aproximação
do custeio integral, pois apropria também os custos fixos identificáveis naturalmente com o
produto e os raros custos variáveis que não fossem diretos. Parece-nos um conceito não muito
difundido com a clareza indispensável, tendendo-se a hibridar-se com o custeio variável.
Pode-se definir o método de custeio direto como aquele que leva aos objetos de custeio as
seguintes modalidades de gastos: custos diretos de fabricação variáveis, custos indiretos de
fabricação variáveis, custos indiretos de fabricação fixos específicos, despesas operacionais
variáveis e despesas operacionais fixas específicas.
São alocados por cada produto somente os custos diretos, ou seja, aqueles que se consomem
na geração dos produtos, sejam fixos ou variáveis. Os demais custos são lançados para o
período, não transitando pelos estoques.
Além desses dados, sabe-se que a empresa comercializa seus produtos ao preço de
$200 por unidade e margem bruta de 25%. Os clientes pagam suas compras à vista.
Depois de uma cuidadosa análise dos dados operacionais dos últimos 18 meses,
determinaram-se os seguintes custos por atividade.
Foi apurado que o custo fixo corporativo (geral) atingiu $672. A estrutura
organizacional/operacional adotada pela empresa apresenta o seguinte desdobramento:
( a) divisões: (resinas e pigmentos); (b) divisão pigmentos: (corantes plásticos e
corantes cerâmicos); (c) linha corantes plásticos (produtos embalagens e produtos
eletrodomésticos).
Para fins de demonstração do resultado da organização é apresentado o seguinte:
(a) demonstração analítica do total da empresa (divisões resinas e pigmentos); (b)
divisão pigmentos (linhas corantes plásticos e corantes cerâmicos); (c) a linha corantes
plásticos (produtos embalagens e produtos eletrodomésticos). Conforme o interesse
da direção, outros níveis podem ser efetuados.
REFERÊNCIAS
FREZATTI, Fábio. Orçamento empresarial. São Paulo: Atlas, 1999.
IUDÍCIBUS, Sérgio. Contabilidade gerencial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1978.
MULHERN, Francis J. Costumer profitability analysis: measurement, concentration and research
directions. Journal of Interactive Marketing, v. 14, n. 1, p. 25-40, 1999.
NASCIMENTO, Diogo Toledo. Bases para a eficácia de sistema de custeio para gestão de preços.
Tese (doutoramento em Controladoria e Contabilidade) – FEA/USP. São Paulo: 1989.
SILVA, Paulo Roberto. Uma contribuição à contabilidade de custos na formação de preços de venda
na indústria de bens de consumo. Dissertação (mestrado em Contabilidade) – FEA/USP. São Paulo:
1980.
SOUZA, Marcos A.; COLLAZIOL, Elisandra; KIRCH, Guilherme. Gestão econômica de sistemas
logísticos: uma investigação sobre o uso de técnicas de mensuração. In: Simpósio de Engenharia de
Produção – SIMPEP, 11, 2004. Anais… Bauru (SP), UNESP, 2004.
STEFFEN, Helen C. Impactos das diferentes filosofias de custeio na valorização do estoque e no
resultado da entidade. In: BRUGNERA, Alcides (org). Contabilidade de custos II. São Leopoldo:
Editora Unisinos, 2012, p. 51-73.
WERNKE, Rodney; LEMBECK, Marluce. Análise de rentabilidade dos segmentos de Mercado de
empresa distribuidora de mercadorias. Revista Contabilidade e Finanças, n. 35, p. 68-83, mai./ago.
2004.
CAPÍTULO 3
3.1 Introdução
Diversas consequências decorrem a partir do crescimento das organizações. Uma
dessas consequências refere-se à impossibilidade para que uma administração central
se ocupe em decidir sobre tudo o que ocorre em toda a empresa. A transformação de
uma empresa com planta única em outra com diversas operações realizadas em
diversos locais de um mesmo país ou mesmo em diversos países é um exemplo dessas
novas realidades.
Em consequência dessas transformações, novos formatos de estrutura
organizacional surgem, sendo comum a criação de unidades de negócios com gestão
autônoma, mantida a obrigação de prestação de contas ao comando central. Não raro,
essas unidades de negócios, além de realizar operações de comercialização com clientes
no mercado, realizam também transferências internas com outras unidades, surgindo,
então, a figura de fornecedores e clientes internos. Nessas situações, o resultado das
unidades de negócios e, por consequência, o global da sociedade, é decorrente também
dessas transações internas.
Sob a ótica dessa nova realidade estrutural, a gestão da empresa passa,
obrigatoriamente, pelo controle da gestão individual das unidades de negócios. Assim,
um dos objetivos é mensurar as fontes de geração do resultado da companhia, ou seja,
conhecer as fontes geradoras que contribuem para a construção do resultado global da
empresa. É nesse momento que surge a necessidade de se adotar uma forma de
mensuração das transações internas entre as unidades, até mesmo como forma de
avaliar a continuidade dessas transações ou, dependendo de cada situação, optar-se
por um abastecimento externo no lugar de privilegiar a “compra” de materiais ou
serviços de uma unidade interna.
Compreender os reflexos da movimentação de custos e receitas dessas operações
tem no estabelecimento dos preços das transferências internas um instrumento útil
para a mensuração do desempenho das várias unidades e gestores dos negócios da
empresa. Dadas as diversas modalidades de preços passíveis de serem adotadas na
mensuração dessas transferências internas, é importante conhecer as características
gerais, os aspectos favoráveis e desfavoráveis de cada uma delas de forma a direcionar
o uso daquela que mais se adapta e contribui para a gestão dos negócios.
Uma divisão pode fornecer produtos ou serviços para outras divisões da própria organização.
Quando isso ocorre, a mensuração do desempenho divisional pode tornar mais difícil, porque
os preços pelos quais esses produtos ou serviços são transferidos para a divisão compradora
influenciarão os indicadores de desempenho, como, por exemplo, a receita de venda da divisão
vendedora, o custo da divisão compradora e o lucro de ambas.
Observa-se que controlar o resultado dos centros de responsabilidade pode
acarretar em dificuldades na hora de se avaliar as operações realizadas entre estes
centros, tornando delicada e complexa a precificação dos bens e serviços transferidos
entre eles. As diversas alternativas de precificação e as suas possíveis repercussões
constam da próxima seção.
REFERÊNCIAS
CATELLI, Armando (org.). Controladoria: uma abordagem da gestão econômica. São Paulo: Atlas,
1999.
COSENZA, J. P.; ZARDOYA ALEGRÍA, A. I. Considerações sobre os preços de transferência a
partir de uma perspectiva de gestão empresarial. Caderno de Pesquisas em Administração (USP), v.
11, p. 57-73, 2004.
FREZATTI, Fábio; ROCHA, Welington; NASCIMENTO, Artur R.; JUNQUEIRA, Emanuel.
Controle gerencial: uma abordagem da contabilidade gerencial no contexto econômico,
comportamental e sociológico. São Paulo: Atlas, 2009.
JIAMBALVO, J. Contabilidade gerencial. Rio de Janeiro: LTC, 2009.
JUNQUEIRA, Emanuel R.; MORAES, Romildo O.; SILVA NETO, Gilberto A. Utilização do preço
de transferência na avaliação de desempenho das divisões e dos gestores. In: XXIV Encontro Nacional
de Engenharia de Produção – ENEGEP. Anais… Florianópolis, ABEPRO, 2004.
MAHER, Michael. Contabilidade de custos: criando valor para a administração. São Paulo: Atlas,
2001.
SOLOMONS, D. Divisional performance: measurement and control. New York: First M. Wiener
Publishing, 1965.
SOUZA, Marcos A. Práticas de contabilidade gerencial adotadas por subsidiárias brasileiras de
empresas multinacionais. Tese (doutoramento em Controladoria e Contabilidade) – FEA/USP. São
Paulo: 2001.
SOUZA, Marcos A.; CARDOSO, Maurício F.; MACHADO, Rosane. Preço de transferência interna
como instrumento gerencial: um estudo da utilização por indústrias localizadas no estado do Rio
Grande do Sul. Gestão & Regionalidade, v. 27, n. 79, p. 79-95, 2011.
CAPÍTULO 4
Este capítulo destina-se a abordar o uso das informações de custos no processo decisório
da gestão organizacional. Dada a variedade dos tipos de custos, principalmente em
relação à sua identificação e variabilidade em relação aos objetos de decisão, é natural
que haja um tratamento específico na mensuração dos custos de forma a subsidiar que o
gestor faça a opção pela melhor alternativa disponível. A identificação de custos
irrecuperáveis e custos diferenciais, em virtude da dimensão de sua ocorrência, é uma
questão central nesse processo de mensuração e que pode influenciar significativamente a
decisão.
4.1 Introdução
Dentre as diversas fontes de informações utilizadas na gestão das organizações, as
relacionadas a custos são reconhecidas como valiosas para uma gestão eficaz. O papel
das informações de custos para subsidiar o processo decisório tem se destacado ainda
mais nas últimas décadas tendo em vista o acirrado processo de disputa de mercado.
De fato, dada a força do mercado em determinar parâmetros de preços aceitáveis para
produtos e serviços, a capacidade da empresa em repassar custos nesses preços tem
se reduzido cada vez mais. Assim, a perda de manipulação de preços força as
empresas a buscarem maior eficiência e eficácia na realização das suas atividades como
forma de viabilizar a continuidade sustentável dos negócios.
Em face dessa realidade, é mais necessário ainda o conhecimento sobre estrutura e
comportamento dos custos relacionados às decisões em pauta. É essa base de
conhecimento que vai contribuir na criação da habilidade em utilizar as informações de
custos na busca da melhor decisão. Assim, conceitos adicionais sobre a natureza dos
custos, como custos irrecuperáveis e custos diferenciais, são essenciais nessas
situações de escolhas de oportunidades.
O campo de aplicação dessa base de conhecimento em custos é muito diverso,
compreendendo a avaliação de investimentos operacionais em fatores de produção,
lançamentos de novos produtos ou avaliação da permanência daqueles já existentes.
Inclui-se também nesse conjunto as decisões sobre estratégias operacionais do tipo
fazer versus comprar, terceirização de atividades-meio ou mesmo atividades-fim.
Máquina nova
Descrição Valor
Preço de tabela 200.000
Expectativa de vida 4 anos
Valor de venda no 4º ano -0-
Custos variáveis anuais 300.000
Receita Anual de vendas 500.000
Em situações como essas, e a fim de evitar a “ilusão” de que todos os custos são
elimináveis com a saída de um produto, elaborou-se a seguinte demonstração de
resultado com base no método de custeio variável.
Verifica-se, na Tabela 25, que o lucro bruto é o mesmo que apresentado na Tabela
22, com a diferença de que agora se tem identificada a classificação dos custos em
variáveis e fixos. Como já esclarecido anteriormente, os custos fixos não se referem a
nenhum dos produtos em específico e, ao contrário, trata-se de uma estrutura montada
para atender a produção de todos eles.
Assim, se eliminado um dos produtos, a tendência, principalmente de curto e
médio prazo, é que tais fixos custos permanecerão os mesmos e deverão ser
absorvidos pelos demais produtos. Para mostrar o efeito no lucro bruto caso o
produto Argentina fosse excluído adotou-se aqui o mesmo critério da Tabela 24, ou
seja, os custos fixos apropriados ao produto Argentina são transferidos ao demais na
mesma proporção dos custos fixos já existentes em cada um (Tabela 26).
Potencial de Lucro:
a. Tênis: 6.000 × $17,00 = $102,000 -$24.000 = $78.000 (melhor opção)
b. Sapatos: 7.000 × $13,00 = $91.000 -$24.000 = $67.000
Verifica-se que o produto Tênis é a melhor opção dada a sua maior margem de
contribuição, apesar de incrementar as vendas em volume menor quando comparado
ao produto Sapatos. Caso fosse adotado o lucro operacional de cada produto,
utilizando-se o método de custeio por absorção, ter-se-ia tomada a pior decisão que
seria privilegiar o produto Sapato já que o seu lucro operacional ($9,00) seria superior
ao do Tênis ($6,00). Observa-se, novamente, que nestas situações os custos e
despesas fixos, por continuarem existindo independentemente da decisão, não devem
ser considerados na análise: são os já identificados como custos irrecuperáveis ou não
diferenciais, irrelevantes para a situação retratada.
Neste caso, a oferta para produzir 10.000 unidades acaba por provocar um
acréscimo de $1.000 no custo total. Quer dizer, os ganhos obtidos pelos custos de
materiais diretos ($21.000) são inferiores aos ganhos com os custos de mão de obra,
custos indiretos variáveis e custos indiretos fixos ($20.000). Os custos comuns, no
valor de $15.000, não interferem na decisão, pois se repetem em ambas as situações.
Portanto, a oferta não é aceitável.
Outra situação, por exemplo, com 5.000 unidades, pode ser interessante, conforme
dados apresentados na Tabela 33.
5.1 Introdução
Diversos são os fatores que determinam ou influenciam na capacidade competitiva
das empresas. Dentre tais fatores, o preço de venda tem se destacado como talvez um
dos mais relevantes dada a limitação da empresa em simplesmente praticar o preço
desejado. Na realidade, essa limitação, determinada pelas forças de mercado, faz com
que as empresas se dediquem a explorar, além da gestão de custos e margens, as
possíveis consequências das estratégias de preços adotadas.
Outro aspecto relevante da formação de preços a ser discutido é o impacto que a
estrutura de custos provoca na mensuração do preço de venda que melhor atende aos
objetivos da empresa, respeitados os limites de mercado. É a partir dessa análise
conjunta e comparativa da estrutura interna de custo, margens de lucros e limites de
mercado que se visualiza possíveis inconsistências e direcionamentos alternativos para
o alcance da eficácia desejada.
Além das estratégias de mercado adotadas, estrutura de custos e margens, é
necessário atentar também para os aspectos tributários das operações de
comercialização, sempre uma questão complexa e de relevantes impactos na formação
de preços. De outra parte, em face da completude do tema formação de preços, é
necessária a visão integrada com outros instrumentos de gestão, tais como as relações
CVL, custo-padrão e custo-meta, estes últimos tratados nos Capítulos 6 e 7 deste
livro.
5.2 Estratégias de formação de preços
Além da representatividade e força do mercado em estabelecer preços de venda,
diversas estratégias têm sido desenvolvidas e estão à disposição das empresas para
uso, considerados os objetivos e metas estabelecidos. Além disso, deve-se considerar
que o estabelecimento de preços é uma atividade complexa e compreende três
elementos centrais: estratégia, mercado e custos. A estratégia, como meio para a
empresa viabilizar o alcance dos seus objetivos; o mercado, representado pelos
agentes que interagem e movimentam o mercado (clientes, fornecedores, concorrentes);
o custo, como um aspecto interno às empresas e também um recurso cujo uso precisa
ser otimizado. Algumas das principais estratégias são apresentadas na sequência.
Uma demonstração de resultado pode ser utilizada para comprovar a exatidão dos
cálculos e margens:
Receita de venda 2.940.000
Custo de produção 2.000.000
Lucro bruto 940.000 (margem de 32,0%)
Despesa operacional 300.000
Lucro operacional 640.000 (margem 21,8%)
Verifica-se pelos dados da Tabela 36 que o preço de venda calculado pelo markup
(divisor e multiplicador), no valor de $781,25, possibilita, após deduzido os
impostos, custos e despesas, gerar o lucro desejado, equivalente a 15% do preço
praticado. Adicionalmente, gera-se a informação da margem bruta de 18%, um
indicador para futuras avaliações de performance.
Outro exemplo mais completo, considerando-se diversas outras variáveis de
custos e despesas, inclusive do imposto de renda, possibilita a visualização de uma
situação mais próxima do que realmente se encontra na prática. Para tal
exemplificação, consideremos os dados constantes do Quadro 4.
Com base em tais dados, calcular: (a) Fator de markup divisor; (b) Fator de
markup multiplicador; (c) Preço de venda unitário; (d) DRE completa (lucro líquido)
com a venda de uma unidade; (e) M argem bruta; (f) M argem operacional. Apresenta-
se na sequência o cálculo e comprovação do preço de venda que viabiliza os objetivos
da empresa.
Como já sabido, precisamos quantificar as operações e respectivas porcentagens
sobre a venda para cálculo do markup divisor e multiplicador:
6.1 Introdução
Apesar das diversas formas e modelos que podem ser adotados para se estruturar
o processo de gestão das organizações, parece razoável aceitar que uma gestão racional
passa pela consideração de três fases básicas: planejamento, execução e controle. Isso
significa que as atividades organizacionais, para potencializarem as suas
probabilidades de sucessos, passam por uma fase em que as ações são planejadas
(estabelecimento de metas, objetivos, formas de realização), executadas (fase de
realização, das coisas acontecerem efetivamente) e controladas (fase de análise e
avaliação de desempenho do que foi executado em relação ao planejado). Considera-se
ainda que tais fases básicas compreendam um ciclo contínuo de planejamento-
execução-controle que viabiliza à organização cada vez mais se aperfeiçoar e otimizar
os seu desempenho e resultados (PEREIRA, 2001).
Esse processo e fases genéricas de gestão devem permear todas as atividades da
organização, seja no âmbito estratégico, seja no âmbito operacional. M ais
especificamente nesse âmbito operacional, há uma busca incessante das organizações
na busca da eficiência dos seus processos e eliminação de desperdícios e outras formas
de ineficiências. A contabilidade de custos, enquanto parte do sistema de informações
gerenciais da organização, participa ativamente dessa busca por melhores
desempenhos e tem desenvolvido práticas específicas que possam gerar informações
de apoio aos gestores. O sistema de custo-padrão se insere entre essas práticas e é
estruturado com base em um arcabouço teórico e de procedimentos específicos que o
torna um importante instrumento de gestão de custos das organizações.
Esta já tradicional prática do custo-padrão também é beneficiada pelo
impressionante avanço que se tem verificado nas aplicações da tecnologia de
informação em termos de software e hardware. De fato, isso tem possibilitado que o
custo-padrão seja explorado com maior intensidade em todos os seus benefícios à
gestão organizacional.
Outra característica do custo-padrão é a sua praticidade de operacionalização,
tornando-o aplicável a grandes ou pequenas empresas, industriais, de serviços ou
comerciais. Reconhecer as limitações do custo-padrão, a exemplo do que ocorre com
outras práticas de gestão, e consideradas as características estruturais e dos processos
de cada tipo de empreendimento, é um passo importante para aproveitar todos os
benefícios que a prática oferece à gestão. Cabe aos profissionais de custos
disseminarem os seus princípios, vantagens, desvantagens, limites e amplitudes de uso
e aplicação por toda a organização.
O esquema de cálculo das variações dos custos indiretos (CIF) está representado
na Figura 9, compreendendo os três tipos de variações comentadas.
Com base nos dados apresentados na Tabela 40, e utilizando o método de custeio
por absorção, deve-se preparar:
a. custo unitário e total, por elemento de custo e global, padrão, real e variações;
b. origem da variação global;
c. origem da variação de matéria-prima, mão de obra direta e custos indiretos;
d. quadro-resumo da variação unitária;
e. demonstração gerencial do resultado, considerando que houve a venda de 90%
da produção com margem bruta de 25%.
Tabela 41 – Quadro geral de valores unitários e totais do padrão, real e variações (item
a)
A partir dos dados apresentados na Tabela 41, procede-se às diversas análises dos
custos entre aqueles estabelecidos pelo sistema de padrões e aqueles realmente
ocorridos. Isso é feito a partir do Quadro 5.
Na análise dos aspectos envolvidos nas variações dos CIF, é possível verificar
dois aspectos favoráveis. O primeiro deles refere-se aos benefícios de operar a
estrutura com escala maior do que a estabelecida pelo padrão. Realmente, ao se
trabalhar efetivamente com 23.000 unidades no lugar das 20.000 planejadas, houve um
ganho unitário de $0,7174. O segundo aspecto refere-se ao melhor uso do tempo de
produção por unidade (ganho de eficiência), conseguindo-se 22 contra os 25 minutos
do custo-padrão,responsável por mais um ganho unitário, agora de $0,75.
Analisando-se os aspectos desfavoráveis, a análise evidencia que os CIF variáveis
tiveram um valor desembolsado maior do que aquele planejado ($0,28 versus $0,25),
redundando numa perda de $0,66 por unidade.
Por fim, tem-se a perda de custo nos elementos do CIF fixo, em função dos
pagamentos realizados em valores que excederam àqueles planejados. No caso da
depreciação, não há desembolso, mas há, como sabido, a perda econômica. Essa
análise global de todos os componentes é importante, pois no processo de gestão são
eles os objetos de apreciação e não simplesmente o resultado global, no caso
desfavorável em $0,0622.
7.1 Introdução
O custo-meta, a exemplo do custo-padrão, é mais um instrumento direcionado a
incrementar as atividades de planejamento e controle de custos. Conforme já
discutido, o sistema de custo-padrão é uma ferramenta que procura assegurar o alcance
da eficiência interna das operações, principalmente com respeito à ocorrência dos
custos. Quanto a esse aspecto da busca pela eficiência, o custo-meta também traz
contribuição relevante para a gestão de custos.
Algumas características próprias do custo-meta, entretanto, mostra sua capacidade
de contribuir de forma diferenciada nesse aspecto da gestão dos custos. Conforme já
referido neste livro, as mudanças no ambiente operacional das empresas,
principalmente o acirramento da concorrência, trouxe às empresas uma preocupação
adicional com as repercussões internas provocadas por tais mudanças. No caso da
gestão dos custos, dadas as limitações da empresa em simplesmente repassá-los nos
preços de venda, essas repercussões ensejaram o desenvolvimento de práticas que
mais objetivamente respondam às novas demandas da gestão. É o caso do custo-meta.
Numa ótica mais objetiva, o valor do custo-meta é fruto de uma equação bastante
simples. Colocando-a em forma de uma demonstração de resultado, pode-se fazer a
seguinte representação:
REFERÊNCIAS
ANSARI, S. et al. Target costing : the next frontier in strategic cost management. New York:
McGraw-Hill, 1997.
ATKINSON, A. A.; BANKER, R. D.; KAPLAN, R. S.; YOUNG, S. M. Contabilidade gerencial.
São Paulo: Atlas 1995.
ATKINSON, A. A.; BANKER, R. D.; KAPLAN, R. S.; YOUNG, S. M. Contabilidade gerencial.
2. ed. São Paulo: Atlas 2008.
BAGGALEY, Bruce. Value stream management for lean companies. Journal of Cost Management,
v.17, n. 3, p. 24-30, may/jun. 2003.
BOWHILL, Bruce; LEE, B. The incompatibility of standard costing systems and modern
manufacturing: insight or unproven dogma. The Journal of Applied Accounting Research, v. 6, n. 3,
p. 1-24, 2002.
BOYNS, T.; EDWARDS, J. R. The development of cost and management accounting in Britain. In:
CHAPMAN, C.S.; HOPWOOD, A. G. SHIELDS, M. D. (Eds). Handbook of management
accounting research. Oxford: Elsevier, v. 2, p. 969-1034, 2007.
CARASTAN, Jacira T. Custo-meta e custo-padrão como instrumentos do planejamento empresarial
para obter vantagem competitiva. In: Congresso Brasileiro de Custos, 6, 1999, São Paulo. Anais…
São Paulo: ABC, 1999.
COOPER, R.; SLAGMULDER, R. Develop profitable new products with target costing. Sloan
Management Review, v. 40, n. 4, p. 23-33, 1999.
COOPER, R.; SLAGMULDER, R. Gestão de custos de ciclo total. HSM Management, v. 9, n. 49,
p. 43-49, 2005.
HANSEN, J. E. Aplicação do custeio alvo em cursos de pós-graduação lato sensu: Um estudo sob o
enfoque da gestão estratégica de custos. 2002. 211p. Dissertação (mestrado em Controladoria e
Contabilidade) – FEA-USP, São Paulo.
JIAMBALVO, James. Contabilidade gerencial. Rio de Janeiro: LTC, 2002.
MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
MASKELL, Brian H. Standard costing can lead to poor decisions. 2004. Disponível em:
www.leaninstituut.nl/publications/Standard_ Costing_Can_Lead_to_Poor_decisions.pdf. Acesso em
30 nov. 2009.
PEAVEY, Dennis E. Battle at the GAAP? It’s time for a change. Management accounting, p. 31-35,
feb. 1990.
PREDIC, Biljana; STEFANOVIC, Suzana. Costs management for a profitable new product
development. Facta Universitatis Series: Economics and Organization, v. 1, n. 7, p. 9-16, 1999.
SAKURAI, Michiharu. Target costing and how to use it. Journal of Cost Management, p. 39-50,
summer 1989.
SAKURAI, Michiharu. Gerenciamento integrado de custos. São Paulo: Atlas, 1997.
SOUZA, M. A.; ZANELLA, F. C.; NASCIMENTO, A. M. Utilização do custo-meta por empresas
brasileiras como estratégia de gestão. Revista Contabilidade e Finanças – USP, São Paulo, n. 39,
2005.
TURNEY, Peter B. B.; ANDERSON, Bruce. Accounting for continuous improvement. MIT Sloan
Management Review, v. 30, n. 2, p. 37-47, 1989.
1 No método de custeio por absorção, as despesas operacionais não integram o custo dos produtos.
Além disso, os custos indiretos são apropriados aos produtos com base em alguma medida de
volume como direcionador dessa apropriação (volume de produção, volume de horas de mão de
obra ou máquinas).
2 Contrariamente ao método por absorção, o ABC considera também as despesas como um gasto
relacionado aos produtos. Além disso, considera a atividade como a ação geradora dos custos e,
por meio de direcionadores específicos, utilizados para alocar o custo às atividades e destas aos
produtos que delas se utilizam.
3 CDF: Custos e Despesas Fixas; MC: Margem de Contribuição; LD: Lucro Desejado; SC: Sobra
de Caixa; CDF Desembolsável: CDF que efetivamente impliquem saída de recursos – exclui, por
exemplo, a depreciação. Margem de Contribuição: Preço de Venda (-) Custos e Despesas Variáveis
(CDV).
4 Observa-se, complementando as fórmulas de cálculo apresentadas no Quadro 1, que o PE também
pode ser calculado em valor de receita de venda (Exemplo 1b). Neste caso, em vez de se dividir o
valor do CDF pelo valor da margem de contribuição (para cálculo do PE em volume físico de
produto, Exemplo 1a), divide-se pela margem de contribuição em %, no caso 31,25% (ou 0,3125),
produto da divisão da margem ($100,00) pelo valor da venda ($320,00).
5 Apenas para se evitar problemas de arredondamento mais expressivos, utilizam-se quatro casas
decimais nos volumes de venda. Ressalta-se que, por tratar-se a CVL um instrumento gerencial, na
prática essa precisão não é necessária.
6 Adaptado de Garrison e Noreen (2001, p. 433).
7 Adaptado de Maher (2001, p. 491).
8 Para melhor e mais amplo entendimento dessas diversas situações, recomenda-se consultar o
estudo de Bernardi (1996).
9 Cooper e Slagmulder (1999) estudaram os sistemas de custo-meta adotados por companhias
japonesas, documentando os seus procedimentos. A partir daí diversas publicações se originaram
sobre essa prática.
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
Reitor
P e. Marcelo Fernandes de Aquino, SJ
Vice-reitor
P e. José Ivo Follmann, SJ
EDITORA UNISINOS
Diretor
P e. P edro Gilberto Gomes, SJ
ISBN 978-85-7431-550-8
CDD 657.42
CDU 657.4
Esta obra segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua P ortuguesa vigente desde 2009.
Editor
Carlos Alberto Gianotti
Acompanhamento editorial
Mateus Colombo Mendes
A reprodução, ainda que parcial, por qualquer meio, das páginas que compõem este livro, para uso não
individual, mesmo para fins didáticos, sem autorização escrita do editor, é ilícita e constitui uma contrafação
danosa à cultura. Foi feito o depósito legal.
Sobre o autor
MARCOS ANTONIO DE SOUZA, doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP . Mestre em
Administração pela Universidade Metodista de São P aulo (UMESP ). Bacharel em Administração de
Empresas pelo Centro Universitário Santo André (UNIA). P rofessor das disciplinas de Gestão Estratégica
de Custos e Análise de Custos do P rograma de Mestrado em Ciências Contábeis da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (UNISINOS). P rofessor das disciplinas Contabilidade de Custos e Controles de Gestão do
curso de Ciências Contábeis da UNISINOS. Experiência profissional nas áreas de Controladoria,
Contabilidade Financeira e Contabilidade de Custos de empresas nacionais e multinacional de origem norte-
americana. Experiência em docência e coordenação de cursos superiores desde a década de 1980. Sócio da
empresa Bruine Souza Consultores Associados Ltda. Atua como professor da UNISINOS desde 2002.