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CONSIDERAÇÕES SOBRE ORGANIZAÇÕES MILITARES – EM PARTICULAR DA A VIAÇÃO DO EXÉRCITO

Em seu livro, intitulado como A Face da Batalha, John Keegan concluiu que a batalha
entre exércitos formais constituídos e garantes de países que detêm significativo poder de
destruição tende a ser abolida, uma vez que o encanto provocado pela dissuasão contribui para
que recursos políticos sejam privilegiados perante a possibilidade do uso da pólvora como
mecanismo final de solução dos conflitos de interesses.

A solução dos conflitos pacificamente, ou seja, afastada da componente bélica, embora


visionária para um mundo que ainda se apóia na Pax de Westphalia, não encontrou definitivo
suporte especialmente naqueles países capazes de dominar o ciclo tecnológico da produção de
armamentos.

O combate atual, respondendo às vicissitudes desse tempo difuso, antagoniza-se com os


combates realizados no Século passado, em que pese ser a violência ainda extremamente
significante. A inserção de novos atores, o cenário urbano dos conflitos, a mescla de civis e
militares no ambiente operacional, são condicionantes dessa nova maneira de fazer guerra, de
combater.

Considerando todos os aspectos mutáveis e determinantes dos combates, os exércitos,


cada vez mais especializados e cibernéticos, conservam como fonte e raíz de emprego o combate
combinado e a essencial integração das armas, no sentido de atingir com a máxima eficiência os
objetivos táticos-operacionais propostos pela estratégia de emprego.

O advento da criação das aviações de exército transformaram a dinâmica do combate


terrestre, proporcionando um escopo mais abrangente ao cenário tático e ampliaram as
possibilidades de atuação dos comandantes, em tempo oportuno, no contexto operacional.

As aviações de exército são concebidas para multiplicar o poder de combate da tropa


terrestre, facilitando suas ações, capacitando-as a se fazerem presente com maior precisão e
eficácia no campo de batalha delimitado pelo teatro operacional.

Nesse escopo de importância e por se considerar a presença da aviação do exército como


fator essencial de êxito nas operações militares do presente século, nasce a demanda que sua
estrutura organizacional responda às necessidades da Força Terrestre.

Pensar, hoje, portanto, na estrutura organizacional da Aviação é criar condições para que
o Exército continue a ser um efetivo sistema de dissuasão, dando respaldo à estratégia nacional.
Destarte, refletir sobre essa organização de maneira racional é projetar a Aviação do amanhã e
parte do Exército do futuro.

A solução dos problemas militares a serem vivificados no futuro passa pela mandatória
reflexão sobre os sistemas, em particular, nesse caso objeto, sobre a Aviação. A estrutura
visualizada não pode ser extremamente rígida, inflexível, avessa às transformações do contexto
operacional que tem a característica de ser dinâmico e difuso. Ela, sim, deve ser capaz de se
adaptar às vicissitudes de cada situação projetada, caracterizando-se pela flexibilidade.

Mais que comandar, nosso dever e missão inalienável é preparar a Aviação do Exército
para responder às necessidades do Exército e do Brasil nessa transição enfrentada pela evolução
do pensamento militar no alvorecer século XXI.

Nesse contexto, o fulcro se faz presente em várias vertentes, sendo prioritárias as


relacionadas ao capital humano e a inerente à política de pesquisa, desenvolvimento e
manutenção do complexo material de aviação.

A demanda por um Exército atual, associadas aos desafios inerentes à Era do


Conhecimento, faz com que o pensamento militar vigente exerça sobre si um complexo exercício
de reflexão, avaliando continuamente os conceitos, as técnicas empregadas, os materiais
utilizados, o papel da pesquisa e do desenvolvimento, o desenho das estruturas organizacionais
em uso e os conseqüentes reflexos sobre a doutrina empregada.

Significativamente, a estrutura atual ou as que no futuro virão a serem adotadas gera


reflexos distintos sobre a operacionalidade da Aviação, com reflexos profundos no contexto da
Força Terrestre.

A definição dessa estrutura que almeja projetar a Aviação para o futuro como
multiplicador da eficácia da Força serve de base para as premissas determinantes dos
subsistemas internos dessa aviação, definindo as diretrizes e as prioridades quanto à política de
pessoal, de material e de investimentos.

Abaixo, como subsídio, apresenta-se uma possível estrutura organizacional do sistema


aviação.
COLOG
COLOG CMO
CMO COTER
COTER CMA
CMA

CAvEx
CAvEx

DMAvEx
DMAvEx 1ª Bda Av
1ª Bda Ex
Av Ex 2ª
2ª Bda
Bda Av
Av Ex
Ex

3º Pq
Pq Mnt
Mnt Av
Av CIAVEX 4º BAvEx
3º BAvEx
BAvEx CIAVEX 4º BAvEx
Ex
Ex

1º BAvEx
1º BAvEx 6º BAvEx
6º BAvEx

Cia Log Mnt


Cia Log Mnt

2º BAvEx
BAvEx (CMS)
(CMS) Sup
Sup

5º BAvEx
5º BAvEx

BAvT
BAvT

B
B Log
Log Av
Av Ex
Ex

Logicamente que essa estrutura é passível de aperfeiçoamentos. Contudo ela norteia o


desenvolvimento do sistema Aviação. Com base nela pode-se inferir ações decorrentes para que
ela venha a ser, no futuro, viabilizada.

Sistemas complexos como a aviação carecem de medidas projetadas no tempo a fim que
não sejam necessárias mudanças de rumo que via de regra causam progressos e retrocessos,
sugerindo adaptações e o consequente risco de perder ou ter a eficácia degradada.

Subordinado ao maior escalão visualizado – Comando de Aviação, projeta-se duas


Brigadas de Aviação, uma desdobrada no Centro-Sul para atender o núcleo central, e outra no
Norte, a fim de dar respaldo dissuasório ao país. Naturalmente, a organização dessas brigadas
são muito particular. Há que se considerar que em sua organização as brigadas de aviação como
são denominadas necessitam ter uma estrutura diferente da que é concebida às brigadas da força
terrestre, pois elas não são responsáveis pelo combate integrado de armas. Elas receberam a
denominação de brigadas no caso em estudo, mas poderiam receber qualquer outra denominação
que sugira uma organização específica e bastante peculiar, ajustada ao emprego fluido da aviação
e suas necessidades específicas.

Como se observa, essas duas Bda Av Ex subordinam, respectivamente, três e dois


Batalhões de Aviação. Um quarto Batalhão, o 3º BAvEx desdobrado no CMO está, nessa
estrutura, diretamente subordinado àquele Comando Militar de Área.

A estrutura organizacional desses batalhões não necessariamente precisam ser a mesma e


devem depender sobretudo das características de emprego que cada área de desdobramento
impõe. Dessa forma, reconhece-se que as carcterísticas de emprego operacional no cenário
amazônico, considerando todos os fatores de decisão, é bastante diferente de um cenário
operacional localizado no sul do país. Tal fato justifica as diferentes estruturas organizacionais,
uma vez que elas direcionam o emprego, o adestramento e as capacidades. Havendo
necessidades específicas, claro que essas mesmas estruturas devem ser capazes de absorver
reforços de meios de aviação, oriundos das demais OM Av Ex.

Uma consideração bastante significativa, é o deslocamento da DMAvEx para a


subordinação do CAvEx, mantendo o vínculo logístico e orçamentário com o COLOG. Essa
solução visa proporcionar unidade de comando ao sistema aviação, com as vantagens derivadas
desse conceito.

As atividades logísticas, extremamente importantes, passam a ser desencadeadas por duas


unidades: o Pq Mnt Sup Av Ex e o Btl Mnt Sup Av Ex que passa a ser o B Log Av Ex, estando
aí inseridos todo o ciclo logístico administrativo e operacional, sendo o B Log Av Ex uma
unidade operacional que, sendo orgânica da Bda tem possibilidade de desdobrar-se em
campanha.

Não foi objeto desse trabalho detalhar as organizações subordinadas das OM Av nem das
duas Bda Av Ex, que podem receber outra denominação fruto de sua especificidade. Esse
objetivo que busca detalhar suas estruturas será apontado em considerações posteriores. Dessa
forma, a finalidade desse documento visa dar ensejo a discussões sobre o tema que, a médio
prazo, vai condicionar todo o emprego, a preparação, os investimentos da aviação e,
principalmente, sua capacidade de atuar como sistema de combate do Exército com adequado
poder de dissuasão.

Fábio Benvenutti Castro

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