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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.09.499736-8/000 Númeração 4997368-


Relator: Des.(a) Manuel Saramago
Relator do Acordão: Des.(a) Manuel Saramago
Data do Julgamento: 27/10/2010
Data da Publicação: 04/02/2011

EMENTA: REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI


MUNICIPAL - SUBSÍDIO - AGENTES POLÍTICOS - COMPETÊNCIA -
TRIBUNAL DE JUSTIÇA - REAJUSTE ANUAL -
INCONSTITUCIONALIDADE - VINCULAÇÃO AOS SERVIDORES
PÚBLICOS - INEXISTÊNCIA DE LEI ESPECÍFICA - DÉCIMO TERCEIRO -
PRINCÍPIO DA ISONOMIA - CONSTITUCIONALIDADE - VINCULAÇÃO A
DEPUTADO ESTADUAL - INOCORRÊNCIA - PROCEDÊNCIA PARCIAL.
Inconstitucional lei municipal que estabelece serem os subsídios reajustados
de forma vinculada ao reajuste geral e anual devido aos servidores públicos,
por ofensa ao Princípio da Separação dos Poderes. Constitucional dispositivo
de lei municipal que estabelece gratificação natalina aos agentes políticos,
por força do §3º do art. 39 da Constituição Federal, aplicável com
fundamento no Princípio da Isonomia. Constitucional dispositivo que, sobre
apenas prever referência de limite máximo, sem vincular ou equiparar,
estipula o subsídio de vereador levando em consideração o de Deputado
Estadual.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE N° 1.0000.09.499736-8/000


- COMARCA DE ARAGUARI - REQUERENTE(S): PG JUSTIÇA -
REQUERIDO(A)(S): PREFEITO MUN ARAGUARI, CÂMARA MUN
ARAGUARI - RELATOR: EXMO. SR. DES. MANUEL SARAMAGO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda a CORTE SUPERIOR do Tribunal de Justiça do Estado


de Minas Gerais, sob a Presidência do Desembargador CLÁUDIO COSTA ,
incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos
julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM
REJEITAR A PRELIMINAR E JULGAR PROCEDENTE

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PARCIALMENTE O PEDIDO.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2010.

DES. MANUEL SARAMAGO - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. MANUEL SARAMAGO:

VOTO

Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade manejada pelo


PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA em desfavor do PREFEITO DO
MUNICÍPIO DE ARAGUARI e DO PRESIDENTE DA CÂMARA, fustigando os
art. 3º da Lei municipal nº 4.432, de 08.09.08, e os arts. 3º, 4º, II, e 6º da Lei
municipal nº 4.433, de 08.09.08, que dispuseram sobre o subsídio de
agentes políticos.

Em suas razões, o requerente sustenta-se nos arts. 24, § 3º, 31, caput, 62,
VII e VIII, 66, I, "b" e "c", III, 'b', 165, § 1º, 176 e 179 da Constituição do
Estado e nos arts. 29, V e VI, e 39, §§ 3º e 4º, da Constituição da República,
pelo que, primeiro, não se pode reajustar automaticamente o subsídio de
forma vinculada aos reajustes concedidos ao servidor municipal, segundo,
ser vedada a percepção de gratificação natalina, diante da relação
meramente política com o Poder Público, diferentemente do servidor, e,
terceiro, ser vedada a equiparação ou vinculação de subsídios aos dos
Deputados Estaduais.

Examina-se.

- DA PRELIMINAR DE EXTINÇÃO

Como se depreende, não há na Constituição do Estado reprodução direta e


específica dos dispositivos constitucionais federais.

Não obstante, a vedação imposta é vinculativa e obrigatória de todos

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os entes federados.

Em assim sendo, pode-se afirmar que norma municipal que disponha em


sentido contrário ofenderia o disposto no §1º do art. 165 da Constituição do
Estado, cujo comando, sabidamente, é expresso quanto à determinação de
respeito aos princípios consagrados constitucionalmente.

Mesmo se assim não fosse, em recente pronunciamento, o eg. STF


entendeu que, "verbis":

"A omissão da Constituição Estadual não constitui óbice a que o Tribunal de


Justiça local julgue a ação direta de inconstitucionalidade contra Lei
municipal que cria cargos em comissão em confronto com o artigo 37, V, da
Constituição do Brasil, norma de reprodução obrigatória." (RE 598.016-AgR,
Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 20-10-09, 2ª Turma, DJE de 13-11-09)

Na hipótese supracitada, o Tribunal de Justiça Maranhense havia


consagrado o entendimento de que, diante da ausência de reprodução do
inc. X do art. 37 da Constituição Federal na Carta Estadual, eventual ação de
inconstitucionalidade proposta em face de lei municipal por ofensa àquele
dispositivo haveria de ser extinta, sem julgamento de mérito.

Portanto, este fora o objeto do "decisum", que, à unanimidade, foi reformado


pela Corte Suprema, cujos fundamentos, aliás, amoldam-se perfeitamente à
situação "sub judice".

Com base em tais considerações, enquadrando-se a hipótese "sub judice" no


§2º do art. 125 da Constituição Federal, REJEITO A PRELIMINAR.

- DO MÉRITO

Do art. 3º da Lei nº 4.432/2008

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"Art. 4º. Os subsídios estabelecidos no art. 1º serão reajustados na mesma


data e pelo mesmo percentual que for aplicado ao reajuste da remuneração
dos servidores do Município, observado o limite constitucional.

Do art. 6º da Lei nº 4.433/2008

"Art. 5º. Os subsídios de que trata esta Lei serão revisto anualmente, na
mesma data e com o mesmo índice dos servidores públicos municipais."

Como sabido, para fins de revisão geral e anual de vencimentos, "in casu",
subsídio, faz-se necessária a edição de lei específica por cada um dos
Poderes.

Mais.

É inconstitucional dispositivo de lei que prevê de forma genérica que os


subsídios dos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores serão vinculados aos
reajustes estabelecidos para os servidores públicos em geral, já que em
ofensa ao princípio da separação dos Poderes, ora insculpido nos arts. 66,
III, "b", 66, I, "b" c/c 62, VII e VIII, e 176, todos da Constituição do Estado.

Sem falar que a previsão de reajuste do agente político equiparado com o do


servidor público constitui vedação prevista pelo artigo 24, § 3º, da
Constituição do Estado.

Do art. 3º da Lei nº 4.433/2008

"Art. 3º - É assegurado aos vereadores o décimo terceiro subsídio, com base


no seu subsídio integral, a ser pago até o mês de dezembro de cada ano."

Desde já, fazendo-se ressalva aos anteriores votos proferidos como Vogal
em julgamentos similares, pode-se afirmar não se encontrar configurada a
inconstitucionalidade apontada.

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Isto porque trata-se a gratificação natalina de parcela remuneratória há muito


inserida no contexto jurídico de todos os trabalhadores, dentre os quais, em
seu sentido "lato sensu" (art. 7º da Constituição da República), encontram-se
os agentes políticos detentores de mandato eletivo.

Como se não bastasse, pode-se afirmar que a vedação contida na parte final
do §4º do art. 39 da Constituição Federal tem como fundamento impossibilitar
a prestação de remuneração variável, com vistas a efetivar o Princípio da
Moralidade Administrativa, insculpido no "caput" do art. 37 da Constituição
Federal.

Ora, a gratificação natalina, em que pese sua natureza jurídica


remuneratória, não tem o condão de desvirtuar o comando normativo
constitucional acima citado.

Deve-se concluir que valores correspondentes aos direitos assegurados no §


3º do art. 39 da Carta Magna, aos detentores de cargo público, dentre os
quais o décimo terceiro salário, não devem ser atingidos pela proibição de
qualquer acréscimo estipulada no §4º do mesmo dispositivo constitucional,
devendo, portanto, serem estendidos aos detentores de mandato eletivo, sob
pena de ofensa ao Princípio da Isonomia.

Por fim, deve-se ressaltar que, utilizando-se de hermenêutica constitucional,


especificadamente da técnica da ponderação, há de prevalecer norma de
maior abrangência e proteção das garantias e direitos subjetivos individuais e
sociais.

Do art. 4º, II, da Lei nº 4.433/2008

Art. 4º - Os subsídios pagos não poderão ultrapassar:

(...)

II - a 50% (cinqüenta por cento) do subsídio dos deputados estaduais;

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Como sabido, referida Lei fixou o subsídio dos vereadores para a legislatura
de 2009 a 2012.

Então, definiu ela o subsídio deles em favor fixo - art. 1º.

Repita-se, também previu que os subsídios pagos não poderiam ultrapassar


cinqüenta por cento do subsídio dos deputados estaduais - art. 4º, II.

Ora, não se há aplicar o art. 24, § 3º, da Constituição do Estado:

"Art. 24 - A revisão geral da remuneração do servidor público, sem distinção


de índices entre servidor público civil e militar, se fará sempre na mesma
data.

(...)

§ 3º - É vedado vincular ou equiparar espécies remuneratórias para efeito de


remuneração de pessoal do serviço público.

Em verdade, não se trata aqui de vinculação ou equiparação, mas de adoção


de referência como limite máximo, assim como dispõe o art. 29, VI, da
Constituição da República.

Aos mesmos fundamentos, nem se falasse ofendido o princípio da autonomia


do ente federado.

- DO DISPOSITIVO

Ao exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO INICIAI, apenas


PARA DECLARAR A INCONSTITUCIONALIDADE do art. 3º da Lei nº
4.432/08 e do art. 6º da Lei nº 4.433/, ambas do Município de Araguari.

De acordo.

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O SR. DES. BELIZÁRIO DE LACERDA:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. ARMANDO FREIRE:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. RONEY OLIVEIRA:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. HERCULANO RODRIGUES:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. CARREIRA MACHADO:

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VOTO

De acordo.

O SR. DES. ALMEIDA MELO:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. MÁRCIA MILANEZ:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. ALVIM SOARES:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. EDIVALDO GEORGE DOS SANTOS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. SILAS VIEIRA:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. WANDER MAROTTA:

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VOTO

De acordo.

O SR. DES. GERALDO AUGUSTO:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. CAETANO LEVI LOPES:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. MOREIRA DINIZ:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. VANESSA VERDOLIM HUDSON ANDRADE:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. VALDEZ LEITE MACHADO:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. TERESA CRISTINA DA CUNHA PEIXOTO:

VOTO

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Inicialmente, acompanho o voto proferido pelo eminente Relator quanto à


rejeição da preliminar.

No tocante à previsão de gratificação natalina aos Vereadores (artigo 3º da


Lei nº 4.433/2008), registro que o posicionamento sufragado pelo em. Relator
é o que venho adotando quando convocada para o julgamento perante esta
Corte Superior do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, conforme
entendimento que apresentei nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade de
lei municipal nºs 1.0000.09.500724-1/000, julgado em 14/07/2010;
1.0000.09.505761-8/000, julgado em 28/07/2010; 1.0000.09.506266-7/000,
julgado em 28/07/2010, 1.0000.09.507310-2/000, julgado em 28;07;2010,
1.0000.09.506786-8/000, julgado em 14/07/2010, dentre outros.

Nesse mister e reafirmando, entendo que os Municípios detêm autonomia


para fixar os subsídios dos agentes políticos (artigo 29, incisos V e VI da
CR/88, regra repetida pelo art. 179 da Constituição do /Estado de Minas
Gerais de 1989), podendo, por essa razão, estabelecer o pagamento de
décimo terceiro salário, sendo certo que embora a Constituição da República
não estenda automaticamente os direitos sociais previstos no § 3º do artigo
39 para os agentes políticos, regramento, aliás, que também é repetido pelo
art. 31 da CEMG, não há vedação expressa quanto à concessão, o que
significa dizer que, havendo previsão em lei municipal, não há que se falar
em inconstitucionalidade.

É como vem decidindo o colendo STJ:

"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO.


AGENTES POLÍTICOS. PRETENSÃO AO PAGAMENTO DE DÉCIMO
TERCEIRO SALÁRIO. A aplicabilidade dos direitos sociais, como a
gratificação natalina, aos agentes políticos somente é cabível se
expressamente autorizada por lei (precedente: REsp 837.188/DF, 6ª Turma,
Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe de 04.08.2008). Agravo regimental
desprovido" (AgRg no REsp 742.171/DF, Rel. Ministro FELIX

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FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 03/02/2009, DJe 02/03/2009).

No mesmo sentido a jurisprudência desta Corte de Justiça:

"ADIN - LEI FIXANDO GRATIFICAÇÃO NATALINA (13167 SALÁRIO E 1/3


DE FÉRIAS) PARA PREFEITO E VEREADORES - QUESTÃO
CONTROVERTIDA - CONSTITUCIONALIDADE PRESUMIDA. - Aos agentes
políticos, embora não se estendam automaticamente os direitos previstos no
§ 3º do ART. 39 DA cf, FICA A COCNESSÃO NA DEPENDÊNCIA DE LEI.
Havendo previsão em lei municipal, fazem jus às verbas relativas ao
DÉCIMO TERCEIRO salário, férias e 1/3 constitucional. - O STJ vem
entendendo, não pacificamente, que a aplicabilidade dos direitos sociais,
como a gratificação natalina, pode ser paga aos agentes políticos desde que
expressamente autorizada por lei (precedente: REsp 837.188/DF, 6ª Turma,
Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe de 04.08.2008)" (AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE Nº 1.0000.09.498292-3/000 - COMARCA DE
MONTE CARMELO - REQUERENTE(S): PG JUSTIÇA - REQUERIDO(A)(S):
PREFEITO MUN MONTE CARMELO, CÂMARA MUN MONTE CARMELO -
RELATOR: EXMº SR. DES. WANDER MAROTTA).

Igualmente, no que se refere à inconstitucionalidade da lei ao vincular os


reajustes dos subsídios dos agentes políticos em relação aos dos servidores
do Município (artigo 3º da Lei nº 4.432/2008 e artigo 6º da Lei nº 4.433/08),
tenho que deve prevalecer o entendimento do Relator, posto que a legislação
municipal acaba por infringir as regras constitucionais. Tanto o artigo 37, XIII
da CR/88, quanto o artigo 24, § 3º da Constituição Mineira, vedam a
vinculação ou equiparação de qualquer espécie remuneratória para efeito de
remuneração de pessoal do serviço público.

Ressalto que a Constituição da República traz, como já reconheceu a


Excelsa Suprema Corte, "nítida separação entre a classe dos servidores
públicos em geral e o seguimento daqueles agentes sitiados no topo da
estrutura funcional de cada Poder Orgânico da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios. Isto naturalmente para ensejar maior
visibilidade aos ganhos regulares de tais agentes, em cujos

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cargos, por isso mesmo, têm os respectivos nomes criados pela própria
Constituição" (Extraído do voto do Ministro Carlos Brito na Adi 3451-0/RS).

Permitir-se, portanto, como fez a Legislação do Município de Araguari, que


os reajustes dos agentes políticos municipais sejam vinculados àqueles
concedidos aos servidores públicos em geral, é atentar contra o princípio da
separação dos poderes, na medida em que a iniciativa da lei que trata de
remuneração dos servidores públicos é privativa do Chefe do Poder
Executivo (art. 61, § 1º, II, c da CR/88 e art. 66, III da CE), enquanto que,
como já se disse, a iniciativa da Lei que fixa remuneração dos membros do
Poder Executivo e Legislativo é privativa do poder Legislativo, por força do
art. 49, VII, VIII c/c art. 29, V e VI da CR/88 e art. 66, I, b e c c/c art. 62 VII e
VII e art. 173 da CE.

Nesse sentido:

"AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - PROCESSUAL CIVIL -


CRITÉRIO DA PARAMETRICIDADE - OBSERVÂNCIA - AGENTES
POLÍTICOS ELETIVOS - DÉCIMO TERCEIRO SUBSÍDIO - FIXAÇÃO
MENDIANTE LEI MUNICIPAL - POSSIBILIDADE - VINCULAÇÃO DO
REAJUSTE DOS SUBSÍDIOS DOS AGENTES POLÍTICOS MUNICIPAIS AO
ÍNDICE CONCEDIDO AOS SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS -
OFENSA AO ART. 24, Ë 3º DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL -
REPRESENTAÇÃO ACOLHIDA, EM PARTE. 1. Em tese, a alegada
impossibilidade jurídica do pedido traduziria, em verdade, inobservância do
critério da parametricidade, como causa de pedir da ação direta de
INCONSTITUCIONALIDADE. 2. É possível o controle concentrado junto ao
Tribunal estadual, confrontando-se a Lei Municipal em face da Constituição
Estadual, quanto a preceitos de observância compulsória, atinentes a
postulados cogentes, emanados da Constituição ?Federal, porque o
Supremo Tribunal Federal entende "inexistir usurpação de sua competência
quando os Tribunais de justiça analisam, em controle concentrado, a
constitucionalidade de leis municipais ante normas constitucionais estaduais
que reproduzam regram da Carta da República de observância obrigatória".
3. Não há

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INCONSTITUCIONALIDADE na fixação de décimo terceiro subsídio em favor


de agentes políticos eletivos, restando íntegro e preservado o regime
remuneratório por subsídio em parcela única. Inteligência dos arts. 39, §§ 3º
e 4º da Constituição Federal. 4. É inconstitucional a VINCULAÇÃO do índice
de reajuste dos subsídios dos agentes políticos ao reajuste dos servidores
públicos municipais, por nítida afronta ao § 3º do art. 24 da Constituição do
Estado de Minas Gerais" (AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Nº 1.0000.09.500724-1/000 - COMARCA DE CARANDAÍ -
REQUERENTE(S): PG JUSTIÇA - REQUERIDO(A)(S): PREFEITO MUN
CARANDAÍ, CÂMARA MUN CARANDAÍ - RELATOR: EXMº SR. DES.
NEPOMUCENO SILVA, j. 14/07/2010).

"ADMINISTRATIVO - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -


MUNICÍPIO DE ÁGUA COMPRIDA - LEI MUNICIPAL QUE DISCIPLINA O
PAGAMENTO DE 13º SUBÍSIDO AOS AGENTES POLÍTICOS LOCAIS -
DIREITO SOCIAL GARANTIDO PELO ARTIGO 7º, VIII DA CF/88 -
NECESSIDADE DE PRÉVIA PREVISÃO LEGAL - LEGITIMIDADE DA
NORMATIZAÇÃO EM DISCUSSÃO. - PREVISÃO DE REVISÃO GERAL
ANUAL AOS AGENTES POLÍTICOS NOMESMO PERÍODO E ÍNDICE
CONCEDIDO AOS SERVIDORES PÚBLCIOS MUNICIPAIS - ART. 24, § 3º
DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL - VEDAÇÃO DE VINCULAÇÃO OU
EQUIPARAÇÃO DE ESPÉCIES REMNERATÓRIAS PARA EFEITO DE
REMUNERAÇÃO DE PESSOAL DO SERVIÇO PÚBLCO -
REPRESENTAÇÃO PARCIALMENTE ACOLHIDA" (AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE Nº 1.0000.09.500717-5/000 - COMARCA DE
UBERABA - REQUERENTE(S): PG JUSTIÇA - REQUERIDO(A)(S):
PREFEITO MUN ÁGA COMPRIDA, PRESID CÂMARA MUN ÁGUA
COMPRIDA - RELATOR: EXMº SR. DES. EDIVALDO GEORGE DOS
SANTOS).

Finalmente, acompanho S. Exª no que tange ao reconhecimento da


constitucionalidade do disposto no artigo 4º, II da Lei nº 4.433/2008, que fixa
o subsídio dos Vereadores, considerando os subsídios dos Deputados
Estaduais, sem trazer qualquer tipo de vinculação ou equiparação.

Por tais razões de decidir, acompanho o Relator para também julgar

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procedente em parte a representação.

O SR. DES. EDUARDO MARINÉ DA CUNHA:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. MARIA CELESTE PORTO:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. ALBERTO ALUÍZIO PACHECO DE ANDRADE:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. SELMA MARQUES:

VOTO

Em observância ao princípio da colegialidade, acompanho o judicioso voto


proferido pelo Excelentíssimo Desembargador Relator.

Todavia, faz-se mister ressalvar meu entendimento quanto à matéria.

No tocante à concessão de décimo terceiro salário ao prefeito, vice-prefeito e


vereadores, impende ressaltar que por serem detentores de cargos eletivos,
mostra-se inconstitucional a norma municipal que acrescenta aos subsídios o
13º salário (ou expressão equivalente).

A remuneração que deve ocorrer mediante parcela única, sem qualquer


espécie de acréscimo, tal qual determina os artigos 29, V, e 39, caput, e
parágrafos 3º e 4º, todos da Constituição Federal e

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artigos 31 caput, 165, parágrafo 1º e 179 da Constituição do Estado de Minas


Gerais.

Note-se que o destinatário do comando do art. 39, § 3º, da CF/88, quando se


refere às vantagens contidas no art. 7º, é o servidor público e não o agente
detentor de mandato eletivo.

Importante assinalar que na Constituição Federal servidor público é


expressão que apresenta significado restrito. "Servidor público é uma pessoa
física que atua como órgão de uma pessoa jurídica direito público mediante
vínculo jurídico de direito público, caracterizado pela investidura em posição
jurídica criada por lei, pela ausência de função política, pela ausência de
integração em corporações militares e pela remuneração proveniente dos
cofres públicos". (Marçal Justen Filho. Curso de Direito Administrativo. 3ª Ed.
2008. P. 698).

Já os agentes políticos detentores de mandatos eletivos "são aqueles


investidos das competências políticas fundamentais, aos quais cabem as
decisões mais importantes quanto aos fins e aos meios de atuação estatal,
como emanação direta da soberania popular. O regime jurídico do exercício
da atividade dos agentes políticos está delineado na Constituição, que prevê
um regime de responsabilização política e não política diferenciado". (Marçal
Justen Filho. Curso de Direito Administrativo. 3ª Ed. 2008. P. 683).

Dentre outras diretrizes estabelecidas pela CF/88, destaca-se a de que os


agentes políticos detentores de mandato eletivo devem ser remunerados,
exclusivamente, por intermédio de subsídio, fixado este em parcela única.

O parágrafo 4º do art. 39, da Constituição Federal, dispõe que o detentor de


mandato eletivo será remunerado através de subsídio fixado em parcela
única, o que afasta a concessão de qualquer gratificação, aí incluído o 13º
Salário ou outra parcela de denominação correspondente.

Não se sustenta o argumento de que tais agentes políticos seriam

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considerados servidores públicos 'lato sensu' e que podem receber tais


verbas como qualquer outro trabalhador, o que autorizaria a concessão do
décimo terceiro salário, pois há regra expressa em sentido contrário, que
excepciona a norma geral contida em seu caput, qual seja o já referido
parágrafo 4º do artigo 39 da Constituição Federal, com redação dada pela
Emenda Constitucional n.19/98:

Deste modo, os dispositivos da Lei Municipal que atribuem o 13º Salário aos
Vereadores, Prefeito e Vice-Prefeito, devem ser tomados por materialmente
incompatíveis com os comandos da Constituição Federal, que 'mutatis
mutandis', se repetem na Constituição do Estado de Minas Gerais.

Do contrário seria permitida a indevida percepção de vantagem por agentes


políticos detentores de mandato eletivo, quando tal classe, como visto, deve
ser remunerada por subsídio fixado em parcela única.

Ressalvado meu entendimento quanto à matéria, acompanho integralmente


o voto proferido pelo Relator.

É como voto.

SÚMULA : REJEITARAM PRELIMINAR. JULGADA PROCEDENTE


PARCIALMENTE.

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