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Eixo Temático: Travessias temporais e no espaço

ESPAÇO E TRADIÇÃO EM CONTOS QUEIROSIANOS

Ana Marcia Alves Siqueira (UFC)

O trabalho discute a inovação criativa da escrita queirosiana relacionada ao espaço, à


ambientação e à narração, realizada por meio de uma fina ironia, que tem como ponto fulcral uma
temática recorrente na produção do autor: a oposição entre homem e natureza. Para tanto, a análise
está centrada nos contos “O tesouro” e “Frei Genebro”, que constituem exemplos da opção pela
tradição literária, mas de modo inovador, sutil, em que os elementos espaciais vão funcionar como
indícios da ironia presente propondo um novo sentido para as narrativas e transformando-as em
contos modernos. Diferentemente da forma de circunscrição espacial realizada comumente por
meio de descrições diretas e detalhadas, Eça de Queirós lança mão a outra forma de composição do
cenário narrativo por meio do uso de uma adjetivação sintética e sugestiva altamente poética. Em
“O tesouro”, por exemplo, parte da comparação entre o espaço e seus elementos para discorrer
sobre os personagens e sua caracterização de forma a opor a beleza do cenário aos caracteres
pessoais de cada um. De modo semelhante, no conto “Frei Genebro”, muitos elementos não estão
expressos de modo explícito, mas sujeitos a uma leitura crítica instigada pela arquitetura narrativa.
A reflexão apreciativa nessa narrativa, após a surpresa do final inesperado, é resultante do
amálgama entre o desenvolvimento da ação, a apresentação do cenário construído por linguagem
altamente significativa e a voz narrativa sutilmente atenuada pelo discurso indireto livre. Nas duas
narrativas analisadas, essa arquitetura funciona como arcabouço de sustentação do sentido implícito
presente. Abreviado ao essencial, ao contrário de um cenário postiço, tal recurso semanticamente
intensificado funciona como uma impressão, um sentido encoberto instaurado pela voz narrativa de
maneira sutil, ora próxima e pautada em recursos da oralidade, ora mais distante e implícita
favorecida pelo discurso indireto livre. Consideramos, pois, que nessa organização narrativa, o
espaço, a tradição e o foco narrativo, analisados segundo a perspectiva de Barthes (2011), Bakhtin
(2003), Duarte (2006). Brait (2008) e Guerra Da Cal (1969), são recursos que auxiliam o leitor a
perceber as contradições presentes, indiciando o sentido proposto pela crítica irônica.

Palavras-chave: Eça de Queirós, Conto, Ironia, Espaço, Tradição literária.

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