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Livro da Semana: História da Loucura – Michel Foucault

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dezembro 17, 2015

História da Loucura na Idade


Clássica foi lançado em 1964.

Após a nomeação do psiquiatra conservador Valencius Wurch para a Coordenação Nacional de Saúde
Mental[1], o livro História da Loucura, de Michel Foucault, se torna ainda mais atual.

Wurch é antigo opositor à reforma psiquiátrica no Brasil, que ele considera como ação de “caráter
ideológico” e foi diretor da Casa de Saúde Dr. Eiras por 10 anos, o maior hospital psiquiátrico da América
Latina, fechado somente em 2012.

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História da Loucura, indo de encontro às práticas manicomiais, foi inspiração para debates a respeito do
estatuto científico da psiquiatria no diagnóstico da loucura, diz o pesquisador Caio Souto, em entrevista
ao Colunas Tortas. “Foucault ‘abre’ a história da filosofia ao seu fora, demonstrando que há um a priori
histórico na constituição dos saberes”.

A análise de Foucault recobre a concepção da loucura como uma ação divina, em que os loucos seriam
criaturas misteriosas com poderes místicos; a concepção do louco como sujeito imoral, sendo assim,
ladrões recorrentes, portadores de doenças sexualmente transmissíveis ou pródigos eram
frequentemente internados – nesta época, que foi a construção do Hospital Geral em Paris, cerca de
10% da população passou alguns dias internada; por fim, aborda a noção psiquiátrica da loucura, que
ocorre após a disciplina tornar-se uma ciência separada da medicina.

Para Foucault, duas questões são fundamentais para entender a experiência da loucura no
Classicismo. Primeiramente, a loucura passa a ser considerada e entendida somente em relação à
razão, pois, num movimento de referência recíproca, se por um lado elas se recusam, de outro
uma fundamenta a outra. Em segundo lugar, a loucura só passa a ter sentido no próprio campo da
razão, tornando-se uma de suas formas. A razão, dessa maneira, designa a loucura como um
momento essencial de sua própria natureza, já que agora “a verdade da loucura é ser interior à
razão, ser uma de suas figuras, uma força e como que uma necessidade momentânea a fim de
melhor certificar-se de si mesma”[2]

Foucault busca denunciar a rigidez dos métodos tidos como “mais humanos” de lidar com os internos
dos manicômios,

É a partir da metade do século XVII que a ligação entre a loucura e o internamento ocorrerá. O
internamento é importante para Foucault por duas razões: primeiramente, por ele ser a estrutura
mais visível da experiência clássica da loucura e, em segundo lugar, porque será exatamente ele
que provocará o escândalo quando essa experiência desaparecer, no século XIX, da cultura
européia, a ponto de, por exemplo, com Pinel ou Tuke, aparecer a idéia de uma libertação dos
loucos do internamento produzido pelo século XVII. Mas, ao contrário de fazer a história dessa
suposta “libertação”, Foucault prestará atenção à racionalidade própria desse internamento,
tentando entender os seus mecanismos e as suas práticas específicas.[3]

Neste livro, Foucault aplica seu procedimento arqueológico, explicado detalhadamente pelo Colunas
Tortas na série Arqueologia do Saber. Sua intenção é entender como a loucura passou a ser objeto de
um discurso, o que tornou possível a existência deste objeto particular e dos conceitos e métodos
específicos da psiquiatria moderna.

O tipo de pesquisa empreendida por Foucault na História da Loucura é chamada de arqueológica e


observa as regras de formação do discurso analisado, as regularidades que existem na própria
dispersão dos enunciados, ao invés de procurar um fio condutor na história para dar conta,
cronologicamente, do conceito de loucura. A historicidade tradicional não importa para este tipo
específico de análise, já que o discurso pode compreender séries de enunciados não cronológicos: o
discurso tem sua própria cronologia.

O livro foi a tese de doutorado de pensador francês e Georges Canguilhem foi seu orientador.

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Para baixar História da Loucura, de Michel Foucault, clique aqui.

Referências
[1]
Psiquiatra contra a reforma manicomial é nomeado para Coordenação Nacional de Saúde Mental.
Esquerda Diário, visto no dia 17 – 12 – 2015.

[2]
VIEIRA. Priscila Piazentini. Reflexões sobre A História da Loucura de Michel Foucault. Dossiê
Foucault N. 3 – dezembro 2006/março 2007, p.4.
[3]
VIEIRA. Priscila Piazentini. Reflexões sobre A História da Loucura de Michel Foucault… p.6-7.

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