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colunastortas.com.br/historia-da-loucura-michel-foucault
Após a nomeação do psiquiatra conservador Valencius Wurch para a Coordenação Nacional de Saúde
Mental[1], o livro História da Loucura, de Michel Foucault, se torna ainda mais atual.
Wurch é antigo opositor à reforma psiquiátrica no Brasil, que ele considera como ação de “caráter
ideológico” e foi diretor da Casa de Saúde Dr. Eiras por 10 anos, o maior hospital psiquiátrico da América
Latina, fechado somente em 2012.
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História da Loucura, indo de encontro às práticas manicomiais, foi inspiração para debates a respeito do
estatuto científico da psiquiatria no diagnóstico da loucura, diz o pesquisador Caio Souto, em entrevista
ao Colunas Tortas. “Foucault ‘abre’ a história da filosofia ao seu fora, demonstrando que há um a priori
histórico na constituição dos saberes”.
A análise de Foucault recobre a concepção da loucura como uma ação divina, em que os loucos seriam
criaturas misteriosas com poderes místicos; a concepção do louco como sujeito imoral, sendo assim,
ladrões recorrentes, portadores de doenças sexualmente transmissíveis ou pródigos eram
frequentemente internados – nesta época, que foi a construção do Hospital Geral em Paris, cerca de
10% da população passou alguns dias internada; por fim, aborda a noção psiquiátrica da loucura, que
ocorre após a disciplina tornar-se uma ciência separada da medicina.
Para Foucault, duas questões são fundamentais para entender a experiência da loucura no
Classicismo. Primeiramente, a loucura passa a ser considerada e entendida somente em relação à
razão, pois, num movimento de referência recíproca, se por um lado elas se recusam, de outro
uma fundamenta a outra. Em segundo lugar, a loucura só passa a ter sentido no próprio campo da
razão, tornando-se uma de suas formas. A razão, dessa maneira, designa a loucura como um
momento essencial de sua própria natureza, já que agora “a verdade da loucura é ser interior à
razão, ser uma de suas figuras, uma força e como que uma necessidade momentânea a fim de
melhor certificar-se de si mesma”[2]
Foucault busca denunciar a rigidez dos métodos tidos como “mais humanos” de lidar com os internos
dos manicômios,
É a partir da metade do século XVII que a ligação entre a loucura e o internamento ocorrerá. O
internamento é importante para Foucault por duas razões: primeiramente, por ele ser a estrutura
mais visível da experiência clássica da loucura e, em segundo lugar, porque será exatamente ele
que provocará o escândalo quando essa experiência desaparecer, no século XIX, da cultura
européia, a ponto de, por exemplo, com Pinel ou Tuke, aparecer a idéia de uma libertação dos
loucos do internamento produzido pelo século XVII. Mas, ao contrário de fazer a história dessa
suposta “libertação”, Foucault prestará atenção à racionalidade própria desse internamento,
tentando entender os seus mecanismos e as suas práticas específicas.[3]
Neste livro, Foucault aplica seu procedimento arqueológico, explicado detalhadamente pelo Colunas
Tortas na série Arqueologia do Saber. Sua intenção é entender como a loucura passou a ser objeto de
um discurso, o que tornou possível a existência deste objeto particular e dos conceitos e métodos
específicos da psiquiatria moderna.
O livro foi a tese de doutorado de pensador francês e Georges Canguilhem foi seu orientador.
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Para baixar História da Loucura, de Michel Foucault, clique aqui.
Referências
[1]
Psiquiatra contra a reforma manicomial é nomeado para Coordenação Nacional de Saúde Mental.
Esquerda Diário, visto no dia 17 – 12 – 2015.
[2]
VIEIRA. Priscila Piazentini. Reflexões sobre A História da Loucura de Michel Foucault. Dossiê
Foucault N. 3 – dezembro 2006/março 2007, p.4.
[3]
VIEIRA. Priscila Piazentini. Reflexões sobre A História da Loucura de Michel Foucault… p.6-7.
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