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Artigo

original Avaliação da organização e funcionamento das salas de


vacina na Atenção Primária à Saúde em Montes Claros,
Minas Gerais, 2015*
doi: 10.5123/S1679-49742017000300013

Assessment of the organization and operation of vaccine rooms


in primary health care in Montes Claros, Minas Gerais, Brazil, 2015

Evaluación de la organización y funcionamiento de las salas de vacunas


en la atención primaria de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, 2015

Leila das Graças Siqueira1


Andréa Maria Eleutério de Barros Lima Martins2
Cláudia Mendes Campos Versiani1
Lyllian Aparecida Vieira Almeida3
Claudemilson da Silva Oliveira4
Jairo Evangelista Nascimento5
Bárbara Paloma Almeida Alecrim6
Rafaela Caetano Bezerra7

1
Universidade Estadual de Montes Claros, Departamento de Enfermagem, Montes Claros-MG, Brasil
2
Universidade Estadual de Montes Claros, Departamento de Odontologia, Montes Claros-MG, Brasil
3
Faculdades Unidas do Norte de Minas, Curso de Graduação em Enfermagem, Montes Claros-MG, Brasil
4
Faculdades Unidas do Norte de Minas, Curso de Tecnólogo em Gestão Pública, Montes Claros–MG, Brasil
5
Faculdades Unidas do Norte de Minas, Departamento de Odontologia, Montes Claros–MG, Brasil
6
Universidade Estadual de Montes Claros, Curso de Graduação em Odontologia, Montes Claros–MG, Brasil
7
Universidade Estadual de Montes Claros, Curso de Graduação em Medicina, Montes Claros–MG, Brasil

Resumo
Objetivo: avaliar a qualidade da organização e do funcionamento das salas de vacina em Montes Claros, Minas Gerais,
Brasil, em 2015. Métodos: estudo de avaliação da qualidade das salas de vacina, tendo como base as orientações e normas
técnicas do Programa Nacional de Imunizações (PNI), utilizando-se questionário adaptado do Programa de Avaliação do
Instrumento de Supervisão para Sala de Vacinação (PAISSV 2.0). Resultados: foram avaliadas todas as 18 salas de vacina do
município; quanto ao conceito de qualidade das salas de vacina, seis foram consideradas ideais, cinco boas, quatro regulares
e três insuficientes. Conclusão: a maioria das salas de vacina foi classificada como boa/ideal; no entanto, há necessidade
de sistematização de educação permanente para os profissionais e de melhorias estruturais, a fim de atender às normas
preconizadas pelo PNI.
Palavras-chave: Vacinação; Avaliação de Serviços de Saúde; Estrutura dos Serviços; Qualidade da Assistência à Saúde;
Estudos de Avaliação.

*Artigo elaborado a partir da tese de Doutorado da autora principal, Leila das Graças Siqueira, intitulada ‘Qualidade da assistência
dos serviços de vacinação: avaliação da estrutura e funcionamento das salas de vacina e satisfação dos usuários’, defendida junto ao
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em 2016.

Endereço para correspondência:


Leila das Graças Siqueira – Rua Gentil Gonzaga, no 96, Bairro Canelas, Montes Claros-MG, Brasil. CEP: 39402-661
E-mail: leilasiqueirasantos@yahoo.com.br

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Avaliação das salas de vacina na atenção primária em Montes Claros-MG

Introdução a qualidade da assistência prestada à saúde, adotando


um sistema de avaliação e indicadores de desempenho
A imunização é uma ação prioritária, efetiva e es- adequados para apoiar a administração na tomada de
tratégica da Atenção Primária à Saúde. No Brasil, os decisões, objetivando uma melhor qualidade dos ser-
serviços de imunização vêm-se transformando, desde viços de assistência à saúde. A avaliação da qualidade,
a criação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) estrutura e funcionamento das salas de vacina é uma
na década de 1970.1 O PNI é motivo de orgulho por ser atividade complexa, necessária no sentido de identificar
inclusivo e ter como meta atender toda a população, os elementos cruciais no desenvolvimento do trabalho,
mediante ações de normatização, supervisão e elabo- e um meio de conferir se os serviços ofertados nessas
ração de políticas e estratégias que viabilizam o acesso salas atendem às recomendações do PNI.6,11,13,15,16
da população à imunização.1-6 O PNI tem como meta O PNI preconiza que a avalição das salas de vacina
proporcionar vacinação segura a 100% das crianças deve ser sistemática, conduzida a partir da aplicação do
menores de um ano, com garantia de vacinação para questionário semiestruturado do Programa de Avaliação
todas as crianças menores de cinco anos que não do Instrumento de Supervisão para Sala de Vacinação
foram vacinadas ou não completaram o esquema bá- (PAISSV)10 do Ministério da Saúde, com o objetivo de
sico no primeiro ano de vida, visando a melhoria na verificar o cumprimento de normas que podem contri-
situação de saúde, bem como a diminuição de custos buir para a melhoria da qualidade do serviço prestado e,
com o tratamento das doenças imunopreveníveis.1,7-9 consequentemente, para o êxito do Programa.1,2,5,9-11,13,15,17
Porém, essa avaliação pelo PAISSV tem acontecido de
A avaliação da qualidade, estrutura e forma irregular e esporádica, impossibilitando a identifi-
cação de fragilidades nas atividades do PNI referentes aos
funcionamento das salas de vacina é aspectos organizacionais e operacionais da vacinação. Há
uma atividade complexa, necessária necessidade da implantação de um permanente sistema
no sentido de identificar os elementos de avaliação da qualidade da estrutura, organização e
cruciais no desenvolvimento do funcionamento da sala de vacina, como uma estratégia
para melhorar a qualidade desses serviços.12,18,19
trabalho, e um meio de conferir se O presente estudo teve como objetivo avaliar a qualida-
os serviços ofertados nessas salas de da organização e funcionamento das salas de vacina em
atendem às recomendações do PNI. Montes Claros, estado de Minas Gerais, Brasil, em 2015.

Os serviços de imunização são orientados pelo Minis- Métodos


tério da Saúde, mas compete aos estados e municípios
sua efetiva estruturação e organização, no âmbito do Realizou-se um estudo de avaliação descritivo, no
Sistema Único de Saúde (SUS). Os municípios têm papel período de junho a agosto de 2015, em Montes Claros,
fundamental na atuação e responsabilidade por todas município localizado na região Norte do estado de Mi-
as atividades da Atenção Primária à Saúde, inclusive nas Gerais, que então contava com uma população de
aquelas referentes ao planejamento e organização da aproximadamente 394.350 habitantes.20 No mesmo ano
vacinação no nível local. É atribuição dos municípios a de 2015, havia 68 unidades de Atenção Primária à Saúde
disponibilização de locais adequados para a conservação no município, frequentadas por usuários cadastrados
e administração das vacinas, e de profissionais de enfer- em 125 equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF).
magem capacitados para o gerenciamento, manutenção Todas as salas de vacina existentes na rede pública
e manipulação adequada dos imunobiológicos. Os mu- de saúde do município de Montes Claros foram in-
nicípios devem promover o monitoramento e avaliação cluídas no estudo, a partir da indicação da Secretaria
das atividades de imunização das salas de vacina.1,5,9-14 Municipal de Saúde local.
A avaliação de serviços de saúde permite obter infor- A coleta de dados aconteceu mediante entrevis-
mações que podem subsidiar ações futuras de assistên- tas, realizadas por duas acadêmicas do curso de
cia à saúde. Os gestores das instituições têm preconizado enfermagem previamente capacitadas e com o(a)
que os serviços estabeleçam ferramentas para mensurar enfermeiro(a) ou o(a) técnico(a) de enfermagem

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presente na sala, no dia da coleta. Para a entrevista O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesqui-
utilizou-se uma versão do questionário do PAISSV 2.0 sa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimon-
do PNI, previamente testada e adaptada após estudo- tes), sob o Parecer nº 313.870/2013, em 24 de junho de
-piloto conduzido em cinco salas de vacina de outro 2013, de acordo com a Resolução do Conselho Nacional
município da região.10 As acadêmicas que conduziram de Saúde (CNS) no 466, de 12 de dezembro de 2012.
as entrevistas observaram os procedimentos e rotinas
de cada sala de vacina durante quatro horas, para Resultados
obter informações quanto à estrutura física das salas,
conhecimento e práticas da equipe de enfermagem. Montes Claros possui 18 salas de vacina, funcio-
O instrumento de coleta dos dados reunia questões nando nos turnos manhã e tarde, em unidades de
relacionadas a cinco dimensões: Atenção Primária à Saúde dotadas de equipes da ESF, e
a) aspectos gerais e de funcionamento das salas de contam com 74 profissionais para atender à demanda
vacina (25 questões) e procedimentos técnicos e populacional. Entre as 18 salas de vacina identificadas,
indicações de vacinas (23 questões); 17 encontravam-se em unidades de atenção primária
b) rede de frio (30 questões) e imunobiológicos situadas na zona urbana, e apresentavam identificação,
submetidos a temperaturas não recomendadas ou seja, placa ou letreiro na parte externa da porta.
(5 questões); Quinze salas funcionavam de segunda a sexta-feira,
c) sistema de informações (18 questões) e normati- por um período de oito horas diárias, e três funciona-
zação (8 questões); vam por seis horas diárias, entre os turnos da manhã e
d) eventos adversos pós-vacinação (4 questões) e da tarde, fechando no intervalo do horário de almoço.
imunobiológicos especiais (4 questões); e Todas as salas eram exclusivas para vacinação. No
e) ações de vigilância epidemiológica (2 questões) e entanto, em 17 delas não se verificou disponibilidade
educação em saúde (11 questões). de todas as vacinas recomendadas por rotina.
Após o estudo-piloto, foram realizadas alterações Quanto aos recursos humanos, as equipes das salas
no questionário concernentes ao padrão de respostas: de vacina eram compostas por 74 profissionais: 54
acrescentou-se as opções ‘não sabe’, ‘não respondeu’ e técnicos em enfermagem, dois auxiliares de enferma-
‘ignorado’, uma vez que o questionário original possuía gem e 18 enfermeiros. Todos os enfermeiros atuavam
apenas as respostas ‘sim’ e ‘não’. de forma concomitante, como gerentes das unidades
Na tabulação dos resultados, houve ponderação das de saúde e como responsáveis técnicos pela sala de
respostas, conforme critérios da Coordenação-Geral vacina. Apenas 29 dos 74 profissionais tinham curso de
do PNI e orientações do PAISSV.1,10 Foram descritas capacitação, independentemente do ano de realização,
as frequências absolutas das variáveis quantitativas e, para atuar ou exercer as atividades na sala de vacina,
posteriormente, atribuída uma pontuação para cada 21 haviam recebido capacitação em eventos adversos
questão: um ponto para os itens adequados ou posi- pós-vacinais e 28 em rede de frio.
tivos e zero para os itens inadequados ou negativos. A No que diz respeito aos aspectos gerais e de
pontuação final foi determinada pelo somatório dos funcionamento das salas de vacina e procedimentos
valores recebidos nos itens, em cada uma das cinco técnicos/indicação de vacinas, dos 25 itens avaliados,
dimensões avaliadas. Estimou-se a classificação da observou-se que 16 obtiveram conceitos insuficientes
qualidade de cada sala: uma pontuação de 90 a 100% ou regulares: a maioria não apresentava paredes de
foi considerada ideal (conceito = 3); de 76 a 89%, fácil higienização (n=14), piso resistente (n=12),
boa (conceito = 2); de 50 a 75%, regular (conceito antiderrapante (n=12), impermeável (n=12), de fácil
= 1); e menor que 50%, insuficiente (conceito = 0).1 higienização (n=12), arejamento adequado (n=10)
Quanto maior o escore, mais itens estavam de acordo e temperatura entre 18 e 20°C (n=16). Na avaliação
com as normas e orientações do PNI, ou seja, melhor referente aos procedimentos técnicos e indicação
era a qualidade da sala.1 de vacinas, a maioria das salas não considerou dois
A análise dos dados foi realizada utilizando-se os pontos críticos segundo o PAISSV:10 a busca ativa de
aplicativos SPSS® versão 20.0 for Windows® e Mi- faltosos não foi referida por 11; e o acondicionamento
crosoft® Office Excel® 2010. seletivo de lixo não foi admitido por 14 (Tabela 1).

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Quanto à rede de frio, dos 35 itens avaliados, cinco Quanto à caracterização e estimativa do conceito
obtiveram conceitos insuficientes ou regulares. Quan- dado para a sala de vacina, dos 36 itens avaliados,
do indagados sobre os procedimentos relacionados à 12 obtiveram conceitos insuficientes ou regulares.
alteração de temperatura, a maioria dos profissionais Observou-se que apenas uma sala fazia acompanha-
relataram que comunicavam imediatamente à instância mento ou buscava conhecer a cobertura vacinal,
superior (n=16), embora dez deles não tenham preen- apenas uma sala conhecia a proporção de abando-
chido o formulário de imunobiológicos sob suspeita de nos, como também uma única sala de vacina tinha
submissão a temperaturas não adequadas. Entre as 18 conhecimento da ocorrência de casos de doenças
salas, apenas cinco possuíam um programa de manu- imunopreveníveis em sua área de abrangência, en-
tenção preventiva e(ou) corretiva para o refrigerador quanto apenas cinco faziam aprazamento de maneira
que armazena as vacinas (Tabela 2). adequada (Tabela 3).

Tabela 1 – Caracterização e distribuição dos conceitos atribuídos aos aspectos gerais e ao funcionamento
das salas de vacina (n=18), procedimentos técnicos e indicação de vacinas, Montes Claros, Minas
Gerais, 2015

Sim Não
Normas do Programa Nacional de Imunizações Conceito
n n
Aspectos gerais e de funcionamento
1. Tamanho mínimo de 6m2 18 – 3
2. Parede de cor clara a
17 1 3
3. Parede impermeável a
14 4 2
4. Parede de fácil higienização a 4 14 0
5. Piso resistente 6 12 0
6. Piso antiderrapante 6 12 0
7. Piso impermeável 6 12 0
8. Piso de fácil higienização 6 12 0
9. Dispõe de pia e bancada de fácil higienização 9 9 1
10. Dispõe de proteção contra luz solar direta a 9 9 1
11. Dispõe de iluminação adequada a
17 1 3
12. Dispõe de arejamento adequado a 8 10 0
13. A sala está em condições ideais de conservação a
11 7 1
14. A sala está em condições ideais de organização 16 2 2
15. A sala está em condições ideais de limpeza a 16 2 2
16. A limpeza geral é feita a cada 15 dias a
13 5 1
17. A temperatura da sala é mantida entre 18 e 20ºC a 2 16 0
18. Conta com objetos de decoração a
2 16 2
19. Mobiliário com boa distribuição funcional a 15 3 2
20. Apresenta organização dos impressos e materiais a
15 3 2
21. As seringas e agulhas de uso diário estão acondicionadas adequadamente a 12 6 1
22. As seringas e agulhas do estoque estão acondicionadas em embalagens fechadas e em local sem umidade a
18 – 3
23. Conta com mesa de exame clínico/similar e(ou) cadeira 18 – 3
24. Conta com mesa de exame clínico/similar e(ou) cadeira com colchonete revestido de material impermeável 17 1 3
25. Conta com mesa de exame clínico/similar e colchonete revestido de material impermeável protegido com 10 8 1
material descartável a
Continua

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Tabela 1 – Continuação

Sim Não
Normas do Programa Nacional de Imunizações Conceito
n n
Procedimentos técnicos e indicação de vacinas
1. Verifica a idade e intervalo entre as doses a 18 – 3
2. Investiga eventos adversos da dose anterior a
15 3 2
3. Observa situações em que o adiamento temporário da vacinação está indicado e/ou contraindicações a 15 3 2
4. Orienta sobre a vacina a ser administrada a 18 – 3
5. Orienta o registro do aprazamento a
18 – 3
6. Observa o prazo de validade da vacina a 17 1 3
7. O preparo da vacina está correto a
18 – 3
8. Registra data e hora de abertura do frasco 18 – 3
9. Observa o prazo de validade após abertura do frasco 18 – 3
10. A técnica de administração está correta 18 – 3
11. Faz o acondicionamento de materiais perfurocortantes de acordo com as normas de biossegurança 15 3 3
12. Faz o tratamento das vacinas com micro-organismos vivos antes do descarte 14 4 2
13. Faz busca ativa de suscetíveis com a clientela a 10 8 1
14. Possui algum sistema de controle – cartão ou sistema informatizado, para criança 17 1 3
15. Possui algum sistema de controle – cartão ou sistema informatizado, para adulto 17 1 3
16. O cartão de controle ou o sistema informatizado permite a organização por data de retorno a 15 3 2
17. Realiza busca ativa de faltosos a
7 11 0
18. O número de vacinas é suficiente para atender à demanda a 16 2 2
19. Há estoque excessivo de vacinas na unidade de saúde a 2 16 2
20. O número de seringas e agulhas é suficiente para atender à demanda a
17 1 3
21. Observa o prazo de validade de seringas e agulhas antes da aplicação da vacina a 12 6 1
22. Acondiciona separadamente os tipos de lixo a
4 14 0
23. Destino final do lixo a 18 – 3
a) Considerado ponto crítico pelo Programa de Avaliação do Instrumento de Supervisão para Sala de Vacinação (PAISSV)

Em relação à educação em saúde na rede pública, dos Quanto à conceituação geral das salas de vacina do
oito itens avaliados, dois obtiveram conceitos insuficien- município, verificou-se que seis salas avaliadas foram
tes ou regulares. Metade das salas (n=9) fazia parceiras conceituadas como ideais, cinco como boas, quatro
com diversos segmentos sociais para divulgação das como regulares e três foram consideradas insuficientes
ações de imunização. Outro dado que chamou a atenção (Tabela 5).
foi o fato de os profissionais de somente dez – das 18 salas
de vacina – relatarem que foram informados sobre a im- Discussão
portância de estarem devidamente vacinados (Tabela 4).
No que diz respeito à distribuição dos conceitos As normas técnicas em imunização definidas na
atribuídos às salas de vacina, dos nove itens do pro- maioria das dimensões avaliadas não estão sendo cum-
cesso de avaliação, todas as salas obtiveram conceitos pridas nas salas de vacina de Montes Claros, conforme
insuficientes ou regulares em pelo menos três itens. estabelece e determina o PNI.6 Nem todas as salas fun-
Observou-se que a avaliação dos imunobiológicos cionavam de segunda a sexta-feira, por um período de
especiais e da vigilância epidemiológica foi regular ou oito horas diárias, e o intervalo de almoço dos servidores
insuficiente em todas as salas. A avaliação de eventos pode dificultar o acesso dos usuários que procuram o
adversos pós-vacinação e da educação em saúde foi atendimento nesse horário. Há necessidade de rever
considerada ideal ou boa em todas as salas (Tabela 5). o horário de funcionamento das salas, embora o PNI

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Avaliação das salas de vacina na atenção primária em Montes Claros-MG

Tabela 2 – Caracterização e distribuição dos conceitos atribuídos às condições da rede de frio das salas de vacina
(n=18), município de Montes Claros, Minas Gerais, 2015

Sim Não
Condições adequadas de funcionamento da rede de frio Conceito
n n
1. A tomada elétrica é de uso exclusivo para cada equipamento a
18 – 3
2. O refrigerador é de uso exclusivo para imunobiológicos a
18 – 3
3. A capacidade do refrigerador é igual/superior a 280 litros a 18 – 3
4. O refrigerador está em bom estado de conservação a
14 4 2
5. Está em estado ideal de funcionamento a 16 2 2
6. Está em estado ideal de limpeza a
17 1 3
7. O refrigerador está distante de fonte de calor a 16 2 2
8. Existe termômetro de máximo e mínimo com cabo extensor 17 1 3
9. No evaporador são mantidas bobinas de gelo reciclável na quantidade recomendada a
18 – 3
10. No refrigerador há bandeja coletora de água a 16 2 2
11. Na primeira prateleira são armazenadas, em bandejas perfuradas, vacinas submetidas a temperatura negativa a
18 – 3
12. Na segunda prateleira são armazenadas, em bandejas perfuradas, vacinas que não podem ser submetidas 18 – 3
a temperatura negativa a
13. Na terceira prateleira são armazenados os estoques de vacinas, soros e diluentes a 18 – 3
14. Os imunobiológicos são organizados por tipo/lote/validade a 15 3 2
15. É mantida distância entre os imunobiológicos e as paredes da geladeira, para permitir a circulação de ar a
18 – 3
16. São mantidas garrafas de água com corante em todo o espaço inferior interno do refrigerador a 17 1 3
17. Existe material no painel interno da porta do refrigerador a
4 14 2
18. Faz a leitura correta da temperatura no início/fim da jornada a 18 – 3
19. Faz o registro correto da temperatura no início/fim da jornada a 18 – 3
20. O mapa diário de temperatura está afixado em local visível a 9 9 1
21. O degelo e a limpeza do refrigerador são realizados a cada 15 dias ou quando a camada de gelo atingir 0,5cm a 16 2 2
22. Descreva os procedimentos para degelo e limpeza do refrigerador – a descrição foi correta a
16 2 2
23. Existe um programa de manutenção preventiva e/ou corretiva do refrigerador da sala de vacina 5 13 0
24. Em geral, o serviço dispõe da quantidade suficiente de materiais e insumos para atender às atividades de rotina 17 1 3
25. O serviço dispõe de número suficiente de caixas térmicas (poliuretano) como equipamento de uso diário 18 – 3
26. O serviço dispõe do número suficiente de bobinas de gelo reciclável 18 – 3
27. O serviço dispõe do número suficiente de termômetros de máxima e mínima e de cabo extensor 18 – 3
28. O serviço dispõe de quantidade suficiente de fita PVC b ou fita crepe a 18 – 3
29. Na organização da caixa térmica, é feita a ambientação das bobinas de gelo reciclável 17 1 3
30. Faz o monitoramento da temperatura da(s) caixa(s) térmica(s) ou do equipamento de uso diário a 18 – 3
Quando, por qualquer motivo, os imunobiológicos forem submetidos a temperaturas não recomendadas
1. É comunicado imediatamente à instância hierarquicamente superior 16 2 2
2. É preenchido formulário do imunobiológico sob suspeita 8 10 0
3. É preenchido formulário do imunobiológico sob suspeita e enviado à instância hierarquicamente superior 7 11 0
4. As vacinas sob suspeita são mantidas a uma temperatura entre +2 e +8ºC, até o pronunciamento da 14 4 2
instância superior
5. Há indicação na caixa de distribuição elétrica para que não se desligue o disjuntor da sala de vacina 13 5 1
a) Considerado ponto crítico pelo Programa de Avaliação do Instrumento de Supervisão para Sala de Vacinação (PAISSV)
b) PVC: policloreto de vinila

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Tabela 3 – Caracterização e distribuição dos conceitos atribuídos às salas de vacina (n=18) em relação ao sistema
de informações, normatização, eventos adversos pós-vacinação, imunobiológicos especiais e vigilância
epidemiológica, Montes Claros, Minas Gerais, 2015

Sim Não
Condições adequadas de funcionamento da rede de frio Conceito
n n
1. Cartão da Criança – existência para distribuição a 15 3 2
2. Cartão da Criança – preenchimento correto 18 – 3
3. Cartão do Adulto – existência para distribuição a 16 2 2
4. Cartão do Adulto – preenchimento correto 17 1 3
5. Boletim diário de doses aplicadas – existência 16 2 2
6. Boletim diário de doses aplicadas – preenchimento correto 17 1 3
7. Boletim mensal de doses aplicadas – existência 15 3 2
8. Boletim mensal de doses aplicadas – preenchimento correto 17 1 3
9. Existe cartão de controle ou sistema informatizado para registros e aprazamentos a 17 1 3
10. O sistema de aprazamento é feito de maneira correta 5 13 0
11. Mapa diário de controle de temperatura – existência a 17 1 3
12. Mapa diário de controle de temperatura – preenchimento correto 18 – 3
13. Ficha de investigação de eventos adversos pós-vacinação – existência a 18 – 3
14. Ficha de investigação de eventos adversos pós-vacinação – preenchimento correto a 15 3 2
15. Formulário de vacinas sob suspeita – existência a 10 8 1
16. Formulário de vacinas sob suspeita – preenchimento correto a 10 8 1
17. Movimento mensal de imunobiológicos – existência 14 4 2
18. Movimento mensal de vacinas – preenchimento correto 17 1 3
Normatização
1. Normas técnicas 17 1 3
2. Procedimentos para administração de vacinas a 17 1 3
3. Manual de rede de frio a 14 4 2
4. Vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação a 14 4 2
5. Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais a 13 5 1
6. Capacitação de pessoal em sala de vacinação 15 3 2
7. Acompanhamento/conhecimento da cobertura a 1 17 0
8. Acompanhamento/conhecimento da taxa de abandono a 1 17 0
Eventos adversos pós-vacinação
1. Tem conhecimento da ocorrência de eventos adversos pós-vacinação a 15 3 2
2. Tem informação de quais são os eventos adversos pós-vacinação a 14 4 2
3. Identifica os eventos adversos pós-vacinação encaminhados para avaliação médica 16 2 2
4. Notifica os eventos adversos pós-vacinação 16 2 2
Imunobiológicos especiais
1. Tem conhecimento da existência do Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais a 13 5 1
2. Tem conhecimento dos imunobiológicos/Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais a 9 9 1
3. Conhece as indicações desses imunobiológicos a 13 5 1
4. Conhece o fluxo de solicitação de imunobiológicos a 5 13 0
Vigilância epidemiológica
1. Tem conhecimento da ocorrência ou não de casos de doenças imunopreveníveis em sua área de abrangência a 1 17 0
2. Tem conhecimento da incidência das doenças imunopreveníveis e sua relação com a cobertura vacinal a 10 8 1
a) Considerado ponto crítico pelo Programa de Avaliação do Instrumento de Supervisão para Sala de Vacinação (PAISSV)
Nota: As aparentes inconsistências entre o número de salas que com presença de itens que caracterizam condições adequadas para funcionamento da rede de frio e o número de salas com relato
sobre seu preenchimento correto derivam do fato de que a presença dos itens foi verificada mediante observação no momento da pesquisa, enquanto a informação sobre a capacidade para
preenchimento correto foi perguntada aos responsáveis pelas salas, ainda que o item não estivesse presente.

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Avaliação das salas de vacina na atenção primária em Montes Claros-MG

sugira, como expediente de funcionamento ideal, seis a ção da população em função do excesso de trabalho a
oito horas por dia. A melhor solução para esse horário é recair sobre esses profissionais. Embora todas as salas
essencial no sentido da garantia de acesso da população fossem exclusivas para vacinação, na maioria delas não
aos serviços de imunização, e por isso, um importante eram disponibilizadas todas as vacinas. É recomendada
indicador da avaliação de um serviço público.1,5,21 a oferta diária de todas as vacinas do calendário básico
A equipe relatou que não foi informada sobre a im- preconizado pelo PNI. Possivelmente, tal inadequação
portância de estar vacinada, constatando-se fragilidade deveu-se a fatos específicos, relacionados à vacina BCG:
dos profissionais da sala de vacina, o que merece um como de hábito, essa vacinação ocorre nas materni-
maior empenho dos gestores para articular os serviços dades, imediatamente após o nascimento da criança.
de epidemiologia e educação em saúde ao PNI. A falta Nos casos de não vacinação da criança na maternidade,
de identificação observada em algumas salas de vacina seu agendamento deve ser feito nas salas de vacina.8,9,22
pode dificultar a localização e o acesso, contribuindo Observou-se falta de capacitação das equipes
para a desistência em se imunizar.5,21 responsáveis pelas salas de vacina, podendo ocorrer
A atuação dos enfermeiros, atuando simultanea- dificuldades operacionais nos âmbitos de indicação e
mente como gerentes e responsáveis técnicos das salas contraindicação clínica, manejo dos efeitos colaterais
de vacina, pode gerar comprometimento na imuniza- e das reações adversas aos imunobiológicos. Os

Tabela 4 – Caracterização e distribuição dos conceitos atribuídos às salas de vacina (n=18) em relação à educação
em saúde na rede pública, Montes Claros, Minas Gerais, 2015

Sim Não
Educação em saúde Conceito
n n
1. Participa em parcerias com diversos segmentos sociais, para divulgação das ações de imunização a 9 9 1
2. Participa em parcerias com os programas existentes na unidade básica de saúde a 17 1 3
3. Participa de eventos diversos com a finalidade de divulgar as ações do Programa Nacional de Imunizações a
17 1 3
4. Todo indivíduo que comparece à sala de vacina é orientado e informado sobre a importância das vacinas 17 1 3
5. Todo indivíduo que comparece à sala de vacina é orientado e informado sobre a importância do 18 – 3
cumprimento do esquema vacinal
6. Todos os funcionários da unidade são informados sobre as vacinas disponíveis 18 – 3
7. Todos os funcionários da unidade são informados sobre a importância de estarem vacinados 10 8 1
8. Todos os funcionários são informados sobre a importância do encaminhamento da clientela à sala de vacina 17 1 3
a) Considerado ponto crítico pelo Programa de Avaliação do Instrumento de Supervisão para Sala de Vacinação (PAISSV)

Tabela 5 – Distribuição dos conceitos atribuídos às salas de vacina (n=18) segundo os itens do processo de
avaliação do Programa de Avaliação do Instrumento de Supervisão para Sala de Vacinação (PAISSV),
Montes Claros, Minas Gerais, 2015

Itens do processo de avaliação Ideal Bom Regular Insuficiente


1. Aspectos gerais da sala de vacina 4 4 4 6
2. Procedimentos técnicos 10 6 1 1
3. Rede de frio 10 5 1 2
4. Sistema de informações/normatização 8 6 2 2
5. Eventos adversos pós-vacinação – 18 – –
6. Imunobiológicos especiais – – 14 4
7. Vigilância epidemiológica – – 9 9
8. Educação em saúde 13 5 – –
9. Índice geral 6 5 4 3

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Leila das Graças Siqueira e colaboradores

profissionais precisam ter uma visão crítica e reflexiva de vacinação, tal como material biológico, resíduos
de seu trabalho, assim como receber uma constante perfurantes e infectantes, é classificado como perigoso,
atualização sobre os serviços a serem prestados em sendo os demais resíduos considerados comuns. Diante
sala de vacina. Cabe ressaltar que a introdução de das especificidades desses resíduos, faz-se necessário
novas vacinas no calendário do PNI exige capacitação que o descarte seja realizado distintamente. Essas ações
para o desenvolvimento de uma série de habilidades fazem parte do planejamento, provisão de adequadas
e conhecimentos por parte desses profissionais.7-9,11,21 condições de estocagem e destino final do lixo.7
Boa parte das salas apresentavam problemas es- A falta de manutenção preventiva do refrigerador
truturais preocupantes. Problemas semelhantes foram pode comprometer a efetividade da vacinação, que não
identificados anteriormente, em 2008-2009, no muni- se restringe a sua produção mas também pressupõe o
cípio de Marília, estado de São Paulo,5 e em 2011, no rigor com que as normas de armazenamento, transpor-
estado de Pernambuco,2 principalmente quanto à cor, te e conservação são seguidas.5,21,24-26 Em algumas salas,
permeabilidade e facilidade de limpeza das paredes, por exemplo, os refrigeradores não se encontravam
condições de limpeza e conservação das salas. Trata-se em estado ideal de funcionamento.
de recomendações importantes, haja vista a contínua Todas as salas pesquisadas realizavam o controle
manipulação de imunobiológicos e a necessidade de diário da temperatura. Ademais, todos os profissionais
uma impecável higiene do ambiente.9 relataram a importância da realização da leitura diária
O ambiente destinado à manipulação e administração de temperaturas e afirmaram que as realizavam ao
dos imunobiológicos deve seguir – rigorosamente – as início e ao fim da jornada de trabalho, em impresso
normas de conservação e limpeza, garantindo segurança próprio, notificando as alterações aos supervisores.
aos usuários. A maioria dos ambientes de vacinação pode Entretanto, apurou-se que em metade das salas
apresentar suscetibilidade, sendo necessária sua higieni- avaliadas, o mapa de controle diário de temperatura
zação adequada. Além disso as vacinas, quando expostas estava afixado em local de difícil visualização, o que
a variações de temperatura, podem perder a potência; poderia comprometer o correto monitoramento da
algumas, inclusive, têm seu aspecto alterado devido à temperatura interna da geladeira.3,13,15,16,27
mudança de suas características físico-químicas.9,23 As dificuldades na gestão das atividades impedem
Nem todas as seringas e agulhas estavam acondi- a prática adequada do processo de conservação de
cionadas adequadamente, tampouco todas as salas vacinas, possivelmente em função da ausência de proce-
de vacina dispunham de mesa para exame clínico, dimentos operacionais padronizados, passíveis de serem
com colchonete revestido de material impermeável supervisionados, monitorados e avaliados. A discussão
protegido com material descartável. Conforme as sobre esse item chama a atenção para a necessidade de
recomendações do PNI, as seringas e agulhas devem um controle das atividades, e monitoramento dos pro-
ser acondicionadas e mantidas em armários fechados, cessos que envolvam a manipulação dessas substâncias.
preferencialmente; na falta de armários, estes podem Isso poderia ser resolvido com a implantação de ações
ser substituídos por recipientes plásticos, providos de educativas no ambiente de trabalho, resultando em pos-
tampas e com adequada higienização.2,5,9 síveis correções e ajustes no processo de capacitação,
Em relação aos procedimentos técnicos/indicação com a devida orientação dos profissionais por parte dos
das vacinas,6 alguns itens avaliados não atenderam às supervisores da sala de vacina e gestores de saúde do
normas estabelecidas pelo PNI: mais da metade dos município. Também devem ser asseguradas condições
profissionais responderam que não realizavam busca adequadas de trabalho, para que as recomendações do
ativa de suscetíveis com a clientela, não verificavam os Ministério da Saúde sejam acatadas.
prazos de validade das seringas e agulhas antes da apli- Na avaliação relacionada à qualidade dos registros,
cação da vacina e não acondicionavam corretamente e constatou-se que a maioria dos profissionais realizava
separadamente os vários tipos de lixo. Parece ser comum o aprazamento das vacinas de maneira incorreta; e que
encontrar as salas de vacina desprovidas de recipientes em aproximadamente metade das salas, não estavam
para o descarte de lixo contaminado, ocasionando o disponíveis formulários para avaliação de vacinas sob
descarte inadequado. No manual de normas da sala suspeita. O aprazamento das vacinas deve ser realizado
de vacina, consta que o lixo proveniente das atividades com precisão, pois define se há necessidade de o indi-

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Avaliação das salas de vacina na atenção primária em Montes Claros-MG

víduo receber ou não doses de vacinas. Somente com saúde, assim como também em eventos diversos com a
esses dados, pode-se evitar que pessoas recebam doses finalidade de divulgar as ações do programa de imuni-
desnecessárias, aumentando a probabilidade de ocorrer zações. Porém, há que se ressaltar a necessidade de os
reações locais por vacinação. A devida atenção e rigor com profissionais das salas de vacina realizarem atividades em
esse procedimento também previne superdosagem de parceria com diversos segmentos sociais, para divulgação
imunobiológicos, além de evitar gastos desnecessários.28 das ações de imunização, mesmo que sejam programas
Quase todos os profissionais desconheciam a co- já existentes nas unidades de saúde. A existência dessas
bertura vacinal e a proporção de abandono da área parcerias em apenas metade das salas de vacina analisa-
da abrangência da unidade de saúde, em desacordo das reflete um dos principais obstáculos para se atingir
com o preconizado pelo PNI: é de responsabilidade as metas propostas pelo Ministério da Saúde, no sentido
dos profissionais envolvidos com a imunização reali- de garantir o controle das doenças imunopreveníveis.
zar o cálculo da cobertura vacinal e da proporção de Como limitações do presente estudo, destaca-se,
abandonos; é com bases nesses dados que se mostra a primeiramente, a utilização de um instrumento que não
capacidade do serviço em convocar os faltosos, realizar leva em consideração a condição sociodemográfica e
a vacinação e completar os esquemas.24-26 econômica de cada região, serviço e comunidade. Outra
Em relação aos eventos adversos pós-vacinação, a limitação é o fato de as informações sobre conhecimento
maioria dos profissionais identificavam, notificavam e dos profissionais serem obtidas apenas do funcionário
investigavam eventos adversos relacionados à vacina- escalado para trabalhar na sala de vacina no momento
ção. Notificar eventos adversos é imprescindível, uma em que houve a coleta dos dados. Em salas de vacina
vez que esse indicador funciona como instrumento nas quais atuavam mais profissionais, não foram obtidas
para o aperfeiçoamento da qualidade do PNI. Vacinas informações sobre o conhecimento dos demais, que não
não são 100% eficazes, tampouco 100% seguras.29 foram entrevistados. Como pontos positivos, ressalta-se
Em relação aos imunobiológicos especiais, identifi- a inclusão de todas a salas de vacinação do município
cou-se que quase três quartos dos profissionais sabiam e a observação in loco dos procedimentos e rotinas
da existência do Centro de Referência de Imunobio- realizados, o que reforça a validade interna do estudo.
lógicos Especiais (CRIE), assim como a indicação e Recomenda-se a implantação, de forma sistemática,
disponibilidade dos imunobiológicos. Contudo, pouco da supervisão, monitoramento e avaliação das salas de
mais de um quarto deles soube descrever como acontece vacina nos municípios brasileiros, pois estudos com essa
o fluxo de solicitação desses imunobiológicos especiais. abordagem são escassos.2,5 Evidenciou-se que alguns
Cabe aos profissionais da sala de vacina conhecer a itens, considerados relevantes para o desempenho das
importância desses imunobiológicos, orientar e encami- atividades de imunização, estavam em desacordo com
nhar as pessoas com indicação para seu uso, tendo em as normas do Programa Nacional de Imunizações, refor-
vista a possibilidade da ocorrência de eventos adversos. çando a importância da avaliação para o aprimoramento
Quanto às ações da vigilância epidemiológica, quase das ações ofertadas pelos serviços de saúde.
todos os profissionais desconheciam o número de
casos de doenças imunopreveníveis existentes em sua Contribuição dos autores
área de abrangência, e pouco mais da metade conhe-
cia a incidência das doenças imunopreveníveis e sua Siqueira LG e Martins AMEBL participaram da con-
relação com as coberturas vacinais. Fato semelhante cepção e delineamento do estudo, levantamento, análise
foi encontrado em estudo anterior, que avaliou as salas e interpretação dos dados. Almeida LAV, Alecrim BPA
de vacina na rede básica do município de Marília, São e Bezerra RC participaram do levantamento, análise e
Paulo, em 2008 e 2009.5 É comum os profissionais interpretação dos dados. Versiani CMC, Oliveira CS e
referirem desconhecer a ocorrência de novos de Nascimento JE participaram da análise e interpretação
casos de doenças imunopreveníveis em sua área de dos dados. Todos os autores participaram da elaboração
abrangência, e correspondentes coberturas vacinais. de versões preliminares do artigo, da revisão crítica do
Em relação às ações de educação em saúde, na conteúdo intelectual, e aprovaram a versão final do ma-
maioria das salas de vacina, observou-se a participação nuscrito, declarando-se responsáveis por todos os aspec-
em parcerias com programas existentes nas unidades de tos do trabalho e garantindo sua precisão e integridade.

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Abstract Resumen
Objective: to assess the quality of the organization Objetivo: evaluar la calidad de la organización y el
and operation of vaccine rooms in Montes Claros, Minas funcionamiento de las salas de vacuna en Montes Claros,
Gerais, Brazil, in 2015. Methods: descriptive evaluation Minas Gerais, en 2015. Métodos: estudio de evaluación
study on the quality of vaccine rooms, based on the de la calidad de las salas de vacuna, con base en las
technical guidelines and standards recommended by the directrices técnicas y normas del Programa Nacional de
National Immunization Program, using a questionnaire Inmunizaciones (PNI), usando un cuestionario adaptado
adapted from the Evaluation Program of the Vaccine del Programa de Supervisión de instrumentos del Centro
Room Supervision Tool (PAISSV 2.0). Results: all 18 de Evaluación de Vacunas (PAISSV 2.0). Resultados:
vaccine rooms in the municipality were assessed; se evaluaron las 18 salas del municipio; en cuanto al
regarding the quality concept of the vaccine rooms, six concepto de calidad, seis se consideraron ideal, cinco
of them were considered ideal, five good, four regular, buenas, 4 regulares y 3 insuficientes. Conclusión: la
and three as insufficient. Conclusion: most vaccine mayoría de las salas de vacunas fue calificado como
rooms were classified as good/ideal; however, there is bueno/ideal; sin embargo, existe la necesidad de la
a need to organize continuous education programs for sistematización de la educación continua para los
professionals and structural improvements, in order profesionales y las mejoras estructurales con el fin de
to meet the standards recommended by the National cumplir con las normas recomendadas por la PNI.
Immunization Program. Palabras-clave: Vacunación; Evaluación de
Keywords: Vaccination; Health Services Evaluation; Servicios de Salud; Estructura de los Servicios; Calidad
Structure of Services; Quality of Care Health; de la Atención de Salud; Estudios de Evaluación.
Evaluation Studies.
Recebido em 11/10/2016
Aprovado em 26/02/2017

568 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 26(3):557-568, jul-set 2017

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