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Módulo: Saúde Coletiva

Submódulo: Vigilância e Sistema de Informação em Saúde

Introdução a Epidemiologia

Profª Ma Marli dos Santos Rosa Moretti


Enfermeira
Pedagoga
Especialista em Enfermagem do Trabalho
Especialista em Docência no Ensino Médio e Superior
Curiosidades Etimológicas:

• Grécia Antiga: Hipócrates utilizou palavras que deram origem ao


termo epidemiologia.

• Epidemeion (doenças que visitam a comunidade) – epidemia –


Exemplo: COVID 19

• Endemeion (doenças que residiam na comunidade) – endemia –


Exemplo: Febre Amarela – área endêmica
Curiosidades Etimológicas:

• Etimologicamente “epidemiologia”
significa:
• Epi (sobre)
• Demo (povo, população)
• Logos (tratado, estudo)
• “Estudo do que afeta a população”
(PEREIRA, 1999, p. 1)
• Conceito original do termo se restringe
ao estudo de epidemias de doenças
transmissíveis.
Um Pouco de História ...
Grécia Antiga:
Deusa da Cura
ASCLÉPIO – deus da saúde

PANACEIA – preconizava a medicina


individual curativa. Prática terapêutica
baseada em intervenções sobre
indivíduos doentes – manobras físicas,
encantamentos, preces e uso de
medicamentos.
Um Pouco de História... Deusa da
Saúde e
Grécia Antiga: Higiene

ASCLÉPIO – deus da saúde

HIGEIA – defendia a saúde


como resultante da harmonia
entre os homens e ambientes, e
buscava promovê-las por meio
de ações preventivas.
Um Pouco de
História

• Hipócrates – médico grego,


século V a .C - pai da
medicina, pai da epidemiologia
ou o primeiro epidemiologista.
• Célebre estudo: “Ares, águas e
lugares” – distribuição das
doenças em termos de sua
ligação aos elementos naturais,
ao tempo, espaço e estação e à
população afetada.
Um Pouco de História

• “A convicção de que as doenças não são


causadas por demônios ou forças
sobrenaturais, mas por fenômenos
naturais...”(CAPRA, 1998).
• Os quatro humores corporais correspondiam à
água, à terra, ao fogo e ao ar
• Saúde: equilíbrio
• Doença: o desequilíbrio
• Galeno – médico grego seguidor de Hipócrates
- Roma Antiga. Os escritos de Galeno e o
“Corpus hipocraticum” – sobreviveram
devido aos médicos árabes durante a Idade
Média.
O Uso do Termo Epidemiologia
• Referência mais remota à palavra epidemiologia
– no título de um trabalho de Angelerio sobre a
Peste (Espanha), na segunda metade do século
XVIII

• Em 1802, Juan de Villalba, compilando as


epidemias conhecidas até então, publicou
Epidemiologia, tornando o termo oficial.
Evolução da Epidemiologia
• Girolamo Frascatoro – séc. XVI – Teoria do Contágio – seminaria.

• John Graunt (1620-1674) – 1662 – publicou estudo em que analisou as tabelas


mortuárias de Londres – por sexo e região. Pai da demografia ou das
estatísticas vitais.

• Van Leeuwenhoek (1632-1723) – 1675 – descoberta do microscópio –


visualizou pequenos seres vivos - “animáculos”.

• Pierre Louis (1787-1872) – em Paris – estudos clínico-patológicos sobre a


tuberculose e febre tifoide – método estatístico – investigação clínica das
doenças.
Evolução da Epidemiologia
✴ Louis Villermé (1782-1863) – investigou a pobreza, condições de
trabalho, situação socioeoconômica e mortalidade – etiologia social das
doenças.
✴ William Farr (1807-1883) – Inglaterra – classificação de doenças,
descrição das leis das epidemias: Ascenção rápida no início, elevação
lenta até o ápice e, em seguida, uma queda mais rápida.
✴ John Snow (1813-1858) – investigou a epidemia de cólera em Londres
no período de 1849-1854 – pai da “epidemiologia de campo”.
Evolução da Epidemiologia
✴ Louis Pasteur (1822-1895) – pai da bacteriologia – influenciou a história da
epidemiologia. Identificou e isolou bactérias.
✴ Ignaz Semmelwies (1818-1865) – investigou as causas da febre puerperal
em Viena. Preconizou medidas de higiene e lavagem das mãos. Sugestões
não aceitas.
✴ Edward Jenner (1743-1823) – o primeiro a utilizar uma vacina empregada
contra a varíola – pai da Imunologia.
✴ Gregor Mendel (1822-1884)- estudos genéticos – estudos sobre a
distribuição desigual da doença, na coletivadade.
Evolução da
Epidemiologi
a
• No Brasil: alguns protagonistas

• Oswaldo Cruz (1872-1919) –


fundou o Instituto Manguinhos
no Rio de Janeiro
• Carlos Chagas (1879-1934) -
descreveu a doença de Chagas
• Adolfo Lutz (1855-1940) –
diretor do Instituto
Bacteriológico
• Emílio Ribas (1862-1925) –
estudo de endemias
Áreas Temáticas da Epidemiologia
• 1. As doenças infecciosas e as enfermidades carenciais

• 2. As doenças crônicas-degenerativas e os outros danos à saúde

• 3. Os serviços de saúde

• 4. Outras classificações da epidemiologia:

. Epidemiologia ambiental e ocupacional

. Epidemiologia de crianças, adolescentes e idoso

. Epidemiologia comunitária e hospitalar

. Epidemiologia social, clínica, nutricional, farmacologia, molecular, comportamental, etc.


O que é Epidemiologia?

“Ramo das ciências da saúde que estuda, na


população, A OCORRÊNCIA, A
DISTRIBUIÇÃO E OS FATORES
DETERMINANTES dos eventos relacionados
com a saúde” (PEREIRA, 1995, p. 3)
OCORRÊNCIA

Coeficiente ou Taxa de Incidência

(casos novos)

Fórmula:

Resultado: _____/100.000 habitantes


Calcule a Incidência da Hanseníase em um município fictício em 2022.
Os dados
Número de casos novos:38 casos
Casos notificados com Registro Ativo (em tratamento medicamentoso
com a Poliquimioterapia ): 5 casos
Números População (estimada pelo IBGE/2022): 69.402 habitantes
Fórmula: CI= n° de casos novos/ n° de

CALCULE O COEFICIENTE DE INCIDÊNCIA: hab. pelo IBGE x 100.000hab

CI = 38 X 100.000 hab. = 55
69.402

Resposta: 55 casos novos de hanseníase por cada 100.000 HABITANTES


OCORRÊNCIA
Coeficiente ou Taxa de Prevalência

(totais de casos)

Fórmula:

Resultado: ______/10.000 habitantes


Calcule a Prevalência da Hanseníase em um município fictício em
2022. Os dados: Fórmula: CP= n° de casos novos + n° de
casos em registro ativo / n° de hab.
pelo IBGE x 10.000hab
Número de casos novos:38 casos
Casos notificados com Registro Ativo (em tratamento medicamentoso
com a Poliquimioterapia ): 5 casos
Números População (estimada pelo IBGE/2022): 69.402 habitantes

CALCULE O COEFICIENTE DE PREVALÊNCIA:

CI = 38 + 5 X 10.000 hab. =
69.402 6,19

Resposta: 6,19 casos de hanseníase por cada 10.000 HABITANTES


DISTRIBUIÇÃO
COMPORTAMENTOS EPIDEMIÓLOGICOS DAS DOENÇAS, AGRAVOS E EVENTOS
DE SAÚDE PÚBLICA NO TEMPO/ESPAÇO-LUGAR:

❖ NÃO EXISTIREM OU EXISTIREM EM FORMA DE:

A) EPIDEMIA

B) SURTO EPIDÊMICO

C) PANDEMIA

D) ENDEMIA
FATORES DETERMINANTES

Definição de Saúde de acordo com a Lei Federal 8080/1990:

Art. 3o Os níveis de saúde expressam a organização social e


econômica do País, tendo a saúde como determinantes e
condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o
saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a
educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens
e serviços essenciais. (Redação dada pela Lei nº 12.864 de 2013).
Princípios Básicos da Epidemiologia
• “Os agravos à saúde não ocorrem ao acaso na população”:
• A distribuição desigual dos agravos à saúde é produto da ação de
fatores que se distribuem desigualmente na população; a elucidação
destes fatores é uma das preocupações da epidemiologia.
• O conhecimento destes fatores determinantes das doenças permite a
aplicação de medidas, preventivas e curativas, direcionadas a alvos
específicos, cientificamente identificados, o que resulta em aumento
da eficácia das intervenções.
Métodos de Investigação em Epidemiologia

• Os métodos epidemiológicos:

1. Estudos descritivos e analíticos

. Descritivos – informar sobre a frequência e a distribuição de um


evento.

. Analíticos – investigar a associação entre dois eventos, no intuito de


estabelecer explicações para uma eventual relação observada entre eles.

2. Estudos experimentais ou de intervenção


Aplicações da Epidemiologia
1. Descrever as condições de saúde da população

2. Investigar os fatores determinantes da situação de saúde

3. Avaliar o impacto das ações para alterar a situação de saúde

Em nível coletivo: implementar novas intervenções, reorientar as atualmente empregadas ou


manter as estratégias em curso.

Em nível individual: fundamentar decisões e condutas, tais como o diagnóstico clínico, a


solicitação de exames, prescrição de vacinas, drogas e regimes alimentares.
Pilares da Epidemiologia
1. Ciências Biológicas (conhecimentos da clínica,
patologia, microbiologia, parasitologia e
imunologia).

2. Ciências Sociais (conhecimentos a sociologia,


antropologia e de como a sociedade está organizada).

3. Estatística (termo criado no século XVII, quer dizer,


em sua origem etimológica, a medida do Estado
-Estatísticas vitais).
Principais Usos da Epidemiologia
1. Diagnóstico da situação de saúde

2. Investigação etiológica

3. Determinação de riscos

4. Aprimoramento na descrição do quadro clínico

5. Determinação de prognósticos

6. Identificação de síndromes e classificação de doenças

7. Verificação do valor de procedimentos diagnósticos

8. Planejamento e organização de serviços de saúde

9. Avaliação das tecnologias, programas ou serviços

10. Análise crítica de trabalhos científicos


1. Diagnóstico da situação de Saúde
Gerar dados quantitativos corretos sobre a saúde do conjunto da população ou de seus
segmentos, seja em investigações de rotina ou especiais.

Exemplo: Investigar um agravo, um fator de risco, o uso dos serviço, uma característica da
população.

. Aspectos a serem considerados no diagnóstico:

a) A abrangência populacional – toda a população ou amostragem.

b) A seleção dos indicadores que retratem a realidade: indicadores de morbidade e mortalidade.


2. Investigação Etiológica
. Desafio científico: pesquisar as causas distribuições das doenças.

a) Histórico sobre a busca das causas das doenças:

* Fase da magia

* Fase dos fatores físicos e dos “miasmas”

* Fase Microbiológica, dos Germes ou do Contágio

* Fase da Causalidade Múltipla

b) Etapas na investigação etiológica em epidemiologia

• Uma possível “causa” –” a exposição” ao fator de risco; e um dado “efeito”, ou seja, o surgimento da
“doença”.

Exemplo: nível de colesterol e coronariopatias


3. Determinação de Riscos
• Fornecer dados para a quantificação da associação entre exposição a um determinado fator e o
surgimento da doença.

a) Conceito de risco: o grau de probabilidade da ocorrência de um determinado evento. Nem todas as


pessoas têm os mesmos riscos.

b) Cálculo do risco:

* Risco absoluto (ou taxa de incidência): mostra quantos casos novos da doença aparecem no grupo,
em um dado período.

* Risco Relativo: informa quantas vezes o risco é maior em um grupo, quando comparado a outro.

* Risco Atribuível: indica a diferença de incidências entre dois grupos, diferença que é atribuída à
exposição ao fator de risco.
4. Aprimoramento na descrição do quadro
clínico
• Sequência da descrição do quadro clínico:

• Observação de um caso, ou de poucos casos;

• Reconhecimento das principais características do agravo;

• Divulgação na literatura especializada – as observações podem ser confirmadas ou refutadas

• Outros detalhes do quadro clínico somente serão esclarecidos em estudos posteriores => auxílio da
epidemiologia. Exemplo: Doença de Chagas.

Carlos Chagas, em 1909, por meio de observações e descrições, identificou o vetor, o agente etiológico e
vinculou este agente à enfermidade.
5. Determinação de Prognósticos

A descrição do quadro clínico fornecem os elementos para quantificar


prognósticos.
6. Identificação de Síndromes e Classificação de
Doenças

a) O reconhecimento de grupos homogêneos de características, de sinais e


sintomas, e de prognósticos pode fazer com se diferencie uma condição de
outra, até então considerada em uma só categoria clínico-patológica.
Exemplo: HIV/Aids

b) Classificação Internacional de Doenças (CID): cada doença, lesão ou causa


de óbito recebe um código na classificação. Exemplo: Hanseníase – A30
7. Verificação do valor de procedimentos
diagnósticos
* Os resultados de uma investigação epidemiológica está subordinado à precisão dos diagnósticos.

Critérios na verificação da qualidade na aferição de eventos:

a) Validade – refere-se ao grau em que o diagnóstico reflete a real condição do paciente. Exemplo:
biópsia de lesão de pele resulta em diagnóstico mais válido do que a simples inspeção da lesão a olho
nú.

b) Confiabilidade – refere-se à consistência dos resultados, quando o teste diagnóstico é repetido.

Exemplo: Dois patologistas devem chegar ao mesmo diagnóstico quando examinam, independentemente
um do outro, uma mesma lâmina.
8. Planejamento e
Organização de Serviços
* A epidemiologia além de contribuir com informações referentes à
magnitude e à distribuição dos problemas de saúde, dos fatores de
risco e das características da população, contribui para subsidiar
as decisões relativas à definição de prioridades e ao melhor uso
dos recursos, com o monitoramento das ações e, principalmente,
com as mudanças dos indicadores de saúde e a (re)organização
dos serviços de saúde.

Exemplo: CADIP - Centro de Atendimento a Doenças Infectocontagiosas e


Parasitárias
9. Avaliação das tecnologias, programas ou serviços
de saúde

• Eficácia: investigar o impacto das tecnologias em condições ideais de observação


(vacinas, medicamentos, produtos diagnósticos, condutas médicas e cirúrgicas, etc);

• Efetividade: investigar o impacto das tecnologias em condições normais, isto é, no


mundo real, com todas as suas imperfeições;

• Eficiência: investigar além do impacto os recursos financeiros, humanos e materiais


utilizados em um programa ou envolvidos no uso das tecnologias.
PRINCIPAIS REFERÊNCIAS:
ALMEIDA FILHO, N.; BARRETO, M. L. Epidemiologia e saúde:
fundamentos, métodos, aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2017.
MEDRONHO, R. A (Editor), CARVALHO, D. M.; BLOCH, K.V.; LUIZ,
R. R.; WERNECK, G. L. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2008.
PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. (Reimpressão) Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
UJVARI, S. C. A história e suas epidemias: convivência do homem e os
microorganismos. Rio de Janeiro: Editora Senac; São Paulo: Editora Senac,
2003.

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