Efeito de Um Programa de Treinamento

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Lucas Melo Neves1

Ana Claudia de Souza Fortaleza2 Efeito de um programa de treinamento


Fabrício Eduardo Rossi2
Tiego Aparecido Diniz2 funcional de curta duração sobre a composição
corporal de mulheres na pós-menopausa
Marcela Rodrigues de Castro2
Bruna Lopes de Aro3
Ismael Forte Freitas Júnior2,4
Effect of a short-term functional training program
on body composition in postmenopausal women

Artigo Original
Resumo
Palavras-chave OBJETIVO: Avaliar o efeito de 8 semanas de treinamento funcional sobre a composição corporal de mulheres na
Composição corporal pós-menopausa. MÉTODOS: Participaram do estudo 38 mulheres menopausadas, distribuídas em dois grupos: Grupo
Ensaio clínico Treino (GT) e Grupo Controle (GC). As participantes do GT (n=21) realizaram, por um período de 8 semanas, um
Exercício programa de exercícios físicos, com frequência de 3 vezes por semana, em dias não consecutivos, e duração de
Menopausa
90 minutos por sessão. Pelo mesmo período, as mulheres do GC (n=17) não realizaram nenhum tipo de atividade
Mulheres
física sistematizada. Todas as participantes foram avaliadas no momento inicial da pesquisa e após 8 semanas.
Keywords As  avaliações foram conduzidas pelos mesmos avaliadores treinados. A análise da composição corporal foi
Body composition realizada no equipamento de absortiometria de raios X de dupla energia (DEXA) que permite estimar a composição
Clinical trial corporal no todo e por segmento. As participantes do GT realizaram um programa de exercícios físicos funcionais,
Exercise 3 dias da semana (não consecutivos), com sessões compostas por 11 estações de exercícios desenvolvidas em
Menopause
formato de circuito. Os exercícios realizados tinham como proposta o desenvolvimento das capacidades força,
Women
agilidade, coordenação e propriocepção, e eram seguidos de exercício aeróbio (caminhada). Depois de constatada
normalidade dos dados verificada pelo teste Shapiro-Wilk (p<0,05), procedeu-se ao teste t de Student para amostras
independentes para verificação de possíveis diferenças em variáveis de composição corporal e antropométricas entre
grupos nos dois momentos da intervenção (pré e pós-teste). Todas as análises foram realizadas com o software SPSS,
v. 17.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, USA) com valor de significância estabelecido em 5%. RESULTADOS: No momento
inicial nenhuma diferença significante foi observada entre as variáveis de composição corporal, antropométricas
e idade, indicando homogeneidade dos grupos. Após 8 semanas de treinamento, foram observadas diferenças
significativas entre o GT e o GC quanto à gordura de tronco – GC=0,2±0,7 e GT=-0,4±0,5, gordura corporal
total (kg) – GC=0,2±1,3 e GT=-0,7±0,8 e no peso total – GC=0,4±1,4 e GT =-0,6±1,1. A variável percentual
de gordura total apresentou redução nos valores absolutos, porém sem significância, GC=0,1±1,5 e GT=-0,8±1,5.
CONCLUSÃO: O treinamento funcional no formato de circuito pode ser usado como estratégia para alteração
da composição corporal de mulheres na pós-menopausa, em especial na redução do tecido adiposo. Trata-se de
um modelo que promove elevada aderência dos seus participantes, sugerindo ser uma proposta atrativa para a
faixa etária investigada.

Abstract
PURPOSE: To evaluate the effect of 8 weeks of functional training on body composition in postmenopausal
women. METHODS: The study was conducted on 38 postmenopausal women, divided into two groups:
Training Group (TG) and Control Group (CG). TG women (n=21) performed a program of physical exercise
for a period of 8 weeks, 3 times a week on nonconsecutive days, with 90 minutes per session. For the same
period, CG women (n=17) did not perform any systematic physical activity. All participants were assessed
at baseline and after 8 weeks. The evaluations were performed by the same trained raters. Analysis of body

Correspondência Centro de Estudos e Laboratório de Avaliação e Prescrição de Atividades Motoras – CELAPAM, Departamento de Educação Física,
Lucas Melo Neves Universidade Estadual Paulista – UNESP – Presidente Prudente (SP), Brasil.
Rua Roberto Simonsen, 305 – Centro Educacional
1
Programa de Pós-graduação em Fisioterapia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Presidente Prudente
CEP: 19060-900 (SP), Brasil.
Presidente Prudente (SP), Brasil
2
Programa de Pós-graduação em Ciências da Motricidade, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Rio
Claro (SP), Brasil.
3
Graduação em Educação Física, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Presidente Prudente (SP), Brasil.
Recebido 4
Programa de Pós-graduação em Fisioterapia e Departamento de Educação Física, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
26/06/2014 Filho” – UNESP – Presidente Prudente (SP), Brasil.
Conflito de interesses: não há.
Aceito com modificações
31/07/2014

DOI: 10.1590/SO100-720320140005073
Efeito de um programa de treinamento funcional de curta duração sobre a composição corporal de mulheres na pós-menopausa

composition was performed using dual-energy X-ray absorptiometry (DEXA), which allows estimation of body composition in the whole body and
by segment. TG participants performed a functional exercise program 3 days a week (non-consecutive), with 11 stations consisting of exercises
developed in circuit format sessions. The objectives of the exercises were the development of strength, agility, coordination and proprioception,
followed by aerobic exercise (walking). After normality of the data was determined by the Shapiro-Wilk test (p<0.05), we applied the Student
t-test for independent samples to check for possible differences in anthropometric variables and body composition between groups at both times
of intervention (pre and post-test). All analyses were performed using the SPSS software v. 17.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, USA) with the level of
significance set at 5%. RESULTS: At baseline, no significant difference was observed between groups regarding anthropometric body variables
or age composition, indicating homogeneity of the groups. After 8 weeks of training, significant differences were observed between TG and
CG regarding fat – CG=0.2±0.7 and TG=-0.4±0.5, total body fat (kg) – CG=0.2±1.3 and TG=-0.7±0.8, and total weight – CG=0.4±1.4
and TG=-0.6±1.1. Percent body fat was reduced in terms of absolute values, although without significance: CG=0.1±1.5 and TG=-0.8±1.5.
CONCLUSION: Functional training in circuit format can be used as a strategy to alter body composition in postmenopausal women, particularly
in terms of reduction of adipose tissue. This is a model that promotes high adhesion on the part of the participants, suggesting that it is an
attractive proposal for the investigated age group.

Introdução multicomponente na população idosa, identificaram que


o segundo promove aumento de pico de potência, aspecto
Alterações hormonais durante a menopausa1 causam relevante na independência funcional.
acentuada redução de massa corporal magra e aumento do Em mulheres jovens e ativas, esse modelo de treino
tecido adiposo total e visceral2,3, além de redistribuição da já foi testado17, apresentando redução significativa no per-
gordura corporal, que passa de um modelo ginoide para centual de gordura. Foi testado também no público idoso
androide4. Essas mudanças podem afetar diretamente o e demonstrou a melhoria da mobilidade funcional. Assim,
bem-estar e a saúde da mulher em decorrência da redu- torna-se necessário e de suma importância compreender a
ção da mobilidade, da funcionalidade e do equilíbrio5, natureza, bem como os efeitos do treinamento funcional
de ocorrências de fraturas6, de desordens de sono7 e de na composição corporal de mulheres na menopausa, o que
exposição a doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, poderá auxiliar profissionais da área da saúde a elaborar
osteoporose e sarcopenia8. Destaca-se que essas condições protocolos de intervenção que sejam úteis e assertivos.
estão comumente associadas ao quadro de multimorbidade, Portanto, o objetivo do presente estudo foi verificar o
sendo as doenças cardíacas a principal causa de morte no efeito do treinamento funcional na composição corporal
período da menopausa9. de mulheres na pós-menopausa.
A atividade física pode influenciar a perda óssea e
muscular10, atenuando o aumento de massa gorda2 Métodos
e acentuando o ganho de massa muscular3. Protocolos
de treinamento resistido e aeróbico são conhecidos Trata-se de um ensaio clínico com intervenção
pela sua capacidade de provocar alterações positivas, desenvolvido no Centro de Estudos e Laboratório de
sobretudo na composição corporal11,12. A combinação Avaliação e Prescrição de Atividades Motoras (CELAPAM)
de ambos os protocolos, conhecida como treinamento no Departamento de Educação Física da Faculdade de
concorrente ou combinado, vem apresentando bons Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Estadual
resultados8,13,14. Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus
Outras variações de protocolos são treinamentos de Presidente Prudente, Brasil. A população escolhida
recentemente chamados de multicomponente13,15, para o estudo consistiu de mulheres na menopausa (mais
combinado8, multiproposta (multi-purpose)16 ou treina- de 1 ano de amenorreia, dosagem de FSH>30 IU/L),
mento funcional17, que buscam adicionar ao estímulo residentes em uma cidade de médio porte (Presidente
neuromuscular e aeróbico outras características, como Prudente – SP), no Brasil. As participantes foram recru-
estímulo proprioceptivo, agilidade e coordenação. tadas por meio de jornais, rádios e televisão mediante
O treinamento funcional tem por base a realização de convite para participarem do estudo. Para fazer parte
exercícios visando à melhoria do controle, da estabili- da amostra do estudo, as participantes não deveriam
dade e da coordenação motora17. ter feito parte de nenhum tipo de intervenção motora
Na investigação de alterações na composição corpo- durante, pelo menos, seis meses do período que an-
ral, observaram-se melhoras significativas no estado de tecedeu a primeira coleta de dados da investigação.
saúde geral e na composição corporal13,14. Forte et al.18, Também não poderiam apresentar comprometimentos
ao compararem os efeitos do treinamento resistido aos do motores ou cognitivos que inviabilizassem a realização

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Neves LM, Fortaleza AC, Rossi FE, Diniz TA, Castro MR, Aro BL, Freitas Júnior IF

dos protocolos de intervenção, nem apresentar doença Protocolo de exercícios físicos


crônica ou degenerativa, lesão musculoesquelética ou As participantes do GT realizaram um progra-
comorbidade que pudesse impedir ou limitar a reali- ma de exercícios físicos funcionais 3 dias da semana
zação das avaliações e do protocolo de treinamento, e (não consecutivos), com sessões compostas por 11
deveriam ter a anuência médica do profissional de sua estações de exercícios desenvolvidas em formato de
confiança (atestado médico). circuito,que deveria ser realizado completo por 3 ve-
O presente estudo obteve aprovação do Comitê de zes, tendo como referência uma pausa de 30 segundos
Ética em Pesquisa FCT–UNESP Presidente Prudente, entre cada estação, seguido de caminhada entre 15 e
Brasil (Certificado de Apresentação para Apreciação 30 minutos. Esse protocolo trata-se de uma propos-
Ética – CAAE nº 11547013.2.0000.5402) e está ins- ta com particularidades ainda não popularizadas na
crito no registro brasileiro de ensaio clínico (número literatura, a qual utiliza bases do exercício resistido
de registro: RBR-85vmkx). Todas as participantes que (exercícios), atividades físicas gerais (deslocamentos
concordaram em fazer parte da investigação assinaram o diversos) e carga com implementos elásticos. Após
termo de consentimento livre e esclarecido, e a pesquisa 2 semanas de familiarização com as atividades, foi
foi conduzida de acordo com a Declaração de Helsinque proposto como tempo fixo a referência de 40 segundos
revisada em 2008. em cada exercício durante as 4 primeiras semanas.
Depois desse período, buscando manter progresso na
Seleção da amostra e delineamento do estudo carga, o tempo de exercício em cada estação passou
Participaram do estudo 38 mulheres na pós-menopausa, para 50 segundos.
distribuídas em dois grupos: Grupo Treino (GT) e Grupo Os exercícios realizados tinham como proposta o
Controle (GC). A seleção da amostra foi realizada após desenvolvimento das capacidades força (abdominal,
triagem, considerando os critérios de inclusão. As partici- rosca direta, elevação lateral, remada sentada, flexão
pantes do GT (n=21 mulheres na menopausa) realizaram, de joelhos, crucifixo, puxador tríceps, agachamento)19,
por um período de 8 semanas, um programa de exercícios agilidade (deslocamento entre cones), coordenação (des-
físicos, com frequência de 3 vezes por semana, em dias locamento em escada de chão) e propriocepção (apoio
não consecutivos e com duração de 90 minutos por sessão. unipodal no solo e na prancha)20, seguido de exercício
Pelo mesmo período, as mulheres do GC (n=17 mulheres aeróbio (caminhada). As atividades foram desenvolvidas
na menopausa) não realizaram nenhum tipo de atividade com implementos como pesos livres, faixas elástica
física sistematizada. (Teraband®), tubos elásticos (Rubberband®), Bosu,
Todas as participantes responderam a uma entrevista biobol, plataformas de propriocepção, cones, escadas de
na qual foi apresentado o termo de consentimento livre e coordenação e barreiras. Todas as sessões foram realizadas
esclarecido, além de uma entrevista semiestruturada para com a supervisão de pelo menos quatro profissionais de
coleta das informações adicionais (sociodemográficas e infor- Educação Física e estagiários familiarizados e treina-
mações clínicas). Nessa data, elas agendavam as avaliações dos para trabalhar com programas de atividade física
do momento inicial. Todas foram avaliadas no momento para mulheres na menopausa. A intensidade do treino
inicial da pesquisa e após oito semanas. As avaliações foram foi aferida pela escala subjetiva de esforço (Escala de
conduzidas pelos mesmos avaliadores treinados. A análise Borg)21 em razão das variações de tensão/sobrecarga que
da composição corporal foi realizada no equipamento de os equipamentos utilizados apresentavam. Essa escala
absortiometria de raios X de dupla energia (DEXA) da é aplicada ao final da sessão de treino, quando o aluno
marca Lunar, modelo DPX-MD, software 4.7, que utiliza deve apontar o quanto ele está cansado em uma escala
o modelo de três compartimentos (massa corporal magra, que vai de 6 (demasiado leve) a 20 (muito, muito
massa de gordura e mineral corporal) e perimetria. intenso). O controle da intensidade da caminhada du-
A técnica do equipamento DEXA permite estimar rante as sessões de treinamento teve como parâmetro
a composição corporal no todo e por segmento. O exame principal o limiar anaeróbio, determinado por meio de
tem duração de aproximadamente 15 minutos. A avaliação regressão linear, tendo como base o teste de caminhada
é simples e não necessita de auxílio da pessoa avaliada, em 3 distâncias fixas (400, 800 e 1.200 metros) para
exceto que ela deverá permanecer posicionada sem se identificação da velocidade crítica.
movimentar no aparelho, em decúbito dorsal, durante a
realização da medida. Os resultados são transmitidos a um Análise dos dados
computador que está interligado ao aparelho, e os dados Após confirmar a normalidade do conjunto de dados,
de massa corporal magra, gordura corporal em quilograma por meio do teste de Shapiro-Wilk, as possíveis diferenças
e em percentual, conteúdo e densidade mineral óssea são entre os GC e GT no momento inicial e final do estudo
registrados no sistema. foram testadas pelo teste t de Student para amostras

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Efeito de um programa de treinamento funcional de curta duração sobre a composição corporal de mulheres na pós-menopausa

independentes. Admitiu-se, em todas as análises, o nível Discussão


de significância de 5% (p<0,05). Os dados foram proces-
sados no pacote estatístico SPSS, versão 17.0. O presente estudo avaliou o efeito de oito semanas de
um programa de treinamento funcional sobre a composição
Resultados corporal de mulheres na pós-menopausa. Esse protocolo
de treinamento proporcionou diminuição significativa da
O protocolo de exercícios realizados teve aderência gordura de tronco, da gordura corporal total (kg) e do
de 91% das iniciantes na proposta. A média de idade peso, bem como a manutenção da massa magra.
e desvio padrão foi de 60,7±6,0 anos, e o percentual Corroborando com nossos achados, Forte etal.18
de gordura corporal médio foi de 41,2±4,8. No mo- compararam os efeitos de um protocolo de treinamento
mento inicial, nenhuma diferença foi observada entre que envolvesse coordenação neuromuscular, equilíbrio,
as variáveis de composição corporal, variáveis antropo- agilidade e controle cognitivo com um programa de
métricas e idade (Tabela 1), indicando homogeneidade treinamento de força tradicional em idosos de 65 a
dos grupos. 75 anos e observou que ambos os modelos de treinamento
Na Tabela 2 são apresentadas as mudanças absolutas foram efetivos em melhorar a mobilidade funcional dos
na composição corporal ocorridas após oito semanas participantes.
de intervenção. Apesar de o percentual de gordura Por outro lado, o protocolo aqui aplicado promoveu
corporal ter diminuído no GT, não foi verificada di- redução da gordura corporal em comparação a protocolos
ferença significativa em relação ao GC. Entretanto, mais extensos22. Neste estudo de intervenção de 12 meses
quando se observa o valor da gordura do tronco em com mulheres na pós-menopausa, aplicou-se 3 sessões
kg (GT=-0,4±0,5 versus GC=0,2±0,7; p=0,007) e semanais, duas das quais eram compostas por exercícios de
em percentual (GT=-0,7±0,8 versus  GC=0,2±1,3; step e musculação (20 a 25 minutos cada), e a terceira por
p=0,01), ambos os parâmetros mostraram redução treino de flexibilidade, valorizando a aplicaçãode alonga-
significativa entre os casos do GT em relação ao mentos estáticos22. Apesar de os autores terem encontrado
do GC. diferença, após 12 meses, entre o Grupo Experimental e o
Controle na massa gorda relativa, essa relação parece ter
Tabela 1. Valores apresentados no momento inicial dos grupos nas variáveis composição
sido mediada pelo aumento, de até 4,8 kg, na gordura
corporal e antropometria corporal total do Grupo Controle.
Controle Funcional
Acreditamos que o formato em circuito do programa
Variáveis (n=17) (n=21) Valor p aqui executado, o caráter moderado da intensidade e a
Média±DP Média±DP duração das sessões tenham propiciado o uso, predomi-
Idade (anos) 61,9±6,4 59,8±5,7 0,2 nantemente, do metabolismo aeróbico para a obtenção de
IMC (kg/m ) 2
25,8±2,8 25,5±2,7 0,7 energia. Durante esse tipo de exercício ocorre a liberação
Gordura de tronco (kg) 14,0±3,2 13,6±3,1 0,7 de catecolaminas pela glândula adrenal, a qual pode ativar
Gordura corporal (kg) 26,0±5,8 25,7±5,0 0,8 o mecanismo de lipase do triacilglicerol no tecido adiposo,
Gordura corporal (%) 42,3±5,5 40,3±4,1 0,2 dando início à lipólise, que tem como função mobilizar
Massa corporal magra (kg) 32,9±4,3 35,3±3,9 0,07
ácidos graxos para a β-oxidação na mitocôndria e assim,
promover a perda de gordura23. Além das melhorias na
Peso (kg) 61,0±8,4 63,4±8,0 0,3
composição corporal, a organização do treinamento em
IMC: Índice de massa corporal; DP: desvio padrão.
circuito é apontada como fator de promoção à aderência
a ele24, também observada na presente pesquisa, o que é
de suma importância para a eficiência nos resultados e um
Tabela 2. Mudanças absolutas na gordura de tronco, gordura corporal total (kg e percentual),
massa corporal magra e peso após oito semanas de treinamento
estímulo ao hábito da atividade física. Diversos estudos têm
observado alterações na composição corporal, porém com
Controle Funcional
Variáveis (n=17) (n=21) Valor p períodos mais longos de intervenção11,12,25,26.Cabe ressaltar
Média±DP Média±DP que os benefícios aqui observados foram provenientes de
Gordura de tronco (kg) 0,2±0,7 -0,4±0,5 0,007 apenas oito semanas de treinamento.
Gordura corporal (kg) 0,2±1,3 -0,7±0,8 0,01 Sabe-se que o excesso de gordura corporal, espe-
cialmente a central, é fator de risco independente para
Gordura corporal (%) 0,1±1,5 -0,8±1,5 0,1
o desenvolvimento de diabetes1 e doenças cardíacas24,
Massa corporal magra (kg) 0,1±0,9 0,1±1,5 0,9
e pode estar relacionado também com a dificuldade na
Peso (kg) 0,4±1,4 -0,6±1,1 0,01 marcha5. Dessa forma, a diminuição do tecido adiposo
DP: desvio padrão. pode apresentar caráter protetor contraesses desfechos,

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mostrando, assim, a grande relevância dos resultados treinamento para mulheres na pós-menopausa, assim
aqui encontrados. como para mulheres jovens, destaca-se que ele possa
Diversos tipos de intervenções com protocolos de ser uma estratégia interessante em programas de perda
exercício físico vêm investigando a redução do tecido de peso e controle da obesidade, além de melhorar a
adiposo25-27, entretanto ainda não há consenso sobre qual funcionalidade corporal.
tipo de treinamento poderia exercer melhores benefícios A partir dos resultados aqui observados, é possível
nesse desfecho. concluir que o treinamento funcional, no formato de
Todavia, o treinamento funcional é capaz de circuito, melhora a composição corporal de mulheres na
melhorar as capacidades de equilíbrio, coordenação e pós-menopausa, diminuindo a gordura corporal total e
agilidade13,15, beneficiando tanto as condições de saúde no tronco. Ainda, trata-se de um modelo que promove
quanto promovendo a independência desse público. Nessa elevada aderência dos seus participantes, sugerindo ser
perspectiva, sabendo da importância desse modelo de uma proposta atrativa para a faixa etária investigada.

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