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MEMÓRIA VETERINÁRIA

100 Anos
da medicina
veterinária
Baptista Sobrinho1;3, C.A.;
Cunha1,2, R.;
Vieira1,3, N.M.G.;
Silva2, N.Q.B.;

militar
Bonavina2, A.P.
1
Exército Brasileiro
2
Acadêmico de medicina veterinária
3
Médico Veterinário


objetivo da veterinária militar é, primor-
dialmente, há mais de um século, apoiar
a força terrestre no cumprimento da sua
missão de proteger a pátria de agressões
externas, manter a ordem interna e fazer
cumprir a Constituição (site CRMVRJ, 2012).
O Exército Brasileiro desempenhou um papel histórico
na criação e no desenvolvimento da profissão. As atividades
veterinárias no Brasil foram iniciadas no Rio de Janeiro, em
uma situação peculiar. No início do século passado, o Rio de
Janeiro era uma cidade onde o transporte por tração animal
tinha uma importância vital. Existiam inúmeras estrebarias,
diversos estábulos e, evidentemente, a aproximação entre
homens e animais era intensa. Com esse contato estreito,
como era de se esperar, as zoonoses adquiriram grande
Vitral da Escola de Veterinária com a figura do patrono, Tenente-coronel
importância. Um bom exemplo de zoonose, de grande João Moniz Barreto de Aragão
ocorrência à época, é o mormo, uma doença que acomete
os equinos e transmissível ao homem (site CRMVRJ, 2012). Em 17 de junho de 1914, foi criado o Curso
Os carroceiros e os soldados da área de cavalaria, que Prático de Veterinária no 3º Grupo de Obuses, atual 21º
pela sua própria função, tinham muito contato com os Grupo de Artilharia de Campanha, em São Cristóvão
cavalos, se contaminavam e desenvolviam uma pneu- (RJ). A instalação ainda precária do curso, baseou-se
mopatia grave, muitas vezes diagnosticada como tuber- nas instruções para o serviço da segunda missão de
culose. Foi com essa preocupação de saúde pública que médicos militares veterinários franceses. Eram realiza-
nasceu a medicina veterinária no Brasil. Assim, o capitão das conferências práticas sobre a inspeção de carne de
médico João Moniz Barreto de Aragão foi chamado para consumo e alimentação dos homens de tropa, na paz e
que estudasse esse quadro. Ele concluiu que seria neces- na guerra (site FIOCRUZ, 2012).
sário formar médicos veterinários para poder intervir na A origem da Escola de Veterinária do Exército foi
cadeia biológica dessas doenças e visitou as escolas de atribuída por vários autores às pesquisas realizadas
veterinária de Alfort e de Lyon, na França, voltando com por João Moniz Barreto de Aragão no Laboratório de
a convicção da necessidade de criar, no Brasil, uma escola Microscopia Clínica e Bacteriologia do Exército, fun-
de veterinária (site CRMVRJ, 2012). dado em 1896, atual Instituto de Biologia do Exército.

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NOTÍCIAS

“o veterinário é hoje um colaborador inteligente do


desenvolvimento econômico de um país e ao mesmo
tempo da sua organização militar (…), a veterinária
moderna (…) é uma ciência definida, difícil, e que cami-
nha em rápido progresso, (…)”. (ESCOLA, 1921)
Pelo decreto nº 19.155 de 03/04/1930, a denominação
da Escola foi modificada para Escola de Aplicação do
Serviço de Veterinária do Exército, passando a ter como
objetivos: completar e aperfeiçoar a instrução profissional
dos oficiais veterinários do Exército e ministrar aos médi-
cos veterinários civis, candidatos à inclusão no quadro
Inspeção de víveres e
atendimento clínico aos
militar respectivo, um complemento de instrução técnica
animais da PE acerca do funcionamento do serviço veterinário militar,
em tempo de paz e em campanha (site FIOCRUZ, 2012).
A instituição passou a contar com um laboratório
para a fabricação de soros e vacinas. O oficial veterinário
responsável pela fabricação dos seus produtos devia ser
escolhido, de preferência, dentre os que tivessem diploma
do Instituto Oswaldo Cruz.
As pesquisas tinham como objeto as doenças que aco- Em 1940, o Tenente-coronel João Moniz Barreto de
metiam os animais e eram transmitidas aos militares, Aragão, já falecido, tornou-se Patrono do Serviço de
reduzindo o contingente das tropas. Desta forma, entre Veterinária do Exército (PILLAR, 1981).
os anos de 1904 e 1910, o então Capitão João Moniz Em 1974, foi extinto o Quadro de Oficiais do Serviço
Barreto de Aragão dedicou-se à bacteriologia e patolo- de Veterinária do Exército e em 1975 foi fechada a Escola
gia dos animais domésticos, destacando-se seus estudos
sobre o mormo no homem e a febre aftosa no municí-
pio de Cantagalo (RJ), sendo que esse último estudo foi
uma incumbência recebida da Academia Nacional de
Medicina (MITCHELL, 1963; SILVA, 1958).
A Missão Militar Francesa foi firmada por meio de
contrato feito em Paris, em 22 de março de 1913, com
o objetivo de estabelecer a Escola de Veterinária do
Exército. Regulamentada pelo Aviso do Ministério das
Relações Exteriores nº 8 de 7 de maio de 1913, a Missão
foi coordenada pelo então Capitão médico João Moniz
Barreto de Aragão, que ficou responsável pela direção do Laboratório
de inspeção
curso e integrou o corpo docente junto com os militares de alimentos e
veterinários franceses. Alguns anos depois, em 1917, foi bromatologia

diplomada a primeira turma de veterinários constituída


por cinco militares e dois civis (site FIOCRUZ, 2012).
Em 27 de junho de 1921 foi inaugurada, então, a sede
própria da Escola de Veterinária do Exército com diver-
sos pavilhões, construída entre as estações ferroviárias de
São Cristóvão e Mangueira (site FIOCRUZ, 2012).
Por ocasião da inauguração, o Major Antônio de
Castro Pinto, em substituição ao Diretor da Escola,
Tenente-coronel João Moniz Barreto de Aragão, pro-
feriu discurso, no qual deu destaque à necessidade do
ensino veterinário, assinalando a importância do animal
para as conquistas científicas no domínio da medicina,
argumentando que:

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NOTÍCIAS

de Veterinária do Exército. Somente em 1991, com a – MITCHELL, Gilberto de Medeiros. História do Serviço de Saúde
criação do curso de formação de oficiais de carreira do Exército Brasileiro 1808-1911,v.1. Rio de Janeiro: Escola de
para Médicos Veterinários, na Escola de Administração Saúde do Exército, 1963. (BN);
do Exército, atual Escola de Formação Complementar
– PILLAR, Olinto. Os patronos das Forças Armadas. Rio de
do Exército, na cidade de Salvador, o quadro de ofi-
Janeiro: Biblioteca do Exército Editora,1981. (BIBLIEX);
ciais veterinários, ainda que pertencentes ao quadro
Complementar de Oficiais, foi restabelecido, tendo a – PIMENTEL, Waldomiro. Coronel Dr. João Moniz Barreto de
primeira turma se formado em 1992. Aragão: patrono da Veterinária Militar. Rio de Janeiro: s.n., 1942;
Atualmente, a Veterinária Militar está transpondo as
– SILVA, Artur Lobo da. O Serviço de Saúde do Exército Brasileiro.
fronteiras do nosso País, para prestar apoio em Missões
(História evolutiva desde os tempos primórdios até os tempos
de Paz da Organização das Nações Unidas, como por
atuais). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1958;
exemplo, no Haiti. Desempenhando papéis que abran-
gem praticamente todo o universo profissional da – site FIOCRUZ: Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da
medicina veterinária, destacam-se a clínica e cirurgia de Saúde no Brasil (1832-1930). Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz
pequenos e grandes animais, animais de cativeiro e zoo- – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br), acessado em 15
lógicos, ensino, pesquisa e extensão, segurança alimentar, de outubro de 2012;
biossegurança e gestão ambiental, os oficiais médicos
– site CRMVRJ: (http://www.crmvrj.org.br/jornal/artigos/exerc.
veterinários do Exército Brasileiro, herdeiros legítimos
html) acessado em 15 de outubro de 2012;
do legado de seu Patrono, buscam seguir seu exemplo de
dedicação, como veterinários e como brasileiros. – site DIRETORIA DE ABASTECIMENTO: (http://www.dabast.
eb.mil.br/paginas/SRV Historia.html) acessado em 15 de outu-
BIBLIOGRAFIA bro de 2012.
– APROVAÇÃO de médicos militares veterinários france-
ses. Boletim do Exército, Rio de Janeiro, n.304, p.1787-1789,
out.1913;

– ATIVIDADES do Serviço de Veterinária do Exército. Revista


Militar de Remonta e Veterinária, Rio de Janeiro, ano XI, n.1,
p.44-48, jan./mar. 1951. (BMANG);

– BRASIL. Decreto nº 14.229, de 23 de junho 1920. In: Collecção


das Leis da República dos Estados Unidos do Brasil de 1920, v.II.
Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1921. (BCOC);

– BRASIL. Decreto n° 15.229, de 31 de dezembro de 1921. In:


Collecção das Leis da República dos Estados Unidos do Brazil de
1921. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1922. (BCOC);

– BRASIL. Decreto nº 8.168, de 25 de agosto de 1910. In:


Collecção das Leis da República dos Estados Unidos do Brazil
de 1910, v.II. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1913. (BCOC);

– ESCOLA de Veterinária do Exército: a sua inauguração, os dis-


cursos, várias notas. Medicina Militar, Rio de Janeiro, ano XII, n.1,
p.7-12, jul. 1921. (BMANG);

– ESCOLA de Veterinária do Exército: a sua inauguração, os dis-


cursos, várias notas (Conclusão). Medicina Militar, Rio de Janeiro,
ano XII, n.2, p.36-46, ago.1921. (BMANG)

– INAUGURAÇÃO do curso de Veteriná;ria. Revista de Medicina


Militar, Rio de Janeiro, ano V, n.1, p.26-27, jul.1914. (BMANG);

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CLÍNICA

Caballiana 2012 – o evento foi um sucesso


O setor de cavalos no Brasil movimentou o Quality Resort & Convention Center, em Itupeva,
São Paulo, nos dias 21 e 22 de abril com a realização de três eventos em um, além de um inédito
show equestre. Tendo no comando a Wolff Sports, de São Paulo, e realização do Instituto Passo
a Passo, o II Seminário Internacional Caballiana, VII Congresso Internacional de Medicina
Veterinária Equina da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) e o I Workshop Internacional
de Equoterapia contaram com público estimado em 700 pessoas, de várias regiões do País, entre
veterinários, criadores, proprietários de cavalos, atletas e profissionais de diversas áreas ligadas
à equinocultura.
Este ano, a palestrante internacional convidada foi a médica veterinária inglesa Dra. Hilary
Clayton, ícone da medicina esportiva equina. Foi entrevistada pela Dra. Patrícia Miyashiro ,
mestre em medicina veterinária e biomecânica pela USP, que a pedido da APAMVET , nos
transmite um resumo das apresentações da palestrante.

BIOMECÂNICA
EM EQUINOS
Médica Veterinária Dra. Hilary Clayton, PhD

Hilary Clayton, bacharel em medicina veterinária e cirurgia, PhD, membro da Royal College of
Veterinary Surgeons e da American College of Veterinary Sports Medicine and Rehabilitation.
Graduada em veterinária pela Glasgow University na Escócia. Trabalhou como autônoma por dois
anos antes de voltar à academia para concluir seu PhD. Manteve compromissos acadêmicos na
Grã-Bretanha, Holanda e Canadá antes de se mudar para os EUA em 1997 como responsável pelo
Mary Anne McPhail Equine Sports Medicine da Michigan State University. Sua linha de pesquisa
envolve medicina esportiva equina, especialmente biomecânica, condicionamento esportivo de
equinos e interação cavalo-cavaleiro. Recentemente, suas pesquisas estão focadas em evidenciar o
efeito de técnicas fisioterapêuticas em cavalos. Publicou seis livros e mais de 200 artigos originais.
É presidente e membro honorário da International Society for Equitation Science. No seu tempo
livre treina e é membro da American College of Veterinary Sports Medicine and Rehabilitation.
Foi-lhe atribuído o título de Norden Distinguished Teacher Award, foi incluída no International
Equine Veterinarians Hall of Fame, no Saskatchewan Sports Hall of Fame e no Midwest Dressage
Association Hall of Fame; ela continua competindo e adestrando cavalos. Ganhou medalhas de
bronze, prata e ouro pela United States Dressage Federation e no Canadá em todos os níveis,
desde o treinamento até o Grand Prix, montando cavalos que ela mesmo treina.

Entrevista e tradução da Dra. Patrícia Miyashiro, mestre em Medicina


Veterinária e Biomecânica pela FMVZ-USP.

Patricia Miyashiro
� patricia.miyashiro@yahoo.com.br

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CLÍNICA

Qual sua linha de pesquisa? suspensão ao trote, a técnica de salto, o tempo de reação,
Medicina esportiva equina, mais especificamente biome- claudicações imperceptíveis aos olhos humanos. Pode ser
cância do cavalo atleta e do cavaleiro usada para monitorar as mudanças em função do tempo,
por exemplo, se o tamanho da passada é alterado com o
Em que consiste biomecânica? treinamento ou se assimetrias no peso carregado pelos
A biomecânica estuda os eventos biológicos utilizando membros podem indicar o início de uma claudicação.
métodos mecânicos. Combina biologia e física. Pode ser
usada para estudar diferentes fenômenos, desde o fluxo Conte-nos um pouco sobre o McPhail Equine
sanguíneo até a lubrificação articular. Eu trabalho espe- Performance Center, onde suas pesquisas são desen-
cificamente com biomecânica do andamento e do movi- volvidas. Quais equipamentos e técnicas são uti-
mento do cavalo, com a interação mecânica do casco com lizados?
o solo e com a interação cavalo-cavaleiro, incluindo os O McPhail Equine Performance Center foi projetado para
materiais de montaria (sela, embocadura). realizar avaliações biomecânicas em equinos. Temos uma
arena coberta de 20x40 metros e, adjacente ao maior lado,
Como você decidiu trabalhar com biomecânica? um corredor de solo emborrachado com seis plataformas
Sempre tive interesse em saber como os cavalos se movi- de força no centro. Utilizo esse corredor para a maioria
mentavam, mas na época da minha graduação essa ainda das minhas coletas de dados. A forma como as platafor-
não era uma área de pesquisa estabelecida. Há alguns mas estão dispostas permite estudos sobre o equilíbrio
anos, tive a oportunidade de trabalhar na University enquanto o animal está em estação e enquanto está em
of Saskatchewan no Canadá onde haviam instalações e movimento em linha reta ou em círculo, em qualquer
equipamentos para análise biomecânica. Obviamente, andamento. Os dados descrevem o movimento do cavalo
não eram equipamentos sofisticados como os que temos (cinemática) e a força de reação do solo que diz como
hoje, mas já era um começo. Tem sido muito interessante os cascos estão empurrando o chão para se manterem
trabalhar nessa área uma vez que o tratamento dos dados em equilíbrio e para causar o movimento. A partir desses
por computador revolucionou nossas capacidades. dados é possível calcular outros parâmetros como o tor-
que nas articulações.
Qual a importância da biomecânica na medicina
esportiva? Como seu time de pesquisa é formado? Qual a
Na minha opinião totalmente tendenciosa, é extrema- importância de uma equipe multidisciplinar?
mente importante! É um ponto chave para a melhora de Atualmente, nosso time é formado por veterinários,
desempenho atlético e para a prevenção da maioria das engenheiros, zoólogos, fisioterapeuta e cinesiólogo. É
lesões do aparelho locomotor. A biomecânica avalia como importante ter pessoas com diferentes experiências e
o cavalo se move, o tamanho da passada, o tempo de habilidades porque cada um contribui para a pesquisa

Esquerda: Cavalo com marcadores reflexivos colocados sobre pontos anatômicos cabeça, pescoço, costas e membros trotando ao longo da pista de coleta de dados no McPhail Equine
Performance Center. Dez câmeras de raios infravermelhos dispostas ao redor da pista captam reflexões dos marcadores e localizam cada marcador no espaço 3D. O sistema de análise
de movimento liga os marcadores para formar a figura do cavalo.
Direita: figura de um cavalo trotando gerado pelo sistema de análise de movimento.

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CLÍNICA

de diferentes maneiras. Sobretudo, diferentes disciplinas Como a sua experiência como amazona colabora
científicas ensinam as pessoas a pensarem de modo dis- com seu trabalho?
tinto, essencial para uma colaboração bem sucedida. É difícil saber onde está o limite entre trabalho e diver-
são. A maioria das minhas perguntas científicas tem
Quais são suas recentes publicações? origem em problemas que eu encaro durante o trabalho
Cinemática de exercícios dinâmicos de mobilização e treino dos meus próprios cavalos. Eu conheço tão bem
como: os meus cavalos que eu posso fazer uma avaliação prévia
dos efeitos de diferentes técnicas e equipamentos antes de
• Efeitos de exercícios dinâmicos de mobilização na investir tempo e dinheiro em um estudo completo. Com
musculatura estabilizadora da coluna certeza, eu também utilizo os resultados das minhas pes-
• Lesões ósseas vertebrais quisas para melhorar minha equitação e o treinamento
• Técnicas para aumentar a flexão articular dos membros dos meus cavalos. Testamos alguns exercícios de treina-
• Estabilograma como uma técnica para avaliar o equi- mento do core (centro de força do corpo), por exemplo,
líbrio do cavalo e diagnosticar problemas neurológicos alongamentos ativos usando cenoura ou alfafa como
• Forças e pressões na coluna do cavalo associada a selas “iscas” e descobriu-se que eles são eficazes em ativar os
sem armação ou à montaria sem sela músculos da coluna e do abdômen do cavalo. Eu uso
• Efeito de diferentes técnicas de montaria na coluna estes exercícios todos os dias em meus cavalos de com-
do cavalo petição e eles melhoraram a capacidade de executar os
• Anatomia e função do músculo cutâneo do tronco movimentos de maior dificuldade.
• Efeito da velocidade e do tamanho do círculo na Também testamos pulseiras leves e de pesos nos
simetria do andamento membros para melhorar a amplitude de movimento das
articulações. Isto seria útil em cavalos que apresentam
Mais informações sobre as pesquisas podem ser arrastamento de pinça após claudicação. Trote sobre
encontradas em: cavaletes também é eficaz em aumentar a amplitude de
http://www.cvm.msu.edu/research/research-centers/ movimento articular e fortalecer os músculos que flexio-
mcphail-equine-performance-center nam as articulações.
Os resumos dos trabalhos científicos estão em:
http://www.cvm.msu.edu/research/research-centers/ Como é o interesse de cavaleiros e proprietários
mcphail-equine-performance-center/publications-1 em biomecânica? Existe patrocínio provado nesta
Já os artigos completos podem ser comprados nas área?
revistas em que foram publicados. Cavaleiros e proprietários estão muito interessados em
pesquisas em biomecânica, pois eles sabem que isso pode
ajudá-los a entender o desempenho de seus cavalos e ava-
liar e melhorar o programa de treinamento. Eu gostaria
que esse interesse fosse revertido em mais apoio finan-
ceiro. É muito difícil de conseguir nesse momento.
Digitalização do sensor de
pressão. O cepilho da sela está
na direção do canto superior
direito, a patilha em direção ao
canto inferior esquerdo. O painel
esquerdo da sela está do lado
esquerdo e o direito à direita.
A barra de cores à direita indica
o padrão de cores de menor
pressão (preto) a maior pressão
(rosa). Esta sela foi confeccio-
nada de forma desigual – as
áreas em vermelho e rosa indi-
cam as áreas em que os painéis
são irregulares, criando uma
pressão alta sobre o dorso do
cavalo.

Exercício de alongamento com cenoura: o cavalo é treinado para manter os pés fixos no
chão, enquanto segue um pedaço de cenoura, com a boca. O queixo do cavalo é levado
para posições específicas que estimulam a flexão ou encurvamento do pescoço e das
costas. (Foto Prof. Dra. H.C.)

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CLÍNICA

Como é o apoio governamental para as pesquisas dos membros – a estimulação da pele é muito sutil, mas
nos Estados Unidos? os músculos mostram uma resposta evidente. Leves
O governo direciona seus investimentos com prioridade correntes colocadas ao redor da quartela dos membros
na saúde e doenças humanas deixando em segundo plano posteriores se movem sobre a pele e a coroa do casco,
pesquisas que envolvem cavalos atletas. estimulando a contração dos músculos que flexionam o
jarrete. Uma faixa elástica sob o ventre do cavalo estimula
Como a biomecânica pode ajudar na melhora do a contração dos músculos abdominais.
desempenho de cavalos atletas? Você tem resul-
tados relacionados com isso? Quais são as últimas descobertas nessa área?
A fisioterapia tem feito consideráveis avanços na perfor- Acredito que a descoberta mais importante é que os exer-
mance de cavalos atletas e na recuperação de lesões, então cícios de mobilização dinâmica são efetivos, causando
eu acho que essa é uma área de pesquisa muito impor- hipertrofia da musculatura estabilizadora das vértebras
tante. Estamos aprendendo que “dor nas costas” é muito (musculus multifidus). Isso nos dá a possibilidade de não
mais comum em cavalos do que nós imaginávamos. A apenas tratar a dor na coluna, mas prevenir episódios futu-
importância da sela e do cavaleiro são negligenciados. ros. Agora estamos procurando outros tipos de exercícios
Para que o cavalo desempenhe suas funções perfeita- do core e avaliando a resposta eletromiográfica nesses
mente, deve estar sem dor. Portanto, é importante avaliar exercícios. Os estudos com técnicas que aumentam a pro-
como a sela e outros equipamentos se ajustam e saber os priocepção (percepção da localização espacial do corpo)
efeitos mecânicos de diferentes equipamentos. Estamos nos membros dos cavalos indicam que é relativamente
tentando desenvolver um exame clínico melhor para fácil aumentar a flexão do joelho e do jarrete, sendo difícil
detectar problemas de coluna e entender comportamen- aumentar a flexão no quadril, consequentemente, o nível
tos que indiquem afecções de coluna e pescoço. de protração e retração do membro. Alguns estudos, ainda
Estamos nos concentrando em fornecer uma pesquisa não publicados, mostram, por exemplo, que trotar sobre
baseada em evidências na área de fisioterapia e reabilita- cavaletes é efetivo para aumentar a flexão do quadril. A fle-
ção equina para que os veterinários possam utilizá-la ao xão do quadril influencia quanto os membros posteriores
selecionar opções terapêuticas para restaurar a saúde dos são puxados para frente e sob o corpo do cavalo, determi-
cavalos e devolver sua performance máxima. nando quanto o cavalo avança seus membros sob si.

Qual é a ligação entre biomecânica e reabilitação? Conte-nos sobre suas pesquisas sobre a interação
A biomecânica é a técnica ideal para o estudo das técni- cavalo-cavaleiro. Quais foram as descobertas mais
cas de reabilitação e avaliação de sua eficácia. relevantes?
Andamentos que possuem uma fase de suspensão (trote
O que são exercícios de mobilização? e cânter) estão associados com mais movimento vertical
Em termos mais simples, são exercícios de alongamento da coluna do cavalo. Esse movimento é transferido ao
com cenoura. O cavalo é treinado para manter os pés fixos cavaleiro e é associado com grandes mudanças de força
no chão, enquanto segue um pedaço de cenoura, com a na coluna do cavalo. Na fase de suspensão as forças dimi-
boca. O queixo do cavalo é levado para posições específi- nuem e na fase de apoio aumentam. Cavalos que possuem
cas que estimulam a flexão ou encurvamento do pescoço e andamentos amplos, com mais suspensão recebem maio-
das costas. As posições de flexão que usamos são o queixo res forças do cavaleiro. Igualmente, as forças na coluna do
ao peito, queixo entre os joelhos e queixo entre boletos dos cavalo são maiores com um cavaleiro mais pesado.
membros anteriores. As posições de inclinação lateral que Assim como o cavalo, o cavaleiro deve ter um bom
usamos são queixo até a altura da cilha, queixo até o flanco controle do corpo para que possa se manter quieto e
e queixo até um dos boletos dos membros posteriores. equilibrado na coluna do cavalo. Cavalos gostam de
Tenta-se segurar a posição por alguns segundos repetindo previsibilidade na maneira como os cavaleiros sentam.
de três a cinco vezes cada exercício por dia. O cavaleiro pode mudar a força na coluna do cavalo sen-
tando de modo diferente. No trote elevado, a força média
O que é a técnica de estimulação proprioceptiva? na passada é a mesma que durante o trote sentado, mas a
São técnicas que estimulam a pele em uma área específica força máxima é menor. Em uma posição de dois pontos,
do corpo do cavalo que produz a contração de um mús- como os jockeys, o cavaleiro pode efetivamente diminuir
culo ou grupo de músculos. Estas técnicas não funcionam o gasto de energia do cavalo, permitindo que os joelhos
aplicando muita pressão ou restringindo os movimentos e o quadril absorvam alguns dos movimentos do cavalo.

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