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8256-Texto Do Artigo-35444-1-10-20190410
8256-Texto Do Artigo-35444-1-10-20190410
RESUMO ABSTRACT
Álcool e tabaco são as drogas lícitas mais consumidas no mundo oci- Alcohol and tobacco are legal drugs largely consumed in the Western
dental, frequentemente utilizadas em associação. Tanto o álcool quan- world, often used in combination. Both alcohol and tobacco indi-
to o tabaco influenciam individualmente sistemas neurotransmissores, vidually affect neurotransmitter systems, changing behaviors of indi-
interferindo no comportamento de indivíduos expostos a eles, além de viduals exposed to them, besides interfering on pro- and anti-oxidants
afetarem mecanismos pró e antioxidantes, com risco de dano neuronal mechanisms and increasing the risk of neuronal damage promoted
promovido por espécies reativas de oxigênio. Pouco se sabe sobre os by reactive oxygen species. Little is known about the effects of their
efeitos de sua associação sobre estes mesmos parâmetros. Neste con- association on these parameters. Our goal in this study was to review
texto, o objetivo deste estudo foi revisar os dados da literatura sobre os the effects of alcohol, cigarettes or their association on neurotransmit-
efeitos do álcool, cigarro ou sua associação sobre sistemas neurotrans- ter systems, behaviors and parameters of oxidative stress in the central
missores, sobre comportamentos e parâmetros de estresse oxidativo nervous system of animals. To reflect this goal we extensively reviewed
no sistema nervoso central de animais. Para contemplar esse objetivo the literature, limiting our search from the year of 1970 to 2010. Al-
fizemos extensa revisão de literatura, limitando as buscas desde o ano though studies focus on the effects of the association between alcohol
de 1970 até o ano de 2010. Embora os estudos sobre os efeitos da and cigarettes are still scarce, they suggest that these substances affect
associação entre álcool e cigarro sejam ainda escassos, eles sugerem que neurotransmission, changing behaviors, as well as increase the concen-
estas substâncias afetam a neurotransmissão, modificando comporta- tration of reactive oxygen species.
mentos, assim como aumentam a concentração de espécies reativas de
oxigênio, interferindo sobre mecanismos antioxidantes.
Unitermos. Etanol, Cérebro, Estresse Oxidativo, Tabaco, Toxicidade. Keywords. Ethanol, Tobacco, Brain, Oxidative Stress, Toxicity.
Citação. Turcatel E, Funchal CS, Gomez R. Alterações Comporta- Citation. Turcatel E, Funchal CS, Gomez R. Behavioral Changes and
mentais e de Estresse Oxidativo no Sistema Nervoso Central pelo Uso Oxidative Stress Parameters by Alcohol and Tobacco In The Central
de Álcool e Tabaco. Nervous System.
Mais recentemente se observou que o álcool tam- número de neurônios 5-HT22. Essa redução persiste até a
bém apresenta afinidade por receptores glutamatérgicos. fase adulta, sugerindo que o álcool possui um efeito dura-
O glutamato, se sabe, é o principal neurotransmissor douro sobre os déficits de 5-HT22.
excitatório do SNC16. Ele exerce seus efeitos através de Como era de se esperar para uma droga com ativi-
vários subtipos de receptores, incluindo um chamado dade de reforço e risco de dependência, o álcool também
N-metil-D-aspartato (NMDA)17. Sobre este sistema neu- afeta o sistema dopaminérgico na via mesolímbica. A in-
rotransmissor, o álcool também apresenta efeitos ambí- gestão de álcool está associada ao aumento da liberação
guos, de acordo com a dose e o tempo de exposição. Em da dopamina no núcleo accumbens13. Como evidenciado
baixas doses, o álcool aumenta a concentração sináptica acima, todos esses sistemas neurotransmissores parecem
de glutamato no hipocampo de animais, observado por contribuir, de algum modo para alterações de comporta-
estudos in vivo pelo emprego da técnica de microdiáli- mento associadas ao consumo de álcool por seres huma-
se18. Em doses elevadas, contudo, o álcool reduz a ativi- nos e animais.
dade glutamatérgica por sua ação antagonista sobre re-
ceptores NMDA, promovendo desinibição e aumento da Estresse oxidativo e álcool
atividade locomotora de usuários17. Curiosamente, após Além de interferir sobre esses sistemas neurotrans-
administração crônica há um aumento da atividade glu- missores, estudos mostram que o álcool também promo-
tamatérgica decorrente, possivelmente, de uma adaptação ve alterações na função do neurônio após dano lipídico
sofrida por esses mesmos receptores NMDA17. Esta mu- e proteico6. Esse dano tem sido atribuído à formação de
dança adaptativa do sistema glutamatérgico após uso crô- espécies reativas de oxigênio em tal proporção que su-
nico, resultando em hiper-excitabilidade do SNC, expli- plantam as defesas anti-oxidantes6.
caria o aumento da agressividade observada em animais e Vale lembrar que dentre as espécies reativas de oxi-
humanos entre usuários crônicos19. gênio (EROs) estão os radicais superóxido (O2˙-), hidroxil
A ação do álcool como agonista de receptores opi- (OH˙), peroxil (RO2˙), hidroperoxil (HRO2˙) e, ainda,
óides parece ser o principal responsável pelo reforço po- algumas espécies não-radicais como o peróxido de hidro-
sitivo dessa droga20. Isto é evidenciado pelo fato de que gênio (H2O2). Também as espécies reativas de nitrogênio
antagonistas opióides, como a naltrexona, suprimem a (ERN), representadas por radicais como o óxido nítrico
necessidade de consumo ou reduzem a fissura pelo álco- (NO˙), o dióxido de nitrogênio (NO2˙-), o peroxinitrito
ol20. Atualmente, a naltrexona é utilizada no tratamento (ONOO-) e o óxido nitroso (HNO2-) contribuem para os
do alcoolismo em seres humanos e é particularmente efi- mecanismos pró-oxidantes e dano neuronal24. As EROs e
caz na redução do seu consumo excessivo20. A ação do ERN são produtos do metabolismo normal do oxigênio
álcool sobre este sistema neurotransmissor estaria mais e os organismos aeróbios desenvolveram defesas para o
ligada aos mecanismos de dependência, fissura e sinais controle dessas espécies reativas25. Tais defesas são cons-
de abstinência, que também são acompanhados por al- tituídas por antioxidantes enzimáticos, como as enzimas
terações de comportamento relacionadas com agitação, superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e glutatio-
agressividade ou depressão13. na peroxidase (GPx) e não enzimáticos, como a glutatio-
Ainda que aparentemente o sistema serotonérgico na (GSH) e as vitaminas A, C e E, além elementos traços
pareça não sofrer efeito direto do álcool, há um crescen- como zinco e selênio26.
te interesse sobre esse sistema neurotransmissor devido Os neurônios são especialmente vulneráveis aos
à ligação bem estabelecida entre a depleção de serotoni- efeitos nocivos das espécies reativas devido a sua alta taxa
na, impulsividade e comportamento alcoolista em ratos metabólica, associada à concentração elevada de ácidos
e em seres humanos21. Por mecanismos ainda não bem graxos e metais de transição, vulneráveis à peroxidação e
esclarecidos, o etanol reduz os níveis de serotonina e tam- formação de radicais hidroxil27. Adicionalmente, o SNC
bém suas projeções neuronais em embriões de ratas pre- apresenta baixas concentrações de antioxidantes e capa-
nhas22,23. A exposição pré-natal ao etanol também reduz o cidade reduzida de regeneração, tornando-se susceptível
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aos efeitos deletérios de substâncias exógenas como álcool tioxidantes41. Um único estudo avaliando o efeito do
e o tabaco27,28. álcool sobre a lipoperoxidação foi conduzido em seres
Embora o dano neuronal produzido pelo álcool humanos, sendo observado aumento de malondialdeído,
possa ser explicado por diversos mecanismos, cada vez um marcador do dano lipídico, no líquido cefalorraqui-
mais estudos evidenciam a participação do estresse oxida- diano43. Em roedores os principais parâmetros avaliados
tivo e apoptose nestes eventos29,30. De fato, o uso agudo no cérebro foram vitaminas, glutationa e óxido nítrico.
de álcool aumenta a produção de EROs no cérebro de Os resultados são controversos, mostrando que vitamina
ratos ou em células cultivadas do hipocampo de roedo- C39 e E42 estão reduzidas, enquanto a vitamina A39 ou
res31,32. O uso crônico também aumenta a produção de a glutationa41 estão aumentadas. Nenhum desses estudos
EROs pelo álcool e alguns autores sugerem que isso se permite conclusão sobre os efeitos pro ou antioxidantes
dê não só pela sua ação direta sobre as células, mas tam- do álcool, mostrando que os resultados estão na depen-
bém pela indução da enzima CYP2E129,33. Esta enzima, dência da área analisada e da concentração ou regime de
expressa tanto no fígado quanto no cérebro, é responsável tratamento utilizado.
pela metabolização do álcool e produção de metabólitos
citotóxicos, como O2.- e H2O2 nesses tecidos29,33. Além Alterações comportamentais pelo álcool
de promover a formação de EROs, a exposição ao álcool Sob a influência do etanol, seres humanos apre-
reduz em 25% a atividade antioxidante da SOD em ho- sentam aumento do comportamento agressivo, estando
mogeneizados de cérebro de ratos33. A exposição, in vitro, seu consumo comumente associado com agressões físicas,
ao etanol diminui a atividade da SOD em neurônios ou assaltos e assassinatos44. Contudo, estes efeitos, resultan-
células gliais de roedores e aves34. tes da estimulação do SNC pelo álcool, podem dar lugar
Além da SOD, também foi demonstrado que a a efeitos depressores, de acordo com a dose38. Em animais
intoxicação pelo etanol está associada a mudanças na ati- também é possível observar os efeitos estimuladores e de-
vidade da CAT, dependendo da região cerebral e do tipo pressores do álcool sobre o SNC. Algumas destas altera-
de tratamento com o álcool35,36. Enquanto o tratamento ções e sua relação com a dose de álcool administrada ou
crônico reduz a expressão da CAT no cerebelo e córtex35, ingerida estão relacionadas na Tabela 244-49.
o tratamento agudo aumenta a expressão dessa enzima na Modelos animais como o labirinto em cruz ele-
medula espinhal e no estriado36. Curiosamente, a redução vado ou o campo aberto têm sido utilizados para estudo
da atividade da CAT, nestes casos, parece não estar asso- de alterações comportamentais em animais. O labirin-
ciada a uma diminuição na quantidade da enzima e sim a to em cruz elevado, classicamente utilizado na avaliação
uma mudança na sua estrutura37. de efeito ansiolítico de substâncias, é um ambiente em
Estudos mostram uma associação entre enzimas formato de cruz, elevado do solo, constituído por dois
antioxidantes e alterações comportamentais em animais, braços fechados e dois braços abertos, em oposição um
como mudanças na ambulação após administração crô- ao outro, tornando-se um ambiente aversivo para o ani-
nica ou aguda de etanol36,38. O estriado e hipotálamo são mal50. Ambientes claros, abertos ou elevados são aversi-
importantes regiões controladoras das funções motoras e vos aos roedores e substâncias ansiolíticas aumentam a
o uso agudo de álcool provoca um aumento da atividade frequência e o tempo de permanência desses animais no
de GPx em ratos36. Esses estudos demonstram que pode braço aberto49. O maior tempo de permanência no braço
haver uma relação entre comportamento e estresse oxida- fechado, ao contrário, é indicativo de ansiedade50. Estu-
tivo, embora essa relação seja ainda pouco compreendida. dos mostram que o álcool, por suas propriedades ansiolí-
A Tabela 1 reúne alguns estudos que avaliam os ticas, aumenta o tempo de permanência no braço aberto.
efeitos do álcool sobre parâmetros de estresse oxidati- A abstinência ao álcool, contudo, diminui o tempo de
vo39-43. As principais áreas cerebrais estudadas para o caso permanência no braço aberto49. Já o modelo do campo
do álcool foram o córtex e o cerebelo e muitos estudos aberto mimetiza lugares claros e abertos, avaliando com-
avaliaram os efeitos do álcool apenas sobre enzimas an- portamentos mais complexos e determinando efeitos
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psicoestimulantes ou depressores de substâncias50. Tam- produzidos pela nicotina e outras drogas de abuso12.
bém é possível avaliar nesse modelo o efeito ansiolítico Além do sistema colinérgico e dopaminérgico, a
ou ansiogênico de substâncias, considerado por variações nicotina também interage com receptores adrenérgicos,
do andar no centro da arena ou defecação. Estudos mos- promovendo a liberação de hormônios adrenocorticotró-
tram que o uso agudo ou subcrônico do etanol reduzem picos (ACTH) da hipófise anterior55. Tal efeito contribui
a ambulação em animais48. Tal comportamento é rever- para o aumento do estado de alerta e todas as outras alte-
tido pelo uso crônico, evidenciando efeito de tolerância rações decorrentes da liberação de cortisol frequentemen-
sobre o efeito depressor do álcool sobre o SNC45,46. O te observadas após exposição ao cigarro. Alguns autores
comportamento de levantar também está reduzido pelo sugerem que a liberação do ACTH se dá não só pela ação
uso agudo ou subcrônico do álcool, indicando perda da da nicotina sobre receptores noradrenérgicos, mas tam-
coordenação motora e equilíbrio por essa droga38,45,47. bém diretamente sobre receptores nicotínicos, uma vez
Além dos modelos clássicos acima descritos para avalição que seus antagonistas reduzem a secreção do ACTH56,57.
de substâncias psicoestimulantes, depressoras, ansiolíti- Embora a nicotina aumente o estado de alerta, se
cas ou ansiogênicas, há outros modelos como o da caixa sabe que também apresenta efeito ansiolítico e relaxante
claro-escuro50. Nesse modelo se avalia a preferência e o da musculatura. Uma justificativa para o aparecimen-
tempo de permanência no ambiente claro, considerado to destes efeitos é a interação da nicotina com recepto-
aversivo pelo animal. Fármacos ansiolíticos aumentam res GABAérgicos58. A inibição da GABA transaminase,
o tempo de permanência na área clara. O aumento do enzima que metaboliza o GABA na fenda sináptica ou
tempo no ambiente claro pelo uso agudo de etanol evi- citoplasma dos terminais pré-sinápticos, diminui a au-
dencia seu efeito ansiolítico em ratos51. to-administração de nicotina em ratos, mostrando que
As alterações de comportamentos, associadas ao o aumento da atividade GABAérgica diminui a fissura
uso do álcool, podem ser explicadas em parte pela sua pela nicotina59. Os antagonistas do receptor GABAB pré-
interferência sobre sistemas neurotransmissores. Em sináptico também podem modular o comportamento de
parte também é possível explicar que tais efeitos são de- autoadministração e reforço da nicotina em animais59.
pendentes da dose e do tempo de tratamento. Enquanto Além do GABA e dos outros sistemas neurotrans-
baixas doses promovem estimulação do SNC, altas doses missores, o glutamato também é afetado pela nicotina,
o deprimem. Enquanto o uso agudo ou sub-crônico es- um modulador positivo de sua liberação em diferentes
timula funções motoras pelo álcool, o uso crônico retor- regiões cerebrais59. Estudos mostram que a autoadmi-
na os comportamentos para o mesmo nível dos animais nistração de nicotina em ratos é sensível à modulação
controle. Como também pode ser observado na primeira glutamatérgica observado pelo fato de que bloqueio dos
parte da Tabela 2, o álcool apresenta efeito estimulador receptores glutamatérgicos pós-sinápticos diminui a au-
do SNC após uso crônico45-47. toadministração59.
Também a serotonina parece ser afetada pela expo-
Alterações de sistemas neurotransmissores pelo cigarro sição à nicotina. O uso agudo da nicotina parece não só
ou nicotina estimular a liberação de serotonina60, mas também inibir
O principal princípio ativo da planta de tabaco, a sua receptação do terminal sináptico61. O tratamento crô-
nicotina, interage com receptores nicotínicos como ago- nico, ao contrário, parece reduzir a função serotonérgi-
nista da acetilcolina em diferentes regiões cerebrais52,53. A ca62. Associa-se esse efeito ao aumento da impulsividade
estimulação de receptores nicotínicos também está asso- comportamental. Estudos avaliando o efeito de modula-
ciada ao aumento da liberação de dopamina no núcleo dores da função serotonérgica, e sua relação com a fun-
acumbens, justificando a dependência e adição ao cigarro ção colinérgica, mostram que antagonistas dos recepto-
pelo efeito de reforço desse neurotransmissor12,54. Sabe-se res 5-HT2 de serotonina, como a ketanserina, reduzem
que a estimulação do sistema dopaminérgico nessa região significativamente a autoadministração de nicotina em
cerebral está associada aos efeitos de prazer e bem estar ratos63.
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Finalmente, a nicotina também parece afetar o reativas que se somam àquelas produzidas pelo próprio
sistema opioidérgico, uma vez que o tabaco parece dimi- organismo dos fumantes67.
nuir a sensibilidade a estímulos térmicos, além de possuir Estudo em cultura de células de ovário de hamster
ação analgésica em humanos63. Tais efeitos antinocicep- evidencia o efeito tóxico da fumaça do cigarro após 24
tivos parecem ser mediados pela liberação de peptídeos horas de exposição, observado pelo aumento significati-
opióides endógeno promovida pela interação da nicotina vo do malondialdeído (MDA) e da lactato desidrogenase
com seus receptores (nAChR)64. A abstinência à nicotina, (LDH), associado à diminuição significativa nos níveis de
ao contrário, parece sensibilizar receptores opióides. Tal glutationa (GSH)68. Esse efeito também foi observado in
efeito foi demonstrado entre pacientes hospitalizados do vivo em cérebro de ratos expostos à fumaça do cigarro69.
sexo feminino, comparando-se não fumantes e fumantes MDA e LDH elevados estão associados a dano à mem-
em abstinência. O grupo de fumantes em abstinência ne- brana celular, enquanto GSH reduzido está associado a
cessitou maior quantidade de analgésico opióide no pós- déficit de enzima antioxidante, promovendo, no seu con-
cirúrgico, evidenciando a interferência da nicotina sobre junto, estresse oxidativo e dano celular. O tratamento de
esse sistema neurotransmissor65. ratos por 10 dias com nicotina injetada também foi capaz
de promover estresse oxidativo67.
Estresse oxidativo e Tabaco Há estudos controversos quanto à produção de
Durante a queima das folhas da planta de tabaco EROs pelo cigarro, pois ao mesmo tempo que a nico-
ocorre liberação de substâncias que afetam funções ce- tina causa dano oxidativo a células da microglia devido
lulares como aquelas relacionadas com os ribossomos e à ativação de nAChRs e NADPH oxidase, ela também
as mitocôndrias, gerando ERO e ERN66. Alguns autores apresenta efeito neuroprotetor pelo bloqueio do influxo
afirmam que a própria fumaça do cigarro contêm espécies de cálcio, evitando o efluxo de ATP na mesma região ce-
Tabela 1
Efeito do álcool, cigarro ou sua associação sobre parâmetros de estresse oxidativo no SNC de indivíduos
rebral70. Os estudos aqui revisados e reunidos na Tabela estado de alerta, insônia, aumento da cognição e redução
1, mostram que a nicotina ou o tabaco aumentam a li- da ansiedade em indivíduos expostos61,73-75.
poperoxidação no SNC71, paralelo ao aumento do óxido Os efeitos comportamentais pela exposição a di-
nítrico48. Ambos podem contribuir para maior risco de ferentes doses de nicotina em roedores estão apresenta-
dano neuronal, associados à redução da catalase71, uma dos na Tabela 2. O que se observa é que a administração
enzima antioxidante. Alguns outros parâmetros como a aguda de nicotina está associada a aumento do desem-
glutationa e SOD parecem não ser afetadas pelo tabaco72, penho em tarefas cognitivas74,75. A interferência da ni-
ocorrendo inclusive aumento da vitamina C71. cotina sobre a ambulação é mais controverso e depen-
dente da dose ou tempo de exposição. Enquanto alguns
Alterações de comportamento causadas pelo cigarro estudos observam redução da atividade locomotora em
Uma vez que a nicotina interfere sobre diferentes ratos, outros observam aumento da atividade locomo-
sistemas neurotransmissores e pode promover dano neu- tora61. Uma das possíveis justificativas para a redução
ronal, via estresse oxidativo, acredita-se que essas altera- da atividade locomotora em ratos poderia estar relacio-
ções possam interferir sobre o comportamento de usuá- nada com o efeito ansiolítico e relaxante da muscula-
rios. De fato, a administração da nicotina em roedores tura promovidos pela nicotina. O uso subcrônico, por
ou sua absorção através da inalação da fumaça do cigarro 10 dias, ao contrário, aumenta a atividade locomotora
está associada a sinais como excitabilidade, aumento do dos animais75, mostrando que os efeitos do uso repetido
Tabela 2
Alterações comportamentais pelo uso do álcool, nicotina, tabaco ou sua associação
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