Você está na página 1de 7

Tendências e Práticas Pedagógicas

O aprofundamento das relações condizentes com os determinantes histórico-


socioculturais do homem e a sua ligação com a organização do trabalho docente,
significando as dimensões do processo de aprendizagem, constituem-se assuntos que
fundamentam as tendências pedagógicas. A escola como instituição inserida na história
produz e reproduz o conhecimento, articuladamente, conforme as solicitações da prática
social. Assim, as tendências pedagógicas explicitam as diferentes abordagens relacionadas
ao processo educativo como fenômeno humano, histórico e multidimensional, configurando
o processo de ensino aprendizagem em suas implicações didático-pedagógicas.

José Carlos Libâneo (1985) classifica as tendências pedagógicas, segundo a posição que adotam
em relação aos condicionantes sociopolíticos da escola, em Pedagogia Liberal – subdividida em
tradicional, renovada progressivista, renovada não diretiva e tecnicista – e Pedagogia
Progressista – que se subdivide em libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos

Pedagogia Liberal

Pedagogia Liberal é aquela que sustenta a ideia de que a escola tem a função de preparar os indivíduos
para o desempenho de papéis sociais, de acordo com suas aptidões individuais. Isso pressupõe que
o indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vigentes na sociedade de classe, através do
desenvolvimento da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto cultural, as diferenças entre
as classes sociais não são consideradas, pois embora a escola passe a difundir a ideia de
igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições.

Pedagogia Liberal Tradicional

Nessa tendência, a escola tem a função de preparar os alunos intelectual e moralmente para
assumir sua posição na sociedade; seu compromisso é com a cultura, já que os problemas
sociais pertencem à sociedade. Libâneo (1985) afirma que, para a Pedagogia Liberal Tradicional, “o
caminho cultural em direçãoao saber é o ‘mesmo’ para todos, desde que se esforcem”.

Os conteúdos são separados das experiências dos alunos e da realidadesocial, ou, segundo o
autor (1985, p. 23), “são os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas
repassados ao aluno como verdades”. As matérias de estudo são determinadas pela sociedade e
ordenadas na legislação, expostas verbalmente ou demonstradas pelo professor.
A ênfase do ensino é dada a exercícios, à repetição de conceitos e à memorização de conteúdos; a
aprendizagem é repetitiva e mecânica. Predomina a auto ridade do professor e a disciplina é imposta
para assegurar atenção e silêncio. A avaliação é feita a partir de interrogatórios orais e exercícios de
casa, assim comoprovas escritas e trabalhos de casa.

Pedagogia Liberal Renovada Progressivista

Nessa tendência, o papel da escola é adequar as necessidades individuais ao meio social,


organizando-se de forma a retratar a vida. O conhecimento resulta da ação docente a partir dos
interesses e necessidades dos alunos, valorizando mais os processos mentais e as habilidades
cognitivas – isto é, as de conhecimento –do que conteúdos organizados racionalmente.

Os principais teóricos que a sustentam são Piaget, Montessori, Decroly, Dewey, entre outros.

Outras características dessa tendência são:

 no método de ensino são valorizadas as formas de “aprender fazendo”, ou seja, pesquisa,


descoberta, estudo do meio natural e social e solução deproblemas;

 o papel do professor é auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo dacriança; a disciplina


surge a partir da conscientização dos limites da vida grupal;

 o relacionamento entre professores e alunos é positivo, gerando uma vi- vência


democrática;

 a motivação dos alunos depende da força de estimulação dos problemas propostos pelo
professor e das disposições internas dos alunos e de seusinteresses;

 a avaliação é fluida e tenta ser eficaz, à medida que os esforços e êxitos são pronta e
explicitamente reconhecidos pelo professor.
Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva

A escola centra-se na formação de atitudes e está mais preocupada com os problemas


psicológicos dos alunos que com os pedagógicos ou sociais – tanto que os conteúdos
escolares são considerados secundários. Ela se esforça para estabelecer um clima
favorável a uma mudança dentro do indivíduo, a uma adequação pessoal às solicitações do
ambiente. Enfatiza o processo de desenvolvimento das relações e da comunicação,
facilitando para que a busca dos conhecimentos seja feita pelo próprio aluno.

Nessa tendência, o professor tem um papel de facilitador da aprendizagem; sua função


restringe-se em ajudar o aluno a se organizar. O principal teórico dessa Pedagogia é
Carl Rogers.

Pedagogia Liberal Tecnicista

Essa tendência subordina a educação à sociedade. A partir dela, a escola modela o


comportamento humano com técnicas específicas, que organizam o processo de
aquisição de habilidades, atitudes e conhecimento específico, para que os indivíduos se
integrem no sistema social global.

Os conteúdos escolares constituem-se de informações, princípios científicos e leis, e são


estabelecidos e ordenados por especialistas de forma objetiva, elimi nando qualquer sinal de
subjetividade.

O método de ensino consiste nos procedimentos e técnicas necessários ao controle


das condições ambientais que assegurem a transmissão e recepção de informações: o
professor transmite a matéria conforme o sistema instrucional, mostrando a verdade
científica; o aluno, por sua vez, recebe, aprende e fixa as informações.

Para a Pedagogia Liberal Tecnicista, debates, discussões e questionamentos são


desnecessários, assim como as relações afetivas e pessoais dos sujeitos do processo
de ensino e aprendizagem pouco importam. Os principais teóricos dessa tendência são
Skinner, Gagné, Bloom e Mager.

Pedagogia Progressista

Com inspiração em teorias de conhecimento marxistas, a Pedagogia Progressista é aquela


que se preocupa com questões sociopolíticas da educação, baseando-se em análise da
realidade da sociedade. Nela, a escola pode combater o sistema capitalista para construir
o socialismo.

Pedagogia Progressista Libertadora

A Pedagogia Progressista Libertadora questiona as relações que o ser humano

tem com a natureza e seus semelhantes (realidade social), com o propósito de


transformá-las. Ela estabelece uma nova forma de relação entre conteúdos esco lares e a
experiência vivida pelos alunos.

Para essa Pedagogia, os conteúdos de ensino, denominados temas geradores, são


extraídos da vida dos educandos; os conteúdos escolares tradicionais, por sua vez, são
recusados.

O ato de conhecimento é propiciado pelo diálogo autêntico entre professo res e alunos
(ambos sujeitos do conhecimento).

Essa tendência baseia-se em Paulo Freire.


Pedagogia Progressista Libertária

Essa tendência pedagógica pretende resistir à burocracia como instrumento de controle e ação
dominadora do Estado.

A escola exerce uma mudança na maneira de pensar dos alunos, num sentido libertário e de
autogestão. As matérias escolares não são exigidas, mas vistas como instrumentos complementares
colocados à disposição dos educandos. Mais im portantes são os conhecimentos resultantes das
experiências vividas pelo grupo.

Valoriza a vivência em grupo, na forma de autogestão, como método para os alunos buscarem as
bases mais satisfatórias de sua própria “instituição”, com iniciativa e sem qualquer forma de poder.

A relação professor–aluno é não diretiva, sem nenhuma forma de poder, obrigação ou ameaça. O
professor age como orientador, conselheiro e catalisador junto ao grupo, visando à reflexão em
comum.

Sustenta-se no pensamento do espanhol Ferrer y Guardia.

Pedagogia Progressista Crítico-Social dos Conteúdos

A escola prepara os alunos para o mundo adulto e suas contradições, para que eles transformem
essa realidade.

A difusão dos conteúdos escolares é tarefa primordial da escola. Esses conteúdos devem ser “vivos”,
concretos e indissociáveis da realidade humana e social.

A relação pedagógica consiste nas trocas estabelecidas entre o meio e o sujeito, ou seja, entre o
educador e o educando. É necessário que o professor saiba e compreenda o que o aluno
diz e faz, da mesma forma que o aluno precisa compreender o que o professor quer lhe
dizer.

O método de ensino parte de uma relação direta com a experiência do aluno, confrontada com
o que ele já tem. Também pode acontecer do professor prover a estrutura cognitiva de que o
aluno precisa para adquirir novos conhecimentos.

A aprendizagem ocorre a partir do momento da síntese – quando o aluno supera sua visão
parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e unificadora. O estudo das tendências
pedagógicas permite acompanhar a evolução do processo educativo, destacando
acentuadamente o papel do professor, do aluno, da educação e da sociedade. Esses elementos são
necessários na medida em que oferecem apoio teórico-reflexivo para que ele possa encontrar
basesideológicas e metodológicas para a sua atual ou futura prática pedagógica.

Referências

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1991.


HAYDT, R. C. Curso de Didática Geral. 1.ed. São Paulo: Ática, 2003.
PIMENTA, S. G. (org.). Didática e formação de professores percursos e perspectivas
no Brasil e em Portugal 1.ed. São Paulo: Cortez, 2001.

Você também pode gostar