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DO MANÁ CADA MANHÃ COLHERÁS

Alice S. Jardim

“E quando evaporou o orvalho que caíra, na superfície do deserto restava uma


coisa fina e semelhante a escamas, fina como a geada sobre a terra. Vendo-a os
olhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é isto? Pois não sabiam o que era.
Disse-lhes Moisés: isto é o pão que o Senhor vos ordenou: Colhei disso cada um
segundo o que pode comer, segundo o número de vossas pessoas, cada um
tomará para os que se acharem na sua tenda”. (Ex.16, 14-16).

Deus sustentou o povo israelita em sua peregrinação pelo deserto, durante


quarenta anos, e nada lhes deixou faltar. As suas veste não envelheceram e
tampouco incharam seus pés. Guiou-os durante os dias por uma coluna de
nuvem, e de noite uma coluna de fogo alumiava o caminho por onde deviam
seguir. E apesar de recusarem a ouvir Sua voz e não se lembrarem de Suas
maravilhas, o Senhor lhes concedeu o pão do céu na sua fome e água da rocha
na sua sede. Disciplinou-os como um pai amoroso disciplina seus filhos, mas
segundo Sua misericórdia os livrou muitas vezes de perigos e faculdades, embora
tornassem a agir mal quando se viam em descanso. Sustentou-os com o maná
durante a viagem, até chegarem aos termos da terra de Canaã.

Neste mundo somos peregrinos, de passagem à Canaã celestial. Atravessamos


por vezes planícies monótonas, em outras ocasiões passamos por vales de
sombras, antes de atingirmos montes ensolarados. O Senhor põe a nossa
disposição o verdadeiro pão para nos sustentar e fortalecer nesta jornada, muitas
vezes penosa e difícil. O próprio Senhor Jesus declarou: “Em verdade, em
verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do céu: o verdadeiro pão do
céu é Meu pai quem vos dá. Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá
vida ao mundo. Eu sou o pão da vida: o que vem a Mim, jamais terá fome.
Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. Este é o pão que desce do
céu para que todo o que dele comer não pereça”.(Jo cap.6). O pão não é alimento
sofisticado e dispensável. É alimento básico que há milênios é encontrado na
mesa tanto dos ricos como dos pobres. Representa a energia e vida no sentido
literal e figurado. Jesus é o pão do céu, o verdadeiro maná da graça de Deus que
alimenta nosso espírito, enchendo de paz nosso coração. A insatisfação, a
ansiedade, a fome que devastam a alma humana encontram em Cristo Jesus
alívio. Deus amou o mundo de tal maneira que enviou Seu Filho para nos salvar e
proporcionar o verdadeiro alimento espiritual que nos capacita a tirar da fraqueza
forças enquanto marchamos para “a cidade que tem fundamentos da qual Deus é
arquiteto e edificador”.

O povo israelita colhia o maná “manhã após manhã, cada um quanto podia
comer; porque em vindo o calor, se derretia”.(Ex. 16,21) O maná espiritual precisa
ser colhido cada dia se quisermos nos conservar em boa forma. Uma colheita
ocasional leva-nos a subnutrição, cujos sintomas são fé anêmica, fraco
desenvolvimento e pouca resistência. Um lauto banquete semanal, com o mais
fino cardápio, jamais substituiria com vantagens a alimentação simples e racional
servida todos os dias. Muitas pessoas, entretanto, acham que o fato de irem à
Igreja aos domingos é suficiente para deixá-las bem preparadas para enfrentarem
o desgaste emocional que passam o resto da semana. Estar na presença de
Deus em oração, meditando sobre Sua palavra diariamente é um excelente
reforço para vencermos as tentações e provações que nos afligem. O maná
deve ser sempre fresco, colhido no dia, logo de manhã, antes que o sol forte o
derreta. Nesses momentos de contemplação e comunhão com Deus,
armazenamos energias espirituais e até colhemos vitórias antes dos problemas se
apresentarem. Quem só se lembra de Deus quando passa pelo calor da provação,
com dificuldade consegue encontrar o maná ao procurá-lo. Na emergência tem
que tomá-lo emprestado em tendas vizinhas. Colhido dia a dia, com tranqüilidade,
na temperatura amena do amanhecer, nos fornece paz, alegria e serenidade para
enfrentarmos a jornada, mesmo que o termômetro de nossa vida suba e nos faça
suar.

“Cada um tomará para os que se acharem em sua tenda”. Se você é o esteio


espiritual de seu lar cabe-lhe colher o suficiente para servir a todos, a fim de que
se mantenha a paz e a harmonia em sua casa, ao mesmo tempo em que os
horizontes espiritual e mental sejam expandidos. Apresente a Deus em oração
cada membro de sua família e seus respectivos problemas. Peça-lhe
sabedoria para no momento oportuno, saber dizer a palavra certa a cada um. Com
o tempo, à medida que eles tiverem condições de providenciar sua própria
alimentação, a sua tarefa irá se tornando mais suave, pois haverá cooperação e a
responsabilidade será compartilhada.
“Disse Moisés: Ninguém deixe dele para a manhã seguinte. Eles, porém, não
deram ouvidos a Moisés, e alguns deixaram do maná para a manhã seguinte:
porém deu bichos e cheirava mal. E Moisés se indignou contra eles”.(Ex. 16:19-
20). Alimento velho tem pouco valor nutritivo. O maná de ontem perdeu a frescura
e precisa ser renovado. Dia a Dia nosso espírito clama por alimento novo e forte.
Quando lhe é negado, reage de forma negativa, fazendo-nos irritados, abatidos e
insatisfeitos. “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede
da boca de Deus” (Mt. 4:4).

Qualquer tipo de rotina faz apodrecer os valores espirituais e a olfação de nosso


espírito acusa que algo está errado. O maná antigo se deteriora. Com tristeza
verificamos que o que pensávamos ter guardado com segurança não está em
condições de ser usado para suprir nossa necessidade atual. A verdade é que na
vida espiritual não há estagnação. Se não estamos avançando, retrocedemos,
queiramos ou não.
A culpa nos cabe se, em nossa peregrinação neste mundo, viajamos com nossa
mochila espiritual vazia, com os recursos sempre abaixo da demanda que as
dificuldades da vida nos impõem. Deus não faz acepção de pessoas e “nenhum
bem sonega aos que andam retamente”. “Bem-aventurado aquela que tem o
Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no Senhor seu Deus que fez os
céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e mantém para sempre sua fidelidade.
Que faz justiça aos oprimidos, e dá pão aos que têm fome. O Senhor guarda o
peregrino”. (Salmo 146, 5-9).

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