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Metodologia de Análise de Acidentes
Metodologia de Análise de Acidentes
1. INTRODUCAO
Inicialmente são apresentados alguns conceitos básicos para, a seguir, enfocar aspectos
considerados importantes na investigação dos acidentes do trabalho e, finalmente, aspectos
relativos à gestão de segurança.
Afirmar que os AT são socialmente determinados eqüivale a dizer que resultam de fenômenos
sociais, sobretudo da forma de inserção dos trabalhadores na produção e, consequentemente,
no consumo, expressando as correlações de forças existentes em sociedades concretas.
O desafio da heterogeneidade
Monteau (1) sugere uma classificação dos acidentes do trabalho que pode auxiliar na escolha
de métodos para sua investigação em condições de segurança do trabalho heterogêneas,
como as existentes em nosso pais (vide quadro).
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Situação
acidentogênica
ao posto de
trabalho
Operação de máquinas com zona de operação aberta, permitindo acesso de partes do corpo
do trabalhador e trabalho em altura sem proteção contra quedas constituem bons exemplos
de situações que geram acidentes do tipo 1, observando-se que a maioria dos fatores
estavam presentes na situação de trabalho habitual. Basta pequena mudança na realização da
tarefa, às vezes imperceptível ao próprio acidentado, para que o acidente sobrevenha,
verificando-se que a segurança depende, quase que exclusivamente, do desempenho do
trabalhador.
Nesses dois casos, as condições que geraram o acidente estiveram presentes de forma
limitada no tempo e inspeções de segurança, realizadas em condições habituais de trabalho,
não revelariam o perigo, pois o conserto do motor estaria sendo executado na "girafinha" e a
peça, furada com equipamento apropriado.
Relatos desse tipo tem ocorrido em sistemas complexos, como usinas de energia atômica,
empresas aeroespaciais, industrias químicas ... Nessas empresas, consideradas seguras,
geralmente a história do acidente revela tolerância pregressa à presença de fatores que,
isoladamente, não seriam suficientes para desencadea-lo. Tal tolerância provavelmente
relaciona-se com o fato de cada uma das alterações, isoladamente, não ser considerada
perigosa.
É necessário salientar que, na classificação proposta por Monteau, não existem limites
estanques entre um tipo de acidente e outro, mas toda uma gradação que vai de situações
nas quais os acidentes são fenômenos relativamente simples, com fatores causais
diagnosticáveis por inspeções de segurança, até situações altamente complexas, que exigem
utilização de métodos que dêem conta dos múltiplos fatores envolvidos na gênese dos casos
investigados.
Acreditar que o acidente do trabalho é fruto da fatalidade implica em aceitar que não
há como preveni-lo. Concebê-lo como castigo de Deus, em buscar a solução em
orações.
Determinadas condições de trabalho configuram situação que pode ser resumida como
acidente esperando para acontecer (2). Elas resultam da aceitação de situações
descontroladas do ponto de vista da segurança do trabalho, constituindo condição de
risco assumido pela empresa.
Estudos recentes revelam que a aceitabilidade de riscos varia de acordo com algumas
características sociais e que sociedades afluentes (ricas) aceitam menos os riscos que
sociedades pobres. Vários fatores permeiam essa aceitabilidade particularmente os
culturais, assim como o grau de organização dos diferentes grupos sociais. Estudo
realizado na França (Bonnefous, 1995) revelou que os acidentes do trabalho estão em
6º lugar na percepção de riscos pela população, com 43% dos entrevistados referindo
sentirem-se ameaçados pelo risco de acidentar-se no trabalho. Nesse estudo,
verificou-se que riscos de acidentes em rodovias, de poluição das águas, de poluição
atmosférica, de Aids e de transporte de cargas perigosas são percebidos em ordem
decrescente pelos entrevistados.
4. A INVESTIGACÃO DO ACIDENTE
Recomenda-se dispor de um "kit" pronto (papel, prancheta, lápis, caneta, borracha, trena,
maquina fotográfica e, ou filmadora, e filmes).
A coleta de dados é uma fase crucial que deve ser realizada no próprio local de ocorrência do
acidente. Uma boa coleta deve possibilitar a compreensão de como o acidente ocorreu, quase
como se fosse possível visualizá-lo passo a passo.
A sistematização da coleta de dados facilita esta tarefa, além de ajudar a evitar que aspectos
importantes deixem de ser investigados. Em nossas investigações, mesmo quando não
utilizamos o método de Árvore de Causas, realizamos a coleta de dados com auxílio de suas
categorias de análise, ou seja, atividade em desenvolvimento, desdobrada nos componentes:
Recomenda-se:
Durante as entrevistas, diante de expressões como "foi um descuido", "acho que não prestei
muita atenção", "fiz uma bobeira", utilizadas pelos próprios acidentados vítimas de acidentes
não fatais para descrever os episódios de que foram vítimas, é imprescindível indagar - e, se
necessário, insistir -, como foi o tal "descuido", a "falta de atenção" ... procurando
caracterizar o sentido da expressão utilizada pelo trabalhador (ou testemunha, ou colega ...
em casos de acidentes fatais). Sobretudo, é da maior importância investigar suas causas.
Freqüentemente os "descuidos" ocorrem em situações de pressão de tempo para execução de
tarefas (urgências de varias naturezas e origens), ao final de turnos noturnos, ao final de
jornadas de trabalho prolongadas por horas-extras, em situações de fadiga evidente do
trabalhador, durante execução de tarefas anexas / secundárias, ou de tarefas eventuais,
como por exemplo as de manutenção.
Deve-se evitar:
Tomar como "causas" opiniões "a priori", que não foram adequadamente investigadas,
formando opiniões precoces acerca de causas do acidente que vai ser investigado,
"contaminando" e prejudicando a investigação.
Aceitar como verdade informações sem verificar sua veracidade. A titulo de exemplo,
pode ser citado um fato ocorrido durante investigação de acidente fatal em uma
grande siderúrgica brasileira. Em reunião entre representantes sindicais, técnicos de
várias instituições, um representante da empresa afirmou não ser possível a instalação
de uma tampa no "panelão" que transportava aço fundido para as lingoteiras. Isso
porque a tampa provocaria modificações no aço que eram incompatíveis com as
especificações do produto. Posteriormente, verificou-se que tal afirmação era falsa.
Os dados coletados devem ser organizados, isto é, deve ser elaborada uma descrição
coerente do acidente, baseada em fatos passíveis de serem observados / constatados, sem
emissão de juízos de valor e, ou interpretações, e que permita ao(s) investigador(es)
"visualizar" da maneira mais completa possível, como o episódio se desenrolou. Esta etapa é
fundamental na investigação. Embora aparentemente fáceis de serem realizadas, boas
descrições exigem treinamento. Pode-se considerar adequada uma descrição cuja leitura
permita a compreensão de como o acidente ocorreu, por profissionais que não participaram
da investigação.
Somente após elaborar a descrição do acidente é que se deve analisar e interpretar as
informações registradas e que nortearão a prevenção.
5 - A PREVENÇÃO
Recomenda-se listar o maior número de medidas de prevenção possível, de tal forma que, no
momento da seleção haja um leque de medidas para escolher.
não ter efeitos negativos sobre a produtividade (se isso ocorrer, correm o risco de ser
abandonadas).
Alguns autores citam a relação custo-benefício das medidas como um dos critérios de seleção.
Esse pode ser um dos critérios em situações em que uma das medidas dentre as várias
possíveis não oferece benefícios adicionais e apresenta custo elevado ou relação custo /
benefício elevada. Cabe assinalar que os escalões hierárquicos superiores / gerências decidem
que medidas adotar, porém ressaltando que quem se expõe é o trabalhador. Se a empresa
não arcar com o custo da prevenção, ocorrendo o acidente, o custo passa para o trabalhador
e para a sociedade.
Além das características mencionadas acima, deve-se dar preferencia a medidas automáticas,
ou seja, que independam de mudanças de comportamento / adesão dos trabalhadores e que,
em geral, tendem a se enfraquecer ao longo do tempo, exigindo reforços periódicos.
De acordo com Hale e Glendon (3), o acidente indica que as capacidades de controle do
sistema foram excedidas e que, muito tempo antes disso acontecer, era possível prever sua
ocorrência. Para esses autores, embora o comportamento do acidentado possa ser o fator
imediatamente antecedente ao acidente, esse comportamento geralmente é irrelevante para
a prevenção.
6. OBSERVAÇÕES FINAIS
Qualquer que seja o tipo de acidente a ser investigado, a equipe de investigação deve
procurar instruir as empresas existentes em sua área de atuação, utilizando os meios de
divulgação adequados à realidade local, acerca da importância de receber as informações
sobre a ocorrência dos acidentes o mais rapidamente possível, particularmente em se
tratando de casos graves. Alem disso, deve divulgar a importância de preservar o local do
acidente facilitando a coleta de informações que, com raras exceções, deve ser realizada no
próprio local de ocorrência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2. Carter FA & Corlett EN. Shiftwork and accidents. In Psychological aprroaches to night and
shiftwork. International Research Papers. Edited by Alexander Widenburn and Peter Smith.
Heriot-Watt University, Edinburgh, Scotland. 1984.
3. Hale AR & Glendon AI. Individual Behaviour in the Control of Danger. Amsterdam,
Elservier, 1987.