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EN3103 Habitação e Assentamentos Humanos

Diagnóstico do Perímetro de Ação Integrada - PAI


Pirajussara 7 no Município de São Paulo

Docentes: Rosana Denaldi e Flávia Feitosa

Período Noturno

André Oliveira Verissimo - 11006810


Carolina Alberto ​da Silva - 11118911
Hevelin Karine de Oliveira Santos - 11061811
Thaisa Yumi Muramatsu - 21046914

Santo André
2020
Lista de Figuras

Figura 1​. Representação gráfica da localização do PAI Pirajussara 7 no município de São


Paulo. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 2​. Representação gráfica da localização da área estudada em São Paulo. Fonte:
Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 3​. Representação gráfica da poligonal em estudo. Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

Figura 4​. Representação gráfica da inserção no bairro e vias principais de acesso. Fonte:
Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 5. ​Representação gráfica do Pirajussara 7 dentro da microbacia Córrego


Pirajussara, com detalhe para os córregos Mirandas I e II que permeiam a área. Fonte:
Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 6.​ Projeto de piscinões da Bacia do Córrego Pirajussara. Fonte: DAEE, 2012.

Figura 7a​. Representação gráfica da declividade característica no Pirajussara 7. Fonte:


Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 7b​. Representação gráfica da declividade característica no Pirajussara 7 com


delimitação dos assentamentos. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 8​. Mapa hipsométrico do Pirajussara 7. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 9​. Pontos isolados de vegetação. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 10​. Representação gráfica do sistema viário. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 11.​ Via carroçável não pavimentada. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 12. ​Escadaria entre as edificações. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 13.​ Viela. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 14. Representação gráfica do acesso ao transporte público. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

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Figura 15. Representação gráfica da caracterização do tecido urbano. Fonte: Elaborado
pelos autores, 2020.

Figura 16. Condições de precariedade dos assentamentos. Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

Figura 17. ​Assentamos com classificação de Alvenaria Baixo Padrão. Fonte: Elaborado
pelos autores, 2020.

Figura 18. Assentamos com classificação de Alvenaria Médio Padrão. Fonte: Google Earth,
2020.

Figura 19. ​Assentamos irregular sobre o córrego com classificação de Madeira e Alvenaria
Baixo Padrão. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 20. ​Assentos irregulares sob a linha de transmissão com classificação de Madeira e
Alvenaria Baixo Padrão. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 21. Assentamos precários com classificação de Madeira e Alvenaria Baixo Padrão.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 22. Figura 22. Caracterização da microbacia com vegetação remanescente.Fonte:


Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 23.​ Delimitação e características do ramal. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 24. Descarte inadequado de resíduos sólidos no córrego. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Figura 25. ​PV de coleta de esgoto sanitário da SABESP. Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

Figura 26.​ Rede de Esgotamento Sanitário. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 27. Despejo de esgoto acompanhando os cursos d'água. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Figura 28. Situação de drenagem inadequada no interior do assentamento. Fonte:


Elaborado pelos autores, 2020.

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Figura 29. ​Coleta de resíduos sólidos por caminhão em via carroçável. Fonte: Elaborado
pelos autores, 2020.

Figura 30. Local de depósito para coleta seletiva em via carroçável. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Figura 31. ​Destinação inadequada e ilegal de resíduos. Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

Figura 32.​ Nascentes na região do Pirajussara 7. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 33. ​Áreas de Preservação Permanente: 50m no entorno das nascentes e 30m de
margem dos cursos d'água. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 34. Área de passagem do oleoduto da Petrobras no Pirajussara 7. Fonte: Elaborado


pelos autores, 2020.

Figura 35. ​Inexistência de área de servidão ao lado da Linha de Alta Tensão. Fonte:
Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 36. ​Linha de Alta Tensão e devida área de servidão no Pirajussara 7. Fonte:
Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 37. Detalhamento e Classificação de risco geológico no entorno do Pirajussara 7.


Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 38. Representação gráfica das restrições no Pirajussara 7 considerando áreas de


preservação permanente, linha de alta tensão e servidão. Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

Figura 39. Representação gráfica das restrições no Pirajussara 7 considerando áreas de


preservação permanente, servidão de alta tensão e risco geológico . Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Figura 40. ​Representação gráfica dos espaços vazios no entorno do Pirajussara 7. Fonte:
Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 41.​ Identificação de Espaços Vazios #1. Fonte: Google Earth, 2020.

Figura 42. ​Identificação de Espaços Vazios #2. Fonte: Google Earth, 2020.

3
Figura 43. ​Identificação de Espaços Vazios #3. Fonte: Google Earth, 2020.

Figura 44.​ Identificação de Espaços Vazios #4. Fonte: Google Earth, 2020.

Figura 45.​ Identificação de Espaços Vazios #5. Fonte: Google Earth, 2020.

Figura 46. ​Identificação de Espaços Vazios #6. Fonte: Google Earth, 2020.

Figura 47.​ Identificação de Espaços Vazios #7. Fonte: Google Earth, 2020.

Figura 48. ​Mapa de Equipamentos Urbanos. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 49​. Mancha da proposta de remoção com retificação do curso d’agua. Fonte:
Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 50. ​Mapa da proposta de remoção e consolidação de domicílios por motivação.


Fonte: Elaborado pelos autores, 2020​.

Figura 51. Mapa da proposta de remoção de edificações considerando remoções


prioritárias 1. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 52. ​Mapa da proposta de viário. Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 53​. Mapa de localização das áreas de reassentamentos. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Figura 54. Mapa de ações propostas para a área de estudo após a intervenção. Fonte:
Elaborado pelos autores, 2020.

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Lista de Tabelas

Tabela 1​. Área estimada em relação aos distritos. Fonte: SEHAB, 2013.

Tabela 2.​ Número de edificações na poligonal. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Tabela 3. Número de domicílios em cada um dos tecidos urbanos. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Tabela 4. Área estimada da bacia em relação aos municípios. Fonte: Sistemática Integrada
para controle de Inundações em Sub-bacias Hidrográficas Urbanas, 2013.

Tabela 5. ​Contagem de edificações em áreas de restrições. Fonte: Elaborado pelos


autores, 2020.

Tabela 6. ​Área dos espaços vazios. Fonte: Google Earth (adaptado), 2020.

Tabela 7. Contagem de edificações removidas com níveis de priorização 1 e 2. Fonte:


Elaborado pelos autores, 2020.

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Sumário

1.Introdução 7

2.Informações gerais 9

3. Aspectos urbanísticos e ambientais 15


3.1. Características do sítio 15
3.1.2 Sistema viário e mobilidade 19
3.1.3 Transporte público 23
3.1.4 Tecido urbano 24
3.2 Aspectos Ambientais 30
3.2.1 Características da Microbacia 30
3.2.2 Saneamento integrado 33
3.3 Espaços Vazios 47

4. Aspectos sociais 55
4.1 Perfil da população 55
4.2 Acesso a serviços e equipamentos públicos 56
4.3 Percepção da população 58

5. Aspectos jurídico-fundiários de regulação urbanística e ambiental. 59


5.1 Legislação municipal incidente 59
5.2 Regulamentação fundiária 60

6. Conclusão do Diagnóstico 61

7. Diretrizes de Intervenção 63

8. Descrição da proposta 64
8.1 Urbanização do assentamento 64
8.2 Reassentamento 69
8.3 Proposta de melhorias para o local 70

9. Conclusão da Intervenção 70

10. Referências Bibliográficas 72

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1.Introdução

O relatório foi realizado no âmbito da disciplina Habitação e Assentamentos


Humanos no curso da Engenharia Ambiental e Urbana da Universidade Federal do
ABC. E tem como propósito apresentar um diagnóstico urbanístico ambiental e
propor uma intervenção para quatro assentamentos da região do Pirajussara 7.
A área de estudo é formada por quatro assentamentos: Canto do Rio Verde,
Francisco de Sales, Mirandas I e Jardim Olaria, que junto com outros seis
assentamentos constituem o complexo denominado Pirajussara 7. ​A região do
Pirajussara 7 possui parte do seu território localizado na subprefeitura de Butantã e
outra parte localizado na subprefeitura do Campo Limpo, ​está localizada dentro do
Perímetro de Ação Integrada (PAI) pela Secretaria Municipal de Habitação no
Município de São Paulo.
O relatório foi produzido por meio de pesquisa documental, análise de
imagens e produção de material técnico realizado pelos autores. Na primeira parte
do estudo, foi realizado um diagnóstico da área, levou-se em consideração a
legislação ambiental de regularização ambiental urbana, como também os aspectos
físicos, sociais e fundiários. Com o diagnóstico prévio da região e os mapas
representativos de suas características, foi produzida uma segunda parte, que por
sua vez apresenta uma proposta de intervenção baseada nas diretrizes legais e a
qualidade urbano-ambiental da área.
Como a Constituição da República Federativa do Brasil determina no “Art.
225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações” (BRASIL, 1988). Infelizmente, essa não é a situação atual na Grande
Metrópole de São Paulo, o processo de urbanização com falta de planejamento
acarretou em imensurável desigualdade social, consequentemente habitacional.
Desde a criação do Estatuto da Cidade em 2001, os preceitos do município
de São Paulo visam a “proteção, preservação e recuperação do meio ambiente
natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e
arqueológico”, compete à União “promover, por iniciativa própria e em conjunto com

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os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, programas de construção de
moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico”,
buscando humanização para a nova regularização da grande metrópole, que é a
terra da garoa, trazendo à tona este conjunto paralelo de responsabilidade acerca
do meio ambiente em que vivemos, e a condição de vida básica da população
(BRASIL, 2001).
Resultante disso, em 2011, a Prefeitura de São Paulo promoveu um concurso
de “propostas de requalificação urbana e habitações de interesse social para a
urbanização de assentamentos precários do município de São Paulo”. A grande
área do concurso foi dividida em 23 lotes, divididos em quatro grupos de forma a
urbanizar áreas irregulares ou “Perímetros de Ação Integrada”. A área total
abrangida foi de 55.642.278 m². Foram contempladas regiões onde estão
localizadas 124 favelas e 274 loteamentos irregulares, onde faltam parques e áreas
verdes, saneamento básico, onde os córregos estão poluídos e onde a qualidade de
vida de cerca de 98.300 famílias está comprometida.

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Parte I: Diagnóstico

2.Informações gerais

O Perímetro de Ação Integrada (PAI) Pirajussara 7, dentro do Programa de


Urbanização de Favelas foi previamente definido pela Secretaria Municipal de
Habitação pela Prefeitura da Cidade de São Paulo quando da realização do
Concurso de Projetos de Arquitetura e Urbanismo Renova SP.
Possui 3.6km² e está localizado, cerca de 14 km do marco zero da cidade de
São Paulo, no limite das regiões Oeste e Sul da Metrópole, na microbacia do
Córrego Pirajussara, sub-bacia do Rio Tietê.

Figura 1​. Representação gráfica da localização do PAI Pirajussara 7 no município de São Paulo.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

A Figura 1 apresenta graficamente a localização dos assentamentos deste


estudo, os mesmos estão localizados no PAI Pirajussara 7, que é limitado a
noroeste pela divisa com o município de Taboão da Serra, pelo rio Pirajussara, e

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situa-se entre os distritos de Vila Sônia (subprefeitura de Butantã), Campo Limpo e
Vila Andrade (subprefeitura de Campo Limpo), conforme distribuição da área
descrita na Tabela 1.

Tabela 1​. Área estimada em relação aos distritos. Fonte: SEHAB, 2013.

Subprefeitura Distrito Área estimada (km²)

Butantã Vila Sônia 0,91

Campo Limpo 1,66


Campo Limpo
Vila Andrade 0,99

Total PAI Pirajussara 7 3,6

Dados do Censo 2010 do IBGE estimam que a população do PAI Pirajussara


7 esteja em torno de 49.956 habitantes, o que resulta em uma densidade média de
14.032 hab/km². Onde se localizam 2.826 domicílios em assentamentos informais,
sendo que 60,65% destes são favelas, 1,56% núcleos, 36,63% loteamentos
irregulares e 1,16% empreendimentos de Habitação de Interesse Social (SEHAB,
2013).

A Figura 2 ​apresenta e localiza o recorte urbano que será estudado, ​o qual


compreende-se entre o distrito de Campo Limpo e Vila Andrade, ​no município de
São Paulo, na Região Metropolitana e Estado de São Paulo.

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Figura 2​. Representação gráfica da área estudada em São Paulo. Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

Figura 3​. Representação gráfica da poligonal em estudo. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

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A Figura 3 nomina os assentamentos da área de estudo, ela é composta
pela Favela Jardim Olaria, Favela Francisco Sales, Favela Canto do Rio Verde e
Favela Mirandas I, que junto com outros seis assentamentos constituem o complexo
denominado Pirajussara 7 (SEHAB, 2013). Na Tabela 2, pode-se observar que a
quantidade total de edificações na área estudada é 1431, sendo que a Favela Canto
do Rio Verde representa aproximadamente 55% do total de edificações.

Tabela 2​. Número de edificações na poligonal. ​Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Poligonal Número de edificações % de edificações

Canto do Rio Verde 781 55%

Francisco de Sales 57 4%

Mirandas I 156 11%

Olaria 437 31%

Total área de estudo 1431 100%

crescimento da região PAI Pirajussara 7 ocorreu de maneira intensa com um


crescimento imobiliário permeado pelo lançamento de empreendimentos
residenciais para a classe média. Isso motivado pelos distritos vizinhos a região,
grandes centros comerciais e escritórios em crescimento acelerado, como o Centro
Empresarial São Paulo, como também bairros considerados nobres, o que começou
a caracterizar o PAI como região “tangenciada” por essa “centralidade”, portanto a
área admite características de transição, podendo ser denominada de “periferia
central” ou uma “centralidade periférica” (SEHAB, 2013). Resultado também da

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interconexão entre os bairros, descrita na Figura 4, possibilitada pelas principais
vias de acesso.

Figura 4​. Representação gráfica da inserção no bairro e vias principais de acesso. Fonte: Elaborado
pelos autores, 2020.

Considerando a área do assentamento e seu entorno (raio de até 5 km), as


principais vias de acesso que dão a estrutura básica da acessibilidade e mobilidade
à Pirajussara são: a Estrada do Campo Limpo (representada pela linha vermelha), a
Avenida Carlos Caldeira Filho (representada pela linha laranja), interconectadas
pelas vias coletoras Rua José Maria Pinto Zilli (representada pela linha azul clara) e
Rua dos Mirandas (representada pela linha amarela). Ambas são de cunho
distributivo e representam um ponto importante, pois é o principal eixo de conexão
entre a centralidade da cidade de São Paulo. Além dessas vias, o acesso ao
Rodoanel (porção oeste) estabelece uma conexão mais fluída entre as cidades
vizinhas do distrito onde se localiza o Pirajussara, proporcionando uma melhoria na
qualidade do tráfego e deixando as vias mais próximas livres.

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A região em estudo está localizada dentro da microbacia Córrego
Pirajussara, apontado na Figura 5, ela abrange uma área aproximada de 73,1 km.
Esta microbacia se encontra no setor oeste da Região Metropolitana da Grande São
Paulo, e está contida na Unidade Hidrográfica de Gerenciamento de Recurso
Hídrico 6 (UGRHI-6), a bacia do Alto Tietê. O Pirajussara é um afluente da margem
esquerda do Rio Pinheiros e possui aproximadamente 18,5 km de extensão.

Figura 5​. Representação gráfica do Pirajussara 7 dentro da microbacia Córrego Pirajussara, com
detalhe para os córregos Mirandas I e II que permeiam a área. Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

Há um programa governamental em desenvolvimento na região para


construção de piscinões, conforme Figura 6, em que o Governo do Estado deverá
investir R$ 101,1 milhões no trabalho, o objetivo é manter a capacidade de
acumulação dos reservatórios, contribuindo para minimizar o risco de inundações e
garantir as condições operacionais do sistema, que beneficia não apenas as
cidades onde estão localizados, mas toda a Região Metropolitana de São Paulo.
(DAEE, 2012)

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Figura 6.​ Projeto de piscinões da Bacia do Córrego Pirajussara. Fonte: DAEE, 2012.

​3. Aspectos urbanísticos e ambientais

3.1. Características do sítio

As principais propriedades fisiográficas abrangidas por este estudo são a


declividade, hipsometria e hidrografia sobre o qual se situa o assentamento, pois a
partir das informações fornecidas por tais propriedades, é possível identificar as
porções do terreno cuja ocupação por este assentamento se encontra em área de
restrição.
A ​declividade do terreno diz respeito à inclinação da superfície deste em
relação à horizontal. A Figura 7a retrata a variação de declividade do terreno onde
está situado o assentamento em estudo.

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Figura 7a​. Representação gráfica da declividade característica no Pirajussara 7. Fonte: Elaborado
pelos autores, 2020.

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Figura 7b​. Representação gráfica da declividade característica no Pirajussara 7 com delimitação dos
assentamentos. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Através da Figura 7b, é possível observar o índice de maior declividade


(acima de 45%) encontra-se na maior porção no assentamento Canto do Rio Verde,
e uma porção menor no assentamento Jardim Olaria. Porém neste, também
encontra-se regiões com uma declividade alta (entre 30% e 45%), representada
pela coloração laranja mais intensa . Grande parte do assentamento está situado
neste tipo de terreno.
Na Figura 7a, observa-se a coloração laranja clara caracteriza o terreno cuja
declividade está entre 15 e 30%. Por fim, a coloração amarela clara corresponde ao

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terreno cuja declividade é inferior a 15%, o qual, o assentamento Mirandas I é em
sua maior porção caracterizado.

A ​hipsometria refere-se ao relevo característico da região, representado em


geral por curvas de nível que através do mapa hipsométrico, são diferenciadas à
partir da variação de coloração, conforme a Figura 8.

Figura 8​. Mapa hipsométrico do Pirajussara 7. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

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Com a Figura 8, observa-se que a região central está predominantemente na
faixa de 748 - 770 m. E não há dentro da área de estudo nenhum ponto acima de
819 m.
A ​vegetação ​nativa da região é pertencente à Mata Atlântica. Porém, na
visita técnica realizada pelos autores, observou-se vegetação nativa bem
descaracterizada, pois é uma área densamente urbanizada, havendo vegetação
apenas em alguns pontos isolados, como é possível ver na Figura 9.

Figura 9​. Pontos isolados de vegetação. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

3.1.2 Sistema viário e mobilidade

Ao analisar apenas a área do assentamento, o sistema viário foi classificado


hierarquicamente à partir de observações ​in loco,​ de forma a procurar padrões de
características nos locais de passagem e agrupá-los, conforme Figura 10, em cinco
principais classes: Viário Carroçável 2 carros, Viário Carroçável 1 carro, Escadaria,
Viário Carroçável não pavimentado e viela.

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Figura 10​. Representação gráfica do sistema viário. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Do ponto de vista dos veículos, a mobilidade no interior do assentamento é


dificultada principalmente pela largura das vias. Por outro lado, as vielas, escadarias
e vias de pedestre, mesmo caracterizadas pelo estreitamento do viário, permite uma
acessibilidade por parte dos pedestres, principalmente por meio das escadarias.
Contudo, há expressa dificuldade para serviços públicos acessarem a totalidade da
região, como exemplo, caminhão de lixo.

● Via Carroçável (2 carros)


Representada pela cor vermelha no mapa, são vias pavimentadas e com
largura que permite a circulação de veículos em 2 faixas, apresenta significativo
fluxo de carros e ou/caminhões e que são de grande importância já que permitem o
acesso à favela de Pirajussara vindo das demais regiões circunvizinhas.

● Via Carroçável (1 carro)


Representada pela linha amarela e preta no mapa, as vias pavimentadas,
com largura que permite passagem de apenas um carro.

20
● Via Carroçável não pavimentada
Representada pela verde escura no mapa, as vias não são pavimentadas,
tem largura de passagem de apenas um carro, suas condições podem ser
verificadas na Figura 11.

Figura 11​. Via carroçável não pavimentada. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

● Escadaria
A escadaria, representada pela verde clara no mapa, possui vias que não
podem ser carroçáveis. Apresentam um papel especial para a conexão das vias da
região entre os assentamentos, devido à alta declividade do local, conforme Figura
12.

21
Figura 12​. Escadaria entre as edificações. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

● Vielas
Representada pela cor rosa no mapa, as vielas não são pavimentadas,
permitem circulação apenas de pedestres, porém cumprem uma função de de
distribuição de fluxos , ou seja, são caminhos mais longos em meio às habitações
que permitem a integração de diferentes regiões, assim como o acesso às vias
carroçáveis, conforme a Figura 13.

Figura 13​. Viela. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

22
3.1.3 Transporte público

As principais rotas de acesso aos transporte público estão apresentadas na


Figura 14, bem como os pontos de ônibus que dão acesso aos moradores da área
de estudo. Observa-se que o atendimento da população dos quatro assentamentos
do PAI Pirajussara 7 em relação ao transporte público é basicamente realizado
através de linhas de ônibus.
O acesso dos quatro assentamentos para transporte sobre trilhos (trem e
metrô), se dá através da integração das linhas de ônibus. Pois no raio de 2km existe
uma estação de Metrô da Linha 5- Lilás, e, num raio de 5km, temos mais opções de
estações de Metrô, incluída a Linha 4 - Amarela e estações da Linha 9 - Esmeralda
da CPTM, além de terminais de linhas de ônibus municipais (Terminal Capelinha e
Terminal Campo Limpo) gerenciadas pela SPTRANS e a linhas de ônibus
intermunicipais (que estão inseridas na gama de linhas que passam pelo terminal
Campo Limpo.

Figura 14​. Representação gráfica do acesso ao transporte público. Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

23
3.1.4 Tecido urbano

Para caracterização do tecido urbano foi considerado o material construtivo


das edificações, situação de vulnerabilidade e acesso viário da região. A Figura 15
apresenta caracterização dividida em cinco principais categorias: Alvenaria Baixo
Padrão, Alvenaria Médio Padrão, Alvenaria Baixo-Médio Padrão, Madeira e
Alvenaria Baixo-Médio Padrão e Madeira e Alvenaria Baixo Padrão, com as
respectivas quantidades descritas na Tabela 3.

Tabela 3​. Número de domicílios em cada um dos tecidos urbanos. ​Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Poligonal Número de edificações

Alvenaria Baixo padrão 158

Alvenaria Baixo-Médio padrão 363

Alvenaria Médio padrão 147

Madeira e Alvenaria Baixo padrão 564

Madeira e Alvenaria Baixo-Médio


199
padrão

Total área de estudo 1431

Tendo em vista o material construtivo, foi observada uma porção de moradias


cujo material era improvisado (madeira) e uma grande porção de alvenaria,
indicando um possível cenário de consolidação em diversas áreas do
assentamento, ainda que haja edificações cuja alvenaria era precária (sem

24
acabamento ou com acabamento de qualidade inferior comparada às demais
edificações), condições que podem ser verificadas na Figura 16.

Figura 15​. Representação gráfica da caracterização do tecido urbano. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Figura 16​. Condições de precariedade dos assentamentos. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

25
Entretanto, no que diz respeito à qualidade das moradias, não somente é
observado o material construtivo, mas também outros aspectos que indicam
situação de vulnerabilidade, por exemplo, edificações na faixa de servidão da linha
de transmissão e duto de petróleo, conforto térmico, ventilação, área de inundação e
facilidade de acesso por parte da população aos sistemas viários.
A qualidade do material construtivo varia, mas pode-se observar algumas
construções em madeira, e massivamente construções em alvenaria, mal-acabadas
e com qualidade construtiva questionável. Dependendo da região no assentamento
o tamanho das construções variam, mas em grande parte eram pequenas e muito
próximas umas das outras, criando uma atmosfera insalubre, com pouca
luminosidade, muito úmida e com pouco ventilação.

● Alvenaria Baixo Padrão


Esta classificação é composta por edificações de alvenaria com um ou dois
pavimentos, tijolo aparente e com situação de vulnerabilidade, pois em seu centro
há duto de petróleo enterrado e edificações construídas na faixa de servidão da
linha de alta tensão, conforme Figura 17. Estas representam 11% da totalidade das
moradias da área de estudo.

Figura 17​. Assentamos com classificação de Alvenaria Baixo Padrão. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

26
● Alvenaria Médio Padrão
Os assentamentos na Alvenaria Médio Padrão representam 10% da
totalidade das moradias da área de estudo. Não há situações de vulnerabilidade
graves. Possuem acesso às principais vias locais, serviços e comércios, além de
apresentar boas condições de ventilação e iluminação. Do mais, essas moradias
são as que apresentam melhor qualidade construtiva, sendo, em sua totalidade, de
alvenaria com acabamento, portão e garagem; algumas dessas moradias contam,
até mesmo, com dois ou mais pavimentos, conforme Figura 18.

Figura 18​. Assentamos com classificação de Alvenaria Médio Padrão. Fonte: Google Earth, 2020.

● Alvenaria Baixo-Médio Padrão


Esta classificação, representa 25% da totalidade de edificações, sendo um
meio termo entre Alvenaria Baixo e Alvenaria Médio Padrão. Apresenta moradias de
alvenaria, com qualidade média, algumas com acabamentos e outras sem. Uma
parte pequena do assentamento tem acesso viário.

27
● Madeira e Alvenaria Baixo-Médio Padrão
As áreas classificadas como Madeira e Alvenaria Baixo-Médio Padrão
apresentam dois ou três pavimentos, em área de vulnerabilidade, porém uma parte
das edificações se encontra situada em uma borda do assentamento, com acesso a
via carroçável e comércios. Essas moradias representam 14% da totalidade de
edificações.

● Madeira e Alvenaria Baixo Padrão


Essa classificação reúne as moradias com maior precariedade do
assentamento, com acesso muito restrito às principais vias que circundam o local.
Parte das edificações estão localizadas à margem do córrego (esgoto) aberto,
outras sobre o mesmo (conforme Figura 19), situadas em área de possível
inundação, sob de linhas de servidão (Figura 20) e apresentam baixa qualidade
construtiva e de forma muito precária (Figura 21), com materiais impróprios para
construção de habitações.
Estas representam 39% do total de moradias da área de estudo.

Figura 19​. Moradias irregulares sobre o córrego com classificação de Madeira e Alvenaria Baixo
Padrão. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

28
Figura 20​.Moradias irregulares sob a linha de transmissão com classificação de Madeira e Alvenaria
Baixo Padrão. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Figura 21​. Moradias precárias com classificação de Madeira e Alvenaria Baixo Padrão. Fonte:
Elaborado pelos autores, 2020.

29
Esta metodologia de análise foi adotada pela equipe de modo a empregar as
percepções da visita técnica, o que permitiu verificar que, se tratando de
assentamentos que possui crescimento de forma desordenada, a precariedade das
moradias é uma unanimidade. O que é passível de classificação é, dentro dessa
situação de precariedade, os níveis em que se encontram as moradias, facilitando
assim, a partir da classificação estabelecida, a tomada de decisão em relação às
alternativas cabíveis de intervenção para cada nível.

3.2 Aspectos Ambientais

3.2.1 Características da Microbacia

O Pirajussara é um afluente da margem esquerda do Rio Pinheiros e possui


aproximadamente 18,5 km de extensão. A bacia está localizada no setor oeste da
Região Metropolitana da Grande São Paulo ​e abrange uma área aproximada de
73,1 km​ e, conforme Tabela 4, compreende os seguintes municípios:

Tabela 4​. Área estimada da bacia em relação aos municípios. Fonte: Sistemática Integrada para
controle de Inundações em Sub-bacias Hidrográficas Urbanas, 2013.

Município Área estimada (km²) % da bacia

São Paulo 36,5 50

Taboão da Serra 20 28

Embu 15,5 22

A região estudada está na microbacia Córrego Pirajussara e o ramal


compreendido pelos córregos ​Olaria, Mirandas e Pires são afluentes da margem
direita do Córrego Pirajussara. A figura 22 abaixo delimita a região em estudo dentro
da microbacia e apresenta a vegetação remanescente.

30
Figura 22​. Caracterização da microbacia com vegetação remanescente. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Sob o aspecto fisiográfico, pode-se se observar na Figura 22 que a bacia


apresenta a forma alongada, na direção Sudoeste-Nordeste, largura entre 3 a 5 Km,
nos trechos baixo e médio, atingindo até 6 a 7 Km no montante. A densidade da
drenagem é de média a alta. O trecho inferior da bacia desenvolve-se da foz até a
confluência com o ribeirão Poá, e o trecho superior, desse ponto até as nascentes.
O solo é, predominantemente, de natureza silte–argilosa, pouco arenosa,
constituindo mantos de espessuras de até dezenas de metros, com elevado
potencial de escoamento. O comportamento dos solos é diretamente influenciado
pelo tipo de uso e ocupação que dele se faz. Sob esse aspecto, cerca de 70% da
bacia é composta de áreas impermeabilizadas, tendo restado uma estreita faixa da
vertente norte do Ribeirão Poá, ainda com extensões de vegetação mais densa e
algumas poucas áreas vegetadas ao largo da bacia, sem relevância no que
concerne à hidrologia.

31
Atualmente, no que se refere à constituição geológica, a natureza do solo de
cobertura, topografia da bacia e principalmente a ação antrópica são determinantes
da intensidade com que os processos de erosão, assoreamento e sedimentação se
desenvolvem na microbacia do Pirajussara.
A Figura 23 apresenta uma caracterização mais detalhada do ramal que
intermeia a área de estudo, em que o leito do córrego Pirajussara está em sua maior
porção descaracterizado. Na visita técnica foi possível observar que o córrego
encontra-se entre os assentamentos de forma irregular e também, há presença de
nascente não preservada devidamente.

Figura 23​. Delimitação e características do ramal. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

A análise da heterogeneidade socioeconômica da ocupação urbana levou a


subdivisão da bacia do córrego Pirajussara em dois setores: o inferior, abrangendo
a bacia da foz até o emboque com o Ribeirão Poá, com habitantes de média a alta
renda. E o superior, predominantemente de baixa renda, com maior concentração
de favelas, ocorrência de vala negra e lixo jogado no córrego, causando

32
assoreamento e poluição no canal, como pode se observar na área estudada
(Figura 24), fato que pode contribuir para a ocorrência de doenças de veiculação
hídrica, nas condições normais ou nos episódios de inundações em que os riscos
são maiores, ou pelo contato direto com as águas poluídas e com o lodo que resta
após evento (DAEE, 2007).

Figura 24​. Descarte inadequado de resíduos sólidos no córrego. Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

O percentual de lixo coletado atinge a faixa dos 97,4% dos domicílios,


apresentando, porém, o maior índice de lixo jogado no rio. O abastecimento de água
atinge 99,1% e o esgoto coletado 78,4%. Aqui também, apesar do elevado
percentual de esgoto coletado, interrupções na construção do mesmo inviabiliza seu
funcionamento completo. Há muitas ligações clandestinas que despejam
diretamente no rio Pirajussara, o mesmo acontecendo com o lixo.

3.2.2 Saneamento integrado

Para saneamento integrado é necessário que os serviços básicos de


abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de resíduo sólido estejam

33
conectados. ​A área de estudo apresenta falta de saneamento em boa parte dos
assentamentos, rede deficiente e até inexistente de coleta e tratamento dos esgotos
domiciliares, resultando em ligações clandestinas e despejos clandestinos de esgoto
domésticos como também, ​em relação ao sistema de abastecimento de água, de
acordo com os relatos da população, há ligações clandestinas de abastecimento
quase a totalidade das moradias.
Em relação a coleta de esgoto sanitário, de acordo com a visita técnica, foi
possível observar alguns pontos de equipamentos da SABESP para coleta, Figura
25​. Como também é possível observar, na representação da Figura 26, a presença
de coletor tronco planejado em 2018 apenas em um ponto da área de estudo.

Figura 25​. PV de coleta de esgoto sanitário da SABESP. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

34
Figura 26​. Rede de Esgotamento Sanitário. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Na Figura 26, ​é possível notar que a área de estudo não recebe atendimento
regularizado de coleta de esgoto, dado o posicionamento do coletor tronco, notou-se
que a região não estava incluída na rede planejada de 2018. Por isso, em algumas
sub-regiões do assentamento foi possível, observar nos pontos mais baixos do
assentamento conduto livres expondo aquela população à condições insalubres e
indignas de habitação. Foi possível também observar que em diversas partes do
assentamento, os coletores de esgoto acompanham os cursos das águas que
cortam o córrego Pirajussara, podendo levar à contaminação destas, conforme
Figura 27.

35
Figura 27​. Despejo de esgoto acompanhando os cursos d'água. Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

Outro problema encontrado na visita técnica é o caso de inundação dos


assentamentos causados pela não drenagem devida de água pluvial. Dado por
relatos de moradores, há ocorrências de transbordamento do córrego em casos de
precipitação intensa no local, em alguns casos, como no da Figura 28, é
praticamente impossível que não haja transbordamento, haja visto que a drenagem
do local encontra-se em situação de alta precariedade.

Figura 28​. Situação de drenagem inadequada no interior do assentamento. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

36
Em relação a coleta de resíduos sólidos, apenas em nas vias principais que
circundam e cortam o assentamento o resíduo é coletado (Figura 29), pois nem
todas as vias são carroçáveis, como já descrito na seção 3.1.2.

Figura 29​. Coleta de resíduos sólidos por caminhão em via carroçável. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Também foi observado no limite da área, uma região de coleta seletiva de


resíduos sólidos para reciclagem, onde a realização é feita pelos moradores,
conforme Figura 30.

Figura 30​. Local de depósito para coleta seletiva em via carroçável. Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

37
Pode-se observar quando adentra-se o interior do assentamento, em especial
nas vias muito estreitas e que ficam mais distantes das vias principais, não há coleta
pois os caminhões não tem acesso. Por isso foi observado sacos plásticos de
resíduo e até mesmo resíduo espalhado em meio à passagem dos pedestres. A
situação é agravada quando, ao invés da disposição nos locais de coleta, os
moradores destinam seus resíduos nos pontos isolados de vegetação ainda
existente no assentamento e/ou nas proximidades das nascentes presentes na
área, expondo essa água à contaminação direta pelo chorume oriundo do processo
de degradação dos resíduos úmidos (em geral, orgânico), em particular. Tal despejo
inadequado dos resíduos pode ser observado na Figura 31.

Figura 31​.Destinação inadequada e ilegal de resíduos. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

38
3.3 Áreas com restrição

Para área estudada, observa-se na Figura 32, a presença de nascentes na


região considerando a microbacia de córrego Pirajussara já estudado no item 3.2.1.

Figura 32​. Nascentes na região do Pirajussara 7. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

De acordo com a Resolução CONAMA n° 303, em áreas de nascente


deve-se deixar um raio de 50 (cinquenta) metros para preservação da bacia, bem
como 30 (trinta) metros para o curso d’água com menos de 10 (dez) metros de
largura, sendo assim, no mapa da região, foram plotadas tais informações restritivas
à região, para que possam ser tomadas as devidas regularizações ambientais em
âmbito federal. Por isso, foi elaborado o mapa da região próxima ao assentamento
na Figura 33 com a área de preservação permanente:

39
Figura 33​. Áreas de Preservação Permanente: 50m no entorno das nascentes e 30m de margem
dos cursos d'água. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Na visita técnica foi possível verificar vários aspectos de infraestrutura urbana


que tem risco potencial, como os gasodutos e rede de fiação de alta tensão, que
devem ser consideradas também como áreas de restrição à construção de
moradias, devido ao perigo de acidentes. Dentro da área de estudo, conforme
relatos de moradores, já houve incêndios pelas más condições.
Na Figura 34, é possível verificar a presença de dutos enterrados de alta
pressão da empresa Petrobrás no interior da área de estudo. O qual, de acordo com
o DECRETO de nº 1.989 de 28 de agosto de 1996, promulga o uso de faixa de
servidão de 20 metros (10m de cada lado) para utilidade pública em torno do
oleoduto da Petrobrás.

Art. 1º Ficam declarados de utilidade pública, para fins de


desapropriação, total ou parcial, ou instituição de servidão de
passagem, em favor da Petróleo Brasileiro S.A. -

40
PETROBRÁS, ou da empresa por ela controlada, que vier a
ser encarregada da execução do gasoduto e do transporte de
gás natural, petróleo e demais combustíveis, os terrenos e
benfeitorias neles existentes, de propriedade particular,
excluídos os bens de domínio público, situados nos Estados
de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul, no trecho compreendido entre as cidades
de Corumbá, no Estado do Mato Grosso do Sul, e Canoas,
no Estado do Rio Grande do Sul, necessários à construção
do Gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL) e instalações
complementares.

Figura 34​. Área de passagem do oleoduto da Petrobras no Pirajussara 7. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Outra infraestrutura presente no interior da área estudada é a linha de


transmissão de energia elétrica de alta potência. É necessário uma faixa de

41
servidão ​de terra ao longo do eixo das linhas aéreas de distribuição e
transmissão, cuja largura deve ser, no mínimo, igual a da faixa de segurança. Na
área na realidade não há nem espaço para segurança, conforme Figura 35. ​Para
este estudo foi consid​erado 16 metros de faixa de servidão (8m de cada lado),
conforme mapa elaborado na Figura 36.

Figura 35​. Inexistência de área de servidão ao lado da Linha de Alta Tensão. Fonte: Elaborado
pelos autores, 2020.

42
Figura 36​. Linha de Alta Tensão e devida área de servidão no Pirajussara 7. Fonte: Elaborado pelos
autores, 2020.

Na Figura 37, foi levado em consideração a Setorização de Áreas de Risco


Geológico corresponde aos documentos cartográficos que representam as áreas
sob situação de perigo, perda ou dano, ao homem e suas propriedades, em razão
da possibilidade de ocorrência de processos geológicos, induzidos ou não. As áreas
de risco geológico se restringem às regiões atualmente ocupadas e, portanto, são
constituídas por uma ou mais edificações propensas a serem atingidas e
danificadas por um dado evento geológico, seja ele natural ou induzido por ações
humanas (CPRM, 2011).

43
Figura 37​. Detalhamento e Classificação de risco geológico no entorno do Pirajussara 7. Fonte:
Elaborado pelos autores, 2020.

Para a área de estudo foi levado em consideração os riscos geológicos R3 e


R4, risco alto e muito alto. Conforme o Serviço de Geológico do Brasil, o risco R3 é
necessário monitoramento e intervenção, pois há evidência de instabilidade (trincas
no solo, degraus de abatimento em taludes etc.); e o risco R4 é necessário
intervenção imediata, pois há evidências de instabilidade (trincas no solo, degraus
de abatimento em taludes, trincas em moradias ou em muros de contenção, árvores
ou postes inclinados, cicatrizes de escorregamento, feições erosivas, proximidade
da moradia em relação ao córrego etc.) são expressivas e estão presentes em
grande número e/ou magnitude.
Conforme Tabela 5, foi levado em consideração os aspectos citados no
estudo, cerca de 1199 do total de 1431 edificações, estão dentro de alguma área de
restrição, o que é equivalente a aproximadamente 84% das edificações.

44
Tabela 5​. Contagem de edificações em áreas de restrições. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Contagem edificações em áreas de restrição domicílios

APP ​- ​Cursos d'água (30m) 850

APP - Nascente (50m) 145

Declividade total (>45) 528

Risco Geológico (R3 e R4) 293

Faixa de servidão - Linha de alta tensão 579

Faixa de servidão - Oleoduto da Petrobrás 391


(20m)

Vale ressaltar que algumas situações de risco sobrepõe a demais, sendo que
há certas moradias com uma ou mais situação de risco, em uma contagem total de
restrições no sistema de georeferenciamento utilizado pelos autores, foram
identificadas 1199 edificações em restrição. Conforme Figura 38, é possível
identificar que a área de estudo no Pirajussara 7 apresenta as muitas restrições e
riscos de moradia a população, necessitando de grande atenção. Para melhor
detalhamento e distinção, foi separado o risco geológico, conforme Figura 39.

45
Figura 38​. Representação gráfica das restrições no Pirajussara 7 considerando áreas de
preservação permanente, linha de alta tensão e servidão. Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

46
Figura 39​. Representação gráfica das restrições no Pirajussara 7 considerando áreas de
preservação permanente, servidão de alta tensão e risco geológico . Fonte: Elaborado pelos autores,
2020.

3.3 Espaços Vazios

Foi realizado o levantamento dos espaços vazios no entorno da área para


que fossem conhecidos os locais disponíveis para utilização na propostas de
intervenções.
A Figura 40 abaixo é um mapa dos espaços vazios identificados, num raio de
um pouco mais que 1 km. É importante lembrar que a região já possui uma alta
densidade e vem nos últimos anos sofrendo com uma alta especulação imobiliária
por meio de construtoras (grandes edifícios), dado a transformação da Zona Sul de
São Paulo em epicentro corporativo. Foi escolhido o Google Earth para encontrar
esses espaços dada a facilidade de visualização e atualização mais recente das
imagens.

47
Figura 40​. Representação gráfica dos espaços vazios no entorno do Pirajussara 7. Fonte: Elaborado
pelos autores, 2020.

Tabela 6​. Área dos espaços vazios. Fonte: Google Earth (adaptado), 2020.

Espaços Vazios Área (m​2​)

1 8.275

2 4.530

3 3.172

4 10.000

5 54.502

6 61.755

7 17.187

48
A região não apresenta um grande número espaços vazios, muitos dos casos
encontrados possuem alguma restrição, o primeiro, detalhado abaixo, Figura 41,
está locado ao sudeste da área de estudo, possui declividade considerável, não em
sua totalidade, mas poderá ser uma potencial área para implementações
posteriores. Entretanto, a área de 8.275 m​2 parece estar atualmente em processo de
construção.

Figura 41​. Identificação de Espaços Vazios #1. Fonte: Google Earth, 2020.

O espaço vazio 2 possui 4.530 m​2 ​, locado a sudoeste, assim como o espaço
anterior também parece também estar em obras. Porém, há uma nascente próximo,
mas com possibilidade de preservação de 50m de margem.

49
Figura 42​. Identificação de Espaços Vazios #2. Fonte: Google Earth, 2020.

O espaço vazio 3 analisado é complexo e precisa de uma nova visita a


campo para ser melhor avaliado, há uma construção de um grande edifício na parte
da frente, a área tem uma certa declividade, mas não em restrição para ser evitado,
pode ser que a construtora descartou o local como passível de edificação ou tem
planos futuros. O espaço vazio se localiza a noroeste, na altura ainda da área de
estudo, e possui 3.172 m​2​.

50
Figura 43​. Identificação de Espaços Vazios #3. Fonte: Google Earth, 2020.
alta declividade

O espaço vazio 4, por sua vez, não tem nenhuma restrição de infraestrutura
urbana ou risco geológico, contudo tem vegetação, que pode ser nativa, a rede de
drenagem está próxima, mas pelos arquivos obtidos no mapeamento de São Paulo,
não passa pela área em questão. Está situado ao norte da área de estudo, é o
espaço vazio que encosta no raio de 1km e possui 10.000 m​2

51
Figura 44​. Identificação de Espaços Vazios #4. Fonte: Google Earth, 2020.

Os espaços vazios 5 e 6 são vizinhos. O espaço cinco é altamente vegetado


e possui curso d'água em seu meio, eles estão ao extremo norte da área de estudo.
O seis, não está vegetado, nem possui restrição, foi reconhecido com o cruzamento
de dados como o piscinão Sharp. Ambos esses espaços podem ser
desconsiderados da intervenção, dado o seu uso e ocupação atual. Em relação à
área, o cinco possui 54.502 m​2​ e o seis, 61.755 m​2​.

52
Figura 45​. Identificação de Espaços Vazios #5. Fonte: Google Earth, 2020.

53
Figura 46​. Identificação de Espaços Vazios #6. Fonte: Google Earth, 2020.

Após a dificuldade de localizar alguns dos espaços vazios na região, uma


última tentativa nas proximidades da área de estudo foi identificada bem a sul. O
espaço de 17.187 m​2 se encontra próximo, mas fora da linha de servidão de alta
tensão e oleoduto, contudo possui considerável declividade (>30º), que pode ser um
desafio à edificação.

54
Figura 47​. Identificação de Espaços Vazios #7. Fonte: Google Earth, 2020.

4. Aspectos sociais

4.1 Perfil da população

A área do Pirajussara 7 está situada na região do Campo Limpo e apresenta


um perfil complexo de ser avaliado e representado em sua totalidade com os
detalhamentos de sua população de forma completa e representativa.
Segundo dados do censo demográfico mais recente (2010) realizado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), num ranking de distritos
densamente habitado na região sul do município de São Paulo, ele se destaca entre
os dez mais populosos, apresentando a totalidade de 211.361 pessoas e ocupando
a sexta colocação na classificação. Entretanto, nos últimos anos, a taxa de
crescimento populacional anual tem decrescido cerca de 1% ao ano (IBGE, 2010).
Esta redução pode indicar uma possível descentralização demográfica na região do
Campo Limpo.

55
A expectativa de vida, pela mesma razão, tem aumentado com o passar dos
anos, ainda que o distrito apresenta uma população majoritariamente jovem de até
24 anos de idade. (IBGE, 2010).
Dessa parcela jovem da população, cerca de 31,4% corresponde a crianças
e adolescentes, que variam entre 0 e 19 anos, nesse ponto podemos fazer uma
avaliação crítica em que é possível já inferir que se faz necessário equipamentos
públicos diferenciados como escolas de todos os níveis, tais como infantil,
fundamental e médio para o atendimento da população.
Na região do Campo Limpo, 51,1% à população em idade produtiva (entre 25
e 59 anos) e 8,1% à população idosa (IBGE, 2010). Conforme informações
coletadas na visita técnica, a composição familiar no distrito de Campo Limpo é
formada entre 3 a 4 pessoas por domicílio.
De acordo com os dados de População em Idade Ativa (PIA), o distrito
Campo Limpo apresenta 85,2% da totalidade de sua população, correspondente a
180.014 pessoas. Do total descrito anteriormente, 47,23% são homens e 52,77%
são mulheres.

4.2 Acesso a serviços e equipamentos públicos

Os equipamentos urbanos são de extrema importância para as cidades,


sendo de utilidade de toda população. Destinados para, por exemplo, atendimento
da população por meio de hospitais, acesso a cultura por meio de centros culturais,
parques, entre outros, podendo ser construídos por órgãos públicos ou privados.
São considerados equipamentos urbanos os equipamentos públicos de
educação, cultura, saúde, lazer e similares, funcionando como locais de
socialização, atendimentos das necessidades da população nas questões de saúde,
alimentação, entretenimento, cultura, lazer, entre outros.
A população da área do Pirajussara 7 possui pouco acesso a equipamentos
públicos, sendo uma área com pouco acesso ao lazer, atendimento em hospitais e
postos de saúde com grande filas, creches e escolas não atendem a demanda
necessária da região.

56
Conforme Figura 48, podemos notar que a partir da área de estudo temos um
raio de 500 m que mostra quais tipos de equipamentos públicos estão naquela área,
tais como: bibliotecas, redes de ensino de educação infantil e rede pública de ensino
fundamental e média e unidades de pronto atendimento, todos em quantidades
insuficientes para atendimento da população, conforme informações colhidas na
visita técnica.
Para o raio de 1km, o cenário não muda de forma, tendo apenas um aumento
no número de escolas, mas em acessos a saúde, lazer, cultura e entretenimento
permanecem precárias. Apesar da área ser bem atendida por equipamentos de
ensino infantil, fundamental e médio, há uma carência de escolas técnicas que
possam oferecer qualificação profissional para geração e aumento de renda dessa
população.
Em relação a saúde, classifica-se a região como como intermediária de
acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (2008), dada que há um grande
adensamento populacional em Pirajussara. Quanto ao lazer dessa população, ainda
que haja alguns clubes, que não são de acesso ao público geral, localizados na
área e ao entorno, é vista então uma necessidade em diversificar as oportunidades
de lazer da população.

57
Figura 48​. Mapa de Equipamentos e Serviços Públicos. Elaborado pelos autores, 2020.

4.3 Percepção da população

Durante a visita de campo, foram coletadas informações com os moradores


locais sobre a suas percepções sobre a região. Houveram relatos que em períodos
de fortes chuvas havia uma grande quantidade de resíduos espalhado pelas vias de
passagem. Outra preocupação é em relação à pavimentação das vias mais
estreitas, bem como a implementação de estrutura como, por exemplo, corrimãos
nas escadarias ou em vias mais íngremes para a mobilidade com mais segurança.
Foram obtidos relatos da população local sobre trechos em que a tubulação
da rede de esgoto se mantém aberta causando odor forte e o riscos para a saúde.
Também durante a visita, foi possível notar o emaranhado de fios elétricos
expostos, que ficam muito próximos aos pedestres, além da exposição dos fios
devido às conexões clandestinas.
Por fim, a população local tem uma visão da situação precária do local, os
riscos e das necessidades de melhorias básicas que a região necessita para que a

58
qualidade de vida do local seja melhor estabelecida e proporcionada aos
moradores.

5. Aspectos jurídico-fundiários de regulação urbanística e ambiental.

A elaboração e avaliação do diagnóstico da área de estudo necessita de uma


avaliação da legislação vigente. Porém, uma elaboração condizente com a realidade
tem como princípio básico a combinação das regulamentações aplicáveis com a
realidade condições do local.
Inicialmente podemos citar a Constituição Federal Brasileira (1998),
importante para a questão da avaliação de uma área, com a descrição dos direitos
de cunho social: moradia, alimentação, transporte, cultura, lazer, saúde, segurança,
entre outros, como prevê no artigo 6. Além destes direitos, de acordo com o mesmo
documento, um ambiente ecologicamente equilibrado, propiciando uma qualidade
de vida adequada ao brasileiro, é também de direito da população, segundo artigo
225, bem como a garantia desses direitos pelo Poder público, ambos importantes de
serem avaliados em sua primeira etapa do diagnóstico e no decorrer do projeto.
A Lei nº 13.465 de 11/07/2017 (Regularização fundiária rural e urbana) Art.
13. Reurb de Interesse Social (Reurb-S), constatada a existência de núcleo urbano
informal situado, total ou parcialmente, em área de preservação permanente ou em
área de unidade de conservação de uso sustentável ou de proteção de mananciais
definidas pela União, Estados ou Municípios, a Reurb observará, também, o
disposto nos arts. 64 e 65 da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012.

5.1 Legislação municipal incidente

Além de ser fundamentado na Constituição Federal, o município de São


Paulo possui o Plano Diretor Estratégico (PDE), Lei Municipal nº 16.050, de 2014,
que dispõe de instrumentos e diretrizes de política urbana previstos no Estatuto da
Cidade, Lei Federal nº 10.257, de 2001, e estará vigente até o ano de 2030, fator
que traz a função social da propriedade e direito à moradia.

59
O objetivo da macrozona urbana é controlar e direcionar o adensamento
urbano de forma a disponibilizar tal área à infraestrutura disponível, reforçando os
múltiplos usos e ocupações do território.
As Zonas de Interesse Social (ZEIS) são definidas pelo plano diretor e estão
relacionadas com as áreas de assentamento de habitação. Sendo a área de estudo
enquadrada em uma ZEIS 1 e 2, conforme descrição:
ZEIS 1: Favelas, loteamentos irregulares e conjuntos habitacionais de interesse
social, nos quais podem ser feitas intervenções de recuperação urbanística,
regularização fundiária, produção e manutenção de habitações de interesse social.
ZEIS 2: Terrenos baldios ou subutilizados, nos quais deve ser proposta a produção
de moradias de interesse social, equipamentos sociais, culturais, etc.
As ZEIS 1 e 2 são as classificações aplicáveis a área de estudo, uma vez que
indica áreas consolidadas como assentamentos irregulares/conjuntos habitacionais
e áreas vazias que serão consideradas na etapa de proposta de intervenção.

5.2 Regulamentação fundiária

Conforme Denaldi e Ferrara (2018), grande parcela da população que habita


as regiões metropolitanas reside em favelas e parte significativa dessa ocupação
ocorre em áreas ambientalmente sensíveis e protegidas por lei.
Diferente das áreas centrais, que são predominantemente ocupadas de
formas mais privilegiadas da cidade, com acesso ao transporte público,
equipamentos urbanos, saúde, escolas, entre outros benefícios. Dessa forma,
muitas áreas são ocupadas e estão sob diversos fatores de risco, como
deslizamentos, falta de saneamento, inundações, entre outros fatores de risco.
Desde 2009, a legislação de regularização fundiária urbana de interesse
social flexibiliza a definição da largura e tratamento das APPs do tipo margens de
cursos d’água, desde que o diagnóstico específico demonstre a situação do
assentamento e seu grau de consolidação.
De acordo com o novo Código Florestal, a Lei 12.651 de 25 de maio de
2012, determina normas sobre a Proteção da Vegetação Nativa em geral, incluindo
Áreas de Preservação Permanente (APP). Sendo que, a área de estudo está

60
situada sobre curso d’água, área com linha de alta tensão, gasoduto e declividades
que variam entre 25º e 45º.
Para a área de Proteção Permanente, também podemos citar o art. 9,
parágrafo 3º da resolução CONAMA 369, de 2006, que trás o Plano de
Regularização Fundiária Sustentável, ressaltando os casos de necessidade e
consolidação do local, caso aplicável para a área de estudo, tendo regime
urbanístico específico para habitação popular nos termos do disposto na Lei nº
10.257, de 2001.
Temos nesse caso, um conflito entre a CONAMA 369 e a Lei 12.651/2012.
Por fim, devemos recorrer ao IBAMA e Advocacia Geral da União. Portanto, o
fundamento legal é baseado no novo código florestal e conforme contratos ou lei.
Por essa razão, recorremos a Lei nº 13.465 de 11/07/2017, dos núcleos
urbanos informais que ocupam Áreas de Preservação Permanente, a regularização
fundiária pode ser admitida por meio da aprovação do projeto de regularização
fundiária, na forma da lei específica de regularização fundiária urbana. Portanto,
atendidas as exigências citadas anteriormente a área avaliada no estudo pode ter
as medidas de interferências necessárias.
Por fim, a área de estudo apresenta restrições que podem dificultar o
processo de regularização fundiária, sendo necessárias medidas e intervenções que
atendam as restrições da região. Porém, há alterações que podem ser realizadas
de forma a consolidar a região e melhorar aspectos sociais e ambientais, conforme
serão descritas nas ações de intervenção.

6. Conclusão do Diagnóstico

A região estudada do Pirajussara 7 é uma área formada por quatro


assentamentos: Favelas do Canto do Rio Verde, Francisco de Sales, Mirandas I e
Jardim Olaria, que junto com outros seis assentamentos constituem o complexo
denominado Pirajussara 7, ​localizado na subprefeitura do Butantã e outra parte
localizado na subprefeitura do Campo Limpo​.
Suas características são complexas por diversas razões, seja pela sua alta
vulnerabilidade, presença de ocupações em áreas de risco, existência de linha de

61
alta tensão e gasoduto, falta de saneamento básico, risco geológico, precariedade
nas construções e infraestrutura da região, como também, a alta densidade de
ocupação.
Com os estudos realizados pelos mapas apresentados ao longo do
diagnóstico, foi possível identificar os diversos problemas ambientais, urbanos e
sociais presentes na área. Portanto, a região pode ser de difícil regularização
fundiária, complexas alternativas de remoções e poucas alternativas de
intervenções.
Porém, é possível desenvolver os aspectos ambientais, estruturais e sociais
na região, por exemplo, melhorias no sistema de saneamento ambiental, coleta de
resíduos e melhorias nas condições construtivas da região. Além de, acesso a
serviços básicos de saúde, equipamentos públicos, esporte, lazer, cultura e
conectividade com o restante da cidade por meio do sistema viário, que serão
apresentados nas medidas de intervenções.

62
Parte II: Proposta de Intervenção

7. Diretrizes de Intervenção

Como diretriz de intervenção buscou-se consolidar o maior número de


moradias, solucionando as situações de risco e vulnerabilidade. As medidas de
remoções propostas foram para os casos extremamente necessários, para estes a
solução foi o reassentamento em regiões próximas à origem. Os critérios que
nortearam a tomada de decisão para as diretrizes propostas basearam-se nos
seguintes aspectos:

7.1 Qualidade urbano-ambiental das áreas

Foram avaliados aspectos de infraestrutura urbana que podem causar risco à


comunidade, como os gasodutos, linha de transmissão e risco geológico; mobilidade
e acessibilidade no assentamento, ventilação e penetração de luz, para assim
definir a necessidade de melhoramento das vias, através da adequação de parte da
malha viária e construção de novas vias. Além disso, no âmbito proposta mais
ampla de caracterização de tecido urbano, foram considerados critérios como
adensamento de pessoas no local, qualidade construtiva e localização das
moradias.

7.2 Aspectos sociais


Foi considerada a melhoria na qualidade de vida e bem-estar da comunidade,
propondo assim criação de equipamentos comunitários, melhoria da circulação e do
uso dos espaços pelos residentes, integração do assentamento com as áreas
adjacentes.

7.3 Legislação ambiental Resolução CONAMA 369/2006


Optou-se por utilizar 10 metros de APP para os cursos de água e 20 metros
para as nascentes, seguindo o que é proposto na Seção III da resolução, a qual
trata da implantação de Área Verde de Domínio Público em Área Urbana prevendo
a recuperação das áreas degradadas da Área de Preservação Permanente (APP),

63
recomposição da vegetação com espécies nativas; mínima impermeabilização da
superfície; contenção de encostas e controle da erosão; proteção das margens dos
corpos de água; Seção IV Da Regularização Fundiária Sustentável de Área Urbana,
a qual permite intervenção ou supressão de vegetação em APP para a
regularização fundiária sustentável de área urbana em caso de ocupações de baixa
renda predominantemente residenciais; ocupações localizadas em área urbana
declarada como Zona Especial de Interesse Social-ZEIS no Plano Diretor, outra
legislação municipal ou apresentar itens de infraestrutura implementada.

8. Descrição da proposta

8.1 Urbanização do assentamento

Através das diretrizes citadas e do diagnóstico da área, o grupo apontou a


remoção de algumas áreas considerando dois níveis de prioridade, conforme Figura
49, para tal, é proposto a retificação dos córregos Mirandas I e II para que a maior
parte das edificações passíveis de consolidação pudessem ser mantidas, como
também a redução das áreas de preservação permanente da hidrografia para 10m
do curso d'água e 20m das nascentes.

64
Figura 49​. Mancha da proposta de remoção com retificação do curso d’agua. Elaborado pelos
autores, 2020.

A Figura 50 detalha os motivos de intervenção para cada área, justificando a


prioridade de intervenção e remoção de acordo com as restrições locais, a
contagem de edifícios que serão impactados pela proposta está na tabela 7.

65
Figura 50​. Mapa da proposta de remoção e consolidação de domicílios por motivação. Elaborado
pelos autores, 2020.

Tabela 7​. Contagem de edificações removidas com níveis de priorização 1 e 2. Fonte: Elaborado
pelos autores, 2020.

Contagem edificações a
Domicílios
ser removidas

591
Prioridade 1

Readequação e abertura de
viário (para atender as 25
remoções da prioridade 1)

Prioridade 2 83

TOTAL 699

66
Portanto, se unirmos área de prioridade 1 e 2 seriam removidos 674
edificações por risco/recuperação ambiental e 25 assentamentos por readequação
de sistema viário. Totalizando, 699 domicílios.
Contudo, dado o cenário de escassez de espaços vazios para o
reassentamento, é proposto nesse primeiro momento a remoção dos domicílios
classificados como prioridade 1, por conter maiores indicadores de risco e restrição.
Para as edificações classificadas como prioridade 2, é proposto maior estudo para
consolidação. Sendo assim, é proposto aqui a remoção de 591 edificações por
risco/recuperação ambiental e 25 assentamentos por readequação de sistema
viário, totalizando 616 assentamentos nessa primeira etapa de intervenção,
representado na Figura 51 abaixo.

Figura 51​. Mapa da proposta de remoção de edificações considerando remoções prioritárias


1. Elaborado pelos autores, 2020.

Para a urbanização do assentamento, optou-se pela canalização aberta e


desvio do córrego do seu curso natural para diminuir o impacto de remoções na

67
área central. Pretende-se recuperar o córrego com ações de despoluição, que
devem se estender até as partes mais altas da microbacia, além de priorizar a
revegetação da margem com espécies nativas da região.
Como também, na mesma área encontra-se a restrição pela faixa de servidão
dos gasodutos e linha de transmissão. Sugere-se a construção de uma horta
comunitária ao longo das margens do córrego e faixa de servidão, o qual pode
proporcionar segurança à operação das linhas de transmissão, pois inibe ocupações
irregulares para fins de moradia, atividade econômica ou descarte de entulhos. Do
mais, a ocupação social de um espaço que poderia ser visto pela população como
ocioso, ainda pode promover a inclusão, segurança alimentar, segurança nutricional
e geração de renda​.
Outra intervenção é a construção de um parque linear visando à valorização
do espaço público pela população, de modo que estes sejam constantemente
ocupados, contribuindo para a melhoria da integração social entre os moradores,
qualidade de vida e segurança no perímetro do assentamento.
Em termos urbanísticos, o parque contribuirá para a valorização estética do
local, o que fortalece o sentimento de pertencimento e de responsabilidade dos
moradores para com a manutenção da qualidade dos espaços requalificados.
Propõe-se a construção de uma ciclovia na faixa do oleoduto buscando
atender à proposta de servir como elemento de transição entre o perímetro do
assentamento e as regiões urbanas adjacentes, com uma via de pedestres que
interliga o interior do assentamento com o parque e com uma das vias principais,
conforme ilustrado na Figura 52. Contribuindo para a segurança e para a qualidade
de vida da população em termos de locomoção e utilização dos espaços. Além
disso, a abertura das vias permite maior passagem de ar e luz solar, proporcionando
maior conforto ambiental aos moradores.

68
Figura 52​. Mapa da proposta de viário. Elaborado pelos autores, 2020.

8.2 Reassentamento

Parte da população que habitava áreas de restrição ambiental que


interseccionam áreas de alta precariedade construtiva e risco à população está
contemplada na proposta de remoção. Além disso, em função da abertura de viário
no assentamento, algumas moradias fora dessas áreas também foram removidas,
de acordo com o panorama geral representado na Figura 51. Nas intervenções
relacionadas a remoções e reassentamento, procurou-se remover o menor número
possível de pessoas, procurando priorizar a requalificação do tecido existente e a
realocação dos moradores para áreas o mais próximo possível de sua área de
origem.
A Figura 53 apresenta a proposta de reassentar a população em uma área
adjacente ao assentamento nas áreas vazias já caracterizadas na seção 3.3. A
escolha desses espaços para o reassentamento também teve o propósito de
reaproveitar uma área extensivamente descaracterizada pela ação antrópica.

69
Figura 53​. Mapa de localização das áreas de reassentamentos. Elaborado pelos autores, 2020.

Essa estratégia elevará consideravelmente a qualidade de vida da população


em áreas de restrição ambiental e de precariedade construtivo-sanitária,
mantendo-a próxima de seu local de origem e preservando quaisquer laços sociais
e afetivos existentes em relação a essa porção do território.
​Vale ressaltar que para implantação das propostas, seria necessário um
estudo mais aprofundado do custo efetivo das alternativas, comparativamente ao
prazo de implantação de políticas públicas para a região.

8.3 Proposta de melhorias para o local

Para revitalização do local, a criação de áreas em comum para a população


são uma das principais medidas para conter possíveis novas ocupações nas áreas
que houveram remoção de moradias e propor alternativas de lazer e conectividade
da área de estudo com o restante a cidade. Por essa razão, será proposto a criação
de ciclovia, um parque linear e uma horta comunitária.

70
A ciclovia é de grande importância para a conectividade da área de estudo
com os bairros ao redor, sendo uma alternativa de transporte para a população e de
lazer. A criação do parque linear tem como objetivo a reocupação do local que
foram feitas as remoções de moradias, além de ser uma alternativa de lazer e de
caráter visual positivo para o local. Por fim, a horta comunitária trará uma fonte de
lazer, e cultura para a população, jovens ou adultos, além de ser uma forma de
incentivo para a educação ambiental e contato com o meio ambiente.
A Figura 54 apresenta a proposta de melhorias para o local conforme descrito
anteriormente após as ações de intervenção propostas.

Figura 54​. Mapa de ações propostas para a área de estudo após a intervenção. Elaborado pelos
autores, 2020.

71
9. Conclusão da Intervenção

A intervenção no eixo estudado da região do Pirajussara 7 é complexa, pois a


alta vulnerabilidade social é demarcada pela ocupação em área de risco, existência
de linha de alta tensão e gasoduto, falta de saneamento básico, precariedade nas
construções, além da alta densidade populacional. Embasado nos resultados
obtidos no diagnóstico, foi possível propor ações de intervenção para a área com o
objetivo de melhorar a conectividade da região, melhorar a mobilidade e lazer.
As ações propostas incluem consolidação de moradias, remoções de acordo
com a vulnerabilidade e riscos ambientais, melhoria do viário, canalização do
córrego, criação de parque linear, horta comunitária e ciclovia, de acordo com
legislação favorável à regularização fundiária.
Por fim, as ações propostas pelo grupo têm caráter inicial e há outras
melhorias que podem ser implementadas na região o Pirajussara 7, como por
exemplo, a remoção das residências identificadas pelo elaboradores como
prioridade 2, se não for possível consolidação. Além de ações públicas que
incentivem a criação de novas medidas que visem a melhoria do viário, criação de
espaços públicos de acesso para toda população para melhoria da qualidade de
vida local.

72
10. Referências Bibliográficas

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SISTEMÁTICA INTEGRADA PARA CONTROLE DE INUNDAÇÕES EM


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SIRGH – Sistema Integrado de Gestão de Recursos Humanos. ​Características


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