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Pretensão
Os Mackenzies
Livro 11
NATHALIA
MARVIN
Copyright © Nathalia Marvin 2020
Todos os direitos reservados.
Eu entro no prédio e dou bom dia aos trabalhadores. A reforma está indo
perfeitamente bem. Tudo está alinhado, seguindo o plano e orçamento. Não é
pra menos, estou mais que feliz. É a minha casa. A que eu sempre quis e
sonhei.
Porque, sabe como é, morar em apartamento já pronto não pode ser
comparado com o que você vê nascendo de acordo com sua vontade. É
indizível vezes mais prazeroso, sem qualquer dúvida.
— Theo — cumprimento o pedreiro, que está analisando uma parede.
Ele rapidamente vira-se para mim avaliativo, então sorri. Tem uma
aparência jovial, mas, algumas marcas de expressões me dizem que não deve
passar dos 55.
— Sr. Mackenzie, boa tarde — responde. — É uma surpresa que tenha
vindo aqui essa hora.
— Nem me diga! Tive uma reunião com patrocinadores e resolvi desviar
um pouco do caminho para vir ver como estão indo.
— Está tudo muito bom — ele afirma. — A sua cunhada esteve vindo
mais cedo trazer a palheta de cores do andar superior. Já encomendei as
melhores tintas de acordo com o layout que você preferiu.
Sorrio satisfeito.
— Obrigado, Theo — agradeço, tocando-lhe o ombro.
Ele sorri e volta à sua análise, enquanto eu aproveito para passar o olhar
em volta. Tudo está muito bom mesmo. Estamos na sala de estar, que já está
devidamente pintada e arrumada, exceto pela parede que ele está vendo, que
vai ser retirada para dar mais iluminação do deck para dentro da casa. Luz
real e de verdade.
As janelas e portas de vidros, todas com dois metros, salientando a
iluminação natural que eu sempre quis ter e o apartamento me impedia. As
paredes brancas e gelo confirmando isso.
Suspiro, muito satisfeito mesmo.
— Pai, eu não consegui alcançar no teto, é muito alto mesmo com a
escada — ouço uma voz feminina e me viro de imediato, estranhando muito.
Uma garota de cabelos pretos e pele clara, olha em direção ao Theo,
enquanto tem um balde de tinta na mão e o rodo em outra.
O que é isso?
— Samantha… — ele hesita, então me olha rapidamente e vai depressa
pegar o balde da mão dela. — Eu pedi que você ficasse lá onde a deixei —
sussurra, mas ouço mesmo assim.
— Eu sei, pai, desculpe, mas é que não alcancei.
— Não alcançou o quê? — Eu pergunto e só então ela percebe minha
presença, levantando a cabeça para me olhar.
Fica estagnada ou surpreendida, mas é para seu pai que estou olhando.
— Por que sua filha está aqui — questiono — vestida como uma pessoa
da equipe? — É um macacão ridículo e sujo de tinta. Ela também está toda
suja.
— Bem, é que…
— É que ele precisava de ajuda — ela o interrompe e tem minha atenção
de novo. — Eu me ofereci para ajudar.
— Por que você não me disse que precisava de mais pessoas? — olho
novamente para Theo.
— Não precisava, é que Samantha insiste com isso.
— Não comece de novo, pai — ela o olha. — O senhor sabe que precisa
sim de ajuda.
Balanço a cabeça, confuso.
— Filha, vá trocar de roupa. Você vai embora — ele avisa.
— Não mesmo — ela parece perplexa. — Eu não vou embora só porque
esse homem chegou.
— Samantha! — a adverte.
Ela abaixa a cabeça, parecendo imediatamente arrependida.
— Esse homem é o Sr. Mackenzie, o dono daqui — ele emenda.
A garota não esbanja reação, continua olhando para o chão.
Respiro fundo.
— Apesar de não estar entendendo nada, eu não gosto da ideia de ter
uma adolescente trabalhando em minha casa — declaro. — Gostaria que não
a trouxesse mais, Theo.
— Eu não sou uma adolescente, tenho vinte e dois anos — ela me olha e
posso pensar ver desdém em seu tom.
— Não vai tornar a acontecer — ele garante.
Ela suspira com força e então põe o rodo dentro do balde e me olha nos
olhos, dando-me um olhar que me dá certo medo, saindo em seguida.
— O que significa isso? Tem trazido sua filha com você? — pergunto,
tentando entender alguma coisa.
— Lamento, mas a Samantha é muito preocupada — Theo está com a
voz trêmula. — Eu senti uma dor no braço e ela ficou louca, dizendo que era
por estar trabalhando muito e que viria ajudar.
— Bem, então eu vou contratar alguém para ajudar — dou um tapinha
em seu ombro. — Mas deixe a garota fora disso. Não quero ter que me
responsabilizar pela segurança dela, também.
Ele me dá um sorriso amarelo e assente, então me despeço e saio,
parando um pouco na metade do caminho quando um barulho me chama
atenção.
É ela e está em uma tentativa muito falha de se acalmar.
— O que você está fazendo? — pergunto quando vejo que está
conversando sozinha.
Ela dá um gritinho e se vira para mim, o rosto todo vermelho e a
respiração pesada pelo esforço e susto.
Esforço. Olho para o chão e vejo que estava tentando empurrar uma
pedra, aparentemente muito pesada.
— Você é louca? Não vai conseguir levantar essa pedra, garota — eu
digo, porque é mesmo minha primeira impressão. Ela ser louca de achar que
tem força suficiente.
— Claro que vou — faz uma careta e põe as mãos na cintura. — Só
preciso desprender ela do chão.
— Você não ouviu o seu pai te mandando ir embora?
— Eu não vou fazer isso. Ele não pode ficar trabalhando sozinho.
— Vou contratar mais pessoas para ajudá-lo. Vai pra casa, menina.
Ela me ignora e volta a tentar levantar o material pesado, de uma
maneira muito falha. Dou um grunhido de descrença, então me aproximo,
tendo que tirá-la à força, que grita de forma nervosa.
— Só tô tentando fazer minha parte, droga! — aviso, olhando-a
incrédulo.
— Sua parte? — ela dá um passo para trás quando está estabilizada
sobre os próprios pés. — Sua parte?! Sua parte, se parasse um pouco de
bancar o patrão gentil e enxergasse meu pai como uma pessoa comum, veria
que ele está fraco! — seus lábios tremem um pouco ao falar.
— Theo parece ótimo.
— Parece! — ela ergue as mãos. — Parece! Você mesmo está dizendo.
Balanço a cabeça, um pouco confuso, mas logo minha atenção é atraída
para a entrada, quando ouço um grito agudo. Reconheço e muito bem. O
carro vermelho, também.
— Que mer… — Não concluo o pensamento, pois logo Jennifer se joga
em meus braços.
A princípio, eu fico sem reação, mas logo ela vira o rosto e me beija na
boca, não me dando outra alternativa que não corresponder. Podemos ter
terminado, mas esse corpo é espetacular.
— Meu bebê lindo — ela fala, então morde minha boca um pouco.
— Jeniffer — engulo em seco, ciente do que acabei deixar acontecer.
Quer dizer, não é nada errado, é só que prometi que não me envolveria mais
com ela depois do que disse à minha irmã.
Chamar Amy de cadela desgraçada não pegou legal. Ninguém insulta
minha família.
— Vamos para minha casa — ela chama manhosa, então olha para o
lado e põe os braços ao redor do meu pescoço. — Quem é essa aí?
Olho também e a garota ainda está em pé, parecendo que está vendo a
coisa mais nojenta do mundo. É a mesma cara que Amy faz quando ver
Jennifer.
— Essa aí tem nome — a garota a mede dos pés à cabeça e emite um
riso. — Não me dou com o Paraguai — então sai, balançando a cabeça.
— Por que ela disse isso? — Jennifer questiona, mas eu simplesmente
resolvo ficar quieto e a conduzir até meu carro.
Quer dizer, a culpa não é de todo minha. Ela que veio atrás de mim, não
é?
Sendo assim, não faz mal. Só uma vez. Mais uma vez.
Ligo o carro e dou a volta para nos tirar da parte fechada, então olho
pela janela e vejo a garota já abaixada sobre o gramado, mas ela não está
capinando ou fazendo jardinagem.
Seja lá o que é, nem perco meu tempo, até porque Jennifer já está
abrindo minha calça. Então, tanto faz. É só o que importa, no momento.
Capítulo 2
Eu não devia estar nervosa, mas estou. Quer dizer, é o aniversário do meu
pai e eu me planejei a fazer uma pequena festa para ele. Mesmo que sejamos
só nós dois. Não importa, só que fazê-lo sorrir ao máximo.
Mas, não, não poderia ser perfeito. Nada nunca é. Por que ele precisava
convidar o tal Sr. Mackenzie?
Respiro fundo mais uma vez enquanto ajeito um dos balões que estão
enfeitando nossa pequena varanda. Está uma ventania forte, mas agradeço
por nenhum balão ter estourado ainda.
Não há convidados, exceto por ele e a Sra. Austen, nossa vizinha que
sempre está nos ajudando e agraciando com sua presença e de seus dois
cãezinhos.
Meu pai está em sua casa. Eu pedi que fosse para ao menos não me ver
arrumando tudo. Ele merece algo legal. Desde que minha mãe nos
abandonou, há oito anos, para fugir com o irmão de meu pai, ele tem sofrido
horrores. E posso apostar que sua saúde debilitada também é por conta disso.
Suspiro profundamente, quase tomando um susto quando a campainha
toca. Três vezes consecutivas, me deixando agoniada. Caminho rapidamente
para dentro e vou até a sala, agarrando a maçaneta e girando a chave, então
abro a porta.
Prendo a respiração ao ver a figura masculina à minha frente. Quer
dizer, é o Sr. Mackenzie — que nem deveria ser chamado assim porque sua
cara lembra tudo, menos um senhor —, e ele está vestido de um jeito que o
deixa ainda mais jovem. Somente em uma bermuda xadrez preto e branco, e
uma camisa azul. Sandália nos pés. Simples assim. Impecável e natural.
Engulo em seco.
— Boa noite — ele dá um sorriso largo, então seu olhar se abaixa, me
avaliando inteira. Uma de suas sobrancelhas castanhas se ergue. — Eu devia
ter vindo vestido como um lorde?
— Não — me forço a responder, então ele estende uma caixa em minha
direção.
— Aqui. É uma caixa de doces de chocolate, para cooperar.
Eu pego, um pouco nervosa. Não deveria, mas estou. Ele está
cheirosíssimo. E bonito. Nem parece o idiota que aparenta ser.
— Pode entrar — digo e saio com a caixa de volta à varanda dos fundos.
Um vente forte me encontra, bagunçando meus cabelos. Evito resmungar e
ponho a caixa na mesinha, abrindo-a e tirando uma bandeja com doces de
chocolate de vários formatos.
— Que gracinha isso aqui — eu ouço a voz dele. — O Theo vai fazer
quantos anos? Cinco?
Olho-o, estreitando os olhos.
— Você não veio estragar, não é?
— Eu? — Ele parece indignado. — Longe de mim! Logo eu, um
verdadeiro anjo. Que absurdo.
— Não fique bancando o engraçado — tiro a caixa da mesa e entro para
levá-la à cozinha. Ele logo aparece também, avaliando o pequeno local, então
balança a cabeça afirmativamente.
— Por que tem tanta flor nessa cozinha? — questiona.
— Porque eu gosto e sou eu quem arrumo, então vão ter coisas que eu
quero.
Ele ri.
— Você não precisa me engolir toda vez que for responder alguma coisa
— sorri, de um jeito estranho. — Aliás — batuca a bancada —, gostei desse
vestido. Ele te deixa com cara de menina.
— Você é um idiota de propósito?
— Não, é natural. Cadê seu pai? Eu cheguei às sete em ponto. Quase
trouxe meu sobrinho, mas a mãe dele foi busca-lo a tempo.
— Que bom que não trouxe — caminho para a geladeira.
— Você ia gostar dele. Ele é tão chato como você.
Ignoro e pego as garrafas de suco.
— Meu pai está na casa da vizinha. Deve chegar logo. Falei para ele vir
às sete.
— Vizinha, é? Namorada?
— Não — o olho, vendo que ele está mesmo muito bonito. — Ela é
nossa amiga.
— Hm — ele não parece acreditar e eu quase digo que meu pai não quer
arrumar alguma mulher, mas isso não é da conta do Sr. Mackenzie.
Caminho de volta à varanda.
— Seu namorado vem? — Eu ouço a pergunta ao meu lado.
— Eu não tenho namorado. Tenho coisas mais importantes para fazer.
— O que pode ser mais importante do que transar? — ele finge pensar.
— Você não está na sua casa e sugiro que seja menos ridículo, tomando
conta do seu vocabulário.
— Você sabe o que é isso?
— O quê?
— Transar — ele gesticula. — Duas pessoas, fazendo…
— Parou! — ergo as mãos, mais irritada do que sem acreditar. — Cala a
boca. Você não está com a sua turma.
— Ué. Não estou. Apenas é uma pergunta. Curiosidade. Você passa seus
dias enfiada num macacão?
Dou um suspiro de alívio quando ouço um barulho na porta, então
rapidamente acendo as luzes das velas em cima do bolo e, depois de uns
segundos, meu pai aparece.
Começo a cantar os parabéns sozinha e o sorriso que ele dá não poderia
me fazer mais feliz nem que qualquer dinheiro no mundo.
Parece que fiz algo certo dessa vez.
Capítulo 5
Já faz mais de uma hora que estou na casa do Theo e me impressiono por
não ter vontade de ir embora de um lugar assim. Sim, porque não tem música,
não tem umas dançarinas, umas bebidas energéticas, nada disso. Tudo que
vejo é um homem mais velho, com uma senhora e uma garota que não faz
nada além de perguntar se queremos mais alguma coisa e estar sempre indo
de um lado para o outro.
Quando o assunto dos mais velhos se torna absolutamente chato demais
para eu ouvir, peço licença e entro na casa, onde acabei de ver a aparente
doida entrando com o bolo.
Ela está guardando na geladeira.
— Não se coloca bolo na geladeira — aviso.
Seu olhar encontra o meu rapidamente e resolvo me calar, então uma
mesinha no canto chama minha atenção, onde vejo um monte de livros em
cima juntamente com canetas coloridas.
Me aproximo e observo os exercícios de algumas folhas feitos.
— São seus? — pego um livro fino.
— Sim — a garota rapidamente tira da minha mão. — Mas não são da
sua conta.
— Eu sei, só perguntei. Está estudando para provas? Estuda o quê?
Ela arruma tudo rapidamente, parecendo meio nervosa.
— Não estudo ainda. É para uma prova. Só um teste.
— Hm — resolvo me calar, pois não parece algo que ela goste de falar.
— Onde você comprou esse bolo, aliás? Estava uma delícia.
— É mesmo? — Agora eu tenho sua atenção e ela parece surpresa. —
Foi eu quem fiz.
— Foi? Então, parabéns. Gostei muito.
Um milagre, eu não sei, mas o sorriso que aparece em seu rosto me faz
ficar parado e estagnado, incapaz de não admirar a coisa linda que é.
— Legal — ela balança a cabeça, então desvia o olhar e põe o cabelo
atrás da orelha. — Legal que alguém que não meu pai tenha gostado.
Sorrio também, gostando do jeito que ela fica.
— Você só cozinha para ele?
— Sim, somos só nós.
— Uns amigos não vêm aqui fazer umas bagunças?
— Não — dá uma risadinha. — Quer dizer, eu tenho uma amiga ou
duas. Mas elas tem coisas para fazer, não sobra muito tempo para vir aqui.
— Ah, qual é! Que tipo de amigas são elas que não aparecem pra te ver
e sujar a casa com chocolate?
— Apenas pessoas — ela se encosta na mesa. — É difícil. O que
importa é que consegui fazer meu pai ficar feliz. Não sei nem porque estou
conversando com você.
— Apenas conversando, relaxa — puxo uma cadeira da pequena mesa
de duas pessoas e me sento. — Você tem irmãos? Não, né?
Ela parece incomodada com a pergunta, então se remexe, ajeitando o
vestido que é uma graça. Não é nada adulto. Parece de uma menina. Cheio de
uns babados. Como algo antigo.
— Não, sou filha única — ergue os olhos rapidamente, mas desvia ainda
mais rápido. — Meu pai queria mais uns filhos, mas nem deu.
— Ah, entendi.
A mãe deve ter morrido. Que barra. O que seria de mim sem minha
mãe? Ou dos meus irmãos? Do meu pai? Nem um de nós estaria funcionando
direito.
— É... — ela suspira. — Você já pode ir. A festa acabou.
— Maior festa rolando ainda. Não vou agora. Aquele casal lá
arrebentando e você me expulsa? — gesticulo em direção à varanda.
Ela ri. É de verdade.
— Eu acho que ele se divertiu — ela olha para a parede, parecendo
pensativa. — Se não fingiu para me agradar, realmente se divertiu.
— O que ele tem?
— Não sabemos — balança a cabeça. Parece decepcionada e triste. —
Eu penso em algo que se desencadeou psicologicamente. Mas, sei lá, ele não
quer fazer o exame que vai dar o diagnóstico exato. Prefere assim.
— E isso te incomoda?
— Sim, porque eu não sei o que pode acontecer. Ele não me fala
exatamente o que sente — ela me olha. — Me sinto de mãos atadas. Tenho
medo. Muito medo. Acordar um dia e ele não… penso em várias coisas e isso
me desgasta.
— Que complicado — coço a nuca. — Essas coisas são meio barra. Não
saberia lidar com isso.
— Eu não posso fazer nada — ela agarra as mãos uma na outra. — Só…
sei lá. Queria que fosse diferente. Fosse um rumo diferente... Mas não é.
— Sei… — Mas eu não sei.
— Desculpa, estou desabafando para você. É sem querer.
— Tá beleza. Eu sou um bom ouvinte. Não falo muito o que preste, às
vezes, mas ouço de boa.
Ela sorri de novo.
— Você tem quantos anos? — quer saber.
— Vinte e quatro. A disposição ainda é ótima, o corpo é de vinte e a
mente — finjo pensar —, minha mãe diz de sete, mas garanto que é de trinta.
Seus olhos se estreitam, mas ela parece sorrir mais.
— Samantha, eu vou acompanhar a Janet até o mercado para umas
compras. Não me espere acordada — o Theo aparece e avisa, então me olha,
sorrindo. — Obrigado por vir, Sr. Mackenzie. Quer nos acompanhar?
— Sim, ele quer — a garota fala.
— Não, na verdade. Eu vou ajudar sua filha com as louças da festa, se o
senhor não se importar.
Ele estreita os olhos, mas quando a olha e vê sua expressão chocada,
parece concordar.
— Tudo bem. Não me incomodo.
— Não, pai! — ela protesta.
— É até bom que você não fica sozinha — ele solta um beijo no ar para
ela. — Vá dormir não tão tarde.
Eu sorrio, os observando sair, então reclamo quando sinto um ardor no
ombro.
Não acredito que levei um soco!
Capítulo 6
Estou terminando de carregar os azulejos que não serão usados mais para
o caminhão, quando vejo o bonito carro estacionar. É mesmo bonito e
prateado. A estampa do luxo. Me vejo parada, olhando e admirando. Meu pai
sempre quis ter um bom carro. Nunca pôde.
Logo minha atenção é dispersada, porque a porta se abre e o Sr.
Mackenzie aparece. E como aparece. Ele sorri e tira os óculos escuros, então
bate a porta e caminha em minha direção.
— Bom dia — está simpático e isso me impressiona. — Como você
está?
— Bem.
— Licença — ele fala e guarda o óculos dentro do paletó, então pega o
azulejo da minha mão e leva-o para o caminhão. — Pesado isso aqui.
Fecho a boca, que percebi estar aberta.
— O que aconteceu? — questiono.
— Nada, por quê?
— Você está de bom humor.
Suas sobrancelhas se arqueiam.
— E isso é um problema? O bom humor das pessoas te afeta?
— Não. Estou falando de você. Tem chegado aqui sempre carrancudo.
— Eu? — Ele parece chocado, levando as mãos ao peito, o que me faz
rir pela cena dramática. — Logo eu? Jamais! Você que estava me desafiando
e, bom, não se desafia um Mackenzie — sorri.
Estreito os olhos.
— Você é sempre tão prepotente?
Ele dá de ombros.
— É natural — põe as mãos nos bolsos da calça. — Ó, deixa eu te
perguntar uma coisa?
— O quê? — cruzo os braços.
— Você andaria a pé por gostar de alguém?
— Quê?
— Tipo — gesticula com uma mão —, supondo assim, que você
gostasse de mim, daí nós sairíamos um dia, só que meu carro estaria sem
funcionar. Aí eu falaria, "ei, gata, vamos a pé". Você iria, por gostar de mim?
Dou um riso inevitável.
— Sim, eu iria. O que tem andar a pé?
— Sei lá. A Jennifer não iria. Disse que eu teria que chamar um táxi.
— Bem, então ela é uma fresca e egoísta — faço careta, não gostando de
ele sempre ter que falar dela.
— Pode ser. Eu não ligo. Como vai seu pai?
Como assim ele não liga? Eu gostaria muito de saber por que ele ainda
fica com uma mulher assim.
— Bem. Você não se dá seu valor.
— Oi?
— Sim, é isso mesmo. Você fica com essa garota e ela não faz caso de
você. Fica só te usando como se fosse um boneco pra ela. Isso é tão nítido
que eu nem preciso te conhecer para falar.
O Sr. Mackenzie parece bastante surpreso.
— Por que está me dizendo isso?
— Porque eu falo o que vejo — deixo-o onde está e caminho de volta
para onde estão as outras cerâmicas.
— Isso foi bem doloroso. Eu ser usado? — ouço sua voz está atrás de
mim e aproveito para sentar no chão, recuperando um pouco o fôlego.
— Sim — olho-o de baixo, sua proximidade e tamanho me deixando
intimidada. — É o que é, e as coisas são como são. A menos que esteja em
seu poder mudar e você não o tenha feito porque gosta do que está passando.
— Garota, eu não sou usado, é apenas a forma como a Jennifer lida
comigo.
— Se você diz — dou de ombros.
Olhando para cima, no céu, eu vejo as nuvens escuras começando a
aparecer e estimo uma chuva torrencial. É o momento que eu só desejo minha
cama e uma xícara de chocolate quente, acompanhados de um filme bem
meloso para eu chorar.
— Do que você está rindo? — ele pergunta.
— Não estou rindo — nego.
— Sim — me assusto quando se senta ao meu lado. — Você olhou o
céu e riu.
— Lembrei de uma coisa.
— Você já se apaixonou?
Olho-o, surpresa com a mudança abrupta de assunto.
— Já — assinto. — Uma vez com doze, outra com dezessete. A última
foi ruim.
— Por quê? Quem se apaixona com doze anos?
— Eu. Era o entregador de encomendas da vizinhança. Ele tinha quinze
anos — rio. — Nunca nem me olhou. O último foi o Jonas. Ele tinha vinte.
Eu era apaixonada que doía. Sabe, ele era carinhoso e gentil, mas no fim de
tudo, só acho que era porque queria que eu… — balanço a cabeça. — Você
sabe. Me entregasse para ele.
— E você caiu nessa?
— Sim, é um lamento. Mas, eu estava apaixonada e ele me convenceu
que sentia o mesmo. Sentia… — rio de novo, mas é de desgosto. — Ou
talvez eu só estivesse arrumando uma desculpa para transar. Quem vai saber?
Depois eu fiquei triste quando ele terminou comigo e dormi com o melhor
amigo dele, que filmou e enviou para ele. Essa parte eu não sabia. Ele
apareceu lá em casa e me chamou de vagabunda. Apanhou do meu pai e eu
nunca mais o vi. Uns meses depois, namorei com um policial. Foi totalmente
carnal. Eu estava ciente disso. Só gostava do uniforme. Enjoei e terminamos.
E foi isso — suspiro, pegando uma grama do chão.
Quando o silêncio impera por muito tempo, eu o olho, estranhando.
O Sr. Mackenzie está perplexo.
— Filmaram?
— Sim.
— O que você fez sobre isso?
— Nada — dou de ombros.
— O quê!? — ele quase grita. — Você não sabia e ficou por isso
mesmo?
— O que eu ia fazer?
— Não sei! — ele levanta. — Isso tá muito errado! Você pode estar por
vários lugares e não sabe!
— Não ligo.
— Não liga?
— Por que você está tão chocado?
— Porque isso é crime! E você está fazendo absolutamente nada a
respeito. É você!
— Tanto faz — me levanto também e pego outra cerâmica. — Eu tenho
mais o que fazer agora, Sr. Mackenzie. Até mais.
Ignoro-o e vou para o caminhão.
O que me deu na cabeça para contar uma coisa dessas? Por acaso
estou louca?
Capítulo 8
— Olha isso. Você acha que vai dar certo? — eu ouço uma voz ao longe,
mas nada muito nítido. — Brandon? Estou falando com você. Pode ao menos
fingir prestar atenção?
Silêncio.
Silêncio.
Ruídos.
— O que houve? — insistem. — Você está passando mal? Precisa de
ajuda?
Ajuda. Essa é mesmo a palavra que eu busco.
— Preciso — olho para o Ethan. — Preciso muito. Lembra quando você
comentou que conhecia um chefe de segurança?
— Sim, o que tem uma Empresa e comprou ações conosco.
— Ele! — me levanto. — Eu quero entrar em contato com ele ontem.
Pode arrumar isso pra mim? Por favor, é claro. Mas é urgente.
— Você está em perigo?
— Eu não — quase rio. — Mas alguém está, sim. Arruma isso para
mim, por favor. Agora.
Ethan parece um pouco perdido, mas logo pega o celular de dentro do
terno e vasculha sua lista de contatos. Um número me é passado em instantes
e, sem que eu me dê conta ou perceba, estou saindo da sala em direção ao
meu carro.
Ainda dentro do veículo, conecto o headphone e faço a ligação. Uma
voz nebulosa e grave me atende, se apresentando como Francis.
— Bom dia. Sou Brandon Mackenzie — e é só o que preciso dizer para
que o endereço me seja passado sem hesitação e prontamente.
Isso está muito errado e definitivamente não vai ficar assim.
Não comigo sabendo.
ѾѾѾ
Está quase escuro quando, não resistindo, eu desvio o caminho e vou para
minha futura casa. Sei quem eu vou e quero encontrar. Não parece certo, mas
também não parece errado. E, mesmo que fosse, desde quando eu me
importo?
Respiro fundo ao estacionar, talvez algum lampejo de culpa acendendo
em mim pelo que fiz, mas não podia ficar de mãos atadas. Crime é crime.
Eu não poderia. De jeito nenhum. Minha mãe e minha irmã. Minhas
sobrinhas. Céus. Se fosse com elas? Isso dói só de imaginar.
Saio do carro e enfio as mãos nos bolsos da calça, meio nervoso e
inquieto. Provavelmente a culpa está estampada no meu rosto, mas não irei
me arrepender. De nenhum jeito.
Caminho pela trilha que me leva até os fundos da casa, então a vejo. Ela
está limpando a varanda. Não consigo acreditar. Ainda estou abalado.
Como poderia imaginar que alguém que parece tão angelical teve algo
assim acontecendo consigo? É tão surreal que uma ânsia de vômito me atinge
e eu preciso parar e respirar fundo novamente. É catastrófico.
— Oi — a voz dela vem trazida pelo vento e tem um tom de riso. — Por
que ficou parado aí?
Olho-a um pouco de longe e aceno, então retomo os passos.
— Oi. Eu trouxe uma coisa para você — puxo a trufa do bolso e estendo
a ela. — Comprei pra mim e pensei em você.
Ela sorri e aceita, agradecendo com um aceno de cabeça.
— Obrigada, Sr. Mackenzie. Muito gentil.
— De nada — me apoio no corrimão. — Você já está acabando aí?
— Estou. Meu pai foi embora mais cedo. Estava com uma baita dor no
ombro. Demorou para convencê-lo, mas consegui — seu sorriso é meio
forçado dessa vez.
— Quer carona?
— Não, eu vou andando. Gosto de pensar durante a caminhada.
— Ótimo. Vamos pensando juntos.
— Não dá para fazer isso juntos — ergue as sobrancelhas.
— Pensamento telepático, gatinha.
Ela ri e guarda a trufa no macacão.
— Eu não estava querendo ir para casa hoje, para falar a verdade — seu
olhar esmorece.
— Por que não?
— Sabe o lance de "as aparências enganam"?
— Sei.
— Bem, é o que é. Meu pai parece legal, mas não sempre. Hoje ele está
zangado pela dor e sei que vai descontar em mim — ela respira fundo. — Eu
tento ser uma boa filha, mas nunca sou suficiente — encolhe os ombros
visivelmente. — Ele costuma me dizer quando está assim que nunca quis ter
filhos, mas aceitou por minha mãe e, no fim, nem ela me quis.
Eu fico parado, impactado e descrente.
— Sabe, às vezes eu acho que perco tempo tentando impressionar ele.
Nunca valeu. Ele nunca viu. Quando aconteceu o lance do vídeo e ele soube,
eu também apanhei — ela abaixa a cabeça. — Parece que foi a única forma
de ele me notar. Falou por dias. Me xingou e disse que eu era culpada. Eu sei,
era, mas precisava de um apoio. Quase fiz besteira, mas não valia a pena —
um pequeno silêncio impera e, quando ela olha para mim novamente, preciso
me lembrar como respirar. — O que vale a pena, não é mesmo?
Estou mudo.
Capítulo 9
ѾѾѾ
— Eu gosto dessa música — falo quando o Sr. Mackenzie liga o som do
carro. — Adoro, na verdade.
— Gosto não. Minha irmã que colocou. Falei pra ela selecionar umas
músicas boas, ela me colocou essas purpurinas.
— Como você pode não gostar? — Pareço surpresa e estou. — Olha que
letra... Não desistirei de nós. Ainda que os céus fiquem violentos, estou lhe
dando todo meu amor... É tão linda.
Ele ri. Um riso contido.
— O que foi? — questiono.
— Você canta mal pra caramba. Sem ofensa.
— Eu sei — também rio. — Prometo não cantar mais.
— Fica à vontade, mas, ó, avisa pra eu tapar as orelhas.
— Engraçado.
Ele ri mais.
— Brincadeira. Você é romântica?
— O que é isso?
Nós rimos.
— Eu sou — ele fala meio cabisbaixo, o sorriso morrendo aos poucos.
— Mas, sei lá, não sei se vale a pena, sabe? — me olha rapidamente. — Isso
de ser amoroso e tal. Eu sempre me dei mal, por isso tentei deixar de ser.
— E você conseguiu?
— Não. Arrumei a Jennifer.
Aperto as mãos uma na outra, não gostando de ele ter mencionado a
namorada. Certo. É namorada dele e eu sou a errada por estar em seu carro,
mas, eu não sei, não parece certo lembrar dela.
— O que tem ela?
— Ela não deixa meu lado romântico aparecer — ele sorri entre uma
respiração funda.
— E isso é bom?
— Não sei — balança a cabeça. — A maior parte do tempo eu sinto que
falta algo, a outra parte não faz sentido, no meio termo estamos na cama. É
um loop: ela me vê, cama, passeio em algum lugar, cama, me vê, vamos pra
tal lugar. Percebe? Eu nem o que falar tenho. Não sei nem qual o nome dos
pais dela. Ela ao menos me deixa vê-los.
— Você fica triste com essas coisas?
— Não — ele faz uma curva e nos leva a um estacionamento
subterrâneo. — Não sei, quer dizer. Nós namoramos, mas é cada um na sua
própria vida. No próprio mundo. Não tem nada que possamos dizer, "é
nosso". É… no mínimo, estranho.
— Entendo.
— Não é uma comparação, gatinha — ele estaciona e me olha, tirando o
cinto.
— Não achei que fosse.
Um sorriso surge em seus lábios e ele desliga o som, se inclinando em
seguida em minha direção.
Acho muito próximo e me esquivo.
— Só ia abrir a porta — dá uma risadinha. — Pra economizar dar a
volta. Vamos. Eu moro na cobertura.
— Por que não estou impressionada?
— Porque você é difícil de impressionar, talvez.
Sorrio e saio do carro, o acompanhando para o elevador em seguida.
Ele anda impecavelmente lindo, isso eu devo admitir. Passos firmes e,
de quebra, seu corpo também é muito bonito. As pernas quase esticando o
tecido da calça. Os ombros largos. Os cabelos são lisos e castanhos, não
arrumados e nem bagunçados. Seus braços são do tamanho certo, em uma
extensão de músculos. O quadril estreito. Ele é alto. Presencial. De uma
beleza puramente masculina.
— Você come o quê? — questiona quando aperta o botão do painel
quando entramos. — A gente pode pedir pizza. Hoje é a promoção. Pede
duas, leva quatro. Uma vez, comi as quatro sozinho.
Dou risada.
— Você aguentou?
— Aguentei. Dava pra uma quinta, mas não quis arriscar — sorri e se
encosta contra a parede ao lado do painel, de frente para mim. — Você gosta
sexo calmo ou selvagem?
— O quê?
— Brincadeira, brincadeira — ri. — Só te dando um susto pra saber se
você tá prestando atenção no que digo ou pensando no esporro do seu pai.
— Engraçado.
— Sou trabalhado na descontração, gatinha — pisca para mim e
instantes depois as portas se abrem e ele se desencosta da parede,
gesticulando para eu ir à frente.
Andamos um pouco até uma porta. A única. Ele a abre, assobiando.
— Bem-vinda ao meu lar e a partir daqui eu sou Brandon, nada de Sr.
Sorrio e dou um passo para dentro, mas quando sinto o cheiro que
emana, tenho plena e absoluta certeza de que vou me arrepender. Tem
puramente o seu cheiro.
— É sua? Sozinho? — olho em volta.
— Toda minha — ele confirma e aparece à minha frente, já sem o paletó
e com a camisa azul aberta.
Muita certeza, com certeza.
Capítulo 10
É uma coisa estranha, sim, uma mulher em minha casa — que não seja
Jennifer e nem uma da minha família. Não sei, mas parece que não é errado.
E, mesmo que seja, eu não estou ligando.
— Então, vamos até, hm, o quarto de hóspedes? — pergunto.
— Ahn… Pode ser. Quer dizer — Samantha gesticula —, seria legal que
você colocasse uma blusa, sabe? É menos desconfortável e não me sinto tão
errada.
— Por que você se sentiria errada? Relaxa, você está na casa de um
amigo e vamos fazer coisas que amigos fazem.
— Você não é meu amigo.
Finjo sorrir, mas a verdade é que me magoou.
Poxa, eu sei, não somos, mas, precisa ser tão dura?
— Claro que somos — pisco pra ela e aponto o corredor à direita. — Os
quartos. Vem, por aqui.
Saio na frente, guiando o caminho, até chegar a um dos quartos de
hóspedes. Me serviram muito quando eu dava umas festas loucas, mas, agora,
isso perdeu a graça. Acho que foram tantas que o gosto acabou. Gostaria que
Jennifer entendesse isso, mas não rola.
— Aqui — abro uma porta e entro, olhando para trás e vendo minha
convidada me seguir. — Você dorme aqui. Ó, privacidade total. Vou dar a
chave na sua mão. Tenho que te emprestar uma roupa, né? Beleza. Esse
banheiro tem banheira. Fica à vontade, a casa é nossa.
Ela ri, apoiando o peso do corpo de um só lado.
— Você está sempre enérgico assim?
— Sempre e todo dia — sorrio. — Aqui é atividade contínua, gata.
— Claro — sorri. — Vou aceitar sua roupa emprestada, já que estou só
com essa.
— Beleza. Vou buscar. Pode tomar banho enquanto eu vou lá. A chave
tá na porta — aviso e passo por ela, saindo para meu quarto.
Dou uma olhada nas minhas roupas e pego uma camisa azul para ela,
parando no caminho de volta quando meu celular toca no meu bolso. Escoro
na parede do corredor para atender, já respirando fundo quando vejo que é
ela. Jennifer.
— Alô?
— Oi, gostoso! — ela dá um grito e uma risada. — Sabe onde estou? No
playground. Vem me buscar.
— Onde é isso?
— No-no… Festa! — outro grito, me fazendo afastar o celular do
ouvido. — Vem logo, amor! Eu quero você!
— Não posso agora, Jennifer.
— Se você não vier, eu vou chorar.
Amaldiçoo interiormente, então pego o endereço com ela e desligo o
aparelho.
Respiro fundo enquanto caminho de volta ao quarto, muito desnorteado
de repente com o imprevisto. Droga. Tão desnorteado que abro a porta de
uma vez, dando de cara com Samantha nua.
Ela grita. Eu congelo.
Puta merda.
— Viraaaaaa — ela berra. — Merda, vira pro outro lado! Logo!
Não sei nada muito bem, só que ela está tentando se tapar com as mãos
e, graças a Deus, não está obtendo qualquer êxito.
— Brandon, vira! Droga! — corre até a cama e pega as roupas, se
cobrindo mais ou menos. — Você não sabe bater?!?
— Eu sei que você parece uma escultura. Meu Deus. — Estou babando.
Certeza que estou. — Você é muito linda.
— Droga, droga, droga — ela está vermelha. — Você… era para ter
batido!
— Não era — passo a mão na boca. — Nossa.
— Para.
— Olha, eu... A blusa — caminho até ela, entre uma respiração
profunda. — Eu vou dar um pulo no supermercado, volto em uma instante.
Fica tranquila que ninguém vem aqui.
— Ah, sério? — ela puxa a blusa da minha mão. — Não devo esperar
que outra pessoa entre abruptamente? — ironiza.
— Bem, em minha defesa, eu disse que a chave estava na porta.
— Engraçado.
— Eu sou — sorrio, não resistindo a descer meu olhar, querendo ver
outro pedacinho de pele. — Se eu não fosse comprometido... — limpo a boca
de novo. — Esse prédio ia cair — olho seu rosto.
Ela arregala os olhos e abre a boca.
— Você não tem vergonha?
— Não tenho — sorrio. — Eu sou sincero. Você me atraiu demais.
Bom, já volto — caminho para fora —, e tranque a porta. Por via das
dúvidas.
Saio porta afora, querendo logo me livrar da Jennifer ou seja lá onde ela
está.
ѾѾѾ
— Para com isso. Eu não tô nada — digo, já irritado com a mulher
aparentemente agitada demais ao meu lado.
— Você está, sim, Brandon! Eu quero que você me coma agora!
— Jennifer, eu já disse que não. Não quero.
— Desde quando você não me quer? — ela bate no meu braço.
— Eu tô dirigindo! Para com isso.
— Me come! É uma ordem!
— Você não manda em mim, Jennifer. Sossega.
— Você não me quer… — ela começa a chorar. Um choro mais falso do
que ela mesma. — Vai me deixar triste? De propósito? Você vai ser idiota
assim comigo, Brandon?
— É ser comida que você quer? — me irrito, estacionando no primeiro
lugar deserto que encontro. — Sai do carro.
Ela dá um risinho e obedece.
Já estou mesmo fora de controle, então dou a volta e chego até ela.
Encosto-a no carro e ataco sua boca com um beijo doloroso.
— Gostoso! — Jennifer arfa, se afastando para desabotoar minha blusa e
imediatamente desafivelando meu cinto.
Eu sei que eu sou gostoso. Me vejo todos os dias no espelho.
— Ajoelha e me chupa — ordeno. Ela obedece de imediato, me olhando
de baixo e dando um sorrisinho.
— Você todo sério assim, só dá mais tesão — diz, antes de me enfiar até
o fundo da garganta.
Apoio as mãos onde dá e fecho os olhos, exalando a respiração. Era
disso que eu precisava depois de uma cena daquelas.
Merda.
Não.
Jennifer me lambuza com a boca por um tempo e se levanta, ao mesmo
tempo que ergue a saia e tira a calcinha rapidamente, me deixando
desapontado.
Não poderia ter mais uns toques?
— O que foi? — pergunta.
— Nada — desdenho e seguro sua cintura, a virando de costas. Ela dá
um grito e espalma as mãos sobre a superfície da janela, empinando-se para
mim.
Tiro do bolso a camisinha que peguei rapidamente no porta-luvas antes
de deixar o veículo e coloco. Então agarro suas pernas e levanto-as, até meu
pau entrar de uma vez dentro dela, que cai para a frente.
Ela geme alto, enquanto estoco sem piedade.
Estou alucinado, sim, mas não é Jennifer que aparece para mim, e sim
Samantha. É a imagem dela que estou vendo e isso é a maior merda que eu já
posso ter imaginado acontecer.
Isso é tão absurdamente errado e me faz parecer um desgraçado.
— Mais rápido! — grita.
— Eu dito a velocidade — rosno e ela leva um tapa na bunda, gritando
de prazer.
Me apoio melhor e invisto com força, sem parar, sentindo o suor
escorrer por dentro da blusa e do colete. Jennifer se abre mais e, quando
menos espero, se treme toda, espremendo meu pau num orgasmo longo. Me
libero, inconscientemente.
Alguém me fala por que infernos isso não durou nem cinco minutos
direito?
Me afasto, resignado e contrariado.
Ela geme, escorada no carro, ofegante.
— De novo — pede.
— Sinto muito, delicinha — me livro da camisinha, jogando no lixo ao
outro lado da estrada. Guardo meu pau na cueca e fecho a calça. — Hora de
vazar.
— Não consigo andar — ela choraminga, manhosa.
Reviro os olhos.
— Tudo bem. Fique aí, então — dou meia volta e entro no carro.
Samantha me fez gozar.
Como vou olhá-la depois disso? Como?
— Você é um gostoso — Jennifer diz, tomando seu assento.
Ligo o carro e nos tiro do meio da estrada, já não aguentando ouvir a
voz dela.
Afinal, Samantha está me esperando.
Capítulo 11
ѾѾѾ
Quando chego em casa, por volta das dez da noite, estranho muito ver
tantas luzes acesas. É bem estranho mesmo porque meu pai sempre apaga
todas.
— Ei, Samantha — eu ouço sua voz assim que piso na nossa pequena
sala. Olho para o lado e o vejo sentando em sua poltrona. — Onde estava?
— Fui comer uma pizza com o Sr. Mackenzie — respondo
sinceramente, porque foi mesmo isso.
— Não basta o que aconteceu da última vez? Você ainda tem que ficar
andando com homens a essas horas da noite? — ele se levanta.
Exalo um suspiro.
— Eu estava faminta e ele me convidou, pai…
— Ah, é mesmo? — se aproxima, o olhar e tom nada amistosos. —
Você estava faminta? Por acaso nós não temos o que comer?
— Temos, mas eu pensei que...
— Sim, você pensou que poderia dormir com um homem rico e ganhar
dinheiro de alguma forma — agarra meu braço e sacode. — Eu não te criei
para ser uma vagabunda, você está me ouvindo?
— Ai, pai! Está me machucando! — Tento puxar o braço, mas ele só
aperta mais. — É sério!
— Eu não quero que você difame o meu nome por aí! Está proibida de
voltar ao trabalho comigo, me ouviu? Vai ficar em casa e fazer trabalho de
mulher, não ficar pulando de cama em cama como uma cadela no cio.
Ele deve estar bêbado ou apenas estressado pela sua frustração.
Meus olhos se enchem d'água e eu mordo o lábio para não chorar. Não
aqui. Não com meu pai me machucando.
— Some da minha frente! — ele me empurra pelo corredor. — Vai fazer
algo que preste.
Sinto meu corpo estremecer e então vou para o meu quarto, onde tranco
a porta e me jogo na cama, me encolhendo sobre o colchão e fechando os
olhos, fazendo uma contagem mental.
Mas, somente uma coisa vem à minha cabeça: ele. Brandon. E o seu
beijo.
Aperto bem os olhos, tentando relembrar o momento, que vem
carregado de alívio, paz, amargura e dor. Uma sobrecarga de emoções
infindáveis.
Meu pai tem razão. Ele jamais poderia me querer por qualquer motivo
que não minha aparência. Eu sou pobre e corrompida. Ele jamais me viu com
outros olhos a não ser os de A Garota do Vídeo Pornográfico.
Por isso ele me beijou. Por isso sentiu desejo por mim. Por isso me viu
com outros olhos.
Sim, agora faz sentido.
Faz muito sentido.
Capítulo 13
No terceiro dia que vou até à obra e não vejo Samantha, sei mesmo que
existe algo errado. Não sei se me sinto preocupado ou aliviado. Sim, pode ter
em muito a ver comigo, mas eu não acho mesmo que ela é o tipo de mulher
que desvia do caminho com outra pessoa por conta de um beijo.
Um beijo. Não. Foi melhor que isso. Pareceu melhor que qualquer beijo.
Ela derreteu, eu quase pude me alegrar por isso, então tive que vê-la sair
daquele jeito. Apressada e desesperada. Pra longe de mim. Sou todo
decepção.
Mas também, o que eu esperava? Que ela se entregasse a mim? Não.
Nós nem nos conhecemos e isso seria completamente grosseiro de minha
parte, tendo em vista o que ela já passou. O que já fizeram com ela e que, por
algum motivo, me enche de horror e raiva.
Balanço a cabeça e volto ao meu carro, sabendo pra onde ir. Sim, sei
onde ela está. Talvez esteja se escondendo, o que acho muitíssimo
improvável. De qualquer forma, piso no acelerador e dirijo para sua casa.
Nessa hora, o meio do dia, o tráfego é flexível. Não tenho nenhum
estresse para chegar no pequeno quarteirão. A casa dela está bem de encontro
à primeira rua, então estaciono perto da calçada e desço.
É horrível eu admitir que, depois que vi Jennifer apagada em meu sofá
de tão bêbada, eu quis imediatamente procurar uma dose também. Qualquer
bebida alcoólica que fosse. Como se isso fosse me limpar ou aliviar. Não ia.
Sei que não.
Não bebo faz muito tempo. Tanto tempo. Mas eu quis isso. Naquela
hora, quando as coisas pareceram desandar e sair do controle, eu quis muito.
Agradeço não o ter feito. Eu realmente posso perder o controle quando isso
acontece.
Respiro fundo e atravesso a rua, então vou até a porta, batendo três
vezes seguidas para me certificar que serei ouvido. Ela não pode estar em
outro lugar, pode?
Não. E tenho mais certeza disso quando ouço algo cair dentro da casa.
Logo depois, o ruído da chave girando na tranca e a porta é aberta.
Samantha parece triste, não surpresa ou espantada. Triste é tudo que
descreveria seu semblante.
— Oi — eu digo, completamente sem saber como proceder. — Eu
soube que você não vai mais com o seu pai.
— Não — sua voz é um fio, então olha além de mim, como se
procurando alguma coisa. — Ele te mandou vir?
— Não — é inevitável que meu olhar não abaixe, então algo me chama
atenção em seu braço. Isso são marcas. Azuladas. — Você se machucou lá?
Foi isso? Por que não me disse?
Ela solta a porta e tapa depressa o hematoma, balançando veemente a
cabeça de um lado para o outro.
— Não, não me machuquei. Isso não é nada.
— São manchas, hematomas — dou mais um passo à frente. — O que
aconteceu? Você caiu?
— Não, Brandon — ela parece assustada agora.
Fico parado, analisando o que ela está querendo me dizer, mas não pode
ou não quer. E nem consigo desvendar.
— O que está fazendo aqui? — questiona.
— Não te vejo há três dias por lá e, levando em conta o jeito que saiu da
minha casa, pensei que pudesse ter algo a ver, ao mesmo tempo que não —
me apresso em colocar. — Tipo, não sei, eu ter algo a ver. Ou o que fiz. Eu
só faço merdas mesmo.
Ela abaixa a cabeça, então suspira.
— Não tem a ver com você, certo? Só não irei mais. Decidi que não é
legal e…
— Como decidiu? Você discutiu comigo por isso. Você queria trabalhar
lá para ajudar seu pai e agora, depois que nos beijamos, diz que não é legal?
É mesmo por minha culpa, não é? Você não quer mais me ver.
— Não. Isso que está fazendo é drama. Não tem a ver com você. Eu só
decidi.
— Decidiu depois que nos beijamos. Você sentiu o mesmo que eu, não
é? Você gostou.
Samantha balança a cabeça novamente, em negativa.
— Não, você não sabe o que está falando — discorda. — É melhor você
ir embora. Estou ocupada estudando.
— Vamos marcar de estudar juntos. Eu já passei pelo que vai passar,
minhas notas foram altas e…
— Não, adeus — então bate a porta na minha cara e ouço o barulho da
chave, trancando-a novamente.
Dou um passo para trás, uma dor esquisita me atingindo e eu demoro
uns segundos a sair do lugar.
Não acredito que vim atrás de uma mulher e ela me negou. Isso é tão...
surreal.
Quando já estou dentro do carro, recebo uma mensagem. É do Chefe de
Segurança e ele tem novidades.
Sim, alguém vai pagar por ter feito a doce Samantha sofrer.
Capítulo 14
ѾѾѾ
Voltei para o trabalho, mas não consegui estar nele. Minha cabeça estava
estacionada na decepção que foi saber que todos têm acesso a ela. Isso nem
faz sentido. Eu estar assim. Mas… é ela.
Agora, teimosia ou não, estou de volta aqui. Nessa rua calma e tranquila.
Em que ela mora. Por que pareço mais retardado que o normal?
Respiro fundo já de frente para a porta e, quando levanto a mão para
bater, ouço um grito.
— Não fiz, pai!
É ela e está… chorando?
Coloco a orelha na porta, para ouvir melhor.
Ouço uns barulhos abafados. São coisas caindo. Ao mesmo tempo que
dá para ver sombras na janela ao lado se movimentando através das cortinas.
Estranho.
— Eu sei que você fez! — A voz do Theo, carregada de raiva. — Você
é uma imbecil! Nem para prestar atenção!
Estreito os olhos. Isso está parecendo uma briga.
Uma parte de mim diz que é errado eu estar aqui ouvindo; mas, a outra
parte não sensata, insiste que eu fique e descubra do que se trata.
— Mas eu não sabia que ia quebrar… — Samantha grita, seguido de um
lamento em aparente dor.
— Para de correr e volta aqui, sua vadia!
Então toda a raiva volta. Em um tempo que é tão imediato, que eu não
sei bem o que faço quando empurro a porta com tamanha força que ela abre,
batendo contra a parede e fazendo o caminho de volta, mas impeço
estendendo a mão.
Meu olhar serpenteia pela cena, até que vejo ela e tudo se resume só a
ela.
Samantha está estagnada, de pé, abraçando o próprio corpo, enquanto
Theo está com um fio. É um fio em suas mãos, eu estou vendo. Está mirado
em direção a ela.
Nenhum dos dois tem qualquer reação, mas eu sim.
— Que porra é essa? — eu pergunto, não sei se perplexo ou curioso.
— Sr. Mackenzie? — A voz dele muda completamente, mas meu olhar
está nela, que não esbanja alguma reação, a não ser os olhos arregalados e o
corpo trêmulo.
— Samantha? — Estou questionando e ela parece entender quando solta
os braços ao lado do corpo e então eu vejo. Marcas e muitas marcas.
Vermelhas e quase sangrando. Ela está respondendo sem precisar falar. —
Deus!
Meus passos apressados simplesmente me levam até ela e, quando estou
perto o suficiente, agarro suas mãos e as levanto, para crer realmente no que
estou vendo.
— Ele te bateu? — Não sei por que estou perguntando o óbvio, mas ela
cai num choro tão profundo que sou incapaz de não puxá-la para mim, e
Samantha aceita, me deixando aninhá-la em meus braços.
Olho para Theo, que soltou o fio.
— Você bateu nela? Bateu na sua própria filha? — Não estou chocado,
estou com raiva. Muita raiva. Prestes a voar em cima dele. — Está louco,
Theo?
— Eu não sei o que fiz — ele dá um passo para trás, fingindo
arrependimento. Claro que fingindo, porque alguém que faz isso com um
filho é incapaz de saber o que é se arrepender.
— Você vem comigo, Samantha — eu digo em alto e bom som. — Só
não te denuncio não sei nem por quê — olho para ele, deixando clara minha
raiva.
Samantha não rebate, o que é uma maravilha, então levo-a comigo para
o carro. Ela está tão trêmula que nem sei. Nunca lidei com isso. Uma mulher
chorando por dor e não por manha.
Ajudo-a entrar no carro e ponho seu cabelo atrás da orelha, segurando
seu queixo e virando seu rosto para mim.
— Vai ficar tudo bem — garanto, não sabendo bem por que digo isso.
— Você está comigo agora.
Ela está?
Deus, sim, ela está.
Dou a volta e entro também, nos tirando de perto da sua casa ainda
tendo tempo de ver Theo na porta, nos observando sair.
Capítulo 15
Por mais estranho que possa ser admitir, eu estou me sentindo mais à
vontade do que deveria na casa do Brandon. Estranhíssimo.
Pego mais umas garfadas de comida enquanto ele volta, não tendo me
sentido muito estranha por sua pergunta que também deveria ter parecido
constrangedora. E foi mesmo, mas, eu também estaria curiosa em perguntar.
Tudo que sinto é um alívio surreal por ele ter aparecido e me salvado,
mesmo que só essa vez. Mesmo que só uma vez.
Quando Brandon volta, eu engulo depressa e o vejo puxar a cadeira ao
meu lado, então se sentar. Ele está mesmo bem charmoso com a camisa
branca dobrada até os cotovelos, parecendo o dono de tudo.
— O que vai me mostrar? — pergunto quando deixa o celular de forma
que esteja ao meu ver.
— Entenda que é pro seu bem — mais suspira que fala, então foco na
tela, me assustando quando abre em um site horrível, com um vídeo que ele
tapa assim que os dois primeiros segundos passam.
— Meu Deus! — Eu me levanto, a mão na boca.
Meu-Deus.
— Samantha… — Brondon também se levanta, deixando o celular sobre
a mesa. Ele parece cauteloso e eu estou chocada. — Por isso preciso que se
lembre onde ele está… Para podermos resolver isso.
Balanço a cabeça de forma nervosa, então corro para o quarto,
imediatamente procurando o sanitário, onde acabo vomitando.
Sinto Brandon chegar, então sua voz novamente.
— Não tem motivo pra pânico, mas me ajude a te ajudar. Você sabe
onde posso encontrar o tal cara?
— Não — eu mal consigo responder enquanto a ânsia prossegue.
Ouço alguns barulhos e logo sinto um toque quente e bem-vindo em
minhas costas, então um papel me é estendido. Eu limpo a boca, caindo
sentada no chão. Brandon está de joelhos ao meu lado, parecendo me avaliar.
— Quer água?
— Não. Você viu? — pergunto, sem coragem de olhá-lo. — Viu o
vídeo?
— Samantha...
— Viu? — tapo o rosto com uma mão, me sentindo a maior imbecil de
todos os tempos. — É claro que viu.
— Não, não vi. E também não quero que outras pessoas vejam, por isso
você precisa fazer um pequeno esforço e se lembrar onde posso achar esse
idiota, pra eu poder arrebentar a cara dele.
Eu o olho, conturbada.
— Você iria bater nele?
— Sim, com toda certeza. Como você ainda pergunta? — dá uma risada
incrédula. — Vou fazer ele parar no hospital e ainda isso seria pouco.
— Dizem que quem fala demais, nada faz — limpo a boca, sorrindo um
pouco quando ele parece boquiaberto.
— Tem razão, é melhor eu não falar — ele ergue a mão e toca a ponta
do meu nariz com o dedo. — Vamos te distrair um pouco. Você gosta de
videogame?
Eu o observo levantar.
— Gosto.
— Nós vamos jogar — estende uma mão para me ajudar a levantar. —
Você quer?
— Qual jogo?
— Vamos ver o que mais te agrada. Eu tenho de tudo. Corrida, luta, até
um de vestir uma boneca ridícula que minha irmã gosta — ele faz uma careta
e dou risada, aceitando sua ajuda.
— Está bem. Eu aceito.
— Ótimo — ele leva as mãos aos botões da camisa e começa a desfazê-
los. Eu desvio o olhar. — Agora, eu vou tomar um banho super rápido e você
me espera na cama, pode ser?
— Certo — respondo depressa e saio do banheiro, achando mais seguro
esperar na pequena poltrona ao lado da porta de entrada do quarto.
Sim, com certeza é mais seguro. Com toda essa… gentileza, não me
admira que ao ver Brandon sem roupa, não vá me afetar.
Se já não afetou.
Capítulo 17
ѾѾѾ
Brandon dirigiu até um lugar estranho e escuro. Uma estrada afastada.
Então me pediu para sair do carro, ligou a lanterna do celular e estamos
andando por uma trilha infindável. Sim, porque já estamos há meia hora
praticamente. Estou suando e cansada.
— Você está pretendendo me levar pra um lugar bem longe e me matar
para as pessoas não fazerem ideia de onde estou? — questiono por detrás
dele, minha voz sobressaindo a dos grilos e corujas.
— Sim — ele ri. — Estou. Como eu sou malvado.
— Vai saber… Ai, droga — tiro um galho que prendeu no meu pé. —
Isso não faz sentido. Eu disse que queria me divertir e não brincar na selva.
— Para de reclamar, mulher. Parece minha mãe.
— Engraçado.
— É logo ali e depois você me agradece.
Resmungo mais alguma coisa sozinha, então me calo quando todo o
vento enche meu rosto de repente e tenho um vislumbre do lugar.
Estou sem fala.
— Então, o que achou? — Brandon questiona, gesticulando com as duas
mãos.
Perfeito. Sim, completamente perfeito. Eu sei que está escuro, mas
estamos tão próximos à Lua, que o céu parece claro. Pelo menos, essa é a
sensação que se tem. E é esplendorosa.
— O que… é aqui?
— Aqui é o Canteiro. Eu descobri esse lugar num dos acampamentos de
escoteiros — ele senta. — Estamos em uma montanha bem alta, gatinha.
Senta aqui. Vamos admirar.
Eu caminho para perto dele, um pouco temerosa quando a escuridão e
esses sons estranhos, mas Brandon parece tão seguro de si, que eu realmente
sinto conforto mesmo assim.
— Então, esse lugar é perigoso?
— Não — sorri. — Eu sou mais.
— Imagino que sim.
— Não, falando sério. Sou mesmo — ele me olha bem dentro dos olhos.
— Principalmente depois de te ver nua e cheia de desejo pelo meu corpo.
Engulo em seco, embaraçada.
— Mas, relaxa — emenda. — Jamais tocaria em você porque nós somos
amigos, certo? Certo. E isso estragaria tudo e eu não quero isso. Gosto da sua
companhia e estou aqui pra te defender, não pra dormir com você. Então, não
se preocupa, esse perigo a gente não corre.
Fico tão surpresa, que apenas balanço a cabeça afirmativamente,
concordando.
— Ótimo — ele deita, com as mãos atrás da cabeça. — Deita também,
pra você ver como é bonito.
Deito ao seu lado, constrangida.
— Eu vinha muito aqui quando era mais novo. Era bom demais.
— Traz sempre mulheres aqui? — Não resisto a perguntar.
Brandon ri.
— Olha que não. Você é a primeira. Eu só vinha sozinho, pra distrair e
pensar.
— Parece perigoso andar por aqui.
— Nem é. É de boa. Muita gente nem sabe que dá pra subir até aqui.
Mas, claro, depois que se sabe por onde tá andando.
— Sei...
— Fala sobre você.
— Sobre mim? — o olho, mas Brandon está com a atenção no céu
estrelado. — Como assim?
— O que você gosta, sei lá. O que costuma fazer. Tipo, se você sumisse
de repente, mas de propósito, onde eu deveria te procurar?
— Não faço ideia — respondo entre um riso. — E por que eu faria isso?
— Sei lá. Eu já fiz. Muitas pessoas fazem, também.
Desvio também para olhar o céu, gostando da brisa que invade os ares
levemente, trazendo uma paz renovada e agradável. Eu gosto disso. Desse
momento e dessa sensação.
— Está doendo? — ele pergunta.
— O quê?
— O seu coração.
Me surpreendo com a pergunta, então volto a olhá-lo.
— Por que estaria?
— Sei lá, tantas coisas... — Ele também me olha, parecendo
compreensivo. — Teve seu namorado, o que ele fez, seu pai e as coisas que
ele também fez e faz… São coisas que machucam muito. Ó, eu digo, não
tenho vergonha, não. Sou maior sensível, se umas coisas dessas acontecem
comigo, nossa, eu chorava mesmo.
Dou risada.
— Você está assumindo que iria chorar?
— Sim, e pra caramba!
— Nossa, isso é meio… Sei lá.
Brandon sorri e volta a olhar o céu.
— O que dá vontade de fazer numa hora dessas? — quer saber.
— Como assim?
— Tipo, agora. O que te dá vontade de fazer agora?
— Não sei…
— Me dá muita vontade de dormir de conchinha.
Gargalho, inevitavelmente.
— Ei, não fica rindo, não. É verdade. Achei ofensiva sua risada.
— Desculpa — eu tento controlar os risos. — Nossa, isso foi muito…
Nossa.
— Ih, garota. Tá por fora. Nunca dormi de conchinha, sabia? Só tenho
vontade.
— Sua namorada não serve nem pra isso?
— Nem. Nunca passamos a noite juntos. É algo meio estranho, eu sei,
mas nem tenho vontade de fazer isso com ela. É muito romântico pra
Jennifer.
— Por que você insiste em ficar com uma mulher dessas?
Brandon respira fundo, demorando mais do que eu gostaria para
responder:
— Porque ela é tudo que eu mereço.
Capítulo 18
ѾѾѾ
— Não acredito. Pelo amor, menos — eu peço, quase suplicando que ele
pare de cantar. São seis horas da manhã. Quem fica tão feliz tão cedo?
— Qual foi, gatinha! — ele empurra meu ombro de leve e vou para o
lado, morrendo de sono.
— Brandon, nós fomos dormir às três, se você não lembra. Não tem
como eu estar desperta — informo enquanto caminhamos para dentro de um
edifício lindo.
Estou horrível vestida num jeans e uma camisa, usando o moletom dele
por cima, mas nem nisso eu penso tamanho o sono.
— Isso é prova de que somos amigos. Primeiro que, se não fôssemos,
nem dormido você teria e, segundo, estaria desperta mesmo assim porque eu
tenho um ótimo despertador — ele dá um sorrisinho, seguido de uma
piscadela.
— Fingirei que não entendi.
Ele ri de verdade, então entramos no prédio e eu me sinto uma
extraterrestre em meio ao requinte. Homens e mulheres arrumadíssimos
entram e saem. Até os seguranças têm uniformes requintados. Tudo esbanja
poder e perfeição.
— Uau!
— Bem-vinda — Brandon dá uma risadinha e sinto sua mão em minha
cintura, me guiando até o elevador, que já está cheio.
Nós damos bom dia ao mesmo tempo para as pessoas, e isso nos faz
olharmos um para o outro e sorrir. Demoramos uns bons andares para chegar.
Só depois que todos saem, é que ele me induz a fazer o mesmo, onde
seguimos para uma sala com paredes de vidro, que tem uma mesa grande
com cadeiras em volta e já estão ocupadas por algumas pessoas.
Hesito um passo antes de entrar, vendo todos tão formais.
— Acho melhor eu esperar aqui — digo.
Brandon me empurra pelas costas, me incentivando a entrar.
— Nã-nã-não. Aqui dentro.
Todos nos olham quando ele dá bom dia e é a hora que sinto vontade de
me enfiar em um buraco. Pareço uma mendiga.
— Sente aí — ele puxa uma cadeira para mim, em seguida indo para a
frente da mesa. — Bom dia, pessoal. A reunião vai começar.
Reunião? Ele no comando? Seriedade de repente?
Isso vai ser interessante.
Capítulo 19
Samantha desce na mesa num pulo, quase caindo quando tenta colocar a
roupa de volta. Falei besteira. Sim, e não sei porque estou surpreso.
— Ei, ei — me aproximo quando ela fecha o botão do jeans e seguro
seus ombros. — O que foi? Tá tudo bem.
— "Tá tudo bem"? — repete, parecendo incrédula. — Você tem
namorada e tá tudo bem!?
Balanço a cabeça, um pouco culpado.
— Também já fui traído, se serve de consolo.
Ela emite um som incrédulo e sai andando para fora da sala. Eu vou
atrás, tentando fazer meu sangue retornar para a cabeça de cima. É difícil,
mas recolho cada gota de força.
Samantha está quase correndo, mas a alcanço antes de entrar no
elevador, impedindo sua ida.
— Onde você vai? Não precisa ser assim — seguro levemente seu pulso,
só para que ela não me deixe. — Esquecemos isso e fica tudo bem. Relaxa.
— Relaxar? Brandon, você é inacreditável! — ela tenta novamente se
soltar. — Por favor, eu quero ir embora.
— Você não quer — nos reaproximo. — Sei que não. O que aconteceu
foi sem querer.
— Um acidente? — ela debocha. — Sempre é essa a maior desculpa e
sinônimo pra irresponsabilidade. Não sei por que estou me surpreendendo.
Bem de primeira você demonstrou o que é.
— Assim eu posso me sentir ofendido...
— Eu não estou brincando, Sr. Mackenzie!
— Nem eu. Olha, não vai, a gente sabe que seu lugar é comigo.
Ela me encara por alguns segundos, a boca levemente aberta me fazendo
ter a ilusão de que está cogitando, mas, aproveitando meu momento de
inércia, se desprende de mim e entra no elevador, que se fecha rapidamente.
Fico parado como um idiota, tentando acreditar, então me dou conta do
silêncio estranho e olho para os lados, vendo os funcionários observando a
cena.
— Ah, pelo amor, né? Nunca viram um casal brigando? Vão trabalhar!
— bufo e saio andado pelo corredor que leva à minha sala.
Desacreditado é pouco. Estou magoado. Poxa, eu não falei de propósito.
Não é como se eu tivesse tentado deixar Samantha mal. Não foi. É só que
tenho essa tendência, de falar o errado na hora errada. Eu tô tentando frear,
mas não é assim tão rápido.
Quando chego à minha porta, tomo ciência de passos atrás de mim e me
viro, dando de cara com ela, a Alicia. A estagiária safada.
Está bem, está bem. Não sou santo, nem de longe, mas essa garota já
passou do nível vergonha alheia.
— Posso te ajudar em alguma coisa profissional? — eu pergunto,
parado onde estou.
Ela dá um sorriso sem êxito em tentar ser seduzente.
— Que briga, né?
— Não foi uma briga, foi um desentendimento. E, não me leve a mal,
mas não faz parte do seu trabalho se meter na minha vida.
— Eu sei — ela coloca os cabelos atrás da orelha. — É que eu pensei
que Jennifer fosse sua namorada, já que chegou cedo e está te esperando.
— Quê?
— Sua namorada está te esperando na sua sala.
Abro a porta, então imediatamente a boca quando visualizo Jennifer com
as pernas abertas em cima da minha mesa.
— Vocês querem companhia? — Alicia pergunta atrás de mim e eu não
sei bem o que sinto na hora, mas não gosto nem um pouco.
Capítulo 21
ѾѾѾ
Eu espero, ansiosa. O senhor que aparece para me receber, é bem senhor
mesmo. Me lembra o Papai Noel. E isso quase me faz rir, mas seria falta de
educação.
— Bom dia. É você que quer olhar a casa? — ele pergunta ainda um
pouco distante. Seus passos são lentíssimos e eu acho bem melhor me
levantar e encontra-lo no caminho.
— Sou eu, sim.
— Ótimo. Venha por aqui.
Eu o sigo por um beco meio escuro e logo vejo a casa. "Casa". Está
horrível por fora. Quase se desfazendo.
— Quanto o senhor cobra pelo aluguel?
— Duzentos dólares — responde enquanto destranca e abre, me dando
espaço para passar primeiro.
Imediatamente começo a tossir como uma desesperada, tanto pela poeira
quanto o cheiro de mofo.
— É bem velha — ele explica. — É só esse cômodo e um banheiro ali
naquela porta. Sei que não é nada grande, mas dá para você se virar. Além
disso, é bem perto da faculdade, caso você estude lá.
— Só preciso para dormir mesmo — olho ao redor, vendo as paredes
descascadas. — Acho que duzentos dólares é muito por isso aqui.
— Não é — ele sorri. — Tenho boas lembranças daqui. Foi onde minha
esposa e eu concebemos nosso primeiro filho, o Daniel.
Sorrio também, não me agradando o saber, mas achando bem fofo
mesmo. Mas, é um roubo.
— Eu vou querer — abro minha bolsa e tiro a carteira, pegando o valor
e entregando ao senhor. — Eu me chamo Samantha.
— Godwin — sorri, os dentes amarelados. Ele tem a aparência de avô
que conta historinhas para os netos. — Olha, moça, eu não tenho mais
condição de me oferecer para ajudar, mas tenho umas tintas lá em casa. Se
você quiser, para dar uma maquiada, posso lhe dar.
— Eu ficaria muito grata.
— Ótimo. Quando você muda?
— Hoje mesmo. Só vou pegar minha mala em casa.
— Perfeito — ele me estende as chaves e eu seguro, exalando um
suspiro ao mesmo tempo. É a sensação de independência. — Mais tarde lhe
trago as tintas.
Eu assinto, então o Sr. Godwin sai, me deixando sozinha no meu mais
novo lar.
Porque, uma coisa é bem certa, as coisas não mudariam se eu
permanecesse parada e quieta, esperando uma mudança em meu pai.
Ele não vai mudar, percebi isso ontem, quando ele se recusou comer a
comida que coloquei e foi comer na rua.
A dor do desgosto e decepção tirou sua fome, foi o que ele disse.
— Que eu seja bem-vinda — suspiro, aliviada.
Capítulo 22
Estou me considerando um pouco idiota por ter voltado aqui com essa
desculpa. Mas, que seja, ele me deve mesmo alguma explicação. Não deve,
porque ela já me explicou tudo e como acontece, mas preciso…
Do que eu preciso?
Ultrapasso as portas de vidro da entrada e logo avisto Theo dando
instruções a dois homens. Ele está como sempre o via antes, parecendo o
mesmo homem aparentemente normal, amável e bondoso.
Ah, as aparências…
Com força, a imagem de Samantha encolhida na parede enquanto ele
segurava um fio, invade minha mente. Em cheio. Com tudo. Quase vou ao
torpor.
Respiro fundo e me aproximo. Não preciso me pronunciar, logo três
pares de olhos se voltam para mim.
— Bom dia. Me deixem a sós com o Theo, por favor — peço aos dois
homens, que me cumprimentam e saem depressa. O terceiro, me olha com
cautela e apreensão, mas não tem medo nesse olhar. Não mesmo. — Onde ela
está?
— Eu não sei — a voz dele parece dura como pedra e eu estreito os
olhos.
— Como não sabe? Acabei de ir até sua casa procurar por ela e bati na
porta por quase meia hora.
— Eu não sei dela.
— Não me vem com essa! — me aproximo bem dele. — Você não
bateu nela de novo, não é!? Porque eu juro que eu te denuncio agora!
Theo tem a cara de pau de se sentir ofendido.
— Ela fugiu de casa. Ontem. Eu cheguei e ela não estava mais. Só
algumas poucas roupas e coisas estavam no quarto dela, mas não a vi desde
então.
O choque é tanto que dou um passo para trás, em desequilíbrio.
— Ela fugiu? Com que dinheiro? Ela não trabalhava! — avanço para
cima dele, segurando-o pela gola da camisa. — E você não fez nada?! A sua
filha some, sem você fazer ideia pra onde e você simplesmente vem
trabalhar? Que tipo de pai é você!?!
— Um que já não aguenta mais uma filha prostituta! — ele grita e não
vejo bem como, mas minha mão acerta seu rosto em cheio, Theo caindo no
chão. Ele cospe e me olha de baixo, que estou ofegante por raiva e fúria. —
Você acha o quê? Onde ela conseguiu dinheiro? Eu não dei, nem você. Ela é
prostituta.
Me afasto, as mãos na cabeça, precisando de alguma coisa. De um
alento. Me sinto borbulhar. Inteiramente.
Volto ao meu carro, incapaz de aguentar ficar perto dele, temendo o que
posso fazer, e dirijo quase sem enxergar à minha frente.
Sim, é fúria.
Muita.
ѾѾѾ
— Como assim você não pode? — eu pergunto, não querendo acreditar
no que ouvi.
— Sim, é o que estou dizendo. A garota fugiu porque quis, é maior,
você está me dizendo vários motivos que a fez tomar essa atitude — Francis
está muito calmo enquanto estou rodeando sua sala, inquieto e preocupado.
— Eu vou te pagar e o seu trabalho não é mesmo questionar, só
obedecer.
— Pelo contrário, eu devo questionar quando vejo motivos e não tenho a
política de exercer meu trabalho sem saber onde estou pisando.
— Tem uma menina indefesa e largada por aí — olho-o, incrédulo. —
Você não percebe? Ela pode estar em qualquer lugar! Sozinha, sem ninguém
e sem nada!
— Talvez ela esteja bem. É uma mulher, não uma criança.
— Quem garante que ela está bem!? Quem garante, inferno?
— Eu não sei — ele levanta do seu sofá e confere as horas no relógio
em seu pulso. — Preciso ir almoçar agora. Vou dar um jeito de tentar alguma
coisa para você, mas não garanto nada.
Bufo exaurido, então dou meia volta e saio de sua sala.
Perdido. Abalado. Arrependido.
Por que eu tinha que estar com a Jennifer?
Capítulo 25
ѾѾѾ
— Que lugar é esse? — Estou meio hesitante em acompanhá-lo quando
deixamos o carro.
— É onde meus pais moram — ele segura minha mão e sorri para mim,
eu me sentindo esquisita por ouvir isso.
— Por que me trouxe até a casa dos seus pais?
— Porque nós vamos a lugares que nos farão ficar bem — ele dá uma
piscadinha e me incentiva a caminhar com ele pela estrada de pedras que leva
a uma casa grande e bonita.
Demora um pouquinho até chegar na porta, mas vale a pena a
caminhada. É um lugar incrível. Estou encantada mesmo.
Brandon toca a campainha três vezes seguidas e eu quase o repreendo,
mas a porta é aberta antes de isso acontecer e um homem aparece. Ele é
altíssimo, com uma barba grisalha rasa e também os cabelos, mas seus olhos
são de um castanho claro e profundo.
— Oi, pai. E aí?! — Brandon o cumprimenta.
Engulo em seco quando o olhar se volta para mim e o homem parece me
avaliar de cima a baixo.
Pai? Quê?
— Filho, você por aqui num domingo — diz, mas seu olhar continua em
mim, então sinto Brandon apertar minha mão um pouco, me transmitindo um
pouco de calor. — Oi, moça.
— Oi — eu tento sorrir.
— Sou Brian Mackenzie — ele estende a mão em minha direção e eu a
aperto. — Muito prazer.
— Igualmente.
— Pai, essa é minha amiga Samantha. A gente veio visitar vocês.
Estamos fazendo visitas ao idosos carentes hoje.
Ele estreita os olhos para o filho e eu acabo rindo sem querer.
— Ótimo exemplo você dá aos seus amigos — murmura. — Entrem. É
um prazer receber você em nossa casa, Samantha.
— Obrigada — agradeço e sou arrastada para dentro pelo Brandon, que
me leva por um corredor longo, não me dando tempo de reparar bem na casa,
mas, uma certeza tenho: é lindíssima. — Ô, maiê! Eu tô aqui! Cadê a
senhora?
— Estou aqui! — uma voz feminina responde e logo estou em uma
cozinha, onde vejo a mulher que… É a mãe?
— Samantha, essa é minha mãe, Amanda — ele me apresenta.
Ela se vira de onde está, minha boca abrindo um pouco pelos os olhos
tão claros e grandes. Os pais dele são umas esculturas humanas. Está
totalmente explicado o Brandon.
— Olá — um sorriso surge em seu rosto e ela caminha em nossa
direção, inclinando o rosto e me dando um beijo na bochecha. — É um
prazer.
— Igualmente — estou tentando sorrir e ele me puxa de lado, para um
abraço.
— Tudo bem com vocês aqui, mãe?
— Tudo — ela ainda está sorrindo e me olhando.
— Vocês querem comer alguma coisa? — o pai dele surge e eu
realmente me impressiono porque... Nossa.
— Nós vamos comer em outro lugar, só trouxe a Sam pra conhecer
vocês — ele me olha. — A menos que você esteja com fome, gatinha. Você
nem comeu direito.
— Estou bem, obrigada. Sem fome.
— Tá certo — Brandon olha os pais, que estão um ao lado do outro
agora, nos olhando de um jeito constrangedor e esquisito. — A gente vai
nessa — ele me deixa só para ir beijar e abraçar cada um, então volta. —
Vamos nessa, princesa, a gente tem outros lugares pra ir.
— Tipo quais? — a mãe pergunta.
— Segredo, mãe. Segredo.
— Ahn... Tchau, muito prazer Sr. e Sra. Mackenzie — eu aceno.
Eles sorriem largamente e os vejo acenar de volta antes de Brandon me
puxar de volta para fora.
— Isso não fez sentido — eu digo enquanto caminhamos de volta ao seu
carro. — Me trazer aqui para eu dizer oi aos seus pais.
— Qual foi, maior legal. Estou te levando a lugares que nos fazem bem.
— Ou fazem bem a você?
Ele me olha e dá um sorrisinho.
— Tipo isso — abre a porta para mim e só assim me dou conta que
nossas mãos ficaram juntas o tempo todos.
Eu rio enquanto ele fecha a porta e dá a volta, para tomar seu lugar.
Tudo bem. Está sendo bom e nem estou pensando em meu pai e nas
coisas ruins. Por enquanto.
— Você gosta de música? — ele questiona quando está ao meu lado.
— Bastante.
— Então já sei a última parada. Lá vamos nós ao próximo destino.
ѾѾѾ
— Isso é…?
— Uma casa também — ele ri da minha cara e me leva de novo para a
porta de outra residência. Essa é em um condomínio fechado e, do mesmo
jeito, linda e grande. — Aqui vai ser um pouco mais badalado.
— Por quê?
— Você vai ver — ele toca a campainha e assobia, até a porta abrir e um
clone da mãe dele aparecer, só que mais nova. — Oi, Amy.
— Brandon! — ela sorri e o abraça, me abraçando em seguida também
antes de eu ao menos me pronunciar. — Oi, eu sou a irmã dele! Você deve
ser a Samantha, né?
— Eu…
— Como você sabe? — ele questiona e ela dá uma risadinha. — Certo,
nossos pais.
— A família é assim — ela dá de ombros e me assusto quando uma
criança vem correndo de dentro de casa e se agarra às pernas dele.
— E aí, garotão — Brandon pega o garotinho no colo e o enche de
beijos, enquanto desvio o olhar para sua irmã, que está gravidíssima.
Sorrio, me sentindo estranha. Pessoas tão… Bonitas e simpáticas.
— Amy, já falei que você tem que ficar em repouso — um homem
aparece também e nos olha. — Oi, boa tarde, gente.
— Amor, essa é a Samantha — Amy me apresenta. — Esse é o meu
marido, Dylan.
— Oi — aceno.
— Samantha — ele repete entre um sorriso e tenho um leve momento de
surpresa quando ela começa a chorar. — Droga — o marido a puxa e abraça.
— Péssima hora? — Brandon pergunta.
Ele ri.
— Que nada. Ela parece uma manteiga derretida. Vive chorando, até se
vê uma formiga — beija os cabelos dela.
— Melhor a gente ir então — Brandon beija o garotinho de novo e o
coloca no chão, ele voltando para dentro correndo. — Eu só queria que vocês
conhecessem a Sam mesmo.
— Estou tão feliz — Amy diz entre soluços e o marido dá risada. —
Não ri, Dylan.
— Desculpe, meu amor.
— Vamos embora, antes que eu comece a chorar também — Brandon
finge limpar uma lágrima e se aproxima dela, deixando um beijo em sua
barriga, antes de voltar ao meu lado e segurar minha mão.
Nós nos afastamos do casal feliz e ele começa a rir.
— Do que está rindo? — pergunto.
— Eu seria um péssimo marido, porque se minha mulher começasse a
chorar do nada grávida, eu iria rir demais.
— Isso foi bem idiota mesmo — sorrio, mas ele não vê.
— Pode crê, é minha especialidade.
Nós voltamos ao carro e sei que estamos indo em direção à outra casa.
Outro da família, é provável.
— Agora, nós vamos almoçar e, próxima parada, Paraíso Encantado e
não estou falando de mim.
Assinto, colocando o cinto e suspirando.
Pode ser legal. Até agora, está sendo.
Capítulo 31
— O que foi? — Brandon olha para trás, então começa a rir quando vê
meu estado. — Posso tirar uma foto? Vou emoldurar no Mural dos Micos.
Dou um sorriso sarcástico enquanto tento caminhar direito.
— Você é o culpado — me apoio na pilastra de uma loja, respirando
fundo. — Ficou enchendo a mesa com comidas gostosas.
— Mas eu nem estava em cima dela!
— Palhaço. Falo sério. Nunca comi tanto na minha vida.
— Pode crê. Eu tô maior acostumado. Aí — ele vem para minha frente e
sorri —, você bateu umas porções como a Lourina bateria.
— Quem é Lourina?
— Uma das vacas da nossa fazenda.
Abro a boca horrorizada, então dou um tapa nele, que se esquiva rindo.
— Eu não sabia que estava com fome e nunca tinha experimentado
aqueles negócios crocantes de frango — admito.
— Quer que eu compre uns pra levar?
— Não, mas obrigada.
— Por nada — ele me analisa e tenta não rir, mas falha. — Você quer
que eu te carregue até o carro? Tá se sentindo uma Jubarte?
— Vai se ferrar, Brandon!
— Olha que eu pego o arpão pra ser mais prático.
— Idiota — tento outro tapa, mas ele corre, voltando quando consegue
parar de rir.
— Pô, mas não é pra menos. Olha isso — gesticula a rua —, já tá de
noite. A gente ficou umas quatro horas comendo.
— Mas seu estômago já deve aguentar muita comida, eu não aguento.
— Tá. Tá perdoada — olha o relógio no pulso. — Ó, o lugar que quero
te levar já abriu. Pronta?
— Qual?
— O Paraíso e, repito, não sou eu.
Sorrio e assinto, dando um grito quando ele se aproxima e me pega no
colo, nos levando ao seu carro.
— Acho que era melhor eu ter ido pegar o arpão mesmo — dá risada e,
não resistindo, eu também.
ѾѾѾ
Estou muito agoniada enquanto Brandon segura minha mão durante o
caminho que estamos seguindo. Estou vendo o que deve ser, por causa das
luzes coloridas.
— Brandon — eu tento retroceder e ele imediatamente para e se vira
para mim. — Aonde está me levando?
— Você vai ver — sorri. — Você vai gostar. Eu farei você gostar. E, se
isso não acontecer, nós vamos embora. Prometo.
Balanço a cabeça, assentindo.
Seguimos o restante do percurso em silêncio. Até a entrada. Um portão
preto com letras em led. Parecem escritas com fogo.
— Fire — eu leio, apreensiva.
Brandon dá uma risadinha e passamos pelo segurança sem ele
simplesmente falar nada.
Eu paro no lugar quando a música alta e estridente atinge meus ouvidos.
— Fica tranquila. Eu vou fazer ser bom — ele diz ao meu ouvido, eu
mal conseguindo ouvir direito. — Vamos até o centro, lá é mais espaçoso.
Eu o deixo me levar por entre as muitas pessoas, nós nos batendo em
todas, até eu finalmente conseguir respirar. Mas não por muito tempo porque
é completamente... Eu não sei dizer, pois Brandon começa a dançar à minha
frente.
A princípio, é de um jeito engraçado, só tentando me fazer rir, mas logo
os passos começam a ficar certos. Bem certos. Muito certos.
Certos demais.
Eu abro a boca, um pouco impressionada.
Ele me puxa de repente contra o seu corpo, sorrindo lindamente
enquanto me ajuda a me mover com seu corpo.
— Você sabe dançar? — seus olhos estão bem próximos aos meus. —
Dança comigo.
— Estou enferrujada.
Ele ri.
— Bem, pode começar se soltando um pouco. Dando uma amolecida no
corpo.
— Prefiro só ver você dan… — Sou interrompida e nossa atenção é
desviada quando uma mulher descaradamente se bate contra ele, tentando
chamar sua atenção.
Indignada, eu viro seu rosto de volta para mim.
Brandon dá uma gargalhada, mas estou tão perplexa com a audácia da
mulher que, sem perceber, o empurro um pouco, só para tentar começar a
dançar.
Estou ciente que a música que toca é difícil de encontrar um jeito, mas,
depois de alguns segundos de vergonha, começa uma que já ouvi em algum
lugar e me animo.
A letra também ajuda muito, que é como eu gostaria de viver ou dizer.
Ter um lugar que fosse melhor, alguém, uma certeza… Alguma coisa firme e
que pudesse me apoiar.
Brandon cruza os braços e estreita os olhos, analisando meus passos.
Eu começo a rir da cara que ele faz, parecendo sério, coisa que não é.
É uma sensação boa. De verdade. Entrar no ritmo e sentir as batidas, o
corpo acompanhando facilmente depois do primeiro refrão. É muito
libertador…
Quando já começo a animar, a música acaba e ele finge bater palmas,
mas logo me puxa de volta ao seu corpo, eu rindo do impacto.
— Agora é minha vez — sussurra com uma voz deliciosa, me causando
vários arrepios diferentes.
Brandon se afasta e começa a passar a mão pelo corpo, de um jeito
sensual. Muito sensual. Finjo me abanar, ao que ele dá uma piscadela mais
sensual ainda.
É divertido. É leve. Alegre. Ficar na companhia dele.
Ele tira a blusa de repente e parece que as pessoas lhe dão espaço. Não
parece, elas realmente dão. Eu tenho plena certeza que as mulheres estão
babando por ele, porque… QUEM NÃO ESTARIA?
Brandon parece saber exatamente o que fazer ou onde ir, minha atenção
sendo nele inteiro. Facilidade. Movimentos. Ritmo. Ele é… Incrível.
Preciso lembrar de fechar a boca quando a música acaba e ele segura
minha mão de novo, dando um beijo e me guiando para o… Bar.
Balanço a cabeça, ainda distraída e voltando a mim.
Isso foi… TÃO.
— Quer beber o quê? — ele fica em pé ao meu lado, enquanto estou
sentada no banquinho, um braço por trás de mim e uma mão segurando o
lado do meu quadril.
— Hm, algo tipo… Uma bebida forte.
— Nada de álcool, mocinha.
— Não, sem álcool, mas que deixe, sabe.. Mais viva.
Brandon me analisa, sorrindo um pouco.
— Beleza — bate no balcão. — Bro, dois enérgicos, por favor. Aquele
de sempre.
O bartender sorri e em instantes temos duas bebidas de garrafa preta em
nossa frente. Nós nos olhamos e rimos, pegando e bebendo de uma vez.
É sede, calor e vontade.
— Mais uma — eu peço, balançando as pernas, animada. — Gostei
muito.
— Sede, é?
— É!
Brandon me acompanha na risada que dou.
Em alguns minutos estamos voltando ao local da dança, depois de três
garrafas de enérgico. Quatro para mim. O gostinho meio forte é realmente
bom e estou bem mais desperta. Mais animada. Até me sentindo melhor.
— Essa música é boa! — Brandon grita e eu começo a acompanhá-lo
nos passos engraçados que faz.
É bom mesmo. Nós estamos nos divertindo. Eu estou. Coisa que não
fazia há tanto tempo que nem me lembrava mais o significado da palavra
“diversão”.
Brandon me traz de volta dos pensamentos quando sinto o calor do seu
corpo contra o meu. A música também mudou e ele parece gostar dela,
porque está cantando no movimento dos lábios, seu olhar não desviando do
meu.
Tem algo diferente nele. No jeito que me olha. No jeito que dança junto
a mim. Na letra da música. Definitivamente tem algo diferente.
É tão forte e… Certo. Ao menos estou certa do que está havendo
comigo e… com o meu corpo.
Eu suspiro fortemente quando ele nos junta mais firmemente, uma onda
de calor me invadindo inteira.
Engulo em seco, preocupadíssima.
A música parece não acabar nunca e é como se eu estivesse imersa em
um submundo de prazer indescritível.
Brandon inclina a cabeça e sinto o calor da sua boca contra minha
orelha. Não resisto e agarro seus braços mais firmemente, ele respondendo
mordendo a pontinha dela. Fecho os olhos, com medo de estar em um sonho,
mas não quero acordar.
Não gostaria de acordar nunca.
Ele beija abaixo da minha orelha, me arrancando um suspiro, então o
sinto afastar o rosto e abro os olhos.
Nós nos encaramos, pelo que parece uma eternidade e sei que ele diz
alguma coisa, mas não dá para ouvir, só que eu sei exatamente o que vai
acontecer em seguida quando Brandon inclina a cabeça à altura da minha e
suspira em minha boca.
Suas mãos vêm ao meu rosto e ele o segura no lugar, enquanto preenche
meus lábios com um beijo cheio de vontade e calor.
Muito calor.
Capítulo 32
Meu corpo está em um estado que não consigo nem explicar. O calor é
imenso e eu quero tanto, tanto a Samantha. Quero muito.
Afasto nossos lábios, ainda segurando seu rosto, apenas para questionar,
cheio de esperança:
— Vamos para minha casa?
Eu sinto todo o ar quente de sua boca invadir meu rosto e ela não hesita,
respondendo um sim com um movimento nos lábios enquanto me olha os
olhos.
O alívio me toma por completo e seguro sua mão, nos tirando da Fire e
nos guiando para a rua, até meu carro.
Antes de Samantha entrar, eu a puxo para mim e preencho seus lábios
com os meus, desesperado por ela e por seu sabor doce. Ela é doce. Suas
mãos circulam meu pescoço e ela me beija com louvor, correspondendo toda
a minha vontade. Isso é muito bom. Nunca senti tanta reciprocidade em um
simples beijo.
— Vamos — sussurro contra seus lábios, ela se afastando e entrando no
carro depressa.
Dou a volta e entro também, e não nos olhamos durante o caminho, no
entanto, nosso calor é tão palpável que quase consigo pegar.
ѾѾѾ
Estou chorando como uma idiota, mas não faço barulho para que o
Brandon não perceba. Mas não podia mesmo ser de outra forma, sendo que
ele foi tão maravilhoso comigo e agora está me acariciando como se fosse a
melhor coisa do mundo.
Eu só posso chorar mais e querer mais ele. Sim, eu o quero muitíssimo.
— Está gelado aqui, você quer ir embora? — ele sussurra contra meu
pescoço, sem nunca deixar de me tocar.
Não respondo porque minha garganta está pesada em um nó, mas não
adianta muito porque Brandon se afasta e me olha, erguendo meu queixo
quando tento abaixar o rosto.
— Chorandinho? — ele sorri e inclina a cabeça, encostando nossas
testas. — Não chore.
— Eu… — me engasgo.
Ele ri e me abraça, tão forte, apertado, demorado e bom, que o mundo
parece se resumir a nós dois e, por um instante, esse pequeno instante, não há
mais nada. Não existem problemas, dificuldades, traumas ou qualquer outra
coisa ruim.
Somente Brandon e eu.
— Obrigado — o ouço dizer. — Foi incrível.
Isso só me faz chorar mais, porque foi realmente incrível e estou
muitíssimo feliz por ter me sentido desejada e não usada. É muito diferente
do que já tive e não consigo mesmo explicar minhas emoções.
— Vamos embora que você está gelada e não quero que fique resfriada
— ele se afasta e me olha, sorrindo largamente antes de me deixar e ir até o
canto da varanda, onde jogou as roupas que eu estava usando. Percebo que
ele fecha a calça no caminho.
Eu fico de pé, estendendo as mãos para as roupas, mas Brandon se
abaixa e pega minha calcinha.
— Vem, vou vestir você — avisa.
— Sério?
— Sério. Sua voz tá engraçada.
Eu vou até ele, segurando seus ombros enquanto pego equilíbrio para
colocar os pés dentro da peça, Brandon subindo-a por minhas pernas e
deixando um beijo por cima da calcinha. Eu suspiro amolecida enquanto o
vejo pegar a calça e esperar eu fazer o mesmo movimento.
Ele é tão bonito e gentil. Incrível. Estou encantada e... Maravilhada.
— Agora a blusa — levanta e ergo os braços, ele a colocando em mim,
então sorri. — Prefiro peladinha, mas vamos embora que é mais importante.
— E sua blusa?
— Quem sabe? — ri e segura minha mão, dando um beijo em cima. —
Vamos tomar banho quente e comer. Eu sempre fico com fome depois de
gozar, é muito ruim.
— Nós comemos por quatro horas. Estou um pouco surpresa com o seu
apetite.
— Eu disse que comia muito — ele não solta minha mão para fechar as
portas de vidro, nem a principal, somente quando chegamos ao seu carro e eu
vou entrar. — Espere — me impede. — Olha ali que incrível — aponta o
céu.
Eu olho, vendo a Lua parecendo tão imensamente grande e brilhante.
Reluzente e potente. Incrível. Assim como o nosso dia.
Sinto seus braços ao meu redor e Brandon me balança de um lado para o
outro, me arrancando uma risada.
— Vamos pra casa, gatinha — recebo um beijo no rosto e entro no
carro.
O que é isso mesmo?
Sim, eu sei.
Felicidade em meio ao caos.
Capítulo 34
ѾѾѾ
— O que você está fazendo? — Samantha pergunta enquanto estou
analisando um site de joias.
Nem me pergunte como vim parar aqui, apenas fui ver meu e-mail e de
repente eu estava nesse site. Bem, estou sendo como minha mãe, que dava
essas desculpas para o monte de coisas que comprava.
— Tô vendo uns colares aqui. Como é que vocês gostam dessas
paradas?
Ela dá uma risadinha e vem para meu lado, seu cheiro e aproximação me
fazendo olhá-la e sorrir.
— Eu tinha um colar de pedrinha brilhante, era lindo — diz.
— Não tem mais?
— Não, porque meu pai vendeu pra poder comprar o remédio dele.
— Hm — volto a olhar a tela. — Me ajuda a escolher um pra minha
mãe. Eu não sei o que ela gosta.
— Você vai dar um desses? — Samantha aponta a categoria que estou.
— Vou, por quê?
Ela ri.
— Eu teria que me vender para conseguir comprar algo desse valor. É
muitíssimo caro.
Novamente olho-a, não gostando do que ouvi.
— Não repita isso, por favor — peço.
— Isso o quê? — parece desentendida.
— Dizer que teria que se ven… — Nem consigo completar, então só
balanço a cabeça. — Não diga bobeiras.
— É brincadeira, Brandon.
— Que seja, eu não gostei de ouvir.
Ela assente, estranhando qualquer coisa.
Que seja. Não gostei mesmo de ouvir isso.
— Como a sua mãe é linda de morrer, eu acho que esse ficaria
maravilhoso nela — seu dedo aponta um colar banhado a ouro com um rubi
em formato de coração. — Alongaria ainda mais os cabelos dela.
— Você acha? — estreito os olhos.
— Certeza.
— Tá — vou clicando pra comprar. — Agora, um par de brincos.
Ela dá uma risadinha.
— Sua mãe gosta de vermelho?
— Sei lá. Ela tem um monte de brincos.
— Tá, vamos ver um que combine com o colar.
Volto ao início e procuro por brincos, Samantha dando um gritinho ao
meu lado quando vê e apoia os peitos no meu ombro direito, enquanto vai
olhando. Enrolo ao máximo, aproveitando.
— Esse! — aponta. — Magnífico! Combina super.
— Beleza, esse aqui — clico pra finalizar a compra, então ouvimos uma
batida na porta e ambos olhamos.
Dean aparece, erguendo as sobrancelhas quando vê Samantha, mas é a
mim que ele olha pra falar:
— Hora da reunião com os maiorais. Estamos atrasados.
— Merda, esqueci — reclamo e me levanto, agarrando a mão de
Samantha e puxando-a comigo. É tão automático que estranho.
— Aonde estamos indo? — ela questiona.
— Ver os maiorais, benzinho.
E nem eu gosto disso.
Capítulo 35
É sábado. De tarde. Eu saí bem cedo e enrolei ao máximo na rua, mas não
tinha mais para onde ir, então voltei para a casa do Brandon. Ele que me
desculpe de verdade.
Eu me obriguei a levantar e sair do seu abraço que estava tão bom.
Dormir com ele é muito bom.
Suspiro extasiada, deixando minha bolsa na cômoda onde ele costuma
deixar a maleta e seguindo pela casa, procurando-o. Eu o chamo, mas não
ouço nem ruídos, então vou até seu quarto, algo em sua cama chamando
atenção e até me deixando perturbada de longe.
Fico um pouco desentendida quando vejo uma caixa na cama e um par
de botas vermelhas, com um papel com meu nome escrito em cima.
Pego, bem curiosa.
_________________________________________
Oi, gatinha
Vc saiu cedo e eu também
Essas coisas são pra vc
Nós vamos sair e volto às seis pra te pegar hehe
Saudades desde já
BM
_________________________________________
Estranho muito qualquer coisa, mas mesmo assim eu gosto, então abro a
caixa cinza e pego o vestido preto e solto que tem dentro. É quase curto, mas
não muito. E muito lindo.
Estou sorrindo de repente. É sábado e eu vou sair com o Brandon.
Tem coisa melhor?
ѾѾѾ
Estou na sala e sou toda expectativa enquanto balanço as pernas, o
aguardando. Estou me sentindo muito bonita, como nunca tinha me sentido
há tempos. É leveza e animação.
Quando ouço a porta, me levanto depressa, olhando para trás e vendo
Brandon chegar. Ele está gostosamente vestido em uma bermuda branca e
camisa preta, muito charmoso como sempre.
Começo a caminhar em sua direção, muito ansiosa mesmo. Seu sorriso
me encontra no caminho.
— Ora, ora… Se não estou a beleza materializada — sorri.
— Oi! Obrigada, eu adorei! Aonde vamos?
— É surpresa — ele abre uma bolsinha que traz na mão e pega uma
caixa preta de dentro. — Só tá faltando isso em você.
— O quê? — me aproximo quando me chama, mas recuo um passo
quando ele a abre e eu vejo o colar e o par de brincos que escolhi. — Meu
Deus! — trago as à boca, impressionada.
Ele dá uma risadinha e estende a mim, que seguro, um pouco trêmula.
Brandon tira um brinco e vem para meu lado.
— Dá licença — diz e sinto o toque contra minha orelha, eu estando tão
absorta que não me movo enquanto coloca a peça em mim. E depois o outro
brinco e também o colar, me deixando um beijo demorado na nuca.
Estou trêmula, tenho certeza.
— Gostou? — ele volta à minha frente. — Não me olha com esses olhos
assim arregalados, gata.
Impossibilitada de dizer algo, eu simplesmente me aproximo e jogo os
braços ao redor de seu pescoço, quase chorando de emoção. Brandon
corresponde, me abraçando forte e fazendo uns barulhos, fingindo que o
estou enforcando.
— Você é um amor, muito obrigada — me afasto, tocando o colar,
desacreditada. — Muito mesmo.
— De nada. Princesas tem que ser presenteadas — dá uma risadinha. —
Agora vamos ao nosso destino — segura minha mão.
— Pra onde quiser me levar, eu vou.
— Opa! — ele sorri e o deixo me levar para… onde quer que seja.
E é mesmo verdade. Eu confio nele. Gosto dele. Ele é um amor.
Completamente. Estou muito… admirada.
Nós estamos em seu carro num instante, eu ainda olhando e tocando o
colar, tentando acreditar.
Minha nossa. Brandon é tão…
Eu saio do pequeno transe quando reconheço o início da música a tocar
no carro.
— Meu Deus! — bato palmas, começando a balançar a cabeça e dançar
como dá. — Eu amo essa música!
Ele dá um risinho e nos tira do estacionamento.
— Tô ligado, já ficou bem claro.
— Amo! — Eu não consigo não gritar. — O que você quer dizer?
Quando balança a cabeça que sim. Mas você quer dizer não, o que você quer
dizer? Quando você não quer que eu saia, mas me diz para ir embora. O que
você quer dizer?¹
Brandon dá risada, mas eu não ligo.
Estou ultramente feliz. Transbordando de felicidade. Nunca estive
assim.
Tudo por causa dele.
¹Justin Bieber – What Do You Mean?
Capítulo 39
Estou tão perplexa que não sinto minhas pernas, nem nadinha. Quer dizer,
sinto, mas é como se não estivesse sentindo. É... Algo indecifrável. Eu
estou…
Olho para o Brandon ao meu lado, que dirige em silêncio, como está
desde que saímos do show, que durou… Eu nem sei, tudo que sei é que
parece tarde e tudo está muito perfeito. Por causa dele.
Trago as mãos aos lábios, desacreditada em tudo que vivi nesses últimos
dias.
— Nós chegamos — ele anuncia e eu abro a porta ao meu lado, saindo
meio trêmula.
Eu o acompanho para o elevador e, apesar de não falar, ele parece bem
tranquilo, mesmo porque começa a assobiar, com as mãos nos bolsos da
bermuda, parecendo tão maravilhoso.
Céus… Eu estou tão… Quente.
As portas se abrem e nós saímos, indo pelo corredor, mas estou mesmo
descrente e sentindo a pele ferver, tanto que passo por Brandon e paro à sua
frente.
Ele ergue as sobrancelhas, interrompendo os próprios passos.
— Tá ofegante, gatinha — um sorriso quase imperceptível chega aos
seus lábios e seu olhar desce por mim. — E muito linda, também.
Não espero para pensar, apenas me aproximo e agarro a gola de sua
camisa, o puxando em minha direção e juntando nossos lábios. Talvez eu me
surpreenda quando, no mesmo instante, Brandon toma o controle para si e
agarra minha cintura, nos levando até a parede e me prendendo contra ela e
seu corpo.
É isso.
Nosso beijo começa calmo, mas muda para algo quente, profundo,
abrupto. É uma delícia e solto um gemido quando o sinto levantar minha
perna direita e enroscar em seu quadril, imediatamente se esfregando contra
mim.
Um gemido mais áspero é inevitável.
A pressão é muito boa…
Brandon sobe a mão livre para meus cabelos, onde agarra uma pequena
quantidade e segura de um jeito que me causa arrepios, puxando para o lado,
então lambe do meu pescoço até o queixo, deixando um rastro de fogo.
— Você é perfeita — murmura contra meus lábios antes de a mão que
segura minha perna, passar por baixo, para minha calcinha, me tirando um
suspiro longo. — Tá quentinha e molhada, dá pra sentir.
Aperto os olhos, não aguentando e soltando um som agudo quando ele a
afasta para o lado e esfrega seus dedos em meu sexo. Com uma força
maravilhosa e certa.
— Quero logo, por favor — peço, muito rouca, mas muito certa do que
estou falando.
— O que você quer logo? — ele afasta o rosto e puxa um pouco meu
cabelo, perguntando enquanto olha em meus olhos. — Diz pra mim.
— Você — engulo em seco, muito arrepiada por sua voz rouca e
sussurrada.
— Hmmmm — recebo beijos no pescoço, junto com pequenas mordidas
e sinto Brandon aprofundar um dedo lentamente dentro de mim, me
imprensando mais contra a parede de tão trêmula que fico. — Prontinha.
— Meu Deus, sim! — coloco as mãos dentro de sua blusa e começo a
descontar a pressão que estou sentindo em suas costas, onde arranho.
Ele tira o dedo devagar e leva à boca, rosnando de um jeito que me
deixa toda trêmula. Mais ainda.
Começo a ofegar mais rapidamente quando o vejo levar a mesma mão à
frente da bermuda e rapidamente abrir o botão e descer o zíper, puxando seu
membro para fora.
Engulo em seco ao ver tão de perto. É grande, grosso, parecendo muito
suculento com a ponta enorme e convidativa. Sim, isso convida a minha boca
e minha língua, com toda certeza.
Brandon puxa meu cabelo de leve, atraindo meu olhar para seu rosto,
então sou toda expectativa quando vejo seu sorrisinho.
— Brandon! — engasgo ao sentir ele começar a se esfregar contra mim,
tão quente e duro. — Minha nossa, sim!
— Sim — ele repete, mordendo meu queixo. — Vou te comer tão
gostoso.
— Ah… — fecho os olhos, querendo gritar quando o sinto começar a se
colocar dentro de mim, devagarzinho, cada centímetro me fazendo o prender
cada vez mais.
— Porra, isso é muito bom — ele rosna, inclinando a cabeça para o lado
e chupando meu pescoço com força, ao tempo que puxa meus cabelos e
gritamos juntos quando nossos corpos se conectam por completo.
Apoio a cabeça contra a parede, arranhando suas costas com mais força
e Brandon se movimenta para fora, o gesto parecendo o torturar, e então
novamente para dentro, soltando uma lufada de ar.
A pressão é demais e eu preciso soltar um grito, quase engasgando
quando ele me cala com um beijo de língua, sincronizando com os mesmos
movimentos que começa a empurrar para meu corpo.
Ele está emitindo uns sons muito masculinos enquanto segura minha
perna e aperta, eu me sentindo o envolver com precisão. Tanta que ele
começa a apenas ondular os quadris, tão dentro de mim, mas tão dentro, que
não aguento.
Me deixo ir, desmanchando em mil e um pedaços, querendo mais e
muito mais, mesmo demorando a voltar do êxtase.
Abro os olhos, toda quente e o observo nos desconectar, apenas para
segurar minha mão e me puxar com ele para dentro da sua casa.
Ele abre a porta com agonia e bate com força assim que entramos,
virando e me pegando no colo.
Não tenho tempo nem mesmo de rir, porque sou toda expectativa
enquanto chegamos ao seu quarto e ele me coloca em sua cama. Fico sentada
de frente para ele, que está de pé e começa a se despir completamente, eu não
aguentando e segurando seu membro chamativo.
É mesmo atraente e levo minha boca, o envolvendo e gemendo por
sentir nossos gostos misturados. Ele solta um murmúrio em voz baixa, mas
imediatamente segura meus cabelos, me deixando prová-lo.
— Assim… Chupa forte — me incentiva.
Eu seguro seus quadris e começo o banquete, gostando muito do jeito
que Brandon treme e impulsiona para dentro da minha boca, mesmo depois
que fico com os lábios dormentes.
É bom saber que estou dando prazer a ele. Retribuindo.
Me surpreendo quando ele se puxa da minha boca de repente e me
incentiva a deitar, terminando de tirar as roupas. Um suspiro é inevitável por
vê-lo nu.
Brandon se inclina e começa a tirar meu vestido, imediatamente
envolvendo um seio com a boca e outro com a mão. Me arqueio, revirando os
olhos e agarrando seus cabelos, me sentindo mais que desejada.
— Você gosta de como eu te dou prazer? — questiona enquanto
mordisca minha pele. — Diz pra mim, Samantha.
— Gosto!
— Hmmmm — uma mão desce e ele aperta minha bunda com força, me
fazendo choramingar. — Gostosa.
Me remexo, querendo-o muito e tanto que nem sei.
Ele me vira de bruços repente e me dá um tapa estalado na bunda, antes
de segurar minha cintura e me erguer para cima.
— Assim, de quatro pra sentir meu pau todo dentro de você — ele está
com uma voz muito sexy e eu muito desesperada.
Brandon esfrega seu pau quente contra minha carne sensível e espalma
uma mão em minhas costas, soltando uns sons do fundo da garganta, que me
deixam mais elétrica.
— Por favor! — eu me agito, ansiosa.
Ele me puxa mais um pouco para trás e, sem avisar, se enfia dentro de
mim, de uma vez e com força, fazendo meus olhos se arregalarem.
— Minha nossa! — engasgo. — Mais!
Ouço seu rosnado e ele segura minha cintura com as duas mãos,
começando um vaivém rápido e forte, alucinante, seu membro todo grande e
grosso dentro de mim, me fazendo sentir o corpo derreter.
Estou em brasas vivas.
— Brandon, mais!
— Mais, sua safada! — recebo outro tapa, me fazendo ficar toda trêmula
e cair com o rosto contra o colchão, segurando o edredom com força. —
Rebola no meu pau, amor. Rebola gostoso.
Merda. Estou tão alucinada que somente cumpro a ação, sentindo e
ouvindo Brandon, o que é bom e alucinante, mais ainda quando seus dedos
chegam em meu clitóris, esfregando-o.
Não suporto a pressão e me desmancho de novo, quase me tremendo e
gritando demais quando ele continua a empurrar para dentro de mim, não
deixando nossos corpos separarem.
Estou ofegante, trêmula e me sentindo tão bem.
— Que gostosa… — Brandon me faz voltar à realidade enquanto sinto
seu pau me acariciar por dentro, mas de repente ele o tira, só para deitar ao
meu lado e me puxar para fazer o mesmo.
Imediatamente, ele levanta minha perna e volta a se colocar dentro de
mim, me fazendo gemer muito alto. A posição é muito boa e eu o sinto de um
jeito maravilhoso.
Ele começa a se movimentar, ao mesmo tempo que a mordiscar meu
pescoço e minha orelha, o calor de sua boca me deixando mole, tão mole… e
Brandon fundo, tão dentro de mim, que é impossível não me mexer junto
com ele e em instantes chegar ao ápice novamente.
Estou choramingando de tanto que é bom, principalmente quando de um
jeito muito rápido, ele fica de joelhos e me vira de barriga para cima, me
olhando com os olhos abrasadores.
Aperto os seios, me sentindo derretida.
Brandon reinicia investidas tão fundas e fortes enquanto me encara e
solta uns sons graves, que eu quase quero chorar de prazer, tentando
acompanhá-lo, mas já estou fraquíssima.
Ele ruge de repente, fazendo uma volta tão precisa que tenho um
orgasmo inesperado e longo, quase me levando à inconsciência, mas mesmo
assim ainda o sinto engrossar mais e sei que é a vez dele.
— Dentro de mim! — Eu consigo gritar, porque quero mesmo.
Mas, mesmo assim, Brandon se puxa para fora com um gemido e goza
na minha barriga e, talvez eu esteja maluca, mas o ouço soluçar. Um soluço
de choro.
E quero muito puxá-lo para mim e questionar muitas coisas, mas apenas
respiro fundo e, depois de vê-lo olhar minha barriga por tanto tempo
enquanto espalha seu sêmen ali, eu acabo pegando no sono.
Mas ainda sim sinto quando ele deita ao meu lado e me vira, me
abraçando por trás.
BÔNUS
Brian
Estou entretido com a montagem do novo móvel do quarto da minha
netinha que não percebo que Brandon chegou e sentou na cadeira de balanço.
Apenas quando me levanto e o vejo, é que me dou conta de que ele, de um
jeito inédito, chegou em silêncio.
— Oi, filho! Por aqui essa hora e em pleno domingo de novo?
— Eu não consegui dormir — ele olha ao redor e aponta para o berço.
— É pra Juliet?
— É, sim. A Amanda quis colocar um diferente — sorrio, mais que
feliz, mas então percebo que o som que Brandon emite é de profunda tristeza.
Me sento na poltrona ao seu lado e deixo que ele espere o momento
certo para falar. E isso demora um pouco. Parece imerso em pensamentos.
Respeito o seu tempo.
— Eu nunca vou poder ter isso, pai! — me olha e gesticula o quarto. —
Nunca vou poder e isso me machuca! Não sei o que fazer mais!
Não sei bem como reagir quando ele começa a chorar porque… Desde
que é um garotinho não presencio isso. E é uma sensação horrível. Ver um
filho triste e não poder fazer algo para ajudar. Não nisso.
— Eu estou apaixonado e… — soluça. — Não posso pensar em ter
filhos com ela. Isso me parte de um jeito que nunca vou conseguir explicar.
Eu olhava ao redor e via todo mundo apaixonado, achando que não ia sentir
nunca isso, então quando acontece, eu não posso ter filhos. Não posso dar
isso a ela sendo parte de mim.
— Filho — eu engulo em seco, um pouco — ou muito —, surpreso. —
Você pode optar pela adoção, mas… Por quem está apaixonado?
— A Samantha e eu sei que tem a adoção, sim, mas queria ter a
possibilidade de ter um filho do meu próprio sangue… É muito frustrante!
Por que eu?
Eu não sei como responder, então me silencio por um momento.
— Tem coisas que não temos respostas e apenas precisamos aceitar,
Brandon. Não é o fim do mundo. Você já conversou com ela sobre isso? É
muito importante manter conversas saudáveis durante o namoro — opto por
dizer.
Ele me olha, então morde a boca de repente, se remexendo inquieto.
— Eu… Nós não estamos namorando — responde, talvez
envergonhado.
Estreito os olhos, muito confuso.
Não podia ser diferente. Tinha que ser filho meu.
— E como você já está pensando em filhos?
— Como vou saber, pai? — ergue as mãos. — Eu apenas sinto essa
vontade com ela. Um bebê com a Samantha — ele dá um sorriso curto de
repente, parecendo ao longe. — Uma menininha com os olhões verdes. Tem
coisa mais linda de imaginar?
Coço a cabeça, muito confuso mesmo.
É o Brandon. Eu conheço meu filho e ele sempre demonstrou ser tudo.
Tudo mesmo. Menos romântico ou algo parecido. Ele era carinhoso com a
mãe e a irmã, sim, mas nunca com ninguém mais.
— Então, de onde você a conhece? — eu pergunto.
— Ela esteve na obra da minha casa. Ajudava o pai. Uma garota tão
incrível que não mereço. Eu gosto muito, muito dela. Faria qualquer coisa pra
botar um sorriso constante naquele rosto lindo e… — leva as mãos ao rosto,
parecendo em desalento. — Merda, pai, isso dói!
— Só dói se não for correspondido — sorrio, apertando seu ombro de
leve. — Se não é o meu garotinho do meio numa crise interior sobre o amor
— dou risada. — Essa é a parte mais difícil.
— Não sei se é — volta a me olhar. — A Samantha não disse nada. Ela
é carinhosa, sabe, mas eu tenho medo de perguntar e me ferrar. É muito ruim
isso.
— Onde ela está agora?
— Em casa, eu a deixei dormindo.
— Vocês já… Você sabe.
— Sim. Nós já. Eu fui em um show do Justin Bieber por ela, pai!
Então eu rio mesmo, porque é de fato engraçado.
— Isso é mesmo um amor forte — assobio.
— O senhor acha que chega a ser amor?
— Você não acha?
Ele parece pensativo, mordendo o canto da boca.
— Gosto de pensar que vou ter ela comigo todos os dias quando acordar
e for dormir, e de que posso beijá-la e tocar sua pele. Também é incrível
saber que posso vê-la durante o dia todo comigo no trabalho e tudo o mais.
Assobio novamente, bem impressionado.
— Ora, se Brandon Mackenzie não encontrou finalmente sua outra
metade.
Ele sorri, parecendo meio bobo.
— Não faça como o Dean ou mesmo eu, por favor — peço, um pouco
com pé atrás. — Ou como seus tios. A gente fez muita merda e você sabe
como nos arrependemos e nossas mulheres sofreram.
— Eu tô ligado — coça a cabeça. — Tem uma coisa sobre ela que
preciso resolver. O senhor poderia me ajudar e manter em sigilo, por favor?
— É claro — me ajeito melhor, começando a ouvir tudo que ele me diz
com cautela e total explicação.
Uma história e tanto, com toda certeza.
Começo a achar que minha família tem tendência a amar mulheres
complicadas.
Capítulo 40
ѾѾѾ
Brandon entra na sala, meio — ou muito — ofegante. Seu olhar fica meio
perdido enquanto ele fica parado na porta por muitos segundos, então
finalmente pigarreia e ajeita o terno.
Interiormente, eu agradeço por ter chegado. Achei que não ia voltar mais
durante o dia. O Sr. Mackenzie , seu tio, já estava me deixando constrangida
de tanto falar sobre sua família perfeita e me fazer perguntas constrangedoras
sobre onde vou querer me casar ou que nomes meus filhos e de Brandon vão
ter.
É mesmo muito constrangedor.
— Resolveu dar o ar da graça — o tio o repreende. Mas acho que só
para pôr medo nele, pois quando Brandon saiu, ele simplesmente me olhou e
revirou os olhos como se o sobrinho ter saído do nada fosse muito normal.
— Eu precisei resolver um problema — ele caminha até o assento ao
lado do meu e senta, mas não me olha.
Eu o observo o quanto dá, então vejo sua blusa manchada. É sangue.
Sem falar nos cabelos bagunçados e o jeito que parece inquieto.
— Onde você foi? — eu pergunto, inevitavelmente.
— Ali.
— Ali? — eu repito incrédula. — Onde é ali?
— Fui resolver um problema, Samantha.
— É, mas você largou o trabalho e agora apareceu com a blusa
manchada de sangue — gesticulo. — Você está bem?
Ele então me olha, os olhos tristes e eu me encolho.
— A gente conversa em casa, pode ser?
— Eu posso sair um momento se quiserem conversar — Sr. Mackenzie
fala.
— Se puder nos fazer a gentileza… — eu sorrio, agradecida.
Ele assente e levanta, nos deixando a sós.
Eu também levanto e vou para o lado do Brandon, me abaixando para
olhá-lo mais firmemente.
— O que houve? — seguro seu rosto entre as mãos. — Foi sua ex-
namorada?
Ele faz uma careta, mas logo parece triste de novo.
— Eu demiti seu pai.
O olho por uns segundos, meio surpresa, mas logo o acaricio.
— Tudo bem, amor. Não faz mal.
— E não foi só isso — abaixa o olhar, respirando fundo. — Mas… Você
me perdoa por que não resisti e acabei dando uns socos nele?
— Oh… — pisco algumas vezes, duplamente surpresa. — Acho que
tudo bem, também, se não tiverem sido muito fortes.
— Não… — me olha de novo. — E eu encontrei o cara. Do vídeo.
Então sim, me levanto e dou um passo para trás. Surpresa e agradecida,
mas o choque é inevitável.
— Você… o encontrou?
— Sim…
— Como?
Brandon também levanta, um pouco apreensivo.
— Eu estive falando com uma pessoa que é capaz de ajudar e ele o
encontrou, então me ligou...
— Por que não me disse? — Me sinto um pouco mal por saber que ele
esteve fazendo algo assim sem me avisar. — Quero dizer, eu devia ter sido
informada…
— Eu não pensei assim, na verdade. Só queria fazer justiça por você. E
te deixar livre disso — ele caminha até mim e segura minhas mãos. — Quero
que tenhamos uma vida feliz juntos, sem fantasmas do passado.
— Ahn, sim, obrigada. — Estou meio perdida. — Quero dizer, isso foi
incrível, eu me sinto inenarravelmente agradecida, mas, acho que eu devia ter
ficado sabendo...
— Não pensei assim, amor, desculpa. Nem me liguei nisso quando falei
com o Francis. Desculpa.
— Com quem? — ergo as sobrancelhas.
— Francis, o homem que achou o tal cara.
— Francis não é uma empresa?
— O que você quer dizer? — rebate.
— Daniel Francis? — tiro minhas mãos das suas, não sabendo bem
como processar as informações. — Foi ele que procurou? Alto, moreno,
tatuagens?
— Você o conhece?
— Ele era o filho do dono da casa em que estava morando e eu estava
levando seus cachorros para passear… Sim, é ele mesmo. Me falou que tinha
uma empresa de segurança.
— Por isso ele ficou interessado tão de repente! — Brandon não tem a
melhor cara no momento. — Como você o conheceu?
— No dia que me mudei. Ele foi deixar as tintas e se apresentou. É um
bom homem, muito prestativo.
— Filho da mãe! — ele se exalta de repente. — Por isso ele ficou
interessado de uma hora pra outra!
— Ele quis me ajudar e ajudou, Brandon. E você também — volto a me
aproximar dele, o abraçando. — Obrigada.
— Por que você não me contou que tinha conhecido alguém enquanto
ficou lá?
Eu sinto o tom gélido e me afasto, olhando-o.
— Porque eu não achei que era relevante... — hesito um pouco por ver
seu olhar.
— Tudo que acontece com você é relevante e eu preciso saber, Sam. Me
senti… Eu não sei. Ele sabia sobre você. É como se eu fosse um idiota,
porque enquanto você parecia sumida, estava com ele...
— Eu não estava com ele — especifico. — Estava morando na casa
alugada do pai dele, um senhor também bondoso.
— Mas o que é isso? — Brandon parece agoniado.
— O quê?
— É tipo como se você tivesse dizendo que prefere ele e a família dele.
— Quê? Não. Nada disso!
— Ah, sei lá… Eu tô com muita raiva dele — esfrega o rosto. — Sei lá
mesmo.
— Estou muito grata pelo que fez, Brandon. Muito obrigada.
Ele me olha, parecendo meio sem foco.
— É... Acho que tanto faz — diz.
Então fico muito desentendida quando o vejo sair porta afora
novamente.
O que aconteceu?
Capítulo 44
Estou aflita enquanto tento dormir. Foi tudo tão esquisito e rápido.
Brandon me deixou sozinha e logo depois seu tio entrou, me perguntando se
eu estava bem, tentei sorrir e afirmar. Não sei se teve efeito. Depois disso, ele
só apareceu no final da noite, na hora de ir embora.
Estava quieto e não gostei de quando me olhou, muito menos quando
tivemos que pegar carona com o Sr. Mackenzie para vir para casa porque
Brandon disse que tinha bebido. E, quando chegamos, ele me deixou sozinha
e foi para seu quarto.
Eu nem entendi o que aconteceu direito, apenas gostaria de conversar,
mas Brandon não parecia estar com a mesma vontade.
Me sento na cama, desistindo de tentar dormir, então pego uma revista
da cabeceira e começo a folhear, sem interesse. Odeio que estejamos assim
tão de repente. Ele não é assim. Isso foi o quê?
Ouço um clique e levanto o olhar, o vendo parado na porta, vestido em
um short do Snoopy.
Eu quero rir, mas não o faço.
— Eu te acordei? — pergunta baixinho.
— Não, estou sem sono — deixo a revista de lado. — E você, não
conseguiu dormir?
— Eu tô carente. Acho que não consigo mais dormir sem você. Posso
deitar aí nesse espacinho do seu lado?
Assinto levemente, segurando um riso quando ele começa a caminhar
para perto, o short o deixando engraçado.
Ele parece cabisbaixo quando deita ao meu lado e me olha.
Nós ficamos em silêncio por um momento, então o ouço pigarrear.
— Você ainda gosta de mim? — questiona, um sussurro.
Dou um riso discreto.
— Eu gosto.
— Você não vai me deixar, né? Tipo, é que eu fiquei pensando um
monte de coisas — ele me olha e se senta. — Eu sou um pouco idiota às
vezes. O Francis é mais bonito do que eu, você poderia querer ele e não a
mim...
— Quê? — rio, sem entender. — De onde você está tirando tantas
ideias, Brandon?
— Mas, sabe, eu te amo e ele não.
— Vem cá — estendo os braços e ele vem depressa, deitando e me
abraçando, sua cabeça em meu pescoço. — Não tem nada a ver o Francis. Ele
me ajudou. Somente — o acaricio.
— Tá. Você vai ficar comigo?
— Eu vou.
— Obrigado… Nós vamos nos amar muito.
— Vamos mesmo — começo a acariciar seus cabelos. — Você é sempre
assim?
— Como?
— Desse jeito — seguro a risada. — Um bebê gigante.
— Não sou, só com você. Também não sei porque tô desse jeito.
Sorrio.
— E esse pijama?
— Meu pai me deu no meu aniversário de quinze anos e ainda cabe em
mim.
— Seu pai te deu um pijama do Snoopy com quinze anos? — começo a
rir.
— Ele deu, e o do meu irmão foi do Scooby. Não é engraçado — ele se
remexe, apertando minha cintura. — Verdade que ele sempre teve dificuldade
em aceitar que crescemos.
— Tadinho, mas eu achei que ficou uma gracinha em você.
Brandon dá um risinho.
— Eu era o Formiguinha.
— Quê?
— Desde o útero, meu apelido era Formiguinha.
Meu riso aumenta, ele levantando e me prendendo debaixo de seu corpo.
— Hm, gosto de você rindo e feliz — murmura e inclina a cabeça,
beijando meu pescoço. — Está tudo bem então? Estamos bem?
— Sim, Brandon. Nunca deixamos de estar.
Ele me abraça e cai para o lado, deitando e me colocando na mesma
posição.
— Vamos dormir de conchinha — beija meus cabelos. — E para de rir
do meu short e do meu apelido.
— Desculpa — tento parar. — Boa noite.
— Boa noite, amor.
Ainda continuo rindo por mais uns segundos, até apagar no conforto e
nos braços do Brandon.
Capítulo 45
Estou muito, muito feliz. Mesmo. Sou um pouco idiota, sou, mas estou
tentando mudar isso. Inclusive porque agora estou com Samantha. Claro. Eu
não canso de repetir o meu motivo: ela.
Saio do banheiro, a toalha enrolada na cintura, mas paro quando seu
olhar me chama. Ela está parada na porta de entrada do quarto, os braços
cruzados e, esteja eu enganado, com um semblante fechado.
— Eu terminei. Você vai agora? — gesticulo o banheiro.
— Você tem mais alguma coisa para me contar?
— Não — a resposta é tão imediata que eu mesmo estranho.
Samantha ergue um papel.
— Então o que é isso?
Merda.
Ela se aproxima, até estar bem próxima a mim, então o estende à minha
frente.
— Não ia me contar? — questiona.
— Samantha, eu…
— Brandon, por mais que você não goste dele, é o meu pai e, se ele me
escreve um bilhete pedindo desculpas e dizendo que tem um diagnóstico de
morte, eu preciso saber — seus olhos lacrimejam. — Me diz, você não ia me
contar?
Eu estou surpreso e arrependido. Surpreso por ela estar chorando e
arrependido de não ter escondido isso. Na verdade, deveria ter rasgado assim
que recebi, mas tive a brilhante ideia de guardar na calça.
— Responde, Brandon.
— Não — disparo. — Eu não ia. E não me sinto mal por dizer isso,
Samantha, porque enquanto se esforçava pra ser uma boa filha, ele não ligava
pra você. Ele te maltratava e te batia, te fazia sofrer e chorar. Não pode ser
considerado pai. Nunca te deu apoio ou segurança, muito pelo contrário,
tirava isso de você. Então, se quer saber, eu não ia contar. Não mesmo. Não
me importo se o homem que fez você sofrer tá assim, porque não passa de
colheita.
Ela me encara por uns segundos, então funga.
— Brandon, não é assim que se pensa e estou decepcionada por você ter
feito isso. Ele me fez mal, sim, bastante, mas não deixa de ser o meu pai e
você deveria ter me contado, a decisão que eu tomaria seria de minha
responsabilidade.
— Eu sei que você correria para o lado dele, por isso não falei.
— Porque é meu pai!
— Não! — rebato, incrédulo. — Que pai é esse? Ele só te fez mal,
Samantha! — dou um passo à frente e seguro seus braços, levantando-os um
pouco. — Olha essas manchas! É isso que um pai faz com uma filha?
— Mesmo assim… — ela hesita e se afasta do meu contato. — Não
cabia a você decidir por mim, entende o que estou dizendo?
— Não, Sam, eu não entendo — esfrego a testa, já sem qualquer
paciência sobre isso. Sobre como ela pode querer voltar. — Sinceramente,
não entendo. O que ele fez te trouxe consequências recentes e mesmo assim
você acha que — dou um riso incrédulo — estou errado.
Ela vira, então sai andando.
— Onde você vai? — pergunto.
— Vou vê-lo. Ele está prestes a morrer... Droga.
Um grunhido me escapa.
Não acredito que agora eu sou errado.
Capítulo 46
Brian
— Você está bem?
Olho para o lado e vejo Amanda sentada.
— Desculpe, não queria te acordar — aliso o rosto.
— O que você tem? Parece triste.
— Eu estou — me levanto, um pouco conturbado. — Tem uma
sensação estranha dentro de mim e tive um sonho com o Brandon.
— Que tipo de sonho?
— Não foi bem um sonho, parecia mais algum tipo de pesadelo. Eu não
gosto dessas merdas, Amanda — começo a perambular pelo quarto. — Não
gosto. Mesmo que não signifiquem nada, me deixam mal pra cacete.
Ela também levanta, vindo em minha direção e me encontrando. Seu
abraço sempre é um porto que eu posso parar e descansar. Tentar encontrar as
repostas.
— Calma. Deve ter sido só porque vocês fizeram isso de ver o pai da
menina… Quer dizer, não só viram como fizeram um belo estrago, mas o que
importa é que ele não vai mais fazer mal a ela.
— Eu tô preocupado com ele.
— O Brandon é adulto, Brian. Você precisa deixá-lo crescer. Ele precisa
lidar com isso.
— Eu entendo o que ele sente.
— E você acha que eu não? — ela se afasta para olhar em meu rosto. —
Brian, imagina a minha dor em ter estado com você e pensar que não poderia
te dar o que você mais queria? Eu sei exatamente o que o Brandon sente! É
doloroso, pesado… — ela abaixa o olhar. — É algo te faz ficar em mil
pedaços por dentro enquanto você precisa fingir levar como algo simples e
normal. Algo dilacerante… Olhar as famílias, os pais com seus filhos e saber
que talvez você não encontre alguém porque não pode ter aquilo… —
balança a cabeça, dissipando as ideias, como se não quisesse lembrar. — Mas
ele encontrou a Samantha e eles estão bem juntos.
— Eu sei… — mordo o lábio, louco para puxá-la para um abraço, mas
sei que, se o fizer, Amanda vai cair em um choro profundo, e não quero isso.
Não quero trazer lembranças ruins a ela. Nunca.
— Então não precisa ter esse receio. Se ela o ama, vai estar bem com
ele.
— Não é a garota que me deixa preocupado, é o Brandon. Ele pode…
— bagunço os cabelos, um pouco agoniado. — Você sabe que ele pode fazer
umas besteiras.
— Isso era antigamente, Brian. Antigamente.
— Não sei... — volto a andar. — Acho que esse pai dela deu muito
trabalho. Eu não sei de nada direito. Tô me sentindo meio perdido.
— Ei — Amanda me faz parar e olhar em seus olhos, onde me
tranquilizo um pouco. — Vai ficar tudo bem. Vai dar tudo certo. Sempre fica
e sempre dá.
— E se não der?
— Vai dar, amor — ela segura minha mão e nos leva para a cama de
novo, subindo na frente e eu atrás, então me aconchego nela, recebendo seu
carinho. — Você lembra o que sonhou? Me conta.
— Não muito bem. Estava bem escuro e ouvia o Brandon gritar, mas era
bem distante e eu não conseguia achá-lo, até que o barulho parava… Foi bem
perturbador.
— Sonhos são respostas do nosso subconsciente, não realidade, Brian. E
isso poderia ser qualquer coisa.
— Não sei…
— Vamos ligar para ele.
— O quê? Não. Está tarde, Amanda.
— O que tem? Você está preocupado. E agora eu também fiquei.
Ela estende a mão ao criado-mudo e pega o celular, fazendo a ligação. É
preciso tentar duas vezes para sermos atendidos.
— Oi, mãe — ele está com a voz meio rouca, não sei se de dormir ou
chorar. — Tá tudo bem?
— Oi, filho. Estamos bem… — ela hesita e respira fundo. — Seu pai
apenas sonhou com você e queria saber se está tudo bem por aí...
— Aham, só estava dormindo. Eu trouxe a Samantha pra nossa fazenda.
Nós arregalamos os olhos, muito surpresos.
— Verdade? — Amanda parece mais surpresa, mas logo tentando se
recuperar. Nossa casa tem história. Muita. — Isso é… bom.
— É isso. Estamos na minha casinha da árvore e tá chovendo. Ela
dormiu e eu… Não consegui, infelizmente.
— O que houve? — eu questiono.
— Eu tô mal, pai. Sei lá. Ela é maravilhosa demais pra mim e… Se um
dia ela quiser me trocar?
Amanda e eu nos olhamos. Céus. Era isso que passava exatamente na
cabeça da minha mulher e percebo o desconforto dela.
— Ela não vai querer isso nunca, filho — sou eu quem digo. — Se ela te
ama, isso nunca vai passar pela cabeça dela.
— Quem garante, pai? Hã? Quem me garante?
— O amor, Brandon.
Ele suspira, parecendo descrente, mas não sou mesmo eu quem posso
mostrar isso a ele, apenas o tempo. Só ele dirá.
— Como foi com o pai dela?
Amanda me olha apreensiva.
— Bem — pigarreio —, nós o levamos para um exame aprofundado e,
talvez isso seja péssimo para ela saber, mas ele está em perfeita saúde. O
problema no braço era a coluna e nada mais.
— Filho da…
— Olha a boca — a mãe o repreende.
— Ela vai ficar arrasada! Ela pensou que o desgraçado estava doente
de verdade. Como ele pôde, pai? A própria filha!
Minha mulher e eu nos encaramos novamente, eu tendo que respirar
bem fundo antes de falar.
— Então, filho, essa também é outra questão. Samantha não é filha dele,
mas sim do irmão. Você sabe a história que ele contou pra ela? — me sento
pra continuar. — O irmão dele era o verdadeiro marido.
— Meu Deus! — ele está tendo a mesma reação que nós.
Philip e Luke fizeram questão de extrair a verdade dele. Afinal, foram
tantos golpes que senti certa pena do cara.
— Ele teve um caso com a cunhada... Ela deixou Samantha com ele para
que pensasse que era sua filha e, quando ela cresceu um pouquinho, ele soube
que não era. Por isso começou a ter raiva dela e tudo o mais... Bem, e deu
nisso.
— Meu Deus… — Brandon repete, mais contido. — Obrigado, pai.
Eu… Vou ter que desligar. Ela tá acordando. Vou enviar um e-mail
importante na parte da manhã, quero que o senhor leia e informe para a
família, por favor. Amo vocês — ele parece abatido, então desliga.
Amanda guarda o celular e me olha, apreensiva.
— Acha que ele vai contar? — pergunta.
— Não sei. É uma decisão dele…
— Fica calmo, Brian — ela me puxa para e beija meus cabelos. — O
que você acha de me atacar para se acalmar mais rápido?
Sorrio, levantando a cabeça.
— Eu não pensei nisso, mas é uma ótima ideia — rastejo até estar sobre
seu corpo.
Amanda é tão maravilhosa pra mim também que eu agradeço aos céus a
cada dia. O que seria de mim sem ela?
— Eu te amo — repito o que faço questão de dizer todos os dias. —
Como nunca pensei amar ninguém.
Ela sorri e circula as pernas em minha cintura, me presenteando com um
beijo delicioso e me fazendo ter plena certeza de que, com ela, a minha vida é
plena e feliz.
E, se eu fosse embora hoje, seria imensa e eternamente grato. Porque ela
foi a minha história.
A minha Amanda linda. Sempre e só minha.
Capítulo 49
2 dias depois…
Estou muitíssimo nervosa. Com tudo. Apesar de ser um pouco triste que
só esteja a família do Brandon aqui. Seria também bom que estivesse a minha
mãe e o meu… pai. Nem isso ele é.
Respiro fundo ao sentir o calor em meus braços e me viro, vendo a Sra.
Mackenzie me olhar com olhos gentis e um sorriso suave.
— Você está linda, Samantha. O meu filho vai se emocionar.
Também sorrio, imaginando que sim, porque Brandon é mesmo emotivo
e costuma chorar facilmente. Ao menos, quando se trata de mim.
— Obrigada por me receberem tão… — respiro fundo, aliviada. — Tão
abertamente na família de vocês... Eu estou muito grata.
— Só peço que faça meu filho feliz. Ou melhor, mantenha-o feliz como
parece estar fazendo — me puxa para um abraço. — E não se preocupe, você
também tem uma família a partir de agora. Nós todos vamos cuidar de você.
Eu evito chorar ao máximo, mas não consigo.
— Não chore, vai borrar a maquiagem — dá um risinho. O abraço dela é
tão bom, apertado, confortador… sincero. Me passando tantas coisas boas e
que nunca senti de alguém realmente, exceto do Brandon.
— Obrigada, Sra. Mackenzie. Inclusive por me deixar ficar com o
Brandon.
Ela ri, se afastando e limpando minhas lágrimas.
— Eu que agradeço por você restaurá-lo, por assim dizer. Agora, vamos
indo que você já demorou mais de quinze minutos e ele deve estar pensando
que desistiu — acaricia meus braços. — Muito nervosa?
— Muitíssimo — respiro fundo mais uma vez, olhando para mim
mesma.
Brandon teve uma ideia louca. Não tanto. Nos casarmos aqui mesmo na
fazenda da família dele, com a presença deles. Infelizmente, a Amy e o
marido não puderam vir porque ela está quase no dia de dar à luz, mas seus
pais trouxeram o Scott e também veio o irmão dele e a esposa, junto com o
filhinho.
Foi algo arrumado bem rápido, só teremos um almoço em família e
amanhã saímos em lua de mel à tarde. Viajaremos para a Espanha, onde ele
sempre quis conhecer. Não foi antes porque não quis, obviamente.
Respiro fundo e deixo que a Sra. Mackenzie me acompanhe para fora,
então caminhamos de mãos dadas pela grama, até alcançar o arco branco.
Logo eu vejo o Brandon. Está lindo, como sempre, vestido em um terno
branco e as mãos juntas em frente ao corpo.
Meu vestido é simples e de renda branca, e estou usando uma tiara de
flores também brancas. Me sinto feliz. Nunca esperei que iria ao menos casar,
isso tudo já está sendo mais do que perfeito. Ter o Brandon já é mais que
perfeito.
Nossos olhares se encontram e eu suspiro inevitavelmente, adorando a
forma como ele me acalma e me faz borbulhar por dentro ao mesmo tempo.
Sra. Mackenzie solta minha mão e eu respiro fundo, sorrindo para ela. O
Sr. Mackenzie toma seu lugar e estende o braço, onde eu seguro e ele
também me dá um sorriso amável. É uma cerimônia linda e mais do que já
pensei. Tem carinho. É também boas-vindas à família. Eu sinto e vejo.
Nós caminhamos até onde Brandon está, ele me olhando de um jeito que
me faz quase chorar. Porque eu vejo e sinto tudo que quer me dizer.
E é tudo que preciso saber.
O Sr. Mackenzie sorri e me entrega ao filho, e nós nos encaramos por
um momento, um breve momento.
Brandon beija minha mão e respira fundo, enquanto ouço alguém
chorar, me perguntando se talvez não seja eu mesma.
ѾѾѾ
— Feliz?
Olho para Brandon ao meu lado, segurando minha mão enquanto
estamos olhando sua família.
— Estou muito — sorrio. — Obrigada.
— Eu também. Estamos casados — dá um risinho, puxando minha mão
e beijando por cima da aliança. — Muitíssimo feliz é pouco pra como estou.
— Você é um amor.
— Ei, amor, eu sinto muito pelo Theo e como as coisas se revelaram pra
você.
— Está tudo bem… — abaixo o olhar, ainda muito surpresa, mas feliz
demais para focar nisso. — Talvez vá doer mais lá na frente, mas sei que
você vai estar comigo, então tudo bem mesmo.
— Eu vou — ele acaricia minha mão. — Se você quiser, nós podemos ir
procurar sua mãe depois… Tenho certeza que podemos arrumar um jeito e…
— Não — o interrompo. — Eu não quero. Tudo que quero é recomeçar
com você, Brandon. Só isso. Deixe o passado no seu lugar. Apenas… Você.
Só você.
Ele sorri, concordando.
— Quando a gente voltar da lua de mel, vamos para a casa nova… Isso
é um problema pra você?
— Não, nenhum. Mas o que aconteceu com ele, com meu pai? — Estou
apreensiva com a resposta.
— Acho que tiraram ele da cidade ou algo assim — Brandon desvia o
olhar, parecendo saber de algo mais, mas não querendo falar tudo,
certamente. — O importante é que você está segura.
— Bem, eu… Deixe como está. Mais uma vez, obrigada.
— Eu que agradeço, gatinha, e não posso negar que tô muito ansioso pra
nossa viagem. Vai ser muito bom e — ele se inclina, sussurrando: — nós
vamos aproveitar bem a cama.
Sorrio, concordando, mas também percebendo que ele está com um
olhar nublado ao falar isso.
— Eu quero que saiba que eu amo tudo em você — digo, porque sei que
o fato de ser infértil o deixa muito triste. — E amo do jeito que é.
Ele fecha brevemente os olhos, soltando uma respiração funda quando
os abre de novo.
— Eu prometo que vou te fazer muito feliz mesmo assim, porque essas
coisas dão pra levar, né? Com amor a gente consegue superar e fica tudo
muito bom. Nós podemos ir à ONG da minha irmã, ver as crianças e…
— Brandon — seguro seu rosto com as duas mãos —, está tudo bem.
Deixe que cada dia aconteça como tem que acontecer, certo?
— Certo — ele segura meus pulsos e tira minhas mãos, me puxando
para um abraço demorado. — A gente vai superar, juntos.
Sorrio, vendo seus pais ao longe, que acenam.
— Nós vamos — reafirmo. — Eu sei que vamos.
Pode parecer algo simples de viver, mas não é. Sombras do passado
ainda estão presentes, que calafrios me percorrem. Tanta notícia ruim, mesmo
em meio a acontecimentos bons, é um pouco doloroso.
Mas a vida é assim. Ela tem dessas aflições, para nos deixar mais fortes,
nos aperfeiçoar... Formar nosso caráter. Sim, de fato. Pode ser difícil, mas, a
plena certeza eu tenho de que, com o Brandon, isso vai se tornar trocentas
vezes mais fácil.
Apesar de tudo, é assim que vai ser: sempre ele e eu.
Sempre.
Epílogo
¹Provérbio Chinês.
“Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se
os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre.”
Albert Einstein
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