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Amor em

Pretensão

Os Mackenzies
Livro 11

NATHALIA
MARVIN
Copyright © Nathalia Marvin 2020
Todos os direitos reservados.

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer


semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é
intencional por parte da autora.

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meio, sem a permissão expressa por escrito da autora.
Capítulo 1

Eu entro no prédio e dou bom dia aos trabalhadores. A reforma está indo
perfeitamente bem. Tudo está alinhado, seguindo o plano e orçamento. Não é
pra menos, estou mais que feliz. É a minha casa. A que eu sempre quis e
sonhei.
Porque, sabe como é, morar em apartamento já pronto não pode ser
comparado com o que você vê nascendo de acordo com sua vontade. É
indizível vezes mais prazeroso, sem qualquer dúvida.
— Theo — cumprimento o pedreiro, que está analisando uma parede.
Ele rapidamente vira-se para mim avaliativo, então sorri. Tem uma
aparência jovial, mas, algumas marcas de expressões me dizem que não deve
passar dos 55.
— Sr. Mackenzie, boa tarde — responde. — É uma surpresa que tenha
vindo aqui essa hora.
— Nem me diga! Tive uma reunião com patrocinadores e resolvi desviar
um pouco do caminho para vir ver como estão indo.
— Está tudo muito bom — ele afirma. — A sua cunhada esteve vindo
mais cedo trazer a palheta de cores do andar superior. Já encomendei as
melhores tintas de acordo com o layout que você preferiu.
Sorrio satisfeito.
— Obrigado, Theo — agradeço, tocando-lhe o ombro.
Ele sorri e volta à sua análise, enquanto eu aproveito para passar o olhar
em volta. Tudo está muito bom mesmo. Estamos na sala de estar, que já está
devidamente pintada e arrumada, exceto pela parede que ele está vendo, que
vai ser retirada para dar mais iluminação do deck para dentro da casa. Luz
real e de verdade.
As janelas e portas de vidros, todas com dois metros, salientando a
iluminação natural que eu sempre quis ter e o apartamento me impedia. As
paredes brancas e gelo confirmando isso.
Suspiro, muito satisfeito mesmo.
— Pai, eu não consegui alcançar no teto, é muito alto mesmo com a
escada — ouço uma voz feminina e me viro de imediato, estranhando muito.
Uma garota de cabelos pretos e pele clara, olha em direção ao Theo,
enquanto tem um balde de tinta na mão e o rodo em outra.
O que é isso?
— Samantha… — ele hesita, então me olha rapidamente e vai depressa
pegar o balde da mão dela. — Eu pedi que você ficasse lá onde a deixei —
sussurra, mas ouço mesmo assim.
— Eu sei, pai, desculpe, mas é que não alcancei.
— Não alcançou o quê? — Eu pergunto e só então ela percebe minha
presença, levantando a cabeça para me olhar.
Fica estagnada ou surpreendida, mas é para seu pai que estou olhando.
— Por que sua filha está aqui — questiono — vestida como uma pessoa
da equipe? — É um macacão ridículo e sujo de tinta. Ela também está toda
suja.
— Bem, é que…
— É que ele precisava de ajuda — ela o interrompe e tem minha atenção
de novo. — Eu me ofereci para ajudar.
— Por que você não me disse que precisava de mais pessoas? — olho
novamente para Theo.
— Não precisava, é que Samantha insiste com isso.
— Não comece de novo, pai — ela o olha. — O senhor sabe que precisa
sim de ajuda.
Balanço a cabeça, confuso.
— Filha, vá trocar de roupa. Você vai embora — ele avisa.
— Não mesmo — ela parece perplexa. — Eu não vou embora só porque
esse homem chegou.
— Samantha! — a adverte.
Ela abaixa a cabeça, parecendo imediatamente arrependida.
— Esse homem é o Sr. Mackenzie, o dono daqui — ele emenda.
A garota não esbanja reação, continua olhando para o chão.
Respiro fundo.
— Apesar de não estar entendendo nada, eu não gosto da ideia de ter
uma adolescente trabalhando em minha casa — declaro. — Gostaria que não
a trouxesse mais, Theo.
— Eu não sou uma adolescente, tenho vinte e dois anos — ela me olha e
posso pensar ver desdém em seu tom.
— Não vai tornar a acontecer — ele garante.
Ela suspira com força e então põe o rodo dentro do balde e me olha nos
olhos, dando-me um olhar que me dá certo medo, saindo em seguida.
— O que significa isso? Tem trazido sua filha com você? — pergunto,
tentando entender alguma coisa.
— Lamento, mas a Samantha é muito preocupada — Theo está com a
voz trêmula. — Eu senti uma dor no braço e ela ficou louca, dizendo que era
por estar trabalhando muito e que viria ajudar.
— Bem, então eu vou contratar alguém para ajudar — dou um tapinha
em seu ombro. — Mas deixe a garota fora disso. Não quero ter que me
responsabilizar pela segurança dela, também.
Ele me dá um sorriso amarelo e assente, então me despeço e saio,
parando um pouco na metade do caminho quando um barulho me chama
atenção.
É ela e está em uma tentativa muito falha de se acalmar.
— O que você está fazendo? — pergunto quando vejo que está
conversando sozinha.
Ela dá um gritinho e se vira para mim, o rosto todo vermelho e a
respiração pesada pelo esforço e susto.
Esforço. Olho para o chão e vejo que estava tentando empurrar uma
pedra, aparentemente muito pesada.
— Você é louca? Não vai conseguir levantar essa pedra, garota — eu
digo, porque é mesmo minha primeira impressão. Ela ser louca de achar que
tem força suficiente.
— Claro que vou — faz uma careta e põe as mãos na cintura. — Só
preciso desprender ela do chão.
— Você não ouviu o seu pai te mandando ir embora?
— Eu não vou fazer isso. Ele não pode ficar trabalhando sozinho.
— Vou contratar mais pessoas para ajudá-lo. Vai pra casa, menina.
Ela me ignora e volta a tentar levantar o material pesado, de uma
maneira muito falha. Dou um grunhido de descrença, então me aproximo,
tendo que tirá-la à força, que grita de forma nervosa.
— Só tô tentando fazer minha parte, droga! — aviso, olhando-a
incrédulo.
— Sua parte? — ela dá um passo para trás quando está estabilizada
sobre os próprios pés. — Sua parte?! Sua parte, se parasse um pouco de
bancar o patrão gentil e enxergasse meu pai como uma pessoa comum, veria
que ele está fraco! — seus lábios tremem um pouco ao falar.
— Theo parece ótimo.
— Parece! — ela ergue as mãos. — Parece! Você mesmo está dizendo.
Balanço a cabeça, um pouco confuso, mas logo minha atenção é atraída
para a entrada, quando ouço um grito agudo. Reconheço e muito bem. O
carro vermelho, também.
— Que mer… — Não concluo o pensamento, pois logo Jennifer se joga
em meus braços.
A princípio, eu fico sem reação, mas logo ela vira o rosto e me beija na
boca, não me dando outra alternativa que não corresponder. Podemos ter
terminado, mas esse corpo é espetacular.
— Meu bebê lindo — ela fala, então morde minha boca um pouco.
— Jeniffer — engulo em seco, ciente do que acabei deixar acontecer.
Quer dizer, não é nada errado, é só que prometi que não me envolveria mais
com ela depois do que disse à minha irmã.
Chamar Amy de cadela desgraçada não pegou legal. Ninguém insulta
minha família.
— Vamos para minha casa — ela chama manhosa, então olha para o
lado e põe os braços ao redor do meu pescoço. — Quem é essa aí?
Olho também e a garota ainda está em pé, parecendo que está vendo a
coisa mais nojenta do mundo. É a mesma cara que Amy faz quando ver
Jennifer.
— Essa aí tem nome — a garota a mede dos pés à cabeça e emite um
riso. — Não me dou com o Paraguai — então sai, balançando a cabeça.
— Por que ela disse isso? — Jennifer questiona, mas eu simplesmente
resolvo ficar quieto e a conduzir até meu carro.
Quer dizer, a culpa não é de todo minha. Ela que veio atrás de mim, não
é?
Sendo assim, não faz mal. Só uma vez. Mais uma vez.
Ligo o carro e dou a volta para nos tirar da parte fechada, então olho
pela janela e vejo a garota já abaixada sobre o gramado, mas ela não está
capinando ou fazendo jardinagem.
Seja lá o que é, nem perco meu tempo, até porque Jennifer já está
abrindo minha calça. Então, tanto faz. É só o que importa, no momento.
Capítulo 2

Isso seria o que eu chamo de falta de confiança em um funcionário, por


assim dizer. Mas, na verdade, o que eu posso fazer? Não levei muita fé
naquela garota. Theo pode até tê-la proibido de vir, mas ela não estava com
cara de quem ia obedecer. Sendo assim, estaciono meu carro exatamente às
uma e cinco da tarde, e saio em direção à entrada da minha futura oficial
casa.
Está um tempo gostoso. Nem frio o suficiente para usar agasalho, mas
também, não calor para usar uma camiseta e bermuda. É o famoso: eu não
sei, mas está gostoso.
Respiro fundo e enfio as mãos nos bolsos da calça, andando calmamente
em direção à entrada. É quando a vejo. Mesmo de longe. Pode ser um
macacão horrível, mas a silhueta feminina é inconfundível; e, modéstia parte,
disso eu entendo perfeitamente bem.
Me aproximo, cauteloso, percebendo que a atividade dela do dia está
sendo pintar os corrimões do deck. A voz dela. Cantando. Ela está mesmo
cantando. Feliz pelo que está fazendo?
Fico em pé há uns três passos, observando o quanto a ação parece
satisfatória para ela. Estranho.
— Eu gosto do JT, também — digo quando reconheço a música.
Ela rapidamente se vira, os olhos arregalados e o rosto sujo com tinta
branca. Alguns fios de seu cabelo também estão soltos do coque alto e é
mesmo estranho que eu queira me aproximar e coloca-los atrás de sua orelha.
— Você — fala, então faz uma careta que não gosto muito.
— Sr. Mackenzie pra você, minha querida. Não temos aproximação pra
comportamentos informais.
Ela sorri, então se apoia em uma perna.
— Se veio até aqui me mandar embora, perdeu seu tempo.
— Bem, raramente eu perco meu tempo.
— Tem certeza?
— Absoluta — fecho a cara, não gostando nem um pouco também da
forma que ela está me tratando.
— Só não é o que parece — dá de ombros e então mergulha o pincel na
tinta, voltando a pintar.
— Você sabe que eu posso demitir seu pai por isso, não é? Por essa sua
língua e audácia. — Nunca faria isso, é claro, mas faço questão de dar um
susto nela.
Mas, não parece funcionar. Ela me ignora com um êxito de cem por
cento.
Não gosto dessa ideia. A de ser ignorado. Ninguém me ignora. Eu sou o
Brandon Mackenzie. As pessoas querem ser notadas por mim, não me
deixarem com raiva.
Caminho para perto dela e capturo o pincel de sua mão, obtendo
novamente sua atenção. Ela está surpresa.
— Você manchou seu lindo terno — cassoa, mas eu não ligo.
— Se acha muito engraçada pelo que está fazendo?
— Quantos anos você tem?
— E por que isso é da sua conta?
— Não disse que é, estou perguntando porque você se comporta como
um adolescente idiota e… — me avalia de cima a baixo. — Hormonal.
Estreito os olhos, não gostando nadinha de seu tom.
— Você é muito abusada.
— Não sou, apenas estou tentando fazer o meu trabalho, mas você está
atrapalhando — ela tenta obter o pincel de volta.
— Você desobedeceu o seu pai — deixo claro, tirando o objeto de seu
alcance. — Ele sabe que está aqui novamente?
— Sabe! E ele não liga, porque também sabe que me preocupo com ele.
— O que ele tem?
Então é a primeira vez que a vejo respirar fundo e parecer inofensiva.
Bem, só parecer, como ela mesmo disse.
— Eu não sei — desvia o olhar para o gramado. — Ele tem sentido
umas coisas e isso não me deixa confortável. Também não quer parar de
trabalhar tanto e isso é um problema. Então, já que estou desempregada,
resolvi vir ajudar.
— É um péssimo trabalho.
— Por quê? Por que sou mulher? — ela me olha novamente, parecendo
irritada.
— Exatamente. Você não tem força para fazer a maioria das coisas aqui
— gesticulo a casa. — Não é preconceito, apenas a verdade. E, mais, não vou
te pagar porque não te contratei.
— Quem aqui falou em dinheiro, Sr. Mackenzie? — Posso apostar que
ela enfatizou meu nome de deboche. — Estou aqui pelo meu pai, não pelo
seu dinheiro.
Solto o pincel no chão, indignado.
— Você devia ser mais receptiva, sabia? As pessoas gostam disso.
— Também não estou preocupada com o que o senhor gosta — ela
rapidamente o pega de volta, mergulha em um balde com água, então seca no
próprio macacão e volta ao pote de tinta.
— Escuta aqui — eu tento um tom ameaçador quando ela novamente
finge que não estou perto —, voltarei amanhã e não quero mesmo te ver aqui,
entendeu? Ou tomarei providências drásticas.
— Vá em frente — ela sorri e eu grunho de descrença, escolhendo me
afastar e voltar para o carro, com medo do que pode sair da minha boca.
Garota idiota e burra. Isso não vai ficar assim.
Capítulo 3

É mais uma manhã agradável. Sete e meia da manhã. Eu preferi voltar


logo cedo, porque não consegui esquecer a audácia da garota. Nunca vi algo
assim com alguém como eu.
Desta vez, demoro um pouco mais para encontra-la. Está novamente nos
fundos da casa, mas em outro lado, numa escada, fazendo algo que não
consigo ver.
Pigarreio bem alto, para ela logo perceber que voltei e falei sério. E
funciona. Logo o rosto bonito surge quando ela olha para baixo.
A careta não é nada agradável.
— Bom dia, garota — eu falo. — Você pode descer daí, por favor?
Preciso falar com você. E é sobre o seu pai.
Ela revira os olhos, mas logo começa a descer a escada com um alicate
em mãos. Quando faltam dois degraus, ela pula no gramado, então guarda o
objeto no bolso do macacão, cruzando os braços e me olhando.
— Pode falar.
Balanço a cabeça, descrente.
— Eu vou pagar um tratamento para o Theo, mas você vai ter que deixar
de vir trabalhar. Este é o meu acordo — dou um sorriso, por sua cara de
aparente espanto.
— Acha que eu sou uma pessoa comprável? — questiona.
— Não estou falando de te comprar, apenas de te livrar de perigos.
— Perigos?
— Sim.
— Que tipo de "perigos"? — debocha.
— Do tipo, eu não sei, você se machucar. Olha essa escada — gesticulo
—, se você caísse daí, meu Deus! E mais esse monte de coisas pesadas e tudo
o mais. Isso é perigoso, garota. Além do quê, quantos homens trabalham
aqui? Vários!
Ela estreita os olhos, mas eu não ligo se me acha um histérico. Eu fui
ensinado assim. A proteger as mulheres. O que posso fazer? Me preocupo
mesmo.
— Todos os homens daqui me respeitam, Sr. Mackenzie.
— Pode ser, pode ser. Mas, mente dos outros é terreno que não se anda,
minha filha!
— Por que você está irritado? — ela quase ri.
— Eu não estou irritado, você que está me irritando!
— Bem, isso. Por quê? — agora ela dá uma risadinha e tenta se conter.
— Você está rindo? — Eu não acredito.
— Estou, por quê? É engraçado ver você irritado. Fica bem engraçado,
vermelho, como se fosse explodir ou algo assim. Nem de longe parece um
homem corpulento.
Balanço a cabeça mais uma vez.
— Não estou achando a menor graça — anuncio, então dou alguns
passos em sua direção, gostando de como ela parece apreensiva. — Se quer
chamar minha atenção, é melhor fazer isso de uma outra forma.
Ela ergue os ombros, como em desdém.
— Acredite, chamar sua atenção não está entre minhas missões durante
a vida.
— Olha, garota, você merece uns bons castigos, isso sim. Tudo o que
seu pai não te deu quando era criança.
— Hm — parece nem aí. — Você veio para alugar meus ouvidos com
seus chiliques? Porque, sinceramente, eu não tenho o menor interesse em
ouvir e menos ainda em prestar atenção. Tenho mais o que fazer, Sr.
Mackenzie, e isso inclui o trabalho do meu pai.
— Eu já falei o que tenho pra te oferecer. Não é o suficiente? Você tem
que bater de frente assim?
— Escuta, mesmo que ofereça isso, um plano, ele não vai trabalhar
menos — ela suspira, pesarosa. — Conheço o meu pai, é um cabeça dura.
— Que novidade.
— Não, é sério — seus olhos acentuam a cor de um jeito triste e
nublado, e isso me causa uma imediata sensação estranha. De pegá-la em
meus braços e oferecer um abraço. — Ele é assim. Gosta de se ausentar da
realidade. Não sei. É difícil para mim lidar com ele.
— Talvez isso seja bom pra ele. Tenta ver pelo lado dele.
— Bom? Qual parte de se matar de trabalhar é bom para alguém com
saúde debilitada, Sr. Mackenzie?
Aliso a nuca, já incomodado com a forma que ela chama meu nome.
Como um erro. Não era exatamente esse tom que eu esperava.
— É o que posso oferecer. Se ele se realiza no trabalho, beleza, não sou
eu que vou tirar isso dele.
Ela balança a cabeça em negativa, então levamos um susto com a voz
que surge e, logo depois, o próprio Theo.
— Sr. Mackenzie, que ótimo vê-lo novamente — ele sorri largamente e
rapidamente percebe Samantha, seu sorriso morrendo.
— Oi, Theo. Sem problemas. Sua filha já me convenceu que não vai a
lugar algum — eu tento sorrir, mas acho que não obtenho êxito.
Um pequeno silêncio paira sobre nós, então ele tosse um pouco, logo se
recuperando.
— Hoje é meu aniversário — anuncia. — Minha filha vai fazer um
pequeno jantar para nós dois e eu pensei que, como esteve me ajudando tanto
me dando a oportunidade nesse trabalho, penso que o senhor poderia
aparecer.
A garota parece imediatamente chocada, seu queixo quase indo ao chão.
— De jeito nenhum, pai! — reclama.
— Não seja indelicada, Samantha. Eu faço questão, Sr. Mackenzie —
ele me olha e, não por nada, apenas pelo fato de que ele é um dos meus
melhores funcionários, eu aceito prontamente.
— É claro, Theo. Mal posso esperar pela noite — olho para a garota e
dou um sorriso altamente convencido. — Posso levar alguma coisa?
Ela faz um ruído e logo caminha para longe.
— Ela só está… — o pai começa.
— Tudo bem — aceno com a cabeça. — Mulheres em seus bons e maus
dias. Quem entende?
Ele ri e concorda, então conversamos um pouco sobre a obra quase
finalizada. Dez minutos depois, estou dirigindo e com um sorriso no rosto.
Ah, e claro, o endereço da festa da noite no bolso.
Capítulo 4

Eu não devia estar nervosa, mas estou. Quer dizer, é o aniversário do meu
pai e eu me planejei a fazer uma pequena festa para ele. Mesmo que sejamos
só nós dois. Não importa, só que fazê-lo sorrir ao máximo.
Mas, não, não poderia ser perfeito. Nada nunca é. Por que ele precisava
convidar o tal Sr. Mackenzie?
Respiro fundo mais uma vez enquanto ajeito um dos balões que estão
enfeitando nossa pequena varanda. Está uma ventania forte, mas agradeço
por nenhum balão ter estourado ainda.
Não há convidados, exceto por ele e a Sra. Austen, nossa vizinha que
sempre está nos ajudando e agraciando com sua presença e de seus dois
cãezinhos.
Meu pai está em sua casa. Eu pedi que fosse para ao menos não me ver
arrumando tudo. Ele merece algo legal. Desde que minha mãe nos
abandonou, há oito anos, para fugir com o irmão de meu pai, ele tem sofrido
horrores. E posso apostar que sua saúde debilitada também é por conta disso.
Suspiro profundamente, quase tomando um susto quando a campainha
toca. Três vezes consecutivas, me deixando agoniada. Caminho rapidamente
para dentro e vou até a sala, agarrando a maçaneta e girando a chave, então
abro a porta.
Prendo a respiração ao ver a figura masculina à minha frente. Quer
dizer, é o Sr. Mackenzie — que nem deveria ser chamado assim porque sua
cara lembra tudo, menos um senhor —, e ele está vestido de um jeito que o
deixa ainda mais jovem. Somente em uma bermuda xadrez preto e branco, e
uma camisa azul. Sandália nos pés. Simples assim. Impecável e natural.
Engulo em seco.
— Boa noite — ele dá um sorriso largo, então seu olhar se abaixa, me
avaliando inteira. Uma de suas sobrancelhas castanhas se ergue. — Eu devia
ter vindo vestido como um lorde?
— Não — me forço a responder, então ele estende uma caixa em minha
direção.
— Aqui. É uma caixa de doces de chocolate, para cooperar.
Eu pego, um pouco nervosa. Não deveria, mas estou. Ele está
cheirosíssimo. E bonito. Nem parece o idiota que aparenta ser.
— Pode entrar — digo e saio com a caixa de volta à varanda dos fundos.
Um vente forte me encontra, bagunçando meus cabelos. Evito resmungar e
ponho a caixa na mesinha, abrindo-a e tirando uma bandeja com doces de
chocolate de vários formatos.
— Que gracinha isso aqui — eu ouço a voz dele. — O Theo vai fazer
quantos anos? Cinco?
Olho-o, estreitando os olhos.
— Você não veio estragar, não é?
— Eu? — Ele parece indignado. — Longe de mim! Logo eu, um
verdadeiro anjo. Que absurdo.
— Não fique bancando o engraçado — tiro a caixa da mesa e entro para
levá-la à cozinha. Ele logo aparece também, avaliando o pequeno local, então
balança a cabeça afirmativamente.
— Por que tem tanta flor nessa cozinha? — questiona.
— Porque eu gosto e sou eu quem arrumo, então vão ter coisas que eu
quero.
Ele ri.
— Você não precisa me engolir toda vez que for responder alguma coisa
— sorri, de um jeito estranho. — Aliás — batuca a bancada —, gostei desse
vestido. Ele te deixa com cara de menina.
— Você é um idiota de propósito?
— Não, é natural. Cadê seu pai? Eu cheguei às sete em ponto. Quase
trouxe meu sobrinho, mas a mãe dele foi busca-lo a tempo.
— Que bom que não trouxe — caminho para a geladeira.
— Você ia gostar dele. Ele é tão chato como você.
Ignoro e pego as garrafas de suco.
— Meu pai está na casa da vizinha. Deve chegar logo. Falei para ele vir
às sete.
— Vizinha, é? Namorada?
— Não — o olho, vendo que ele está mesmo muito bonito. — Ela é
nossa amiga.
— Hm — ele não parece acreditar e eu quase digo que meu pai não quer
arrumar alguma mulher, mas isso não é da conta do Sr. Mackenzie.
Caminho de volta à varanda.
— Seu namorado vem? — Eu ouço a pergunta ao meu lado.
— Eu não tenho namorado. Tenho coisas mais importantes para fazer.
— O que pode ser mais importante do que transar? — ele finge pensar.
— Você não está na sua casa e sugiro que seja menos ridículo, tomando
conta do seu vocabulário.
— Você sabe o que é isso?
— O quê?
— Transar — ele gesticula. — Duas pessoas, fazendo…
— Parou! — ergo as mãos, mais irritada do que sem acreditar. — Cala a
boca. Você não está com a sua turma.
— Ué. Não estou. Apenas é uma pergunta. Curiosidade. Você passa seus
dias enfiada num macacão?
Dou um suspiro de alívio quando ouço um barulho na porta, então
rapidamente acendo as luzes das velas em cima do bolo e, depois de uns
segundos, meu pai aparece.
Começo a cantar os parabéns sozinha e o sorriso que ele dá não poderia
me fazer mais feliz nem que qualquer dinheiro no mundo.
Parece que fiz algo certo dessa vez.
Capítulo 5

Já faz mais de uma hora que estou na casa do Theo e me impressiono por
não ter vontade de ir embora de um lugar assim. Sim, porque não tem música,
não tem umas dançarinas, umas bebidas energéticas, nada disso. Tudo que
vejo é um homem mais velho, com uma senhora e uma garota que não faz
nada além de perguntar se queremos mais alguma coisa e estar sempre indo
de um lado para o outro.
Quando o assunto dos mais velhos se torna absolutamente chato demais
para eu ouvir, peço licença e entro na casa, onde acabei de ver a aparente
doida entrando com o bolo.
Ela está guardando na geladeira.
— Não se coloca bolo na geladeira — aviso.
Seu olhar encontra o meu rapidamente e resolvo me calar, então uma
mesinha no canto chama minha atenção, onde vejo um monte de livros em
cima juntamente com canetas coloridas.
Me aproximo e observo os exercícios de algumas folhas feitos.
— São seus? — pego um livro fino.
— Sim — a garota rapidamente tira da minha mão. — Mas não são da
sua conta.
— Eu sei, só perguntei. Está estudando para provas? Estuda o quê?
Ela arruma tudo rapidamente, parecendo meio nervosa.
— Não estudo ainda. É para uma prova. Só um teste.
— Hm — resolvo me calar, pois não parece algo que ela goste de falar.
— Onde você comprou esse bolo, aliás? Estava uma delícia.
— É mesmo? — Agora eu tenho sua atenção e ela parece surpresa. —
Foi eu quem fiz.
— Foi? Então, parabéns. Gostei muito.
Um milagre, eu não sei, mas o sorriso que aparece em seu rosto me faz
ficar parado e estagnado, incapaz de não admirar a coisa linda que é.
— Legal — ela balança a cabeça, então desvia o olhar e põe o cabelo
atrás da orelha. — Legal que alguém que não meu pai tenha gostado.
Sorrio também, gostando do jeito que ela fica.
— Você só cozinha para ele?
— Sim, somos só nós.
— Uns amigos não vêm aqui fazer umas bagunças?
— Não — dá uma risadinha. — Quer dizer, eu tenho uma amiga ou
duas. Mas elas tem coisas para fazer, não sobra muito tempo para vir aqui.
— Ah, qual é! Que tipo de amigas são elas que não aparecem pra te ver
e sujar a casa com chocolate?
— Apenas pessoas — ela se encosta na mesa. — É difícil. O que
importa é que consegui fazer meu pai ficar feliz. Não sei nem porque estou
conversando com você.
— Apenas conversando, relaxa — puxo uma cadeira da pequena mesa
de duas pessoas e me sento. — Você tem irmãos? Não, né?
Ela parece incomodada com a pergunta, então se remexe, ajeitando o
vestido que é uma graça. Não é nada adulto. Parece de uma menina. Cheio de
uns babados. Como algo antigo.
— Não, sou filha única — ergue os olhos rapidamente, mas desvia ainda
mais rápido. — Meu pai queria mais uns filhos, mas nem deu.
— Ah, entendi.
A mãe deve ter morrido. Que barra. O que seria de mim sem minha
mãe? Ou dos meus irmãos? Do meu pai? Nem um de nós estaria funcionando
direito.
— É... — ela suspira. — Você já pode ir. A festa acabou.
— Maior festa rolando ainda. Não vou agora. Aquele casal lá
arrebentando e você me expulsa? — gesticulo em direção à varanda.
Ela ri. É de verdade.
— Eu acho que ele se divertiu — ela olha para a parede, parecendo
pensativa. — Se não fingiu para me agradar, realmente se divertiu.
— O que ele tem?
— Não sabemos — balança a cabeça. Parece decepcionada e triste. —
Eu penso em algo que se desencadeou psicologicamente. Mas, sei lá, ele não
quer fazer o exame que vai dar o diagnóstico exato. Prefere assim.
— E isso te incomoda?
— Sim, porque eu não sei o que pode acontecer. Ele não me fala
exatamente o que sente — ela me olha. — Me sinto de mãos atadas. Tenho
medo. Muito medo. Acordar um dia e ele não… penso em várias coisas e isso
me desgasta.
— Que complicado — coço a nuca. — Essas coisas são meio barra. Não
saberia lidar com isso.
— Eu não posso fazer nada — ela agarra as mãos uma na outra. — Só…
sei lá. Queria que fosse diferente. Fosse um rumo diferente... Mas não é.
— Sei… — Mas eu não sei.
— Desculpa, estou desabafando para você. É sem querer.
— Tá beleza. Eu sou um bom ouvinte. Não falo muito o que preste, às
vezes, mas ouço de boa.
Ela sorri de novo.
— Você tem quantos anos? — quer saber.
— Vinte e quatro. A disposição ainda é ótima, o corpo é de vinte e a
mente — finjo pensar —, minha mãe diz de sete, mas garanto que é de trinta.
Seus olhos se estreitam, mas ela parece sorrir mais.
— Samantha, eu vou acompanhar a Janet até o mercado para umas
compras. Não me espere acordada — o Theo aparece e avisa, então me olha,
sorrindo. — Obrigado por vir, Sr. Mackenzie. Quer nos acompanhar?
— Sim, ele quer — a garota fala.
— Não, na verdade. Eu vou ajudar sua filha com as louças da festa, se o
senhor não se importar.
Ele estreita os olhos, mas quando a olha e vê sua expressão chocada,
parece concordar.
— Tudo bem. Não me incomodo.
— Não, pai! — ela protesta.
— É até bom que você não fica sozinha — ele solta um beijo no ar para
ela. — Vá dormir não tão tarde.
Eu sorrio, os observando sair, então reclamo quando sinto um ardor no
ombro.
Não acredito que levei um soco!
Capítulo 6

— Você me bateu? — ele questiona.


— Bati — quase dou risada, mas me forço a ficar séria. — Você não
pode ficar se intrometendo onde não te cabe.
— Hm — seu sorriso me deixa quase encantada, porque ele é mesmo
um homem bonito. E um pouco engraçado, preciso admitir. — Garanto que
me cabe.
— Não tem louça nenhuma. Lavei todas e só tem os descartáveis.
— Pois bem, eu te ajudo com eles, a jogar fora — gesticula, então
caminha até a bancada e começa a juntar os copos. — Você tem certeza que a
senhora ali não é namorada do seu pai?
— Sim, eu tenho — sento-me na cadeira. — Ela só é uma boa amiga
para nós. Mas, assim, eu até acho que ela chega a querer alguma coisa.
— Só que seu pai não dá esperança. Tô ligado. Maior barra isso. Faz
vocês sofrerem, né?
Dou um sorriso.
— Pois é. Mas acho que ela entende. Nesse quesito, ele é bem fechado.
Guarda bem o coração.
— Não me leva a mal, não, mas não precisa ter coração envolvido — ele
me olha, segurando os copos juntos em uma só mão. — Tipo, você tá
solitário, vai lá e fica com uma mulher. Claro, satisfazendo os dois. Porque eu
não penso que isso é uma coisa ruim. Pelo contrário, é até muito bom. Faz e
tchau, sem remorsos ou brigas.
Faço uma careta.
— O seu ponto de vista é ridículo. É assim que pensa da sua namorada?
— Ela é assim, meio dada — dá de ombros. — Falei pra ela que tinha
acabado, mas, muito insistente.
— Então você namora mesmo com ela?
— Sim — ele vai até o lixo e joga os descartáveis. — Namoro. Ela é
uma garota legal, não é só o que aparenta.
— Oh, sim. Ela parece mesmo muito legal.
— Não gostei do seu sarcasmo — estreita os olhos para mim e volta a
sentar na cadeira que estava. — Você não tem um namorado?
— Já disse que não. Ultimamente, só me preocupa o meu pai.
— Tô ligado. Meio complicado. Como você desestressa?
— Comendo — sorrio. — E, ou, fazendo algo que eu goste. A Janet tem
dois cachorros. Costumo passear com eles nas manhãs dos fins de semana.
Além do que, tem uma igreja aqui perto que precisa de trabalho voluntário.
Sou professora por lá, aos domingos. A vida não se resume a um namorado,
se você não sabe.
— Nem falo do namoro em si. Ó — ele aponta para mim —, eu já levei
namoros mais a sério. Era maior apaixonado pela Jennifer. Real mesmo. Mas
aí ela só me fazia de idiota. Não que eu achasse isso, mas minha família toda
dizia. Um dia parei e pensei, puts, se todo mundo fala, não é possível que seja
mentira. Aí fui levar um papo com ela e ela xingou minha irmã. Fiquei puto
mesmo. Terminei mesmo.
Dou risada.
— E do que adiantou, se está com ela de novo?
Ele parece pensar um pouco, então balança a cabeça.
— Não é mais a mesma coisa. Nunca vai ser.
— Então por que está com ela? — repito.
— Porque ela me faz bem, de alguma forma — ele coça a cabeça. — Sei
lá, é um negócio estranho. Tipo, a qualquer momento que eu quiser, ela
aparece pra mim. Isso é bom.
— Não é bom — eu discordo, então me levanto. — Você já pode ir. Eu
vou dormir.
— Dormir? São dez horas! — parece indignado.
— Essa é a hora que eu durmo.
— Ah, qual é! Isso é hora de começar a noite.
Caminho até a porta, então o espero aparecer para abri-la.
— Boa noite, Sr. Mackenzie — gesticulo a saída.
— Que sacanagem — ele bufa, mas sai. Quando chega ao lado de fora,
olha para mim. — Você vai amanhã?
— Sem dúvidas — aceno e fecho a porta, não gostando da sensação que
tenho por ter dito tchau.
Capítulo 7

Estou terminando de carregar os azulejos que não serão usados mais para
o caminhão, quando vejo o bonito carro estacionar. É mesmo bonito e
prateado. A estampa do luxo. Me vejo parada, olhando e admirando. Meu pai
sempre quis ter um bom carro. Nunca pôde.
Logo minha atenção é dispersada, porque a porta se abre e o Sr.
Mackenzie aparece. E como aparece. Ele sorri e tira os óculos escuros, então
bate a porta e caminha em minha direção.
— Bom dia — está simpático e isso me impressiona. — Como você
está?
— Bem.
— Licença — ele fala e guarda o óculos dentro do paletó, então pega o
azulejo da minha mão e leva-o para o caminhão. — Pesado isso aqui.
Fecho a boca, que percebi estar aberta.
— O que aconteceu? — questiono.
— Nada, por quê?
— Você está de bom humor.
Suas sobrancelhas se arqueiam.
— E isso é um problema? O bom humor das pessoas te afeta?
— Não. Estou falando de você. Tem chegado aqui sempre carrancudo.
— Eu? — Ele parece chocado, levando as mãos ao peito, o que me faz
rir pela cena dramática. — Logo eu? Jamais! Você que estava me desafiando
e, bom, não se desafia um Mackenzie — sorri.
Estreito os olhos.
— Você é sempre tão prepotente?
Ele dá de ombros.
— É natural — põe as mãos nos bolsos da calça. — Ó, deixa eu te
perguntar uma coisa?
— O quê? — cruzo os braços.
— Você andaria a pé por gostar de alguém?
— Quê?
— Tipo — gesticula com uma mão —, supondo assim, que você
gostasse de mim, daí nós sairíamos um dia, só que meu carro estaria sem
funcionar. Aí eu falaria, "ei, gata, vamos a pé". Você iria, por gostar de mim?
Dou um riso inevitável.
— Sim, eu iria. O que tem andar a pé?
— Sei lá. A Jennifer não iria. Disse que eu teria que chamar um táxi.
— Bem, então ela é uma fresca e egoísta — faço careta, não gostando de
ele sempre ter que falar dela.
— Pode ser. Eu não ligo. Como vai seu pai?
Como assim ele não liga? Eu gostaria muito de saber por que ele ainda
fica com uma mulher assim.
— Bem. Você não se dá seu valor.
— Oi?
— Sim, é isso mesmo. Você fica com essa garota e ela não faz caso de
você. Fica só te usando como se fosse um boneco pra ela. Isso é tão nítido
que eu nem preciso te conhecer para falar.
O Sr. Mackenzie parece bastante surpreso.
— Por que está me dizendo isso?
— Porque eu falo o que vejo — deixo-o onde está e caminho de volta
para onde estão as outras cerâmicas.
— Isso foi bem doloroso. Eu ser usado? — ouço sua voz está atrás de
mim e aproveito para sentar no chão, recuperando um pouco o fôlego.
— Sim — olho-o de baixo, sua proximidade e tamanho me deixando
intimidada. — É o que é, e as coisas são como são. A menos que esteja em
seu poder mudar e você não o tenha feito porque gosta do que está passando.
— Garota, eu não sou usado, é apenas a forma como a Jennifer lida
comigo.
— Se você diz — dou de ombros.
Olhando para cima, no céu, eu vejo as nuvens escuras começando a
aparecer e estimo uma chuva torrencial. É o momento que eu só desejo minha
cama e uma xícara de chocolate quente, acompanhados de um filme bem
meloso para eu chorar.
— Do que você está rindo? — ele pergunta.
— Não estou rindo — nego.
— Sim — me assusto quando se senta ao meu lado. — Você olhou o
céu e riu.
— Lembrei de uma coisa.
— Você já se apaixonou?
Olho-o, surpresa com a mudança abrupta de assunto.
— Já — assinto. — Uma vez com doze, outra com dezessete. A última
foi ruim.
— Por quê? Quem se apaixona com doze anos?
— Eu. Era o entregador de encomendas da vizinhança. Ele tinha quinze
anos — rio. — Nunca nem me olhou. O último foi o Jonas. Ele tinha vinte.
Eu era apaixonada que doía. Sabe, ele era carinhoso e gentil, mas no fim de
tudo, só acho que era porque queria que eu… — balanço a cabeça. — Você
sabe. Me entregasse para ele.
— E você caiu nessa?
— Sim, é um lamento. Mas, eu estava apaixonada e ele me convenceu
que sentia o mesmo. Sentia… — rio de novo, mas é de desgosto. — Ou
talvez eu só estivesse arrumando uma desculpa para transar. Quem vai saber?
Depois eu fiquei triste quando ele terminou comigo e dormi com o melhor
amigo dele, que filmou e enviou para ele. Essa parte eu não sabia. Ele
apareceu lá em casa e me chamou de vagabunda. Apanhou do meu pai e eu
nunca mais o vi. Uns meses depois, namorei com um policial. Foi totalmente
carnal. Eu estava ciente disso. Só gostava do uniforme. Enjoei e terminamos.
E foi isso — suspiro, pegando uma grama do chão.
Quando o silêncio impera por muito tempo, eu o olho, estranhando.
O Sr. Mackenzie está perplexo.
— Filmaram?
— Sim.
— O que você fez sobre isso?
— Nada — dou de ombros.
— O quê!? — ele quase grita. — Você não sabia e ficou por isso
mesmo?
— O que eu ia fazer?
— Não sei! — ele levanta. — Isso tá muito errado! Você pode estar por
vários lugares e não sabe!
— Não ligo.
— Não liga?
— Por que você está tão chocado?
— Porque isso é crime! E você está fazendo absolutamente nada a
respeito. É você!
— Tanto faz — me levanto também e pego outra cerâmica. — Eu tenho
mais o que fazer agora, Sr. Mackenzie. Até mais.
Ignoro-o e vou para o caminhão.
O que me deu na cabeça para contar uma coisa dessas? Por acaso
estou louca?
Capítulo 8

— Olha isso. Você acha que vai dar certo? — eu ouço uma voz ao longe,
mas nada muito nítido. — Brandon? Estou falando com você. Pode ao menos
fingir prestar atenção?
Silêncio.
Silêncio.
Ruídos.
— O que houve? — insistem. — Você está passando mal? Precisa de
ajuda?
Ajuda. Essa é mesmo a palavra que eu busco.
— Preciso — olho para o Ethan. — Preciso muito. Lembra quando você
comentou que conhecia um chefe de segurança?
— Sim, o que tem uma Empresa e comprou ações conosco.
— Ele! — me levanto. — Eu quero entrar em contato com ele ontem.
Pode arrumar isso pra mim? Por favor, é claro. Mas é urgente.
— Você está em perigo?
— Eu não — quase rio. — Mas alguém está, sim. Arruma isso para
mim, por favor. Agora.
Ethan parece um pouco perdido, mas logo pega o celular de dentro do
terno e vasculha sua lista de contatos. Um número me é passado em instantes
e, sem que eu me dê conta ou perceba, estou saindo da sala em direção ao
meu carro.
Ainda dentro do veículo, conecto o headphone e faço a ligação. Uma
voz nebulosa e grave me atende, se apresentando como Francis.
— Bom dia. Sou Brandon Mackenzie — e é só o que preciso dizer para
que o endereço me seja passado sem hesitação e prontamente.
Isso está muito errado e definitivamente não vai ficar assim.
Não comigo sabendo.

ѾѾѾ
Está quase escuro quando, não resistindo, eu desvio o caminho e vou para
minha futura casa. Sei quem eu vou e quero encontrar. Não parece certo, mas
também não parece errado. E, mesmo que fosse, desde quando eu me
importo?
Respiro fundo ao estacionar, talvez algum lampejo de culpa acendendo
em mim pelo que fiz, mas não podia ficar de mãos atadas. Crime é crime.
Eu não poderia. De jeito nenhum. Minha mãe e minha irmã. Minhas
sobrinhas. Céus. Se fosse com elas? Isso dói só de imaginar.
Saio do carro e enfio as mãos nos bolsos da calça, meio nervoso e
inquieto. Provavelmente a culpa está estampada no meu rosto, mas não irei
me arrepender. De nenhum jeito.
Caminho pela trilha que me leva até os fundos da casa, então a vejo. Ela
está limpando a varanda. Não consigo acreditar. Ainda estou abalado.
Como poderia imaginar que alguém que parece tão angelical teve algo
assim acontecendo consigo? É tão surreal que uma ânsia de vômito me atinge
e eu preciso parar e respirar fundo novamente. É catastrófico.
— Oi — a voz dela vem trazida pelo vento e tem um tom de riso. — Por
que ficou parado aí?
Olho-a um pouco de longe e aceno, então retomo os passos.
— Oi. Eu trouxe uma coisa para você — puxo a trufa do bolso e estendo
a ela. — Comprei pra mim e pensei em você.
Ela sorri e aceita, agradecendo com um aceno de cabeça.
— Obrigada, Sr. Mackenzie. Muito gentil.
— De nada — me apoio no corrimão. — Você já está acabando aí?
— Estou. Meu pai foi embora mais cedo. Estava com uma baita dor no
ombro. Demorou para convencê-lo, mas consegui — seu sorriso é meio
forçado dessa vez.
— Quer carona?
— Não, eu vou andando. Gosto de pensar durante a caminhada.
— Ótimo. Vamos pensando juntos.
— Não dá para fazer isso juntos — ergue as sobrancelhas.
— Pensamento telepático, gatinha.
Ela ri e guarda a trufa no macacão.
— Eu não estava querendo ir para casa hoje, para falar a verdade — seu
olhar esmorece.
— Por que não?
— Sabe o lance de "as aparências enganam"?
— Sei.
— Bem, é o que é. Meu pai parece legal, mas não sempre. Hoje ele está
zangado pela dor e sei que vai descontar em mim — ela respira fundo. — Eu
tento ser uma boa filha, mas nunca sou suficiente — encolhe os ombros
visivelmente. — Ele costuma me dizer quando está assim que nunca quis ter
filhos, mas aceitou por minha mãe e, no fim, nem ela me quis.
Eu fico parado, impactado e descrente.
— Sabe, às vezes eu acho que perco tempo tentando impressionar ele.
Nunca valeu. Ele nunca viu. Quando aconteceu o lance do vídeo e ele soube,
eu também apanhei — ela abaixa a cabeça. — Parece que foi a única forma
de ele me notar. Falou por dias. Me xingou e disse que eu era culpada. Eu sei,
era, mas precisava de um apoio. Quase fiz besteira, mas não valia a pena —
um pequeno silêncio impera e, quando ela olha para mim novamente, preciso
me lembrar como respirar. — O que vale a pena, não é mesmo?
Estou mudo.
Capítulo 9

— Você está bem? — eu questiono quando o Sr. Mackenzie parece ficar


por muito tempo calado.
— Sim — ele balança a cabeça e dá uma respirada. — Estou. É só
que… Nossa. Você tem sempre alguma bomba pra jogar e eu nunca estou
preparado — um sorriso aparece. — Sei lá. Difícil imaginar o Theo assim.
— Não acho que ele seja de propósito, é só que às vezes deve fugir de
seu controle.
— Dá no mesmo — ele aponta algum ponto. — Você quer dormir na
minha casa? Não essa, o apartamento. Eu moro sozinho e ninguém vai lá me
perturbar. Exceto minha irmã e sua família barulhenta vez ou outra. Mas não
acho que seja o caso de acontecer hoje.
— Ir para sua casa? — Quase fico muito surpresa. — Não, obrigada.
— Ué, por que não? Está me dizendo que não quer ir para a sua, além do
mais, eu não mordo. Sou um bom menino — outro sorrisinho. — E tenho
namorada. Não faria nada com você, é óbvio. Quero dizer, não que isso tenha
passado pela minha cabeça, claro. Só estou deixando confirmado. Você
entende, né? Não pensei nada. Nem faria se você quisesse — ele começa a
gesticular energicamente. — Estou querendo dizer que não vai acontecer
nada. Só vamos dormir.
— Meu pai ficaria zangado — sorrio pela sua falta de jeito e o quanto é
engraçado ele ficar… nervoso?
— Não vai. Eu falo pessoalmente com ele.
— Não, Sr. Mackenzie, mas obrigada.
— Ah, qual é! O que pode dar errado? Nós só vamos dormir mesmo.
Estou tentando fazer algo diferente. Pra você. Te dar algo diferente.
Eu o olho, quase cedendo. Mas por que cederia?
— Você é o chefe do meu pai, isso nem teria cabimento — desço os
degraus da varanda, mas paro quando ele interrompe meu passo, se pondo à
minha frente.
— Quem está falando de cabimento? Estou falando de você fazer algo
porque quer. Uma decisão pra você mesma, Samantha.
Pisco algumas vezes, estranhando meu nome em seus lábios. Soa… Tão
certo.
— Nem sempre o que queremos é o correto.
— Você quer? — ele rebate. — Quer ir comigo?
Engulo em seco.
— Eu não poderia.
— Quer? — Abaixo o olhar. — Se você quer, eu te levo comigo. É só
uma noite. O que pode acontecer? Absolutamente nada. Eu sou um idiota,
sou, mas também sei não ser.
Olho-o novamente, vendo sua expressão ansiosa.
— Quero — concordo, por fim.
O Sr. Mackenzie solta a respiração, como se a estivesse prendendo por
muito tempo.
— Ótimo. Vamos nessa. Deixa isso aí — ele aponta a vassoura e
gesticula em seguida para o outro lado. — Meu carro está estacionado na
frente. Vamos?
— Certo. Vou pegar minha mochila e já estou indo.
— Eu espero. Bem aqui — sorri. — Pode ir lá.
Assinto e começo a ir em direção à entrada dos fundos, ouvindo um, "se
você não voltar, sei onde mora".
Sorrio sozinha.
É só uma noite. O que pode dar errado?

ѾѾѾ
— Eu gosto dessa música — falo quando o Sr. Mackenzie liga o som do
carro. — Adoro, na verdade.
— Gosto não. Minha irmã que colocou. Falei pra ela selecionar umas
músicas boas, ela me colocou essas purpurinas.
— Como você pode não gostar? — Pareço surpresa e estou. — Olha que
letra... Não desistirei de nós. Ainda que os céus fiquem violentos, estou lhe
dando todo meu amor... É tão linda.
Ele ri. Um riso contido.
— O que foi? — questiono.
— Você canta mal pra caramba. Sem ofensa.
— Eu sei — também rio. — Prometo não cantar mais.
— Fica à vontade, mas, ó, avisa pra eu tapar as orelhas.
— Engraçado.
Ele ri mais.
— Brincadeira. Você é romântica?
— O que é isso?
Nós rimos.
— Eu sou — ele fala meio cabisbaixo, o sorriso morrendo aos poucos.
— Mas, sei lá, não sei se vale a pena, sabe? — me olha rapidamente. — Isso
de ser amoroso e tal. Eu sempre me dei mal, por isso tentei deixar de ser.
— E você conseguiu?
— Não. Arrumei a Jennifer.
Aperto as mãos uma na outra, não gostando de ele ter mencionado a
namorada. Certo. É namorada dele e eu sou a errada por estar em seu carro,
mas, eu não sei, não parece certo lembrar dela.
— O que tem ela?
— Ela não deixa meu lado romântico aparecer — ele sorri entre uma
respiração funda.
— E isso é bom?
— Não sei — balança a cabeça. — A maior parte do tempo eu sinto que
falta algo, a outra parte não faz sentido, no meio termo estamos na cama. É
um loop: ela me vê, cama, passeio em algum lugar, cama, me vê, vamos pra
tal lugar. Percebe? Eu nem o que falar tenho. Não sei nem qual o nome dos
pais dela. Ela ao menos me deixa vê-los.
— Você fica triste com essas coisas?
— Não — ele faz uma curva e nos leva a um estacionamento
subterrâneo. — Não sei, quer dizer. Nós namoramos, mas é cada um na sua
própria vida. No próprio mundo. Não tem nada que possamos dizer, "é
nosso". É… no mínimo, estranho.
— Entendo.
— Não é uma comparação, gatinha — ele estaciona e me olha, tirando o
cinto.
— Não achei que fosse.
Um sorriso surge em seus lábios e ele desliga o som, se inclinando em
seguida em minha direção.
Acho muito próximo e me esquivo.
— Só ia abrir a porta — dá uma risadinha. — Pra economizar dar a
volta. Vamos. Eu moro na cobertura.
— Por que não estou impressionada?
— Porque você é difícil de impressionar, talvez.
Sorrio e saio do carro, o acompanhando para o elevador em seguida.
Ele anda impecavelmente lindo, isso eu devo admitir. Passos firmes e,
de quebra, seu corpo também é muito bonito. As pernas quase esticando o
tecido da calça. Os ombros largos. Os cabelos são lisos e castanhos, não
arrumados e nem bagunçados. Seus braços são do tamanho certo, em uma
extensão de músculos. O quadril estreito. Ele é alto. Presencial. De uma
beleza puramente masculina.
— Você come o quê? — questiona quando aperta o botão do painel
quando entramos. — A gente pode pedir pizza. Hoje é a promoção. Pede
duas, leva quatro. Uma vez, comi as quatro sozinho.
Dou risada.
— Você aguentou?
— Aguentei. Dava pra uma quinta, mas não quis arriscar — sorri e se
encosta contra a parede ao lado do painel, de frente para mim. — Você gosta
sexo calmo ou selvagem?
— O quê?
— Brincadeira, brincadeira — ri. — Só te dando um susto pra saber se
você tá prestando atenção no que digo ou pensando no esporro do seu pai.
— Engraçado.
— Sou trabalhado na descontração, gatinha — pisca para mim e
instantes depois as portas se abrem e ele se desencosta da parede,
gesticulando para eu ir à frente.
Andamos um pouco até uma porta. A única. Ele a abre, assobiando.
— Bem-vinda ao meu lar e a partir daqui eu sou Brandon, nada de Sr.
Sorrio e dou um passo para dentro, mas quando sinto o cheiro que
emana, tenho plena e absoluta certeza de que vou me arrepender. Tem
puramente o seu cheiro.
— É sua? Sozinho? — olho em volta.
— Toda minha — ele confirma e aparece à minha frente, já sem o paletó
e com a camisa azul aberta.
Muita certeza, com certeza.
Capítulo 10

É uma coisa estranha, sim, uma mulher em minha casa — que não seja
Jennifer e nem uma da minha família. Não sei, mas parece que não é errado.
E, mesmo que seja, eu não estou ligando.
— Então, vamos até, hm, o quarto de hóspedes? — pergunto.
— Ahn… Pode ser. Quer dizer — Samantha gesticula —, seria legal que
você colocasse uma blusa, sabe? É menos desconfortável e não me sinto tão
errada.
— Por que você se sentiria errada? Relaxa, você está na casa de um
amigo e vamos fazer coisas que amigos fazem.
— Você não é meu amigo.
Finjo sorrir, mas a verdade é que me magoou.
Poxa, eu sei, não somos, mas, precisa ser tão dura?
— Claro que somos — pisco pra ela e aponto o corredor à direita. — Os
quartos. Vem, por aqui.
Saio na frente, guiando o caminho, até chegar a um dos quartos de
hóspedes. Me serviram muito quando eu dava umas festas loucas, mas, agora,
isso perdeu a graça. Acho que foram tantas que o gosto acabou. Gostaria que
Jennifer entendesse isso, mas não rola.
— Aqui — abro uma porta e entro, olhando para trás e vendo minha
convidada me seguir. — Você dorme aqui. Ó, privacidade total. Vou dar a
chave na sua mão. Tenho que te emprestar uma roupa, né? Beleza. Esse
banheiro tem banheira. Fica à vontade, a casa é nossa.
Ela ri, apoiando o peso do corpo de um só lado.
— Você está sempre enérgico assim?
— Sempre e todo dia — sorrio. — Aqui é atividade contínua, gata.
— Claro — sorri. — Vou aceitar sua roupa emprestada, já que estou só
com essa.
— Beleza. Vou buscar. Pode tomar banho enquanto eu vou lá. A chave
tá na porta — aviso e passo por ela, saindo para meu quarto.
Dou uma olhada nas minhas roupas e pego uma camisa azul para ela,
parando no caminho de volta quando meu celular toca no meu bolso. Escoro
na parede do corredor para atender, já respirando fundo quando vejo que é
ela. Jennifer.
— Alô?
— Oi, gostoso! — ela dá um grito e uma risada. — Sabe onde estou? No
playground. Vem me buscar.
— Onde é isso?
— No-no… Festa! — outro grito, me fazendo afastar o celular do
ouvido. — Vem logo, amor! Eu quero você!
— Não posso agora, Jennifer.
— Se você não vier, eu vou chorar.
Amaldiçoo interiormente, então pego o endereço com ela e desligo o
aparelho.
Respiro fundo enquanto caminho de volta ao quarto, muito desnorteado
de repente com o imprevisto. Droga. Tão desnorteado que abro a porta de
uma vez, dando de cara com Samantha nua.
Ela grita. Eu congelo.
Puta merda.
— Viraaaaaa — ela berra. — Merda, vira pro outro lado! Logo!
Não sei nada muito bem, só que ela está tentando se tapar com as mãos
e, graças a Deus, não está obtendo qualquer êxito.
— Brandon, vira! Droga! — corre até a cama e pega as roupas, se
cobrindo mais ou menos. — Você não sabe bater?!?
— Eu sei que você parece uma escultura. Meu Deus. — Estou babando.
Certeza que estou. — Você é muito linda.
— Droga, droga, droga — ela está vermelha. — Você… era para ter
batido!
— Não era — passo a mão na boca. — Nossa.
— Para.
— Olha, eu... A blusa — caminho até ela, entre uma respiração
profunda. — Eu vou dar um pulo no supermercado, volto em uma instante.
Fica tranquila que ninguém vem aqui.
— Ah, sério? — ela puxa a blusa da minha mão. — Não devo esperar
que outra pessoa entre abruptamente? — ironiza.
— Bem, em minha defesa, eu disse que a chave estava na porta.
— Engraçado.
— Eu sou — sorrio, não resistindo a descer meu olhar, querendo ver
outro pedacinho de pele. — Se eu não fosse comprometido... — limpo a boca
de novo. — Esse prédio ia cair — olho seu rosto.
Ela arregala os olhos e abre a boca.
— Você não tem vergonha?
— Não tenho — sorrio. — Eu sou sincero. Você me atraiu demais.
Bom, já volto — caminho para fora —, e tranque a porta. Por via das
dúvidas.
Saio porta afora, querendo logo me livrar da Jennifer ou seja lá onde ela
está.

ѾѾѾ
— Para com isso. Eu não tô nada — digo, já irritado com a mulher
aparentemente agitada demais ao meu lado.
— Você está, sim, Brandon! Eu quero que você me coma agora!
— Jennifer, eu já disse que não. Não quero.
— Desde quando você não me quer? — ela bate no meu braço.
— Eu tô dirigindo! Para com isso.
— Me come! É uma ordem!
— Você não manda em mim, Jennifer. Sossega.
— Você não me quer… — ela começa a chorar. Um choro mais falso do
que ela mesma. — Vai me deixar triste? De propósito? Você vai ser idiota
assim comigo, Brandon?
— É ser comida que você quer? — me irrito, estacionando no primeiro
lugar deserto que encontro. — Sai do carro.
Ela dá um risinho e obedece.
Já estou mesmo fora de controle, então dou a volta e chego até ela.
Encosto-a no carro e ataco sua boca com um beijo doloroso.
— Gostoso! — Jennifer arfa, se afastando para desabotoar minha blusa e
imediatamente desafivelando meu cinto.
Eu sei que eu sou gostoso. Me vejo todos os dias no espelho.
— Ajoelha e me chupa — ordeno. Ela obedece de imediato, me olhando
de baixo e dando um sorrisinho.
— Você todo sério assim, só dá mais tesão — diz, antes de me enfiar até
o fundo da garganta.
Apoio as mãos onde dá e fecho os olhos, exalando a respiração. Era
disso que eu precisava depois de uma cena daquelas.
Merda.
Não.
Jennifer me lambuza com a boca por um tempo e se levanta, ao mesmo
tempo que ergue a saia e tira a calcinha rapidamente, me deixando
desapontado.
Não poderia ter mais uns toques?
— O que foi? — pergunta.
— Nada — desdenho e seguro sua cintura, a virando de costas. Ela dá
um grito e espalma as mãos sobre a superfície da janela, empinando-se para
mim.
Tiro do bolso a camisinha que peguei rapidamente no porta-luvas antes
de deixar o veículo e coloco. Então agarro suas pernas e levanto-as, até meu
pau entrar de uma vez dentro dela, que cai para a frente.
Ela geme alto, enquanto estoco sem piedade.
Estou alucinado, sim, mas não é Jennifer que aparece para mim, e sim
Samantha. É a imagem dela que estou vendo e isso é a maior merda que eu já
posso ter imaginado acontecer.
Isso é tão absurdamente errado e me faz parecer um desgraçado.
— Mais rápido! — grita.
— Eu dito a velocidade — rosno e ela leva um tapa na bunda, gritando
de prazer.
Me apoio melhor e invisto com força, sem parar, sentindo o suor
escorrer por dentro da blusa e do colete. Jennifer se abre mais e, quando
menos espero, se treme toda, espremendo meu pau num orgasmo longo. Me
libero, inconscientemente.
Alguém me fala por que infernos isso não durou nem cinco minutos
direito?
Me afasto, resignado e contrariado.
Ela geme, escorada no carro, ofegante.
— De novo — pede.
— Sinto muito, delicinha — me livro da camisinha, jogando no lixo ao
outro lado da estrada. Guardo meu pau na cueca e fecho a calça. — Hora de
vazar.
— Não consigo andar — ela choraminga, manhosa.
Reviro os olhos.
— Tudo bem. Fique aí, então — dou meia volta e entro no carro.
Samantha me fez gozar.
Como vou olhá-la depois disso? Como?
— Você é um gostoso — Jennifer diz, tomando seu assento.
Ligo o carro e nos tiro do meio da estrada, já não aguentando ouvir a
voz dela.
Afinal, Samantha está me esperando.
Capítulo 11

Quando Brandon volta, eu estou sentada em seu sofá na sala de estar. Um


dos. Seu apartamento é enorme e eu, definitivamente, não poderia me sentir
mais… sem dinheiro. Ele demorou um pouco, tanto que dei uma boa olhada
por aqui e percebi várias fotos da tal Jennifer pelos cantos. Deve mesmo
gostar dela. Não sei porquê, uma criatura totalmente desprezível daquelas. E
nem é por motivo específico, simplesmente se nota.
— Olha você aí — ele fecha a porta e caminha em minha direção. —
Preferi comprar pizzas, se importa?
— Você fez a pizza também? — brinco, mas estranho muito quando ele
permanece sério, então desvia o olhar.
— É que... Tive um imprevisto. Desculpe.
— Está tudo bem. — Não sei exatamente o motivo do seu aparente
desânimo. Me levanto. — Eu dei uma volta. Belo lugar para se morar.
— Você foi até a varanda? Ali da frente?
— Não.
— Bem, vamos lá, vou te mostrar — põe as caixas na mesa e sai na
frente. Eu o sigo.
Caminhamos até as portas de vidro, que ele abre, então somos
presenteados com a vista incrível de Nova York. À noite. Sob o céu que,
provavelmente está bem estrelado, mas não nos é possível perceber pela
quantidade de edifícios altos com suas luzes acesas.
— Na fazenda da minha família, a gente ver melhor — ele comenta
quando olho o céu. — Sabe, muito bonito olhar as estrelas.
— Eu também gosto — sorrio e desvio a atenção a ele, que está com as
mãos nos bolsos da calça, parecendo inquieto. — Você está bem? Aconteceu
algo no supermercado?
— Não — balança a cabeça, distraído. — É só que... sei lá. Fiquei meio
mal.
— Por quê? — cruzo os braços e me apoio no corrimão de vidro.
— Porque sou um idiota.
— Está dizendo isso por quê?
Eu também acho que ele é um pouco, mas não vou reafirmar.
— Sei lá. Faço umas coisas sem noção. Me envergonho de algumas até.
— Bem, então pare de fazer.
— Não é assim. É mais complexo.
— Quer falar sobre?
— Não — nega, de imediato. — Eu vou pegar as pizzas. Espere aqui.
Ele sai, me deixando sozinha novamente. Tomo assento em uma das
poltronas acolchoadas, aquecendo os braços com as mãos. Está um pouco
frio. Minha mente é brevemente levada para o instante em que vou ver meu
pai de novo.
Não vai dar muito certo. Com certeza ele vai reclamar.
— Você precisa ir embora — eu ouço de repente, olhando para o lado e
vendo Brandon de pé, meio ofegante e não me olhando nos olhos. — Eu não
consigo olhar pra você e não te imaginar nua. Isso é… — leva as mãos à
cabeça. — Perturbador.
— Está me mandando embora? — Não sei se estou surpresa ou
indignada.
— Não — ele parece agoniado. — Não isso… É que… Você percebe a
confusão na minha cabeça? Muita!
— Não, eu não entendo — me levanto e ele me olha.
— Deus me perdoe — eu mais ouço o vento levar o som do que a voz
em si, então fico muito perplexa quando o vejo dar os três passos que nos
separam e preencher meus lábios com os seus.
E não estou muito certa de nada.
Capítulo 12

— Brandoooooon! — é impossível não ouvir o grito esganiçado e minha


ação é totalmente instintiva quando o empurro de perto de mim, meio
desnorteada e cambaleante, me afastando não sei bem para onde.
Em segundos a mulher loira aparece. A namorada. Céus.
Ele limpa a boca, é meio reflexivo eu perceber. Sim, mas ele limpou.
— O que essa mulher está fazendo aqui?
— O que você está fazendo aqui? — ele então vira-se para ela. — Eu
não te deixei em casa, Jennifer? Por que veio?
— Eu estou com saudades — ela não deixa de me olhar. — O que essa
mulher está fazendo na sua casa? — repete.
— Ela é minha convidada... — ele hesita e em seguida se aproxima dela.
— Você não dirigiu bêbada, não é?
— Não — se livra do contato. — Mesmo assim, o que ela faz aqui?
Você está me trocando? Está me traindo, Brandon?
— Você pirou? — ele quase gagueja, então eu realmente consigo sair do
lugar e passar pela porta, correndo para o quarto em que deixei minha bolsa e
minhas roupas.
Visto a calça depressa, já saindo correndo para a saída, mas de repente
ele está na porta, os braços no batente, me impedindo de passar.
— Não vai agora — mais sussurra do que fala. — Ela está bêbada, nem
sabe o que está falando.
— É a sua namorada, você só pode estar louco.
Sim, e ele me beijou. Está bem louco.
— Não é mais — ele se move ao meu encontro quando tento passar. —
Olha só, não dá mais. Ela e eu, é sério. Fica. Por favor.
— Onde está ela? — demonstro todo o meu espanto por ele estar
tentando me convencer a ficar quando a namorada está bêbada em algum
canto.
— Ela caiu dormindo no sofá. É sério. Fica, Samantha. Ia ser uma noite
legal.
— Tem razão. Ia — me movo novamente e o empurro da minha frente,
conseguindo passar e enfim me encontrar livre.
Ainda consigo ver a mulher dormindo mesmo no sofá, completamente
em inércia. Suspiro e abro a porta, correndo pelo corredor até estar no
elevador.

ѾѾѾ
Quando chego em casa, por volta das dez da noite, estranho muito ver
tantas luzes acesas. É bem estranho mesmo porque meu pai sempre apaga
todas.
— Ei, Samantha — eu ouço sua voz assim que piso na nossa pequena
sala. Olho para o lado e o vejo sentando em sua poltrona. — Onde estava?
— Fui comer uma pizza com o Sr. Mackenzie — respondo
sinceramente, porque foi mesmo isso.
— Não basta o que aconteceu da última vez? Você ainda tem que ficar
andando com homens a essas horas da noite? — ele se levanta.
Exalo um suspiro.
— Eu estava faminta e ele me convidou, pai…
— Ah, é mesmo? — se aproxima, o olhar e tom nada amistosos. —
Você estava faminta? Por acaso nós não temos o que comer?
— Temos, mas eu pensei que...
— Sim, você pensou que poderia dormir com um homem rico e ganhar
dinheiro de alguma forma — agarra meu braço e sacode. — Eu não te criei
para ser uma vagabunda, você está me ouvindo?
— Ai, pai! Está me machucando! — Tento puxar o braço, mas ele só
aperta mais. — É sério!
— Eu não quero que você difame o meu nome por aí! Está proibida de
voltar ao trabalho comigo, me ouviu? Vai ficar em casa e fazer trabalho de
mulher, não ficar pulando de cama em cama como uma cadela no cio.
Ele deve estar bêbado ou apenas estressado pela sua frustração.
Meus olhos se enchem d'água e eu mordo o lábio para não chorar. Não
aqui. Não com meu pai me machucando.
— Some da minha frente! — ele me empurra pelo corredor. — Vai fazer
algo que preste.
Sinto meu corpo estremecer e então vou para o meu quarto, onde tranco
a porta e me jogo na cama, me encolhendo sobre o colchão e fechando os
olhos, fazendo uma contagem mental.
Mas, somente uma coisa vem à minha cabeça: ele. Brandon. E o seu
beijo.
Aperto bem os olhos, tentando relembrar o momento, que vem
carregado de alívio, paz, amargura e dor. Uma sobrecarga de emoções
infindáveis.
Meu pai tem razão. Ele jamais poderia me querer por qualquer motivo
que não minha aparência. Eu sou pobre e corrompida. Ele jamais me viu com
outros olhos a não ser os de A Garota do Vídeo Pornográfico.
Por isso ele me beijou. Por isso sentiu desejo por mim. Por isso me viu
com outros olhos.
Sim, agora faz sentido.
Faz muito sentido.
Capítulo 13

No terceiro dia que vou até à obra e não vejo Samantha, sei mesmo que
existe algo errado. Não sei se me sinto preocupado ou aliviado. Sim, pode ter
em muito a ver comigo, mas eu não acho mesmo que ela é o tipo de mulher
que desvia do caminho com outra pessoa por conta de um beijo.
Um beijo. Não. Foi melhor que isso. Pareceu melhor que qualquer beijo.
Ela derreteu, eu quase pude me alegrar por isso, então tive que vê-la sair
daquele jeito. Apressada e desesperada. Pra longe de mim. Sou todo
decepção.
Mas também, o que eu esperava? Que ela se entregasse a mim? Não.
Nós nem nos conhecemos e isso seria completamente grosseiro de minha
parte, tendo em vista o que ela já passou. O que já fizeram com ela e que, por
algum motivo, me enche de horror e raiva.
Balanço a cabeça e volto ao meu carro, sabendo pra onde ir. Sim, sei
onde ela está. Talvez esteja se escondendo, o que acho muitíssimo
improvável. De qualquer forma, piso no acelerador e dirijo para sua casa.
Nessa hora, o meio do dia, o tráfego é flexível. Não tenho nenhum
estresse para chegar no pequeno quarteirão. A casa dela está bem de encontro
à primeira rua, então estaciono perto da calçada e desço.
É horrível eu admitir que, depois que vi Jennifer apagada em meu sofá
de tão bêbada, eu quis imediatamente procurar uma dose também. Qualquer
bebida alcoólica que fosse. Como se isso fosse me limpar ou aliviar. Não ia.
Sei que não.
Não bebo faz muito tempo. Tanto tempo. Mas eu quis isso. Naquela
hora, quando as coisas pareceram desandar e sair do controle, eu quis muito.
Agradeço não o ter feito. Eu realmente posso perder o controle quando isso
acontece.
Respiro fundo e atravesso a rua, então vou até a porta, batendo três
vezes seguidas para me certificar que serei ouvido. Ela não pode estar em
outro lugar, pode?
Não. E tenho mais certeza disso quando ouço algo cair dentro da casa.
Logo depois, o ruído da chave girando na tranca e a porta é aberta.
Samantha parece triste, não surpresa ou espantada. Triste é tudo que
descreveria seu semblante.
— Oi — eu digo, completamente sem saber como proceder. — Eu
soube que você não vai mais com o seu pai.
— Não — sua voz é um fio, então olha além de mim, como se
procurando alguma coisa. — Ele te mandou vir?
— Não — é inevitável que meu olhar não abaixe, então algo me chama
atenção em seu braço. Isso são marcas. Azuladas. — Você se machucou lá?
Foi isso? Por que não me disse?
Ela solta a porta e tapa depressa o hematoma, balançando veemente a
cabeça de um lado para o outro.
— Não, não me machuquei. Isso não é nada.
— São manchas, hematomas — dou mais um passo à frente. — O que
aconteceu? Você caiu?
— Não, Brandon — ela parece assustada agora.
Fico parado, analisando o que ela está querendo me dizer, mas não pode
ou não quer. E nem consigo desvendar.
— O que está fazendo aqui? — questiona.
— Não te vejo há três dias por lá e, levando em conta o jeito que saiu da
minha casa, pensei que pudesse ter algo a ver, ao mesmo tempo que não —
me apresso em colocar. — Tipo, não sei, eu ter algo a ver. Ou o que fiz. Eu
só faço merdas mesmo.
Ela abaixa a cabeça, então suspira.
— Não tem a ver com você, certo? Só não irei mais. Decidi que não é
legal e…
— Como decidiu? Você discutiu comigo por isso. Você queria trabalhar
lá para ajudar seu pai e agora, depois que nos beijamos, diz que não é legal?
É mesmo por minha culpa, não é? Você não quer mais me ver.
— Não. Isso que está fazendo é drama. Não tem a ver com você. Eu só
decidi.
— Decidiu depois que nos beijamos. Você sentiu o mesmo que eu, não
é? Você gostou.
Samantha balança a cabeça novamente, em negativa.
— Não, você não sabe o que está falando — discorda. — É melhor você
ir embora. Estou ocupada estudando.
— Vamos marcar de estudar juntos. Eu já passei pelo que vai passar,
minhas notas foram altas e…
— Não, adeus — então bate a porta na minha cara e ouço o barulho da
chave, trancando-a novamente.
Dou um passo para trás, uma dor esquisita me atingindo e eu demoro
uns segundos a sair do lugar.
Não acredito que vim atrás de uma mulher e ela me negou. Isso é tão...
surreal.
Quando já estou dentro do carro, recebo uma mensagem. É do Chefe de
Segurança e ele tem novidades.
Sim, alguém vai pagar por ter feito a doce Samantha sofrer.
Capítulo 14

Depois de cumprimentar Francis e nos sentarmos, estou nitidamente


impaciente.
— E então, o que descobriu? — esfrego nervosamente as palmas das
mãos na calça. — Alguma novidade?
— Sim, nós encontramos o tal vídeo — ele me passa um celular e, meio
relutante, olho para a tela, minha cabeça dando um nó por dentro quando vejo
o que é.
É mesmo um vídeo. É mesmo a Samantha. E está num site.
— Na porra de um site? — me levanto, incapaz de digerir ou olhar,
apenas deixando o aparelho cair sobre a mesa. — Está me dizendo que
colocaram aí?
— Sim, colocaram.
— O que… que se pode fazer a respeito? Ela ao menos sabe sobre isso!
— Nós poderíamos rastrear para identificar o IP, mas, com tantos
acessos, fica bem difícil. Eu não acho que seja possível isso… O usuário que
enviou é anônimo e não se conecta há mais de dois anos.
— Droga — puxo os cabelos, em uma tentativa falha de tirar a imagem
de Samantha em um vídeo num site pornográfico. — O que faremos? O que
dá para fazer?
— Nada, infelizmente. Não com essas diretrizes. Se ao menos você
soubesse quem é o cara, nós poderíamos dar um jeito de ligar as pistas a ele,
mas, sem isso, é impossível que tenha algo ao nosso alcance.
— Impossível? Você não tem um inferno de uns técnicos que mexam
nessas merdas!?
— Não, eu não tenho — Francis parece bem calmo. — A sua alteração
não vai servir de nada. Nós verificamos o que está ao nosso alcance.
Esfrego o rosto, já sem paciência.
— Se tiver alguma informação sobre ele, você pode…
— Não — o interrompo. — Se eu tiver alguma informação dele, eu
mesmo vou tratar do assunto.
— Toma cuidado com isso. As coisas não se resolvem por raiva. Pode
acarretar consequências para sua vida toda.
— Não pra minha — deixo claro, então pego o celular de volta e copio o
link, enviando pro meu próprio celular. — Isso não vai ficar assim. Obrigado
pelo serviço — devolvo o aparelho e saio porta afora, conturbado e abalado.
Eu nem sei por que estou me preocupando tanto, mas isso é doloroso. A
Samantha passando por algo que nem sabe. É realmente muito perturbador e
doloroso.

ѾѾѾ
Voltei para o trabalho, mas não consegui estar nele. Minha cabeça estava
estacionada na decepção que foi saber que todos têm acesso a ela. Isso nem
faz sentido. Eu estar assim. Mas… é ela.
Agora, teimosia ou não, estou de volta aqui. Nessa rua calma e tranquila.
Em que ela mora. Por que pareço mais retardado que o normal?
Respiro fundo já de frente para a porta e, quando levanto a mão para
bater, ouço um grito.
— Não fiz, pai!
É ela e está… chorando?
Coloco a orelha na porta, para ouvir melhor.
Ouço uns barulhos abafados. São coisas caindo. Ao mesmo tempo que
dá para ver sombras na janela ao lado se movimentando através das cortinas.
Estranho.
— Eu sei que você fez! — A voz do Theo, carregada de raiva. — Você
é uma imbecil! Nem para prestar atenção!
Estreito os olhos. Isso está parecendo uma briga.
Uma parte de mim diz que é errado eu estar aqui ouvindo; mas, a outra
parte não sensata, insiste que eu fique e descubra do que se trata.
— Mas eu não sabia que ia quebrar… — Samantha grita, seguido de um
lamento em aparente dor.
— Para de correr e volta aqui, sua vadia!
Então toda a raiva volta. Em um tempo que é tão imediato, que eu não
sei bem o que faço quando empurro a porta com tamanha força que ela abre,
batendo contra a parede e fazendo o caminho de volta, mas impeço
estendendo a mão.
Meu olhar serpenteia pela cena, até que vejo ela e tudo se resume só a
ela.
Samantha está estagnada, de pé, abraçando o próprio corpo, enquanto
Theo está com um fio. É um fio em suas mãos, eu estou vendo. Está mirado
em direção a ela.
Nenhum dos dois tem qualquer reação, mas eu sim.
— Que porra é essa? — eu pergunto, não sei se perplexo ou curioso.
— Sr. Mackenzie? — A voz dele muda completamente, mas meu olhar
está nela, que não esbanja alguma reação, a não ser os olhos arregalados e o
corpo trêmulo.
— Samantha? — Estou questionando e ela parece entender quando solta
os braços ao lado do corpo e então eu vejo. Marcas e muitas marcas.
Vermelhas e quase sangrando. Ela está respondendo sem precisar falar. —
Deus!
Meus passos apressados simplesmente me levam até ela e, quando estou
perto o suficiente, agarro suas mãos e as levanto, para crer realmente no que
estou vendo.
— Ele te bateu? — Não sei por que estou perguntando o óbvio, mas ela
cai num choro tão profundo que sou incapaz de não puxá-la para mim, e
Samantha aceita, me deixando aninhá-la em meus braços.
Olho para Theo, que soltou o fio.
— Você bateu nela? Bateu na sua própria filha? — Não estou chocado,
estou com raiva. Muita raiva. Prestes a voar em cima dele. — Está louco,
Theo?
— Eu não sei o que fiz — ele dá um passo para trás, fingindo
arrependimento. Claro que fingindo, porque alguém que faz isso com um
filho é incapaz de saber o que é se arrepender.
— Você vem comigo, Samantha — eu digo em alto e bom som. — Só
não te denuncio não sei nem por quê — olho para ele, deixando clara minha
raiva.
Samantha não rebate, o que é uma maravilha, então levo-a comigo para
o carro. Ela está tão trêmula que nem sei. Nunca lidei com isso. Uma mulher
chorando por dor e não por manha.
Ajudo-a entrar no carro e ponho seu cabelo atrás da orelha, segurando
seu queixo e virando seu rosto para mim.
— Vai ficar tudo bem — garanto, não sabendo bem por que digo isso.
— Você está comigo agora.
Ela está?
Deus, sim, ela está.
Dou a volta e entro também, nos tirando de perto da sua casa ainda
tendo tempo de ver Theo na porta, nos observando sair.
Capítulo 15

Samantha ainda está trêmula enquanto subimos o elevador e finalmente


chegamos ao meu apartamento. Levo-a até meu quarto e sento em minha
cama junto com ela.
Seus braços continuam ao redor do corpo e estamos em silêncio. Não sei
bem se há algo a se dizer num momento como esses, então puxo seu braço
esquerdo para mim e observo as marcas fundas e vivas.
— Está doendo? — questiono.
— Um pouco — ela se força a falar audível. — O que foi fazer lá?
— Fui atrás de você. Eu me senti mal pela forma como me mandou
embora, então quis saber como estava. Quer dizer, nem sei bem por que
voltei, mas graças a Deus por isso.
— Ele sempre faz isso quando está alterado — ela exala um suspiro. —
Estou acostumada, mas sempre parece aterrorizante. Parece que a raiva é
gradativa a cada vez.
— Por que ele faz isso?
— Ele tem raiva de mim — ela me olha, logo desviando. — Talvez por
eu parecer com minha mãe.
— Isso tem que fazer sentido?
— Não sei se alguma coisa faz, na verdade. Eu só queria poder arrumar
um trabalho e me mudar. Ainda cuidaria dele, mas sem precisar da sua
dependência.
— Então seu problema está resolvido. Vai trabalhar comigo. — A
resposta simplesmente sai, Samantha me olhando de um jeito estranho,
enquanto sinto dor por dentro ao ver seu pequeno rosto inchado de tanto
chorar.
— Não posso.
— Você deve, gatinha — me levanto. — Agora, que tal um banho
enquanto eu faço alguma coisa pra gente comer? — Só quero que tudo pareça
e seja leve pra ela. Seja bom.
— Não quero ficar, sua namorada pode aparecer…
— Ela não vai, achou que eu a tinha traído e saiu com raiva naquele dia.
Nem sei se temos um "namoro" ainda.
— Mesmo assim…
— Mesmo assim nada, Samantha. É minha casa e eu decido quem entra
aqui ou não.
— Parece errado.
— Errado é o que está acontecendo com você — tiro o paletó e caminho
até meu closet, pegando um short e uma blusa. Volto ao quarto. — Vamos lá.
Banho e comida. Você quer que eu te ajude a tomar banho? Pra ter cuidado
com as marcas. Vai doer um pouco.
— Não, eu tomo sozinha — ela levanta, meio incerta, mas aceita as
roupas.
— Ótimo! Eu vou pra cozinha e te espero lá. Me grita qualquer coisa. Ó,
mas grita mesmo.
Ela assente, dando um sorriso curto.
Eu vou para a cozinha, louco de vontade de fazer algo para agradar ela,
o que não é estranho, porque me sinto feliz em agradar as pessoas; mas agora
é completamente um caso à parte.
É a Samantha e eu preciso fazê-la sorrir.

Depois de algum tempo, ela aparece. Usando minhas roupas. E isso me


faz rir.
— Ainda tentei amarrar, mas piorou — fala. — Você é bem maior que
eu.
— Eu sou — sorrio e então aponto a mesa. — Vamos comer? Olha que
demais. Eu fiz carne com um molho que eu mesmo inventei.
— Está com um cheiro maravilhoso — Samantha caminha para perto,
minha atenção sendo desviada totalmente para seus braços. — Que arroz
bonito e colorido.
Me aproximo dela, então seguro sua mão e puxo seu braço para mim,
tocando levemente ao redor das marcas.
— Doeu muito?
— A princípio, sim — ela balança a cabeça. — Mas depois de arder
muito, todo ardor é pouco. Estou bem e gostaria de te agradecer por… Sabe,
ter ido. Eu sempre fico desolada quando meu pai me bate.
— Isso quer dizer que acontece com frequência?
— Às vezes, quando ele bebe. Geralmente é mais fraco.
— Sinto muito — aperto sua mão. — Não tem ninguém com quem
possa ter falado sobre isso?
— Não. Eu não sei, talvez ele não faça de propósito, é só por causa
dessa raiva interior que tem. Não sei bem o que pensar. Estou tentando ver
alguma forma de as coisas darem certo para mim.
— Está bem, vamos parar de falar sobre isso agora — puxo a cadeira
para ela. — Vamos comer.
Samantha senta, me dando um meio sorriso.
Faço o mesmo do outro lado, servindo nossos pratos com porções de
comida. Estou com fome, sim, sempre; mas preciso obter alguma informação
dela também e tento manter isso em foco.
— Feche os olhos, por favor. Nós vamos agradecer — aviso e ela dá
uma risadinha, fechando os olhos e abaixando a cabeça.
Quando termino, começamos a comer. Parecemos dois esfomeados e
isso chega a ser engraçado porque parece que não estamos ligando se
aparentamos falta de educação.
— Muuuuuito bom — ela mais geme que fala. — Nossa! Muito, muito!
— Obrigado. Que bom que gostou.
— Adorei! Enjoei de comer só minha própria comida.
— Ah, você não vai a restaurantes?
Ela ergue as sobrancelhas.
— É, não vai — concluo. — Vou te levar em um. Pra você ver o que
acha.
Seu sorriso é meio descrente, mas mudo de assunto imediatamente.
— Por mais que eu queira que tudo isso soe normal, você sabe que é
inevitável a minha curiosidade — olho-a de forma séria, para que ela tenha
noção da gravidade da situação. — Lembra quando me falou sobre o que
fizeram com você, do vídeo?
— Sim — ela não desvia o olhar, mas eu sinto seu desconforto.
Que bom, porque eu também não estou nada confortável.
— Você ainda sabe onde esse cara vive? Tem noção ou algo do tipo?
— Por quê?
— Pra eu saber, também.
— Não sei bem — parece pensativa de repente. — Até a última vez que
eu soube, ele estava mudando de cidade. Não sei. Por quê? Não adianta mais.
— Eu gostaria muito mesmo de saber. E o seu namorado antigo, era
amigo dele… você deve saber dele.
— Não, eu não mantive contato. Foi vergonhoso, Brandon.
— Não foi culpa sua, espero que saiba disso.
— Eu sei… — ela respira fundo. — Tento repetir isso para mim mesma
todo dia, mas nunca consigo acreditar de fato.
— Eu estou dizendo que não é culpa sua. Espera aqui. Já volto.
Levanto e vou até meu quarto, mal pelo que vou fazer, mas sabendo que
é preciso.
Capítulo 16

Por mais estranho que possa ser admitir, eu estou me sentindo mais à
vontade do que deveria na casa do Brandon. Estranhíssimo.
Pego mais umas garfadas de comida enquanto ele volta, não tendo me
sentido muito estranha por sua pergunta que também deveria ter parecido
constrangedora. E foi mesmo, mas, eu também estaria curiosa em perguntar.
Tudo que sinto é um alívio surreal por ele ter aparecido e me salvado,
mesmo que só essa vez. Mesmo que só uma vez.
Quando Brandon volta, eu engulo depressa e o vejo puxar a cadeira ao
meu lado, então se sentar. Ele está mesmo bem charmoso com a camisa
branca dobrada até os cotovelos, parecendo o dono de tudo.
— O que vai me mostrar? — pergunto quando deixa o celular de forma
que esteja ao meu ver.
— Entenda que é pro seu bem — mais suspira que fala, então foco na
tela, me assustando quando abre em um site horrível, com um vídeo que ele
tapa assim que os dois primeiros segundos passam.
— Meu Deus! — Eu me levanto, a mão na boca.
Meu-Deus.
— Samantha… — Brondon também se levanta, deixando o celular sobre
a mesa. Ele parece cauteloso e eu estou chocada. — Por isso preciso que se
lembre onde ele está… Para podermos resolver isso.
Balanço a cabeça de forma nervosa, então corro para o quarto,
imediatamente procurando o sanitário, onde acabo vomitando.
Sinto Brandon chegar, então sua voz novamente.
— Não tem motivo pra pânico, mas me ajude a te ajudar. Você sabe
onde posso encontrar o tal cara?
— Não — eu mal consigo responder enquanto a ânsia prossegue.
Ouço alguns barulhos e logo sinto um toque quente e bem-vindo em
minhas costas, então um papel me é estendido. Eu limpo a boca, caindo
sentada no chão. Brandon está de joelhos ao meu lado, parecendo me avaliar.
— Quer água?
— Não. Você viu? — pergunto, sem coragem de olhá-lo. — Viu o
vídeo?
— Samantha...
— Viu? — tapo o rosto com uma mão, me sentindo a maior imbecil de
todos os tempos. — É claro que viu.
— Não, não vi. E também não quero que outras pessoas vejam, por isso
você precisa fazer um pequeno esforço e se lembrar onde posso achar esse
idiota, pra eu poder arrebentar a cara dele.
Eu o olho, conturbada.
— Você iria bater nele?
— Sim, com toda certeza. Como você ainda pergunta? — dá uma risada
incrédula. — Vou fazer ele parar no hospital e ainda isso seria pouco.
— Dizem que quem fala demais, nada faz — limpo a boca, sorrindo um
pouco quando ele parece boquiaberto.
— Tem razão, é melhor eu não falar — ele ergue a mão e toca a ponta
do meu nariz com o dedo. — Vamos te distrair um pouco. Você gosta de
videogame?
Eu o observo levantar.
— Gosto.
— Nós vamos jogar — estende uma mão para me ajudar a levantar. —
Você quer?
— Qual jogo?
— Vamos ver o que mais te agrada. Eu tenho de tudo. Corrida, luta, até
um de vestir uma boneca ridícula que minha irmã gosta — ele faz uma careta
e dou risada, aceitando sua ajuda.
— Está bem. Eu aceito.
— Ótimo — ele leva as mãos aos botões da camisa e começa a desfazê-
los. Eu desvio o olhar. — Agora, eu vou tomar um banho super rápido e você
me espera na cama, pode ser?
— Certo — respondo depressa e saio do banheiro, achando mais seguro
esperar na pequena poltrona ao lado da porta de entrada do quarto.
Sim, com certeza é mais seguro. Com toda essa… gentileza, não me
admira que ao ver Brandon sem roupa, não vá me afetar.
Se já não afetou.
Capítulo 17

Quando Brandon reaparece, eu evito engasgar. Isso não devia ser


permitido. Essa visão. Não a uma mera mortal como eu.
— Nossa — a palavra escapa da minha boca de um jeito inevitável.
Ele para na metade do caminho, a toalha que seca os cabelos cessando
os movimentos. Seu olhar encontra o meu e uma sobrancelha escura se ergue.
— Eu sei, eu sei. Não precisa nem falar. O mais gostoso? Eu mesmo.
Pisco os olhos, embaraçada.
Brandon dá um risinho e põe a toalha pequena nos ombros, levando as
mãos em seguida para a que está na cintura, então simula tirar.
Simula?
Rá!
Ele realmente tira.
Estou tão impactada que só a respiração funda que dou, tão audível, é
que me faz perceber que ele está com uma boxer preta. E sinto uma alívio
surreal por isso.
— Te peguei, danadinha. Achou que eu ia tá peladão, né? — ele mesmo
ri, então fica sério. — Ei, acho que eu sei o que é isso — seus passos logo o
trazem para perto de mim. Brandon caminha lentamente e é de propósito,
esse cheiro maravilhoso que emana dele enchendo os ares e os meus sentidos.
— Ah, sim, nós temos aqui um caso, mais um, de Inércia-Pelo-Corpo-do-
Brandon. Quer tocar?
— Não — minha voz sai um sussurro.
Mas também, não é para menos. Brandon definitivamente parece um
deus grego. Sim, uma escultura. Das mais belas. A barriga… nossa. A boca
seca só de olhar. Os braços, nem grandes e nem finos, mas o tamanho
perfeito… o rosto, um anjo. Essas pernas, incríveis… e como se não bastasse,
a protuberância em frente a toalha.
É de babar.
— Samantha — é o meu nome e está bem próximo, mas eu não consigo
não passear meus olhos por todo ele. — Acho melhor irmos para o
videogame.
— Sim — balanço a cabeça, tentando me dispersar da situação.
Estou constrangida, talvez, mas devo confessar que estar há tanto tempo
sem transar, é péssimo.
É bom, eu gosto e sinto falta.
— Eu vou colocar um short — Brandon avisa, dando um sorriso curto e
saindo depressa.
Eu aproveito para respirar fundo, querendo conter a imaginação de como
deve ser tê-lo tocando meu corpo e me acariciando. Me querendo e
desejando.
Mas não existe. Ele nunca poderia querer isso.
— Voltei.
Eu o olho, decepcionada por vê-lo em uma camisa vermelha e um short
branco. Cobrindo tudo.
— Eu não quero mais jogar — digo, um pouco triste.
— Não?
— Não. Na verdade, se pudesse, eu gostaria de ir a algum lugar. Sabe,
para me divertir.
— Quer sair, é isso?
— Sim — respiro fundo.
Estou quente, tenho vontade de dizer, mas apenas me concentro nessa
meia verdade.
— Ótimo! — ele bate palmas. — Nós vamos visitar o canteiro.
— O quê?
— O canteiro. É um lugar maneiro, você vai ver — ele volta ao closet,
me trazendo em seguida um casaco. — É só colocar esse aí que tá bom.
— Quer que eu saia na rua assim?
— Meu bem, não pode sair é pelada, de resto… se bem que, todo mundo
andando pelado seria uma boa também.
Sorrio e coloco o agasalho.
— Certo. Onde fica o canteiro?

ѾѾѾ
Brandon dirigiu até um lugar estranho e escuro. Uma estrada afastada.
Então me pediu para sair do carro, ligou a lanterna do celular e estamos
andando por uma trilha infindável. Sim, porque já estamos há meia hora
praticamente. Estou suando e cansada.
— Você está pretendendo me levar pra um lugar bem longe e me matar
para as pessoas não fazerem ideia de onde estou? — questiono por detrás
dele, minha voz sobressaindo a dos grilos e corujas.
— Sim — ele ri. — Estou. Como eu sou malvado.
— Vai saber… Ai, droga — tiro um galho que prendeu no meu pé. —
Isso não faz sentido. Eu disse que queria me divertir e não brincar na selva.
— Para de reclamar, mulher. Parece minha mãe.
— Engraçado.
— É logo ali e depois você me agradece.
Resmungo mais alguma coisa sozinha, então me calo quando todo o
vento enche meu rosto de repente e tenho um vislumbre do lugar.
Estou sem fala.
— Então, o que achou? — Brandon questiona, gesticulando com as duas
mãos.
Perfeito. Sim, completamente perfeito. Eu sei que está escuro, mas
estamos tão próximos à Lua, que o céu parece claro. Pelo menos, essa é a
sensação que se tem. E é esplendorosa.
— O que… é aqui?
— Aqui é o Canteiro. Eu descobri esse lugar num dos acampamentos de
escoteiros — ele senta. — Estamos em uma montanha bem alta, gatinha.
Senta aqui. Vamos admirar.
Eu caminho para perto dele, um pouco temerosa quando a escuridão e
esses sons estranhos, mas Brandon parece tão seguro de si, que eu realmente
sinto conforto mesmo assim.
— Então, esse lugar é perigoso?
— Não — sorri. — Eu sou mais.
— Imagino que sim.
— Não, falando sério. Sou mesmo — ele me olha bem dentro dos olhos.
— Principalmente depois de te ver nua e cheia de desejo pelo meu corpo.
Engulo em seco, embaraçada.
— Mas, relaxa — emenda. — Jamais tocaria em você porque nós somos
amigos, certo? Certo. E isso estragaria tudo e eu não quero isso. Gosto da sua
companhia e estou aqui pra te defender, não pra dormir com você. Então, não
se preocupa, esse perigo a gente não corre.
Fico tão surpresa, que apenas balanço a cabeça afirmativamente,
concordando.
— Ótimo — ele deita, com as mãos atrás da cabeça. — Deita também,
pra você ver como é bonito.
Deito ao seu lado, constrangida.
— Eu vinha muito aqui quando era mais novo. Era bom demais.
— Traz sempre mulheres aqui? — Não resisto a perguntar.
Brandon ri.
— Olha que não. Você é a primeira. Eu só vinha sozinho, pra distrair e
pensar.
— Parece perigoso andar por aqui.
— Nem é. É de boa. Muita gente nem sabe que dá pra subir até aqui.
Mas, claro, depois que se sabe por onde tá andando.
— Sei...
— Fala sobre você.
— Sobre mim? — o olho, mas Brandon está com a atenção no céu
estrelado. — Como assim?
— O que você gosta, sei lá. O que costuma fazer. Tipo, se você sumisse
de repente, mas de propósito, onde eu deveria te procurar?
— Não faço ideia — respondo entre um riso. — E por que eu faria isso?
— Sei lá. Eu já fiz. Muitas pessoas fazem, também.
Desvio também para olhar o céu, gostando da brisa que invade os ares
levemente, trazendo uma paz renovada e agradável. Eu gosto disso. Desse
momento e dessa sensação.
— Está doendo? — ele pergunta.
— O quê?
— O seu coração.
Me surpreendo com a pergunta, então volto a olhá-lo.
— Por que estaria?
— Sei lá, tantas coisas... — Ele também me olha, parecendo
compreensivo. — Teve seu namorado, o que ele fez, seu pai e as coisas que
ele também fez e faz… São coisas que machucam muito. Ó, eu digo, não
tenho vergonha, não. Sou maior sensível, se umas coisas dessas acontecem
comigo, nossa, eu chorava mesmo.
Dou risada.
— Você está assumindo que iria chorar?
— Sim, e pra caramba!
— Nossa, isso é meio… Sei lá.
Brandon sorri e volta a olhar o céu.
— O que dá vontade de fazer numa hora dessas? — quer saber.
— Como assim?
— Tipo, agora. O que te dá vontade de fazer agora?
— Não sei…
— Me dá muita vontade de dormir de conchinha.
Gargalho, inevitavelmente.
— Ei, não fica rindo, não. É verdade. Achei ofensiva sua risada.
— Desculpa — eu tento controlar os risos. — Nossa, isso foi muito…
Nossa.
— Ih, garota. Tá por fora. Nunca dormi de conchinha, sabia? Só tenho
vontade.
— Sua namorada não serve nem pra isso?
— Nem. Nunca passamos a noite juntos. É algo meio estranho, eu sei,
mas nem tenho vontade de fazer isso com ela. É muito romântico pra
Jennifer.
— Por que você insiste em ficar com uma mulher dessas?
Brandon respira fundo, demorando mais do que eu gostaria para
responder:
— Porque ela é tudo que eu mereço.
Capítulo 18

Quando voltamos à casa do Brandon, ele ainda está me repreendendo


pelo que eu estou debatendo.
— Você está errado — repito, pela enésima vez.
— Por que está dizendo isso? — ele se vira, a cara fechada. — Você
nem sabe nada sobre mim, Samantha.
— Sei que você achar que merece aquela mulher é errado. Muito errado.
Você é todo gentil e carinhoso, enquanto ela é uma vagabunda sem
escrúpulos.
— Pega leve. Ainda é minha namorada.
— Eu não acho que é.
— Bem, mas é.
— Que seja. Você achar que a merece é... — trago as mãos à cabeça,
inconformada. — Inadmissível.
— Escuta, Sam, você não sabe quantas merdas eu já fiz, tá? Entendo
que esteja tendo pena e tentando me animar, mas não vai rolar. Não mais —
ele se aproxima de mim e segura meus ombros, me sacudindo de leve. —
Tenho uma proposta pra você, mocinha.
— O quê? Está tentando mudar de assunto intencionalmente, Sr.
Mackenzie?
Um dos cantos de sua boca se ergue, em um meio sorriso.
— Que sexy você me chamando assim.
Sorrio.
— Falo sério, Brandon.
— Eu também — ele pontua. — Quero que venha ao meu trabalho
comigo amanhã. Na hora do almoço, eu vou até minha casa e lá vou ter
papinho com o Theo.
Imediatamente me sinto desconfortável.
O meu pai. Mais essa.
— Ei, ei, ei — ele toca meu queixo. — Sem rostinho triste. Vai ser um
papo de boa. Ele só precisa entender que isso não se faz.
Eu olho para os meus braços, sentindo desgosto. Meu pai nunca vai
entender, mesmo porque eu não acho que ele queira.
— Você vai ficar uns tempos aqui comigo.
Então ele tem toda a minha atenção.
— Eu o quê? — questiono, olhando-o.
— Qual é! Por que não? Tenho dois quartos vazios e você precisa de
ajuda. Ao menos até seu pai entender que você não é culpada pelo chifre que
ele levou.
— Não — eu digo entre um riso curto de incredulidade. — Não posso
aceitar isso.
— Por que não?
— Porque é errado. Eu tenho casa e você uma namorada.
— Você acabou de dizer que não acha que ela é minha namorada.
— Mas, você sim.
— Bom, sim, mas não é mesmo um problema — ele gesticula. — Nós
vamos ser como dois amigos numa irmandade, sacou?
— Não, Brandon, eu não saquei!
— Ih, fica de boa. Eu só tô querendo te proteger. De toda e qualquer
forma, isso não foi uma pergunta — ele diz e vira, saindo caminhando.
Eu vou atrás, ainda descrente.
— Eu não entendi — digo por detrás dele enquanto entramos no quarto
que me deixou na primeira vez.
— Foi um comunicado — ele se vira de repente e eu quase caio em cima
dele, que me segura pelos ombros. — Estou comunicando que vai ficar aqui
por uns tempos.
— Isso não existe — eu olho todo o seu rosto. — Não posso aceitar isso.
— Bem, queira o bem para si mesma. Fique à vontade, a casa é sua.
Estou no meu quarto, se precisar — me surpreendo quando ele beija minha
bochecha e então sai.
Desacreditada e… encantada.
É exatamente como estou.

ѾѾѾ

— Não acredito. Pelo amor, menos — eu peço, quase suplicando que ele
pare de cantar. São seis horas da manhã. Quem fica tão feliz tão cedo?
— Qual foi, gatinha! — ele empurra meu ombro de leve e vou para o
lado, morrendo de sono.
— Brandon, nós fomos dormir às três, se você não lembra. Não tem
como eu estar desperta — informo enquanto caminhamos para dentro de um
edifício lindo.
Estou horrível vestida num jeans e uma camisa, usando o moletom dele
por cima, mas nem nisso eu penso tamanho o sono.
— Isso é prova de que somos amigos. Primeiro que, se não fôssemos,
nem dormido você teria e, segundo, estaria desperta mesmo assim porque eu
tenho um ótimo despertador — ele dá um sorrisinho, seguido de uma
piscadela.
— Fingirei que não entendi.
Ele ri de verdade, então entramos no prédio e eu me sinto uma
extraterrestre em meio ao requinte. Homens e mulheres arrumadíssimos
entram e saem. Até os seguranças têm uniformes requintados. Tudo esbanja
poder e perfeição.
— Uau!
— Bem-vinda — Brandon dá uma risadinha e sinto sua mão em minha
cintura, me guiando até o elevador, que já está cheio.
Nós damos bom dia ao mesmo tempo para as pessoas, e isso nos faz
olharmos um para o outro e sorrir. Demoramos uns bons andares para chegar.
Só depois que todos saem, é que ele me induz a fazer o mesmo, onde
seguimos para uma sala com paredes de vidro, que tem uma mesa grande
com cadeiras em volta e já estão ocupadas por algumas pessoas.
Hesito um passo antes de entrar, vendo todos tão formais.
— Acho melhor eu esperar aqui — digo.
Brandon me empurra pelas costas, me incentivando a entrar.
— Nã-nã-não. Aqui dentro.
Todos nos olham quando ele dá bom dia e é a hora que sinto vontade de
me enfiar em um buraco. Pareço uma mendiga.
— Sente aí — ele puxa uma cadeira para mim, em seguida indo para a
frente da mesa. — Bom dia, pessoal. A reunião vai começar.
Reunião? Ele no comando? Seriedade de repente?
Isso vai ser interessante.
Capítulo 19

— Não — Brandon recusa quando o outro homem dá um novo palpite. Já


foram uma série tão grande de nãos da parte dele que estou sentindo pena de
todos os funcionários que parecem frustrados. — Será possível que não há
ninguém com uma ideia excepcional?
Ele olha para cada um, então bufa quando ninguém se pronuncia.
Virando-se de repente para a tela atrás de si, onde há um slide, parece
praticamente rosnar.
— Eu sinceramente me pergunto pra que vocês perdem tempo fazendo
slides, sabiam? Porque, olha, não está ajudando. Nem um pouco. Vocês
continuam incompetentes.
— Você não estaria sendo muito autocrático? — As palavras escapam
de minha boca e todos me olham no mesmo instante, inclusive Brandon.
— Como é que é? — sua voz parece um trovão.
Engulo em seco, mas acho que gosto de sua performance de chefe no
comando. Soa tão... Quente.
— Sim, estou vendo um monte de pessoas darem ótimas opiniões e só
porque são contrárias às que estão em sua mente, você diz que não valem ou
prestam. Democracia como norma de trabalho para que, né?
Ele pisca os olhos algumas vezes. Parece estar tentando acreditar no que
ouviu.
— Se acha tão esperta, moça... Tem alguma ideia diferente das que já
ouvi?
— Por que eu teria?
— Porque está tomando as dores para você. Imagino que queira
sustentar sua opinião — ele enfia as mãos nos bolsos da calça e dá um sorriso
charmoso. — Vamos lá, o que sugere? Me faça estagnar.
Olho para todos ao redor da mesa, que parecem explicitamente ansiosos.
— Bem, eu acho que…
— Não — Brandon me interrompe. — Não trabalhamos com achismos.
Reformule.
— Acredito eu que… — quase bufo quando ele parece aprovar. — Você
devia parar com os produtos grátis semanalmente e reduzir para
mensalmente.
— Com que base? O semanal nos trouxe o lucro.
— Quando começou, mas já não está mais funcionando ou esta reunião
não estaria existindo. Você precisa parar de entregar às pessoas o que elas
não querem e mostrar o que precisam.
— O que isso quer dizer? — ele balança a cabeça. Parece confuso.
— Quer dizer que — me levanto — chega de continuar na mesma
estratégia. O problema não são os funcionários ou as ideias, mas a mesmice.
Estão todos olhando tanto para o que pode resolver o problema, quando ainda
nem o encontraram, que não percebem que já virou hábito seguir o mesmo
plano. Debateram e debateram para, no fim, não chegar a lugar algum. O que
precisa mudar é a raiz e não a folha, ou tudo vai permanecer como está.
Respiro fundo quando Brandon me olha fixadamente, então sua voz
parece mais baixa:
— Deixem-nos a sós. Vamos remarcar a reunião.
Um a um dos funcionários se levantam, mas ele não desvia o olhar do
meu, e logo estou um pouco aflita quando ficamos sozinhos e Brandon
começa a se aproximar, bem lentamente.
Desvio o olhar, achando muito para suportar.
— O que tivemos aqui, Samantha? — ele questiona, mas não é sua voz
usual. Certeza que está mais rouca e baixa. — Você me desafiou na frente
dos meus funcionários?
— Não — o olho, estupefata pela incriminação. — Apenas expandi o
olhar de todos. Ou fiz ver o que estava tão na cara que não perceberam.
— Eu ainda acho que você quis me desafiar — ele chega bem perto. —
E eu gosto de desafios. Gosto mesmo.
— Não foi.
— Bom… — Brandon para à minha frente. — Desafio ou não, a sala
ficou bem quente de repente, você não acha?
— O que isso quer dizer?
Sua mão levanta e ele segura meu queixo, repuxando um dos cantos da
boca em um sorriso de lado.
— Quer dizer que eu te quero, bem aqui e bem agora — sussurra,
aproximando o rosto.
Penso imediatamente em retroceder, mas não o faço, porque concordo
com ele. A sala ficou quente. E eu também o quero. Quero muito. E como
quero.
Mas não preciso pensar muito em como vou proceder, porque ele
próprio o faz.
Ofego ao sentir suas mãos voarem para minha cintura e ele me vira de
repente, me deixando contra a mesa e seu corpo.
— Amizade colorida — sorri e inclina a cabeça, preenchendo meus
lábios com os seus de um jeito que me faz soltar um suspiro do fundo da
garganta.
Estou derretendo.
Brandon possui minha boca da mesma forma que eu aprecio chocolate,
então suas mãos me seguram pelos quadris e ele me senta na mesa, se
encaixando entre minhas pernas, suas mãos começando a vir por todos os
lugares, até que começo a ouvi-lo dar uns suspiros entrecortados. Abafados.
Contidos. Masculinos.
Suas mãos sobem ao meu rosto, vindo à minha nuca, uma pressão
gostosa me fazendo gemer, o que ele parece aprovar quando desvia a boca ao
meu pescoço, mordiscando e sugando enquanto inclina minha cabeça um
pouco para trás.
Entro em brasas.
É muito estranho e diferente. Parece que nós vivemos nos acariciando
por aí quando fazem praticamente dias que nos conhecemos. E de um jeito
nada legal. Mas estamos aqui, trocando carinhos.
Quando meus dedos se perdem por entre seus cabelos, Brandon grunhe e
me afasta de repente, olhando-me nos olhos por um milissegundo antes me
empurrar e fazer com que eu deite sobre a mesa.
— Brandon! — eu quase grito quando ele se debruça sobre mim e aperta
meu seio com força.
— Não pode gritar, gatinha — sorri antes de eu já sentir suas mãos em
meu jeans.
Não o impeço. Eu quero isso. Quero muito. Quero tanto que o ajudo a
abrir e levanto um pouco para que ele puxe a calça por minhas pernas.
Suspiro quando o sinto beijar o interior da minha coxa, não se demorando
muito nisso e logo tirando minha calcinha do caminho.
— Meu café da manhã — ele mais geme do que fala e recebo uma
mordidinha na coxa, fechando os olhos pelo contato.
Preciso tapar a boca com as duas mãos para não gritar quando seus
lábios me envolvem. A língua e até os dentes Brandon sabe usar. Estou
ficando mais morta do que viva.
— Meu Deus! — quase mordo os cantos da boca pela sensação que é…
Depois de tanto tempo.
Brandon traz um dedo para juntar à boca, eu precisando apertar os seios
pela sensação que é tê-lo ganhando espaço para dentro de mim.
— Você geme tão gostoso que meu pau tá parecendo que vai rasgar a
calça — ele fala, mas eu não estou conseguindo ouvir direito por estar
concentrada na sensação. Só nisso e nada mais.
Estou cometendo o mesmo erro?
Outra vez.
— Samantha… — Não tenho tempo de pensar quando ouço sua voz tão
próxima, então abro os olhos, vendo Brandon bem perto de mim, me
encarando.
Engulo em seco, não acreditando no que aconteceu em menos de
segundos.
Prendo o ar quando um segundo dedo se junta ao primeiro e ele estreita
os olhos, dizendo em um sussurro grave:
— Goza agora, Samantha.
Tento negar, mas Brandon parece saber o que faz quando seu polegar
me acaricia ao mesmo tempo que seus dedos se mantêm dentro de mim; e, se
pelo tempo ou calor do momento, eu me deixo ir. Repartindo em mil
pedaços.
Ainda consigo ouvir a risadinha dele.
— Se você fosse minha namorada, eu pediria pra andar sem calcinha —
também ouço e é quando a realidade me pega em cheio.
Brandon tem namorada!
Capítulo 20

Samantha desce na mesa num pulo, quase caindo quando tenta colocar a
roupa de volta. Falei besteira. Sim, e não sei porque estou surpreso.
— Ei, ei — me aproximo quando ela fecha o botão do jeans e seguro
seus ombros. — O que foi? Tá tudo bem.
— "Tá tudo bem"? — repete, parecendo incrédula. — Você tem
namorada e tá tudo bem!?
Balanço a cabeça, um pouco culpado.
— Também já fui traído, se serve de consolo.
Ela emite um som incrédulo e sai andando para fora da sala. Eu vou
atrás, tentando fazer meu sangue retornar para a cabeça de cima. É difícil,
mas recolho cada gota de força.
Samantha está quase correndo, mas a alcanço antes de entrar no
elevador, impedindo sua ida.
— Onde você vai? Não precisa ser assim — seguro levemente seu pulso,
só para que ela não me deixe. — Esquecemos isso e fica tudo bem. Relaxa.
— Relaxar? Brandon, você é inacreditável! — ela tenta novamente se
soltar. — Por favor, eu quero ir embora.
— Você não quer — nos reaproximo. — Sei que não. O que aconteceu
foi sem querer.
— Um acidente? — ela debocha. — Sempre é essa a maior desculpa e
sinônimo pra irresponsabilidade. Não sei por que estou me surpreendendo.
Bem de primeira você demonstrou o que é.
— Assim eu posso me sentir ofendido...
— Eu não estou brincando, Sr. Mackenzie!
— Nem eu. Olha, não vai, a gente sabe que seu lugar é comigo.
Ela me encara por alguns segundos, a boca levemente aberta me fazendo
ter a ilusão de que está cogitando, mas, aproveitando meu momento de
inércia, se desprende de mim e entra no elevador, que se fecha rapidamente.
Fico parado como um idiota, tentando acreditar, então me dou conta do
silêncio estranho e olho para os lados, vendo os funcionários observando a
cena.
— Ah, pelo amor, né? Nunca viram um casal brigando? Vão trabalhar!
— bufo e saio andado pelo corredor que leva à minha sala.
Desacreditado é pouco. Estou magoado. Poxa, eu não falei de propósito.
Não é como se eu tivesse tentado deixar Samantha mal. Não foi. É só que
tenho essa tendência, de falar o errado na hora errada. Eu tô tentando frear,
mas não é assim tão rápido.
Quando chego à minha porta, tomo ciência de passos atrás de mim e me
viro, dando de cara com ela, a Alicia. A estagiária safada.
Está bem, está bem. Não sou santo, nem de longe, mas essa garota já
passou do nível vergonha alheia.
— Posso te ajudar em alguma coisa profissional? — eu pergunto,
parado onde estou.
Ela dá um sorriso sem êxito em tentar ser seduzente.
— Que briga, né?
— Não foi uma briga, foi um desentendimento. E, não me leve a mal,
mas não faz parte do seu trabalho se meter na minha vida.
— Eu sei — ela coloca os cabelos atrás da orelha. — É que eu pensei
que Jennifer fosse sua namorada, já que chegou cedo e está te esperando.
— Quê?
— Sua namorada está te esperando na sua sala.
Abro a porta, então imediatamente a boca quando visualizo Jennifer com
as pernas abertas em cima da minha mesa.
— Vocês querem companhia? — Alicia pergunta atrás de mim e eu não
sei bem o que sinto na hora, mas não gosto nem um pouco.
Capítulo 21

Me encolho na cadeira quando ouço o barulho da porta destrancando.


Estou com medo de como meu pai pode reagir por eu ter ido com Brandon
quando ele bateu no dia anterior. Sei que ele estava errado, mas não vai ser
justificável.
Não olho para a porta, mas o sinto se aproximar.
— Samantha?
Engulo em seco, então levanto a cabeça, o vendo parado e com um
semblante cansado no rosto abatido.
— Oi, pai — minha voz está vacilante. Com razão.
Ele desce seu olhar para meus braços, que estão com pomada para não
infeccionar as marcas que ficaram vivas.
— Desculpe. Eu não sei por que fiz isso, filha.
Bom, mas eu sei. Por causa da minha mãe. Por culpa da vergonha e
decepção interior que ele sente dela. Azar o meu.
— Está tudo bem. Logo passa — evito um suspiro porque… Não
adianta eu me enraivecer. As coisas simplesmente seguem o percurso que
têm que seguir.
— Você foi com o Mackenzie… — ele hesita, parecendo envergonhado.
— Ele me denunciou?
Minha boca se abre levemente. É com isso que ele está preocupado
então. Não comigo ou com o que fez, mas com o que pode acontecer consigo.
— Não, ele não fez isso. Apenas fomos à sua casa e dormimos.
Meu pai emite um som baixo.
— Preciso me preocupar em ser demitido e ele aparecer aqui na minha
porta te difamando igual o seu namorado?
Me remexo.
Não gostei do tom. Não gostei...
— Não, só dormimos. Eu em um quarto separado.
— Sinceramente, Samantha… Não sei onde foi que eu errei… Sabe,
você só me traz decepção e tento não ficar triste, mas não consigo. Não
consigo mesmo.
Olho meu caderno, a vista turva.
— Eu não faço para decepcionar — me forço a responder. — Não é
intencional.
— Esse é o problema! Você banca a inocente!
Meu olhar rodeia a cozinha, onde estamos, mas não consigo arrumar
uma resposta coerente. Tudo parece tão errado na minha vida.
— Como está seu braço? — questiono para mudar o assunto.
— Está bom. Eu vou subir e tomar banho.
— Vou preparar sua janta — me levanto, sentindo meu corpo tremer
pelo esforço de poupar um choro triste.
— Já desço — se vira e sai andando.
Me movo para a geladeira, então respiro fundo, ansiando que essa fase
péssima da minha vida acabe. Mas acabe de verdade e para sempre.

ѾѾѾ
Eu espero, ansiosa. O senhor que aparece para me receber, é bem senhor
mesmo. Me lembra o Papai Noel. E isso quase me faz rir, mas seria falta de
educação.
— Bom dia. É você que quer olhar a casa? — ele pergunta ainda um
pouco distante. Seus passos são lentíssimos e eu acho bem melhor me
levantar e encontra-lo no caminho.
— Sou eu, sim.
— Ótimo. Venha por aqui.
Eu o sigo por um beco meio escuro e logo vejo a casa. "Casa". Está
horrível por fora. Quase se desfazendo.
— Quanto o senhor cobra pelo aluguel?
— Duzentos dólares — responde enquanto destranca e abre, me dando
espaço para passar primeiro.
Imediatamente começo a tossir como uma desesperada, tanto pela poeira
quanto o cheiro de mofo.
— É bem velha — ele explica. — É só esse cômodo e um banheiro ali
naquela porta. Sei que não é nada grande, mas dá para você se virar. Além
disso, é bem perto da faculdade, caso você estude lá.
— Só preciso para dormir mesmo — olho ao redor, vendo as paredes
descascadas. — Acho que duzentos dólares é muito por isso aqui.
— Não é — ele sorri. — Tenho boas lembranças daqui. Foi onde minha
esposa e eu concebemos nosso primeiro filho, o Daniel.
Sorrio também, não me agradando o saber, mas achando bem fofo
mesmo. Mas, é um roubo.
— Eu vou querer — abro minha bolsa e tiro a carteira, pegando o valor
e entregando ao senhor. — Eu me chamo Samantha.
— Godwin — sorri, os dentes amarelados. Ele tem a aparência de avô
que conta historinhas para os netos. — Olha, moça, eu não tenho mais
condição de me oferecer para ajudar, mas tenho umas tintas lá em casa. Se
você quiser, para dar uma maquiada, posso lhe dar.
— Eu ficaria muito grata.
— Ótimo. Quando você muda?
— Hoje mesmo. Só vou pegar minha mala em casa.
— Perfeito — ele me estende as chaves e eu seguro, exalando um
suspiro ao mesmo tempo. É a sensação de independência. — Mais tarde lhe
trago as tintas.
Eu assinto, então o Sr. Godwin sai, me deixando sozinha no meu mais
novo lar.
Porque, uma coisa é bem certa, as coisas não mudariam se eu
permanecesse parada e quieta, esperando uma mudança em meu pai.
Ele não vai mudar, percebi isso ontem, quando ele se recusou comer a
comida que coloquei e foi comer na rua.
A dor do desgosto e decepção tirou sua fome, foi o que ele disse.
— Que eu seja bem-vinda — suspiro, aliviada.
Capítulo 22

— Fiquei sabendo de um alvoroço no corredor da sua sala — Amy


divaga. — Quer falar sobre?
— Não — eu não a olho enquanto continuo brincando com meu
sobrinho no chão.
— Você sabe que o Dean vai questionar.
— Eu não ligo.
— Deveria. E tem o Ethan e o Luke.
— Só falta me dizer que seu marido também vai se meter na minha vida
— debocho.
— Metê — Scott repete.
— Isso mesmo. Sua família tem um bando de fofoqueiros — digo para
ele.
— É sério, Brandon — minha irmã usa seu tom sério, que ela aprendeu
a ter desde que se casou, o que ainda me soa estranho. — Ter três mulheres
ao mesmo tempo atrás de você não é uma coisa muito legal.
— Eu discordo — olho-a. — É sinal que estou bem na fita.
— Não, é sinal de que está vazio e procurando algo para se preencher. E
isso não é nada legal.
Suspiro.
— Você não sabe do que se trata.
Scott me entrega um carrinho e se levanta, indo para minha irmã, que o
pega no colo para amamentar, o que é um erro.
— Eu acho que você não devia dar mais leite pra ele. Ainda mais com
essa barriga enorme.
— Eu sei, mas tenho muito — ela ri. — Você não vai me contar?
Passo o carrinho no chão, a mente toda embaralhada. Achei que vindo
até a casa da Amy me faria sentir mais leve, mas só piorou. Se eu souber
quem disse para ela sobre tudo, eu demito a pessoa. Sem nem pensar.
— Sei lá. Conheci uma garota, mas ainda tô com a Jennifer.
Amy resmunga alguma coisa.
— Você não aprende, Brandon! Pelo amor, você merece bem mais do
aquelazinha. Se poupe!
— Não sei — solto o carrinho e esfrego o rosto. — Parece tão errada a
minha vida. Me sinto perdido. É como se eu não soubesse o que fiz para
chegar até aqui — olho-a. — Você entende o que quero dizer?
— Sim. Eu me sentia assim mesmo antes de encontrar o Dylan — ela
suspira sonhadora. — Me fala dessa outra garota.
— A Samantha. Ela é bem legal, mas tem um monte de merdas na vida,
também. Eu tô tentando uma amizade com ela, mas não resisti e nos beijamos
e talvez um pouco mais que isso.
— Que errado, Brandon. O que seria um pouco mais que isso?
— Ela sem as calças.
Amy ri.
— Certo, você é um cafajeste. Precisa entender que não tem mais
dezoito anos. Você é um homem agora e precisa encontrar uma mulher, não
uma garota que só pensa no seu amigo de baixo e na sua carteira.
— O que significa isso?
— Que você acha que as mulheres são assim… Para se usar, mesmo que
você não veja, é como considera. Suas atitudes estão sendo no automático.
Precisa mudar, irmãozinho.
— Eu não penso assim.
— Você já teve uma mulher que não visse sua carteira ou seu...? —
gesticula.
— Não.
— Então você pensa, sim.
— Mas eu gosto de mulheres, não penso que são só para me satisfazer.
— Demonstra que é. Olha o que acabou de dizer. Prova tudo.
— Ah, sei lá. O que me preocupa é a garota, a Samantha, ela sofre um
bocado e eu tentei ajudar, mas só piorei.
— Vai consertar, oras. E, claro, terminar com a mocréia. Ops, Jennifer.
Você sabe que gosto muito dela, mas não dá para continuarem.
— Muito engraçada. Vocês nunca gostaram dela — bufo.
— Por que será, né?
— Ah, sei lá. Também acho que não devo me meter. É um problema
dela e do pai. Por que eu teria a ver?
— Por que você acha que tem a ver?
— Sei lá, Amy. Eu só pensei em ajudar — me levanto. — Mas, como
sempre acontece, só atrapalho. Eu vou indo nessa.
— Nessa onde?
— Dar uma volta, não sei. Depois vou pra casa e dormir.
— Essa é a hora que eu agradeço por você não beber.
— E essa é a hora que lamento por existir — me aproximo dela e beijo
seus cabelos e a bochecha de Scott, acariciando sua barriga antes de me
afastar e ir embora.
Horrível?
Não, desgastado. Nunca me senti tão fraco mesmo estando forte.
Enfio as mãos nos bolsos da calça e começo a caminhar sem rumo,
ansiando por algo que me dê alívio, mas só o que vem na minha cabeça é a
cena de Samantha apanhando.
Doloroso.
Capítulo 23

Deixo minha mala no chão e prendo os cabelos, feliz de alguma forma


por ter conseguido um pouco. Melhor que nada. Não contei ao meu pai
pessoalmente, deixei um bilhete na geladeira. Eu sei que ele gritaria e
provavelmente não me deixaria vir. Diria algo bem desmotivador e talvez eu
mesma desistiria.
Estou com meu macacão de trabalho e trouxe um pincel que comprei no
caminho. Já está noite e, apesar de não estar com medo, a casa fica em um
beco muito sinistro. Ainda bem que escondida. Qualquer coisa, eu sei como
usar o martelo.
Quase levo um susto com a batida na porta, então uma voz:
— Oi? Eu trouxe as tintas. Estou vendo a luz acesa por baixo da porta.
Respiro fundo, então vou rapidinho e abro, estranhando quando vejo um
homem jovem com duas latas de tinta nas mãos. Não é tão jovem, mas não
deve passar dos trinta e tantos.
Nós nos encaramos e ele é o primeiro a sorrir.
— Eu sou o Daniel, filho do Godwin. Ele me pediu para trazer as tintas,
porque foi dormir cedo.
— Ah, claro — eu estendo as mãos para pegar, mas ele se esquiva.
— Eu guardo para você. Onde coloco?
— Pode ser ali no canto — aponto, tentando sorrir.
Ele concorda e entra na minúscula sala, levando as tintas até onde
indiquei, então se vira novamente em minha direção.
— Eu detesto ser intrometido, mas onde você vai dormir já que meu pai
disse que mudou?
— Eu trouxe um colchão.
Ele olha ao redor, então vê minha mala.
— É um colchão de boneca?
Dou risada.
— Não, é daqueles dobráveis.
— Ah, sim. Coube aí dentro?
— Sim, apertado, mas deu.
— Entendo — seu olhar vai ao redor novamente. — Está bem ruim
mesmo aqui. Você tem certeza que não quer procurar um lugar melhor?
— Tenho. E aqui é distante, gosto dessa ideia.
— Fugindo? — ele ergue uma sobrancelha. — De quem?
— De ninguém. Só não quero ter que ver rostos conhecidos.
— Você tem um trabalho longe daqui?
— Não no momento, mas tenho o suficiente para me segurar até
encontrar um.
— Eu entendo. Se você quiser, eu tenho um cachorro e estou procurando
quem possa passear com ele todos os dias para mim. É um dálmata. Ele é
mansinho.
— Mesmo?
— Sim — sorri. — É que não tenho tempo, por causa do meu trabalho.
Eu viajo muito. Sou Chefe de Segurança e dono da empresa, então...
Complica.
— Mesmo? Você tem uma empresa de segurança? — me apoio na porta.
— Isso mesmo. A empresa Francis, que é o sobrenome da família. Foi
passada de geração em geração desde o meu bisavô.
— Nossa, que legal.
— É bastante. A sensação de proteção, de poder dar essa sensação aos
outros, é bem interessante.
Sorrio, concordando.
— Bom, eu vou te deixar na sua casa — ele caminha para perto de mim.
— Foi um prazer.
— Obrigada pelas tintas.
— Por nada. Boa noite e tranque a porta.
— Trancarei — espero que ele saia e fecho, então volto a olhar a casa,
sentindo emoção e frustração.
O que está errado, tende a dar sempre errado, ao menos é o que parece.
Vou para as latas, já para começar a pintar.
Capítulo 24

Estou me considerando um pouco idiota por ter voltado aqui com essa
desculpa. Mas, que seja, ele me deve mesmo alguma explicação. Não deve,
porque ela já me explicou tudo e como acontece, mas preciso…
Do que eu preciso?
Ultrapasso as portas de vidro da entrada e logo avisto Theo dando
instruções a dois homens. Ele está como sempre o via antes, parecendo o
mesmo homem aparentemente normal, amável e bondoso.
Ah, as aparências…
Com força, a imagem de Samantha encolhida na parede enquanto ele
segurava um fio, invade minha mente. Em cheio. Com tudo. Quase vou ao
torpor.
Respiro fundo e me aproximo. Não preciso me pronunciar, logo três
pares de olhos se voltam para mim.
— Bom dia. Me deixem a sós com o Theo, por favor — peço aos dois
homens, que me cumprimentam e saem depressa. O terceiro, me olha com
cautela e apreensão, mas não tem medo nesse olhar. Não mesmo. — Onde ela
está?
— Eu não sei — a voz dele parece dura como pedra e eu estreito os
olhos.
— Como não sabe? Acabei de ir até sua casa procurar por ela e bati na
porta por quase meia hora.
— Eu não sei dela.
— Não me vem com essa! — me aproximo bem dele. — Você não
bateu nela de novo, não é!? Porque eu juro que eu te denuncio agora!
Theo tem a cara de pau de se sentir ofendido.
— Ela fugiu de casa. Ontem. Eu cheguei e ela não estava mais. Só
algumas poucas roupas e coisas estavam no quarto dela, mas não a vi desde
então.
O choque é tanto que dou um passo para trás, em desequilíbrio.
— Ela fugiu? Com que dinheiro? Ela não trabalhava! — avanço para
cima dele, segurando-o pela gola da camisa. — E você não fez nada?! A sua
filha some, sem você fazer ideia pra onde e você simplesmente vem
trabalhar? Que tipo de pai é você!?!
— Um que já não aguenta mais uma filha prostituta! — ele grita e não
vejo bem como, mas minha mão acerta seu rosto em cheio, Theo caindo no
chão. Ele cospe e me olha de baixo, que estou ofegante por raiva e fúria. —
Você acha o quê? Onde ela conseguiu dinheiro? Eu não dei, nem você. Ela é
prostituta.
Me afasto, as mãos na cabeça, precisando de alguma coisa. De um
alento. Me sinto borbulhar. Inteiramente.
Volto ao meu carro, incapaz de aguentar ficar perto dele, temendo o que
posso fazer, e dirijo quase sem enxergar à minha frente.
Sim, é fúria.
Muita.

ѾѾѾ
— Como assim você não pode? — eu pergunto, não querendo acreditar
no que ouvi.
— Sim, é o que estou dizendo. A garota fugiu porque quis, é maior,
você está me dizendo vários motivos que a fez tomar essa atitude — Francis
está muito calmo enquanto estou rodeando sua sala, inquieto e preocupado.
— Eu vou te pagar e o seu trabalho não é mesmo questionar, só
obedecer.
— Pelo contrário, eu devo questionar quando vejo motivos e não tenho a
política de exercer meu trabalho sem saber onde estou pisando.
— Tem uma menina indefesa e largada por aí — olho-o, incrédulo. —
Você não percebe? Ela pode estar em qualquer lugar! Sozinha, sem ninguém
e sem nada!
— Talvez ela esteja bem. É uma mulher, não uma criança.
— Quem garante que ela está bem!? Quem garante, inferno?
— Eu não sei — ele levanta do seu sofá e confere as horas no relógio
em seu pulso. — Preciso ir almoçar agora. Vou dar um jeito de tentar alguma
coisa para você, mas não garanto nada.
Bufo exaurido, então dou meia volta e saio de sua sala.
Perdido. Abalado. Arrependido.
Por que eu tinha que estar com a Jennifer?
Capítulo 25

É a segunda semana morando sozinha e eu não poderia estar mais feliz.


Não fui ver meu pai, mas isso me deixa preocupada porque, apesar de fazer o
que faz comigo, ele precisa de ajuda e o meu dever como filha é ajudá-lo.
Termino de aguar minhas flores que coloquei no corrimão da varanda e
levanto a cabeça ao ouvir passos, vendo Daniel se aproximar.
Ele disse mesmo que viria me ver quando levei seus cachorros de volta
e, para minha sorte, estou sendo paga semanalmente. Pude até comprar uma
cama.
— Oi, Samantha — me cumprimenta, já bem próximo. — Está a fim de
um passeio comigo?
— Seria ótimo — concordo. — Só um minuto — volto para casa,
pegando meu casaco e a chave da porta. — Vamos.
Daniel concorda e começamos caminhar lado a lado, como se fosse
comum e fizéssemos isso sempre. E é estranho, apesar de não me sentir
desconfortável. Mas não é como se eu estivesse com Brandon, que soa
natural e… Simples, leve, aconchegante.
— Seus pais moram perto? — Daniel me traz de volta.
— Não. Quer dizer — amarro o casaco na cintura —, meu pai mora há
umas duas horas e minha mãe foi embora quando eu era pequena.
— Lamento.
— Não, tudo bem. Eu acostumei, nem faz mais falta.
— Sei… — não olho para ele, mas sei que está me olhando. Ele é um
homem atraente. Moreno e todo alto, bem chamativo. Nada que se compare
ao Brandon, é claro. — Você não tem namorado?
— Não... Bem, mas pretendo ter.
— Bom, porque estou querendo me candidatar — ele dá um risinho e
enfia as mãos nos bolsos da bermuda.
Sorrio para frente, onde saímos do beco e começamos a seguir pela rua
movimentada. Está um calor gostoso, nada que seja a ponto de reclamar, mas
sendo ameno.
— Do que você gosta, Samantha?
Eu o olho, vendo seu olhar curioso.
— Gosto da sensação de estar em paz e — desvio a vista para qualquer
lugar — de ser eu mesma sem estar sendo cautelosa com o que posso falar e
vai acarretar, entende?
— Está falando dos seus braços? Essas manchas… Era um namorado?
Olho para as manchas por reflexo, sentindo meu rosto esquentar e
ruborizar. Céus… é constrangedor.
— Eu… Hm… Me machuquei — olho-o, tentando sorrir. — Nada
demais.
— Isso não foi machucado, te bateram.
— Não me bateram — eu rebato, talvez rápido demais, o que faz com
que Daniel pare de andar, me fazendo parar também.
Ele me olha por uns segundos, segurando meu braço esquerdo e
puxando para si. Me assusto quando o vejo trazer os lábios à minha pele e
beijar perto dos hematomas.
Engulo em seco, nervosíssima, olhando em volta com medo de que
alguém que conheça meu pai veja uma cena dessas. Mas, não, aqui ninguém
o conhece. Ninguém me conhece. Eu não preciso ter medo.
— Estou bem — puxo o braço, limpando na blusa como uma reação. —
Está tudo bem.
— Nós podemos ser amigos, certo? — Daniel está com um tom de voz
suave e tranquilo, me passando conforto e muito mais. Mais do que esperei.
— Entendo que temos algumas coisas que preferimos manter em sigilo.
Coisas nossas, que não cabem a ninguém saber. Entendo mesmo.
— Ok — olho para o outro lado da rua, preocupada com tudo. Em como
as pessoas sempre sabem alguma coisa. Mais do que deveriam. Mais do que
eu gostaria que soubessem. E então eu o vejo.
É mesmo ele. Eu preciso piscar algumas vezes para ter certeza que não
estou tendo uma alucinação ou algo assim, mas não é.
— Meu Deus — tapo a boca com as mãos, a preocupação aumentando
para medo quando vejo seu olhar. — Vamos embora — me viro e volto
correndo para o beco, para minha casa, mal sabendo como se respira.
É ele e não acredito.
Capítulo 26

Eu estou ofegante, apesar de Daniel ter tentado me tranquilizar por horas.


Mas, como poderia ser? Eu o vi e agora ele sabe por onde estou. Vai querer
me ver, apesar de eu não entender por que meu receio.
Meu Deus, isso é tão catastrófico. Estou me sentindo em um beco sem
saída. Quando penso que estou bem e vai melhorar, tudo piora de uma forma
horrível e pesarosa.
Daniel não entendeu, mas me garantiu que, se eu estiver com medo, só
preciso gritar e ele consegue me ouvir de onde mora. Eu duvido. Duvido
muito.
Levanto da cama e começo a caminhar pelo cubículo, agoniadíssima. É
como se uma tensão em meu corpo avisasse que algo vai acontecer. Mesmo
que não vá.
Não vai. Está tudo bem. Tudo está bem. Ele não vai saber o caminho.
Que estou aqui… Sozinha e com medo dele…
Se pelo menos Brandon estivesse por perto e eu soubesse seu número…
Se eu tivesse uma forma de entrar em contato com ele…
Saio dos pensamentos ao ouvir as pancadas na porta. Não são batidas
comuns, são pancadas mesmo. Muito altas e com força.
Paro no mesmo instante, o desespero tomando conta de mim, tanto que
preciso encostar na parede, para não cair no chão de medo e de tanto tremer.
Oh, Deus.
— Eu sei que você está aí! É melhor abrir, se não quiser que eu derrube
isso que você chama de porta! — ele avisa, num tom de quem não está de
brincadeira.
Olho para os lados, muito aflita e desesperada, buscando alguma ajuda,
algo que possa me ajudar. Qualquer coisa, não? Sim, qualquer coisa. Eu vejo
o martelo embaixo da cama e, quando me levanto para pegá-lo, ouço o baque
forte. Mais que forte. Então ele está ali de repente, à minha frente, parecendo
muito alto e grande. Maior que eu, sem dúvidas.
— Por que você correu? — ele está falsamente calmo.
Engulo em seco, abraçando o corpo com os braços.
— Samantha… — então eu começo a não sentir o chão sob meus pés
quando ele se aproxima. Meu bom Deus… — Linda, você está com medo de
mim?
— Não — eu nego, mas é mentira, eu estou.
— Eu… — forço as palavras a saírem da minha boca. — Não tenho
mais nada com você, Tyler.
— Mentirosa! — ele grunhe e está perto de mim em dois passos,
segurando meu pescoço com uma mão e me obrigando a olhá-lo. — Você me
abandonou. Parou de me procurar. Por que fez isso? — seu olhar tem revolta
e algo mais.
— Eu… — tento tirar seu braço, mas ele só afrouxa um pouco, me
fazendo lacrimejar os olhos. — Você... Filmou… O Jonas… Disse.
— Ah, e por isso você me largou? — Tyler solta meu pescoço, mas não
me deixa sair. — Isso é coisa que se faça? Me usou pra fazer ciúme no
babaca e me largou como uma boa vagabunda faz!
Olho para lado, para a porta, só querendo… Fugir. Sair. Sumir.
Qualquer coisa.
O Brandon…
Eu vejo Tyler se afastar e caminhar até a porta, alimentando minha mera
esperança de que ele vá embora, mas, estou completamente errada. Muito,
muito errada.
Ele a fecha e se vira para mim.
— Eu devia fazer você pagar de uma forma bem dura por me usar, mas,
como não sou ruim ao ponto, só vou te pedir pra tirar a roupa.
— O quê? Não! — eu me recuso, desacreditada. Estou mesmo. Não
posso acreditar que mais isso está acontecendo comigo e agora com meu
saber. — Tyler, não!
— Cala a boca! — ele volta, o dedo erguido para meu rosto. — Se você
gritar, eu posso não ser tão bonzinho.
— Meu Deus… — eu engulo um choro, olhando para a porta mais uma
vez e calculando o tempo e como posso correr.
— Tira a roupa — manda outra vez, já tirando a blusa.
— Meu Deus… — eu repito, as lágrimas caindo. — Não faz isso, Tyler.
— O quê? Na hora de ir pra minha cama você soube e agora vai ficar me
recusando? Tira logo isso aí que eu já vi tudo.
Balanço a cabeça em negativa, mas isso só o faz dar um rugido e se
aproximar, tentando tirar minha blusa. Eu tento impedir, chorando
desesperada, mas ele consegue mesmo assim.
Tyler parece animado com seu feito, quando olha meu sutiã e sorri.
Tento tapar, mas ele balança a cabeça, como em deboche. Engulo um soluço.
Ele leva a mão ao bolso da calça e sorri, então o vejo trazer o celular.
— Vamos repetir — me olha. — Filmar. Você gosta que eu sei. Fica
mais emocionante.
— Tyler, não... — Estou engasgada em lágrimas. Mesmo assim, ele se
aproxima e me força a levantar a cabeça, forçando um beijo que não existe.
Me debato para sair, mas ele é mais forte e deixa o celular cair só para me
manter no lugar.
— Cala a merda da boca! — ordena e abre meu sutiã, tirando-o de mim.
Estou em um momento que não consigo encontrar minha própria voz
para um grito, então eu tento machuca-lo com as unhas e os dentes, e isso só
faz com que ele me empurre contra a parede mais veemente, minha cabeça
batendo contra o concreto e eu sentindo uma tonteira imediata.
Quase caio sentada, mas encontro alguma força quando ouço Tyler
murmurar:
— Vou colocar o celular apoiado pra te filmar direito — então ele se
vira, talvez não percebendo que é o momento que consigo, de algum jeito,
correr para a porta e abri-la.
Então eu corro.
Corro muito. Corro cega. Corro tonta.
Não sei como. Não sei de que jeito.
Mas eu corro, e tudo que me vem à mente é ele.
E só ele.
Capítulo 27

Estou assistindo uma reportagem sobre os tsunamis para tentar me distrair


— como se fosse funcionar — quando quase levo um susto com as batidas
em minha porta. Certeza que é Amy com o pestinha do Scott.
Me levanto despreocupado e vou abrir, mas meu coração falta pular pela
boca e eu quase morro por um segundo quando vejo ela.
A Samantha. Ofegante. Trêmula. Suada. Segurando um jornal em frente
ao corpo.
E ela simplesmente cai onde está. Soluçando. Parecendo sem forças.
Me forço a voltar a mim e me abaixo junto a ela, puxando-a para mim, a
abraçando e tentando passar algo a ela. Qualquer coisa.
Mas logo o elevador abre e vejo o porteiro e dois seguranças
aparecerem, eu não entendendo nada. Eles nos olham, então um dos homens
ameaça se aproximar, mas balanço a cabeça, dizendo não.
— Está tudo bem — digo. — Ela está comigo.
Eles assentem, virando-se e voltando por onde vieram.
Me ajeito melhor, mantendo Samantha comigo, que me aperta de uma
forma como se eu fosse um escudo, algo que ela precisa segurar. E isso é
estranho.
Estamos caídos na minha porta, ela desesperada e sem blusa, chorando e
me abraçando tão forte quando parece sem força nenhuma.
— Shhh, estou aqui com você — tranquilizo-a, mesmo não fazendo
ideia o que se passou. — Já passou, shh... Eu estou aqui.
Ela não diz nada, apenas chora e chora. Os soluços também não têm fim.
Não sei como proceder. O que pensar.
— Vamos tirar isso do seu corpo pra não te fazer mal — puxo o jornal e
jogo em qualquer lugar, Samantha me abraçando mais firmemente.
E é exatamente como ficamos. Não sei por quanto tempo, apenas
estamos assim. Ela está com muito medo e só posso imaginar que algo ruim
aconteceu, sendo inevitável que Theo venha à minha cabeça.
Se ela a tiver machucado... Não perdoarei dessa vez.
— Está frio aqui, vamos entrar, está bem? — eu a chamo, mas Samantha
parece não querer o mesmo já que me segura quando tento levantar.
Quero olhar seu rosto, seus olhos… Decifrar o que tiver que ser. O que
ela tem para me contar. Estou agoniado e triste. Triste por vê-la aparecer
desse jeito. Dessa forma.
— Obrigada — sua voz é um chiado baixo, mas eu ouço mesmo assim
enquanto acaricio seus cabelos. — Obrigada… por você estar aqui.
— Não me agradeça — beijo seus fios negros. — Nós podemos entrar, o
que acha? Vamos ficar abraçados...
— E seguros — ela me interrompe com um soluço e levanta a cabeça,
meu coração partindo ao ver seu semblante. Ela está suadíssima e abatida. —
Estou segura com você.
— É claro — soou uma pergunta o que ela disse, mas eu reforço a
resposta mesmo assim. — Vamos?
Samantha concorda, eu me levantando primeiro e ajudando-a após, logo
fechando a porta e nos guiando para meu quarto.
— Fique aqui — eu peço, mas ela segura minha mão, seu olhar
transparecendo seu medo absurdo.
— Não me deixe sozinha — pede. — Ele pode ter me seguido.
— Tudo bem — agarro sua mão firmemente. — Não vou te deixar
sozinha.
Nos guio para o banheiro, fechando a porta e tentando sorrir para
Samantha, que não faz nenhum esforço para corresponder o gesto, apenas
abaixa a cabeça e eu faço o mesmo, vendo-a nua da cintura para cima e com a
calça rasgada em várias partes. Os pés machucados e sangrando chamam
minha atenção.
— Como você chegou até aqui? — É inevitável que eu pergunte.
— Correndo — ela não me olha ao responder e a voz mal sai.
— Caramba... — Estou mais que surpreso e preocupado. Não tem nem
nome. — Samantha… — desisto do que vou perguntar. — Vou soltar sua
mão só enquanto vou encher a banheira, certo?
Ela concorda, deixando os braços caírem ao lado do corpo, parecendo
muito triste e não preocupada com o que estou vendo ou deixo de ver.
Vou até a banheira e ligo para encher, indo buscar os sais e já colocando
dentro. Estou me sentindo estranho e impotente. Curioso. Perdido e aflito. Foi
o Theo? Quem mais poderia ter sido? Outro homem? Sim, poderia. Droga…
— Venha, você pode… — eu me viro para olhá-la, mas quase levo outro
susto quando já a vejo ao meu lado, me olhando nos olhos. Se eu não tivesse
certeza que é Samantha, acharia que estou em um filme de terror. Engulo em
seco. — Pode esperar encher já dentro.
Ela afirma com a cabeça e num instante tira a calça e a calcinha,
puxando tudo junto e entrando na banheira. Eu ficaria impressionado, se já
não estivesse perplexo.
Assim que Samantha senta, pega a esponja da beirada e começa a
esfregar no corpo. A princípio, normalmente; mas, depois de uns segundos,
começa a ser de forma enérgica e brusca, tanto que quase posso sentir a dor.
— Samantha, ei — me abaixo e seguro seus braços, ela me olhando de
novo de forma direta, sem piscar e, insisto, isso normalmente faria alguém
sujar as calças de medo. — Pare com isso — peço.
— Estou me limpando — ela sussurra. — Limpando meu corpo. Quero
tirar essa pele de mim. Estou suja. Imunda.
— Você não está — mantenho nossos olhares, mesmo me sentindo mal
por ela estar assim. — Escuta, Sam, você confia em mim, certo? — ela
assente levemente. — Ótimo — pego a esponja de suas mãos e tiro de seu
alcance, jogando em qualquer canto do banheiro. — Então confie quando
digo que não está suja ou imunda, tudo bem?
Desço as mãos para seus braços e acaricio, mantendo nossos olhares
conectados.
Seria um momento muito bom, se não fosse tão estranho. Samantha
assim… Parecendo outra pessoa... Estou me sentindo mais idiota do que já
fui em todas as vezes simplesmente por não saber o que fazer ou como agir.
— Deixe que eu te dê banho, tá bom?
Ela assente, abaixando o olhar quando começo a banhá-la. É muito
estranho, insisto. Nunca fiz isso. Certo, esquisito de admitir, mas nunca
mesmo. E quase me sinto fazendo algo errado porque agora é como se
Samantha não estivesse ligando.
Quando termino, me levanto e vou em busca de uma toalha no armário,
pegando e me virando para voltar, mas de novo ela está perto, me olhando
nos olhos.
Eu a encaro por uns segundos, já querendo conferir se estou no meio de
uma piada de terror e ela aceitou participar. Esses olhos claros tão sérios
podem realmente botar medo numa pessoa.
— Abra os braços — peço e ela o faz, eu aproveitando para secar seu
corpo todo. Com muita cautela e paciência.
Quando termino, deixo a toalha na bancada e me assusto quando
Samantha puxa com força meu braço.
— Dorme comigo? — pergunta.
— Durmo — respondo no automático, já agradecendo meu coração ser
tão forte ou eu teria dado um ataque no segundo susto. — Vamos lá.
Nos levo ao meu quarto, seguindo para a cama. Puxo o edredom e entro
embaixo, ela fazendo o mesmo.
— Quero dormir olhando para você — declara e mira os olhões para
mim.
— Está bem. Pode olhar — apoio a cabeça no travesseiro e tento sorrir,
mas Samantha permanece séria e assim fica por muito, muito, muito tempo…
até eu quase querer me ajoelhar e fazer uma oração.
Isso foi assustador.
Capítulo 28

Eu não consegui dormir. Claro que não. Vai que eu acordava de


madrugada e… Bam! Samantha na minha frente. Preferi não arriscar. Fiquei
bem acordado mesmo.
Já ela, dormiu como um anjo. Apagou de verdade. Demorou um pouco,
mas dormiu pra valer.
Agora que o Sol já apareceu, eu até penso em levantar e preparar um
café pra ela, mas acho que está muito assustada e pode piorar se abrir os
olhos e eu não estiver mais aqui. Resolvo esperá-la acordar.
Não demora muito e logo os olhos claros se abrem, parecendo sem foco
e eu agradeço, porque se tivessem abertos diretamente em minha direção,
certeza que eu dava um pulo da cama.
— Bom dia, borboleta — eu sorrio, demonstrando minha animação.
Samantha então me olha, parecendo meio perdida, mas logo senta,
olhando todos os lados do quarto e soltando um suspiro de alívio.
Ela solta um lamento de dor, que me faz sentar também. Imediatamente
tiro o edredom de seu corpo e faço uma careta. Suas pernas estão cheias de
marcas, bem como seus pés machucados, e os braços que já estavam com
hematomas.
— Se você sair na rua assim, vão te levar pra uma delegacia — eu digo,
de primeira. — Ó, você tem que ficar sem roupa. Vamos aproveitar que é
domingo e tentar cuidar do seu corpo, certo?
Ela assente, soltando uma respiração funda.
Levanto rápido e penso um pouco, o olhar sempre nela pra não ser pego
de surpresa.
— O que a gente pode fazer… — analiso. — Já sei. A gente vai ficar na
sala de jogos. Lá tem umas mesas que não vão te machucar. Mas, primeiro
vamos passar na cozinha — caminho até ela e seguro suas mãos, Samantha
levantando.
Meu eu está perguntando o que está havendo, mas meu outro eu está
sendo complacente.
Nós seguimos para a cozinha e eu deixo ela sentada no banquinho da
ilha, que não reclama ou se nega. Mas ainda fico alerta, caso ela levante do
nada e venha para perto.
Eu adoraria dizer que ela está gostosamente despenteada, mas censuro a
minha boca.
Começo a andar pela cozinha, preparando nosso café, e pra não ficar um
silêncio chato, eu começo a assobiar uma música qualquer que vem à minha
cabeça; que levanto vez ou outra para olhar Samantha, que tem uns peitos
muito bacanas apoiados na bancada de quartzo.
Sorrio para ela, pra não parecer um babaca.
São só peitos, eu não preciso estar elétrico.
Mas, como não reagir? Eu não sou cego.
— Você não vai perguntar o que aconteceu?
Quase corto a mão com a pergunta feita pela voz rouca, meu olhar
encontrando o dela, ainda no mesmo lugar — graças a Deus.
— Hm… — limpo a testa com o antebraço. — Acho que se quisesse
falar, já teria dito. Não vou cobrar isso de você, mas fico feliz que tenha
vindo buscar alento em mim. Quer dizer, é bom que confie pelo menos em
mim e…
— Eu quase fui estuprada — me interrompe. — Pelo Tyler, o cara do
vídeo.
O choque é tão grande que largo a faca, perplexo e… Meu Deus, eu nem
sei.
Samantha levanta, então me olha de onde está.
— Ainda acha que não sou imunda? — dá um sorriso e eu preferia vê-la
chorando do que sorrindo assim.
— Acho — me forço a responder, então ela gargalha e eu fico olhando-
a, até que ache que é hora de parar.
— Vamos tomar café — diz, a postura séria voltando e eu pigarreio, a
percepção vindo de forma imediata.
Samantha precisa de um tempo e um psicólogo.
E eu de acabar com o miserável que, sorte ou azar, reapareceu.
Capítulo 29

Samantha está calada desde o início. Eu tô tentando ser não intruso ou


chato, mas não acho que eu esteja conseguindo. Não nego, é completamente
embaraçoso e estou com uma puta raiva do desgraçado que quase... Meu
Deus. Eu sinto ânsia só de pensar.
Ela teve mesmo que passar por tudo isso? Era necessário? Por que
passamos por coisas que não merecemos? Samantha é apenas uma menina. É,
sim. Não tinha que ter enfrentado tantas merdas.
Eu volto a limpar a cadeira, uma ação por nada, observando que seu
olhar está congelado para a parede, como se ela estivesse em um transe.
— Onde você esteve? O Theo disse que fugiu — quebro o silêncio.
Samantha parece que não vai responder porque fica calada por um
tempo longo, mas não deixo de olhá-la, para que saiba que estou com ela,
mesmo que só em presença, já que não posso pegar sua dor para mim.
— Eu fui morar em outra casa — sua voz sai baixa e desdenhosa. —
Não sei como isso aconteceu. Ele simplesmente apareceu do outro lado e…
Eu estava presa.
— Nós podemos resolver isso.
— Eu me sinto como se estivesse em um calabouço... Como se… — ela
leva as mãos aos lábios e parece um pouco perdida e hesitante. — É como
areia movediça… Sendo puxada para o retrocesso constantemente e, por mais
que eu tente sair e me erguer, eu não consigo, porque sou levada para baixo
cada vez mais. Me sinto sufocar e… — as mãos vão ao pescoço. — Eu não
sei se tenho forças para lutar mais. Estou fraca... Quero desistir… Quero me
deixar cair.
Não sei como reagir. Fico onde estou, sentado, olhando seu olhar
perdido e atormentado rodear qualquer canto no chão.
— A vida tem dessas, mas a gente pode fazer mudar, fazer acontecer —
mais sussurro as palavras do que as digo propriamente. O turbilhão de
emoções é tão grande em mim que eu nem sei.
É estranho, eu admito. Eu gosto de mulheres, é claro, mas não sou de me
preocupar. Não. Tenho amigas, sim, mas não me lembro de ser um bom
amigo. Não sou do tipo que pergunta como estão, sou simplesmente objetivo.
Não tenho esse hábito, se é que se pode chamar assim.
— Às vezes acho que… — ela tenta me olhar, mas não consegue. —
Seria melhor se eu não existisse. A minha vida, sabe? Eu não consigo
encontrar um sentido nela. Já tentei, juro que já tentei, mas não consigo.
— Mas a vida não tem sentido mesmo, Samantha. A gente vai vivendo e
levando, passamos os dias maus esperando os bons, porque sabemos que, por
mínimos que sejam, eles existem e vão chegar em algum momento. É sempre
empurrar a bola, caindo e se erguendo, se arrastando, mas sempre
prosseguindo.
— E isso não é bom — ela se silencia, as mãos tocando as marcas nos
braços de forma inconsciente.
— Não é, mas tem coisas que… Eu não sei. Gostaria de ter uma resposta
boa pra te dar, mas não tenho.
— Sim, eu não espero que você tenha. Além disso — seus olhos verdes
se erguem aos meus lentamente e, repito, é estranho que eu não deseje seu
corpo que está exposto —, você sabe que também fugi de você.
— De mim? Por quê?
— Você sabe. O episódio na sua empresa.
— Ah, certo. Sim. Eu não estou mais com a Jennifer, se vale alguma
coisa. "Terminei" com ela naquele dia porque tanto achei que era errado o
que tinha feito, quanto percebi que não sabia o que estava fazendo.
— Eu fico feliz que ao menos um de nós tenha feito algo certo. Você
merece alguém melhor do aquela... mulher.
— Não mereço.
— Por que diz isso?
Então eu acho mesmo que é uma boa oportunidade para que Samantha
se sinta melhor. Se eu contar minhas merdas, tudo que não mereço, ela possa
entender e… Não sei, se sentir mesmo melhor com isso.
— Eu já fiz besteiras quando ainda mais novo. Sabe, eu era o que se
chama de "um perdido".
— Era?
— Continuo sendo, mas menos — sorrio, sem graça. — Eu era da
bagunça mesmo, só fazia coisa errada. Só nunca usei nada ilícito e matei
ninguém, graças a Deus que Ele não deixou.
— Tão grave assim?
— Sim, bastante — assobio. — Bastante mesmo. Eu ficava com muitas
garotas, sabe? Coisa hormonal e tal, gastava muito dinheiro do meu pai, às
vezes até roubava porque ele não queria me dar… Coisas que eu não gosto de
lembrar, mas que é preciso pra saber meu lugar. Uma vez discuti com minha
mãe porque ela queria me impedir de sair, a chamei de coisas que não
gostaria e sabia que faziam mal a ela. Já briguei com meu irmão a ponto de
ter faca no meio por causa de besteira. Quase machuquei meu pai, porque
estava alterado por bebida e o empurrei, ele quase cortou a cabeça… — trago
as mãos ao rosto, pesaroso. — No mais, eu magoei toda minha família. Só
nunca fiz nada com a minha irmã, mas, de resto, todos.
— Por quê?
— Eu não sei. Não sei mesmo. Foi uma fase que começou aos quatorze
e durou até os dezenove. Dei muita, muita dor de cabeça. E eu nem tinha
motivos. Minha família sempre me amou e cuidou bem de mim, não sei
porque fui tão revoltado.
— Nenhum motivo específico?
— Não — aliso a nuca, já me sentindo envergonhado. — Quer dizer, eu
não sei. Aparentemente, não. Talvez eu quisesse chamar a atenção por não
ser como meu irmão, que sempre fez tudo muito certo e era o orgulho dos
meus pais. Enfim, depois de um tempo, fui mudando, porque descobri uma
coisa e fiquei bem triste.
— O que você descobriu?
— Que eu não podia, sabe, ter filhos. Uma garota cismou que tinha
ficado grávida de mim, ou queria que estivesse, mas o fato é que não estava.
Depois, uma outra, e mais outra… Mas nenhuma estava ou ficava. Achei
esquisito em algum momento, porque isso faz a gente ficar meio balançado.
— Quem garante que o problema é com você?
— Eu fiz um exame. Conversei com meu irmão e a gente foi fazer, pra
ter certeza — desvio o olhar do chão para a mesa de bilhar. — E é mesmo
isso, mas, sei lá… Acho que tô pagando meus pecados.
— Não acho que seja um castigo, não é assim que funciona.
— Tem razão, não é, senão você não estaria passando por isso.
— Eu acho que tudo acontece com um propósito — Samantha levanta,
eu vejo por reflexo. Seus passos vêm até mim e ela me olha de cima,
enquanto estou sentado na cadeira da mesinha de xadrez. Seu olhar está
diferente. — As pessoas passam por caminhos ruins pra formar o caráter.
Eu sorrio, não por que concordo, apenas porque sei que nunca serei
como gostaria.
— Não vou ter uma família como meus pais ou meus irmãos, e estou
ciente do por quê — abaixo a vista, entristecido. — Olha que coisa pra
moldar meu caráter… — as palavras morrem em minha boca quando sinto o
calor bem-vindo.
Samantha me abraça, acariciando meus cabelos e meus ombros,
enquanto não dizemos mais nada. Porque nem é mesmo preciso.
Viro a cabeça para sua barriga, impossibilitado de não me sentir
emocionado quando sinto o cheiro de sua pele e a paz que me invade
instantaneamente.
E é mesmo vergonhoso e muito estranho o que acontece, mas não
consigo evitar.
Começo a chorar.
Capítulo 30

Eu me sinto muito estranha quando ouço os soluços baixos. Sei que


Brandon está chorando e isso me deixa mal, porque ele não tem que ficar
triste. Não é culpa dele, quero dizer. As consequências. Nem todas são culpa
nossa.
— Eu acho que temos que pensar… — ele treme um pouco, seus braços
timidamente vindo à minha cintura, onde ele a circula. — Pensar que vai
melhorar um dia.
— Isso. — Quero sorrir pelo fato de eu estar quebrada, mas Brandon
parecer despedaçado. — Estamos destruídos — um riso de dor indolor é
inevitável. — Dá para fazer um quebra-cabeças de Brandon e Samantha.
— Isso foi pesado.
— Mas é verdade. Você está bem? — acaricio seus cabelos, que são
macios e lisinhos. Adoráveis.
— Eu sou um idiota. Devia estar te passando conforto e estou chorando
— ele me afasta para levantar a cabeça. — Desculpa, sou um imbecil.
— Você não é, apenas lembrou de coisas que se arrepende, mas não
pode mudar.
Brandon morde o lábio, parecendo avaliativo.
— Você está com dor?
— Não — olho um pouco meus braços, que estão com algumas marcas
esverdeadas. — Quer dizer, a dor já passou. Só me sinto… Pesada e cheia.
Sabe, suja. É uma sensação ruim e estou com raiva e nojo de mim mesma.
Ele me encara por uns segundos, parecendo bem triste.
— A culpa não é sua — levanta também. — Olha, a gente tem que
deixar esse episódio de lado. Essas coisas. Falar sobre isso só tá deixando
tudo pior. Talvez esse não seja o momento. Vamos fazer alguma coisa.
— Tipo? O que se tem para fazer quando parecemos incompletos?
— Tenho uma ideia. Você acha que consegue vestir uma roupa?
— Acho que sim. Nós vamos ao Canteiro?
Ele seca o rosto e sorri.
— Não, nós vamos nos distrair — gesticula. — Tirar as ideias ruins da
cabeça.
— Certeza?
— Nunca tive tanta certeza de uma coisa, gatinha. Eu acho que tem
umas roupas da minha irmã na cômoda que ela deixou aqui. Vamos conferir.
Eu vou atrás desentendida, mas certa de que o mal é uma coisa que
Brandon não tem a intenção de me fazer.

ѾѾѾ
— Que lugar é esse? — Estou meio hesitante em acompanhá-lo quando
deixamos o carro.
— É onde meus pais moram — ele segura minha mão e sorri para mim,
eu me sentindo esquisita por ouvir isso.
— Por que me trouxe até a casa dos seus pais?
— Porque nós vamos a lugares que nos farão ficar bem — ele dá uma
piscadinha e me incentiva a caminhar com ele pela estrada de pedras que leva
a uma casa grande e bonita.
Demora um pouquinho até chegar na porta, mas vale a pena a
caminhada. É um lugar incrível. Estou encantada mesmo.
Brandon toca a campainha três vezes seguidas e eu quase o repreendo,
mas a porta é aberta antes de isso acontecer e um homem aparece. Ele é
altíssimo, com uma barba grisalha rasa e também os cabelos, mas seus olhos
são de um castanho claro e profundo.
— Oi, pai. E aí?! — Brandon o cumprimenta.
Engulo em seco quando o olhar se volta para mim e o homem parece me
avaliar de cima a baixo.
Pai? Quê?
— Filho, você por aqui num domingo — diz, mas seu olhar continua em
mim, então sinto Brandon apertar minha mão um pouco, me transmitindo um
pouco de calor. — Oi, moça.
— Oi — eu tento sorrir.
— Sou Brian Mackenzie — ele estende a mão em minha direção e eu a
aperto. — Muito prazer.
— Igualmente.
— Pai, essa é minha amiga Samantha. A gente veio visitar vocês.
Estamos fazendo visitas ao idosos carentes hoje.
Ele estreita os olhos para o filho e eu acabo rindo sem querer.
— Ótimo exemplo você dá aos seus amigos — murmura. — Entrem. É
um prazer receber você em nossa casa, Samantha.
— Obrigada — agradeço e sou arrastada para dentro pelo Brandon, que
me leva por um corredor longo, não me dando tempo de reparar bem na casa,
mas, uma certeza tenho: é lindíssima. — Ô, maiê! Eu tô aqui! Cadê a
senhora?
— Estou aqui! — uma voz feminina responde e logo estou em uma
cozinha, onde vejo a mulher que… É a mãe?
— Samantha, essa é minha mãe, Amanda — ele me apresenta.
Ela se vira de onde está, minha boca abrindo um pouco pelos os olhos
tão claros e grandes. Os pais dele são umas esculturas humanas. Está
totalmente explicado o Brandon.
— Olá — um sorriso surge em seu rosto e ela caminha em nossa
direção, inclinando o rosto e me dando um beijo na bochecha. — É um
prazer.
— Igualmente — estou tentando sorrir e ele me puxa de lado, para um
abraço.
— Tudo bem com vocês aqui, mãe?
— Tudo — ela ainda está sorrindo e me olhando.
— Vocês querem comer alguma coisa? — o pai dele surge e eu
realmente me impressiono porque... Nossa.
— Nós vamos comer em outro lugar, só trouxe a Sam pra conhecer
vocês — ele me olha. — A menos que você esteja com fome, gatinha. Você
nem comeu direito.
— Estou bem, obrigada. Sem fome.
— Tá certo — Brandon olha os pais, que estão um ao lado do outro
agora, nos olhando de um jeito constrangedor e esquisito. — A gente vai
nessa — ele me deixa só para ir beijar e abraçar cada um, então volta. —
Vamos nessa, princesa, a gente tem outros lugares pra ir.
— Tipo quais? — a mãe pergunta.
— Segredo, mãe. Segredo.
— Ahn... Tchau, muito prazer Sr. e Sra. Mackenzie — eu aceno.
Eles sorriem largamente e os vejo acenar de volta antes de Brandon me
puxar de volta para fora.
— Isso não fez sentido — eu digo enquanto caminhamos de volta ao seu
carro. — Me trazer aqui para eu dizer oi aos seus pais.
— Qual foi, maior legal. Estou te levando a lugares que nos fazem bem.
— Ou fazem bem a você?
Ele me olha e dá um sorrisinho.
— Tipo isso — abre a porta para mim e só assim me dou conta que
nossas mãos ficaram juntas o tempo todos.
Eu rio enquanto ele fecha a porta e dá a volta, para tomar seu lugar.
Tudo bem. Está sendo bom e nem estou pensando em meu pai e nas
coisas ruins. Por enquanto.
— Você gosta de música? — ele questiona quando está ao meu lado.
— Bastante.
— Então já sei a última parada. Lá vamos nós ao próximo destino.

ѾѾѾ
— Isso é…?
— Uma casa também — ele ri da minha cara e me leva de novo para a
porta de outra residência. Essa é em um condomínio fechado e, do mesmo
jeito, linda e grande. — Aqui vai ser um pouco mais badalado.
— Por quê?
— Você vai ver — ele toca a campainha e assobia, até a porta abrir e um
clone da mãe dele aparecer, só que mais nova. — Oi, Amy.
— Brandon! — ela sorri e o abraça, me abraçando em seguida também
antes de eu ao menos me pronunciar. — Oi, eu sou a irmã dele! Você deve
ser a Samantha, né?
— Eu…
— Como você sabe? — ele questiona e ela dá uma risadinha. — Certo,
nossos pais.
— A família é assim — ela dá de ombros e me assusto quando uma
criança vem correndo de dentro de casa e se agarra às pernas dele.
— E aí, garotão — Brandon pega o garotinho no colo e o enche de
beijos, enquanto desvio o olhar para sua irmã, que está gravidíssima.
Sorrio, me sentindo estranha. Pessoas tão… Bonitas e simpáticas.
— Amy, já falei que você tem que ficar em repouso — um homem
aparece também e nos olha. — Oi, boa tarde, gente.
— Amor, essa é a Samantha — Amy me apresenta. — Esse é o meu
marido, Dylan.
— Oi — aceno.
— Samantha — ele repete entre um sorriso e tenho um leve momento de
surpresa quando ela começa a chorar. — Droga — o marido a puxa e abraça.
— Péssima hora? — Brandon pergunta.
Ele ri.
— Que nada. Ela parece uma manteiga derretida. Vive chorando, até se
vê uma formiga — beija os cabelos dela.
— Melhor a gente ir então — Brandon beija o garotinho de novo e o
coloca no chão, ele voltando para dentro correndo. — Eu só queria que vocês
conhecessem a Sam mesmo.
— Estou tão feliz — Amy diz entre soluços e o marido dá risada. —
Não ri, Dylan.
— Desculpe, meu amor.
— Vamos embora, antes que eu comece a chorar também — Brandon
finge limpar uma lágrima e se aproxima dela, deixando um beijo em sua
barriga, antes de voltar ao meu lado e segurar minha mão.
Nós nos afastamos do casal feliz e ele começa a rir.
— Do que está rindo? — pergunto.
— Eu seria um péssimo marido, porque se minha mulher começasse a
chorar do nada grávida, eu iria rir demais.
— Isso foi bem idiota mesmo — sorrio, mas ele não vê.
— Pode crê, é minha especialidade.
Nós voltamos ao carro e sei que estamos indo em direção à outra casa.
Outro da família, é provável.
— Agora, nós vamos almoçar e, próxima parada, Paraíso Encantado e
não estou falando de mim.
Assinto, colocando o cinto e suspirando.
Pode ser legal. Até agora, está sendo.
Capítulo 31

— O que foi? — Brandon olha para trás, então começa a rir quando vê
meu estado. — Posso tirar uma foto? Vou emoldurar no Mural dos Micos.
Dou um sorriso sarcástico enquanto tento caminhar direito.
— Você é o culpado — me apoio na pilastra de uma loja, respirando
fundo. — Ficou enchendo a mesa com comidas gostosas.
— Mas eu nem estava em cima dela!
— Palhaço. Falo sério. Nunca comi tanto na minha vida.
— Pode crê. Eu tô maior acostumado. Aí — ele vem para minha frente e
sorri —, você bateu umas porções como a Lourina bateria.
— Quem é Lourina?
— Uma das vacas da nossa fazenda.
Abro a boca horrorizada, então dou um tapa nele, que se esquiva rindo.
— Eu não sabia que estava com fome e nunca tinha experimentado
aqueles negócios crocantes de frango — admito.
— Quer que eu compre uns pra levar?
— Não, mas obrigada.
— Por nada — ele me analisa e tenta não rir, mas falha. — Você quer
que eu te carregue até o carro? Tá se sentindo uma Jubarte?
— Vai se ferrar, Brandon!
— Olha que eu pego o arpão pra ser mais prático.
— Idiota — tento outro tapa, mas ele corre, voltando quando consegue
parar de rir.
— Pô, mas não é pra menos. Olha isso — gesticula a rua —, já tá de
noite. A gente ficou umas quatro horas comendo.
— Mas seu estômago já deve aguentar muita comida, eu não aguento.
— Tá. Tá perdoada — olha o relógio no pulso. — Ó, o lugar que quero
te levar já abriu. Pronta?
— Qual?
— O Paraíso e, repito, não sou eu.
Sorrio e assinto, dando um grito quando ele se aproxima e me pega no
colo, nos levando ao seu carro.
— Acho que era melhor eu ter ido pegar o arpão mesmo — dá risada e,
não resistindo, eu também.

ѾѾѾ
Estou muito agoniada enquanto Brandon segura minha mão durante o
caminho que estamos seguindo. Estou vendo o que deve ser, por causa das
luzes coloridas.
— Brandon — eu tento retroceder e ele imediatamente para e se vira
para mim. — Aonde está me levando?
— Você vai ver — sorri. — Você vai gostar. Eu farei você gostar. E, se
isso não acontecer, nós vamos embora. Prometo.
Balanço a cabeça, assentindo.
Seguimos o restante do percurso em silêncio. Até a entrada. Um portão
preto com letras em led. Parecem escritas com fogo.
— Fire — eu leio, apreensiva.
Brandon dá uma risadinha e passamos pelo segurança sem ele
simplesmente falar nada.
Eu paro no lugar quando a música alta e estridente atinge meus ouvidos.
— Fica tranquila. Eu vou fazer ser bom — ele diz ao meu ouvido, eu
mal conseguindo ouvir direito. — Vamos até o centro, lá é mais espaçoso.
Eu o deixo me levar por entre as muitas pessoas, nós nos batendo em
todas, até eu finalmente conseguir respirar. Mas não por muito tempo porque
é completamente... Eu não sei dizer, pois Brandon começa a dançar à minha
frente.
A princípio, é de um jeito engraçado, só tentando me fazer rir, mas logo
os passos começam a ficar certos. Bem certos. Muito certos.
Certos demais.
Eu abro a boca, um pouco impressionada.
Ele me puxa de repente contra o seu corpo, sorrindo lindamente
enquanto me ajuda a me mover com seu corpo.
— Você sabe dançar? — seus olhos estão bem próximos aos meus. —
Dança comigo.
— Estou enferrujada.
Ele ri.
— Bem, pode começar se soltando um pouco. Dando uma amolecida no
corpo.
— Prefiro só ver você dan… — Sou interrompida e nossa atenção é
desviada quando uma mulher descaradamente se bate contra ele, tentando
chamar sua atenção.
Indignada, eu viro seu rosto de volta para mim.
Brandon dá uma gargalhada, mas estou tão perplexa com a audácia da
mulher que, sem perceber, o empurro um pouco, só para tentar começar a
dançar.
Estou ciente que a música que toca é difícil de encontrar um jeito, mas,
depois de alguns segundos de vergonha, começa uma que já ouvi em algum
lugar e me animo.
A letra também ajuda muito, que é como eu gostaria de viver ou dizer.
Ter um lugar que fosse melhor, alguém, uma certeza… Alguma coisa firme e
que pudesse me apoiar.
Brandon cruza os braços e estreita os olhos, analisando meus passos.
Eu começo a rir da cara que ele faz, parecendo sério, coisa que não é.
É uma sensação boa. De verdade. Entrar no ritmo e sentir as batidas, o
corpo acompanhando facilmente depois do primeiro refrão. É muito
libertador…
Quando já começo a animar, a música acaba e ele finge bater palmas,
mas logo me puxa de volta ao seu corpo, eu rindo do impacto.
— Agora é minha vez — sussurra com uma voz deliciosa, me causando
vários arrepios diferentes.
Brandon se afasta e começa a passar a mão pelo corpo, de um jeito
sensual. Muito sensual. Finjo me abanar, ao que ele dá uma piscadela mais
sensual ainda.
É divertido. É leve. Alegre. Ficar na companhia dele.
Ele tira a blusa de repente e parece que as pessoas lhe dão espaço. Não
parece, elas realmente dão. Eu tenho plena certeza que as mulheres estão
babando por ele, porque… QUEM NÃO ESTARIA?
Brandon parece saber exatamente o que fazer ou onde ir, minha atenção
sendo nele inteiro. Facilidade. Movimentos. Ritmo. Ele é… Incrível.
Preciso lembrar de fechar a boca quando a música acaba e ele segura
minha mão de novo, dando um beijo e me guiando para o… Bar.
Balanço a cabeça, ainda distraída e voltando a mim.
Isso foi… TÃO.
— Quer beber o quê? — ele fica em pé ao meu lado, enquanto estou
sentada no banquinho, um braço por trás de mim e uma mão segurando o
lado do meu quadril.
— Hm, algo tipo… Uma bebida forte.
— Nada de álcool, mocinha.
— Não, sem álcool, mas que deixe, sabe.. Mais viva.
Brandon me analisa, sorrindo um pouco.
— Beleza — bate no balcão. — Bro, dois enérgicos, por favor. Aquele
de sempre.
O bartender sorri e em instantes temos duas bebidas de garrafa preta em
nossa frente. Nós nos olhamos e rimos, pegando e bebendo de uma vez.
É sede, calor e vontade.
— Mais uma — eu peço, balançando as pernas, animada. — Gostei
muito.
— Sede, é?
— É!
Brandon me acompanha na risada que dou.
Em alguns minutos estamos voltando ao local da dança, depois de três
garrafas de enérgico. Quatro para mim. O gostinho meio forte é realmente
bom e estou bem mais desperta. Mais animada. Até me sentindo melhor.
— Essa música é boa! — Brandon grita e eu começo a acompanhá-lo
nos passos engraçados que faz.
É bom mesmo. Nós estamos nos divertindo. Eu estou. Coisa que não
fazia há tanto tempo que nem me lembrava mais o significado da palavra
“diversão”.
Brandon me traz de volta dos pensamentos quando sinto o calor do seu
corpo contra o meu. A música também mudou e ele parece gostar dela,
porque está cantando no movimento dos lábios, seu olhar não desviando do
meu.
Tem algo diferente nele. No jeito que me olha. No jeito que dança junto
a mim. Na letra da música. Definitivamente tem algo diferente.
É tão forte e… Certo. Ao menos estou certa do que está havendo
comigo e… com o meu corpo.
Eu suspiro fortemente quando ele nos junta mais firmemente, uma onda
de calor me invadindo inteira.
Engulo em seco, preocupadíssima.
A música parece não acabar nunca e é como se eu estivesse imersa em
um submundo de prazer indescritível.
Brandon inclina a cabeça e sinto o calor da sua boca contra minha
orelha. Não resisto e agarro seus braços mais firmemente, ele respondendo
mordendo a pontinha dela. Fecho os olhos, com medo de estar em um sonho,
mas não quero acordar.
Não gostaria de acordar nunca.
Ele beija abaixo da minha orelha, me arrancando um suspiro, então o
sinto afastar o rosto e abro os olhos.
Nós nos encaramos, pelo que parece uma eternidade e sei que ele diz
alguma coisa, mas não dá para ouvir, só que eu sei exatamente o que vai
acontecer em seguida quando Brandon inclina a cabeça à altura da minha e
suspira em minha boca.
Suas mãos vêm ao meu rosto e ele o segura no lugar, enquanto preenche
meus lábios com um beijo cheio de vontade e calor.
Muito calor.
Capítulo 32

Meu corpo está em um estado que não consigo nem explicar. O calor é
imenso e eu quero tanto, tanto a Samantha. Quero muito.
Afasto nossos lábios, ainda segurando seu rosto, apenas para questionar,
cheio de esperança:
— Vamos para minha casa?
Eu sinto todo o ar quente de sua boca invadir meu rosto e ela não hesita,
respondendo um sim com um movimento nos lábios enquanto me olha os
olhos.
O alívio me toma por completo e seguro sua mão, nos tirando da Fire e
nos guiando para a rua, até meu carro.
Antes de Samantha entrar, eu a puxo para mim e preencho seus lábios
com os meus, desesperado por ela e por seu sabor doce. Ela é doce. Suas
mãos circulam meu pescoço e ela me beija com louvor, correspondendo toda
a minha vontade. Isso é muito bom. Nunca senti tanta reciprocidade em um
simples beijo.
— Vamos — sussurro contra seus lábios, ela se afastando e entrando no
carro depressa.
Dou a volta e entro também, e não nos olhamos durante o caminho, no
entanto, nosso calor é tão palpável que quase consigo pegar.

ѾѾѾ

Eu realmente não sei como consegui dirigir tranquilamente no estado que


estou, mas o fiz e posso sentir toda a tensão de Samantha quando desligo o
carro.
— Isso é… — ela começa, mas não termina.
— Quero que seja aqui. Vamos fazer ser ainda mais importante do que
já é… — pareço quase temeroso, mas estou apenas ansioso de fazer valer a
pena.
— Mas Brandon — ela me olha, linda e perfeita —, é a sua casa que
ainda nem está pronta.
— Eu sei, mas quero que ela seja especial assim como você é — levanto
a mão e acaricio seu rosto. — Vamos?
Samantha engole em seco, mas não espero que responda e saio do carro,
ansiando o momento. O nosso momento.
Dou a volta e abro a porta ao seu lado, esperando que saia, o que demora
uns segundos, quase me fazendo achar que desistiu. Mas não, ela também me
quer. Nós nos queremos.
Seguro sua mão e nos levo até a entrada principal, destrancando a porta
com a chave reserva que fica comigo.
Entramos, passando do corredor para a sala de estar, mas não é onde
quero, por isso nos levo às escadas, até chegarmos ao meu quarto. Ele está
pronto, mas ainda não tem os móveis e nem nada, apenas as janelas. No
entanto, aqui tem a melhor visão, com toda certeza.
Fecho a porta, Samantha soltando minha mão para caminhar até a janela
à nossa frente. Na verdade, é a porta que dá à varanda.
Eu vou atrás e fico observando o jeito que ela parece fascinada. Não é
para menos. A noite está límpida e a Lua está cheia, brilhando e grande, com
várias estrelas dispersas ao redor. É um convite para a paixão.
— Você sempre vai ter essa vista — ela comenta e eu abro as portas de
vidro, nós dois passando para a varanda e Samantha se debruça no corrimão,
fechando os olhos e inspirando fundo. — E essa sensação. É perfeito.
Eu me aproximo dela, por trás do seu corpo e seguro seus ombros,
gostando muito do jeito que reage, se arrepiando. Coloco seus cabelos para o
lado e beijo sua nuca, recebendo um gemidinho lindo como resposta.
Beijo por um tempo, minhas mãos pelas laterais de seu corpo, subindo e
descendo enquanto meus lábios serpenteiam sua pele, indo ao seu pescoço,
onde mordisco e dou chupadinhas. Samantha suspira e inclina a cabeça para
trás, contra meu ombro, parecendo muito relaxada.
E isso, isso é mesmo um alívio. Que ela se sinta relaxada comigo.
Porque sou eu. Tocando e querendo-a.
Levo as mãos à frente de seu corpo e começo a tocá-la com mais
propriedade, gostando de como ela cola o corpo ao meu e começa a se
contorcer. Acaricio sua barriga por cima do tecido fino da blusa e subo para
os seios redondinhos e que cabem exatamente em minhas mãos, um peso
suave e que me faz gemer.
Samantha tem uma pele muito cheirosa e quente, me deixando ainda
mais louco. Não sou muito de ser paciente quando transo. Mas, aqui é outro
momento. É diferente. É com ela.
Afasto-a de mim, só para virar seu corpo de frente para o meu, então nos
colo novamente, beijando sua boca com sede. Muita sede. Como se fosse a
última fonte de água do mundo. Mas não estou sozinho nessa. Samantha
também começa a me tocar de um jeito que mostra seu desespero. Suas mãos
sobem por meus braços e ela me arranha, gemendo. É muito gostoso.
Desço novamente os lábios para seu pescoço, os sons que ela emite
começando a serem levados pelo vento. É uma sensação indescritível.
Levanto a cabeça, olhando-a e deixo que o silêncio fale por nós. Seguro
as bordas de sua blusa e ela levanta os braços, me permitindo tirá-la. Meus
sentidos se dissipam quando vejo novamente os montinhos que tanto desejei.
Inclino a cabeça e trago um à minha boca, enquanto circundo o outro
com a mão. Samantha segura meus cabelos e puxa, soltando um som lindo
demais de se ouvir.
Dou sugadinhas nos biquinhos e mordisco, só para acalmá-los com a
língua depois. Ela gosta do que faço, o jeito que me incentiva me faz perceber
isso, e fico um bom tempo cumprindo minha parte. A de dar total prazer a
ela.
Então eu vou me abaixando, meus lábios e língua descendo por sua
barriga, onde também dou atenção, até estar de joelhos.
Samantha leva as mãos para trás e agarra o corrimão, me deixando abrir
sua calça e puxar enquanto beijo a pele que vai sendo exposta. Ela é mesmo
muito, muito cheirosa.
Beijo suas coxas e por cima de sua calcinha, não me aguentando muito e
tirando-a também, empurrando as roupas dela para o lado e logo estando mais
uma vez de frente para o lugar que tanto quero me perder.
Ou encontrar.
Samantha tem um corpo lindo. É curvilínea na medida certa, minhas
mãos enchendo nos lugares certos. Sem falar nesses gemidos gostosos que
ela dá, parecendo tão reais e sinceros. E são mesmo.
Coloco sua perna direita por cima do meu ombro, me sentindo inebriado
quando meu olhar recai para entre suas pernas. É um pecado.
E vou pecar.
Não tenho hesitação, levando minha boca à sua carne macia e rosadinha,
adorando o jeito que ela sopra meu nome. Um chamado com desejo. A
vontade e o alívio. Sim, eu também sinto tudo.
Dou chupadinhas em seu clitóris e círculo com a língua, adorando o jeito
que ela parece ansiosa por se libertar. Eu também, mas quero igualmente
aproveitar cada segundo. É nosso momento.
Levo meus dedos onde já está minha língua e circulo a entradinha
molhada e que me diz o quanto Samantha está desejosa por mim. Ela me
quer.
E quer muito.
Meu dedo médio desliza para dentro dela sem qualquer dificuldade e nós
dois gememos. Isso vai ser difícil de conseguir. Ela é tão… Perfeita pra mim.
Sou pego de surpresa quando Samantha explode enquanto ainda estou
no começo, mas gosto muito mesmo assim e chupo-a até estar satisfeito do
seu gosto delicioso. Talvez estivesse com muita vontade mesmo.
Impossibilitado de ainda esperar, subo novamente beijando todo seu
corpo, até encontrar sua boca. Nosso beijo é abrupto e desesperado a
princípio, do jeito que estamos, mas eu o suavizo enquanto sento-a no
parapeito, ela rapidamente trazendo as mãos ao meu cinto e abrindo-o.
Estamos ofegantes e eu preciso olhá-la quando abre minha calça e
segura minha ereção, acariciando. Calma e pacientemente.
Solto um gemido sôfrego e beijo seu pescoço por um tempo, voltando à
sua boca, a correspondência sendo imediata quando ela se remexe contra
mim.
Uma delícia.
Ela geme e geme e geme, me fazendo quase explodir de tesão. São os
gemidos mais sexys que já ouvi na vida, sem qualquer dúvida. Esse som
rouco e baixo. Sôfrego. Um sofrimento gostoso. É o que está dizendo.
Sinto-a guiar minha extensão para seu corpo, eu precisando olhá-la por
isso, porque somos nós.
Posso ter plena certeza de que estamos quase trêmulos, principalmente
quando, pouco a pouco, nossos corpos vão se conectando, de um jeito tão
ideal e certo, que acho muito pressão para conseguir suportar e abraço
Samantha, apertando-a contra mim.
Parece irreal o que estou sentindo dentro de mim. Esse turbilhão de
emoções que, ao mesmo tempo que parecem confusas, também fazem
sentido. É como se… Eu tivesse me encontrado, de um jeito completamente
inexplicável. E não é por causa da ação em si, mas sim por conta do jeito que
é estar com ela. É por causa dela.
— Brandon? — Samantha me chama e só então percebo que estou
parado, a cabeça em seu pescoço, sentindo-me tremer.
As mãos dela acariciam minhas costas e eu me esforço a me
movimentar, nossos corpos gostando um do outro do mesmo jeito que nós.
A sensação é tão tremenda que eu preciso respirar fundo e tocar
Samantha como dá, me certificando que é mesmo verdade e que está
acontecendo. Comigo.
Meus movimentos são fluídos, mas calmos. Está tão bom que posso
sentir seu corpo em ondas ao redor da minha ereção, me prendendo e me
molhando, me querendo. Uma sensação tremenda mesmo. Irreal. Loucamente
boa.
Samantha começa a gemer mais alto e levo uma mão à sua nuca,
enquanto a outra desço até seu clitóris, aproximando minha boca da sua e
beijando-a, enquanto ajudo-a chegar ao ápice.
O que não demora nada. Talvez por estar muito tempo sem transar, é
provável, mas ela se desmancha em meus braços, chamando por mim e eu
engolindo seus últimos suspiros em meus lábios.
Seu corpo me aperta tanto que é quase difícil me tirar para fora e gozar
em algum lugar seu, mas que não seja dentro dela.
Sinto um ardor nas costas, sendo de suas unhas, mas que é muito
gostoso e ela me puxa para si, nós dois ofegantes, saciados… e completos.
E talvez isso seja mesmo o que chamam de fazer amor.
Amor.
Capítulo 33

Estou chorando como uma idiota, mas não faço barulho para que o
Brandon não perceba. Mas não podia mesmo ser de outra forma, sendo que
ele foi tão maravilhoso comigo e agora está me acariciando como se fosse a
melhor coisa do mundo.
Eu só posso chorar mais e querer mais ele. Sim, eu o quero muitíssimo.
— Está gelado aqui, você quer ir embora? — ele sussurra contra meu
pescoço, sem nunca deixar de me tocar.
Não respondo porque minha garganta está pesada em um nó, mas não
adianta muito porque Brandon se afasta e me olha, erguendo meu queixo
quando tento abaixar o rosto.
— Chorandinho? — ele sorri e inclina a cabeça, encostando nossas
testas. — Não chore.
— Eu… — me engasgo.
Ele ri e me abraça, tão forte, apertado, demorado e bom, que o mundo
parece se resumir a nós dois e, por um instante, esse pequeno instante, não há
mais nada. Não existem problemas, dificuldades, traumas ou qualquer outra
coisa ruim.
Somente Brandon e eu.
— Obrigado — o ouço dizer. — Foi incrível.
Isso só me faz chorar mais, porque foi realmente incrível e estou
muitíssimo feliz por ter me sentido desejada e não usada. É muito diferente
do que já tive e não consigo mesmo explicar minhas emoções.
— Vamos embora que você está gelada e não quero que fique resfriada
— ele se afasta e me olha, sorrindo largamente antes de me deixar e ir até o
canto da varanda, onde jogou as roupas que eu estava usando. Percebo que
ele fecha a calça no caminho.
Eu fico de pé, estendendo as mãos para as roupas, mas Brandon se
abaixa e pega minha calcinha.
— Vem, vou vestir você — avisa.
— Sério?
— Sério. Sua voz tá engraçada.
Eu vou até ele, segurando seus ombros enquanto pego equilíbrio para
colocar os pés dentro da peça, Brandon subindo-a por minhas pernas e
deixando um beijo por cima da calcinha. Eu suspiro amolecida enquanto o
vejo pegar a calça e esperar eu fazer o mesmo movimento.
Ele é tão bonito e gentil. Incrível. Estou encantada e... Maravilhada.
— Agora a blusa — levanta e ergo os braços, ele a colocando em mim,
então sorri. — Prefiro peladinha, mas vamos embora que é mais importante.
— E sua blusa?
— Quem sabe? — ri e segura minha mão, dando um beijo em cima. —
Vamos tomar banho quente e comer. Eu sempre fico com fome depois de
gozar, é muito ruim.
— Nós comemos por quatro horas. Estou um pouco surpresa com o seu
apetite.
— Eu disse que comia muito — ele não solta minha mão para fechar as
portas de vidro, nem a principal, somente quando chegamos ao seu carro e eu
vou entrar. — Espere — me impede. — Olha ali que incrível — aponta o
céu.
Eu olho, vendo a Lua parecendo tão imensamente grande e brilhante.
Reluzente e potente. Incrível. Assim como o nosso dia.
Sinto seus braços ao meu redor e Brandon me balança de um lado para o
outro, me arrancando uma risada.
— Vamos pra casa, gatinha — recebo um beijo no rosto e entro no
carro.
O que é isso mesmo?
Sim, eu sei.
Felicidade em meio ao caos.
Capítulo 34

Acordar nunca foi tão bom como hoje.


E eu tenho tanta certeza disso enquanto olho para a linda garota apagada
ao meu lado. Mesmo babando ela continua bonita de linda. Talvez eu vá
achar isso estranho um dia, mas aqui, agora, estou sorrindo que nem o idiota
que já sou mesmo, deitado de bruços e admirando-a.
Samantha é muito deliciosa, já confirmei. Mas, não é só isso. Acho que
estou começando a estranhar a forma que estou reagindo a ela. A tudo dela e
nela. É diferente. Quase peculiar. Assustador? Não sei. Talvez um pouco de
receosidade esteja querendo se aproximar, mas, beleza, a gente vai levando.
Levando ela pra sempre, poderia ser.
Afasto os pensamentos quando vejo-a mexer as pálpebras e seus olhos
se abrem lentamente, dessa vez diretamente para mim.
— Babona — dou risada quando ela levanta a cabeça, a boca aberta,
parecendo meio aérea.
Samantha emite um som baixo e talvez calcule a distância errada para
virar para o outro lado, porque rola e cai no chão.
Me arrasto e coloco a cabeça por cima da cama, vendo-a tentar levantar.
— Que jeito de despertar, luz do Sol — dou risada.
Ela levanta com um pouco de dificuldade, limpando as bochechas, toda
despenteada.
— Que horas são? — Sua voz está rouca.
— Tipo umas oito.
— Você não vai trabalhar?
— Vou, mas estava esperando você acordar — me arrasto da cama e
fico de pé, caminhando até ela. — Você vai ir comigo e depois nós vamos até
onde esteve morando e o tal cara apareceu.
— Não — ela protesta, dando um passo para trás. — Não mesmo. Não
vou voltar lá nunca mais — enfatiza.
— Beleza, eu tenho o dia todo pra explicar como vão acontecer as coisas
— vou para trás dela e seguro seus ombros, incentivando-a caminhar para
frente. — Agora você toma banho, escova os dentes e eu te espero na
cozinha.
Samantha se vira de repente.
— Você não vai tomar banho, também?
— Já tomei — tapo o nariz e saio correndo quando ela estreita os olhos
pra mim, não gostando do gesto. — E escova bem os dentes — grito já
saindo do quarto.
Ela resmunga algo e bate a porta, me fazendo rir.
Isso é legal e, nossa, essa foi mesmo a primeira vez que dormi na minha
cama com uma mulher. Mas, ao contrário do que esperava, a percepção me
deixa completamente abobalhado.

ѾѾѾ
— O que você está fazendo? — Samantha pergunta enquanto estou
analisando um site de joias.
Nem me pergunte como vim parar aqui, apenas fui ver meu e-mail e de
repente eu estava nesse site. Bem, estou sendo como minha mãe, que dava
essas desculpas para o monte de coisas que comprava.
— Tô vendo uns colares aqui. Como é que vocês gostam dessas
paradas?
Ela dá uma risadinha e vem para meu lado, seu cheiro e aproximação me
fazendo olhá-la e sorrir.
— Eu tinha um colar de pedrinha brilhante, era lindo — diz.
— Não tem mais?
— Não, porque meu pai vendeu pra poder comprar o remédio dele.
— Hm — volto a olhar a tela. — Me ajuda a escolher um pra minha
mãe. Eu não sei o que ela gosta.
— Você vai dar um desses? — Samantha aponta a categoria que estou.
— Vou, por quê?
Ela ri.
— Eu teria que me vender para conseguir comprar algo desse valor. É
muitíssimo caro.
Novamente olho-a, não gostando do que ouvi.
— Não repita isso, por favor — peço.
— Isso o quê? — parece desentendida.
— Dizer que teria que se ven… — Nem consigo completar, então só
balanço a cabeça. — Não diga bobeiras.
— É brincadeira, Brandon.
— Que seja, eu não gostei de ouvir.
Ela assente, estranhando qualquer coisa.
Que seja. Não gostei mesmo de ouvir isso.
— Como a sua mãe é linda de morrer, eu acho que esse ficaria
maravilhoso nela — seu dedo aponta um colar banhado a ouro com um rubi
em formato de coração. — Alongaria ainda mais os cabelos dela.
— Você acha? — estreito os olhos.
— Certeza.
— Tá — vou clicando pra comprar. — Agora, um par de brincos.
Ela dá uma risadinha.
— Sua mãe gosta de vermelho?
— Sei lá. Ela tem um monte de brincos.
— Tá, vamos ver um que combine com o colar.
Volto ao início e procuro por brincos, Samantha dando um gritinho ao
meu lado quando vê e apoia os peitos no meu ombro direito, enquanto vai
olhando. Enrolo ao máximo, aproveitando.
— Esse! — aponta. — Magnífico! Combina super.
— Beleza, esse aqui — clico pra finalizar a compra, então ouvimos uma
batida na porta e ambos olhamos.
Dean aparece, erguendo as sobrancelhas quando vê Samantha, mas é a
mim que ele olha pra falar:
— Hora da reunião com os maiorais. Estamos atrasados.
— Merda, esqueci — reclamo e me levanto, agarrando a mão de
Samantha e puxando-a comigo. É tão automático que estranho.
— Aonde estamos indo? — ela questiona.
— Ver os maiorais, benzinho.
E nem eu gosto disso.
Capítulo 35

Estou completamente desentendida e boquiaberta. Sim, totalmente


embasbacada. Perplexa e além.
Assustada. Agitada. Nervosíssima.
Nem consigo perguntar ao Brandon o que está acontecendo. Tudo que
sei é que ele me arrastou até essa sala de reunião cheia, juntamente com o
homem que o chamou e nos acompanhou, então tomamos nossos assentos.
São muitos homens de terno, todos muito… Apessoados. Tem umas
mulheres, também.
Quando estou prestes a questionar, a porta se abre e o pai do Brandon
passa, sendo acompanhado por três outros homens.
Eles parecem bem certos do que vão fazer e todos se direcionam para
onde está a tela, à frente da mesa.
Engulo em seco, muito agoniada enquanto junto as mãos em cima das
pernas e começo a mexer os dedos.
— Boa tarde, gente — o homem de olhos claros e cabelos escuros,
pouco grisalho, é o primeiro a falar. — Visto que, há um ano, surgiu um
problema com a equipe de Marketing e não foi resolvido, nós resolvemos
tomar as rédeas por um trimestre.
— O quê?! — quatro dos homens perguntam, parecendo absortos.
Brandon é um deles.
— Não quero nem saber de protestos — o homem de cabelos castanhos,
também levemente grisalhos, se pronuncia, tomando lugar de um jeito muito
autoritário. — Dissemos para vocês o que aconteceria se não soubessem
liderar.
— Foi culpa do Brandon! — o homem que nos acompanhou gesticula
em nossa direção. — Ele que inventou de fechar contrato sem nos consultar
— Minha culpa nada! — ele se defende e todos os olhares estão em nós,
eu me sentindo altamente desconfortável. — Eu já consertei o que fiz, nem
vem! Foi você que ficou um ano e meio fora! Nem joga essa culpa pra mim,
cara.
— Quem é ela? — a voz à frente chama minha atenção e eu vejo uma
mulher de olhos verdes e cabelos escuros me olhar. Lembra muito o primeiro
homem que se pronunciou.
Todo mundo se silencia ante sua pergunta e eu me sinto muito
desconfortável.
Eu sou ela.
— É a Samantha — o pai do Brandon responde. — Aliás, oi. Não vi
você.
Eu aceno, sorrindo. Ou tentando, porque é mesmo muito agonizante ser
uma estranha onde todos se conhecem.
— Samantha quem? — um homem moreno questiona.
— Pra que você quer saber, Ethan? — a mulher ao lado dele pergunta,
com um tom esquisito.
— Só quero saber se é nova funcionária, Megan. Eu também contrato.
— Ela não é contratada, eu saberia — a que perguntou quem eu sou
intervém. — Você é quem?
— Parem de encher — Brandon resmunga e se levanta. — Essa é a
Samantha, minha Assistente, falou? E — segura meus ombros —, Samantha,
esses são Ethan, Dean, Amber e Megan.
Todos me olham, um silêncio muito constrangedor tomando o recinto.
— Oi — eu tento acenar, mas eles continuam a me olhar e eu fico tão
nervosa, não sabendo bem o que me dá, que me levanto: — Eu estive em uma
reunião da equipe de Marketing que o Brandon liderou e, sinceramente, eu vi
muito potencial nas ideias dos funcionários, só que eu acho que, mesmo
sabendo o que fazer, nada está sendo feito e sim se repetindo quando se pensa
estar inovando. Sabem que, "na natureza nada se cria, tudo se transforma"?
Pois é, por que não fazer funcionar assim dentro do ambiente de trabalho,
correto? Já que não conseguem implantar uma ideia nova, que é o que está
ocorrendo, por que não transformar o que já se tem em mãos? Realmente
pode funcionar.
Arregalo os olhos quando percebo que acabei de ter um super ataque de
nervosismo e o silêncio parece ainda maior. É certeza que se entrasse um
mosquito aqui, nós escutaríamos.
Um dos homens da frente começa a caminhar em minha direção. Ele é
meio aloirado, dá para notar, mas são os olhos que estão em destaques.
Verdes que doem.
Engulo em seco, fazendo uma breve oração quando vejo seu semblante
fechado e ele chega à minha frente, me olhando nos olhos, sem piscar.
— Você não é Assistente — diz.
— Não — eu me forço a falar. — Desculpe, eu…
— Você acaba de ser promovida a Auxiliar Administrativa — me
interrompe e sorri.
— Pai, assim você assusta ela — uma das mulheres na mesa fala. Ela
também é loira. Sua filha.
— Obrigada — digo, muito nervosa, voltando a sentar calmamente.
O homem volta ao seu lugar, perto dos outros três.
— Samantha vai trabalhar comigo então — a mulher que ele apresentou
como Amber anuncia. — Nós vamos formar uma bela dupla e triplicar o
lucro da Brass.
— Você só pensa em dinheiro, Amber? — Ethan questiona.
— Não, eu também penso em gastá-lo.
— Ela vai trabalhar comigo — Brandon rebate.
— Eu decido — Ethan debate.
— Você não vai se meter — Megan se intromete. — A sua liderança é a
da Tower
— Ciúmes agora, Moranguinho? — ele sorri.
— Cheguei atrasado! — um homem chega, se atrapalhando na porta,
mas consegue entrar. — O trânsito.
— Sinceramente, Nicholas, com você eu já perdi a paciência — o
homem de cabelos escuros bufa.
— Desculpa se eu não tenho asas pra sair voando por cima dos carros,
Philip — ele sorri sarcástico.
— Ainda bem que só faltam três dias e meio para eu arrebentar um
pouco mais sua cara.
— Pai, por favor! — Amber se levanta, indo até o chamado Nicholas e
lhe dando um beijo meio constrangedor para um público, uma família. — Eu
estava com saudades.
— Eu também — ele dá uma risadinha.
— Pelo amor, né? — Brandon se manifesta novamente. — Em menos
de dez minutos, eu já me senti no subsolo.
— Brandon, cala a boca — o pai o repreende.
— A liderança de vocês poderia estar bem melhor — o segundo homem
parece decepcionado.
— Qual foi, tio Michael?! O senhor sabe que é completamente diferente
da sua época. A gente anda competindo com um monte.
— Fale por você — Ethan gesticula. — Meu comando sempre esteve em
alta.
— Claro, você é o melhor — Megan o beija no rosto.
— O melhor sou eu — Philip intervém e todos bufam, eu sorrindo
discretamente pelo jeito que ele fica, parecendo ser engraçado. — Deixem
pra namorar em suas casas. Aqui está o que vai acontecer — ele começa a
apontar: — Brandon e Samantha vão trabalhar juntos comigo por um mês. Eu
sou o chefe, eu mando, vocês obedecem. Entendido?
Estou muito boquiaberta por estar sendo incluída tão naturalmente como
se eu fosse mesmo parte da empresa, então só assinto.
Brandon bufa, tintilando os dedos sobre a mesa.
— Brandon, entendeu? — repete.
— Entendi, tio — responde contragosto.
— Nada de tio a partir de agora, é Sr. Mackenzie. Entendido?
— Entendido, Sr. Mackenzie — ironiza.
Amber ri, mas finge ser uma tosse, e eu mordo o lábio para não rir
também. Ele parece um menino pequeno agindo assim.
— Dean, Nicholas e Bea, vão ficar comigo — Michael informa.
— Ethan e Megan, comigo — o homem que veio até mim sorri e é o
único.
— Ah, sério? — Megan parece triste. — Logo agora que eu acabei de
começar a gostar de números vou ter que ir com o senhor, tio Adam.
— E o senhor, pai? — Brandon questiona.
Ele dá uma risada esquisita.
— Eu vou ser o carcereiro.
Dou uma risada alta pela expressão dele, mas logo me calo.
— Ser o quê? — Dean está também desentendido.
— Depois dos três meses, eu vou ser quem vai verificar se vocês estão
mudando o ambiente mesmo. Logo, estejam atentos.
— É mesmo necessário tudo isso? — um homem que está na mesa, mas
em total silêncio, acaba de perguntar. — Eu acho que só estava mesmo sendo
preciso mais alguém, mas já encontramos a Samantha, então vamos ver como
é com ela.
— Não se mete, Luke — Philip o repreende. — Já está decidido.
Ele bufa, obviamente não gostando.
Então eu finalmente me dou conta de que estou em meio à família
Mackenzie. Os donos de tudo. E não poderia estar mais... Impressionada.
— Beleza, é isso — Brandon levanta. — Pra onde Samantha e eu temos
que ir?
— Comigo — Philip nos chama e caminha até a porta.
Brandon segura minha mão e também me levanto, onde acompanhamos
seu tio para fora, onde eu tento acenar para quem nos olha.
— Merda de intervenção chata — resmunga ao meu lado, baixinho.
— Não sabia que você estava namorando, Brandon — Philip não olha
para trás ao falar, mas eu sim. Olho para nossas mãos entrelaçadas e…
Droga. Isso não é nada bom.
Capítulo 36

— O que ‘cê tá fazendo? — eu pergunto quando vejo Samantha


parecendo muito sorridente para o monitor.
Ela me olha rapidamente e talvez eu tenha que agradecer por não ter
sido pego as incontáveis vezes olhando-a enquanto estava distraída.
— Fazendo o que o Sr. Mackenzie mandou — responde muito depressa
e acho que tem mesmo algo errado. Me levanto para averiguar, mas finjo
estar indo até à mesa.
Meu tio é engraçado. Deu ordem e nos deixou trabalhando enquanto foi
até sua casa almoçar. Muito legal da parte dele. O bom é que posso ficar mais
à vontade com Samantha.
— Sério isso? — eu questiono, chegando por trás dela, que tenta fechar
a aba. — Não acredito.
— O que tem? — parece nervosa quando acaba clicando em outro
vídeo.
— Você não tá muito velha pra gostar dessas coisas?
Samantha se remexe e eu acabo rindo.
— Estou em horário de almoço, não tem problema — rebate.
— Não disse sobre isso... Mas você gosta?
— Sim — fica pensativa de repente. — Eu sonhava em ir num show
dele — dá uma risadinha.
Bufo entre uma risada mais espontânea.
— Sério isso?
— O que tem, Brandon? — Agora ela me olha com um pouco de
irritação. — Não tem nada a ver.
— Sei lá, achei que só as meninas gostavam.
— Ah, eu não sabia que era um homem!
— Digo mais novas, gracinha — desvio para a tela novamente,
segurando outro riso. — E você tá sempre ouvindo ele?
— Não, às vezes. É que vi que vai ter um show dele aqui perto sábado
— ela me olha. — Você me chamou de velha?
— Não, falei que existem meninas mais novas. Tipo as adolescentes que
gostam de qualquer merda.
— Eu não acho uma merda, Brandon.
— Certo — levanto as mãos na defensiva. — Então, qual é a do show?
— Já acabaram todos os ingressos — Samantha dá um suspiro triste.
— Sério que você vai ficar triste por isso?
— Sei lá, eu pensei que daria ir para ir dessa vez. Não sei quando vai ter
um próximo.
— Hm — olho a tela, não acreditando muito no que vejo, mas, beleza,
ela que gosta. — Não tem um outro que você queira ir?
— Não. É só uma vontade que tive no passado e queria cumprir agora,
sabe?
— Tô ligado. Bom, não foi dessa vez — me inclino e tiro o notebook de
suas pernas, dando um sorriso quando ela parece estranhar qualquer coisa. —
Vamos nos pegar um pouquinho.
— Que adequado — segura meus ombros quando me ajoelho à sua
frente. E talvez eu me sinta mais idiota do que já sou por me ver sorrindo
pelo fato de estar com ela. — Se seu tio chegar, seremos demitidos.
— Deixa demitir. A gente mora na rua até, mas juntinhos — deito a
cabeça em seu ombro e suspiro por relaxamento, a abraçando pela cintura. —
A gente fica bem juntos, né? Gosto muito disso.
— Você está bem? — ela ri, acariciando meus cabelos.
— Com soninho.
— Isso se chama carência?
— É mesmo uma pergunta?
— Não mais — ouço a risadinha e recebo um abraço gostoso, me
deixando todo amolecido.
Talvez eu esteja alucinado. Meio balançado, sim, isso sem dúvidas.
Abobalhado também. Mas, com absoluta certeza, gosto muito de tudo isso.
— Eu gosto muito de você — me pego dizendo. — E eu falo de
verdade. É muito gostosa sua companhia e estar com você.
Samantha não diz nada e talvez seja a primeira vez que eu me sinto bem
idiota de verdade por ter parecido muito meloso. Mas, a gente que ser
sincero, não é?
E é exatamente o que digo a ela, afastando a cabeça para falar olhando
em seus olhos, demonstrando propriedade:
— A gente tem que falar mesmo o que sente. Não sabemos do amanhã
ou o que pode acontecer. Por que deixar pra depois o que posso falar agora,
né? Acho mesmo maior bobeira que os caras achem que admitir sentimentos
é coisa só pra mulher. Eu falo mesmo. Gosto pra caramba de você.
Samantha engole em seco, desviando a vista de repente.
— Você não concorda? — pergunto.
E quase fico constrangido quando ela não me responde, mas agradeço
por meu tio chegar já fazendo barulho, então me levanto e vou parar meu
lugar.
É normal receber uma reação assim e isso fazer o peito doer?
Capítulo 37

Estou um pouco nervosa, é verdade. Estar na casa do Brandon, morando


com ele (tecnicamente), não é algo que me deixa à vontade. E tem o meu pai.
Ele deve estar com muita, muita raiva de mim. É preocupante.
Justamente por esse motivo é que resolvo levantar da cama e ir beber
água gelada, tentando apaziguar essa ansiedade que estou sentindo. Também
não consigo tirar da cabeça as imagens de quando Tyler me encontrou. E
quando saí correndo. Nem mesmo de hoje mais cedo, quando Brandon foi tão
gentil dizendo aquelas coisas e eu pareci tão indiferente quando, na verdade,
era totalmente recíproco.
E ele ficou triste. Não demonstrou, mas eu senti. Principalmente quando
me trouxe até a porta do quarto de hóspedes e me deu um boa noite de longe,
sem um beijo na bochecha.
Eu chego à cozinha, tristonha. Bem triste. Bebo a água de um jeito
forçado, querendo tirar tudo que estou sentindo… e começando a sentir por
ele. Pelo Brandon. Eu tenho medo de sentir demais.
Suspiro e volto ao meu quarto, mas, quando estou passando no corredor,
penso em voltar à porta dele. Se eu pudesse deitar com ele, dormiria, mas
dessa vez ele não quis.
Foi só porque nós tínhamos transado?
Não. O Brandon não é assim. Eu sinto que não.
Respiro fundo e volto, colocando a mão na maçaneta, mas decido que
não é uma boa ideia porque, se ele quisesse dormir junto comigo, teria falado.
Mas a porta se abre, fazendo meu toque se recolher. Ele aparece,
despenteado e lindo, vestido em um short.
Nós nos encaramos e eu decido que preciso falar, já que eu estava com a
mão na maçaneta.
— Desculpe, eu fui beber água e pensei... — pigarreio. — Hm, estava
voltando pra cama.
— Tá de boa. Achei que tinham uns espíritos rondando por aí quando
ouvi passos — dá um sorrisinho. — Não conseguiu dormir?
— Não.
— Eu também não — alisa a nuca e inevitavelmente meu olhar cair para
seu corpo, eu tendo que fingir que meus lábios não ficaram secos de repente.
— Então, quer fazer alguma coisa?
— Trabalhamos amanhã — pigarreio de novo, me forçando a desviar a
vista do corpo delicioso e convidativo.
— Eu sei. Você quer conversar um pouco?
— Não, eu não queria perturbar você... Só… — começo a gesticular. —
Eu pensei mesmo que talvez, se dormisse na mesma cama com você, seria
mais fácil pegar no sono.
— Brandon só serve de sonífero, é? — dá uma risada, parecendo
desanimado, mas observo sua mão direita estender à minha frente. — Vem,
vamos dormir juntinhos.
Eu aceito, sem nem pensar em hesitar, então ele fecha a porta quando
entro e nos guia até a cama. Logo subo, entrando debaixo do edredom, ele
fazendo o mesmo e é bem estranho que pareçamos tão à vontade. E eu sinto
todo o cheiro dele no edredom.
— Pra que cheirar um pano se estou bem aqui? — questiona.
Dou risada.
— É sério, vem cá — estende os braços, eu não resistindo e me
aproximando dele, o abraçando, mas logo começo a rir muito quando recebo
cócegas. — Ih, parece até uma gaita.
Me afasto, ainda me contorcendo, mas Brandon me puxa de volta e nós
ficamos nos olhando de frente. O sorriso dele é igual ao meu: enorme.
— Que linda você — ele diz, mas desvia o olhar, parecendo arrependido
no mesmo instante. — Desculpa, eu não sei porque tô falando tanta coisa
assim.
— Tudo bem. Eu acho muito bom ouvir o que diz — confesso. — E
você também é muito lindo.
— Eu sei — dá um risinho, que vai morrendo aos poucos quando
Brandon fica sério. — Você tem planos para sábado?
— Tipo o quê?
— Não sei, alguma coisa.
Então fico incomodada, porque talvez Brandon espere que eu tenha algo
para fazer longe dele no fim de semana para que possa ter a casa livre.
— Eu não tenho, mas posso arrumar alguma coisa. Estava querendo ir
até o shopping, então…
— Mas não tem nada ainda, né? — me interrompe.
— Não, desculpe.
— Beleza — ele se vira e apaga a luz do abajur. — Vem pra pertinho —
me puxa e eu vou, me sentindo muitíssimo grata. — E dorme, meu bem —
sussurra em meus cabelos.
Estou mesmo muito grata.
Capítulo 38

É sábado. De tarde. Eu saí bem cedo e enrolei ao máximo na rua, mas não
tinha mais para onde ir, então voltei para a casa do Brandon. Ele que me
desculpe de verdade.
Eu me obriguei a levantar e sair do seu abraço que estava tão bom.
Dormir com ele é muito bom.
Suspiro extasiada, deixando minha bolsa na cômoda onde ele costuma
deixar a maleta e seguindo pela casa, procurando-o. Eu o chamo, mas não
ouço nem ruídos, então vou até seu quarto, algo em sua cama chamando
atenção e até me deixando perturbada de longe.
Fico um pouco desentendida quando vejo uma caixa na cama e um par
de botas vermelhas, com um papel com meu nome escrito em cima.
Pego, bem curiosa.

_________________________________________

Oi, gatinha
Vc saiu cedo e eu também
Essas coisas são pra vc
Nós vamos sair e volto às seis pra te pegar hehe
Saudades desde já
BM
_________________________________________

Estranho muito qualquer coisa, mas mesmo assim eu gosto, então abro a
caixa cinza e pego o vestido preto e solto que tem dentro. É quase curto, mas
não muito. E muito lindo.
Estou sorrindo de repente. É sábado e eu vou sair com o Brandon.
Tem coisa melhor?
ѾѾѾ
Estou na sala e sou toda expectativa enquanto balanço as pernas, o
aguardando. Estou me sentindo muito bonita, como nunca tinha me sentido
há tempos. É leveza e animação.
Quando ouço a porta, me levanto depressa, olhando para trás e vendo
Brandon chegar. Ele está gostosamente vestido em uma bermuda branca e
camisa preta, muito charmoso como sempre.
Começo a caminhar em sua direção, muito ansiosa mesmo. Seu sorriso
me encontra no caminho.
— Ora, ora… Se não estou a beleza materializada — sorri.
— Oi! Obrigada, eu adorei! Aonde vamos?
— É surpresa — ele abre uma bolsinha que traz na mão e pega uma
caixa preta de dentro. — Só tá faltando isso em você.
— O quê? — me aproximo quando me chama, mas recuo um passo
quando ele a abre e eu vejo o colar e o par de brincos que escolhi. — Meu
Deus! — trago as à boca, impressionada.
Ele dá uma risadinha e estende a mim, que seguro, um pouco trêmula.
Brandon tira um brinco e vem para meu lado.
— Dá licença — diz e sinto o toque contra minha orelha, eu estando tão
absorta que não me movo enquanto coloca a peça em mim. E depois o outro
brinco e também o colar, me deixando um beijo demorado na nuca.
Estou trêmula, tenho certeza.
— Gostou? — ele volta à minha frente. — Não me olha com esses olhos
assim arregalados, gata.
Impossibilitada de dizer algo, eu simplesmente me aproximo e jogo os
braços ao redor de seu pescoço, quase chorando de emoção. Brandon
corresponde, me abraçando forte e fazendo uns barulhos, fingindo que o
estou enforcando.
— Você é um amor, muito obrigada — me afasto, tocando o colar,
desacreditada. — Muito mesmo.
— De nada. Princesas tem que ser presenteadas — dá uma risadinha. —
Agora vamos ao nosso destino — segura minha mão.
— Pra onde quiser me levar, eu vou.
— Opa! — ele sorri e o deixo me levar para… onde quer que seja.
E é mesmo verdade. Eu confio nele. Gosto dele. Ele é um amor.
Completamente. Estou muito… admirada.
Nós estamos em seu carro num instante, eu ainda olhando e tocando o
colar, tentando acreditar.
Minha nossa. Brandon é tão…
Eu saio do pequeno transe quando reconheço o início da música a tocar
no carro.
— Meu Deus! — bato palmas, começando a balançar a cabeça e dançar
como dá. — Eu amo essa música!
Ele dá um risinho e nos tira do estacionamento.
— Tô ligado, já ficou bem claro.
— Amo! — Eu não consigo não gritar. — O que você quer dizer?
Quando balança a cabeça que sim. Mas você quer dizer não, o que você quer
dizer? Quando você não quer que eu saia, mas me diz para ir embora. O que
você quer dizer?¹
Brandon dá risada, mas eu não ligo.
Estou ultramente feliz. Transbordando de felicidade. Nunca estive
assim.
Tudo por causa dele.
¹Justin Bieber – What Do You Mean?
Capítulo 39

Eu devia estar desconfortável por estar em um lugar desses, mas, vendo


como Samantha está, tudo para mim parece mais que certo. Eu pareço certo.
No lugar certo. Com a pessoa certa.
— O que está acontecendo? — ela questiona já na metade do caminho,
então nos encontramos com um segurança.
Eu deixo à parte que é um conhecido do melhor amigo do meu cunhado.
Só o que importa é que ele nos leva até nosso destino por um caminho menos
tenebroso que o de passar por tantas… Crianças e adolescentes.
— Brandon, o que está acontecendo? — ela repete, então a olho depois
de apertar a mão do cara. — O que é isso? Vai ser o quê?
Eu dou um sorriso por ver seu semblante. Apreensivo. Nervoso.
Ansioso.
— Você quer que eu estrague a surpresa? — sorrio, então quase levo um
susto quando a gritaria que já estava ao redor se torna ainda mais intensa. São
muitos gritos. Altos de verdade. Pior pra nós que estamos perto do palco.
Já foi uma coisa conseguir esses ingressos em três dias. Eu tive que
pedir desesperadamente em um tópico da internet. Ainda comprei pelo preço
dos meus rins, porque realmente haviam se esgotado.
Mas o susto mesmo é quando Samantha que grita, quase estourando
meus tímpanos.
Mas, que merda…
Beleza, vale a pena.
É tudo pela Sam.
Eu me surpreendo de repente quando minha cabeça é puxada e recebo
um beijo agoniado, mas muito gostoso.
Vale a pena mesmo ouvir um monte de meninas gritando e parecendo
loucas.
Ela me solta e começa a gritar e cantar a música junto com o cara.
Beleza. Vale a pena.
Nem é tanto tempo assim, só umas três horas.
ѾѾѾ

Estou tão perplexa que não sinto minhas pernas, nem nadinha. Quer dizer,
sinto, mas é como se não estivesse sentindo. É... Algo indecifrável. Eu
estou…
Olho para o Brandon ao meu lado, que dirige em silêncio, como está
desde que saímos do show, que durou… Eu nem sei, tudo que sei é que
parece tarde e tudo está muito perfeito. Por causa dele.
Trago as mãos aos lábios, desacreditada em tudo que vivi nesses últimos
dias.
— Nós chegamos — ele anuncia e eu abro a porta ao meu lado, saindo
meio trêmula.
Eu o acompanho para o elevador e, apesar de não falar, ele parece bem
tranquilo, mesmo porque começa a assobiar, com as mãos nos bolsos da
bermuda, parecendo tão maravilhoso.
Céus… Eu estou tão… Quente.
As portas se abrem e nós saímos, indo pelo corredor, mas estou mesmo
descrente e sentindo a pele ferver, tanto que passo por Brandon e paro à sua
frente.
Ele ergue as sobrancelhas, interrompendo os próprios passos.
— Tá ofegante, gatinha — um sorriso quase imperceptível chega aos
seus lábios e seu olhar desce por mim. — E muito linda, também.
Não espero para pensar, apenas me aproximo e agarro a gola de sua
camisa, o puxando em minha direção e juntando nossos lábios. Talvez eu me
surpreenda quando, no mesmo instante, Brandon toma o controle para si e
agarra minha cintura, nos levando até a parede e me prendendo contra ela e
seu corpo.
É isso.
Nosso beijo começa calmo, mas muda para algo quente, profundo,
abrupto. É uma delícia e solto um gemido quando o sinto levantar minha
perna direita e enroscar em seu quadril, imediatamente se esfregando contra
mim.
Um gemido mais áspero é inevitável.
A pressão é muito boa…
Brandon sobe a mão livre para meus cabelos, onde agarra uma pequena
quantidade e segura de um jeito que me causa arrepios, puxando para o lado,
então lambe do meu pescoço até o queixo, deixando um rastro de fogo.
— Você é perfeita — murmura contra meus lábios antes de a mão que
segura minha perna, passar por baixo, para minha calcinha, me tirando um
suspiro longo. — Tá quentinha e molhada, dá pra sentir.
Aperto os olhos, não aguentando e soltando um som agudo quando ele a
afasta para o lado e esfrega seus dedos em meu sexo. Com uma força
maravilhosa e certa.
— Quero logo, por favor — peço, muito rouca, mas muito certa do que
estou falando.
— O que você quer logo? — ele afasta o rosto e puxa um pouco meu
cabelo, perguntando enquanto olha em meus olhos. — Diz pra mim.
— Você — engulo em seco, muito arrepiada por sua voz rouca e
sussurrada.
— Hmmmm — recebo beijos no pescoço, junto com pequenas mordidas
e sinto Brandon aprofundar um dedo lentamente dentro de mim, me
imprensando mais contra a parede de tão trêmula que fico. — Prontinha.
— Meu Deus, sim! — coloco as mãos dentro de sua blusa e começo a
descontar a pressão que estou sentindo em suas costas, onde arranho.
Ele tira o dedo devagar e leva à boca, rosnando de um jeito que me
deixa toda trêmula. Mais ainda.
Começo a ofegar mais rapidamente quando o vejo levar a mesma mão à
frente da bermuda e rapidamente abrir o botão e descer o zíper, puxando seu
membro para fora.
Engulo em seco ao ver tão de perto. É grande, grosso, parecendo muito
suculento com a ponta enorme e convidativa. Sim, isso convida a minha boca
e minha língua, com toda certeza.
Brandon puxa meu cabelo de leve, atraindo meu olhar para seu rosto,
então sou toda expectativa quando vejo seu sorrisinho.
— Brandon! — engasgo ao sentir ele começar a se esfregar contra mim,
tão quente e duro. — Minha nossa, sim!
— Sim — ele repete, mordendo meu queixo. — Vou te comer tão
gostoso.
— Ah… — fecho os olhos, querendo gritar quando o sinto começar a se
colocar dentro de mim, devagarzinho, cada centímetro me fazendo o prender
cada vez mais.
— Porra, isso é muito bom — ele rosna, inclinando a cabeça para o lado
e chupando meu pescoço com força, ao tempo que puxa meus cabelos e
gritamos juntos quando nossos corpos se conectam por completo.
Apoio a cabeça contra a parede, arranhando suas costas com mais força
e Brandon se movimenta para fora, o gesto parecendo o torturar, e então
novamente para dentro, soltando uma lufada de ar.
A pressão é demais e eu preciso soltar um grito, quase engasgando
quando ele me cala com um beijo de língua, sincronizando com os mesmos
movimentos que começa a empurrar para meu corpo.
Ele está emitindo uns sons muito masculinos enquanto segura minha
perna e aperta, eu me sentindo o envolver com precisão. Tanta que ele
começa a apenas ondular os quadris, tão dentro de mim, mas tão dentro, que
não aguento.
Me deixo ir, desmanchando em mil e um pedaços, querendo mais e
muito mais, mesmo demorando a voltar do êxtase.
Abro os olhos, toda quente e o observo nos desconectar, apenas para
segurar minha mão e me puxar com ele para dentro da sua casa.
Ele abre a porta com agonia e bate com força assim que entramos,
virando e me pegando no colo.
Não tenho tempo nem mesmo de rir, porque sou toda expectativa
enquanto chegamos ao seu quarto e ele me coloca em sua cama. Fico sentada
de frente para ele, que está de pé e começa a se despir completamente, eu não
aguentando e segurando seu membro chamativo.
É mesmo atraente e levo minha boca, o envolvendo e gemendo por
sentir nossos gostos misturados. Ele solta um murmúrio em voz baixa, mas
imediatamente segura meus cabelos, me deixando prová-lo.
— Assim… Chupa forte — me incentiva.
Eu seguro seus quadris e começo o banquete, gostando muito do jeito
que Brandon treme e impulsiona para dentro da minha boca, mesmo depois
que fico com os lábios dormentes.
É bom saber que estou dando prazer a ele. Retribuindo.
Me surpreendo quando ele se puxa da minha boca de repente e me
incentiva a deitar, terminando de tirar as roupas. Um suspiro é inevitável por
vê-lo nu.
Brandon se inclina e começa a tirar meu vestido, imediatamente
envolvendo um seio com a boca e outro com a mão. Me arqueio, revirando os
olhos e agarrando seus cabelos, me sentindo mais que desejada.
— Você gosta de como eu te dou prazer? — questiona enquanto
mordisca minha pele. — Diz pra mim, Samantha.
— Gosto!
— Hmmmm — uma mão desce e ele aperta minha bunda com força, me
fazendo choramingar. — Gostosa.
Me remexo, querendo-o muito e tanto que nem sei.
Ele me vira de bruços repente e me dá um tapa estalado na bunda, antes
de segurar minha cintura e me erguer para cima.
— Assim, de quatro pra sentir meu pau todo dentro de você — ele está
com uma voz muito sexy e eu muito desesperada.
Brandon esfrega seu pau quente contra minha carne sensível e espalma
uma mão em minhas costas, soltando uns sons do fundo da garganta, que me
deixam mais elétrica.
— Por favor! — eu me agito, ansiosa.
Ele me puxa mais um pouco para trás e, sem avisar, se enfia dentro de
mim, de uma vez e com força, fazendo meus olhos se arregalarem.
— Minha nossa! — engasgo. — Mais!
Ouço seu rosnado e ele segura minha cintura com as duas mãos,
começando um vaivém rápido e forte, alucinante, seu membro todo grande e
grosso dentro de mim, me fazendo sentir o corpo derreter.
Estou em brasas vivas.
— Brandon, mais!
— Mais, sua safada! — recebo outro tapa, me fazendo ficar toda trêmula
e cair com o rosto contra o colchão, segurando o edredom com força. —
Rebola no meu pau, amor. Rebola gostoso.
Merda. Estou tão alucinada que somente cumpro a ação, sentindo e
ouvindo Brandon, o que é bom e alucinante, mais ainda quando seus dedos
chegam em meu clitóris, esfregando-o.
Não suporto a pressão e me desmancho de novo, quase me tremendo e
gritando demais quando ele continua a empurrar para dentro de mim, não
deixando nossos corpos separarem.
Estou ofegante, trêmula e me sentindo tão bem.
— Que gostosa… — Brandon me faz voltar à realidade enquanto sinto
seu pau me acariciar por dentro, mas de repente ele o tira, só para deitar ao
meu lado e me puxar para fazer o mesmo.
Imediatamente, ele levanta minha perna e volta a se colocar dentro de
mim, me fazendo gemer muito alto. A posição é muito boa e eu o sinto de um
jeito maravilhoso.
Ele começa a se movimentar, ao mesmo tempo que a mordiscar meu
pescoço e minha orelha, o calor de sua boca me deixando mole, tão mole… e
Brandon fundo, tão dentro de mim, que é impossível não me mexer junto
com ele e em instantes chegar ao ápice novamente.
Estou choramingando de tanto que é bom, principalmente quando de um
jeito muito rápido, ele fica de joelhos e me vira de barriga para cima, me
olhando com os olhos abrasadores.
Aperto os seios, me sentindo derretida.
Brandon reinicia investidas tão fundas e fortes enquanto me encara e
solta uns sons graves, que eu quase quero chorar de prazer, tentando
acompanhá-lo, mas já estou fraquíssima.
Ele ruge de repente, fazendo uma volta tão precisa que tenho um
orgasmo inesperado e longo, quase me levando à inconsciência, mas mesmo
assim ainda o sinto engrossar mais e sei que é a vez dele.
— Dentro de mim! — Eu consigo gritar, porque quero mesmo.
Mas, mesmo assim, Brandon se puxa para fora com um gemido e goza
na minha barriga e, talvez eu esteja maluca, mas o ouço soluçar. Um soluço
de choro.
E quero muito puxá-lo para mim e questionar muitas coisas, mas apenas
respiro fundo e, depois de vê-lo olhar minha barriga por tanto tempo
enquanto espalha seu sêmen ali, eu acabo pegando no sono.
Mas ainda sim sinto quando ele deita ao meu lado e me vira, me
abraçando por trás.
BÔNUS

Brian
Estou entretido com a montagem do novo móvel do quarto da minha
netinha que não percebo que Brandon chegou e sentou na cadeira de balanço.
Apenas quando me levanto e o vejo, é que me dou conta de que ele, de um
jeito inédito, chegou em silêncio.
— Oi, filho! Por aqui essa hora e em pleno domingo de novo?
— Eu não consegui dormir — ele olha ao redor e aponta para o berço.
— É pra Juliet?
— É, sim. A Amanda quis colocar um diferente — sorrio, mais que
feliz, mas então percebo que o som que Brandon emite é de profunda tristeza.
Me sento na poltrona ao seu lado e deixo que ele espere o momento
certo para falar. E isso demora um pouco. Parece imerso em pensamentos.
Respeito o seu tempo.
— Eu nunca vou poder ter isso, pai! — me olha e gesticula o quarto. —
Nunca vou poder e isso me machuca! Não sei o que fazer mais!
Não sei bem como reagir quando ele começa a chorar porque… Desde
que é um garotinho não presencio isso. E é uma sensação horrível. Ver um
filho triste e não poder fazer algo para ajudar. Não nisso.
— Eu estou apaixonado e… — soluça. — Não posso pensar em ter
filhos com ela. Isso me parte de um jeito que nunca vou conseguir explicar.
Eu olhava ao redor e via todo mundo apaixonado, achando que não ia sentir
nunca isso, então quando acontece, eu não posso ter filhos. Não posso dar
isso a ela sendo parte de mim.
— Filho — eu engulo em seco, um pouco — ou muito —, surpreso. —
Você pode optar pela adoção, mas… Por quem está apaixonado?
— A Samantha e eu sei que tem a adoção, sim, mas queria ter a
possibilidade de ter um filho do meu próprio sangue… É muito frustrante!
Por que eu?
Eu não sei como responder, então me silencio por um momento.
— Tem coisas que não temos respostas e apenas precisamos aceitar,
Brandon. Não é o fim do mundo. Você já conversou com ela sobre isso? É
muito importante manter conversas saudáveis durante o namoro — opto por
dizer.
Ele me olha, então morde a boca de repente, se remexendo inquieto.
— Eu… Nós não estamos namorando — responde, talvez
envergonhado.
Estreito os olhos, muito confuso.
Não podia ser diferente. Tinha que ser filho meu.
— E como você já está pensando em filhos?
— Como vou saber, pai? — ergue as mãos. — Eu apenas sinto essa
vontade com ela. Um bebê com a Samantha — ele dá um sorriso curto de
repente, parecendo ao longe. — Uma menininha com os olhões verdes. Tem
coisa mais linda de imaginar?
Coço a cabeça, muito confuso mesmo.
É o Brandon. Eu conheço meu filho e ele sempre demonstrou ser tudo.
Tudo mesmo. Menos romântico ou algo parecido. Ele era carinhoso com a
mãe e a irmã, sim, mas nunca com ninguém mais.
— Então, de onde você a conhece? — eu pergunto.
— Ela esteve na obra da minha casa. Ajudava o pai. Uma garota tão
incrível que não mereço. Eu gosto muito, muito dela. Faria qualquer coisa pra
botar um sorriso constante naquele rosto lindo e… — leva as mãos ao rosto,
parecendo em desalento. — Merda, pai, isso dói!
— Só dói se não for correspondido — sorrio, apertando seu ombro de
leve. — Se não é o meu garotinho do meio numa crise interior sobre o amor
— dou risada. — Essa é a parte mais difícil.
— Não sei se é — volta a me olhar. — A Samantha não disse nada. Ela
é carinhosa, sabe, mas eu tenho medo de perguntar e me ferrar. É muito ruim
isso.
— Onde ela está agora?
— Em casa, eu a deixei dormindo.
— Vocês já… Você sabe.
— Sim. Nós já. Eu fui em um show do Justin Bieber por ela, pai!
Então eu rio mesmo, porque é de fato engraçado.
— Isso é mesmo um amor forte — assobio.
— O senhor acha que chega a ser amor?
— Você não acha?
Ele parece pensativo, mordendo o canto da boca.
— Gosto de pensar que vou ter ela comigo todos os dias quando acordar
e for dormir, e de que posso beijá-la e tocar sua pele. Também é incrível
saber que posso vê-la durante o dia todo comigo no trabalho e tudo o mais.
Assobio novamente, bem impressionado.
— Ora, se Brandon Mackenzie não encontrou finalmente sua outra
metade.
Ele sorri, parecendo meio bobo.
— Não faça como o Dean ou mesmo eu, por favor — peço, um pouco
com pé atrás. — Ou como seus tios. A gente fez muita merda e você sabe
como nos arrependemos e nossas mulheres sofreram.
— Eu tô ligado — coça a cabeça. — Tem uma coisa sobre ela que
preciso resolver. O senhor poderia me ajudar e manter em sigilo, por favor?
— É claro — me ajeito melhor, começando a ouvir tudo que ele me diz
com cautela e total explicação.
Uma história e tanto, com toda certeza.
Começo a achar que minha família tem tendência a amar mulheres
complicadas.
Capítulo 40

— Hm… — meu tio murmura do nada, enquanto estamos trabalhando. Já


é o segundo murmúrio em um minuto, fora os outros. Isso desde que ficamos
sozinhos e Samantha foi almoçar.
Eu o olho, já agoniado.
— Algo incomodando, Sr. Mackenzie?
Ele retribui o olhar, dando um sorriso muito falso e se fazendo de
desentendido.
— Não, nada. Eu apenas não sabia que você estava namorando.
— Eu não estou.
— Samantha?
— Ela é… — abaixo a vista, tentando me fingir distraído. — Uma
amiga muito legal.
— Uma amiga muito legal? — ele joga a caneta em mãos na mesa e
parece incrédulo. — Amiga muito legal?! Porra, Brandon! Que merda de
termo merda!
— Mas ela é.
— Eu não andava por aí de mãos dadas e dando risadinhas com amigas.
— Isso porque o senhor não tinha, segundo boatos.
— Seu pai é um idiota. Eu tinha amigas, mas não parecia um
apaixonado bobo com elas.
— Tio — eu o olho —, com todo respeito, o senhor não tinha amigas.
Nem meu pai e nem seus irmãos. Minha mãe contou.
— A Amanda não sabe do que estava falando — bufa. — Você está
renegando o que sente, garoto? Está perdendo seu tempo com isso?
— Eu não — me defendo. — Ela que não gosta de mim.
— Meu Deus! Eu não estou falando com um moleque de quinze anos,
Brandon, e sim com um homem de vinte e quatro! Gostar?
— Não entendi porque o senhor está se metendo.
— Talvez porque eu esteja vendo meu sobrinho dando uns cinquenta
suspiros por minuto enquanto olha uma garota que ele pensa não estar
sentindo o mesmo quando está bem nítido que é recíproco.
— É? — Estou surpreso.
— Você é burro ou idiota?
Desvio o olhar.
— Talvez os dois — ele se auto responde. — Não percebe o jeito que
ela te olha e ri para você?
— Ela é legal, é o que eu disse.
— Não, ela é apaixonada.
— Mas por que não diz nada?
— Eu que vou saber! — ele se levanta, caminhando até onde estou. —
Por que você ainda não disse o que sente?
— Eu disse que gostava dela — começo a passar os dedos na borda do
notebook, lembrando de como foi constrangedor. — Aí eu disse, tipo, que era
legal que a gente falasse o que sentia porque estava sendo sincero e tal. Daí
ela ficou maior calada.
— Primeiro, você tira a palavra legal do seu vocabulário — meu tio está
impaciente, o que não é novidade, porque Philip Mackenzie raramente tem
muita paciência. — Segundo, você tenta dizer isso mais romanticamente.
— Tipo como? — o olho.
— Caramba, Brandon, seu pai não te ensinou nada? Se bem que —
estreita os olhos —, essas coisas a gente aprende sozinho. Mas, não sei, tenta
ver o que ela gosta e faz algo baseado nisso.
— Ela gosta de… Droga. Eu não sei. Só vejo ela sofrendo. Via, no caso,
porque estou tentando ao máximo mudar isso.
— Hm — ele murmura de novo. — Você não a fez sofrer, né?
— Não.
— Falou com seu pai?
— Tipo isso.
— O que ele te aconselhou a fazer?
— Deixar o barco andar.
— Puta merda, que merda! — ele esfrega as mãos no rosto. — Brian tá
ficando velho e maluco. Você precisa admitir o que sente, me entendeu? —
ele se inclina para falar, olhando em meus olhos. — As mulheres gostam
disso.
— Mas o senhor está achando que vai acontecer o quê? Ela vai me
amar?
Ele sorri.
— Bem, eu não sei, não prevejo o futuro. Só digo o que parece certo.
Não é bom negar o que sente. Se você está apaixonado, confessa e admite.
Mostra para ela que é verdade.
— Eu… Tenho tentado. Isso também é novo para mim. Me
apaixonar. Eu fico meio perdido com isso, na verdade. Tipo, sinto a liberdade
que estou fazendo a coisa certa, mas a sensação de estar sendo interpretado
errado, é bem ruim. Como se ela não visse ou… Não sei, pensar que não a
quero ou mesmo eu não ser digno dela.
— Ninguém é digno de nada, Brandon. Mas nós estamos aqui, vivendo a
vida, que é tão passageira, e somos capazes de dizer que caminho ela pode
seguir, então agarra isso e pega o que é seu para você. Não deixa escapar ou
só enxergar quando já tiver ido embora.
— Então eu devo falar o que sinto por ela de um jeito... Especial?
— Isso — ele assente, cruzando os braços e dando um sorrisinho de
repente. — Romance, garoto. Romance. As mulheres gostam disso.
— Eu também gosto.
— Exato — ele ri e levanta, eu só não dizendo mais nada porque
Samantha abre a porta.
Então toda minha atenção é de volta a ela.
E toda dela.
Capítulo 41

— Ei — cutuco o braço de Brandon enquanto ele está jogando em seu


videogame. Foi um fim de dia bem divertido. Nós chegamos e jantamos, e
agora estamos nos distraindo. Mas eu enjoei as palavras cruzadas. — Você
vai demorar?
— Hm? — ele parece altamente concentrado.
— Estou entediada e pensei que você podia me dar atenção...
— É.
— Brandon?
— Pera aí, é só mais… Merda! — ele se altera de repente. — Você viu
isso? Foi falta e o juiz não deu! Como pode isso?!
Reviro os olhos e me levanto, indo para a varanda.
O céu está límpido e o vento bem agradável. Uma noite maravilhosa.
Mais uma, mais um dia se passou…
Caminho para uma das cadeiras e me sento, pensando e repensando.
Estou aflita. Triste, não, apenas apreensiva em como as coisas podem seguir.
Não estou mais certa de nada. Preciso de um rumo.
Olho para meus braços, vendo uma marca branca, registro do que eu
tinha há poucos dias, do que eu sentia e passei. Mas não precisa ser mais
assim. Não mais.
— Ficou chateada? — Brandon pergunta e eu levanto a cabeça, o vendo
sentar na cadeira ao meu lado. — Desculpe.
— Tudo bem — sorrio. — É a sua diversão.
— Eu perdi por um gol.
Dou risada.
— Lamento.
— Eu ganho na próxima. Você tá bem?
— Sim — suspiro, voltando a olhar o céu. — Só estava pensando que
preciso de um rumo. Não posso ficar aqui para sempre, na sua casa e vestindo
as roupas que sua irmã deixou.
— O que você quer dizer? — ele parece um pouco desesperado e tem
minha atenção.
— Eu estava pensando que… Hm, eu não sei, poderia arrumar uma casa,
dependendo do meu salário. Aqui próximo, quem sabe.
— Por que você quer ir embora? Não gosta de mim?
— Não é isso — sorrio. — Apenas que preciso fazer meu caminho,
Brandon. E tenho que… — desvio o olhar, um pouco agoniada. — Ver meu
pai. Preciso saber se ele está bem.
— Ei — ele se abaixa à minha frente de repente, segurando minhas
mãos —, não quero que volte para morar com seu pai. Quero dizer, não quero
que você vá embora daqui. Por que não pode ficar aqui? Eu gosto de você.
— Porque é sua casa, Brandon.
— Você não gosta de mim? — repete e parece triste.
— Eu gosto. Muito. Mas não é essa a questão.
— Então qual é?
— É que nós não somos nada um do outro e… Eu apenas estou te dando
trabalho.
— Que trabalho, Samantha? Você me faz feliz, não quero que saia de
perto de mim.
Estreito os olhos, confusa talvez.
Ele respira fundo, parecendo buscar alguma coisa dentro de suas
emoções.
— O que estou querendo dizer é que… — aperta um pouco minhas
mãos, me olhando nos olhos. Ele é tão incrível. — É que, droga, eu não sei
como me expressar... — respira fundo. — Tá, eu vou tentar.
Eu sorrio, concordando.
— Sabe, existe uma linha tênue entre amor e paixão, mas bem tênue
mesmo. Super. E tudo que eu posso te dizer, com completa convicção, é que
não é paixão que estou sentindo por você — ele prende a respiração
nitidamente e eu também porque… Nossa.
— O que isso quer dizer?
— Não é paixão, não é um calorzinho, não é corpo arrepiando ao te ver
— sorri, sem jeito. — É amor, é um vulcão em erupção, é uma carga elétrica
que me atinge toda vez que ao menos penso em você. Eu nem consigo te
descrever como é, porque é… Indescritível e maravilhoso. As sensações que
você me dá, uau, eu fico muito… Sem palavras — balança a cabeça. — Mas,
é isso que quero que entenda, que te amo mesmo e estou mais que
apaixonado. Estou disposto a fazer a gente dar certo. Só preciso que você
concorde... E também seria legal me dizer o que sente por mim — dá um
risinho baixo.
Então eu rio, mas logo começo a chorar, soltando minhas mãos das suas
para conseguir passar meus braços ao redor de seu pescoço e puxá-lo para
mim, o abraçando com toda minha força.
— Assim, eu sei que não sou digno de você — acaricia minhas costas
—, mas você pode me dar uma chance, né? A gente pode adotar bebezinhos.
Eu me afasto um pouco, rindo e chorando, segurando seu rosto lindo
entra as mãos, então me inclino e rodeio meu nariz no dele, muito
emocionada.
— Vamos adotar bebezinhos — repito, soluçando.
Ele segura meus pulsos e vejo uma lágrima solitária escapar de um dos
seus olhos.
— Você namora comigo? — pergunta.
— Brandon — beijo o canto da sua boca —, até morro com você. Sim,
vamos namorar.
— Mesmo? — sua voz sai muito rouca, deixando nítido que está
prendendo um choro. — A gente vai namorar?
— Vamos. Vamos namorar muito — o abraço de novo, ele retribuindo
mais forte ainda.
Por um instante, somos só nós, em silêncio, nos abraçando. O calor do
corpo dele junto ao meu me deixando em mil pedaços.
— Aí você pode morar aqui, né?
— Sim. — Estou chorando muito. — Eu amo você.
Nitidamente o sinto prender a respiração, então cair em um choro meio
desesperado, me abraçando fortemente, como se não quisesse me deixar sair.
— Obrigado por aparecer pra mim — sussurra. — Obrigado, amor.
Amor.
Brandon e eu.
Não posso nem descrever.
Capítulo 42

É um novo dia. Uma nova manhã. Novas memórias e emoções.


Sensações. Tudo novo. Por causa dela. Porque Samantha apareceu na minha
vida.
Nós não paramos de levantar a cabeça e nos olhar, sorrindo um para o
outro. Meu tio já percebeu e deu umas vinte bufadas de impaciência, mas eu
não ligo. Estou mais que feliz.
Meu celular vibra em cima da mesa de repente e eu pego, vendo que tem
uma nova mensagem. É o Francis e ele me diz que tem novidades e que o
encontre imediatamente no endereço que enviou.
Me levanto sem nem pensar, me aproximando de Samantha e deixando
um beijo demorado em seu rosto então apenas digo algo ao meu tio e saio
depressa. Ele provavelmente vai ficar fumaçando de raiva, mas só lamento.
Em tempo recorde estou em meu carro e seguindo para o endereço,
percebendo então que se trata de um lugar um pouquinho distante. Mas, tudo
bem. Tudo por ela vale a pena. Ainda mais que acho que já estou indo me
encontrar com o desgraçado que ousou fazer mal a ela.
E se for, eu só posso me sentir pronto. E só isso, porque não sei mesmo
o que vou ser capaz de fazer quando vê-lo.

ѾѾѾ

Eu consigo ver Francis de onde estaciono e rapidamente saio do carro,


atravessando a rua pouco movimentada.
— O que você descobriu? — questiono, minha impaciência e agonia
sendo nítidas, tanto pela rapidez que falo, quanto por como estou respirando
irregularmente.
— A Samantha estava morando aqui e estou vendo um cara vir todo dia
até a casa — ele aponta um beco e vai andando na frente, eu o
acompanhando. — É provável que ela tenha saído daqui por causa dele, pois
não tem vindo.
Ele abre a porta da casa e nós entramos, eu vendo o lugar pequeno e
arrumado, com um cheiro bom. De flores. Ela esteve mesmo aqui.
— Quando ele vem? — olho Francis.
— Não é bem certo… Nós podemos esperar à noite. Ficamos aqui
dentro e quando ele chegar, o pegamos.
Estreito os olhos.
— Por que de repente você pareceu muito interessado?
— Eu pensei que você quisesse pegar o cara.
— Eu quero, mas você fez pouco caso quando fui te procurar.
Francis se finge desentendido, então ouvimos um barulho e a porta se
abre. Um homem aparece. Ele é pouco menor que eu e tem um sorriso nos
lábios.
— E eu pensando que era o único — ele ri. — Vocês também estão
procurando pela prostituta que mora aqui?
Não sei bem o que acontece, porque é como se alguém estivesse
colocando venda em meus olhos e talvez em meu senso, mas simplesmente
fico cego de um jeito que caminho até ele o empurro contra a parede.
O baque surdo é quase um aviso para mim, mas não estou ouvindo e
nem vendo nada muito nítido.
Agarro a gola de sua camisa com as duas mãos e o jogo no chão, me
abaixando em seguida e segurando-a de novo, enquanto aproximo meu rosto
do seu.
— Eu não te conheço, mas quero que morra sabendo que te odeio —
cuspo e dou um golpe com o cotovelo em seu nariz, ele imediatamente
gritando de dor.
Não o deixo respirar e levanto, dando chutes em seu corpo, por onde
quer que eu alcance. Onde dá. Onde consigo. E emoções de diversos tipos me
consomem por dentro, me esmigalhando e, de algum jeito, trazendo alívio
por estar vingando a Samantha — de certa forma.
Estou descontrolado, tenho ciência disso. Mas não estou me importando.
Ele fez a minha garota sofrer e isso eu não perdoo.
— Espera! — me sinto ser puxado e Francis quase me joga ao outro
lado, se abaixando ao lado do cara e dando três tapas em seu rosto, para ele
abrir os olhos. — Pega esse celular e exclui a porra do vídeo que você
colocou — mais um tapa. — Acorda, filho da puta!
Estou ofegante, suando e nervoso para terminar de arrebentar sua cara.
— Acho que ele desmaiou — Francis me olha. — Não acredito que esse
desgraçado tocou nela.
Fecho os olhos, tomando forças no meu interior. Não estou muito ligado
no que ele fala, porque a raiva me consome.
Ele ainda tenta animá-lo de novo e só depois de uns bons minutos é que
o cara abre os olhos, já muito inchados.
— A princesa acordou — Francis o agarra e senta contra a parede.
Grunho, me aproximando e tirando-o da frente, pegando o celular de sua
mão e assumindo o controle novamente.
— Adivinha só? — coloco minha mão em seu pescoço, ele engasgando.
— Você mexeu com a garota errada. Tá vendo isso aqui? Vai entrar nessa
porra e excluir o vídeo, me ouviu?
Ele tenta concordar, mas já está muito mole de muitos golpes. Ainda
assim, consegue levantar a mão e eu observo enquanto obedece a ordem.
Quando o vídeo é excluído, jogo o celular no chão e o agarro de novo pela
camisa.
— Tem mais em algum lugar? — pergunto. — Se tiver, fala agora!
— Na-não... — ele balbucia.
— É bom mesmo — o jogo de novo no chão. — Eu só não te mato aqui
e agora porque eu vou ser preso se isso acontecer! — me levanto e chuto seu
estômago, ele já sem forças até para gemer de dor. — Isso é pra se lembrar o
que dá mexer com mulheres! Que pense um milhão de vezes antes de se
aproximar de outra novamente.
— Só não te prendo porque conheço seu pai e ele não merece isso —
Francis fala e tem minha atenção.
— Do que está falando? — quero saber.
— O pai dele é amigo do meu pai. Eu conheço ele desde que é moleque,
mas eu não sabia que era o cara que você estava procurando. E muito menos
que tinha feito isso com a Samantha.
Eu me aproximo dele, ainda sem conseguir encaixar as peças.
— Por que você se importou do nada? — repito.
— Apenas porque achei relevante e, por coincidência, conhecia o cara.
Quer dizer, agora, porque nunca consegui identificar de longe quando o via.
Mesmo estando mal contado, olho para o homem inerte e estendido no
chão.
— O que eu faço com ele? — Francis soa receoso. — Talvez ele queira
ir até a polícia.
— Deixa ele ir, se tiver coragem. Faço se arrepender do dia que nasceu.
— Acho que isso já aconteceu.
— Acredite — o olho —, não aconteceu — então saio porta afora, louco
para me encontrar de novo com Samantha e apenas abraçá-la.
Garantindo a certeza de que ficará comigo para sempre.
Capítulo 43

Brandon entra na sala, meio — ou muito — ofegante. Seu olhar fica meio
perdido enquanto ele fica parado na porta por muitos segundos, então
finalmente pigarreia e ajeita o terno.
Interiormente, eu agradeço por ter chegado. Achei que não ia voltar mais
durante o dia. O Sr. Mackenzie , seu tio, já estava me deixando constrangida
de tanto falar sobre sua família perfeita e me fazer perguntas constrangedoras
sobre onde vou querer me casar ou que nomes meus filhos e de Brandon vão
ter.
É mesmo muito constrangedor.
— Resolveu dar o ar da graça — o tio o repreende. Mas acho que só
para pôr medo nele, pois quando Brandon saiu, ele simplesmente me olhou e
revirou os olhos como se o sobrinho ter saído do nada fosse muito normal.
— Eu precisei resolver um problema — ele caminha até o assento ao
lado do meu e senta, mas não me olha.
Eu o observo o quanto dá, então vejo sua blusa manchada. É sangue.
Sem falar nos cabelos bagunçados e o jeito que parece inquieto.
— Onde você foi? — eu pergunto, inevitavelmente.
— Ali.
— Ali? — eu repito incrédula. — Onde é ali?
— Fui resolver um problema, Samantha.
— É, mas você largou o trabalho e agora apareceu com a blusa
manchada de sangue — gesticulo. — Você está bem?
Ele então me olha, os olhos tristes e eu me encolho.
— A gente conversa em casa, pode ser?
— Eu posso sair um momento se quiserem conversar — Sr. Mackenzie
fala.
— Se puder nos fazer a gentileza… — eu sorrio, agradecida.
Ele assente e levanta, nos deixando a sós.
Eu também levanto e vou para o lado do Brandon, me abaixando para
olhá-lo mais firmemente.
— O que houve? — seguro seu rosto entre as mãos. — Foi sua ex-
namorada?
Ele faz uma careta, mas logo parece triste de novo.
— Eu demiti seu pai.
O olho por uns segundos, meio surpresa, mas logo o acaricio.
— Tudo bem, amor. Não faz mal.
— E não foi só isso — abaixa o olhar, respirando fundo. — Mas… Você
me perdoa por que não resisti e acabei dando uns socos nele?
— Oh… — pisco algumas vezes, duplamente surpresa. — Acho que
tudo bem, também, se não tiverem sido muito fortes.
— Não… — me olha de novo. — E eu encontrei o cara. Do vídeo.
Então sim, me levanto e dou um passo para trás. Surpresa e agradecida,
mas o choque é inevitável.
— Você… o encontrou?
— Sim…
— Como?
Brandon também levanta, um pouco apreensivo.
— Eu estive falando com uma pessoa que é capaz de ajudar e ele o
encontrou, então me ligou...
— Por que não me disse? — Me sinto um pouco mal por saber que ele
esteve fazendo algo assim sem me avisar. — Quero dizer, eu devia ter sido
informada…
— Eu não pensei assim, na verdade. Só queria fazer justiça por você. E
te deixar livre disso — ele caminha até mim e segura minhas mãos. — Quero
que tenhamos uma vida feliz juntos, sem fantasmas do passado.
— Ahn, sim, obrigada. — Estou meio perdida. — Quero dizer, isso foi
incrível, eu me sinto inenarravelmente agradecida, mas, acho que eu devia ter
ficado sabendo...
— Não pensei assim, amor, desculpa. Nem me liguei nisso quando falei
com o Francis. Desculpa.
— Com quem? — ergo as sobrancelhas.
— Francis, o homem que achou o tal cara.
— Francis não é uma empresa?
— O que você quer dizer? — rebate.
— Daniel Francis? — tiro minhas mãos das suas, não sabendo bem
como processar as informações. — Foi ele que procurou? Alto, moreno,
tatuagens?
— Você o conhece?
— Ele era o filho do dono da casa em que estava morando e eu estava
levando seus cachorros para passear… Sim, é ele mesmo. Me falou que tinha
uma empresa de segurança.
— Por isso ele ficou interessado tão de repente! — Brandon não tem a
melhor cara no momento. — Como você o conheceu?
— No dia que me mudei. Ele foi deixar as tintas e se apresentou. É um
bom homem, muito prestativo.
— Filho da mãe! — ele se exalta de repente. — Por isso ele ficou
interessado de uma hora pra outra!
— Ele quis me ajudar e ajudou, Brandon. E você também — volto a me
aproximar dele, o abraçando. — Obrigada.
— Por que você não me contou que tinha conhecido alguém enquanto
ficou lá?
Eu sinto o tom gélido e me afasto, olhando-o.
— Porque eu não achei que era relevante... — hesito um pouco por ver
seu olhar.
— Tudo que acontece com você é relevante e eu preciso saber, Sam. Me
senti… Eu não sei. Ele sabia sobre você. É como se eu fosse um idiota,
porque enquanto você parecia sumida, estava com ele...
— Eu não estava com ele — especifico. — Estava morando na casa
alugada do pai dele, um senhor também bondoso.
— Mas o que é isso? — Brandon parece agoniado.
— O quê?
— É tipo como se você tivesse dizendo que prefere ele e a família dele.
— Quê? Não. Nada disso!
— Ah, sei lá… Eu tô com muita raiva dele — esfrega o rosto. — Sei lá
mesmo.
— Estou muito grata pelo que fez, Brandon. Muito obrigada.
Ele me olha, parecendo meio sem foco.
— É... Acho que tanto faz — diz.
Então fico muito desentendida quando o vejo sair porta afora
novamente.
O que aconteceu?
Capítulo 44

Estou aflita enquanto tento dormir. Foi tudo tão esquisito e rápido.
Brandon me deixou sozinha e logo depois seu tio entrou, me perguntando se
eu estava bem, tentei sorrir e afirmar. Não sei se teve efeito. Depois disso, ele
só apareceu no final da noite, na hora de ir embora.
Estava quieto e não gostei de quando me olhou, muito menos quando
tivemos que pegar carona com o Sr. Mackenzie para vir para casa porque
Brandon disse que tinha bebido. E, quando chegamos, ele me deixou sozinha
e foi para seu quarto.
Eu nem entendi o que aconteceu direito, apenas gostaria de conversar,
mas Brandon não parecia estar com a mesma vontade.
Me sento na cama, desistindo de tentar dormir, então pego uma revista
da cabeceira e começo a folhear, sem interesse. Odeio que estejamos assim
tão de repente. Ele não é assim. Isso foi o quê?
Ouço um clique e levanto o olhar, o vendo parado na porta, vestido em
um short do Snoopy.
Eu quero rir, mas não o faço.
— Eu te acordei? — pergunta baixinho.
— Não, estou sem sono — deixo a revista de lado. — E você, não
conseguiu dormir?
— Eu tô carente. Acho que não consigo mais dormir sem você. Posso
deitar aí nesse espacinho do seu lado?
Assinto levemente, segurando um riso quando ele começa a caminhar
para perto, o short o deixando engraçado.
Ele parece cabisbaixo quando deita ao meu lado e me olha.
Nós ficamos em silêncio por um momento, então o ouço pigarrear.
— Você ainda gosta de mim? — questiona, um sussurro.
Dou um riso discreto.
— Eu gosto.
— Você não vai me deixar, né? Tipo, é que eu fiquei pensando um
monte de coisas — ele me olha e se senta. — Eu sou um pouco idiota às
vezes. O Francis é mais bonito do que eu, você poderia querer ele e não a
mim...
— Quê? — rio, sem entender. — De onde você está tirando tantas
ideias, Brandon?
— Mas, sabe, eu te amo e ele não.
— Vem cá — estendo os braços e ele vem depressa, deitando e me
abraçando, sua cabeça em meu pescoço. — Não tem nada a ver o Francis. Ele
me ajudou. Somente — o acaricio.
— Tá. Você vai ficar comigo?
— Eu vou.
— Obrigado… Nós vamos nos amar muito.
— Vamos mesmo — começo a acariciar seus cabelos. — Você é sempre
assim?
— Como?
— Desse jeito — seguro a risada. — Um bebê gigante.
— Não sou, só com você. Também não sei porque tô desse jeito.
Sorrio.
— E esse pijama?
— Meu pai me deu no meu aniversário de quinze anos e ainda cabe em
mim.
— Seu pai te deu um pijama do Snoopy com quinze anos? — começo a
rir.
— Ele deu, e o do meu irmão foi do Scooby. Não é engraçado — ele se
remexe, apertando minha cintura. — Verdade que ele sempre teve dificuldade
em aceitar que crescemos.
— Tadinho, mas eu achei que ficou uma gracinha em você.
Brandon dá um risinho.
— Eu era o Formiguinha.
— Quê?
— Desde o útero, meu apelido era Formiguinha.
Meu riso aumenta, ele levantando e me prendendo debaixo de seu corpo.
— Hm, gosto de você rindo e feliz — murmura e inclina a cabeça,
beijando meu pescoço. — Está tudo bem então? Estamos bem?
— Sim, Brandon. Nunca deixamos de estar.
Ele me abraça e cai para o lado, deitando e me colocando na mesma
posição.
— Vamos dormir de conchinha — beija meus cabelos. — E para de rir
do meu short e do meu apelido.
— Desculpa — tento parar. — Boa noite.
— Boa noite, amor.
Ainda continuo rindo por mais uns segundos, até apagar no conforto e
nos braços do Brandon.
Capítulo 45

Estou muito, muito feliz. Mesmo. Sou um pouco idiota, sou, mas estou
tentando mudar isso. Inclusive porque agora estou com Samantha. Claro. Eu
não canso de repetir o meu motivo: ela.
Saio do banheiro, a toalha enrolada na cintura, mas paro quando seu
olhar me chama. Ela está parada na porta de entrada do quarto, os braços
cruzados e, esteja eu enganado, com um semblante fechado.
— Eu terminei. Você vai agora? — gesticulo o banheiro.
— Você tem mais alguma coisa para me contar?
— Não — a resposta é tão imediata que eu mesmo estranho.
Samantha ergue um papel.
— Então o que é isso?
Merda.
Ela se aproxima, até estar bem próxima a mim, então o estende à minha
frente.
— Não ia me contar? — questiona.
— Samantha, eu…
— Brandon, por mais que você não goste dele, é o meu pai e, se ele me
escreve um bilhete pedindo desculpas e dizendo que tem um diagnóstico de
morte, eu preciso saber — seus olhos lacrimejam. — Me diz, você não ia me
contar?
Eu estou surpreso e arrependido. Surpreso por ela estar chorando e
arrependido de não ter escondido isso. Na verdade, deveria ter rasgado assim
que recebi, mas tive a brilhante ideia de guardar na calça.
— Responde, Brandon.
— Não — disparo. — Eu não ia. E não me sinto mal por dizer isso,
Samantha, porque enquanto se esforçava pra ser uma boa filha, ele não ligava
pra você. Ele te maltratava e te batia, te fazia sofrer e chorar. Não pode ser
considerado pai. Nunca te deu apoio ou segurança, muito pelo contrário,
tirava isso de você. Então, se quer saber, eu não ia contar. Não mesmo. Não
me importo se o homem que fez você sofrer tá assim, porque não passa de
colheita.
Ela me encara por uns segundos, então funga.
— Brandon, não é assim que se pensa e estou decepcionada por você ter
feito isso. Ele me fez mal, sim, bastante, mas não deixa de ser o meu pai e
você deveria ter me contado, a decisão que eu tomaria seria de minha
responsabilidade.
— Eu sei que você correria para o lado dele, por isso não falei.
— Porque é meu pai!
— Não! — rebato, incrédulo. — Que pai é esse? Ele só te fez mal,
Samantha! — dou um passo à frente e seguro seus braços, levantando-os um
pouco. — Olha essas manchas! É isso que um pai faz com uma filha?
— Mesmo assim… — ela hesita e se afasta do meu contato. — Não
cabia a você decidir por mim, entende o que estou dizendo?
— Não, Sam, eu não entendo — esfrego a testa, já sem qualquer
paciência sobre isso. Sobre como ela pode querer voltar. — Sinceramente,
não entendo. O que ele fez te trouxe consequências recentes e mesmo assim
você acha que — dou um riso incrédulo — estou errado.
Ela vira, então sai andando.
— Onde você vai? — pergunto.
— Vou vê-lo. Ele está prestes a morrer... Droga.
Um grunhido me escapa.
Não acredito que agora eu sou errado.
Capítulo 46

Quando chego na porta de casa, respiro fundo antes de bater. É uma


sensação muito estranha ter que voltar, e todas as emoções que me invadem
são conflitantes e conturbadas.
Dou três toques e vejo a maçaneta girar.
Meu pai aparece. É um pouco inevitável que eu me sinta desequilibrada
e sem fôlego por um momento. Ele parece tão abatido e aflito, as olheiras
escurecidas embaixo dos olhos.
— Oi, filha — sua voz está rouca e baixa, e eu me sinto mal, dando dois
passos à frente e abrindo os braços, para abraçá-lo.
Para minha surpresa no entanto, ele se afasta. Eu o olho, um pouco
constrangida.
— Desculpe — olha o chão, parecendo meio perdido.
Respiro fundo, tentando não me abalar. Não estou aqui por qualquer
outro motivo que não seja oferecer prontamente minha ajuda da melhor e
toda forma que eu puder.
— Eu li o seu bilhete — divago.
— O Sr. Mackenzie entregou? — tenho seu olhar em mim
imediatamente e talvez eu tenha a impressão de sentir seu tom de voz mais
seco.
— Não exatamente — sou evasiva de propósito. — O importante é que
eu soube e estou muitíssimo triste pela notícia, pai.
Ele me encara, então balança a cabeça levemente.
— Nós podemos conversar?
— Podemos — caminho até estar na sala e sento-me no sofá. Observo
seus movimentos lentos para cumprir a mesma ação em sua poltrona, ele
soltando um suspiro cansado quando o faz. — Como se sente? Quando
descobriu?
— Semana passada e me sinto bem.
— O que o senhor tem?
— Não quero falar sobre isso, apenas… — ele abaixa o olhar por um
tempo, parecendo pesaroso, então quando me olha novamente, não gosto
nada se seu semblante. — Você fez de propósito.
— Do que o senhor está falando?
— Da minha demissão. Eu sei que o fez ir até lá me demitir.
Tenho um leve momento de surpresa, que não dura muito.
— Eu não fiz. Brandon só me contou depois.
— Então é mesmo com ele que você está, não é? Depois de tudo que fiz
por você, nem ao menos se preocupou em vir me visitar — sua voz começa a
se alterar. — Não fui eu que cuidei de você o tempo todo, sua ingrata?
Aposto que ficou falando coisas sobre mim! Por que não o fez logo me
colocar na prisão, se queria que eu morresse mais rápido?
— Pai... — Estou absorta. — Eu nunca pensei nada disso. Não sabia que
ele ia fazer isso…
— Você preferiu ficar com um homem que só te come do que comigo,
seu próprio pai! — ele se levanta muito de repente, se aproximando de mim.
— Era só o que queria?! Uma desculpa para me abandonar, sua vagabunda!
É tão rápido que não percebo muito, mas vejo sua mão se erguer e meu
rosto queimar, me fazendo cair para o lado no sofá.
— Vai fazer o que, Samantha? Me denunciar? Um falido e agora
inválido? Por causa de quê? — Ele está gritando. — De um homem que
apareceu ontem na sua vida?! É sempre assim que você faz, me troca por
qualquer um! Eu devia ter te ensinado como ser uma mulher de verdade e não
uma cachorra que fica pulando na cama de qualquer homem que aparece!
Estou tão assustada e histérica que não consigo fazer nada, apenas
proteger o rosto e olhar para o chão, com medo do que ele pode fazer.
— Não estou preocupado com o que vai fazer depois que sair daqui —
dá um riso baixo de deboche. — Eu vou morrer a qualquer momento. —
Grito quando sinto meu cabelo ser puxado com força e ele levanta minha
cabeça. — Espero que você aprenda quando eu morrer que ninguém além de
mim se importava com você! Ninguém!
Engulo em seco, então ele me solta com força, bufando de repente tão
alto que fecho os olhos com medo do que pode mesmo acontecer.
Capítulo 47

Estou seguindo da academia para a sala de estar, quando vejo a bolsa de


Samantha em cima do sofá. Eu estava com muita dor de cabeça e informei
meu tio que, depois de uns cinquenta nomes, me deixou folgar até a parte da
tarde.
Mas, algo me diz que tem alguma coisa errada. Mesmo sabendo que
Theo esteja com câncer e pareça estar esgotado, acho que isso não o
impediria de machucar Samantha, não é?
Merda!
Caminho depressa até meu quarto, mas ela não está nele, então vou para
o de hóspedes, retesando no lugar assim que giro a maçaneta, mas a porta não
abre.
Eu bato uma, duas e três vezes.
— Samantha? Amor, você tá aí?
Não obtendo resposta, coloco o ouvido contra a porta, tendo a impressão
de ouvir uns sussurros. Baixinhos. Entrecortados. Contidos.
Bato novamente.
— Ei, Sam. Abre, por favor.
Ela não me responde e eu já começo a ficar muito agoniado e
preocupado.
— Olha, se não abrir, eu vou ter que arrombar e eu não quero fazer isso.
Abre, por favor. Vamos conversar.
Não recebendo resposta, não vejo alternativa a não ser a de me afastar
um pouco e chutar a porta, ela abrindo com um baque alto, então eu vejo
Samantha. Abaixada no chão. Sentada contra a cama.
Meus passos até ela são imediatos e impacientes, então caio ao seu lado,
acariciando seus cabelos de imediato.
— Ei, amor, fala comigo — peço, tentando não demonstrar que meu
coração está batendo sem controle.
Ela fica imóvel, como se eu nem estivesse junto. A cabeleira negra
tapando seu rosto, que está sobre os joelhos encolhidos contra o corpo, me
impede de observá-la mais veemente.
— Samantha… — já estou um pouco ofegante, meio desesperado. —
Olhe pra mim — acaricio seu braço e, depois de muitos segundos, ela emite
um som baixinho e levanta o rosto.
Muito lentamente.
Imediatamente ergo as mãos, tirando seus cabelos da frente, querendo
ver seu rosto, então congelo onde estou ao ver o lado direito com as marcas
de dedos. São de fato três dedos marcados e meu coração para por um
segundo.
Ela nem precisa falar, porque eu já sei.
Me levanto depressa, indo até a cômoda onde deixei meu celular, então
ligo para o meu pai, que parece bem prestativo como sempre. Então eu só
preciso mesmo passar o endereço a ele e o resto sei que já sabe o que fazer
com a ajuda dos meus tios.
Volto para Samantha, aflito por vê-la sem qualquer lágrima, apenas
parecendo… Distante e em desfoque.
— Eu apenas pensei que seria diferente — ela fala, meio entrecortado.
— Por causa do… câncer. Achei que queria se desculpar de verdade, mas ele
se irritou de uma hora para outra e eu me senti um pouco perdida, porque...
— abaixa novamente o rosto. — Eu não entendo, nunca o fiz mal nenhum...
Nunca.
Levanto seu rosto e acaricio suas bochechas, querendo mais que
qualquer coisa pegar sua dor para mim. Dar alívio a ela. De algum jeito e de
alguma forma.
— Ele não considera você como filha. Precisa entender isso, Samantha.
Se tivesse qualquer apreço, nunca encostaria um dedo em você. Fica comigo.
Eu posso te dar segurança, ele não. Eu posso te dar tudo, amor — hesito por
um momento, lembrando que nem tudo. — Mas vou me esforçar ao máximo,
eu prometo.
— Eu já escolhi você, apenas pensei que ele poderia mudar, mas parece
ainda mais revoltado… Disse que ninguém se importa comigo além dele e
me contou umas coisas que eu não sabia, como quando tentou dar um
remédio para minha mãe quando soube que eu era uma menina... Eu… — ela
engole em seco. — Pensei que ele me amava, Brandon.
— Casa comigo.
Samantha me olha de imediato, os olhos mais arregalados do que
normalmente ficam.
— O quê?
Seguro sua mão, simplesmente pedindo o que já estava em meu coração
e mente.
— Você quer se casar comigo? — reformulo, olhando em seus olhos,
sentindo meu corpo tremer com apenas as palavras. — Vamos construir uma
vida, uma família, tudo nosso. Minha esposa, amor. Isso não soa perfeito para
você?
Ela parece em choque, piscando algumas vezes.
— Eu não vou ser perfeito todo dia, não vou. Acho que nenhum, mas
acho que já errei muito para não acertar agora. E eu quero. Com você,
Samantha, porque te achar e investir em você, eu tenho certeza, foi o maior
acerto da minha vida. E vai continuar sendo, então, declarando meu amor por
você… — respiro fundo. — Eu pergunto: você quer se tornar minha até que a
morte nos separe?
— S-im — ela parece sem ar. — Meu Deus, sim! — suas mãos soltam
as minhas e ela se joga em mim, nos fazendo cair no chão, chorando em meu
pescoço.
Eu suspiro aliviado, acariciando suas costas enquanto fecho os olhos e
agradeço a Deus porque, posso não ter filhos, mas isso não me impede de ter
a mulher que amo ao meu lado.
Capítulo 48

Eu acordo com os toques insistentes no rosto. É uma sensação boa em


meio a todas as ruins e me forço a abrir os olhos, logo vendo o lindo rosto de
Brandon pairando sobre o meu.
— Boa noite, flor silvestre — ele sorri. — Nós chegamos.
Dou um sorriso inevitável e me espreguiço, adorando a sensação de
acordar com ele me chamando.
Brandon nos trouxe à fazenda de sua família, que fica em Albany, na
Georgia. Foi uma viagem um pouquinho longe e eu cansei bastante,
dormindo no carro enquanto vínhamos, depois do aeroporto. Provavelmente
me colocou na cama.
Depois de tantos episódios em um só dia, ele achou que era melhor que
nos distraíssemos um pouco. Juntos. Só nós dois e sem surpresas.
— Eu dormi — murmuro. — Desculpa.
— Foi o cansaço. Sempre alguém dorme quando estamos vindo para cá.
É normal — me ajuda a sentar, meus olhos serpenteando ao redor. — Vamos
jantar.
— É um belo quarto.
— É o meu — dá uma risadinha e beija minhas mãos. — Você se sente
melhor?
— Sim… Obrigada. Acho que… As coisas vão melhorar a partir de
agora. Porque estou com você.
— Eu vou me encarregar disso.
Eu sorrio e me levanto, Brandon me puxando para um abraço demorado
e apertado. E, por um momento, somos só nós dois, imersos em conforto e
paz. Ele me transmitindo tudo isso. Porque é ele. Somos nós.
— Vamos, estamos há muito tempo sem comer — ele me faz afastar e
segura minha mão, me puxando com ele para fora do quarto.
Nós caminhamos por um corredor e descemos um lance de degraus de
madeira escura. Uma escada linda, por sinal. Somos recepcionados por uma
sala de estar enorme e rústica, que ao mesmo tempo é maravilhosa. Seguimos
por outra porta e chegamos à cozinha, que parece bem velha, mas como se
tivesse sido restaurada. Uma mistura do passado e atual.
— Sente — ele gesticula uma cadeira, então eu vejo a mesa servida. Não
sei o que é, mas parece muito apetitoso e cheiroso. — Tô cheio de fome —
diz, sentando-se ao outro lado.
Dou um sorriso e concordo, Brandon fechando os olhos e gesticulando,
então dou risada e faço o mesmo, ele agradecendo pelo alimento.
Em seguida, começamos a comer, em silêncio. Talvez imersos em
nossos próprios pensamentos. Nossas ideias dispersas. Os conflitos. A
realidade que agora é nossa. Um casamento. Com o Brandon.
No silêncio eu permaneço, nem ao menos ouvindo os barulhos dos
talheres porque meus pensamentos estão gritando tão altos que é perturbador.
Meu pai. O Tyler. O Brandon. Tudo que aconteceu e, que apesar de estar
tentando, é difícil fingir que não ocorreu. De apagar. Deixar passar.
Esquecer…
— Eu tô aqui — a voz parece ainda mais alta e eu olho para frente,
vendo Brandon sorrir para mim. Ou tentar. — Não dá pra ler o que você
pensa, mas eu tô aqui, amor. Com você.
Respiro fundo, tentando não chorar.
— Obrigada, eu… — hesito, olhando para qualquer lugar no chão. — É
difícil, apesar de eu estar tentando.
— Você tá sendo forte — ele alcança minha mão com a sua. — Tá
encarando muito bem. Tanta coisa assim não é fácil, eu sei. Estamos juntos.
Balanço a cabeça, concordando. Não, não é. É perturbador, mas eu sei
que Brandon vai estar comigo. Me amparando quando eu precisar. Ele já
deixou isso bem claro e nítido.
— Obrigada, eu amo você — o olho, tentando sorrir.
Ele suspira, algum tipo de alívio, então se levanta e vem ao meu lado,
me incentivando a fazer o mesmo.
E eu permito, segurando mais firmemente sua mão e deixando-o me
guiar de volta à sala e logo depois para fora da casa. Paro no mesmo instante,
inspirando fundo o cheiro do frescor e natureza. A paz. O conforto. Alívio.
— Eu quero te mostrar uma coisa — Brandon me faz caminhar com ele
quase correndo, então começamos a rir quando se iniciam chuviscos. —
Sempre que venho aqui, tá chovendo.
Começamos a correr em direção a uma árvore grande. Ela é enorme. Só
consigo ver quando nos aproximamos que, por trás dela, há uma casa. É uma
casinha.
— Uma segunda casa?
— Tipo isso — aponta outro lado. — Ali tem a da minha irmã. Essa
aqui era minha e do Dean. Nossa casa na árvore.
Sorrio.
— Vocês não eram muito… — finjo pensar. — Como você diz, tipo
assim, muito mimados?
Ele ri.
— Tipo isso, eu acho. É que… — seu olhar parece distante de repente.
— Meus pais pensavam que não podiam ter filhos, então veio o Dean, depois
eu e minha irmã. Eles viveram para nós. A felicidade não podia ser descrita.
Eu me aproximo e solto nossas mãos, só para abraçá-lo. Sempre parece
uma dor maior quando ele fala sobre filhos.
— Obrigado por me aceitar como eu sou — me abraça forte. — Mesmo.
Sorrio, virando a cabeça para beijá-lo. É um beijo calmo, sereno,
paciente... Brandon está cheio de emoções à superfície, tanto sinto quanto
entendo. É compreensível. Mesmo assim, sei também que estamos curando
um ao outro. Em meio à tempestade, vai vir a calmaria, eu sei…
Suas mãos correm por mim lentamente, me deixando inexplicavelmente
emotiva também. O carinho que ele tem comigo, tudo que já fez por mim…
De um completo estranho para ser o meu noivo. É mesmo inexplicável.
Brandon me afasta só para segurar minha mão e me levar para dentro da
pequena casa. Há uma cama de solteiro parecendo feita de madeira pura,
coberta com um edredom azul. Só é possível ver porque, apesar dos
chuviscos, a noite está clara e a luz entra por uma janelinha à nossa extrema
direita.
Ele fecha a porta e se vira novamente para mim, sorrindo antes de trazer
as mãos à borda da minha blusa e tirá-la, logo depois meu sutiã. Suas mãos
acariciam minha pele, Brandon abaixando e depositando beijos por ela até
estar de joelhos, então desfazer os botões da minha calça.
Fico livre da peça também, seus lábios distribuindo beijos por minhas
coxas, numa paciência absurda. Levo os dedos aos seus cabelos e o acaricio,
ficando um pouco apreensiva quando ele vira a cabeça contra minha barriga e
inspira fundo, ficando assim por um tempo.
Longos minutos.
Suspiro quando seus dedos enfim agarram as bordas da minha calcinha e
ele a puxa para baixo, soltando um som contido junto. É uma mistura de
desejo com dor.
Brandon fica por um momento passando o olhar por meu corpo, de cima
a baixo, parecendo meio triste.
Eu me abaixo junto, tentando sorrir, mas ele parece mesmo muito triste
agora e isso me parte o coração.
Também agarro sua blusa e o ajudo a ficar sem ela, inclinando a cabeça
e deixando beijos por sua pele, sentindo suas mãos acariciarem meus cabelos.
É uma avalanche de emoções e sinto que as dele estão piores e maiores.
Brandon agarra minha cintura de repente e me incentiva a levantar, ele
fazendo o mesmo e nos levando à cama. Eu deito primeiro, respirando fundo,
os sentimentos me abalando. Ele está triste, mas também me quer. E eu.
Sempre vou querê-lo.
Observo seus movimentos fluídos o deixarem livre do restante das
roupas. Ele é lindo. Cada pedacinho dele.
Brandon vem em minha direção, deitando por cima de mim. Tenho a
impressão de ver seus olhos lacrimejados e quero simplesmente puxá-lo para
mim e o abraçar, deixando o silêncio pairar sobre nós.
Mas não é recíproco quando sou incentivada a separar as pernas e quase
engasgo quando o sinto abrir espaço para dentro de mim, suas mãos ao lado
de minha cabeça apoiando seu corpo, ele me olhando nos olhos e iniciando os
movimentos.
É um silêncio pesaroso, exceto pelo barulho da chuva, que parece
aumentar a cada instante, e nossas respirações desestabilizadas.
Seguro seus braços, um pouco engasgada quando Brandon muda a
velocidade para um pouco mais rápido e forte, então parece alucinado.
— Diz meu nome — pede. — Se você me ama, diz meu nome.
Engulo em seco, ficando um pouco confusa.
— Brandon — estou com a voz um pouco incerta, preocupada com seu
estado.
— Diga de novo — repete, seus movimentos acelerando. — Eu preciso
ouvir você dizer.
— Brandon... — começo a acariciar seus braços e onde alcanço,
tentando me apoiar nele.
Eu me agito inteira com um orgasmo inesperado, que parece muito
profundo e longo, me fazendo prender a respiração por segundos e ouvir uns
ruídos na cabeça, então sou trazida de volta com os grunhidos entrecortados
dele, que parece me olhar de um jeito tão triste que sou impossibilitada de
não puxá-lo para mim e o abraçar forte.
Também sinto o calor me inundar, de fato. Brandon dentro de mim tanto
física como sentimentalmente.
Nós ficamos em silêncio, eu o acariciando de todo jeito que consigo, seu
peso não sendo muito sobre mim, mesmo que fosse para ser.
— Eu não faço isso — ele sussurra contra meu pescoço —, porque
sempre sinto dor ao saber que não posso ter filhos. Não posso te dar filhos,
Samantha.
Então entendo que ele está se referindo ao fato de ter se permitido gozar
dentro de mim e é bem triste.
— Você me deu seu coração e isso é tudo que preciso saber — beijo seu
ombro, o ouvindo fungar.
Aperto os olhos, feliz e emocionada.
Ele me deu tudo, apesar de não perceber.
Tudo e mais um pouco.
Bônus II

Brian
— Você está bem?
Olho para o lado e vejo Amanda sentada.
— Desculpe, não queria te acordar — aliso o rosto.
— O que você tem? Parece triste.
— Eu estou — me levanto, um pouco conturbado. — Tem uma
sensação estranha dentro de mim e tive um sonho com o Brandon.
— Que tipo de sonho?
— Não foi bem um sonho, parecia mais algum tipo de pesadelo. Eu não
gosto dessas merdas, Amanda — começo a perambular pelo quarto. — Não
gosto. Mesmo que não signifiquem nada, me deixam mal pra cacete.
Ela também levanta, vindo em minha direção e me encontrando. Seu
abraço sempre é um porto que eu posso parar e descansar. Tentar encontrar as
repostas.
— Calma. Deve ter sido só porque vocês fizeram isso de ver o pai da
menina… Quer dizer, não só viram como fizeram um belo estrago, mas o que
importa é que ele não vai mais fazer mal a ela.
— Eu tô preocupado com ele.
— O Brandon é adulto, Brian. Você precisa deixá-lo crescer. Ele precisa
lidar com isso.
— Eu entendo o que ele sente.
— E você acha que eu não? — ela se afasta para olhar em meu rosto. —
Brian, imagina a minha dor em ter estado com você e pensar que não poderia
te dar o que você mais queria? Eu sei exatamente o que o Brandon sente! É
doloroso, pesado… — ela abaixa o olhar. — É algo te faz ficar em mil
pedaços por dentro enquanto você precisa fingir levar como algo simples e
normal. Algo dilacerante… Olhar as famílias, os pais com seus filhos e saber
que talvez você não encontre alguém porque não pode ter aquilo… —
balança a cabeça, dissipando as ideias, como se não quisesse lembrar. — Mas
ele encontrou a Samantha e eles estão bem juntos.
— Eu sei… — mordo o lábio, louco para puxá-la para um abraço, mas
sei que, se o fizer, Amanda vai cair em um choro profundo, e não quero isso.
Não quero trazer lembranças ruins a ela. Nunca.
— Então não precisa ter esse receio. Se ela o ama, vai estar bem com
ele.
— Não é a garota que me deixa preocupado, é o Brandon. Ele pode…
— bagunço os cabelos, um pouco agoniado. — Você sabe que ele pode fazer
umas besteiras.
— Isso era antigamente, Brian. Antigamente.
— Não sei... — volto a andar. — Acho que esse pai dela deu muito
trabalho. Eu não sei de nada direito. Tô me sentindo meio perdido.
— Ei — Amanda me faz parar e olhar em seus olhos, onde me
tranquilizo um pouco. — Vai ficar tudo bem. Vai dar tudo certo. Sempre fica
e sempre dá.
— E se não der?
— Vai dar, amor — ela segura minha mão e nos leva para a cama de
novo, subindo na frente e eu atrás, então me aconchego nela, recebendo seu
carinho. — Você lembra o que sonhou? Me conta.
— Não muito bem. Estava bem escuro e ouvia o Brandon gritar, mas era
bem distante e eu não conseguia achá-lo, até que o barulho parava… Foi bem
perturbador.
— Sonhos são respostas do nosso subconsciente, não realidade, Brian. E
isso poderia ser qualquer coisa.
— Não sei…
— Vamos ligar para ele.
— O quê? Não. Está tarde, Amanda.
— O que tem? Você está preocupado. E agora eu também fiquei.
Ela estende a mão ao criado-mudo e pega o celular, fazendo a ligação. É
preciso tentar duas vezes para sermos atendidos.
— Oi, mãe — ele está com a voz meio rouca, não sei se de dormir ou
chorar. — Tá tudo bem?
— Oi, filho. Estamos bem… — ela hesita e respira fundo. — Seu pai
apenas sonhou com você e queria saber se está tudo bem por aí...
— Aham, só estava dormindo. Eu trouxe a Samantha pra nossa fazenda.
Nós arregalamos os olhos, muito surpresos.
— Verdade? — Amanda parece mais surpresa, mas logo tentando se
recuperar. Nossa casa tem história. Muita. — Isso é… bom.
— É isso. Estamos na minha casinha da árvore e tá chovendo. Ela
dormiu e eu… Não consegui, infelizmente.
— O que houve? — eu questiono.
— Eu tô mal, pai. Sei lá. Ela é maravilhosa demais pra mim e… Se um
dia ela quiser me trocar?
Amanda e eu nos olhamos. Céus. Era isso que passava exatamente na
cabeça da minha mulher e percebo o desconforto dela.
— Ela não vai querer isso nunca, filho — sou eu quem digo. — Se ela te
ama, isso nunca vai passar pela cabeça dela.
— Quem garante, pai? Hã? Quem me garante?
— O amor, Brandon.
Ele suspira, parecendo descrente, mas não sou mesmo eu quem posso
mostrar isso a ele, apenas o tempo. Só ele dirá.
— Como foi com o pai dela?
Amanda me olha apreensiva.
— Bem — pigarreio —, nós o levamos para um exame aprofundado e,
talvez isso seja péssimo para ela saber, mas ele está em perfeita saúde. O
problema no braço era a coluna e nada mais.
— Filho da…
— Olha a boca — a mãe o repreende.
— Ela vai ficar arrasada! Ela pensou que o desgraçado estava doente
de verdade. Como ele pôde, pai? A própria filha!
Minha mulher e eu nos encaramos novamente, eu tendo que respirar
bem fundo antes de falar.
— Então, filho, essa também é outra questão. Samantha não é filha dele,
mas sim do irmão. Você sabe a história que ele contou pra ela? — me sento
pra continuar. — O irmão dele era o verdadeiro marido.
— Meu Deus! — ele está tendo a mesma reação que nós.
Philip e Luke fizeram questão de extrair a verdade dele. Afinal, foram
tantos golpes que senti certa pena do cara.
— Ele teve um caso com a cunhada... Ela deixou Samantha com ele para
que pensasse que era sua filha e, quando ela cresceu um pouquinho, ele soube
que não era. Por isso começou a ter raiva dela e tudo o mais... Bem, e deu
nisso.
— Meu Deus… — Brandon repete, mais contido. — Obrigado, pai.
Eu… Vou ter que desligar. Ela tá acordando. Vou enviar um e-mail
importante na parte da manhã, quero que o senhor leia e informe para a
família, por favor. Amo vocês — ele parece abatido, então desliga.
Amanda guarda o celular e me olha, apreensiva.
— Acha que ele vai contar? — pergunta.
— Não sei. É uma decisão dele…
— Fica calmo, Brian — ela me puxa para e beija meus cabelos. — O
que você acha de me atacar para se acalmar mais rápido?
Sorrio, levantando a cabeça.
— Eu não pensei nisso, mas é uma ótima ideia — rastejo até estar sobre
seu corpo.
Amanda é tão maravilhosa pra mim também que eu agradeço aos céus a
cada dia. O que seria de mim sem ela?
— Eu te amo — repito o que faço questão de dizer todos os dias. —
Como nunca pensei amar ninguém.
Ela sorri e circula as pernas em minha cintura, me presenteando com um
beijo delicioso e me fazendo ter plena certeza de que, com ela, a minha vida é
plena e feliz.
E, se eu fosse embora hoje, seria imensa e eternamente grato. Porque ela
foi a minha história.
A minha Amanda linda. Sempre e só minha.
Capítulo 49

2 dias depois…
Estou muitíssimo nervosa. Com tudo. Apesar de ser um pouco triste que
só esteja a família do Brandon aqui. Seria também bom que estivesse a minha
mãe e o meu… pai. Nem isso ele é.
Respiro fundo ao sentir o calor em meus braços e me viro, vendo a Sra.
Mackenzie me olhar com olhos gentis e um sorriso suave.
— Você está linda, Samantha. O meu filho vai se emocionar.
Também sorrio, imaginando que sim, porque Brandon é mesmo emotivo
e costuma chorar facilmente. Ao menos, quando se trata de mim.
— Obrigada por me receberem tão… — respiro fundo, aliviada. — Tão
abertamente na família de vocês... Eu estou muito grata.
— Só peço que faça meu filho feliz. Ou melhor, mantenha-o feliz como
parece estar fazendo — me puxa para um abraço. — E não se preocupe, você
também tem uma família a partir de agora. Nós todos vamos cuidar de você.
Eu evito chorar ao máximo, mas não consigo.
— Não chore, vai borrar a maquiagem — dá um risinho. O abraço dela é
tão bom, apertado, confortador… sincero. Me passando tantas coisas boas e
que nunca senti de alguém realmente, exceto do Brandon.
— Obrigada, Sra. Mackenzie. Inclusive por me deixar ficar com o
Brandon.
Ela ri, se afastando e limpando minhas lágrimas.
— Eu que agradeço por você restaurá-lo, por assim dizer. Agora, vamos
indo que você já demorou mais de quinze minutos e ele deve estar pensando
que desistiu — acaricia meus braços. — Muito nervosa?
— Muitíssimo — respiro fundo mais uma vez, olhando para mim
mesma.
Brandon teve uma ideia louca. Não tanto. Nos casarmos aqui mesmo na
fazenda da família dele, com a presença deles. Infelizmente, a Amy e o
marido não puderam vir porque ela está quase no dia de dar à luz, mas seus
pais trouxeram o Scott e também veio o irmão dele e a esposa, junto com o
filhinho.
Foi algo arrumado bem rápido, só teremos um almoço em família e
amanhã saímos em lua de mel à tarde. Viajaremos para a Espanha, onde ele
sempre quis conhecer. Não foi antes porque não quis, obviamente.
Respiro fundo e deixo que a Sra. Mackenzie me acompanhe para fora,
então caminhamos de mãos dadas pela grama, até alcançar o arco branco.
Logo eu vejo o Brandon. Está lindo, como sempre, vestido em um terno
branco e as mãos juntas em frente ao corpo.
Meu vestido é simples e de renda branca, e estou usando uma tiara de
flores também brancas. Me sinto feliz. Nunca esperei que iria ao menos casar,
isso tudo já está sendo mais do que perfeito. Ter o Brandon já é mais que
perfeito.
Nossos olhares se encontram e eu suspiro inevitavelmente, adorando a
forma como ele me acalma e me faz borbulhar por dentro ao mesmo tempo.
Sra. Mackenzie solta minha mão e eu respiro fundo, sorrindo para ela. O
Sr. Mackenzie toma seu lugar e estende o braço, onde eu seguro e ele
também me dá um sorriso amável. É uma cerimônia linda e mais do que já
pensei. Tem carinho. É também boas-vindas à família. Eu sinto e vejo.
Nós caminhamos até onde Brandon está, ele me olhando de um jeito que
me faz quase chorar. Porque eu vejo e sinto tudo que quer me dizer.
E é tudo que preciso saber.
O Sr. Mackenzie sorri e me entrega ao filho, e nós nos encaramos por
um momento, um breve momento.
Brandon beija minha mão e respira fundo, enquanto ouço alguém
chorar, me perguntando se talvez não seja eu mesma.

ѾѾѾ
— Feliz?
Olho para Brandon ao meu lado, segurando minha mão enquanto
estamos olhando sua família.
— Estou muito — sorrio. — Obrigada.
— Eu também. Estamos casados — dá um risinho, puxando minha mão
e beijando por cima da aliança. — Muitíssimo feliz é pouco pra como estou.
— Você é um amor.
— Ei, amor, eu sinto muito pelo Theo e como as coisas se revelaram pra
você.
— Está tudo bem… — abaixo o olhar, ainda muito surpresa, mas feliz
demais para focar nisso. — Talvez vá doer mais lá na frente, mas sei que
você vai estar comigo, então tudo bem mesmo.
— Eu vou — ele acaricia minha mão. — Se você quiser, nós podemos ir
procurar sua mãe depois… Tenho certeza que podemos arrumar um jeito e…
— Não — o interrompo. — Eu não quero. Tudo que quero é recomeçar
com você, Brandon. Só isso. Deixe o passado no seu lugar. Apenas… Você.
Só você.
Ele sorri, concordando.
— Quando a gente voltar da lua de mel, vamos para a casa nova… Isso
é um problema pra você?
— Não, nenhum. Mas o que aconteceu com ele, com meu pai? — Estou
apreensiva com a resposta.
— Acho que tiraram ele da cidade ou algo assim — Brandon desvia o
olhar, parecendo saber de algo mais, mas não querendo falar tudo,
certamente. — O importante é que você está segura.
— Bem, eu… Deixe como está. Mais uma vez, obrigada.
— Eu que agradeço, gatinha, e não posso negar que tô muito ansioso pra
nossa viagem. Vai ser muito bom e — ele se inclina, sussurrando: — nós
vamos aproveitar bem a cama.
Sorrio, concordando, mas também percebendo que ele está com um
olhar nublado ao falar isso.
— Eu quero que saiba que eu amo tudo em você — digo, porque sei que
o fato de ser infértil o deixa muito triste. — E amo do jeito que é.
Ele fecha brevemente os olhos, soltando uma respiração funda quando
os abre de novo.
— Eu prometo que vou te fazer muito feliz mesmo assim, porque essas
coisas dão pra levar, né? Com amor a gente consegue superar e fica tudo
muito bom. Nós podemos ir à ONG da minha irmã, ver as crianças e…
— Brandon — seguro seu rosto com as duas mãos —, está tudo bem.
Deixe que cada dia aconteça como tem que acontecer, certo?
— Certo — ele segura meus pulsos e tira minhas mãos, me puxando
para um abraço demorado. — A gente vai superar, juntos.
Sorrio, vendo seus pais ao longe, que acenam.
— Nós vamos — reafirmo. — Eu sei que vamos.
Pode parecer algo simples de viver, mas não é. Sombras do passado
ainda estão presentes, que calafrios me percorrem. Tanta notícia ruim, mesmo
em meio a acontecimentos bons, é um pouco doloroso.
Mas a vida é assim. Ela tem dessas aflições, para nos deixar mais fortes,
nos aperfeiçoar... Formar nosso caráter. Sim, de fato. Pode ser difícil, mas, a
plena certeza eu tenho de que, com o Brandon, isso vai se tornar trocentas
vezes mais fácil.
Apesar de tudo, é assim que vai ser: sempre ele e eu.
Sempre.
Epílogo

Eu respiro fundo pela vigésima vez, talvez. Ou mais, é quase certeza.


Estou trêmula dos pés à cabeça e não poderia ser diferente. Como iria?
Brandon está destrancando a porta, eu ouço. E estou aqui, sentada na
sala de estar, não sabendo se rio ou se choro. Estou estranha, ao mesmo
tempo que trêmula.
Eu ouço os passos se aproximarem e logo ele aparece. Lindo como
sempre, é claro, mas parecendo cansado e cabisbaixo.
— Oi, amor — sorri e eu finjo estar escrevendo algo, voltando meu
olhar para o caderno. — Você sabia que a Amy vai fazer a festa de um
aninho da Juliet na fazenda? A gente tem que arrumar as malas — ele
caminha em minha direção. — Ei, o que tá escrevendo aí?
— É... — engulo em seco. — Umas coisas. Como foi com a reunião?
Fecharam o contrato? — o olho.
Brandon senta ao meu lado, muito à vontade.
— Foi tipo muito louco, mas fechamos. O Dean tá maior pirado porque
vai ser pai de novo e o Ethan também, então tudo tá muito conturbado — ele
sorri, mas me dói por dentro saber que está se sentindo mal. — Aí nós vamos
no aniversário da Juliet e todo mundo vai estar maior feliz.
— É verdade… — me viro para ele, toda emocionada.
— E você, aproveitou a folga?
— Muito! — minha resposta é imediata, mas logo pigarreio, me
acalmando. — Bastante.
— Verdade? O que fez?
— Eu… Fui comprar roupas e no dentista.
— Isso é bom. Sabe o que pensei? Que podíamos jantar no restaurante
daquele amigo do meu pai. Eles fazem umas comidas deliciosas — Brandon
parece empolgado de repente e eu desvio o olhar.
Um pequeno silêncio impera e ele o quebra com um suspiro longo.
— Me perdoa, amor — fala de repente, parecendo cabisbaixo. Eu o
olho, sem entender. — Eu sinto que não tô te fazendo feliz como gostaria. É
como se… — ele hesita por muito tempo, mais do que eu gostaria. — Se eu
fosse impotente e não estivesse sendo bom o suficiente pra você, que é tão
boa pra mim.
Levo as mãos ao seu braço, acariciando-o.
— Brandon, por que está dizendo isso?
— Porque… é ruim, amor. Eu olhar ao redor e ver todo mundo sendo
pai e com filhos, e eu não posso te dar isso. Não posso sentir isso que eu vejo
nos olhos deles… É como se eu estivesse me sentindo incompleto... Ou quase
isso, porque estou com você, que é tudo pra mim — me olha. — Mas ainda
falta uma parte nossa. Você sabe disso também, não sabe?
Eu tento sorrir e deixo o caderno no sofá, só para subir em seu colo
beijá-lo com toda minha vontade. Por um tempo relativamente longo,
demonstrando tudo que estou sentindo. Dando tudo de mim, assim como ele
fez e faz comigo.
Quando estamos ofegantes na boca um do outro, ele desce os lábios por
meu pescoço, gemendo baixinho, sempre desejoso quando se trata de nos
amarmos.
— Espere — seguro sua cabeça e o faço me olhar, sorrindo ao ver seus
lábios inchados do nosso beijo. — Eu preciso te contar uma coisa.
— O que houve?
Estendo a mão ao sofá e pego a folha em cima do livro, então entrego a
ele, que segura meio relutante.
— Leia — peço.
Brandon abaixa o olhar e eu começo a respirar irregularmente, enquanto
tempo me segurar de todas as formas possíveis.
— O que é isso? — ele me olha e vejo seu olhar perdido. — O que é
esse positivo com um coração ao redor?
Eu balanço a cabeça afirmativamente, sorrindo de um jeito muito largo.
— Samantha, me fala, o que é isso?
— Deu positivo, Brandon! — começo a rir, não sabendo se choro
também. — O exame. Estou grávida! Vamos ter um filho, amor!
Ele persiste me olhando, então balança a cabeça em negativa, parecendo
não entender.
— Como assim grávida? Do que você está falando?
— É verdade! — pego a folha e mostro. — Estou mesmo!
— De mim?
— Brandon, é claro — bufo, mas rio. — Nós vamos ter um bebezinho,
meu amor!
— Mas… — ele balbucia. — Eu não entendo. Não… Não é possível
isso.
— A persistência realiza o impossível¹ — eu sorrio, segurando seu rosto
para mim. — Oi, papai.
— Sério, Samantha? Você tá falando isso sério? Não é só uma folha
falsa impressa pra eu me sentir menos pior?
— Não — dou risada, então levanto a blusa. — Três semanas com um
Brandon mini.
— Meu Deus… — suas mãos avançam para minha barriga e ele a
acaricia, então vejo lágrimas descerem por seus olhos. — Três semanas? A
gente fez um bebezinho? Deve ter o tamanho de uma abelha — ele ri, meio
trêmulo.
— O abelhinha — eu coloco as mãos por cima das dele, que estão
realmente tremendo.
— Samantha... Eu…
Então talvez eu fique um pouco preocupada quando ele desaba em um
choro alto e descontrolado, uns soluços entrecortados parecendo o deixar sem
ar e eu o abraço com toda minha força e carinho.
É mais do que podemos expressar, eu sei. É o sonho dele tornando-se
realidade e, de alguma forma, o meu também, porque agora teremos uma
família completa.
— Foi tanto amor que não deu para ser de outro jeito, ele se tornou uma
terceira pessoinha — digo contra sua pele, Brandon tentando se acalmar. —
Eu te amo, meu homem maravilhoso.
Ele se afasta, me olhando com os olhos vermelhos e os lábios trêmulos.
— Obrigado, Samantha — sussurra. — Eu nunca vou poder me
expressar pela gratidão que tenho pela sua vida.
— A nossa vida — seguro suas mãos novamente e puxo para minha
barriga.
— Nossa vida — repete e volta ao chorar, eu sorrindo e o abraçando
novamente. — Obrigado por carregar nosso filho, Samantha.
— Obrigado por me fazer carregar nosso filho, Brandon.
É isso. Nossa maravilhosa vida, que eu não tenho palavras para
descrever.
As coisas que acontecem são aprendizados para nós. Um dia você chora,
no outro também. Aquela grande neblina nos seus olhos — aquela, devido às
lágrimas —, vai se dispersar em algum momento. Ela vai, tenha fé. Um dia,
você vai deitar sua cabeça no travesseiro e vai ser para dormir, não para
ensopá-lo com suas lágrimas. Essas mesma dor que você sente agora, ela
também vai sumir, porque você vai ser tão, mas tão feliz, que essas coisas
ruins correrão de você.
E o amor? Ah, o amor... Ele vai chegar tão lindo e de surpresa, que você
vai se questionar se é verdade; não o crendo, irá duvidar. E ele vai ficar. Pra
você, com você e por você. E então será tão feliz, que uma questão irá surgir:
lágrimas existiram em algum momento?
Sorte, destino ou percurso. Eu não sei, mas conosco aconteceu um
milagre, que nunca vamos ser capazes de explicar.
Espere então que, assim, pacientemente, os dias trabalhem, te levando
mais perto do prêmio e deixando para trás todo o tempo de tormento. E você
vai saber e entender, que o que está vivendo é a felicidade. A plena e absoluta
felicidade.
Assim como Brandon e eu: a felicidade que dói de amar.

¹Provérbio Chinês.
“Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se
os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre.”

Albert Einstein
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