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e Saúde Pública
Processo Saúde e Doença
e Indicadores de Saúde
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Compreender, através do estudo do processo saúde e doença, o
referencial teórico da saúde no Brasil.
· Entender a história natural das doenças, a definição de atenção à
saúde e os níveis de prevenção adequados a cada fase.
· Reconhecer a influência que os determinantes sociais de saúde
exercem na condição geral de vida e saúde da população.
· Refletir sobre o tema dos indicadores de saúde e a importância destes
para o planejamento de ações na saúde.
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Fatores sociais:
• Fatores socioeconômicos: os grupos sociais de maior poder aquisitivo estão
menos sujeitos a determinados tipos de doenças. Exemplo: as parasitoses, a
frequência de nascimento de crianças de baixo peso e a mortalidade infantil
são mais prevalentes em grupos economicamente menos favorecidos;
• Fatores sociopolíticos: conceitos relacionados à decisão política, à participação
popular e ao acesso à informação podem contribuir positiva ou negativamente
na prevalência de determinadas doenças. Exemplo: comunidades onde o
acesso às informações relativas à educação sexual é mais efetivo, tendem a ter
menor incidência de doenças sexualmente transmissíveis;
• Fatores socioculturais: a propagação de uma doença pode estar relacionada
aos hábitos, comportamentos, crendices de um grupo populacional. Exemplo:
grandes centros, onde há consumo excessivo de fastfood, exibem maior índice
de obesidade e problemas cardiovasculares;
• Fatores psicossociais: a convivência em um ambiente com estímulos
psicossociais adversos pode influenciar negativamente no processo saúde-
doença. Entre esses estímulos, pode-se citar marginalidade, relações familiares
instáveis, condição de trabalho estressante, desemprego, entre outros.
Exemplo: pessoas com cargas de trabalho excessivas, que sofrem assédio
psicológico no ambiente profissional ou com funções que demandem grande
responsabilidade, são propensas a problemas de saúde física, tais como lesões
cardiovasculares ou musculoesqueléticas.
Fatores ambientais:
• Fatores genéticos: dizem respeito à susceptibilidade individualizada frente à
exposição a um mesmo agente etiológico. Exemplo: algumas mulheres têm
predisposição genética ao desenvolvimento de câncer de mama;
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• Multifatorialidade: o estado final provocador de doença é o resultado do
sinergismo de fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, psicológicos,
genéticos, biológicos, físicos e químicos. Exemplo: doenças cardiovasculares
podem advir do somatório dos diversos fatores citados acima.
O livro de Rita de Cássia Barradas Barata (2009), intitulado Como e por que as desigualdades
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Atenção à Saúde
Atenção seria um conjunto de atividades com o objetivo de manter a condição
de saúde, solicitando ações sobre todos os determinantes do processo saúde-
adoecimento. Essas atividades não se limitam apenas ao setor da saúde, portanto,
são intersetoriais e incluem tanto a assistência individual como aquelas prestadas a
grupos populacionais. Devem ser pautadas nas necessidades da população e são
expressas pela atuação dos serviços de saúde, tanto os de saúde pública, quanto os
de saúde suplementar.
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Níveis de Prevenção
Correspondem ao conjunto de procedimentos que visam prevenir a ocorrência
ou evolução de uma doença e melhorar a saúde de uma população, a partir do
entendimento de sua história natural.
O modelo de Leavell e Clark foi proposto em 1976 para explicar a história
natural da doença, através de três níveis de prevenção: primário – dois níveis de
prevenção –, secundário – um nível de prevenção – e terciário – dois níveis de
prevenção. Na proposta de Leavell e Clark consta:
• Prevenção primária: primeiro nível (promoção à saúde) – relaciona-se com
medidas de ordem geral e educativas para criar condições favoráveis para
a melhoria da resistência e do bem-estar do indivíduo durante a fase de
susceptibilidade do período pré-patológico. Está relacionada diretamente à
qualidade de vida do ser humano. Exemplos: hábitos alimentares, atividade
física, boas condições de moradia, lazer etc.;
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• Prevenção primária: segundo nível (proteção específica) – é quando são
aplicadas medidas dirigidas especificamente contra um determinado agravo à
saúde, a fim de que os indivíduos resistam às agressões dos agentes. Ocorre
durante a fase de susceptibilidade do período pré-patológico. Exemplos:
imunizações, iodo no sal, flúor na água de abastecimento, aconselhamento
genético, combate aos criadouros de mosquitos causadores da dengue etc.;
• Prevenção secundária: terceiro nível (diagnóstico precoce e tratamento ime-
diato) – nos agravos à saúde que foram impossibilitados de serem evitados, deve-
-se detectar os mais precocemente possíveis processos patogênicos já instalados
para que o tratamento se inicie o mais cedo possível. Relaciona-se à fase pa-
tológica pré-clínica do período patológico. Exemplos: exame de Papanicolau,
autoexame de mama ou oral, dosagem de glicemia, isolamento para evitar pro-
pagação de doenças, tratamento para evitar a progressão de doença etc.;
• Prevenção secundária: quarto nível (limitação do dano) – o cuidado é aplicado
aos casos em que o processo de adoecimento está completamente instalado, a
fim de que seja possível a cura ou, na impossibilidade dessa, que as sequelas ou
complicações sejam as menores possíveis. Exemplos: amputações em trombo-
ses, evitar futuras complicações em enfermidades crônicas como diabetes melli-
tus, hipertensão, problemas psiquiátricos, doenças autoimunes, Aids etc.;
• Prevenção terciária: quinto nível (reabilitação) – no último nível de
prevenção, o processo saúde-doença alcançou uma estabilidade a longo
prazo com a cura, porém acompanhada de sequelas, portanto, o objetivo é
conseguir a manutenção em equilíbrio funcional para que as limitações afetem
minimamente a qualidade de vida dos indivíduos e do meio em que se inserem.
Exemplos: reabilitação física através do uso de próteses ou fisioterapia, apoio
psicoemocional, terapia ocupacional, inserção no mercado de trabalho.
Quadro 1
Período pré-patológico Período patológico
Fase de susceptibilidade Fase patológica Fase clínica Fase residual
Proteção Diagnóstico e
Promoção à saúde Limitação do dano Reabilitação
específica Tratamento precoce
1º nível 2º nível 3º nível 4º nível 5º nível
Nutrição, Papanicolau, Amputação,
Vacinas, flúor Próteses, fisioterapia
atividade física autoexame bucal endodontia, exodontia
Atenção/prevenção primária Atenção/prevenção secundária Atenção/prevenção terciária
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Princípios Modernos da Promoção da Saúde
Desde a Carta de Ottawa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem promo-
vendo diversas conferências para a construção de uma Nova Promoção de Saúde
(NPS), no sentido de reforçar, aprimorar e aprofundar as ações e os conceitos
discutidos em 1986, na Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da
Saúde – em Ottawa, Canadá. Progressos diversos foram alcançados nessas confe-
rências, os quais são sintetizados em sete princípios, a saber:
• Concepção holística de saúde: as ações devem ser dirigidas não apenas a
questões médicas, mas a necessidades relacionadas ao dia a dia das populações.
As causas primárias dos problemas podem estar relacionadas à situação
econômica e/ou social, portanto, à saúde física, mental, social e espiritual, de
modo que essas têm estreitos laços com as determinações social, econômica
e ambiental;
• Empoderamento: apresenta-se como um processo que deve ser construído e
conquistado aos poucos, a fim de que as pessoas possam ter entendimento e
controle sobre suas forças pessoais, sociais, econômicas e políticas, de modo
que tenham efetivo poder para transformar as diversas situações sociais que
restringem ou ameaçam sua saúde, proporcionando melhoria na própria
qualidade de vida;
• Equidade: garantir acesso universal à saúde, considerando as especificidades
dos diferentes grupos sociais e reconhecendo que a manutenção da saúde sofre
interferência de determinantes como renda, habitação, educação e, portanto,
não se pode pensar em ações universais, mas sim em políticas embasadas
nas particularidades de cada comunidade, pois só assim se poderá alcançar a
equidade em termos de distribuição da saúde;
• Intersetorialidade: articulação de diferentes setores de atividade social
integrando esforços, experiências e saberes, visando alcançar melhores
resultados em situações complexas. Para isso, faz-se necessária alteração nas
práticas e na cultura organizacional das administrações que ainda seguem o
modelo tradicional de fragmentação e desarticulação das ações;
• Participação social: deve ser articulada ao empoderamento para que a
população seja capaz de discutir, elaborar e avaliar os projetos em saúde;
• Ações multiestratégicas: referem-se a um variado elenco de disciplinas, saberes
e ações de abordagens distintas que são chamadas a contribuir positivamente
nos processos de saúde-doença. Entre essas ações, podem ser citadas:
desenvolvimento de políticas, mudanças organizacionais, desenvolvimento
comunitário, questões legislativas, educacionais e do âmbito da comunicação;
• Sustentabilidade: a promoção de saúde deve estimular o desenvolvimento
econômico sustentável que não prejudique os recursos naturais e socioculturais
das populações. Almeja-se ainda que a saúde seja pensada como fundamental
para a vivência em um ambiente preservado e saudável.
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Prevenção Quaternária
Proposto por Jamoulle, médico de família e comunidade belga, o conceito de
prevenção quaternária visa atenuar o excesso de intervenção e medicalização, tanto
diagnóstica quanto terapêutica. Esse nível de prevenção, conhecido também como
prevenção da iatrogenia, prevenção da prevenção, busca capacitar a população
para tomar decisões autônomas, proteger-se de intervenções inapropriadas e optar
por alternativas eticamente aceitáveis. Em suma, os cuidados médicos devem ser
científica e medicamente aceitáveis, garantindo o máximo de qualidade com o
mínimo de intervenção possível.
Assista ao vídeo, produzido pelo Canal Saúde, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz
Explor
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• Relações e contatos que os indivíduos possuem, condição chamada de “capital
social”, analisando a saúde das populações em torno da coesão social,
solidariedade e confiança entre as pessoas e grupos. O desgaste dessas relações
é um mecanismo importante, pelo qual as iniquidades socioeconômicas
impactam de maneira negativa na situação da saúde.
Assista à entrevista com Rita Barradas Barata sobre como e porque as desigualdades sociais
Explor
Indicadores de Saúde
Os indicadores são medidas-síntese que contêm informação relevante
sobre determinados atributos e dimensões do estado de saúde, bem
como do desempenho do sistema de saúde. Vistos em conjunto, devem
refletir a situação sanitária de uma população e servir para a vigilância das
condições de saúde. A construção de um indicador é um processo cuja
complexidade pode variar desde a simples contagem direta de casos de
determinada doença, até o cálculo de proporções, razões, taxas ou índices
mais sofisticados, como a esperança de vida ao nascer.
Fonte: <https://goo.gl/sbBD78>.
Destaque será dado para aqueles que traduzem diretamente a situação de saúde
em um grupo populacional, conforme o Quadro abaixo:
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Quadro 2
Indicador Definição Indicador Definição
Indivíduos que adquirem determinada
doença em um certo período de
tempo em certa população. Indivíduos que morreram em um
Morbidade Mortalidade dado intervalo de tempo. Risco ou
Analisa uma situação existente, avalia probabilidade de pessoas morrerem.
o cumprimento dos objetivos, metas e
mudanças ao longo do tempo.
Número de casos novos da doença
Relação entre o total de óbitos de um
em um determinado local e período. Coeficiente de
Incidência determinado local pela população
Mede a frequência ou probabilidade mortalidade geral
exposta ao risco de morrer.
de riscos novos.
Número total de casos de uma Mede a proporção de crianças que
Coeficiente de
Prevalência doença, os quais existentes em um morrem antes de um ano de vida em um
mortalidade infantil
determinado local e período. dado local e período.
Investiga um surto de doença em uma
Coeficiente de Mede os riscos de morrer por uma
Taxa de ataque população definida. É expressa em
mortalidade por causa determinada causa.
percentual.
Acesse o site da Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa). Há neste link uma
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Quadro 3 – Morbidade
Quadro 4 – Incidência
Número de casos novos de uma doença, ocorridos em uma população em determinado período x 10n
Total da população
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Calcule, então, a incidência mensal da dengue:
Quadro 5 – Prevalência
Número de casos existentes de uma doença, ocorridos em uma população em determinado período x 10n
Total da população
Número de óbitos por determinada causa (ou grupo de causas), no período x 100000
População no mesmo período
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Que o governo do Estado de São Paulo anunciou, em outubro de 2016, que a taxa de
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mortalidade infantil caiu 65% nos últimos 25 anos? A queda da taxa é uma tendência em todo
o País, segundo o IBGE. Em 2014, foram 11,4 óbitos por 1.000 crianças nascidas, enquanto
em 2015, foram 10,7 mortes por 1.000 crianças nascidas, uma redução considerável.
https://goo.gl/XLJmCP
Quadro 9
P=I.D
I=P/D
D=P/I
Risco relativo é o cálculo dos riscos de expostos e não expostos a virem a ser atin-
gidos pela doença-objeto de um estudo. Pode ser apresentado pelo seguinte Quadro:
Quadro 10
População Atingidos Não atingidos Total
Expostos a b a+b
Não expostos c d c/c+d
Total a+c b+d a+c/t
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Quadro 11
Quadro 12
Quadro 13
Quadro 15
IE= 35 / 80 = 43,75%
INE= 10 / 70 = 14,28%
RR = IE / INE = 43,75 / 14,28 = 3,06
Há, portanto, 3 vezes mais chance de ocorrer câncer de pulmão em fumantes.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Indicadores e Dados Básicos para a saúde no Brasil (IDB)
https://goo.gl/OYQ1KD
Livros
Epidemiologia – Indicadores de Saúde e Análise de Dados
Capítulos 3, 6 e 7 do livro Epidemiologia – indicadores de saúde e análise de dados, de
Tatiana Brassea Galleguillos (2014);
Epidemiologia
Capítulos 2 e 3 do livro Epidemiologia, de Roberto A. Medronho e Adaulto José
Gonçalves Araújo (2006).
Vídeos
Como e Porque as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde – Entrevista com Rita Barradas Barata
https://youtu.be/nBWdUkQe6Q0
Promoção da Saúde Conceitos, Reflexões, Tendências
vídeo do Canal Saúde, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
https://youtu.be/iFdRj5BIRS8
Leitura
Política Nacional de Promoção da Saúde – Do Ministério da Saúde
https://goo.gl/8R3brd
Prevenção Quaternária na Atenção Primária à Saúde: Uma Necessidade do Sistema Único de Saúde (SUS)
https://goo.gl/oEFwwO
As Redes de Atenção à Saúde
https://goo.gl/jGw7b5
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