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Epidemiologia

e Saúde Pública
Processo Saúde e Doença
e Indicadores de Saúde

• História Natural da Doença


• Atenção à Saúde
• Níveis de Prevenção
• Promoção da Saúde na Modernidade
• Relação Prevalência Versus Incidência

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Compreender, através do estudo do processo saúde e doença, o
referencial teórico da saúde no Brasil.
· Entender a história natural das doenças, a definição de atenção à
saúde e os níveis de prevenção adequados a cada fase.
· Reconhecer a influência que os determinantes sociais de saúde
exercem na condição geral de vida e saúde da população.
· Refletir sobre o tema dos indicadores de saúde e a importância destes
para o planejamento de ações na saúde.
UNIDADE Processo Saúde e Doença e Indicadores de Saúde

História Natural da Doença


É o nome dado às inter-relações entre o agente, o susceptível e o meio ambiente,
formando o que se chama de tríade da saúde. Portanto, engloba desde o estímulo
patológico no meio ambiente, a resposta do homem a esse estímulo, até as altera-
ções que podem resultar em um defeito, invalidez, morte ou recuperação.

Tradicionalmente, a história natural de qualquer processo mórbido pode ser


dividida em dois períodos sequenciais: epidemiológico e patológico. No epidemio-
lógico, chamado também de pré-patogênico, são englobadas as relações entre o
agente – hospedeiro – meio ambiente, antes de o indivíduo adoecer; no patológico,
relacionam-se as modificações fisiopatológicas que se passam no organismo vivo.

Período epidemiológico – pré-patogênese – interesse dirigido à relação


suscetível-ambiente. Fatores sociais e ambientais, os quais:

Fatores sociais:
• Fatores socioeconômicos: os grupos sociais de maior poder aquisitivo estão
menos sujeitos a determinados tipos de doenças. Exemplo: as parasitoses, a
frequência de nascimento de crianças de baixo peso e a mortalidade infantil
são mais prevalentes em grupos economicamente menos favorecidos;
• Fatores sociopolíticos: conceitos relacionados à decisão política, à participação
popular e ao acesso à informação podem contribuir positiva ou negativamente
na prevalência de determinadas doenças. Exemplo: comunidades onde o
acesso às informações relativas à educação sexual é mais efetivo, tendem a ter
menor incidência de doenças sexualmente transmissíveis;
• Fatores socioculturais: a propagação de uma doença pode estar relacionada
aos hábitos, comportamentos, crendices de um grupo populacional. Exemplo:
grandes centros, onde há consumo excessivo de fastfood, exibem maior índice
de obesidade e problemas cardiovasculares;
• Fatores psicossociais: a convivência em um ambiente com estímulos
psicossociais adversos pode influenciar negativamente no processo saúde-
doença. Entre esses estímulos, pode-se citar marginalidade, relações familiares
instáveis, condição de trabalho estressante, desemprego, entre outros.
Exemplo: pessoas com cargas de trabalho excessivas, que sofrem assédio
psicológico no ambiente profissional ou com funções que demandem grande
responsabilidade, são propensas a problemas de saúde física, tais como lesões
cardiovasculares ou musculoesqueléticas.

Fatores ambientais:
• Fatores genéticos: dizem respeito à susceptibilidade individualizada frente à
exposição a um mesmo agente etiológico. Exemplo: algumas mulheres têm
predisposição genética ao desenvolvimento de câncer de mama;

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• Multifatorialidade: o estado final provocador de doença é o resultado do
sinergismo de fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, psicológicos,
genéticos, biológicos, físicos e químicos. Exemplo: doenças cardiovasculares
podem advir do somatório dos diversos fatores citados acima.

Período patológico – patogênese – inicia-se com as primeiras ações que


os agentes patogênicos exercem sobre o homem. Engloba todas as alterações
fisiológicas, bioquímicas, histológicas decorrentes do curso da doença no orga-
nismo e culmina com uma das opções: morte, invalidez, cronicidade ou recu-
peração. A saber:
• Interação estímulo-suscetível: presença de todos os fatores necessários para
o aparecimento da doença, sem que essa esteja presente. Exemplo: presença
de sedentarismo, hipercolesterolemia e fumo aumentam a probabilidade de
desenvolvimento de doença coronariana;
• Alterações bioquímicas, histológicas e fisiológicas: já existe a implan-
tação da doença, porém em um estado subclínico, de modo que pode ser
percebida através de exames clínicos minuciosos ou laboratoriais. Exemplo:
suspeita da presença de diabetes quando o paciente relata na anamnese di-
ficuldade de cicatrização;
• Sinais e sintomas: antes confusos, tornam-se nítidos. É chamado de estágio
clínico e a evolução poderá culminar em morte, invalidez, cronicidade ou recu-
peração. Exemplo: em uma amigdalite, o paciente relata dificuldade de deglu-
tição, febre, mal-estar, dor de garganta, caracterizando claramente a doença;
• Cronicidade: a doença pode persistir por um longo período de tempo e pode,
em algum momento, evoluir para uma situação de cura, invalidez ou até morte.
Exemplo: asma, diabetes, doenças autoimunes etc.

O livro de Rita de Cássia Barradas Barata (2009), intitulado Como e por que as desigualdades
Explor

sociais fazem mal à saúde?, é rico em reflexões e questionamentos. No seu contexto,


enfatiza que o enfrentamento das desigualdades sociais em saúde não é possível apenas
pelo levantamento e análise quantitativa/epidemiológica, mas sim pela associação aos
aspectos subjetivos existentes por trás de cada determinante da saúde-doença.

Atenção à Saúde
Atenção seria um conjunto de atividades com o objetivo de manter a condição
de saúde, solicitando ações sobre todos os determinantes do processo saúde-
adoecimento. Essas atividades não se limitam apenas ao setor da saúde, portanto,
são intersetoriais e incluem tanto a assistência individual como aquelas prestadas a
grupos populacionais. Devem ser pautadas nas necessidades da população e são
expressas pela atuação dos serviços de saúde, tanto os de saúde pública, quanto os
de saúde suplementar.

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Ao se mencionar atenção à saúde, é preciso destacar que há uma clássica opo-


sição entre essa e a assistência à saúde. Portanto, para esclarecimento é preciso
definir que a assistência é um conjunto de procedimentos clínico-cirúrgicos presta-
dos aos indivíduos, estando estes doentes ou não.

Ações da Atenção à Saúde


As ações propostas pela atenção à saúde devem buscar a integralidade, com foco
no atendimento de todas as necessidades de saúde, englobando desde a prevenção
até a reabilitação, sendo necessário para isso estender as atividades para setores
extra saúde, através de atividades intersetoriais.

Como dito, as ações preventivas ou terapêuticas podem ser destinadas tanto


à assistência individual, por exemplo, vacina, restauração dentária, sutura etc.;
como aos grupos populacionais, de caráter coletivo, ações essas exemplificadas
por atividades de educação em saúde através de palestras, dinâmicas de grupo,
debates, propagandas publicitárias, entre outras.

Eis alguns exemplos de programas de atenção à saúde criados pelo Ministério


da Saúde:
• Programa de Atenção Integral à Saúde do Adulto (Paisa);
• Programa de Atenção à Saúde da Mulher (Paism);
• Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança (Paisc);
• Programa de Atenção à Saúde do Adolescente (Prosad);
• Programa de Atenção à Saúde do Trabalhador (Past);
• Programa de Assistência Integral à Saúde do Idoso (Paisi).

Níveis de Prevenção
Correspondem ao conjunto de procedimentos que visam prevenir a ocorrência
ou evolução de uma doença e melhorar a saúde de uma população, a partir do
entendimento de sua história natural.
O modelo de Leavell e Clark foi proposto em 1976 para explicar a história
natural da doença, através de três níveis de prevenção: primário – dois níveis de
prevenção –, secundário – um nível de prevenção – e terciário – dois níveis de
prevenção. Na proposta de Leavell e Clark consta:
• Prevenção primária: primeiro nível (promoção à saúde) – relaciona-se com
medidas de ordem geral e educativas para criar condições favoráveis para
a melhoria da resistência e do bem-estar do indivíduo durante a fase de
susceptibilidade do período pré-patológico. Está relacionada diretamente à
qualidade de vida do ser humano. Exemplos: hábitos alimentares, atividade
física, boas condições de moradia, lazer etc.;

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• Prevenção primária: segundo nível (proteção específica) – é quando são
aplicadas medidas dirigidas especificamente contra um determinado agravo à
saúde, a fim de que os indivíduos resistam às agressões dos agentes. Ocorre
durante a fase de susceptibilidade do período pré-patológico. Exemplos:
imunizações, iodo no sal, flúor na água de abastecimento, aconselhamento
genético, combate aos criadouros de mosquitos causadores da dengue etc.;
• Prevenção secundária: terceiro nível (diagnóstico precoce e tratamento ime-
diato) – nos agravos à saúde que foram impossibilitados de serem evitados, deve-
-se detectar os mais precocemente possíveis processos patogênicos já instalados
para que o tratamento se inicie o mais cedo possível. Relaciona-se à fase pa-
tológica pré-clínica do período patológico. Exemplos: exame de Papanicolau,
autoexame de mama ou oral, dosagem de glicemia, isolamento para evitar pro-
pagação de doenças, tratamento para evitar a progressão de doença etc.;
• Prevenção secundária: quarto nível (limitação do dano) – o cuidado é aplicado
aos casos em que o processo de adoecimento está completamente instalado, a
fim de que seja possível a cura ou, na impossibilidade dessa, que as sequelas ou
complicações sejam as menores possíveis. Exemplos: amputações em trombo-
ses, evitar futuras complicações em enfermidades crônicas como diabetes melli-
tus, hipertensão, problemas psiquiátricos, doenças autoimunes, Aids etc.;
• Prevenção terciária: quinto nível (reabilitação) – no último nível de
prevenção, o processo saúde-doença alcançou uma estabilidade a longo
prazo com a cura, porém acompanhada de sequelas, portanto, o objetivo é
conseguir a manutenção em equilíbrio funcional para que as limitações afetem
minimamente a qualidade de vida dos indivíduos e do meio em que se inserem.
Exemplos: reabilitação física através do uso de próteses ou fisioterapia, apoio
psicoemocional, terapia ocupacional, inserção no mercado de trabalho.

Quadro 1
Período pré-patológico Período patológico
Fase de susceptibilidade Fase patológica Fase clínica Fase residual
Proteção Diagnóstico e
Promoção à saúde Limitação do dano Reabilitação
específica Tratamento precoce
1º nível 2º nível 3º nível 4º nível 5º nível
Nutrição, Papanicolau, Amputação,
Vacinas, flúor Próteses, fisioterapia
atividade física autoexame bucal endodontia, exodontia
Atenção/prevenção primária Atenção/prevenção secundária Atenção/prevenção terciária

Os profissionais de saúde são responsáveis por estimular, em situações de incerteza, a


Explor

análise conjunta ao paciente antes da tomada de decisão. No auxílio existe atualmente um


tema bastante explorado, que é a epidemiologia clínica, fundamento da “Medicina baseada
na evidência”, ou “Medicina baseada na prova”, ou seja, qualquer intervenção deve ser
ponderada e analisada frente aos seus riscos.

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Promoção da Saúde na Modernidade


O modelo de níveis de prevenção de Leavell e Clark foi mantido durante décadas,
porém, após a Conferência Internacional de Promoção à Saúde, em Ottawa,
Canadá (1986), o entendimento de promoção da saúde sofreu algumas alterações,
passando a relacionar as doenças às condições e modos de vida de uma população,
deixando para trás um modelo preventivista tradicional.
A Carta de Ottawa propôs também cinco campos de ação principais para a
promoção da saúde (DEMARZO; AQUILANTE, 2008), descritos a seguir:
• Implementação de políticas públicas saudáveis: priorização da saúde por
parte dos políticos e dirigentes em todos os níveis e setores, buscando maior
equidade e distribuição mais equitativa de renda e políticas sociais. A adoção
das políticas públicas saudáveis deve ser estabelecida por qualquer setor da
sociedade, mesmo naqueles que não estão diretamente ligados à saúde, devem
demonstrar potencial para produzir saúde socialmente;
• Criação de ambientes saudáveis: a saúde, por ser socialmente produzida
enquanto modo de vida, de trabalho e de lazer, está intimamente ligada à cons-
trução de uma sociedade saudável. Portanto, a promoção da saúde deve gerar
condições de trabalho e de vida gratificantes, agradáveis, seguras e estimulan-
tes. Além disso, a proteção do meio ambiente e a conservação dos recursos
naturais devem fazer parte de qualquer estratégia de promoção da saúde;
• Reforço da ação comunitária: a elaboração de estratégias para alcançar um
melhor nível de saúde deve contar com a participação social, tanto do Estado
como da sociedade civil, os quais são responsáveis pelas ações de promoção
à saúde. A comunidade deverá passar por um processo de empoderamento,
onde terá acesso às informações e se tornará capaz de participar das decisões
e da elaboração e desenvolvimento de estratégias;
• Desenvolvimento de habilidades individuais e coletivas: proporcionar o
desenvolvimento pessoal e social através da divulgação de informação, educação
à saúde por meio de programas de formação e atualização que capacitem os
indivíduos à participação e criação de ambientes de apoio à promoção da
saúde. Assim, a população terá maior controle sobre sua própria saúde e sobre
o meio ambiente e terá opções que conduzam a estilos de vida saudáveis. As
ações devem se realizar através de organizações educacionais, profissionais,
comerciais e voluntárias, bem como pelas instituições governamentais;
• Reorientação de serviços de saúde: a responsabilidade pela promoção da
saúde por parte dos serviços sanitários deve ser dividida entre os indivíduos,
grupos comunitários, profissionais da saúde, instituições e serviços sanitários
e governos. Os serviços de saúde devem ampliar seu acesso com equidade,
porém respeitando as peculiaridades culturais, focando nas necessidades
globais do indivíduo em sua integralidade, estimulando a comunidade a ter
uma vida mais saudável, criando meios de comunicação entre o setor sanitário
e os setores sociais, políticos e econômicos.

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Princípios Modernos da Promoção da Saúde
Desde a Carta de Ottawa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem promo-
vendo diversas conferências para a construção de uma Nova Promoção de Saúde
(NPS), no sentido de reforçar, aprimorar e aprofundar as ações e os conceitos
discutidos em 1986, na Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da
Saúde – em Ottawa, Canadá. Progressos diversos foram alcançados nessas confe-
rências, os quais são sintetizados em sete princípios, a saber:
• Concepção holística de saúde: as ações devem ser dirigidas não apenas a
questões médicas, mas a necessidades relacionadas ao dia a dia das populações.
As causas primárias dos problemas podem estar relacionadas à situação
econômica e/ou social, portanto, à saúde física, mental, social e espiritual, de
modo que essas têm estreitos laços com as determinações social, econômica
e ambiental;
• Empoderamento: apresenta-se como um processo que deve ser construído e
conquistado aos poucos, a fim de que as pessoas possam ter entendimento e
controle sobre suas forças pessoais, sociais, econômicas e políticas, de modo
que tenham efetivo poder para transformar as diversas situações sociais que
restringem ou ameaçam sua saúde, proporcionando melhoria na própria
qualidade de vida;
• Equidade: garantir acesso universal à saúde, considerando as especificidades
dos diferentes grupos sociais e reconhecendo que a manutenção da saúde sofre
interferência de determinantes como renda, habitação, educação e, portanto,
não se pode pensar em ações universais, mas sim em políticas embasadas
nas particularidades de cada comunidade, pois só assim se poderá alcançar a
equidade em termos de distribuição da saúde;
• Intersetorialidade: articulação de diferentes setores de atividade social
integrando esforços, experiências e saberes, visando alcançar melhores
resultados em situações complexas. Para isso, faz-se necessária alteração nas
práticas e na cultura organizacional das administrações que ainda seguem o
modelo tradicional de fragmentação e desarticulação das ações;
• Participação social: deve ser articulada ao empoderamento para que a
população seja capaz de discutir, elaborar e avaliar os projetos em saúde;
• Ações multiestratégicas: referem-se a um variado elenco de disciplinas, saberes
e ações de abordagens distintas que são chamadas a contribuir positivamente
nos processos de saúde-doença. Entre essas ações, podem ser citadas:
desenvolvimento de políticas, mudanças organizacionais, desenvolvimento
comunitário, questões legislativas, educacionais e do âmbito da comunicação;
• Sustentabilidade: a promoção de saúde deve estimular o desenvolvimento
econômico sustentável que não prejudique os recursos naturais e socioculturais
das populações. Almeja-se ainda que a saúde seja pensada como fundamental
para a vivência em um ambiente preservado e saudável.

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Prevenção Quaternária
Proposto por Jamoulle, médico de família e comunidade belga, o conceito de
prevenção quaternária visa atenuar o excesso de intervenção e medicalização, tanto
diagnóstica quanto terapêutica. Esse nível de prevenção, conhecido também como
prevenção da iatrogenia, prevenção da prevenção, busca capacitar a população
para tomar decisões autônomas, proteger-se de intervenções inapropriadas e optar
por alternativas eticamente aceitáveis. Em suma, os cuidados médicos devem ser
científica e medicamente aceitáveis, garantindo o máximo de qualidade com o
mínimo de intervenção possível.

Assista ao vídeo, produzido pelo Canal Saúde, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz
Explor

(Fiocruz), sobre o livro Promoção da saúde – conceitos, reflexões, tendências.


https://youtu.be/iFdRj5BIRS8

Determinantes Sociais de Saúde


Os fatores sociais, econômicos, étnicos/raciais, culturais, psicológicos e com-
portamentais que influenciem a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de
risco na população constituem os Determinantes Sociais de Saúde (DSS).

De maneira resumida, são definidos pela OMS como as condições sociais em


que as pessoas vivem e trabalham. Em decorrência disso, não se pode explicar da
mesma forma as diferenças no estado de saúde dos indivíduos expostos a diferentes
condições de vida e trabalho. Isso implica no fato de que as diferenças de saúde entre
grupos humanos resultam de hábitos e comportamentos construídos socialmente
– e não por fatores biológicos. Dito de outra forma, são as desigualdades sociais
as mais determinantes no processo saúde-doença, principalmente na produção
das iniquidades em saúde, que é o principal foco de estudo em se tratando dos
determinantes sociais em saúde.

As iniquidades podem ser produzidas por diversos mecanismos, de acordo com


o enfoque dado em:
• Aspectos físicos e materiais, onde as diferenças de renda influenciam a
saúde devido à escassez de recursos e falta de infraestrutura comunitária.
A alimentação, por exemplo, é um dos mais importantes determinantes
sociais da saúde e seu acesso e qualidade sofrem influência direta dos fatores
socioeconômicos, comportamentais e culturais;
• Aspectos psicossociais, que levam os indivíduos a perceberem de modo
diferente as desigualdades sociais, baseados em suas experiências distintas;
• Integração de aspectos pessoais e grupais, sociais e biológicos de maneira
dinâmica, onde se consideram as características individuais, relacionamento
com o grupo, com o mundo e com a natureza;

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• Relações e contatos que os indivíduos possuem, condição chamada de “capital
social”, analisando a saúde das populações em torno da coesão social,
solidariedade e confiança entre as pessoas e grupos. O desgaste dessas relações
é um mecanismo importante, pelo qual as iniquidades socioeconômicas
impactam de maneira negativa na situação da saúde.

Diversos são os modelos que procuram esquematizar a rede de relações entre


os diversos fatores estudados através desses multiplos enfoques. O modelo de
Dahlgren e Whitehead exemplifica bem, já que inclui os DSS dispostos em diferentes
camadas, desde uma camada mais próxima ao indivíduo, relacionado aos fatores
comportamentais e de estilos de vida, até uma camada mais distante, relacionada
às políticas de saúde em um âmbito mais abrangente.

Assista à entrevista com Rita Barradas Barata sobre como e porque as desigualdades sociais
Explor

fazem mal à saúde.


https://youtu.be/nBWdUkQe6Q0

Indicadores de Saúde
Os indicadores são medidas-síntese que contêm informação relevante
sobre determinados atributos e dimensões do estado de saúde, bem
como do desempenho do sistema de saúde. Vistos em conjunto, devem
refletir a situação sanitária de uma população e servir para a vigilância das
condições de saúde. A construção de um indicador é um processo cuja
complexidade pode variar desde a simples contagem direta de casos de
determinada doença, até o cálculo de proporções, razões, taxas ou índices
mais sofisticados, como a esperança de vida ao nascer.

Fonte: <https://goo.gl/sbBD78>.

Os indicadores devem ser capazes de analisar a situação atual de saúde,


possibilitar fazer comparações, avaliar tanto as mudanças ocorridas ao longo do
tempo, como a execução das ações em saúde. Alguns exemplos de indicadores em
saúde são aqueles que:
• Traduzem diretamente a situação de saúde em um grupo populacional.
Exemplo: mortalidade e morbidade;
• Referem-se às condições ambientais que influenciam a área de saúde.
Exemplo: abastecimento de água, rede de esgotos;
• Medem os recursos materiais e humanos relacionados às atividades de saúde.
Exemplo: número de profissionais de saúde e de leitos hospitalares em relação
à população.

Destaque será dado para aqueles que traduzem diretamente a situação de saúde
em um grupo populacional, conforme o Quadro abaixo:

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Quadro 2
Indicador Definição Indicador Definição
Indivíduos que adquirem determinada
doença em um certo período de
tempo em certa população. Indivíduos que morreram em um
Morbidade Mortalidade dado intervalo de tempo. Risco ou
Analisa uma situação existente, avalia probabilidade de pessoas morrerem.
o cumprimento dos objetivos, metas e
mudanças ao longo do tempo.
Número de casos novos da doença
Relação entre o total de óbitos de um
em um determinado local e período. Coeficiente de
Incidência determinado local pela população
Mede a frequência ou probabilidade mortalidade geral
exposta ao risco de morrer.
de riscos novos.
Número total de casos de uma Mede a proporção de crianças que
Coeficiente de
Prevalência doença, os quais existentes em um morrem antes de um ano de vida em um
mortalidade infantil
determinado local e período. dado local e período.
Investiga um surto de doença em uma
Coeficiente de Mede os riscos de morrer por uma
Taxa de ataque população definida. É expressa em
mortalidade por causa determinada causa.
percentual.

Acesse o site da Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa). Há neste link uma
Explor

série de documentos de grande interesse sobre indicadores e informações em saúde.


http://www.ripsa.org.br

Quadro 3 – Morbidade

Número de casos de uma doença em uma população em determinado período x 10n


Total da população

Exemplo: no Município de Franca, SP, que tem uma população de 318.640


habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
(2010), ocorreram 980 internações por doenças no ano de 2010. Calcule, então,
a taxa de morbidade hospitalar desse munícipio:

980 / 318640 = 3,07 x 103

Taxa de morbidade = 3,07 indivíduos doentes a cada 1.000 habitantes.

Quadro 4 – Incidência

Número de casos novos de uma doença, ocorridos em uma população em determinado período x 10n
Total da população

Exemplo: em uma população de 13.432 habitantes, o estudo epidemiológico


da dengue demonstrou para o ano de 2016:
• Janeiro: 12 casos de dengue;
• Janeiro + fevereiro: 146 casos de meningite.

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Calcule, então, a incidência mensal da dengue:

Entre janeiro e fevereiro houve 134 novos casos.


134 / 13432 = 0,0099 = 9,9 x 103

Quadro 5 – Prevalência

Número de casos existentes de uma doença, ocorridos em uma população em determinado período x 10n
Total da população

Exemplo: há no Brasil, 12.054.827 diabéticos. Sabendo-se que a população


brasileira é de 210.519.434, calcule a prevalência:

12054827 / 210519434 = 5,72 x 102


Taxa de morbidade = 5,72 indivíduos diabéticos a cada 100 habitantes.

Quadro 6 – Coeficiente de mortalidade geral

Número total de óbitos, no período X 1000


População total, no mesmo período

Exemplo: no ano de 2016, morreram 1.112.520 pessoas no Brasil. Sabendo que


a população do nosso país é de 210.519.434, calcule o coeficiente de mortalidade:

1112520 / 210519434 = 5,28 x 103


Taxa de mortalidade = 5,28 indivíduos a cada 1.000 habitantes.

Quadro 7 – Coeficiente de mortalidade por causa

Número de óbitos por determinada causa (ou grupo de causas), no período x 100000
População no mesmo período

Exemplo: no Brasil, que conta com 210.519.434 habitantes, morrem 200.000


pessoas por causa do hábito de fumar. Qual é a taxa de mortalidade causada pelo fumo:

200000 / 210519434 = 9,5 x 104


Taxa de mortalidade por causa (tabagismo) = 9,5 indivíduos
fumantes foram a óbito a cada 10.000 habitantes.

Quadro 8 – Coeficiente de mortalidade infantil

Número de óbitos de crianças menores de um ano de idade, no período x 1000


Número de nascidos vivos, no mesmo período

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Exemplo: no ano de 2005, em um município do interior de Minas Gerais, ocor-


reram 12 óbitos de menores de 1 ano. Nesse mesmo ano, nasceram 569 crianças.
Calcule, então, o coeficiente de mortalidade infantil por 1.000 nascidos vivos:
12 x 1000 / 569 = 21,08

Taxa de mortalidade infantil = 21,08 crianças menores


de 1 ano foram a óbito a cada 1.000 habitantes.

Outros coeficientes de mortalidade infantil podem ser utilizados, porém, a


fórmula de cálculo é semelhante à apresentada acima – o único detalhe é o período
de idade que se diferencia:

Mortalidade neonatal precoce (0 a 6 dias), neonatal tardia (7 a 27 dias) e pós-


neonatal (28 a 364 dias).

Que o governo do Estado de São Paulo anunciou, em outubro de 2016, que a taxa de
Explor

mortalidade infantil caiu 65% nos últimos 25 anos? A queda da taxa é uma tendência em todo
o País, segundo o IBGE. Em 2014, foram 11,4 óbitos por 1.000 crianças nascidas, enquanto
em 2015, foram 10,7 mortes por 1.000 crianças nascidas, uma redução considerável.
https://goo.gl/XLJmCP

Relação Prevalência Versus Incidência


A Prevalência (P) varia proporcionalmente com o produto da Incidência (I) pela
Duração (D):

Quadro 9

P=I.D
I=P/D
D=P/I

Risco relativo é o cálculo dos riscos de expostos e não expostos a virem a ser atin-
gidos pela doença-objeto de um estudo. Pode ser apresentado pelo seguinte Quadro:

Quadro 10
População Atingidos Não atingidos Total
Expostos a b a+b
Não expostos c d c/c+d
Total a+c b+d a+c/t

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Quadro 11

Incidência nos expostos (IE)


a
a+b

Quadro 12

Incidência nos não expostos (INE)


c
c+d

Quadro 13

Risco Relativo (RR)


Inc. expostos → a / (a + b) / c / (c + d)
Não expostos

Exemplo: um estudo feito em 150 indivíduos para avaliar a relação de


causalidade entre o hábito de fumar e câncer de pulmão revelou que entre as 80
pessoas que fumavam, 35 apresentaram câncer de pulmão; enquanto nas 70 que
não fumavam, foram somente 10 casos desse tipo de câncer.

Quadro 14 – Câncer de pulmão


Fumantes Sim Não Total
Sim 35 45 80
Não 10 60 70
Total 45 105 150

Quadro 15

IE= 35 / 80 = 43,75%
INE= 10 / 70 = 14,28%
RR = IE / INE = 43,75 / 14,28 = 3,06
Há, portanto, 3 vezes mais chance de ocorrer câncer de pulmão em fumantes.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Indicadores e Dados Básicos para a saúde no Brasil (IDB)
https://goo.gl/OYQ1KD

 Livros
Epidemiologia – Indicadores de Saúde e Análise de Dados
Capítulos 3, 6 e 7 do livro Epidemiologia – indicadores de saúde e análise de dados, de
Tatiana Brassea Galleguillos (2014);
Epidemiologia
Capítulos 2 e 3 do livro Epidemiologia, de Roberto A. Medronho e Adaulto José
Gonçalves Araújo (2006).

 Vídeos
Como e Porque as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde – Entrevista com Rita Barradas Barata
https://youtu.be/nBWdUkQe6Q0
Promoção da Saúde Conceitos, Reflexões, Tendências
vídeo do Canal Saúde, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
https://youtu.be/iFdRj5BIRS8

 Leitura
Política Nacional de Promoção da Saúde – Do Ministério da Saúde
https://goo.gl/8R3brd
Prevenção Quaternária na Atenção Primária à Saúde: Uma Necessidade do Sistema Único de Saúde (SUS)
https://goo.gl/oEFwwO
As Redes de Atenção à Saúde
https://goo.gl/jGw7b5

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