Você está na página 1de 11

BIENAL, 70 ANOS

A história dos 70 anos da Bienal de São Paulo, dividida por décadas

BIENAL, 70 ANOS

Bienal, 70 anos #1: De


improviso a obras de
Picasso, podcast conta
como a mostra surgiu
Mais Bienal, 70 anos
1 | 1

Bienal, 70 anos #1: De improviso a obras de Picasso, podcast conta como a mostra
surgiu
Siga o UOL no
Do UOL, em São Paulo
03/07/2021 04h01
O podcast "Bienal, 70 anos" estreia neste sábado (03) uma
temporada de dez episódios que contam a história do evento,
realizado pela primeira vez em 1951. Com apresentação de
Marina Person, a coprodução do UOL e Fundação Bienal de São
Paulo divide os primeiros episódios em décadas: cada programa
entrelaça as histórias das bienais e o cenário cultural e social
daquela época. As publicações serão sempre aos sábados. Ouça o
primeiro episódio completo no arquivo acima.
O programa de estreia traz a década de 50, quando tudo
começou. Foi em meio a um clima de improviso, inclusive com
artistas ajudando a pendurar as obras e organizar as peças, que
surgiu o evento em São Paulo. No pavilhão do Trianon —onde
futuramente seria construído o Masp (Museu de Arte de São
Paulo)— quase duas mil obras vindas de 25 países formaram a
primeira edição da Bienal.
O momento em São Paulo, no início da década de 50, era
marcado por um boom de crescimento. Nessa época, a família de
Francisco Matarazzo, um imigrante de origem italiana, era dona
do maior grupo industrial da América Latina. E seu sobrinho
Ciccillo Matarazzo usou sua fortuna para revolucionar a cena
cultural de São Paulo.
Inauguração da 1ª Bienal de São Paulo, com Ciccillo Matarazzo,
o criador da mostra, ao centro
Imagem: Autor desconhecido/Fundação Bienal de São Paulo/Arquivo Histórico Wanda Svevo

Foi Ciccillo quem fundou o MAM (Museu de Arte Moderna de


São Paulo), além de estar por trás da criação de outras ações
inovadoras na área da cultura, como o Teatro Brasileiro de
Comédia e a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. A Bienal de
São Paulo foi uma iniciativa inovadora: na época, só tinha a
Bienal de Veneza. A ideia era ousada e um tanto megalomaníaca:
Ciccillo conseguiu trazer para o Brasil quase 2 mil obras de 25
países diferentes.

Grande parte do sucesso da primeira Bienal se deu por conta de


Yolanda Penteado, esposa do Ciccillo. A tia de Yolanda, Olívia
Guedes Penteado, foi uma das grandes patrocinadoras do
modernismo no Brasil e era amiga de artistas como Tarsila do
Amaral, Oswald de Andrade e Heitor Villa-Lobos.
Yolanda Penteado (à direita) na inauguração da 1ª Bienal de São
Paulo, em 1951
Imagem: Peter Scheier/Fundação Bienal de São Paulo/Arquivo Histórico Wanda Svevo
Yolanda cresceu em um ambiente inundado pelas artes e nele
inseriu Ciccillo. Para trazer as obras para a primeira Bienal de
Artes de São Paulo, Yolanda viajou para diversos países da
Europa com a missão de convencer os países (e os artistas) a
participar do novo evento.

A seleção das obras da primeira Bienal tinha os trabalhos de


Pablo Picasso, Alberto Giacometti, René Magritte, entre tantos
outros. A festa de abertura reuniu 5 mil convidados, entre a nata
da elite política, econômica e cultural do país. Já do lado de fora,
o clima era outro. Militantes políticos e sindicalistas protestavam.
Para eles, o evento era parte do imperialismo americano e essa
influência iria corromper os artistas.

Em 1953, aconteceu a segunda edição da Bienal, que coincidiu


com as festas do aniversário de 400 anos da cidade de São Paulo.
Mais uma vez, Yolanda e Ciccillo deixaram um legado cultural.
Teve peças do americano Alexander Calder, conhecido pelas
obras que lembram grandes móbiles. Do norueguês Edvard
Munch, famosíssimo pela tela "O Grito", e do francês Marcel
Duchamp, que chocou o mundo da arte ao colocar um mictório na
sala de exposição. Entre os brasileiros, Alfredo Volpi, conhecido
por suas bandeirinhas, e Di Cavalcanti, que pintava figuras
populares do Brasil.

Foto feita na inauguração da 1ª Bienal de São Paulo. Ao centro,


Darcy Vargas (ex-primeira-dama), Yolanda Penteado (primeira-
dama da Bienal) e Maria Kareska (cantora). Em segundo plano,
da esquerda para a direita, os artistas Victor Brecheret, Tarsila do
Amaral, Carlos Prado, Robert Tatin, Marcelo Grassmann, Bruno
Giorgi, Frans Krajcberg e Paulo Rossi Osir
Imagem: Cav. Giov. Strazza/Fundação Bienal de São Paulo/Arquivo Histórico Wanda Svevo

Mas a grande marca foi a presença da obra Guernica, considerada


uma das mais famosas de Pablo Picasso, e que estava sob tutela
do Moma (Museu de Arte Moderna) de Nova York.

A tela —com três metros e meio de altura por quase 8 metros de


comprimento— é um ícone do protesto contra a guerra. Pintada
em azul, branco e preto, retrata um evento dramático da Guerra
Civil Espanhola, um bombardeio nazista sobre Guernica, cidade
do país Basco.
Na 2ª Bienal de São Paulo, a grande marca foi a presença da obra
Guernica, considerada uma das mais famosas de Pablo Picasso
Imagem: Autor desconhecido/Fundação Bienal de São Paulo/Arquivo Histórico Wanda Svevo

Após longas negociações com cartas, telegramas e um trajeto que


durou meses e envolveu uma viagem de navio e até mesmo um
caminhão atolado em lama (na chegada a São Paulo), um dos
grandes símbolos das comemorações do quarto centenário entrou
na Bienal. Ciccillo, que era o responsável pela organização das
festividades, conseguiu incluir a exposição nas comemorações e
encabeçou a comissão responsável pela construção do Parque
Ibirapuera. O projeto foi concebido pelo arquiteto Oscar
Niemeyer.

O evento teve mais de 100 mil visitantes. O secretário da Bienal


de Veneza, a grande inspiração e referência para Ciccillo, teria
dito: "A 2ª Bienal de São Paulo quebrou 50 anos de tradição de
Veneza. Os paulistas realizaram em dois anos o que levamos 50
anos para conseguir". A primeira Bienal fez muito barulho, mas
foi a segunda que trouxe a consagração.
Montagem da 1ª Bienal de São Paulo. Na imagem, a obra 'Attic',
de Willem de Kooning
Imagem: Peter Scheier/Fundação Bienal de São Paulo/Arquivo Histórico Wanda Svevo

Além de muita história e curiosidades, este 1º episódio do podcast


traz entrevistas com Luiz Ernesto Kawall, jornalista dos anos 50 e
fundador do Museu da Imagem e do Som, a atriz Gabriela Hess,
sobrinha-bisneta de Yolanda, Marcos Mantoan, pesquisador da
vida e da obra de Yolanda Penteado, além do crítico e curador
Agnaldo Farias.

O programa será dividido por décadas até o sétimo episódio. O


oitavo será dedicado à 34ª edição, que acontece a partir de 4 de
setembro de 2021 no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, em São Paulo.
O nono episódio trata da Bienal além das bienais, enquanto o
décimo responde às perguntas do público sobre arte e sobre o
evento. Mande sua dúvida para o email 70anos@bienal.org.br,
que ela pode ser respondida no programa.

Você pode acompanhar o podcast "Bienal, 70 anos" no Youtube,


no Spotify, na Apple Podcasts, no Google Podcasts, na Amazon
Music e também no site bienal.org.br/70anos.
COMUNICAR ERRO

Você também pode gostar