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Tipos de barragens e
causas de acidentes
TIPOS DE BARRAGENS E CAUSAS DE ACIDENTES
Unidade 1
1. Definição
Segundo o Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB), barragens são obstáculos
artificiais com a capacidade de reter água, qualquer outro líquido, rejeitos, detritos, para
fins de armazenamento ou controle; podem variar em tamanho desde pequenos
maciços de terra, usados frequentemente em fazendas, a enormes estruturas de
concreto ou de aterro, geralmente usadas para fornecimento de água, de energia
hidrelétrica, para controle de cheias e para irrigação, além de diversas outras
finalidades.
A Lei 12.334/2010, que estabelece a Política Nacional de Segurança de
Barragens, define barragens como qualquer estrutura em um curso permanente ou
temporário de água para fins de contenção ou acumulação de substâncias líquidas ou
de misturas de líquidos e sólidos, compreendendo o barramento e as estruturas
associadas.
2. Histórico
Historicamente, as barragens permitem a coleta e armazenamento de água em
períodos de abundância para uso em períodos de seca. Foram essenciais para o
estabelecimento e o sustento de cidades e fazendas, e para o abastecimento de
alimentos por meio da irrigação de plantações.
Há registros de barragens simples de terra e rede de canais para abastecimento
de água desde 2.000 a.C. em descobertas arqueológicas na China e Síria.
Em 750 a.C. a barragem de Marib no Iêmen levou 100 anos para ser construída
e constituía um maciço de terra com 4m de altura e aberturas em pedra para regular as
descargas para irrigação e uso doméstico. Em 1986 a barragem existente foi elevada à
38m de altura. A Figura 1 apresenta a comporta de pedra (a) e a barragem após ser
alteamento (b).
3. Finalidade
Atualmente as barragens têm diversas finalidades, como:
Abastecimento de água
Irrigação
Controle de cheias
Contenção de rejeitos
Navegação interior
Piscicultura
Regularização das vazões
Geração de energia elétrica
Paisagismo e urbanismo
Dessendentação
Segundo dados do CBDB (2018) a maioria das barragens no Brasil são para
geração de energia elétrica, conforme pode ser visto na Figura 2, seguido por combate
à seca e abastecimento.
4. Tipos de barragens
As barragens podem ser classificadas quanto ao seu material de construção em
três grandes grupos: barragens de concreto, de aterro e de rejeitos.
4.1 Barragens de concreto
As barragens de concreto podem ser barragens de concreto gravidade,
gravidade aliviada, contrafortes ou arco.
a) Barragem de concreto gravidade
A barragem de concreto gravidade tem sua estabilidade garantida pelo peso
próprio da estrutura. A Figura 3 mostra um exemplo de uma barragem de concreto
gravidade na usina hidrelétrica Governador Jayme Canet Júnior (Mauá), na cidade de
Telêmaco Borba - PR.
c) Barragem em contrafortes
A barragem de concreto em contrafortes também visa a redução do volume de
concreto, utilizando para tal lajes de sustentação (contrafortes) ao longo do corpo da
barragem, vide Figura 7, esse concreto também é estrutural (armado). Na usina
hidrelétrica de Itaipu também há barragem em contrafortes, conforme apresentado na
Figura 8.
d) Barragem em arco
As barragens em arco são bem mais esbeltas que as anteriores e são
construídas em vales fechados, onde a relação entre a largura da crista e a altura da
barragem for menor que 2,5.
A estabilidade da barragem é garantida pela forma curva, que faz com que as
pressões da água sejam transferidas, em grande parte, para as ombreiras. Porém, para
que essa transferência de cargas seja eficiente é necessário que o vale seja estreito e
regular.
a) Barragem de terra
As barragens de terra são construídas com solos de granulometria fina a grossa
com permeabilidade baixa. Esse solo é compactado em camadas delgadas por meio de
rolos compactadores.
A Figura 11 apresenta uma seção típica de uma barragem de terra, que
normalmente possui taludes com inclinações entre 2H:1V a 3H:1V. É possível notar
também o filtro da barragem no meio da seção e na parte inferior a jusante, esse filtro é
de um material mais drenante que o solo da barragem, normalmente areia, e serve para
direcionar a água percolada dentro do corpo da barragem, mantendo o talude de jusante
seco para uma melhor condição de estabilidade.
Essa análise de estabilidade através dos métodos de equilíbrio limite deve ser
feita para diferentes casos de carregamento, como final de construção (antes do
enchimento do reservatório), regime permanente (operação) e rebaixamento rápido do
reservatório. Esse último caso consiste em um rebaixamento do reservatório, onde
ainda não houve tempo para a linha freática no talude de montante se dissipar, o que
reduz a sua estabilidade. Ele pode ocorrer em função da abertura de comportas de um
vertedouro, por exemplo.
b) Barragens de terra-enrocamento
Nas barragens de terra-enrocamento o aterro é feito com fragmentos de rocha,
compactados em camadas com rolos vibratórios pesados, vide Figura 14.
No Brasil, segundo dados do CBDB (2018), 63% das barragens existentes são
de terra homogênea, seguida pelas barragens de concreto gravidade e depois,
enrocamento (vide Figura 23).
Topografia do local
Condições geológicas e geotécnicas das fundações
Desvio do rio
Vertedouro
Materiais de construção
Clima e fatores hidrológicos
Meio ambiente
Prazo
Custo
De forma geral, as barragens de rejeito são formadas por duas etapas, a primeira
etapa consiste na construção de um dique de partida composto de solo ou enrocamento
compactado e a segunda etapa corresponde à construção contínua e conjunta com a
operação da mina, através de alteamentos sucessivos executados com solos
compactados ou com a fração grossa do rejeito arenoso.
As barragens alteadas com o próprio rejeito tornam-se vantajosas devido ao
baixo custo, quando comparadas às convencionais.
Existem três métodos construtivos para o alteamento de barragens de rejeito,
conforme pode ser visualizado na Figura 25, são eles: montante, jusante e linha de
centro.
A escolha de um ou outro método de execução irá depender de uma série de
fatores relacionados ao tipo, características geotécnicas e nível de produção de rejeitos,
necessidade de reservar água, necessidade de controle de água percolada,
sismicidade, topografia, hidrologia, hidrogeologia e geologia local e custos envolvidos.
1. Barragens e segurança
As barragens trazem diversos benefícios, como o fornecimento de água para
abastecimento humano, para produção agrícola, para energia hidrelétrica e para usos
industriais e recreativos, além do controle de cheias e da disposição de rejeitos. No
entanto, elas podem gerar danos graves em caso de ruptura e desastres ambientais.
Visando a segurança de uma barragem, o objetivo seria eliminar o risco de
ruptura, mas como não se consegue alcançar isso totalmente, deve-se reduzi-lo o
máximo possível.
Diversos problemas são crescentes ao longo da vida útil da barragem, como:
Para evitar o piping pelas fundações, a permeabilidade das fundações pode ser
controlada ou diminuída por meio de injeções de impermeabilização, construção de cut-
offs, paredes diafragmas de cimento e argila, cortinas de estacas prancha ou tapetes
impermeáveis, conforme Figura 32.
2.5 Liquefação
A liquefação pode gerar a ruptura de uma barragem, principalmente barragens
de rejeito, e consiste em um processo onde o material granular passa a se comportar
como um líquido.
Existem diversos métodos para determinação do potencial de liquefação de um
material, sendo que é o mais simples é analisando a granulometria do solo, conforme
Figura 37.
Problemas de drenagem
Recuo da ombreira esquerda
Liquefação dos rejeitos arenosos
No projeto original da barragem de Fundão foi planejado depositar rejeitos
arenosos por detrás de um dique de partida em aterro compactado, em seguida, alteá-
lo pelo método de montante, conforme Figura 38. Essas areias, por sua vez, iriam reter
lama depositada por detrás delas de tal forma que os dois materiais não se misturariam.
Para preservar as características drenantes das areias, uma praia de rejeitos
com largura de 200 m foi especificada para evitar que lamas presentes na água se
depositassem perto da crista da barragem onde impediriam a drenagem. Além disso,
um sistema de drenagem de alta capacidade na base do dique de partida permitiria que
a água escorresse das areias, reduzindo assim a saturação.
Figura 38 – Projeto original da barragem de Fundão
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