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MILLER, J.-A. “Percurso de Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1987, p. 97.
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pois não têm como função ordenar o gozo. Eles expressam um gozo solto, sem
sintoma. Se, no sentido clássico, o sintoma traz uma satisfação inconsciente,
nos novos sintomas não há enigma: o sujeito sabe do que goza.
Miller vai refletir sobre o que denomina de “novas formas do sintoma” no curso
O Outro que não existe e seus comitês de ética, em que ele e Laurent se
debruçam sobre a inexistência do Outro e suas conseqüências. Aborda essa
questão em outros textos, tais como: “O sintoma e o cometa” e “A teoria do
parceiro”, que são versões revistas de aulas deste seminário. Tais dados
parecem indicar que este curso concentra as primeiras formulações de Miller
sobre as novas formas de apresentação do sintoma.
2
SOLLER, C. A psicanálise na civilização. Rio de Janeiro: Contra Capa livraria, 1998, p. 17.
3
MILLER, J.-A. “O sintoma e o cometa”. Opção Lacaniana, n° 19. S. Paulo: Edições Eólia, 1997,
p. 9.
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inquietude de cada um de nós [...] de talvez não ser mais tão novo assim [...]
E o culto do novo, de modo inexorável, faz do próprio sujeito um objeto
obsoleto, um dejeto”4. Desta forma, “a única coisa que resistiria ao caráter
sintomático do sempre novo é um novo sintoma”5. Não por acaso estamos na
época da invenção do objeto a e de sua subida ao zênite da civilização, na qual
o novo aparece como “forma contemporânea da pulsão de morte”.6
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MILLER, J.-A &. LAURENT, E. Curso de Orientação Lacaniana (1996-97), L’Autre qui n’existe
pas et ses comités d’ethique. Aula de 5 /03/1997. Inédito. Tradução da autora.
5
MILLER, J.-A. “O sintoma e o cometa”. Em: Opção Lacaniana, op. cit., p. 6.
6
MILLER, J.-A &.Laurent, E. Curso de Orientação Lacaniana (1996-97). Aula de 5/03/1997.
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FREUD, S. “Estudos sobre a histeria” (1895). Em: Obras completas. Rio de Janeiro, Imago,
1976, vol.II.
8
FREUD, S. “Notas sobre um caso de neurose obsessiva” (1909). Em: Obras completas, Rio de
Janeiro: Imago, 1976, vol X.
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presente, como se depreende de “Inibição, sintoma e angústia”9, a busca
permanente e insistente de satisfação, a compulsão à repetição de uma
primeira satisfação marcada por um excesso, em que o sintoma aparece como
solução satisfatória substituta: o gozo na prática obsessiva.
9
FREUD, S. “Inibições, sintomas e ansiedade” (1926). Em: Obras completas. Rio de Janeiro:
Imago, 1976, vol. XX.
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MILLER, J.-A. “O sintoma e o cometa”, op.cit., p. 9.
11
Idem, Ibidem.
12
MILLER, J.-A. Os circuitos do desejo na vida e na análise. Rio de Janeiro: Contra Capa livraria,
2000, p.172. Ver: ”A teoria do parceiro”.
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como ao desprazer, e que se apresenta de forma repetitiva, compulsiva e
inadiável. O sujeito está preso a um objeto único, insubstituível, o objeto
droga.
A queda do Outro paterno aponta para uma fusão, para uma ausência de
intervalo entre o sujeito da contemporaneidade e os objetos que lhe são
oferecidos pela ciência. Eles estão à disposição para seu puro gozo, sem que
seja necessário passar pelo desejo, como se não houvesse defasagem entre o
buscado e o encontrado, ou, em outras palavras, como se a relação sexual
fosse possível. Aqui fica foracluída a questão de que é, justamente, a recusa
da demanda que produz insatisfação, então transformada em desejo, que
conduz ao ideal do eu.13
13
LACAN, J. O Seminário, livro 5: As formações do inconsciente (1957-58). Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1998, p. 344.
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sempre foi uma promessa do capitalismo e da ciência. Aliás, o discurso
capitalista incrementa o desregramento das pulsões pela oferta compulsiva de
objetos, criando necessidades e ofertando-se para tamponá-las. Diante deste
Outro não barrado, que se apresenta sem falta, o sujeito materializa o objeto a
na comida, na droga, no corpo, etc. Diante da fragilidade da castração, o
sujeito faz sintomas que lhe afirmam que a falta existe.
Miller define os novos sintomas como uma ampliação da noção de sintoma. Diz
ele: “o que chamamos de novos sintomas diz respeito sobretudo a que a
psicanálise se apodere de novos dados, se estenda e que ela estenda o
sintoma”17..” Essa extensão seria necessária para incluir a nova versão do
sintoma enquanto prática que não se dirige ao Outro: “a extensão da
psicanálise à toxicomania participa deste empuxo ao dizer [...] enquanto “o
toxicômano pode muito bem se arranjar com o não dizer [...]”. Temos então
14
MILLER, J.-A. “O sintoma e o cometa”, op. cit., p. 9.
15
LACAN, J. “Intervenção no encerramento das jornadas de cartéis” (1975) Em: Documentos
para uma Escola, n° 0. Rio de Janeiro: Letra Freudiana, p.113.
16
MILLER, J.-A & Laurent, E. Curso de Orientação Lacaniana (1996-97). Aula de 2/04/1997.
Inédito, tradução da autora.
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Idem, ibidem.
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nos novos sintomas um conflito: “o empuxo ao dizer social e o não dizer
subjetivo entram em conflito direto”.18
Isto permite dizer, segundo Miller, que os novos sintomas não são sintomas
freudianos, por não se referirem a um disfuncionamento subjetivo que toma
como parâmetro o Ideal. Na ausência do Ideal, eles se tornam uma forma de
funcionamento do sujeito, uma prática adotada pelo sujeito, sem queixa .20
Aqui, segundo Miller, cabe introduzir uma dimensão do sintoma essencial para
Lacan conforme abordado em RSI: “é preciso acreditar nisso para que aí haja
21
sintoma”.
18
Idem, ibidem.
19
Idem, ibidem.
20
MILLER, J. -A. Os circuitos do desejo na vida e na análise, op. cit., p.174.
21
MILLER, J.-A. & LAURENT, E. Curso de Orientação Lacaniana (1996-97). Aula de 2/04/1997.
Inédito. Tradução da autora.
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MILLER, J.-A. “O sintoma e o cometa”, op. cit., p. 9.
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Os novos sintomas, apesar de seu mutismo e autismo, ou seja, embora
práticas que não se dirigem ao Outro, são acessíveis de alguma forma pela
palavra. Daí a crença do psicanalista na possibilidade de transformar um novo
sintoma num sintoma analítico. É isso que está em causa na clínica da
contemporaneidade. Miller chama atenção para a questão do consentimento do
sujeito a que se cole nele um sintoma.
O que fazer para que um sujeito que acredita ter encontrado a “solução feliz”
para elidir as questões mais cruciais do humano – a não relação sexual, a
divisão subjetiva, questões que, não cessando de se escrever, tensionam
exigindo significação – abandone tal panacéia para deixar aparecer seu
sintoma?
Tarrab considera que para ”mover algo desta fixação é preciso reconstruir o
Outro, para que surja o efeito sujeito, como resposta do real, [...] ali onde a
resposta da época é a de pôr um objeto do mundo no lugar da inexistência do
objeto”.24
23
MILLER, J.-A & Laurent, E. Curso de Orientação Lacaniana (1996-97). Aula de 2/04/1997.
Inédito. Tradução da autora.
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TARRAB, M. “Produzir novos sintomas”. Em: Correio, n° 52. Em: Belo Horizonte: EBP, março
de 2005, p. 37.
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pode passar desapercebido ao sujeito”. Assim, apenas num segundo momento
da análise, o sujeito teria condições de se perguntar pelo sentido de seu
sintoma.25
Quem é este Outro diante do qual o sujeito não tem nada a dizer? Parece que
estamos diante da questão da presença constante deste Outro sem falta, o
Outro da ciência, portador de todas respostas, que se estende como uma rede
que aprisiona, não obstante seus furos, e ao qual Miller se refere como “pas-
tout partout”. Ou seja, o nãotodo em todos os lugares, por não haver todo
universal, nem existência do Um26. Diante deste Outro, o analista opera no
sentido de extrair algo deste Outro não barrado para que o sujeito possa
advir.Transformar um novo sintoma em sintoma analítico é apostar na
transformação de uma prática de gozo num sintoma clássico, num sintoma
interpretável, inscrito na estrutura da linguagem. Para tanto é preciso,
segundo Miller, convencer o viciado, a anoréxica, o doente do pânico de que é
possível conferir um sentido a seu sintoma.27
O que temos, como psicanalistas, a dizer aos que sofrem dos novos sintomas é
que continuamos a acreditar que a aposta na psicanálise é válida. Cabe
inventar, no caso a caso, como pô-la em prática.
25
MILLER, J.-A. “O sintoma e o cometa”, op. cit., p. 9.
26
MILLER, J.-A & LAURENT, E. Curso de Orientação Lacaniana (1996-97). Aula de 4/12/1996.
Inédito. Tradução da autora.
27
MILLER, J.-A. “O sintoma e o cometa”, op. cit., p. 9.
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