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transformam crianças em
adultos medíocres
Uma reflexão acerca do sistema
educacional que desperdiça talentos e faz
do estudo um desprazer.
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O mundo muda cada vez mais rapidamente. Para transpor os novos desafios, precisase, mais do que nunca,
de pessoas que pensem criticamente e ajam proativamente. Pessoas capazes de olhar para os problemas e
conceber soluções. Capazes de analisar, inovar, criar e reinventar.
Contraditoriamente, não é esse tipo de pessoas que estamos formando.
Logo nos primeiros anos de vida, inserimos as crianças em um sistema educacional que as converte em
adultos consumidores, e não criadores de conhecimento. Adultos que deixam de explorar seus talentos para se
By Hidrafil, via Wikimedia Commons
enquadrar em padrões medianos. Adultos que tiveram sua criatividade tolhida e seu pensamento crítico
inibido. Adultos que não buscam ideias e conhecimentos por conta própria.
Eis algumas razões pelas quais o modelo educacional vigente é obsoleto e as sequelas deixadas em cada um
que passa por ele.
Assim como em uma indústria, as escolas agrupam os seus alunos em lotes: as chamadas turmas. Em uma sala
de aula, cada lote passa por uma rotina repetitiva, na qual profissionais especializados — os professores —
desempenham seus papeis de maneira departamentalizada, ensinando conteúdos isoladamente, mesmo que
na verdade todo o conhecimento esteja entrelaçado, e não segmentado em pacotes de disciplinas. Sirenes
tocam indicando que é hora da aula atual ser interrompida para dar lugar à próxima. Quando os alunos já
passaram por vários anos de repetições diárias desse ciclo, recebem o rótulo de “formados”, o que significa
que o lote está pronto para ir para o mercado.
Infelizmente, não para por aí. Além de fábricas, as escolas também possuem características de presídios. Elas
cerceiam a liberdade dos alunos. Todos têm hora para entrar, hora para ir para o pátio e hora para sair. Há
inspetores vigiando os estudantes e punições — advertências, suspensões, expulsões — para os que tiverem mau
comportamento.
Esse conjunto de medidas faz com que as escolas suprimam o desejo de aprender, ao invés de despertar a
curiosidade e estimular a inteligência. Tomando emprestada a metáfora do fascinante educador Rubem Alves,
podese concluir que as escolas, em sua maioria, são gaiolas, quando na verdade deveriam ser asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros
desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados
são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono
pode leválos para onde quiser. Pássaros engaiolados
sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros.
Porque a essência dos pássaros é o voo.
Escolas que são asas não amam pássaros
engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo.
Existem para dar aos pássaros coragem para voar.
Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o
voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser
ensinado. Só pode ser encorajado.
Rubem Alves
O modus operandi que norteia o funcionamento de praticamente todas as
escolas é o mesmo há muitas décadas. As poucas mudanças que aconteceram
não foram de caráter educacional, e sim cultural, como o surgimento das escolas
mistas e o fim dos internatos. Fora isso, as escolas em que você estudou seguem
os mesmos paradigmas das escolas em que seus avós estudaram. Salas de aula,
lousas, cadernos e a velha relação dual: “o professor ensina e o aluno aprende”.
As escolas ensinam que a democracia surgiu na Grécia Antiga, mas não despertam nos alunos o pensamento
crítico para avaliar o nosso cenário político e tomar melhores decisões. As escolas ensinam equações de
segundo grau e logaritmos, mas não instruem sobre noções básicas de economia ou finanças pessoais. As
escola ensinam o que são dígrafos e sujeitos desinenciais, mas não formam pessoas que saibam explorar os
recursos da linguagem na hora de se comunicar com clareza.
Padronização do ensino
O ensino é o mesmo para todos. Um aluno que se interessa mais por uma
determinada área não tem, dentro da maioria das escolas, a oportunidade de se
aprofundar nela. Alunos com capacidades e interesses distintos são agrupados
simplesmente por terem idades iguais, freando o desenvolvimento dos que têm
mais facilidade e ignorando as necessidades especiais dos que possuem
dificuldades. Além disso, as escolas conduzem o ensino sempre da mesma
maneira, ignorando o fato de que cada aluno se adapta melhor a um tipo de aprendizado: visual, auditivo,
cinestésico, entre outros.
Ao passar por todas as falhas desse modelo educacional, as crianças não ficam ilesas de suas consequências:
redução da capacidade criativa, desprezo pelo ato de estudar, pouca habilidade para pensar por si próprias,
estresse e acúmulo de muitas informações dispensáveis.
O mundo mudou, mas as escolas continuam presas a décadas atrás. Ao invés de doutrinar os alunos para se
tornarem cidadãos obedientes e passivos, elas precisam estimulálos a pensar de maneira inovadora e lidar
com problemas reais — que são muito diferentes de um enunciado aguardando uma resposta decorada.
Quando isso acontecer, chegaremos ao cerne da resolução de boa parte dos problemas contemporâneos.
E, quiçá, de uma verdadeira revolução.
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”
— Nelson Mandela