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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA

PEDAGOGIA

ERIKA AGUIAR SILVA

SÍNTESE DO TEXTO “O CRIME” – A ABOLIÇÃO

SALVADOR, 2021.
ERIKA AGUIAR SILVA

SÍNTESE DO TEXTO “O CRIME” – A ABOLIÇÃO

O presente trabalho visa sintetizar o conteúdo do


texto O crime retirado do livro A Abolição de
Joaquim Nabuco. Este trabalho servirá como
avaliação da disciplina de História da Civilização
Brasileira I.

Carlos Eugenio Libano Soares

SALVADOR, 2021.
SUMÁRIO

1. Introdução ........................................................................................................ 3
2. O Crime da Escravidão..................................................................................... 5
3. O Escravo e a Religião Católica ...................................................................... 6
4. A filosofia e a Bíblia ......................................................................................... 7
5. A Mãe e o filho Escravos ................................................................................ 8
6. O Preto Tomás ................................................................................................ 9
7. Conclusão ....................................................................................................... 9
8. Referências bibliográficas .............................................................................. 10
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1. INTRODUÇÃO

Nascido em 19 de agosto de 1849, no Recife, PE, Joaquim Aurélio Barreto


Nabuco de Araújo é um dos escritores mais importantes da época da abolição. Ele
faleceu em 17 de janeiro de 1910, na cidade de Washington nos EUA. Filho do
senador José Tomás Nabuco de Araújo e Ana Benigna Barreto Nabuco, estudou
humanidades no Colégio Pedro II e fez bacharel em Letras. Em 1865, foi para São
Paulo cursar Direito e voltou, em 1869, à sua terra natal onde concluiu seus estudos
no ano seguinte. O retorno de Nabuco ao Recife foi fundamental para seu futuro,
marcando sua trajetória como abolicionista.
Nesse período, em 1870, Joaquim Nabuco começou a redigir seu livro A
Escravidão, aos 21 anos de idade, no entanto, a publicação só ocorreu 79 anos após
a sua morte, em 1949, pela revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
mediante a doação dos escritos por sua viúva Evelina Nabuco em comemoração ao
centenário do nascimento de Nabuco. A Escravidão é o primeiro livro escrito no Brasil
a respeito dos males relativos ao tema da escravidão feitos por Portugal em nossa
nação. Nabuco o escreveu na época em que morava com o dr. Jesuino Augusto de
Santos Melo e seu amigo de faculdade, Sancho de Barros Pimentel.
No início, nas considerações gerais, Nabuco escreve sobre o mal causado pela
escravidão na sociedade e na família, sob o ponto de vista ético, e faz, ainda, uma
análise da escravidão sob a visão da doutrina cristã. Nabuco afirma ser, a escravidão,
um crime contra a humanidade e defende no júri a causa de um escravo, cujo nome
era Tomás, condenado à morte por matar dois homens. Tomás matou seu algoz por
ter sido por ele açoitado e, na tentativa de fugir da prisão, mata, também, um guarda.
Todavia, segundo Nabuco, o crime na verdade era o da escravidão e da pena de
morte dada ao preto Tomás o qual se viu sem saída diante de um destino traçado
mediante a sua cor, desde o seu nascimento.
A ousadia de Joaquim Nabuco causava certo espanto na sociedade da época,
pois ele era um jovem aristocrata que era veementemente contra o sistema
escravocrata. Com isso, é possível notar os ideais abolicionistas presentes em
Nabuco, o qual lutou fortemente em favor da abolição da escravatura.
Com base nisso, em relação à visão jurídica, Nabuco defendia a ilegitimidade
da escravidão tradando-a como algo imposto pela classe dominante e não como
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sendo natural. Além disso, acusa as nações católicas e protestantes de influenciarem


a guerra entre os africanos a fim de prender e vender os negros como escravos
(NABUCO, 1999, p. 16).
Agora, sobre a visão social, Nabuco afirma a existência de duas classes (termo
bastante atual e considerado avançado para a época do escritor) oriundas da
escravidão, as quais são: a dos senhores e a dos escravos. O escritor destaca, ainda,
a luta constante existente entre elas, a qual se sustenta pelo desejo de posse, por um
lado, e libertação, pelo outro (NABUCO, 1999, p. 16). Para Nabuco, a degradação
social se dava a partir do uso do negro como um objeto e não como um ser humano
detentor de direitos como outro qualquer. O autor relata os abusos sofridos pelas
negras por parte de seus senhores que sempre saíam impunes de seus crimes e
barbaridades cometidas contra essas mulheres. Além dos açoites e mal tratos feitos
aos escravos por diversos motivos dos mais banais possíveis.
Ainda, em seu texto, Nabuco também dirige suas críticas à igreja, possuidora
de grandes propriedades de terra e mantenedora de escravos a seu serviço. A igreja
da época tentava justificar a escravidão com base nos escritos do Antigo Testamento
e no fato de Jesus nunca ter falado nada contra a escravidão mesmo vivendo em uma
sociedade escravocrata. Joaquim rebate tais argumentos afirmando que não existe
nada nos evangelhos que fundamente a escravidão. (NABUCO, 1999, p. 18).
Joaquim também busca fomentar suas ideias abolicionistas por meio da história
e encontra apoio em José Bonifácio e Domingos José Martins, os quais defenderam,
respectivamente, a abolição gradual do tráfico de escravos e a substituição do
trabalho escravo pelo livre (NABUCO, 1999, p.18). Após a concretização da abolição
do tráfico de escravos, por meio da Lei Eusébio de Queiroz, dividiram-se dois grupos,
os que defendiam a manutenção da escravatura (com uma evolução gradual) e dos
que queriam o seu fim imediato.
O livro é dividido em três partes: O crime, a História do Crime e A Reparação
do Crime. No entanto, a última parte não foi escrita, por este motivo, a obra ficou
incompleta. Neste trabalho deteremos a nossa discussão sobre a primeira parte do
livro (O crime). Joaquim Nabuco defende sua visão tratando os aspectos histórico,
social, jurídico e religioso (NABUCO, 1999, p. 15) tornando sua abordagem bastante
ampla e completa.
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2. O CRIME DA ESCRAVIDÃO

No início de seu texto, Joaquim Nabuco afirma que a escravidão destruiu as


bases morais da sociedade e a fez regredir degradando povos considerados
modernos. O atraso da escravidão não o é apenas no sentido material, mas também,
moral comprometendo o avanço da civilização em seu aspecto cultural, científico e
político. Isso implica no afrouxamento dos laços morais e princípios das leis que
regeram a sociedade daquela época (NABUCO, 1999, p.29).
A esse respeito, Nabuco afirma que a quebra das leis acarreta prejuízos, mas
que a manifestação da justiça é certa, que as coisas tendem a voltar ao seu equilíbrio
natural mesmo que a iniquidade reine por determinado tempo. Com isso, diz que a
escravidão tende a sua extinção, visto que ela representa uma quebra das leis sociais.
A primeira parte do livro se propõe, portanto, a enxergar a forma como a escravidão
destrói a consciência da humanidade (NABUCO, 1999, p.30).
A esse respeito, Nabuco vai na contramão da visão difundida na sociedade de
sua época de que a escravidão dos negros pertencia à ordem natural das coisas. Pelo
contrário, está presente na fala do escritor argumentos concisos a respeito do seu mal
e dos direitos naturais que são violados com a sua prática. O escritor vai além, ao
apontar a escravidão como sendo o mais terrível de todos os crimes contradizendo,
desta forma, o discurso dos acusadores dos escravos “rebeldes”.
A moral, de acordo com Nabuco, foi corrompida e dividida em duas, uma para
cada classe. O pensamento resultante da escravidão fez do trabalho algo vergonhoso,
a atividade mais desvalorizada e indigna (NABUCO, 1999, p.31). O trabalho era visto
como uma atividade destinada para pessoas inferiores, no caso, para os escravos.
À vista disso, Nabuco descreve, ao longo de seu texto, como a escravidão ataca
cada fundamento moral da sociedade como, por exemplo, a dignidade do trabalho,
como citado acima; a corrupção da religião; o direito à propriedade privada; e o ataque
contra a família relatada através da humilhação, violência e destruição da sua
dignidade (NABUCO, 1999, p.31). Além disso, Nabuco aborda sobre a profundidade
do problema da escravidão enraizado na construção do país desde seu início. O Brasil
fundou suas raízes por meio da exploração da mão de obra, inicialmente indígena e
depois escravista. O problema da escravidão acompanha a nação brasileira desde os
primórdios. O abolicionista afirma, portanto, que acabar com a escravidão implica em
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deixar ir as riquezas, a história e a vida dos brasileiros, pois a base da construção da


nação deu-se em virtude da exploração do trabalho (NABUCO, 1999, p.33).
Nabuco fala sobre o direito de propriedade negado aos negros, o qual deveria
pertencer a todos os indivíduos. Nabuco argumenta que este direito deveria ser
conquistado pela dignidade do trabalho, no entanto, o escravo foi privado de sua
liberdade individual e o direito de propriedade de seu senhor é garantido às custas do
esforço, do trabalho e da vida do escravo.

3. O ESCRAVO E A RELIGIÃO CATÓLICA

Sobre a relação do escravo com a religião, o autor expõe a superficialidade


com a qual a religião católica é entendida pelos negros, pois para eles, os santos da
igreja não passam de figuras associadas aos seus deuses africanos. Os escravos
foram roubados de sua terra e cultura, passando a ser obrigados a aceitar a cultura
religiosa de outros. O resultado disso é a associação e mistura entre a crença dos
negros com a fé católica.
Nabuco fala, ainda, a respeito da problemática religiosa causada pelos abusos
dos escravos cuja visão passa a ser de um Deus que supostamente os entregou à
opressão (NABUCO, 1999, p.35), pois igreja da época afirmava que a dura realidade
vivida pelos negros era destinada a eles pela vontade do Criador, esta era uma das
formas para conter possíveis revoltas por parte dos escravos.
A respeito dos sacramentos da igreja, Joaquim Nabuco cita o uso utilitarista da
religião pelos donos de escravos, uma vez que o batismo, por exemplo, serve apenas
como um meio de cadastramento dos escravos e a instituição do matrimônio serve
unicamente aos interesses econômicos de seus senhores (NABUCO, 1999, p.37).
Nabuco relata o descaso com a morte de diversos escravos sem direito a um
sepultamento digno. É, portanto, desta forma desumana que a religião e os
sacramentos da igreja fazem parte da vida do negro.
Nabuco critica, ainda, a instituição da igreja católica que vinculada ao Estado
serve aos interesses da classe dominante. A igreja é uma das maiores detentoras de
latifúndios e escravos, todavia, como bem afirma Nabuco, ela "não devia manchar-se
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no comércio de carne humana; não devia arrastar seu manto puro das cinzas dos
grandes crimes do catolicismo" (1999, p. 37).
A brutalidade da escravidão parece ter cegado o entendimento das pessoas ao
ponto de ter uma instituição que "falava em nome de Deus" a favor de tal barbaridade.
Porém, para pessoas como Nabuco, por exemplo, nunca foi normal obter benefício às
custas da exploração da vida do outro. Vemos, portanto, que a escravidão aflorou os
piores sentimentos e revelou as intenções egoístas da humanidade. A escravidão,
para Nabuco, degrada tanto o escravo quanto seu senhor, todos são corrompidos em
virtude da violência e exploração, alguns, as sofrem e, outros, as provocam.

4. A FILOSOFIA E A BÍBLIA

Diante da filosofia que tem como missão erguer o espírito, todos os homens
são iguais e livres, através do princípio da moralidade. No entanto, a escravidão, de
acordo com Nabuco, aprisiona não somente o corpo e a alma, mas a parte mais íntima
do ser humano, o seu espírito. Isso acontece porque, segundo Nabuco, “o espírito
recebeu uma missão na terra, a para preenchê-la recebeu a atividade: a atividade,
que era a garantia da missão do espírito, foi reprimida” (1999, p. 44).
Dessa forma, a escravidão é um crime que viola os princípios elementares da
liberdade. Nabuco elabora sua fala sobre o crime da escravidão com base em seus
conhecimentos jurídicos adquiridos no curso de direito, o qual cursava o quinto
semestre na época em que escreveu seu livro.
A escravidão fere os princípios cristãos, todavia, era defendida por alguns como
sendo biblicamente aceita. Argumentava-se que desde as civilizações mais antigas
houve escravos, estando presentes na bíblia tanto no Novo quanto no Velho
Testamento e referindo-se à ausência de objeções de Cristo relativas ao tema.
O contra argumento de Nabuco diante dessas questões sobre o embasamento
bíblico, mais especificamente ao Velho Testamento é que não se pode basear-se em
leis tão antigas que não se adequam mais à sociedade da época. A diferença entre a
Antiga (na figura de Jeová) e Nova Aliança (com a figura de Cristo) são bem
destacadas pelo autor, na tentativa de marcar tais mudanças ocorridas na lei a fim de
separar as leis, as quais são temporárias, dos princípios, os quais são permanentes.
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Nabuco demonstra por meio de sua análise a respeito de Jesus que ele não
poderia ser a favor da escravidão, visto que veio para libertar os homens dos seus
cativeiros. Sua missão e destino desde sempre foram de pôr em liberdade os
oprimidos e conceder favor aos humildes (NABUCO, 1999, p. 47).

5. A MÃE E FILHO ESCRAVOS

O autor descreve o sofrimento do escravo antes mesmo de seu nascimento. O


feto, desde o ventre, sente os efeitos da escravidão pelo sofrimento de sua mãe.
Relata, também, o abuso sofrido pelas negras que dão à luz a filhos de seus senhores,
os quais jamais deram qualquer assistência ou reconhecimento a esses filhos. A
escrava estérea é referida como “árvore seca” e a reprodutora como "árvore
carregada” (NABUCO, 1999, p. 48), ambas expressões refletem o teor abusivo com o
qual as mulheres escravas eram tratadas. Seu valor se resumia unicamente à sua
capacidade de reprodução, gerando lucro aos senhores donos de escravos.
O menino escravo tinha a sua juventude roubada, desde muito novo, iniciava
sua dura rotina de trabalho e maus tratos. O mesmo ocorre com a menina escrava,
cuja honra lhe é retirada ainda muito jovem, antes mesmo de ir para a senzala. Para
Nabuco, os escravos não tinham qualquer iniciativa de rebelião devido à submissão
natural do brasileiro, aceitando seu destino como se fosse algo predeterminado sem
possibilidade de alteração de sua difícil realidade.
A esse respeito, por meio do que foi falado até aqui, podemos perceber que
todo o funcionamento da sociedade colaborava para o fortalecimento do sistema
escravista. A igreja com seu discurso, o Estado com suas leis, a repressão por parte
dos senhores, tudo isso contribuiu, de certa forma, para que os negros tivessem essa
atitude de "submissão" diante do sofrimento e falta de esperança.
A vida dos escravos, portanto, é resumida a sofrimentos, separação da família
e injustiças das mais severas que um ser humano pode enfrentar, com tratamentos
absurdamente cruéis. Suas vidas, em sua maioria, acabam precocemente devido à
violência inexplicável com a qual eram submetidos todos os dias.
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6. O PRETO TOMÁS
Mais adiante, o escritor retoma o caso do preto Tomás, que teve um bom
tratamento como escravo, inicialmente, e como consequência disso, respondia
positivamente de acordo com a forma que era tratado. No entanto, com a morte de
sua senhora, mandaram açoitá-lo, o escravo, então, se revoltou e assassinou a
autoridade que supostamente teria sido a responsável pelo açoite. Tomás foi preso e,
depois, assassinou um guarda na tentativa de fugir. Nabuco, em sua narrativa, procura
passar para o leitor os motivos que levaram o escravo a cometer os crimes citados,
de forma a desmascarar o verdadeiro crime cometido, neste caso, o da escravidão.
Nabuco fala, também, a respeito do rigor da lei, a qual ao invés de inibir as
revoltas, as provocavam ainda mais, visto que as penalidades direcionadas aos
negros eram severas demais em relação às "infrações" cometidas (NABUCO, 1999,
p. 60).

7. CONCLUSÃO

Joaquim Nabuco foi ousado em seus discursos a favor dos ideais abolicionistas
retratando a escravidão como sendo um crime que viola os direitos naturais de todo
ser humano.
O problema da escravidão no Brasil é complexo, pois tem raízes profundas
desde seu descobrimento. A nação foi fundada às custas da exploração do trabalho
dos mais vulneráveis, portanto, pôr um fim a isso era um grande desafio para a época.
No entanto, Nabuco não se intimidou, com pensamentos fundamentados no âmbito
jurídico, ele refutou argumentos políticos e religiosos que tinham o intuito de legalizar
e justificar o sistema escravista.
Nabuco defende no tribunal o escravo Tomás, condenado por cometer dois
homicídios em virtude da violência que sofreu pelo motivo único de ter nascido negro.
A história de Tomás é apenas um exemplo entre os diversos casos de negros que
sofreram com a injustiça e a opressão da escravidão.
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8. REFERÊNCIAS

NABUCO, Joaquim. A escravidão. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999, “O crime”


pp. 1-56.

SANTIAGO, Emerson. Joaquim Nabuco. Info Escola, [S.l]. Disponível em:


<https://www.infoescola.com/biografias/joaquim-nabuco/>. Acesso em: 29 set. 2021.

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