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CIÊNCIA E SAÚDE

A mancha quente de água que se move


no Pacífico em direção à América do Sul e
inquieta cientistas
Área de oceano perto da Nova Zelândia está 6ºC mais quente que a
superfície oceânica do restante do mundo; o que provocou esse fenômeno
e quais as consequências disso?

Por BBC
30/12/2019 11h49 · Atualizado há uma semana

Ela é tão grande que ocuparia um pouco mais da metade do México e duas
vezes a superfície do Estado de Minas Gerais. Satélites mostram que uma
área gigantesca e vermelha no Pacífico, perto da Nova Zelândia, está se
locomovendo em direção à América do Sul.
A mancha de água quente foi identificada por imagens de satélite. Ela é do tamanho de mais da metade do
México — Foto: Climatere Analyzer/BBC

Os pesquisadores apelidaram essa zona de "macha quente" — hot blob, em


inglês. O descobrimento dessa área vermelha, por meio de imagens tiradas
por satélites, coincidiu com uma onda de calor que provocou graves
incêndios na Austrália, ao mesmo tempo em que regiões da América do
Norte experimentaram fortes tempestades de inverno.

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A mancha compreende uma área do oceano de cerca de 1 milhão de km²


cuja temperatura aumentou entre 4°C e 6 °C, mais que o previsto para essa
região.

Esse fenômeno inesperado pode, segundo cientistas, ajudar a explicar o


forte aumento de gás metano na atmosfera. Sem contar com as zonas do
trópico, a mancha vermelha é a área com maior temperatura média na
superfície oceânica mundial, diz James Renwick, chefe do Departamento de
Geografia, Meio Ambiente e Ciência da Terra da Universidade de Victoria,
em Wellington, na Nova Zelândia.

O jornal "New Zealand Herald" diz que a mancha começou a se formar em


outubro, mas as temperaturas se mantiveram na média e não cresceram
de maneira significativa. No entanto, um aquecimento mais acentuado em
dezembro fez a mancha aumentar e a temperatura subir fortemente.

A formação da mancha quente


Segundo Renwick, vários fatores contribuíram para a formação da "mancha
quente", entre eles o "anticiclone", um sistema natural de alta pressão que
tem reduzido as correntes de vento nessa parte do Pacífico.

"Temos tido pressões bastante altas, dias ensolarados e ventos leves, o que
favorece um aquecimento acelerado da superfície do oceano", disse ele ao
jornal "New Zealand Herald".

"Se os ventos são fortes, então tudo se dispersa. Se não há essa dispersão,
o aquecimento do sol é absorvido pela superfície do oceano e gera essa
capa de água muito quente", explicou.
Em 2014, satélites registraram um aquecimento fora do comum no oceano pacífico, perto da costa oeste
dos EUA — Foto: Getty Images/BBC

Ou seja, sem ventos fortes, a temperatura da água aumenta e essa corrente


quente se move até perto das costas.

Mas quão significativa é essa mancha?


Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados
Unidos, as temperaturas do oceano podem variar em grandes proporções,
e um grau a mais ou a menos de diferença já é "preocupante" por provocar
efeitos adversos no clima do planeta como um todo.

A área que compreende a mancha quente sofreu um aumento de 4ºC a 6ºC


na sua zona central, o que é considerado significativo.

De acordo com Renwick, a capa de água quente se estende por 50 metros


debaixo da superfície. Os cientistas ainda vão pesquisar o impacto que isso
provocará na vida marinha dessa região.

Manchas quentes parecidas com essa foram identificadas há cinco anos nas
costas da Califórnia e do Alasca em setembro. Cientistas alertaram para um
fenômeno similar na costa oeste dos Estados Unidos.
Este gráfico mostra como zonas de mar quente foram produzidas nos EUA em setembro de 2014 e no
mesmo mês de 2019 — Foto: NOAA/BBC

Que efeitos essa mancha pode provocar?


Segundo Renwick, a mancha quente não terá impacto direto sobre o clima
ou a vida na Nova Zelândia. Como ela está a caminho da América do Sul, a
expectativa é que se disperse e perca parte do calor antes de chegar a
qualquer zona povoada.

Portanto, especialistas dizem que o efeito dessa área de calor no oceano


não deve ser grande sobre áreas habitadas. No entanto, os cientistas estão
inquietos sobre as eventuais consequências para a vida marinha.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos


adverte que o aquecimento das águas reduz os nutrientes no oceano, o que
altera a cadeia alimentar marítima.

Leões marinhos, por exemplo, precisam nadar até mais longe para
conseguir peixes e outros animais para se alimentar. Uma mancha quente
surgida na Califórnia em 2014 produziu a maior proliferação de algas
tóxicas já registrada na costa oeste dos EUA.

O aumento da temperatura também dificultou aos salmões jovens


encontrar alimentos de boa qualidade no oceano. Além disso, milhares de
leões marinhos que saíram em busca de alimentos apareceram encalhados
nas praias.

Diversas espécies de baleias, que também tiveram que ir até perto da costa
em busca de comida, acabaram presas em redes de pesca ou mortas após
encalharem nas areias das praias.
Há riscos para a América do Sul?
Segundo Renwick, a massa de água quente deve esfriar ao se aproximar da
América do Sul.

O especialista diz que o próprio movimento da mancha até águas mais frias
pode provocar o esfriamento da temperatura antes de ela se aproximar do
continente americano.

O aquecimento do oceano provoca desequilíbrio na cadeia alimentar marítima e prejudica a pesca — Foto:
Getty Images/BBC

Se isso não ocorrer, a mancha pode "chegar a ficar razoavelmente próxima


da América do Sul", mas não deve alcançar a costa.

No entanto, segundo a revista Science, embora os satélites facilitem a


identificação dessas manchas de água quente, eles não são capazes de
determinar com precisão magnitude e o impacto ecológico delas.

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